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Livro - INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

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Prévia do material em texto

Introdução ao
Serviço Social
Introdução ao
Serviço Social
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora)
Mara Lúcia Machado
José Édil de Lima Alves
Astomiro Romais
Andrea Eick
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil.
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida
por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da
Editora da ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-153-7
Dados técnicos do livro
Fontes: Tahoma, Book Antiqua
Papel: offset 90g (miolo) e supremo 240g (capa)
Medidas: 15x22cm
Impressão: Gráfica da ULBRA
Fevereiro/2010
L864i Lopes, Maria Suzete Muller
Introdução ao serviço social. / Maria Suzete Muller Lopes. – Canoas: Ed.
ULBRA, 2010.
152 p.
Obra cedida à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Pró-Reitoria de
Ensino a Distância da Universidade Luterana do Brasil.
1. Serviço social - formação profissional. 2. Serviço social - prática profissi-
onal. I. Título.
 CDU 364.442
Sumário
Apresentação ........................................................... 7
 1 Os Elementos Constitutivos da Identidade
do Serviço Social ................................................... 13
 2 A Prática Profissional ........................................... 31
 3 Identidade Profissional ........................................ 53
 4 O Serviço Social na Contemporaneidade .......... 73
 5 Formação Profissional .......................................... 91
 6 Perspectivas e Estratégias para a
Intervenção Profissional ..................................... 117
 7 O Serviço Social - Dimensão Política
na Sociedade Brasileira na Atualidade ............ 133
Apresentação
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Prezado (a) aluno (a), minhas saudações!
Parafraseando a professora Maria Lucia Martinelli,
expoente no Serviço Social brasileiro, quero me apresen-
tar: muito prazer, sou assistente social!
Esta é a disciplina de Introdução ao Serviço Social, a
primeira disciplina específica da matriz curricular do
Curso de Serviço Social a distância, da ULBRA. Quero
convidá-lo(a) a fazer uma caminhada por saberes ainda
certamente não explorados por você. Contudo não tema,
esta será uma caminhada prazerosa em que a cada pas-
so você estará mais próximo do ponto de chegada: a
colação do grau de assistente social.
A proposição desta disciplina é estar sensível aos me-
dos, aos anseios, concepções e expectativas que você, aca-
dêmico de Serviço Social, traz ao ingressar no curso. Para
tanto, pretendemos partir e reconhecer sempre a sua rea-
lidade social. Esta disciplina quer ser um espaço tanto para
a desconstrução daquilo que não condiz com a concep-
ção de identidade e prática profissional atual, quanto para
a descoberta e compreensão de elementos, de indicado-
res, de características e de habilidades, de processos e de
técnicas que compõem e qualificam a identidade e a prá-
tica profissional do Serviço Social no Brasil, na atualida-
de.
A reflexão permanente, a análise e crítica sobre o con-
texto econômico, político, cultural e social são pontos fun-
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damentais para a constituição do ser profissional e, por-
tanto, do agir profissional. Exige-se do assistente social
uma formação continuada que lhe possibilite desenvol-
ver e aprimorar o espírito investigativo, o ser propositivo
e criativo no cotidiano profissional, pois a sociedade e
os usuários de seus serviços lhe apresentam diferentes
demandas a cada dia.
Para tanto, a disciplina está concebida como um pro-
cesso de permanente investigação, descoberta e compre-
ensão a respeito dos elementos constitutivos da identi-
dade do Serviço Social e da prática profissional na atua-
lidade, contemplando diferentes fontes de informação
(livros, filmes, espaços profissionais, profissionais do
Serviço Social e de outras profissões etc.) que permitirão
a você, acadêmico(a), perceber, vivenciar, protagonizar
e operacionalizar tais elementos.
O livro-texto da disciplina está organizado em sete
capítulos, subdivididos em unidades para que sua lei-
tura e compreensão se dêem de forma a agregar conhe-
cimentos e favorecer a realização das atividades pro-
postas ao final de cada capítulo. Mas, lembre-se: você é
o protagonista deste processo de ensino. A relação entre
professor e acadêmico, que ora se estabelece, deve ser
uma relação de parceria.
O conteúdo desenvolvido neste livro quer levá-lo a
fazer as primeiras aproximações com a profissão de as-
sistente social. Desta forma, será muito importante que
você participe de fato desta formação, fazendo suas ano-
tações, as leituras recomendadas, os exercícios e as ava-
liações indicadas a cada capítulo . Tire suas dúvidas sem-
pre que elas surgirem, com seu professor tutor, pois ele
é a sua referência nesta modalidade de ensino.
Para maior dinamicidade neste processo, você terá
três personagens que lhe ajudarão a percorrer este cami-
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nho com maior atenção, segurança, tranqüilidade e pra-
zer. Dentre eles, a Parole estudiosa lhe indicará o mo-
mento de você desenvolver algumas atividades teórico-
práticas.
Seja bem-vindo ao Curso de Serviço Social à distân-
cia da ULBRA. Desejo-lhe muito sucesso nesta caminha-
da que ora se inicia.
Prof.ª Maria Suzete Muller Lopes
Os Elementos
Constitutivos da
Identidade do Serviço
Social
1
Maria Suzete Müller Lopes é Mestre em
Serviço Social, docente do Curso de Serviço
Social da ULBRA/ Canoas-RS, coordenadora
dos estágios supervisionados do Curso de
Serviço Social da ULBRA/ Canoas-RS,
assistente social na Secretaria de Justiça e
Desenvolvimento do Estado do RS.
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Maria Suzete Müller Lopes
O aluno, ao ingressar na vida acadêmica, vem cheio
de dúvidas: é este o curso que quero? o que faz o assisten-
te social? onde e com quem vai trabalhar? por que optei
pelo Serviço Social? as idéias que tenho a respeito da pro-
fissão são corretas? que saberes o assistente social deve
ter?
A metodologia desta disciplina reconhece estas dú-
vidas e as utiliza como ponto de partida de um processo
que pretende propiciar uma aproximação crítico-refle-
xiva sobre a profissão na atualidade, através de uma
questão central e norteadora: “Como vem se constituin-
do a prática profissional do assistente social no Brasil na
atualidade?”. Esta questão estará presente ao longo da
disciplina e, ao final, o aluno deverá estar qualificado
para respondê-la.
É necessário refletir sobre as diferentes concepções do
que seja Serviço Social, advindas do contexto sócio-histó-
rico em que se insere como profissão, apropriando-se de
métodos de pesquisa como um instrumento para a cons-
trução de uma nova concepção do ser assistente social.
1.1 Para a construção de um
novo caminho
Uma pesquisa é um processo de construção do co-
nhecimento que tem como metas principais gerar novos
conhecimentos e/ou corroborar(confirmar) ou
refutar(desaprovar) algum conhecimento pré-existente.
É basicamente um processo de aprendizagem tanto do
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indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta
se desenvolve. A pesquisa, como atividade regular, tam-
bém pode ser definida como o conjunto de atividades
orientadas e planejadas pela busca de um conhecimento
(Kern, 2007).
Para o conhecimento científico, é necessário se fazer
a passagem de ruptura com o senso comum/ popular,
uma vez que este não tem argumentação teórica, méto-
do ou metodologia. É o que se chama também de conhe-
cimento vulgar.
O conhecimento científico é transmitido por treina-
mento apropriado e obtido de modo racional, conduzi-
do por meio de procedimentos científicos. Busca expli-
car o “por quê” e “como“ os fenômenos ocorrem para
evidenciar fatos correlacionados em uma visão mais
globalizante do que a relacionada com um simples fato.
Tal passagem do senso comum para o conhecimento
cientifico1 caracteriza-se pela adoção de alguns elemen-
tos, tais como: definição de um referencial teórico que
permita uma visão de conjunto, pois este dá sustentação
ao profissional para desenvolver a sua prática, possibi-
litando a apreensão do todo que envolve a situação que
lhe é apresentada, sem fragmentá-la. É necessária
também, a definição de um caminho para chegar a um
determinado fim ou resultado, o que se denomina de
método e é maior que a metodologia. O método se dá
pela razão, pelo entendimento, pela problematização e
exige domínio de uma ou mais teorias.
Na seqüência, tem-se a metodologia que compreen-
de o como fazer, ou ainda, como operacionalizar o estu-
do ou a investigação, sendo fundamentado em um
referencial teórico do método. É, na metodologia, que se
1 Material didático produzido pelo prof. Dr. Francisco Arseli Kern. Por-
to Alegre/ PUCRS/ 2007 (não publicado).
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definem os instrumentos, técnicas e as estratégias, que
são recursos, meios para se alcançar ou obter um resul-
tado, um produto desejado, definido. É, a partir desta
operacionalização metodológica, que pode ser
potencializado o trabalho profissional nas diferentes áre-
as do conhecimento.
 Já se viu que a pesquisa é um instrumento essencial
no exercício de todas as profissões. É, hoje, uma exigên-
cia nos diferentes espaços profissionais e, portanto, tam-
bém para o assistente social. Para que se compreenda
teoricamente o que é pesquisa e como ela pode auxiliar
a prática do assistente social na atualidade, é fundamen-
tal entender que ela tem contribuído para o avanço da
ciência. Portanto, não há pesquisa se não houver o
acionamento do espírito investigativo por parte do pes-
quisador/ profissional.
