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78 • capítulo 3 Coerção Forma rápida e menos dispen- diosa de se cessar o conflito. Destrói a credibilidade do agente de mudança. Quadro 3.5 – Táticas para superação da resistência à mudança e suas vantagens e desvan- tagens - Robbins, 2005. 3.5 Mudança e estruturação de problemas Muitas vezes, devido à urgência, os gestores se esquecem de organizar o problema que deverá ser atacado e de estabelecer acordos entre os principais envolvidos no processo de mudança. Nesse sentido, é preciso que o gerente te- nha duas questões em mente: (1) Quem são as pessoas envolvidas no processo de mudança; (2) Qual a amplitude da mudança? Para tanto, formule a natureza do problema e os interessados neste processo. Em outras palavras, a mudança nunca deve ser realizada por uma só pessoa, os empregados devem se sentir partícipes do processo desde o início, de modo que tenham uma visão compar- tilhada do que deve ser modificado (QUINN et al., 2012). A ideia é envolver os que estão ligados à mudança em uma análise de lacu- na conjunta. Isto é, onde estamos agora e onde queremos estar? Quanto mais transparentes (não ocultas nem secretas) forem todas as informações pertinen- tes à mudança e quanto maior o envolvimento dos que estarão ligados à mu- dança, maior será a chance de sucesso (QUINN et al., 2012, p. 288). Com base nisso, o processo de mudança deve seguir as etapas discrimina- das a seguir, de acordo com Baldwin, Rubin e Bommer (2008). • Exteriorização do inimigo: qualquer empreitada em prol da mudança irá sofrer alguma dose de resistência, sobretudo se as causas da mudan- ça forem percebidas como internas à organização, ou seja, como resul- tado da incompetência interna. Desse modo, é importante que o geren- te exteriorize “o inimigo ou a ameaça”, como se a mudança decorresse de fatores externos. • Delimitar metas de resultados: após conseguir o apoio dos emprega- dos, é importante delimitar um corpo de objetivos mensuráveis. Além de definir as atividades e as ações a serem realizadas, é importante de- limitar os resultados esperados, pois estes instilam responsabilidade entre os membros do grupo. • Recolher dados e dar retorno: após ter definido o problema e determi- capítulo 3 • 79 nado os papéis esperados para o gestor e para os empregados, é im- portante acompanhar o processo de trabalho com o objetivo de coletar informações a respeito de quais atividades serão mais efetivas. Além disso, é importante administrar feedbacks com o intuito de aumentar a consciência do empregado e demonstrar a urgência para mudança. Lembre-se de que o processo de mudança é complexo e sem o engajamen- to dos empregados, provavelmente, as chances de modificação serão inócuas. Portanto, é preciso demonstrar a importância da mudança, conquistar apoio, estabelecer metas visualizáveis em resultados e, paulatinamente, recompensar aquelas equipes ou funcionários que atingiram o desempenho esperado. Dessa forma, aos poucos, a organização realizará as mudanças necessárias para seu crescimento. 3.6 Equipes de alto desempenho e resultados organizacionais De acordo com Quinn et al. (2012), por volta de 1980, nos EUA, o conceito de equipe foi adotado como modo efetivo de estruturar o trabalho. A maioria argumenta que o motivo mais atrativo para adotar organização do trabalho baseada em equipes é o econômico – que as organizações que utilizam equipes para envolver os funcionários nas tomadas de decisões organizacionais terão uma vantagem competitiva porque os que estão mais próximos do traba- lho real têm mais conhecimento e entendimento dos problemas e por isso são capazes de tomar melhores decisões (LAWLER apud QUINN et al., 2012, p. 83). Para Quinn et al. (2012), ainda assim, compreender a importância do traba- lho em equipe é algo complexo, visto que não há acordo com relação à definição do que é uma equipe e como esta pode ser classificada. Em geral, os grupos são descritos como “duas ou mais pessoas que interagem para alcançar um objeti- vo comum [...] enquanto equipes compartilham não só uma meta comum, mas também [seus membros] trabalham juntos de forma interdependente” (p. 83). Desse modo, as equipes dividem “um sentimento de responsabilidade final mútua e têm uma sensação de conexão com outros membros” (p. 83). Definida dessa maneira, espera-se que cada participante note de que forma contribui para o alcance das metas comuns e que esteja disponível para manifestar suas opiniões e ouvir as dos demais. Outras organizações descrevem as equipes de forma estritamente estrutural, onde os participantes de determinado setor tra- balham de modo interdependente e estão envolvidos em uma série de delibe- rações a respeito do trabalho. Diante desse panorama, devemos diferenciar as 80 • capítulo 3 equipes quanto ao grau de independência e controle concedido aos seus mem- bros (QUINN et al., 2012). A seguir, esmiuçamos esta divisão, conforme Quinn et al. (2012). • Equipes tradicionais: lideradas por gerentes, seus participantes apre- sentam pouca ou nenhuma dose de autonomia para deliberar a respei- to das metas; no entanto, podem decidir de que modo o trabalho será feito. • Equipe autogerenciadas (autodirigidas): seus participantes são respon- sáveis por diversas atribuições, tradicionalmente a cargo do gestor/su- pervisor por exemplo, planejamento, avaliação de desempenho e defi- nição do cronograma de atividades. Lembre-se de que as equipes podem ser formadas por empregados do mes- mo setor ou por empregados de diferentes setores que, juntos, compõem uma equipe interfuncional. De forma ampla, neste capítulo, quando nos referirmos ao conceito de equipe, estamos falando de “um grupo de pessoas que são inter- dependentes com relação a informações, recursos e habilidades e que procu- ram combinar seus empenhos para alcançar uma meta comum” (THOMPSON, 2000 apud QUINN et al., 2012, p. 84). Não basta classificar ou definir o que é uma equipe, é imprescindível discutir o que a torna eficaz. Trata-se do que você aprenderá a seguir! capítulo 3 • 81 3.6.1 O que influencia o desempenho da equipe? Analisar o desempenho de uma equipe implica considerar as características individuais de seus participantes, tais como personalidade, habilidades, com- petências; as características da própria equipe, tais como número de compo- nentes, divisão de tarefas e liderança, além dos fatores contextuais – internos ou externos – à organização. Quanto aos fatores internos, pode-se mencionar a cultura da organização, o sistema de remuneração e benefícios, as tecnologias de comunicação, dentre outros. Quanto aos fatores externos, pode-se mencio- nar o contexto do país, suas normas, costumes e códigos culturais, o cenário econômico e as leis. “Dessa forma, as competências das pessoas são conside- radas como integradas nos fatores no nível de equipe, que, por sua vez, estão integrados nos fatores contextuais” (QUINN et al., 2012, p. 85). coNEXÃo Para conhecer algumas atitudes consideradas “proibidas” no trabalho em equipe, acesse o link: <http://migre.me/kbmOL>. De forma específica, os fatores essenciais para composição de equipes efi- cazes podem ser sintetizados em quatro fatores gerais: (a) projeto do trabalho, (b) composição da equipe, (c) fatores contextuais e (d) fatores de processo (RO- BBINS, 2005). Os seguintes fatores contextuais são importantes para o melhor desem- penho da equipe: (a) recursos adequados – as equipes dependem de recursos como informações adequadas, tecnologia coerente aos seus processos, apoio e incentivo administrativo; (b) liderança e estrutura – os participantes da equipe precisam ter em comum acordo a distribuição de atribuições e ter a segurança de que todos trabalham de forma equânime; (c) clima de confiança – os parti- cipantes devem manter confiança mútua e confiar em suas lideranças; (d) ava- liação de desempenho e recompensas – associadas à avaliação de desempenhoindividual e às recompensas distribuídas a cada participante, devem ser reali- zadas avaliações da equipe, considerando participação nos resultados, dentre outras formas de recompensas com vistas a incrementar o comprometimento e a produtividade (ROBBINS, 2005). 