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EDUCAÇÃO-SEXUAL-REVS

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 FREUD E A TEORIA DA SEXUALIDADE ................................................... 4 
2.1 O desenvolvimento da sexualidade na infância ................................... 9 
2.2 Comportamentos sexuais em crianças............................................... 13 
2.3 Comportamentos sexuais problemáticos em crianças ....................... 16 
3 ADOLESCÊNCIA ...................................................................................... 19 
3.1 Corpo e sexualidade na adolescência ................................................ 22 
3.2 Alterações físicas, emocionais e comportamentais ............................ 27 
3.3 A curiosidade sexual .......................................................................... 29 
3.4 Práticas sexuais na adolescência ...................................................... 30 
3.5 Consequências do comportamento sexual dos adolescentes ............ 31 
3.6 A contracepção na adolescência ........................................................ 34 
4 SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO SEXUAL ................................................. 38 
4.1 Educação sexual ................................................................................ 41 
4.2 Percursos brasileiros da sexualidade e da educação sexual ............. 49 
5 MANIFESTAÇÕES DA SEXUALIDADE NA ESCOLA .............................. 60 
5.1 Importância e finalidade da educação sexual no contexto escolar ..... 62 
5.2 A sexualidade no cotidiano atual da escola ........................................ 64 
5.3 Orientação sexual: uma questão pedagógica .................................... 66 
5.4 Como a escola prepara os jovens para uma vida sexual ................... 68 
5.5 O papel da família no desenvolvimento sexual de seus filhos ........... 71 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 75 
7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 79 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 FREUD E A TEORIA DA SEXUALIDADE 
 
Fonte:psiconeuropedagogia.com 
A busca por respostas aos transtornos mentais dos adultos levou Sigmund 
Freud (1856- 1939) a defender sua teoria sobre a existência da sexualidade infantil e 
as contribuições desse neurologista (Nunes & Silva, 2006 apud Borges; 2019) foram 
decisivas para esse reconhecimento. Durante sua investigação, Freud desenvolveu e 
organizou a teoria do inconsciente e da dupla consciência. 
Dedicado a investigar a origem neuroses nos indivíduos adultos Freud passa a 
analisar o comportamento infantil e conclui que é na infância que se instala o estado 
patológico manifesto nas fases subsequentes. 
As primeiras noções sobre a sexualidade na teoria freudiana partem dos pontos 
de vista da fisiologia e da química e pelas influências de Fliess por volta de 1890 
(Freud, 1901/1905 apud Borges; 2019). Seis anos depois surgem as primeiras 
manifestações de uma abordagem mais psicológica em que aparecem elementos 
também da cultura como a vergonha e a moral. É a partir disso que Freud irá suspeitar 
de que os fatores causais da histeria estavam localizados na infância. 
Na verdade, Freud está preparando o caminho para a hipótese de que a 
escolha objetal na vida adulta (desde a adolescência) faz-se seguindo, de 
algum modo, os rastros deixados pela relação primordial mãe-filho. Hipótese 
que sugere que o primeiro objeto sexual da criança é o próprio seio da mãe: 
"Numa época em que a satisfação sexual estava ligada à absorção de 
 
5 
 
alimentos, a pulsão encontrara seu objeto fora do corpo da criança, na sucção 
do seio da mãe." (Freud, 1987, p.164 apud Amaral M; 1995). 
Essa questão levou alguns anos para que o próprio Freud pudesse afirmar sua 
teoria, ora fazendo sua defesa, ora se posicionando contra, como acontece em alguns 
pronunciamentos sobre seu ensaio A Sexualidade e a Etiologia das Neuroses. 
Por um lado, diz que “as crianças são capazes de todas a funções sexuais 
psíquicas e de muitas das somáticas e que é errôneo supor que a vida sexual só 
comece na puberdade” (Freud, 1901/1905, p. 81 apud Borges; 2019). 
Por outro lado, declara que é sempre desastrosa atividade sexual na infância e 
que tais experiências nesse período estão propícias à formação de patologias (Freud, 
1901/1905 apud Borges; 2019). 
Embora sejam, em alguma medida, contraditórias, para nós se apresenta como 
um alerta às concepções sobre a sexualidade na infância que tomam como referência 
as experiências adultas. O fato de afirmar a sexualidade infantil, isso não significa que 
a precocidade seja saudável. Também podemos tomar essas afirmações como 
advertência às culturas de violência e agressão contra a infância, em especial, as 
vinculadas à sexualidade, a exemplo de práticas comportamentais que naturalizam a 
união sexual entre adultos e crianças, a mutilação dos genitais, a prática do estupro e 
da violência de gênero. 
A experiência sexual, a partir da concepção adulta, deve ser relegada à 
maturidade física, psíquica e emocional. Pois para Freud (1901/1905 apud Borges; 
2019), a sexualidade e a vida sexual são importantes para todas as realizações 
humanas. Dessa forma, a teoria da sexualidade infantil é também uma contraposição 
à noção clássica fundamentada sob os impulsos instintivos. 
Noção que concebe a criança como ser assexuado, nas experiências sexuais 
somente a partir da puberdade e de que o objeto e os objetivos são pré-determinados 
e a finalidade é fixa. Essa noção reforça as questões biológicas, a 
heteronormatividade e exclui as dimensões culturais, históricas e sociais. A noção 
ampliada do conceito de sexualidade de Freud, concebe que, a criança possui, desde 
o princípio, o instinto e as atividades sexuais. 
Ela os traz consigo para o mundo, e deles provêm, através de uma evolução 
rica de etapas, a chamada sexualidade normal do adulto. Não são difíceis de observar 
as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, deixá-las passar 
 
6 
 
despercebidas ou incompreendidas é que é preciso considerar-se grave (Freud, 1970, 
citado por Nunes & Silva, 2006, p. 46 apud Borges; 2019). 
Tomando como modelo prototípico da sexualidade infantil o ato de sucção do 
bebê, Freud deriva as três características daquela, sem, no entanto, 
mencionar explicitamente a questão do apoio (da sexualidade sobre a auto 
conservação), que aparecerá de modo mais evidenciado apenas na edição 
de 1915 apud Amaral M; 1995. 
A teoria da sexualidade de Freud, reforça a importância e a complexidade do 
desenvolvimento psicossocial da criança. Ao considerar a sexualidade infantil desde 
o nascimento, Freud nos possibilita a pensar a sexualidade não apenas a partir dos 
referenciais adultos e encarar com naturalidadeos atos e efeitos sexuais das crianças 
como ereção, masturbação que ele denominou autoerotismo. 
A sexualidade infantil é definida por dois argumentos centrais: “o caráter 
predominante auto erótico da vida sexual infantil e a fragmentação dos impulsos pelas 
zonas erógenas” (Mezan, 2003 citado em Neves, 2016, p. 58 apud Borges; 2019). A 
primeira manifestação impulsiva sexual não desvincula o prazer libidinal da 
necessidade biológica, a exemplo da sucção do polegar. 
Essa desvinculação ou ruptura ocorre com o processo de auto erotização por 
meio do desvio objetal: do seio para o dedo, por exemplo. Nesse exemplo, a finalidade 
é a obtenção de prazer e não uma necessidade puramente biológica. O corpo se torna 
meio e fim de satisfação dos impulsos sexuais. 
Assim, o conceito de sexualidade teve de ser ampliando de modo a incorporar 
muitas coisas que não se classificavam sob a função reprodutora (Freud, 1920/1922 
apud Borges; 2019). Obviamente, antes de ser aceita no campo científico a teoria 
freudiana provocou grande repercussão na sociedade conservadora contemporânea 
de Freud. 
Desse modo, lidar com naturalidade em relação a essas manifestações sexuais 
da infância é preservar os indivíduos do desenvolvimento de patologias psíquicas 
originadas pelo modo severo e violento com que, normalmente, os adultos respondem 
as expressões sexuais das crianças. Assim, o próprio Freud afirma que as 
psiconeuroses se aproximam das perversidades e “é bem possível, de fato, que a 
disposição constitucional, além de um grau desmedido de recalcamento sexual e de 
uma intensidade hiperpotente da pulsão sexual” (Freud, 1901/1905, p. 104 apud 
Borges; 2019). 
 
7 
 
De acordo com Marx & Engels (1987 apud Borges; 2019), o primeiro ato 
histórico é a produção dos meios necessários para a satisfação das necessidades e 
da produção da própria vida. Nesse sentido, a satisfação das necessidades primeiras, 
consequentemente, demandam satisfações mais elaboradas e instrumentos de 
satisfação mais complexos. Isso pressupõe uma intencionalidade sobre a satisfação 
das necessidades. 
Ao retomar a tragédia de Édipo Rei Freud (1920/1922 apud Borges; 2019), 
inaugura também um sujeito dotado de vontade e de responsabilidades na relação 
consigo mesmo, com a natureza e com outros homens. Enquanto que para Marx & 
Engels (1987 apud Borges; 2019) o processo de satisfação das necessidades seja a 
mola propulsora do progresso civilizatório e da complexificação das relações e do 
modo de produção, para Freud a satisfação se relaciona com o princípio de prazer e 
o princípio de realidade, a qual ele denominou de libido (Freud, 1920/1922 apud 
Borges; 2019). 
A libido se manifesta de diversas maneiras e está presente desde o 
nascimento. Freud (1920/1922 apud Borges; 2019), a partir da descoberta da 
sexualidade infantil, classificou a libido segundo a fonte, as zonas erógenas e os 
objetos de prazer. 
Essa classificação foi realizada de acordo com as fases de desenvolvimento 
infantil. A fase oral corresponde a zona erógena relacionada com a boca e lábios e o 
prazer se manifesta no ato de levar objetos à boca e as ações que ela pode realizar: 
comer, mastigar, engolir, sugar. A fase anal se relaciona com o prazer de expelir ou 
reter as fezes e a zona erógena privilegiada é o ânus. 
No item V, A descoberta do objeto, Freud sugere que o desenvolvimento 
psíquico observado na puberdade "permite à sexualidade encontrar o objeto, 
para o que havia sido preparado desde a infância." (Freud, 1987, p.164 apud 
Amaral M; 1995). 
 O objeto de prazer pode ser facilmente substituído por outros elementos 
externos ao corpo: barro, argila, massinha etc. A fase fálica ou genital tem como fontes 
de prazer os órgãos genitais e a satisfação pode ser suprida pela masturbação, toques 
ou manipulação com objetos. Nessa fase são comuns as ereções, o exibicionismo e 
a curiosidade infantil. 
 
