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Anais 2017 IFPR- I SEI meu trabalho

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I Simpósio de Educação e Inovação
TRABALHOS COMPLETOS
IFPR - Campus Jacarezinho
22 a 24 de novembro 
 II Seminário em Currículo e Inovação 
2017
 
DIRETORIA DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ – CAMPUS JACAREZINHO 
Diretor Geral: Rodolfo Fiorucci 
Diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão: Rafael Ribas Galvão 
Coordenadora de Ensino: Andreza Tangerino Mineto 
Coordenadora de Pesquisa e Extensão: David José de Andrade Silva 
 
 
COORDENADOR GERAL DO I SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO E II SEMINÁRIO 
EM CURRÍCULO E INOVAÇÃO 
Prof. Dr. Sérgio Vale da Paixão 
 
 
COMITÊ CIENTÍFICO 
Prof. Me. Carlos Henrique Silva 
Prof. Me. David José de Andrade Silva 
Prof. Me. Elismar Vicente dos Reis 
Profa. Dra. Fabíola Dorneles Inácio 
Profa. Dra. Flavia Torres Presti 
Profa. Esp. Isabel Cristina de Campos 
Prof. Me. Rafael Ribas Galvão 
Prof. Dr. Rodolfo Fiorucci 
 
 
 
COMISSÃO ORGANIZADORA 
Prof. Me. David José de Andrade Silva 
Prof. Dr. Sérgio Vale da Paixão 
Prof. Me. Hugo Emmanuel da Rosa Correa 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
O I Simpósio de Educação e Inovação e o II Seminário em Currículo não é somente a continuidade do 
projeto de 2016, mas a ampliação do escopo de discussão, sem perder de vista o eixo norteador estabelecido 
nos temas de currículo e inovação. Além disso, a promoção do simpósio também possibilitou a constituição 
de redes de pesquisa e grupos de trabalho para a inovação educacional, principalmente após ter obtido a 
certificação internacional das ONG’s Ashoka e Alana de Escola Transformadora (Changemaker School), fato 
que impulsiona o intercâmbio para além-mar. 
O resultado do evento culminou em uma aproximação intra e interinstitucional entre 
estabelecimentos de ensino que almejam contribuir significativamente para o desenvolvimento de uma 
educação que supere as limitações apresentadas pelo modelo tradicional. Em adendo, o seminário fortaleceu 
a necessidade de se pautar as questões apresentadas e em consonância com o debate nacional sobre, por 
exemplo, o novo ensino médio. 
O I SEI e o II SCI integram interesses comuns ao campo da educação e inovação por meio de diálogos 
com pesquisadores de diversas regiões do Brasil. Assim, os eventos procuraram colaborar para fomentar o 
repensar a concepção de inovação no ensino, colaborando para que a produção científica se valha de diálogos 
e constantes reconstruções sob uma ótica crítica e politicamente engajada. O desenvolvimento de 
tecnologias de ensinar e aprender, bem como a prática investigativa, caras às ciências da educação, também 
tiveram seu espaço, principalmente no que concerne à questão da inclusão. 
Das inúmeras atividades que ocorreram ao longo dos eventos, surgem então os trabalhos dos 
participantes que aqui apresentamos em forma de anais para que possamos socializar com todos os 
participantes e interessados nas temáticas abordadas. Além disso, torna-se importante certificar 
cientificamente os proponentes que fazem parte dessa coletânea de textos que trazem diferentes modos de 
pensar a educação nos dias de hoje. Embora poucos textos tenham sido enviados no prazo proposto, 
acreditamos que as próximas edições terão uma adesão maior. 
Esperamos que a leitura dos textos apresentados nesses anais possa trazer reflexões e inquietações 
sobre a necessidade de se pensar o currículo escolar bem como a educação que atendam as necessidades da 
atualidade e, assim, novas posturas institucionais e docentes emerjam no cenário nacional. 
David José de Andrade 
Sergio Vale da Paixão 
Organizadores 
 
SUMÁRIO 
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO ALUNO SURDO NO NÍVEL SUPERIOR: O 
ENFRENTAMENTO PELO PROFESSOR......................................................................... 01 
 
A CONSTRUÇÃO DO MITO DO PIONEIRO NA CIDADE DE JACAREZINHO-PR: 
ANÁLISE DE UMA FONTE MEMORIALISTA....................................................................... 08 
 
A EDUCAÇÃO NO ESTADO DO PARANÁ NO CONTEXTO DA PRIMEIRA REPÚBLICA 
(1889-1930).......................................................................................................................... 18 
 
A LIBRAS E O ENSINO DE QUÍMICA................................................................................. 28 
 
AS MÚLTIPLAS FACES DO DISCURSO HOMOFÓBICO QUE PERMEIAM AS 
INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS...................................................................................... 35 
 
AS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NA ELABORAÇÃO DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE 
LÍNGUA ESPANHOLA PARA ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS.................................... 43 
 
COMPREENDENDO OS ASPECTOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO REGIME 
MILITAR BRASILEIRO: RETROCESSO E APAGÃO CRÍTICO?....................................... 55 
 
DOCUMENTÁRIO ILHA DAS FLORES: UMA ABORDAGEM CRÍTICA EM EDUCAÇÃO 
AMBIENTAL....................................................................................................................... 66 
 
ENSINO DE CONCEITOS AMBIENTAIS POR MEIO DE PRÁTICAS INOVADORAS 
PELA CONSCIENTIZAÇÃO, SENSIBILIZAÇÃO E PERCEPÇÃO NO ENSINO DE 
GEOGRAFIA...................................................................................................................... 74 
 
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE GEOGRAFIA NO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO 
DA USP PARA A ESCOLA SECUNDÁRIA BRASILEIRA (1930-1960).............................. 86 
 
HOMEM DO CAMPO, EDUCAÇÃO E RELAÇÕES ECONÔMICAS.................................. 
94 
 
LIBRAS NA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS – CRIAÇÃO DE UM 
GLOSSÁRIO...................................................................................................................... 101 
 
O CURRÍCULO PARA O ENSINO SECUNDÁRIO DA GEOGRAFIA PROPOSTO POR 
MARIA CONCEIÇÃO VICENTE DE CARVALHO (1906-2002).......................................... 112 
 
O ENSINO DO CONCEITO DE TERRITÓRIO: ALGUMAS PRÁTICAS INOVADORAS 
NO ENSINO DE GEOGRAFIA........................................................................................... 121 
 
OLIMPÍADA BRASILEIRA DE ASTRONOMIA COMO EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO 
SUPERVISIONADO........................................................................................................... 129 
 
OS DIREITOS DOS SURDOS NA SOCIEDADE................................................................ 137 
 
O USO DE JOGOS COMO ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DAS 
CIÊNCIAS DA NATUREZA................................................................................................ 149 
 
PERSPECTIVA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES DE GEOGRAFIA 
NO ÍNICIO DO SÉCULO XX, SEGUNDO A ÓTICA DOS ALUNOS DA FFLC-USP............ 158 
 
PRÁTICAS INTERDICIPLINARES E INOVADORAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: 
APLICADAS NA HORTA DA EE JOSEPHA CUBAS DA SILVA, OURINHOS/SP.............. 169 
 
PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE 
GEOGRAFIA PARA O ENSINO SECUNDÁRIO (1930-1960)............................................ 179 
 
PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - SEMANA DE GEOGRAFIA NAS 
ESCOLAS – UMA CONTRIBUIÇÃO Á FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA 188 
 
PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO 
MORAL NO ENSINO MÉDIO: ÊNFASE – DIREITOS HUMANOS..................................... 200 
 
REBELDIA PREMIADA: RELATO DE EXPERIÊNCIA....................................................... 214 
 
REFORMAS DA ESCOLA NORMAL NO PARANÁ NA REPÚBLICA VELHA (1891-
1930): MENSAGENS DE GOVERNO E RELATÓRIOS DA INSTRUÇÃO PÚBLICA......... 222 
 
RESPOSTAS PARA O AMANHÃ: FUNÇÃO FORMADORA, INOVAÇÃO E 
TRANFORMAÇÃO DA REALIDADE LOCAL..................................................................... 235 
 
SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL: ESCOLA E SOCIEDADE NO 
RECONHECIMENTO DAS VARIEDADES LINGUÍSTICAS............................................... 243 
 
USO DE TECNOLOGIAS PELA GERAÇÃO “Z” E FORMAÇÃO CONTINUADA DE 
PROFESSORES PARA O DESAFIO DAS NOVAS GERAÇÕES...................................... 253 
 
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A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO ALUNO SURDO NO NÍVEL SUPERIOR: 
O ENFRENTAMENTO PELO PROFESSOR 
 
Evelin Seluchiniak Nunes 
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem/UEPG 
 
 
Resumo: A inclusão do aluno surdo em nível de graduação e pós-graduação é um 
desafio lançado às instituições de ensino superior, levando a necessidade de 
contratação de TILS (tradutor e intérprete de Libras) para oportunizar ao aluno acesso 
pleno aos conteúdos e facilitar a comunicação e interação em sala de aula. Para tanto, 
o professor tem um papel fundamental na formação do aluno, no entanto muitos 
professores não têm informação ou conhecimento sobre a cultura surda, a Libras, 
transformando em barreira para a formação de um discurso dando espaço a 
construção de narrativas (Ferreira, 2015), abrindo horizonte há novos letramentos 
contemplando o viso-espacial. Objetiva-se neste artigo discutir a importância do 
acesso ao conhecimento através da Libras, com a finalidade de incluir o aluno surdo 
com qualidade no ensino superior apoiando em pesquisas sobre a identidade, cultura 
e narrativas (STREET, 2007; FERREIRA, 2015). A partir de vivências em espaços 
acadêmicos e sendo surda, pude traçar novos olhares e perspectivas de acesso e 
inclusão do aluno surdo no ensino superior e ressaltar a importância do olhar do 
professor na perspectiva de acolhimento e enfrentamento da exclusão, para que o 
aluno não se isole e construa sua identidade acadêmica, desenvolvendo autonomia 
e um discurso onde se orgulhe de ser o que é: sou surdo. 
 
