Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros NAGAMINI, E., org. Questões teóricas e formação profissional em comunicação e educação [online]. Ilhéus, BA: Editus, 2015, 287 p. Comunicação e educação series, vol. 1. ISBN 978-85-7455- 439-6. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. Questões teóricas e formação profissional em comunicação e educação Eliana Nagamini (org.) Universidade Estadual de Santa Cruz GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA Rui Costa - Governador SECRETARIA DE EDUCAÇÃO Walter Pinheiro - Secretário UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro - Reitora Evandro Sena Freire - Vice-Reitor DIRETORA DA EDITUS Rita Virginia Alves Santos Argollo Conselho Editorial: Rita Virginia Alves Santos Argollo – Presidente André Luiz Rosa Ribeiro Andrea de Azevedo Morégula Adriana dos Santos Reis Lemos Evandro Sena Freire Francisco Mendes Costa Guilhardes de Jesus Júnior José Montival de Alencar Júnior Lúcia Fernanda Pinheiro Barros Lurdes Bertol Rocha Ricardo Matos Santana Rita Jaqueline Nogueira Chiapetti Samuel Leandro Oliveira de Mattos Sílvia Maria Santos Carvalho Ilhéus - Bahia 2016 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação ©2016 by Eliana Nagamini Direitos desta edição reservados à EDITUS - EDITORA DA UESC A reprodução não autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98. Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004. PROJETO GRÁFICO E CAPA Alencar Júnior DIAGRAMAÇÃO Álvaro Coelho REVISÃO Gabriela Amorim de Santana Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) EDITORA FILIADA À EDITUS - EDITORA DA UESC Universidade Estadual de Santa Cruz Rodovia Jorge Amado, km 16 - 45662-900 - Ilhéus, Bahia, Brasil Tel.: (73) 3680-5028 www.uesc.br/editora editus@uesc.br Q5 Questões teóricas e formação profi ssional em comunicação e educação / Eliana Nagamini, organizadora. – Ilhéus, BA: Editus, 2016. 287 p. – (Série Comunicação e Educação; v. 1). Inclui referências. ISBN: 978-85-7455-411-2 1. Comunicação. 2. Comunicação e educação. 3. Comuni- cação – Estudo e ensino. 4. Comunicacação – Pesquisa. I. Nagamini, Eliana. II. Série. CDD 302.2 SUMÁRIO Apresentação PARTE 1 CONSTRUÇÃO EPISTEMOLÓGICA NA INTERFACE COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal Adilson Citelli Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano Richard Romancini Comunicação e Educação: convergência e imagens como meios de campo Ana Cristina Teodoro da Silva Comunicação, Educação e Cultura: possíveis inter-relações no contexto da sociedade midiatizada Camila de Alvarenga Assis e Silva A mediação educomunicativa e o princípio da indissociabilidade entre ensino-pesquisa-extensão: da monocultura universitária à cultura plural Rosane Rosa Educomunicação e Midiaeducação: um estudo comparativo entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro Elisangela Rodrigues da Costa Educomunicação e transmidiação: considerações sobre audiência, protagonismo e ressignificações Cláudio Messias Linguagens nos modos de narrar: possibilidades e desafios para a Educomunicação Helena Corazza 7 11 25 43 55 71 91 109 129 PARTE 2 PROCESSOS EDUCACIONAIS E COMUNICACIONAIS PARA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE COMUNICAÇÃO Desenvolvimento de capital cultural digital e prossumidores: perspectivas de atuação em rede para os formandos em jornalismo Cláudia Maria Moraes Bredarioli O diálogo da extensão e da pesquisa: algumas possibilidades para pensar a educação na cultura da mídia Saraí Schmidt Alisson Brum A Contribuição da Educomunicação para o ensino superior Rose Mara Pinheiro A aprendizagem baseada em problemas no ensino de jornalismo Ângela Ravazzolo Janine Marques Passini Lucht Texto, cena e a formação pela experiência Mei Hua Soares Práticas pedagógicas no ensino de assessoria de comunicação em universidades públicas: UFPel e Unipampa Elisa Lübeck Terra Carmen Abreu Marislei Ribeiro Educomunicação e a interface com o ensino na graduação Diva Souza Silva Christiane Pitanga Serafim da Silva Representação da literatura brasileira no jornalismo em língua alemã Sonia Breitenwieser Alves dos Santos Castino Experiência de um laboratório de aprendizagem intercursos de PP e RP Alessandra Ferreira A formação ética dos jornalistas: relato de experiência docente Sérgio Rodrigo da Silva Ferreira 147 163 177 193 207 221 235 249 265 277 | 7 Apresentação Série Comunicação e Educação Os artigos publicados nesta coletânea foram apresentados no GP Comunicação e Educação do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação/Intercom, promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, realizado no Rio de Janeiro, em 2015. O Grupo de Pesquisa Comunicação e Educação integra a Divisão Temática Interfaces Comunicacionais, da Intercom. Os estudos apontam referenciais teóricos e metodológicos que permitem compreender as interfe- rências dos processos comunicacionais nos modos de aprender e ensinar, em espaços educativos formais, informais e não formais. Para esta publicação, os artigos sofreram pequenas modificações, atualizando dados ou acrescentando informações e reflexões decorrentes das contribuições teóricas e metodológicas dos pesquisadores. O volume 1 - Questões teóricas e formação profissional em Co- municação e Educação - inicia com estudos sobre a “Construção epistemo- lógica na interface Comunicação e Educação”, em que são operados termos como Educomunicação, Mídiaeducação, Transmidiação ou Comunicação/ Educação. Trazem contribuições teóricas que, para além dos conceitos utili- zados, procuram refletir acerca das interfaces envolvidas nos vínculos da Co- municação com a Educação. Já os “Processos educacionais e comunicacio- nais para formação do profissional de Comunicação” discutem metodologias afeitas ao aprender e ensinar na graduação e cursos de extensão. O volume 2 - Processos educativos na interface Comunicação e Educação - apresenta artigos com enfoque nos “Processos educativos e os meios de comunicação” voltados a verificar quais são as interferências dos meios de comunicação no contexto educativo. Em “Narrativas em linguagem visual/audiovisual: reflexões sobre práticas educativas” destacam-se estudos 8 | sobre a presença de discursividades produzidas pelos meios de comunicação em que se operam linguagens verbais e não verbais e podem compor ativida- des didático-pedagógicas. No volume 3 - Práticas educativas e interatividade em Comuni- cação e Educação – em “Projetos e práticas comunicacionais em espaços educativos”, os artigos mostram a presença da Comunicação como possibili- dade de ampliação da participação cidadã e de preservação dos Direitos Hu- manos, desde que implicada com perspectiva educativa emancipadora. Em “Interatividade, tecnologia e ensino”, os espaços virtuais são tratados como lugares dos novos modos de aprender e ensinar que exigem outro olhar para a importância do letramento digital. O desafio para reunir diferentes pesquisadores, marcados por dife- rentes experiências e perspectivas, tornou-se profícuo por fornecer aos estu- diosos dainterface Comunicação e Educação um conjunto relevante de tex- tos, que certamente contribuirão para o avanço em nossa área de pesquisa. Nesta empreitada, vale destacar agradecimentos especiais ao Prof. Dr. Adilson Odair Citelli pela presença constante nos Congressos e o in- centivo às novas publicações decorrentes desses debates; à Rita Virginia Ar- gollo, Diretora da Editus (UESC), pelo acompanhamento e publicação dos artigos, abrindo a série Comunicação e Educação.Também para Ana Luisa Zaniboni Gomes e Cláudia Maria Moraes Bredarioli pela leitura crítica dos artigos que foram apresentados no ano de 2015. Eliana Nagamini Coordenadora do GP Comunicação e Educação Intercom (2014-2015) Construção epistemológica na interface Comunicação e Educação PARTE 1 | 11 Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal1 Adilson Citelli2 Universidade de São Paulo, São Paulo, SP 1 O conjunto de indagações que circundam os estudos postos na in- terface comunicação/educação – educomunicação – apresentam desafios de várias naturezas cujos alcances requisitam da parte dos interessados dupla inflexão, seja para qualificar os mecanismos de pesquisa seja para identificar tendências e desdobramentos colocados pela própria dinâmica técnica e tec- nológica que envolve os mundos da escola e dos dispositivos comunicacio- nais. Vale dizer, tratamos de tema que possui, ao mesmo passo e em estreito vínculo, decisivo enraizamento institucional – no caso evidenciado neste ar- tigo, a educação formal –, e modulações tecnoculturais ou tecnossociais que elegeram a instabilidade e o dinamismo interno como marcas singulares. A metáfora de Marx segundo a qual tudo o que é sólido se des- mancha no ar funciona para referenciar as contínuas mudanças dos apara- tos produtivos, mas que ganharam, contemporaneamente, impressionante 1 Trabalho originalmente apresentado no GP Comunicação e Educação, Congresso IN- TERCOM, Rio de Janeiro, 2015. Aqui foram procedidos ajustes para a forma de artigo. 2 Prof. Titular junto ao Departamento de Comunicações e Artes. Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Pesquisador 1C do CNPq. Coeditor da revista Comunicação & Educação. Autor, entre outros livros e artigos, de: Imagens do professor na mídia (Org.). São Paulo, Paulinas, 2012; Educomunicação. Construindo uma nova área do conhecimento. São Paulo, Paulinas, 2011. Volume organizado com Cristina Costa; Palavras, meios de comunicação e educação. São Paulo, Cortez, 2006; Comuni- cação e educação. A linguagem em movimento. São Paulo, SENAC, 2000; Linguagem e persuasão. São Paulo, Ática, 2000. 