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FUNDAMENTOS DE QUÍMICA DO SOLO Sexta Edição 2017 FUNDAMENTOS DE QUÍMICA DO SOLO Sexta Edição COMISSÃO EDITORIAL Carlos Alberto Bissani Prof. Dr. Departamento de Solos, UFRGS Danilo Dufech Castilhos Professor Dr. Departamento de Solos, UFPEL Egon José Meurer Professor Dr. Departamento de Solos, UFRGS Marino J. Tedesco Professor Dr. Departamento de Solos, UFRGS FUNDAMENTOS DE QUÍMICA DO SOLO Sexta Edição Editor EGON JOSÉ MEURER Professor Dr., Departamento de Solos, Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre, 2017 © dos Autores 6 a Edição: 2017 Pedidos desta Obra: email: egon.meurer@ufrgs.br CIP - CATALOGAÇÃO INTERNACIONAL NA PUBLICAÇÃO F981 Fundamentos de Química do Solo. 6ª. Ed. / Egon José Meurer, Editor. Porto Alegre: 2017 266p.: il. 1. Solo : química do solo: I. Meurer, Egon José CDD: 631.4 CDU: 631.4 Catalogação na publicação Biblioteca Setorial Da Faculdade de Agronomia da UFRGS ISBN 85-7727-020 APRESENTAÇÃO A primeira edição de Fundamentos de Química do Solo foi editada no ano de 2.000, a segunda em 2.004, a terceira edição em 2.006 e a quarta em 2010. A receptividade das edições anteriores no meio acadêmico e fora dele, incentivaram-me a publicar mais esta edição. Nesta quinta edição procurou-se manter a forma e a linguagem da primeira edição desde que é o Livro Texto da disciplina de Química do Solo do Curso Engenheiro-Agrônomo da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esta obra aborda, em linguagem e terminologia adequadas a um curso de graduação, conteúdos de fundamentos da química aplicados à Ciência do Solo. O texto apresenta uma introdução aos conceitos básicos dessa Ciência, seguido do entendimento da fase sólida (mineral e orgânica) e líquida (solução do solo). Na sequência são abordados os fenômenos de sorção que ocorrem em solos, as reações em solos ácidos, alagados e afetados por sais. O último capítulo trata da contaminação e poluição do solo e do ambiente. Fundamentos de Química do Solo pode ser indicado para outros cursos relacionados às áreas do conhecimento que enfatizem a produção de alimentos e a preservação do ambiente. Novamente agradeço a colaboração dos Colegas dos Departamentos de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Federal de Santa Maria. Egon José Meurer Porto Alegre, 2017 PARTICIPANTES Alberto V. Inda Junior Prof. Dr. Departamento de Solos UFRGS Carlos Alberto Bissani Prof. PhD. Departamento de Solos UFRGS Carlos Alberto Ceretta Prof. Dr. Departamento de Solos UFSM Claudia das Neves Costa Prof. Dra. Colégio Politécnico - UFSM Christina V.S. Lima Bióloga, M.Sc. Doutoranda do PPGCS - UFRGS Danilo Rheinheimer Prof. Dr. Departamento de Solos UFSM Egon José Meurer Prof. Dr. Departamento de Solos UFRGS Egon Klamt Prof. PhD. Aposentado do Departamento de Solos UFRGS / Consultor do IICA Elvio Giasson Prof. PhD. Departamento de Solos UFRGS Felipe C. Carmona Eng. Agr. M.Sc. Dr. IRGA/RS Flávio A. de O. Camargo Prof. Dr. Departamento de Solos UFRGS Ibanor Anghinoni Prof. PhD.Departamento de Solos UFRGS Leandro Souza da Silva Prof. Dr. Departamento de Solos UFSM Ledemar Carlos Vahl Prof. Dr. Departamento de Solos UFPel Paulo César do Nascimento Prof. Dr. Departamento de Solos UFRGS Pedro Alberto Selbach Prof. PhD. Departamento de Solos UFRGS Rogério Oliveira de Sousa Prof. Dr. Departamento de Solos UFPel Rosele C. Dos Santos Bióloga, M.Sc. Doutoranda do PPGCS - UFRGS ÍNDICE Página CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS SOLOS 11 E. GIASSON Conceito de solo 11 O perfil do solo 14 Composição do solo 17 Algumas características e propriedades importantes 20 Para saber mais 25 Questões 27 CAPÍTULO 2 COMPOSIÇÃO DA FASE SÓLIDA MINERAL DO SOLO 29 A.V. INDA JR., E.KLAMT E P.C. NASCIMENTO Fase sólida mineral do solo 29 Principais classes de minerais 31 Minerais não silicatados 32 Minerais silicatados 33 Óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos 48 A formação e transformação dos argilominerais 51 Origem das cargas elétricas nos minerais 52 Para saber mais 54 Questões 58 CAPÍTULO 3 COMPOSIÇÃO DA FASE SÓLIDA ORGÂNICA DO SOLO 61 L.S. SILVA, F.A.O. CAMARGO e C. A. CERETTA Composição e estrutura da matéria orgânica 62 Funções da matéria orgânica 68 Reações da matéria orgânica 71 Matéria orgânica e sistemas de manejo 79 Para saber mais 82 Questões 85 CAPÍTULO 4 A SOLUÇÃO DO SOLO 87 E. J. MEURER e I. ANGHINONI Conceito 85 Composição da solução do solo 88 Moléculas orgânicas dissolvidas na solução do solo 91 Concentração e atividade química de um íon 93 Especiação da solução do solo 96 Obtenção da solução do solo 102 Para saber mais 105 Questões e exercícios 111 CAPÍTULO 5 FENÔMENOS DE SORÇÃO EM SOLOS 113 E. J .MEURER, R.D. RHEINHEIMER e C.A.BISSANI Origem das cargas elétricas do solo 114 Modelos de distribuição das cargas elétricas partículas 116 Complexos de superfície 119 Capacidade de troca de cátions e de ánions 121 Fatores que afetam a CTC do solo 124 Adsorção específica (Quimissorção) de íons 132 Modelos descritivos da adsorção de íons em solos 137 Ponto de Carga Zero (PCZ) 141 Floculação e dispersão das partículas do solo 144 Para saber mais 146 Questões 153 CAPÍTULO 6 SOLOS ÁCIDOS E SOLOS AFETADOS POR SAIS 155 C. A. BISSANI, E. J. MEURER e FELIPE C. CARMONA Solos ácidos 155 Acidez ativa e acidez potencial do solo 160 A correção dos solos ácidos 161 Efeito da calagem na disponibilidade dos nutrientes para 165 Utilização do gesso agrícola em solos ácidos 167 Solos afetados por sais 168 Para saber mais 172 CAPÍTULO 7 SOLOS ALAGADOS (REAÇÕES DE REDOX) 177 R. O. SOUSA, F.A.O. CAMARGO e L.C. VAHL Alterações decorrentes do alagamento 178 Efeitos adversos do alagamento 188 Fatores que afetam a redução do solo 194 Para saber mais 198 Questões 200 CAPÍTULO 8 CONTAMINANTES E POLUENTES DO SOLO E DO 201 AMBIENTE C. N.COSTA, E.J.MEURER, C. V.S.LIMA, R. C. DOS SANTOS Principais contaminantes e poluentes de águas e solos 202 Os elementos-traço em solos 206 O solo como meio de descarte de poluentes 215 Mecanismos que atuam na inativação de íons poluentes 215 Para saber mais 227 Questões 241 REVISÃO DE MATEMÁTICA E QUÍMICA 267 BIBLIOGRAFIA CITADA E CONSULTADA 293 Capítulo 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS SOLOS Elvio Giasson Desde muito o homem reconheceu o solo como um elemento fundamental para sua sobrevivência. Os solos e o estudo dos solos tiveram sua importância já reconhecida há muito tempo, quando o homem parou de buscar seu alimento na natureza através da coleta, da caça e da pesca e passou a usar a terra para produzi-lo, deixando de ser nômade. Começou, assim, a interessar-se em estudar os solos e as culturas, a fim de poder contar com uma produção segura de alimentos. Evidências arqueológicas indicam o início da agricultura há cerca de 7.000 anos na Mesopotâmia e há 6.500 anos no México. O CONCEITO DE SOLO O entendimento do que é o solo depende do nível de conhecimento sobre o mesmo. Desta forma, diferentes conceitos de solo têm existido, tendo significado e abrangências diferentes conforme a atividade e o conhecimento de quemo analisa. Assim, para um engenheiro de minas o solo é um detrito que recobre as rochas e minerais e que deve ser eliminado. Para o geólogo é o objeto de estudo da origem, da formação e das sucessivas transformações do globo terrestre e da evolução do seu mundo orgânico. Para o engenheiro de rodovias pode ser o material aonde será locado o leito de uma estrada. Para o produtor rural, o solo constitui a base para a produção agrícola. Historicamente, o solo tem sido estudado e interpretado diferentemente à medida que os conhecimentos sobre a sua complexidade evoluiram. No desenvolvimento da Ciência do Solo destacam-se alguns conceitos que Introdução ao Estudo dos Solos12 contribuíram significativamente para o seu entendimento: a) solo como meio para o desenvolvimento das plantas; b) como produto da alteração das rochas e c) o solo como um corpo natural organizado. a) solo como meio para o desenvolvimento das plantas: desde a antiguidade os povos preocupavam-se com a capacidade dos solos em produzir alimentos, pois deles dependia a sua sobrevivência. A classificação dos solos quanto a sua produtividade agrícola já era utilizada há mais de 4.000 anos na China para avaliar as posses individuais e impostos a pagar ao governo. O conceito agrícola de solos e a qualificação das terras também já eram conhecidos no Império Romano. O desenvolvimento das plantas depende da existência de substrato para fixação das raízes, da quantidade adequada de luz, da disponibilidade de água e da disponibilidade de quantidades adequadas de elementos minerais nutrientes. Por isso, o solo deve prover um ambiente no qual as raízes possam se desenvolver, o que requer espaço poroso, oxigênio e ausência de elementos tóxicos, entre outros. Pelo menos 17 elementos minerais são considerados essenciais para o crescimento das plantas. O carbono, o oxigênio e o hidrogênio, combinados na reação fotossintética, são obtidos do ar e da água. Eles constituem 90% ou mais da massa produzida pelos vegetais. Os restantes 13 elementos são obtidos do solo. Nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre são necessários em maiores quantidades e são denominados de macronutrientes. Nutrientes requeridos em pequenas quantidades são denominados micronutri- entes e são o boro, o cobre, o cloro, o ferro, o manganês, o molibdênio e o zinco (Tabela 1.1). b) solo como produto da alteração das rochas: no final do século XVIII, com o desenvolvimento da Geologia, os solos passaram a ser considera- dos como produtos de alteração das rochas, empregando-se métodos geológicos para a sua classificação. Surgiram, assim, a classificação dos solos de acordo com as rochas