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I Simpósio de Educação e Inovação TRABALHOS COMPLETOS IFPR - Campus Jacarezinho 22 a 24 de novembro II Seminário em Currículo e Inovação 2017 DIRETORIA DO INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ – CAMPUS JACAREZINHO Diretor Geral: Rodolfo Fiorucci Diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão: Rafael Ribas Galvão Coordenadora de Ensino: Andreza Tangerino Mineto Coordenadora de Pesquisa e Extensão: David José de Andrade Silva COORDENADOR GERAL DO I SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO E II SEMINÁRIO EM CURRÍCULO E INOVAÇÃO Prof. Dr. Sérgio Vale da Paixão COMITÊ CIENTÍFICO Prof. Me. Carlos Henrique Silva Prof. Me. David José de Andrade Silva Prof. Me. Elismar Vicente dos Reis Profa. Dra. Fabíola Dorneles Inácio Profa. Dra. Flavia Torres Presti Profa. Esp. Isabel Cristina de Campos Prof. Me. Rafael Ribas Galvão Prof. Dr. Rodolfo Fiorucci COMISSÃO ORGANIZADORA Prof. Me. David José de Andrade Silva Prof. Dr. Sérgio Vale da Paixão Prof. Me. Hugo Emmanuel da Rosa Correa APRESENTAÇÃO O I Simpósio de Educação e Inovação e o II Seminário em Currículo não é somente a continuidade do projeto de 2016, mas a ampliação do escopo de discussão, sem perder de vista o eixo norteador estabelecido nos temas de currículo e inovação. Além disso, a promoção do simpósio também possibilitou a constituição de redes de pesquisa e grupos de trabalho para a inovação educacional, principalmente após ter obtido a certificação internacional das ONG’s Ashoka e Alana de Escola Transformadora (Changemaker School), fato que impulsiona o intercâmbio para além-mar. O resultado do evento culminou em uma aproximação intra e interinstitucional entre estabelecimentos de ensino que almejam contribuir significativamente para o desenvolvimento de uma educação que supere as limitações apresentadas pelo modelo tradicional. Em adendo, o seminário fortaleceu a necessidade de se pautar as questões apresentadas e em consonância com o debate nacional sobre, por exemplo, o novo ensino médio. O I SEI e o II SCI integram interesses comuns ao campo da educação e inovação por meio de diálogos com pesquisadores de diversas regiões do Brasil. Assim, os eventos procuraram colaborar para fomentar o repensar a concepção de inovação no ensino, colaborando para que a produção científica se valha de diálogos e constantes reconstruções sob uma ótica crítica e politicamente engajada. O desenvolvimento de tecnologias de ensinar e aprender, bem como a prática investigativa, caras às ciências da educação, também tiveram seu espaço, principalmente no que concerne à questão da inclusão. Das inúmeras atividades que ocorreram ao longo dos eventos, surgem então os trabalhos dos participantes que aqui apresentamos em forma de anais para que possamos socializar com todos os participantes e interessados nas temáticas abordadas. Além disso, torna-se importante certificar cientificamente os proponentes que fazem parte dessa coletânea de textos que trazem diferentes modos de pensar a educação nos dias de hoje. Embora poucos textos tenham sido enviados no prazo proposto, acreditamos que as próximas edições terão uma adesão maior. Esperamos que a leitura dos textos apresentados nesses anais possa trazer reflexões e inquietações sobre a necessidade de se pensar o currículo escolar bem como a educação que atendam as necessidades da atualidade e, assim, novas posturas institucionais e docentes emerjam no cenário nacional. David José de Andrade Sergio Vale da Paixão Organizadores SUMÁRIO A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO ALUNO SURDO NO NÍVEL SUPERIOR: O ENFRENTAMENTO PELO PROFESSOR......................................................................... 01 A CONSTRUÇÃO DO MITO DO PIONEIRO NA CIDADE DE JACAREZINHO-PR: ANÁLISE DE UMA FONTE MEMORIALISTA....................................................................... 08 A EDUCAÇÃO NO ESTADO DO PARANÁ NO CONTEXTO DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930).......................................................................................................................... 18 A LIBRAS E O ENSINO DE QUÍMICA................................................................................. 28 AS MÚLTIPLAS FACES DO DISCURSO HOMOFÓBICO QUE PERMEIAM AS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS...................................................................................... 35 AS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NA ELABORAÇÃO DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE LÍNGUA ESPANHOLA PARA ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS.................................... 43 COMPREENDENDO OS ASPECTOS DO ENSINO DE GEOGRAFIA NO REGIME MILITAR BRASILEIRO: RETROCESSO E APAGÃO CRÍTICO?....................................... 55 DOCUMENTÁRIO ILHA DAS FLORES: UMA ABORDAGEM CRÍTICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL....................................................................................................................... 66 ENSINO DE CONCEITOS AMBIENTAIS POR MEIO DE PRÁTICAS INOVADORAS PELA CONSCIENTIZAÇÃO, SENSIBILIZAÇÃO E PERCEPÇÃO NO ENSINO DE GEOGRAFIA...................................................................................................................... 74 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE GEOGRAFIA NO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA USP PARA A ESCOLA SECUNDÁRIA BRASILEIRA (1930-1960).............................. 86 HOMEM DO CAMPO, EDUCAÇÃO E RELAÇÕES ECONÔMICAS.................................. 94 LIBRAS NA CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS – CRIAÇÃO DE UM GLOSSÁRIO...................................................................................................................... 101 O CURRÍCULO PARA O ENSINO SECUNDÁRIO DA GEOGRAFIA PROPOSTO POR MARIA CONCEIÇÃO VICENTE DE CARVALHO (1906-2002).......................................... 112 O ENSINO DO CONCEITO DE TERRITÓRIO: ALGUMAS PRÁTICAS INOVADORAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA........................................................................................... 121 OLIMPÍADA BRASILEIRA DE ASTRONOMIA COMO EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO........................................................................................................... 129 OS DIREITOS DOS SURDOS NA SOCIEDADE................................................................ 137 O USO DE JOGOS COMO ESTRATÉGIA DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NATUREZA................................................................................................ 149 PERSPECTIVA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES DE GEOGRAFIA NO ÍNICIO DO SÉCULO XX, SEGUNDO A ÓTICA DOS ALUNOS DA FFLC-USP............ 158 PRÁTICAS INTERDICIPLINARES E INOVADORAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: APLICADAS NA HORTA DA EE JOSEPHA CUBAS DA SILVA, OURINHOS/SP.............. 169 PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO SECUNDÁRIO (1930-1960)............................................ 179 PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - SEMANA DE GEOGRAFIA NAS ESCOLAS – UMA CONTRIBUIÇÃO Á FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA 188 PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO MORAL NO ENSINO MÉDIO: ÊNFASE – DIREITOS HUMANOS..................................... 200 REBELDIA PREMIADA: RELATO DE EXPERIÊNCIA....................................................... 214 REFORMAS DA ESCOLA NORMAL NO PARANÁ NA REPÚBLICA VELHA (1891- 1930): MENSAGENS DE GOVERNO E RELATÓRIOS DA INSTRUÇÃO PÚBLICA......... 222 RESPOSTAS PARA O AMANHÃ: FUNÇÃO FORMADORA, INOVAÇÃO E TRANFORMAÇÃO DA REALIDADE LOCAL..................................................................... 235 SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL: ESCOLA E SOCIEDADE NO RECONHECIMENTO DAS VARIEDADES LINGUÍSTICAS............................................... 243 USO DE TECNOLOGIAS PELA GERAÇÃO “Z” E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES PARA O DESAFIO DAS NOVAS GERAÇÕES...................................... 