 
8 
 
O modo como adulto lida com essas fases infantis pode acarretar em uma 
erotização (saudável ou patológica) ou a estigmatização de quaisquer das zonas 
erógenas do corpo, a exemplo das carícias afetivas ou das repressões violentas ou 
agressivas. 
Outra contribuição de Freud é a descoberta do inconsciente. De acordo com o 
autor, esse componente psíquico não é um lugar ou uma coisa, mas uma lógica que 
emerge de modo fragmentado, disfarçado, enigmático que se opõe a consciência 
(Freud, 1920/1922 apud Borges; 2019). 
Essa descoberta auxiliou na elaboração da estrutura do aparelho mental em 
três instâncias que se relacionam entre si: id, ego, superego. O id é a libido plena, sem 
freios, sem limites, energia bruta em busca de satisfação. 
 O ego é a parte consciente, voluntária e racional, poderíamos dizer que é a 
instância mediadora entre o id e o superego. Este último é associado às repressões e 
o recalque direcionados ao ego e ao id e se manifestam nas formas dos aspectos 
culturais e sociais, que por sua vez podem ser internalizados elaborados de modo 
inconsciente. 
No que diz respeito a sexualidade infantil, a teoria freudiana contribui para o 
seu reconhecimento, contudo, ainda hoje ela é negada de modo violento. Nesse 
sentido, não basta reconhecer a existência da sexualidade na infância é preciso 
compreendê-la dentro da amplitude do sujeito complexo que a desenvolve. 
Além disso, é necessário respeitar esse sujeito como um ser sexual, não a partir 
das concepções ou erotizações do adulto, mas em suas capacidades de 
desenvolvimento e que, nesse processo, ele seja capaz de observar, analisar e de 
transformar a realidade de opressão em uma presença autônoma numa natureza de 
liberdade. 
A opressão, promovida por uma sociedade como a nossa, origina violências 
das mais diversas ordens. Essas violências vão desde a criminosa negação da 
sexualidade e do prazer, como a própria negação de existência ou de manifestação 
da vida. E para que a vida se desenvolva em sua plenitude humana são necessários 
os meios para esse desenvolvimento e para libertação da servidão e, essa 
possibilidade, ela é “real no mundo real e através de meios reais” (Marx e Engels, 
1987, p. 65 apud Borges; 2019). 
 
9 
 
A sucção voluptuosa nos permitiu distinguir as três características essenciais 
de uma manifestação sexual infantil. Ela ainda não conhece objeto sexual 
algum, é auto erótica e seu alvo sexual está sob a dominação de uma zona 
erógena. (Freud, 1987, p.106-7 apud Amaral M; 1995). 
2.1 O desenvolvimento da sexualidade na infância 
Para compreender sobre a sexualidade infantil na sociedade brasileira, 
precisamos retornar à história da infância no mundo ocidental com mais 
aprofundamento. Nesse sentido, Philippe Ariès (1981 apud Souza M; 2017) é um 
ícone e uma referência sobre os estudos da história da infância e da família. Seus 
estudos trazem contribuições importantes e relevantes sobre as transformações que 
ocorreram sobre o significado do que é infância e também sobre a família ao longo 
dos séculos. 
De acordo com Ariès (1981 apud Souza M; 2017) na Idade Média a criança era 
vista como um adulto em miniatura, ela não era considerada como um ser social e era 
tratada de acordo com a classe social a que pertencia. Seu vestuário era igual ao de 
um adulto e no período medieval era frequente o matrimônio entre adolescentes e 
adultos, quer dizer que não existia também limites entre a infância e à adolescência, 
o que de certa maneira afetava as relações interpessoais de um modo geral. 
De acordo com Ariès (1981 apud Sousa M; 2017) durante os séculos XV e XVI 
na Europa existia uma maior liberdade sexual, pois não havia um controle total da 
sexualidade. Assim, eram frequentes e aceita com naturalidade as brincadeiras 
sexuais entre adultos e crianças, em algumas regiões da Europa, estas faziam parte 
do cotidiano tanto de famílias nobres, como de famílias populares. 
A partir do século XV esse cenário começa a mudar e a criança passaa ser 
mais preservada e com o advento da sociedade capitalista urbano-industrial, a criança 
passa a ser vista como uma pessoa que necessita de cuidados e de escolarização. 
Nesse sentido Jane Felipe e Bianca Guizzo (2003 apud Souza M; 2017) esclarecem 
que, o conhecimento produzido sobre a infância a partir do século XVIII, suas 
características e necessidades, foi consolidando aos poucos a ideia da criança como 
sujeito de direitos, merecedora de dignidade e respeito, devendo ser preservada a sua 
dignidade física e emocional (FELIPE; GUIZZO, 2003, p. 123 apud Souza M; 2017). 
 
 
10 
 
A partir desse momento a sexualidade passa a ser tratada de outra maneira, 
bem como a relação sexual passa a ser uma atividade aceita somente dentro do 
espaço conjugal, no âmbito e limite da família nuclear (MICHAEL FOUCAULT, 1988 
apud Souza M; 2017). 
Nesse período, os estudos sobre a sexualidade ganharam reforço com as 
publicações de Sigmund Freud, no século XX, o que contribuiu significativamente para 
o surgimento do olhar sobre a sexualidade infantil e humana. Antes de Freud a criança 
era considerada como um ser assexuado, mas com sua teoria Freud apresenta que a 
criança possui uma sexualidade que perpassa o aspecto genital. 
 A sexualidade infantil passa a ser estudada e vista como uma questão 
humana, a partir de um novo olhar. De acordo com Ana Camargo e Cláudia Ribeiro 
(1999 apud Souza M; 2017) após a teoria freudiana, outras áreas do conhecimento 
como a biologia, a psicologia, a psicanálise e a pedagogia iniciaram vários estudos 
tendo como principal objeto a sexualidade da criança e a infância. 
 
Fonte: corujices.com 
Freud (1995 apud Souza M; 2017) defende a ideia de que a sexualidade 
humana não é instintiva, pois o homem busca prazer e satisfação de diferentes 
maneiras, baseadas em sua história individual, ou seja, a sexualidade humana vai 
além das necessidades fisiológicas fundamentais. 
 
 
11 
 
Ele acreditava que a personalidade é formada nos primeiros anos de vida à 
medida que as crianças lidam com conflitos entre os impulsos biológicos inatos ligados 
ao sexo e as exigências da sociedade, quer dizer com a inter-relação com o outro. Ele 
caracterizou que a criança sente prazer em diferentes áreas do corpo. 
 Assim, denominou de fase oral – nascimento até mais ou menos 18 meses de 
idade –, quando a criança sente prazer ao sugar o seio materno na alimentação, 
depois isso transfere para outros objetos, como a chupeta, nessa fase a zona erógena 
é a boca. Na segunda fase a anal – entre 18 meses a 3 anos –, a criança sente prazer 
com a eliminação ou retenção dos esfíncteres e de brincar com eles; o ânus é a zona 
erógena. Na fase fálica – 3 a 6 anos –, a criança estimula os órgãos genitais, mas não 
relaciona o órgão a sua função. A criança se masturba porque lhe causa boas 
sensações. Nesse período, por exemplo, as crianças querem saber de onde vêm os 
bebês, as diferenças entre o corpo masculino e feminino. 
Em seguida vem o período de latência – 6 anos a puberdade –, onde as 
crianças ficam mais tranquilas com relação as questões da sexualidade, então elas 
se socializam, desenvolvem outras habilidades tanto na escola, quanto em outros 
grupos de convivência. 
A última fase genital, que tem seu início na puberdade e se estende até a fase 
adulta, caracterizando-se pela atividade sexual que, a princípio, inicia-se com a 
masturbação a fim de obter prazer e depois com o ato sexual propriamente dito (ANA 
CLAUDIA MAIA, 2005 apud Souza M; 2017). Apesar de abordamos, brevemente, 
alguns conceitos da teoria freudiana, esta não seria a fundamentação teórica cerne 
no estudo. 
Christiane Sanderson (2005 apud Soza M; 2017) aborda que a sexualidade da 
criança ainda é um assunto difícil para pais e adultos, considera que eles têm um 
papel importante e fundamental na compreensão que a criança vai adquirir sobre o 
mundo, sobre si, sobre o outro e as relações que estabelece. 
 Aqui transpomos a figura desse adulto para a figura da professora, que tem 
contato diário com crianças da educação infantil na idade entre 4 meses a 5 anos e 
11meses, assim como do ensino fundamental com crianças de 6 anos a 
aproximadamente 11 anos. 
 