82 • capítulo 3 A composição da equipe compreende seus fatores internos, tais como: (a) qualidade dos participantes – parte da eficácia da equipe depende das habili- dades, conhecimentos e competências de cada um de seus membros; (b) perso- nalidade – em geral, equipes com recursos médios ou elevados de “extroversão, amabilidade, consciência e estabilidade emocional costumam receber avalia- ções mais altas pelo seu desempenho” (ROBBINS, 2005, p. 218); (c) distribuição de papéis – as equipes possuem demandas variadas, seus membros devem ser escolhidos de modo a garantir que todos tenham condição de cumprir papéis capazes de satisfazê-las; (d) diversidade – muitas tarefas realizadas em uma equipe dependem de variados conhecimentos e habilidades, portanto as equi- pes devem ser formadas por indivíduos heterogêneos, o que de antemão garan- te maior variedade de habilidades e conhecimentos (ROBBINS, 2005). Quanto aos fatores de processo, é importante salientar que, no trabalho em equipe, o que cada membro faz não é facilmente visualizado em virtude disto, os indivíduos tendem a se esforçar menos. Portanto, os seguintes fatores de- vem ser levados em conta com o objetivo de amenizar este fenômeno: (a) metas comuns – equipes com bom desempenho mantêm metas comuns e significativas, seus participantes têm tempo para dialogar, estruturar e deli- berar a respeito de propósitos que lhes sejam coerentes tanto em termos indivi- duais quanto em termos coletivos; (b) metas específicas – as equipes eficazes devem dispor seu propósito com- partilhado na forma de metas de desempenho específicas e objetivas; (c) confiança – equipes bem-sucedidas confiam em si mesmas, têm confian- ça de que obterão sucesso, o que representa um fator motivador; (d) nível de dissensões – nem sempre os conflitos são vistos como negativos, equipes isentas de conflitos podem estagnar, em geral, o conflito quanto à divi- são e forma de execução das tarefas, sobretudo em tarefas não rotineiras, pro- move diálogo e análise crítica a respeito dos problemas e opções disponíveis à equipe (ROBBINS, 2005). Por fim, no que tange ao projeto de trabalho, as equipes devem ter indepen- dência e liberdade, além da condição de fazer bom uso das diferentes habilida- des e competências que seus membros detêm. Ademais, as tarefas desempe- nhadas por seus participantes devem ser significativas e identificáveis, ou seja, visualizadas concretamente após seu término (ROBBINS, 2005). Quanto à composição da equipe, é importante salientar que seus partici- pantes devem ter funções específicas e especializadas, de acordo com Quinn capítulo 3 • 83 et al. (2012). “Uma função é um conjunto de expectativas relevantes mantidas pela pessoa e por outras sobre como essa pessoa deverá agir em uma determi- nada situação” (p. 87). No âmbito organizacional, a função de um empregado é descrita pelas tarefas sistemáticas que se espera que ele realize. Quando uma equipe é constituída, almeja-se que seus membros exerçam funções diferen- tes. Para isso, é fundamental levar em conta as competências específicas – téc- nicas e interpessoais – detidas por cada um e requisitadas para efetivação das tarefas. “As competências técnicas referem-se à capacidade, habilidades e co- nhecimento necessários à execução da tarefa. As competências interpessoais referem-se à capacidade, habilidades e qualidades mais pessoais que ajudam a equipe a trabalhar unida” (QUINN et al., 2012, p. 87). Assim, é importante que cada membro da equipe esteja claramente cons- ciente a respeito de quais são suas funções de modo a evitar conflitos e am- biguidades. Conflito de funções decorre quando o empregado recebe infor- mações confusas e contraditórias acerca das tarefas delegadas a ele. Por outro lado, ambiguidade de funções decorre quando o indivíduo não detém informa- ções necessárias a respeito do que deve fazer e de quais são as condutas e as ati- tudes esperadas. Desse modo, deve haver esforços sistemáticos para esclarecer as funções de cada membro da equipe de modo a amenizar estas vicissitudes (QUINN et al., 2012). Ainda no quesito composição, é importante distinguir as funções que cada membro da equipe exerce no processo de trabalho. Parker (2008 apud QUINN et al. 2012) classifica-as da seguinte forma: função de comunicador, função de contribuidor, função de colaborador e função de desafiador. Em geral, os em- pregados exercem com bastante fluidez uma ou duas destas funções, descritas a seguir, conforme o modelo de Parker. • Função de comunicador: é aquele que agrega as pessoas, voltado para as relações humanas, escuta com empatia cada um dos participantes, promove feedbacks e auxilia os componentes da equipe a solucionar conflitos. • Função de contribuidor: é aquele dedicado à solução dos problemas e deliberação sobre decisões, fornece informações, dados e conhecimen- tos importantes para o grupo; o contribuidor mantém-se focado nos re- sultados e estabelece padrões de desempenho alto, além de lutar para distribuição igualitária e apropriada de tarefas. • Função de colaborador: é aquele voltado para as metas, compreende as 84 • capítulo 3 metas e as tarefas como atividades prioritárias em quaisquer interações da equipe, para tanto, propõe metas de longo prazo e se esforça para alcançá-las, auxilia seus colegas a visualizarem de que forma as tarefas imediatas estão concatenadas às metas de longo prazo. • Função de desafiador: é aquele capaz de pôr em xeque o status quo, ainda que para isto tenha de desafiar o líder da equipe, incentiva que o grupo seja mais arrojado e criativo na solução de seus problemas, são éticos e têm a expectativa de que seus colegas falem com franqueza so- bre as dificuldades do trabalho. Incentiva que os participantes do gru- po sejam inovadores, que corram riscos limitados e que se mantenham éticos. De acordo com Parker (2008 apud QUINN et al. 2012), espera-se que em “equipes diferentes pessoas assumam diferentes funções” (p. 90); no entan- to, é fundamental que ninguém desempenhe de forma exagerada uma única função, o que pode redundar em consequências negativas. A título de exemplo, participantes extremamente dedicados à função de comunicador podem lutar pela harmonia e integração do grupo, esquivando-se das tarefas ou de alterca- ções com os membros da equipe. Por outro lado, empregados que ocupam a função de contribuidor, em geral, obstinam-se nos dados e informações técni- cas e podem perder de vista as metas da equipe ou defenderem níveis de pro- dutividade irreais. Cabe ao gestor trabalhar para que as condutas relacionadas a cada uma das funções descritas sejam valorizadas, mas desempenhadas com parcimônia, sem exageros. coNEXÃo Para refletir a respeito da relação entre mudança organizacional e trabalho em equipe, leia o artigo “Estrutura organizacional e equipes de trabalho: estudo da mudança organizacional em quatro grandes empresas industriais”. Acesse o link: <http://www.scielo.br/pdf/gp/v7n2/ a04v7n2>. 3.6.2 Fases de desenvolvimento da equipe Quando um novo grupo de trabalho é composto, seus participantes preci- sam ser treinados, assim como o grupo deve ser organizado e estruturado para capítulo 3 • 85 alcançar o funcionamento de uma equipe de alto desempenho. A título de exemplo, se os componentes da equipe não conhecem uns aos outros, é funda- mental que conversem a respeito das competências e habilidades dispostas por cada um, quais seus interesses e modos de realizar as tarefas. De forma geral, o desenvolvimento de uma equipe passa por quatro etapas: formação, ideali- zação, normatização e execução, isto não significaque o desenvolvimento de todas siga estas fases de modo linear (QUINN et al. 2012). O quadro a seguir sintetiza cada uma das referidas fases. FasE caracTErísTicas Formação Os objetivos e as tarefas da equipe são estipulados. Os participantes do grupo se questionam qual o propósito da equipe e como podem auxiliar. Idealização Em geral ocorrem conflitos, pois os participantes da equipe têm maior conhecimento a respeito das tarefas. Caso a equipe tenha sido constituída para debater diferentes tipos de conhecimento ou experiências, pode haver dissensões a respeito do modo como cada mem- bro da equipe almeja realizar suas tarefas. Normatização São formuladas as normas básicas de convivência e trabalho, desenvolve-se coesão entre os membros da equipe, o que não significa anular os diferentes conheci- mentos e as distintas experiências dos participantes. Execução Há um consenso geral com relação às metas da equipe e a respeito do modo como as tarefas devem ser feitas para satisfazê-las. Quadro 3.6 – Fases de desenvolvimento da equipe - Quinn et al., 2012. Adaptado. De acordo com Quinn et al. (2012), ao analisar as fases de desenvolvimento da equipe, é importante lembrar que o líder deve concomitantemente liderar seus participantes e dar a eles oportunidade para comandar, orientar e ouvir 86 • capítulo 3 as colaborações de seus colegas. Por outro lado, é importante que o líder tenha condição de analisar diferenças no desempenho dos membros da equipe para recompensá-los quando preciso. aTiVidadE 1. Explique o que é mudança organizacional e quais os fatores externos que a influenciam 2. Descreva estratégias para minimizar a resistência à mudança. 3. Apresente os seguintes modelos para gerenciar a mudança: Lewin, Bridges e Kotter. rEFLEXÃo As mudanças organizacionais são uma oportunidade para organização efetivar importantes modificações em seus processos e procedimentos. Embora temida, quando bem gerenciada e organizada, a mudança pode instilar novas visões na empresa e incrementar seus ganhos em produtividade e motivação. Acima de tudo, lembre-se de que não basta pensar sobre os problemas que exigem da organização mudanças, é preciso organizá-los e garantir adesão de todos os envolvidos para que, de fato, a empresa possa colocar em prática suas realiza- ções futuras. LEiTura rEcomENdada Livro: Mudança organizacional: uma abordagem criativa, moderna e inovadora. De Eric Abrahamson. Makron Books, 2006. Nesse livro, o autor delineia uma nova abordagem para a mudança – recombinação criativa – que contrasta fortemente com a abordagem de “destruição criativa” defendida pelos campe- ões das mudanças nas organizações nas últimas duas décadas. Em vez de forçar mudanças radicais extensas, esta abordagem sugere mudanças em pequena escala, passo a passo, que podem ser conduzidas de forma mais barata e rápida – e com muito menos perdas e danos. “Mudança organizacional” apresenta uma gama de ferramentas práticas e técnicas para identificar e reutilizar cinco elementos organizacionais chave. O livro orienta gerentes sobre como determinar quando e com que frequência iniciar uma mudança para garantir a maior capítulo 3 • 87 chance de sucesso a longo prazo e mostra que o caminho para promover uma mudança, seja ela grande, média ou pequena, não é destruir e repor através de redução de pessoal, reengenharia de processos, reestruturação, reaculturação de toda a força de trabalho ou substituição de redes sociais por redes de computador. Antes de tudo, um trabalho amplo e minucioso de pesquisa empírica suporta nossa intuição de que, em muitas situações, tais mudanças altamente destrutivas, desestabilizadoras e dolorosas podem machucar mais do que ajudar. Com base em uma década de pesquisas – e ilustrado com exemplos baseados no extenso trabalho de consultoria do autor em empresas submetidas a mudanças em diferentes indús- trias como DTT, GKN e Sony – o autor argumenta que é preciso contrabalançar o fatalismo do “não sofre, não muda” com o ideal da “mudança sem dor”. Esse ideal deve ser o modelo para se julgar o sucesso de um líder, gerente ou funcionário em gerenciar uma mudança. Disponível em:<http://www.administradores.com.br/shopping/livros/mudanca-organizacio- nal-uma-abordagem-criativa-moderna-e-inovadora/261/>. Adaptado. rEFErÊNcias BiBLioGrÁFicas BALDWIN; T.; RUBIN; R.; BOMMER, W. Desenvolvimento de habilidades gerenciais. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2008. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. QUINN, R. E. et al. Competências gerenciais: a abordagem de valores concorrentes na gestão. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. No PrÓXimo caPíTuLo Adiante, você estudará o que é aprendizagem organizacional e como as variáveis individuais afetam o desempenho dos empregados. Aprendizagem organizacional, variáveis individuais e desempenho 4 90 • capítulo 4 4 Aprendizagem organizacional, variáveis individuais e desempenho No cotidiano organizacional, os profissionais não apenas reproduzem co- nhecimentos e habilidades, como também, quando estimulados, produzem novos conhecimentos, procedimentos e recursos que podem ser úteis à organi- zação. Neste capítulo, você estudará o processo de aprendizagem organizacio- nal e de que forma a Teoria da Aprendizagem Social, de Albert Bandura, pode ser útil para explicar estes processos. oBJETiVos • Apreender o conceito de aprendizagem organizacional; • Compreender os níveis de aprendizagem organizacional; • Refletir sobre como as variáveis individuais alteram o desempenho do empregado; • Compreender o conceito de estresse. rEFLEXÃo Em alguma situação de trabalho, sem dúvida, você passou por algum treinamento ou por alguma situação em que deveria aprender uma nova habilidade ou incorporar um novo co- nhecimento. Aliás, ao longo deste livro, estamos abordando uma série de competências e ha- bilidades que devem ser apreendidas pelo gerente com vistas à eficácia da gestão. Portanto, aproveite este capítulo para refletir sobre seu processo de aquisição do conhecimento; para isso, você estudará o que é aprendizagem e como este conceito pode ser aplicado no âmbito das organizações. 4.1 Aprendizagem organizacional Para garantir a competitividade no mercado, as organizações devem “aprender a aprender”, renovando-se em função das mudanças tecnológicas, do comportamento do consumidor e do surgimento de novos produtos e servi- ços (FLEURY; FLEURY, 2004). capítulo 4 • 91 Essas organizações desenvolvem a capacidade de adaptação às taxas acele- radas de mudança, transformando o processo de aprendizagem organizacional em uma estratégia criativa e produtiva de construir o futuro desejado pela em- presa (SENGE, 1990). 4.1.1 Níveis de aprendizagem A aprendizagem organizacional pode ocorrer em três níveis na organização (NONAKA; TAKEUCHI, 1995): • Nível do indivíduo: através de seus esforços pessoais para validar sua crença e compromissos com o cargo e a empresa, o processo de apren- dizagem é carregado de emoções positivas ou negativas, ocorrendo por meio de caminhos diversos, destacando-se os conhecimentso tácito e explícito. O conhecimento tácito está ligado à experiência e ao arcabou- ço de conhecimentos do próprio indivíduo, que foi acumulado e inter- nalizado ao longo de sua vida. O conhecimento explícito refere-se a to- das as maneiras formais e racionais de aprender; • Nível do grupo: aprendizagem é um processo social e coletivo e, para compreendê-lo, é preciso observar como o grupo aprende, como combi- na os conhecimentos e as crenças individuais, integrando-as em esque- mas coletivos partilhados; • Nível da organização: o processo de aprendizagem individual, de com- preensão e interpretação partilhados pelo grupo torna-se institucio- nalizado e expresso por meio dos diversos elementos que constroem a memória organizacional, destacando-se a cultura, a estrutura,as regras e normas de conduta, os procedimentos e manuais operacionais, os ar- tefatos e os elementos simbólicos. A aprendizagem em nível de grupo é diferente de aprendizagens individuais combinadas, porque não é uma agregação de aprendizagens individuais. Ela requer alguns processos de partilha e interação (FLEURY; FLEURY, 2004). Os grupos aumentam sua troca de conhecimen- tos baseados em suas percepções de ameaças comuns à sobrevivência. Todavia, isso não leva necessariamente às mesmas soluções, pois nem todos os grupos estão conectados da mesma maneira dentro da rede organizacional. 92 • capítulo 4 Na aprendizagem em nível organizacional, o resultado também deve ser visto como maior do que a totalidade das aprendizagens individuais, ou seja, ele supera a lógica matemática, gerando sinergia. Neste nível de aprendizagem, as organizações desenvolvem memórias que retêm e recuperam informações (FLEURY; FLEURY, 2004). Na verdade, os níveis de aprendizagem são interati- vos e interdependentes, formando um ciclo de aprendizagem, que começa com indivíduos percebendo eventos de significado potencial para a organização, que depois buscam dar significado àqueles eventos por meio de um sistema interpretativo e, finalmente, reagem formando ou modificando suas crenças sobre o mundo e a situação da organização no mundo. Assim, a aprendizagem resulta em uma mudança no conhecimento, nas crenças sobre relacionamen- tos causais no mundo e na organização (FLEURY; FLEURY, 2004). Depois, pela interação com os grupos, os indivíduos partilham o conheci- mento. O ciclo de aprendizagem de grupo consiste na aprendizagem de tarefas, de novos tipos de capacidades, e de desenvolvimento de rotinas. A interação grupo/organização representa o processo pelo qual grupos interagem, comu- nicam seus novos conhecimentos a outros grupos, adquirem outros recursos para colocar seu conhecimento em ação e converter o conhecimento de gru- po em organizacional (FLEURY; FLEURY, 2004). No nível do ciclo de aprendi- zagem organizacional, a aprendizagem individual e de grupo é integrada aos objetivos estratégicos e embutida nos sistemas. A interação dos grupos com a capítulo 4 • 93 organização afeta a própria aprendizagem tanto individual quanto organizacio- nal (FLEURY; FLEURY, 2004). Com a finalidade de aprofundar o conceito de aprendizagem, a seguir, apre- sentamos a Teoria do Aprendizado Social ou Teoria Social Cognitiva, do psicó- logo Albert Bandura. 4.2 A teoria do aprendizado social Um dos expoentes da Teoria Social Cognitiva é Albert Bandura, nascido em 1925, no Canadá, professor da Universidade de Stanford (EUA). Já nos anos ini- ciais de sua carreira, este pesquisador discordava de alguns pressupostos do Behaviorismo de Skinner. A fim de comprovar suas críticas, passou a desenvol- ver experimentos, junto com seus alunos, com o propósito de evidenciar o papel de mecanismos cognitivos na aprendizagem que para ele não poderia ser expli- cada apenas pelo reforçamento. Para Álvaro e Garrido (2006), a teoria de Bandu- ra defende que “a pessoa não responde de maneira mecânica aos estímulos do ambiente, nem a mente humana é um simples sistema computacional, onde o processamento automático da informação (input) gera determinado resultado (output), sem que aparentemente intervenha a consciência” (p. 262). Segundo Bandura (2008a), a teoria da aprendizagem social1 propõe que o comportamento é fruto do determinismo recíproco, isto é, da probabilidade de associação entre eventos cognitivos, ambientais e comportamentais afeta- rem-se mutuamente em graus variados. Assim, comportamento, cognição e ambiente constituem fatores que influenciam os contextos humanos. Os indi- víduos reagem aos estímulos externos com base em “processos cognitivos in- termediários”. Para Bandura (2008a): [...] o comportamento e as condições ambientais funcionam como determinantes que interagem de forma recíproca. Os fatores pessoais internos (por exemplo, concepções, cren- ças, percepções pessoais) e o comportamento também agem como determinantes recíprocos uns dos outros. Por exem- plo, as expectativas de eficácia e de resultados das pessoas influenciam a maneira como elas agem, e os efeitos ambien- tais criados por suas ações, por sua vez, alteram suas expec- tativas (p. 46). 