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FMU PEDRO HENRIQUE D’INGIULLO GONÇALVES RA: 6374406 TURMA 003101A02 Trabalho sobre controle de constitucionalidade de TCDF SÃO PAULO/SP 2020 Muito tem-se discutido acerca da relativização dos direitos fundamentais, para que o texto constitucional adeque-se à realidade. Além de se tratar de um debate antigo, sua complexidade dá-se, preliminarmente, por conta da colisão entre premissas constitucionais que não possuem hierarquia originalmente. A constituição federal de 1988 tem um teor muito específico: é a primeira carta magna pós ditadura militar, o que configura a sua demanda principal, que é assegurar direitos e garantias fundamentais, principalmente de forma negativa, isto é, limitando a ingerência do Estado Brasileiro e de terceiros sobre o indivíduo (situação presente em basicamente todo o período entre 1964 e 1985). Ainda sob essa óptica, é imprescindível afirmar que os direitos considerados de primeira geração, de acordo com as lições de Celso de Mello, são fruto da concepção francesa acerca de liberdade. São aqueles tidos como primários e que, teoricamente, seriam invioláveis por serem os mais básicos e triviais. No entanto, os direitos garantidos pela constituição federal, sejam cláusulas pétreas ou não, podem ser restringidos mediante situação gravosa, que exija regulamentação condizente com o núcleo essencial, e que, por fim, não venha a limitar a totalidade dos direitos. Assim, chegamos à conclusão de que nenhum direito é absoluto, podendo ser elidido de forma construtiva a partir da interpretação do poder judiciário. De acordo com Alexandre de Moraes, ‘’a aplicação dessas regras de interpretação deverá, em síntese, buscar a harmonia do texto constitucional com suas finalidades precípuas, adequando- as à realidade e pleiteando a maior aplicabilidade dos direitos, garantias e liberdades públicas.’’ O autor indica, portanto, que quando houver concurso de direitos fundamentais, o juiz detentor do controle de constitucionalidade direto deve utilizar do princípio da concordância prática ou harmonização. Para fins de elucidação, os dispositivos constitucionais neste texto tratados são: Art. 5º, XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; Art. 5º, XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição; e Art. 196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação. Dentro do Direito, é extremamente comum que haja divergências e colisões entre os dispositivos constitucionais, e por isso é vital que o controle de constitucionalidade atue de forma a modular os institutos jurídicos para que estes se adequem à conjuntura política e social do lugar. Destarte, é correto afirmar que tanto a livre circulação de pessoas como os protestos e manifestações das mesmas não seria proibido, apenas regulamentado e restringido, a fim de conferir disciplina perante uma situação de hostilidade ao direito do cidadão de ser protegido pelo Estado Brasileiro no que tange à saúde pública. Ainda assim, os cidadãos poderão exercer o direito de ir e vir, bem como o de constituir manifestações ao ar livre e de forma pacífica, desde que não frustrem compromisso prévio. No entanto, sofrerão, por ora, certa austeridade quanto a amplitude destes direitos. Afirma-se, ainda, que apesar de caracterizados como direitos individuais, os quais têm o intuito de limitar a coerção estatal sobre o indivíduo, não possuem qualquer relação de hierarquia com outros direitos tidos como sociais, coletivos ou difusos. Sobre a relatividade dos direitos fundamentais da Declaração de Direitos Humanos das Nações Unidas, mais especificamente em seu art. 29, é postulado que ‘’[...] No exercício de seus direitos e no desfrute de suas liberdades todas as pessoas estarão sujeitas às limitações estabelecidas pela lei com a única finalidade de assegurar o respeito dos direitos e liberdades dos demais, e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.’’ Outrossim, cabe constatar que o direito a saúde, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, não se resume ao atendimento em hospitais públicos. Haja vista a conjectura urbana pela qual é prejudicada a circulação de pessoas que buscam atendimento médico em dias de manifestação, é papel do poder público ingerir para que o fluxo seja organizado e disciplinado. Ademais, caso os hospitais sejam de competência pública, é prescrito no artigo 198, caput, da Constituição Federal, que haja uma rede regionalizada e hierarquizada. Assim, é extremamente necessário que o governo a que consta atribuição intervenha para otimizar os fluxos de pessoas por entre regiões de grande demanda pelo direito à saúde estatal. De forma parecida, porém não análoga, pode-se comparar a situação com os bloqueios de rua em dias de eventos esportivos. Por mais que as decisões sejam tomadas pela Polícia Militar, e não pelo poder legislativo através de uma lei ou pelo poder executivo através de decreto, a medida também constitui o problema de colisão de direitos constitucionais. Foi justamente essa a manifestação da torcida da Sociedade Esportiva Palmeiras diante dos bloqueios feitos pelo 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar: as autoridades estariam violando o direito de reunião pacífica. Entretanto, a medida realizada tinha como intenção prevenir