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BELTERRA, PARÁ: UM BREVE RESGATE DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE UMA COMPANY TOWN NA AMAZÔNIA GLENA RAÍRA FERREIRA LISBOA ANDRESSA DA SILVA PAZ RESUMO A presente pesquisa faz um resgate do processo histórico passado pela cidade de Belterra (PA), localizada na Amazônia, que foi alvo de altos investimentos durante o ciclo da borracha pela companhia industrial Henry Ford no Brasil, elencando os principais acontecimentos deste período que foram fundamentais para o cenário peculiar atual da cidade o qual descreveremos, o trabalho parte da premissa de que a memória histórica deve ser enaltecida por seu grande valor patrimonial dentro da nação brasileira, nosso objetivo é fazer uma breve análise sobre modo de preservação do acervo memorial do município com enfoque na relação da população local com o Centro de Memória do município. Os procedimentos metodológicos foram elaborados por meio de pesquisa bibliográfica e visita de campo, realizada em 2016, obtendo como área de estudo os principais espaços históricos da cidade de Belterra, juntamente com a aplicação de questionários aos moradores. O referencial teórico está fundamentado nas obras de Pereira, Silva e Ferreira (2002) e Pereira (2012) autores com obras aprofundadas na historicidade do lugar e Barros (2011) para conceituar ‘’ Memória’’. A análise dos resultados sobre a relação da população local com o Centro de Memória nos permite afirmar que a memória histórica é muito presente na sociedade e na sua preservação, contudo, existe a carência de política públicas que custeiem e incentivem a preservação cultural deste município. Palavras-chaves: Belterra; Cidade; Memória Histórica; BELTERRA COMO SEGUNDO PLANO Em 1928, a Ford Motor Company inicia os trabalhos de construção da plantação de seringueiras no Brasil, e o local escolhido foi o berço destas árvores, a Amazônia brasileira. Trouxeram toda a estrutura necessária para abrir uma cidade no meio da 1 Amazônia, a bordo de dois navios, chegando à comunidade de Boa Vista que começaram a chamar de Fordlândia, justamente para caracterizar a chegada da companhia Ford no Brasil. As company tows, conforme definem Pereira, Silva e Ferreira (2002, p. 60), são cidades planejadas criadas pelas empresas para dar suporte aos grandes projetos destinados à exploração de recursos naturais na Amazônia. Ao se percorrer o interior das mesmas, dizem os autores, tem-se a impressão de estar em outro mundo “intencionalmente produzido, racionalmente programado”, através de construtos e objetos dispostos no espaço. Isso implica uma racionalização da dinâmica urbana cujo interesse principal é viabilizar a realização econômica do empreendimento, de forma que a localização em pontos estratégicos, tanto busca a proximidade dos recursos naturais, quanto à facilidade para obtenção de mão-de-obra (RODRIGUES, 2002). O industrial pretendia trazer o progresso ao recriar a “América na Amazônia”. Os trabalhadores das fábricas eram mantidos na linha, não somente de montagem, mas pela regularização e vigilância da vida cotidiana, como os hábitos alimentares e de higiene. Conforme Pinto e Castro (1995 apud PEREIRA, 2012, p. 52): Os “grandes projetos”, surgiram na região Amazônica no fim dos anos 1960 e inicio da década de 1970, em plena ditadura militar, relacionados aos empreendimentos e complexos produtivos que contaram com forte apoio estatal, na implantação de infraestrutura e criação de agências governamentais de planejamento e financiamento, concessão de terras e dinheiro público, tanto para iniciar o empreendimento quanto para cobrir os potenciais riscos e fracassos. O objetivo da company town na Amazônia era garantir a autossuficiência de borracha para os carros que produzia, desse modo Ford deu início a vasta plantação de seringueiras. Esta ação fazia parte do plano da companhia, mesmo que não considerasse o contexto da população local e sua realidade. As intervenções realizadas geraram impactos sociais e ambientais, como afirma Pereira (2012, p.79): Embora o termo “grandes projetos” seja proveniente das situações apresentadas a partir destas décadas, podemos considerar que as intervenções realizadas em Fordlândia e Belterra tiveram as características de um grande empreendimento, pelo menos em seus aspectos fundamentais: apoio estatal, uso intensivo e predatório da natureza e desarranjo ou destruição dos modos de vida preexistente. Ford e Fordlândia se viram em meio a diversos tipos de desafios e dificuldades, obtendo pouco sucesso e grande fracasso, pois o local escolhido era totalmente desnivelado, cheio de altos e baixos, um pouco pedregoso, solo úmido, difícil acesso tanto de mão-de-obra 2 quanto ao principal porto, além de problemas com os nativos da região. Outo ponto importante é que eles tentaram introduzir costumes característicos da sociedade americana, ocasionando revoltas por parte dos funcionários, as pragas e insetos nas folhas também se tornaram um grande impedimento para a Companhia. “Com a compra das terras da Companhia Ford Industrial do Brasil pelo Governo brasileiro, Fordlândia e Belterra – que nas décadas de 30 e 40 foram sinônimos de sofisticação e infraestrutura moderna – entraram em processo acelerado de deterioração. Desde então, o Ministério da Agricultura exerce na área atividades que não são de sua competência; arca com despesas de fornecimento de energia elétrica, esgoto, abastecimento d’água, educação e saúde”. (SPHAN – Pró Memória 45. Janeiro-Fevereiro. 1939, Rio de Janeiro – RJ.) O projeto parou em Fordlândia em 1934, mas a ambição do empresário Henry Ford não se limitou na primeira tentativa. Abandonaram Fordlândia, fundando outra cidade, Belterra, que na época se chamava Bela Terra, e a partir do ano de 1934 deu-se a continuidade às práticas de plantação em novo solo. A principio ancoraram em uma comunidade chamada Samaúma, onde passaram a chamar de Porto Novo. A CFIB implantou, em Fordlândia e Belterra, um sistema de produção baseado na constituição da força de trabalho em bases assalariadas, na plantação planejada em áreas definidas em quadras, no disciplinamento dos trabalhadoresem hierarquias sócio funcionais e na construção de uma cidade na floresta, tendo como referência o sistema fordista de produção, algo que ainda não havia sido experimentado na região. (PEREIRA, 2012, p. 62) A cidade de Belterra é um município brasileiro pertencente ao estado do Pará, é uma Mesorregião do Baixo Amazonas, fundada pela Companhia Ford Industrial no Brasil (CFIB), para a produção de borracha natural, a fim de suprir a demanda da fábrica Ford no setor de produção de pneus e acessórios e acabar com a dependência de matéria-prima importada da Ásia. A cidade começa a ser construída a partir de diferentes vilas, a Vila Americana foi a primeira vila a ser construída, onde hoje funcionam alguns órgãos do governo, como a câmara municipal e a secretaria de educação, foi o local selecionado para a projeção de uma casa especialmente construída para o Henry Ford , com a finalidade de abrigar o empresário e sua família, o que nunca ocorreu, pois Ford nunca visitou Fordlândia muito menos Belterra, 3 porque havia receio de contrair as doenças tropicais. Apesar do receio de Ford em visitar Belterra a Companhia chamava a atenção do governo e foi no dia 08 de outubro de 1940, a comitiva presidencial partiu de Belém em direção à Belterra para visitar as plantações Ford no Tapajós. A visita do presidente Getúlio Vargas à Belterra não foi um ato formal sem compromisso. Vale ressaltar a disputa no mercado internacional entre as grandes potências mundiais em torno da produção da borracha em larga escala, especialmente diante do conflito envolvendo Japão e Estados Unidos durante a segunda guerra mundial, das possibilidades abertas para relações comerciais e políticas entre EUA e governo brasileiro e das negociações que envolveram a Amazônia. Os acordos assinados entre Brasil e EUA durante a II Guerra Mundial, em 1942, tanto posicionaram o Brasil no conflito, como lhe deram o papel de produtor de borracha