12 | Adilson Citelli Série Comunicação e Educação - Volume 1 profundidade e celeridade. A dialética entre construção, transformação e destruição esclareceu-se como inequívoca evidência, sobretudo, no que vem sendo chamado de mundo pós-industrial, tanto na profusa e transitória oferta de mercadorias que recheiam gôndolas de supermercados e vitrines de shopping centers quanto no próprio setor financeiro, com a sua pecu- liar oferta dos chamados produtos/serviços bancários, um leque de papéis, títulos e operações sobre indexadores que alcançam do segmento acionário ao de câmbio, basicamente marcados pela imaterialidade, mas com força suficiente para repercutir com enorme rapidez nos mercados mundiais. Sem o desejo redutor de criar sobredeterminações mecânicas, é im- perioso reconhecer que as estratégias de organizar os andamentos do capital, as constantes mutações dos instrumentos de produção, em especial quando se observam as inovações trazidas pela ampla digitalização dos sistemas, os novos modos de constituição das sociabilidades, em forte nexo com os dis- positivos da comunicação substanciados em telas pequenas e nas tecnologias locativas, têm repercutido diretamente na maneira de organizar as relações de tempo e espaço. Há uma série de autores dedicados a pensar essa dimensão cro- notópica do sujeito c ontemporâneo insistindo na perspectiva de que os rit- mos do tempo social ganharam não apenas ângulo especioso, mas passaram, também, a expressar contradições com o tempo das instituições. De um lado, o compasso é o da aceleração e, do outro, da dilação. É o que pensam, em registros e explorando vertentes um pouco distintas do mesmo problema, nomes como os do sociólogo alemão Hartmut Rosa (2013) ou do norte-ame- ricano Jonathan Crary (2014), ao tratarem dos novos cenários abertos pela aceleração social. Em torno desta variável teórica, vemos irromper uma série de subtemas que incluem desde a fragilização das instituições tradicionais até o controle do sono, graças a uma estratégia do capitalismo tardio para, se possível, fazer desaparecer a lua, entronizando o sol como o senhor da luz permanente que sinalizaria estarem as vinte e quatro horas à disposição dos negócios e dos fluxos da produção e do consumo. O desajuste posto no coração da alta modernidade entre a rapidez do tempo social, ritmado pelas revoluções técnicas, pelas mudanças nos per- cursos da vida, e a morosidade das instituições, incluindo os mecanismos de governança, a estrutura da família ou do judiciário, traz consigo uma série de resultantes que tanto dizem respeito às maneiras de promover a circula- ção do conhecimento e da informação quanto à afirmação do consumismo, do individualismo, da experiência radicalizada daquilo que David Riesman Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal | 13 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação (1995), com enorme acuidade, ainda nos anos 1950, caracterizou como sen- do a marca da nova classe média norte-americana, constituída por um ajun- tamento de insulados, a caminhar rumo à introdireção e a alterdireção3. Nesta linha, Hartmurt Rosa pensa as mudanças que marcam os compassos do mundo contemporâneo, a partir de três indicadores centrais: a rapidez dos sistemas e processos tecnológicos, manifestados em áreas de transporte, comunicação e produção – é possível eleger, aqui, o efêmero como traço constitutivo de variados tipos de mercadorias; a aceleração das mudanças sociais, identificáveis nos âmbitos da cultura, das instituições e das relações pessoais; a dinamização nos ritmos de vida, expressão de certo paradoxo, pois seria esperado que as facilidades carreadas pelas tecnologias trouxessem consigo um aumento do tempo livre das pessoas, ampliando o lazer e permitindo o chamado ócio criativo4. Para o sociólogo alemão, as marcas estruturais e culturais das instituições estariam em choque com o shrinking of the present5, aquele fragmento temporal em que se diminuem as marcas do passado e se ampliam as expectativas do futuro, imprimindo no hic et nunc a estranha sensação de existir apenas um cenário de “passagem”, da fugacidade caracterizada por um instante de perigo6. 3 A evidência acerca do aumento espantoso no número de pessoas que estão vivendo sozi- nhas tem trazido à luz trabalhos como os de Eric Klinenberg (2012), que mostram a ex- tensão do assunto. Se na época em que Riesman publicou o seu conhecido livro, à altura dos anos 1950, havia 4 milhões de americanos vivendo sós, em seu trabalho, Klinenberg indica o número atual de 30 milhões, sendo que na zona de Manhattan, em Nova Iorque, a metade dos moradores ocupa habitações individuais. E prossegue apontando que entre as causas deste fenômeno estão: as transformações na comunicação, a revolução urbana, o aumento da longevidade, a redefinição do papel social da mulher. Claro está que pa- rece insuficiente imaginarmos que a multidão deixou de ser “solitária” apenas porque se encontra conectada compartilhando as mesmas redes sociais, os mesmos blogs. A comple- xidade ontológica do problema merece inflexão mais detida em espaço próprio. 4 Friedrich Nietzche falando sobre a pressa que marcava a vida nos Estados Unidos, motivo pelo qual as pessoas se envergonhavam do descanso, sendo asfixiadas pela ideia de que era melhorfazer qualquer coisa do que nada, termina na amarga constatação segundo a qual a civilização ganhou ares de barbárie por haver perdido a capacidade de se tranquilizar. Isto é, de aceitar o movimento lento da reflexão, dos achados no campo da arte e da cul- tura. Acerca deste ponto, ler: Giacoia Júnior, Oswaldo. Ansiedade sem aplicativo. In: O Estado de São Paulo. 28/06/2015. 5 A afirmativa de que existe um “encolhimento do presente” aparece em várias passagens do livro de Rosa, Social acceleration. A new theory of modernity (2013). 6 Para retomar a conhecida afirmativa de Walter Benjamin (1985). 14 | Adilson Citelli Série Comunicação e Educação - Volume 1 O encolhimento do presente, ou ao menos a sensação de que ele fi- cou demais estreito, em certa medida resultante da aceleração tecnológica e da própria vida cotidiana, sugere que à fluidez do tempo corresponderia o en- fraquecimento dos laços sociais e das relações interpessoais. Daí, para retomar o pensamento de Riesman, ser possível falar em introdireção e alterdireção, instâncias convergentes e marcadas por uma perspectiva de fechamento e isola- mento dos indivíduos, o que não deixa de carregar curiosa ironia e preocupante paradoxo, pois, ao menos segundo a retórica do nosso tempo, viveríamos sob a larga abrangência da globalização integradora, plugados em redes interconectas on line, portanto longe de compor a multidão de solitários. Considerado por este viés, no qual as manobras da linguagem e as dinâmicas societárias fingem acertar o passo, o problema da aceleração social pode ser pensado como uma orquestra que traz dentro de si elementos disfuncionais, resultando em desen- contros entre o piano e o violino, e afetando a performance final do concerto. A mesma perspectiva do “revolucionar permanente”, destacada por Marx em seu manifesto, e que afirmaria a transitoriedade como determina- tivo do modo de produção capitalista e da burguesia em busca constante de inovação e racionalização do trabalho � é reposta por Jonathan Crary, no seu já citado ensaio acerca da afronta que o ato de dormir parece provocar no capital. O estado de plena felicidade – para quem domina os meios de produção, o comércio, a circulação do dinheiro – seria aquele no qual fosse possível manter os ritmos laborais em funcionamento nas vinte e quatro horas e nos sete dias da semana, prática, ademais, a plena carga em grandes cidades do mundo. Aqui, é útil relembrar, a contrapelo, a observação de Nietzche, para quem, a tranquili- dade, o sossego e o ócio estariam associados semanticamente ao tempo de larga duração, requisito último para se exercitar a capacidade de pensar, fruir a arte, perseguir a liberdade do espírito, enfim, um direito de viver sem os atropelos do shrinking of the present, ou, se quisermos atualizar e particularizar o recla- mo: afastando a tentação do Facebook, do WhatsApp, do e-mail, e quejandos. O problema, segundo formulado por Jonathan Crary, é que a transi- toriedade ancora-se –, não de hoje, mas agora como vetor decisivo, em uma situação de permanência, motivo pelo qual o conceito, por exemplo, de “era digital” resulta, ele mesmo, em tipo singular de boutade, visto cristalizar uma fração temporal que consigna autonomia, independência histórica, fin- gindo estabilidade onde habita instabilidade: No entanto, a realidade bastante diversa de nosso tempo se caracteri- za como manutenção calculada de um estado de transição contínuo. Diante de exigências tecnológicas em transformação constante, jamais Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal | 15 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação haverá um momento em que finalmente as alcançaremos, seja en- quanto sociedade seja enquanto indivíduo (CRARY, 2014, p. 46). E prossegue lembrando que não estamos diante de algo novo – acrescentamos nós, mas apresentando, agora, ritmos, alcances e profundida- des irrecorríveis – haja vista existir: incompatibilidade intrínseca do capitalismo com formações sociais estáveis ou duradouras, e a história dos últimos 150 anos é inseparável da “revolução contínua” das formas de produção, circulação, comuni- cação e construção de imagens (CRARY, 2014, p.47). Em síntese, Hartmurt Rosa e Jonathan Crary convergem no atinen- te ao ponto que estamos destacando como uma das marcas caracterizadoras da alta modernidade: a pressa, a velocidade, o açodamento, tudo seguido da superoferta de mercadorias, o que combina, em procedimentos de retroali- mentação, com o consumismo e a alterdireção. Ou, nos