 
12 
 
As crianças “[...] precisam conhecer a sexualidade e entendê-la em uma 
linguagem adequada à idade e de acordo com o desenvolvimento delas [...]” 
(SANDERSON, 2005, p.27 apud Souza M; 2017). As crianças querem saber sobre 
sexualidade e sexo, assim como querem saber sobre outros fenômenos da natureza. 
Segundo Sanderson (2005 apud Souza M; 2017), a natureza progressiva e o 
desenvolvimento do comportamento sexual em crianças dependem de vários fatores, 
que consistem em normas e expectativas socioculturais refletidas na família. 
 Essas interações e valores familiares são interligados com experiências sociais 
e influências intrapsíquicas, as quais, por sua vez, se tornam integradas ao 
desenvolvimento das capacidades cognitivas da criança com relação ao pensamento, 
interpretação e origem do significado. Cada estágio do desenvolvimento está 
associado a certas características no desenvolvimento sexual das crianças 
(SANDERSON, 2005, p. 35 apud Souza M; 2017). 
Sanderson (2005, p. 35 apud Souza M; 2017), explica que “[...] o 
desenvolvimento do comportamento sexual, assim como outros comportamentos das 
crianças, assume a forma de brincadeira e jogos [...]”. Um exemplo de comportamento 
típico entre crianças de 0 a 4 anos de idade são os jogos de “brincar de casinha”, “de 
papai e mamãe” e “de médico”, sendo um exemplo de comportamento atípico aquele 
onde a criança “preocupa-se com o comportamento e as atividades sexuais”. 
A criança na 1ª infância – 0 a 3 anos –, vive a sexualidade de maneira mais 
tranquila, como o aprendizado sobre o mundo que a cerca, assim como aprende sobre 
outras questões da vida e do mundo. Maia (2005, p. 85 apud Souza M; 2017) destaca 
que “[...] a infância é a época mais importante nesse aprendizado e a vivência da 
sexualidade na infância é a base para compreender as manifestações da sexualidade 
na vida adulta. ” 
Pais e professores deveriam agir da maneira mais natural possível e 
responderem a todas as questões apresentadas pelas crianças. Além de Maia (2005 
apud Souza M; 2017), Sanderson (2005 apud Souza M; 2017) e Marcos Ribeiro, (2005 
apud Souza M; 2017) também corroboram com essas questões. 
Precisamos aprender a lidar com essas manifestações e procurar atender as 
necessidades da criança de maneira mais tranquila, sem dramas e exageros, sem 
considerar que o comportamento sexual das crianças é precoce ou aflorado no que 
tange a sexualidade. 
 
13 
 
 Neste sentido Maia (2005 apud Souza M; 2017) considera que, uma vez que 
reconhecermos que a sexualidade está presente nas crianças, que há manifestações 
da sexualidade no desenvolvimento infantil, essas manifestações são determinantes 
para a vida sexual na idade adulta, é inegável que as crianças devem receber 
orientação sexual desde o momento em que mostram interesse pelo tema. E seu 
direito à informação é inegável (MAIA, 2005, p. 89 apud Souza M; 2017). 
A autora ainda enfatiza a importância de se respeitar a sexualidade da criança 
e o seu aprendizado sobre a questão e mostra a necessidade de uma orientação 
adequada às crianças pelos adultos. Por isso, a importância de se construir propostas 
de formação que busquem o esclarecimento e orientação para pais e professores. 
A essa energia, Freud (2006) denominou de libido, que é sinônimo de energia 
sexual. Segundo Fiori (1981) a libido é, [...] a energia afetiva original que 
sofrerá progressivas organizações durante o desenvolvimento, cada uma das 
quais suportadas por uma organização da libido, apoiada numa zona erógena 
corporal, caracterizará uma fase de desenvolvimento (FIORI, 1981, p. 33 et. 
al., Freud apud Costa E; et al., Oliveira K; 2011). 
2.2 Comportamentos sexuais em criançasHistoricamente, o estudo da sexualidade infantil remonta aos primeiros 
trabalhos de Sigmund Freud nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905 
apud Pinto J ;2013), teoria sobre a qual baseou os estádios de desenvolvimento, que 
nessa altura sustentaram um ponto de partida revolucionário devido ao 
reconhecimento da existência da atividade sexual na infância. À medida que os 
estudos sobre a sexualidade infantil avançaram, comprovou-se que a resposta sexual 
está presente na criança desde muito cedo. 
Através de observações diretas e controladas (e.g., entrevistas a pais e 
crianças), verificou-se a existência de ereções espontâneas em bebês do sexo 
masculino recém-nascidos e lubrificação vaginal nas bebês do sexo feminino, o que 
parece demonstrar que o aparelho sexual exerce uma função fisiológica, sendo um 
processo natural como o respirar ou digerir (Pereira, 1987 apud Pinto J ;2013). 
Também as descrições retrospectivas de adultos permitem apurar a existência de 
lembranças destes se comportarem de forma sexual enquanto crianças (Larsson & 
Svedin, 2002ª apud Pinto J ;2013). 
 
14 
 
Hoje em dia, confirma-se que a sexualidade se manifesta desde o início da vida 
e que se desenvolve a par com o desenvolvimento geral do indivíduo, integrada no 
seu bem-estar biopsicossocial (López & Fuertes, 1999 apud Pinto J ;2013). 
A tecnologia recente da ecografia permite constatar que o sistema de resposta 
sexual tem o seu início no período de gestação, uma vez que nas ecografias se 
observou resposta erétil em fetos do sexo masculino com cerca de 16 semanas de 
gestação, ou seja verificamos que, atualmente, a resposta sexual está presente no 
ser humano ainda mais cedo do que o constatado pelas descobertas das primeiras 
investigações (Haffner, 2000 apud Pinto J ;2013). 
Segundo Friedrich, Fisher, Brouthton, Kuiper & Beilke (1991 apud Pinto J ;2013) 
os comportamentos sexuais mais comuns na primeira infância consistem 
principalmente em: comportamentos de auto estimulação sexual; de exposição das 
partes íntimas; comportamentos relacionados com os limites pessoais quando as 
crianças ainda estão a aprender a distância culturalmente adequada entre as pessoas 
(e.g., ficar muito perto das pessoas); comportamentos de papéis de gênero (i.e., 
comportamentos e interesses baseados no sexo da criança); e comportamentos de 
voyeurismo (i.e., tentar olhar para outras pessoas na sua intimidade, nomeadamente, 
quando estão nuas). 
 Por sua vez, os comportamentos menos frequentes são os comportamentos 
mais intrusivos, tais como a imitação do comportamento sexual adulto, 
nomeadamente, a tentativa de manter relações sexuais, contato oral/genital e inserir 
objetos na vagina/reto. 
A investigação na área dos comportamentos sexuais tende a relatar um declínio 
do comportamento sexual, de um modo geral, com a idade (Friedrich, Fisher, 
Broughton, Houston & Shafran, 1998; Gray, Pithers, Busconi & Houchens, 1999; 
Kendall-Tackett, Williams & Finkelhor, 1993; Tarren-Sweeney, 2008 apud Pinto J 
;2013). Friedrich e colaboradores (1998 apud Pinto J ;2013) constataram que 
determinados comportamentos, como o toque nos genitais do próprio ou de outras 
crianças, diminuía ao longo do desenvolvimento até aos 12 anos, onde se verifica uma 
frequência bastante baixa deste comportamento (1,1% dos meninos, 2,2% das 
meninas) comparativamente com a frequência observada nos rapazes de 5 anos, por 
exemplo, (60,2%). 
 
15 
 
Em contraste, certo tipo de comportamentos sexuais torna-se mais frequentes 
à medida que as crianças se desenvolvem, como por exemplo: o interesse no sexo 
oposto; fazer perguntas sobre sexualidade; ver fotos de que mostrem nudez; usar 
palavras com conotação sexual; bem como o interesse em nudez na televisão 
(Friedrich et al., 1991; 1998). 
No mesmo estudo de Friedrich e colaboradores (1998 apud Pinto J ;2013), por 
exemplo, os cuidadores reportaram que 5% das crianças com idades compreendidas 
entre os dois e os cinco anos manifestavam interesse em nudez na televisão, 
enquanto que nas crianças entre os 10 e os 12 anos o comportamento foi reportado 
assumindo uma frequência de 15%. 
O desenvolvimento sexual, contudo, deve ser visto num continuum ocorrendo 
num contexto de mudanças físicas, cognitivas e psicossociais, influenciadas pelo 
ambiente familiar, pela comunidade e pela cultura (Friedrich, Jaworsky, Huxsahl & 
Bengtson, 1997; Friedrich et al., 2001 apud Pinto J ;2013). 
Isto é, apesar de o comportamento sexual ser fundamentado de forma 
biológica, resultando na conjugação de fatores genéticos, hormonais e embriológicos, 
os fatores psicológicos e socioculturais assumem também um papel importante, uma 
vez que a exposição da criança ao relacionamento com outros e a uma determinada 
cultura (tabus, valores e crenças em relação ao sexo) vai condicionar o seu futuro 
comportamento sexual (Pereira, 1987 apud Pinto J ;2013). 
Os comportamentos sexuais são aprendidos através da observação dos 
comportamentos dos adultos que rodeiam a criança, nomeadamente, a família, mas 
também nos meios de comunicação social como a televisão (Haffner, 2000; Ray et al., 
1995). Assim, além do declínio que, como referimos anteriormente, é esperado no 
comportamento sexual consoante a idade e nível de desenvolvimento, também é 
provável que, à medida que as crianças aprendam os padrões culturais e o tabu 
inerente à sexualidade, os comportamentos sexuais no geral diminuam (Friedrich et 
al., 1991 apud Pinto J ;2013). 
Em suma, os comportamentos sexuais iniciam-se cedo na vida da criança, e 
continuam ao longo da vida. A análise e avaliação dos comportamentos sexuais 
devem ser compreendidas com base no desenvolvimento, comportamento e 
conhecimento sexual da criança, dependendo também da cultura e normas da 
sociedade em que esta se insere. 
 