qualquer tipo de confusão generalizada dadas as diversas situações causadas por torcedores de futebol. Foram constatados na região da rua Palestra Itália furtos, roubos, bem como outros episódios de violência. Para que o direito a segurança fosse respeitado, juntamente com a livre locomoção dos torcedores que se dirigissem até o estádio – configurando a preservação do núcleo fundamental do direito – haveria a restrição sobre a reunião dos transeuntes. Uniformemente, é necessário que, de acordo com as arguições acima mencionadas, haja a aferição de qual direito é mais preciso em determinada circunstância. Sendo assim, considerando o caráter urgente e emergencial atribuído ao enfrentamento da pandemia do coronavírus pela Organização Mundial de Saúde, faz-se necessário analisar suas recomendações, a fim de conchavar se a lei editada tem força maior, a ponto de restringir um direito fundamental em detrimento do ideal funcionamento de outro. Para o diretor geral da OMS, Tedros Adhanon, o único meio de se controlar a pandemia é através do isolamento social. De acordo com os epidemiologistas, por mais que seja baixa a taxa de mortalidade causada pelo vírus, o mais gravoso abrange a questão do colapso dos sistemas de saúde. Por se tratar de uma doença extremamente contagiosa, os dados apontam que a progressão exponencial do número de infectados tende a afetar cada vez mais as infraestruturas estatal e privada no que concerne à disponibilidade de leitos, recursos humanos, investimentos e alocação de equipamentos hospitalares. Com o fim de sopesar os dispositivos que poderãosofrer algum tipo de prejuízo, cabe ir além em um aspecto implícito no art. 6º da Carta Maior; ao compreender a gravidade da circunstância imposta à sociedade, o dever do Estado de garantir saúde a sua população flerta com o direito à vida, o qual tem sua literatura prevista no art. 5º da Constituição. Assim, ao analisar a situação sob a óptica de Alexandre de Moraes cuja ideia expressa que o direito à vida é o mais importante de todos por simplesmente garantir pré- requisito à existência humana, cabe priorizar este princípio em detrimento dos incisos XV e XVI previstos no art. 5º. À vista disso, entende-se que em virtude da iminência do enfrentamento à pandemia causada pelo novo coronavírus, é dever das autoridades legislativa e executiva editar leis prevenindo o consequente agravamento da situação. Em virtude dos argumentos expostos, entendo que a lei editada é constitucional ao preconizar o direito à vida e à saúde, mesmo que mitigando efeitos de outros direitos individuais, pois há a devida manutenção do núcleo básico das normas. Ainda que o fato da pandemia agrave a situação e exija do poder público ingerência mais radical, a lei editada não necessitará de ser temporária ou excepcional, já que, em se tratando de uma avenida com diversos hospitais, as demandas serão de urgência a todo o momento, haja vista que a população irá sempre recorrer ao sistema de saúde, seja público, seja privado, independentemente de pandemia. BIBLIOGRAFIA Moraes, Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas LTDA. https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1060567/existe- diferenca-entre-direitos-e-garantias-fundamental https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublic aSaude/anexo/DIREITO_A_SAUDE_por_Leny.pdf https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&v iew=article&id=6101:covid19&Itemid=875 https://portal.fiocruz.br/ https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/170/edicao- 1/direito-a-saude https://www.who.int/emergencies/diseases/novel- coronavirus- 2019?gclid=CjwKCAjwkun1BRAIEiwA2mJRWdEQTgL_XH GMJ3Vw2WFXzOmUiMomabLDUaQN2HAEjVYFkeGtoCN KyxoCKaYQAvD_BwE https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1060567/existe-diferenca-entre-direitos-e-garantias-fundamental https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1060567/existe-diferenca-entre-direitos-e-garantias-fundamental https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaSaude/anexo/DIREITO_A_SAUDE_por_Leny.pdf https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaSaude/anexo/DIREITO_A_SAUDE_por_Leny.pdf https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875 https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875 https://portal.fiocruz.br/ https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/170/edicao-1/direito-a-saude https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/170/edicao-1/direito-a-saude https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019?gclid=CjwKCAjwkun1BRAIEiwA2mJRWdEQTgL_XHGMJ3Vw2WFXzOmUiMomabLDUaQN2HAEjVYFkeGtoCNKyxoCKaYQAvD_BwE https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019?gclid=CjwKCAjwkun1BRAIEiwA2mJRWdEQTgL_XHGMJ3Vw2WFXzOmUiMomabLDUaQN2HAEjVYFkeGtoCNKyxoCKaYQAvD_BwE https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019?gclid=CjwKCAjwkun1BRAIEiwA2mJRWdEQTgL_XHGMJ3Vw2WFXzOmUiMomabLDUaQN2HAEjVYFkeGtoCNKyxoCKaYQAvD_BwE https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019?gclid=CjwKCAjwkun1BRAIEiwA2mJRWdEQTgL_XHGMJ3Vw2WFXzOmUiMomabLDUaQN2HAEjVYFkeGtoCNKyxoCKaYQAvD_BwE https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019?gclid=CjwKCAjwkun1BRAIEiwA2mJRWdEQTgL_XHGMJ3Vw2WFXzOmUiMomabLDUaQN2HAEjVYFkeGtoCNKyxoCKaYQAvD_BwE