que lhes deram origem: solos graníticos, solos calcários, solos sedimentares e assim por diante. c) solo como corpo um natural organizado: a partir dos trabalhos do geólogo russo Dokuchaev, na metade do século XIX, é que os solos passaram a ser reconhecidos como corpos naturais organizados. Reconheceu-se Elvio Giasson 13 que o solo é formado em função das interações entre os fatores ambientais, material de origem, clima, relevo e organismos vivos atuando ao longo do tempo. Tabela 1.1 Macro e microelementos essenciais às plantas, símbolos químicos e formas iônicas comumente absorvidas pelas raízes das plantas Nutrientes Símbolo químico Formas absorvidas pelas plantas Macronutrientes Nitrogênio N NO3 - , NH4 + Fósforo P H2PO4 - , HPO4 2- Potássio K K+ Cálcio Ca Ca2+ Magnésio Mg Mg2+ Enxofre S SO4 2- Micronutrientes Boro B H3BO3 , H4BO4 - Cloro Cl Cl- Cobre Cu Cu2+ Ferro Fe Fe2+ Molibdênio Mo MoO4- Manganês Mn Mn2+ Zinco Níquel Zn Ni Zn2+ Ni2+ Introdução ao Estudo dos Solos14 Neste contexto, os solos são corpos naturais com características próprias desenvolvidas durante seu processo de formação, o qual é condicionado pelos fatores ambientais com características morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas relacionadas aos processos e fatores que lhes deram origem. Assim, considerando a evolução histórica do conceito de solo e a sua importância dentro da Ciência do Solo, um conceito mais adequado e mais abrangente na atualidade pode ser: “Solo: corpo natural da superfície terrestre, constituído de materiais minerais e orgânicos resultantes das interações dos fatores de formação (clima, organismos vivos, material de origem e relevo) através do tempo, contendo matéria viva e em parte modificado pela ação humana, capaz de sustentar plantas, de reter água, de armazenar e transformar resíduos e suportar edificações” ( Beck et al., 2000). Além do conceito formal, o entendimento do solo como um importante componente dos ecossistemas que exerce grande influência no controle de interações ambientais, tem gerado uma nova área de estudos para a Ciência do Solo. Assim, recentemente tem aumentado o interesse na utilização do solo como meio para controle da poluição ambiental. Desta forma o solo vem sendo utilizado para descarte de resíduos com potencial poluente, como compostos de lixo, lodos de estações de tratamento e efluentes industriais. Esta prática tem sido viável devido à capacidade do solo de inativar diversos íons e compostos orgânicos por reações de adsorção, complexação ou precipitação. Os micro- organismos do solo podem, também, decompor compostos e resíduos orgânicos e ter ação sobre organismos patogênicos. O PERFIL DO SOLO Os solos diferem em suas propriedades conforme o material do qual foram originados. O solo é formado a partir do material de origem por influência do clima, organismos e topografia, que atuaram durante longos perío- dos de tempo para produzir o solo como ele é. Assim, diferentes condições ambientais formam solos de diferentes tipos, existindo uma grande variabilidade de tipos de solos, que possuem diferentes profundidades, cores, estrutura, textura, consistência, teores de nutrientes, acidez e matéria orgânica, entre outros. Estas diferenças entre tipos de solos podem ser observadas quando do estudo do perfil do solo. O solo não é constituído apenas pela camada Elvio Giasson 15 superficial cultivada pelos agricultores, mas formado por outras camadas abaixo dessa. A observação de um corte vertical do solo, denominado perfil do solo, permite a observação da existência de camadas paralelas à superfície diferenciadas entre si e denominadas de horizontes do solo (Figura 1.1). O perfil é a seção vertical que inicia na superfície do solo e aprofunda-se até o contato com o material de origem. A observação do perfil permite distinguir os diferentes horizontes do solo. Estes horizontes diferenciam-se pela espessura, cor, distribuição e arranjos das partículas sólidas e poros, distribuição de raízes e outras características. As características de cada horizonte são resultantes da interação dos fatores que proporcionaram a formação do solo, refletindo, assim, o histórico de sua evolução. A caracterização mais detalhada dos horizontes permite identificar, classificar e planejar o uso mais adequado do solo. O perfil do solo é a unidade básica usada para o estudo e descrição dos solos. Os horizontes são designados por letras maiúsculas. Assim, as letras A, B, e C representam os horizontes principais do solo. As letras O e R são utilizadas, para identificar um horizonte orgânico em solos minerais e a rocha inalterada, respectivamente. Assim, um perfil de solo pode conter os seguintes horizontes (Figura 1.1): Figura 1.1 Representação esquemática do perfil do solo e seus principais horizontes Introdução ao Estudo dos Solos16 Horizonte O - horizonte orgânico, de cobertura, composto predominantemen- te por matéria orgânica fresca ou em decomposição que ocorre sobreposto a alguns solos minerais bem drenados; quando horizonte semelhante ocorre em condições de má drenagem é denominado de horizonte H, podendo também ocorrer em maior profundidade no perfil. Horizonte A - horizonte mineral superficial resultante da concentração de materialorgânico decomposto misturado com material mineral; geralmente apresenta coloração mais escura, devido ao material orgânico humificado. Horizonte E – horizonte mineral com cores mais claras devido a perda de argila, óxidos de ferro ou matéria orgânica, que foram transferidos para o horizonte B por eluviação; em consequência, apresentam uma maior concentra- ção residual de areia, constituída principalmente de quartzo. Horizonte B – horizonte mineral bastante afetado pelos processos de formação do solo e caracterizado pelo acúmulo de argila, ferro e alumínio e pouca matéria orgânica. É denominado de horizonte de acúmulo ou iluvial. O conjunto dos horizontes A e B denomina-se de solum, que pode ser definido como a parte do solo que sofre a influência das plantas e animais. Horizonte C – horizonte mineral formado por material não consolidado, com pouca influência de organismos e normalmente apresenta composição química, física e mineralógica similares à do material de onde se desenvolveu o solo. Camada R – camada mineral coesa, subjacente, que representa a rocha inalterada, que poderá ser ou não, a rocha matriz a partir da qual o solo se desenvolveu. A profundidade do solo pode variar de centímetros a muitos metros. Enquanto alguns horizontes podem ser muito espessos, outros podem não existir no perfil do solo. Da mesma forma, a transição entre os horizontes pode ser rápida e facilmente identificável, ou pode ser difusa, ocorrendo muito gradualmente. Cada horizonte pode apresentar características que os diferencia de outro quanto à cor, textura, estrutura, consistência, porosidade, pH, teor de nutrientes e matéria orgânica, entre outras. A textura é uma característica relacionada às diferentes proporções de areia, silte e argila, e influencia muito outras propriedades do solo. Embora existam solos arenosos sem estrutura, a maioria dos horizontes são estrutura- dos na forma de agregados, que podem diferir entre solos e entre horizontes, Elvio Giasson 17 podendo apresentar diferentes formatos, tamanhos e resistência à desagregação. São muito marcantes as diferenças de cor entre solos e horizontes. Os elementos que dão cor aos solos são principalmente o ferro e a matéria orgânica. Enquanto a matéria orgânica confere coloração escura aos horizontes superficiais, o ferro dá cores avermelhadas, alaranjadas e amareladas ao solo. Solos bem drenados, sem excesso de água, são avermelhados, marrons e alaranjados. Solos moderadamente drenados ou solos de regiões frias apresentam cores amareladas com horizontes superficiais escuros (ricos em matéria orgânica). Em solos alagados, o ferro não está presente para dar coloração ao solo, fazendo com que os mesmos tenham cores neutras, variando de cinza claro a preto. Algumas características não visíveis a olho nú e não perceptíveis ao tato também variam entre solos e horizontes: a acidez, o teor de nutrientes, a presença de elementos tóxicos, a porosidade, a água disponível para as plantas, entre outros. A quantidade de cascalho ou pedras presentes nos horizontes do solo também varia, podendo trazer, muitas vezes, dificuldade para o cultivo dos solos. A combinação de todas as características dos horizontes, associada com características da paisagem como relevo, clima, geologia e drenagem, é que vai determinar a aptidão dos solos para uso agrícola ou para outros finalidades. Existem solos mais adequados para diferentes tipos de uso (reflorestamento, pastagens, culturas anuais, construção, áreas de lazer, etc.), assim como existem usos mais adequados para cada tipo de solo. COMPOSIÇÃO DO SOLO O solo é formado por uma fase sólida (minerais e material orgânico) e por uma fase porosa. A proporção destas fases varia de um solo para outro e, mesmo dentro do mesmo solo, de horizonte para horizonte. A fase sólida do solo é formada por material orgânico decomposto e partículas minerais de diferentes tamanhos (argila, silte e areia) que são agrupadas em agregados ou torrões, formando a estrutura do solo. A agregação das partículas permite a existência de espaços vazios no solo, denominados poros, que são preenchidos por água e ar. Na Figura 1.2 é representada a composição de um horizonte A Introdução ao Estudo dos Solos18 superficial que seria considerado como ideal para o crescimento das plantas. A fase sólida A fase sólida ocupa cerca de 50% do volume do solo e é constituída por minerais e por material orgânico. Na fase sólida mineral encontram-se partí- culas sólidas de formas e tamanhos variáveis. Estas são classificadas