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Declaracao de Principios da Fag

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DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA
APROVADA NO 3º CONGRESSO DA FAG 
Outubro de 2000
APRESENTAÇÃO
A Federação Anarquista Gaúcha (FAG) foi fundada em 18 de novembro de 1995. É fruto de
mais de uma década de militância libertária, na qual após o ressurgir do anarquismo no Brasil
em meados de 1985, foram tentados diversos caminhos de atuação até um grupo de
militantes optar pelo anarquismo especifista, isto é, por constituir uma organização política
especificamente anarquista. 
Este é um projeto também de construção de uma organização anarquista brasileira, onde
outras federações e núcleos anarquistas coordenados projetem e apontem para isso. Este
projeto se traduz na Coordenação Nacional do Anarquismo Especifista, que pretendemos
impulsionar.
Em nível continental temos a intenção de construir uma Coordenação Anarquista Latino-
Americana (CALA), com o objetivo de uma intervenção conjunta na realidade do Continente.
Este projeto político ampliado (brasileiro/latino-americano) é a única via e garantia que pode
nos permitir lutar por um processo revolucionário de longo prazo.
O PENSAMENTO POLÍTICO-IDEOLÓGICO DA ORGANIZAÇÃO
 
Esta Declaração de Princípios é uma síntese do pensamento e método de trabalho da força
política organizada dos anarquistas gaúchos. Representa um esforço de atualização da
ideologia anarquista às condições históricas concretas da luta das classes oprimidas e da sua
vinculação com a identidade rebelde do povo gaúcho e dos povos brasileiros e latino-
americanos. 
Sabemos que a realização desses propósitos não é tarefa simples, requer sobretudo uma
atividade crítica e reflexiva em torno das bases do pensamento e teoria anarquista visando
sua inserção no processo de mudanças políticas e sócio-econômicas que se pretende para a
América Latina. Há uma batalha que se trava cotidianamente, uma resistência física e cultural
de bravos anônimos batizados de povo que se opõe à crueldade sistemática do capitalismo
junto a qual queremos nos somar, como anarquistas mas também como povo que somos. 
Para isso, procuramos instrumentalizar aqueles princípios libertários de maneira que
possamos obter capacidade política para intervir e participar das distintas situações históricas
que envolvem o movimento popular. Essa busca de laços orgânicos com o povo em luta é
concretizada com uma dedicada militância de base e trabalho teórico sobre a realidade que
orienta nossa intervenção anarquista. É também manifestação de uma dinâmica em que a
ação política libertária se corresponde com o nível de consciência das classes oprimidas. 
O atual modelo de dominação das elites já dá mostras de seu esgotamento ao encontrar
cada vez mais resistência por parte dos oprimidos desse sistema. Com maior ou menor
sentido de mudança se processam lutas reivindicativas da classe trabalhadora, expressões
organizadas dos desempregados, o avanço da luta no campo, movimentos específicos que
reúnem índios, negros, mulheres e temáticas da luta popular. Está em jogo novamente um
horizonte, um caminho que aponte para libertação que está apenas no começo. Queremos
estar junto nessa caminhada de uma forma cada vez mais profunda. Esperamos que essa
Declaração de Princípios seja uma colaboração efetiva para a construção de um caminho de
movimentos, lutas, avanços, conquistas e vitórias populares.
Vamos a ela, porque temos muito, muito para construir. 
Não tá morto que peleia!
Viva a Anarquia!
FAG E A COORDENAÇÃO NACIONAL DO ANARQUISMO ESPECIFISTA
1
Para nós, a luta a nível nacional, num processo de construção que atinja - ou ao menos se
esforce ao máximo para atingir - todo o país, é nossa única chance num largo prazo. Como
anarquistas, somos partidários da organização política federativa. Entendemos que a melhor
forma de construir uma Organização Anarquista para todo o Brasil, é através da construção e
coordenação simultânea de organizações federativas a nível estadual-regional (como é o
caso da FAG).
Não existe um Brasil, mas sim vários brasis que se encontram e muitas vezes se chocam.
Vivemos em um país rico com seu povo condenado à fome, miséria e desespero.
Reconhecemos e reivindicamos as diversidades locais e regionais mas estamos totalmente
contra qualquer forma de separatismo. 
Buscamos realizar uma luta popular e libertária que coordene as características regionais
com os aspectos nacionais da classe oprimida brasileira. Assim, vemos como possível a
construção de uma Organização política anarquista de intenção revolucionária atuando em
todo o Brasil. 
Sabemos que não é e nem será fácil. Estamos de acordo com o que dizia a parcela mais
lúcida das organizações guerrilheiras dos anos 60: “no Brasil não existe fórmula pronta nem
receita de bolo para fazer a revolução. Aqui tudo é muito complexo, a revolução brasileira tem
de ser inventada!”
Alguns dos possíveis caminhos para esta “invenção” acreditamos que já podem ser
indicados, pois são fruto do aprendizado histórico e das experiências concretas realizadas por
nossa classe e povo durante 500 anos de luta. O papel das organizações políticas de
intenção revolucionária é aprender e implementar estes caminhos. Esta luta tem como
conseqüência abrir caminho em um longo prazo para um processo de revolução social
brasileira. 
 
A FAG E A COORDENAÇÃO ANARQUISTA LATINO-AMERICANA 
Atuar de forma integrada na América Latina é proposta e intenção antiga por parte dos
anarquistas. Desde o final do século XIX até os dias de hoje, nossa militância vem buscando
formas de enfrentar o inimigo no Continente.
No nosso caso, a tarefa é dobrada, pois temos a missão de combater o inimigo de classe
por dentro de sua potência regional sub-imperialista (o estado-nacional do Brasil). Desde os
tempos da colônia passando pelo império e agora república, o papel das classes dominantes
brasileiras em nível continental sempre foi o de contenção e ação contra-revolucionária. O
último exemplo deste papel é o Brasil como motor de integração das economias capitalistas
latino-americanas. Devido a dimensão de continente (não é exagero conceber este território
como a América Brasileira), aqui operam outros impérios além do império norte-americano.
Esta soma de estado-empresa-império fez do capitalismo brasileiro, promovido pela ditadura
militar, recordista em crescimento econômico e desigualdades sociais.
Em nível continental, reproduziram-se diversas variantes deste modelo de crescimento, de
equilíbrio na balança comercial, da função do estado como gerador de subsídios e infra-
estrutura para o capital privado, da entrada de multinacionais de peso, do fator militar como
garantia das mudanças dos rumos do sistema. 
Agora é a vez do capitalismo neoliberal, flexibilização do trabalho regular, reajuste do
sistema, contenção dos gastos públicos (incluindo os gastos sociais), aumento da
competitividade, mais e mais vantagens oferecidas para o capital, menos e menos direitos
para os trabalhadores e marginalizados.
Nesta etapa de desenvolvimento do sistema se faz necessária uma resposta adequada em
todos os níveis da luta popular e ideológica, tentando com isso criar condições para uma
resistência em larga escala, que pode vir a gerar um processo e uma situação revolucionária. 
2
Outra função da Coordenação é tentar dar resposta ao inimigo também de forma integral.
Isto faz de nossa luta libertária também luta anti-imperialista e solidária com os movimentos
revolucionários latino-americanos. Combater o imperialismo norte-americano (atual polícia do
mundo) e os outros imperialismos neste Continente, que o inimigo pensa ser seu quintal, é
tarefa de todos os revolucionários. Queremos apoiar mutuamente as lutas populares latino-
americanas através de nossas organizações coordenadas, participar nos processos
revolucionários deste Continente, para termos a chance de conquistarmos nossa libertação
como classe e povosirmanados.
A ORGANIZAÇÃO E A IDEOLOGIA
Anarquismo - Federalista e Internacionalista
O anarquismo é uma ideologia, matriz de pensamento e teoria revolucionária cuja razão de
existir é a luta por uma profunda transformação da sociedade. Esta transformação social,
resultante de um processo prolongado de luta de classes deve adquirir, segundo a nossa
visão, o caráter prático de uma revolução socialista e libertária, com seu programa de
propriedade coletiva dos meios de produção, de socialização completa dos bens, serviços,
administração da justiça, organismos de defesa e da descentralização do poder político nas
organizações de base dos trabalhadores e do povo. Acreditamos ser a luta revolucionária um
processo de longo prazo, onde se atua em diferentes níveis de ação e situações históricas
específicas que conformam sua maneira de organizar e expressar o conflito social no dia a
dia.
Porém não podemos afirmar que essa é uma definição que encerra o conceito e a
instrumentalização do anarquismo. Esse conjunto de idéias e aspirações de uma sociedade
sem classes e sem estado, orientado por uma ética solidária baseada na liberdade e na
justiça social tem expressões político-ideológicas (na qual nos incluímos), mas há outras
mais. Há quem reivindique o anarquismo como uma filosofia de vida, estilo de
comportamento, corrente do pensamento humano, práticas alternativas para o cotidiano,
inspiração e formas artísticas e até mesmo uma visão da espiritualidade. Tudo isso também é
anarquismo, com a devida noção de pluralidade que isto implica, pertencendo ao que se
costuma chamar de Movimento Anarquista (MA), e numa forma mais ampla, Campo
Libertário. Sendo que, o referido “movimento” embora chamado convencionalmente assim, na
prática não age dessa forma, pois dentro deste amplo entendimento de anarquismo muitas
vezes se toma caminhos diversos e até mesmo opostos.