94 • capítulo 4 O diagrama a seguir ilustra a tese do determinismo recíproco. Figura 1 – Representação dos fatores atuantes no modelo do determinismo recíproco de acordo com Bandura - Bandura, 2008a, p. 45. Adaptado. Conforme você pode notar, o esquema da figura evidencia que a interação entre o indivíduo e o meio externo (ambiente) é mediada por aspectos cogniti- vos (mente). Há uma influência mútua entre os elementos dispostos: compor- tamento, cognição, ambiente, visto que todos são importantes na determina- ção das ações humanas. Para Bandura (2008a), os aspectos cognitivos indicam quais elementos do ambiente serão observados e de que modo serão percebidos. Por exemplo, quando você navega na Internet, há uma variedade de páginas que você pode acessar conforme o tema (notícias, redes sociais, fofocas sobre celebridades, esportes, lazer, cultura, conhecimento geral etc.); no entanto, dependendo de seu interesse e motivação, você entrará em alguns sites e não em outros. Pode ser que durante a semana você acesse frequentemente a conta do e-mail insti- tucional da organização em que trabalha, por outro lado, aos sábados e domin- gos, é mais provável que você navegue em páginas dedicadas ao lazer e evite acessar sua conta de mensagens ou sistemas relacionados ao trabalho. Note, portanto, que o comportamento de navegar na Internet é determinado por fato- res cognitivos; no caso, o interesse e motivação, conforme sua rotina semanal. Bandura (2008a) propõe que “a influência relativa que esses três conjuntos de fatores [comportamentais, cognitivos e ambientais] interconectados exer- cem varia em diferentes indivíduos e sob diferentes circunstâncias” (p. 46). Em algumas situações, os eventos do ambiente apresentam restrições tão fortes ao comportamento que passam a ser seu principal determinante. Por exemplo, capítulo 4 • 95 quando um grupo de pessoas sofre um acidente e fica à deriva no mar, inde- pendentemente da diversidade de seus componentes cognitivos e de suas ex- periências passadas, elas passarão a nadar desesperadamente. Nesse caso, o ambiente, um dos três elementos que afeta os indivíduos, terá papel preponde- rante. Já em outras ocasiões, fatores do ambiente, comportamentais e cogniti- vos desempenham grau de influência semelhante. No caso do comportamento de assistir à televisão, o gosto (aspecto cognitivo) determina quais programas serão vistos, embora haja vários canais disponíveis, o ambiente de cada pessoa modificar-se-á conforme o escolhido. Quem assiste a um programa de culiná- ria tem sensações e pensamentos relativamente diferentes daquele que assiste a um filme de terror. Nesse exemplo, os três referidos componentes afetam--se de modo integrado (BANDURA, 2008a). Note, portanto, que os fatores ambien- tais, cognitivos e comportamentais são responsáveis de modo recíproco pelas ações humanas; no entanto, o grau de influência de cada um varia conforme a circunstância. Álvaro e Garrido (2006) afirmam que, segundo Bandura, a capacidade de ação dos humanos provém cinco fatores básicos, a saber: (a) intencionalidade/ capacidade simbólica, por meio da qual se pode “dar sentido, forma e contigui- dade à experiência” (p. 262); (b) capacidade vicária, que possibilita a aprendiza- gem a partir da observação do comportamento do outro; (c) capacidade de pre- visão, “que guia e motiva antecipadamente as ações e forma expectativas sobre as consequências da ação” (p. 263); (d) capacidade autorreguladora, mediante a qual se pode ter controle de pensamentos, sentimentos, motivações; (e) capa- cidade autorreflexiva, que possibilitaque se tenha consciência da experiência vivida e do pensamento. Conforme você notará, cada uma dessas capacidades desempenha de modo integrado papel fundamental na mediação comportamento/ambiente. A se- guir, vamos discutir cada uma delas. 4.2.1 Intencionalidade/capacidade simbólica Os seres humanos agem sobre o mundo de modo intencional, ou seja, seus atos são dotados de sentido e intenção (BANDURA, 2008b). Segundo esse autor, “uma intenção é uma representação de um curso de ação futuro a ser seguido. Ela não é uma simples expectativa ou previsão de ações futuras, mas um com- promisso proativo com sua realização” 96 • capítulo 4 (p. 74). É preciso, portanto, diferençar ação de intenção, pois se trata de episódios separados no tempo, sendo que a última é dotada de componentes automotivadores que influenciam a possibilidade de que a primeira ocorra fu- turamente. Dessa forma, segundo Bandura (2008b), os atos humanos detêm propósi- tos, uma vez que “as intenções envolvem planos de ação” (p. 74). Grande par- te dos atos humanos estão relacionados a outras pessoas como participantes de atividades conjuntas que “exigem o comprometimento com uma intenção compartilhada e a coordenação de planos de ação interdependentes” (p. 75), o que caracteriza atuações cooperativas em que é necessário unir interesses pes- soais aos objetivos de natureza coletiva. O conceito de representação relaciona-se ao conceito símbolo, pois, para que um objeto seja representado na mente, na forma de uma ideia, é preciso que a palavra o nomeie, ou seja, atribua um significado a ele. Os objetos concretos (livro, cadeira, mesa) ou abstratos (ideia de amor, amizade, ódio, paixão) são representados em nossa mente, a partir de nossa capacidade de conhecer (pensamento), que é um dos componentes da cognição (ARANHA; MARTINS, 1998). De acordo com Aranha e Martins (1998), “os nomes, ou as pa- lavras, [...] fixam na memória, enquanto ideia, aquilo que já não está ao alcance dos sentidos, criando um mundo estável de representações que nos permitem falar do passado e fazer projetos para o futuro” (p. 56). Para Bandura, os indivíduos são capazes de simbolizar, o que lhes permi- te compreender o significado de seu ambiente, solucionar problemas, comu- nicar-se. Assim, “os símbolos são os veículos do pensamento, e simbolizando suas experiências, as pessoas podem proporcionar estrutura, significado e continuidade para suas vidas” (PAJARES; OLAZ, 2008, p. 100). Logo, por meio da intenção, os sujeitos podem compor planos que influem em suas ações. A intencionalidade, a capacidade humana de dar significado às coisas, se dá a partir do uso de símbolos, códigos compartilhados que são interpretados pelo sujeito e formados no contexto sociocultural (ambiente). capítulo 4 • 97 4.2.2 Capacidade vicária A partir de experimentos realizados durante a década de 1960, Bandura apresentou dados que se contrapunham à ideia de que a aprendizagem ocor- re apenas pelo reforçamento de respostas em tentativas de ensaio e erro, tal qual propunha o Behaviorismo (COSTA, 2008). Isto é, para esta abordagem o indivíduo, ao longo do processo de aprendizagem, emitiria determinados com- portamentos, sendo que aqueles considerados “corretos” seriam reforçados, ao contrário dos incorretos. Conforme você estudou no capítulo anterior deste livro, o reforço positivo tem como consequência o aumento na frequência de determinada classe de resposta, certo? Logo, para os comportamentalistas a aprendizagem não poderia ser explicada com base em fatores cognitivos (men- tais), mas apenas pelos princípios do comportamento operante ou dos reflexos condicionados. Esta ideia contrariava Bandura, pois não leva em consideração a capacidade humana de aprender por imitação ou por modelos. Por exemplo, caso você queira aprender a costurar, é bem provável que o fato de ver alguém remendando uma roupa lhe permita ter uma vaga ideia de como se deve se- gurar uma agulha ou passar a linha nela. Logo, em determinada ocasião, você poderá tentar costurar com base na imitação ou no modelo que registrou em sua memória de alguém costurando. Segundo Bandura, a aprendizagem vicária2 diz respeito ao processo em que “novas respostas são adquiridas ou respostas já existentes são modificadas em decorrência da observação do comportamento de outras e de suas consequên- cias reforçadoras, sem que haja desempenho aberto do observador durante o período de exposição ao modelo” (COSTA, 2008, p. 134). Na aprendizagem vicariante, a capacidade de emitir respostas ou de imitá-las com base em um modelo é fruto da semelhança na estimulação e de processos cognitivos. Isto é, o aprendiz, ao observar um modelo em deter- minada situação, é capaz de aprender quando se encontra diante de estímulos parecidos com aqueles que constavam na ocasião de aprendizagem. Como isto ocorre? Grosso modo, o indivíduo detém a capacidade de simbolizar os estí- mulos presentes na ocasião de aprendizagem de modo a aplicar estes símbolos em situações de estimulação semelhante (COSTA, 2008). Repare novamente na importância que o teórico atribui à intencionalidade e aos recursos simbólicos presentes nas ações humanas que, desta forma, são dotadas de propósitos e sentido (significação). 98 • capítulo 4 Para Gazzaniga e Heatherton (2005), Bandura comprovou a aprendizagem vicária a partir de um experimento em que crianças assistiam a um vídeo no qual um adulto-modelo brincava de modo agressivo com um João-bobo. O filme era composto de três finais diferentes: (1) o modelo não recebia nenhuma con- sequência após o espancamento do boneco, (2) o modelo era elogiado e recebia doces, (3) o modelo era espancado e advertido verbalmente. As crianças foram divididas em três grupos conforme o final do vídeo a que assistiam, sendo leva- das a uma sala em que também havia um João-bobo. Aquelas que observaram o adulto sendo elogiado emitiram maior taxa de comportamentos agressivos em relação ao boneco do que as outras. Estas crianças não aprenderam a agredir o João-bobo? Muito pelo contrário, em outra situação, receberam presentes para imitar o comportamento de espancar o boneco, e todas conseguiram fazê-lo. De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2005), “é importante distinguir entre a aquisição de um comportamento e seu desempenho. Todas as crianças apren- deram o comportamento, mas apenas as que viram o modelo ser recompensa- do executaram o comportamento” (p. 201-202, grifos dos autores). coNEXÃo Você pode assistir a imagens do vídeo do experimento realizado por Bandura e seus alunos com crianças e o boneco João-bobo, ao clicar no seguinte link:< http://www.youtube.com/ watch?v=Ah-BVy-LdCg>. 