de acordo com o seu diâmetro em frações granulométricas. As escalas de frações granulométricas mais utilizadas no Brasil são apresentadas no Tabela 1.2. As partículas do solo que apresentam uma grande área superficial em relação a sua massa são denominadas de colóides e têm tamanho inferior a um milésimo de milímetro (1/1000 = 1 micron). A área superficial das partículas por unidade de massa é definida como Área Superficial Específica (ASE) e é expressa em cm2 por grama de partículas (ASE = cm2 g-1) ou em metros qua- drados por grama (m2 g-1). Figura 1.2 Proporção das fases sólida, líquida e gasosa no horizonte A de um solo considerado ideal para o crescimento das plantas. Elvio Giasson 19 A área superficial específica (ASE) aumenta com a diminuição do ta- manho das partículas. Por exemplo, a área superficial específica de uma pequena partícula sólida, com o formato de um cubo com 1 cm de aresta é de 6 cm2 (6 x 1 cm2). Se este mesmo cubo for subdividido em cubos menores com 0,1 cm de aresta, a ASE aumentará para 60 cm2. Se o cubo for subdividido em cubos bem menores, com aresta de 0,01 cm, a ASE será de 6.000 cm2. Assim, uma diminuição de 100 vezes no tamanho da aresta do cubo resultou num aumento de 1.000 vezes na ASE. Na Tabela 1.2 destaca-se a alta ASE e o elevado número de partículas por grama da argila, cujo diâmetro das partículas é menor do que 0,002 mm. É importante salientar, também, que o aumento da ASE de um mineral qualquer, pela redução do diâmetro de suas partículas, aumenta acentuadamente sua reatividade, como será visto nos próximos capítulos. Tabela 1.2 Escala de frações granulométricas de partículas encontra das na fase sólida mineral do solo, número de partículas por grama e ASE Fração Diâmetro das partículas (mm) Número de partículas por grama ASE (cm2 g-1) Matacão > 200 - - Calhaus 200 - 20 - - Cascalho 20 - 2 - - Areia grossa 2 - 0,2 6.510 79 Areia fina 0,2 - 0,05 768.000 318 Silte 0,05 - 0,002 5.776.000 454 Argila* < 0,002 90.260.853.000 8.000.00 * argila tipo montmorilonita Introdução ao Estudo dos Solos20 A fase líquida A fase líquida é constituída por água acrescida de minerais e compostos orgânicos nela dissolvidos, formando a solução do solo. Dada a importância da fase líquida na nutrição vegetal e na sua relação com o ambiente, no Capítulo 4 aborda-se mais detalhadamente este componente do solo. A fase líquida tem uma relação muita estreita com o espaço aéreo do solo, pois este, que representa os restantes 50% do volume do solo (Figura 1.2) é constituído de macro e de microporos. De uma maneira geral é desejável que a água ocupe de 30% a 35% do espaço poroso, principalmente os microporos; o ar e os gases existentes no solo ocupam os restantes macroporos. Quando o solo contém excesso de água, ela ocupa todo o espaço aéreo, expulsando o oxigênio. A persistência desta situação por algum tempo causa prejuízos ao crescimento vegetal. A fase gasosa A fase gasosa que ocupa o espaço poroso do solo (principalmente macroporos) é preenchido pelo ar do solo, que contém de 10 a 100 vezes mais CO2 e pouco menos O2 que o ar atmosférico normal (na atmosfera os teores de CO2 estão em torno de 0,03% e os de oxigênio em torno de 21 %). As plantas não sobrevivem quando o teor de oxigênio no ar do solo é inferior a 10%. Exceção é a cultura do arroz cultivada em solo alagado, e outras plantasaquáticas, que têm estruturas próprias (aerênquimas) que conduzem o oxigênio atmosférico até as raízes. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES IMPORTANTES DOS SOLOS Nesta seção são tratadas mais especificamente, embora brevemente, algumas características e propriedades do solo que são importantes para um melhor entendimento de conceitos e expressões que serão utilizados no estudo do objeto central deste livro, que á a Química do Solo. A cor do solo é uma das características que mais chama a atenção no exame de um perfil do solo. As várias tonalidades de cores existentes no perfil Elvio Giasson 21 permitem delimitar os horizontes. Como resultado da gênese e pedogênese do solo temos, por exemplo, solos escuros, cinzentos, amarelados, vermelhos, brunados, nas mais variadas intensidades. Pela observação da cor é possível fazer algumas inferências sobre outras características do solo. A matéria orgânica, por exemplo, é a responsável, em geral, pelas cores escuras do solo, enquanto que os óxidos de ferro conferem as colorações vermelhas, amareladas e acinzentadas. Em geral cores avermelhadas em solos indicam condições de oxidação ou boa drenagem enquanto que as cores cinzentas ou cinza-azuladas indicam condições de redução ou má drenagem. A textura do solo refere-se a proporção relativa das partículas de areia, silte e argila que compõem o solo. Importantes processos e reações físicas e químicas que ocorrem nos solos estão intimamente associados à textura, devido ao fato que a textura determina a quantidade de superfície nas quais as reações devem ocorrer, além de influenciar muitas outras propriedades do solo. Conforme as diferentes proporções de areia, silte e argila, os solos são agrupados em diferentes classes texturais. Assim, são reconhecidas 13 classes texturais: areia, areia franca, franco-arenosa, franca, franco siltosa, silte, franco argilo-arenosa, franco argilosa, franco argilo siltosa, argilo arenosa, argilo siltosa, argila e muito argilosa. Na Tabela 1.3 exemplifica-se algumas classes texturais de unidades de solos que ocorrem no Rio Grande do Sul, de acordo com as proporções de areia, silte e argila que contêm. A estrutura refere-se ao agrupamento das partículas unitárias do solo em agregados. A agregação é resultante da atração entre as partículas (devido às cargas elétricas de superfície) e da ação de agentes cimentantes ou aglutinadores como a matéria orgânica e os óxidos de ferro. Conforme o tipo de arranjo dos agregados, pode-se encontrar no solo diferentes tipos de estruturas, como, por exemplo, estruturas laminar, prismática, em blocos e granulares. Ademais, os agregados do solo podem ter diversos tamanhos e apresentar diferente resistência à desagregação. A densidade representa a relação entre o peso das partículas sólidas do solo e o volume total do solo seco, sendo expressa em g cm-3. Solos com Introdução ao Estudo dos Solos22 maiores teores de matéria orgânica, por exemplo, apresentam densidades menores, em torno de 0,90 g cm-3. Tabela 1.3 Exemplos de classes texturais de algumas unidades de solos que ocorrem no Rio Grande do Sul, de acordo com as proporções de areia, silte e argila que contêm Unidade Classe Textural Clasificação Taxonômica Areia Silte Argila Bagé franca Planossolo Háplico 46 42 12 Gravatai franco argi- lo arenoso Argissolo Vermelho 54 28 18 Itapoã areia Argissolo Vermelho Amarelo 87 5 8 São Jerôni- mo franco argilosa Argissolo Vermelho 47 22 31 Santo Ângelo argila Latossolo Vermelho 13 25 62 Santa Maria franco arenosa Alissolo Hipocrômico 56 30 14 Uruguaiana franca Chernossolo Ebânico 25 50 25 Os solos arenosos, que são menos porosos, podem ter densidade superior a 1,50 g cm-3. A compactação do solo, pelo tráfego de máquinas agrícolas sobre o terreno aumenta a sua densidade, o que pode dificultar a permeabilidade da água, dificultar o crescimento das raízes das plantas e diminuir o espaço poroso, diminuindo, assim, o ar do solo, que é a fonte de oxigênio para as raízes e microorganismos. A densidade do solo é, também, um parâmetro útil para a determinação da quantidade de água a aplicar no solo em projetos de irrigação. Elvio Giasson 23 A porosidade é o espaço do solo ocupado pelo ar e pela água (Figura 1.2). Os solos possuem poros de vários tamanhos (macroporos e microporos, maiores e menores que 0,06 mm de diâmetro, respectivamente), e em número variado. Solos argilosos apresentam maior porosidade total e uma grande quantidade de microporos, enquanto que solos arenosos apresentam, em geral, um grande volume de macroporos. A capacidade de retenção de água é outra propriedade importante do solo. Como visto anteriormente, a água ocupa uma parte dos poros do solo. A quantidade de água existente no solo provém das chuvas ou de irrigações. Os solos têm capacidades diferenciadas de reter a água. Solos arenosos, por exemplo, retém cerca de 5 a 10% de seu volume, enquanto que solos argilosos, pela maior microporosidade, podem reter em torno de 30% de seu volume. A água é o veículo de transferência de nutrientes do solo para a planta; a água que percola no perfil do solo transporta vertical- mente (lixívia) nutrientes e outros íons que se encontram dissolvidos na solução do solo. Pode, também, levar poluentes como metais pesados para a profundi- dade do solo, contaminando o lençol freático. A consistência refere-se à resposta do solo a forças externas, deformando-se ou rompendo-se. Ela é condicionada pelas forças físicas de coesão e adesão que atuam no solo. Diferentes formas de manifestação destas forças ocorrem, conforme o teor de umidade do solo. Um solo seco expressa a dureza do solo, que pode variar desde solo solto a extremamente duro, resistindo à ruptura; um solo úmido expressa a friabilidade do solo, que pode variar desde solto até extremamente firme; a consistência de um solo molhado é expressa pela plasticidade e pegajosidade. A matéria orgânica Muitas características e propriedades do solo são determinadas ou afetadas pela presença da matéria orgânica. A existência de matéria orgânica humificada no solo demonstra a ação de agentes biológicos. Os organismos que habitam o solo, as associações entre eles, suas relações com o meio e as trans- formações bioquímicas decorrentes de sua atividade são de grande relevância para a produtividade agrícola, para a reciclagem de nutrientes e para a manutenção da qualidade ambiental. Na