A FAG não nega estes tipos de anarquismo. Reconhecemos as mais variadas formas de
anarquismo, mas nos assumimos dentro da corrente organicista-especifista da ideologia.
Resgatamos nossa história e reafirmamos nossos objetivos e razão mesma de existência,
que é ser parte da construção de um caminho revolucionário para libertar nossa classe e
povo.
Vendo o anarquismo a partir do ponto de vista militante, temos então um instrumento de luta
revolucionária. Este instrumento tem uma rica história, da qual somos fruto e parte dela.
Podemos afirmar que nossa ideologia se vê fortalecida mundialmente a partir da Associação
Internacional dos Trabalhadores, fundada em 1864, a qual atuava basicamente nos países
europeus. 
Foi no seio da 1ª Internacional onde se identificaram duas correntes distintas, cada uma
lutando à sua maneira pela emancipação da classe trabalhadora e o socialismo. Uma era a
corrente autoritária-estatista (encabeçada por Marx e Engels), que pregava, entre outras
coisas, a formação de partidos políticos da classe operária e, posteriormente, a tomada do
poder do estado por estes partidos. A outra corrente é a ala federalista da 1ª Internacional,
cujos objetivos são a emancipação da classe trabalhadora por via da ação direta
revolucionária e a construção de um tipo de sociedade baseada na auto-organização dos
trabalhadores na cidade e no campo. Isso, a partir da destruição do estado-nacional burguês
e de sua classe dominante. A vitória da classe oprimida vem com a Revolução Social, se
concretizando na autogestão da sociedade e na formação de um Poder Popular (não-estatal).
3
As mais distintas correntes socialistas sempre tiveram sérias polêmicas e divergências
conosco. Experiências históricas provaram o que nossos companheiros já diziam na metade
do século XIX. Em suas polêmicas com Marx, Bakunin já alertava: “Os marxistas pretendem
que somente a ditadura, evidentemente a sua, pode criar a liberdade do povo; a isso
respondemos que nenhuma ditadura pode criar a liberdade do povo; a isso respondemos que
nenhuma ditadura pode ter outra finalidade senão a de durar o máximo possível, que é
apenas capaz de gerar a escravidão no povo e de educá-lo nesta escravidão; a liberdade só
pode ser criada pela liberdade, isto é, pelo levante do povo inteiro e pela livre organização
das massas trabalhadoras de baixo para cima.” E ainda na crítica à concepção estatista: “(...)
conforme a teoria do Sr. Marx o povo não apenas deve destruir o Estado, como, ao contrário,
deve consolidá-lo, torná-lo ainda mais forte e, sob esta forma, colocá-lo à disposição de seus
benfeitores, de seus tutores e de seus educadores, os chefes do partido comunista, em suma
à disposição do Sr. Marx e de seus amigos, que começarão a libertá-lo à sua moda. Tomarão
nas mãos as rédeas do governo, porque o povo, ignorante, necessita de uma boa tutela;
criarão um banco de Estado único que concentrará em suas mãos a totalidade do comércio,
da indústria, da agricultura e até da produção científica, enquanto a massa do povo será
dividida em dois exércitos: o exército industrial e o exército agrícola, sob o comando direto
dos engenheiros do Estado, que formarão uma nova casta sábio-política privilegiada.”
O desenrolar dos regimes de capitalismo de estado (também chamados de “socialismo
real”) é a mais séria prova que não pode haver socialismo sem liberdade e que onde houver
um estado haverá uma sociedade dividida em classes. É também prova de que nenhuma
classe dominante se auto-destrói, e por isso temos que destrui-la, e nenhum estado pode ser
uma etapa para chegar ao socialismo. Os estados são reprodutores de diversos privilégios e
funcionam com uma lógica de coação, servindo ainda como uma forma de frear e iludir os
trabalhadores e oprimidos para não alcançarem seus objetivos caminhando com as próprias
pernas.
Por lutar rumo a uma outra forma de vida em sociedade, o anarquismo se define como
federalista e internacionalista. 
Historicamente o anarquismo se opõe ao capitalismo e ao estado, que é seu organizador
político por excelência. Propõe o federalismo como estrutura contestadora da lógica
centralizadora e como ferramenta necessária para a articulação das liberdades políticas sem
prejuízos autoritários. O federalismo está pensado como uma forma político-econômico-social
para organizar todo o funcionamento da sociedade humana. Também como uma forma de
funcionamento de organizações políticas, movimentos populares, entidades de base e todo o
processo de ruptura e de reconstrução rumo ao socialismo. Lutamos para criar estruturas
federativas revolucionárias capazes de derrotar e substituir o sistema capitalista e seu modo
de produção e dominação. 
Por entender que a luta contra os opressores e seu sistema capitalista ultrapassa as
fronteiras (criadas pelo inimigo de classe comum a todos os oprimidos), o anarquismo
entende a luta de classes como internacional, respeitando as características, identidades e
processos de cada povo e região.
Estas linhas básicas foram formuladas nos embates, discussões, e também na ação direta,
durante a 1ª Internacional. Logo ganham certa força nos países mais pobres da Europa,
alcançando depois diversas outras partes do mundo, como em nossa América Latina. 
De todo este processo foi gerada uma ideologia revolucionária capaz de aglutinar diversos
povos em luta, um conjunto de idéias e ações protagonista de episódios da história quando os
trabalhadores e oprimidos tomaram suas vidas e destinos nas próprias mãos.
Podemos dar como exemplos mais fortes disto dois episódios:
 
A Revolução Russa (1917-1921)
Um longo processo de luta levou a um momento de crise e ruptura da Rússia czarista.
Como forma de luta de classes os soviets (conselhos de operários, camponeses e soldados)
criaram uma estrutura de Poder Popular (o lema “Todo poder aos soviets!” era, de fato, um
lema libertarizante) que foi depois manipulada e dominada pelo partido bolchevique. Apesar
disso, a estrutura originaldos soviets se manteve e se desenvolveu em algumas regiões. Foi
4
o que aconteceu na Ucrânia, quando nossos companheiros organizaram o Exército
Insurrecional dos Camponeses da Ucrânia. No meio de uma guerra revolucionária contra o
exército branco e depois obrigados a combater contra o exército vermelho, o povo em armas
autogestionou uma economia com milhares de camponeses e operários. Outro importante
momento em que os conselhos populares (soviets) protagonizaram a luta dos trabalhadores
russos foi na Revolta do Kronstadt. Os marinheiros de Kronstadt, identificados com os mais
profundos interesses da classe trabalhadora, entraram em conflito com o estado bolchevique.
Resistiram até o último combatente contra a repressão do exército vermelho, já então
integrado por ex-oficiais, mercenários e cossacos do czar (imperador), todos dirigidos pelo
partido bolchevique.
Anos depois, Nestor Mackhno, Piotr Archinov e outros combatentes anarquistas da
Revolução Russa elaboraram um importante documento denominado “Plataforma”, que fazia
uma avaliação da atuação dos anarquistas neste processo. Neste documento eles avaliam
que um dos fatores que impediu que os anarquistas tivessem uma ação mais incisiva para
combater os desvios autoritários tomados posteriormente foi justamente a inexistência de
uma organização política anarquista na Rússia, que propusesse um outro projeto para os
rumos da revolução que não os traçados pelos bolcheviques. Este documento é uma das
mais importantes fontes do anarquismo especifista, que também ficou conhecido como
anarquismo plataformista.
A Revolução Espanhola (1936-1939)
Após uma trajetória de quase três décadas de lutas operárias ininterruptas, atuando sempre
com uma metodologia de ação direta, de forma clandestina ou pública, a Confederação
Nacional do Trabalho/Federação Anarquista Ibérica (CNT/FAI) levantou-se em armas contra
o fascismo. Simultaneamente, fez a guerra contra o franquismo apoiado pelas potências do
eixo nazi-fascista e também foi processando a revolução social. Em muitas zonas, o processo
revolucionário espanhol gerou a mais impressionante coletivização e autogestão de campos e
fábricas da história da humanidade. As milícias libertárias (operárias-camponesas-juvenis-
internacionais) combatiam por uma economia e sociedade controlada e gerida pelos próprios
trabalhadores, do campo e da cidade, através de seus sindicatos e entidades de base.
Também se provou, outra vez mais, que é possível fazer a luta armada sem militarizar,
produzir sem patrão nem hierarquia e funcionar a sociedade sem estado - tudo isso sendo
efetivado com maior planejamento e eficiência. Devido à supremacia bélica dos fascistas, a
não-intervenção das democracias capitalistas ocidentais, a traição dos comunistas e também
por nossas insuficiências, entre elas a falta de uma definição adequada do poder no projeto
político libertário, os trabalhadores espanhóis e do mundo inteiro foram derrotados na
revolução mais avançada de sua história.
O anarquismo mundialmente perdeu força após sua derrota na Espanha. Recobrou um
pouco de sua versatilidade, tendo um novo discurso, com os ventos do maio de 1968 (embora
ainda longe da força e do classismo libertário). Na desilusão com o dito “socialismo
real”(capitalismo de estado) e a partir de metade da década de 1980, o anarquismo ressurge
em algumas lutas socialistas e populares. A queda do muro de Berlim e do bloco soviético
reforça nossos argumentos de que não existe socialismo sem liberdade.