termos de Crary (2014, p. 52): Esse fenômeno contemporâneo da aceleração não é simplesmente uma sucessão linear de inovações, na qual cada item obsoleto é substituído por um novo. Cada substituição é sempre acompanhada por um au- mento exponencial do número de escolhas e opções disponíveis. É um processo contínuo de distensão e expansão, que ocorre simultaneamente em diferentes níveis e em diferentes lugares, um processo no qual há uma multiplicação das áreas de tempo e experiência que são anexadas a novas tarefas e demandas envolvendo máquinas. A lógica do desloca- mento (ou obsolescência) é conjugada a uma ampliação e diversificação dos processos e fluxos aos quais o indivíduo se vincula efetivamente. Posto de outra maneira, os mecanismos da aceleração e da diversi- ficação tecnológica criam os ambientes ou os fluxos no interior dos quais os indivíduos – respeitando-se particularidades culturais, de classes, econômi- cas, etc. – definem interesses, conformam valores, entram no debate público, assumem formações discursivas, ativam processos comunicacionais, enfim, singularizam mecanismos de integração na dinâmica social e de constru- ção das sociabilidades. Diante deste quadro, fica no ar a pergunta acerca de como as instituições tradicionais, aquelas responsáveis, em tese, pela forma- ção educativa, religiosa, política, ética, moral, à maneira das escolas, igrejas, partidos, famílias, etc., localizam-se frente aos mecanismos de aceleração social, da decisiva dominância dos mediadores tecnocomunicativos, do apa- rente desconforto resultante do shrinking of the present. 16 | Adilson Citelli Série Comunicação e Educação - Volume 1 2 Ao seguirmos as reflexões acima, impõe-se abrir duas vertentes quan- do a matéria de referência é o universo da educação formal. De um lado, o encolhimento do presente, com a sua marca transitiva em ritmo acelerado, no qual os mediadores técnicos da comunicação jogam papel importante. Tais mediadores, eles próprios cifrados pela curta duração, pela “obsolescên- cia constitutiva”, a ser acompanhada in praesentia nas vitrines das lojas, nas ofertas que inundam as páginas da internet, a exemplo dos celulares, e a sua sequência quase fetichista de gerações que se sucedem anualmente, num infindável atropelo de Gs: 1, 2, 3, 4, etc. De outro lado, a escola como unidade marcada por configuradores institucionais desenvolvidos segundo outra lógica temporal, com os seus ritos e a convivênc ia com o tempo lento, necessário aos processos de (in)formação, sistematização, maturidade reflexiva, vínculos com o conhecimento, etc. O “revolucionar permanente” possui, aqui, outro sentido, implica- do, em particular, com a ordem do saber, do conhecimento, da pesquisa, dos avanços no âmbito das ciências, circunstâncias todas que lançam olhar desconfiado para o sentimento de urgência. A se lembrar o significado do substantivo formação (erfahrung) que diz respeito aos vínculos dos sujeitos com os planos objetivos e subjetivos, ademais, articulados no território da experiência, logo, da vivência/maturidade. E, para tanto, impõem-se, ainda seguindo a já citada metáfora nietzschiana da tranquilidade, certa lentidão incompatível com o estreitamento do tempo presente, aquele no qual a esco- la precisa realizar a sua operação formativa. Equivale dizer que a tensão temporal e de imperativos pragmáticos entre as dinâmicas da transitividademarcada pelo sentimento de urgência e o aparato das instituições tradicionais está posta de maneira vigorosa para a educação formal. Nesse descompasso, podem ser localizadas algumas das várias fragilidades que matizam o sistema escolar brasileiro, cuja tradução pública, muitas vezes espetacularizada pela mídia, traduz-se nas críticas ao currículo7, à defasagem dos programas de ensino, ao despreparo dos profes- sores, à leniência das autoridades governamentais, ao acesso de milhões de jovens das classes populares ao ensino público, à tibieza nas avaliações, ao 7 Está em fase final de discussão a Base Nacional Comum Curricular, que deverá orientar a construção dos currículos das escolas de ensino básico no país. Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal | 17 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação paternalismo, ao abastardamento do que teria possuído nobreza no passado, para ficarmos em itens de uma lista infindável. A contraparte do diagnóstico, isto é, a requalificação da escola, seria possível, por outra série de tópicos formulados, segundo o lugar social, político ou ideológico da enunciação, através do rigor nas aprovações/reprovações dos alunos, do adestramento para operações como a tabuada, a leitura, a escrita, da retomada do enciclo- pedismo propedêutico, da férula da repressão aos discentes desajustados na sala de aula, da cobrança de resultados por metas impostas aos docentes, da mudança nos padrões de financiamento da educação, na reorganização da escola segundo o modelo dos ciclos únicos8, etc. Independentemente da procedência de algumas das cláusulas sal- vadoras postas acima, pouco ocorre às críticas sobre a escola atual uma nova visagem acerca dos contornos culturais ou dos desafios apresentados pela questão da temporalidade e da presença das tecnologias da comunicação e da informação nos configuradores institucionais e na sociabilidade dos jo- vens e adolescentes. Acerca destes últimos reptos, talvez pela complexidade que apresentam e pela própria dificuldade de acompanhar os seus desloca- mentos, reina um desconfortável silêncio. Parece persistir uma consciência que pergunta, mas se esquiva de oferecer resposta, preferindo continuar na rota do cronos que rege, tradicionalmente, a instituição escolar, eximindo-se, portanto, de apreender as temporalidades localizadas, também, fora das salas de aula. E nestes outros lugares, igualmente carregados de contradições, ha- bita o amplo território da comunicação, seus mediadores, suas tecnologias, seus apelos de velocidade e aceleração do tempo social, que marcam a fundo os modos de ser, aprender e conviver, dos jovens e cujas convergências en- contram, por vias diretas ou indiretas, os espaços da educação formal. Das questões apontadas nos tópicos acima foi possível, de forma sintética e nos limites dados por este artigo, destacar algumas categorias: “shrinking of the present”, processos formativos, aceleração do tempo. E acrescentar que tais linhas de força ganharam evidência graças à pesquisa que realizamos junto à rede pública de ensino. No contato com os pro- fessores e alunos identificamos temas e subtemas que, à maneira daquelas categorias, podem contribuir para o avanço nos estudos postos na interface 8 Como decorrência da aplicação de modelos de gestão cujo olho parece sempre voltado para a redução de custos, traduzido no termo reorganização da escola, ocorreram, no final de 2015, os conflitos entre o governo do Estado de São Paulo/Secretaria de Educação, e os estudantes do sistema público paulista. 18 | Adilson Citelli Série Comunicação e Educação - Volume 1 comunicação/educação. A seguir detalharemos alguns aspectos da referida investigação. 3 A pesquisa, em sua angulação maior, realizou-se durante o segundo semestre de 2013 e o primeiro de 2015, envolvendo 197 docentes e 669 discen- tes. Aqueles estavam alocados em 32 escolas espalhadas pelas zonas norte, sul e oeste da cidade de São Paulo, afora municípios dispersos em raio próximo dos 200 km da capital, compreendendo Osasco, Barueri, São Roque, Tauba- té, Tremembé, São José dos Campos e Avaré. Os discentes distribuíram-se por 24 escolas, localizadas geografica- mente nas regiões e cidades acima mencionadas. A diferença entre o número de unidades educativas associadas aos professores, com relação aos estudan- tes, decorre do fato de atuarem em mais de uma unidade educativa, às vezes na mesma região, outras até em cidades diversas. A capilaridade da amostra foi possível graças ao trabalho de orientandos e colaboradores9 que exercem o magistério ou realizam pesquisas na interface comunicação e educação. A nossa investigação utilizou dois instrumentos centrais: o contato pessoal com depoentes e um questionário com 45 perguntas fechadas ou abertas dirigidas a docentes; e outro, com as mesmas características, mas con- tendo 36 questões voltadas aos discentes. O material foi consolidado, em sua maior parte tabulado e traduzido em números e gráficos, analisado e, naqui- lo que se reconheceu como pertinente para o escopo deste artigo, utilizado para alimentar comentários e análises. Os dados totais coletados permitiram o acesso a informações e ma- nifestações atinentes a um conjunto amplo de perguntas, segundo orienta- das aos professores ou aos estudantes, alimentadoras das dinâmicas escolares, das práticas educativas, dos interesses culturais, dos hábitos midiáticos, das ligações com os ambientes digitais, enfim, dos distintos planos que singulari- zam os vínculos da comunicação com a educação. As bases em que se deram alguns encontros com alunos, certas pre- cariedades nas escolas, por vezes desalento entre docentes, tendo por pano 9 Maria do Carmo Souza de Almeida, Elisangela Rodrigues da Costa, Sandra Pereira Fal- cão e Guilherme Yazaki. Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal | 19 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação de fundo as delicadas condições de existência da rede de ensino, sobretudo aquela de natureza pública – que abrangeu a maioria das escolas referidas aos depoentes, em torno de 70% – permitiram aproximar diversas realidades da educação formal em algumas regiões da cidade e do Estado de São Paulo. À frente arrolamos alguns dados da pesquisa, seguidos de comentá- rios, a fim de mais bem conectá-los com a síntese conceitual realizada nos tópicos anteriores. 