253 I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 1 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO ALUNO SURDO NO NÍVEL SUPERIOR: O ENFRENTAMENTO PELO PROFESSOR Evelin Seluchiniak Nunes Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem/UEPG Resumo: A inclusão do aluno surdo em nível de graduação e pós-graduação é um desafio lançado às instituições de ensino superior, levando a necessidade de contratação de TILS (tradutor e intérprete de Libras) para oportunizar ao aluno acesso pleno aos conteúdos e facilitar a comunicação e interação em sala de aula. Para tanto, o professor tem um papel fundamental na formação do aluno, no entanto muitos professores não têm informação ou conhecimento sobre a cultura surda, a Libras, transformando em barreira para a formação de um discurso dando espaço a construção de narrativas (Ferreira, 2015), abrindo horizonte há novos letramentos contemplando o viso-espacial. Objetiva-se neste artigo discutir a importância do acesso ao conhecimento através da Libras, com a finalidade de incluir o aluno surdo com qualidade no ensino superior apoiando em pesquisas sobre a identidade, cultura e narrativas (STREET, 2007; FERREIRA, 2015). A partir de vivências em espaços acadêmicos e sendo surda, pude traçar novos olhares e perspectivas de acesso e inclusão do aluno surdo no ensino superior e ressaltar a importância do olhar do professor na perspectiva de acolhimento e enfrentamento da exclusão, para que o aluno não se isole e construa sua identidade acadêmica, desenvolvendo autonomia e um discurso onde se orgulhe de ser o que é: sou surdo. Palavras- chave: Libras; Acesso ao Ensino Superior; Enfrentamento da Exclusão. Objetivos Discutir com o auxílio de referenciais teóricos a importância do acesso ao conhecimento através da Libras com o objetivo de incluir o aluno surdo no ensino superior comtemplando sua singularidade linguística e cultural. Introdução O tema tratado neste artigo é uma preocupação minha e de muitos que lutam pela inclusão do surdo nas diferentes esferas de ensino, principalmente quando para que ocorra o acesso pleno seja preciso a contratação de TILS. Passado mais de dez anos após o sancionamento da lei federal 10.436/02 (chamada de lei da Libras) e do Decreto nº 5626/05, ainda existe muito o que se fazer para garantir o direito linguístico tanto por uma escola bilíngue como pela comunicação na sociedade. Segundo Albres e Oliveira (2013, p. 51) apesar do reconhecimento legal, tanto as escolas comuns como as universidades não legitimaram a Libras, visto que não a I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 2 reconhecem como língua materna do surdo, muito menos se torna objeto de pesquisa e discussão no meio universitário. Se observarmos a realidade presente dentro dos espaços acadêmicos, dos diferentes cursos de graduação e pós-graduação, veremos que ainda é tímida a presença de alunos surdos. O que presenciamos é que nos cursos feitos para a formação de professores nas modalidades Letras –Libras- Português e Pedagogia Surda, se oferece um suporte envolvendo tecnologia com a presença de intérpretes e/ou professores surdos com nível de especialização e superior, bem como a oferta de provas em formato de vídeo em que as questões são lançadas em Libras por um tradutor e o aluno deve marcar as respostas que considera como corretas na folha impressa. A partir dessas situações, o objetivo deste artigo é discutir com o auxílio de referenciais teóricos a questão da identidade do aluno surdo no nível superior, a partir do enfrentamento do professor e sua contribuição para uma política linguística que contemple a língua de sinais no ambiente acadêmico. Levo em consideração Celani (2005), Ferreira (2015), Street (2007), Hall (2011) e Oliveira (2006), que destacam a identidade, cultura, narrativa e formação de professores, com a finalidade de refletir sobre o processo de inclusão do aluno surdo. Algumas questões surgem com relação ao sujeito surdo, sua língua, sua cultura e seu jeito de ser. Por exemplo, que concepção este profissional tem sobre cultura e identidade surda? O que se espera é proporcionar reflexões sobre a importância da identidade surda e o papel do professor na sua formação. Referencial teórico Celani (2005, p.103) cita o Código de Nuremberg, que trata da autonomia do ser humano e também a Declaração de Helsinque de 1964, que determina que os sujeitos devem receber o melhor tratamento que o país pode lhe dar. Esse é o enfoque que pode ser descrito para os sujeitos dos quais este artigo trata: o professor ouvinte e o aluno surdo. Mas em uma pesquisa de cunho narrativo sobre a contribuição na formação da identidade do aluno surdo a partir do olhar do professor, devem-se destacar alguns pontos importantes, pertinentes a todo pesquisador. Alguns pontos em destaque são a ética, valores (o que norteia as nossas ações de forma a agir em prol do próximo), olhar crítico-reflexivo, o conhecimento teórico, entre outros aspectos. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 3 Destacamos Celani (2005) e Telles (2002), que descrevem o que é importante a todo professor-pesquisador na construção do conhecimento. Para ambos, é muito importante a questão ética e de valores, pois refletem a opinião do pesquisador em relação ao objeto pesquisado. Em destaque, cito a importância de leituras de artigos relacionados à identidade surda, tanto escritos por autores surdos como ouvintes, pois dentro deles temos uma dimensão mais ampla e descrição de situações em que ocorre o contato e/ ou influência do surdo/ouvinte. Gesser (2009) e Karnopp (2015) dão ênfase em seus textos sobre a comunidade surda e Karnopp descreve as diferenças presentes na narrativa surda, dando destaque ao sujeito surdo. E por fim, em Oliveira (2006), reveremos as práticas de formação do professor e do aluno surdo. O Sujeito Surdo Ao receber um aluno surdo em sala de aula, a primeira preocupação que vem ao professor é como ensinar a essa pessoa. Não parece nada simples, ainda mais quando não há um intérprete que facilite a comunicação entre ambas às partes. Como afirma Gesser (2009), o intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações entre surdos e ouvintes. Essa é uma das mais recorrentes situações comum nas escolas que se dizem inclusivas, mas que têm apenas um aluno surdo. Então, o olhar não é só do professor, mas no plural, de uma instituição como um todo, ou seja: a escola e a sociedade. Aqui, a linguagem, por ser um meio de transmissão cultural, também influencia as representações de poder em nossa sociedade, a finalidade de, pois, ao utilizar uma comunicação diferente, com isso, fato de o surdo desenvolver estratégias de comunicação destaca seu discurso da diferença, que segundo Souza (2011), quando percebida como política, proporciona troca de saberes culturais. Hoje, o que vemos é um debate da inclusão educacional de Surdos, isso porque devemos considerar dois aspectos centrais: a condição bilíngue e bicultural. Está questão de bilinguismo se refere ao fato de viver em um país em que a língua oficial é o Português e o fato de a língua de sinais ser a língua materna ou L1, faz com que o surdo tenha este adjetivo em relação ao uso de mais de uma língua (isso se relaciona tanto pelo fato de escrever o idioma como falar o mesmo, quando se é oralizado). Bicultural porque convive diariamente ou diretamente em contato com as duas culturas: surda e ouvinte. A introdução para dentro de uma cultura se dá pela subjetivação: I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR CampusJacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 4 ... é através do processo de subjetivação, sobretudo no campo da educação- e não apenas na escola-, que os sujeitos são conduzidos para o interior de uma cultura (neste caso a cultura surda). (Karnopp, 2015, p. 1058). Neste ambiente, pode haver conciliações e conflitos, um deles se faz presente cotidianamente: a comunicação. Mesmo que a Libras contribua significativamente no desenvolvimento escolar do aluno surdo, para que isso ocorra plenamente é preciso repensar as políticas e práticas de letramento que acontecem no ambiente escolar e inclusive universitário com a finalidade de atravessar fronteiras como forma de imersão em outras culturas (Karnopp, 2015, p. 1057); Souza (2011) e Abreu (2016) destacam a importância da apropriação e identificação cultural da Libras, priorizando esta língua. Quando no ensino a língua portuguesa (a escrita e oral) é utilizada em detrimento da abordagem bilíngue (Libras- Português) acaba levando o aluno surdo a viver uma situação de conflito, contradições e exclusões no ambiente educacional. O olhar do professor Quando se inverte a questão da situação de inclusão do surdo na educação para o debate de como o professor vê ou percebe a condição da surdez dentro de sua sala de aula, o que primeiro está exposto é a cultura e conhecimentos sobre a Libras, o prisma da diferença, já que nossa sociedade imprime um parâmetro com relação ao que considera “anormal”. Para exemplificar, a história já se encarrega deste feito, ou seja, a conquista da humanidade é marcada pela opressão dos dominados, minorias e de quem é considerado “inferior”. É perspectivas de letramento social, aquele que molda as opiniões dos sujeitos, a aculturação através de ideologias e crenças, além da experiência profissional. Isso tudo, ou não, vai estar presente na ação do professor. Ele sabe que o fato de saber ler e escrever é porta de acesso ao conhecimento histórico e científico, e questiona a dificuldade do aluno surdo. Ele encontra dificuldade de “aculturar”, impor ideias e ideologias, pois não conhece a língua de sinais. O professor desconhece a situação real, os discursos produzidos pelo MEC e pela comunidade surda. Enquanto o MEC procura dar visibilidade à educação na escola comum como um direito fundamental de todos, de “forma genérica” (Stürmer, 2015, I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 5 p. 40), os discursos que circulam no movimento surdo representam o direito linguístico como um direito humano fundamental, o que a escola comum não oferece. A presença do surdo no meio acadêmico abre espaço para outras questões mais amplas como a formação de professores bilíngues, intérpretes de Libras e instrutores surdos, metodologias de ensino, visto que além de fazerem parte da vida do aluno surdo, são aspectos que vêm sendo discutidos amplamente na comunidade surda, principalmente em referência à Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que coloca a Libras como Língua e abre espaço ao surdo para formação em nível superior para o ensino de sua língua materna (caso for a Libras). Essas