Palavras- chave: Libras; Acesso ao Ensino Superior; Enfrentamento da Exclusão. 
 
 
Objetivos 
 
Discutir com o auxílio de referenciais teóricos a importância do acesso ao 
conhecimento através da Libras com o objetivo de incluir o aluno surdo no ensino 
superior comtemplando sua singularidade linguística e cultural. 
 
Introdução 
 
O tema tratado neste artigo é uma preocupação minha e de muitos que lutam pela 
inclusão do surdo nas diferentes esferas de ensino, principalmente quando para que 
ocorra o acesso pleno seja preciso a contratação de TILS. Passado mais de dez anos 
após o sancionamento da lei federal 10.436/02 (chamada de lei da Libras) e do 
Decreto nº 5626/05, ainda existe muito o que se fazer para garantir o direito linguístico 
tanto por uma escola bilíngue como pela comunicação na sociedade. 
Segundo Albres e Oliveira (2013, p. 51) apesar do reconhecimento legal, tanto as 
escolas comuns como as universidades não legitimaram a Libras, visto que não a 
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reconhecem como língua materna do surdo, muito menos se torna objeto de pesquisa 
e discussão no meio universitário. Se observarmos a realidade presente dentro dos 
espaços acadêmicos, dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação, veremos 
que ainda é tímida a presença de alunos surdos. O que presenciamos é que nos 
cursos feitos para a formação de professores nas modalidades Letras –Libras- 
Português e Pedagogia Surda, se oferece um suporte envolvendo tecnologia com a 
presença de intérpretes e/ou professores surdos com nível de especialização e 
superior, bem como a oferta de provas em formato de vídeo em que as questões são 
lançadas em Libras por um tradutor e o aluno deve marcar as respostas que considera 
como corretas na folha impressa. 
A partir dessas situações, o objetivo deste artigo é discutir com o auxílio de 
referenciais teóricos a questão da identidade do aluno surdo no nível superior, a partir 
do enfrentamento do professor e sua contribuição para uma política linguística que 
contemple a língua de sinais no ambiente acadêmico. Levo em consideração Celani 
(2005), Ferreira (2015), Street (2007), Hall (2011) e Oliveira (2006), que destacam a 
identidade, cultura, narrativa e formação de professores, com a finalidade de refletir 
sobre o processo de inclusão do aluno surdo. Algumas questões surgem com relação 
ao sujeito surdo, sua língua, sua cultura e seu jeito de ser. Por exemplo, que 
concepção este profissional tem sobre cultura e identidade surda? O que se espera 
é proporcionar reflexões sobre a importância da identidade surda e o papel do 
professor na sua formação. 
 
Referencial teórico 
Celani (2005, p.103) cita o Código de Nuremberg, que trata da autonomia do ser 
humano e também a Declaração de Helsinque de 1964, que determina que os sujeitos 
devem receber o melhor tratamento que o país pode lhe dar. Esse é o enfoque que 
pode ser descrito para os sujeitos dos quais este artigo trata: o professor ouvinte e o 
aluno surdo. 
Mas em uma pesquisa de cunho narrativo sobre a contribuição na formação da 
identidade do aluno surdo a partir do olhar do professor, devem-se destacar alguns 
pontos importantes, pertinentes a todo pesquisador. Alguns pontos em destaque são 
a ética, valores (o que norteia as nossas ações de forma a agir em prol do próximo), 
olhar crítico-reflexivo, o conhecimento teórico, entre outros aspectos. 
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Destacamos Celani (2005) e Telles (2002), que descrevem o que é importante a todo 
professor-pesquisador na construção do conhecimento. Para ambos, é muito 
importante a questão ética e de valores, pois refletem a opinião do pesquisador em 
relação ao objeto pesquisado. Em destaque, cito a importância de leituras de artigos 
relacionados à identidade surda, tanto escritos por autores surdos como ouvintes, 
pois dentro deles temos uma dimensão mais ampla e descrição de situações em que 
ocorre o contato e/ ou influência do surdo/ouvinte. 
Gesser (2009) e Karnopp (2015) dão ênfase em seus textos sobre a comunidade 
surda e Karnopp descreve as diferenças presentes na narrativa surda, dando 
destaque ao sujeito surdo. E por fim, em Oliveira (2006), reveremos as práticas de 
formação do professor e do aluno surdo. 
 
O Sujeito Surdo 
Ao receber um aluno surdo em sala de aula, a primeira preocupação que vem ao 
professor é como ensinar a essa pessoa. Não parece nada simples, ainda mais 
quando não há um intérprete que facilite a comunicação entre ambas às partes. Como 
afirma Gesser (2009), o intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações 
entre surdos e ouvintes. Essa é uma das mais recorrentes situações comum nas 
escolas que se dizem inclusivas, mas que têm apenas um aluno surdo. Então, o olhar 
não é só do professor, mas no plural, de uma instituição como um todo, ou seja: a 
escola e a sociedade. Aqui, a linguagem, por ser um meio de transmissão cultural, 
também influencia as representações de poder em nossa sociedade, a finalidade de, 
pois, ao utilizar uma comunicação diferente, com isso, fato de o surdo desenvolver 
estratégias de comunicação destaca seu discurso da diferença, que segundo Souza 
(2011), quando percebida como política, proporciona troca de saberes culturais. 
Hoje, o que vemos é um debate da inclusão educacional de Surdos, isso porque 
devemos considerar dois aspectos centrais: a condição bilíngue e bicultural. Está 
questão de bilinguismo se refere ao fato de viver em um país em que a língua oficial 
é o Português e o fato de a língua de sinais ser a língua materna ou L1, faz com que 
o surdo tenha este adjetivo em relação ao uso de mais de uma língua (isso se 
relaciona tanto pelo fato de escrever o idioma como falar o mesmo, quando se é 
oralizado). Bicultural porque convive diariamente ou diretamente em contato com as 
duas culturas: surda e ouvinte. 
A introdução para dentro de uma cultura se dá pela subjetivação: 
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... é através do processo de subjetivação, sobretudo no campo da 
educação- e não apenas na escola-, que os sujeitos são conduzidos 
para o interior de uma cultura (neste caso a cultura surda). (Karnopp, 
2015, p. 1058). 
 
 
Neste ambiente, pode haver conciliações e conflitos, um deles se faz presente 
cotidianamente: a comunicação. Mesmo que a Libras contribua significativamente no 
desenvolvimento escolar do aluno surdo, para que isso ocorra plenamente é preciso 
repensar as políticas e práticas de letramento que acontecem no ambiente escolar e 
inclusive universitário com a finalidade de atravessar fronteiras como forma de 
imersão em outras culturas (Karnopp, 2015, p. 1057); 
Souza (2011) e Abreu (2016) destacam a importância da apropriação e identificação 
cultural da Libras, priorizando esta língua. Quando no ensino a língua portuguesa (a 
escrita e oral) é utilizada em detrimento da abordagem bilíngue (Libras- Português) 
acaba levando o aluno surdo a viver uma situação de conflito, contradições e 
exclusões no ambiente educacional. 
 
O olhar do professor 
Quando se inverte a questão da situação de inclusão do surdo na educação para o 
debate de como o professor vê ou percebe a condição da surdez dentro de sua sala 
de aula, o que primeiro está exposto é a cultura e conhecimentos sobre a Libras, o 
prisma da diferença, já que nossa sociedade imprime um parâmetro com relação ao 
que considera “anormal”. Para exemplificar, a história já se encarrega deste feito, ou 
seja, a conquista da humanidade é marcada pela opressão dos dominados, minorias 
e de quem é considerado “inferior”. É perspectivas de letramento social, aquele que 
molda as opiniões dos sujeitos, a aculturação através de ideologias e crenças, além 
da experiência profissional. Isso tudo, ou não, vai estar presente na ação do 
professor. Ele sabe que o fato de saber ler e escrever é porta de acesso ao 
conhecimento histórico e científico, e questiona a dificuldade do aluno surdo. Ele 
encontra dificuldade de “aculturar”, impor ideias e ideologias, pois não conhece a 
língua de sinais. 
O professor desconhece a situação real, os discursos produzidos pelo MEC e pela 
comunidade surda. Enquanto o MEC procura dar visibilidade à educação na escola 
comum como um direito fundamental de todos, de “forma genérica” (Stürmer, 2015, 
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p. 40), os discursos que circulam no movimento surdo representam o direito linguístico 
como um direito humano fundamental, o que a escola comum não oferece. 
A presença do surdo no meio acadêmico abre espaço para outras questões mais 
amplas como a formação de professores bilíngues, intérpretes de Libras e instrutores 
surdos, metodologias de ensino, visto que além de fazerem parte da vida do aluno 
surdo, são aspectos que vêm sendo discutidos amplamente na comunidade surda, 
principalmente em referência à Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada 
pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que coloca a Libras como Língua 
e abre espaço ao surdo para formação em nível superior para o ensino de sua língua 
materna (caso for a Libras). Essas leis também destacam a possibilidade de uma 
política linguística ao incluir a língua de sinais no meio acadêmico ao qual o professor 
deve ter conhecimento. 
 