para abastecer o mercado americano, especialmente aquele ligado a indústria armamentista. Arregimentar mão-de-obra para os seringais e fornecer borracha para os aliados foi à missão brasileira naquele contexto. Belterra, porém, também teve como resultado uma baixa produtividade das árvores e até mesmo a devastação de muitos hectares. A plantação se tornou inviável, sendo vendida ao governo brasileiro em 1945, pelo valor das indenizações a serem pagas aos trabalhadores nativos. E hoje, habitadas por brasileiros, entre os quais muitos funcionários aposentados que trabalharam, em diferentes épocas, no empreendimento. Fordlândia e Belterra são testemunhos materiais mais fáceis da passagem dos Norte-Americanos pela Amazônia Brasileira. (SPHAN – Pró Memória 45. Janeiro-Fevereiro. 1939, Rio de Janeiro – RJ.) As características iniciais do projeto de Ford implantado na Amazônia permanecem conservadas no então município de Belterra mantendo os sinais de uma cidade americana em plena Amazônia. CENTRO DE MEMÓRIA Antes de falarmos do Centro de Memória deixaremos claro o conceito de Memória e qual sua relação com a história visando ressaltar sua influência na sociedade. Segundo o significado simples do dicionário, memória é a capacidade de reter um dado da experiência 1 ou um conhecimento adquirido e de trazê-lo à mente; considerada essencial para constituição 1 Ver MEMÓRIA.In:DICIONÁRIO Japiassú e Marcondes-Dicionário Básico de Filosofia. 4 das experiências e do conhecimento científico, contudo, pode-se dizer que a memória só se torna parte da história quando se é descrita e documentada. Segundo Barros (2011), a memória progressivamente vem sendo considerada pela história, por sua complexidade e riqueza de elementos, sendo que seu processo de apropriação dos fatos ocorre de forma ativa e dinâmica, até mesmo interativa, considerando a vida social do sujeito. De fato a memória é uma das principais fontes da história pela sua peculiaridade, tudo é muito subjetivo, já que um acontecimento pode ser visto e analisado por diferentes atores de maneiras diversas Barros (2011), define memória coletiva àquela feita também de descontinuidades, porém estas se esfacelariam facilmente “disfarçáveis em continuidade. Deste modo, ela (memória coletiva), assegura a sensação humana e social de unidade e permite que se atravessem mesmo os períodos históricos mais transformadores.” (p.379). Ao relacionar memória com história é importante está atento para a vericidade,deve se considerar os fatos na totalidade como diz Cordeiro Gonçalves(2012,p.3) : Busca-se, portanto, a veracidade histórica dos fatos considerando a totalidade do grupo social do país, e não apenas a aferição de um grupo localizado, tendo em vista também a potencialidade da memória que pode ser resinificada com o passar dos anos e as modificações ideológicas do sujeito. Diante do breve conhecimento de Memória , falaremos de como a história de Belterra se preserva até os dias de hoje por intermédio do Centro de Memória do município, tanto por fontes de descrição dos moradores, quanto por objetos e imóveis que estão por toda a cidade. O Centro de Memória de Belterra iniciou suas atividades no dia 01 de Maio de 2010. O projeto de resgate da história tem a missão de incentivar e divulgar pesquisas sobre o município através dos acervos disponibilizados para todos que se interessam pelos acontecimentos históricos de Belterra e também de Fordlândia. O espaço foi criado para pesquisas, recuperação de acervos históricos e para realizações de exposições, palestras e oficinas que promovam o conhecimento da história da cidade. 