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Arquitetura Brasileira

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Prévia do material em texto

2016
1a Edição
ArquiteturA BrAsileirA
Prof. Anna Clara Campestrini
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Prof. Anna Clara Campestrini
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
720.981
C193a 
Campestrini; Anna Clara
 Arquitetura Brasileira / Anna Clara Campestrini: 
UNIASSELVI, 2016.
 
 202 p. : il.
 ISBN 978-85-515-0029-3
 
 1.Arquitetura – Brasil. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
III
ApresentAção
Prezado acadêmico!
Estamos iniciando os estudos de arquitetura brasileira. Neste L ivro de 
Estudos você terá um panorama geral da trajetória que a arquitetura brasileira 
percorreu até os dias atuais. Vamos entender quais foram os principais eixos 
norteadores da produção das obras arquitetônicas e da conformação urbana 
das cidades brasileiras, de maneira generalista. Compreenderemos qual é o 
papel do arquiteto em nossa sociedade, e quando a figura deste profissional 
“surge” de forma marcante no Brasil. 
Todo este entendimento é muitíssimo válido para você, acadêmico, 
que está se preparando para ser um profissional atuante. Com certeza, para 
sermos bons arquitetos urbanistas, é necessário tomarmos ciência de quais 
os legados a história da arquitetura brasileira nos deixou ao longo do tempo, 
assim como, quais os caminhos que teremos de galgar para pôr em prática 
nossos próprios ideais. 
Somos parte de uma sociedade em evolução e que tem muito a se 
fortalecer em identidade própria. Você, como futuro arquiteto, fará parte 
do estrato de profissionais que sonha, projeta e planeja as mudanças de 
uma região macro até um ambiente no microcosmos de uma habitação. 
Você também será o responsável pela execução destes sonhos, então, a 
responsabilidade é enorme. Pense nisso, e aprenda com nosso passado. 
Tire partido do que foi bem pensado e executado, e reprograme de forma 
atualizada as utopias errôneas, sem nunca perder o foco do espaço pensado 
para o homem. 
Que você tenha uma jornada produtiva através deste L ivro de 
Estudos. 
Bons estudos!
Anna Clara Campestrini
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA ..................................... 1
TÓPICO 1 – A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL ............................................................................ 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 A ORIGEM ............................................................................................................................................. 3
3 TIPOS DE HABITAÇÕES INDÍGENAS .......................................................................................... 5
4 DISPOSIÇÃO DOS ESPAÇOS .......................................................................................................... 8
5 LOCALIZAÇÃO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS INDÍGENAS .................................. 11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15
TÓPICO 2 – AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS .................................................. 17
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17
2 TIPOS DE HABITAÇÕES ................................................................................................................... 17
3 ARQUITETURA INDÍGENA VERNACULAR ............................................................................... 19
4 COMPONENTES DAS CONSTRUÇÕES E SUA IMPORTÂNCIA .......................................... 21
5 INFLUÊNCIAS ANTROPOMÓRFICAS .......................................................................................... 25
6 ADEQUAÇÕES AO MEIO AMBIENTE VISANDO AO CONFORTO AMBIENTAL ........... 28
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 30
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 31
TÓPICO 3 – A ETNOARQUITETURA COM REFERÊNCIA 
NA CULTURA INDÍGENA ............................................................................................ 33
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33
2 A ARQUITETURA INDÍGENA SUSTENTÁVEL .......................................................................... 33
3 APLICAÇÃO DE FORMAS CONSTRUTIVAS POR OSCAR NIEMEYER .............................. 34
4 SEVERIANO MÁRIO PORTO E O REGIONALISMO ECOEFICIENTE ................................ 37
5 O ARQUITETO JOSÉ A. B. PORTOCARRERO 
 E A ETNOARQUITETURA INDÍGENA.......................................................................................... 39
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 41
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42
TÓPICO 4 – A ARQUITETURA COLONIAL DO SÉCULO XVI 
 AO FINAL SÉCULO XIX ................................................................................................. 43
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 O CHOQUE DE CULTURAS E AS PRIMEIRAS VILAS .............................................................. 43
3 A TAIPA DE PILÃO, ADOBE E PAU A PIQUE .............................................................................. 45
4 AS HABITAÇÕES URBANAS COLONIAIS ATÉ MEADOS DO SÉCULO XIX ..................... 49
5 AS HABITAÇÕES URBANAS COLONIAIS ATÉ O FIM DO SÉCULO XIX ...........................56
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 61
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 62
sumário
VIII
UNIDADE 2 – A ARQUITETURA DO SÉCULO XIX E DOS 
IMIGRANTES NO BRASIL .....................................................................................63
TÓPICO 1 – A ARQUITETURA DOS CICLOS DO AÇÚCAR, DO OURO E DO CAFÉ ........65
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................65
2 AS FAZENDAS ....................................................................................................................................65
3 CASA GRANDE E SENZALA ..........................................................................................................67
4 ARQUITETURA DO CICLO DO OURO .......................................................................................71
5 ARQUITETURA RELIGIOSA COLONIAL: ALEIJADINHO....................................................79
6 CICLO DO CAFÉ ................................................................................................................................86
7 CICLO DA BORRACHA ...................................................................................................................92
8 ECLETISMO, NEOCOLONIAL, ART NOUVEAU E ART DECÓ ............................................96
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................104
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105
TÓPICO 2 – ARQUITETURA DOS IMIGRANTES .......................................................................107
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107
2 ARQUITETURA DOS IMIGRANTES PORTUGUESES ............................................................107
2.1 INÍCIO, REGIÕES E ATIVIDADES .............................................................................................107
3 A ARQUITETURA DOS IMIGRANTES ITALIANOS: FAZER A AMÉRICA .......................110
3.1 FAZER A AMÉRICA .....................................................................................................................110
3.2 TIPOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES DOS IMIGRANTES ITALIANOS NO BRASIL .............112
4 A ARQUITETURA DOS IMIGRANTES ALEMÃES ...................................................................114
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................118
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................119
UNIDADE 3 – A ARQUITETURA MODERNA E CONTEMPORÂNEA ...................................121
TÓPICO 1 – O PAPEL E A RELEVÂNCIA DA ARQUITETURA MODERNA 
NO BRASIL .....................................................................................................................123
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123
2 PANORAMA INICIAL DO MODERNISMO NO BRASIL ......................................................123
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................130
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131
TÓPICO 2 – O MODERNISMO CARIOCA .....................................................................................133
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................133
2 LÚCIO COSTA: O “PRIMEIRO” MODERNISTA NO BRASIL ...............................................134
3 OSCAR NIEMEYER: O “ÍCONE” MODERNISTA ......................................................................145
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................162
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................163
TÓPICO 3 – O MODERNISMO PAULISTA ....................................................................................165
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165
2 A PAISAGEM URBANA MODERNA DE SÃO PAULO ............................................................165
3 VILANOVA ARTIGAS ......................................................................................................................173
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................180
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................181
TÓPICO 4 – O BRASIL APÓS O MODERNISMO .........................................................................183
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................183
2 PÓS-MODERNISMO ........................................................................................................................184
IX
3 ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL ..................................................................190
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................196
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................197
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................199
X
1
UNIDADE 1
ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL 
COLÔNIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• compreender o papel da arquitetura indígena vernacular na construção 
do Brasil;
• perceber o sistema organizacional dos povos nativos;
• possibilitar o entendimento da influência da chegada dos europeus na 
urbanização das primeiras vilas brasileiras;
• elucidar as principais técnicas construtivas do Brasil colônia;
• estabelecer a conexão das bases antropológicas e socioeconômicas como 
reflexo da arquitetura resultante do extrativismo e aculturação.
Esta primeira unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada 
tópico, você encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de 
conhecimentos na área.
TÓPICO 1 – A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
 
TÓPICO 2 – AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
 
TÓPICO 3 – A ETNOARQUITETURA COM REFERÊNCIA NA CULTURA 
INDÍGENA 
TÓPICO 4 – A ARQUITETURA COLONIAL DO SÉCULO XVI AO FINAL 
SÉCULO XIX
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Ao viajarmos “Brasil afora”, seja por meio de viagens, livros, internet ou 
até mesmo por meio de fotos de conhecidos, podemos perceber quão miscigenado 
e matizado o nosso país se apresenta. Precisamos entender que não é apenas 
a dimensão continental que propicia esta diversidade. É também em nossas 
origens nativas, na conformação inicialmente extrativistada nossa colonização 
portuguesa e espanhola e na adoção do território brasileiro pela Corte portuguesa, 
que os ocupantes do território brasileiro tiveram de se adaptar para atender às 
necessidades e interesses dos cenários distintos. Ou seja, a arquitetura brasileira 
é consequência destas fases antagônicas e autóctones. 
Ao verificarmos estas fases enxergadas sob a ótica socioeconômica, há 
uma divisão temporal interessante a ser explorada. Os anos anteriores a 1500 
são considerados o Brasil indígena; entre 1500 e 1822 é a fase da colonização; de 
1822 a 1889 a independência sob controle do império. Então, ao ler esta unidade 
tenha sempre em mente o pano de fundo correspondente às fases temporais 
apresentadas (ZORRAQUINO, 2006).