A investigação se constitui de um estudo sistemáti-
co, metódico, que se organiza com a intenção e finalida-
de de buscar conhecimentos e respostas, em relação a
um determinado objeto, foco da investigação, com a fi-
nalidade de agregá-lo de maneira comunicável e com-
parável a um corpo de conhecimentos que se dispõe em
uma determinada área de reflexão. O conhecimento a
ser construído pela investigação vislumbra não somen-
te a compreensão e explicação do real, mas a
instrumentalização das ações profissionais. O pesquisa-
dor, em uma mesma pesquisa, poderá ter diferentes
motivos para investigar, mas sempre terá um motivo
central que irá impulsioná-la.
O objetivo existencial desse saber, para o Serviço So-
cial, é democratizar, ampliar e aprofundar a sabedoria
prática, com a intenção de aumentar as possibilidades
de melhores decisões e intervenções na realidade social.
Portanto, o conhecimento passa a ser para o profissional
um instrumento de trabalho que incide sobre o objeto
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de intervenção. Esse conhecimento terá a abrangência e
o limite da teoria social que o norteia.
É a motivação da prática que faz com que o profissi-
onal elabore e construa novos conhecimentos. No coti-
diano, a estrutura objetivada2 da sociedade e as ques-
tões imediatas impõem um comportamento de manipu-
lação/ exploração, investigação do que emerge, do que
é aparente.
Nesse sentido, a construção do saber, tendo como ho-
rizonte um produto, pretende realizar o tríplice movi-
mento dialético: de crítica ao objeto de estudo, de cons-
trução de um novo conhecimento e de nova síntese no
plano do conhecimento e da ação, em um movimento
que vai do particular para o universal e retorna ao parti-
cular em um outro patamar, traçando um movimento
de espiral de relação/ ação/ conhecimento. Assim, a
dialética pressupõe: Tese (proposição a ser defendida);
Antítese (critica) e a síntese (novo com elementos do
velho).
Na relação com a teoria, os conhecimentos de que o
pesquisador se utiliza, dizem respeito ao “problema” que
aborda, ao fenômeno ao qual esse “problema” está afe-
to, à conjuntura e estrutura social, aos conhecimentos
acumulados frente àquela temática. Portanto, diante dos
problemas específicos, o profissional não tem apenas que
analisar o que acontece, mas tem que formular uma crí-
tica e tomar uma decisão por um determinado tipo de
construção de alternativas como produto da investiga-
ção. O modo como o pesquisador faz isso, é o que irá
determinar a relação que ele estabelece com a teoria.
Na operacionalização da pesquisa, a questão central
(problema de pesquisa) dá origem à direção do estudo.
Segundo Triviños (1992, p. 97) “põe em relevo as per-
2 Transformada em realidade.
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cepções dos sujeitos e, sobretudo, salienta o significado
que os fenômenos têm para as pessoas”. No processo de
investigação, é necessário aprofundar o conhecimento
sobre aquele sujeito com o qual estamos dialogando. Por-
tanto, a qualidade das informações coletadas pelo pes-
quisador é fundamental.
Entende-se que um dos aspectos fundamentais da
pesquisa é o reconhecimento de seu caráter político, pois
como uma construção coletiva que parte da realidade
dos sujeitos, mediando processos de reflexão e
desvelamento, a eles deve retornar de forma crítica e cri-
ativa (Martinelli, 1994).
A investigação, no processo de trabalho profissional,
indica a percepção de singularidades, modos e experi-
ências de vida, pressupõe aproximação do fenômeno de
maneira diversa daquelas já consagradas no meio cien-
tífico, tais como: trabalhar com hipóteses, instrumentos
fechados, dados estatísticos. Portanto, supõe romper com
os padrões tradicionais de pesquisa, criando e constru-
indo novas alternativas metodológicas.
1.2 O método de ensino-
aprendizagem: a pesquisa como
meio para re-descobrir o
significado da prática do Serviço
Social
Sabe-se que o acadêmico traz diferentes pré-concep-
ções3 sobre a profissão de assistente social e como se dá
a sua intervenção profissional. É comum pensar e ex-
3 Concepções antecipadas
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pressar que ser assistente social é uma vocação, um dom,
uma missão; é ser voluntária (o); trabalhar com as pes-
soas pobres e ser uma pessoa muito “boazinha ou
fazedora do bem”.
Então como ratificar ou
refutar tais concepções?
Para tanto, acadêmico,
propõe-se a acionar algu-
mas estratégias e desenvol-
ver o seu espírito investi-
gativo (a sua vontade de
descobrir, de buscar, de investigar sobre algo) a partir
de algumas fontes e indicadores que lhe possibilitarão
realmentecompreender que profissão é esta e o que faz
o assistente social.
A formação do assistente social, na atualidade, exige
a apreensão de saberes que possibilitem a elaboração de
instrumentos e técnicas que qualificam e implementam
o exercício profissional. Nesse sentido, a pesquisa se apre-
senta como um importante instrumento para o processo
metodológico de investigação, não só para o meio aca-
dêmico quanto para a prática profissional. O ato de
pesquisar4 deve estar permanentemente atravessando a
formação dos estudantes
viabilizando, desta forma, sua
presença no agir cotidiano dos
profissionais.
Para melhor se compreender,
denomina-se pesquisa o processo
desencadeado pela existência de
um determinado problema, que é
4 Material sobre pesquisa elaborado pela prof.ª Dra. Mônica Bragaglia
para utilização na disciplina de Introdução ao Serviço Social e inseri-
do na elaboração do conteúdo publicado no Caderno Universitário nº
80 de Scheunemann, Arno V. et all., Ed. ULBRA, 2003, p. 07.
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o elemento desencadeador do processo de pesquisa e
que se esboça em torno do vivido e do pensado (tempo/
espaço) e que permite a busca de caminhos e alternati-
vas para o enfrentamento da questão colocada.
É próprio do ser humano buscar soluções e caminhos
para superar ou encontrar respostas para seus proble-
mas, mesmo aqueles mais complexos. O cotidiano das
pessoas lhes apresenta as mais diferentes situações e
questionamentos quanto a atitudes, vestuário, alimen-
tação, aquisições de bens, entre outros, que exigem a to-
mada de decisão ou fazer escolhas. Por exemplo:
Desmarcar
Justificar o meu atraso
Simplesmente não compare-
cer, o que não deixa de ser uma
solução.
Se estou atrasado
para um compro-
misso tento pensar
em
Nossa vida cotidiana é mergulhada em problemas a
serem resolvidos – o que vestir? fará calor ou frio duran-
te o dia? devo ir à festa? isto é o melhor para mim? en-
tretanto, para todos esses problemas ou dúvidas, sem
perceber, usamos uma metodologia de pesquisa: temos
um problema, construímos respostas hipotéticas, ou seja,
aquelas possíveis alternativas para solução do proble-
ma, e buscamos a operacionalização das mesmas para
ratificá-las (confirmá-las) ou refutá-las (descartá-las).
Estas são denominadas de hipóteses, que se colocam
como afirmações explicativas ao problema, como por
exemplo:
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Para verificar a viabilidade das alternativas, é neces-
sário encontrar uma forma de verificá-las ou descartá-
las. Isto é denominado de processo metodológico. Nes-
se processo, elegem-se categorias teóricas principais,
identificadas a partir da formulação das hipóteses
construídas e que são conceituadas, isto é, são definidos
os seus significados. A identificação de categorias teóri-
cas, na investigação, permitirão ampliar a reflexão so-
bre o objeto da pesquisa, explicitando-o. Nesse proces-
so, são também definidos alguns procedimentos (pas-
sos ou formas de fazer) e fontes (onde buscar a informa-
ção) para ir à realidade investigada.
Para melhor compreensão dos elementos que com-
põem o processo metodológico da pesquisa, apresenta-se um
exemplo de como este processo de investigação poderá
se operacionalizar no exercício profissional:
• Problema: Como vem se constituindo a prática pro-
fissional do assistente social no Brasil, na atualida-
de? Supõe-se que:
Como vou realizar a
compra deste mate-
rial se não tenho di-
nheiro?
Vou pedir emprestado ao meu
amigo.
Isso porque ele tem dinheiro
sobrando.
Vou efetuar a compra com che-
que pré-datado.
Isso porque, daqui a dois me-
ses, já terei dinheiro para pa-
gar.
Vou comprar através de cartão
de crédito. Isso porque, no fi-
nal do mês, recebo meu salá-
rio e posso pagar.
Não vou comprar. Isso porque
não terei como pagar.
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• Hipóteses:
- a prática profissional exija do assistente social
estar sempre se atualizando a fim de executar
os seus projetos sociais, dentro de um espaço
político e público, com o objetivo de ampliação
do mercado de trabalho;
- o assistente social deva agir como articulador
estabelecendo vínculo e um relacionamento de
confiança entre os usuários, através de ações que
objetivam garantir direitos sociais e entender a
necessidade da população;
- o assistente social deva atuar em dimensões
interdisciplinares, buscando a integração huma-
nitária entre as diferentes profissões do merca-
do de trabalho.