4.2.3 Capacidade de previsão Para Bandura (2008b), o modo como o indivíduo se projeta no tempo ba- seia-se em planejamentos futuros e manifesta-se de diversas formas. Os indiví- duos propõem objetivos a si mesmos, estabelecem as prováveis consequências de suas ações, planejam-nas de modo a obterem êxito e a evitarem o fracasso. Por exemplo, quando vamos nos preparar para um concurso, estudamos bas- tante a fim de que sejamos aprovados. Para isso, organizamos uma agenda de estudos e de aulas. Além disto, prevemos que, caso consigamos resultado posi- tivo na prova, teremos melhorias materiais, dentre outras, em nossas vidas. Nas palavras de Bandura (2008b): Pelo exercício do pensamento antecipatório, as pessoas se motivam e guiam capítulo 4 • 99 suas ações em antecipação aos eventos futuros. Quando projetada para um pe- ríodo de tempo prolongado com relação a questões importantes, uma perspec- tiva antecipatória proporciona direção, coerência e significação para a vida do indivíduo. À medida que as pessoas avançam em suas vidas, elas continuam a planejar para o futuro, reorganizar suas prioridades e estruturar suas vidas (p. 75). Os acontecimentos futuros antecipam-se na mente, “são representadoscognitivamente no presente” (p. 75), pois são previstos e transformados em fatores motivadores e que influenciam o comportamento atual. Os indivíduos apresentam a capacidade de se auto-orientar já que preveem as consequências de seus atos, o que passa a motivar e a direcionar seu comportamento. No en- tanto, as ações humanas não são apenas resultado da antecipação de conse- quências reforçadoras ou punitivas externas, pois além da auto-orientação, as pessoas detêm a capacidade de dirigir seus comportamentos com base em au- toavaliações, como veremos nos itens a seguir (BANDURA, 2008b). 4.2.4 Capacidade autorreguladora Os sujeitos regulam o padrão de seus comportamentos em função de con- dições ambientais e cognitivas (BANDURA, 2008b). Segundo o modelo do “de- terminismo recíproco”, nossas ações são afetadas pelo ambiente e por nossas capacidades cognitivas. Esta ideia está sendo explicada em detalhes a fim de que você compreenda como a regulação comportamento / ambiente / cognição ocorre. Conforme Bandura (2008b), os sujeitos não apenas planejam e antecipam suas ações. Após estabelecerem um plano, eles devem se empenhar em esfor- ços e comportamentos adequados que os levem às metas propostas. Para isso, são necessários processos de autorregulação do pensamento à ação. De acor- do com Polydoro e Azzi (2008), este conceito refere-se ao “mecanismo interno consciente e voluntário de controle, que governa o comportamento, os pen- samentos e os sentimentos pessoais tendo como referência metas e padrões pessoais de conduta a partir dos quais se esta belece consequência para ele” (p. 151). Para as autoras, os procedimentos de autorregulação se fazem presen- tes ao longo de toda a vida dos indivíduos e possibilitam que esses avaliem sua conduta regularmente. Segundo Pajares e Olaz (2008), as pessoas detêm fun- ções autorreguladoras que possibilitam a modificação de seu próprio compor- 100 • capítulo 4 tamento. O modo como cada sujeito regula suas ações depende da capacidade de se auto-observar e de se automonitorar, a partir da condição de avaliar suas condutas e escolhas. 4.2.5 Capacidade autorreflexiva Além de mecanismos que permitem monitorar suas ações, conforme expos- to anteriormente, os indivíduos são dotados da capacidade autorreflexiva, ou seja, examinam seu próprio funcionamento. Segundo Bandura (2008b), “pela autoconsciência reflexiva as pessoas avaliam suas motivações e valores, bem como o significado das buscas de suas vidas. É nesse nível superior de autor- reflexão que os indivíduos abordam conflitos entre incentivos motivacionais e decidem agir em favor de um ou de outro” (p. 78). Ainda segundo esse autor, com base no referido recurso cognitivo, pode-se avaliar a adequação entre o pensamento prospectivo (que prevê as consequências) com os efeitos dos pró- prios atos (resultados já existentes). Para Bandura (2008b), dentre os recursos reflexivos, as crenças pessoais ocupam papel central, pois possibilitam “comparar” aspectos pessoais (cogni- tivos) com elementos do ambiente. Para que os indivíduos empenhem-se em seus objetivos, é preciso que acreditem ter condições de alcançar os resultados esperados e, assim, se precaver dos insucessos, o que lhes permite superar as dificuldades existentes. Por exemplo, para que você se esforce a estudar deter- minada disciplina do curso de Serviço Social, é necessário ter certa convicção (crença) de que isto lhe propiciará ser aprovado no módulo e, futuramente, ob- ter o diploma que lhe confere direito de exercer a profissão de assistente social. Segundo Bandura (2008b), ainda que haja outros aspectos que possam servir como motivadores, os sujeitos devem ter a crença básica de que são capazes de perseguir e alcançar seus objetivos, isto é, de que têm “poder para produzir efeitos por meio das próprias ações” (p. 78); a esse fenômeno dá-se o nome de autoeficácia. De acordo com Pajares e Olaz (2008): Essencialmente, as crenças de autoeficácia são percepções que os indivídu- os têm sobre suas próprias capacidades. Essas crenças de competência pessoal proporcionam a base para a motivação humana, o bem-estar e as realizações pessoais. Isso porque, a menos que acreditem que suas ações possam produzir os resultados que desejam, as pessoas terão pouco incentivo para agir ou perse- verar perante as dificuldades (p. 101). capítulo 4 • 101 De acordo com Álvaro e Garrido (2006), as crenças do indivíduo a respeito de sua eficácia provêm de sua história pessoal conforme os êxitos e fracassos que obteve em determinada atividade, visto que o sucesso contribui para a sensação de confiança em si mesmo, ao contrário do fracasso. Além disso, a capacidade vicária é também fonte de autoeficácia, dada a possibilidade de aprender por modelos sociais (imitação). Quando o indivíduo verifica que alguém conseguiu realizar algo que ele também almeja, sua força de autoeficácia é fortalecida des- de que o modelo tenha características semelhantes às dele. Em síntese, a Teoria Social Cognitiva propõe que as ações humanas resul- tam da integração do comportamento com os aspectos cognitivos (pessoais) e do ambiente (meio). Os três fatores determinam-se e influenciam os atos hu- manos em cada situação. Dada sua capacidade simbólica/intencional, os in- divíduos não apenas planejam seus objetivos, como também avaliam as con- dições atuais de seu meio (características do lugar que estão), e suas chances de sucesso ou fracasso em realizar algo. Para isso, contribuem as crenças de autoeficácia, a capacidade de acreditar nos recursos que se têm. 4.2.6 Autoeficácia e desempenho individual Conforme estudado, autoeficácia refere-se a quanto a pessoa acredita ser capaz de agir de acordo com os resultados que deseja obter com êxito. A au- toeficácia positiva é a convicção de que alguém está apto a ter sucesso em um comportamento, e a autoeficácia negativa pode levar o indivíduo a ser mais pro- penso a sequer tentar manifestar um comportamento (FRIEDMAN; SCHUSTA- CK 2004). Pessoas com baixa autoeficácia acreditam que são menos capazes de con- seguir resultados, podem ser mais dependentes de estímulos externos – no caso, ações consideradas “motivadoras” por parte de colegas e gerência. De- pendem mais da aprovação de colegas e supervisores. Podem ser indivíduos cronicamente insatisfeitos com seus trabalhos – muito embora sejam menos propensos a deixá-los (ROBBINS, 2009). Pessoas com alta autoeficácia tendem a acreditar que são mais competentes para atingir objetivos. São menos depen- dentes de estímulos, pois sua motivação é interna – ou seja, são indivíduos que acreditam que podem e tendem a não ter medo de mudar ou tomar decisões arriscadas. Normalmente, pessoas com este perfil apresentam avaliações de 102 • capítulo 4 desempenho mais positivas em seu trabalho. Pessoas com este perfil tendem a sair mais de seus empregos, uma vez que, quando insatisfeitas, tendem a aban- donar seus empregos em busca de algo que seja mais recompensador. A autoeficácia determina se tentaremos agir de alguma forma, quanto tem- po persistiremos diante das dificuldades e fracassos e como o sucesso ou fra- casso afetará nosso comportamento futuro. A autoeficácia provêm de quatro fontes de informação (FRIEDMAN; SCHUSTACK 2004): • Sucessos e fracassos anteriores: nossas experiências ao tentar emitir um comportamento, considerando-se sucessos e fracassos anteriores em situações análogas. • Experiências vicariantes: termos presenciado outras pessoas emitindo este comportamento. • Persuasão verbal: exercida por outras pessoas, convencendo- -nos ou de- sestimulando a agir de uma determinada forma. • Reações emocionais: como nos sentimos em relação ao comportamento. Dessas quatro fontes de informações, a mais poderosa, segundo Friedman e Schustack (2004), é a informação obtida por sucessos e fracassos anteriores, seguida da experiência vicariante,depois, seguida da persuasão verbal e, ape- nas por último, de nossas reações emocionais. A autoeficácia é determinada situacionalmente. Como o gestor deve lidar, então, com estes dois perfis de funcionários (alta autoeficácia e baixa autoeficácia)? E qual deles é o mais propenso a ser “mo- tivável”? Independentemente do perfil do funcionário, o gestor deve criar um ambiente a ações propícias ao desenvolvimento de talentos e habilidades de seus funcionários. Foi constatado por Bandura (1997) que, uma vez instruídos e treinados, mesmo indivíduos com baixa autoeficácia tendem a apresentar re- sultados positivos. Um experimento clássico foi realizado por Bandura (1997), que comprova que pessoas de diferentes perfis podem se tornar mais autoefica- zes dependendo