16 
 
Como verificamos, o que é normativo para uma criança em idade pré-escolar 
pode ser atípico para uma criança mais velha e vice-versa (Friedrich et al., 1991, 1992, 
1997, 2001; Larsson & Svedin, 2002b apud Pinto J ;2013). 
Para Freud (1996b), existe uma sexualidade infantil que atua desde o início 
da vida, e neste caso, o campo do que se chama sexual torna-se muito mais 
ampliado, pois se circunscreve no esforço do ser humano (no caso, a criança) 
em compreender e se adaptar à realidade. A sexualidade vai além da ideia 
de instinto, pois não se reduz a mesma função de fome, sede, excreção, etc. 
Assim, as atividades infantis revelam, antes de qualquer coisa, a sua 
sexualidade, e no início de suas vidas revelam-se também como atividades 
de conservação (alimentação e excreção, principalmente (Freud 1996 apud 
Santos M; et al., Castilhano A; 2010). 
2.3 Comportamentos sexuais problemáticos em crianças 
Existe uma tendência para negar as crianças enquanto seres sexuais (Davies, 
Glaser & Kossof, 2000; Pithers & Gray, 1998; Ray et al., 1995 apud Pinto J ;2013). 
Embora o desenvolvimento psicossexual tenha início na infância (Freud, 1905; 
Friedrich et al., 1991 apud Pinto J ;2013), verifica-se a dificuldade em aceitar a 
manifestação de comportamentos sexuais em idades mais precoces (Davies et al., 
2000; Pithers & Gray, 1998; Ray et al., 1995 apud Pinto J ;2013). 
Assim torna-se difícil conceptualizar a sexualidade como uma área do 
desenvolvimento da criança onde as mesmas estão propensas a ter problemas 
comportamentais, tal como em qualquer outra área do desenvolvimento ou 
comportamento (Pithers & Gray, 1998 apud Pinto J ;2013). 
A investigação na área dos comportamentos sexuais problemáticos em 
crianças é relativamente recente. Só na década de 1980 é que o número de estudos 
que se concentram especificamente nestes casos aumentou consideravelmente, 
assim como a investigação sobre programas de intervenção terapêutica (Baker et al., 
2001; Bonner, Walker & Berliner, 1999a; Gray, Busconi, Houchens & Pithers, 1997; 
Kendall-Tackett et al., 1993; Pithers& Gray, 1998; Silovsky & Niec, 2002 Pinto J 
;2013). Alguns autores defendem que a investigação na área se impulsionou com a 
associação dos comportamentos sexuais problemáticos a crianças vítimas de abuso 
sexual (Elkovitch, Latzman, Hansen & Flood, 2009; Friedrich et al., 1998 apud Pinto J 
;2013). Até esta altura, o comportamento sexual problemático era considerado um 
problema manifestado, quase exclusivamente, por adolescentes ou adultos do sexo 
masculino (Gray et al., 1997 apud Pinto J ;2013). 
 
17 
 
Hoje em dia considera-se que as crianças devem ser diferenciadas dos 
adolescentes e adultos, nomeadamente, na análise dos seus comportamentos e nas 
diretrizes da intervenção terapêutica (Chaffin, Letourneau & Silovsky, 2002; Hall, 
Mathews & Pearce, 1998 apud Pinto J ;2013). 
À medida que a investigação foi aumentando, esta área do comportamento tem 
sido alvo de preocupação e têm sido feitos avanços na compreensão dos 
comportamentos sexuais das crianças, nomeadamente, na procura de estratégias e 
programas de intervenção, bem como de protocolos de avaliação com base na sua 
normatividade e problemática (Bonner et al., 1999a; Chaffin et al., 2008; Hall et al., 
1998; Silovsky, Niec, Bard & Hecht, 2007; Silovsky & Letourneau, 2008 apud Pinto J 
;2013). Para determinar se o comportamento sexual é problemático, é importante ter 
determinados aspetos em conta, embora não existam indicadores únicos e confiáveis 
que distingam, de forma conclusiva, o que é um comportamento sexual normativo e 
um comportamento sexual problemático (Bonner et al., 1999a; Pithers, Gray, Busconi 
& Houchens, 1998b apud Pinto J ;2013). No entanto, são vários os autores que têm 
trabalhado na melhor definição, compreensão e classificação destes 
comportamentos. 
Chaffin e colaboradores (2008 apud Pinto J ;2013) definem comportamentos 
sexuais problemáticos como sendo comportamentos de “crianças com 12 anos e mais 
novas que iniciam comportamentos que envolvem partes do corpo sexuais (i.e., 
genitais, ânus, nádegas ou seios) que são inapropriados, tendo em conta o 
desenvolvimento, ou potencialmente prejudiciais para o próprio e para outros " (p. 200 
apud Pinto J ;2013). 
Gray e colaboradores (1997; 1999 apud Pinto J ;2013) definiram 
comportamentos sexuais problemáticos como sendo aqueles que são: 
(1) repetitivos; (2) que não se modificam com intervenção de adultos e com 
supervisão; (3), equivalentes a uma infração penal; (4) generalizados, ocorrendo ao 
longo de diversos contextos e ao longo do tempo, e/ou (5) um leque diversificado de 
comportamentos sexuais inadequados. 
Por sua vez, Johnson (1988, 1999, 2000, citada por Johnson, 2002 apud 
Pinto J ;2013) define três tipologias de comportamentos sexuais: 
 Os comportamentos sexuais naturais, em que a criança explora de forma 
saudável e espontânea a sua sexualidade durante a infância; 
 
18 
 
 Comportamentos sexuais praticados por crianças a que a autora se 
refere como “sexualmente reativas” (p.92), sendo este tipo de 
comportamento geralmente uma resposta a uma memória de abuso 
anterior; 
 E comportamentos sexuais mais intrusivos e agressivos, 
nomeadamente, referentes a crianças que molestam outras crianças. 
São considerados comportamentos sexuais agressivos os que possam 
causar dano, onde esteja presente o uso da força, de intimidação ou 
coerção, assim como agressões físicas e o resultado de danos 
emocionais ou perturbação do desenvolvimento social nas crianças 
envolvidas (Chaffin et al., 2008; Gray et al., 1997 apud Pinto J ;2013). 
Os comportamentos sexuais problemáticos podem ser comportamentos 
focados no próprio ou podem envolver outras crianças (Chaffin et al., 
2008 apud Pinto J ;2013). 
Analisando as definições descritas anteriormente, podemos concluir que 
existem alguns critérios para categorização que reúnem consenso. 
Nomeadamente, na categorização de um comportamento sexual como 
normativo ou problemático há que considerar: 
 A idade/nível de desenvolvimento da (s) criança (s) envolvida (s) no 
comportamento em questão, 
 A frequência do comportamento, 
 No caso de várias crianças envolvidas, a diferença de 
desenvolvimento/estatura que possa implicar diferenças de poder, 
 As emoções (positivas ou negativas) presentes aquando da interação 
nas atividades sexuais, 
 A resposta à supervisão e controlo dos comportamentos por parte dos 
adultos, 6) o uso da força, coerção ou ameaça de outra (s) criança (s) 
na interação em atividades sexuais, 
 Se os comportamentos sexuais interferem com o desenvolvimento social 
(i.e., participação da criança em atividades sociais como brincar com os 
pares) (Chaffin, Letourneau & Silovsky, 2002; Baker et al., 2001; 
Elkovitch et al., 2009; Gray et al., 1997; Hall et al., 1998; Pithers et al., 
1998b apud Pinto J ;2013). 
 
19 
 
Na definição de comportamentos sexuais problemáticos é importante também 
relembrar que a principal motivação e intenção das crianças que se comportam 
sexualmente e de forma problemática não é, necessariamente, a gratificação sexual. 
Ao invés, pode estar relacionado com a curiosidade, a ansiedade, a imitação, procura 
de atenção ou redução de sentimentos de ansiedade. As crianças não experienciam 
excitação e impulsos sexuais comparáveis aos dos adultos ou adolescentes (Chaffin 
et al., 2002 apud Pinto J ;2013). 
O fato de não existir um padrão claro de comportamentos sexuais 
problemáticos de crianças, a escassa investigação sobre esta problemática e, ainda, 
o fato de nenhuma organização em particular se dedicar ao estudo destes 
comportamentos, são algumas das razões para a ausência de informação acerca da 
prevalência e incidência destes comportamentos nas crianças. 
Entretanto, Brigitte Lhomond (2009) afirma que a sexualidade está 
inteiramente ligada ao uso do corpo manifestando prazer físico e mental. 
Além disso, a construção da personalidade do indivíduo sofre grandes 
interferências da sexualidade exposta nessas relações sociais (Brigitte 
Lhomond; 2009 apud Santos M; et al., Castilhano A; 2010). 
3 ADOLESCÊNCIA 
É um período privilegiado da existência humana em que se verificam mudanças 
orgânicas, cognitivas, sociais e afetivas que interferem intensamente nos 
relacionamentos interpessoais quer a nível familiar, escolar e social. 
Do ponto de vista etário, aspeto cronológico do ciclo vital, a Organização 
Mundial de Saúde (WHO, 1995 apud Tavares G; 2015) considera adolescente o 
indivíduo entre os 10 e os 19 anos, e jovem aquele entre 15 e 24 anos. Identificam-
se, assim, como adolescentes jovens os indivíduos com idade de 15 a 19 anos, e 
adultos jovens aqueles com idade de 20 a 24 anos. 
Apesar das definições clássicas de adolescência se centrarem na delimitação 
cronológica, é fundamental enquadrá-la em âmbitos abrangentes como as 
características biológicas, psicológicas e sociais. Estes aspetos salientam todo o 
processo de mudanças notórias nas diferentes áreas de vida dos jovens (física, social, 
emocional, cognitiva) que determinam, quer as funções que terão de desempenhar, 
quer a alteração da sua própria estrutura até esta fase (Bizarro, 2001 apud Tavares 
G; 2015). 
 
20 
 
O que em primeiro lugar podemos concluir (e tendo por base o levantamento 
bibliográfico) relativamente à idade, as fronteiras são flexíveis. Embora não existam 
períodos rígidos, é útil compreender as três fases da adolescência (início, meio e final), 
devido às variações que acarretam. 
Para tornar as suas fases mais definidas e orientar a investigação 
desenvolvimental, a SRA (Society for Research on Adolescence) delimitou a 
adolescência entre os 10 e os 22 anos de idade, subdividindo-a em três fases: a 
adolescência inicial (10 aos 15 anos), a fase intermédia da adolescência (entre os 15 
e os 18 anos) e a fase final da adolescência (dos 18 aos 22 anos) (Compas, Hinden, 
& Gerhardt, 1995 apud Tavares G; 2015). 
Nestes pressupostos,a infância e especialmente a adolescência, não seriam 
mais que etapas nesse contínuo, fases de transição entre o organismo infantil, 
incompleto e inacabado para o adulto, esse sim pronto, acabado e socialmente 
ajustado. Dessa forma, o critério cronológico é privilegiado para distinguir essa etapa 
evolutiva em direção à maturidade (Oliveira et al, 2002 apud Tavares G; 2015). Assim 
sendo, o adolescente é definido por oposição à criança e ao adulto, pelas suas 
características e necessidades peculiares, é mais que um, menos que o outro. 
A palavra adolescência surge a partir do verbo latino “adolescere”, que significa 
crescer. Embora o crescimento não seja uma característica apenas da adolescência, 
fazendo parte integrante de outros períodos de vida das pessoas, a verdade é que o 
crescimento, nesta fase; envolve mudanças tão profundas e radicais, que são sentidas 
pelos jovens com profunda intensidade. 
“Puberdade”, por sua vez, origina-se dos termos latinos pubertas e pubescere, 
que significam apresentar pelos no corpo e atingir a maioridade; o conceito de 
puberdade, portanto, refere-se às mudanças biológicas e fisiológicas associadas à 
maturação sexual (Muuss, 1988 Tavares G; 2015). 
Para Piaget & Inhelder (1979, citados por Sá, (1997 apud Tavares G; 2015), o 
adolescente sem que seja adulto, encontra-se na encruzilhada de um duplo 
movimento de sentido contrário de avanço, a nível funcional, com a aquisição da 
função reprodutora e com aceleradas transformações somáticas e, a nível cognitivo 
com a introdução da dimensão hipotético-dedutiva nas operações psíquicas e de 
retrocesso reorganizador, sedimentando os adeptos e questionado os objetos da 
relação. 
 