É verdade também que ainda estamos bem longe da inserção que tínhamos até as três
primeiras décadas do século XX. Nesses tempos, nossos companheiros protagonizaram as
lutas do proletariado em muitas partes do mundo. Mas em distintos países o anarquismo,
mesmo que de forma tímida em muitos lugares, busca constantemente ocupar de volta sua
função de ser uma opção real e viável, como método e caminho para a libertação popular. 
TRAJETÓRIA DE UM POVO EM LUTA 
A Ideologia na América Latina
5
A ideologia anarquista, por ser uma ferramenta de trabalho e construção revolucionária,
pertence ao povo em luta. Vem daí nossa melhor história e tradição, tanto no Rio Grande do
Sul, como no Brasil e na América Latina.
O anarquismo nesse pedaço do mundo tem uma longa e forte trajetória. Em todos os países
latino-americanos, a imensa maioria dos sindicatos - as primeiras organizações dos
trabalhadores - foram formados com o suor e o sangue de nossos companheiros. Este
sangue e suor dos operários que tombaram nos dois massacres de Santa Maria de Iquique
(Chile), no massacre da Patagônia Rebelde (Argentina), e de inúmeras lutas e esperanças em
cada canto de nosso Continente é para nós sagrado.
Houve movimentos de massas trabalhadoras, protagonizados por militantes anarquistas, na
maioria dos países latino-americanos. As grandes conquistas de nossa classe, em especial
da classe operária, foram fruto do esforço e dedicação de nossos companheiros e
companheiras que muitas vezes entregaram suas vidas pela classe e ideologia de que somos
parte. 
Na Revolução Mexicana (1910-1917), a luta camponesa com orientação libertária
transformou-se em guerra revolucionária. Por “Terra e Liberdade” os indígenas, mestiços,
camponeses, operários e todos os oprimidos mexicanos lutaram até as últimas
conseqüências. Se levantaram em armas contra uma elite que lhes oprimia e oprime desde
1500 até hoje. Em todo esse processo revolucionário, uma organização anarquista foi um de
seus fermentos na ideologia e na ação. O Partido Liberal Mexicano –que inicialmente tinha
uma orientação liberal-radical, depois se torna anarquista mas manteve o nome anterior - e
seus militantes atuaram por mais de duas décadas, antes e durante a luta revolucionária, pela
conquista das terras coletivizadas, pela libertação indígena, camponesa e operária e para
formar um Poder Popular para derrotar o estado e a classe dominante. São esses mesmos
gritos, essa mesma ação direta que hoje vemos no México em diferentes expressões. 
Ricardo e Henrique Flores Magón, Práxedes Guerrero e milhares de outros companheiros e
companheiras anarquistas se dedicaram de corpo e alma pela mais justa das causas. Estas
sementes, mesmo depois de mais de 70 anos de revolução traída, continuam e sempre
continuarão dando frutos.
Outro exemplo de anarquismo e povo em luta vem do vizinho Uruguai, a antiga Banda
Oriental. Do povo hermano que vive um pouco mais ao Sul, vem uma tradição de luta
libertária ininterrupta desde 1870. Sua expressão mais forte foi nos anos 60 e 70, quando a
Federação Anarquista Uruguaia (FAU, fundada em 1956 e hoje nossa co-irmã) enfrentou o
estado, a oligarquia e o imperialismo. Colocada na clandestinidade em dezembro de 1967, a
FAU através de seu braço de massas (a Resistência Operário Estudantil - ROE) e de seu
braço armado (a Organização Popular Revolucionária 33 orientais - OPR-33) promoveu a luta
de classes e a ação direta em todos os níveis. Inúmeras passeatas estudantis, ocupações de
fábricas (1/3 do movimento operário era de influência libertária), levantes e apoios nos bairros
proletários. Na resposta ao golpe militar no Uruguai (junho de 1973), a maior greve geral da
história desse país, com ocupações em todas as fábricas por mais de 15 dias.
Durante toda sua luta revolucionária a guerrilha urbana anarquista agia para aprofundar o
processo global de transformação e para apoiar o movimento operário e popular (onde
estavam profundamente inseridos) com ações como: expropriações bancárias, sabotagens,
propaganda armada e seqüestros de patrões e outros inimigos de classe.
Depois do golpe no Uruguai, por três anos a FAU resistiu aos militares, operando desde a
Argentina. Até que o golpe militar também naquele país (maio de 1976), e o posterior
assassinato de dezenas dos militantes anarquistasmais experientes, impediu esta
Organização de atuar organicamente por quase uma década. Mas ela se reproduziu em gente
nova que foi assumindo a luta contra a ditadura uruguaia (1973-1985) a partir de 1980. Com
os militantes que saem da prisão, que voltam do exílio e aqueles/as jovens que assumiram a
luta libertária nos últimos anos da ditadura, a FAU se recontrói em 1985. Hoje é parte viva e
ativa das lutas populares uruguaias e do anarquismo no Continente.
Os dois referentes mais importantes de organizações especifistas-anarquistas-
revolucionárias na América Latina estão nas organizações acima mencionadas: o Partido
Liberal Mexicano (PLM) e a Federação Anarquista Uruguaia (FAU).
6
A influência anarquista na América Latina também gerou uma identidade de combate.
Desde o século XIX é identificada a resistência popular com as cores negra e vermelha.
Devido a essas influências, as guerrilhas latino-americanas e outros movimentos políticos e
populares seguem utilizando nossas cores até os dias de hoje.
No Brasil, o anarquismo chegou na metade do século XIX (sua primeira aparição histórica
foi durante a Revolução Praieira, 1848, em Pernambuco; através da corrente mutualista).
Junto com os operários imigrantes, a partir da década de 1890, ganhou força real, atuando
com sentido classista e revolucionário. Até 1930 fomos hegemônicos no movimento dos
trabalhadores urbanos. De 1930 a 1937, disputamos palmo a palmo contra o bloco amarelo-
comunista-trabalhista o protagonismo das lutas operárias e urbanas.
A classe trabalhadora brasileira conseguiu suas conquistas históricas lutando com a
bandeira e a ética libertária. As mesmas conquistas que hoje tentam nos tirar (as 8 horas de
trabalho, o respeito aos direitos do trabalhador, o salário mínimo e a cesta básica, etc.) vieram
do suor e do sangue dos trabalhadores em inúmeras lutas, nas greves gerais de 1917, na
tentativa de insurreição no Rio de Janeiro em 1918, nos enfrentamentos contra a patronal e a
repressão, na luta e organização das Federações Operárias estaduais e da Confederação
Operária Brasileira (COB, com seus congressos em 1906, 1913 e 1920). Toda uma cultura
operária e anarquista era combustível moral e militante para a luta de classes libertária, de
forma que além da atuação sindical se constituíram escolas libertárias, centros de cultura,
teatro social, coletivos feministas e inúmeros jornais operários.
Entre as medidas repressivas que incidiam frontalmente contra as atividades militantes dos
anarquistas se inclui a criação de uma colônia penal na Clevelândia (Oiapoque), em plena
floresta amazônica, entre os anos de 1924-27. Para lá eram mandados acusados de crimes
comuns, meninos de rua e presos políticos, em sua maioria anarquistas. Lá, em condições
precárias, os prisioneiros que não lograssem fugir logo morriam vítimas da malária. Entre os
mártires da Clevelândia se encontram militantes do movimento operário gaúcho, como Nino
Martins.
Assassinatos, deportações, torturas e desaparições já eram práticas comuns do governo em
relação aos militantes de esquerda.
O anarquismo a partir do golpe do Estado Novo (1937), quando foram fechados os
sindicatos livres e toda a ideologia condenada a clandestinidade, sofreu a maior derrota de
sua história no Brasil. É verdade também que algumas limitações, tais como falta de uma
análise da conjuntura que se desenhava, nos impediram de buscar uma forma de
organização para militarmos nas condições adversas que o inimigo nos impôs. Depois, de
1945 até o golpe militar de 1964 o anarquismo perde sua força de outrora mas ainda assim
mantêm militância em alguns sindicatos e desenvolve trabalho cultural e de propaganda. A
partir de 1985 veio o ressurgimento em maior escala de nossa ideologia. Após mais de uma
década de diversas tentativas, uma parte dos anarquistas (a qual nos incluímos) tenta abrir o
caminho libertário junto das lutas de nossa classe e povo.
História das Lutas do Povo Gaúcho
No Rio Grande do Sul, como em todas as partes da América Latina, entendemos nossa
ideologia como parte dos 500 anos de resistência. 
A história das lutas populares neste pedaço do Brasil começa com as lanças charruas,
minuanas e de tantos outros povos indígenas, erguidas contra os conquistadores portugueses
e castelhanos. Sentimos na própria veia tamanho sangue derramado pela ganância dos
impérios mercantilistas. Mas também sentimos na alma a dignidade dos primeiros povos
gaúchos, que domesticaram o cavalo trazido pelo invasor e sobre ele montados pelearam até
o último combatente.
Quando Portugal e Espanha entraram em acordo sobre a possessão destas terras, seus
filhos se levantaram em armas outra vez. Livrando-se da tutela colonialista, as Missões
Guaranis enfrentaram as potências da época. Uma guerra de libertação foi travada, e o povo
trabalhador guarani - que vivia de cultivar a terra e de manufaturas -, largou da enxada, arado,
martelo, entalhadeiras e forno de barro e ergueu a lança missioneira contra o invasor. Sepé
7
Tiaraju, Nicolau Languiru e milhares de outros anônimos combatentes escreveram a história
com o sangue e a alma dos filhos da terra em luta.
