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BREVE RESGATE DA MEMORIA DE BELTERRA-1 - Documentos Google

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GLENA RAIRA

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BELTERRA, PARÁ: UM BREVE RESGATE DA MEMÓRIA HISTÓRICA DE UMA 
COMPANY TOWN NA AMAZÔNIA 
GLENA RAÍRA FERREIRA LISBOA 
ANDRESSA DA SILVA PAZ 
 
RESUMO 
A presente pesquisa faz um resgate do processo histórico passado pela cidade de Belterra 
(PA), localizada na Amazônia, que foi alvo de altos investimentos durante o ciclo da borracha 
pela companhia industrial Henry Ford no Brasil, elencando os principais acontecimentos deste 
período que foram fundamentais para o cenário peculiar atual da cidade o qual 
descreveremos, o trabalho parte da premissa de que a memória histórica deve ser enaltecida 
por seu grande valor patrimonial dentro da nação brasileira, nosso objetivo é fazer uma breve 
análise sobre modo de preservação do acervo memorial do município com enfoque na relação 
da população local com o Centro de Memória do município. Os procedimentos metodológicos 
foram elaborados por meio de pesquisa bibliográfica e visita de campo, realizada em 2016, 
obtendo como área de estudo os principais espaços históricos da cidade de Belterra, 
juntamente com a aplicação de questionários aos moradores. O referencial teórico está 
fundamentado nas obras de Pereira, Silva e Ferreira (2002) e Pereira (2012) autores com obras 
aprofundadas na historicidade do lugar e Barros (2011) para conceituar ‘’ Memória’’. A 
análise dos resultados sobre a relação da população local com o Centro de Memória nos 
permite afirmar que a memória histórica é muito presente na sociedade e na sua preservação, 
contudo, existe a carência de política públicas que custeiem e incentivem a preservação 
cultural deste município. 
 
Palavras-chaves: Belterra; Cidade; Memória Histórica; 
 
 BELTERRA COMO SEGUNDO PLANO 
Em 1928, a Ford Motor Company inicia os trabalhos de construção da plantação 
de seringueiras no Brasil, e o local escolhido foi o berço destas árvores, a Amazônia 
brasileira. Trouxeram toda a estrutura necessária para abrir uma cidade no meio da 
 
 
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Amazônia, a bordo de dois navios, chegando à comunidade de Boa Vista que começaram a 
chamar de Fordlândia, justamente para caracterizar a chegada da companhia Ford no Brasil. 
As company tows, conforme definem Pereira, Silva e Ferreira (2002, p. 60), são 
cidades planejadas criadas pelas empresas para dar suporte aos grandes projetos destinados à 
exploração de recursos naturais na Amazônia. Ao se percorrer o interior das mesmas, dizem 
os autores, tem-se a impressão de estar em outro mundo “intencionalmente produzido, 
racionalmente programado”, através de construtos e objetos dispostos no espaço. Isso implica 
uma racionalização da dinâmica urbana cujo interesse principal é viabilizar a realização 
econômica do empreendimento, de forma que a localização em pontos estratégicos, tanto 
busca a proximidade dos recursos naturais, quanto à facilidade para obtenção de mão-de-obra 
(RODRIGUES, 2002). 
O industrial pretendia trazer o progresso ao recriar a “América na Amazônia”. Os 
trabalhadores das fábricas eram mantidos na linha, não somente de montagem, mas pela 
regularização e vigilância da vida cotidiana, como os hábitos alimentares e de higiene. 
Conforme Pinto e Castro (1995 apud PEREIRA, 2012, p. 52): 
 Os “grandes projetos”, surgiram na região Amazônica no fim dos anos 1960 e inicio 
da década de 1970, em plena ditadura militar, relacionados aos empreendimentos e 
complexos produtivos que contaram com forte apoio estatal, na implantação de 
infraestrutura e criação de agências governamentais de planejamento e 
financiamento, concessão de terras e dinheiro público, tanto para iniciar o 
empreendimento quanto para cobrir os potenciais riscos e fracassos. 
 