2 A ORIGEM
Existe mais de uma teoria do surgimento da palavra aldeia. Uma denota 
a origem na língua árabe ad-Dai'hâ, que é uma classificação das organizações 
espaciais rurais inferiores, as chamadas vilas. Outra hipótese é que a origem 
tenha se dado do grego, como referência aos aldeões. No Brasil correlacionamos 
aldeia aos agrupamentos das tribos indígenas (OLIVEIRA; FREIRE, 2006). 
É muito importante compreender a estrutura indígena brasileira como 
marco de origem da forma urbana que podemos encontrar “Brasil afora”. 
Quando pensamos em forma urbana brasileira, não devemos nos remeter 
apenas às grandes cidades e sim também aos pequenos núcleos urbanos que 
nosso extenso país possui. As aldeias, a organização espacial destas aldeias, as 
malocas, a sua disposição interna e até mesmo a hierarquização e distribuição 
das tarefas, tudo isso trouxe para a cultura atual brasileira a marca e legado 
destas comunidades, ditas por muitos estudiosos, “aborígines”. Há quem adote 
a nomeação destes povos como “nativos”, que viviam ou vivem de maneira 
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
4
seminômade, se alimentam através do remanejo da agricultura, do uso da floresta 
secundária através da coleta, da pesca e da caça para subsistência de proteínas. 
Podemos refletir acerca da imagem, muitas vezes equivocada, sobre a condição 
dos indígenas, que são tratados como organizações comunitárias subtraídas de 
sua cultura e direitos no Brasil.
 
Vamos entender a origem de nossa ocupação indígena, que em linhas 
gerais, ao constatar os vestígios arqueológicos, direciona que as tribos indígenas 
no Brasil descendem da Ásia, que percorreram o norte do continente americano e 
ocuparam a América do Sul há mais de 10 mil anos. Mas este entendimento ainda 
está em discussão, como podemos ler na citação abaixo de Oliveira e Freire (2006, 
p. 21):
Inúmeras pesquisas arqueológicas assinalam a ocupação do território 
brasileiro por populações paleoíndias há mais de 12 mil anos. Os 
pesquisadores acreditam hoje que houve várias etapas nesse processo 
de dispersão humana, pois as novas descobertas arqueológicas 
questionam os dados que cercam antigas interpretações do povoamento 
americano, como a migração asiática pelo Estreito de Behring (v. Funari 
e Noelli, 2005). Pesquisas dirigidas pela arqueóloga norte-americana 
Ana Roosevelt (1992) na Amazônia apontam registros de sociedades 
complexas, sofisticadas no desenvolvimento tecnológico (cerâmicas) 
e na organização social (cacicados). As investigações posteriores, se 
não mantêm um acordo completo, questionam as antigas hipóteses de 
povoamento, baseadas na pressuposição de existência de sociedades 
pequenas e simples, de caçadores e coletores, caracterizadas por uma 
alta mobilidade e o uso de materiais perecíveis, como cestarias. 
Como já sabemos, o Brasil, por possuir uma extensa área territorial, 
apresenta uma grande variedade de expressões culturais. Como reflexo e 
até mesmo consequência desta variedade, encontramos diversas tipologias 
arquitetônicas e urbanísticas.
O uso e remanejo das florestas e savanas tropicais pelos indígenas são 
melhor entendidos quando vistos como séries contínuas entre plantas 
que são domesticadas e as que são semidomesticadas, manipuladas ou 
selvagens. Dentro destes ecossistemas naturais e remanejados [...]. Em 
suma, as estratégias de remanejamento indígenas colocam por terra as 
atuais tendências “desenvolvimentistas”, que perseguem lucro fácil a 
curtíssimo prazo (RIBEIRO et al., 1986, p. 184).
Os povos indígenas no Brasil somam mais de 230 e podem ser classificados 
em isolados, de contato intermitente, de contato permanente, integrados e extintos. 
As tribos Tupinambás e Guaranis eram as maiores em população antes da chegada 
dos europeus que colonizaram o Brasil. Outras tantas tribos são conhecidas por 
suas características peculiares de vestimentas, costumes e tradições. No âmbito 
generalista, as aldeias são alocadas em clareiras da floresta para o fácil acesso ao 
rio, em topografia plana e próximas da mata. Este ponto identifica de forma clara 
o “modus operandi” dos povos indígenas.
TÓPICO 1 | A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
5
[...] a cultura indígena tem um limitado desenvolvimento tecnológico 
da produção material...apresenta qualidades que causam inveja ao 
homem contemporâneo, como sua admirável adaptação ecológica e a 
sua estrada social isenta de disparidades causadas de explorações das 
forças de trabalho [...] (WEIMER, 2005, p. 41-42).
Contudo, focaremos, neste momento, a abordagem de algumas tribos por 
tipologias de aldeias mais representativas dos povos nativos, haja vista que na 
arquitetura indígena também nos deparamos com grande variedade, onde cada 
região do Brasil apresenta organizações distintas das aldeias.
3 TIPOS DE HABITAÇÕES INDÍGENAS
A aldeia formada através da casa unitária é a condição desta organização 
mais simplificada, onde toda a tribo vive em uma única maloca de forma retangular 
e coberta por uma estrutura de duas águas que quase alcança o chão (ALMEIDA; 
YAMASHITA, 2013). O espaço interno é subdividido por biombos, feitos de 
folhagens de palmeira trançadas, de maneira a abrigar os núcleos familiares em 
pequenos nichos. Os acessos principais são duas portas posicionadas na fachada 
principal e na fachada dos fundos. A fachada principal é voltada para o rio e a dos 
fundos para as plantações. 
A porção central da grande maloca é dividida em duas partes, uma para 
os homens e outra para as mulheres. Constatamos assim que estas tribos, como a 
dos Tukanos, que encontramos na fronteira do Brasil com a Colômbia, apesar de 
habitarem uma única estrutura, são muito organizadas e hierarquizadas. Observe 
o esquema em corte e fachada da maloca da tribo Tukano. 
FIGURA 1 – MALOCA DOS ÍNDIOS TUKANOS
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
6
Contudo, existem outras tipologias de aldeias-casa que podemos encontrar 
no território brasileiro, como é o caso dos Yanomamis. Estes povos, por serem 
caçadores e cultivadores de plantas muito experientes, alocam-se longe dos rios. 
Suas estruturas são aldeias-casa denominadas de “shabono”, de plantas circulares 
ou poligonais, com o centro de cobertura cônica, que possibilitam a formação de 
uma praça central para as atividades de cerimônias, a entrada da luz natural e a 
exaustão da fumaça. 
Dependendo da quantidade de pessoas que vivem nestas aldeias-casa, 
seu tamanho varia, e todos os índios participam da construção do shabono. A 
escolha da implantação é papel do homem, sendo preferencialmente em terrenos 
com pequenas inclinações para uma boa drenagem, assim como a seleção das 
estruturas de madeira. As mulheres selecionam e recolhem os cipós para a 
amarração da estrutura. Até que o shabono esteja concluído, a tribo se condiciona 
em abrigos como uma aldeia provisória. 
FIGURA 2 – ALDEIA-CASA DOS ÍNDIOS YANOMAMI
FONTE: <https://img.socioambiental.org/d/373336-3/demini.jpg>. Acesso em: 24 jun.2019.
TÓPICO 1 | A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
7
FIGURA 3 – INTERIOR DA ALDEIA YANOMAMI
FONTE: <http://img.socioambiental.org/d/373230-1/maloca.jpg>. Acesso em: 27 set. 2016.
As tribos dos Marubos também apresentam a aldeia-casa, sendo as colinas 
por vezes o local escolhido para a alocação destas. Tem uma forma de grandes 
proporções se comparada com as aldeias-casa de outras tribos indígenas. Estas 
estruturas chegam a ter 31 metros de comprimento. Podemos identificar a forma 
poligonal irregular da aldeia-casa nas imagens a seguir, que tratam da planta 
baixa, corte e fachada da maloca. 
FIGURA 4 – MALOCA MARUBO – PLANTA BAIXA, CORTE E FACHADA
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
8
FONTE: <http://www.ceap.br/ material/MAT21042014225238.pdf/>. Acesso em: 31 ago. 2016.
4 DISPOSIÇÃO DOS ESPAÇOS
É relevante percebermos que a imagem mais conhecida e que nos vem à 
mente quando pensamos em aldeias indígenas pode ser encontrada nos povos 
Xavantes (Jê), Timbiras e nos Tupi-guarani, de que já falamos anteriormente, onde 
a disposição das malocas forma um grande círculo, resultando, assim, em um 
núcleo central, destinado para as cerimônias, danças, jogos e que possibilita uma 
vida em comunidade que se alicerça na observação da natureza para desenvolver 
seus meios de sobrevivência. 
Esta imagem, com certeza, é um reflexo do conceito de vida em 
comunidade e da organização social das tribos indígenas no Brasil, e que deve ser 
compreendida como as características específicas de cada povo. Em alguns povos 
a mesma distância das malocas até o centro da aldeia demonstra a igualdade 
da comunidade, tendo apenas a divisão de gêneros como parâmetro na divisão 
das funções. O centro das aldeias é o local de encontro dos líderes da tribo, que 
são figurados pelos homens mais velhos que ali tomam decisões, resolvem os 
conflitos e realizam cerimônias ou rituais. 