Considerações finais 
 
Portanto, a inclusão do surdo e a formação de sua identidade dentro do espaço 
acadêmico é reflexo da acomodação de alguns sistemas (por exemplo, envolvendo 
questões políticas e/ ou administrativas, bem como falta de formação na área), e exige 
ações concretas para que o aluno possa participar dos estudos e desenvolver sua 
autonomia. Para tanto, uma pesquisa que investigue o olhar do professor deve, antes 
de tudo, procurar ouvir a experiência e dificuldades passadas pelos professores de 
universidades, que ao receberem um aluno surdo, sem ter preparo algum, chegam a 
buscar meios para que possam auxiliar na inclusão deste no ambiente acadêmico de 
forma plena. 
Os entraves gerados pela demora em solucionar questões como a falta de intérprete 
e materiais didáticos adequados, bem como a formação dos demais alunos da classe 
em língua de sinais também é relevante. O que importa em uma pesquisa desta 
alçada são textos que levem à reflexão sobre situações positivas e negativas frente à 
inclusão do surdo nas diferentes esferas do ensino superior. É uma minoria que tem 
acesso a ela, daí a importância de rever conceitos e quebrar tabus impostos por 
padrões criados em nossa sociedade. 
As práticas de letramento em nível acadêmico estão relacionadas a contextos 
culturais específicos e, segundo Street (2007), podem estar associadas com relações 
de poder e ideologias. Essas práticas são oriundas de diferentes modos de ver a 
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realidade, mas também de se reproduzir uma realidade (aculturação). os professores 
têm papel de destaque, pois são o elo entre teoria e prática dentro das universidades 
(e faculdades). Devemos considerar a importância da formação do professor em um 
olhar sistêmico, preocupado com a formação de todos, e que dentro das 
possibilidades busca conhecer as realidades de grupos minoritários que lutam por 
espaço no meio acadêmico (surdos, negros, índios). Pesquisas futuras que deem 
ênfase ao professor e a sua importância na formação do aluno surdo nos diferentes 
níveis de ensino, inclusive superior, são importantes, pois se constituem de narrativas 
de experiência profissional. 
 
Referência bibliográfica 
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no contexto escolar: Conflitos, contradições e exclusões. Tese (Doutorado)- Universidade 
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OLIVEIRA, Maria Bernadete Fernandes de. Revisitando a formação de professores de 
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STÜRMER, Ingrid Ertel. Educação Bilíngue: discursos que produzem a educação de 
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A CONSTRUÇÃO DO MITO DO PIONEIRO NA CIDADE DE JACAREZINHO-PR: 
ANÁLISE DE UMA FONTE MEMORIALISTA 
 
Raissa Leite Rodrigues 
Flávio Massami Martins Ruckstadter 
 
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) / Programa Iniciação Científica 
Voluntária (PIC-V) - PR 
 
Resumo: O presente trabalho propõe-se desenvolver uma análise da construção 
historiográfica do século XX sobre o mito do pioneiro na cidade de Jacarezinho-PR, 
por meio da investigação de uma obra memorialista sobre a história deste município, 
escrita pelo professor Thomaz Aimone. Trata-se do livro “Jacarezinho, seus Pioneiros 
desbravadores e os que labutaram para o progresso desta terra” (1975). Esta 
produção contém 140 páginas que abordam diversos temas relacionados à história 
da cidade, dentre os quais: a origem da fundação de Jacarezinho; os pioneiros e seus 
descendentes e os “Desbravadores de Jacarezinho”. Ao analisarmos esta obra, 
percebemos a valorização da imagem do pioneiro, embora em alguns momentos da 
narrativa, o autor evidencie a presença de outras populações presentes nessa 
localidade. Para compreendermos essa construção historiográfica, consideramos 
necessária a reflexão sobre alguns conceitos importantes, tais como mito e tradições 
inventadas. Isto é realizado no texto a partir dos estudos de Marcelo Silvério da Cruz 
(2007) e Eric J. Hobsbawm (2008) e contribui na compreensão da construção do mito 
do pioneiro norte-paranaense ao longo do século XX, como uma alternativa para 
esclarecer a origem dos habitantes dessa região, sendo a sua imagem associada a 
heróis que desbravaram terras “demograficamente vazias”. Partindo da concepção 
que a história deve ser entendida como um processo e sendo esse estudo de caráter 
documental e bibliográfico, analisamos o contexto político, cultural e econômico da 
produção dessa obra. Os resultados expostos fazem parte de uma pesquisa de 
iniciação científica em andamento, que possui a duração de um ano e apresenta como 
tema a construção do mito do pioneiro do Norte Velho do Paraná, que concebe como 
objetivo principal analisar o processo de composição deste discurso historiográfico ao 
longo do século XX através de análises de obras memorialistas dos municípios do 
Norte Velho. Este projeto se insere nas atividades do Grupo de Pesquisa 
HISTEDNOPR — “História, Sociedade e Educação no Brasil — GT Norte Pioneiro/ 
PR”. 
 
Palavras-chave: Mito, Pioneiro, Jacarezinho-PR. 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho é parte dos resultados da pesquisa intitulada “A 
construção do mito do pioneiro no Norte Velho do Paraná”. Com duração de um ano, 
tal pesquisa apresenta entre seus objetivos, analisar como se construiu a imagem do 
Pioneiro no Norte Velho do Paraná e investigar na historiografia oficial da região como 
se propagou o mito do pioneiro através de obras memorialistas de cada município 
desta localidade. Norte Velho ou Norte Pioneiro é a mesorregião do Estado do Paraná 
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que abrange atualmente 46 municípios, e se constituiu no símbolo inicial da 
(re)ocupação de todo norte deste Estado1. Este processo se inicia principalmente por 
migrantes paulistas e mineiros, que buscavam melhores condições de vida e novas 
terras para produzir, em meados da segunda metade do século XIX e se intensifica 
ao longo do século XX sobretudo com a produção de café. Apesar de esta região ser 
denominada de Norte Velho ou Norte Pioneiro, percebemos que a designação 
“pioneiro” é marcante em diversas obras que abordam a sua história. A imagem 
daqueles que são considerados pioneiros é associada a de heróis que levaram o 
“progresso” desbravando as terras consideradas “demograficamente vazias”. Nesse 
sentido, percebemos que o discurso histórico sobre essa região generaliza, silencia 
e estereotipa algumas populações, concebendo a região como não povoada antes da 
chegada destes “desbravadores” e assim desconsiderando, por exemplo, a presença 
de posseiros, sitiantes, grileiros, trabalhadores sem-terra e índios que já ocupavam 
este território e os embates violentos desse processo histórico de (re)ocupação. 
Desse modo, o uso do termo “(re)ocupação” neste trabalho é intencional e marca 
nossa posição diante de um discurso tradicionalmente construído na região. 
Este trabalho fornece uma análise crítica sobre esse decurso, que se torna 
relevante devido à carência de estudos e interpretações acadêmicas desta natureza, 
promovendo contribuições para o conhecimento histórico desta sociedade. Com isso, 
buscamos investigar sobre alguns dos elementos utilizados na construção do mito do 
pioneiro na cidade de Jacarezinho-PR através da análise da obra memorialista 
“Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que labutaram para o progresso 
desta terra” (1975), escrita pelo professor Thomaz Aimone. 
UMA BREVE HISTÓRIA DE JACAREZINHO E SEU CONTEXTO NO NORTE 
PIONEIRO 
A (re)ocupação do Norte do Paraná se iniciou a partir da segunda metade do 
século XIX e se intensificou ao longo do século XX, no sentido do Nordeste para o 
Noroeste do Estado, acompanhando a produção cafeeira nas terras roxas do Paraná. 
Isto desembocou nas três separações do norte do Paraná conhecidas como Norte 
Velho (ou Pioneiro), Norte Novo e Norte Novíssimo. 
                                                            
