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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE LAVRAS - UNILAVRAS 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
MARLON DE PAULA TERRA NASCIMENTO  
NATÁLIA APARECIDA BOTELHO DE CASTRO 
 
 
 
 
 
 
TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO EM MATÉRIA DE CRIMES AMBIENTAIS EM 
PARALELO À JURISPRUDÊNCIA DO STJ E STF 
 
 
 
 
 
 
 
 
LAVRAS-MG 
2020 
1 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE LAVRAS – UNILAVRAS 
BACHARELADO EM DIREITO 
 
 
 
 
MARLON DE PAULA TERRA NASCIMENTO  
NATÁLIA APARECIDA BOTELHO DE CASTRO 
 
 
 
 
 
TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO EM MATÉRIA DE CRIMES AMBIENTAIS EM 
PARALELO À JURISPRUDÊNCIA DO STJ E STF 
 
 
O presente trabalho tem como objetivo ser apresentado               
ao Centro Universitário de Lavras (UNILAVRAS), na             
modalidade de Bacharel em Direito com a finalidade de                 
ser avaliado nas matérias de Direito Penal IV e Direito                   
Processual Penal I, do 5° Período Noturno.  
 
Professor: Me. Emerson Reis da Costa 
 
 
 
 
LAVRAS-MG 
2020 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
1-​INTRODUÇÃO 3 
2-​A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 4 
3-​A TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO EM FACE DO ENTENDIMENTO 
JURISPRUDENCIAL DO STJ E STF 6 
4-​CONCLUSÃO 11 
5-​REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
A Teoria da Dupla Imputação é resultante de divergências doutrinárias e jurisprudenciais                       
antigas acerca da responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Assim, para melhor entendimento                       
sobre o tema se faz pertinente a análise histórico-jurídica da responsabilidade criminal dos entes                           
coletivos. Dessa forma, veremos através da evolução do Código Penal a mudança de tratamento                           
diante dos entes morais, além do advento da Lei. 9.605/1998 que com respaldo constitucional                           
instituiu a responsabilização penal das pessoas jurídicas em face do cometimento de crimes                         
ambientais. Outrossim, analisando o contexto do surgimento da teoria, a política criminal se                         
insere de maneira relevante para entendermos a opção política social de proteger o meio                           
ambiente. Desse modo, a consciência ecológica se apresenta como uma opção política da                         
sociedade, que define o meio ambiente como um bem jurídico a ser tutelado pelo direito penal,                               
como também um valor constitucional que passa também a ser escopo.  
No mais, adentramos ao conceito clássico da teoria da dupla imputação, fazendo observações                         
pertinentes sobre ela, de modo a compreendermos sua estrutura, finalidade e problemas. Diante                         
da criação de uma teoria nada mais lógico que entendermos seus pressupostos, sua ideia teórica                             
perante o contexto de sua adesão, e assim analisar o motivo de sua existência. Além disso,                               
abordaremos o âmbito de sua admissão, e a abrangência de sua utilização pelos tribunais. Em                             
específico notamos a existência do rompimento de uma jurisprudência consolidada que mudou                       
de interpretação conforme o tempo, e assume nova posição e instituiu um marco para a efetiva                               
responsabilização da pessoa jurídica no âmbito do direito penal ambiental. Assim, será objeto de                           
análise a posição jurisprudencial do Supremos Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça,                           
que hoje uniformemente seguem em direção a uma desnecessidade da dupla imputação.  
Por fim, abordaremos a eficácia jurídica em face da desnecessidade da dupla imputação,                         
pontuando os problemas de aplicação da teoria em relação a sua obrigatoriedade e assim veremos                             
sua inutilização sob essa ótica. Em suma, nos alinhamos a linha jurisprudencial que adota a                             
desnecessidade da dupla imputação e neste último tópico abordaremos a sua inutilização como                         
pressuposto para uma eficácia jurídica plena, após já termos entendido as divergências que                         
cercam a questão e a dificuldade prática e teórica dos estudiosos do direito perante a necessidade                               
de punição das pessoas jurídicas na seara do direito penal. 
 