leis também destacam a possibilidade de uma política linguística ao incluir a língua de sinais no meio acadêmico ao qual o professor deve ter conhecimento. Considerações finais Portanto, a inclusão do surdo e a formação de sua identidade dentro do espaço acadêmico é reflexo da acomodação de alguns sistemas (por exemplo, envolvendo questões políticas e/ ou administrativas, bem como falta de formação na área), e exige ações concretas para que o aluno possa participar dos estudos e desenvolver sua autonomia. Para tanto, uma pesquisa que investigue o olhar do professor deve, antes de tudo, procurar ouvir a experiência e dificuldades passadas pelos professores de universidades, que ao receberem um aluno surdo, sem ter preparo algum, chegam a buscar meios para que possam auxiliar na inclusão deste no ambiente acadêmico de forma plena. Os entraves gerados pela demora em solucionar questões como a falta de intérprete e materiais didáticos adequados, bem como a formação dos demais alunos da classe em língua de sinais também é relevante. O que importa em uma pesquisa desta alçada são textos que levem à reflexão sobre situações positivas e negativas frente à inclusão do surdo nas diferentes esferas do ensino superior. É uma minoria que tem acesso a ela, daí a importância de rever conceitos e quebrar tabus impostos por padrões criados em nossa sociedade. As práticas de letramento em nível acadêmico estão relacionadas a contextos culturais específicos e, segundo Street (2007), podem estar associadas com relações de poder e ideologias. Essas práticas são oriundas de diferentes modos de ver a I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 6 realidade, mas também de se reproduzir uma realidade (aculturação). os professores têm papel de destaque, pois são o elo entre teoria e prática dentro das universidades (e faculdades). Devemos considerar a importância da formação do professor em um olhar sistêmico, preocupado com a formação de todos, e que dentro das possibilidades busca conhecer as realidades de grupos minoritários que lutam por espaço no meio acadêmico (surdos, negros, índios). Pesquisas futuras que deem ênfase ao professor e a sua importância na formação do aluno surdo nos diferentes níveis de ensino, inclusive superior, são importantes, pois se constituem de narrativas de experiência profissional. Referência bibliográfica ABREU, Marcia Cristina Barreto de Fernandes de. A constituição de surdos em alunos no contexto escolar: Conflitos, contradições e exclusões. Tese (Doutorado)- Universidade Federal de Uberlândia.Programa de Pós- Graduação em Educação. 2016. Acessado em 08/04/2017. ALBRES, Neiva de Aquino; OLIVEIRA, Sonia Regina Nascimento de. Concepções de língua(gem) e seus efeitos nas conquistas políticas e educacionais das comunidades surdas no Brasil. In: Neiva de Aquino Albres e Sylvia Lia Grespan Neves (orgs). Libras em estudo: política linguística. São Paulo: FENEIS, 2013. 169 p. CELANI, Maria Antonieta Alba. Representações de professores de inglês como língua estrangeira sobre suas identidades profissionais:uma proposta de reconstrução. Scielo.br. Trababalhos em Línguística Aplicada. Vol. 46 nº 2. Campinas Julho/ dezembro 2007. Acessado em 09/05/2017. FERREIRA, Aparecida de Jesus. Narrativas Autobiográficas de Identidades Sociais de Raça, Gênero e Sexualidade e Classe de Estudos da Linguagem. Campinas, SP: Pontes Editores, 2015. 288 p. GESSER, A. Libras: Que língua é essa? : Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. GOMES, Celina de Oliveira; GESSER, Audrei. Entre a cultura surda e a cultura ouvinte: desafios e papéis do intérprete de Libras/ Português na subjetivação do surdo. Fólio – Revista de Letras Vitória da Conquista v. 7, n. 2 p. 427-448 jul./dez. 2015. Acessado em 06/04/2017. HALL, Stuart. A Identidade cultural da pós-modernidade. 10ª edição. DP &A Editora. KALANTZIS, Mary; COPE, Bill. Language Education and multiliteracies. Encyclopedia of Language and Education, 2nd Edition, Volume 1: Language Policy and Political Issues in Education, 195–211. #2008 Springer cience+Business Media LLC. KARNOPP, Lodenir Becker; MULLER, Janete Inês. Tradução cultural em educação: experiências da diferença em escritas de surdos. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 4, p. 1055-1068, out./dez. 2015. Acessado em 20/ 04/2017. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 7 OLIVEIRA, Maria Bernadete Fernandes de. Revisitando a formação de professores de língua materna: Teoria, prática e construção de identidades. Linguagem em (Dis)curso- LemD, Tubarão, v. 6, n. 1, p. 101- 117, jan./abr. 2006. PERLIN, Gladis e Karin Strobel. Fundamentos da Educação de Surdos. Florianópolis, 2006. ROMERO, Tania Regina de Souza. Linguagem e memória no construir de futuros professores de inglês. Rev. Brasileira de Linguística Aplicada, v. 8, n. 2, 2008. SOUZA, Silvani de. Educação de surdos: a construção da identidade e a apropriação cultural. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós- Graduação em educação da Universidade Federal de Santa Catarina. 2011. Acessado em 06/04/2017. STREET, Brian. Perspectivas Interculturais sobre Letramento. Filologia e Línguística Portuguesa, n. 8 (2006). USP. STÜRMER, Ingrid Ertel. Educação Bilíngue: discursos que produzem a educação de surdos no Brasil. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Programa de Pós- Graduação em Educação, Porto Alegre, 2015. TELLES, João A. “É pesquisa é? Ah, não quero, não, bem!” Sobre pesquisa acadêmica e sua relação com a prática do professor de línguas. Linguagem & Ensino, vol. 5, n. 2, 2002 (91-116). I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 8 A CONSTRUÇÃO DO MITO DO PIONEIRO NA CIDADE DE JACAREZINHO-PR: ANÁLISE DE UMA FONTE MEMORIALISTA Raissa Leite Rodrigues Flávio Massami Martins Ruckstadter Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) / Programa Iniciação Científica Voluntária (PIC-V) - PR Resumo: O presente trabalho propõe-se desenvolver uma análise da construção historiográfica do século XX sobre o mito do pioneiro na cidade de Jacarezinho-PR, por meio da investigação de uma obra memorialista sobre a história deste município, escrita pelo professor Thomaz Aimone. Trata-se do livro “Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que labutaram para o progresso desta terra” (1975). Esta produção contém 140 páginas que abordam diversos temas relacionados à história da cidade, dentre os quais: a origem da fundação de Jacarezinho; os pioneiros e seus descendentes e os “Desbravadores de Jacarezinho”. Ao analisarmos esta obra, percebemos a valorização da imagem do pioneiro, embora em alguns momentos da narrativa, o autor evidencie a presença de outras populações presentes nessa localidade. Para compreendermos essa construção historiográfica, consideramos necessária a reflexão sobre alguns conceitos importantes, tais como mito e tradições inventadas. Isto é realizado no texto a partir dos estudos de Marcelo Silvério da Cruz (2007) e Eric J. Hobsbawm (2008) e contribui na compreensão da construção do mito do pioneiro norte-paranaense ao longo do século XX, como uma alternativa para esclarecer a origem dos habitantes dessa região, sendo a sua imagem associada a heróis que desbravaram terras “demograficamente vazias”. Partindo da concepção que a história deve ser entendida como um processo e sendo esse estudo de caráter documental e bibliográfico, analisamos o contexto político, cultural e econômico da produção dessa obra. Os resultados expostos fazem parte de uma pesquisa de iniciação científica em andamento, que possui a duração de um ano e apresenta como tema a construção do mito do pioneiro do Norte Velho do Paraná, que concebe como objetivo principal analisar o processo de composição deste discurso historiográfico ao longo do século XX através de análises de obras memorialistas dos municípios do Norte Velho. Este projeto se insere nas atividades do Grupo de Pesquisa HISTEDNOPR — “História, Sociedade e Educação no Brasil — GT Norte Pioneiro/ PR”. Palavras-chave: Mito, Pioneiro, Jacarezinho-PR. INTRODUÇÃO O presente trabalho é parte dos resultados da pesquisa intitulada “A construção do mito do pioneiro no Norte Velho do Paraná”. Com duração de um ano, tal pesquisa apresenta entre seus objetivos, analisar como se construiu a imagem do Pioneiro no Norte Velho do Paraná e investigar na historiografia oficial da região como se propagou o mito do pioneiro através de obras memorialistas de cada município desta localidade. Norte Velho ou Norte Pioneiro é a mesorregião do Estado do Paraná I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 9 que abrange atualmente 46 municípios, e se constituiu no símbolo inicial da (re)ocupação de todo norte deste Estado1. Este processo se inicia principalmente por migrantes paulistas e mineiros, que buscavam melhores condições de vida e novas terras para produzir, em meados da segunda metade do século XIX e se intensifica ao longo do século XX sobretudo com a produção de café. Apesar de esta região ser denominada de Norte Velho ou Norte Pioneiro, percebemos que a designação “pioneiro” é marcante em diversas obras que abordam a sua história. A imagem daqueles que são considerados pioneiros é associada a de heróis que levaram o “progresso” desbravando as terras consideradas “demograficamente vazias”. Nesse sentido, percebemos que o discurso histórico sobre essa região generaliza, silencia e estereotipa algumas populações, concebendo a região como não povoada antes da chegada destes “desbravadores” e assim desconsiderando, por exemplo, a presença de posseiros, sitiantes, grileiros, trabalhadores sem-terra e índios que já ocupavam este território e os embates violentos desse processo histórico de (re)ocupação. Desse modo, o uso do termo “(re)ocupação” neste trabalho é intencional e marca nossa posição diante de um discurso tradicionalmente construído na região. Este trabalho fornece uma análise crítica sobre esse decurso, que se torna relevante devido à carência de estudos e interpretações acadêmicas desta natureza, promovendo contribuições para o conhecimento histórico desta sociedade. Com isso, buscamos investigar sobre alguns dos elementos utilizados na construção do mito do pioneiro na cidade de Jacarezinho-PR através da análise da obra memorialista “Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que labutaram para o progresso desta terra” (1975), escrita pelo professor Thomaz Aimone. UMA BREVE HISTÓRIA DE JACAREZINHO E SEU CONTEXTO NO NORTE PIONEIRO A (re)ocupação do Norte do Paraná se iniciou a partir da segunda metade do século XIX e se intensificou ao longo do século XX, no sentido do Nordeste para o Noroeste do Estado, acompanhando a produção cafeeira nas terras roxas do Paraná. Isto desembocou nas três separações do norte do Paraná conhecidas como Norte Velho (ou Pioneiro), Norte Novo e Norte Novíssimo. 