• Categoria: Competência profissional (esta catego-
ria teórica foi identificada e evidenciada a partir da
formulação das hipóteses anteriormente citadas).
• Conceito da categoria: Capacidade de articular, de
modo eficaz e criativo, diferentes saberes, novas ha-
bilidades, atitudes e comportamentos, superando o
saber-fazer para a constituição do saber ser compe-
tente.
• Procedimentos (para investigar a categoria teórica
identificada): trabalho em grupo; leitura de textos;
seminário etc...
• Fontes (onde investigar a categoria indicada): Livros,
filmes, entrevistas, documentos, fotos, etc...
Assim visualiza-se melhor este processo na grade
abaixo:
Problema Hipótese Categoria Conceito Procedimentos Fontes
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Então: tem-se um problema de pesquisa ou investi-
gação. Para achar uma resposta para ele, formulam-se
hipóteses, que são alternativas que poderão indicar pos-
síveis respostas, porém, para verificar a viabilidade des-
sas alternativas, necessita-se encontrar forma de verificá-
las ou descartá-las. Denomina-se a isto de processo
metodológico, em que se identifica(m) categoria(s) da
prática profissional a partir da formulação das hipóte-
ses. Procura-se, então, um conceito para a (s) categoria
(s) elegendo-se indicadores da realidade que permitirão
ver suas possibilidades de realização ou não, recorren-
do-se a procedimentos e fontes para ir à realidade
investigada.
 A categoria anteriormente exemplificada (competên-
cia profissional), permitirá, através das fontes
disponibilizadas ao investigador, formular uma resposta
ao problema apresentado. Isto é dizer que a prática pro-
fissional do assistente social, no Brasil, na atualidade, exi-
ge uma competência profissional que está demarcada pelo
conhecimento, por habilidades como capacidade de ob-
servar, de acolher, de ter uma escuta sensível5.
Além disso, esta categoria também remete à condi-
ção de que este profissional deverá estar em sintonia com
as novas demandas do mercado de trabalho e, para tan-
to, deve estar em permanente formação e com uma pos-
tura ética afinada com o projeto ético-político do Servi-
ço Social.
Aqui vale esclarecer, de forma breve, a configuração
deste projeto. Este deve ser entendido como um proces-
so em contínuo movimento, em que o assistente social
considera a dimensão sócio-histórica, as transformações
5 Escuta e atenção “à linguagem que emana do silêncio, através da com-
preensão de que as relações sociais vão se constituindo a partir das
relações interpessoais no espaço afetivo dos sujeitos e vão sendo
contextualizadas através de seu comportamento, de se colocar no lu-
gar do outro” (Türck, 2006.2, p. 07)
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econômicas, políticas e culturais da sociedade articula-
das à dimensão técnico-operativa da prática profissio-
nal, tendo a liberdade como princípio ético central.
O projeto ético-político ou
projeto profissional está em per-
manente construção, uma vez
que deve estar em sintonia com
a dinâmica da sociedade, exigin-
do, dos assistentes sociais, aten-
ção na identificação das deman-
das sociais apresentadas. Mate-
rializa-se o projeto ético-político
na Lei de Regulamentação da
profissão (Lei 8662/ 93), no Código de Ética do assisten-
te social e nas Diretrizes Curriculares para o ensino do
Serviço Social.
Para melhor compreensão acerca da temática - proje-
tos profissionais, recorreu-se aos dizeres de Netto (1999,
p.95 apud Martinelli, 2006, 7) ao referir que estes:
... apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os
valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam
os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóri-
cos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescre-
vem normas para o comportamento dos profissionais e es-
tabelecem as balizas da sua relação com os usuários de seus
serviços, com as outras profissões e com as organizações e
instituições sociais privadas e públicas.
O projeto profissional do Serviço Social deve ser co-
nhecido e apreendido por todos os assistentes sociais e
representado em suas práticas cotidianas, bem como seu
conteúdo incorporado na formação dos acadêmicos, fu-
turos profissionais.
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Retomando as reflexões sobre o processo de pesqui-
sa, muitos questionamentos, dúvidas e problemas sur-
girão no dia-a-dia de um profissional, exigindo construir
alternativas e buscar respostas, normalmente, em curto
espaço de tempo. Neste sentido, afirma-se que a pesqui-
sa configura-se como um elemento constitutivo da na-
tureza do processo de trabalho do assistente social, e não mera
tarefa que possa ou não ser realizada.
Assim, prezado acadêmico, está sendo indicado um
caminho a ser seguido, pelo qual você terá possibilida-
de de encontrar algumas respostas àquelas dúvidas ini-
cialmente apontadas neste subcapítulo, e que, acredita-
se, lhe acompanham já há algum tempo. Talvez já te-
nham lhe apontado algumas respostas, mas, certamen-
te, a partir do senso comum, ou seja, do conhecimento
também chamado de vulgar, pois se fundamentam em
emoções e valores do sujeito, sem uma sistematização
dos dados ou informações coletadas, o que lhe impele,
como futuro profissional, a buscar, através da pesquisa,
respostas fundamentadas no conhecimento científico.
O conhecimento científico é obtido de modo racional
e desenvolvido por meio de procedimentos científicos,
procurando explicar o “por quê”, o “como” e “para que”
os fenômenos ocorrem. Neste sentido, este conhecimen-
to permite ao pesquisador uma reflexão, análise e com-
preensão contextualizadas dos fenômenos produzidos
no cotidiano da sociedade atual.
Atenção, acadêmico: esta é a Parole estudiosa. Ela
será sua parceira no estudo desta disciplina – Introdu-
ção ao Serviço Social. Ao final de cada capítulo ela irá
lhe propor uma atividade para ajudá-lo a revisar con-
teúdos e, ao mesmo tempo, lhe aproximar do cotidia-
no da profissão. Então vamos a primeira...
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Atividade
1- Elaborar um desenho ou frase que expresse o porquê
da tua escolha por esta profissão e quais tuas expec-
tativas a respeito da mesma. Socialize com seus cole-
gas desta disciplina.
2- Elaborar um texto livre (sem consulta), com no máxi-
mo 15 linhas, expressando sua concepção sobre o que
seja Serviço Social e quais as formas e espaços de in-
tervenção do assistente social.
3- Fazer uma pesquisa bibliográfica sobre a categoria
competência profissional. Logo após, entreviste al-
guns colegas de trabalho ou pessoas de suas relações
sobre o que entendem ou o que, para eles, demarca a
competência profissional atualmente. Estas serão as
hipóteses que você irá refutar ou confirmar a fim de
responder o problema: Como vem se constituindo a prá-
tica do assistente social no Brasil, na atualidade? ( tendo
como indicador a categoria competência profissional).
Bibliografia comentada
KERN, Francisco A . e SCHNORR, Ruthe C.C. Pes-
quisa em Serviço Social. Caderno Universitário nº
89. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.
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Neste caderno universitário os autores desenvolvem,
de forma acadêmica, a fundamentação teórica para o pro-
cesso de pesquisa, bem como os passos para a elabora-
ção do projeto de pesquisa.
Bibliografia
BRAGAGLIA, Mônica. Pesquisa. Material didático
para utilização na disciplina de Introdução ao Servi-
ço Social, publicado no Caderno Universitário nº 80,
elaborado por Scheunemann, Arno V. et. All. Cano-
as: Ed. ULBRA, 2003.
CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL – 10ª
REGIÃO. Código de Ética. In Coletânea de Leis (re-
vista e ampliada). Porto Alegre, 2005.
FAZENDA, Ivani (org.). Metodologia da pesquisa
educacional. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 1999.
KERN, Francisco A.; SCHNORR, Ruthe C.C. Pesqui-
sa em Serviço Social. Caderno Universitário nº 89.
Canoas: Ed. ULBRA, 2003.
KERN, Francisco Arseli. Metodologia da pesquisa.
Material didático não publicado. Porto Alegre,
PUCRS, 2007.
MARTINELLI, Maria Lúcia. O uso de abordagens
qualitativas na pesquisa em Serviço Social. Um
instigante desafio. Seminário sobre metodologias
qualitativas de pesquisa. PUCSP – NEPI, 1994.
______. Reflexões sobre o Serviço Social e o projeto
ético-político profissional. Palestra promovida pelo
Departamento de Serviço Social da Universidade
Estadual de Ponta Grossa/ PR em 10/11/2005. Trans-
crição de Jussara Ayres Bourguignon, em março de
2006.
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NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa-característi-
cas, usos e possibilidades. Caderno de pesquisas em
administração. Vol.1, nº 3, 2º sem. São Paulo: 1996.
TRIVINÕS, Augusto N.S. Introdução à pesquisa em
ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educa-
ção. São Paulo: Atlas, 1987.
TÜRCK, Mª da Graça M. Processo de trabalho do
assistente social. Elaboração de documentação:
implementação e aplicabilidade. Porto Alegre:
Graturck, 2006.2.
SCHEUNEMANN, Arno et all. Introdução ao Servi-
ço Social. Caderno Universitário nº 80. Canoas: Ed.
ULBRA, 2003.