Na sequência concêntrica da aldeia está o espaço reservado às mulheres, 
para o descanso, a intimidade e até mesmo os partos. Deste espaço parte um 
caminho radial para cada uma das malocas, que com sua disposição equidistante 
ao centro forma outro anel. E, finalmente, atrás das malocas existe outro caminho 
que circunda a aldeia que forma a periferia da aldeia, local para o desenvolvimento 
das atividades femininas, de partida dos caminhos que levam ao rio e às roças, 
como também para jogos. Para a proteção da aldeia, quando identificada alguma 
tribo inimiga próxima da aldeia, era comum a instalação de palanques de troncos 
de madeira na periferia da mesma. 
TÓPICO 1 | A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
9
Uma característica comum a todos os grupos Jê são as corridas de toras 
descritas por Nimuendaju (1946) e Melatti (1978) para os Timbira. As 
várias tribos Timbira estão divididas em metades cerimoniais cuja 
função, entre outras, é formar times que competem na corrida de 
toras de buriti. Elas são carregadas por um indivíduo de cada vez. Na 
medida em que aquele que carrega a tora perde a velocidade, outro 
do mesmo time o substitui. A corrida se desenvolve na periferia da 
aldeia, tendo a praça central como ponto de partida e a casa de uma 
pessoa ritualmente importante, como ponto de chegada (RIBEIRO et 
al., 1986, p. 276).
Em outros casos, alguns espaços são reservados e restritos a algumas 
figuras da tribo, como os curandeiros, representados pela figura dos “pajés ou 
xamãs”, que possuem uma oca menor no centro da aldeia ou, muitas vezes, isolada 
para as atividades de curas através de produtos naturais, que muito contribuíram 
para a evolução das terapias médicas atuais. “É fato conhecido que diversas tribos 
indígenas consideram certas doenças como resultado das influências maléficas 
das forças sobrenaturais... onde o tratamento do pajé ocupa lugar terapêutico do 
xamanismo” (RIBEIRO et al.,1986, p. 140).
Formas em arco também são utilizadas para organizar os papéis dos 
índios nas tribos Xavante e Xerente. A tribo Xerente distribui seus clãs ao longo 
do arco e seu centro é reservado para encontros e rituais. Nos Xavantes (Jê), o arco 
é voltado para o rio e é esquematizado de maneira a situar os homens maduros, 
os jovens iniciados e os meninos não iniciados.
A tribo dos Karaja apresenta uma diferenciação fundamental na 
organização de suas malocas, implantando-as em fileiras e que se voltam para 
o rio. Com isto, se forma um caminho principal e outro, perpendicular ao rio, 
que é chamado de secundário e leva até à casa dos homens. Na imagem a seguir 
é possível constatar a tipologia construtiva da tribo Karaja, que estrutura sua 
maloca através de arcos unidos por amarrações em cipós. 
UNI
Visite o site <http://pib.socioambiental.org/pt> e se surpreenda com o número e 
diversidade de tribos indígenas no Brasil.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
10
FIGURA 5 - MALOCA KARAJA
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
Hoje, a tipologia é dificilmente identificada em sua forma original. Com 
a chegada dos jesuítas, as malocas foram substituídas por casas e voltadas para 
caminhos internos, ou seja, ruas. Além disto, é constatado que antes do contato 
com os homens brancos, os povos indígenas eram nômades, e as aldeias eram 
espaços mais transitórios. Como exemplo clássico citamos a tribo Aimoré, que 
não construía aldeias, e se abrigava debaixo de árvores com fogueiras acesas para 
proteção contra animais. Hoje os povos indígenas se fixam nos locais e subsistem 
com o sedentarismo agrícola. 
TÓPICO 1 | A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
11
5 LOCALIZAÇÃO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS 
INDÍGENAS
Fica claro que a escolha da localização da aldeia é essencial para o 
desenvolvimento das tribos que seguem fielmente suas tradições, cultura, 
conhecimento e costumes, passados pelos mais experientes aos mais jovens, assim 
como uma mesma forma geométrica representa para cada povo nativo indígena 
uma autoimagem através de suas organizações distintas das malocas.
 
Os materiais e tecnologias construtivas são bastante semelhantes entre as 
tribos indígenas. O conceito diferenciado da execução das malocas por cada tribo 
é condicionado pelas crenças de cada povo nativo, pelas condições climáticas 
locais e, principalmente, pela obtenção dos materiais naturais do sítio.
Folhas de palmeiras são o material vegetal mais comumente 
empregado para forrar o teto e paredes das cabanas nativas. O método 
de colmagem depende do tipo de folhas... Das fibras extraídas do 
broto fechado da palmeira Mauritia flexuosa, reduzidas a tiras de 
cortiças e mergulhadas na água por vários dias, são feitas cordas que 
têm muitos usos na bacia amazônica... Postes, cercas e paliçadas são 
frequentemente feitos de madeira de cartizal ou paxiúba. Os nativos 
do leste da Bolívia e do alto Amazonas fabricam seus arcos de madeira 
dura e negra da palmeira chonta (RIBEIRO et al., 1986, p. 34).
Assim são definidas as diversas formas que estruturam as malocas, o uso 
ou o não uso de elementos construtivos e a maneira como cada grupo se organiza 
na vida de uma coletividade que por anos foi menosprezada e não valorizada. 
As malocas são em geral muito bem construídas, as suas cobertas 
oferecem inteira garantia contra o mais violento aguaceiro; o chão 
é enxuto e limpo e de tarde reina na sua penumbra uma frescura 
agradável. As casinhas modernas, pelo contrário, são o mais das 
vezes quentes e mal-acabadas. Quanto ao prejuízo que a convivência 
de diversas famílias na maloca diz acarretar, é simplesmente falso. 
Devido à rigorosa exogamia, não existem relações amorosas entre os 
filhos de uma mesma maloca. (RIBEIRO, 1977, p. 34).
Vale destacar que os nativos faziam uso de encaixes nas madeiras e 
amarrações com cipós para estruturar suas habitações. Observe nas figuras a 
seguir algunsdetalhes destas amarrações e encaixes:
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
12
FIGURA 6 – DETALHES DAS AMARRAÇÕES EM CIPÓ
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
FIGURA 7 – DETALHES DE ENCAIXE DE MADEIRA
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
TÓPICO 1 | A ALDEIA INDÍGENA NO BRASIL
13
Devemos muito à arquitetura indígena. Assim, deveríamos nos atentar 
mais para os diversos aprendizados que ela pode nos ofertar, como na aplicação de 
conceitos e técnicas da arquitetura sustentável. Para Ponce (2008), o entendimento 
da arquitetura indígena é conciliador do que queremos chamar de arquitetura 
sustentável.
A premissa básica é que o conceito da chamada arquitetura regional 
ou indígena corresponde a uma arquitetura pertencente ao seu lugar. 
Isto implica três aspectos: o respeito à regionalidade cultural e social; 
a adaptação ou regionalização das obras ao meio e, em terceiro lugar, 
a forma e os materiais com que as obras são construídas. Por sua 
vez, esta arquitetura está formada por duas partes: a autônoma ou 
vernacular e a apropriada. A agora chamada arquitetura sustentável 
tem, como principal característica, a utilização racional dos recursos 
naturais, em especial os energéticos, para sua conservação futura. Isto 
implica o emprego de materiais de baixo consumo de energia, isto 
é, materiais primários ou matérias-primas; assim como materiais de 
uma alta eficiência estrutural. Em poucas palavras, a agora chamada 
arquitetura sustentável não é um conceito novo, mas tão somente é 
uma parte da tradicional arquitetura regional (PONCE, 2008, s/d).
14
Neste tópico estudamos:
• A origem da ocupação do território brasileiro pelos indígenas e sua arquitetura 
vernacular que produziram ocupações espaciais, habitações e disposições 
internas próprias da cultura e costumes de cada tribo. 
• Foi possível evidenciar que os índios executaram a arquitetura para suas 
habitações de acordo com suas raízes culturais e antropológicas baseadas na 
coletividade e sob uma organização hierárquica bem definida entre os grupos 
familiares. 
• Os materiais utilizados pelas tribos são aqueles encontrados em seu entorno, 
sendo necessário o desenvolvimento de técnicas construtivas de encaixes e 
amarrações ao longo de anos para a construções das tipologias das habitações, 
que estudaremos no tópico a seguir.
RESUMO DO TÓPICO 1
15
1 Em seu entendimento, por que motivo as tribos indígenas têm o padrão da 
aldeia em círculo? Que características da vida em comunidade destes povos 
são afetadas, ou até mesmo motivadas por este tipo de organização coletiva? 
2 Sabemos quão complexas são as técnicas construtivas desenvolvidas ao 
longo de muitos anos pelos nativos. Contudo podemos verificar que as 
diversas tribos fazem uso de alguns materiais naturais em geral. Descreva 
quais foram os principais materiais utilizados nas habitações vernaculares 
indígenas no Brasil, e em que espaço da habitação são utilizados, como 
cobertura, piso, revestimento etc.
AUTOATIVIDADE
16
17
TÓPICO 2
AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Após estudarmos o conceito da habitação indígena e seu conceito 
primordial, verificaremos, neste tópico, como os materiais são aplicados e que 
técnicas são utilizadas para a execução dos diferentes tipos de habitações dos 
nativos. Isto pois, como anteriormente citado, as tribos indígenas brasileiras se 
diferenciam em tipologia e técnica construtiva de acordo com o microclima em 
que estão inseridas e suas tradições culturais. Assim, surgem também novos 
conceitos aplicados à habitação, como o antropomorfismo e as casas subterrâneas. 