1 Esta região é composta por 46 municípios agregados nas microrregiões de Assaí, Cornélio Procópio, Ibaiti, Jacarezinho e Wenceslau Braz. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 10 Uma vez que as separações do Norte do Paraná foram se consolidando, o adjetivo “velho” passou não agradar a elite econômica desta região, pelo fato deste termo depreciar esta localidade em detrimento do Norte Novo e Norte Novíssimo, fornecendo a estes últimos um caráter de moderno, prospero e melhor (RUCKSTADTER, 2017). É a partir destas separações que a designação “pioneiro”, começa a ser preferível, como uma forma de fornecer ao Norte Velho uma valorização através da sua relação com os sentidos de vanguarda, precursão e progresso, relacionando a imagem do “pioneiro” como um desbravador valente que levou o progresso a essas terras que passam a ser consideradas como não povoadas antes desua chegada. Tal associação passou a ser difundida ao longo do processo de colonização, através de diversos meios, como em discursos políticos, rádios e obras memorialistas, que juntos constituíram e difundiram o mito do pioneiro do Norte Velho do Panará. A história da (re)ocupação do Norte Pioneiro se insere em um contexto de dificuldades da província de São Paulo relacionadas ao cultivo de café. Desde o início da produção cafeeira no período imperial, São Paulo foi se constituindo como seu maior exportador. Para se ter uma ideia, em 1830, o café ocupava o terceiro lugar entre os produtos mais exportados do país e, devido a isto, houve em seu território um amplo processo de difusão da cafeicultura. Com o intuito de conter essa expansão, a província de São Paulo estabeleceu novos impostos sobre as novas plantações, tal fato aliado à exaustão do solo provocada pelo cultivo de café, contribuiu para que fazendeiros se interessassem pelas “terras roxas” do Norte do Estado do Paraná, constituindo a primeira onda migratória para o Norte Pioneiro, que contou com a presença de paulistas e mineiros. Outro fator que contribuiu para o processo de difusão do plantio do café para o Paraná foi a estrada de Ferro Sorocabana, que passava por Ourinhos no Estado de São Paulo, tal estrada chamou a atenção de fazendeiros situados no norte do Paraná, pois viram uma alternativa de escoar o café. Nesse sentido, o grupo de Barbosa Ferraz2 consegue em 1920 uma concessão junto ao governo do Paraná para a construção da Estrada de Ferro São Paulo-Paraná que sairia de São Paulo em direção a oeste do norte do Paraná até chegar ao Rio Paraná e por fim ligar-se ao Paraguai. Sem capital para o 2 O paulista Antônio Barbosa Ferraz, fundou juntamente com seus filhos e outros produtores a Sociedade Agrícola Barbosa, que mais tarde passou a se chamar Companhia Agrícola Barbosa. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 11 prosseguimento de tal construção, foram atraídos capitais ingleses que através do registro em São Paulo da Brazil Plantations Syndicate Ltd, que passou a ser denominada de Companhia de Terras do Norte do Paraná, as obras tiveram seu prosseguimento. É nesta região que o atual município de Jacarezinho situa-se. Obtendo divisa com o município de Ourinhos-SP, o desenvolvimento desta localidade foi bastante impulsionado pela produção de café vinda de São Paulo. Com base nos dados do IBGE3 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) o município de Jacarezinho constituiu sua delimitação territorial atual somente em 1964, de acordo com sua história administrativa oficial, no dia 2 de abril de 1900 parte da região agregada ao município de Tomazina foi desmembrada pela lei n ° 522 recebendo o nome de Nova Alcântara, em referência a uma das primeiras famílias a chegar à região em meados de 1888 e fundar a fazenda do Prata. Em 3 de abril de 1902 o nome deste município foi modificado para Jacarezinho pela lei n° 471, em referência a um rio desta região com o mesmo nome. Em 28 de março de 1923, este município perde parte de sua configuração territorial com o desmembramento do município de Cambará pela lei estadual n° 2208 e em 1964 sofre novamente outra modificação com o desmembramento do Barra do Jacaré através de sua elevação a município pela lei Estadual n.º 4810. ANALISE DA FONTE MEMORIALISTA DE THOMAZ AIMONE Uma das dificuldades encontradas por aqueles que se dedicam ao estudo histórico sobre o município de Jacarezinho e sobre a região do Norte Velho é o pouco número de estudos acadêmicos sobre estes espaços geográficos. Assim, a maior parte dos registros sobre a história dos municípios que a pesquisa tem encontrado, constituem-se em obras escritas por intelectuais diversos, memorialistas e não necessariamente historiadores de ofício, com habilidades de pesquisa histórica. A obra de Aimone é importante para o município de Jacarezinho, pois se constituiu em um símbolo de sua memória histórica (EVANGELISTA, 2012); entretanto, deve-se evidenciar que há nesta região disputa de diferentes memórias, e a seleção de algumas delas pelo autor, se constituiu em força de propagar e 3 Informações acessadas no sitio eletrônico do IBGE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/parana/jacarezinho.pdf acesso em 12 de novembro de 2017. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 12 perpetuar uma determinada interpretação dos fatos históricos. A intencionalidade de perpetuar uma interpretação do passado e/ou ressaltar determinados sujeitos envolve emoções, memórias e experiências vividas como foi o caso de Aimone, e é partindo dessas concepções que buscamos pesquisar essa constituição do mito do pioneiro no caso de Jacarezinho através da análise desta obra. Para compreendermos essa construção historiográfica, consideramos necessária a reflexão sobre o que são mitos, como surgem e como atuam em uma determinada comunidade. Em geral, os mitos surgem como uma alternativa para esclarecer determinadas circunstâncias, orientar um entendimento ou como explicação de algum acontecimento, que nos fazem refletir sobre nossas origens: Os mitos são definidos como uma explicação dos fatos atuais através de acontecimentos primordiais, que se encontram sempre presentes, sendo que, pelo rito, se faz a ligação do atual primordial. Deste modo, os mitos, ao se referirem aos acontecimentos primordiais, estão nos trazendo uma explicação atual [...]. (CRUZ, 2007, p.2). É nesse sentido, que o mito do pioneiro do Norte Velho do Paraná construído ao longo do século XX, evidencia uma alternativa para esclarecer a origem dos habitantes desta região. É partindo de tais concepções que podemos melhor analisar a construção da imagem destes pioneiros, associada a heróis desbravadores das terras consideradas “demograficamente vazias”. Assim, a compreensão do mito do pioneiro do Norte Velho do Paraná, nos auxilia no entendimento da própria formação da identidade desta região, possibilitando uma significação da existência de sua população. A obra memorialista “Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que labutaram para o progresso desta terra” pode ter sido importante na construção de determinada imagem do pioneiro jacarezinhense. Escrita em 1975, contém 140 páginas divididas em subtítulos, dentre os quais destacamos aqueles que exaltam os personagens considerados pioneiros e seus descendentes, a história da cidade como também os que abordam figuras que não são consideradas pioneiras, mas, são evidenciados com destaque por terem auxiliado o município em seu desenvolvimento. O autor do livro, Tomaz Aimone, foi professor, criador do único museu particular da cidade que se encontra desativado atualmente e recebeu destaque como diretor do Colégio Rui Barbosa deste município. Mesmo não possuindo I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 13 formação de historiador, o que é habitual em memorialistas, escreveu vários livros4 que narram fatos históricos sobre a cidade. Entretanto, o autor apresenta uma visão ingênua de História como verdade, em oposição a uma história ficção (AIMONE, 1975, p. 2). O título do livro deixa transparecer a quem se