5 Para atingir esse objetivo o Centro recolhe, cataloga, preserva e disponibiliza acervos históricos adquiridos para consulta pública. O Projeto é bastante amplo e pretende mudar, parcialmente, a face de a cidade fazendo-a retornar ao seu antigo visual. É uma missão árdua que tem a prefeitura e seus colaboradores pela frente, mas que, certamente, se for concretizada, trará benefícios para todos seus moradores. A instalação servia, antigamente, de residência para os médicos do “Hospital HenryFord” e foi o primeiro prédio histórico restaurado pelo Projeto “Muiraquitã Brasil”, fruto da parceria com o Instituto Butantan e a OSCIP (Organização de Sociedade Civil de Interesse Público) Ama Brasil. O Centro localiza-se na Vila Americana nº 108, Bosque das Seringueiras. ÁREAS HISTÓRICAS DE BELTERRA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL O que é patrimônio Cultural? Patrimônio cultural é o conjunto de bens e ou imaterial que guarda em si referências à identidade a ação e a memória dos grupos sociais. É um elemento importante para o desenvolvimento sustentando-a promoção do bem estar social, a participação e a cidadania. (Revista Crea-SP,2008, p.13) Essa definição nos dá suporte para afirmar que ás áreas históricas de Belterra são e devem ser consideradas como patrimônio visto que a cidade retrata muito bem os anos do tempo da borracha nessa localidade. Vejamos a história e a narrativa dos pontos mais tradicionais da cidade. O Bosque das Seringueiras é um lugar de paisagismo das Seringueiras improdutivas da época da produção da borracha ainda pode-se notar as cicatrizes nos troncos, lembrando o tempo em os seringais, foram a principal que moveu a economia da região. O surgimento das Vilas se deram pela hierarquização, além de toda infraestrutura construída para fazer funcionar o seu sistema de produção, a CFIB criou uma hierarquia funcional de gerentes, capatazes, trabalhadores mais especializados e os peões. Essa hierarquização foi representada (e vivenciada pela população de Belterra) na construção das moradias e dos indivíduos no espaço, ocorrendo a definição funcional dos lugares no espaço de moradia segundo sua utilidade. 6 A Vila Americana, a primeira a ser construída na cidade, tinha um conjunto de casas, onde viviam os americanos que coordenavam o projeto. Eram casas grandes, com sala, quarto, cozinha, varanda, banheiro interno, fossa sanitária, cobertas com telhas francesas. Eram casas amplas cercadas de árvores, com terreno sem muros. Nelas, os utensílios domésticos e móveis eram trazidos dos Estados Unidos ou construídos em Belterra. Também tinham iluminação, água encanada, manutenção predial oferecida pela empresa e telefone. Nestas casas moravam apenas os americanos sem suas famílias, que haviam ficado em seu país de origem. Para locomoção utilizavam bicicletas e automóveis trazidos por embarcações americanas e que eram de uso exclusivo deles, com exceção das bicicletas utilizadas pelos chefes durante o expediente de trabalho. Na Vila Mensalista, moravam trabalhadores com algum cargo de chefia, principalmente, com atividades de administração, outros que trabalhavam no hospital como os farmacêuticos e os russos que faziam as autopsias, ou seja, trabalhadores mais especializados. As casas umas próximas das outras, eram separadas por plantas que demarcavam os espaços de cada uma, com jardins que enfeitavam as fachadas. Eram menores, se comparadas com as casas dos americanos, mas confortáveis. Na Vila Operária as casas eram menores, com sala, dois quartos e cozinha lá moravam os trabalhadores com alguma especialização em, como mecânicos que consertavam os carros e máquinas, os marceneiros que faziam as mobílias para as casas; os carpinteiros, que construíam as casas da cidade, os torneiros, que faziam as peças para os carros e máquinas; os serradores que cortavam as madeiras; e os tratoristas que operavam o trator utilizado para abertura de estradas e preparou o campo de aviação. Na Vila Viveiro I e II morava os trabalhadores que cuidavam das mudas das seringueiras. As casas eram conjugadas, duas casas juntas, parede com parede, feitas de madeira com parte da estrutura lateral coberta por folhas de zinco, lá moravam duas famílias, uma em cada casa. Na Vila 129 viviam os trabalhadores que desenvolviam atividades braçais no projeto. Distante do centro da cidade, cerca de quatro quilômetros. Tinham sala, quarto e uma pequena cozinha. Eram servidos por água e luz, mas não tinham telefone, nem fossas sanitárias. 