O Continente de Rio Grande de São Pedro foi colonizado como fronteira viva, por
latifundiários-militares, peões-soldados e trabalhadores escravos. A rebeldia dos
descendentes de charruas, guaranis das missões e mestiços gerou a cultura gaudéria numa
terra antes sem cerca nem fronteira. É esta mesma cultura e espírito de liberdade que
reivindicamos, que cultivamos como semente da luta popular cotidiana das pessoas simples
que não abaixam a cabeça para os poderosos. 
As guerras da colônia, depois província do Império, contra o território hermano da Banda
Oriental (Uruguai) e contra as províncias argentinas vizinhas, levou a um povo da mesma
cultura (apenas sotaque diferente) a guerrear entre si por interesses de latifundiários,
impérios, comerciantes, ditadores e caudilhos.
Também uma série de conflitos entre os partidos das oligarquias gaúchas cansou de atirar
povo contra povo quando havia necessidade. Pela “cor de um lenço”, mas não pelas terras
para serem compartidas, a gauchada se matou a mando dos fazendeiros até o princípio da
década de 1930.
Os trabalhadores negros escravizados nas charqueadas, olarias e estâncias conquistaram
sua liberdade campo afora, ou em armas (mesmo quando enganados), nas mais diversas
ocasiões (como durante a Guerra dos Farrapos). É esta mesma liberdade que tem de ser
conquistada todos os dias. De forma consciente ou espontânea, por instinto de sobrevivência
e dignidade, o povo negro daqui resiste. A cultura da etnia afro-brasileira, todos os dias é
marginalizada ou manipulada. No cotidiano de milhões de negros e negras, está o
enfrentamento e a peleia contra uma elite racista que manda no Rio Grande do Sul.
Os camponeses imigrantes chegaram aqui e foram trabalhar na lavoura ou criaram
minifúndios. Ao contrário da maioria dos descendentes de imigrantes, seguem pertencendo a
sua classe de origem e seguem sendo trabalhadores rurais. É dessa cultura e luta de classe
que tem origem o MST.
Com a chegada de uma leva maior de operários imigrantes, veio junto a ideologia
anarquista, e uma capacidade nunca antes vista de organizar os trabalhadores e oprimidos.
Este estado viu crescer uma das maiores lutas do proletariado brasileiro desde 1870,
quando os comerciários foram os primeiros a se organizar, até tomar forma, corpo e conteúdo
organizado. A primeira vez que se parou num 1º de maio neste estado foi em Porto Alegre,
em 1892. Já nessa ocasião, a classe operária se reuniu na Praça da Alfândega, prestando
homenagem aos mártires anarquistas e participando do ato promovido por nossos
companheiros.
Com a Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS) presente em quase todo o
estado, a luta de classes crescede maneira impressionante. São operários gráficos,
pedreiros, marceneiros, carpinteiros, professores, têxteis, garçons, da construção civil,
ferroviários, metalúrgicos, condutores, vidreiros, comerciários e diversas outras categorias
que se organizam. Os sindicatos são revolucionários e de orientação anarquista. O maior
momento foi em 1917, quando uma série de greves radicalizadas levou à greve geral em
Porto Alegre. Esta greve, de tão profunda, ganhou o nome de “Guerra dos Braços Cruzados”.
A classe organizada ganhou as ruas, ocupou e tomou os meios de produção e expulsou a
Brigada Militar na base da dinamite! Durante este conflito, os militantes anarquistas foram a
principal influência na Liga de Defesa Popular (LDP), comitê operário que orientou e
dinamizou a greve geral vitoriosa. 
Sabendo que somos fruto e parte desta história, modestamente, mas com firmeza,
queremos ocupar nosso lugar nas lutas dos povos gaúcho, brasileiros e latino-americanos.
Fazemos nosso o sangue e a esperança índia, negra, dos gaúchos livres e dos trabalhadores
imigrantes. Esperança também que está nos sentimentos da gurizada das vilas, cujo destino
é uma incógnita e o futuro é o dia de hoje e quem sabe, o de amanhã. 
Parte desta luta já tem um caminho apontado, pois plantando a justiça no chão ocupado e
semeado, os Trabalhadores Rurais Sem-Terra provam na prática que a luta é a única saída.
Os companheiros e companheiras camponeses que tombaram em diversos enfrentamentos,
como em Anoni e em Santa Elmira, não caíram em vão. Da dor de nossa gente que tombou
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pela mesma causa tiramos a energia e a vontade de superar os problemas e as dificuldades
para seguir lutando.
Hoje em dia a responsabilidade de todos os militantes populares é imensa. Vivemos uma
época difícil, de pouca esperança em um destino diferente, de enfraquecimento das lutas
populares. Como os primeiros militantes anarquistas da época da FORGS, estamos de corpo
e alma para sermos uma semente a mais na caminhada, luta e libertação de nossa classe e
povo.
Esta é a nossa história. Este é o nosso compromisso.
PRINCÍPIOS PARA A AÇÃO REVOLUCIONÁRIA
Ética & Valores
Compreendemos a luta pelo socialismo como um movimento político-social com fundamento
ético, ao contrário de outras correntes socialistas e mesmo de alguns teóricos do anarquismo
que tentaram justificar suas idéias e aspirações de uma nova sociedade com o apoio da
ciência e da filosofia cientificista predominante em sua época. 
Todos os coletivos humanos são regidos por uma série de códigos de valores e normas de
conduta, um conjunto de posturas e posições que se costuma chamar de ética. Não existe só
uma ética mas várias que se expressam conforme o que se crê melhor em um momento dado
e suas circunstâncias. 
Um sistema baseado na exploração e dominação, na competitividade entre os semelhantes,
com uma força de repressão e controle social a serviço de suas classes dominantes não pode
ter outra ética a não ser aquela que conserva e reproduz o seu poder. Difundir o
individualismo, o desrespeito à vida humana e ao meio ambiente, acreditar e praticar o
“princípio” de que tudo tem seu preço, comprar o que for preciso e matar ou mandar matar
quem não quiser se vender: essa é a ética capitalista, e nesse sentido, as elites brasileiras
são profundamente “éticas e coerentes”. 
Por ser essa a ética do sistema, ela não está representada apenas no comportamento de
uma classe social (no caso a que está em posição de dominação) mas difusa em toda
sociedade como um eficiente mecanismo de poder. Assim a consciência de classe e as
distintas expressões da cultura popular são combatidas e entorpecidas pelo egoísmo e outros
valores da cultura de mercado capitalista. 
Queremos gerar uma outra ética para as classes oprimidas. A luta pelo socialismo e a
liberdade necessitam de um código de valores, conduta, comportamento e vida coletiva
profundamente solidários. De pouco adiantam as teorias mecânicas do socialismo que diziam
que os trabalhadores que perseguem seus interesses de classe se encaminham ao destino
revolucionário quando estamos diante de operários, camponeses sem terra, trabalhadores
precarizados e um amplo setor de marginalizados que reclamam pelas mais variadas
necessidades. Em meio a um complexo universo de interesses e reivindicações específicas
que confluem na luta de classes só a incorporação de valores e aspirações, sentimentos de
coletividade e de convivência comum podem desenvolver uma vontade de transformação
estrutural da sociedade. 
O socialismo tem valores profundamente humanos, ecológicos e solidários. Também tem
um senso de justiça social e de dignidade. Por mais difícil que sejam os tempos em que
vivemos, com a maior parte do povo identificando suas necessidades com “sonhos de
consumo” inventados pelos meios de comunicação, a única garantia de prosseguir lutando é
a nossa firmeza na busca de um ética socialista e libertária.
Para nós a luta revolucionária é um processo contínuo, portanto em grande parte afirmamos
que “os meios determinam os fins”. Por isso a importância de semearmos ideais de uma
sociedade livre e igualitária em cada conquista das lutas populares, forjando a ética e os
valores anticapitalistas. 
 
Liberdade Responsável
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O conceito e a prática da liberdade é um dos principais pilares do anarquismo. Todo
mecanismo social que desata um poder repressivo e/ou inibidor das condições de
desenvolvimento do instinto de criatividade das pessoas encontra firme oposição nos
anarquistas, mesmo que com razões às vezes bem distintas.
Como advertia Bakunin, a liberdade é uma grande meta que no entanto precisa de uma boa
definição para não dar margens a equívocos. A militância histórica do anarquismo, desde
seus primórdios na metade do século XIX travou intensa luta teórica e prática por um lado
contra as idéias liberais influentes nos movimentos revolucionários de corte nacionalista
burguês e contra o totalitarismo embutido nas doutrinas socialistas que rejeitavam a liberdade
como conteúdo do seu projeto. Por outro lado, tratou de contestar as concepções fantasiosas
que havia no próprio movimento libertário e que se apoiavam no direito abstrato de agir como
bem se entende sem o menor sentido de responsabilidade social. 
No nosso entender a liberdade deve ser real, deve ser o poder de realização das faculdades
humanas em condições que lhe permitem viver e agir sem submeter-se à vontade dos outros.