destina a sua valorização e exaltação, pois a denominação de pioneiro é concedida somente para determinados sujeitos. Percebemos tal aspecto logo no início da obra, na passagem que o autor discorre sobre os dados obtidos no cemitério, sobre o nascimentoe falecimento dos “considerados pioneiros”: A tarefa foi cansativa e dispendiosa, mas, a verdade surge para o conhecimento dos filhos dessa terra e para a grandeza do Paraná e do Brasil. Os verdadeiros PIONEIROS repousam o sono eterno mas, suas almas perambulam pelo espaço infinito e vigilantes, não permitindo a deturpação da verdade na fundação deste rincão querido e respeitado. (AIMONE, 1975 p1). [grifo nosso]. Percebemos por meio dessa declaração, percebemos a intencionalidade de Aimone em enfatizar determinadas figuras que ele concebe como “verdadeiros” pioneiros, porém, tal enfoque nos proporciona estabelecer uma indagação, partindo da análise desta declaração. Como existem os pioneiros verdadeiros, podemos deduzir que o autor reconhece indiretamente que existiram outros pioneiros que, no entanto, não são considerados verdadeiros? E por que não são “pioneiros verdadeiros”? Encontramos resposta para estas questões em algumas partes do livro, na medida em que o autor apresenta a presença de posseiros na região antes da chegada da família Alcântara (AIMONE, 1975, p. 4). Com isso, percebemos que Aimone estabelece a exaltação da imagem do pioneiro e, ao mesmo tempo silencia a presença de outras populações presentes nesse processo histórico. Essa dualidade, de exaltar e omitir é bem evidenciada quando contrapomos com outra declaração do autor ao expressar que “A cidade crescia dia a dia, com a chegada de caravanas e também de parentes daqueles primeiros desbravadores, que com justiça chamamos de PIONEIROS”. (AIMONE, 1975, p.9). [grifo nosso]. Essa contradição nos remete às concepções de Eric J. Hobsbawm (2008) a respeito das tradições inventadas em que afirma que estas, se originam como 4 Entre eles estão “Meu Ginásio Rui Barbosa” de 1988 e “Histórico de Marques dos Reis” de 1986. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 14 respostas a novas circunstâncias e buscam estabelecer continuidade ao passado e cristalizar uma identidade, fornecendo um sentimento de união nessa sociedade. As tradições inventadas podem ser denominadas como uma junção de diversas práticas, que são organizadas por normas que podem ser simbólicas ou rituais, possuindo o objetivo de estabelecer determinados valores e princípios pela repetição. O passado, em que se busca desenvolver essa continuidade não necessita ser distante, algumas tradições diferentemente do que se pensa são bem recentes, com isso há tradições que podem ser remotas, parcialmente ou totalmente inventadas. (HOBOSBAWM, 2008). Nesse sentido, a figura do pioneiro construída pela historiografia ao longo do século XX, proporcionou uma continuidade com o passado que remonta a origem da população desta região, e esse discurso se tornou uma tradição inventada. Estudos recentes evidenciam a presença de diversas populações na região no período abordado por Aimone, embora ele não os mencione. O trabalho de Aparecida Vaz da Silva Bahls (2007), por exemplo, sobre a relação da memória e identidade através da análise de diferentes momentos do Estado do Paraná, evidencia em seu tópico sobre a (Re)ocupação do Norte do Paraná aspectos de violência que marcaram a história da expulsão de índios, posseiros e grileiros nas terras do Norte do Paraná. Desse modo, há presença de um discurso identitário sobre o Norte do Paraná na obra de Aimone, em que se busca construir um sentimento de comunidade e pertencimento, ao evidenciar as características do discurso desta região. Outro elemento constante na obra é a referência ao “Eldorado” que evidencia a intencionalidade de relacionar as terras consideradas “demograficamente vazias” com riqueza, prosperidade e progresso, como neste trecho: “A população aumentava dia a dia e era preciso construir casa para acomodar os que aqui se achavam e também os novos colonos e caravanistas que vinham para o NOVO ELDORADO PARANAENSE”. (AIMONE, 1975, p.55). [grifo nosso]. Em outra passagem o autor afirma que “Com o crescimento da população, que dia a dia aumentava com a chegada de caravanas em busca do Eldorado Paranaense, foi preciso criar um correio, a fim de receber e remeter a correspondência para as cidades vizinhas”. (AIMONE, 1975, p.85). [grifo nosso]. Além das referências ao Eldorado, o autor também nos mostra a intenção de relacionar o município com riquezas, prosperidade e progresso ao discorrer sobre a fazenda de Costa Júnior, “[...] pertence ao município de Jacarezinho e às margens do I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 15 rio PARANAPANEMA, foi a maior propagandista das riquezas do Sertão Paranaense e de suas ricas terras”. (AIMONE, 1975, p.93). [grifo nosso]. Apesar de percebermos a presença de elementos do discurso do Norte Paranaense nesta obra, há um distanciamento em relação a este em detrimento da valorização da região do Norte Pioneiro em específico: Não quero descrever o que meus olhos não viram e que o sentido não recorde. Tudo isso está gravado no meu cérebro. Muitos acontecimentos se perderam no transcorrer dos anos, porém os descendentes dos ALCÂNTARAS, BATISTAS, FIQUEIREDO, só eles e seus desconhecidos mais velhos poderão dizer o que PASSARAM neste NORTE DO PARANÁ, intitulado com justiça o NORTE PIONEIRO. (AIMONE, 1975 p. 6). [grifo nosso]. Há no discurso sobre o Norte do Paraná a concepção que essa região foi a pioneira na ocupação de todo Estado. “Jacarezinho, cidade pioneira do Norte Velho, hoje com orgulho denominada CIDADE UNIVERSITÁRIA, possue um clima ameno e uma população ordeira e hospitaleira”. (AIMONE, 1975, p.10). [grifo nosso]. Em outro momento o autor expressa que “Jacarezinho sempre primou pela liderança em suas realizações. Pioneiro do Norte sempre foi lembrada pelos dirigentes do Estado (...)”. (AIMONE, 1975, p.139) [grifo nosso]. A obra também estabelece destaque para o município ao transmitir a imagem deste como mais avançado do que o resto desta localidade ao declarar que “Jacarezinho, cidade PIONEIRA em tudo, está fartamente provida de ESTAÇÕES DE RADIO RECEPTORES E também TRANSMISSORAS”. (AIMONE, 1975, p.95). [grifo nosso]. Em outra passagem afirma que “A cidade de Jacarezinho sempre foi considerada a Cidade Pioneira e as novidades atraiam sempre seus habitantes”. (AIMONE, 1975, p.110). [grifo nosso]. Essa construção de uma ideia de cidade de vanguarda fica explícita em outros tantos trechos do livro. Ao apresentar personagens considerados pioneiros, encontrados nos diversos subtítulos espalhados pela obra, o autor relaciona a imagem do pioneiro com progresso, como são os casos de Capitão João Gasparino, Plácido Bertozzi e Abu- Jamra. “Foi João Gasparino um dos PIONEIROS e que também contribuiu para o progresso de Jacarezinho”. (AIMONE, 1975, p.18). [grifo nosso]. Aimone lhe associa a ideia de progresso por este ter desenvolvido diversos ofícios durante sua vida como mensageiro, comerciante, vereador e posteriormente se tornado fazendeiro. No segundo caso, teria sido “PLACÍDO BERTOZZI, um dos grandes pioneiros de I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 16 Jacarezinho e que muito trabalhou para o progresso desta cidade, tendo vindo para cá em 1902”. (AIMONE, 1985, p.22) [grifo nosso]. Bertozzi teria contribuído para o progresso, pois, fundou a primeira padaria em 1910 e posteriormente um cinema mudo que em 1929 passa a ser falado. A análise de tais exemplificações, nos leva a compreender a intencionalidade do autor de valorizar os pioneiros como aqueles que contribuíram de alguma forma parao município se desenvolver; nestes casos, a questão do progresso é o ponto central, o que nos leva a perceber que a idealização do desenvolvimento se relaciona com a concepção de pioneirismo da região, sendo o Norte Velho considerado pioneiro na (re)ocupação de todo o Norte do Estado do Paraná. Assim, o autor estabelece a construção da imagem de progresso como uma forma de ligar com o passado histórico da região e fornecer a ideia de continuidade. Tal concepção constitui a sensação de reconhecimento de um mesmo grupo social. Devemos lembrar que na medida em que a colonização do norte do Paraná foi expandindo para além da região conhecida como Norte Velho, as novas regiões colonizadas no sentido noroeste, ganharam destaque e o Norte Pioneiro começa a perder espaço. “Naquele contexto, o centro econômico de todo o norte do Paraná estava migrando para o Norte Novo, especialmente para as regiões de Londrina e Maringá, sobretudo a partir da ação planejada da CTNP 5 ” (RUCKSTADTER, 2017, p.18). Percebemos que o processo de colonização para o noroeste e a construção das separações do norte do Paraná em Norte Velho, Novo e Novíssimo, foi se consolidando ao longo do tempo, e devido a esta circunstância é provável que Aimone buscasse reafirmar a importância dos “pioneiros” como uma alternativa de resgatar o destaque que o Norte Pioneiro possuíra em momentos anteriores. CONCLUSÃO A importância de refletirmos sobre a construção do discurso do mito do pioneiro em Jacarezinho-PR, se dá na medida em que através dele podemos compreender a construção de sentimentos de identificação, pertencimento e reconhecimento desta localidade. Percebemos que para isso, Aimone selecionou determinados sujeitos e silenciou outros em sua obra, esta seleção também ocorreu em outras possíveis memórias presentes em Jacarezinho. 