1 Esta região é composta por 46 municípios agregados nas microrregiões de Assaí, Cornélio 
Procópio, Ibaiti, Jacarezinho e Wenceslau Braz. 
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Uma vez que as separações do Norte do Paraná foram se consolidando, o 
adjetivo “velho” passou não agradar a elite econômica desta região, pelo fato deste 
termo depreciar esta localidade em detrimento do Norte Novo e Norte Novíssimo, 
fornecendo a estes últimos um caráter de moderno, prospero e melhor 
(RUCKSTADTER, 2017). É a partir destas separações que a designação “pioneiro”, 
começa a ser preferível, como uma forma de fornecer ao Norte Velho uma valorização 
através da sua relação com os sentidos de vanguarda, precursão e progresso, 
relacionando a imagem do “pioneiro” como um desbravador valente que levou o 
progresso a essas terras que passam a ser consideradas como não povoadas antes 
desua chegada. Tal associação passou a ser difundida ao longo do processo de 
colonização, através de diversos meios, como em discursos políticos, rádios e obras 
memorialistas, que juntos constituíram e difundiram o mito do pioneiro do Norte Velho 
do Panará. 
A história da (re)ocupação do Norte Pioneiro se insere em um contexto de 
dificuldades da província de São Paulo relacionadas ao cultivo de café. Desde o início 
da produção cafeeira no período imperial, São Paulo foi se constituindo como seu 
maior exportador. Para se ter uma ideia, em 1830, o café ocupava o terceiro lugar 
entre os produtos mais exportados do país e, devido a isto, houve em seu território 
um amplo processo de difusão da cafeicultura. Com o intuito de conter essa 
expansão, a província de São Paulo estabeleceu novos impostos sobre as novas 
plantações, tal fato aliado à exaustão do solo provocada pelo cultivo de café, 
contribuiu para que fazendeiros se interessassem pelas “terras roxas” do Norte do 
Estado do Paraná, constituindo a primeira onda migratória para o Norte Pioneiro, que 
contou com a presença de paulistas e mineiros. Outro fator que contribuiu para o 
processo de difusão do plantio do café para o Paraná foi a estrada de Ferro 
Sorocabana, que passava por Ourinhos no Estado de São Paulo, tal estrada chamou 
a atenção de fazendeiros situados no norte do Paraná, pois viram uma alternativa de 
escoar o café. Nesse sentido, o grupo de Barbosa Ferraz2 consegue em 1920 uma 
concessão junto ao governo do Paraná para a construção da Estrada de Ferro 
São Paulo-Paraná que sairia de São Paulo em direção a oeste do norte do Paraná 
até chegar ao Rio Paraná e por fim ligar-se ao Paraguai. Sem capital para o 
                                                            
2    O  paulista  Antônio  Barbosa  Ferraz,  fundou  juntamente  com  seus  filhos  e  outros  produtores  a 
Sociedade Agrícola Barbosa, que mais tarde passou a se chamar Companhia Agrícola Barbosa.  
 
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prosseguimento de tal construção, foram atraídos capitais ingleses que através do 
registro em São Paulo da Brazil Plantations Syndicate Ltd, que passou a ser 
denominada de Companhia de Terras do Norte do Paraná, as obras tiveram seu 
prosseguimento. É nesta região que o atual município de Jacarezinho situa-se. 
Obtendo divisa com o município de Ourinhos-SP, o desenvolvimento desta localidade 
foi bastante impulsionado pela produção de café vinda de São Paulo. Com base nos 
dados do IBGE3 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) o município de 
Jacarezinho constituiu sua delimitação territorial atual somente em 1964, de acordo 
com sua história administrativa oficial, no dia 2 de abril de 1900 parte da região 
agregada ao município de Tomazina foi desmembrada pela lei n ° 522 recebendo o 
nome de Nova Alcântara, em referência a uma das primeiras famílias a chegar à 
região em meados de 1888 e fundar a fazenda do Prata. Em 3 de abril de 1902 o 
nome deste município foi modificado para Jacarezinho pela lei n° 471, em referência 
a um rio desta região com o mesmo nome. Em 28 de março de 1923, este município 
perde parte de sua configuração territorial com o desmembramento do município de 
Cambará pela lei estadual n° 2208 e em 1964 sofre novamente outra modificação 
com o desmembramento do Barra do Jacaré através de sua elevação a município 
pela lei Estadual n.º 4810. 
ANALISE DA FONTE MEMORIALISTA DE THOMAZ AIMONE 
Uma das dificuldades encontradas por aqueles que se dedicam ao estudo 
histórico sobre o município de Jacarezinho e sobre a região do Norte Velho é o pouco 
número de estudos acadêmicos sobre estes espaços geográficos. Assim, a maior 
parte dos registros sobre a história dos municípios que a pesquisa tem encontrado, 
constituem-se em obras escritas por intelectuais diversos, memorialistas e não 
necessariamente historiadores de ofício, com habilidades de pesquisa histórica. 
A obra de Aimone é importante para o município de Jacarezinho, pois se 
constituiu em um símbolo de sua memória histórica (EVANGELISTA, 2012); 
entretanto, deve-se evidenciar que há nesta região disputa de diferentes memórias, 
e a seleção de algumas delas pelo autor, se constituiu em força de propagar e 
                                                            
3 Informações acessadas no sitio eletrônico do IBGE: 
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/parana/jacarezinho.pdf acesso em 12 de 
novembro de 2017. 
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perpetuar uma determinada interpretação dos fatos históricos. A intencionalidade de 
perpetuar uma interpretação do passado e/ou ressaltar determinados sujeitos envolve 
emoções, memórias e experiências vividas como foi o caso de Aimone, e é partindo 
dessas concepções que buscamos pesquisar essa constituição do mito do pioneiro 
no caso de Jacarezinho através da análise desta obra.  
Para compreendermos essa construção historiográfica, consideramos 
necessária a reflexão sobre o que são mitos, como surgem e como atuam em uma 
determinada comunidade. Em geral, os mitos surgem como uma alternativa para 
esclarecer determinadas circunstâncias, orientar um entendimento ou como 
explicação de algum acontecimento, que nos fazem refletir sobre nossas origens:  
Os mitos são definidos como uma explicação dos fatos atuais através 
de acontecimentos primordiais, que se encontram sempre presentes, 
sendo que, pelo rito, se faz a ligação do atual primordial. Deste modo, 
os mitos, ao se referirem aos acontecimentos primordiais, estão nos 
trazendo uma explicação atual [...]. (CRUZ, 2007, p.2). 
É nesse sentido, que o mito do pioneiro do Norte Velho do Paraná construído 
ao longo do século XX, evidencia uma alternativa para esclarecer a origem dos 
habitantes desta região. É partindo de tais concepções que podemos melhor analisar 
a construção da imagem destes pioneiros, associada a heróis desbravadores das 
terras consideradas “demograficamente vazias”. Assim, a compreensão do mito do 
pioneiro do Norte Velho do Paraná, nos auxilia no entendimento da própria formação 
da identidade desta região, possibilitando uma significação da existência de sua 
população. 
A obra memorialista “Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que 
labutaram para o progresso desta terra” pode ter sido importante na construção de 
determinada imagem do pioneiro jacarezinhense. Escrita em 1975, contém 140 
páginas divididas em subtítulos, dentre os quais destacamos aqueles que exaltam os 
personagens considerados pioneiros e seus descendentes, a história da cidade como 
também os que abordam figuras que não são consideradas pioneiras, mas, são 
evidenciados com destaque por terem auxiliado o município em seu desenvolvimento.  
O autor do livro, Tomaz Aimone, foi professor, criador do único museu 
particular da cidade que se encontra desativado atualmente e recebeu destaque 
como diretor do Colégio Rui Barbosa deste município. Mesmo não possuindo 
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formação de historiador, o que é habitual em memorialistas, escreveu vários livros4 
que narram fatos históricos sobre a cidade. Entretanto, o autor apresenta uma visão 
ingênua de História como verdade, em oposição a uma história ficção (AIMONE, 
1975, p. 2).  
O título do livro deixa transparecer a quem se destina a sua valorização e 
exaltação, pois a denominação de pioneiro é concedida somente para determinados 
sujeitos. Percebemos tal aspecto logo no início da obra, na passagem que o autor 
discorre sobre os dados obtidos no cemitério, sobre o nascimentoe falecimento dos 
“considerados pioneiros”: 
A tarefa foi cansativa e dispendiosa, mas, a verdade surge para o 
conhecimento dos filhos dessa terra e para a grandeza do Paraná e 
do Brasil. Os verdadeiros PIONEIROS repousam o sono eterno mas, 
suas almas perambulam pelo espaço infinito e vigilantes, não 
permitindo a deturpação da verdade na fundação deste rincão querido 
e respeitado. (AIMONE, 1975 p1). [grifo nosso]. 
Percebemos por meio dessa declaração, percebemos a intencionalidade de 
Aimone em enfatizar determinadas figuras que ele concebe como “verdadeiros” 
pioneiros, porém, tal enfoque nos proporciona estabelecer uma indagação, partindo 
da análise desta declaração. Como existem os pioneiros verdadeiros, podemos 
deduzir que o autor reconhece indiretamente que existiram outros pioneiros que, no 
entanto, não são considerados verdadeiros? E por que não são “pioneiros 
verdadeiros”? 
Encontramos resposta para estas questões em algumas partes do livro, na 
medida em que o autor apresenta a presença de posseiros na região antes da 
chegada da família Alcântara (AIMONE, 1975, p. 4). Com isso, percebemos que 
Aimone estabelece a exaltação da imagem do pioneiro e, ao mesmo tempo silencia 
a presença de outras populações presentes nesse processo histórico. Essa 
dualidade, de exaltar e omitir é bem evidenciada quando contrapomos com outra 
declaração do autor ao expressar que “A cidade crescia dia a dia, com a chegada de 
caravanas e também de parentes daqueles primeiros desbravadores, que com 
justiça chamamos de PIONEIROS”. (AIMONE, 1975, p.9). [grifo nosso]. 
Essa contradição nos remete às concepções de Eric J. Hobsbawm (2008) a 
respeito das tradições inventadas em que afirma que estas, se originam como 
                                                            