1. Acerca dos equipamentos existentes nas escolas pesquisadas. As respostas permitiam a indicação de mais do que uma alternativa. Professores Televisão 189 97% Rádio 156 80% Gravador de áudio 66 34% DVD 178 92% Câmera fotográfi ca 139 72% Filmadora 91 47% Powerpoint (projetor) 138 71% Outros 88 45% Alunos Televisão 562 81% Rádio 472 68% Câmera fotográfi ca 309 45% Aparelho de DVD 522 76% Filmadora 190 28% Gravador de áudio 113 16% PowerPoint (projetor) 463 67% Outros 129 19% As indicações dos docentes e discentes coincidem no fundamental. Algumas diferenças nos números absolutos derivam de eventuais intercorrên- cias nas respostas dos estudantes movidas, muitas vezes, por desinformação sobre os dispositivos existentes nas unidades educativas pesquisadas, ou são apenas elisões de rubricas que permitem mais de uma resposta. A televisão surge em 1º lugar, indicada por 97% dos docentes e por 81% dos discentes, no mais, a sequência é praticamente a mesma. Vale destacar que equipamentos como câmeras fotográficas, filmadoras ou Power Point são mencionados com 20 | Adilson Citelli Série Comunicação e Educação - Volume 1 razoável frequência. No caso dos professores, em 71%; e na dos estudantes, em 67%, o PowerPoint é pontuado, revelando que vai se tornando um dos recursos presentes nas salas de aula do ensino básico. 2. Escolas com computadores. Professores Computador sem internet 61 31% Computador com internet 163 84% Computador nas salas de aula 15 8% Computador na sala dos professores145 74% Computador na secretaria/diretoria 184 94% Sala de informática 170 87% Não possui computadores 0 0% Alunos Computador sem internet 135 19% Computador com internet 586 84% Computador nas salas de aula 107 15% Sala de informática 607 87% Não possui computador 15 2% Também neste caso, há indicadores convergentes entre professores e alunos, sobretudo naquilo que nos interessa diretamente, e que diz respei- to seja à existência das salas de informática (87%) seja de computador com internet (84%). Tal realidade quase universalizada, nas escolas que compu- seram o nosso corpus, no afeito à existência de computadores com conexão, permite dizer, ao menos neste particular, que as unidades de ensino não se encontram alheias ao movimento geral de digitalização que acompanha os encadeamentos das comunidades educativas com a sociedade inclusiva. 3. Procuramos saber dos alunos se a existência dos recursos tecnológicos poderia contribuir para melhorar a qualidade da aula: Depende 7 1,18% Não 12 2,03% Sim 12582 98,47% Vale dizer que as aulas baseadas apenas em recursos expositivos, ou magistrais, podem encontrar barreiras junto aos jovens frequentadores do Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal | 21 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação ensino básico. E os números são claros, pois a quase totalidade dos pesqui- sados (98,47%) vinculam a melhoria na qualidade das aulas ao acionamento das possibilidades técnicas hoje à disposição dos docentes, conforme tabelas anteriores. Parece ocioso acentuar que a resposta está em linha com a forma de os chamados nativos digitais se relacionarem com os circuitos da comuni- cação, dos acessos à informação e mesmo a certas formas de conhecimento. 4. Em seguida, indagamos se os professores, para o andamento das aulas, faziam uso de notícias dos jornais, revistas, propagandas, letras de música, fi lmes. Seguiram-se as respostas: Sim 579 83% Não 111 16% Frente à constatação da crescente utilização de estratégias didáticas para promover as atividades, agregamos outra pergunta aos discentes, a fim de saber se aqueles recursos ajudavam ou dificultavam a compreensão da matéria em expo- sição. E, diante dos 548 respondentes, quase 98% apresentam resposta afirmativa: Ajuda 538 98,15 % Difi culta 4 0,72 % Depende 6 1,09 % Estas e outras respostas de semelhante diapasão permitem afirmar com razoável segurança que existe rentabilidade pedagógica quando se pro- movem determinados processos calcados nas possibilidades facultadas pelas novas tecnologias e pelas linguagens da comunicação mediada. Ou, de outra maneira, fica difícil trabalhar no território da educação formal sem a devida atenção para este mundo de dispositivos técnicos, aceleração do tempo, pro- fusão de imagens, instantaneidade no acesso à informação, capacidade de re- gistrar e colocar em circulação social eventos, ocorrências, acontecimentos. 5. Por este viés, quisemos saber dos professores como consideravam as interfaces dos meios e das linguagens da comunicação com a escola, se possuíam caráter complementar ou antagônico: Antagônica 4 2,07% Complementar e antagônico 5 2,09% Complementar 158 94,6% 22 | Adilson Citelli Série Comunicação e Educação - Volume 1 A maioria (94,6%) dos docentes entende haver continuidade entre o discurso propriamente didático escolar e as linguagens institucionalmente não escolares. Ou seja, existe clara consciência acerca do necessário estrei- tamento dos diálogos entre comunicação e educação. Nota-se, comparan- do as pesquisas que vimos fazendo ao longo dos últimos anos envolvendo este âmbito educomunicativo, que não apenas diminuiu a resistência dos professores quanto ao tratamento dos temas, problemas, linguagens afeitas à comunicação, como se trata, agora, de trazê-los de modo mais decisivo para o ambiente escolar. Conclusão É perceptível para quem está voltado ao trabalho na interface comu- nicação e educação, ou educomunicação, conforme tratamento corrente em nossos dias, o fato de estarmos frente a problemas no âmbito das escolas que não se esgotam nos temas – certamente procedentes, em plena vigência e a serem urgentemente enfrentados, haja vista a dramática situação salarial e profissional dos docentes – ligados à infraestrutura e condições materiais do trabalho levado a termo pelos educadores. É imperioso dar tratamento prio- ritário a tais temas, sem o que fica cada vez mais difícil alcançar os objetivos de uma educação de qualidade. O que se enunciou neste artigo é algo que não descurando dos óbi- ces postos à educação formal, sobretudo aquela ligada à rede pública, busca ampliar o debate entendendo que existem mudanças culturais e de relações societárias promovidas pelo ecossistema comunicativo, cujo continuum não respeita os limites dos muros da escola. Os mecanismos de acesso à informa- ção, a aceleração temporal, a presença das tecnologias digitais certamente estão trazendo outros desafios para as instituições educativas formais. E, con- forme demonstrado nos dados da nossa pesquisa, os fluxos entre os mundos da comunicação, em seus aspectos múltiplos e diversificados, os ritmos da vida contemporânea, e os andamentos da educação, precisam ganhar movi- mento dialético, não por decorrência de modismos ou interesses de ordem mercantil e mesmo de publicidade governamental, mas porque novas con- figurações históricas estão a solicitar distintos mecanismos formativos cujos limites não cabem no enciclopedismo, no transmissivismo e no alheamento às reconfigurações sociotécnicas e tecnoculturais provocadas fortemente pe- los sistemas e processos comunicativos. Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal | 23 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação Referências BAUMAN, Zygmunt. Desafios do mundo moderno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2015. BENJAMIN, Walter. Teses sobre filosofia da história. In: KOTHE, Flávio R. (Org.). Sociologia. São Paulo: Ática, 1985. CITELLI, Adilson. Comunicação e educação. A Linguagem em movimento. São Paulo: SENAC, 2001. ______. Palavras, meios de comunicação e educação. São Paulo: Cortez, 2006. CRARY, Jonathan. 24/7. Capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify, 2014. GIACOIA JÚNIOR, Oswaldo. Ansiedade sem aplicativo. In: O Estado de São Paulo. 28/06/2015. KLINENBERG, Eric. Going solo – The extraordinary rise and surprising appeal of living. London: Penguin Press, 2012. LATOUR, Bruno. Reagregando o social. Bauru, SP: EDUSC/Salvador, BA: EDUFBA, 2012. LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A cultura mundo, respostas a uma socie- dade desorientada. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. REISMAN, David. A multidão solitária. São Paulo: Perspectiva, 1995. ROSA, Hartmurt. Social acceleration. A new theory of modernity. New York: Columbia University Press, 2013. | 25 Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano1 Richard Romancini2 Universidade de São Paulo, São Paulo, SP Introdução Na investigação em comunicação e educação, tanto num plano na- cional quanto internacional, há diferentes tradições teórico-metodológicas, o que não surpreende, visto que isto reflete as características dos campos mais amplos da comunicação e das ciências sociais. A diversidade também reme- te a diferentes tradições históricas que constituem o solo nas quais as práti- cas científicas se enraízam, com relação a contextos sociais e compreensões compartilhadas pelos pesquisadores dos diferentes locais. Nesse sentido, tendo como objetivo geral compreender zonas de diálogo entre as perspectivas de investigação da comunicação e educação nos países da região ibero-americana, este texto procura delinear aspectos históricos conformadores da identidade dos estudos desta interface em países da América Latina e Europa. Embora o estudo tenha viés historiográfico-documental, procura-se apontar o estado mais recentedas discussões, pois é útil verificar o passado principalmente para pensar o tempo atual e o futuro do estudo da comunica- ção e educação na região ibero-americana. 1 Trabalho originalmente apresentado no GP Comunicação e Educação do XV Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Rio de Janeiro, 2015. Texto atualizado para esta publicação. 