do estímulo e da situação. Veja o exemplo a seguir: Exemplo – Como estimular a autoeficácia de funcionários Em estudo realizado por Bandura (1997); foi pedido a alguns graduados em adminis- tração de empresas que descobrissem e aplicassem regras gerenciais em uma organi- zação fictícia. A alguns dos participantes foi dito que as habilidades necessárias capítulo 4 • 103 eram inatas (se você não as tiver, não conseguirá ter êxito). Esses participantes dimi- nuíram suas metas e não tiveram um bom desempenho. Aos outros participantes, foi dito que as habilidades necessárias poderiam ser adquiridas com treinamento. Esses administradores estabeleceram metas desafiadoras e desenvolveram estratégias organizacionais bem-sucedidas. Um alto nível de autoeficácia influencia diversos fatores importantes para o bom desempenho de tarefas: • Ação: a ação de uma pessoa com autoeficácia elevada tende a ser mais rápida e decidida. Pessoas com menores níveis de autoeficácia demo- ram mais tempo para tomar a decisão de agir. • Esforço: uma pessoa que se acredita capaz dispende maiores esforços na obtenção de uma meta. Isso porque se acredita capaz de consegui-la. Quem possui menor nível de autoeficácia tende a esmorecer ante aos esforços despendidos. • Tempo de persistência: por se considerar capaz, a pessoa tende a ter maiores esforços em um tempo maior. Pessoas com menor crença em sua auto eficácia tendem a desistir mais rapidamente dos objetivos. • Estresse vivenciado: pessoas com maior autoeficácia toleram maiores níveis de estresse, por se acreditarem capazes de superar o elemento estressor (seja ele um prazo ou uma meta de vendas). Pessoas com baixa crença na sua eficácia possuem menor tolerância ao estresse. Cabe observar que pessoas com maiores níveis de autoeficácia percebida tendem a ter maiores sucessos. O gestor pode influenciar estes sucessos de seus funcionários por meio de algumas ações, como: (a) Estabelecimento de modelos: o gestor deve apresentar modelos de desempenho positivos (nem fá- ceis demais nem aparentemente impossíveis) aos funcionários. Quando o ob- jetivo é condizente com as crenças de autoeficácia, ela tende a ser maior – o indivíduo acredita ser plenamente capaz de conseguir uma meta; (b) Persuasão verbal: a persuasão verbal do líder e do grupo de trabalho influencia o trabalha- dor a julgar sua autoeficácia de forma positiva ou de forma negativa. 104 • capítulo 4 4.3 Modelos de aprendizagem Conhecida a Teoria da Aprendizagem Social, é importante que você reflita sobre modelos de aprendizagem organizacional. A maior parte deles destaca a existência de dois componentes importantes: os insights e a memória organi- zacional. Os insights são os conhecimentos e modelos mentais compartilha- dos e que os decisores devem aprender juntos para não bloquear a mudança. A memória organizacional depende dos mecanismos institucionais para reter o conhecimento, destacando-se entre estes, a cultura organizacional. Um dos modelos mais difundidos mundialmente foi criado por Senge (1990) em seu livro A quinta disciplina. Esse modelo defende a ideia de que a aprendizagem organizacional pode ser implantada por meio de um processo sistematizado em cinco etapas: • Domínio pessoal: trata do aprendizado individual, da capacidade de cada indivíduo enxergar a realidade atual e ter claro seu objetivo pes- soal; • Modelos mentais: visões de mundo que influenciam as atitudes das pessoas; • Objetivo comum: os objetivos pessoais devem ser transformados em objetivos comuns a toda organização; • Aprendizagem em grupo: é o processo de alinhamento e desenvolvi- mento da capacidade de um grupo criar os resultados que seus mem- bros realmente desejam; • Raciocínio sistêmico: conjunto de conhecimentos e instrumentos que têm por objetivos tornar mais claro todo o conjunto e mostrar as modi- ficações a serem feitas a fim de melhorá-lo. coNEXÃo Peter Senge, autor do livro A Quinta Disciplina, é um dos principais e mais respeitados estu- diosos do mundo corporativo. Seus pensamentos lúcidos e inovadores são respeitadíssimos por gerentes de todo o mundo. Entenda um pouco mais suas ideias. Acesse o link:<http:// blogmkmconsulting.wordpress.com/2008/10/12/entrevista-10-perguntas-para-peter-sen- ge-autor-de-a-quinta-disciplina/> e leia uma genial entrevista concedida pelo autor. capítulo 4 • 105 4.4 Variáveis individuais e desempenho organizacional O estudo das variáveis individuais dá condições para o gestor diferenciar as pessoas com as quais lida em seu dia a dia, de forma que elas sejam aproveita- das do melhor modo possível pela organização, em função de suas caracterís- ticas e competências; potencializando o uso de seus conhecimentos, habilida- des e atitudes em atividades que agreguem valor à empresa e, ao mesmo tempo, façam com que elas sintam-se satisfeitas no trabalho (RIBEIRO, 2006). A seguir, você estudará o conceito de aptidão e habilidade e sua influência no desempe- nho do empregado. 4.4.1 Habilidades, vigor físico e psicológico É muito comum ouvirmos uma pessoa dizer que não tem aptidão para can- tar, por exemplo, ou para desenhar. Mas, na verdade, a maioria das pessoas é capaz de fazer o que quiser, basta que se interesse em aprender e colocar em prática essa aptidão. O que impede isso de acontecer, muitas vezes, é o fato de que a pessoa não está disposta o suficiente para treinar continuamente e dedi- car-se de forma integral ao aprimoramento da aptidão até que ela se transforme em uma habilidade. Mas, afinal, o que é aptidão? A aptidão pode ser definida como o potencial para realização de tarefas ou atividades físicas, intelectuais ou interpessoais. Se este potencial é transformado em ação torna-se uma habi- lidade do indivíduo (DAFT, 2005). Segundo Robbins (2002), “as habilidades influenciam diretamente o nível de desempenho e de satisfação do funcionário, por meio da adequação entre as suas habilidades e as demandas da função” (p. 50). Dessa forma, o bom de- sempenho e a satisfação do funcionário dependem da organização selecionar as pessoas com as habilidades correspondentes às exigências do cargo que ocu- parão. Corroborando com Robbins (2002), os autores Wagner III and Hollenbe- ck (2006) afirmam: “os gerentes bem-sucedidos esforçam-se para colocar cada trabalhador na posição que aproveite melhor seus talentos próprios” (p. 34). Ou seja, a chave do sucesso é colocar as pessoas nas funções certas. O autor descreve que as habilidades em geral são construídas sobre dois grupos de fatores: (a) Habilidade intelectual: “é aquela necessária para o de- sempenho das atividades mentais”, (b) Habilidade física: “é aquela necessária para a realização de tarefas que exijam resistência, agilidade, força ou caracte- 106 • capítulo 4 rísticas semelhantes”. Wagner III e Hollenbeck (2006) denomina as habilida- des como capacidades ou aptidões e também as divide em físicas e cognitivas (intelectuais). Segundo os autores, a habilidade ou aptidão física é composta de três dimensões principais: força muscular, resistência cardiovascular e quali- dade do movimento. O quadro a seguirresume estas dimensões: 1. Força muscular • Capacidade para exercer pressão muscular contra objetos, como: puxá-los, empurrá-los, le- vantá-los, carregá-los ou baixá-los. • Exercer força muscular em investidas rápidas (energia muscular). • Exercer força muscular contínua no tempo, com resistência a fadiga (resistência muscular). 2. Resistência cardiovascular • Capacidade para manter atividade física que resulte em aumento da pulsação por um período prolongado. 3. Qualidade do movimento • Capacidade para flexionar e estender os membros do corpo para trabalhar em posições incô- modas ou contorcidas. • Capacidade de manter o corpo numa posição estável e resistir as forças que provoquem perda de estabilidade (equilíbrio). • Capacidade de movimento sequencial dos dedos, braços, pernas ou corpo para resultar em ação qualificada coordenação. Quadro 4.1 – As três dimensões da aptidão física - Hogan apud WAGNER III e HOLLENBE- CK, 2006, p. 35. Segundo Wagner III e Hollenbeck (2006, p. 36), a aptidão cognitiva é com- posta de quatro dimensões principais: compreensão verbal, habilidade quan- titativa, capacidade de raciocínio e visualização espacial. Vamos visualizar, no quadro a seguir, as quatro dimensões da capacidade cognitiva: capítulo 4 • 107 1. Compreensão verbal • A capacidade de compreender e utilizar efetivamente a linguagem escrita e falada. 2. Habilidade quantitativa • A capacidade de resolver todos os tipos de problemas com rapidez e precisão, inclusive adi- ção, subtração, multiplicação e divisão, bem como de aplicar regras matemáticas. 3. Capacidade de raciocíno • A capacidade de pensar indutiva e dedutivamente a fim de criar soluções para problemas novos. 4. Visualização espacial • A capacidade de detectar com precisão a disposição espacial dos objetos com relação ao próprio corpo. Quadro 4.2 – As quatro dimensões da capacidade cognitiva - Nunnually apud (WAGNER III e HOLLENBECK, 2006, p. 36.) Um exemplo de adequação entre as habilidades do funcionário e as exi- gências do cargo é a seleção de uma pessoa com habilidade quantitativa para desempenhar a função de contador. Só para ilustrar a importância da reflexão sobre o assunto, pensem sobre a seguinte questão: como provavelmente se- riam o desempenho e a satisfação de um indivíduo sem as habilidades físicas necessárias selecionado para trabalhar como bombeiro? Para identificar se um determinado indivíduo possui as habilidades necessárias para o exercício de sua função na empresa, existem vários testes tanto de aptidão física quanto de aptidão cognitiva que as apuram com precisão. 