4 Entre eles estão “Meu Ginásio Rui Barbosa” de 1988 e “Histórico de Marques dos Reis” de 
1986.  
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respostas a novas circunstâncias e buscam estabelecer continuidade ao passado e 
cristalizar uma identidade, fornecendo um sentimento de união nessa sociedade. As 
tradições inventadas podem ser denominadas como uma junção de diversas práticas, 
que são organizadas por normas que podem ser simbólicas ou rituais, possuindo o 
objetivo de estabelecer determinados valores e princípios pela repetição. O passado, 
em que se busca desenvolver essa continuidade não necessita ser distante, algumas 
tradições diferentemente do que se pensa são bem recentes, com isso há tradições 
que podem ser remotas, parcialmente ou totalmente inventadas. (HOBOSBAWM, 
2008). Nesse sentido, a figura do pioneiro construída pela historiografia ao longo do 
século XX, proporcionou uma continuidade com o passado que remonta a origem da 
população desta região, e esse discurso se tornou uma tradição inventada.  
Estudos recentes evidenciam a presença de diversas populações na região 
no período abordado por Aimone, embora ele não os mencione. O trabalho de 
Aparecida Vaz da Silva Bahls (2007), por exemplo, sobre a relação da memória e 
identidade através da análise de diferentes momentos do Estado do Paraná, 
evidencia em seu tópico sobre a (Re)ocupação do Norte do Paraná aspectos de 
violência que marcaram a história da expulsão de índios, posseiros e grileiros nas 
terras do Norte do Paraná. Desse modo, há presença de um discurso identitário sobre 
o Norte do Paraná na obra de Aimone, em que se busca construir um sentimento de 
comunidade e pertencimento, ao evidenciar as características do discurso desta 
região. 
Outro elemento constante na obra é a referência ao “Eldorado” que evidencia 
a intencionalidade de relacionar as terras consideradas “demograficamente vazias” 
com riqueza, prosperidade e progresso, como neste trecho: “A população aumentava 
dia a dia e era preciso construir casa para acomodar os que aqui se achavam e 
também os novos colonos e caravanistas que vinham para o NOVO ELDORADO 
PARANAENSE”. (AIMONE, 1975, p.55). [grifo nosso]. Em outra passagem o autor 
afirma que “Com o crescimento da população, que dia a dia aumentava com a 
chegada de caravanas em busca do Eldorado Paranaense, foi preciso criar um 
correio, a fim de receber e remeter a correspondência para as cidades vizinhas”. 
(AIMONE, 1975, p.85). [grifo nosso].  
Além das referências ao Eldorado, o autor também nos mostra a intenção de 
relacionar o município com riquezas, prosperidade e progresso ao discorrer sobre a 
fazenda de Costa Júnior, “[...] pertence ao município de Jacarezinho e às margens do 
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rio PARANAPANEMA, foi a maior propagandista das riquezas do Sertão 
Paranaense e de suas ricas terras”. (AIMONE, 1975, p.93). [grifo nosso]. Apesar 
de percebermos a presença de elementos do discurso do Norte Paranaense nesta 
obra, há um distanciamento em relação a este em detrimento da valorização da região 
do Norte Pioneiro em específico:  
Não quero descrever o que meus olhos não viram e que o sentido não 
recorde. Tudo isso está gravado no meu cérebro. Muitos 
acontecimentos se perderam no transcorrer dos anos, porém os 
descendentes dos ALCÂNTARAS, BATISTAS, FIQUEIREDO, só eles 
e seus desconhecidos mais velhos poderão dizer o que PASSARAM 
neste NORTE DO PARANÁ, intitulado com justiça o NORTE 
PIONEIRO. (AIMONE, 1975 p. 6). [grifo nosso]. 
Há no discurso sobre o Norte do Paraná a concepção que essa região foi a 
pioneira na ocupação de todo Estado. “Jacarezinho, cidade pioneira do Norte Velho, 
hoje com orgulho denominada CIDADE UNIVERSITÁRIA, possue um clima ameno e 
uma população ordeira e hospitaleira”. (AIMONE, 1975, p.10). [grifo nosso]. Em outro 
momento o autor expressa que “Jacarezinho sempre primou pela liderança em suas 
realizações. Pioneiro do Norte sempre foi lembrada pelos dirigentes do Estado (...)”. 
(AIMONE, 1975, p.139) [grifo nosso].  
A obra também estabelece destaque para o município ao transmitir a imagem 
deste como mais avançado do que o resto desta localidade ao declarar que 
“Jacarezinho, cidade PIONEIRA em tudo, está fartamente provida de ESTAÇÕES 
DE RADIO RECEPTORES E também TRANSMISSORAS”. (AIMONE, 1975, p.95). 
[grifo nosso]. Em outra passagem afirma que “A cidade de Jacarezinho sempre foi 
considerada a Cidade Pioneira e as novidades atraiam sempre seus habitantes”. 
(AIMONE, 1975, p.110). [grifo nosso]. Essa construção de uma ideia de cidade de 
vanguarda fica explícita em outros tantos trechos do livro.  
Ao apresentar personagens considerados pioneiros, encontrados nos 
diversos subtítulos espalhados pela obra, o autor relaciona a imagem do pioneiro com 
progresso, como são os casos de Capitão João Gasparino, Plácido Bertozzi e Abu-
Jamra. “Foi João Gasparino um dos PIONEIROS e que também contribuiu para o 
progresso de Jacarezinho”. (AIMONE, 1975, p.18). [grifo nosso]. Aimone lhe associa 
a ideia de progresso por este ter desenvolvido diversos ofícios durante sua vida como 
mensageiro, comerciante, vereador e posteriormente se tornado fazendeiro. No 
segundo caso, teria sido “PLACÍDO BERTOZZI, um dos grandes pioneiros de 
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Jacarezinho e que muito trabalhou para o progresso desta cidade, tendo vindo para 
cá em 1902”. (AIMONE, 1985, p.22) [grifo nosso]. Bertozzi teria contribuído para o 
progresso, pois, fundou a primeira padaria em 1910 e posteriormente um cinema 
mudo que em 1929 passa a ser falado. 
A análise de tais exemplificações, nos leva a compreender a intencionalidade 
do autor de valorizar os pioneiros como aqueles que contribuíram de alguma forma 
parao município se desenvolver; nestes casos, a questão do progresso é o ponto 
central, o que nos leva a perceber que a idealização do desenvolvimento se relaciona 
com a concepção de pioneirismo da região, sendo o Norte Velho considerado pioneiro 
na (re)ocupação de todo o Norte do Estado do Paraná. Assim, o autor estabelece a 
construção da imagem de progresso como uma forma de ligar com o passado 
histórico da região e fornecer a ideia de continuidade. Tal concepção constitui a 
sensação de reconhecimento de um mesmo grupo social.  
Devemos lembrar que na medida em que a colonização do norte do Paraná 
foi expandindo para além da região conhecida como Norte Velho, as novas regiões 
colonizadas no sentido noroeste, ganharam destaque e o Norte Pioneiro começa a 
perder espaço. “Naquele contexto, o centro econômico de todo o norte do Paraná 
estava migrando para o Norte Novo, especialmente para as regiões de Londrina e 
Maringá, sobretudo a partir da ação planejada da CTNP 5 ” (RUCKSTADTER, 2017, 
p.18). Percebemos que o processo de colonização para o noroeste e a construção 
das separações do norte do Paraná em Norte Velho, Novo e Novíssimo, foi se 
consolidando ao longo do tempo, e devido a esta circunstância é provável que Aimone 
buscasse reafirmar a importância dos “pioneiros” como uma alternativa de resgatar o 
destaque que o Norte Pioneiro possuíra em momentos anteriores. 
CONCLUSÃO 
A importância de refletirmos sobre a construção do discurso do mito do 
pioneiro em Jacarezinho-PR, se dá na medida em que através dele podemos 
compreender a construção de sentimentos de identificação, pertencimento e 
reconhecimento desta localidade. Percebemos que para isso, Aimone selecionou 
determinados sujeitos e silenciou outros em sua obra, esta seleção também ocorreu 
em outras possíveis memórias presentes em Jacarezinho. 
                                                            
5   Companhia de Terras Norte do Paraná 
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As análises amparadas em Hobsbawm (2008) nos mostraram que essa 
construção pode ser denominada como uma tradição inventada; a investida de 
Aimone em relacionar o progresso com a figura do pioneiro desta região demonstra 
a sua intencionalidade de estabelecer uma continuidade com o passado, e explicar 
as circunstâncias do presente como vimos com Cruz (2007). Com base em tais 
constatações, é necessário ressaltar a história dessas populações omitidas, para 
possibilitar uma nova concepção de memória e identidade deste município. O 
presente trabalho buscou analisar uma das obras que possivelmente contribuíram 
para a construção de uma imagem de pioneiro na cidade de Jacarezinho-PR. As 
discussões apresentadas não apresentam por finalidades esgotar o assunto, mas, 
possibilitar futuras interpretações a respeito do tema. 
 