2 Professor do Departamento de Comunicações e Artes da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CCA/ECA-USP). E-mail: richard.romancini@gmail.com. 26 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 Uma questão ao mesmo tempo teórica e metodológica que merece esclarecimento é sobre o uso do termo “comunicação e educação”. A termi- nologia que designa a interface em questão é representada também por outros neologismos, como educomunicação, ou outras combinações de palavras, como educação para os meios, literacia mediática, mídia-educação. Por vezes, estes ter- mos podem remeter mais a alguns contextos geográficos do que outros; porém ao falar geralmente em “comunicação e educação” o que se busca é utilizar um termo “neutro”, “guarda-chuva”, para diferentes perspectivas regionais. Partindo da noção de “articulação” de Laclau e Mouffe – autores que usam o termo como um indicador de uma modificação identitária entre termos que se colocam em relação , Morabes e Martinez (2014) defendem que o vínculo entre comunicação e educação se processa dessa maneira. Este aspecto, com o qual se concorda, talvez seja o ponto principal que dê importância ao estudo dessa inter-relação. Duas dimensões centrais da so- ciabilidade e da formação se interpenetram-se na contemporaneidade e se reconfiguram-se, colocando desafios a comunicadores e educadores, bem além dos âmbitos que relacionam os meios de comunicação e as práticas escolares. De um ponto de vista estritamente pedagógico, a reflexão sobre a temática da comunicação e da educação se justifica, pois Las nuevas relaciones sociales, cognitivas y simbólicas que han venido surgiendo a partir de la revolución comunicativa en estos últimos tiempos son un escenario de posibilidades que se presentan a la educación para generar un punto de intersección entre el mundo de lo cotidiano y el conocimiento. De esta manera, se logra reducir la brecha que existe entre la realidad que vive el alumnado, la estructura escolar y las demandas sociales del mundo de hoy (CUERVO SÁNCHEZ ; MEDRANO SAMANIEGO , 2013, p. 128). Nesse contexto — em que a ação educativa deve assumir que “está inmersa en un entramado comunicativo que surge conectado a una nueva manera de interacción entre lo abstracto, lo tangible y lo inteligible” (PA- LARÈS, 2014, p. 66) —, tendências históricas são reposicionadas e as tra- dições de pesquisa e intervenção em comunicação e educação no espaço ibero-americano desenvolvem-se em novas direções. A comunicação e educação na região latino-americana O estado da arte sobre comunicação/educação realizado por Herrán (1999) tem ênfase na Colômbia; no entanto, traz dimensões histórias gerais Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 27 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação de toda a região latino-americana. Assim, a autora observa que as desigual- dades do modelo de desenvolvimento latino-americano, bem como as insu- ficiências dos sistemas educativos dos países da região e a rápida propagação de novas tecnologias, fizeram com que, a partir do final da década de 1970, houvesse um incremento de preocupações com a temática das relações entre as escolas e os meios de comunicação (HERRÁN, 1999). É notável, porém, que no caso brasileiro as preocupações quanto às possibilidades de que os então novos meios pudessem significar um in- cremento e democratização da educação no país resultaram, bem antes, em projetos ligados ao rádio (como os de Roquette-Pinto, desde a década de 1920) e ao cinema educativo (novamente com participação de Roquette, dá-se a criação do Instituto do Cinema Educativo – INCE, em 1932). Tais experiências, no contexto brasileiro, mas provavelmente também em outros países da região, estiveram à frente de seu tempo, o que explica parte de seu insucesso. Huergo (2007) percebe a “tecnificação” como estratégia de aumen- to de eficácia dos projetos educativos, dentro de um modelo desenvolvimen- tista de sociedade, que se forja na América Latina nas décadas de 1950 e 1960. Ela é uma forma inicial – e, segundo o autor, ainda hegemônica – de relacio- nar a comunicação e a educação nos países da região. Com efeito, o século XXI é marcado pela adoção de políticas públicas, em praticamente todos os países da região, que mesclam objetivos de inclusão digital e social, como o Projeto UCA (Brasil, 2009), Projeto Conectar Igualdad (Argentina, 2010) e o Plano CEIBAL (Uruguai, 2007), com forte componente tecnológico (ver uma análise comparativa dos projetos na América Latina em Finquelievich, Feldman e Fischnaller (2012). Mas se a tendência de modernização tecnológica da educação, en- fatizando o uso pedagógico dos meios, ainda se faz presente, ela não é a única vertente que caracteriza as relações entre comunicação e educação na América Latina. Na verdade, pode-se mesmo dizer que mais típica da região como um todo, com diferentes matizes entre os países, é a preocupação com o teor ideológico dos meios. Esta tendência se desenvolve desde pelo menos os anos 1960 e corresponde, tanto a uma disputa simbólica mais geral no contexto dos estudos em comunicação na região, quanto a situações socio- políticas, como o desenvolvimento acelerado dos meios de comunicação e a ascensão das ditaduras militares. O primeiro ponto (a relação geral com o estudo da comunicação) associa-se ao Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación 28 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 para América Latina (CIESPAL), que a partir de sua criação, em 1959, pela UNESCO, tornou-se um irradiador da perspectiva funcionalista nos estudos em comunicação na região. Instalado em Quito, Equador, essa instituição teve como missão inicial aprimorar o ensino de jornalismo, no entanto, ao longo do tempo, promoveu a discussão sobre a comunicação como elemen- to de modernização social. A temática da “extensão rural” (como meio de modernização de atitudes do homem do campo) aparece, então, a partir do final da década de 1960. A ruptura com essa linha funcionalista do CIESPAL, por parte de acadêmicos locais, estabeleceu uma nova hegemonia e direção neste centro. Uma data que marca o novo direcionamento é 1973, quando, num Seminá- rio na Costa Rica, explicitou-se a discordância com a linha inicial. Não por acaso, no único (e extraordinariamente influente) livro em que aborda dire- tamente a comunicação, Paulo Freire (1971) questiona a ideia de “extensão”, promovida pelo CIESPAL e outros agentes, contrapondo-a a uma noção de “comunicação dialógica” e, por isso, participativa. As próprias metodologias criadas por Freire, no contexto da alfabetização – grupos de discussão e le- vantamento de “palavras-geradoras” – influenciaram o trabalho feito pelos comunicadores voltados à educação. A aposta num processo de comunicação horizontal, pela via aberta por Freire, levava os estudiosos e praticantes da comunicação à desconfiança ou crítica aberta aos meios de comunicação de massa. Nos anos 1970, a pers- pectiva sobre a comunicação e educação combina-se ao pendor de denúncia do “imperialismo cultural” e da “manipulação de consciência” do campo comunicacional latino-americano da época. As perspectivas críticas e ideológicas foram, em certa medida, tam- bém estimuladas por um panorama social em mudança, mas profundamente desigual e caracterizado pelo autoritarismo, que os próprios meios de comu- nicação favoreciam. Herrán (1999, p. 28) percebe, na primeira etapa da ver- tenteideológica, a importância do pesquisador Mario Kaplún, cujo trabalho “focaliza una visión ideológica, con estudios muy ligados a la teoría de la dependencia, a la visión marxista del problema: se analiza el mensaje y muy poco la forma, la técnica”. O enfoque “ideológico” enfatiza, desse modo, o estudo da mensagem dos meios e seus elementos contextuais (propriedade, inserção econômica, etc.). Dentro deste enfoque, dá-se também o desenvolvimento do trabalho com a comunicação e a educação popular, linha que adquire grande desen- volvimento, configurando uma vertente de “comunicação comunitária” ou Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 29 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação “alternativa” bastante influenciada pela perspectiva aberta por Freire e pelas tendências ideológicas e seus desenvolvimentos. Barranquero (2006, p. 78) classifica a ampla gama de projetos e ações relacionados à ênfase mobilizató- ria, ideológica e crítica, como “comunicação/educação para a mudança so- cial”, notando positivamente que esta corrente colocou, de maneira pioneira, pela “primera vez la existencia de un continuum complejo, problemático y dinámico entre la comunicación y la educación”. Exemplos de projetos com esta perspectiva são as ações de “educação para os meios” ou “leitura crítica”, como a desenvolvida, a partir da década de 1970, pela União Cristã Brasileira de Comunicação Social (UCBC), no Brasil. Vale destacar a convergência desta proposta com a Teologia da Libertação, bastante influente em toda a América Latina na época. 