O objetivo da company town na Amazônia era garantir a autossuficiência de 
borracha para os carros que produzia, desse modo Ford deu início a vasta plantação de 
seringueiras. Esta ação fazia parte do plano da companhia, mesmo que não considerasse o 
contexto da população local e sua realidade. As intervenções realizadas geraram impactos 
sociais e ambientais, como afirma Pereira (2012, p.79): 
 Embora o termo “grandes projetos” seja proveniente das situações apresentadas a 
partir destas décadas, podemos considerar que as intervenções realizadas em 
Fordlândia e Belterra tiveram as características de um grande empreendimento, pelo 
menos em seus aspectos fundamentais: apoio estatal, uso intensivo e predatório da 
natureza e desarranjo ou destruição dos modos de vida preexistente. 
 
Ford e Fordlândia se viram em meio a diversos tipos de desafios e dificuldades, 
obtendo pouco sucesso e grande fracasso, pois o local escolhido era totalmente desnivelado, 
cheio de altos e baixos, um pouco pedregoso, solo úmido, difícil acesso tanto de mão-de-obra 
 
 
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quanto ao principal porto, além de problemas com os nativos da região. Outo ponto 
importante é que eles tentaram introduzir costumes característicos da sociedade americana, 
ocasionando revoltas por parte dos funcionários, as pragas e insetos nas folhas também se 
tornaram um grande impedimento para a Companhia. 
“Com a compra das terras da Companhia Ford Industrial do Brasil pelo Governo 
brasileiro, Fordlândia e Belterra – que nas décadas de 30 e 40 foram sinônimos de sofisticação 
e infraestrutura moderna – entraram em processo acelerado de deterioração. Desde então, o 
Ministério da Agricultura exerce na área atividades que não são de sua competência; arca com 
despesas de fornecimento de energia elétrica, esgoto, abastecimento d’água, educação e 
saúde”. (SPHAN – Pró Memória 45. Janeiro-Fevereiro. 1939, Rio de Janeiro – RJ.) 
O projeto parou em Fordlândia em 1934, mas a ambição do empresário Henry Ford 
não se limitou na primeira tentativa. Abandonaram Fordlândia, fundando outra cidade, 
Belterra, que na época se chamava Bela Terra, e a partir do ano de 1934 deu-se a continuidade 
às práticas de plantação em novo solo. A principio ancoraram em uma comunidade chamada 
Samaúma, onde passaram a chamar de Porto Novo. 
A CFIB implantou, em Fordlândia e Belterra, um sistema de produção baseado na 
constituição da força de trabalho em bases assalariadas, na plantação planejada em 
áreas definidas em quadras, no disciplinamento dos trabalhadoresem hierarquias 
sócio funcionais e na construção de uma cidade na floresta, tendo como referência o 
sistema fordista de produção, algo que ainda não havia sido experimentado na 
região. (PEREIRA, 2012, p. 62) 
 
A cidade de Belterra é um município brasileiro pertencente ao estado do Pará, é 
uma Mesorregião do Baixo Amazonas, fundada pela Companhia Ford Industrial no Brasil 
(CFIB), para a produção de borracha natural, a fim de suprir a demanda da fábrica Ford no 
setor de produção de pneus e acessórios e acabar com a dependência de matéria-prima 
importada da Ásia. 
 
A cidade começa a ser construída a partir de diferentes vilas, a Vila Americana foi a 
primeira vila a ser construída, onde hoje funcionam alguns órgãos do governo, como a câmara 
municipal e a secretaria de educação, foi o local selecionado para a projeção de uma casa 
especialmente construída para o Henry Ford , com a finalidade de abrigar o empresário e sua 
família, o que nunca ocorreu, pois Ford nunca visitou Fordlândia muito menos Belterra, 
 