Tabela 1.4 estão relacionados os Introdução ao Estudo dos Solos24 grupos de organismos geralmente presentes nos solos. Observa-se que estão presentes desde organismos microscópicos, como bactérias e fungos, organis- mos da mesofauna, como insetos, até organismos da macro e megafauna, como minhocas, marmotas, ratos, tatus e lebres. Estes organismos controlam ou participam de diversos processos que ocorrem no solo. Tabela 1.4 Grupos de organismos geralmente presentes em solos (adaptado de Paul & Clark, 1996) Grupos Organismos Microbiota bactérias, actinomicetos, fungos, algas Microfauna nematódios, protozoários Mesofauna insetos, aracnídeos, miriápodos Macrofauna minhocas, marmotas, moluscos Megafauna lebre, ratos, lebres O número de organismos encontrados no solo varia muito dependendo das condições. Por exemplo, o número de bactérias no solo pode variar de 100 mil a 100 milhões por grama de solo. As atividades dos organismos do solo variam desde a fragmentação de resíduos vegetais por insetos e minhocas até a decomposição destes resíduos por bactérias, fungos e actinomicetos. Na decomposição destes resíduos os micro-organismos liberam para o solo nutrientes necessários ao crescimento vegetal. A incorporação significativa de nitrogênio ao solo, através da fixação do N do ar atmosférico por bactérias que vivem em associação com as raízes das plantas (como as do gênero Rhizobium) formando nódulos nas raízes das leguminosas, é outroexemplo da relevante atividade desses microorganismos no solo. Elvio Giasson 25 PARA SABER MAIS a) Área Superficial Específica (ASE) de alguns minerais do solo A área superficial específica dos minerais do solo determina a sua reatividade em solos. É uma importante propriedade e depende tanto das superfícies internas como das superfícies externas do mineral. Na tabela apresentam-se a ASE de alguns minerais secundários do solo. Área Superficial específica (ASE) de alguns minerais secundários do solo Mineral Área superficial específica - m2 g-1 Caulinita 7 - 30 Haloisita 10 - 45 Pirofilita 65 - 80 Talco 65 - 80 Montmorilonita 600 - 800 Vermiculita 50 - 800 Muscovita 60 - 100 Biotita 40 - 100 Clorita 25 - 150 Alofano 100 - 800 b) Relação da composição mineral com propriedades e características do solo Os solos são geralmente constiuídos por misturas de minerais, podendo haver predominância de um deles. Assim, por exemplo, os Latossolos que ocorrem em diversas regiões do território brasileiro, são constituídos predominantemente pelo mineral caulinita e óxidos de ferro (Capítulo 2). Por isso, são solos ácidos, com baixa capacidade de troca de cátions (CTC) e significativa capacidade de adsorção de fósforo, entretanto, com boa agregação das partículas, formando uma estrutura estável. Introdução ao Estudo dos Solos26 Por sua vez, em solos que predominam minerais do tipo 2:1, como as esmectitas, na Região da Campanha do estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, apresentam características e propriedades físicas e químicas diferentes. São solos pouco ácidos, com alta CTC, com elevados teores de cálcio e de nutrientes. Fisicamente são solos muito plásticos e pegajosos quando úmidos e extremamente duros quando secos. São facilmente dispersos em água o que favorece a sua erosão hídrica. c) Sensação ao tato das frações granulométricas do solo As partículas de areia, silte e argila, que definem a textura do solo, apresentam diferentes sensações ao tato. Assim, em amostras de solos, úmidas e homogenizadas, a sensação ao tato é: Areia: sensação de aspereza quando molhada não é plástica e nem pegajosa; Silte: sensação de sedosidade; quando molhada é ligeiramente plástica e não é pegajosa; Argila: sensação de sedosidade; quando molhada é plástica e pegajosa. Elvio Giasson 27 QUESTÕES 1. Os solos podem ser considerados como corpos naturais organizados ? 2. Por que os elementos essenciais para as plantas são classificados como macronutrien- tes e micronutrientes? 3. Quais são os macronutrientes das plantas? 4. Quais elementos são micronutrientes? 5. Por que se afirma que o solo é capaz de armazenar e transformar resíduos contaminantes ou poluentes do ambiente? 6. Qual uma definição abrangente de solo? 7. O que é perfil do solo? 8. O que é horizonte do solo? 9. Quais os principais horizontes do solo? 10. O solo é composto por quantas fases? 11. O que compõe a fase sólida do solo? 12. O que significa "frações granulométricas" do solo? 13. Qual a composição da fase líquida do solo? 14. Qual a composição da fase gasosa do solo? 15. Quais os principais componentes que afetam a cor do solo? 16. O que define a cor vermelha dos solos? E a amarelada? 17. Em geral qual a cor dos solos oxidados? 18. Que cores apresentam os solos mal drenados? 19. Defina textura do solo. 20. Qual o significado de estrutura do solo? 21. E de consistência? 22. O solo tem atividade biológica ? Por que ? Explique Capítulo 2 COMPOSIÇÃO DA FASE SÓLIDA MINERAL DO SOLO Alberto V. Inda Junior, Egon Klamt & Paulo César do Nascimento INTRODUÇÃO Como visto no Capítulo 1, o solo é constituído por três fases: uma sólida, uma líquida e uma gasosa. A fase sólida é composta por uma fração mineral e por uma fração orgânica. Neste capítulo, será abordada a composição da fração sólida mineral do solo; a fração orgânica será apresentada no próximo capítulo. A importância do conhecimento mais detalhado da fase sólida do solo deve-se ao seu íntimo contato com a fase líquida, a solução do solo. É da solução do solo que as plantas retiram os nutrientes necessários ao seu crescimento e desenvolvimento, mas é a fase sólida que controla, em grande parte, a composição da solução do solo. FASE SÓLIDA MINERAL DO SOLO As rochas situadas na superfície terrestre são vulneráveis a processos físicos, químicos e biológicos (intemperismo) que resultam na alteração e desintegração dos minerais originalmente presentes, resultando na formação de novos minerais e na liberação de íons (cátions e ânions). As rochas são, portanto, o material de origem do solo e a fonte primária da maioria dos nutrientes das plantas. Minerais são sólidos que possuem uma composição química característica, a qual pode variar dentro de certos limites. O mineral é considerado cristalino quando apresenta uma ordenação atômica tridimensional Composição da fase sólida mineral do solo30 sistemática, isto é, uma estrutura interna definida que se repete sistematica- mente. Quando não há esta ordenação, o mineral é considerado não cristalino. Os minerais que permanecem no solo sem alteração estrutural, como se encontravam na rocha, são denominados de minerais primários ou litogênicos e ocorrem, predominantemente, nas frações granulométricas mais grosseiras do solo (> 2 mm). Os minerais primários são formados em altas temperaturas e, em geral, são derivados de rochas ígneas ou metamórficas, mas podem também ser herdados de rochas sedimentares. Exemplos de minerais primários comuns em solos são o quartzo e os feldspatos. Outros minerais primários que podem ser encontrados em solos, em menores quantidades, são piroxênos, micas, anfibólios e olivinas. A ocorrência dos minerais primários no solo pode fornecer informações importantes, como o grau de evolução do solo e sua reserva mineral. Os minerais originados a partir da alteração dos minerais primários são chamados minerais secundários ou pedogênicos e predominam na fração argila do solo (<0,002mm = 2 mm). Os minerais secundários comuns em solos são os aluminossilicatos, como a caulinita, a vermiculita, as esmectitas e os óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos. As classes de minerais primários e secundários não são mutuamente exclusivas, podendo, alguns minerais, serem classificados em ambas as classes. Os elementos químicos mais comuns na crosta terrestre (litosfera) são O, Si, Al, Fe, Ca, K, Na e Mg. O oxigênio é o elemento que prevalece, compreendendo cerca de 47% do peso da crosta terrestre e 90% do seu volume (Tabela 2.1). Esses elementos compõem os minerais da fase sólida do solo, e suas propriedades, afetam importantes processos e reações em solos. Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 31 PRINCIPAIS CLASSES DE MINERAIS Os minerais são divididos em classes, dependendo do ânion ou do grupo aniônico dominante. As classes são: a) elementos nativos, b) sulfetos, c) sulfosais, d) óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos, e) haletos, f) carbonatos, g) nitratos, h) boratos, i) fosfatos, j) sulfatos, l) tungstatos, m) silicatos. Essas classes são subdivididas com base na estrutura química e nas semelhanças. Tabela 2.1 Os doze elementos químicos mais comuns na crosta terrestre (adaptado de Schulze, 1989) Elemento Teor médio Raio iôni- co Volume g kg-1 nm % O2- 466 0,14 89,84 Si4+ 277 0,039 2,37 Al3+ 81,3 0,051 1,24 Fe2+ 50 0,074 0,79 Mg2+ 20,9 0,066 0,6 Ca2+ 36,3 0,099 1,39 Na+ 28,3 0,097 1,84 K+ 25,9 0,133 1,84 Ti4+ 4,4 0,068 0,08 H+ 1,4 - - Mn2+ 0,9 0,06 0,01 P5+ 1 0,035 0,01 * O raio iônico e o volume do H+ é desprezível comparado com o O2-. Composição da fase sólida mineral do solo32 MINERAIS NÃO SILICATADOS São assim denominados por não apresentarem o átomo de silício (Si) na sua estrutura. Os principais são: a) Haletos, Sulfatos e Carbonatos - são classes de minerais com estruturas relativamente simples. As ligações entre os cátions e ânions que compõem as suasestruturas são predominantemente iônicas. Os principais representantes dessas classes são, respectivamente, a halita (NaCl), o gesso (CaSO4.2H2O), a calcita (CaCO3) e a dolomita (Ca Mg)CO3. Esses minerais são muito solúveis e facilmente intemperizáveis. São encontrados em regiões semi- áridas, que têm baixa disponibilidade de água para intemperizá-los, e em solos jovens de regiões mais úmidas onde os processos