Auto-avaliação
Marque verdadeiro (V) ou falso (F):
[ ] A pesquisa é um instrumento, no processo de
trabalho do assistente social, que possibilita pro-
duzir novos conhecimentos e, conseqüentemen-
te, qualificar a prática profissional
[ ] Quando se diz que o assistente social é uma
pessoa que ajuda os pobres a resolver seus pro-
blemas, esta é uma concepção de profissão a
partir do senso comum
[ ] O espírito investigativo é uma crença que leva
o assistente social a fazer o bem sem ver a quem
[ ] O conhecimento científico é desenvolvido a par-
tir de procedimentos científicos que possibili-
tam o profissional a fazer reflexões e constru-
ções teóricas acerca do objeto de estudo e defi-
nir sua prática
[ ] O método é definido pelos instrumentos e téc-
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nicas queo profissional vai utilizar, e a meto-
dologia é o caminho definido a seguir para ob-
ter um resultado
[ ] A dialética do conhecimento pressupõe: uma
tese, a crítica (antítese) a esta tese e a síntese
[ ] Os elementos metodológicos do processo de in-
vestigação são: problema, hipóteses, categoria/
conceito, procedimentos e fontes
[ ] Exclusão social, entrevista, livros e a falta de
dinheiro são considerados categorias teóricas no
cotidiano do assistente social
[ ] Exclusão social, cidadania, direitos sociais e
identidade profissional são categorias teóricas
no cotidiano do assistente social
[ ] O projeto ético-político do Serviço Social é um
projeto de pesquisa que foi formulado para que
o assistente social possa ser reconhecido como
profissional
Respostas
[ V ] [ V ] [ F ] [ V ] [ F ] [ V ] [ V ] [ F ] [ V ] [ F ]
A Prática Profissional
2
Maria Suzete Muller Lopes é Mestre em
Serviço Social, docente do Curso de Serviço
Social da ULBRA/ Canoas-RS, coordenadora
dos estágios supervisionados do Curso de
Serviço Social da ULBRA/ Canoas-RS,
assistente social na Secretaria de Justiça e
Desenvolvimento do Estado do RS.
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Maria Suzete Muller Lopes
Refletir sobre a prática profissional é reconhecer que
nela existe uma relação muito íntima, uma relação
dialética com a teoria. Portanto, identifica-se uma uni-
dade - teoria e prática. O Serviço Social atua nas rela-
ções sociais, no seio das contradições da sociedade atual
e sua prática é definida, a partir da identificação do seu
objeto de intervenção – a questão social– em um contexto
histórico mais amplo.
A questão social é o objeto genérico do Serviço Soci-
al, determinado pela relação conflituosa entre capital e
trabalho, constituindo-se como eixo gerador das desi-
gualdades e da exclusão social, expressas nas situações
sociais dos sujeitos históricos.
Portanto, é no campo da reflexão acadêmico-científi-
ca que a prática profissional do assistente social será dis-
cutida neste capítulo, possibilitando a você, acadêmico,
compreender os elementos que a constituem como um
processo de trabalho.
2.1 O que é prática profissional?
O tema da prática profissional tem sido significati-
vamente discutido no espaço acadêmico, considerando
que esta se constitui como elemento central e objetivo
da formação profissional. É através da prática que o pro-
fissional faz o seu exercício profissional. Ela demarca
simbolicamente o quanto alguém sabe ou não sabe, isto é,
detém conhecimento daquele fazer ou não, se é um
“bom” profissional ou não.
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Entretanto, não há prática profissional sem teoria6,
pois esta se apresenta como fundamento do conhecimen-
to. Para que se entenda esta relação, é preciso compre-
ender que uma teoria não é uma simples abstração, pois
“o homem não abstrai para o nada” (Faustini, 1995, p.17),
mas porque sente e age.
Portanto, há, na verdade, uma relação íntima entre
teoria e prática, pois a primeira define a intencionalidade7
da prática profissional, constituindo-se nisto uma uni-
dade dialética, dinâmica, aberta e rica.
Um profissional poderá determinar e definir seu es-
paço pela qualidade e sucesso de seu fazer profissional.
Assim, Guareschi (apud Faustini, 1995, p.21) afirma que
a “prática pode ser entendida como uma ação conscien-
te e planejada, ou não consciente e não intencional. Além
disso, deve ser percebida como uma ação que transfor-
ma, que muda ou, simplesmente, reproduz a realidade”.
Ainda refere que podem ser apontados diferentes tipos
de práticas:
• a prática econômica, que se propõe a transformar a
natureza em valor de uso, gerado pelas profissões no
mercado de trabalho;
• a prática científica, que se propõe a transformar o
conhecimento em ciência;
• a prática ideológica, que se propõe a transformar as
experiências vividas em subjetividades;
• e a prática política, que transforma as relações so-
ciais.
6 Por teoria entende-se o conhecimento especulativo meramente racio-
nal. Ferreira, Aurélio B. de O. Mini Aurélio – século XXI. 4ª ed. Rio de
Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2001.
7 Intencionalidade – o que revela intenção.
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Essas práticas se desenvolvem na dinâmica das rela-
ções em sociedade e se conceituam como práticas soci-
ais, traduzindo e revelando o momento histórico em que
se dão, bem como as formas das relações objetivas e sub-
jetivas entre os sujeitos. Associadas entre si ou não, po-
dem expressar o significado, o sentido e a
intencionalidade dos atos humanos. Estão sempre
inseridas e a serviço de um processo histórico. Portanto,
a prática social é diretamente relacionada ao momento e
ao contexto histórico em que se dá, indicando as possi-
bilidades reais de construção ou reprodução de conheci-
mentos.
Neste sentido, o profissional, na reflexão sobre a re-
lação teoria e prática, é imprescindível que formule um
questionamento sobre como pensar, muito antes do que
pensar; isto indica a apropriação de um método que lhe
permitirá agir sobre a realidade social e sobre as deman-
das sociais.
Segundo Faustini (1995, p.19), o Serviço Social ao
apropriar-se da compreensão da relação dialética entre
teoria e prática, melhor reconhecerá e compreenderá “as
tendências prático-teóricas” que se apresentam na atua-
lidade, para a construção de “novos caminhos”.
O Serviço Social se constrói em uma perspectiva de
criação de espaços, rompendo com moldes e padrões in-
ternos tradicionais da profissão (exemplificar que pa-
drões rompidos ajudam a compreender). Neste senti-
do, reconhece-se o espaço político (porque não é neutro
e possibilita a participação social) da profissão,
construído a partir de um repensar sobre sua própria
prática.
Apresenta-se, a seguir, algumas concepções sobre a
prática profissional no Serviço Social, a partir de expres-
sões construídas por alguns autores relevantes na for-
mação e exercício profissional:
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• Ao ser criada a profissão, foi definida como ‘prática
social’, concebida no âmbito da ‘ajuda social’. Evo-
luiu no processo de pensar-se a si mesma e à socieda-
de, gerando novas concepções e auto-representações
como ‘técnica social’, ‘ação social modernizante’ e
posteriormente ‘processo político transformado’.
Hoje, põe ênfase nas problematizações da cidadania,
das políticas sociais em geral e, particularmente, na
assistência social (Gentilli, 1997, p. 140);
• “A prática profissional é sinônimo de exercício ou tra-
balho profissional. Esta prática profissional necessi-
ta de saberes que são explicativos da lógica dos fenô-
menos e outros que são interventivos. Toda a prática
tem implicações éticas e políticas” (Guerra, 2005,
p.148-149);
• A prática do Serviço Social é construída sobre sua di-
mensão política, pois sinaliza uma:
- direção ética: compreende um caminho a ser se-
guido, não podendo ser considerada pronta e
acabada
- construção coletiva: construída com os sujeitos
- competência técnica: configura-se em transfor-
mar a realidade, em que o exercício profissional
cotidiano é o exercício político (Martinelli, 1994).
2.2 A prática como
processo de trabalho do
assistente social
É importante saber e compreender
que o Serviço Social, como profissão,
surgiu no Brasil na década de 1930, no
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auge do reformismo conservador, como base de um
movimento social mais amplo, de bases confessionais,
com a marcante presença da Igreja Católica. Pode-se di-
zer então, que há duas concepções para o surgimento
desta profissão:
Da ajuda
O Serviço Social surgiu
Da divisão social do trabalho8.
Pela concepção daajuda, o Serviço Social veio como
uma atividade de caráter missionário, como imperativo
da justiça e da caridade (Iamamoto, 1992, p.93), no mo-
vimento da Igreja Católica.
Como profissão inscrita na divisão social do traba-
lho, situa-se no processo de reprodução das relações so-
ciais, tendo historicamente se situado como atividade
auxiliar e subsidiária no controle social. Isto é, serviu
mais como uma estratégia de controle social, a partir da
necessidade de contenção do movimento organizativo
do operariado brasileiro, uma vez que “os antagonis-
mos que marcavam as relações sociais do sistema capi-
talista e que penalizavam o trabalhador e sua família já
não admitiam mais recuos” (Martinelli, 2006, p. 122).
Neste sentido, a classe burguesa “unindo-se ao Esta-
do e à Igreja, como poderes organizados...procurava con-
ceber estratégias com força disciplinadora e
desmoralizadora do movimento do proletariado”
8 “A produção da própria vida através do trabalho e de outros, através
da procriação, dá-se numa dupla relação natural e social; social por-
que compreende a cooperação de muitos indivíduos. Portanto, deter-
minado modo de produzir supõe, também, determinado modo de co-
operação entre agentes envolvidos, determinadas relações sociais
estabelecidas no ato de produzir, as quais envolvem o cotidiano da
vida em sociedade” (Iamamoto, 1992, p. 55).