Isso implica na mais completa igualdade em todos os níveis da vida social, ou seja,
possibilidades iguais que socializem o acesso às ferramentas de trabalho, às riquezas, à
instrução e todas as necessidades vitais do povo. Portanto, acreditamos na “liberdade íntegra
e completa para cada um, igual, não somente em direitos, mas também quanto aos meios de
sua realização para todos”.(Bakunin)
A nós sempre causou desacordo as receitas de igualitarismo social fabricadas pelas
doutrinas que animaram as experiências socialistas que conhecemos. As noções de liberdade
como prejuízo burguês, do Estado como instrumento de emancipação dos trabalhadores, de
uma máquina partidária uniformizadora e vigilante das opiniões são elementos que não
merecem mais do que o rechaço da história. Esse socialismo autoritário foi incapaz de
construir uma sociedade mais justa e humana porque privou os trabalhadores da liberdade,
da participação direta nos destinos da revolução, retirando assim toda sua potencialidade
criativa em nome de uma vontade onipotente que dizia interpretar cientificamente seus
interesses.
Para o anarquismo a liberdade está posta como finalidade e também como instrumento de
mudanças no presente, mas vale lembrar que a liberdade a que se refere não é aquela
oferecida pelo capitalismo, que está simbolizada na democracia liberal,na propriedade
privada e na liberalização do mercado. O capitalismo só admite uma liberdade: a de suas
classes dominantes. Mas para estas a liberdade é necessariamente individualista e fundada
na exploração dos trabalhadores e na dominação política da maioria do povo, mecanismo que
em condições de desigualdade social se traduz no privilégio de uns poucos erguido sobre a
miséria e a ignorância de muitos. 
“A liberdade sem o socialismo é a injustiça, o privilégio; o socialismo sem a liberdade é a
escravidão, a brutalidade”, tal é a máxima do pensamento libertário.
Para as teorias do liberalismo, a liberdade individual é sempre ameaçada pela do outro e
deve ser protegida assim como uma propriedade particular. Segundo estas teorias, o ser
humano nasce livre e cede parte de sua liberdade para viver em sociedade. Uma liberdades
se opõe a outra, ganha intensidade com a fraqueza das demais, as identifica como inimigas,
concorrentes, “ladras” de sua condição de força. Nada mais falso...
Como anarquistas acreditamos que a sociedade longe de ser um obstáculo confirma a
liberdade das pessoas como uma força que anima suas faculdades. Assim, não há ato livre
no isolamento, fora das relações sociais, sem apoio na coletividade. A solidariedade, a ajuda
mútua e a cooperação são as condições indispensáveis para o exercício da liberdade
socialista e é uma falsa polêmica opor indivíduo e sociedade, uma vez que a sua realização
individual só ocorre socialmente. A verdadeira oposição que existe está entre os que desejam
realizar sua liberdade individual às custas da sociedade - individualismo – e aqueles que
pretendem realizá-la em solidariedade com os demais. 
Concebemos a liberdade não só como finalidade mas como meio, não só como objetivo da
revolução mas como método necessário para sua concretização. Somos anarquistas nos
propósitos assim como o somos no método. 
A liberdade a qual nos referimos representa também a possibilidade do exercício de uma
vontade consciente que se instrumentaliza nas lutas do presente, de uma força criadora que
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rompe a cadeia das fatalidades naturais e se expressa no protagonismo popular como motor
da história.
O instrumento da liberdade responsável aplicado na luta popular organizada e seus métodos
de funcionamento significa pluralidade de opinião, democracia direta e federalismo. Todos
tem o direito e também o dever de exercer sua liberdade de participação e questionamento,
bem como tomar as responsabilidades por suas atitudes. Essa liberdade de agir e participar
da tomada de decisões fundamentais caracteriza uma metodologia libertária comprometida
com um processo coletivo de libertação das classes oprimidas que garanta o mais amplo e
responsável desenvolvimento das liberdades individuais. 
Autogestão
Por afirmar a autogestão como princípio que expressa as novas relações sociais resultantes
do socialismo somos partidários de uma crítica áspera ao controle das decisões exercido por
interesses privados ou através de estruturas burocráticas.
A sociedade socialista, no nosso ponto de vista, tem que significar para os trabalhadores
não somente a satisfação de suas necessidades materiais, mas a possibilidade concreta de
tomada de controle das decisões e gestão direta dos meios socializados de sobrevivência
com a mais ampla participação popular nos locais de trabalho, estudo, bairros, vilas e
associações culturais do mais simples ao complexo.
Os anarquistas sempre defenderam as concepções de autogestão e se debatem
frontalmente com as correntes socialistas que a postergam para a última etapa da luta social,
com a instauração da sociedade comunista. Segundo esse socialismo classificado de
autoritário por suas pretensões, o processo revolucionário deve necessariamente consolidar
suas conquistas e preparar o povo para um novo modelo de convivência social a partir da
concentração de poder político nas instituições do Estado. Essa fórmula foi definida por
ditadura do proletariado e estava fundada ainda na existência de uma vanguarda intelectual
que fosse capaz de assumir o governo do Estado identificada absolutamente com os
interesses da classe trabalhadora.
A história nos brinda exemplos dramáticos de quando a energia e a imaginação
revolucionária dos trabalhadores apoderados dos campos e das fábricas, das escolas e
rádios foram assaltados por interesses de governo Em outras palavras: quando o poder
exercido pelas organizações operárias e populares foi aos poucos absorvido pela classe
técnico-burocrática instalada na administração do Estado.
Consideramos tão desumanizadora quanto a alienação que separa o trabalhador do
resultado do seu trabalho a alienação do ser humano da sua vontade, da dimensão política
da decisão.
Como esclarece Luigi Fabbri: “Os anarquistas admitem também – e como poderiam deixar
de fazê-lo? – a necessidade de uma administração dos interesses sociais comuns; mas não
dão a essa administração um caráter estatal, quer dizer, não dão aos administradores os
meios e a faculdade de impor sua própria vontade, senão que somente lhes atribuem uma
função executiva.” A heterogestão imposta pelo monopólio estatal do poder político além de
um produto das classes dominantes é um produtor de classes dominantes.
Portanto, a autogestão para nós é um projeto de construção de autonomias individuais e
coletivas que rompe com a alienação proveniente da dominação capitalista através da prática
social e histórica de apropriação coletiva da economia pelos trabalhadores e da
democratização do controle das decisões.
Não acreditamos numa autogestão econômica plena dentro do capitalismo e cremos menos
ainda que modos de produção convivendo e comercializando com a exploração capitalista
possam ser uma saída popular profunda. Contudo não descartamos que em determinadas
circunstâncias unidades produtivas geridas pelos próprias trabalhadores pode se transformar
num espaço complementar de organização e luta que experimenta novos valores nas
relações de trabalho.
A autogestão é completamente oposta à realidade e aos objetivos da sociedade capitalista,
fazendo parte das lutas das classes oprimidas contra o sistema pela busca de uma nova e
mais humana sociedade.
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Democracia Direta
Para que a autogestão se consolide em todas as formas organizativas de um povo em luta e
em todos os níveis da vida em sociedade, esta deve primar pela democracia direta nas
deliberações políticas, ou seja, assegurar a ampla participação, a liberdade de opinião, tudo o
que garante um espaço de expressão das subjetividades em que possam ser definidos
modos de relação, normas, códigos, instituições que conformam a função regulativa da
sociedade. A democracia direta possibilita assim a ruptura com os modelos verticais impostos
de cima para baixo e de fora para dentro, desenvolvendo o contrário: a horizontalidade nas
relações políticas.
Como anarquistas rejeitamos o Estado e a sua democracia representativa que investe seus
eleitos do poder de impor seus interesses particulares fazendo uso dos interesses coletivos.
Rejeitamos essa democracia baseada no governo de uns poucos que concentram o poder
político sobre a sociedade e que elege representantes sem vínculos orgânicos com a
vontade e as aspirações de uma determinada base social.
Dessa constatação deriva nossa firme posição em prol de uma democracia real que não
engendre dominação, de uma nova insticionalidade onde tenha lugar a autogestão, a
democracia direta e o federalismo; uma organização político-social tal que a representação
seja controlada por mandatos específicos e determinados dos grupos de interesse, e a
revogabilidade das funções seja um recurso disponível em qualquer tempo.
Ação Direta
Freqüentemente a ação direta enquanto método de ação é vinculada ao uso de formas
violentas de resistência e lutaou à atividades de cunho extra parlamentar. Entretanto, a ação
direta enquanto uma ferramenta para a construção de um poder popular se torna um conceito
com maior riqueza de conteúdo. 
Em essência, a ação direta é o que faz prevalecer o protagonismo das distintas expressões
que resultam da dinâmica organizacional das classes oprimidas, visando a menor mediação
possível para que não se formem centros de decisão alheios e externos à luta destas classes
pela sua emancipação. Neste sentido, a ação direta é um complemento da democracia direta,
pois busca a participação social de tal modo que possa exercer pressão de forma direta nas
lutas sociais em confronto com as classes dominantes utilizando o mínimo de instâncias
intermediárias.
As classes oprimidas, na medida em que aumentam as possibilidades de uma prática
política alicerçada na ação e na democracia diretas fortalecem o seu senso crítico e
desenvolvem suas capacidades de ruptura com a alienação imposta. Desta forma, podem
assumir, responsavelmente, a defesa de seus interesses, seus erros e seus acertos. Além
disso, podem contrapor-se às fórmulas organizativas e aos objetivos desviantes dos seus
reais interesses coletivos.