7 Os campeiros e seringueiros não moravam em casas com o padrão de vila, eram. Casas de palha, com piso de chão, sem água, luz ou telefone. A categoria mais baixa na hierarquização sócio funcional da empresa: trabalhadores que desenvolviam atividades braçais no campo, como derrubar mata abrir estradas, cavar buracos com a ajuda de terçado e enxada, plantar as mudas das seringueiras. Agora falando das escolas, no dia 28 de outubro de 1938 a Companhia Ford inaugurou o primeiro prédio escolar em Belterra, localizado na Estrada Um. “Na época era conhecida como Grupo Escolar Henry Ford”, atualmente se tornou Escola Estadual de Ensino Médio Waldemar Maués. A Escola Manoel Garcia de Paiva, localizada no Bairro de Santa Luzia, anteriormente chamada Quadra nº 129, Vila 129 ou Vila “bode, foi à terceira escola a ser construída e inaugurada pelos americanos em 04 de julho de 1941, batizada de “Grupo Escolar Benson Ford”. As Igrejas se deram por visitas eram feitas clandestinamente por membros das igrejas que queriam evangelizar em Belterra, por não ser aceito pela Companhia. Na Estrada 8, o primeiro culto aconteceu com um pastor da Assembleia de Deus, seguido de representantes da Igreja Católica. No início da década de 40, a Companhia Ford cedeu ao Frei Tiago Ryan terrenos para construção da igreja matriz, casa paroquial e casa dos padres. Na vila Timbó, foram construídas casas para o acolhimento dos religiosos, seguindo o mesmo padrão das outras residências. A igreja pioneira a ser construída foi a Primeira Igreja Católica de Belterra, com padroeiro São José, localizado na Estrada Oito. Seguidas da Igreja de Santo Antônio de Pádua, padroeiro de Belterra, da Igreja de Santa Luzia, na Quadra 129, e da Igreja de Nossa Senhora das Graças, na Estrada 10. A primeira casa cedida aos padres passou a ser da Congregação das Irmãs do Preciosismo Sangue, porém, até 1979, quando a madre superiora decidiu pelo fechamento do convento em Belterra. Já as praças da cidade são todas de certa forma padronizadas. Uma das praças mais antigas éa Praça Brasil, situada em frente à Matriz de Santo Antônio de Pádua na Estrada Um. Próximo a Igreja de São José foi construída outra, situada na Estrada Oito. Na Estrada 10 foi construída uma pequena praça nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora das Graças, sempre seguindo o padrão. 8 Enquanto ao hospital Henry Ford foi construído Nas proximidades da Vila Americana e se tornou uma grande referência na área da saúde na Amazônia por seus equipamentos e corpo profissional especializado. Nele trabalhavam 41 dentre médicos e enfermeiros, sob supervisão de um médico-norteamericano. Inclusive as cirurgias eram feitas no próprio hospital. Nas intermediações também ficava o hotel onde se hospedavam os funcionários, principalmente aqueles vindo de fora e a casa dos médicos. Segundo os moradores das proximidades o hospital foi incendiado em dezembro de 2004, um mês antes do início do mandato do prefeito do Partido dos Trabalhadores (PT), dando a entender que esta ação foi uma forma de retaliação à sua vitória por apenas seis votos de diferença do segundo colocado. ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS . Na cidade também ainda podemos encontrar dois dos elementos mais característicos dos americanos trazidos na época da Companhia, são eles: Os Hidrantes, que época da companhia Ford a organização em todos os setores era fundamental para a segurança dos moradores e trabalhadores. A atenção era focada nas plantações, pois todos dependiam do trabalho feito nelas e, por isso, tomaram todas as precauções necessárias. Hidrante é um equipamento de segurança de rua usado como fonte de água para combater os incêndios. São pintados na cor vermelha e foram colocados em locais estratégicos para auxiliar os bombeiros nas possíveis queimadas. Existem 10 hidrantes: 03 (três) na Vila Americana, 02 (dois) na Vila Mensalista, 03 (três) na estrada um e 02 (dois) na estrada quatro. E as Caixas D’água que assim como os hidrantes, as caixas d'água