4 
 
A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
A responsabilização penal, administrativa e cível da pessoa jurídica é hoje tema pacífico                         
diante da doutrina e jurisprudência devido a um longo caminho de construção social e histórica                             
acerca do tema. Entretanto, para entendermos como chegamos até aqui se faz necessário uma                           
análise jurídica e histórica a respeito. Em primeiro plano, cabe salientar que o Código Penal                             
Brasileiro de 1890 procurou deixar expresso que a responsabilidade é individual, assim, partindo                         
dessa premissa estabeleceu no Art.25 do mencionado código, que sendo a responsabilidade                       
exclusivamente pessoal, nos crimes no qual tiverem envolvimento membros de sociedade,                     
associações e corporações só seriam punidos criminalmente aqueles que participaram do delito                       
(ROCHA, 2003). Contudo, havia previsão expressa no do parágrafo único Art.103 do CP/1890,                         
a respeito da possibilidade de dissolução da personalidade jurídica em casos de sua utilização para                             
o cometimento de crimes, o que gerava discussão por se tratar de responsabilização criminal. Na                             
mesma linha divergente, veio o Decreto n. 22.213/1932 que versava sobre a Consolidação das                           
Leis Penais. Com o advento do Código Penal Brasileiro de 1940, como também em sua reforma                               
em 1984, não houve disposição que vedasse a responsabilidade de pessoas físicas nesses casos.                           
Ainda assim, restaram dúvidas que foram completamente suplantadas pela Lei dos Crimes                       
Ambientais n°9.605/98, que em seu Art.3° trouxe expressamente a responsabilidade penal da                       
pessoa jurídica elencando as sanções compatíveis com a sua natureza jurídica especial                       
(ROCHA,2003).  
Para concretizar a mudança de paradigma quis o legislador constituinte dar tratamento                       
constitucional ao tema. Assim, a responsabilidade da pessoa jurídica está prevista nos Artigos                         
173, §5° e 225, §3° da CF/88, e deixam completamente definido que as pessoas jurídicas, serão                               
responsabilizadas criminalmente, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes,                 
quando praticarem crimes contra a economia popular, a ordem econômica financeira e atividades                         
lesivas ao meio ambiente. 
Outrossim, a criminalidade e a conduta delitiva são uma construção jurídico-social, ou                       
seja, antes de serem consideradas como tal, passam por um juízo de valor feito pela sociedade                               
com base na opinião política, para então serem imputadas como condutas criminosas e então                           
impostas a responsabilidade a determinadas pessoas (ROCHA,2003). Dessa forma, a opinião                     
política e social sobre certas condutas em consonância com a preocupação específica com bens                           
5 
jurídicos predominantemente mais relevantes conduzem o legislador a tipificação necessária ao                     
controle social. De modo semelhante, a responsabilidade penal também resultade um processo                         
político, que visa definir o responsável pela conduta lesiva à norma e então puni-lo. Nesse                             
ínterim, a responsabilidade penal da pessoa jurídica se apresenta como um instrumento repressivo                         
a criminalidade ambiental.  
Portanto, a política criminal além de ser instrumento de proteção social aos bens mais                           
importantes perante a sociedade, também se ocupa de achar meios eficazes para sua aplicação.                           
No mais, sua utilização contribui com o aprimoramento da análise dos delitos e dos pressupostos                             
da responsabilidade, assim, o direito penal e a política criminal constituem uma relação de                           
complementaridade. Quanto à opção política de responsabilizar penalmente a pessoa jurídica, é                       
importante destacar que a escolha pelo viés criminal ao mesmo tempo que é necessário a tutela                               
penal do meio ambiente, é também favorável a defesa processual. Pois o exercício do devido                             
processo legal, do contraditório e ampla defesa, garante a punição justa da pessoa jurídica e                             
estabelece um sistema de punição mais rigoroso do que a sanção administrativa, ainda que sem                             
prejuízo desta. Outrossim, a punição de natureza penal é um excelente mecanismo repressivo em                           
face da proteção ao meio ambiente compatível com a lógica capitalista moderna. Haja vista que, o                               