21 
 
 
Fonte: clubedemulher.com 
Para Olson (1983 apud Tavares G; 2015) a adolescência é um período ou uma 
etapa na vida de um indivíduo que se inicia por profundas alterações morfológicas, 
biológicas e psicológicas, terminando pela formação de uma personalidade e adoção 
de um sistema de valores que pronunciam a entrada na idade adulta. Tavares & 
Alarcão (1992 apud Tavares G; 2015) definem adolescente como aquele que “está a 
crescer, a amadurecer do ponto de vista orgânico, psicológico e social e humano, 
contraposto ao adulto”. 
Piaget (1990 apud Tavares G; 2015) refere que o adolescente é um indivíduo 
que constrói sistemas e teorias cuja adaptação à sociedade far-se-á de forma 
automática quando se torna realizador. Para o mesmo autor, o adolescente não tem 
tempo nem oportunidade para aperfeiçoar a sua metafisica, as suas paixões e a sua 
megalomania para uma verdadeira criação pessoal, fatores indispensáveis para a 
formação de um “EU” dinâmico, interativo, onde impera a inteligência e a afetividade. 
No final da adolescência, o jovem deve estar capacitado para emancipar-se da 
tutela parental, estabelecer relações de intimidade amorosa, comprometer-se num 
conjunto de objetivos de vida que fomentem a autonomia, a responsabilidade, a 
capacidade de decisão e assunção de um código de valores pessoais (Dias e 
Fontaine, 2001 apud Tavares G; 2015). 
 
 
22 
 
Cordeiro (2009:33-34 apud Tavares G; 2015) referência que a passagem da 
criança a adolescente é marcada por “ (…) significados simbólicos de ser adulto, mas 
nos desempenhos que marcam a adultícia de uma forma menos boa: arriscar a vida, 
fumar, beber exageradamente, entre outros. Mais do que dizer sou adolescente 
parece quer dizer que não sou criança, logo sou um adulto”. 
Por sua vez, a pesquisa científica sobre a temática da adolescência tem vindo 
a desenvolver-se de forma considerável nas últimas duas décadas. Este aumento está 
evidente em revisões principais de literatura realizadas e publicadas nas principiais 
revistas cientificas, designadamente: (Annual Review of Psychology; 1988, 1995, 
1998, 2001, 2006 apud Tavares G; 2015), em novas revistas científicas (Journal of 
Research on 7 Adolescence), e em literatura na área da psicologia, (American 
Psychologist, Psychological Bulletin) e do desenvolvimento, (Child Development, 
Developmental Psychology) (Smetana, Campione-Barr & Metzger, 2006 apud 
Tavares G; 2015). 
A adolescência é uma fase do desenvolvimento humano em continuidade ao 
processo dinâmico da evolução, à qual é evidenciada por grandes 
transformações, tais como o crescimento biológico e as mudanças 
psicossociais e cognitivas (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud Freire A et al., 
Melo M; Vieira M; Gomes I; Gomes J; Ribamar D; Coelho V; Neto A; Marques 
K; Silva G; Soares F; Costa M; 2017). 
3.1 Corpo e sexualidade na adolescência 
Ao tratarmos o tema corpo e sexualidade na adolescência torna-se preciso 
discutir o significado desses conceitos e como afetam os adolescentes nesta fase. 
Assim, o conceito de corpo é diferente de organismo que se trata do aspecto biológico. 
Corpo, diz respeito aos significados e sentidos que podemos atribuir a qualquer 
interação, ou seja, o corpo é o organismo atravessado por todas as experiências 
vividas, inteligência, afeto e desejo. 
No conceito de corpo, estão incluídas as dimensões da aprendizagem e as 
potencialidades do indivíduo de suas vivências. Isso significa que é por meio do 
conceito de corpo que podemos compreender o modo como cada um organiza e sente 
tudo o que vive, atribuindo sentido a cada experiência. 
 
23 
 
 Dessa forma, é possível perceber que a abordagem da sexualidade deve ir 
além das informações sobre anatomia e funcionamento do corpo, pois os órgãos não 
existiriam fora de um corpo que pulsa e sente (TALAMONI, 2007 apud Moizés 2010). 
O corpo é um campo de luta que envolve diferentes saberes, práticas e o 
imaginário social. O adolescente é uma construção social moderna, emergindo- se de 
uma nova subjetividade, referências e padrões identitários. Biologicamente é a fase 
de maior velocidade do crescimento do indivíduo (SERRA; SANTOS, 2003 apud 
Moizés 2010). 
Desde bebê até a adolescência, o corpo do ser humano mantém uma 
identidade que sofre desorganização com a emergência dos caracteres sexuais 
secundários. As mudanças que ocorrem nesse período levam à perda da antiga 
imagem corporal e identidade infantis, o que implica na busca de nova identidade, 
com a tarefa psíquica de papel e identidade sexual. Há uma certa confusão entre 
puberdade e adolescência, pois essas duas condições ocorrem mais ou menos ao 
mesmo tempo na vida dos jovens. 
A puberdade, no entanto, diz respeito aos processos biológicos, que culminam 
com o amadurecimento dos órgãos sexuais. A adolescência, por sua vez, compreende 
as alterações biológicas, mas também as psicológicas e sociais que ocorrem nessa 
fase do desenvolvimento. Há certa discordância quanto ao fato de a adolescência 
começar um pouco antes, durante ou logo após a puberdade (CAMPAGNA 2006 apud 
Moizés 2010). 
Para Scalozub (2007 apud Moizés 2010), o corpo familiar da primeira infância 
é perdido e, em seu lugar, aparece um mal-estar em relação ao corpo que se modifica, 
desconhecido, suspeito, fonte de inquietude, e na medida em que remete a 
sexualidade, interpela e questiona. 
Com a chegada da adolescência a perda do corpo infantil é progressiva, porém 
rápida, o adolescente se vê frente à tarefa de processar o que seu corpo representa 
nesse peculiar momento de sua vida. 
A imagem corporal vai se desenvolvendo como um produto da relação do 
indivíduo consigo mesmo e com os outros. É uma unidade adquirida, dinâmica, 
portanto alterações corporais provocam mudanças na imagem corporal, esse 
fenômeno é particularmente intenso na adolescência. 
 
24 
 
A imagem corporal é a representação mental do próprio corpo, o modo como 
ele é percebido pelo indivíduo. Compreende não só o que é percebido pelos sentidos, 
mas também ideias e sentimentos ao próprio corpo (TALAMONI, 2007 apud Moizés 
2010). Percebe – se que, além da dificuldade intrínseca de fixar uma imagem de si, 
mesmo que temporária, nesse corpo em transformação, ojovem, em nossa sociedade 
contemporânea, tem que lidar com novos desafios, trazidos pela globalização e forte 
influência dos meios de comunicação no comportamento humano. 
A indústria e a mídia articulam diferentes campos, numa lógica de mercado 
impregnada por um padrão estético de corpo ideal (SERRA; SANTOS, 2003; 
ROSARIO, 2006 apud Moizés 2010). 
Além da falta de apoio social para lidar com suas transformações, os jovens se 
deparam com modelos de beleza e com a extrema valorização da aparência, 
veiculada pelos meios de comunicação. É preocupante o fato de que esses modelos 
sejam internalizados, sem que sejam questionados, vistos como algo natural. A 
intensidade com que os meios de comunicação atingem as culturas é mais intensa 
que a capacidade de assimilação da população, fazendo com que aquilo que se vê 
seja incorporado sem ser simbolizado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: grupoescolar.com 
Na sociedade ocidental, há a desconsideração da subjetividade e 
supervalorização da imagem, culto narcísico do corpo, que é vendido como objeto de 
consumo, onde, mais importante do que sentir, pensar, criar é ter medidas perfeitas, 
considerando –se o padrão de magreza como ideal. 
 