Estes novos conceitos que apresentaremos neste tópico exemplificam 
como a cultura indígena é complexa na execução de suas habitações. Os nativos 
desenvolveram, para muitos de maneira empírica, um largo conhecimento 
do meio natural em que estavam inseridos. Assim como buscaram a melhor 
performance dos materiais naturais e das formas construtivas para suprir suas 
necessidades de abrigo e de crenças culturais. 
2 TIPOS DE HABITAÇÕES
Como vimos no tópico 1, algumas tribos indígenas se organizam em 
aldeias-casa, também denominadas “malocas”. Encontramos, contudo, outras 
denominações destas habitações, como as “ocas” e “tabas”, que são ocas menores. 
As “taperas” têm a definição de aldeias extintas, ou seja, são atribuídas às 
habitações abandonadas pelos indígenas em seu movimento de nomadismo. A 
“opy” é a cabana de tipologia similar à oca, que, geralmente localizada no centro 
da aldeia, é destinada para cerimônias e rituais.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
18
FIGURA 8 - OCA DOS ÍNDIOS CAMAIURÁS, NA AMAZÔNIA
FONTE: <http://escola.britannica.com.br/assembly/148783/A-oca-e-um-tipo-de-moradia-
coletiva-indigena>. Acesso em: 11 jun. 2016.
FIGURA 9 – TABA, HABITAÇÃO INDÍGENA
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/353532639477498132/>. Acesso em: 11 jun. 2016.
FIGURA 10 – OPY, CASA DE REZA GUARANI
FONTE: <http://cggamgati.funai.gov.br/files/3413/9420/6971/Opy-Panambizinho.jpg>. Acesso 
em: 29 ago. 2016.
TÓPICO 2 | AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
19
3 ARQUITETURA INDÍGENA VERNACULAR
Como já percebemos, a arquitetura indígena vernacular é fonte de 
ensinamentos para a arquitetura que executamos hoje. Desde as primeiras 
pesquisas dos povos indígenas, direcionadas a compreender a antropologia 
cultural, fica explícita a grande qualidade das estruturas habitacionais indígenas 
no Brasil. Na obra intitulada Arquitetura dos índios da Amazônia (2013), o escritor e 
“best seller” Johan van Lengen deixa clara a qualidade das construções indígenas:
A partir do momento em que um membro da tribo Cinta-Larga me 
mostrou em um desenho como eles constroem suas casas, fiquei 
impressionado com o sentido de arquitetura e construção que estas 
pessoas tinham. Utilizando poucas ferramentas conhecidas, erguiam 
grandes casas para abrigar famílias (LENGEN, 2013, p. 6).
Neste sentido, vamos abordar algumas tipologias de malocas, suas 
distribuições internas, suas técnicas e materiais construtivos e suas funções para 
vivência em comunidade dos povos indígenas. 
Inicialmente, as malocas de planta circular e cobertura cônica são as mais 
figurativas enquanto habitações dos povos nativos. Cada tribo possui alguma 
variação, que é o reflexo dos costumes e tradições daquela comunidade. Já vimos 
que os Xavantes (Jê) se organizam em aldeias de forma concêntrica, e suas malocas 
são estruturadas a partir de uma peça de tronco de madeira no centro, que recebe 
a amarração de outros galhos e são travados radialmente por taquaras no sentido 
horizontal. As dimensões desta maloca alcançam a altura de 4,5m e um diâmetro 
de até 7m, observe o esquema em planta baixa, fachada e corte:
FIGURA 11 – PLANTA BAIXA, FACHADA E CORTE DA MALOCA XAVANTE (JÊ)
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
20
No centro, a pequena fogueira serve para o cozimento dos alimentos e 
para o aquecimento do ambiente. A porta de entrada, que já sabemos estar voltada 
para o centro da aldeia, recebe uma espécie de corredor composto por estacas e 
forrado por folhas, que confere maior privacidade à unidade habitacional coletiva. 
Veja, a seguir, o detalhe do enlace com cipós e folhas da cobertura revestida.
FIGURA 12 – ENLACE COM CIPÓS E FOLHAS DA MALOCA XAVANTE (JÊ)
FONTE: <http://www.ceap.br/ material/MAT21042014225238.pdf/>. Acesso em: 31 ago. 2016.
Cada casa abriga até quatro famílias, sendo que cada uma possui seu 
espaçoindividualizado. No interior, cestos suportados em estacas de madeira 
armazenam os alimentos coletados, como uma espécie de despensa, e artefatos 
são cuidadosamente guardados no forro de palha da cobertura que cobre toda 
a extensão da casa. Os índios costumam, durante o dia, abrir pequenos espaços 
nesta cobertura de palha, propiciando a entrada de luz natural no interior do 
espaço (NOVAES et al., 1983).
FIGURA 13 - MALOCA XAVANTE (JÊ)
FONTE: <https://img.estadao.com.br/resources/jpg/6/3/1528845392036.jpg>. Acesso em: 24 
jun. 2019.
TÓPICO 2 | AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
21
FIGURA 14 - FASES DA EXECUÇÃO DA HABITAÇÃO XAVANTE (JÊ)
FONTE: <http://projetoxavante.blogspot.com.br/2009_11_01_archive.html>. 
Acesso em: 11 jun. 2016.
4 COMPONENTES DAS CONSTRUÇÕES E SUA IMPORTÂNCIA
Já apresentamos um pouco das características do shabono, as aldeias-casa 
dos Yanomami. Contudo, se faz necessário detalhar alguns pontos da habitação 
em questão, com ênfase na cobertura, que também é conhecida como clareira 
habitada, por ter uma praça central aberta. 
Esta praça central lembra um grande óculo que permite a exaustão da 
fumaça e a infiltração da luz natural e é consequência da cobertura em forma de 
dossel que é constituída por uma estrutura periférica contínua. Esta cobertura é 
extremamente resistente a chuvas, haja vista a necessidade de proteção da tribo 
frente à umidade característica da região amazônica. Observe na figura a seguir 
os detalhes dos beirais e do óculo, que são condicionados pela disposição da 
estrutura circular da cobertura.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
22
FIGURA 15 – PLANTA DA COBERTURA, CORTE E FACHADA – ALDEIA YANOMAMI
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
Há a presença de uma espécie de beiral que é executado com o uso de 
vários caibros que são dispostos radialmente e ultrapassam a linha periférica 
externa da casa. No sentido do centro da habitação, os mesmos caibros formatam 
o grande balanço com até 4,5m. O uso dos cipós confere a esta estrutura a 
amarração necessária e a base para o recebimento das folhagens de revestimento. 
A dimensão da maloca é determinada pelo número de índios no grupo, que pode 
chegar a 60 metros de diâmetro e abrigar até 160 índios que são organizados em 
espaços individualizados por núcleo familiar ao longo da maloca.
FIGURA 16 - VISÃO SUPERIOR DA ALDEIA-CASA YANOMAMI
FONTE: <http://www.survivalinternational.org/tribes/brazilian>. Acesso em: 11 jun. 2016.
TÓPICO 2 | AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
23
FIGURA 17 - INTERIOR DA ALDEIA-CASA E COTIDIANO DOS YANOMAMI
FONTE: <http://vuotoattivo.tumblr.com/post/26063572490/yanomami-shabono-structures-
catrinastewart>. Acesso em: 11 jun. 2016.
Os Timbiras têm a planta baixa da maloca em formato retangular, e na 
porção frontal uma cobertura de quatro águas. Todas as suas paredes externas 
são revestidas por folhagens, e apresentam duas portas, uma voltada para o pátio 
central da aldeia localizada na lateral de maior dimensão, e outra voltada para o 
quintal (periferia). Atualmente, os Timbiras executam suas habitações em adobe 
ou taipa, com uma cobertura de duas águas e sem divisões internas. Os jiraus, 
espécie de plataforma elevada do chão, forrados com esteiras, são utilizados 
como base das atividades como dormir, sentar e comer, assim como prateleiras 
para a guarda de cerâmicas e utensílios. 
Mais ao sul do Brasil, os Guaranis utilizam também o bambu como base 
da construção da maloca. Estacas de madeiras que são fincados na terra formam 
a linha das paredes externas, madeiras horizontais estruturam o vão das portas 
e também apoiam a cumeeira da cobertura. O bambu, por ser um material mais 
flexível, é trabalhado como uma espécie de trança no intuito de preencher os 
vãos resultantes dos pilares de madeira. E os pequenos vãos são preenchidos com 
folhagens e galhos secos. Como uma espécie de acabamento, esteiras de capins 
confeccionadas pela tribo ou as folhagens de palmeiras coletadas são aplicadas 
sobre toda a estrutura lateral e inclusive sobre a cobertura (OLIVER et al., 1997). 
O destaque está na presença da porta, também confeccionada com as mesmas 
esteiras e folhagens.
Nas tribos dos Tiriyó podemos encontrar diversidade da tipologia das 
habitações, a maioria tem a base da planta circular e cobertura cônica mais amena, 
ou seja, se aproxima mais de um formato em cúpula. O revestimento de palha 
não se interrompe até o chão, não sendo possível a diferenciação entre cobertura e 
paredes. No caso dos índios Makuxí, os pilares de madeira laterais das malocas não 
apresentam revestimentos em palhas, ficando mais evidente a área da cobertura.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
24
FIGURA 18 – ENLACE COM CIPÓS TIPO TIRIYÓ
FONTE: <http://www.ceap.br/ material/MAT21042014225238.pdf/>. Acesso em: 31 ago. 2016.