 
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porque havia receio de contrair as doenças tropicais. 
Apesar do receio de Ford em visitar Belterra a Companhia chamava a atenção do 
governo e foi no dia 08 de outubro de 1940, a comitiva presidencial partiu de Belém em 
direção à Belterra para visitar as plantações Ford no Tapajós. A visita do presidente Getúlio 
Vargas à Belterra não foi um ato formal sem compromisso. Vale ressaltar a disputa no 
mercado internacional entre as grandes potências mundiais em torno da produção da borracha 
em larga escala, especialmente diante do conflito envolvendo Japão e Estados Unidos durante 
a segunda guerra mundial, das possibilidades abertas para relações comerciais e políticas entre 
EUA e governo brasileiro e das negociações que envolveram a Amazônia. Os acordos 
assinados entre Brasil e EUA durante a II Guerra Mundial, em 1942, tanto posicionaram o 
Brasil no conflito, como lhe deram o papel de produtor de borracha para abastecer o mercado 
americano, especialmente aquele ligado a indústria armamentista. Arregimentar mão-de-obra 
para os seringais e fornecer borracha para os aliados foi à missão brasileira naquele contexto. 
Belterra, porém, também teve como resultado uma baixa produtividade das árvores e 
até mesmo a devastação de muitos hectares. A plantação se tornou inviável, sendo vendida ao 
governo brasileiro em 1945, pelo valor das indenizações a serem pagas aos trabalhadores 
nativos. 
E hoje, habitadas por brasileiros, entre os quais muitos funcionários 
aposentados que trabalharam, em diferentes épocas, no empreendimento. 
Fordlândia e Belterra são testemunhos materiais mais fáceis da passagem dos 
Norte-Americanos pela Amazônia Brasileira. (SPHAN – Pró Memória 45. 
Janeiro-Fevereiro. 1939, Rio de Janeiro – RJ.) 
As características iniciais do projeto de Ford implantado na Amazônia 
permanecem conservadas no então município de Belterra mantendo os sinais de uma cidade 
americana em plena Amazônia. 
 CENTRO DE MEMÓRIA 
Antes de falarmos do Centro de Memória deixaremos claro o conceito de Memória e 
qual sua relação com a história visando ressaltar sua influência na sociedade. Segundo o 
significado simples do dicionário, memória é a capacidade de reter um dado da experiência 1
ou um conhecimento adquirido e de trazê-lo à mente; considerada essencial para constituição 
1 Ver MEMÓRIA.In:DICIONÁRIO Japiassú e Marcondes-Dicionário Básico de Filosofia. 
 
 
 
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das experiências e do conhecimento científico, contudo, pode-se dizer que a memória só se 
torna parte da história quando se é descrita e documentada. 
Segundo Barros (2011), a memória progressivamente vem sendo considerada pela 
história, por sua complexidade e riqueza de elementos, sendo que seu processo de apropriação 
dos fatos ocorre de forma ativa e dinâmica, até mesmo interativa, considerando a vida social 
do sujeito. 
 
De fato a memória é uma das principais fontes da história pela sua peculiaridade, tudo 
é muito subjetivo, já que um acontecimento pode ser visto e analisado por diferentes atores de 
maneiras diversas 
Barros (2011), define memória coletiva àquela feita também de descontinuidades, 
porém estas se esfacelariam facilmente “disfarçáveis em continuidade. Deste modo, ela 
(memória coletiva), assegura a sensação humana e social de unidade e permite que se 
atravessem mesmo os períodos históricos mais transformadores.” (p.379). 
Ao relacionar memória com história é importante está atento para a vericidade,deve se 
considerar os fatos na totalidade como diz Cordeiro Gonçalves(2012,p.3) : 
 
Busca-se, portanto, a veracidade histórica 
dos fatos considerando a totalidade do grupo 
social do país, e não apenas a aferição de um 
grupo localizado, tendo em vista também a 
potencialidade da memória que pode ser 
resinificada com o passar dos anos e as 
modificações ideológicas do sujeito. 
 
Diante do breve conhecimento de Memória , falaremos de como a história de Belterra 
se preserva até os dias de hoje por intermédio do Centro de Memória do município, tanto por 
fontes de descrição dos moradores, quanto por objetos e imóveis que estão por toda a cidade. 
O Centro de Memória de Belterra iniciou suas atividades no dia 01 de Maio de 2010. 
O projeto de resgate da história tem a missão de incentivar e divulgar pesquisas sobre o 
município através dos acervos disponibilizados para todos que se interessam pelos 
acontecimentos históricos de Belterra e também de Fordlândia. O espaço foi criado para 
pesquisas, recuperação de acervos históricos e para realizações de exposições, palestras e 
oficinas que promovam o conhecimento da história da cidade. 
 