tinham grande importância no combate aos incêndios nas plantações e foi algo bem pensado pelos americanos, até porque Henry Ford prezava pela boa saúde de seus funcionários. Duas caixas d’água metálicas de 186.500 litros cada uma delas, foram instaladas em Belterra. Uma na Estrada Um e a outra na Estrada Sete, com rede de distribuição doméstica e hidrantes para prevenção de possíveis incêndios na plantação. No alto da caixa d'água ficava um fiscal observando todas as quadras de seringueiras. Quando avistava algum incêndio ele avisava onde era o local através da potente sirene que atinge quilômetros de distância. Se era na quadra 2, a sirene era acionada duas vezes e, assim, os bombeiros se deslocavam até o lugar 9 indicado. O "apito da caixa", como muitos belterrenses se referem, tem horário certo para ser acionado, avisando os trabalhadores sobre a hora de entrada e saída, assim como era no tempo da administração da Companhia. METODOLOGIA O presente trabalho foi elaborado através de pesquisa bibliográfica tendo como fonte a coleta de dados em livros, artigos científicos e materiais encontrados na rede mundial de computadores. Além da realização de pesquisa de campo realizada dia 16 de Abril de 2016 obtendo como área de estudo o Centro da Memória da cidade de Belterra, localizado no interior do Pará. Foi realizado uma entrevista como o senhor Miguel Gomes da Silva e aplicações de questionários (Anexo 1) sobre a importância do Centro citado, realizada com 05 (cinco) moradores da cidade pesquisada, a qual nos possibilitou a coleta de dados e relatos importantes da história da cidade. Após a realização dos questionários, e verificação dos dados coletados, foi realizada análise e a comparação entre os mesmos e por fim, apresentam-se os dados coletados em forma de gráficos para maior didática e da entrevista foi retirado fatos para agregar no trabalho e outros apresentados na forma de vídeo mostrado em sala de aula. ANÁLISE DE DADOS ▪ Aspectos Quantitativos De acordo com as informações citadas anteriormente, foi aplicado um questionário simples contendo oito (oito) perguntas a cerca do tempo que mora na cidade e a importância que se dá para o Centro da Memória e a história da cidade. Foi aplicado com cinco (5) pessoas da sociedade com intuito de obter uma análise pessoal de cada, para se tentar fazer estimativas do tamanho do contexto histórico que a população possui e se eles sabem sobre o Centro da Memória como fonte rica para se obter maior profundidade acerca da historia da cidade de Belterra. E seus resultados a baixo em forma de gráficos: 10 Figura 1: Possuem conhecimento sobre o Centro de Memória Fonte: Pesquisa direta (2016 ) De acordo com os dados da pesquisa, a maioria das pessoas entrevistadas não possuem conhecimento sobre o Centro de Memória na cidade de Belterra conforme figura 1. Apesar de em sua totalidade a maioria das pessoas entrevistadas estarem morando na cidade a mais de 08 (oito) anos ou nasceram na cidade. Figura 2: Importância do Centro de Memória Fonte: Pesquisa direta (2016) A partir dos dados apresentados na Figura 2, verifica-se que para todos os que responderam o questionário, mesmo não possuindo conhecimento sobre o Centro de Memória da Cidade, o centro é visto por eles como um lugar de grande importância para a difusão da historicidade da cidade. 11 Figura 3: Conhecimento sobre a história da Cidade. Fonte: Pesquisa direta (2016) A parcela da população entrevistada a respeito do conhecimento que possuem sobre a história da cidade de Belterra, em sua maioria respondeu que seus conhecimentos são médios acerca do tema. Nunca ou poucas vezes já freqüentou o Centro de Memória para buscar agregar mais conhecimento. Aspectos Qualitativos: O termo entrevista é constituído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter preocupação com algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo entrevista refere-se ao ato de perceber o que está sendorealizado entre duas pessoas. RICHARDSON (1999, 207 p.) O tipo de entrevista realizada foi a por