FIGURA 19 – PLANTA BAIXA, FACHADA E CORTE DA MALOCA TIRIYÓ
Planta
TÓPICO 2 | AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
25
Fachada
Corte
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
5 INFLUÊNCIAS ANTROPOMÓRFICAS
A antropomorfia, conceito muito presente na cultura indígena, define 
algumas estruturas de maneira peculiar aos grupos indígenas da tribo Morubo 
e do alto Xingu. As malocas dos Morubos, como já apresentamos anteriormente, 
representam o corpo do “xamã”. Texturas da cobertura obtidas com o revestimento 
de palha que revelam pequenas saliências representam a pele de jacarés. A 
simetria em relação ao seu eixo longitudinal deixa clara que a habitação tem 
sua execução bem definida. Além disso, a técnica construtiva que utiliza pilares 
centrais mais altos, outros periféricos mais baixos, esteios laterais e vigas de 
travamento formata um polígono de dez lados. 
Os pilares centrais da habitação das tribos do alto Xingu conotam as 
“pernas” da casa, e são de responsabilidade do líder do grupo, que também define 
o local da implantação da maloca. Os esteios periféricos definem as “bocas”, 
o “cabelo” é representado pelas palhas trançadas ao longo do ripamento. A 
grande dimensão destas casas em forma de elipses impressiona. Nesta habitação, 
a organização não se dá pela forma geométrica, mas sim conceitualmente. No 
interior não há a presença de limitadores físicos, mas cada núcleo familiar tem 
seu espaço de dormir e de se alimentar respeitado por todos. 
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
26
FIGURA 20 – PLANTA BAIXA E CORTE DA MALOCA COM ELEMENTOS ANTROPOMÓRFICOS
FONTE: <http://arquitetofala.blogspot.com.br/2011/12/arquitetura-indigena-no-brasil.html>. 
Acesso em: 29 ago. 2016.
FIGURA 21 – ESPAÇOS INTERNOS SEM DIVISÕES – MALOCA XINGUANA
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/20/cb/56/20cb56be0be8266cefe6ff2e835186fb.jpg>. 
Acesso em: 24 jun. 2019.
TÓPICO 2 | AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
27
No caso dos Caiapós, que também têm a adequação da dimensão da 
maloca conforme o número de nativos que ali vivem, a cobertura apresenta 
uma inclinação maior que o habitualmente verificado. Outro ponto diferencial 
é o revestimento de apenas três paredes externas pelas esteiras de folhagens. A 
quarta parede não é coberta, mas protegida por uma espécie de varanda que 
possui o jirau como “mobiliário” e é voltada para o pátio da aldeia. O interior 
da maloca não possui divisões, mas tem o espaço delimitado para a ocupação de 
cada núcleo familiar com catres rústicos para o descanso e para a alimentação. 
Mais uma vez o centro da habitação é o local da fogueira, ou seja, da cozinha. A 
maloca é o local das mulheres, os homens a ocupam apenas para comer e dormir.
Ainda há a maloca com planta baixa de forma elíptica incompleta, que erampresentes nos povos Tiriyó e Tuyúka, e que gradualmente foram substituídas pela 
forma retangular. Há relatos de estruturas em elipses incompletas sob espécies 
de balsas, que dariam abrigo aos indígenas da tribo dos Paumarí, em épocas de 
cheias dos rios. 
 
No médio Xingu, a tribo Araueté apresenta sua arquitetura vernacular 
através da maloca com três pilares centrais e uma viga principal em forma 
retangular. Esta estrutura dá a base para uma cobertura abobadada e revestida 
por folhagens, sendo que a porta revestida por esteira de palhas também é 
presente nesta tipologia. 
FIGURA 22 – APLICAÇÃO DA FOLHAGEM COMO REVESTIMENTO DAS MALOCAS
FONTE: <http://tectonicablog.com/?p=26325>. Acesso em: 29 ago. 2016.
A aldeia-casa das tribos Tukano tem a forma retangular, coberta por uma 
estrutura de duas águas que chega até o chão e uma semicircunferência na porção 
lateral de menor dimensão. A habitação também possui a porta principal voltada 
para o centro da aldeia e porta dos fundos para a periferia, assim como divisões 
internas para cada núcleo familiar.
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
28
No próximo tópico vamos abordar de que maneira a arquitetura 
contemporânea no Brasil conseguiu aproveitar e resgatar os conceitos, técnicas e 
ensinamentos da arquitetura indígena autóctone. 
UNI
O Museu de Genebra, na Suíça, recebeu, em 2016, a exposição com o tema dos 
índios da Amazônia. A exposição trata do choque cultural que os nativos sofreram quando 
da chegada dos europeus nas Américas no século XVI. Confira em suas pesquisas as imagens 
da exposição!
6 ADEQUAÇÕES AO MEIO AMBIENTE VISANDO AO 
CONFORTO AMBIENTAL
Os Kaingang, povo da tradição Taquara, eram também conhecidos como 
“Povo das Casas Subterrâneas”. Hoje pouca importância se dá às tradições 
e conhecimentos deste povo. Somente a partir dos anos 60 prestou-se maior 
atenção aos seus conhecimentos. Habitantes do Sul do Brasil, notadamente Santa 
Catarina e Rio Grande do Sul, terras com invernos rigorosos, desenvolveram uma 
alternativa de abrigo “interessante”, construindo suas casas de forma subterrânea 
e, assim, ficando seus ocupantes protegidos do frio e dos ventos fortes, comuns 
na região.
FIGURA 23 – CASA SUBTERRÂNEA DO POVO KAINGANG
FONTE: <http://multiplica.org/subterraneas-do-povo-kanghag/>. Acesso em: 11 jun. 2016.
TÓPICO 2 | AS MALOCAS, SUA ESTRUTURA E MATERIAIS
29
As construções eram de planta circular com diâmetro variando de 2,0 a 
13,0 metros e profundidade entre 2,5 e 5,0 metros. O teto apoiado em estacas de 
madeira, sendo a central afixada no fundo da construção e as laterais, menores, 
dispostas em forma radial na borda, proporcionando um vão livre para aeração, 
iluminação e circulação de seus habitantes.
Arqueólogos mencionam ter encontrado em sítios arqueológicos 
construções isoladas, mas também é comum localizarem agrupamentos, 
podendo ser aos pares ou formando aldeias de cinco até 10 casas. Algumas delas 
apresentam revestimentos com argila fina nas paredes e pedra no piso.
FIGURA 24 – COMUNICAÇÃO SUBTERRÂNEA ENTRE AS CASAS KAINGANG
FONTE: <http://observatorioborussia.org.br/projeto/>. Acesso em: 25 jun. 2016.
Segundo o arqueólogo Padre Rohr (1992 apud D`ANGELIS; VEIGA, 2003), 
as casas subterrâneas são atribuídas às populações Jê ou Kaingang, que ocupavam 
o planalto antes da conquista e representam uma invenção engenhosa do homem 
pré-histórico contra as nevascas e os ventos gelados dos invernos rigorosos das 
grandes altitudes.
É importante, porém, observar-se a época em que as casas 
subterrâneas foram construídas e habitadas, para pensarmos na 
relação delas com outras formas de habitação antigas dos Kaingang. 
A arqueologia brasileira tem relacionado as casas subterrâneas com 
o que convencionou chamar de “tradição Taquara-Itararé”. Segundo 
Prous, para essa tradição “até há pouco, as datações mais antigas 
eram exclusivamente do Rio Grande do Sul, entre o primeiro e o 
sexto século de nossa era. Várias outras obtidas para o mesmo estado, 
Argentina e Paraná eram do século XIV, e duas do início do período 
histórico. Recentemente, datações de 475 AD (fase Candoi) e 500 AD 
na Argentina vieram mostrar que a cultura das casas subterrâneas se 
desenvolveu em diversas regiões, grosso modo, na mesma época, e 
não se pode descartar a possibilidade de aparecerem, com as novas 
pesquisas, datações tão antigas quanto a, isolada por enquanto, de 140 
AD para a fase Guatambu, cujo término foi datado de 1790 AD (Prous 
1992:328) (D`ANGELIS; VEIGA, 2003, p. 8).
30
RESUMO DO TÓPICO 2
 Ao analisarmos os tipos de habitações as técnicas construtivas 
vernaculares dos povos indígenas nos deparamos com cenário interessante no 
quesito soluções sustentáveis e conceitos culturais. Estudamos neste tópico:
• Algumas soluções de melhoria de microclima do interior da habitação dos 
indígenas através da aplicação dos materiais encontrados no entono natural, 
como a execução de óculos centrais para a exaustão do ar quente e vapores, 
de beirais e esteiras que protegem os revestimentos naturais da umidade e da 
incidência direta do sol no espaço interno e a execução de casas subterrâneas 
para a proteção do frio dos povos do sul do país. 
• Entendemos algumas soluções mais próprias aos conceitos antropológicos e 
culturais, como o caso do antropomorfismo que tende a transpor elementos de 
figuras de deuses às estruturas das malocas. 