 
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Para atingir esse objetivo o Centro recolhe, cataloga, preserva e disponibiliza acervos 
históricos adquiridos para consulta pública. O Projeto é bastante amplo e pretende mudar, 
parcialmente, a face de a cidade fazendo-a retornar ao seu antigo visual. É uma missão árdua 
que tem a prefeitura e seus colaboradores pela frente, mas que, certamente, se for 
concretizada, trará benefícios para todos seus moradores. 
A instalação servia, antigamente, de residência para os médicos do “Hospital HenryFord” e foi o primeiro prédio histórico restaurado pelo Projeto “Muiraquitã Brasil”, fruto da 
parceria com o Instituto Butantan e a OSCIP (Organização de Sociedade Civil de Interesse 
Público) Ama Brasil. O Centro localiza-se na Vila Americana nº 108, Bosque das 
Seringueiras. 
 
ÁREAS HISTÓRICAS DE BELTERRA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL 
O que é patrimônio Cultural? 
 Patrimônio cultural é o conjunto de bens e ou imaterial que guarda em si 
referências à identidade a ação e a memória dos grupos sociais. É um elemento 
importante para o desenvolvimento sustentando-a promoção do bem estar 
social, a participação e a cidadania. (Revista Crea-SP,2008, p.13) 
 
Essa definição nos dá suporte para afirmar que ás áreas históricas de Belterra são e 
devem ser consideradas como patrimônio visto que a cidade retrata muito bem os anos do 
tempo da borracha nessa localidade. Vejamos a história e a narrativa dos pontos mais 
tradicionais da cidade. 
O Bosque das Seringueiras é um lugar de paisagismo das Seringueiras improdutivas da 
época da produção da borracha ainda pode-se notar as cicatrizes nos troncos, lembrando o 
tempo em os seringais, foram a principal que moveu a economia da região. 
O surgimento das Vilas se deram pela hierarquização, além de toda infraestrutura 
construída para fazer funcionar o seu sistema de produção, a CFIB criou uma hierarquia 
funcional de gerentes, capatazes, trabalhadores mais especializados e os peões. Essa 
hierarquização foi representada (e vivenciada pela população de Belterra) na construção das 
moradias e dos indivíduos no espaço, ocorrendo a definição funcional dos lugares no espaço 
de moradia segundo sua utilidade. 
 
 
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A Vila Americana, a primeira a ser construída na cidade, tinha um conjunto de casas, 
onde viviam os americanos que coordenavam o projeto. Eram casas grandes, com sala, 
quarto, cozinha, varanda, banheiro interno, fossa sanitária, cobertas com telhas francesas. 
Eram casas amplas cercadas de árvores, com terreno sem muros. Nelas, os utensílios 
domésticos e móveis eram trazidos dos Estados Unidos ou construídos em Belterra. Também 
tinham iluminação, água encanada, manutenção predial oferecida pela empresa e telefone. 
Nestas casas moravam apenas os americanos sem suas famílias, que haviam ficado em seu 
país de origem. Para locomoção utilizavam bicicletas e automóveis trazidos por embarcações 
americanas e que eram de uso exclusivo deles, com exceção das bicicletas utilizadas pelos 
chefes durante o expediente de trabalho. 
Na Vila Mensalista, moravam trabalhadores com algum cargo de chefia, 
principalmente, com atividades de administração, outros que trabalhavam no hospital como os 
farmacêuticos e os russos que faziam as autopsias, ou seja, trabalhadores mais especializados. 
As casas umas próximas das outras, eram separadas por plantas que demarcavam os espaços 
de cada uma, com jardins que enfeitavam as fachadas. Eram menores, se comparadas com as 
casas dos americanos, mas confortáveis. 
 Na Vila Operária as casas eram menores, com sala, dois quartos e cozinha lá moravam 
os trabalhadores com alguma especialização em, como mecânicos que consertavam os carros 
e máquinas, os marceneiros que faziam as mobílias para as casas; os carpinteiros, que 
construíam as casas da cidade, os torneiros, que faziam as peças para os carros e máquinas; os 
serradores que cortavam as madeiras; e os tratoristas que operavam o trator utilizado para 
abertura de estradas e preparou o campo de aviação. 
Na Vila Viveiro I e II morava os trabalhadores que cuidavam das mudas das 
seringueiras. As casas eram conjugadas, duas casas juntas, parede com parede, feitas de 
madeira com parte da estrutura lateral coberta por folhas de zinco, lá moravam duas famílias, 
uma em cada casa. 
 Na Vila 129 viviam os trabalhadores que desenvolviam atividades braçais no projeto. 
Distante do centro da cidade, cerca de quatro quilômetros. Tinham sala, quarto e uma pequena 
cozinha. Eram servidos por água e luz, mas não tinham telefone, nem fossas sanitárias. 
 