de intemperização tenham sido mínimos. b) Sulfetos - a pirita (FeS2) é o principal mineral dessa classe; ocorre em solos tiomórficos, presentes, por exemplo, na Bacia da Lagoa Mirim no RS, em área de mangue do litoral brasileiro, em solos construídos após a mineração de carvão ou naqueles formados de sedimentos marinhos. A pirita causa problemas de acidificação do solo quando oxidada, devido a formação de ácido sulfúrico (H2SO4), a qual provoca uma diminuição do pH a valores incompatíve- is com o desenvolvimento das plantas (pH<3,5). c) Óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos – são na maioria minerais secundários, os quais tendem a concentrar-se na fração argila de solos altamente intemperizados, como em muitos solos brasileiros. Devido sua importância no solo, esta classe de minerais será abordada no item referente aos minerais da fração argila do solo. d) Fosfatos - esses minerais ocorrem em pequena porcentagem na fase sólida do solo. São formados sob as mais diferentes condições ambientais. Podem se apresentar em inúmeras estruturas, em formas cristalinas e não- cristalinas. A apatita Ca5(PO4)3(OH,F,Cl) é o mineral fosfatado mais freqüente- mente identificado em solos; sua intemperização dá origem a diversas espécies Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 33 de minerais fosfatados secundários. Em geral, os fosfatos cristalinos são utilizados para a fabricação de fertilizantes fosfatados solúveis, pela sua acidulação com ácidos fortes (em geral o H2SO4). Os não-cristalinos são utilizados para aplicação direta aos solos. No Brasil, existem extensas jazidas de fosfatos cristalinos, como as de Araxá e de Patos de Minas. As jazidas de fosfatos naturais mais importantes para aplicação direta ao solo são encontra- das na África e em Israel. MINERAIS SILICATADOS A composição química da crosta terrestre (litosfera) (Tabela 2.1) indica que os minerais mais comuns devem conter silício e oxigênio na estrutura cristalina, constituindo o grupo de minerais denominados silicatos. Além dos minerais primários presentes nas rochas, este grupo constitui uma expressiva parcela dos minerais secundários formados no solo. A unidade fundamental de formação dos silicatos é o tetraedro de silício, com composição SiO4 4-, onde o átomo de silício está coordenado a quatro átomos de oxigênio (Figura 2.1). A carga negativa (-4) resultante desse arranjo tetraédrico é compensada por ligações com íons positivos (Fe2+, Mg2+, etc.), restabelecendo o equilíbrio eletrostático. A união dos tetraedros de silício entre si, pelo compartilhamento dos íons O2-, com adição ou não de outros cátions, forma os vários tipos de minerais silicatos (Tabela 2.2). Alguns silicatos, denominados filossilicatos devido sua morfologia em camadas, apresentam além da configuração tetraédrica, uma outra denominada octraédrica, onde um íon central (Al3+, Mg2+, Fe2+, Fe3+) está coordenado a seis átomos de oxigênio ou hidroxilas (Figura 2.2). Composição da fase sólida mineral do solo34 Figura 2.1 Tetraedro de silício e suas diferentes representações (adaptado de Schulze, 1989). Figura 2.2 Representação do octaedro de alumínio Os principais minerais silicatados são: a) Nesossilicatos - são minerais constituídos por tetraedros de silício isolados, unidos por pontes de cátions como o Mg2+ e o Fe2+. O principal representante da classe é a olivina (Mg2+, Fe2+)2 SiO4, comum em rochas magmáticas e metamórficas. Possui coloração escura e estabilidade muito baixa no solo. Na alteração da olivina há liberação de nutrientes essenciais às plantas (Mg2+) e/ou de elementos (Mg2+, Fe2+, Si4+ e O2-) para formação de novos minerais (Figura 2.3). Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 35 b) Sorossilicatos - a estrutura desses minerais é constituída de duplos tetraedros de silício unidos pelo compartilhamento de um átomo de oxigênio. Estas estruturas são ligadas umas as outras por pontes de cátions. Exemplos da classe são a melilita e o epidoto (Figura 2.3). Tabela 2.2 Classificação estrutural dos silicatos (Shulze, 1989) Classificação Arranjo estrutural Exemplos Nesossilicatos Tetraedros independentes Olivina Inossilicatos Cadeias continuas simples ou du- plas de tetraedros Piroxênos Anfibólios Sorossilicatos Estruturas de tetraedros duplos Melilitas Ciclossilicatos Estruturas de anéis fechados Berílio Turmalina Tectossilicatos Arranjos tridimensionais Quartzo Feldspatos Filossilicatos Lâminas contínuas de tetraedros Micas Caulinita Esmec- titas c) Inossilicatos – apresentam estrutura em forma de cadeias simples ou duplas de tetraedros de silício. Nos inossilicatos de cadeia simples, os tetraedros de silício adjacentes compartilham dois átomos de oxigênio, enquanto nos inossilicatos de cadeia dupla, metade dos tetraedros de silício compartilham dois átomos oxigênio e a outra metade compartilha três átomos de oxigênio. Nos tetraedros há substituição parcial de Si4+ por Al3+, sendo as cargas negativas resultantes compensadas pela presença de cátions (Ca2+, Mg2+ e Fe2+). São minerais escuros encontrados em rochas básicas, como o basalto. Alteram-se facilmente no solo, liberando cátions, como Mg2+, Ca2+, Fe2+, além de Al3+, Si4+ Composição da fase sólida mineral do solo36 e O2-, para a formação de novos minerais. Destacam-se nesta classe os piroxênos (inossilicatos de cadeias simples) e os anfibólios (inossilicatos cadeias duplas). Figura 2.3 Representação esquemática da estrutura de silicatos: A) Nesossilicato; B) Sorossilicato; C) Inosilicato - cadeia simples; D) Inossilicato - cadeia dupla; E) Ciclossiliacto; F) Tectossilicato d) Ciclossilicatos – apresentam estruturas constituídas por tetraedros de silício formando anéis, onde cada tetraedro compartilha dois átomos de oxigênio. Cada anel consiste de três, quatro ou seis tetraedros de silício. Os anéis são ligados entre si por cátions como o Be2+, Al3+ e outros, formando ciclossilica- tos como a turmalina. São minerais pouco comum em rochas. e) Tectossilicatos - a estrutura dos minerais dessa classe apresenta empilhamento de tetraedros de silício em arranjo tridimensional, onde os tetraedros de silício compartilham os quatro átomos de oxigênio com os tetraedros adjacentes. Os representantes mais importantes da classe são o quartzo e os feldspatos. O quartzo é um mineral incolor com a composição química mais simples entre os silicatos (SiO2); o arranjo compacto dos tetraedros de silício confere a A B C D E F Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 37 este mineral uma grande resistência ao intemperismo, sendo por isso, o mineral mais comum na fração areia e silte dos solos. Não contém nutrientes para as plantas; sua importância está mais associada a características físicas do solo, influenciando a sua textura (quanto mais quartzo, mais arenoso é o solo). Esta presente em rochas graníticas, metamórficas e sedimentares. Os feldspatos são minerais de cores claras, comuns nas frações areia e silte dos solos, podendo também aparecer na fração argila. Embora sejam tectossilicatos como o quartzo, parte dos tetraedros contém Al3+ em lugar do Si4+ do que resulta uma deficiência de carga positiva que é compensada pela presença de cátions como K+, Na+, Ca2+. Os feldspatos podem ser potássicos (ortoclásio, KAlSi3O8) ou calco-sódicos (plagiocásios: NaAlSi3O8 - albita, e CaAl2Si2O8 - anortita). São importantes pois quando alteradosliberam nutrientes para as plantas, como o K+ e o Ca2+ e outros elementos (Al3+, Si4+, O2-) para a formação de novos minerais. Ocorrem em rochas ígneas e metamórficas. f) Filossilicatos – devido a sua maior importância no solo, os minerais da classe dos filossilicatos, também denominados argilominerais, serão abordados no item a seguir. MINERAIS DA FRAÇÃO ARGILA DO SOLO Apenas parte dos minerais primários constituintes das rochas ocorre nos solos; a sua proporção depende do seu teor no material de origem, da sua estabilidade à alteração, bem como do estádio de intemperização do solo; os mais estáveis são concentrados nas frações areia e silte do solo. A fração argila do solo é constituída principalmente por uma mistura, em proporções variáveis, de novos minerais: os argilominerais e os óxidos. ARGILOMINERAIS (filossilicatos) Os argilominerais tem este nome pelo fato de ocorrerem dominantemente na fração argila (< 2 mm) dos solos. São silicatos com estruturas em camadas, Composição da fase sólida mineral do solo38 formadas por lâminas tetraedrais de silício (SiO4 4-) ou alumínio (AlO4 5-) unidas a lâminas octaedrais Figura 2.4 e Figura 2.5). Figura 2.4 Lâmina tetraedral vista sob diferentes ângulos e diferentes formas de representação (adaptado de Schulze, 1989). Do empilhamento de camadas resulta a morfologia foliar que classifica os argilominerais como filossilicatos. A lâmina tetraedral (Figura 2.4) é formada pela união de tetraedros arranjados de tal forma que os ápices dos tetraedros (oxigênios apicais) apontam na mesma direção e as bases são unidas pelos vértices (oxigênios basais), formando um padrão hexagonal. A lâmina octaedral é formada pela união de octaedros (Figura 2.5). Na lâmina tetraedral, todos os sítios centrais dos tetraedros estão ocupados por íons Si4+ ou Al3+; entretanto, na lâmina octaedral a ocupação dos sítios centrais pode ser de 2/3 (quando ocupados por cátions trivalentes como o Al3+) ou de todos os octaedros (quando ocupados por cátions divalêntes como Mg2+), sendo esta denominada respectivamente de dioctaedral ou trioctaedral. Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 39 A união entre a lâmina tetraedral e a octaedral dá-se pelos os oxigênios apicais dos tetraedros, que são compartilhados com os octaedros da lâmina octaedral. Esta ligação muito forte entre lâminas tetraedrais e octaedrais forma camadas, constituindo o argilomineral (= filossilicato). Figura 2.5 Lâmina octaedral vista sob diferentes ângulos e formas de representação (adaptado de Schulze, 1989) Quando as camadas são compostas por uma lâmina tetraedral unida a uma lâmina octaedral, os argilominerais formados são denominados do tipo 1:1 (Figura 2.6). Por outro lado, quando as camadas são constituídas de duas lâminas tetraedrais e uma lâmina octaedral situada no meio destas (como um sanduíche), os argilominerais formados são denominados do tipo 2:1 (Figura 2.6). As ligações entre as camadas podem ser muito fortes, impedindo o afastamento das mesmas, constituindo os argilominerais não-expansivos. Em outros casos, a ligação entre as camadas não é tão rígida, permitindo um maior ou menor afastamento das camadas entre si, constituindo os argilominerais expansivos. Os principais argilominerais presentes no solo constam na Tabela 2.2 e são descritos em sequência no texto Composição da fase sólida mineral do solo40 Figura 2.6 Lâminas tetraedrais e octaedrais constituindo as camadas de argilominerais do tipo 1:1 e 2:1 a) Caulinita – é um argilomineral do tipo 1:1 não-expansivo, com uma distância basal fixa de 0,72 nm entre as bases das camadas (Figura 2.7). Camadas adjacentes são unidas por ligações eletrostáticas entre o hidrogênio e o oxigênio, respectivamente da lâmina octaedral e tetraedral. Devido a forte ligação entre as camadas, o espaço entrecamadas é muito reduzido para a penetração de moléculas de água ou íons. A fórmula estrutural da caulinita é Al2Si2O5(OH)4, significando que as cargas positivas nesse mineral [2 x Al 3+ + 2 x Si4+ = (2 x 3) + (2 x 4) = +14] estão em equilíbrio com as cargas negativas [5 x O2- + 4 x OH1- = (5 x -2) + (4 x -1) = -14], resultando numa estrutura neutra (+14 + -14 = 0). Entretanto, podem ocorrer cargas negativas na superfície basal SiO4 4- e cargas positivas e negativas na superfície lateral AlOH das lâminas octaedrais, pela adsorção ou dissociação de íons hidrogênio, dependendo do pH do meio. As cargas negativas (pH maior), que atraem cátions da solução do solo para manter o equilíbrio eletrostático do mineral, conferem às caulinitas uma capacidade de troca de 1 a 5 cmolc kg -1. As cargas positivas (pH ácido) atraem ânions, como o fosfato e o nitrato. A caulinita pode ser formada a partir de diferentes minerais, em solos onde ocorra a remoção parcial de cátions básicos Lâmina tetraedral Lâmina octaedral Lâmina tetraedral Lâmina octaedral Lâmina tetraedral Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 41 e de sílica. Daí ser este o argilomineral dominante na maioria dos solos de regiões tropicais e subtropicais (Latossolos, Argissolos, Nitossolos, etc.). Pelo fato de serem minerais não-expansivos, as caulinitas conferem boas características físicas aos solos (boa agregação, aeração, permeabilidade à água). Nos solos as caulinitas ocorrem na forma de pequenos cristais, com morfologia hexagonal, com uma área superficial específica variando entre 5 e 30 m2 g-1. b) Haloisita – é um argilomineral do tipo 1:1 com estrutura semelhante à da caulinita, com morfologia tubular e/ou esferoidal, contendo moléculas de água estruturais entre as camadas (Al2Si2O5.4H2O), o que expande a distância basal da haloisita para 1,0 nm. É menos freqüente em solos, ocorrendo principalmente naqueles derivados de depósitos vulcânicos. c) Micas - as micas são filossilicatos do tipo 2:1 não-expansivos, apresentando uma distância basal fixa de 1 nm (Figura 2.7). A rigidez das ligações entre as camadas deve-se à presença de íons potássio entre as mesmas, impedindo a penetração de moléculas de água ou íons, e a conseqüente expansão das micas. As principais micas são a muscovita (mica branca, dioctaedral), cuja composição é KAl2(Si3Al)O10(OH)2 e a biotita (mica preta, trioctaedral), de composição K(Mg2+,Fe2+,Mn2+)3(Si3Al)O10(OH)2. Nos tetraedros há uma substitui- ção parcial de Si4+ por Al3+, originando um excesso de cargas negativas na estrutura do mineral, que são compensadas em parte pelos íons potássio entre as camadas. Assim, a capacidade de troca desses minerais varia de 20 a 50 cmolc kg-1. No solo, biotita e muscovita são herdadas do material de origem (minerais primários), principalmente de rochas graníticas, gnaisses ou micaxistos; sendo a ocorrência bem menos frequente em solos de rochas basálticas. Embora a biotita seja mais abundante nas rochas, no solo a mica predominante é a muscovita, devido sua maior resistência a alteração. Ambas ocorrem, predomi- nantemente, nas frações mais grosseiras do solo (silte e areia). Composição da fase sólida mineral do solo42 Tabela 2.2 Classificação simplificada dos argilominerais Cristalinidade Proporção de lâminas por camada Expansibilidade Argilomineral Cristalino 1:1 Não expansivo Caulinita Haloisita 2:1 Não expansivo Micas Ilita Clorita Expansivo Vermiculita Esmectitas Não cristalino Alofano Imogolita A troca dos íons potássio por outros cátions (Ca2+, Mg2+, Na+, H+) permite a entrada de moléculas de água nas entrecamadas, aumentando a distância basal. O mineral resultante desta alteração parcial das micas é denominado de ilita (mica pedogênica), parcialmente expansiva, com menor CTC (5 a 15 cmolc kg -1) e mais pobre em potássio que as micas. A presença de mica em solos pode significar uma disponibilidade potencial de potássio para as plantas, com teores variando de 7 a 14 %. O potássio é liberado durante a alteração das micas pelo intemperismo, transformando-as em outrosargilominerais como a vermiculita, esmectita ou interestratificados com esses minerais. d) Clorita – são filossilicatos com estrutura 2:1 (similar às micas) entre as quais situa-se uma quarta lâmina octaedral chamada lâmina hidróxido entrecamada, anteriormente chamada lâmina brucita (constituída por Mg(OH)2) ou lâmina gibbsita (constituída por Al(OH)3). Este arranjamento estrutural das cloritas conferiu-lhes a denominação de minerais 2:1:1 ou 2:2, cujo espaçamen- Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 43 to basal é fixo de 1,4 nm. A lâmina hidróxido com carga positiva e a camada 2:1 com carga negativa, resultam numa carga negativa líquida de 10 a 40 cmolc kg-1. Nos solos, cloritas são minerais primários herdados de rochas metamórficas ou ígneas, ou produtos da alteração de outros minerais primários. Em solos intemperizados, devido a pouca estabilidade, alteram rapidamente à vermiculita ou esmectitas. e) Vermiculita - A vermiculita é um argilomineral 2:1 similar as micas, entretanto, mostra capacidade de expansão. Vermiculitas trioctaedrais [nH2O, Mgx(Mg3)(Si4-xAlx)O10(OH)2] e dioctaedrais [nH2O, Mgx(Al2)(Si4-xAlx)O10(OH)2] são originadas, respectivamente, da transformação da biotita e da muscovita, ou ainda de cloritas. O espaçamento basal pode varia de 1 nm, quando a vermiculita retém potássio nas entrecamadas, a 1,5 nm, quando as entrecama- das são ocupadas por moléculas de água e cátions hidratados (Ca2+, Mg2+) Nos tetraedros há substituição parcial do Si4+ por Al3+, originando um excesso de cargas negativas na lâmina tetraedral. Como o mineral é expansivo, todas essas cargas ficam disponíveis nas entrecamadas para a troca de íons, conferindo-lhe uma alta capacidade de troca, que alcança 100 a 200 cmolc kg -1 em virtude da grande área superficial específica (750 m2 g-1) do mineral. A capacidade de expansão e contração de vermiculita confere uma alta plasticidade e pegajosidade aos solos em que ocorre, dificultando o manejo agrícola dos mesmos. A presença de cátions com baixa energia de hidratação (K+, NH4 +, Rb+, Cs+) provoca a desidratação das entrecamadas e a fixação destes por formarem complexos de esfera-interna (Capítulo 5) com a superfície das lâminas tetraedrais. No caso do potássio, isto pode afetar sua disponibilida- de, pelo menos temporariamente, implicando em adubações potássicas com maiores doses desse elemento. A vermiculita ocorre em solos pouco intemperi- zados. Quando presente em solos altamente intemperizados, a vermiculita apresenta polímeros de alumínio (hidróxi-Al3+) nas entrecamadas (VHE), característica que aumenta sua estabilidade no solo. Composição da fase sólida mineral do solo44 Figura 2.7 Estrutura esquemática de minerais de solos (adaptado de Shulze, 1989) Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 45 f) Esmectitas - As esmectitas compreendem um grupo de argilomine- rais 2:1 expansivos, dos quais o mais comum é a montmorilonita [M+0,5(Al1,5Mg0,5)(Si4)O10(OH)2]. Podem ser herdadas do material de origem, formadas pela transformação de micas, vermiculitas e cloritas; ou neoformadas a partir da solução do solo. Apresentam uma estrutura semelhante à da vermiculita, porém as substituições isomórficas são predominantes na lâmina octaedral, onde o Mg2+ ocupa o lugar do Al3+. Assim, a distância basal é maior (varia entre 1 e 2 nm), e a capacidade de troca é de 50 a 160 cmolc kg -1. Devido ao pequeno tamanho dos cristais, as esmectitas apresentam uma grande área superficial específica, em torno de 800 m2 g-1, o que proporciona juntamente com a elevada CTC, uma grande capacidade de reter íons (Ca2+, Mg2+, K+, etc.) e moléculas (herbicidas, compostos orgânicos, água) nas entrecamadas. Devido a sua alta capacidade de expansão e contração, as esmectitas conferem uma alta plasticidade e pegajosidade aos solos quando úmidos e, fendilhamentos e consistência dura a muito dura quando secos. Isso torna o manejo de solos esmectíticos em condições extremas de umidade e secamento muito difícil. As esmectitas ocorrem em solos pouco intemperizados (Vertissolos, Chernossolos, Neossolos) de regiões temperadas, áridas e de locais com drenagem impedida (Planossolos, Gleissolos). Sua formação exige altas concentrações de cálcio, magnésio e silício em