5 Companhia de Terras Norte do Paraná I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 17 As análises amparadas em Hobsbawm (2008) nos mostraram que essa construção pode ser denominada como uma tradição inventada; a investida de Aimone em relacionar o progresso com a figura do pioneiro desta região demonstra a sua intencionalidade de estabelecer uma continuidade com o passado, e explicar as circunstâncias do presente como vimos com Cruz (2007). Com base em tais constatações, é necessário ressaltar a história dessas populações omitidas, para possibilitar uma nova concepção de memória e identidade deste município. O presente trabalho buscou analisar uma das obras que possivelmente contribuíram para a construção de uma imagem de pioneiro na cidade de Jacarezinho-PR. As discussões apresentadas não apresentam por finalidades esgotar o assunto, mas, possibilitar futuras interpretações a respeito do tema. REFERÊNCIAS AIMONE, T. Jacarezinho, seus Pioneiros desbravadores e os que labutaram para o progresso desta terra. Jacarezinho, PR: s/e, 1975. BAHLS, A.V.S. A BUSCA DE VALORES IDENTITÁRIOS: A MEMÓRIA HISTÓRICA PARANAENSE. Curitiba, UFPR, 2007. (Tese de Doutorado) CRUZ, M. S. Mitos – suas origens e sua importância para o homem contemporâneo. Centro de pesquisas estratégicas “Paulino Soares de Souza”. Universidade Federal de Juiz de Fora. 2007. EVANGELISTA, L. F. Silêncios, exclusões e saudosismo: reflexões teóricas fundamentadas na memória histórica Jacarezinhense. Londrina, UEL, 2012. (Dissertação de Mestrado em História). HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (Org.). A invenção das tradições. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. IBGE. lNSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Município de Jacarezinho. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/parana/jacarezinho.pdf> acesso em outubro de 2017. RUCKSTADTER, F. M. M. Os Grupos Escolares e a institucionalização da educação primária no Norte Pioneiro do Paraná (1910-1971). In: XVI Jornada do HISTEDBR, 2017, Foz do Iguaçu. Anais da XIV Jornada do HISTEDBR: pedagogia histórico-crítica, educação e revolução: 100 anos da Revolução Russa, 03 a 05 de 2017, 2017. v. 1. . I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 18 A EDUCAÇÃO NO ESTADO DO PARANÁ NO CONTEXTO DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930) Lara Gonçalves Lopes Flávio Massami Martins Ruckstadter Universidade Estadual do Norte do Paraná- UENP Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) Fundação Araucária, Paraná. Resumo: Este trabalho é resultado parcial de uma pesquisa de iniciação científica de caráter bibliográfico e documental, que tem como tema a educação nas mensagens de governo paranaense no período da chamada República Velha. O objetivo deste texto é realizar uma apresentação contextualizada das principais fontes que serão analisadas posteriormente na investigação; trata-se de 42 mensagens de governadores escritas entre 1892 e 1930, disponíveis no site do Arquivo Público do Paraná. Para isto, discutiremos como se apresentava naquele período a situação politica, econômica e social do Brasil e do estado do Paraná, a partir do debate historiográfico e educacional, o que se caracteriza como a primeira etapa da pesquisa. O texto discute que após a instalação do regime republicano em 1889, instaurou-se em todo o país uma ânsia pelo moderno que fez aflorar o sentimento de que era necessário modificar pensamentos, criar novos órgãos e romper com as velhas estruturas. Foi nesse período que surgiu em âmbito nacional o que o pesquisador Jorge Nagle chamou de “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”. O estado do Paraná, assim como todo o país, foi afetado por esses pensamentos, e a educação então passou a ser vista como solução para diversas mazelas e novos problemas sociais. O analfabetismo, por exemplo, deveria ser combatido; era necessária a criação de uma estrutura para receber o grande contingente de imigrantes que vieram em busca de trabalho e formaram grupos de povoamento no estado; deveria se pensar em um modelo formativo no qual fossem formados cidadãos em vez de súditos, prontos para o trabalho e para amar a pátria brasileira. A educação, nesse contexto, ganhou papel de destaque e recebeu ampla legislação como o decreto n° 31 de 29 de janeiro de 1890 que é considerado o primeiro regulamento de organização da instrução pública do estado do Paraná. Esta pesquisa se insere nas ações desenvolvidas pelo grupo de pesquisa cadastrado no CNPq “História, Sociedade e Educação no Brasil – GT Norte Pioneiro do Paraná (HISTEDNOPR)”, sediado na Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus de Jacarezinho. Palavras-chave: Educação; República Velha; Estado do Paraná. Introdução Este texto foi desenvolvido como resultado parcial de uma pesquisa de iniciação científica que tem como objetivo compreender como era tratada a questão I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 19 da educação nos primórdios da República no estado do Paraná, por meio da identificação dos discursos oficiais encontrados nas mensagens de governadores paranaenses. Este é o desafio proposto para a pesquisa como um todo, mas para que isso se torne possível foi necessária uma contextualização das fontes, a partir do debate sobre a época de que estamos tratando, por meio de uma pesquisa bibliográfica que nos ajudasse a compreender a temática e o período e, para tanto, utilizamos de estudos já elaborados e publicados por historiadoras e historiadores, como Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling (2015), Jorge Nagle (2009), entre outros. Nesse sentido, o objetivo deste texto em particular é trazer a contextualizaçãodas fontes que serão analisadas futuramente na pesquisa, isto é, as mensagens de governadores paranaenses no início da República. Como se encontravam o Brasil e o estado do Paraná após a mudança de regime? Como as mudanças advindas pelo regime republicano afetaram diretamente a forma como a educação passou a ser vista e tratada? Este é o norte que guiará nossas discussões. Perceber como se encontrava o quadro nacional politico, econômico e social brasileiro pós-1889 é de grande importância para compreensão de certos discursos oficiais e de como se deu o processo de escolarização. A proposta deste trabalho é apresentar as peças de um quebra-cabeças que montado daria origem aos primeiros passos da escolarização no estado do Paraná. Pressupõe-se que nenhum fato ocorre isoladamente e que as discussões e ações nacionais afetavam diretamente e indiretamente as ações e discussões estaduais. Sem esquecer que a história é um processo que envolve vários agentes em diferentes níveis. Para cumprir os objetivos propostos, este texto está dividido em duas partes: na primeira, apresenta-se uma discussão contextualizada dos primeiros anos da República no Brasil e no Paraná e posteriormente, na segunda parte, são apresentadas as fontes que serão analisadas na próxima etapa da pesquisa – as mensagens de governadores paranaenses naquele período. Estas mensagens estão disponíveis para consulta no Arquivo Público do Estado do Paraná6 e no total serão 6 O Arquivo Público do Estado do Paraná foi criado em 1855 e hoje tem como finalidade administrar o patrimônio documental do estado do Paraná. Reúne documentação referente ao poder público, além de guardá-la e conservá-la. Possui sede física na cidade de Curitiba e se pode ter acesso ao seu acervo via internet pelo site http://www.arquivopublico.pr.gov.br/. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 20 analisados 42 documentos produzidos pelo poder executivo no período de 1889 a 1930. O Brasil pós-1889: a Educação como bandeira republicana Após o 15 de novembro de 1889 as mudanças necessárias à construção da sociedade e das instituições republicanas foram operadas de forma lenta e gradual. O golpe militar que instaurou a República foi feito sem participação efetiva da população brasileira: “A República se faria como a Independência se fizera – sem a colaboração das massas. O novo regime resultaria de um golpe militar. Nos meios republicanos, a estratégia conspiratória prevaleceu sobre a estratégia revolucionária.” (COSTA, 1999,p. 15) Assim, pouca coisa mudou nas primeiras décadas da República, o Brasil era e continuava a ser um país com população majoritariamente de analfabetos, com suas bases econômicas firmadas no sistema agrícola, a abolição da escravidão tinha sido conquistada há pouco tempo e as raízes do sistema oligárquico eram muito fortes. Ao analisarmos a educação no estado do Paraná nas origens da construção de nosso sistema nacional de educação, isto é, na República Velha, deve-se discutir como se encontrava o cenário nacional em vários aspectos, tais como sociais, políticos e econômicos. O período em questão foi marcado pela necessidade de modernização e rompimento com as estruturas do antigo regime: a monarquia era vista por muitos como causadora dos principais problemas enfrentados pelo Brasil e por conta disto, os representantes políticos se esforçavam para romper ou ao menos mascarar tudo o que remetesse à ela: “Para provar que a República vinha para ficar, alternavam-se rapidamente nomes e símbolos na tentativa de dar mais concretude à mudança efetiva de regime” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p.318). As demandas sociais