pautas, por apresentar certo grau de estrutura, guiando-se por pontos de interesse no qual o entrevistador vai sendo explorado ao longo do curso da entrevista. Com uso de pautas ordenadas e com relações entre si. Deixando o entrevistador falar livremente, fazendo poucas perguntas diretas, isto á medida que reporta ás pautas assinaladas. Entrevistamos o morador da cidade, senhor Miguel Gomes da Silva que reside há 61 anos na cidade. O Senhor Miguel Gomes da Silva, atualmente aposentado, trabalhou na Ford Motor Company e possui bons momentos desta época onde relembra sobre a vida calma que possuíam e os benefícios agregados a região por conta deste empreendimento. Trabalhou na empresa primeiramente no seringal, passando o tempo começa a assumir o posto de motorista. Além de ele trabalhar por diversas funções na companhia em Belterra, seu pai, também era 12 empregado na Ford, tendo a função de marceneiro colaborando nas construções das casas que hoje se fazem presentes na história e paisagem da cidade de Belterra. Sobre a importância do Centro de Memória ele acha de suma importância, fala que as gerações devem saber sobre a história que há por trás da cidade, porém releva que não conhecia o centro de memória. O senhor demonstra seus conhecimentos adquiridos por meio da vivência, ao relatar sobre o Hospital de Ford e caracterizá-lo como sendo um hospital de ótima qualidade, com serviços prestados a população da cidade e até para pessoas de fora. Por fim, o senhor Miguel Silva fala do fim da companhia e como ficou a cidade depois deste momento, cita que todos os trabalhadores foram corretamente indenizados pela companhia, que tudo ocorreu com tranqüilidade e de forma correta, cada um recebendo o que lhe era de direito. CONCLUSÃO A indentificação da memória dos moradores da cidade de Belterra em vista da historicidade que a região possui ainda é muito viva, principalmente para as pessoas mais antigas no município, o Centro de Memória é um lugar de extrema importância para a preservação da memória histórica, sem falar da cidade como um todo que já pode ser considerada patrimônio histórico sendo este um tema em aberto que nossa pesquisa deixa para ser discutido e questionado. A relação da população local com o Centro de Memória nos permite afirmar que a sociedade Belterrense conhece e que muitos que lá estão fizeram parte desta história sem falar que a paisagem da cidade os permite de certa forma viverem suas lembranças ,os velhos tempos da borracha, certamente que com o passar dos anos a ação do capital no Tapajós desestruturou os modos de vida preexistentes e ressocializou a população do campo na cidade, os converteu em trabalhadores assalariados e impôs uma forma de uso da natureza em base intensiva, industrial e predatória, Desta forma é necessário apoio financeiro para as instituições responsáveis não só pelo centro como para o município inteiro, dessa forma haverá meios de conservação do rico patrimônio memorial em terras amazonenses. Como citado mais acima nossa pesquisa deixa margens para outras linhas de estudos sobre Belterra visto que é relevante a propagação de sua memória para criação ou 13 implementação de novas políticas públicas voltadas para preservação cultural deste município. REFERÊNCIAS AMORIM, TEREZINHA. A dominação Norte-Americana no Tapajós. A Companhia Ford Industrial no Brasil. 1995. BARROS, J.D’A.Memória e história: uma discussão conceitual. In: Tempos históricos- Dossiê: História, cinema e música. /Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Campos Marechal Cândido Rondon. Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras. Colegiado do curso de história-v.15, N.01. Ano XIII. 1°semestre. Marechal Cândido Rondon: EDUNIOESTE, 2011. (p. 369-400). BELTERRA do Tapajós. Histórico . Disponível em: < http://belterradotapajos.blogspot.com.br/historico> Acesso em 01/05/2016 . COLACIOS, ROGER DOMENECH – Resenha do livro de Greg Grandin. Fordlândia: ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva. 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