processo penal impõe um estigma negativo à pessoa jurídica de modo a prejudicar seus interesses                             
econômicos, sujando seu nome no mercado. Dessa forma, de acordo com a lógica capitalista do                             
lucro, qualquer imputação de crime ambiental é altamente nociva a imagem da empresa, o que                             
cria um reforço negativo da conduta. Pois, a única maneira de alcançar a efetiva tutela ambiental é                                 
intervir, ainda que de maneira indireta na condição econômica das empresas, usando a lógica                           
capitalista contra eles. Desde a revolução industrial e dos avanços tecnológicos a necessidade de                           
matéria prima se mostrou a maior preocupação dos grandes empresários, grande parte dos                         
recursos naturais como se sabe é esgotável e produzindo em ritmo frenético a devastação                           
ecológica já era prevista décadas atrás. Neste diapasão entre produzir e preservar, surgiu a                           
necessidade de proteger o meio ambiente devido a devastação de anos de progresso. Assim, de                             
acordo com o contexto histórico, a opção política de responsabilizar criminalmente a pessoa                         
jurídica é resultado de um longo processo de conscientização ambiental e social. 
6 
A TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO EM FACE DO ENTENDIMENTO                 
JURISPRUDENCIAL DO STJ E STF 
A Teoria da Dupla Imputação consiste na obrigatoriedade de figurar na posição de sujeito                           
passivo pessoas naturais, concomitantemente com a pessoa jurídica causadora do dano ambiental.                       
Caracterizando assim, um litisconsorte passivo necessário entre pessoas físicas com                   
responsabilidade diretiva pelo ente moral e a empresa. Essa teoria advém do entendimento de                           
que só seria possível a punibilidade criminal de pessoas jurídicas, se houvesse a imputação da                             
pessoa natural responsável conjuntamente. Haja vista que, devido à grandes discussões                     
doutrinárias, é preciso atrelar a culpabilidade a uma pessoa física responsável pela gestão da                           
empresa, visto que se trata de interpretação extraída do Art.3° da Lei n° 9.605/1998. Essa                             
interpretação é consequência lógica da premissa de que, toda ação ilícita da pessoa jurídica é                             
resultado da conduta humana interna. Por tal motivo, passou-se a exigir necessariamente a dupla                           
imputação, pois a convergência das condutas individuais em paralelo ao ente moral, caracteriza                         
condição material para a violação do bem jurídico tutelado. Diante dessa concepção, todos os                           
problemas dogmáticos do ente moral, relacionados à deficiência de capacidade criminal, assim                       
como de culpabilidade estariam sanados, visto que seriam supridos em face do dolo e da                             
culpabilidade das pessoas naturais que agiram ilicitamente se utilizando da personalidade jurídica                       
das empresas e grandes corporações. Outrossim, considerando que os crimes praticados pela                       
pessoa jurídica são delitos de concurso necessário segundo a concepção de dupla imputação, não                           
seria qualquer indivíduo participante da empresa que poderia figurar no polo passivo da                         
demanda. Para assumir tal posição, é necessário que a pessoa natural tenha certo poder de decisão                               
sobre o ente coletivo, de modo a conseguir influenciar as ações da empresa de forma                             
determinante, como ocorre com os dirigentes, administradores e o órgão colegiado diretivo. A                         
ideia teórica da dupla imputação nasceu em um momento conturbado, visto que anteriormente                         
não havia a responsabilização penal da pessoa jurídica. Assim, com o advento da Lei. 9.605/1998                             
trazendo a responsabilização criminal da pessoa jurídica com respaldo constitucional, sobreveio a                       
necessidade de se pensar em questões ainda divergentes e assim definir uma forma usual para                             
assegurar a aplicabilidade penal e processual da norma. 
Em síntese, a imputação simultânea da pessoa jurídica e física é necessária para o                           
prosseguimento da ação penal, pois não se admite a responsabilização do ente moral dissociado                           
7 
da conduta da pessoa natural, visto que esta é elemento subjetivo próprio do crime. Coadunando                             
com este entendimento, Renato Brasileiro de Lima faz um pertinente comentário sobre o tema:  
 