REFERÊNCIAS 
AIMONE, T. Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que labutaram para o 
progresso desta terra. Jacarezinho, PR: s/e, 1975. 
 
BAHLS, A.V.S. A BUSCA DE VALORES IDENTITÁRIOS: A MEMÓRIA HISTÓRICA 
PARANAENSE. Curitiba, UFPR, 2007. (Tese de Doutorado) 
 
CRUZ, M. S. Mitos – suas origens e sua importância para o homem contemporâneo. 
Centro de pesquisas estratégicas “Paulino Soares de Souza”. Universidade Federal de Juiz 
de Fora. 2007. 
 
EVANGELISTA, L. F. Silêncios, exclusões e saudosismo: reflexões teóricas 
fundamentadas na memória histórica Jacarezinhense. Londrina, UEL, 2012. (Dissertação de 
Mestrado em História). 
 
HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Org.). A invenção das tradições. 3. ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 2002. 
 
IBGE. lNSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Município de 
Jacarezinho. Disponível em: 
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/parana/jacarezinho.pdf> acesso em outubro 
de 2017. 
 
RUCKSTADTER, F. M. M. Os Grupos Escolares e a institucionalização da educação primária 
no Norte Pioneiro do Paraná (1910-1971). In: XVI Jornada do HISTEDBR, 2017, Foz do 
Iguaçu. Anais da XIV Jornada do HISTEDBR: pedagogia histórico-crítica, educação e 
revolução: 100 anos da Revolução Russa, 03 a 05 de 2017, 2017. v. 1. 
 
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A EDUCAÇÃO NO ESTADO DO PARANÁ NO CONTEXTO DA PRIMEIRA 
REPÚBLICA (1889-1930) 
Lara Gonçalves Lopes 
 
Flávio Massami Martins Ruckstadter 
 
Universidade Estadual do Norte do Paraná- UENP 
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) 
Fundação Araucária, Paraná. 
 
Resumo: Este trabalho é resultado parcial de uma pesquisa de iniciação científica de 
caráter bibliográfico e documental, que tem como tema a educação nas mensagens 
de governo paranaense no período da chamada República Velha. O objetivo deste 
texto é realizar uma apresentação contextualizada das principais fontes que serão 
analisadas posteriormente na investigação; trata-se de 42 mensagens de 
governadores escritas entre 1892 e 1930, disponíveis no site do Arquivo Público do 
Paraná. Para isto, discutiremos como se apresentava naquele período a situação 
politica, econômica e social do Brasil e do estado do Paraná, a partir do debate 
historiográfico e educacional, o que se caracteriza como a primeira etapa da pesquisa. 
O texto discute que após a instalação do regime republicano em 1889, instaurou-se 
em todo o país uma ânsia pelo moderno que fez aflorar o sentimento de que era 
necessário modificar pensamentos, criar novos órgãos e romper com as velhas 
estruturas. Foi nesse período que surgiu em âmbito nacional o que o pesquisador 
Jorge Nagle chamou de “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”. O 
estado do Paraná, assim como todo o país, foi afetado por esses pensamentos, e a 
educação então passou a ser vista como solução para diversas mazelas e novos 
problemas sociais. O analfabetismo, por exemplo, deveria ser combatido; era 
necessária a criação de uma estrutura para receber o grande contingente de 
imigrantes que vieram em busca de trabalho e formaram grupos de povoamento no 
estado; deveria se pensar em um modelo formativo no qual fossem formados 
cidadãos em vez de súditos, prontos para o trabalho e para amar a pátria brasileira. 
A educação, nesse contexto, ganhou papel de destaque e recebeu ampla legislação 
como o decreto n° 31 de 29 de janeiro de 1890 que é considerado o primeiro 
regulamento de organização da instrução pública do estado do Paraná. Esta pesquisa 
se insere nas ações desenvolvidas pelo grupo de pesquisa cadastrado no CNPq 
“História, Sociedade e Educação no Brasil – GT Norte Pioneiro do Paraná 
(HISTEDNOPR)”, sediado na Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus de 
Jacarezinho. 
 
 
 Palavras-chave: Educação; República Velha; Estado do Paraná. 
 
Introdução 
Este texto foi desenvolvido como resultado parcial de uma pesquisa de 
iniciação científica que tem como objetivo compreender como era tratada a questão 
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da educação nos primórdios da República no estado do Paraná, por meio da 
identificação dos discursos oficiais encontrados nas mensagens de governadores 
paranaenses. Este é o desafio proposto para a pesquisa como um todo, mas para 
que isso se torne possível foi necessária uma contextualização das fontes, a partir do 
debate sobre a época de que estamos tratando, por meio de uma pesquisa 
bibliográfica que nos ajudasse a compreender a temática e o período e, para tanto, 
utilizamos de estudos já elaborados e publicados por historiadoras e historiadores, 
como Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling (2015), Jorge Nagle (2009), entre outros.  
Nesse sentido, o objetivo deste texto em particular é trazer a contextualizaçãodas fontes que serão analisadas futuramente na pesquisa, isto é, as mensagens de 
governadores paranaenses no início da República. Como se encontravam o Brasil e 
o estado do Paraná após a mudança de regime? Como as mudanças advindas pelo 
regime republicano afetaram diretamente a forma como a educação passou a ser 
vista e tratada? Este é o norte que guiará nossas discussões. Perceber como se 
encontrava o quadro nacional politico, econômico e social brasileiro pós-1889 é de 
grande importância para compreensão de certos discursos oficiais e de como se deu 
o processo de escolarização.  
A proposta deste trabalho é apresentar as peças de um quebra-cabeças que 
montado daria origem aos primeiros passos da escolarização no estado do Paraná. 
Pressupõe-se que nenhum fato ocorre isoladamente e que as discussões e ações 
nacionais afetavam diretamente e indiretamente as ações e discussões estaduais. 
Sem esquecer que a história é um processo que envolve vários agentes em diferentes 
níveis. 
 Para cumprir os objetivos propostos, este texto está dividido em duas partes: 
na primeira, apresenta-se uma discussão contextualizada dos primeiros anos da 
República no Brasil e no Paraná e posteriormente, na segunda parte, são 
apresentadas as fontes que serão analisadas na próxima etapa da pesquisa – as 
mensagens de governadores paranaenses naquele período. Estas mensagens estão 
disponíveis para consulta no Arquivo Público do Estado do Paraná6 e no total serão 
                                                            
6 O Arquivo Público do Estado do Paraná foi criado em 1855 e hoje tem como finalidade 
administrar o patrimônio documental do estado do Paraná. Reúne documentação referente ao poder 
público, além de guardá-la e conservá-la. Possui sede física na cidade de Curitiba e se pode ter acesso 
ao seu acervo via internet pelo site http://www.arquivopublico.pr.gov.br/.  
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analisados 42 documentos produzidos pelo poder executivo no período de 1889 a 
1930. 
 
O Brasil pós-1889: a Educação como bandeira republicana 
 
Após o 15 de novembro de 1889 as mudanças necessárias à construção da 
sociedade e das instituições republicanas foram operadas de forma lenta e gradual. 
O golpe militar que instaurou a República foi feito sem participação efetiva da 
população brasileira: “A República se faria como a Independência se fizera – sem a 
colaboração das massas. O novo regime resultaria de um golpe militar. Nos meios 
republicanos, a estratégia conspiratória prevaleceu sobre a estratégia revolucionária.” 
(COSTA, 1999,p. 15) 
Assim, pouca coisa mudou nas primeiras décadas da República, o Brasil era e 
continuava a ser um país com população majoritariamente de analfabetos, com suas 
bases econômicas firmadas no sistema agrícola, a abolição da escravidão tinha sido 
conquistada há pouco tempo e as raízes do sistema oligárquico eram muito fortes.  
Ao analisarmos a educação no estado do Paraná nas origens da construção 
de nosso sistema nacional de educação, isto é, na República Velha, deve-se discutir 
como se encontrava o cenário nacional em vários aspectos, tais como sociais, 
políticos e econômicos. O período em questão foi marcado pela necessidade de 
modernização e rompimento com as estruturas do antigo regime: a monarquia era 
vista por muitos como causadora dos principais problemas enfrentados pelo Brasil e 
por conta disto, os representantes políticos se esforçavam para romper ou ao menos 
mascarar tudo o que remetesse à ela: “Para provar que a República vinha para ficar, 
alternavam-se rapidamente nomes e símbolos na tentativa de dar mais concretude à 
mudança efetiva de regime” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p.318). As demandas 
sociais trazidas com a República transformavam o Brasil em palco de disputas e 
discussões acerca de como a sociedade se organizaria. As relações de trabalho não 
eram mais pautadas na mão de obra escrava, várias correntes de pensamento 
adentravam o país vindas da Europa, começava-se a pensar na questão da 
industrialização. A imigração era crescente, por fim, alterações eram necessárias 
para que o Brasil conseguisse se organizar frente a todas essas pautas. 
Com o anseio por mudanças, a educação ganha papel de destaque e então 
começa a ser vista como solução para a maioria dos problemas enfrentados em todo 
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o país. Aos poucos, surgem grupos que pretendiam se beneficiar por meio da 
educação e por conta disto ela passa a ser entendida como solução, mas também 
como lugar de disputas ideológicas, politicas e econômicas. Dentre esses grupos, 
merecem destaque: (1) a Igreja Católica, que procurava inserir nas escolas seus 
pensamentos para reforçar os dogmas da igreja; (2) a liga nacionalista que tinha como 
objetivo que todos pudessem votar; (3) as elites que precisavam de mão de obra 
minimamente qualificada para o trabalho nas fábricas; (4) ainda havia os professores 
que buscavam, de fato, uma melhora na educação. 
Este papel de protagonista que a educação ganha em meio às discussões 
nacionais, é caracterizado pelo historiador Jorge Nagle (2009) como “entusiasmo pela 
educação” e “otimismo pedagógico”:  
 