 
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Os campeiros e seringueiros não moravam em casas com o padrão de vila, eram. 
Casas de palha, com piso de chão, sem água, luz ou telefone. A categoria mais baixa na 
hierarquização sócio funcional da empresa: trabalhadores que desenvolviam atividades 
braçais no campo, como derrubar mata abrir estradas, cavar buracos com a ajuda de terçado e 
enxada, plantar as mudas das seringueiras. 
Agora falando das escolas, no dia 28 de outubro de 1938 a Companhia Ford inaugurou o 
primeiro prédio escolar em Belterra, localizado na Estrada Um. “Na época era conhecida 
como Grupo Escolar Henry Ford”, atualmente se tornou Escola Estadual de Ensino Médio 
Waldemar Maués. A Escola Manoel Garcia de Paiva, localizada no Bairro de Santa Luzia, 
anteriormente chamada Quadra nº 129, Vila 129 ou Vila “bode, foi à terceira escola a ser 
construída e inaugurada pelos americanos em 04 de julho de 1941, batizada de “Grupo 
Escolar Benson Ford”. 
As Igrejas se deram por visitas eram feitas clandestinamente por membros das igrejas 
que queriam evangelizar em Belterra, por não ser aceito pela Companhia. Na Estrada 8, o 
primeiro culto aconteceu com um pastor da Assembleia de Deus, seguido de representantes da 
Igreja Católica. No início da década de 40, a Companhia Ford cedeu ao Frei Tiago Ryan 
terrenos para construção da igreja matriz, casa paroquial e casa dos padres. Na vila Timbó, 
foram construídas casas para o acolhimento dos religiosos, seguindo o mesmo padrão das 
outras residências. A igreja pioneira a ser construída foi a Primeira Igreja Católica de Belterra, 
com padroeiro São José, localizado na Estrada Oito. Seguidas da Igreja de Santo Antônio de 
Pádua, padroeiro de Belterra, da Igreja de Santa Luzia, na Quadra 129, e da Igreja de Nossa 
Senhora das Graças, na Estrada 10. A primeira casa cedida aos padres passou a ser da 
Congregação das Irmãs do Preciosismo Sangue, porém, até 1979, quando a madre superiora 
decidiu pelo fechamento do convento em Belterra. 
Já as praças da cidade são todas de certa forma padronizadas. Uma das praças mais 
antigas éa Praça Brasil, situada em frente à Matriz de Santo Antônio de Pádua na Estrada 
Um. Próximo a Igreja de São José foi construída outra, situada na Estrada Oito. Na Estrada 
10 foi construída uma pequena praça nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora das 
Graças, sempre seguindo o padrão. 
 
 
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Enquanto ao hospital Henry Ford foi construído Nas proximidades da Vila Americana 
e se tornou uma grande referência na área da saúde na Amazônia por seus equipamentos e 
corpo profissional especializado. Nele trabalhavam 41 dentre médicos e enfermeiros, sob 
supervisão de um médico-norteamericano. Inclusive as cirurgias eram feitas no próprio 
hospital. Nas intermediações também ficava o hotel onde se hospedavam os funcionários, 
principalmente aqueles vindo de fora e a casa dos médicos. Segundo os moradores das 
proximidades o hospital foi incendiado em dezembro de 2004, um mês antes do início do 
mandato do prefeito do Partido dos Trabalhadores (PT), dando a entender que esta ação foi 
uma forma de retaliação à sua vitória por apenas seis votos de diferença do segundo colocado. 
 
 ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS . 
Na cidade também ainda podemos encontrar dois dos elementos mais característicos 
dos americanos trazidos na época da Companhia, são eles: 
Os Hidrantes, que época da companhia Ford a organização em todos os setores era 
fundamental para a segurança dos moradores e trabalhadores. A atenção era focada nas 
plantações, pois todos dependiam do trabalho feito nelas e, por isso, tomaram todas as 
precauções necessárias. Hidrante é um equipamento de segurança de rua usado como fonte de 
água para combater os incêndios. São pintados na cor vermelha e foram colocados em locais 
estratégicos para auxiliar os bombeiros nas possíveis queimadas. Existem 10 hidrantes: 03 
(três) na Vila Americana, 02 (dois) na Vila Mensalista, 03 (três) na estrada um e 02 (dois) na 
estrada quatro. 
E as Caixas D’água que assim como os hidrantes, as caixas d'água tinham grande 
importância no combate aos incêndios nas plantações e foi algo bem pensado pelos 
americanos, até porque Henry Ford prezava pela boa saúde de seus funcionários. Duas caixas 
d’água metálicas de 186.500 litros cada uma delas, foram instaladas em Belterra. Uma na 
Estrada Um e a outra na Estrada Sete, com rede de distribuição doméstica e hidrantes para 
prevenção de possíveis incêndios na plantação. No alto da caixa d'água ficava um fiscal 
observando todas as quadras de seringueiras. Quando avistava algum incêndio ele avisava 
onde era o local através da potente sirene que atinge quilômetros de distância. Se era na 
quadra 2, a sirene era acionada duas vezes e, assim, os bombeiros se deslocavam até o lugar 
 
 
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indicado. O "apito da caixa", como muitos belterrenses se referem, tem horário certo para ser 
acionado, avisando os trabalhadores sobre a hora de entrada e saída, assim como era no tempo 
da administração da Companhia. 
 
 METODOLOGIA 
O presente trabalho foi elaborado através de pesquisa bibliográfica tendo como fonte a 
coleta de dados em livros, artigos científicos e materiais encontrados na rede mundial de 
computadores. Além da realização de pesquisa de campo realizada dia 16 de Abril de 2016 
obtendo como área de estudo o Centro da Memória da cidade de Belterra, localizado no 
interior do Pará. 
Foi realizado uma entrevista como o senhor Miguel Gomes da Silva e aplicações de 
questionários (Anexo 1) sobre a importância do Centro citado, realizada com 05 (cinco) 
moradores da cidade pesquisada, a qual nos possibilitou a coleta de dados e relatos 
importantes da história da cidade. Após a realização dos questionários, e verificação dos 
dados coletados, foi realizada análise e a comparação entre os mesmos e por fim, 
apresentam-se os dados coletados em forma de gráficos para maior didática e da entrevista foi 
retirado fatos para agregar no trabalho e outros apresentados na forma de vídeo mostrado em 
sala de aula. 
ANÁLISE DE DADOS 
▪ Aspectos Quantitativos 
De acordo com as informações citadas anteriormente, foi aplicado um questionário 
simples contendo oito (oito) perguntas a cerca do tempo que mora na cidade e a importância 
que se dá para o Centro da Memória e a história da cidade. Foi aplicado com cinco (5) pessoas 
da sociedade com intuito de obter uma análise pessoal de cada, para se tentar fazer estimativas 
do tamanho do contexto histórico que a população possui e se eles sabem sobre o Centro da 
Memória como fonte rica para se obter maior profundidade acerca da historia da cidade de 
Belterra. 
E seus resultados a baixo em forma de gráficos: 
 
 
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Figura 1: Possuem conhecimento sobre o Centro de Memória 
Fonte: Pesquisa direta (2016 ) 
 
De acordo com os dados da pesquisa, a maioria das pessoas entrevistadas não possuem 
conhecimento sobre o Centro de Memória na cidade de Belterra conforme figura 1. Apesar de 
em sua totalidade a maioria das pessoas entrevistadas estarem morando na cidade a mais de 
08 (oito) anos ou nasceram na cidade. 
Figura 2: Importância do Centro de Memória 
Fonte: Pesquisa direta (2016) 
 
A partir dos dados apresentados na Figura 2, verifica-se que para todos os que 
responderam o questionário, mesmo não possuindo conhecimento sobre o Centro de Memória 
da Cidade, o centro é visto por eles como um lugar de grande importância para a difusão da 
historicidade da cidade. 
 
 
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Figura 3: Conhecimento sobre a história da Cidade. 
Fonte: Pesquisa direta (2016) 
 
A parcela da população entrevistada a respeito do conhecimento que possuem sobre a 
história da cidade de Belterra, em sua maioria respondeu que seus conhecimentos são médios 
acerca do tema. Nunca ou poucas vezes já freqüentou o Centro de Memória para buscar 
agregar mais conhecimento. 
Aspectos Qualitativos: 
O termo entrevista é constituído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista 
refere-se ao ato de ver, ter preocupação com algo. Entre indica a relação de lugar 
ou estado no espaço que separa duas pessoas ou coisas. Portanto, o termo 
entrevista refere-se ao ato de perceber o que está sendorealizado entre duas 
pessoas. RICHARDSON (1999, 207 p.) 
 