solução, sendo as rochas ígneas básicas o material de origem mais comum. g) Minerais 2:1HE - são argilominerais 2:1 (vermiculitas ou esmecti- tas) com intercalação de polímeros de alumínio (AlOH) nas entrecamadas (Figura 2.8). Ocorrem em ambientes ácidos, onde os polímeros liberados pelo intemperismo preenchem parcial ou totalmente o espaço entrecamadas do argilomineral. São identificados pela terminação HE (Hidróxi- Al3+ entre camadas). Assim, uma esmectita com hidróxi-Al entre camadas é grafada como EHE; e uma vermiculita, como VHE. Quando, eventualmente, preenchem totalmente as entrecamadas são denominados cloritas secundárias ou pedogênicas. Composição da fase sólida mineral do solo46 O preenchimento do espaço entrecamadas de argilominerais do tipo 2:1 produz modificações significativas nas propriedades químicas e físicas desses minerais: reduz a carga permanente, diminuindo a CTC; aumenta a carga variável, possibilitando a fixação de ânions e metais pesados; reduz a área superficial interna e a capacidade de expansão e contração. h) Argilominerais interestratificados – são argilominerais que apresentam, simultaneamente, estrutura de dois ou mais minerais distintos. Por exemplo: mica-ilita, mica-ilita-vermiculita, ilita-esmectita, caulinita-esmectita, esmectita-clorita. Esta composição estrutural mista decorre da transformação parcial do mineral original em um novo mineral. Isto significa que diferentes porções de um mineral interestratificado apresentam estrutura distinta. Por exemplo, na caulinita-esmectita, a porção referente a caulinita (produto da alteração da esmectita) irá apresentar baixa capacidade de troca e ausência de expansão e contração; enquanto a porção referente ao mineral original (esmectita) irá possuir alta capacidade de troca, bem como contração e expansão. i) Aluminossilicatos mal-cristalizados – são argilominerais de menor importância, formados pelo intemperismo de minerais primários ou secundárioss. Podem ser dominantes em solos desenvolvidos de cinzas vulcânicas (Japão, Hawaí) e muito raros em solos altamente intemperizados (Latossolos, Argissolos). Os principais representantes são a alofana e a imogolita. A alofana é constituída por quantidades variáveis de O2-, OH-, Al3+ e Si4+, apresentando-se em forma de partículas esféricas. A imogolita é constituída por partículas que são agregados de pequeníssimos tubos paralelos (2 nm de diâmetro externo). A capacidade de troca desses minerais pode alcançar 100 cmolc kg -1, com expressiva importância na fixação de fosfatos e outros ânions, diminuindo acentuadamente a disponibilidade destes para as plantas. Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 47 Figura 2.8 Estrutura esquemática de minerais de solo (adaptado de Shulze, 1989) Composição da fase sólida mineral do solo48 ÓXIDOS, HIDRÓXIDOS E OXIHIDRÓXIDOS Sob o termo geral óxidos são, neste texto, compreendidos os óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos. Os óxidos mais frequentes em solos são os de Fe, Mn, Al e Ti, particularmente na fração argila. Seus teores variam de acordo com o teor desses elementos no material de origem e do grau de intemperização do solo. Assim, quanto mais intemperizado for o solo, maior será a concentração de óxidos. Os óxidos de ferro e de alumínio são os mais abundantes, mas geralmente em menor concentração do que os argilominerais. Mesmo assim, são de grande importância, pois afetam as propriedades químicas dos solos, conforme será detalhado no Capítulo 5. Os principais óxidos constituintes da fração mineral de solos são descritos a seguir: a) Óxidos de ferro Os óxidos de ferro estão presentes na maioria dos solos e sãoresponsá- veis pelas cores vermelhas, alaranjadas, amarelas e brunadas utilizadas para distinguir os solos e seus horizontes. As cores e sua distribuição nos solos também permitem identificar processos pedogenéticos, pois o ferro existe na forma de Fe2+ e Fe3+ e é, portanto, afetado pelas condições de oxidação-redução do pedoambiente (ambiente do solo). Os óxidos de ferro são, normalmente, o produto da alteração de silicatos contendo ferro, exceto a magnetita que é herdada do material de origem. Entre os óxidos de ferro, os mais abundantes são os tipos goethita (a- FeOOH) e hematita (a-Fe2O3), que imprimem respectivamente as cores amarelas e vermelhas aos solos. A goethita tende a ser o único óxido de ferro presente em solos de regiões mais frias e úmidas (Cambissolo Húmico, Cambissolo Hístico), com altos teores de matéria orgânica e pH ácido, como na região dos Campos de Cima da Serra (Vacaria, Bom Jesus, São Francisco de Paula) no estado do Rio Grande do Sul. Já a hematita está presente em maior proporção do que a goethita em solos de regiões mais quentes (Latossolo Vermelho, Nitossolo Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 49 Vermelho), como no Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul (Passo Fundo, Ijuí) e nas Missões (São Borja, Santo Ângelo). Óxidos de ferro menos frequentes são a lepidocrocita (g-FeOOH), presente em alguns solos hidromórficos na forma de mosqueados alaranjados, e a maghemita (g-Fe2O3) de cor vermelha em solos tropicais. Ocorre, ainda, a magnetita (Fe3O4), de origem litogênica, que é um óxido identificado em certos solos (Latossolo Vermelho) pela atração magnética por meio de um ímã. Uma forma jovem e mal cristalizada de óxido de ferro é a ferrihidrita (5Fe2O3.9H2O), de coloração brunada; esse mineral ocorre geralmente em situações de má drenagem, por exemplo, em solos de lavouras de arroz irrigado e em canais de drenagem; em tais situações pode haver problema de toxidez de ferro para variedades de arroz sensíveis. Os teores de óxidos de ferro nos solos dependem do teor de ferro no material de origem e do grau de alteração dos solos. Quanto mais avançado o estádio de intemperização, maior a concentração de óxidos de ferro no solo. Por exemplo, no estado do Rio Grande do Sul, solos velhos (Latossolos) apresentam teores de 40 g kg-1 de óxidos de ferro quando originados de arenitos e de 150 g kg-1 quando de basalto; por sua vez, Latossolos de itabirito, em Minas Gerais, podem ter 450 g kg-1 de óxidos de ferro. Além de disseminados nos solos, os óxidos de ferro podem ocorrer em acumulações localizadas na forma de plintita, de concreções (petroplintita), de camadas e couraças cimentadas (= lateritas). Essas últimas são observáveis em alguns pontos do Rio Grande do Sul (por exemplo na Estação Experimental Agronômica da UFRGS, e na região das Missões) e, com muita freqüência, no Distrito Federal e no estado de Goiás. Os óxidos de ferro apresentam carga variável, positiva ou negativa, dependendo do pH do solo, podendo assim adsorver ânions e cátions. São minerais considerados importantes agentes na estabilidade dos agregados estruturais dos solos, na retenção de fosfatos, de elementos traço (Cu, Mn, Co, etc.) e de metais poluentes (Pb, Cd), além de serem fonte de ferro como nutriente para as plantas. Composição da fase sólida mineral do solo50 b) Óxidos de manganês Os óxidos de manganês ocorrem na forma de constituintes menores, mas podem ter efeito considerável em algumas propriedades do solo. Quimicamente são muito complexos, geralmente contém Mn4+ (mas também Mn2+ e Mn3+) e cátions como Na, K, Ba, Ca, Li. Frequentemente ocorrem disseminados no solo, ou associados com os óxidos de ferro; em solos mal drenados ocorrem na forma de segregações pretas nas faces de agregados estruturais ou fendas, ou como nódulos e concreções. Os mais comuns são birnessita [(Na0,7Ca0,3) Mn7O14.28H2O] e litioforita [(Al, Li)MnO2(OH)2]. Os óxidos de manganês geralmente contém elementos traço essenciais para as plantas (Co, Cu, Zn, Mo) e adsorvem fortemente elementos poluentes como Pb e Cd. Em comparação aos óxidos de ferro, os teores de manganês são relativamente baixos, variando de 0,1 g kg-1 a 28 g kg-1 em solos da região do Planalto no RS. Apesar de ser um elemento essencial para as plantas, doses elevadas de manganês tem efeito tóxico, como é observado em Latossolos Vermelhos da região das Missões no Rio Grande do Sul. c) Óxidos de alumínio O mais frequente é a gibbsita (g-Al(OH)3). Sua formação exige ambientes com teores muito baixos de silício na solução (<0,5 mg kg-1), sendo, portanto, restrita a solos ou materias altamente intemperizados e dessilicatados (Figura 2.7). A gibbsita é o produto final na alteração dos argilominerais. De forma semelhante aos óxidos de ferro, também os de alumínio apresentam carga variável, positiva e/ou negativa, dependendo do pH do solo. A gibbsita ocorre em teores apreciáveis em solos de regiões tropicais, como nos Latossolos do estado de Goiás e do Distrito Federal; nos Latossolos do Rio Grande do Sul a concentração de gibbsita é baixa devido ao menor grau de dessilicação dos solos. Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 51 d) Óxidos de titânio Os óxidos de titânio são muito resistentes à alteração; os mais comuns são o anatásio e o rutilo, ambos como TiO2; ocorre também uma forma mista, a ilmenita (FeTiO3). Esses óxidos, geralmente ocorrem em baixa concentração nos solos, alcançando 10 g kg-1 em solos da região do Planalto do Rio Grande do Sul; nesses casos, não tem grande significado agrícola. Entretanto, são úteis na identificação e classificação de solos e materiais de origem. Também são usados como minerais índices na caracterização da homogeneidade do material de perfis de solos. A FORMAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO DE ARGILOMINERAIS Os argilominerais podem se originar: (a) de filossolicatos primários (por ex. a mica), por mudança do material entrecamadas ou (b) por formação a partir dos produtos da alteração de silicatos. A transformação de argilominerais ocorre, por exemplo, pela remoção parcial do K+ nas micas e sua substituição por H+, Ca2+, ou Mg2+, origina a ilita (mica pedogênica). A continuidade desse processo conduz à remoção completa do potássio, pelo qual o argilomineral adquire a capacidade de expandir e contrair; ocorre assim a transformação da mica em ilita e desta em vermiculita ou esmectita; estas últimas herdaram a estrutura básica das camadas da mica. Pela adição de K+ pode haver uma reversão parcial do processo. Tanto a vermiculita, como a esmectita, podem transformar-se em minerais 2:1 HE (VHE ou EHE) pela precipitação de polímeros de Al3+ nas entrecamadas. Por outro lado, a remoção do Al3+ em minerais 2:1 HE restaura as propriedades originais do mineral. A formação de argilominerais (neoformação) dá-se quando silicatos primários e/ou secundários são dissolvidos no processo de intemperização; parte dos produtos da alteração se recombinam a partir da solução do solo e formam novos minerais. Composição da fase sólida mineral do solo52 A partir da dissolução de minerais primários como feldspatos, piroxênos, anfibólios, etc., formam-se esmectitas quando permanece Mg2+ e Ca2+ no sistema; a permanência de K+ favorece a formação de ilita; a remoção das bases e parte do Si4+ origina caulinita, enquanto que a remoção completa do Si4+ favorece a formação de gibbsita. ORIGEM DAS CARGAS ELÉTRICAS NOS MINERAIS Substituições isomórficas - durante a formação dos minerais, ocorrem substituições nas estruturas de um ou mais íons por outros. Um exemplo é o caso da Dolomita, um calcário magnesiano onde íons Mg2+ substituem íons Ca2+. A substituição de um íon por outro num cristal, conservando a mesma estrutura, é denominada de substituição isomórfica, devido à semelhança dos raios iônicos dos íons que substituem e que são substituídos. As substituições isomórficas ocorrem, com muita frequência,na formação dos silicatos, e geralmente outros cátions, com raios iônicos semelhantes ao do silício e ao do alumínio, podem substituí-los nas lâminas tetraedrais e octaedrais. O mais comum é o Si4+ ser substituído por Al3+, na lâmina tetraedral, e o Al3+ ser substituído por Mg2+ e Fe2+, na lâmina octaedral. No tetraedro de silício, assim como no octaedro de alumínio, as cargas dos íons Si4+ (tetravalente) e do Al3+ (trivalente) são compensadas pelas cargas negativas dos átomos de oxigênio que a eles se ligam. Assim, se na substituição isomórfica um íon de menor carga substituir um de maior carga, haverá desbalanceamento de cargas no mineral, havendo, nesse caso, um excesso de carga negativa, que se manifesta na superfície do mineral. As cargas negativas que se originam nos silicatos pela substituição isomórfica, durante a sua formação, são cargas permanentes, não sendo afetadas por mudanças do pH do solo, pois se originam na estrutura do mineral. A existência de cargas negativas nos argilominerais do solo é, provavelmente, uma de suas propriedades mais importantes, pois, em função disso, o solo pode reter (adsorver) e trocar cátions com a solução do solo, como Ca2+, Mg2+, K+, NH4 + entre outros, que são indispensáveis à nutrição das plantas. Essa Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 53 propriedade, que é abordada com mais detalhes no Capítulo 5, é denominada de capacidade de troca de cátions do solo (CTC). Outros minerais do solo, principalmente óxidos de ferro e alumínio, têm a propriedade de apresentar cargas positivas e negativas, conforme o pH do solo (cargas dependentes de pH), como também será visto no Capítulo 5. Composição da fase sólida mineral do solo54 PARA SABER MAIS a) Rochas As rochas são classificadas quanto à origem em: rochas ígneas, sedimentares ou metamórficas. As rochas ígneas, também designadas como magmáticas, constituem aproxima- damente 80% do volume da litosfera e resultam da solidificação do magma, proveniente do interior da Terra. Ocorrem dois tipos principais de rochas ígneas: (i) extrusivas ou vulcânicas, originadas pelo extravasamento do magma à superfície da crosta terrestre, como por exemplo o basalto e o riolito; (ii) intrusivas ou plutônicas, produzidas pela cristalização de magmas que não atingiram a superfície da crosta terrestre, como por exemplo o granito e o gabro. O resfriamento do magma mais rápido em superfície comparativamente ao que ocorre em subsuperfície diferencia as rochas ígneas quanto a textura. Assim, rochas ígneas extrusivas apresentam cristais pequenos não visíveis a olho nu (textura afanítica), enquanto rochas ígneas intrusivas constituem minerais grandes (textura fanerítica), favorecidos pelo lento resfriamento do magma. As rochas ígneas podem ser classificadas conforme o teor de silício em: (i) ácidas (> 65% SiO2); (ii) intermediárias ou neutras (55 a 65% SiO2); iii) básicas (35 a 55% SiO2); e (iv) ultrabásicas (< 35% SiO2). Em rochas ígneas com baixo teor de silício são, geralmente, abundantes minerais escuros contendo ferro e magnésio, como olivinas, piroxênios e anfibólios; essas rochas são denominadas máficas. Em rochas ígneas com mais de 60% de silício em peso, ocorre quartzo associado com feldspatos alcalinos, com pequena quantidade de minerais ferro-magnesianos; essas rochas tem coloração clara e são denominadas félsicas. As rochas sedimentares constituem apenas 5% do volume da litosfera, mas recobrem 75% da sua superfície. São formadas pela deposição de sedimentos resultantes da decomposição, desagregação e retrabalhamento de rochas existentes e de várias origens (ígneas, metamórficas e sedimentares). Devido as variações físicas ou químicas durante o transporte e a deposição do material, os sedimentos tendem a adquirir uma estrutura estratificada ou em camadas. Conforme o processo de formação, as rochas sedimentares são classificadas em: (i) clásticas, quando resultam da deposição mecânica de sedimentos; ou (ii) química-orgânicas, quando são provenientes da precipitação de soluções inorgânicas. As rochas sedimentares clásticas são classificadas conforme o tamanho das partículas, com uma divisão subsequente baseada na composição. As rochas sedimentares química-orgânicas são classificadas conforme sua composição, com subdivisões baseadas na textura. Alberto V. Inda Jr., Egon Klamt e Paulo César do Nascimento 55 As rochas metamórfïcas constituem aproximadamente 15% da litosfera; originam-se de rochas ígneas, sedimentares ou mesmo metamórficas que sofreram transformação na composição mineralógica, na estrutura e na textura, provocadas por modificações devidas ao calor, a pressão e ação química no ambiente em que foram geradas. As temperaturas do metamorfismo ficam acima dos 200o C. Em média, na Terra, a temperatura aumenta com a profundidade na razão de 1oC para cada 30 m. A esta razão dá-se o nome de gradiente geotérmico. A maioria das rochas metamórficas exibe feições planares que recebem a denominação geral de xistosidade (= foliação). Na classificação das rochas metamórficas é considerada a presença de foliação, a textura e a composição mineral. b) A CTC da caulinita A existência de carga negativa permanente ou carga dependente de pH na caulinita é assunto controvertido entre os pesquisadores. A carga permanente constatada em caulinitas tem sido considerada como insignificante ou atribuída à presença de interestratificação esmectita-caulinita e de impurezas na forma de mica. c) O intemperismo químico Intemperismo é um conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que levam a alteração física e química das rochas expostas às condições do ambiente. A ação física do intemperismo (variações de temperatura, água, vento, etc.) conduz a desagregação das rochas mantendo inalterada a sua composição mineralógica. O intemperismo químico compreende fenômenos que alteram a composição mineralógica das rochas e que resultam na formação de novos compostos e minerais. Os principais agentes do intemperismo químico são o oxigênio, a água, o gás carbônico e ácidos orgânicos provenientes da decomposição de organismos vivos; estes fatores atuam isoladamente ou em conjunto. A ação destes agentes pode ocorrer por solubilização simples de compostos, por reações de hidrólise, hidratação, oxidação, redução ou carbonatação. Nos processos de intemperismo é comum a perda de silício e cátions básicos como cálcio, magnésio, sódio, potássio. Elementos como ferro, alumínio, manganês, titânio, tendem a concentrar-se no solo. O quartzo pela sua grande resistência ao intemperismo é comum em solos, sendo o mineral predominante em solos arenosos. Um exemplo de intemperismo químico pode ser ilustrado com a intemperização da anortita (feldspato cálcico) à caulinita (argilomineral 1:1): Composição da fase sólida mineral do solo56 CaAl2Si2O8 + 2CO2 + 3H2O = Al2Si2O5(OH)4 + Ca2 + + 2HCO3 - anortita caulinita Esta reação ilustra a ação da água e do gás carbônico que atuam sobre o mineral primário anortita, intemperizando-o para formar o mineral secundário caulinita com dissolução de Ca2+ que passa para a solução do solo. d) Cálculo da carga e da CTC de um argilomineral - para exemplificar o cálculo da carga da camada e da CTC de um mineral, consideramos a fórmula química de uma vermiculita dioctaedral, onde ocorrem substituições isomórficas tanto na lâmina tetraedral como na octaedral. Na fórmula química apresentada a seguir, MX representa a carga da camada: MX (Si +4 5,7 Al +3 2,3 ) (Al +3 0,5 Mg 2+ 4,8 Fe 3+ 0,7)O20 (OH)4 O cálculo da carga do mineral pode ser efetuado da seguinte forma: a) carga da lâmina tetraedral: Si (5,7 x 4) + Al (2,3 x 3) = +29,7 b) carga da lâmina octaedral: Al (0,5 x 3) + Mg (4,8 x 2) + Fe (0,7 x 3) + O (20 x -2) + OH (4x -1)= -30,8 sendo, portanto, a carga líquida da camada: X = +29,7 +( -30,8) = -1,10 mol de carga (110 cmolc kg -1) Esta é a carga
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