3A visão ideológica que marca a trajetória da co- municação e educação na América Latina foi refinada pelas teorias e pesqui- sas sobre a recepção, durante a década de 1980. Desse modo, a onipotência dos meios foi questionada – embora as assimetrias de poder fossem ainda temas de discussão (pelas versões mais críticas) –, assim como o excessivo “basismo” ou a “fetichização do popular” de muitas ações (BARRANQUE- RO, 2006, p. 85). As propostas de “recepção ativa”, de autores como o me- xicano Guilhermo Orozco Goméz e o chileno Valerio Fuenzalida, tiveram e ainda têm influência, induzindo a elaborações de pedagogias da recepção nas quais se considera bem mais o contexto sociocultural (as mediações) no qual se forja o sentido das mensagens massivas ou não. A televisão costumava ser o veículo sob mais escrutínio, por vezes com a preocupação de elaborar uma articulação entre pesquisa e ação social. A comunicação de investigações e troca de experiência, durante a década de 1980, foi favorecida por uma série de encontros regionais, como os realizados pelo CENECA, desde 1985, no Chile, ou pela UCBC, em Curi- tiba, em 1986. Nessas ocasiões, documenta-se a mudança de enfoque por que passa a comunicação e educação na América Latina, de modo que, no primeiro seminário, 3 Neste caso, tratava-se de um programa de formação para agentes pastorais, religiosos, estu- dantes secundaristas, entre outros grupos, com ênfase na crítica dos conteúdos midiáticos. Iniciativas similares à da UCBC ocorreram em outros países da América Latina, na mes- ma época, realizadas por instituições como o Centro de Indagação, Expressão Cultural e Artística (CENECA) do Chile, o Centro de Investigação e Educação Popular (CINEP), na Colômbia, e o próprio CIESPAL (em sua fase mais crítica). 30 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 los enfoques moralistas y denunciativos van dejando paso a propuestas más culturales y transformadoras, en coherencia con modelos comu- nicativos horizontales, propios de la educación popular. En esta línea [...], al final del Seminario se cuestionan: ¿como entender los procesos de recepción y las actividades resignificadoras que realizan los televi- dentes? (AGUADED, 1995, p. 27) Os encontros regionais diminuíram na década seguinte, que contou, por outro lado, com encontros internacionais, como o Primeiro Congresso Internacional de Comunicação e Educação, que ocorreu em São Paulo, em 1998. Ainda sob o ponto de vista da institucionalização, Dalla Costa, Dias e Tomita (2014, p.10) defendem que a pesquisa em comunicação e educação na América Latina sofreu um processo significativo de institucionalização – “entendida como a oficialização, seja acadêmica ou social, de propostas de educomunicação”. Seguindo o movimento global, a pesquisa se torna menos politizada, e entre os indicadores da institucionalização, principalmente do caso brasileiro, estão aspectos ligados ao ensino com maior valorização de aspectos educomunicativos, a criação de uma associação nacional de profis- sionais e pesquisadores (ABPEducom) e a atuação de Organizações Não Go- vernamentais. A interpretação dada aos indicadores, destacando o significado da menor politização, é a de que “os movimentos sociais entende[ra]m que o discurso contra a mídia deve ceder lugar a análises mais complexas que [sic] como as nuances culturais interferem no consumo midiático de um país mul- ticultural como o Brasil” (DALLA COSTA; DIAS; TOMITA, 2014, p. 17). Um desdobramento importante das experiências, verificado no Bra- sil, mas possivelmente também ocorrido em outros países da região, é apon- tado por Ismar de Oliveira Soares (2011), pesquisador brasileiro pioneiro na área e que tem procurado dar uma definição conceitual para a “educomu- nicação”. Segundo o autor, a partir da década de 1990, núcleos de extensão universitários e ONGs passaram a difundir (e construir novas) metodologias relacionadas ao uso dos meios em experiências ligadas à educação para a mídia, sendo muitas destas ações ligadas também a ambientes formais, como escolas. Dá-se então, no Brasil, um conjunto de projetos, como o Educom. rádio (1999-2004), voltado a professores, estudantes e membros das comuni- dades escolares de escolas da cidade de São Paulo ou o Programa Mídias na Educação, promovido pelo Ministério da Educação, em diferentes estados do Brasil, desde 2005, diretamente preocupado com a formação de professo- res. Tais projetos impulsionam e dão novas direções à relação comunicação e educação na região. Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 31 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação A preocupação com a formação professores e estudantes em relação aos meios de comunicação possui muitos outros projetos e se articula ao desenvolvimento de políticas públicas, como no caso do programa Escuela y Medios, do Ministério da Educação da Argentina (MORDUCHOWICZ, 2009). É possível que os sucessivos governos de tendência de esquerda na região tenham favorecido políticas públicas deste tipo, no entanto ações para a democratização da comunicação, como a Ley de Medios (2009) argentina, não têm sido a tônica da região. Isto implica limitações a muitos projetos em comunicação e educação, nos quais a questão do “direito à comunica- ção” é central. Na região, é notória a tendência ao monopólio dos meios.4De qualquer modo, nos projetos governamentais, envolvendo as escolas, há uma aproximação com a noção de media literacy, na preocupação em desenvolver uma educação para os meios enquanto política de Estado, algo que parece se aproximar de preocupações europeias, como será visto. Atualmente, os diagnósticos de muitos pesquisadores apontam para um momento social de mutação que implica a necessidade de novas refle- xões e buscas. Huergo (2007, p. 44), por exemplo, notava que “las estrategias de comunicación en educación tienen que imaginarse a partir del reconoci- miento de un mundo cultural complejo y conflictivo, como el que vivimos en América Latina”. Orozco (2014), por sua vez, fala numa “condição comunicacional” que caracteriza nosso tempo e que constitui uma espécie de cenário para os educomunicadores; cenário que dá aos receptores a condição inédita de tor- naram-se produtores criativos, ingressarem numa cultura de participação em relaçãoàs telas que veiculam o que consomem simbolicamente. Entretanto, isso representa uma nova tarefa para o campo da comunicação e educação. Em linhas gerais, essa trajetória dos países latino-americanos quanto à comunicação e educação mostra, a despeito de especificidades de cada país, bastante homogeneidade e relativo diálogo entre os acadêmicos. Porém, é difícil dizer se continuará a haver unidade de perspectiva dado o momento atual de busca mencionado. Há fatores que podem contribuir com a unida- de, como a memória comum e o fato de que instâncias de diálogo acadêmico (como congressos e eventos inter-regionais) e político (governos) já existem 4 Um exemplo das limitações dos governos de esquerda é o caso brasileiro, em termos do quão pouco se avançou nas legislações a propósito das rádios e outros meios de comunica- ção comunitários. 32 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 e podem se desenvolver mais. Mas quanto ao diálogo com os outros países e particularmente com os da Europa Ibérica? Já existe certamente intercâm- bio, no entanto, este pode ser incrementado com o melhor conhecimento da história e momento atual da região em termos do debate sobre a comuni- cação e educação. A este ponto se dirige o próximo tópico. A comunicação e educação na Espanha e Portugal Há também em Portugal e Espanha uma diversidade terminológica similar a que ocorre na América Latina, em relação aos termos utilizados para denominar o vínculo entre comunicação e educação. Desse modo, atu- almente, na Espanha, segundo Lozano (2013), várias nomenclaturas são uti- lizadas: educación para los medios de comunicación, educomunicación, edu- cación en los medios de comunicación, além da mais recente alfabetización mediática. Desde cedo, houve diálogo entre as perspectivas de estudo e inter- venção da América Latina e os países ibero-americanos, do que dá conta, por exemplo, o interesse dos pesquisadores, principalmente pelas atividades e perspectivas teóricas desenvolvidas por seus colegas americanos e a realiza- ção de encontros acadêmicos como o Seminário Internacional sobre “Edu- cación y Medios de Comunicación en el contexto iberoamericano”, realiza- do na Universidade Internacional da Andaluzia, em 1995. De acordo com Aguaded (1995, p. 37), los orígenes de la Educación para la Comunicación en España, al igual que en otros países se remontan a las primeras experiências de la enseñanza del cine. La aparición de los cine-clubs fue el punto de partida de muchas iniciativas de introducción de los medios en las au- las, especialmente en esta época a través de la imagen cinematográfica. O mesmo ocorre em Portugal, e em ambos os países também houve o desenvolvimento de atividades de imprensa escolar, por vezes a partir das experiências e discussões pioneiras de Freinet. No entanto, os trabalhos em comunicação e educação foram relativamente dispersos e de menor monta até a década de 1980, momento considerado um marco do desenvolvimento de esforços relacionados à comunicação e educação nesses países (AGUA- DED, 1995). Conforme o autor citado, neste momento, os principais supor- tes institucionais das experiências envolvendo a interface comunicação e Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 33 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação educação foram as universidades, diferentes órgãos administrativos voltados à educação, os jornais nacionais e regionais e as ONGs. Apesar de crescente nos últimos anos, nota-se que a “trajetória de projetos relacionados à educa- ção para os meios [media education] na Espanha não tem sido tão fértil ou ampla como em outros países, por isso, a consolidação desta área tem sido frágil e lenta” (GRANDÍO et al., 2014, p. 10). Assim como na América Latina, houve e há o desenvolvimento de tendências mais preocupadas com a utilização dos meios de comunicação como tecnologias educativas do que como formas culturais e ideológicas. Desse modo, principalmente partindo da área educativa, a relação comuni- cação e educação tem sido estudada e praticada também sob esta ótica mais específica e preocupada com a melhoria da “qualidade” da