De um lado, existe a crença de que, pela multiplicação das instituições 
escolares, da disseminação da educação escolar, será possível 
incorporar grandes camadas da população na senda do progresso 
nacional, e colocar o Brasil no caminho das grandes nações do mundo; 
de outro lado, existe a crença de que determinadas formulações do 
novo homem brasileiro. (NAGLE, 2009, p. 100) 
 
Neste sentido, o “entusiasmo pela educação” buscava a abertura de escolas, 
principalmente do ensino primário que seria responsável por alfabetizar a população 
e prepará-la para o voto e por outro lado o “otimismo pedagógico” possuía uma 
preocupação com os conteúdos e a metodologia que seria aplicada nas salas de aula. 
Para atender à demanda foi elaborada, em vários estados da federação, uma 
ampla legislação sobre a questão educacional, como é o caso do decreto n° 31 de 29 
de janeiro de 1890 que é considerado o primeiro regulamento de organização da 
instrução pública do estado do Paraná. 
 
No Paraná, no período de 1889 a 1900 foram estabelecidas diversas 
leis, decretos e regulamentos decisivos para a organização e 
desenvolvimento do ensino público. Na medida em que se expandiam 
a urbanização e o crescimento populacional, almejavam-se maiores 
condições de oferta da instrução pública para o atendimento da 
população paranaense em idade escolar (MACHADO; MELO, 2010, 
p.1). 
 
Como em todo o país, o Paraná passou por um período de constante 
elaboração de leis, decretos, regulamentos, projetos e reformas visando à 
organização das instituições escolares. Este debate era amplo e incluía discussões 
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sobre, como por exemplo, qual órgão seria responsável por ofertar as vagas, quem 
pagaria os professores, onde estes professores seriam preparados, quem construiria 
as escolas e as manteria e qual a melhor metodologia para atender o maior número 
de alunos no menor tempo possível para que o analfabetismo fosse combatido. A 
respeito da última questão, o voto era proibido para aqueles que não soubessem ler 
e escrever7, transformando o analfabetismo em grande o vilão contra a prosperidade 
do país. . Diante disso, a solução vista seria a disseminação da escolarização:  
 
O Brasil, especialmente no decênio dos anos vinte, vive uma hora 
decisiva, que está a exigir outros padrões de relações e de convivência 
humanas, imediatamentedecorre a crença na possibilidade de 
reformar a sociedade pela reforma do homem, para o que a 
escolarização tem um papel insubstituível, pois é interpretada como o 
mais decisivo instrumento de aceleração histórica (NAGLE, 2009, p. 
100).  
 
Para além de ensinar os analfabetos, o Paraná assim como o Brasil recebia 
um grande contingente de imigrantes que vieram em busca de trabalho e constituíram 
grupos de povoamento:  
 
Mesmo ao fim do século XIX, as cidades paranaenses de algum 
destaque, com melhores condições de conforto e população superior 
a 10.000 habitantes, mal ultrapassavam uma dezena... Nesse 
panorama precário, foi um fator determinante de transformação da 
politica imigratória, que sob, o inventivo do governo central encontrou 
eco nas iniciativas da administração local. Colônias foram instaladas, 
muitas delas próximas a sítios urbanos. Alemães, poloneses, 
italianos, ucranianos, entre, outros, chegaram em grandes levas, 
destinados preferencialmente ao trabalho na lavoura (TRINDADE; 
ANDREAZZA, 2001, p. 51). 
 
Esses imigrantes vinham carregados de seus próprios costumes, idiomas e 
modos de se comportar: “Como observou o Inspetor de Educação Martinez, já na 
década de 1920, cada colônia se instituía sem perder a menor característica da 
nacionalidade dos imigrantes...” (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p.51). Muitas eram 
as colônias que possuíam suas próprias “escolas” que ensinavam no seu idioma e 
com base em seus costumes, o que se tornava um problema para os governantes, 
                                                            
7 Segundo o art. 70 da primeira Constituição Republicana, de 1891, o voto era permitido apenas 
para homens considerados brasileiros com idade superior a 21 anos, salvo os mendigos, analfabetos, 
militares e religiosos de ordens sujeitos a voto de obediência, regra ou estatuto que implicasse na 
renúncia da liberdade individual. (BRASIL, 1891).  
 
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que projetavam a nação centrada no ideal de unidade. Era necessário pensar um 
modelo que formasse os analfabetos, os imigrantes e que os transformassem em 
cidadãos brasileiros, prontos para o trabalho e para amar a pátria brasileira e, nesse 
momento, a escola passa a ser espaço para disseminação de modelos de 
comportamento moral e cívico, segundo Schueler e Magaldi: 
 
Um outro elemento-chave a ser observado no projeto da escola 
primária republicana diz respeito ao papel assumido por essa 
instituição na formação do caráter e no desenvolvimento de virtudes 
morais, de sentimentos patrióticos e de disciplina na criança. 
Mensagens de caráter moralizante e cívico foram amplamente 
propagadas pela escola pública primária, por meio de formas 
diversas, como a presença de símbolos patrióticos no dia-a-dia da 
escola e nas situações festivas, o enlaçamento do tempo escolar ao 
calendário cívico, as leituras prescritas aos alunos, entre outras. Esse 
viés civilizador se dirigia a um público interno à escola, constituído 
basicamente por alunos e famílias, estendendo-se ainda para fora dos 
muros escolares, de modo a atingir a sociedade como um todo. (2008, 
p.45) 
 
Durante toda a Primeira República, vários foram os movimentos e propostas 
desenvolvidos no ramo da educação, o que deu origem ao que hoje conhecemos 
como sistema nacional de educação; dentre eles, o movimento da Escola Nova foi 
um dos mais importantes. Esse movimento contou com vários nomes de destaque 
como Sampaio Doria (1883-1964), Lourenço Filho (1897-1970), Anísio Teixeira 
(1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974) e no Paraná, Lisímaco Costa (1883-
1941). A grande bandeira do movimento consistia em uma escola pública, universal 
e gratuita, que atingisse a toda a população brasileira, além disso, o ensino deveria 
ser leigo, portanto sem a influência religiosa, tão presente nos meios educacionais 
desde a colonização.  
Buscou-se constantemente durante a Primeira República um modelo de escola 
que atendesse aos novos modos que se configuravam na sociedade brasileira. Em 
outros termos, para os republicanos, tratava-se de construir uma escola que 
superasse o atraso que fora imposto pela colonização e monarquia, uma escola que 
acompanhasse as transformações sociais que nasceram com a República e que 
conduzisse a nação ao progresso.  
 
 
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As mensagens de governadores paranaenses e a Educação no início da 
República 
 
Neste trabalho, realizamos uma apresentação contextualizada das fontes que 
serão analisadas na próxima etapa da pesquisa de iniciação científica: as mensagens 
de governadores do Estado do Paraná, no período de 1889 a 1930. Estas mensagens 
são relatórios escritos uma vez ao ano pelo então governador do estado do Paraná e 
apresentadas ao Congresso Legislativo do Estado, com intuito de informar como foi 
feita a administração do estado pelo poder Executivo. No interior dessas mensagens 
é possível perceber a vontade de demostrar como o estado estava se desenvolvendo 
e indo rumo ao progresso, tão ansiado no período em questão. A apresentação 
dessas mensagens está prevista em lei no artigo 47 da Constituição Política do 
Estado na época e, portanto deveriam ser escritas todos os anos, sem interrupções.  
A respeito do conteúdo, percebe-se uma variedade de informações sobre 
muitos assuntos de diferentes esferas, passando por economia, educação, 
sociedade, legislação, segurança, saúde, entre outros. Em algumas mensagens, por 
exemplo, encontramos um demonstrativo da receita do estado e as explicações 
acerca dos gastos e recolhimentos feitos durante o ano. Também é possível observar 
as nomeações para cargos públicos, as medidas de segurança implantadas, como se 
encontrava a saúde da população paranaense, se foram atingidos por alguma 
epidemia, as discussões sobre a construção de novos prédios para repartições 
públicas ou a mudança de determinados órgãos para outros lugares, as leis e 
decretos criados, as distribuições da receita entre as secretarias e como estas 
gastaram o dinheiro destinado a elas, a questão dos imigrantes no estado, a 
preocupação com a construção de estradas e pontes, quais eram as dificuldades e 
vitórias no ramo da educação. 
Na maioria das mensagens encontramos uma boa parte dedicada à educação 
no estado, como por exemplo, as discussões sobre a falta de professorado 
especializado: 
 