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(Martinelli, 2006, 122), procurando assim dar respostas
às necessidades imediatas da população empobrecida ou
expropriada de seus bens, em forma de auxílios materiais
e/ ou de serviços sociais na intenção do controle social.
A atual proposta de formação e atuação do Serviço
Social quer romper com essa determinação e, para tan-
to, considera a Questão Social como base fundante desta
profissão e a prática profissional como uma especializa-
ção do trabalho, inscrita em um processo de trabalho
(Iamamoto, 1997, p. 38).
Para Marx, o processo de trabalho se relaciona com
as atividades humanas, com as atividades que os homens
realizam para a satisfação de suas necessidades, sejam
elas materiais ou espirituais e, com isto, desenvolvem
suas capacidades, obtendo resultados, implicando em
um processo de produção e de reprodução das relações
sociais. Portanto, “(...) uma sociedade não pode deixar
de produzir como não pode deixar de consumir”, con-
firmando que, “(...) todo processo social de produção é,
ao mesmo tempo, um processo de reprodução” (Marx
apud Granemann, 1999, p.156).
Ao produzir, o ser humano estabelece uma relação
com a natureza, mediada por outros seres humanos, de
forma consciente. Isto é o que diferencia o trabalho hu-
mano (racional) de outros tipos e formas de trabalho
encontrados na natureza. Segundo Granemann (1999, p.
156), por exemplo, o trabalho das “abelhas e
formigas...podem ser muito bem realizados. Entretanto,
por melhor executados que sejam realizados são sempre
um impulso do seu corpo biológico e não uma escolha,
um ato da vontade”. Assim, o processo de reprodução
torna-se necessário para a continuidade da vida social e
política dos homens em sociedade.
 O sistema capitalista de produção, no qual se desen-
volve a sociedade atual, se expressa em formas concre-
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tas e objetivas no cotidiano das pessoas, exigindo destas
o estabelecimento de determinadas relações e vínculos
entre si. Estas expressões do capital são objetivadas so-
cialmente por mercadorias que têm valores agregados a
elas, seja de uso, de tempo de trabalho do homem, que
motivam uma relação de troca pela própria necessidade
de sobrevivência humana.
Isto é dizer que o homem produz necessidades e que
procura atendê-las a partir de sua capacidade
teleológica9, desenvolvendo atividades através de suas
capacidades e habilidades, por sua força de trabalho ou
valor de uso (aspectos qualitativos desse trabalho).
Entretanto, nesse processo, está implicada a quanti-
dade de trabalho socialmente necessário para a satisfa-
ção das necessidades humanas na sociedade capitalista,
pois como refere Iamamoto:
Nesta sociedade tanto os elementos constitutivos do pro-
cesso de trabalho como o seu produto não são apenas obje-
tos úteis, são, também, valores de troca. Vive-se a socieda-
de da mercantilização universal, em que toda atividade ten-
de a ingressar no circuito do valor, passível de ser compra-
do e vendido (1998, p. 66).
 No sistema capitalista, o objetivo é a acumulação, o
que determina que nesta sociedade apenas alguns (clas-
ses) acumulem bens e usufruam serviços, restando aos
demais apenas vender sua força de trabalho. Entretan-
to, é pelo trabalho que o ser humano se distancia da na-
tureza e se realiza individual e coletivamente.
A capacidade do ser humano para o trabalho deve
9 “Capacidade humana de projetar finalidades às ações” (Barroco, 1999,
p.122 apud Capacitação em Serviço Social e política social: módulo 2:
crise contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília: CEAD,
1999).
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ser orientada, deve ter uma finalidade. Conseqüentemen-
te, no processo de trabalho, o homem deverá definir sua
matéria prima, ou seja, o objeto sobre o qual voltará seus
esforços e dedicará seu conhecimento e suas habilida-
des. Nesse sentido, existe neste processo de trabalho uma
intencionalidade – agir sobre um determinado objeto (fe-
nômeno/ situação) para obter um resultado (produto).
Mas como fazer isto? Com o que? Que caminho seguir?
Isto se refere aos meios (instrumentos, habilidades, co-
nhecimentos, estratégias) necessários para se alcançar
um resultado a que se quer chegar.
Os instrumentos são também criação humana para a
mediação entre o homem e seu objeto de trabalho. Logo,
têm uma finalidade e exigem um conhecimento. Assim,
todo o processo de trabalho realizado pelo homem se cons-
titui de três elementos: a matéria-prima (objeto), os meios/
mediações (instrumentos) e um resultado (produto final).
E quanto à finalidade ou intencionalidade? Também é um
elemento, uma vez que o produto final não é, necessaria-
mente, aquele que foi anteriormente almejado.
Portanto, o Serviço Social tem um processo de traba-
lho que se constitui de:
• Objeto p é a questão social entendida como “o con-
junto das expressões das desigualdades da sociedade ca-
pitalista madura, que tem uma raiz comum: a produ-
ção social cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se
mais amplamente social, enquanto a apropriação de
seus frutos mantêm-se privada, monopolizada por
uma parte dessa sociedade” (Iamamoto, 1997, p. 13);
No processo de trabalho do Serviço Social, o objeto –
a questão social, merece particularmente uma refle-
xão. Nas primeiras décadas do século XX, o debate
sobre a questão social percorreu toda a sociedade obri-
gando o Estado, a classe dominante (grandes Capita-
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listas) e a Igreja a se posicionarem frente a ela.
A questão social era entendida como uma questão mo-
ral e religiosa dos indivíduos, muito mais do que ex-
pressão das desigualdades sociais, econômicas e polí-
ticas. Assim, o papel social do assistente social era de
educador e moralizador das classes subalternas. Tal
papel era definido através de sua prática profissional.
É importante afirmar que o papel social do assistente
social na atualidade, a partir de uma leitura crítica
da sociedade, é de agente político, de articulador e
mobilizador das capacidades e da consciência políti-
ca dos sujeitos sociais, na medida em que estes se
constituem como sujeitos históricos e de direitos.
• Meios p são os instrumentos utilizados, tais como o
conhecimento, os recursos materiais, os recursos
organizacionais, os recursos financeiros e os recur-
sos humanos, entre outros. No caso do Serviço Soci-al, são as entrevistas individuais ou coletivas, as visi-
tas domiciliares, a documentação (relatórios, estudo
social, dossiês etc), observação, escuta, análise
institucional e a pesquisa, dentre outros.
• Produtos p são os resultados alcançados, aparentes
e não-aparentes, ambos repercutindo no processo de
reprodução material da força de trabalho e na repro-
dução sócio-política ou ídeo-política dos indivíduos
sociais, viabilizando acesso às ações implementadas
e gerando efeitos socialmente objetivos.
• Finalidade p aquilo que é almejado, isto é, o objeti-
vo que se pretende alcançar e que é mediado pela
Intencionalidade do profissional que escolhe, entre
as opções possíveis, aquilo que considera ideal.
Para a instauração de uma prática profissional compe-
tente, assentada nestes elementos, destacam-se como di-
mensões essenciais e fundamentais do agir profissional:
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• A dimensão teórico-metodológica – expressa pela apre-
ensão da teoria como um instrumental para realizar o
movimento da apropriação do real e também desen-
volvimento da prática. Para viabilizar tal apropriação,
é necessário capacitar para o exercício da prática sus-
tentada em uma sólida base teórico-metodológica. Esta
base deverá possibilitar a construção/ reconstrução do
cotidiano profissional, bem como estimular a criação
de alternativas criativas e inovadoras com as deman-
das presentes/ futuras que se colocam para a profis-
são e, conseqüentemente, para a realidade social, cons-
tituída pelos recursos essenciais que o assistente soci-
al aciona no exercício de seu trabalho e que contribu-
em para a leitura da realidade, para seu deciframento
e para a definição dos rumos da prática profissional.
Esta dimensão é garantida à medida que se instaura
um processo cumulativo rigoroso de apreensão dos
conhecimentos e de contextualização e historicização
da realidade atual/ futura; também quando o profis-
sional indaga a realidade através de posturas
investigativas e críticas.
Do ponto de vista teórico, pode-se destacar algumas
teorias sociais importantes: teoria dos Direitos Huma-
nos; teoria Empowerment (empoderamento, fortale-
cimento); teoria Histórico-crítica, teoria do Desenvol-
vimento Sustentável; fundamentos sobre Psicologia So-
cial, Filosofia e Sociologia; teoria das Ciências Políti-
cas; conhecimento sobre organizações sociais (movi-
mentos sociais; responsabilidade social corporativa;
associativismo; desenvolvimento de comunidade; etc).
• A dimensão técnico-operativa - viabilizada pela ca-
pacidade do aluno em manejar os instrumentais do
Serviço Social, articulando-os com os processos de pla-
nejamento e administração da prática profissional, bem
como com as dimensões da competência profissional.