• O legado medicinal dos povos indígenas foi muito importante e muito 
explorado, através do conhecimento de plantas medicinais. Já em contraponto, 
muito ainda pode ser explorado na questão arquitetônica e de organização 
espacial indígena do Brasil. 
• Pouco se aplica das técnicas e formas construtivas indígenas vernaculares, 
deixando-se assim uma lacuna relevante de informação e conhecimento na 
continuidade temporal e cultural da literal construção de nosso país. 
31
1 Acadêmico, para que você possa realizar uma reflexão complementar a 
partir das informações que foram expostas neste tópico, sintetize de forma 
conclusiva as principais características das aldeias e das tipologias das 
habitações por povo indígena. Aproveite para fazer uma revisão em seu 
aprendizado!
AUTOATIVIDADE
32
33
TÓPICO 3
A ETNOARQUITETURA COM REFERÊNCIA NA CULTURA 
INDÍGENA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Entenderemos, neste tópico, o conceito da etnoarquitetura indígena em 
linhas gerais e qual seu objetivo enquanto formação ideológica arquitetônica. 
Este tópico irá despertar a visão de uma arquitetura indígena com a releitura das 
técnicas construtivas atuais. Veremos algumas soluções e possibilidades de como 
empregar o conhecimento do nativo indígena para a produção de obras genuínas 
e também pautadas no regionalismo e na ecoeficiência. 
Veremos ainda como grandes nomes de arquitetos, como Oscar Niemeyer 
e Severiano Mario Porto, utilizaram a etnoarquitetura em seus projetos e partidos 
arquitetônicos no sentido evocar a forma da habitação indígena enquanto signo 
da brasilidade. 
2 A ARQUITETURA INDÍGENA SUSTENTÁVEL
Vemos a etnoarquitetura indígena como uma tendência em ebulição na 
sociedade e entre os profissionais da área da arquitetura e do urbanismo no 
Brasil. Tem como papel o resgate dos benefícios de todo o conhecimento espacial e 
estrutural, empíricos, dos desenhos das habitações e aldeias dos povos indígenas, 
mas com a aplicação dos materiais e técnicas construtivas atuais e através da 
comum conversa e deliberação entre índios e a figura do arquiteto. Ainda, o 
conceito da etnoarquitetura procura conciliar a sustentabilidade, presente na 
arquitetura praticada pelas tribos indígenas através do uso de materiais locais e 
técnica construtiva desenvolvida empiricamente.
 
Alfonso Ramirez Ponce, em sua publicação que trata da Arquitetura 
Regional e Sustentável,faz uma importante reflexão da função e dos objetivos 
que os povos indígenas preconizavam na execução de suas habitações:
É a arquitetura regional, indígena, com ou sem arquitetos, uma 
arquitetura a serviço do homem, por, para e com o homem. É uma 
arquitetura que privilegia o espaço habitável e não suas aparências. É 
uma arquitetura para as pessoas, os habitantes e não para os arquitetos, 
seus críticos ou as revistas de arquitetura (PONCE, 2008, p. 3).
34
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
3 APLICAÇÃO DE FORMAS CONSTRUTIVAS POR OSCAR 
NIEMEYER
Contudo, a busca pelas raízes indígenas na arquitetura é anterior ao 
movimento contemporâneo. Oscar Niemeyer incorporou, em seus mais de 160 
grandes projetos, as bases formais modernistas. Suas referências da infância 
na cidade do Rio de Janeiro, sua reflexão da arte aplicada à arquitetura, sua 
influência das aspirações arquitetônicas de seu mestre e professor Lúcio Costa e 
sua aproximação profissional com o antropólogo Darcy Riberio proporcionaram 
ao arquiteto brasileiro mais conhecido popularmente pelo uso das formas livres, 
a ruptura com a importação da arquitetura europeia e a aplicação das bases 
formais indígenas com cúpulas de forma autônoma e com a liberdade do espaço 
interno na busca pela democracia. “Seu mundo perdido é aquele do paraíso 
mítico do Brasil, anterior à exploração europeia e ao desenvolvimento industrial” 
(UNDERWOOD, 2002, p. 74).
FIGURA 25 - OSCAR NIEMEYER, LEONEL BRIZOLA E DARCY RIBEIRO
FONTE: <http://www.elfikurten.com.br/2012/02/darcy-ribeiro-um-homem-de-fazimentos.
html>. Acesso em: 26 jun. 2016.
Sabemos assim que Oscar Niemeyer buscou durante todo o seu 
processo de criação arquitetônica as formas livres, a conexão com a paisagem 
natural brasileira e também a valorização do seu país natal enquanto resgate da 
identidade regional. Veremos na Unidade 3, deste livro de estudos, o arquiteto 
e sua produção para a arquitetura modernista brasileira. Neste tópico vamos 
explorar dois projetos que foram dedicados especificamente para a valorização 
da figura do índio no cenário brasileiro, o Pavilhão de Exposição Lucas Nogueira 
Garcez – OCA – no complexo do Ibirapuera e o projeto do Centro de Estudos da 
Cultura Indígena.
TÓPICO 3 | A ETNOARQUITETURA COM REFERÊNCIA NA CULTURA INDÍGENA
35
O pavilhão de exposição Lucas Nogueira Garcez, popularmente conhecido 
como OCA, foi projetado em 1951, é considerado o primeiro de tantos museus 
projetados por Oscar Niemeyer e executado três anos depois. Possui mais de 10 
mil m² em uma típica planta circular das habitações indígenas, e foi concebido 
com a tecnologia do concreto armado peculiar em outras produções do arquiteto, 
como no Senado e na Câmara dos Deputados no prédio do Congresso Nacional 
em Brasília (1958). É coroado em sua fachada externa com aberturas circulares, 
que remetem a escotilhas. 
FIGURA 26 – OCA, VISTA EXTERNA DO PAVILHÃO
FONTE: <http://vejasp.abril.com.br/blogs/memoria/oscar-niemeyer-obras-ibirapuera-tombada/> 
Acesso em 25/06/2016
Rampas ao longo de todo o espaço interligam os quatro pavimentos, e 
elevadores hidráulicos substituíram as escadas rolantes do projeto original na 
reforma em 2000, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Por vezes categorizadas 
como escultura habitável, o programa do edifício é mínimo e preconiza a planta 
livre.
FIGURA 27 – OCA, VISTA INTERNA DO PAVILHÃO
FONTE: <https://parqueibirapuera.org/wp/wp-content/uploads/2017/05/PI-OCA-desconhecido.
jpg>. Acesso em: 24 jun. 2019.
36
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
O Palácio das Artes foi originalmente concebido para exposições de 
esculturas. Um domo engolfa toda a composição que se desenvolve 
em um subsolo e três andares com lajes de formas diversas, presas por 
seus vértices. Escadas rolantes e rampas faziam a circulação entre os 
pavimentos. O prédio foi subutilizado em seu potencial arquitetônico, 
abrigando durante muito tempo um planetário e um modesto museu 
de tradições populares. No ano de 2000 Paulo Mendes da Rocha 
resgatou o espírito original de espaço de exposições, eliminando 
acréscimos e realizando pequenas modificações na circulação vertical 
– elevadores substituíram escadas rolantes – e instalado um controle 
de umidade e temperatura de ar (CAVALCANTI, 2001, p. 303- 304).
A reforma foi muito bem recebida pela população e pela comunidade de 
profissionais da área, que avaliam que a edificação foi recuperada em sua essência. 
Em oportunidade de visita ao local antes e depois da intervenção de Paulo Mendes 
da Rocha, pudemos constatar a vitalidade devolvida e a consequência no entorno 
e na interação com o parque.
O Centro de Estudos da Cultura Indígena foi um projeto pensado para 
Brasília e datado de 1988 e não executado, quando o arquiteto já defendia a 
forma que remetesse à habitação indígena, mas com as técnicas construtivas 
contemporâneas àquele período. 
FIGURA 28 – CROQUI, CENTRO DE ESTUDOS DA CULTURA INDÍGENA
FONTE: <http://www.niemeyer.org.br/obras?page=3>. Acesso em: 25 jun. 2016.
O prédio possui um grande salão com 46 metros de comprimento por 16 
metros de largura para exposições e outro com as mesmas dimensões para os 
setores administrativos. Com uma solução estrutural através de tirantes de seis 
em seis metros, lajes de piso espessas e uma grande viga mestra central, o edifício 
impressiona com o espaço interno livre e acesso pela lateral de maior dimensão, 
muito característico na arquitetura indígena.
TÓPICO 3 | A ETNOARQUITETURA COM REFERÊNCIA NA CULTURA INDÍGENA
37
E pensei que o prédio se prestaria para um belo Museu. O Museu de 
Arte Moderna que a cidade reclama. O Museu do Índio – a sugestão 
vai depois – seria construído na Universidade que o Darcy criou. Era 
uma homenagem ao nosso irmão. E fiz o projeto do novo Museu do 
Índio com o maior carinho. Uma estrutura espetacular, lembrando a 
casa do índio. Arrojada, com o piso suspenso em tirantes, dentro do 
programa atual. A construção teria 15 m de altura e os dois espaços 
42x16. FONTE: <http://www.niemeyer.org.br/obra/pro296>. Acesso 
em: 15 jun. 2016.