25 
 
Assim, o adolescente, que já tem que lidar com suas transformações físicas, é 
colocado frente a esses modelos e a impossibilidade de corresponder a eles (KEHILY, 
2003, CAMPAGNA, 2006; apud Moizés 2010). Nesse âmbito, surge o conceito de 
corpolatria, que se refere à preocupação exagerada que os indivíduos vêm nutrindo 
acerca de corpo, saúde e estética, fazendo surgir novas práticas e intervenções que 
visão a construção de um corpo e identidade dentro dos padrões culturais 
estabelecidos. 
Apesar de existir um conjunto diverso de fatores que estão associados aos 
comportamentos sexuais, tem crescido o interesse em compreender o 
impacto que a influência familiar e dos pares assume na adopção e 
manutenção de comportamentos sexuais nos adolescentes (DiClemente, 
Wingood, Crosby et al., 2001; Kingon & Sullivan, 2001 apud Dias S; et al., 
Matos M; Gonçalves A; 2007). 
Os adolescentes que não se enquadram nas exigências sociais terão mais 
probabilidade de serem alvo de recriminação ou assédio moral dos outros alunos. 
Nesse sentido, temos constatado o bullying nas escolas. Esse termo, bullying, é 
definido como ato agressivo intencional e repetido, provocado por um, ou mais, 
estudante contra outro (s). 
 Esses atos ocorrem sem motivação evidente, causado dor e angústia, e são 
executados dentro de uma relação desigual e poder, seja por idade, diferenças físicas, 
desenvolvimento físico ou relações com o grupo. São atos comuns, como: colocar 
apelidos ofensivos, ofender, discriminar, excluir, intimidar, perseguir, assediar, 
amedrontar, ameaçar, humilhar, agredir fisicamente e, até mesmo, impondo- se, 
sexualmente. Alguns episódios já terminaram em homicídio ou suicídio, mas esses 
casos são raros. 
A maioria das vítimas de bullying, por medo ou vergonha, sofre em silêncio. 
Geralmente, as vítimas têm poucos amigos, procuram se isolar do grupo e são 
identificados por algum tipo de diferença física ou comportamental. Além disso, 
possuem dificuldades que os impedem de buscar ajuda, desesperançados quanto á 
a sua aceitação no grupo, tendem a manifestar comportamento introvertido. 
Para os alvos de bullying, as consequências podem ser depressão, angústia, 
baixa autoestima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação 
e suicídio, enquanto que os autores dessa prática podem adotar comportamentos de 
riscos, atitudes delinquentes ou criminosas, tornando –se, por vezes, adultos violentos 
(ABRAMOVAY, 2005; apud Moizés 2010). 
 
26 
 
Deste modo, acreditamos que todas as dificuldades inerentes a compreensão 
do corpo encontra-se presentes no processo educativo. Alunos e professores são 
igualmente interpelados pelas cobranças sociais, bem como, pelas fontes de 
informação que interferem na construção e/ou manutenção de seus significados de 
corpo e em sua corporalidade. Essas representações de corpo, por seu lado, influirão 
na dinâmica educacional, bem como, no processo de ensino e aprendizagem 
(TALAMONI, 2007 apud Moizés 2010). 
A cooperação para melhoria da saúde escolar deve integrar esforços advindos 
de professores, alunos e pais neste processo, pois isso é de fundamental importância. 
As estratégias utilizadas devem ser definidas e dialogais, observando –se as 
características de sua população. 
O incentivo ao protagonismo dos alunos pode se tornar outra estratégia, 
permitindo a participação nas decisões e no desenvolvimento, promovendo assim, um 
ambiente escolar seguro e sadio, onde haja amizade, solidariedade e respeito ás 
características individuais de cada um dos alunos (ABRAMOVAY, 2005 apud Moizés 
2010). Isto posto, é fundamental que a escola não se restrinja a ensinar apenas 
conteúdo programático, mas também educar as crianças e os adolescentes para a 
prática de uma cidadania justa, conhecendo melhor o corpo e aceitando as diferenças. 
A cultura é responsável pela transformação dos corpos em entidades sexuadas e 
socializadas, por intermédio de redes de significados que abarcam categorizações de 
gênero e de orientação sexual. 
A sexualidade é elemento fundamental na formação da identidade dos 
adolescentes, manifestada por múltiplas identificações, como a imagem corporal, 
descoberta do outro com objeto de amor ou desejo, descoberta de si e de suas 
relações sociais. Aspectos físicos e culturais são constantemente, imbricados na 
formação e no exercício da sexualidade humana (ROMERO et al, 2007; apud Moizés 
2010). Assim, na adolescência, a sexualidade manifesta- se de forma intensa. As 
mudanças físicas incluem alterações hormonais e é a fase de novas descobertas e 
experimentações. Os vínculos afetivos se criam e se desfazem com intensidade e 
rapidez entre os adolescentes como exemplo, o “ ficar”. 
 
 
 
27 
 
De modo geral, o mundo ocidental, a intensidade das experiências e as 
expressões da sexualidade são aspectos centrais na vida dos adolescentes. A 
sensualidade está presente nos seus movimentos e gestos, nas roupas que usam, na 
música, na produção gráfica e nas diferentes expressões artísticas. 
Então, o corpo é concebido como um todo, integrado de sistemas interligados, 
que inclui emoções, sentimentos, sensações de prazer e desprazer, assim como as 
transformações nele ocorridas, ao longo dos tempos. Há que se considerar os fatores 
culturais que intervêm na construção de percepção do corpo (ABBATE, 2006; apud 
Moizés 2010). 
Na atualidade, a divulgação repetitiva pela mídia de corpos magros, associada 
ao consumo de produtos, promove uma idealização de um tipo físico corporal, 
relacionando – o aos ideais de beleza, saúde, felicidade e ao poder de atração sexual. 
Os jovens podem se sentir inadequados e, consequentemente, diminuídos na 
possiblidade de autoaceitação, quesito tão necessário para a busca de prazer nas 
relações afetivas. 
A preocupação com o peso é entendida como resultado da internalização de 
padrões irreais de beleza, e, muitas vezes, predispõe os jovens á depressão. Ao se 
defrontarem com modelos geralmente fora dos padrões de normalidade, os 
adolescentes, que já lidam com as dificuldades intrínsecas de possuir um corpo em 
transformação, tendem ter uma autoestima rebaixada (STRIEGELMOORE, 2001; 
NICOLINO, 2007; apud Moizés 2010). 
Daí, depreende-se da necessidade de formação efetiva e adequada de 
professores para lidarem com as questões que se atrelam à sexualidade e ao corpo, 
no âmbito escolar, com a finalidade de aprimoramento e a ampliação do 
conhecimento, criando possibilidades de diálogos, reflexão e abertura, que conduzam 
a um efetivo crescimento pessoal, tornando possível a construção de valores 
concernentes a sexualidade e a totalidade do ser. 
3.2 Alterações físicas, emocionais e comportamentaisAs mudanças físicas que ocorrem na adolescência são algo que, por vezes, 
podem assustar os adolescentes. O crescimento súbito da altura ou do peso, o 
aparecimento de pelos em zonas como as axilas, cara, genitais e o desenvolvimento 
 
28 
 
do aparelho reprodutor são um conjunto de características que podem ser geradores 
de ansiedade, não só por ser algo novo para o adolescente como também, o ritmo 
com que ele se dá (Lamas & Frade, 1995 apud Rodrigues A; 2010). 
Fonseca (2002 apud Rodrigues A; 2010) defende que a adolescência se 
desenrola em duas fases: a primeira dá-se entre os 12/13 anos e caracteriza-se por 
comportamentos de auto erotização, auto experimentação e há uma projeção de uma 
fantasia erótica por alguém próximo e, normalmente, inacessível (e.g. professor); a 
segunda fase caracteriza-se pela forte percepção das diferenças entre os corpos e, 
consequentemente, uma visão muito crítica do seu próprio corpo. 
Na maior parte dos adolescentes existe uma grande preocupação com o seu 
aspecto físico, tendo como principal objetivo estar na moda, sentir-se atraente, mas 
muitas vezes a imagem que transparecem para os outros é de alguma extravagância, 
tendo como objetivo sentirem-se integrados no seu grupo de amigos (Lamas & Frade, 
1995 apud Rodrigues A; 2010). 
Para Lamas e Frade (1995 apud Rodrigues A; 2010) as alterações emocionais 
que ocorrem na adolescência estão ligadas às mudanças hormonais e ao 
desenvolvimento psíquico, i.e., há um despertar das sensações sexuais, ligado à 
descoberta de reações do próprio corpo, que têm um papel fundamental no 
desenvolvimento da personalidade. 
 Há um crescimento da ansiedade devido ao sentimento ambivalente de prazer 
e medo em relação à idade adulta e, nalguns adolescentes pode haver a negação 
deste crescimento e, consequentemente, uma retração. 
Os comportamentos caracterizam-se por compulsivos, por estarem 
relacionados com conflitos internos, com os pais ou com outros adultos, que farão 
com que o adolescente reaja com surtos de mau humor ou atitudes agressivas (Lamas 
& Frade, 1995 apud Rodrigues A; 2010). 
Para Zimmer-Gembeck e Collins (2003 apud Rodrigues A; 2010), a 
adolescência engloba tarefas psicológicas específicas como: a mentalização do Corpo 
sexual, onde o adolescente tenta conquistar um corpo desejado e sem ambiguidade, 
aceitando o próprio corpo e usá-lo de modo eficaz, sendo também necessário adquirir 
um papel social feminino ou masculino; a separação do nicho afetivo primário ou a 
separação da infância, havendo necessidade de instaurar relações com os pares e 
com ambos os sexos; a formação de novos ideais e valores de referência, onde se dá 
 
29 
 
a conquista de uma forma humana desejada aderindo a valores sociais e 
comportamentos socialmente responsáveis e, por último, a consolidação de um papel 
social adulto, i.e., o adolescente envolve-se em tarefas e empenha-se em escolhas 
pessoais que visam a adopção autónoma de um papel social adulto, atingindo a 
segurança e a independência econômica. 
É nesta fase da vida do ser humano, que se caracteriza por todas estas 
transformações que têm sido mencionadas, que surge o início da atividade sexual, 
cuja precocidade poderá acarretar sérios problemas (Leite et al., 1996 apud Rodrigues 
A; 2010). 
3.3 A curiosidade sexual 
É na relação mãe-bebê que surge a primeira relação amorosa, sendo 
considerado o primórdio da construção da sexualidade. É na infância que se constrói 
essa memória afetivo relacional que, posteriormente, irá integrar noutras funções. 
Assim, é necessário perceber o desenvolvimento psicológico na infância para 
podermos perceber o que se passa na adolescência (Fonseca, 2002 apud Rodrigues 
A; 2010). 
Contudo, para Lamas e Frade (1995 apud Rodrigues A; 2010) é desde da 
infância que as crianças dirigem a sua afetividade a amigos da mesma idade ou a 
adultos, que são considerados bastante importantes (e.g., professor), mas é na 
adolescência que surge uma forte necessidade de estabelecer com outra pessoa uma 
relação afetiva especial. 
Surge, então, o namoro na adolescência que é vivido de forma calorosa e 
intensa, apesar de, na maioria dos casos, ser de curta duração (Bastos, 2003 apud 
Rodrigues A; 2010). A vivência intensa do presente é uma das características destas 
idades e apesar destas relações afetivas durarem apenas meses, semanas ou dias 
caracterizam-se pelo desencadeamento de grandes paixões e pela sensação de uma 
forte atração pelo sexo oposto, onde o adolescente assume um aspecto provocador, 
chamativo, no entanto estas manifestações estão muitas vezes ligadas a uma certa 
timidez de realização (Leite et al., 1996 apud Rodrigues A; 2010). 
 