Prezar, dinamizar e potencializar a ação direta em todos os níveis é a tarefa primeira da
organização anarquista. Isto significa que a ação direta pode ser estendida a todas as formas
da vida social: política, economia, cultura, enfim, tudo o que constitui a essência e o conjunto
do corpo social. A ação direta pode ser pacífica ou violenta, de propaganda ou de
organização, das diversas lutas sociais e populares ou orgânicas, reivindicativas ou em uma
etapa de avanços revolucionários. 
Neste sentido, os setores oprimidos é que criam as condições de seu protagonismo através
de seu próprio acionar, estendendo-o e aprofundando-o, forjando a sua história e o seu
destino. 
“A emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores”, assim era expresso
esse princípio na Internacional. A unidade na prática política da ação direta é fazer valer esta
premissa plenamente.
Classismo
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Por ser uma sociedade baseada em um conjunto de mecanismos que ativam e reproduzem
relações de dominação, o sistema capitalista conforma uma determinada estrutura de
classes, ou seja, um ordenamento hierárquico de mando e/ou obediência onde estão
posicionados distintos estratos sociais. Como relação que pressupõe, em linhas gerais,
dominantes e dominados, a dominação é uma expressão dinâmica de um conflito que quando
está situado em uma estrutura de classes dá lugar a luta de classes. 
O poder das classes dominantes reside no controle privado ou burocrático dos meios de
produção, comunicação de massas e serviços; na centralização das decisões políticas; nos
aparelhos de repressão e coação; na ideologia burguesa e nos valores que difunde sobre
todas a sociedade. Entendemos que o processamento da luta de classes constitui o motor da
mudança social sendo que na sua condução em sentido revolucionário joga um papel as
ideologias revolucionárias e uma adequada organização da vontade política. 
O anarquismo é a instrumentalização das idéias e aspirações de justiça social com
igualdade e liberdade que encontra na luta e na vida dos trabalhadores e dos oprimidos desse
sistema a sua potencialidade. Sua noção de humanidade projeta uma sociedade sem classes
nem dominação, meta que só a luta revolucionária das classes oprimidas pode alcançar. Por
isso “qualquer tentativa de fazer do anarquismo um atributo da humanidade atual, de atribuir a
ele um caráter humanitário geral seria uma mentira social e histórica”, pois em um sistema de
dominação “não há uma humanidade, há uma humanidade de classes: escravos e senhores”
(Plataforma).
Muito foi questionado sobre o caráter de classe do anarquismo como forma de combater a
sua influência no movimento operário mundial. Os socialistas da matriz marxista mais
ortodoxa fizeram uma campanha difamatória para identificá-lo com as ideologias da pequena
burguesia, dos pequenos proprietários de terra ou para o vincular pejorativamente com os
interesses do que chamaram “lúmpem proletariado” (camadas marginais da sociedade
lançadas fora da esfera de produção capitalista).
Essas acusações situadas em um contexto de disputas de hegemonia na classe
trabalhadora com início na 1ª Internacional já manifestavam sinais de totalitarismo incrustado
no pensamento socialista, que evoluíram até configurar-se historicamente como marxismo-
leninismo. Não aceitar a pluralidade ideológica revolucionária no interior dos movimentos de
classe significaria mais tarde a instituição do partido único e de um eficiente aparelho
repressivo contra as alternativas que não se enquadravam nas teses da “autêntica ideologia
do proletariado”. 
Assim concluímos que o anarquismo é uma ideologia de todas as classes oprimidas e
exploradas enquanto tais, enquanto sejam capazes de se libertar sem oprimir ou explorar. 
CRÍTICA AO SISTEMA CAPITALISTA E AS RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO
O anarquismo não é um sistema fechado de idéias ou uma teoria científica acerca dos
progressos sociais-históricos e suas leis fundamentais. A qualidade de ideário aberto
articulado por alguns princípios básicos caracterizam o pensamento libertário e a sua firme
posição anti-dogmática. Contudo, para fins de uma abordagem militante o definimos de uma
maneira geral como crítica às relações de dominação em todas os níveis da vida social,
crítica adequada a cada circunstância concreta a que está dirigida. 
Nascida no século XIX, a ideologia anarquista se afirmou como crítica radical do capitalismo,
realizando uma luta teórica sem tréguas, ora específica ora mais global, contra seus diversos
mecanismos de poder. 
 A sociedade capitalista é um sistema baseado na dominação, um fenômeno histórico
específico do poder, que está operacionalizado pela exploração e controle do trabalho pelo
capital, com uma estrutura jurídica, política e repressiva que reproduz tal dominação. 
É um sistema que conforma relações de produção, distribuição e troca que retiram os
trabalhadores das esferas de gestão direta dos seus meios de sobrevivência, tanto pelo
controle privado dos patrões quanto pelo controle burocrático dos aparelhos de Estado e seus
dirigentes. 
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O capitalismo constitui uma organização social que se apoia na centralização do poder
político no Estado, isto é, em um conjunto de instituições operadas por uma minoria
posicionada sobre a sociedade, que atribuídas da noção de impessoalidade, regulam o
conjunto social a partir de seus interesses particulares. Essa organização social funciona
também através de uma série de símbolos e significações que se difundem e conservam no
imaginário da população o fundamental de suas estruturas de dominação. 
 Não faltam exemplos que ilustram o caráter de sua ação classista tão danoso sobre os
trabalhadores, os pobres e marginalizados do campo e da cidade. Em 1960 20% da
população dos países mais ricos dispunham de uma renda 30 vezes superior à dos 20% mais
pobres. Em 1995, essa renda era 82 vezes maior. 
A fortuna das 3 pessoas mais ricas do mundo ultrapassa o PIB acumulado dos 48 países
mais pobres, enquanto 3 bilhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia. 4% da
riqueza acumulada das 225 maiores fortunas seriam suficientes para satisfazer as
necessidades essenciais de toda a população dos países em vias de desenvolvimento:
comida, água potável, infra-estrutura sanitária, educação, saúde… 2 bilhões de pessoas no
mundo sofrem de anemia, das quais 0,4% estão nos países industrializados. O número de
pessoas mal nutridas subiu mais que o dobro em 20 anos, passando de 103 milhões em 1970
para 215 milhões em 1990 (referência: PNUD 1998). 
As 200 maiores empresas representam 24,5%do PIB mundial (1998) equivalente ao PIB de
150 países, enquanto que o patrimônio das 200 pessoas mais ricas do planeta passou de U$
440 bilhões em 1994 para U$1.042 bilhões em 1998 representando 41% da renda acumulada
de toda população mundial. Em 1999 existiam 1 bilhão e 500 milhões de pessoas pobres no
mundo, sendo que o Brasil possui 28,7% de sua população abaixo da linha de pobreza,
aproximadamente 47 milhões de pessoas. O desemprego estrutural em nosso país está a
uma taxa permanente de 10% da população (fontes: IBGE-PNAD-1998 e PNUD-ONU-1999).
A crítica socialista e libertária resulta para nós em atitude revolucionária contra esse sistema
porque a desigualdade social, a injustiça e a crueldade não são simples desvios mas traços
de sua própria natureza, de sua estrutura classista, de sua ideologia individualista. Por isso
rejeitamos o capitalismo e abraçamos o desafio de construir um mundo novo.
NOVA FORMA DE FAZER POLÍTICA
A Organização
 O anarquismo não é e não pode ser contrário à organização e sua estreita relação
com as sociedades humanas. Esta é um elemento impossível de ser subtraído da vida social
e mesmo aqueles individualistas e antiorganizadores que a contestam como um prejuízo às
liberdades e iniciativas pessoais têm necessidade de se organizar na hora de agir por um
objetivo qualquer. 
Por organização entendemos a soma das vontades de um conjunto de indivíduos que têm
por base um acordo mútuo empregam determinados meios para realizar suas finalidades.
Assim quando sofremos a vontade unilateral dos outros ou impomos nossa própria vontade
em detrimento das demais estamos diante de uma organização autoritária consubstanciada
por relações de dominação. Por sua vez, quando vivemos com os demais em fraternal acordo
visando a satisfação comum, teremos uma organização livre e horizontal. 
Toda sociedade supõe organização ainda que isto não signifique Estado, isto é, um conjunto
de instituições políticas, jurídicas, militares, econômicas, financeiras, etc., por meio do qual o
povo é alienado da gestão de seus próprios assuntos, da direção dos meios para seu bem
estar pela centralização do poder por uma minoria que se vale da força coletiva e dos
“interesses gerais” da sociedade. O Estado é a forma atual de organização político-social que
os anarquistas combatem por seu caráter hierárquico e coercitivo. 
Concordamos com a análise do anarquista italiano E. Malatesta quando considera: a
organização como princípio e condição da vida social, hoje e no futuro; a organização
específica anarquista e a organização das forças populares na luta anticapitalista. O
anarquismo além de crítica radical ao Estado e à hegemonia autoritária, se constitui também
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em princípio organizativo que concebe a autonomia das práticas sociais e a federação criada
a partir de interesses comuns.
Como militantes anarquistas nos articulamos com uma organização própria para efetivar
uma prática política de intenção revolucionária. Estamos agrupados especificamente com
métodos, acordos e estruturas que têm a função de criar a unidade de ação.