educação e uso dos meios como recursos didático-pedagógicos. Isto estava em consonância, inclusive, com propostas de políticas estatais, como a Ley General de Educa- ción, da Espanha, que, na década de 1970, dava um pioneiro apoio às experi- ências de educação com o uso de meios audiovisuais na escola. A Lei Geral de Ordenação do Sistema Educativo na Espanha (LO- GSE) também trouxe impulso à disseminação de projetos de educação com meios nas escolas durante a década de 1990, porém, “las instituciones educa- tivas no han motivado un debate en torno a la integración de los ‘nuevos y an- tiguos médios’, habilitando un espacio para que la convergencia tecnológica tenga una presencia real en el aula” (GABELAS, 2007, p. 70). O problema da formação dos professores, subjacente à citação an- terior, também aparece em Portugal, a despeito do ambiente escolar ser um espaço privilegiado de atenção dos pesquisadores e das experiências em co- municação e educação realizadas. Outro óbice observado quanto à obtenção de maior espaço para educação para os meios, de acordo com Pinto (2003), é a herança de países que sofreram com regimes autoritários até certo ponto recentes, dificultando assumir o exercício crítico da mídia como uma prática democrática que promove a cidadania. Como não houve, ao contrário da América Latina, uma forte experimentação em mídia alternativa e/ou comu- nitária em Portugal e Espanha o terreno pós-democratização tinha que rece- ber outro tipo de tratamento, e talvez por isso se explique a maior tendência à escolarização das práticas que envolvem a comunicação e educação. A pesquisa acadêmica possui um pouco menos de tradição que na América Latina, embora seja crescente. Assim, Jones (2000), ao fazer um balanço da pesquisa em comunicação na Espanha, notava que o estudo da temática da comunicação e educação, apesar de citar alguns pesquisadores, 34 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 tinha sido escasso até fins da década de 1990. De qualquer maneira, é possí- vel notar um progresso na feitura de investigações que já possuem canais de veiculação consolidados, como a revista espanhola Comunicar, publicada desde 1994. Um balanço mais recente da produção científica sobre meios de comunicação e educação na Espanha (CÁCERES, 2006), no período 1996-2006, evidencia grande produção por parte dos pesquisadores da área de educação (metade das revistas deste levantamento é da mesma). A preocupação com a televisão, e também outros meios, é marcan- te, associando-se com frequência à ideia de formar “receptores críticos”, e em muitas investigações são construídas interfaces com temáticas de relevo social (estereótipos, educação para a cidadania e em valores, etc.), porém, para a au- tora do estudo, faltam trabalhos metodológicos. A presença da pesquisa voltada à tecnologia educativa (cerca de um terço da produção) é significativa, o que se relaciona ao panorama das tecnologias digitais e da “sociedade da informação”. Embora seja necessária uma avaliação mais cuidadosa e amparada em dados, uma hipótese é a que existe certa semelhança, temática principalmente, entre a pesquisa sobre a comunicação e a educação nos dois lados do Atlântico. Em Portugal, o impulso de modernização do país, desde a entrada do mesmo na União Europeia, em 1985, justifica uma série de projetos em tecnologia associados a objetivos educativos por parte do governo (COSTA; JORGE; PEREIRA, 2014), com um foco, principalmente, em ampliar o aces- so a dispositivos. O advento da internet, ao mesmo tempo, reforça tendên- cias tecnocêntricas na educação para os media em Portugal, segundo Pinto (2003), abrindo espaço tanto para orientações reticentes às tecnologias quan- to para os defensores das novas tecnologias. Ambas asperspectivas são carac- terizadas pelo determinismo que marca os programas que buscam promover e difundir as novas tecnologias na escola para estimular a inovação educativa. Esta dimensão, na sua vertente otimista, está em consonância com discursos emanados por organizações europeias que têm cada vez mais influência nos países ibero-americanos e em seus Ministérios da Educação. A propósito da situação espanhola, existem indicadores similares. Pegurer e Martinez (2014) notam que a educação midiática aparece de maneira apenas implícita no currículo escolar espanhol, e a Lei Orgânica 8/2013, para a Melhora da Qualidade Educativa (LOMCE), que poderia ser uma oportunidade de avanço a propósito da comunicação e educação, não aborda o tema nenhuma vez. A ênfase é colocada nas Tecnologias de Comunicação e Informação, sendo introduzida também uma disciplina de “Cultura Audiovisual”. “Tanto no âmbito curricular como nas políticas Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 35 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação educativas em geral, o que se pode notar com relação à Espanha é uma ênfase à introdução das TIC, bem como o desenvolvimento às competên- cias necessárias para manejá-las” (PEGURER; MARTINEZ, 2014, p. 759). Por outro lado, Pérez-Tornero e colaboradores (2010) veem um movimento europeu no qual a preocupação com o letramento digital (digital literacy) dá aos poucos lugar à educação midiática (media literacy) nas iniciativas e projetos. Desse modo, o foco estaria menos nas TIC ou na mídia do que nos usuários. Falando do contexto europeu, um aspecto notável em ambos os pa- íses ibero-americanos é o impulso que as iniciativas do continente relaciona- das ao desenvolvimento da “educação para os media” (media education) têm no panorama mais recente, das últimas décadas, de discussão envolvendo a comunicação e a educação. Isto envolve a inserção em espaços de debate eu- ropeus, com adoção de uma agenda de preocupações comuns, a participação em estudos comparados e a tentativa de influenciar/formular políticas pú- blicas que superem a fragmentação e a descontinuidade que caracterizaram muitas ações do passado. A conceitualização adotada, em torno da noção de media literacy e media education, tende também a reforçar certa unidade, diminuindo a imprecisão conceitual e falta de entendimento sobre os ob- jetivos teórico-pedagógicos da educação em meios que para alguns autores caracterizam a situação ibérica (MARGALEF, 2010).5 O exemplo europeu fornece modelos de ação inovadores, como na articulação entre organismos de regulação e ações de educação para os meios – caso da ação dos Conselhos Audiovisuais das regiões autônomas da Espanha, que começam a surgir a partir dos anos 2000, possuindo alguma similaridade com o órgão regulador do Reino Unido (OFCOM) (CAMPS, 2009). O impulso europeu, aparentemente, tem feito também com que, no âmbito interno dos países, se dinamizem ações voltadas à pesquisa, como pode ser exemplificado pela realização de eventos nacionais ou internacio- nais, como os congressos bianuais de “Literacia Mediática, Mídia e Cidada- nia”, o primeiro foi em 2011, em Portugal, realizado por um coletivo informal 5 Numa definição comum, adotada na Europa a partir de discussões no âmbito da UNES- CO, a media literacy “é o termo que descreve as habilidades e competências necessárias para criar, com autonomia e consciência, no novo ambiente comunicativo – digital, glo- bal e multimídia – da sociedade da informação” (PÉREZ-TORNERO, 2007, p. 10). Do processo de media education resulta a media literacy. 36 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 de organizações e o “Congreso de Educación Mediática y Competencia Di- gital”, também realizado pela primeira vez em 2011, em Segóvia, na Espanha, contando com a organização de uma série de instituições, como a Universida- de de Valladolid, o Grupo Comunicar, de Huelva, e o Ministério da Ciência e Inovação. A própria legislação dos países, como acontece em Portugal, ou a atitude de muitos estudiosos a respeito de como a comunicação/educação deve se articular com a escola parece sofrer influência das posições euro- peias, ou seja, defende-se bem mais agora a inserção de matéria (ou maté- rias) específica e obrigatória sobre a temática nos currículos da educação (em todos os níveis) do que somente o trabalho transversal com a temática. A abordagem transversal, em termos escolares, embora tenha diversos de- fensores dos dois lados do Atlântico é afetada pelo “escepticismo dado el fracaso experimentado por las escuelas ante la iniciativa de introducir en el proyecto docente conocimientos transversales” (CAMPS, 2009, p. 141). Outra crítica é quanto à indefinição teórica da transversalidade da educação em meios, o que fez com que os currículos se limitassem a notar a impor- tância de incorporar as mídias como elementos auxiliar, mas sem prestar maior atenção a como desenvolver a capacidade crítica dos alunos frente aos meios, ao que se acrescenta o problema prático de que, na educação escolar, se exigiria a formação de todos os professores no assunto, conforme Margalef (2010). Por outro lado, certas ações sociais, particularmente com empresas ou organizações da sociedade civil, tentam ampliar os segmentos envolvidos com a educação para os meios, caso, por exemplo, do projeto português Me- dia Lab, apoiado por dois jornais privados e que oferece workshops também a pessoas de mais idade. Aparentemente, em termos comparados e de escala, os países ibéricos contam com maior número de iniciativas com parecerias deste tipo. Porém, no contexto europeu, assim como no Brasil, talvez exista atualmente um direcionamento bem maior ao ambiente escolar ou inicia- tivas em ações de educação não formal para jovens do que para a sociedade como um todo. A preocupação com a avaliação das ações/projetos e com a produ- ção de indicadores a propósito do estado do tema na educação formal ou na população em geral é outra temática que ganha corpo em Portugal e na Espanha, a partir da discussão europeia. A noção de “competência” migrou do campo educativo ou formativo para ações de comunicação e educação, com desdobramentos ainda não totalmente percebidos. Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 37 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação Considerações finais Os estudos comparativos sobre a realidade da América Latina e dos países ibéricos quanto à comunicação e educação são relativamente escassos. Uma exceção é o trabalho de Zanchetta (2009), que analisa o tratamento da mídia na educação dentro da proposta europeia (PÉREZ-TORNERO, 2007) e seu kit educativo associado, produzido pela UNESCO para discutir sua aplicabilidade na escola brasileira. De acordo com o autor referido, o relató- rio e as ações europeias tendem a eleger a escola como o espaço preferencial das ações voltadas à educação para os meios, porém, há pouco detalhamento sobre a formação para que os professores enfrentem o conjunto de conheci- mentos (e sua articulação) em relação a questões bastante diversas (política, economia, linguagem, etc.). Esse é um ponto, a despeito de avanços dos últi- mos, conforme as descrições anteriores, que provavelmente precisa, de fato, ter mais amadurecimento em todo o mundo. Zanchetta (2009) também mostra uma diversidade de agentes (ór- gãos reguladores, canais públicos e privados de informação) fora dos limites da escola que poderiam, com alguma articulação, se não ocupar totalmente o espaço desta instituição, representar um âmbito formativo importante no contexto europeu. No nosso entender, esses são aspectos – com angulações um tanto diferentes – mostram alguma similaridade entre América Latina e Europa (países ibéricos inclusive). Embora a trajetória latino-americana tenha en- raizamento fora do espaço escolar, hoje, a escola tende a sera instituição que catalisa esforços. E há bons motivos para isso, como o fato destacado pelo próprio autor (ZANCHETTA, 2009) de que a comunicação é domina- da pela mídia privada na região latina, de modo que o papel dos professores e da escola ganha relevo. A concentração dos veículos prejudica possibili- dades mais amplas de participação, assim como os contrapontos avaliativos, que favorecem a reflexão, são menores. É claro, há também no contexto latino-americano diversidade de agentes, mas o papel governamental e de um sistema público de informação parece ser mais decisivo pelo que se disse. Igualmente, relevante é o fato de que perspectivas latino-americanas mais recentes, que buscam favorecer a autonomia do receptor, possuem simi- laridade com perspectivas europeias. “A Educomunicação, por exemplo, avi- zinha-se da perspectiva de David Buckingham [...] em diversos pontos, como na ênfase à cultura autônoma desenvolvida pelos jovens a partir do contato 38 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 com a mídia e com os próprios pares” (ZANCHETTA, 2009, p. 1.114). Aqui se coloca uma questão de interesse de avanço nos estudos comparados: em que medida as possíveis confluências teóricas ocorrem? Seria interessante, pois, finalizar o artigo menos com declarações do que com indagações. Assim, certas comparações entre as realidades es- tudadas são anotadas a seguir, destacando eixos de maior similaridade ou diferença que podem ensejar diálogos: Diferenças contextuais A relação entre avaliação e as iniciativas em comunicação e edu- cação é uma preocupação mais europeia do que latino-americana. Quais as potenciais vantagens e desvantagens desta preocupação (ela não pode, por exemplo, constranger a criatividade das iniciativas ou limitar as ações a di- mensões mensuráveis e já tradicionais no ambiente escolar)? Também parece haver maior número de projetos na Europa asso- ciados a empresas privadas, o que coloca a questão (também existente na América Latina, mas em menor grau) sobre as diferentes agendas das insti- tuições do campo público e privado. Como se tem buscado construir conver- gências e acordos desse tipo na Europa (mas também na América Latina)? O que as realidades dos diferentes contextos podem ensinar? A situação europeia é mais avançada quanto à articulação entre a re- gulação democrática dos meios de comunicação (por exemplo, os Conselhos Audiovisuais da Espanha) e as propostas de desenvolver a educação para os meios. Por outro lado, na América Latina (Brasil e Argentina, em particular) as políticas tem se voltado ao tema, mais além dos marcos educacionais. Quais os ganhos que têm sido obtidos com essas ações e políticas e como podem ser intercambiados entre os países da região? A introdução de disciplinas específicas voltadas à comunicação e educação parece prevalecer na Europa, diferentemente da América Latina. O que a experiência europeia ensina sobre o assunto até o momento? E quais os desafios na formação do profissional para essas atividades pedagógicas de teor formal? A Europa encaminha-se para formar também (caso do Brasil) “educomunicadores” em licenciaturas ou a formação/perfil profissional será diverso? Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 39 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação Confluências Múltiplos atores têm se envolvido com as atividades de comunica- ção e educação em ambos os contextos. Qual a relação entre transferência de conhecimentos em relação os âmbitos sociais que se envolvem no trabalho com a comunicação e a educação na Europa e América Latina. A tensão (ou separação) das perspectivas tecnológicas e as de maior pendor analítico e crítico são comuns à América Latina e Europa em termos do estudo e prática da comunicação e educação. Existem possibilidades de diálogo ou zonas de contato e sinergia entre essas tendências? O maior foco de preocupação em ações nas escolas, comum tanto na Europa quanto na América Latina, possui a vantagem de buscar preparar as gerações futuras melhor, no entanto, também tendem a deixar fora das ações muito segmentos sociais. Quais as possíveis estratégias para envolver a sociedade de maneira mais geral – um conjunto de ações, iniciativas mais globais ou ambos? 40 | Richard Romancini Série Comunicação e Educação - Volume 1 Referências AGUADED GÓMEZ, J. I. La Educación para la Comunicación. La enseñanza de los medios en el contexto iberoamericano. In: AGUADED GÓMEZ, J. I.; CA- BERO ALMENARA, J. (dir.). Educación y Medios de Comunicación en el con- texto iberoamericano. Universidad Internacional de Andalucía, 1995. p. 19-48. BARRANQUERO, A. Comunicación/educación para el desarrollo en Latinoamé- rica. Memorias de una fértil confluencia. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, v. VIII, n. 3, sep – dic. 2006. CÁCERES ZAPATERO, M. D. Comunicación y Educación: Un balance cualita- tivo. ICONO, v. 14, n. 7 2006. CAMPS, V. La educación en medios, más allá de la escuela. Comunicar, 32, XVI, p. 139-145, 2009. COSTA, C.; JORGE, A.; PEREIRA, L. Media and Information Literacy Policies in Portugal (2013). First European Media and Information Literacy Forum. UNESCO, Paris, May 27 and 28, 2014. CUERVO SÁNCHEZ, S. L.; MEDRANO SAMANIEGO, C. Alfabetizar en los medios de comunicación: más allá del desarrollo de competencias. Teor. educ., v. 25, n. 2, p. 111-131, 2013. DALLA COSTA, R. M. C.; DIAS, L. O.; TOMITA, I. Y. A institucionalização da pesquisa na interface comunicação-educação. ALAIC, GT4: Comunicação e Edu- cação, 2014. FINQUELIEVICH, S.; FELDMAN, P.; FISCHNALLER, C. Public Policies on Media and information literacy and education in Latin America: Overview and Proposals. International Conference “Media and Information Literacy in Knowledge Societies”. Moscow, 24-28 June 2012. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971. GABELAS BARROSO, J. A.. Una perspectiva de la educación en medios para la comunicación en España. Comunicar, 28, 2007. Comunicação e Educação: as distintas trajetórias no espaço ibero-americano | 41 Questões teóricas e formação profissional em Comunicação e Educação GRANDÍO PÉREZ, M. del M.; VICENTE, M.; GARCÍA MATILLA, A.; GU- TIÉRREZ MARTÍN, A.; MARTA LAZO, C. Media and Information Literacy Policies in Spain (2013). First European Media and Information Literacy Forum. UNESCO, Paris, May 27 and 28, 2014. HERRÁN, M. T. Pistas para el encuentro Comunicación/Educación. In: HER- RÁN, M. T.; MARTÍN-BARBERO, J.; ZAMBRANO, M. F. Palimpsestos y re- corridos de la comunicación en la educación. Bogotá: Universidad Pedagógica Nacional, 1999. p. 13-175. HUERGO, J. La comunicación en la educación: Coordenadas desde América Latina. FISEC-Estrategias - Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad Na- cional de Lomas de Zamora, Año III, n. 7, p. 35-52, 2007. JONES, D. E. Investigaciones en España sobre la comunicación iberoamericana. PCLA, v. 1, n. 3, abr./mai./jun. 2000. LOZANO ESTIVALIS, M. Educomunicar: ¿de qué estamos hablando? El debate epistemológico de la educación en materia de comunicación. II Congreso Inter- nacional Educación Mediática & Competência Digital. Barcelona, 14 y 15 de Noviembre de 2013. MARGALEF MARTÍNEZ, J. M. Retos y perspectivas de la educación mediática en España. Consulta a expertos. Madrid: Ministerio de Educación, Subdirección General de Documentación y Publicaciones, 2010. MORABES, P.; MARTÍNEZ, D. Problemáticas emergentes y líneas de investiga- ción en comunicación/educación: algunas reflexiones iniciales ante la implemen- tación de políticas públicas de inclusión educativas en Argentina. ALAIC, GT4: Comunicação e Educação, 2014. MORDUCHOWICZ, R. Cuando la educación en medios es política de Estado. Comunicar, 32, XVI, p. 131-138, 2009. OROZCO GÓMEZ, G. Educomunicação: recepção midiática, aprendizagens e cidadania. São Paulo: Paulus, 2014.
Compartilhar