É obvio que, em um professorado relativamente numeroso como o 
nosso, nem todos os mestres terão as necessárias habilitações para 
desempenharem em sua plenitude o extenso programma do ensino em 
vigor. Digamos a verdade: na sua máxima parte dos professores de 
cidades e villas, e todos os de povoado, apenas poderão ensinar á ler 
escrever, as quatro principaes operações arithmeticas, e alguma cousa 
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mais. É pouco, por certo, mas antes esse pouco do que nada, pois, se 
fôramos á exigir que o magistério composesse tão somente de 
professores preparados em todas as matérias do programma do 
ensino, as escolas se conservariam fechadas. (PARANÁ, MENSAGEM 
DO GOVERNADOR FRANCISCO XAVIER DA SILVA, 1895, p. 7) 
 
Estas e outras preocupações, como a construção de mais prédios destinados 
a escolas, a falta de materiais e mobiliário necessário, o desinteresse dos pais em 
matricular seus filhos, o envio de verbas para institutos como a Escola de Bellas Artes 
e Industrias, além do interesse em regulamentar uma fiscalização para que o ensino 
fosse melhor efetivado, são alguns exemplos de temas que podem ser explorados a 
partir desta documentação oficial.Durante a República Velha o estado do Paraná contou com nove governadores 
e uma junta governativa composta por três representantes. Abaixo, apresentamos um 
quadro informativo com o nome e cargo do autor das mensagens analisadas, bem 
como o ano em que foram apresentadas na Assembleia Legislativa do Estado: 
 
Mensagens de Governadores Paranaenses à Assembleia Legislativa (1889-1930) 
Autores  Ano Cargo 
Roberto Ferreira, Joaquim Monteiro de 
Carvalho e Silva e Bento José Lamenha 
Lins 
 
1892 
 
Junta do Governo Provisório 
Francisco Xavier Silva 1892 Governador de Estado 
Vicente Machado da Silva Lima 1893/1894 1° Vice-Governador de Estado
Francisco Xavier Silva 1894/1895 Governador de Estado 
José Pereira Santos Andrade 1896/1897/1898/1899/1900 Governador de Estado 
Francisco Xavier Silva 1901-1902-1903-1904 Governador de Estado 
Vicente Machado e Silva 1905-1906-1907 Presidente de Estado 
Joaquim Machado de Carvalho e Silva  1908 2° Vice-Presidente de Estado 
Francisco Xavier Silva 1909-1910-1911-1912 Presidente de Estado 
Carlos Cavalcanti de Albuquerque  1913-1914-1915-1916 Presidente de Estado 
Affonso Alves de Camargo 1917-1918-1919-1920 Presidente de Estado 
Caetano Munhoz da Rocha  1921/1922/1923/1924/1925
1926/1927/1928 
Presidente de Estado 
Affonso Alves de Camargo 1929/1930 Presidente de Estado 
 
As mensagens que serão analisadas formam um total de 42 arquivos e como 
já dito anteriormente, estão disponíveis para consulta online no site do Arquivo 
Público do Estado do Paraná. Pretendemos analisar os discursos oficiais acerca da 
questão educacional, que nos permita mostrar como esta foi tratada pelos 
governantes. Buscamos encontrar as semelhanças e diferenças entre as mensagens 
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de acordo com o ano em que foram escritas e assim entender qual foi o molde usado 
para tratar de educação na Primeira República no estado do Paraná. 
 
Conclusão 
 
A partir do levantamento historiográfico que realizamos, percebemos que a 
educação começou a ganhar importância no debate público ao longo da Primeira 
República. Foi naquele período que efetivamente iniciou-se a construção do sistema 
educacional brasileiro, diferenciando-o dos projetos dos tempos imperiais. 
O combate ao analfabetismo tornou-se uma das principais bandeiras 
republicanas, e passou a ser entendido como condição essencial ao progresso da 
nação. No entanto, as condições materiais eram precárias em todo país. A maioria 
dos estados não possuía nem ao menos locais adequados para que as aulas 
ocorressem e desse modo, os esforços e lutas foram muitos para que se instalasse 
uma política real de educação, que ultrapassasse as linhas dos documentos e fosse 
incorporada ao dia a dia da população. Diante destas circunstâncias, as reformas não 
foram implementadas de forma homogênea em todo o país. Além disso, a educação 
sempre foi palco de disputas ideológicas, econômicas e políticas, e ao longo da 
história foram várias as instituições, como, por exemplo, a Igreja Católica, que se 
utilizaram dela para disseminar seus princípios e conseguir vantagens.  
Assim como em âmbito nacional, no início da República, o estado do Paraná 
passou por muitas mudanças. Assim sendo, é necessário analisar tais mudanças 
para discutir como a educação foi pensada para a população do estado naquele 
período histórico. Além dos problemas comuns – como o analfabetismo, por exemplo 
– o Paraná, diferentemente do que acontecia em outras partes do Brasil, contava com 
um grande contingente de imigrantes. A educação dessa população oriunda de vários 
países se apresentava como um problema para os governantes paranaenses, como 
fazer a incorporação destas pessoas à nação republicana.  
Os resultados apresentados neste texto favorecem a análise das mensagens 
de governadores que será realizada na próxima etapa da pesquisa. Como vimos, 
trata-se de fontes preciosas para a análise da história da educação paranaense no 
início do período republicano, que permite identificar temas diversos sobre a 
organização da instrução pública naquele contexto. A partir desse estudo será 
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possível perceber as intencionalidades e os projetos políticos contidos nos discursos 
oficiais. 
 
Referências 
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891), de 24 de 
fevereiro de 1891. Disponível em: < 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em 09 de 
dezembro de 2017. 
 
COSTA, E. V. Da monarquia à república: momentos decisivos. 6.ed. São Paulo: Editora da 
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MELO, C. S; MACHADO, M. C. G. A organização da instrução pública no Paraná no inicio da 
Republica: O decreto n° 31 de 29 de janeiro de 1890. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, 
n.38, p. 248-260, jun.2010. Disponível em: < 
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/38/doc01a_38.pdf> . Acesso em 27 
abril.2017. 
 
NAGLE, J. Educação e Sociedade na Primeira República. 3a ed. São Paulo: Editora da 
Universidade de São Paulo, 2009. 
 
PARANÁ (Estado). Mensagens de governadores, de 1889 a 1930. Arquivo Público do 
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http://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=31>.Acesso 
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PARANÁ. Constituição política do Estado do Paraná. In: PARANA. Constituição política, 
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p. I - XXVI. Disponível em 
<http://www.arquivopublico.pr.gov.br/arquivos/File/Constituicoes/Constituicao_do_Parana_1
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SCHUELER, A. F. M.; MAGALDI, A. M. B. de M. Educação escolar na Primeira República: 
memória, história e perspectiva de pesquisa. 2008. Disponível em < 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
77042009000100003&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em 10 de novembro de 2017. 
SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2015. 
TRINDADE, E. M. de C; ANDREAZZA, M. L. Cultura e educação no Paraná. Curitiba: SEED, 
2001. (Coleção História do Paraná: textos introdutórios). 
 
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A LIBRAS E O ENSINO DE QUÍMICA 
 
Bruna Gomes Delanhese 
Instituto Federal do Paraná- Câmpus Jacarezinho- PR 
 
Joicy Valeska Oliveira Gonçalves 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo- Câmpus 
Sertãozinho -SP 
 
 
RESUMO: Atualmente se fala muito em educação inclusiva, que tem por objetivo 
desenvolver competência de pessoas com algum tipo de deficiência que abrange 
níveis e graus diferentes no sistema educacional, mas isso só foi possível depois da 
declaração de Salamanca de 1994, considerado como documento pioneiro para a 
inclusão social e principalmente para a educação inclusiva, pois relata-se que “a 
educação é para todos”. Apesar de englobar vários assuntos fora escolhido a Língua 
Brasileira de Sinais, LIBRAS. Mais especificamente a área de química, pois percebe-
se que possui um déficit alto de sinais, o que nos leva a pensar em como o docente 
transmite os conteúdos desta disciplina para o aluno surdo, sabe-se que a área de 
ciências é bem ampla, contendo uma linguagem bem específica dentro de um campo 
teórico, com tabelas, equações, gráficos, cálculos, etc. O aluno surdo não pode 
aprender um conteúdo transmitido em uma língua que ele não domina de fato, que 
restringe a sua aprendizagem a uma quantidade muito reduzida de conhecimento 
com qualidade (Quadros, 2006, pág. 50). Pensado nisso fora elaborado um 
questionário e aplicado para professores desta determinada área do Instituto

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