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É resultante da articulação entre as bases de funda-
mentação teórica e o trabalho de campo, constituída
pelo conjunto de instrumentos e mediações que per-
mitem ao assistente social uma inserção mais qualifi-
cada na realidade. São exemplos: técnicas de pesqui-
sa; de entrevistas; de abordagens individuais, grupais
e coletivas; implantação e fomento às redes sociais, etc.
• A dimensão ético-política - a efetivação dessa postura é
decorrente do próprio processo de formação em que os
agentes (alunos, docentes, supervisores de estágio, etc.)
estão envolvidos. Portanto, pressupõe bases pedagógi-
cas e políticas que viabilizem o exercício crítico dos mes-
mos, considerando os agentes envolvidos enquanto su-
jeitos e cidadãos. Há que ser garantido o amplo e consis-
tente debate sobre o Código de Ética do assistente social,
pois nele estão os princípios que subsidiam a concepção
da sociedade que estamos comprometidos em construir.
A viabilização deste perfil pressupõe a adoção de uma
direção social que esteja balizada pelos pressupostos
oriundos do Código de Ética e operacionalizada pela
matriz crítica; expressa-se no projeto ético-político dos
assistentes sociais, materializado pela Lei de Regulamen-
tação da Profissão – Código de Ética do Assistente Social
- Diretrizes Curriculares para a formação em Serviço So-
cial e ainda, pelo reconhecimento da dimensão política
que está presente na prática profissional e nos demais
espaços que a categoria ocupa.
Todos estes elementos e dimensões devem levar o pro-
fissional a uma prática reflexiva que envolva profissio-
nal e usuário, contribuindo na politização das deman-
das apresentadas ao Serviço Social na medida em que
socializa informações necessárias e fundamentais, bem
como fortaleça os envolvidos no processo enquanto su-
jeitos políticos coletivos. Refere Faustini:
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Antes de sermos técnicos que manejam técnicas e instru-
mentos na ponta da reprodução das relações sociais, temos
que ser intelectuais, profissionais teóricos-
críticos...rompendo com a subalternidade de classe, que
também marca nossa história enquanto profissão e contri-
buindo para emergir novas formas de hegemonia na socie-
dade (1995, p.62).
É fundamental que se compreenda que a prática pro-
fissional, no Serviço Social, não pode se reduzir ao de-
senvolvimento e aplicação de técnicas, mas deve demar-
car uma prática consistente, fundamentada teórica, re-
flexiva e propositivamente e sendo possibilitadora da
socialização de informações e politização das demandas
e, ainda, fortalecedora dos sujeitos/ indivíduos.
2.3 Demandas para o Serviço
Social
É sabido que as atuais transformações societárias, se-
jam elas econômicas, políticas ou sociais, estão produ-
zindo diferentes e novas necessidades na vida das pes-
soas. Na medida em que surgem novas necessidades so-
ciais10, são apresentadas novas demandas ou requisições
às profissões. Estas requisições não serão sempre as mes-
mas, pois sinalizam as alterações que estão diariamente
ocorrendo na sociedade e no mercado de trabalho, en-
10 A concepção atual de necessidades sociais rompe com a noção dos
chamados mínimos sociais, que traziam um caráter individual e mera-
mente biológico estando relativo à pobreza absoluta. Necessidades so-
ciais, portanto, são as necessidades humanas básicas identificadas a
partir dos princípios da liberdade, eqüidade e justiça social e, tratadas
como matéria de direito garantidas por políticas formuladas no âmbi-
to da participação e das decisões coletivas (Pereira, 2007, p. 17).
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volvendo as diferentes profissões. Tais alterações são
provenientes das
(...) mudanças advindas da atual reestruturação produti-
va na produção, gestão e consumo de mercadorias e na es-
fera da produção e reprodução da força de trabalho. Altera-
ções estas que estão redefinindo as necessidades postas no
campo empresarial, no terreno do Estado e no interior dos
aparelhos da força de trabalho. Tais necessidades, sujeitas
a esse fluxo de determinações, traduzem-se em demandas
às diferentes práticas sociais, mediando as exigências soci-
ais para atender, em última instância, às necessidades do
capital (Serra, 2000, p. 161).
Frente a tal panorama, tem sido exigido do assistente
social maior atenção no desvelamento dos reais
determinantes das demandas que chegam até ele, uma
vez que estas são complexas e muitas vezes mascara-
das. Esta postura tem possibilitado demarcar concreta-
mente o espaço profissional.
Mas, afinal, o que são demandas? Demandas são soli-
citações, requisições técnico-operativas, postas aos pro-
fissionais pela sociedade e pelo mercado de trabalho. Em
relação ao Serviço Social, as demandas são apresentadas
normalmente pelos empregadores dos assistentes sociais,
pelos usuários, bem como identificadas por este profissi-
onal quando na condição de atividade autônoma.
Por exemplo: um usuário chega até um profissionalassistente social, em uma instituição pública, e solicita
uma cesta básica. A partir dessa requisição, o profissio-
nal precisará identificar, através de instrumentos de in-
tervenção, qual é o objeto neste processo de trabalho,
isto é, qual o foco da sua intervenção, pois a cesta básica
é uma necessidade concreta e imediata do usuário em
conseqüência de uma situação social que está vivendo
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(desemprego, alcoolismo, dependência de drogas
psicoativas, violência doméstica etc).
Então, o desemprego, a violência doméstica e a
drogadição expressam a Questão Social, o objeto do pro-
cesso de trabalho do assistente social. Assim, a interven-
ção deste profissional deve ter uma apreensão ampla da
requisição que chega à ele, para que não resuma sua prá-
tica em ações pontuais e imediatas, sem intencionalidade.
Segundo Martinelli (1998, p. 145), os assistentes soci-
ais precisam estar preparados para trabalhar com as no-
vas demandas que transcendem as até então conheci-
das, pois os avanços tecnológicos, a marcante exclusão
social e a procura pela melhor qualidade de vida das
pessoas, dentre outras, definem-se como importantes
fenômenos que implicam significativamente na organi-
zação da vida em sociedade e na condição humana.
São exemplos de novas demandas o prolongamento
da vida (longevidade) com novas doenças físicas e men-
tais, a drogadição, a violência urbana, que agravam a
condição de vida das pessoas. Por isto, Martinelli enfatiza
“[...] a importância da interdisciplinaridade11, porque não
é como sujeito solitário que o Assistente Social vai se
reconstruir nesse momento, para atender a essas deman-
das, mas é como sujeito coletivo”. É dizer que “nenhum
tecido social se modifica por si só, assim como nenhuma
profissão se reconstrói por si só” (1998,p.145).
Atenção, acadêmico: a Parole estudiosa vai entrar
em cena novamente.
11 A interdisciplinaridade é identificada quando há a integração e cola-
boração das disciplinas entre si.
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Atividade
A partir do conteúdo estudado nos capítulos I e II,
desenvolva os exercícios abaixo solicitados.
1- Leia os artigos “o Serviço Social na transição para o
próximo milênio: desafios e perspectivas” de Maria
Lúcia Martinelli, publicado na Revista Serviço Social
& Sociedade nº 57, pela editora Cortez, julho/ 1998 e
“Desafios do Serviço Social na era da globalização”
de Vicente de Paula Faleiros, publicado na Revista
de Serviço Social & Sociedade nº 61, pela editora
Cortez, novembro/ 1999. Extraia, dos textos, desafi-
os e perspectivas apresentadas pelos autores para o
Serviço Social.
2- Procure uma instituição/ organização de fácil acesso
para você e que tenha nela um profissional de Servi-
ço Social trabalhando. Busque conhecer como se de-
senvolve a prática profissional deste assistente social
e que demandas sociais são apresentadas a ele no seu
dia-a-dia de trabalho, registrando, em seu caderno,
estas informações.
3- Pesquisa bibliográfica: A prática do assistente social
tem sido sempre a mesma no Brasil? O que mudou?
Elabore um texto de no mínimo 30 linhas em que es-
tas questões estejam claramente atendidas.
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Bibliografia comentada
FAUSTINI, Márcia S. A . A prática do Serviço So-
cial. O desafio da construção. Cadernos EDIPUCRS
nº 9. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.
Esta obra apresenta-se como uma reflexão acerca das
questões da unidade teoria e prática, sinalizando-a como
uma unidade de intervenção profissional, em que atra-
vés dela o assistente social desenvolve processos
emancipatórios e humanizadores.
Bibliografia
BARROCO, Mª Lucia. Os fundamentos sócio-histó-
ricos da ética. In Capacitação em Serviço Social e po-
lítica social: Módulo 2: Crise contemporânea, ques-
tão social e serviço social.Brasília: CEAD, 1999.
FALEIROS, Vicente de P. Desafios do Serviço Social
na era da globalização. Revista de Serviço Social &
Sociedade nº 61. São Paulo: Cortez, novembro/ 1999.
FAUSTINI, Márcia S.A . A prática do Serviço Social.
O desafio da construção. Cadernos EDIPUCRS nº 9.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.
FERREIRA, Aurélio B. de O. Mini Aurélio – século
XXI. 4ª ed. Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 2001.
GENTILLI, Raquel de M. Lopes. A prática como
definidora da identidade profissional do Serviço
Social. Revista Serviço Social & Sociedade nº 53. São
Paulo: Cortez, 1997.
______. Representações e práticas: identidade e pro-
cesso de trabalho no Serviço Social. São Paulo: Veras,
1998.