O tipo de entrevista realizada foi a por pautas, por apresentar certo grau de estrutura, 
guiando-se por pontos de interesse no qual o entrevistador vai sendo explorado ao longo do 
curso da entrevista. Com uso de pautas ordenadas e com relações entre si. Deixando o 
entrevistador falar livremente, fazendo poucas perguntas diretas, isto á medida que reporta ás 
pautas assinaladas. 
Entrevistamos o morador da cidade, senhor Miguel Gomes da Silva que reside há 61 
anos na cidade. O Senhor Miguel Gomes da Silva, atualmente aposentado, trabalhou na Ford 
Motor Company e possui bons momentos desta época onde relembra sobre a vida calma que 
possuíam e os benefícios agregados a região por conta deste empreendimento. Trabalhou na 
empresa primeiramente no seringal, passando o tempo começa a assumir o posto de motorista. 
Além de ele trabalhar por diversas funções na companhia em Belterra, seu pai, também era 
 
 
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empregado na Ford, tendo a função de marceneiro colaborando nas construções das casas que 
hoje se fazem presentes na história e paisagem da cidade de Belterra. 
Sobre a importância do Centro de Memória ele acha de suma importância, fala que as 
gerações devem saber sobre a história que há por trás da cidade, porém releva que não 
conhecia o centro de memória. O senhor demonstra seus conhecimentos adquiridos por meio 
da vivência, ao relatar sobre o Hospital de Ford e caracterizá-lo como sendo um hospital de 
ótima qualidade, com serviços prestados a população da cidade e até para pessoas de fora. 
Por fim, o senhor Miguel Silva fala do fim da companhia e como ficou a cidade depois 
deste momento, cita que todos os trabalhadores foram corretamente indenizados pela 
companhia, que tudo ocorreu com tranqüilidade e de forma correta, cada um recebendo o que 
lhe era de direito. 
 
CONCLUSÃO 
A indentificação da memória dos moradores da cidade de Belterra em vista da 
historicidade que a região possui ainda é muito viva, principalmente para as pessoas mais 
antigas no município, o Centro de Memória é um lugar de extrema importância para a 
preservação da memória histórica, sem falar da cidade como um todo que já pode ser 
considerada patrimônio histórico sendo este um tema em aberto que nossa pesquisa deixa 
para ser discutido e questionado. 
 A relação da população local com o Centro de Memória nos permite afirmar que a 
sociedade Belterrense conhece e que muitos que lá estão fizeram parte desta história sem falar 
que a paisagem da cidade os permite de certa forma viverem suas lembranças ,os velhos 
tempos da borracha, certamente que com o passar dos anos a ação do capital no Tapajós 
desestruturou os modos de vida preexistentes e ressocializou a população do campo na cidade, 
os converteu em trabalhadores assalariados e impôs uma forma de uso da natureza em base 
intensiva, industrial e predatória, Desta forma é necessário apoio financeiro para as 
instituições responsáveis não só pelo centro como para o município inteiro, dessa forma 
haverá meios de conservação do rico patrimônio memorial em terras amazonenses. 
Como citado mais acima nossa pesquisa deixa margens para outras linhas de estudos 
sobre Belterra visto que é relevante a propagação de sua memória para criação ou 
 
 
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implementação de novas políticas públicas voltadas para preservação cultural deste 
município. 
 
 
REFERÊNCIAS 
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brasileira. 255 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de janeiro, 2012. 
REVISTA Life, n 9, dez, 1940 (matéria sobre a visita do presidente Getúlio Vargas em 
Belterra/Pará) Disponível em:<http://books.google.com.br.> Acesso em 31/04/2016. 
 
 
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http://belterradotapajos.blogspot.com.br/historico%3E%20Acesso%20em%2001/05/2016
 
 
 
SPHAN – Pró Memória 45. Fordlândia e Belterra. Na Amazônia um patrimônio a preservar. 
Ed. Fundação Nacional Pró Memória. Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
– Min. Da Cultura. Janeiro/Fevereiro 1939, Rio de Janeiro – RJ. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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