 
30 
 
Assim, estes namoros que surgem na adolescência têm um papel importante 
no desenvolvimento afetivo do adolescente, reforçando a sua identidade sexual, a 
autoconfiança e o autoconceito, devido ao facto de se sentirem amados (Bastos, 2003 
apud Rodrigues A; 2010). 
No entanto, quando se fala dos namoros na adolescência é importante ter em 
conta que esta é uma fase de experimentação sexual, quer com pessoas do sexo 
oposto, quer com pessoas do mesmo sexo ou de ambos os sexos. Por isso, achou-
se importante apresentar seguidamente um subtema sobre as práticas sexuais na 
adolescência. 
A partir da adolescência é esperado que os indivíduos se confrontem com um 
processo de aquisição de uma autonomia e independência emocional dos 
pais e simultaneamente, estabeleçam relações interpessoais e de intimidade 
mais amadurecidas com os pares (Caissy, 1994; Zimmer-Gembeck, 2002 
apud Dias S; et al., Matos M; Gonçalves A; 2007). 
3.4 Práticas sexuais na adolescência 
É corrente, que na adolescência, estas relações afetivas que se estabelecem 
possam ser com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, tendo como objetivo o 
conhecimento das reações do seu corpo face a um corpo igual ou a um corpo diferente 
do seu (Lamas & Frade, 1995 apud Rodrigues A; 2010). 
A segunda fase da adolescência, definida por Fonseca (2002 apud Rodrigues 
A; 2010) já referido, a autora também a caracteriza pelas diferentes experimentações 
hétero, homo e bissexuais, pois são diferentes maneiras de expressar a sexualidade. 
Esta experimentação é importante, na medida em que ajuda o adolescente a definir 
e/ou escolher a sua orientação sexual. 
Por orientação sexual entende-se, o tipo de objetos pelos quais o indivíduo se 
sente sexualmente atraído e em relação aos quais orientará o seu desejo sexual. De 
um modo geral, as pessoas heterossexuais sentem-se sexualmente atraídas por 
pessoas do sexo oposto, as homossexuais dirigem o seu interesse sexual para 
pessoas do mesmo sexo e, as bissexuais interessam-se sexualmente por pessoas de 
ambos os sexos (Lopez & Fuertes, 1999 apud Rodrigues A; 2010). 
 
 
 
31 
 
Verificou-se, num estudo desenvolvido por Tique (2008 apud Rodrigues A; 
2010), que a maior parte dos adolescentes inquiridos manifestam preferências por 
relações heterossexuais (95,4%), 2,5% por relações por ambos os sexos e 1,3% 
orientação homossexual. 
É também, nesta altura que surge a curiosidade pela experimentação sexual, 
que se caracteriza por uma série de comportamentos, que por sua vez, são 
acompanhados de grandes expectativas e por uma sensação de desafio, comuns a 
todas as coisas que não foram ainda vivenciadas e muito desejadas. É por estas 
razões, que se cria a dificuldade de utilização de formas de contracepção seguras e 
no conjunto total destes acontecimentos, vão-se consolidando os sentimentos, as 
atitudes e os valores pessoais faces à sexualidade, influenciando os seus 
comportamentos sexuais e as formas de relacionamento (Bastos, 2003 apud 
Rodrigues A; 2010). 
O amadurecimento da sexualidade e o desenvolvimento de uma autoimagem 
positiva, são essenciais para a formação da identidade (FONSECA, 2005). A 
adolescência é uma fase importante no processo de consolidação da 
identidadepessoal, da identidade psicossocial e da identidade sexual. A 
identidade constrói-se nas experiências vividas através de um subtil jogo de 
identificações. Se na infância os nossos modelos de identificação são os pais, 
na adolescência vão ser os jovens da mesma idade. As relações com os pais 
têm que mudar para que os adolescentes possam ascender a ideias e afetos 
próprios e o adolescente encontra no grupo de pares, as certezas para as 
suas incertezas. No entanto, esse comportamento pode apresentar alguns 
riscos, sobretudo quando a relação com os pares é de grande dependência 
e mais ainda porque também eles vivem as mesmas dúvidas e incertezas 
(FONSECA, 2005 apud Oliveira V; 2011). 
3.5 Consequências do comportamento sexual dos adolescentes 
A adolescência não é apenas uma simples fase de transição como por vezes 
se afirma, mas antes um mecanismo dinâmico em que funções e comportamento se 
tornam mais complexos. É um período com dificuldades e conflitos relacionados com 
as grandes transformações que se operam nesta fase do ciclo vital. O comportamento 
de rebeldia que caracteriza neste período os adolescentes, é parte integrante do 
processo dinâmico e individual de conquista de identidade em que, assolados pelas 
mudanças, tateiam em direção à maturidade. Cometem inimagináveis travessuras e, 
com grande entusiasmo, abraçam altos ideais. 
Na adolescência as implicações de maior vulto quanto à saúde decorrem das 
amplas transformações biopsicossociais vivenciadas e do "timing" em que estas 
 
32 
 
ocorrem. Os mesmos acontecimentos têm impactos diferentes conforme a idade. 
Como é do conhecimento geral a saúde não é uma preocupação prioritária nesta fase 
do desenvolvimento, embora se saiba que a responsabilidade por um comportamento 
favorável à saúde cabe, em grande parte, aos próprios jovens. 
Os jovens adaptam padrões de risco cada vez mais precocemente e, na 
escolha de estilos de vida, o fracasso de negociação dos obstáculos 
desenvolvimentais, pode trazer consequências sérias para a saúde: alcoolismo, ou 
outras drogas e infecções sexualmente transmissíveis, etc. 
O comportamento sexual é uma área de potencial risco para os adolescentes, 
o que deriva essencialmente duma atividade sexual precoce, muitas vezes não 
desejada, ou sem efetiva ponderação dos riscos possíveis (como por exemplo, 
contrair infecções sexualmente transmissíveis ou uma gravidez não desejada). 
Todos sabemos que, a sexualidade tem percalços (uns evitáveis e outros 
inevitáveis). Os inevitáveis resultam da complexidade dos afetos com ela 
relacionados, das expectativas e das frustrações, da forma como a vivenciamos desde 
crianças. A gravidez não desejada é, ainda hoje, um problema evitável, que atinge um 
significativo número de jovens em todo o mundo. 
Segundo Meneses (1990 apud Souza M; 2000) as adolescentes, confrontadas 
com uma gravidez não desejada, têm quatro alternativas: o casamento, o aborto, 
serem mães solteiras ou entregarem o filho para adoção. 
Breken, citado pelo autor acima referido, define quatro fases neste processo de 
tomada de decisão: a tomada de consciência da gravidez com sentimentos de 
felicidade, tristeza ou ambivalentes; a formulação de soluções possíveis; estudo das 
vantagens de cada alternativa e a decisão definitiva acompanhada de reações 
emocionais. O período que medeia entre a certeza da gravidez e a tomada de decisão 
caracteriza-se grandemente por sentimentos contraditórios e alternados de 
ansiedade, depressão e euforia. Fatores psicossociais (atitude face ao aborto, opinião 
dos outros), religiosos e económicos entre outros, vão interferir nesta decisão. 
Sabendo que, os riscos orgânicos e os riscos psicológicos e sociais são mais 
elevados nas gravidezes não desejadas do que nas gravidezes desejadas e 
planeadas, consideramos, tal como Cordeiro (1998 apud Souza M; 2000), que estas 
deverão ser objeto de prevenção. 
 
33 
 
As (IST’S) Infecções Sexualmente Transmissíveis são outro problema evitável, 
gerador de angústia nos jovens. A OMS afirma que, para além da violência, do uso de 
drogas e de acidentes, a propagação do Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) e 
outras infecções sexualmente transmissíveis são a maior ameaça à vida dos jovens 
nos próximos anos. 
A mesma organização alerta que, existe enorme ignorância entre os jovens 
sobre o sexo e os riscos a ele associados. Não nos referimos apenas ao Síndrome de 
Imunodeficiência Adquirida (SIDA), mas a outras infecções que, não sendo mortais ou 
incuráveis, podem ser potencialmente graves. 
Os desconhecimentos de aspectos fundamentais da sexualidade, da 
contracepção e da procriação bem como a existência de crenças inadequadas, 
continuam a ser características da maioria dos adolescentes. A falta de informação, 
sobre medidas preventivas e locais de apoio à sexualidade por parte dos jovens, 
dificulta uma prevenção eficaz. 
No entanto, e de acordo com Pompidou citado por Gir et ai (1998 apud Souza 
M; 2000), estar informado não significa necessariamente conhecer o problema, nem, 
tão pouco, que tenha provocado mudanças de comportamento. Segundo os autores 
supracitados (1998:294 apud Souza M; 2000), quando os jovens se iniciam 
sexualmente, subestimam a SIDA probabilidade em infectar-se, acreditando que esse 
perigo está distante de si e que isso não vai acontecer consigo. 
As questões referentes ao comportamento sexual são complexas porque 
muitas vezes o indivíduo compreende a situação, porém, não consegue introjetar ou 
colocar em prática o que a ciência comprova, com vista à promoção da saúde. 
Baseando-nos no conceito de saúde sexual definido pela OMS, como a 
capacidade para gozar e controlar o comportamento sexual e reprodutor de acordo 
com a ética pessoal e social, cada jovem deve: manusear os riscos do seu percurso 
com prejuízo mínimo para a saúde; estar livre de doenças que interfiram com as 
funções sexuais e reprodutoras; estar livre de medos e culpas, falsas crenças que 
inibam a resposta sexual. 
Este conceito implica uma abordagem positiva da sexualidade humana, 
preparando os jovens para as responsabilidades familiares e para uma vida estável 
no futuro. Em suma, a uma sociedade custa menos oferecer aos jovens uma 
 