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GRANEMANN, Sara. Processos de trabalho e Ser-
viço Social I. Capacitação em Serviço Social e políti-
ca social: Módulo 2: Crise contemporânea, questão
social e Serviço Social. Brasília: CEAD, 1999.
GUERRA, Yolanda. O potencial do ensino teórico-
prático no novo currículo: elementos para debate.
Revista Katálysis v.8 nº 2- jul/dez/
2005.Florianópolis: Editora da UFSC, 2005.
IAMAMOTO, Marilda V. Renovação e
conservadorismo no Serviço Social. São Paulo:
Cortez, 1992.
IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na
contemporaneidade: trabalho e formação profissio-
nal. São Paulo: Cortez, 1998.
______. O Serviço Social na contemporaneidade: di-
mensões históricas, teóricas e ético-polícas. Debate
nº 6 – CRESS-CE. Fortaleza: Expressão Gráfica e Edi-
tora Ltda, 1997.
MARTINELLI, Mª Lucia. O Serviço Social na transi-
ção para o próximo milênio: desafios e perspecti-
vas. São Paulo: Cortez, jul./ 1998.
______. O uso de abordagens qualitativas na pes-
quisa em Serviço Social. Um instigante desafio. Se-
minário sobre metodologias qualitativas de pesqui-
sa. PUCSP – NEPI, 1994.
______. Reflexões sobre o Serviço Social e o projeto
ético-político profissional. Palestra promovida pelo
Departamento de Serviço Social da Universidade
Estadual de Ponta Grossa/ PR em 10/11/2005. Trans-
crição de Jussara Ayres Bourguignon, em março de
2006.
PEREIRA, Potyara. Necessidades humanas. Subsí-
dios à crítica dos mínimos sociais. 4ª ed. São Paulo:
Cortez, 2007.
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SCHEUNEMANN, Arno V.; GIONGO, Claudia D. e
LOPES, Mª Suzete M. Introdução ao serviço Social.
Caderno Universitário nº 80. Canoas, Ed. ULBRA,
2003.
SERRA, Rose M.S. Crise de materialidade no Servi-
ço Social: repercussões no mercado profissional.
São Paulo, Cortez, 2000.
Auto-avaliação
Marque verdadeiro (V) ou falso (F):
[ ] O processo de trabalho do assistente social pode
ser considerado uma prática profissional, pois
é desenvolvido a partir de um conhecimento,
um saber constituído no processo de formação
profissional
[ ] Considerando a concepção exercício profissio-
nal, estudada nesta disciplina, é correto afirmar
que na teoria é uma coisa e na prática é outra
[ ] O que define o rumo da prática profissional é a
escolha do método, pois este dará a direção do
trabalho profissional
[ ] A partir de uma das concepções sobre o
surgimento do Serviço Social no Brasil,é corre-
to afirmar que veio como uma estratégia de con-
trole social em meio ao movimento do proleta-
riado, pelas mãos da Igreja, do Estado e da bur-
guesia, com a finalidade de dar respostas ime-
diatas, através de ajuda (auxílios materiais, con-
selhos etc...) para os pobres e necessitados e, com
isto, minimizar os problemas sociais
[ ] No artigo de Martinelli ( 1998 ), lido por você, a
autora aponta como um dos desafios para a prá-
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tica profissional do assistente social, neste novo
milênio, o trabalho com as crianças e os adoles-
centes
[ ] Os elementos constitutivos do processo de tra-
balho do assistente social, não se identificam
como a concepção de processo de trabalho em
Marx[ ] O que diferencia o trabalho humano do traba-
lho animal é a capacidade teleológica do homem
[ ] A Questão Social é o objeto do processo de tra-
balho do assistente social, porque este profissi-
onal lida com as expressões da Questão Social
no contexto das desigualdades sociais
[ ] São dimensões da prática profissional do assis-
tente social: a dimensão político-partidária; a
dimensão teórico-metodológica; a dimensão cri-
ativa e de ajuda
[ ] É correto dizer que os elementos constitutivos
do processo de trabalho do assistente social são:
o objeto (questão social); os meios (instrumen-
tos, técnicas, estratégias etc.); o produto final (re-
sultado)
Respostas
[ V ] [ F ] [ V ] [ V ] [ F ] [F ] [ V ] [ V ] [ F ] [ V ]
Identidade
Profissional
3
Maria Suzete Muller Lopes é Mestre em
Serviço Social, docente do Curso de Serviço
Social da ULBRA/ Canoas-RS, coordenadora
dos estágios supervisionados do Curso de
Serviço Social da ULBRA/ Canoas-RS,
assistente social na Secretaria de Justiça e
Desenvolvimento do Estado do RS.
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Maria Suzete Muller Lopes
A identidade de uma profissão é o que lhe dá visibi-
lidade de fato; é o que lhe permite ser conhecida e reco-
nhecida social e politicamente. Neste sentido, apresen-
tam-se, aqui, importantes considerações acerca da iden-
tidade profissional do Serviço Social ao longo de sua tra-
jetória histórica, na sociedade brasileira, e os elementos
que a configuraram.
3.1 Considerações acerca da
identidade profissional
Identidade é como se é reconhecido, é o que identifi-
ca alguém ou algo, mas também são as formas de agir,
de pensar, crenças e valores. Segundo Gentilli:
(...)identidade é um termo cujo sentido remete àquilo que é
idêntico, semelhante ou ainda análogo. Exprime tanto con-
formidade de alguma coisa consigo mesmo, quanto o com-
partilhar com características de outros indivíduos ou gru-
pos sociais...A categoria identidade remete à relação que
uma pessoa estabelece com o “outro”, marcando dimen-
sões de individualidade e de coletividade(1997, p. 128).
Identidade Caracteriza o humano da forma como é
Humano singular/ subjetividade
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Social coletiva/ realização
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A categoria identidade nos traz duas concepções: a sin-
gularidade e a coletividade. Ela expressa um movimen-
to de interconstrução entre o individual e o coletivo e,
ainda, a noção de que o indivíduo é entendido como um
ser historicamente situado e determinado. A partir des-
tas concepções é necessário considerar os movimentos
que desencadeiam a dialética entre a apropriação de cada
profissional e a totalidade de expressões que vem de-
marcando as diferentes formas de inserção da profissão
no conjunto de práticas que desencadeia ao concretizar
sua aproximação com o real.
A identidade profissional tanto circunscreve quadros refe-
rentes a funções, papéis, atribuições quanto marca e ex-
pressa traços esteriotipados de personalidade, nas referên-
cias sociais, assim como atribuídas” (Gentilli, 1997, p.130).
A consideração desses movimentos é uma construção
pessoa e/ profissional e que necessita de um fio condutor
que seja capaz de estabelecer os nexos entre a relação
individual e coletiva da profissão.
Neste sentido, parte-se do entendimento12 de que exis-
tem múltiplas formas da profissão efetivar sua inserção na
realidade social. Impõe-se a necessidade de determinar o
marco de referência adotado nesta construção. Para Martinelli
(1989) e Iamamoto (1982), a identidade deve ser concebida
como uma construção histórica e permeada por contradições/
mediações, dado seu caráter de movimento dialético, por-
tanto, permanentemente em um processo de vir-a-ser.
A identidade, enquanto elemento definidor de sua partici-
pação na divisão social do trabalho e na totalidade do pro-
cesso social, é uma categoria política e sócio-histórica que se
12 Material didático elaborado pela prof.ª Dra. Ana Lúcia S. Maciel, para
a disciplina de Introdução ao Serviço Social. Canoas/ ULBRA/ 2000.
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constrói na trama das relações sociais, no espaço social mais
amplo da luta de classes e das contradições que a engen-
dram e são por ela engendradas (Martinelli, 1989, p. 7).
Isso implica em situar os processos de trabalho, a tra-
jetória histórica e as contradições/ mediações do Servi-
ço Social.
Utilizando a história como fio condutor13, pode-se
compreender que:
• o Serviço Social teve sua identidade atribuída pelo
capitalismo, portanto nasce em articulação com o pro-
jeto de hegemonia burguesa, como uma estratégia de
controle social, permeada pela ilusão do servir;
• por ter uma identidade atribuída pelo capitalismo,
desenvolveu práticas alienantes, alienadas e
alienadoras e que tiveram como resultado a impossi-
bilidade de construção da prática, já que se encontrou
distanciada e esvaziada de significado histórico;
• a ausência de identidade profissional construída gerou
práticas com caráter controlador, punitivo, repressivo,
entre outras, que se legitimaram apenas pela classe do-
minante e que desencadearam uma incapacidade da pro-
fissão em participar da prática política da classe traba-
lhadora, levando-a para a reprodução de práticas
corporativas, burocratizadas e esvaziadas de finalidade.
 A intenção de ruptura14, a aproximação crítica e a apro-
ximação com o componente dialético presente nas con-
13 Material didático elaborado pela prof.ª Dra. Ana Lúcia S. Maciel, para
a disciplina de Introdução ao Serviço Social. Canoas/ ULBRA/ 2000.