trazidas com a República transformavam o Brasil em palco de disputas e discussões acerca de como a sociedade se organizaria. As relações de trabalho não eram mais pautadas na mão de obra escrava, várias correntes de pensamento adentravam o país vindas da Europa, começava-se a pensar na questão da industrialização. A imigração era crescente, por fim, alterações eram necessárias para que o Brasil conseguisse se organizar frente a todas essas pautas. Com o anseio por mudanças, a educação ganha papel de destaque e então começa a ser vista como solução para a maioria dos problemas enfrentados em todo I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 21 o país. Aos poucos, surgem grupos que pretendiam se beneficiar por meio da educação e por conta disto ela passa a ser entendida como solução, mas também como lugar de disputas ideológicas, politicas e econômicas. Dentre esses grupos, merecem destaque: (1) a Igreja Católica, que procurava inserir nas escolas seus pensamentos para reforçar os dogmas da igreja; (2) a liga nacionalista que tinha como objetivo que todos pudessem votar; (3) as elites que precisavam de mão de obra minimamente qualificada para o trabalho nas fábricas; (4) ainda havia os professores que buscavam, de fato, uma melhora na educação. Este papel de protagonista que a educação ganha em meio às discussões nacionais, é caracterizado pelo historiador Jorge Nagle (2009) como “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”: De um lado, existe a crença de que, pela multiplicação das instituições escolares, da disseminação da educação escolar, será possível incorporar grandes camadas da população na senda do progresso nacional, e colocar o Brasil no caminho das grandes nações do mundo; de outro lado, existe a crença de que determinadas formulações do novo homem brasileiro. (NAGLE, 2009, p. 100) Neste sentido, o “entusiasmo pela educação” buscava a abertura de escolas, principalmente do ensino primário que seria responsável por alfabetizar a população e prepará-la para o voto e por outro lado o “otimismo pedagógico” possuía uma preocupação com os conteúdos e a metodologia que seria aplicada nas salas de aula. Para atender à demanda foi elaborada, em vários estados da federação, uma ampla legislação sobre a questão educacional, como é o caso do decreto n° 31 de 29 de janeiro de 1890 que é considerado o primeiro regulamento de organização da instrução pública do estado do Paraná. No Paraná, no período de 1889 a 1900 foram estabelecidas diversas leis, decretos e regulamentos decisivos para a organização e desenvolvimento do ensino público. Na medida em que se expandiam a urbanização e o crescimento populacional, almejavam-se maiores condições de oferta da instrução pública para o atendimento da população paranaense em idade escolar (MACHADO; MELO, 2010, p.1). Como em todo o país, o Paraná passou por um período de constante elaboração de leis, decretos, regulamentos, projetos e reformas visando à organização das instituições escolares. Este debate era amplo e incluía discussões I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 22 sobre, como por exemplo, qual órgão seria responsável por ofertar as vagas, quem pagaria os professores, onde estes professores seriam preparados, quem construiria as escolas e as manteria e qual a melhor metodologia para atender o maior número de alunos no menor tempo possível para que o analfabetismo fosse combatido. A respeito da última questão, o voto era proibido para aqueles que não soubessem ler e escrever7, transformando o analfabetismo em grande o vilão contra a prosperidade do país. . Diante disso, a solução vista seria a disseminação da escolarização: O Brasil, especialmente no decênio dos anos vinte, vive uma hora decisiva, que está a exigir outros padrões de relações e de convivência humanas, imediatamentedecorre a crença na possibilidade de reformar a sociedade pela reforma do homem, para o que a escolarização tem um papel insubstituível, pois é interpretada como o mais decisivo instrumento de aceleração histórica (NAGLE, 2009, p. 100). Para além de ensinar os analfabetos, o Paraná assim como o Brasil recebia um grande contingente de imigrantes que vieram em busca de trabalho e constituíram grupos de povoamento: Mesmo ao fim do século XIX, as cidades paranaenses de algum destaque, com melhores condições de conforto e população superior a 10.000 habitantes, mal ultrapassavam uma dezena... Nesse panorama precário, foi um fator determinante de transformação da politica imigratória, que sob, o inventivo do governo central encontrou eco nas iniciativas da administração local. Colônias foram instaladas, muitas delas próximas a sítios urbanos. Alemães, poloneses, italianos, ucranianos, entre, outros, chegaram em grandes levas, destinados preferencialmente ao trabalho na lavoura (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p. 51). Esses imigrantes vinham carregados de seus próprios costumes, idiomas e modos de se comportar: “Como observou o Inspetor de Educação Martinez, já na década de 1920, cada colônia se instituía sem perder a menor característica da nacionalidade dos imigrantes...” (TRINDADE; ANDREAZZA, 2001, p.51). Muitas eram as colônias que possuíam suas próprias “escolas” que ensinavam no seu idioma e com base em seus costumes, o que se tornava um problema para os governantes, 7 Segundo o art. 70 da primeira Constituição Republicana, de 1891, o voto era permitido apenas para homens considerados brasileiros com idade superior a 21 anos, salvo os mendigos, analfabetos, militares e religiosos de ordens sujeitos a voto de obediência, regra ou estatuto que implicasse na renúncia da liberdade individual. (BRASIL, 1891). I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 23 que projetavam a nação centrada no ideal de unidade. Era necessário pensar um modelo que formasse os analfabetos, os imigrantes e que os transformassem em cidadãos brasileiros, prontos para o trabalho e para amar a pátria brasileira e, nesse momento, a escola passa a ser espaço para disseminação de modelos de comportamento moral e cívico, segundo Schueler e Magaldi: Um outro elemento-chave a ser observado no projeto da escola primária republicana diz respeito ao papel assumido por essa instituição na formação do caráter e no desenvolvimento de virtudes morais, de sentimentos patrióticos e de disciplina na criança. Mensagens de caráter moralizante e cívico foram amplamente propagadas pela escola pública primária, por meio de formas diversas, como a presença de símbolos patrióticos no dia-a-dia da escola e nas situações festivas, o enlaçamento do tempo escolar ao calendário cívico, as leituras prescritas aos alunos, entre outras. Esse viés civilizador se dirigia a um público interno à escola, constituído basicamente por alunos e famílias, estendendo-se ainda para fora dos muros escolares, de modo a atingir a sociedade como um todo. (2008, p.45) Durante toda a Primeira República, vários foram os movimentos e propostas desenvolvidos no ramo da educação, o que deu origem ao que hoje conhecemos como sistema nacional de educação; dentre eles, o movimento da Escola Nova foi um dos mais importantes. Esse movimento contou com vários nomes de destaque como Sampaio Doria (1883-1964), Lourenço Filho (1897-1970), Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974) e no Paraná, Lisímaco Costa (1883- 1941). A grande bandeira do movimento consistia em uma escola pública, universal e gratuita, que atingisse a toda a população brasileira, além disso, o ensino deveria ser leigo, portanto sem a influência religiosa, tão presente nos meios educacionais desde a colonização. Buscou-se constantemente durante a Primeira República um modelo de escola que atendesse aos novos modos que se configuravam na sociedade brasileira. Em outros termos, para os republicanos, tratava-se de construir uma escola que superasse o atraso que fora imposto pela colonização e monarquia, uma escola que acompanhasse as transformações sociais que nasceram com a República e que conduzisse a nação ao progresso. I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 24 As mensagens de governadores paranaenses e a Educação no início da República Neste trabalho, realizamos uma apresentação contextualizada das fontes que serão analisadas na próxima etapa da pesquisa de iniciação científica: as mensagens de governadores do Estado do Paraná, no período de 1889 a 1930. Estas mensagens são relatórios escritos uma vez ao ano pelo então governador do estado do Paraná e apresentadas ao Congresso Legislativo do Estado, com intuito de informar como foi feita a administração do estado pelo poder Executivo. No interior dessas mensagens é possível perceber a vontade de demostrar como o estado estava se desenvolvendo e indo rumo ao progresso, tão ansiado no período em questão. A apresentação dessas mensagens está prevista em lei no artigo 47 da Constituição Política do Estado na época e, portanto deveriam ser escritas todos os anos, sem interrupções. A respeito do conteúdo, percebe-se uma variedade de informações sobre muitos assuntos de diferentes esferas, passando por economia, educação, sociedade, legislação, segurança, saúde, entre outros. Em algumas mensagens, por exemplo, encontramos um demonstrativo da receita do estado e as explicações acerca dos gastos e recolhimentos feitos durante o ano. Também é possível observar as nomeações para cargos públicos, as medidas de segurança implantadas, como se