34 
 
informação/ formação adequada em planeamento familiar (incluindo a sexualidade) 
que tentar resolver as consequências que resultam da sua ausência. 
3.6 A contracepção na adolescência 
A contracepção é utilizada no planeamento familiar, através de um conjunto de 
processos que procuram evitar que a mulher fique grávida quando tem relações 
sexuais " (Miguel, 1994:62 apud Souza M; 2000). A mulher tem o direito ao exercício 
da sua sexualidade, sem que isto implique ficar escrava da reprodução. A 
contracepção é utilizada como medida preventiva, ou pelo menos deveria ser, sempre 
que se verifiquem relações sexuais e não se deseja uma gravidez. 
A revolução contraceptiva introduziu a possibilidade de modificações profundas 
no comportamento sexual. A descoberta de métodos eficazes e econômicos de 
controle dos nascimentos veio permitir ao homem e à mulher um papel ativo e 
consciente na tomada de decisão sobre ter ou não ter filhos. 
Diversos estudos confirmam que uma larga proporção de adolescentes não 
casados são sexualmente ativos, ainda que muitos destes não tenham relações 
sexuais frequentes. Segundo Cordeiro (1998 apud Souza M; 2000), a maioria continua 
a não utilizar métodos contraceptivos nas primeiras relações e em muitas das relações 
ocasionais. 
Associado ao despontar do instinto sexual, que vai provocar no adolescente 
modificações profundas no conjunto de uma vida afetiva e da sua personalidade, 
muitos jovens decidem tornar-se sexualmente ativos. (Whaley e Wong ,1999 apud 
Souza M; 2000) Porém, de acordo com Vilar (1992 apud Souza M; 2000), esta decisão 
na maioria das vezes não é acompanhada de medidas contraceptivas adequadas. 
Para este autor, as razõesque levam os jovens à não utilização dos métodos 
contraceptivos são: relações sexuais esporádicas, falta de informação sobre métodos 
contraceptivos, e a própria sexualidade; acrescenta-se ainda, que muitos jovens 
possuem crenças erradas sobre a sexualidade. 
Na opinião de Miguel (1994 apud Souza M; 2000), é importante que os 
adolescentes que têm relações sexuais estejam informados de que uma gravidez 
pode acontecer quando houver apenas uma relação sexual ou nas relações sexuais 
incompletas, (sem penetração) e nas relações sexuais com coito interrompido. 
 
35 
 
Devem, ainda, estar alertados para as consequências de ser mãe adolescente ou 
fazer um aborto. 
Embora existam opiniões divergentes, Cordeiro (1998 apud Souza M; 2000) 
afirma que, uma maior informação dos adolescentes, em idades mais precoces, em 
relação à sexualidade, não se traduz por um maior número de relações em idades 
mais jovens; pelo contrário, verifica-se um adiamento das primeiras relações e uma 
maior proteção aquando dessas mesmas relações. Está provado que gostar de si 
próprio e do seu corpo leva o adolescente a tomar mais cuidado com o que 
eventualmente possa vir a acontecer (1998:83 apud Souza M; 2000). 
A utilização de contracepção pelos jovens, aumenta à medida que estes vão 
estabilizando e regularizando os seus contatos sexuais. Contudo, mesmo em relações 
regulares o uso de contracepção não é a norma e, quando acontece, pode ainda não 
ser regular e sistemático. 
Os adolescentes, casados ou não casados, enfrentam diversos problemas 
relativos à sua saúde sexual e reprodutiva, incluindo as consequências de uma 
gravidez não desejada que pode levar entre outras possibilidades, a um aborto 
inseguro. A gravidez precoce, em idades abaixo dos 16 anos, está associada a um 
elevado risco de mortalidade e morbilidade para a mãe e para o filho. 
Além disso, a gravidez reduz as oportunidades de educação e emprego e afeta 
o desenvolvimento sócio- cultural dos jovens. 
Além de todos estes problemas, as relações sexuais desprotegidas, como já 
vimos anteriormente, também expõem os adolescentes a um elevado risco de contrair 
infecções sexualmente transmissíveis. 
O (SIDA) Síndrome de Imunodeficiência Adquirida confronta-nos de imediato 
com esta realidade: o amor, o prazer, o gosto pelo perigo. Segundo Andrade 
(1997:335 apud Souza M; 2000), os adolescentes pressentem confusamente, que a 
erupção da epidemia veio alterar os comportamentos e também a sua própria 
concepção de vida. O despertar da sexualidade, se os adolescentes não estiverem 
devidamente informados, poderá constituir uma ameaça para o seu equilíbrio 
emocional. 
 
 
 
36 
 
Sabemos que os jovens, por natureza são atraídos pela aventura e pelo risco. 
Inconscientemente, não aceitam o triunfo de uma moral à custa de recalcamentos das 
suas tendências e inclinações. Em contrapartida, em certas situações, a escolha e a 
decisão são muito complexas porque o desejo e a busca do prazer são mais fortes e 
imediatos, e o risco associado parece estar mais distante, ser menos plausível. 
Talvez isto explique a dificuldade que muitos jovens manifestam em utilizar os 
métodos contraceptivos e entre os quais o preservativo para se protegerem de um 
vírus tão mortal, que não veem nem sentem. 
Apesar da disponibilidade e facilidade de acesso, que os jovens têm ao 
planeamento familiar, Meneses (1990 apud Souza M; 2000) refere que, os 
adolescentes sexualmente ativos tendem a não utilizar, ou a utilizar de forma ineficaz 
os métodos contraceptivos, expondo-se a todo o tipo de riscos de uma sexualidade 
desprotegida. (...) as questões de contracepção não preocupam muito os 
adolescentes (Clães, 1990:90 apud Souza M; 2000). 
Justifica-se assim, a necessidade de uma intervenção preventiva dirigida aos 
jovens. É importante que os médicos e enfermeiros entre outros, tomem consciência 
do seu papel junto dos jovens e desenvolvam ações de educação para a saúde onde 
estes, os respectivos pais e professores possam participar de forma ativa e contribuir 
para que os jovens possam viver a sua sexualidade de forma saudável sem tabus e 
medos. Existem vários métodos contraceptivos adequados para adolescentes. No 
entanto, estes deverão ter em conta fatores pessoais, culturais e ambientais, a idade 
do adolescente, hábitos sexuais, tais como: a frequência das relações sexuais e o 
número de parceiros e os riscos possíveis. 
A educação sexual é essencial já que alerta os jovens para as consequências 
do sexo desprotegido, ajuda-os a explorar os valores e a sentirem-se bem com a sua 
sexualidade. Através de uma educação sexual adequada, os adolescentes podem 
desenvolver conhecimentos e a confiança, que lhes permita tomarem decisões 
relativamente ao seu comportamento sexual, inclusivamente a decisão de não terem 
relações sexuais até se sentirem preparados. 
O acesso à contracepção é, na opinião de Vilar (1992 apud Souza M; 2000), 
um direito que os jovens têm, permitindo-lhes viverem a sua sexualidade com 
segurança. A taxa de natalidade tem decrescido significativamente, no entanto é 
conveniente, que a sua subida não se faça à custa de mães adolescentes. A 
 
37 
 
responsabilidade de evitar este problema é de todos nós: pais, professores e 
profissionais de saúde. 
Ferreira (1996:25 apud Souza M; 2000) sustenta que, muitos rapazes 
sexualmente ativos não se importam com o que possa acontecer em resultado de sua 
atividade sexual. A eles, cabe a iniciativa, a elas a responsabilidade pelo que possa 
acontecer. Para que este tipo de atitude não prevaleça entre os jovens, é necessário 
que os próprios pais se libertem de alguns preconceitos e crenças relativas à atividade 
sexual nos seus filhos (rapazes e meninas) e sobretudo, procurem estabelecer diálogo 
com eles, que em nosso entender, é fundamental. 
Os pais com o apoio das instituições sociais, nomeadamente as escolas e os 
cuidados de saúde primários, devem favorecer a tomada de consciência dos jovens 
para uma responsabilização de comportamentos sexuais. 
Os rapazes devem partilhar a responsabilidade da contracepção com as suas 
parceiras, devem ser encorajados a utilizar preservativo, mesmo que a sua parceira 
esteja já a utilizar outro método de contracepção, para evitar o contágio de algumas 
infecções. Os preservativos, quando utilizados de forma correta e adequada, 
constituem um dos mais importantes métodos de contracepção para este grupo etário. 
A maior vantagem dos preservativos é proporcionarem segurança. Além de proteger 
contra uma gravidez indesejada, protege contra as DST, incluindo, como já foi dito o 
(VIH) Vírus de Imunodeficiência Humana. 
 É um método disponível sem necessidade de prescrição médica que é 
fornecido gratuitamente pelo sistema de distribuição ao nível da comunidade, nos 
centros de saúde e em outras instituições de apoio a jovens. 
A eficácia deste método requer motivação e informação adequada sobre a sua 
correta utilização. Quando são utilizados apenas para proteção contra as IST’S, os 
adolescentes devem ser advertidos para a utilização de outro método adicional em 
relação à gravidez não desejada. 
Também a contracepção hormonal pós coitai deve, em nosso entender, ter 
lugar primordial nos serviços de planeamento familiar para adolescentes (mas apenas 
como segundo recurso), já que estes têm muitas vezes relações sexuais não 
planeadas e desprotegidas, e podem ter dificuldade em renovar o suprimento de 
contraceptivos. Este método pode ainda ser utilizado como auxílio no caso de ruptura 
do preservativo. 
 
38 
 
Face ao exposto, consideramos ser importante advertir e sensibilizar o 
adolescente a frequentar as consultas de planeamento familiar para aconselhamento 
ou orientação sobre a utilização de métodos de contracepção ou outro tipo de 
informação que necessite, bem como para acompanhamento e vigilância. 
Nas consultas de planeamento familiar é necessário

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