14 “...perspectiva teórico-política e metodológica no Serviço Social, que
se referencia na tradição marxista e socialista, e em suas fecundas con-
tradições teóricas no terreno da economia política, filosofia, cultura,
dentre outros” (Sales, 1992 apud Sales, 1999, p. 145 – Capacitação em
Serviço Social e política social: módulo 2 – Crise contemporânea, ques-
tão social e Serviço Social. Brasília: CEAD, 1999.
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tradições geradas pelo capitalismo permitiram apontar
para uma construção autêntica, viabilizada pela capacidade de
sermos críticos, assumidos politicamente e capazes de lutar pela
demarcação de uma nova identidade para o Serviço Social. As-
sim, os elementos que poderão balizar esta construção são:
Qual é a sua
história?
Quais são os seus
valores?
Qual é o seu
objeto?
Qual é seu corpo
teórico-
metodológico?
Qual sua
finalidade?
SERVIÇO SOCIAL
Os elementos fundantes que permeiam esta constru-
ção são:
• Código de Ética do Assistente social (1993);
• Diretrizes Curriculares para a formação profissional
em Serviço Social;
• Lei de Regulamentação da profissão;
• Demandas e configurações da realidade atual;
• Legado acumulado pela profissão.
3.2 A Identidade na Profissão de
Serviço Social
Como já referido, o Serviço Social surgiu na Europa,
no século XIX, como uma estratégia operacional da bur-
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guesia, como um importante instrumento de controle
social. Nesse contexto, na segunda metade deste mesmo
século algumas pessoas foram incentivadas a fazer cari-
dade de forma assistencial (auxílio material e trabalho
educativo através de conselhos), ligadas às paróquias
cristãs (católicas e protestantes).
Surge, nesse cenário, a figura das damas de caridade,
senhoras da sociedade burguesa que se dedicavam às
ações benevolentes. Acreditavam que os pobres estavam
nessa condição por suas próprias causas e incapacida-
des, por isso lhe ofereciam ajuda imediata (visitas aos
pobres para conhecer as reais necessidades, ajuda na saú-
de de crianças e idosos, conseguiremprego para os de-
socupados etc.)
Em 1869, registrou-se, em Londres, um marco impor-
tante para a organização da assistência social – o
surgimento da Sociedade de Organização da caridade.
Houve, a partir daí, a proliferação de outras sociedades
e instituições com o intuito de formarem pessoas para a
realização de atividades de assistência/ ajuda. Esse foi
o esboço para a institucionalização do Serviço Social
como profissão secularizada15.
Somente em 1899, em Amsterdã, organizou-se a primei-
ra escola de Serviço Social, possibilitando assim no decor-
rer do tempo, buscar e construir explicações científicas para
as demandas profissionais a partir do nascimento da Soci-
ologia, como suporte teórico para a profissão.
No século XX (1900 em diante), tem-se, no contexto
da sociedade capitalista, um aumento da pobreza e da
miséria com o crescimento urbano e industrial e o agra-
vamento das crises econômicas. Nesse cenário, o Estado
passa a assumir o financiamento social, seja por conta
do agravamento da questão social, seja por pressão da clas-
15 Traz a concepção de uma atividade profissional que se fez a partir do
momento histórico, como atividade leiga.
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se trabalhadora. Até então, seu papel era subsidiário ao
das instituições sociais.
Ainda no século XX, registra-se a figura marcante da
precursora do Serviço Social – Mary Richmond, assis-
tente social norte-americana que teve importante papel
na produção teórica, escrevendo a célebre obra “Diag-
nóstico Social” em 1917, na qual tra-
çava um rumo técnico-científico
para a profissão.
No Brasil, o Serviço Social sur-
giu na década de 1930, a partir da
tríade: Estado, Igreja e Burguesia.
Essa tríade cria o Serviço Social
também como instrumento de con-
trole social para dar respostas aos problemas sociais apre-
sentados na época. Implantou-se, aqui, o Modelo fran-
co-belga,com dois pressupostos teórico-filosóficos: o
Tomismo e o Neotomismo de Santo Tomás de Aquino,
que pautavam a caridade e a prática assistencialista.
Na década de 1940, foi implantado o modelo norte-
americano para a intervenção profissional; nesse perío-
do, utilizou-se a metodologia elaborada pela precursora
Mary Richmond (diagnóstico e tratamento social) com
forte influência da medicina. O objeto do Serviço Social
era, então, a pessoa “(...) em situação irregular” e o
referencial teórico que orientava a leitura da realidade
social e os atos humanos era o positivismo16, aparecendo
como ciência única. Nesse período, o Serviço Social ado-
tou uma metodologia tripartide, reconhecida e aceita por
longos anos no desenvolvimento da prática do assistente
social, demarcando a forte influência norte-americana.
Nessa perspectiva, a formação tinha três ênfases:
16 Compreensão de que a sociedade é regida por leis naturais e deve ser
estudada cientificamente, ou seja, reduzida a aspectos quantificáveis e
mensuráveis.
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• Serviço Social de Caso;
• Serviço Social de Grupo;
• Serviço Social de Comunidade.
Na década de 1960/ 70, a partir do Movimento de
Reconceituação (196517) no Serviço Social latino-america-
no, pôde-se identificar o esboço do processo para uma
identidade profissional construída. Esse movimento propôs
construir um novo conceito sobre a profissão,
objetivando questionar teoria e metodologia que funda-
mentava e orientava o exercício da profissão (tripartide).
Houve uma tendência para adoção de uma metodologia
genérica com ênfase na dimensão ídeo-política. Para tan-
to, surgiram novos aportes teóricos como:
• marxismo como referencial crítico;
• personalismo como referencial humanista
(Emmanuel Mounier);
• fenomenologia como referencial existencialista
(Husserl/ Sartre/ Gabriel Marcel).
Na década de 1980, essas questões levaram a uma
reforma curricular e a adoção de um referencial balizador
p o marxismo p e a perspectiva dialético-crítica.
A partir daí, o objeto do Serviço Social passa a ser a
Questão Social p produto da relação conflituosa entre o
capital e o trabalho e que se constitui “como pano de fun-
do gerador das desigualdades e da exclusão social”
(Türck, 2006, p.6). Nessa perspectiva, o Serviço Social tem
sua especificidade no campo das desigualdades sociais,
17 Movimento gerado com base no momento histórico brasileiro (1965),
motivado pela perspectiva do conflito, no processo de crítica e no com-
promisso entre profissional e o povo. Demarcou o processo de revisão
teórico-metodológica do Serviço Social (Faleiros, 1997, p. 19).
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das políticas públicas e da cidadania. Nas palavras de
Iamamoto, a Questão Social também é definida como:
O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade
capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção
social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais
amplamente social, enquanto a apropriação dos frutos man-
tém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade
(1997, p.13).
O desvelamento do objeto de intervenção do Serviço
Social – a Questão Social, é traçado a partir da teorista
marxista e, portanto, exige a apreensão das categorias
centrais do Método Dialético Materialista – a
historicidade, a totalidade e a contradição, que permiti-
rão a compreensão da sociedade capitalista.
Tais categorias podem ser assim compreendidas:
• Historicidade – processo, movimento, dialética;
• Totalidade – interconexão em uma multiplicidade de
fatores em um contexto multidimensional;
• Contradição – negação (das desigualdades sociais,
injustiças sociais, exploração) e superação das con-
tradições constitutivas da natureza humana.
Nesse sentido, Türck (2003) contribui para a visibili-
dade das relações sociais na sociedade capitalista:
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É conveniente esclarecer que por mais-valia enten-
de-se
(...) a forma específica que assume a exploração sob o ca-
pitalismo, em que o excedente toma forma de lucro e a
exploração resulta do fato da classe trabalhadora produzir
um produto líquido que pode ser vendido por mais do que
ela recebe por salário (Bottomore, 1988, p. 227 apud Türck,
2005, p. 18).
O objeto de trabalho do Serviço Social se configura
na Questão Social e nas suas diferentes expressões/ re-
frações, sendo estas identificadas no espaço institucional
onde o assistente social trabalha, sendo por ele reconhe-
cidas através da decifração das demandas postas pela
Fonte: Quadro esquemático elaborado pela prof.ª Mª da Graça Maurer
Türck, 2003.
A teoria Mar-
xista coloca
que:
As relações conflituosas que se estabeleceram
entre o capital e o trabalho configuram a Ques-
tão Social, a partir do século XIX, onde
Podemos destacar dois pontos
importantes nessa questão:
A exploração E a alienação
A partir do valor do trabalho, Marx construiu
o conceito de mais-valia. Explica que no modo
de produção capitalista, o processo de traba-
lho é também um processo de exploração, por-
que se dá uma apropriação do excedente do
trabalho capitalista. O trabalhador, que nada
possui, se vê obrigado, assim a vender sua for-
ça de trabalho para poder sobreviver, e a bur-
guesia, detentora dos meios de produção, en-
riquece, se apropriando da mais-valia.
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sociedade, pelo seu contratante e pelo mercado de tra-
balho.
Retomando o rumo das reflexões até aqui desenvol-
vidas, ainda na década de 1980, percebeu-se os avanços
resultantes do Movimento de Reconceituação, bem como
crescimento na produção de conhecimento na profissão,
ampliação de cursos de graduação e pós-graduação em
Serviço Social, em razão da abertura política no Brasil
com a redemocratização da sociedade e, com isso, o

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