4 SEVERIANO MÁRIO PORTO E O REGIONALISMO 
ECOEFICIENTE
Mais conhecido como arquiteto da floresta, Severiano Mario Porto 
integra os principais nomes de profissionais arquitetos voltados ao regionalismo 
e valorização da arquitetura indígena. Nasceu em Uberlândia e estudou na 
Faculdade Nacional de Arquitetura – FAN, no Rio de Janeiro. Contudo, se 
volta para Manaus na década de 60, quando realiza diversos projetos na capital 
amazonense, além de atuar no âmbito do urbanismo e no Ensino Superior do 
Estado. 
A ideia de regionalismo ecoeficiente se faz presente nos projetos do 
arquiteto Severiano Porto com a necessária abordagem holística, uma 
vez que os aspectos condicionantes de suas obras, realizadas durante 
mais de 30 anos que se estabeleceu na região amazônica, não se 
resumem à mera aplicação de técnicas de adequação da arquitetura 
ao lugar. As estratégias de concepção, que atentam indiscutivelmente 
para o rigor do clima ou para a racionalidade construtiva em vista da 
economia de meios, traduzem mais especificamente o que poderíamos 
chamar aqui de poéticas da adequação. Ele tem o olhar alargado pela 
sensibilidade humanista e chega a soluções de projeto só alcançadas 
pela síntese dos poetas (ROVO; OLIVEIRA, 2004, s/d).
A seguir, as principais obras do arquiteto Severiano Mário Porto, no 
Amazonas, em ordem cronológica:
• 1965 – Estádio Vivaldo Lima, Manaus (demolido)
• 1969 – Edifícios como a sede da Petrobrás
• 1971 – Sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus Suframa, Manaus
• 1971 – Residência do Arquiteto, Manaus
• 1973 – Campus da Universidade da Amazônia (UFAM)
• 1978 – Residência Robert Schuster, Tarumã, Manaus
• 1983 – Centro de Proteção Ambiental de Balbina, PresidenteFigueiredo
• 1992 – Parque Urbanização de Ponta Negra, Manaus
• 1994 – Sede da Aldeia Infantil SOS (ONG vinculada à Unesco)
38
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
UNI
O conjunto de sua obra é extensamente premiado nacionalmente e 
internacionalmente. O campus da Universidade do Amazonas, onde também foi professor, e 
a sede da Suframa são bons exemplos para tratarmos como etnoarquitetura e regionalismo 
ecoeficiente.
FIGURA 29 – SEDE DA SUFRAMA – COBERTURA EM DOMOS
FONTE: <http://images.adsttc.com/media/images/56de/d1dd/e58e/ce68/3d00/011f/large_
jpg/1323443566_1994_av_monografias_15.jpg?1457443288>. Acesso em: 31 ago. 2016.
A sede da Suframa apresenta diversas coberturas contíguas em concreto, 
elaboradas sob forma de domos, que aproveitam a iluminação natural marcando 
o centro dos espaços e conferem a exaustão do ar quente. As divisões internas 
são independentes da estrutura da cobertura, conferindo assim uma maior 
flexibilidade ao partido. 
FIGURA 30 – SEDE DA SUFRAMA – COBERTURA EM DOMOS
FONTE: <http://www.archdaily.com.br/br/762300/classicos-da-arquitetura-sede-da-suframa-
severiano-porto/54e1e328e58ece99d5000001>. Acesso em: 31 ago. 2016.
TÓPICO 3 | A ETNOARQUITETURA COM REFERÊNCIA NA CULTURA INDÍGENA
39
5 O ARQUITETO JOSÉ A. B. PORTOCARRERO E A 
ETNOARQUITETURA INDÍGENA
O arquiteto José Afonso Botura Portocarrero, pesquisador e autor que 
trata da etnoarquitetura indígena, projetou o “Espaço do Conhecimento e Saber” 
para o SEBRAE (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) do Mato 
Grosso, localizado em Cuiabá-MT. O projeto emprega como principal elemento 
a reprodução da forma da cobertura e arco ogival, característico das tribos do 
Xingu, além da adoção das proporções da habitação e do espaço interno sem 
divisões internas. “[...] Comecei a aprender o significado de outra arquitetura, 
muito diferente daquela que conhecia [...]” (PORTOCARRERO, 2010, p. 18).
FIGURA 31 - ESPAÇO DO CONHECIMENTO E SABER – VISTA INTERNA
A cobertura desta maloca apresenta um grande ganho microclimático, 
permitindo que o ar quente se dissipe e amenize as temperaturas internas nas 
habitações sem o uso de sistemas de climatização mecânica. Esta é uma das buscas 
da arquitetura dita sustentável, e que pode ser obtida através da observação de 
soluções regionais anteriores, como o caso da tecnologia desenvolvida pelas 
tribos indígenas. Outra releitura de que o arquiteto tirou partido foi na alocação 
do acesso principal pela lateral mais longa da planta em formato retangular, 
como podemos perceber no comparativo abaixo. 
FONTE: <http://sustentabilidade.sebrae.com.br/Sustentabilidade/Institucional/imagens/
WLF_6090.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2019.
40
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
FIGURA 32 - VISTA DA COBERTURA DO ESPAÇO DO CONHECIMENTO
FONTE: Disponível em: <http://sustentabilidade.sebrae.com.br/>. Acesso em: 12 jun. 2016. 
A edificação tem 1.000 m², com o desnível do terreno natural aproveitado 
para a criação de um auditório no subsolo. O terreno não recebeu aterros. O 
arquiteto fez uso da forma aplicando camadas de coberturas que são intercaladas 
por outra de ar de 30cm, e que permite a coleta da água da chuva que passa 
por estas, resfriando a superfície, e faz o reúso da água na própria edificação, 
mantendo a edificação mais fresca e sustentável. 
FIGURA 33 - VISTA EXTERNA DO ESPAÇO DO CONHECIMENTO
FONTE: <http://au.pini.com.br/>. Acesso em: 12 jun. 2016.
O sistema de iluminação artificial usa a luz solar para prover a energia 
necessária para acioná-lo através de seis luminárias solares na cobertura, o uso 
de espelhos internos intensifica a luminosidade gerada por estas lâmpadas e a 
transparência dos painéis de vidro nas fachadas aproveita a luz natural durante 
o dia. 
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou que: 
• A etnoarquitetura não é apenas uma homenagem nostálgica aos povos 
indígenas e seus conhecimentos empiricamente adquiridos e passados ao logo 
do tempo de geração em geração. 
• A etnoarquitetura indígena é o reencontro de uma cultura abandonada com 
a chegada e ocupação dos europeus no Brasil. É uma espécie de releitura e 
retomada de conceitos que por um longo período da história de nosso país nós 
negamos. 
• O objetivo dos arquitetos, apresentados neste tópico, foi a produção 
arquitetônica voltada para as formas das habitações indígenas do Brasil. 
• Severino Mario Porto apresenta, somado ao regionalismo do Amazonas, a 
busca pela ecoeficiência. Já o arquiteto José Portocarrero alia a sustentabilidade 
e o regionalismo através de sua produção literária e arquitetônica, trata-se de 
um bom exemplo de etnoarquitetura indígena atual. 
• Oscar Niemeyer e sua imensurável busca pela brasilidade alcança a 
etnoarquitetura indígena em um período de grande furor pela busca de uma 
“nova arquitetura”, e loca sua obra “Oca” em uma das cidades mais importantes 
do país, São Paulo. Assim, permite para a massa e principalmente para a elite 
da sociedade conceber uma nova visão da habitação indígena. 
42
1 Após a depuração e análise dos conceitos da etnoarquitetura, descreva quais 
as características desta arquitetura podem ser equiparadas com o conceito 
da arquitetura verde ou arquitetura sustentável?
2 Após entendermos as técnicas construtivas das habitações indígenas 
vernaculares e o conceito da etnoarquitetura, em sua visão, o homem branco 
conseguiu aprender conceitos relativos à sustentabilidade com este povo? 
Ou ainda ignoramos estes conceitos por estarem atrelados a uma cultura 
empírica? 
AUTOATIVIDADE
43
TÓPICO 4
A ARQUITETURA COLONIAL DO SÉCULO XVI AO FINAL 
SÉCULO XIX
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Com a chegada dos europeus ao Brasil, através do acontecimento 
histórico mais conhecido como “Descobrimento do Brasil”, em 1500, iniciou-se 
através do litoral a ocupação do território por estes desbravadores. Os europeus 
iniciaram naquele momento um movimento de aproximação dos padrões da sua 
terra natal, incluindo costumes, cultura, religiosidade, língua e a arquitetura. 
Na verificação das consequências destes esforços dos homens brancos europeus 
recém-chegados ao território novo, os estudiosos classificam a arquitetura do ano 
de 1500 (descoberta das terras brasileiras) até a Proclamação de Independência do 
Brasil em 1822, como Arquitetura Colonial do século XVI ao século XVIII. É fato 
que diversas discussões desta classificação acontecem até hoje entre os estudiosos, 
contudo podemos constatar que as correntes arquitetônicas mais “importadas” 
da Europa para o novo continente foram o Renascimento, Maneirismo, Barroco, 
Rococó e Neoclássico (GOULART, 1970). Este processo foi gradual e obteve 
características peculiares, foi adotado pela população brasileira miscigenada, 
adaptado até certo ponto ao sítio topográfico e natural do Brasil e resultou em 
belíssimos centros históricos.