108 • capítulo 4 4.5 O estresse no trabalho Em um mundo em constante transformação, a palavra estresse está sendo pronunciada cada vez mais por pessoas de diferentes profissões e classes so- ciais. O senso comum nos traz um conceito de algo negativo e nocivo à qualida- de de vida do indivíduo. Mas, afinal, qual é o conceito de estresse? Wagner III e Hollenbeck (2006) definem estresse com o“um estado emocional desagradável que ocorre quando as pessoas estão inseguras de sua capacidade de enfrentar um desafio percebido em relação a um valor importante” (p. 121). Em relação ao estresse, Limongi (apud WAGNER III; HOLLENBECK, 2006) afirma: O estresse é vivido no trabalho pela capacidade de adaptação, na qual sem- pre está envolvido o equilíbrio obtido entre a exigência e a capacidade. Se o equilíbrio for atingido, obter-se-á o bem-star, se for negativo, gerará diferentes graus de incerteza, conflitos e sensação de desamparo (p. 122). O estresse nem sempre tem um impacto negativo no desempenho das pes- soas. Robbins (2002) ressalta que, “para muitas pessoas, um nível baixo ou mo- derado de estresse pode capacitá-las a realizar melhor seu trabalho, aumentan- do a intensidade de sua dedicação, sua agilidade mental e sua capacidade de reagir” (p. 558). No entanto, um alto nível de estresse ou, até mesmo um nível moderado de estresse, mas constante por muito tempo, em geral ocasiona uma queda da produtividade e também da satisfação do funcionário com o trabalho (ROBBINS, 2002). aTiVidadE 1. Explique o que é aprendizagem organizacional e quais seus níveis. 2. Explique o modelo do determinismo recíproco proposto por Bandura. 3. Comente a respeito das variáveis individuais e seus efeitos no desempenho dos indiví- duos. rEFLEXÃo Os elementos do determinismo recíproco encontram-se integrados em nossas vidas. Diaria- mente você está imerso em componentes ambientais, cognitivos e comportamentais mesmo que não tenha consciência disto. Com base neste conceito da Teoria Social Cognitiva, você pode refletir sobre as diversas situações profissionais e pessoais com as quais você se depa- capítulo 4 • 109 ra diariamente. Além disso, procure refletir como este modelo está implicado nos processos rotineiros de aprendizagem organizacional na empresa em que você trabalha. LEiTura rEcomENdada MIGUEL, L. A. P.; TEIXEIRA, M. L. M. Valores organizacionais e criação do conhecimen- to organizacional inovador. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 13, n. 1, p. 36-56, 2009. Atualmente, discute-se o papel da inovação não apenas como núcleo de vantagem compe- titiva para as organizações, mas também como elemento que contribui para os processos de aprendizagem dentro da em presa. Para saber mais a respeito, leia o artigo “Valores organi- zacionais e criação do conhecimento organizacional inovador”. rEFErÊNcias BiBLioGrÁFicas ÁLVARO. J. L.; GARRIDO, A. Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006. ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1998. BANDURA, A. O sistema do self no determinismo recíproco. 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No PrÓXimo caPíTuLo Na sequência, você estudará o que é liderança, quais suas diferenças em relação à gerência, além das principais teorias de liderança contemporâneas. capítulo 4 • 111 Liderança, gestão e teorias de liderança 5 114 • capítulo 5 5 Liderança, gestãoe teorias de liderança Neste capítulo, você estudará o conceito de liderança e de gestão. Afinal, quais as diferenças entre gerência e liderança? Todo líder é um gerente? Todo gerente é um líder? Estas são algumas perguntas rotineiras no cotidiano das organizações e no ambiente acadêmico. Após esclarecermos estes pontos, você estudará as principais teorias de liderança: teoria dos traços, teoria comporta- mental e teoria contingencial. Cada uma delas apresenta características especí- ficas e visões sistemáticas do que é liderança e de como ela é exercida. Você es- tudará ainda o conceito de liderança transacional e a relação entre liderança e poder. Sem dúvida, são temas instigantes! Após a leitura atenta deste capítulo, você estará preparado para discuti-los com maior proficiência e profundidade. oBJETiVos • Compreender e diferenciar o que é liderança e o que é gestão; • Aprender as principais características da teoria dos traços de liderança; • Aprender as principais características das teorias comportamentais de liderança; • Apreender as principais características das teorias contingenciais de liderança; • Entender o que é liderança transacional e transformacional; • Compreender a relação entre liderança e poder. rEFLEXÃo Alguma vez, em seu cotidiano de trabalho, você se deparou com afirmações do tipo: “Manoela é uma líder” ou “João, embora seja diretor da empresa, não consegue liderá-la”. Expressões desta natureza são comuns no cotidiano das organizações. Muitas vezes, os empregados, gerentes e até mesmo os líderes têm dificuldade para definir, na prática, o que é liderança e o que se deve esperar de um líder. Aproveite a leitura deste capítulo para dirimir estas dúvidas e aprender mais a respeito. capítulo 5 • 115 5.1 Introdução ao conceito de liderança De acordo com Robbins (2005), liderança e administração são expressões que costumam ser confundidas. Nas palavras deste autor: [...] Administração diz respeito ao enfrentamento da com- plexidade. A boa administração traz ordem e consistência por meio da elaboração de planos formais, do projeto de es- truturas organizacionais rígidas e da monitoração dos resul- tados em comparação com os planos. A liderança, por outro lado, diz respeito ao enfrentamento da mudança. Os líderes estabelecem direções através do desenvolvimento de uma visão do futuro; depois, engajam as pessoas comunicando- -lhes essa visão e inspirando-as a superar obstáculos (p. 258). Em termos sistemáticos, segundo Robbins (2005), liderança pode ser des- crita como a condição de influenciar uma equipe/grupo para a satisfação de seus objetivos. Esta influência pode originar-se formalmente, por exemplo, quando atribuída por um cargo no alto escalão da empresa, ou informalmente, por exemplo, a capacidade de influenciar a equipe em virtude de recursos de poder que ultrapassam a esfera formal da organização. Deve-se ressaltar que “nem todos líderes são administradores e nem todos os executivos são líderes. O fato de a organização conferir a seus executivos alguns direitos formais não lhes assegura a capacidade de liderança eficaz” (p. 258). Para o mesmo autor, as empresas requerem liderança forte e administração forte para alcançarem sua eficácia ótima. Dessa forma, as organizações precisam de lideranças que questionem a ordem das coisas e que forneçam visões aptas a inspirar os lide- rados, bem como de executivos capazes de compor planos detalhados, de criar modelos organizacionais eficientes e de gerir a rotina. Com base nesse preâmbulo, a seguir discriminamos os papéis do gestor e do líder para que você os compreenda com maior exatidão. 5.2 Gestão versus liderança Com frequência, termos como “líderes” ou “gerentes” são incorretamente utilizados. Em muitas organizações, cargos como “líder do setor de produção” fazem parte da nomenclatura oficial das funções da empresa. E por que essa 116 • capítulo 5 denominação é incorreta? Devido ao fato de que ser um líder não é sinônimo de ser gerente. Um cargo de gerência é responsável pela organização de tarefas de um determinado setor. É um cargo no qual o ocupante irá organizar tarefas e su- pervisionar seus subordinados na busca pelo atendimento das demandas or- ganizacionais. Um (bom) gerente irá trazer ordem e consistência por meio da elaboração de planos formais, além de realizar o monitoramento de resultados. Em suma: o líder irá buscar a eficiência e a eficácia das ações organizacionais. Para atender à necessidade de eficiência e eficácia, o gerente deverá cumprir as quatro funções básicas do gerente, inicialmente formuladas por Fayol: • Planejamento: significa definir metas para o desempenho organizacio- nal futuro e decidir sobre as tarefas e o uso de recursos necessários para sua realização (GIL, 2007). Significa também especificar objetivos a se- rem atingidos e ações preferenciais para alcançá-los. • Organização: a função da organização acompanha o planejamento e reflete o esforço da empresa em realizar seus planos. Envolve a desig- nação de tarefas, o agrupamento de tarefas entre os departamentos e a alocação de recursos. • Direção: é o uso de influência para motivar os funcionários a atingirem suas metas organizacionais. Envolve o trabalho com pessoas, a criação de uma cultura e valores comuns à empresa. • Controle: consiste no monitoramento das atividades dos funcionários e na verificação de que a empresa está na direção certa, rumo a seus obje- tivos. Esse controle se dá pela medição do desempenho dos envolvidos. Para a existência da autoridade para um gerente, ele é imbuído de um cargo que lhe traz poder sobre processos e pessoas. Um gerente é, portanto, alguém que executa as funções da gestão e possui um cargo que lhe confere poder para tal. Para atingir os objetivos organizacionais, é esperado que os gerentes tam- bém sejam líderes. O que realmente diferencia líderes de gestores é a criação de uma visão de futuro. Um líder faz uso de sua influência pessoal para alcançar objetivos. Um líder não necessariamente possui um cargo formal na organiza- ção, muito embora tenha influência (ROBBINS, 2010). Os gerentes devem necessariamente saber lidar com a complexidade do ambiente. Os