O anarquismo militante historicamente foi avesso ao modelo de organização adotado por
outras doutrinas socialistas que esmaga a democracia interna e centraliza as decisões
segundo a vontade de uns poucos dirigentes. Ao centralismo e seus pretensiosos adjetivos o
anarquismo militante opôs o federalismo adequado à dinâmica de uma organização
anarquista e às condições históricas concretas da luta em que se inscreve. Porém, vale
comentar, o movimento libertário abriga distintas concepções organizativas que nem sempre
atendem ao interesses de militância revolucionária. 
A Federação Anarquista Gaúcha é adepta do especifismo, como tal uma organização
política que concebe o federalismo como “concordância livre entre indivíduos e a Organização
em trabalhar coletivamente rumo a um objetivo comum. Contudo, tal acordo e federação, que
é baseada nele, só poderão se tornar realidade, ao invés de ficção ou ilusão, sob as
condições essenciais de que todos os participantes do acordo e a Organização cumpram
completamente os deveres assumidos, conforme as decisões compartilhadas”.(Plataforma)
A questão da organização deve resolver o problema da coordenação e convergência das
atividades das forças militantes do anarquismo e se fazer instrumento eficiente de articulação
das suas frentes de luta segundo uma estratégia de longo prazo que aponta para a ruptura
revolucionária. Nesses termos não exime a noção fundamental de responsabilidade de seus
membros, “uma certa disciplina, não automática senão voluntária e reflexiva, em perfeito
acordo com a liberdade dos indivíduos (...) necessária sempre que muitos indivíduos, unidos
livremente, empreendam um trabalho ou uma ação coletiva qualquer”.(Bakunin)
Acreditamos que a ordem como imposição vertical de uma vontade não é o único fator
capaz de regular a participação coletiva, mas sim que esta pode ser organizada por um
conjunto de relações postas em atividade por decisões baseadas no acordo livre e
responsável. É possível e necessário promover a ação coletiva a partir de critérios que sejam
respeitados por todos que dispensam a força e a disciplina militarista em favor de motivações
solidárias conscientes em cada um. Isso vale para a organização específica anarquista, para
os movimentos populares e para a sociedade que queremos, fazendo de cada experiência de
luta e organização uma verdadeira escola de vida onde vamos aprendendo a confrontar e a
superar os esquemas autoritários que conformam a natureza do sistema capitalista. 
Prática Política
Pela vigorosa crítica ao parlamento, ao processo eleitoral burguês e a todos os mecanismos
da democracia liberal oferecida pelo sistema capitalista, o anarquismo é acusado até os dias
atuais de se omitir da luta política e por essa razão classificado como “a infância do
socialismo”. Se podemos admitir que existem aspectos insuficientes no pensamento libertário,
ou que em certas circunstâncias o zelo na aplicação termo a termo dos seus princípios
acabou provocando atitudes politicamente inoperantes, não é correto dizer que seu rechaço a
participação eleitoral dos trabalhadores nas instituições políticas governamentais é equívoca.
Na história do movimento socialista, muitos partidos viram nas instâncias representativas da
democracia liberal burguesa um meio para promover mudanças sociais. Entre eles estão os
reformistas, que crêem na possibilidade de transformações pacíficas e graduais operadas por
dentro do sistema e aqueles partidos que mesmo afirmando a necessidade da via
revolucionária jogam nos espaços permitidos da hierarquia estatal com uma política
oportunista chamada de tática. 
Com o tempo, se tornou corrente na cultura política de esquerda, através de suas variantes
social democrata ou dos derivados do marxismo-leninismo, a reprodução acrítica da noção de
que política fazem os profissionais eleitos para cargos nos órgãos executivos e/ou legislativos
do Estado. Nessa lógica, que nada mais é do que a lógica do sistema que separa povo e
política, sociedade e poder, a luta política está sempre agenciada pelas candidaturas e quem
não vota não faz política, não busca soluções viáveis para o drama popular cotidiano. 
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A prática parlamentar e governamental é uma forma específica de fazer política, nunca a
única política. Assim como o Estado é uma determinada expressão histórica concreta de
organização do poder político. A luta política, com a objeção que se possa fazer, sempre foi
um nível objetivado pela ação anarquista, só que de maneira distinta do socialismo autoritário.
Concebemos a prática política como toda atividade em que se manifestam relações entre as
classes oprimidas e o poder político, entre o povo e o governo ou o Estado. A política também
consiste, para nós, na capacidade de formulação de propostasque articulam e veiculam os
interesses gerais e/ou parciais da população, nos conflitos contra o governo ou qualquer
outra instituição do poder que questionam a forma de condução da vida social, e na defesa,
conquista e ampliação das liberdades públicas. 
Essa definição abarcativa nos faz identificar fortes componentes políticos na atividade
levada por sindicatos e entidades do movimento popular, contudo não se reduz a isso. Há um
vasto campo de enfrentamento com os organismos de poder manejados pelas classes
dominantes no qual destacamos uma regular e específica ação política que pretendemos
desenvolver. Através de uma prática política organizada queremos expressar a ideologia
anarquista em uma linha adequada para as problemáticas reais dos oprimidos, a cada
conjuntura que tem lugar e ao nível da correlação de forças em jogo, para estar em condições
de sustentar uma estratégia de poder popular, um processo de protagonismo das
organizações sociais dirigido a uma nova estruturação da sociedade. 
A organização política anarquista não representa nem substitui a luta popular e suas
expressões organizadas, funciona como um motor que a anima sem anular seu papel
principal nos processos históricos.
Só uma organização especificamente política com uma ideologia revolucionária pode
cumprir o papel de sustentar e orientar um processo de luta de longo prazo, luta
revolucionária que exige recursos técnicos, políticos, teóricos e materiais que possibilitem a
sobrevivência e o crescimento mesmo em condições difíceis, o que exige coordenar ações
em setores muito diversos, em terrenos diferentes, em condições de complexidade crescente.
A prática política dever ser, então, o veículo que torna real nossos princípios libertários na
luta de classes.
Inserção Social
Somente a partir do trabalho militante organizado é possível promover com firmeza e
coerência a luta popular. Esta luta e suas conseqüências necessitam de um âmbito de
elaboração da teoria-prática revolucionária. Este âmbito se compõe, entre outras coisas, de
um nível social ocupado pelas organizações de classe e movimentos populares, e também
um nível político específico ocupado pela Organização Anarquista.
A militância de base que fazemos é a única garantia de inserção social das idéias e
conceitos libertários. A legitimidade do anarquismo está na sua participação nas experiências
de luta e organização das classes oprimidas, na sua capacidade de ser útil para o seu
aprofundamento. Por isso a organização política anarquista não deve ser de maneira
nenhuma círculo sectário de idéias puras ou cenário de reflexões filosóficas abstratas, mas
ferramenta que sirva aos propósitos de um processo revolucionário que põe as organizações
populares no centro das iniciativas. Nesse esforço cotidiano nos somamos com um trabalho
de base que respeita antes de qualquer linha partidária a independência de classe e suas
expressões organizadas, sejam sindicatos, associações, comitês de luta, cooperativas
autogestionárias, etc.
No Brasil, devido a inúmeros fatores, incluindo repressão política, mudança de panorama e
padrões sociais e em boa parte por uma defasagem tático-estratégica, o anarquismo ficou
quase 50 anos estagnado com pouca ou nenhuma inserção nos movimentos sociais. Após a
restauração democrático burguesa dos anos 80 se realizaram tentativas de superação desse
vazio que acabaram sem continuidade. 
A inserção anarquista através de uma prática política organizada é uma das necessidades
centrais e prioritárias da FAG. Pela nossa concepção, não existe “lutar para o povo” nem
“lutar pelo povo”, ou se luta com o povo, como militantes que fazem uma opção de classe e
que têm uma identidade popular, ou não existe luta libertária possível. Isso porque nada
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substitui gente organizada. Somente o povo auto-organizado pode criar o poder popular,
aumentando o nível e a intensidade da luta a medida que amplia a consciência política de que
a via revolucionária é possível e necessária. Portanto, na luta popular se prepara e se difunde
a revolução social como alternativa para uma vida digna e livre. 
Os militantes anarquistas têm de ser como peixes dentro d’água no seio das classes
oprimidas, fluindo como sangue nas veias da luta popular. A inserção social é também o
resultado de trabalhos metódicos e regulares. É ela que pode abrir caminho para outros níveis
de luta e por isso mesmo é um objetivo constante, permanente e ininterrupto. Quanto maior
for nossa inserção social, mais a organização política anarquista vai estar sintonizada com a
realidade e mais vamos poder fazer para contribuir na transformação desta dura realidade. 
A ideologia e a Organização se legitimam e se nutrem com a inserção social e a partir disto
mais condições têm de construir soluções coletivas para as problemáticas da realidade
concreta.
Nova Articulação do Político com o Social
Como dizíamos, é característico da ideologia burguesa a reprodução por todos seus
aparelhos da noção que separa sociedade e poder, povo e política e todo tipo de significação
que reforça o verticalismo nos processos políticos. 
A própria esquerda assimila essas noções para realizar uma divisão taxante destas duas
“lógicas” em pólos opostos onde de um lado se encontra o nível “social” caracterizado como
elemento “inconsciente”, “espontâneo”, “meramente reivindicativo”, “de pouco alcance”, e por
outro lado temos o “político”, representado geralmente por um agrupamento militante, pelos
“mais formados”. 