2 O CHOQUE DE CULTURAS E AS PRIMEIRAS VILAS
Nos tópicos anteriores desta unidade nós estudamos como os índios 
brasileiros se organizavam em seu cotidiano antes da chegada dos europeus. Os 
povos nativos mantinham uma vivência em comunidade, em habitações coletivas 
cobertas de folhagens (palha) e com uma cultura ritualística e profunda em crenças. 
Em contraponto, os portugueses que alcançaram o território brasileiro 
em expedições tinham uma religiosidade rígida, moravam em habitações 
unifamiliares e em “cidades”, ou seja, em espaços com os arruamentos oriundos 
da época medieval, mais precisamente do feudalismo. Temos de lembrar que os 
portugueses e espanhóis, que se lançaram ao mar à procura de ouro e riquezas, 
tinham tido o contato anterior ao Brasil com as Índias. Lá, já aprenderam a 
conviver com o clima quente e úmido, muito diferente de sua terra natal. Assim, 
observaram o povo hindu e suas habitaçõesde cobertura de palha e revestimento 
de barro, sendo no Brasil um reencontro com esta técnica similar (GOULART, 
1970).
44
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
[...] o português foi uma espécie de coordenador, orientador e 
homogeneizador dessa moradia. Com o índio, aprende que cozinhar 
nos trópicos é uma tarefa a ser feita do lado de fora; numa varanda 
ou num puxado do lado da casa. A solução para o escoamento das 
grandes chuvas ele copia da experiência aprendida no Oriente, 
trazendo dessas regiões as inflexões dos telhados e dos beirais 
alongados com desenhos graciosos. De Portugal traz as paredes 
caiadas e os portais coloridos, tão comuns nas paisagens do Minho, 
do Alentejo e do Algarve. Transforma a pequena casa portuguesa, 
por força do modelo econômico, numa ‘casa-grande’, à qual agrega os 
escravos africanos num puxado ao lado da cozinha, que se denominou 
senzala (VERÍSSIMO; BITTAR, 1999, p. 54). 
Com o encontro de culturas dos portugueses já ambientados com a técnica 
construtiva hindu e a ambiência que estes se depararam ao adentrar no território 
brasileiro, podemos verificar o surgimento das habitações rústicas brasileiras, 
tipologia ainda muito tradicional no país, e até certo ponto “importada” dos 
povos da Índia. Ela se caracteriza pela planta quadrada e pelo uso da palha em 
sua cobertura.
FIGURA 34 – RANCHO AO PÉ DA SERRA DO CARAÇA
FONTE: <http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/>. Acesso em: 25 jun. 2016.
Este primeiro momento dos exploradores com o intuito da dominação do 
território e a obtenção de riquezas é marcado pelos pequenos povoados ainda 
nômades. Assim, as estruturas para o abrigo eram mais simplórias, tipo cabanas. 
Do ponto de vista de absorção da cultura indígena brasileira pelo europeu, alguns 
costumes foram adotados, principalmente no âmbito alimentar. 
TÓPICO 4 | A ARQUITETURA COLONIAL DO SÉCULO XVI AO FINAL SÉCULO XIX
45
Alguns valores do mundo indígena foram plenamente aceitos. 
Entre eles, os mais evidentes foram o cultivo dos frutos da terra e 
o consumo desses alimentos, os banhos diários, e a rede de dormir. 
Por outro lado, na vida fora da casa os valores das culturas indígenas 
foram totalmente desdenhados, como a harmônica convivência com 
a natureza, a preservação do meio ambiente (WEIMER, 2005, p. 57).
No interior do Brasil, a dominação do nativo com a catequização e 
aculturação promove uma mudança no cenário e na organização da sociedade. 
Para as regiões áridas do Brasil, como o sertão, é no revestimento das paredes com 
o barro que se faz possível a melhoria do microclima interno, através da umidade 
que o barro “não curado” propicia. Este mesmo barro batido conforma o piso 
dos ranchos, que capta a umidade da terra e aumenta ainda mais esta umidade 
interna. Esta técnica que mistura a madeira e a vedação em barro cru não permite 
aberturas muito grandes, criando assim panos de paredes monocromáticos. 
Dispostos de frente uns para os outros, percebemos assim a criação das primeiras 
vilas, com arruamentos que substituíram a formatação das aldeias indígenas 
vernaculares. 
As técnicas construtivas não tinham sofisticação, haja vista as limitações 
econômicas e de mão de obra na época. As coberturas de telhas cerâmicas 
substituíram as coberturas de palha muito posteriormente, em torno de 1630 
(COLIN, 2010).
Na sequência da linha do tempo, vemos variações das técnicas construtivas 
surgirem, como a construção das habitações de pau a pique, adobe ou taipa de 
pilão. 
3 A TAIPA DE PILÃO, ADOBE E PAU A PIQUE
A taipa de pilão é uma técnica construtiva oriunda da cultura árabe, 
muito difundida na Europa, e já conhecida então por portugueses e espanhóis. 
Com a abundância do barro vermelho no território brasileiro, ela foi muito 
utilizada na conformação das vilas rurais. A técnica consiste basicamente na 
execução de formas em madeiras com dimensões de um metro de altura por três 
a quatro metros de comprimento, que recebem barro vermelho em camadas de 
20 centímetros e que é amassado e prensado através de pilões. Eram utilizadas 
algumas fibras naturais facilmente obtidas, como crinas de cavalos, assim como 
alguma dosagem de areia, argila e até mesmo óleo de baleia para conferir maior 
durabilidade. A secagem variava entre quatro a seis meses, a depender da região 
e da estação do ano. Após esta secagem as paredes recebiam uma espécie de 
argamassa, igualmente obtida através de materiais naturais, como cal, areia e até 
mesmo fezes de animais (COLIN, 2010). 
46
UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
FIGURA 35 – TAIPA DE PILÃO
FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/taipa-1a.jpg>. Acesso em: 31 
ago. 2016.
FIGURA 36 – PAREDE DE TAIPA DE PILÃO DO SÍTIO SOLIDÃO, GUARAREMA-SP 
FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/taipa-1a.jpg>. Acesso em: 31 
ago. 2016.
As casas bandeiristas, do século XVIII, localizadas, principalmente, no 
Estado de São Paulo, apresentavam as suas construções sob uma planta regular 
e executadas em taipa de pilão. Como estas paredes não eram tão resistentes às 
intempéries, vemos o surgimento dos beirais maiores nas coberturas e a colocação 
de blocos de pedras nas bases, que impediam o contato direto com a umidade. 
A tipologia do sítio, ocupada pela família dos primeiros fazendeiros abastados, 
desenvolve a varanda como elemento central da fachada, sendo os dois cômodos 
laterais a capela e o quarto de hóspedes, que servia de abrigo aos viajantes. Os 
quartos eram voltados para a sala, que dava acesso à cozinha. 
Torniquete
Separador
Pilão
Taipal da 
extremidade
Taipal lateral
Montante
Cunha de fixação
Travessão. Cabodá
TÓPICO 4 | A ARQUITETURA COLONIAL DO SÉCULO XVI AO FINAL SÉCULO XIX
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FIGURA 37 – PLANTA TIPO SÍTIO BANDEIRISTA 
QUARTO QUARTO
QUARTO QUARTO
SALA
DEPÓSITO
DEPÓSITO
CAPELA
ALPENDRE
HÓSPEDES
SERVIÇO
FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2011/04/sitio-do-padre-inc3a1cio.
jpg?w=500&h=821>. Acesso em: 31 ago. 2016.
FIGURA 38 – SÍTIO BANDEIRISTA 
FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2011/04/sitio-padre-inc3a1cio.
jpg?w=500&h=333>. Acesso em: 31 ago. 2016.
O adobe consiste no empilhamento de blocos de argila para a construção 
das paredes. Estas peças de argila são também fabricadas através de formas 
de madeira, contudo em dimensões menores que a das taipas de pilão. A 
dimensão, que se assemelha aos tijolos de alvenaria comuns à atualidade, de 
aproximadamente 20 centímetros de altura por 20 centímetros de largura, por 
40 centímetros de comprimento, era comumente aplicada a divisões internas das 
habitações. As formas preenchidas por barro vermelho e expostos ao Sol para 
secagem têm na dimensão a principal diferença entre as duas técnicas, pois o 
adobe também faz uso do “mix” de materiais naturais na massa de barro, como 
a areia, a cal e crinas de cavalo. As paredes recebem a proteção da argamassa de 
areia e cal. 
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UNIDADE 1 | ARQUITETURA INDÍGENA E DO BRASIL COLÔNIA
FIGURA 39 – CONFECÇÃO DO ADOBE
FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/tijolos-de-adobe0001.
jpg?w=300&h=65>. Acesso em: 31 ago. 2016.
A nomeação do pau a pique já traduz inicialmente a técnica construtiva, 
que é também conhecida por taipa de mão. Podemos encontrar ainda hoje nas 
regiões interioranas do Norte e Nordeste do Brasil a utilização do pau a pique, 
por ser de baixo custo e por ter se originado da cultura indígena. 
FIGURA 40 – ESTRUTURA PAU A PIQUE RÚSTICA
FONTE: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.com/2010/06/pau-a-pique-rustico.
jpg?w=300&h=280>. Acesso em: 31 ago. 2016.
A técnica se caracteriza pela utilização de peças mestras de madeira 
maiores enterradas na terra como estruturantes e de paus roliços de madeiras 
no

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