verdadeiros líderes sabem administrar essa complexidade e con- seguem idealizar mudanças necessárias. Os líderes verdadeiros conseguem desenvolver uma visão de futuro para a organização – e não só se ocupam com capítulo 5 • 117 rotinas administrativas. Além disso, os líderes conseguem fazer com que essa visão de futuro motive e inspire seus liderados. Chiavenato (2008) e Marras (2009) observam que a principal atribuição do líder é criar uma visão. O líder é um instrumento do grupo; por isso, quem quiser candidatar-se a posições de liderança deve aprender a sintonizar-se com os problemas e interesses e motivações dos colaboradores (DAVIS; NEWSTROM, 1992). A visão representa uma perspectiva ou uma descrição geral de um estado que se deseja alcançar em determinado tempo futuro, ajudando a motivar e orientar as ações empresariais. Um líder deve, antes de tudo, desenvolver uma visão do futuro da empresa – e buscar adaptar os recursos da organização para este fim. Assim, para Bateman e Snell (1998), uma visão é um estado futuro de- sejável para as organizações. Com base nessa visão, grandes líderes imaginam um futuro ideal para suas organizações. Assim, líderes devem olhar para a fren- te e definir as direções para as quais pretendem conduzir suas organizações. As visões podem ser grandiosas ou pequenas e existir em todos os níveis da organização. Os pontos mais importantes relacionados ao estabelecimento de uma visão são (GIL 2007, p. 221): (1) Uma visão de futuro é necessária para uma liderança eficaz; (2) Uma pessoa pode desenvolver visão para qualquer função, unidade de trabalho ou organização; (3) A grande maioria das pessoas que não se torna um líder forte, geralmente,não tinha uma visão de futuro clara – em vez disso, buscava, basicamente, solucionar problemas de natureza cotidiana. Acima de tudo, para que um líder seja considerado eficiente, ele precisa conduzir pessoas aos objetivos por ele traçados. Mas como deveria um líder le- var as pessoas a seguirem este caminho? Por meio do uso de suas habilidades interpessoais e de comunicação. O líder eficiente deve levar os seus liderados a compartilharem da mesma visão de futuro que ele tem. Para que isso ocorra, o líder precisa divulgar sua visão de futuro e buscar seguidores que comparti- lhem desta mesma visão. Com base no compartilhamento e na aceitação dessa visão, o líder desenvolve estratégias necessárias para o seu alcance. 5.3 Teorias sobre liderança A liderança pode ser compreendida como a capacidade de alguém influen- 118 • capítulo 5 ciar outra pessoa para atingir metas. Essa definição aparentemente simples não esconde, entretanto, uma grande e complexa questão: afinal, o que fazem as pessoas seguirem um líder? Quais características esse líder tem para que as pessoas o sigam? Esses temas serão aprofundados no presente capítulo. Assim, o presente tó- pico foi dividido em três partes distintas: • Teorias dos traços • Teorias comportamentais • Teorias contingenciais Adiante, você estudará cada uma dessas teorias que apresentam proposi- ções específicas sobre o tema. 5.3.1 Teoria dos traços As teorias dos traços partem do pressuposto de que há algumas característi- cas pessoais que separam os líderes dos não líderes. Seguidores dessa corrente podem ser vistos – especialmente na mídia – enaltecendo líderes bem-sucedi- dos supostamente portadores de “características de liderança”. Essa visão está vinculada às chamadas “teoria dos traços”. Essas teorias buscavam identificar quais características de personalidade, físicas ou intelectuais líderes bem-suce- didos detinham em comum. Os estudos identificadores de traços começaram a ser desenvolvidos na dé- cada de 1930. Até a década de 1970, foram identificados nada menos que 80 traços de liderança em diferentes estudos – mas apenas cinco características eram comuns entre eles. Na década de 1990, houve uma grande exploração do assunto. A temática “liderança” tornou-se tema favorito de estudos e correntes de pesquisa entre os estudiosos da administração. Ainda assim, depois de mui- tas análises, propôs-se que o máximo que se podia concluir sobre líderes e não líderes é que eles pareciam ter sete traços comuns: ambição e energia, desejo de liderar, honestidade e integridade, autoconfiança, inteligência, capacidade de adaptar-se ao ambiente e suas demandas e conhecimentos relevantes sobre o trabalho (KIRKPATRICK; LOCKE, 1991). Robbins (2010) observa que recentemente foram realizadas duas consta- tações. A primeira é que os traços podem indicar a liderança. E a segunda é que os traços podem identificar a emergência de determinadas características idiossincráticas relacionadas à liderança – mas não a sua eficiência ou sua efi- capítulo 5 • 119 cácia. Alguns autores consideram que a base de todos estes traços reside na extroversão (ROBBINS, 2000). Porém, estudos mais aprofundados sobre o tema evidenciam que a extroversão está mais associada ao surgimento da liderança do que propriamente à sua eficácia. 5.3.2 Teorias comportamentais As teorias que buscavam identificar traços que distinguissem líderes de não líderes não conseguiram atingir resultados válidos. Diante desta consta- tação, os pesquisadores mudaram o foco de suas pesquisas: decidiram anali- sar o comportamento de líderes bem-sucedidos para, assim, neles identificar comportamentos associados à liderança. Neste tópico, analisaremos três prin- cipais correntes associadas às chamadas teorias comportamentais: (1) Estudos da Universidade Estadual de Ohio, (2) Estudos da Universidade de Michigan, (3) Grid Gerencial. 5.3.2.1 Estudos da Universidade Estadual de Ohio No final dos anos 1940, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio buscaram identificar dimensões independentes do comportamento do líder. Assim, partindo de mil definições iniciais (literalmente!), acabaram definindo duas principais dimensões que determinam o comportamento de liderança exibido pelos líderes (NEWSTROM, 2008). Estas duas dimensões foram intitu- ladas: estruturas de iniciação e estruturas de consideração (BLOCK, 2004). • Estruturas de iniciação: refere-se à extensão em que um líder consegue definir e estruturar seus comportamentos e os de seus funcionários para alcançar os objetivos organizacionais. São líderes que apresentam estruturas de tarefas bastante definidas a seus liderados. • Estruturas de consideração: refere-se à extensão em que o líder é capaz de manter seu relacionamento com seus liderados baseado na confian- ça mútua e no respeito por suas ideias. Este estilo de liderança é mar- cado pela preocupação do líder com o bem-estar de seus funcionários. Dubrin (2003) observa que as pesquisas relacionadas às estruturas de inicia- ção concluem que líderes com alta estrutura de iniciação e consideração pos- suem liderados mais satisfeitos e alto desempenho. 120 • capítulo 5 5.3.2.2 Estudos da Universidade Federal de Michigan Os estudos da Universidade Federal de Michigan tinham o mesmo objeti- vo dos estudos da Universidade Federal de Ohio: identificar dimensões inde- pendentes do comportamento do líder. Entretanto, estas pesqui sas foram realizadas separadamente. Assim como os resultados obtidos em Ohio, os pes- quisadores da Universidade Federal de Michigan também identificaram duas dimensões de liderança: a orientação para o funcionário e a orientação para a produção. • Orientação para a produção: líderes que enfatizavam aspectos técnicos do desenvolvimento das funções dos funcionários. O foco nesse tipo de liderança é o cumprimento de prazos e metas. Os liderados são subor- dinados ao cumprimentos destas metas (WAGNER III, HOLLENBACK; 2003). • Orientação para o funcionário: a ênfase neste estilo de liderança está nas relações interpessoais existentes entre o líder e os liderados. Nesta orientação, o líder se mostra bastante atento às necessidades dos fun- cionários (WAGNER III, HOLLENBACK; 2003). A principal diferença encontrada entre as pesquisas de Michigan e Ohio são suas conclusões. Enquanto os estudos de Ohio focavam especificamente a con- sideração da eficácia de líderes do tipo alto-alto (alta estrutura de iniciação e consideração), os estudos de Michigan evidenciaram que o líder que provocava maior produtividade e satisfação com o trabalho tinha orientação para o fun- cionário, enquanto o tipo orientação para produção gerava insatisfação e baixa produtividade (DUBRIN, 2003). 5.3.2.3 Grid gerencial O Grid gerencial foi desenvolvido pelos pesquisadores Robert Blake e Jane Mouton. Essa técnica buscava identificar graficamente onde o comportamento do líder era situado. Assim, eram representados líderes “preocupados com as pessoas” e “preocupados com a produção” (ROBBINS, 2010). O Grid tem nove posições, como pode ser visto na figura a seguir. capítulo 5 • 121 Figura 1 – Gráfico representativo do Grid Gerencial - Disponível em:<http://www.eps.ufsc. br/disserta/fiates/cap6/imagens/fig64.htm>. Adaptado. Como mostra a figura, as pontuações conjuntas podem cair em qualquer uma das 81 posições da grade (de 0,1 a 9,9). Com base nestes estudos, os auto- res concluíram que os executivos 9,9 têm melhor desempenho. O uso do Grid Gerencial é alvo de muitas críticas – especialmente por não existirem evidên- cias concretas de que o estilo 9,9 é adequado para todas as situações (BATE- MAN; SNELL, 1998). 5.3.2.4 Estilos de liderança Quando ficou claro que a eficácia dos líderes não estava ligada aos traços, a liderança passou a ser vista como um papel interpessoal que qualquer pessoa pode desempenhar (MAXIMIANO, 2006) e como uma habilidade a
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