encontrava a saúde da população paranaense, se foram atingidos por alguma epidemia, as discussões sobre a construção de novos prédios para repartições públicas ou a mudança de determinados órgãos para outros lugares, as leis e decretos criados, as distribuições da receita entre as secretarias e como estas gastaram o dinheiro destinado a elas, a questão dos imigrantes no estado, a preocupação com a construção de estradas e pontes, quais eram as dificuldades e vitórias no ramo da educação. Na maioria das mensagens encontramos uma boa parte dedicada à educação no estado, como por exemplo, as discussões sobre a falta de professorado especializado: É obvio que, em um professorado relativamente numeroso como o nosso, nem todos os mestres terão as necessárias habilitações para desempenharem em sua plenitude o extenso programma do ensino em vigor. Digamos a verdade: na sua máxima parte dos professores de cidades e villas, e todos os de povoado, apenas poderão ensinar á ler escrever, as quatro principaes operações arithmeticas, e alguma cousa I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 25 mais. É pouco, por certo, mas antes esse pouco do que nada, pois, se fôramos á exigir que o magistério composesse tão somente de professores preparados em todas as matérias do programma do ensino, as escolas se conservariam fechadas. (PARANÁ, MENSAGEM DO GOVERNADOR FRANCISCO XAVIER DA SILVA, 1895, p. 7) Estas e outras preocupações, como a construção de mais prédios destinados a escolas, a falta de materiais e mobiliário necessário, o desinteresse dos pais em matricular seus filhos, o envio de verbas para institutos como a Escola de Bellas Artes e Industrias, além do interesse em regulamentar uma fiscalização para que o ensino fosse melhor efetivado, são alguns exemplos de temas que podem ser explorados a partir desta documentação oficial.Durante a República Velha o estado do Paraná contou com nove governadores e uma junta governativa composta por três representantes. Abaixo, apresentamos um quadro informativo com o nome e cargo do autor das mensagens analisadas, bem como o ano em que foram apresentadas na Assembleia Legislativa do Estado: Mensagens de Governadores Paranaenses à Assembleia Legislativa (1889-1930) Autores Ano Cargo Roberto Ferreira, Joaquim Monteiro de Carvalho e Silva e Bento José Lamenha Lins 1892 Junta do Governo Provisório Francisco Xavier Silva 1892 Governador de Estado Vicente Machado da Silva Lima 1893/1894 1° Vice-Governador de Estado Francisco Xavier Silva 1894/1895 Governador de Estado José Pereira Santos Andrade 1896/1897/1898/1899/1900 Governador de Estado Francisco Xavier Silva 1901-1902-1903-1904 Governador de Estado Vicente Machado e Silva 1905-1906-1907 Presidente de Estado Joaquim Machado de Carvalho e Silva 1908 2° Vice-Presidente de Estado Francisco Xavier Silva 1909-1910-1911-1912 Presidente de Estado Carlos Cavalcanti de Albuquerque 1913-1914-1915-1916 Presidente de Estado Affonso Alves de Camargo 1917-1918-1919-1920 Presidente de Estado Caetano Munhoz da Rocha 1921/1922/1923/1924/1925 1926/1927/1928 Presidente de Estado Affonso Alves de Camargo 1929/1930 Presidente de Estado As mensagens que serão analisadas formam um total de 42 arquivos e como já dito anteriormente, estão disponíveis para consulta online no site do Arquivo Público do Estado do Paraná. Pretendemos analisar os discursos oficiais acerca da questão educacional, que nos permita mostrar como esta foi tratada pelos governantes. Buscamos encontrar as semelhanças e diferenças entre as mensagens I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 26 de acordo com o ano em que foram escritas e assim entender qual foi o molde usado para tratar de educação na Primeira República no estado do Paraná. Conclusão A partir do levantamento historiográfico que realizamos, percebemos que a educação começou a ganhar importância no debate público ao longo da Primeira República. Foi naquele período que efetivamente iniciou-se a construção do sistema educacional brasileiro, diferenciando-o dos projetos dos tempos imperiais. O combate ao analfabetismo tornou-se uma das principais bandeiras republicanas, e passou a ser entendido como condição essencial ao progresso da nação. No entanto, as condições materiais eram precárias em todo país. A maioria dos estados não possuía nem ao menos locais adequados para que as aulas ocorressem e desse modo, os esforços e lutas foram muitos para que se instalasse uma política real de educação, que ultrapassasse as linhas dos documentos e fosse incorporada ao dia a dia da população. Diante destas circunstâncias, as reformas não foram implementadas de forma homogênea em todo o país. Além disso, a educação sempre foi palco de disputas ideológicas, econômicas e políticas, e ao longo da história foram várias as instituições, como, por exemplo, a Igreja Católica, que se utilizaram dela para disseminar seus princípios e conseguir vantagens. Assim como em âmbito nacional, no início da República, o estado do Paraná passou por muitas mudanças. Assim sendo, é necessário analisar tais mudanças para discutir como a educação foi pensada para a população do estado naquele período histórico. Além dos problemas comuns – como o analfabetismo, por exemplo – o Paraná, diferentemente do que acontecia em outras partes do Brasil, contava com um grande contingente de imigrantes. A educação dessa população oriunda de vários países se apresentava como um problema para os governantes paranaenses, como fazer a incorporação destas pessoas à nação republicana. Os resultados apresentados neste texto favorecem a análise das mensagens de governadores que será realizada na próxima etapa da pesquisa. Como vimos, trata-se de fontes preciosas para a análise da história da educação paranaense no início do período republicano, que permite identificar temas diversos sobre a organização da instrução pública naquele contexto. A partir desse estudo será I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 27 possível perceber as intencionalidades e os projetos políticos contidos nos discursos oficiais. Referências BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1891), de 24 de fevereiro de 1891. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm>. Acesso em 09 de dezembro de 2017. COSTA, E. V. Da monarquia à república: momentos decisivos. 6.ed. São Paulo: Editora da UNESP, 1999. MELO, C. S; MACHADO, M. C. G. A organização da instrução pública no Paraná no inicio da Republica: O decreto n° 31 de 29 de janeiro de 1890. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, n.38, p. 248-260, jun.2010. Disponível em: < http://www.histedbr.fe.unicamp.br/revista/edicoes/38/doc01a_38.pdf> . Acesso em 27 abril.2017. NAGLE, J. Educação e Sociedade na Primeira República. 3a ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009. PARANÁ (Estado). Mensagens de governadores, de 1889 a 1930. Arquivo Público do Paraná. Disponível em:< http://www.arquivopublico.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=31>.Acesso em 27 de abril. 2017. PARANÁ. Constituição política do Estado do Paraná. In: PARANA. Constituição política, leis e regulamentos do Estado do Paraná. Curityba: Typografia da Penitenciaria Ahú, 1909. p. I - XXVI. Disponível em <http://www.arquivopublico.pr.gov.br/arquivos/File/Constituicoes/Constituicao_do_Parana_1 892.pdf SCHUELER, A. F. M.; MAGALDI, A. M. B. de M. Educação escolar na Primeira República: memória, história e perspectiva de pesquisa. 2008. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413- 77042009000100003&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em 10 de novembro de 2017. SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. TRINDADE, E. M. de C; ANDREAZZA, M. L. Cultura e educação no Paraná. Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná: textos introdutórios). I Simpósio de Educação e Inovação / II Seminário em Currículo e Inovação 22 a 24 de novembro / IFPR Campus Jacarezinho Jacarezinho/ PR ISSN 2595‐0606 28 A LIBRAS E O ENSINO DE QUÍMICA Bruna Gomes Delanhese Instituto Federal do Paraná- Câmpus Jacarezinho- PR Joicy Valeska Oliveira Gonçalves Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo- Câmpus Sertãozinho -SP RESUMO: Atualmente se fala muito em educação inclusiva, que tem por objetivo desenvolver competência de pessoas com algum tipo de deficiência que abrange níveis e graus diferentes no sistema educacional, mas isso só foi possível depois da declaração de Salamanca de 1994, considerado como documento pioneiro para a inclusão social e principalmente para a educação inclusiva, pois relata-se que “a educação é para todos”. Apesar de englobar vários assuntos fora escolhido a Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS. Mais especificamente a área de química, pois percebe- se que possui um déficit alto de sinais, o que nos leva a pensar em como o docente transmite os conteúdos desta disciplina para o aluno surdo, sabe-se que a área de ciências é bem ampla, contendo uma linguagem bem específica dentro de um campo teórico, com tabelas, equações, gráficos, cálculos, etc. O aluno surdo não pode aprender um conteúdo transmitido em uma língua que ele não domina de fato, que restringe a sua aprendizagem a uma quantidade muito reduzida de conhecimento com qualidade (Quadros, 2006, pág. 50). Pensado nisso fora elaborado um questionário e aplicado para professores desta determinada área do Instituto
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