Dessa maneira, um enorme setor da esquerda desmerece o nível social, já que não reflete
suas expectativas “revolucionárias”. É assim que se começa a gerar um modo de fazer
política onde se perde todo contato com a base que é justamente o que dá conteúdo a
qualquer projeto revolucionário.
A estratégia passa então por ganhar “novos militantes”, onde a organização política se torna
um fim em si mesma, e a prioridade é dada ao seu fortalecimento e não ao do movimento
popular. 
Com esse tipo de prática não se faz nada além de aprofundar os marcos de representação
da democracia liberal burguesa, onde as “pessoas comuns” podem realizar atividades no
âmbito social, e a política fica em mãos de profissionais, de pessoas capacitadas na tarefa de
conduzir o corpo social. 
Existem, sem dúvidas, esses dois níveis. Tanto o social como o político são campos com
uma dinâmica própria, com um alcance, com proposições de objetivos diferentes, que os
distingue mutuamente. Nós acreditamos que a partir de reconhecer as diferenças, o que
devemos fazer é buscar formas de articulação que as asseguram em seu ponto justo e não
realizar políticas que tendem a acentuar tais diferenças. Por isso achamos que os dois devem
coexistir em sua justa medida, sem que um se sobreponha sobre o outro e vice versa, mas
com uma prática cotidiana inserida nos movimentos e organizações populares promover laços
que funcionem como correia de transmissão, com o objetivo de superar as diferenças e
encontrar um marco no qual cada um possa contribuir com suas virtudes e ajudar o outro a
superar seus erros.
Nossa concepção não aponta para a acumulação e o desenvolvimento exclusivo da FAG e
seu respectivo nível político específico, e sim faz da organização política anarquista um meio
para gerar um desenvolvimento sustentado das lutas populares e conseguir estabelecer um
marco de discussão e ação no qual tais lutas, tal “nível”, possa superar suas próprias
carências. Superar significa que por exemplo uma luta social construída a partir de uma
reivindicação concreta sinta a necessidade de meter a mão em assuntos que não são de sua
especificidade, que se coordene com outras experiências e lutas em desenvolvimento, e que
finalmente encontre em seu conflito particular um exemploa mais de uma determinada
condição de classe, que portanto sinta a necessidade de dar à sua luta específica um caráter
global. 
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Cremos necessária a orientação de que o nível em que se organizam e expressam os
movimentos dos trabalhadores e as entidades populares não deve ser forçado por
perspectivas político-ideológicas nem manipulado por planos elaborados desde uma instância
longe do cenário das lutas. A independência de classe e de suas organizações sociais é um
critério necessário para as práticas políticas sem o qual não se rompe com o velho modelo
elitista das vanguardas. 
A articulação do político com o social é a base do que entendemos por poder popular,
processo que convoca as duas perspectivas em um mesmo corpo, que se elabora a partir de
uma estratégia que busca dar ao social uma estrutura tão organizada e consciente que
assente as bases para desenvolver desde baixo uma capacidade a qual possa superar os
limites de participação estabelecidos pela hegemonia estado-patronal , quebrar seu domínio e
estabelecer as pautas de desenvolvimento da nova vida social. 
 
CAMINHOS PARA UM PROJETO POLÍTICO LIBERTÁRIO
A Intenção Revolucionária
Na América Latina, são muitas as organizações revolucionárias e movimentos populares
que lutaram e lutam pela libertação. Este é um conceito e objetivo que também está contido
em nosso projeto revolucionário anarquista. 
Entendemos que a libertação de nossa classe só será possível através da luta popular
organizada, construindo um processo revolucionário de longo prazo. Nesta luta continental, a
melhor contribuição que podemos dar é plantarmos todos os dias as sementes dos frutos que
queremos colher. Isso significa que não acreditamos que um novo sistema social, baseado na
igualdade, na justiça e na liberdade poderá nascer a partir de uma conseqüência natural e
evolutiva do desenvolvimento do sistema capitalista, por meio de uma transição pacífica. Pelo
contrário, o sistema capitalista tem dado provas suficientes de sua capacidade de se adequar
a vários momentos históricos para que as suas estruturas fundamentais de dominação não se
alterem. De acordo com a concepção anarquista, para que haja uma ruptura com o sistema
capitalista e o início da construção de um poder popular deverão ser descartados
instrumentos que o próprio sistema criou, certamente para se manter e não para dar
oportunidade à sua autodestruição. 
Por outro lado, é evidente que para que se desenrole um processo revolucionário não basta
apenas vontade. Deve-se avaliar criticamente as experiências revolucionárias da história, mas
sem pretender-se transportar receitas de outras épocas e de países que não são o nosso. É
necessário observar as particularidades do atual momento histórico e da região em que
vivemos. Ver como isso se reflete em nossa classe, em suas organizações, em seu
imaginário. O momento que vivemos hoje é bem diferente de trinta anos atrás. É preciso
construir-se estratégias que atentem a essas particularidades.
Vemos a ruptura como um desenlace popular, o que implica a maior participação popular
possível, por meio de suas organizações, organizando-se o enfrentamento contra a classe
dominante em todos os níveis da ação direta. 
Portanto, a FAG é uma organização política anarquista de intenção revolucionária,
participando de uma luta brasileira e continental cujo caminho apontado pela Organização é o
da libertação popular.
Programa Socialista e Libertário
Acreditamos que a consequência lógica da crítica ao sistema capitalista; das aspirações,
sentimentos e anseios de uma convivência solidária, livre e fraterna entre os seres humanos;
de uma forma de vida que gere harmonia da humanidade com o meio ambiente é o projeto
revolucionário anarquista. Processo que pretende edificar uma sociedade socialista e
libertária como fruto da luta revolucionária cujos protagonistas sejam os movimentos
populares.
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Quando falamos em socialismo libertário queremos demarcar como algo diferente do
chamado “socialismo real” ocorrido na União Soviética, em Cuba e em outros países, que
pela manutenção de estruturas de dominação melhor poderia chamar-se de capitalismo de
estado.
A nível político se consolidou uma nova forma de dominação e o surgimento de uma classe
social, a burocracia estatal. Esta dominação era exercida a partir da administração dos
assuntos de estado, do excedente econômico, da manutenção da ordem interna (reprimindo
qualquer contestação popular, logo tachada de contra-revolucionária), defesa do território
nacional, da coesão ideológica e sua reprodução. Fatos que não constituem nenhuma
surpresa à crítica anarquista ao modelo autoritário.
A construção de uma sociedade realmente socialista e libertária passa por uma socialização
econômica – o que não significa mera estatização dos meios de produção -, como também
por uma completa socialização das instâncias de decisão política.
Tal socialização deverá ser exercida pelas organizações básicas dos trabalhadores e do
povo, e deve incluir os meios de produção, distribuição, crédito e troca, do poder político, da
educação, da administração da justiça, organizações de defesa, fontes de saber e
informação. Tudo isso pressupõe a supressão de toda classe dominante e de propriedade
privada.
Tendo-se por princípio a supressão de toda forma de opressão, isso inclui dentro de nossos
objetivos acabar com a opressão de gênero, de etnias, de opção sexual, etc. Opressões que
tomam forma a nível político-econômico, como também no plano cultural. Que obviamente
não acabarão por decreto, como não acabará dessa forma todo o aparato de dominação, mas
por todo um processo contínuo de destruição e de construção de outras formas de
organização e de novos valores.
Protagonismo da Luta Popular Organizada
A revolução social só acontece, na nossa concepção, quando existe protagonismo popular.
Do contrário, seguirá existindo dominação de uma classe sobre outra. Tal protagonismo
requer uma estratégia de construção do poder popular. Poder não pode ser confundido com
governo. 
Frente a uma estratégia de poder estabelecido destinada a perpetuá-lo, é necessário opor
uma estratégia das classes oprimidas destinada a construir o poder popular. A concretização
do poder popular requer a preparação das organizações de classe destinadas a assumi-lo e o
fortalecimento destas organizações com a tarefa que lhes corresponde desempenhar, pois
edificar o poder popular não significa que os elementos constitutivos do poder sejam
conquistados por uma nova classe dominante supostamente representativa dos interesses
dos trabalhadores. A experiência histórica estaria desqualificando esta opção autoritária. Não
se trata de colocar o nome de poder popular as velhas e conhecidas formas de ação política e
de representação que excluem ao povo de toda instância de decisão fundamental. Portanto,
não se trata simplesmente se tomar das classes dominantes o atual poder político
centralizado, e sim de difundi-lo, descentralizá-lo nos organismos populares, de transformá-lo
em outra coisa. De transformá-lo em uma nova estrutura político-social.
Tomar o poder é tomar o poder nas fábricas, nos campos, nas minas, nas oficinas, nas
escolas, nos hospitais, nas centrais elétricas, nos meios de comunicação, nas universidades,
e o poder é dos trabalhadores e do povo quando são organismos por eles controlados,
amplamente democráticos e participativos, onde os que o assumem apropriam-se das
funções tutelares exercidas desde a esfera estatal. Por isso é que uma estratégia de poder
popular deve ter como premissa essencial a construção desses organismos e esta é a tarefa
política chave que desde já está jogando um papel de primeira ordem na determinação de se
o futuro revolucionário será socialista e libertário ou não. Por isso que a derrota da ordem
capitalista

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