Independentemente da discussão quanto à possibilidade de responsabilidade               
penal da pessoa jurídica, controvérsia a ser analisada nos manuais de Direito Penal, tem                           
sido admitida a possibilidade de se oferecer denúncia em face da pessoa jurídica, desde                           
que a conduta delituosa também seja imputada à pessoa física que atua em seu nome ou                               
benefício (teoria da dupla imputação), uma vez que não se pode compreender a                         
responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age                         
com elemento subjetivo próprio. Logo, se a denúncia tiver sido oferecida tão somente                         
em face da pessoa jurídica, não descrevendo a participação de pessoa física que teria                           
atuado em seu nome ou proveito, há de se reconhecer a inviabilidade de instauração da                             
persecução criminal ​in iudicio​, com o consequente trancamento do processo penal, em                       
virtude da inépcia da peça acusatória (CPP, art. 395, I). (LIMA,2016 p.349)  
 
Ademais, a dupla imputação é também considerada uma tentativa de afastar a                       
responsabilidade criminal objetiva, tão temida pelos juristas e estudiosos dodireito. Desta forma,                         
ao impor a imputação simultânea entre pessoa física e jurídica condicionando a ação penal a                             
existência dessa relação, pretende-se introduzir o elemento subjetivo no fato típico                     
(MARTINS,2016). Para os adeptos da tese em análise, não é possível imputar crime ambiental                           
somente a pessoa jurídica, pois a prática de uma conduta criminosa exige a participação da pessoa                               
natural, e por isso faz-se necessário identificá-la e então colocá-la no polo passivo da demanda.   
A teoria em análise teve grande aceitabilidade pelos tribunais e pela doutrina majoritária                         
por um longo período de tempo. O Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso                             
Especial 564.960- SC, deixou expresso a obrigatoriedade da Teoria de Dupla Imputação, de                         
forma que só seria possível a propositura da ação penal em face da pessoa jurídica se houvesse a                                   
imputação dos gestores e dirigentes conjuntamente. Assim, deveria constar na denúncia feita pelo                         
Ministério Público, obrigatoriamente, sob pena de não recebimento, a pessoa jurídica e as pessoas                           
naturais concomitantemente, figurando o litisconsorte necessário passivo como uma exigência                   
para a prestação jurisdicional almejada. O Supremo Tribunal Federal por sua vez, também                         
apresentou um precedente neste sentido, no HC n° 85.190/SC, no qual o Ministro Joaquim                           
Barbosa proferiu voto decisório que definiu que somente seria possível a responsabilização                       
criminal reflexa de pessoas jurídicas, o que ensejaria o trancamento da denúncia em razão da                             
formulação genérica feita pelo órgão ministerial. 
Dessa forma, a obrigatoriedade da dupla imputação em muitos casos obsta a prestação                         
jurisdicional, e consequentemente a tutela do meio ambiente. A discussão a respeito do tema                           
sempre levantou questões que precisam ser encaradas pela ciência do direito, no entanto, a                           
8 
finalidade à que a norma se destina não pode ser prejudicada por questões meramente                           
processuais. A dupla imputação sempre esteve relacionada a polêmicas doutrinárias a respeito do                         
cometimento de crimes pela pessoa jurídica e sua punibilidade, questões já superadas, mas que                           
ainda encontram resistência por parte da doutrina.  
Contudo, em 2013 a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, em uma mudança de                           
paradigma, diante do Recurso Extraordinário 548.181- PR reconheceu a desnecessidade da dupla                       
imputação perante a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Em nova interpretação                     
constitucional do Art.225, §3°, entendeu a Suprema Corte que haveria a possibilidade de as ações                             
serem propostas apenas perante a pessoa jurídica que infringir o dano. Em razão dessa decisão,                             
ainda que na ausência de caráter vinculante, inaugurou-se uma nova fase jurisprudencial que                         
influenciou os tribunais e reconstruiu um entendimento que já havia se consolidado. Apesar de                           
não ser uniforme, desde 2014 o STJ vem adotando a posição do STF e reconhecendo essa                               
possibilidade. São exemplos dessa nova tendência no Superior Tribunal de Justiça no RHC n°                           
50.470/ES julgado pela 5ª Turma, pelo Relator Ministro Gurgel de Faria em 2015 e o RHC n°                                 
48.172/PA, da 6ª Turma do Relator Ministro Sebastião Reis Júnior, 2015. A construção de                           
precedentes, a mudança de interpretação jurisprudencial é um fenômeno jurídico que busca a                         
efetividade da norma jurídica de acordo com os interesses da sociedade. A proteção ambiental é                             
hoje um objetivo jurídico-social que necessita do legislador e da pressão popular para ser levado a                               
efeito, pois a consciência ecológica encontra grandes óbices empresariais e capitalistas para ser                         
considerada como tal. 
A proteção jurídica penal do meio ambiente é resultante de uma mudança de tratamento                           
em que houve a consagração do bem jurídico ambiental ao nível de direito difuso, protegido                             
constitucionalmente. Superou-se a lógica civilista, não sendo mais suficiente a proteção cível e                         
administrativa de um bem que é hoje um escopo social do direito penal moderno. Mais do que                                 
apoiar a causa ambiental, é necessário punir aqueles que atentam contra ela, garantir a                           
responsabilização de grandes empresas e também de pessoas físicas poderosas. O meio ambiente                         
sadio e equilibrado é direito de todos, e também dever do Estado, de forma que a sociedade                                 
como coletividade deve perseguir este fim, se utilizando do direito para garantir a efetividade da                             
norma. 
 
A DESNECESSIDADE DA TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO E A EFICÁCIA                   
JURÍDICA 
9 
Superada a obrigatoriedade da dupla imputação, novos avanços em relação a eficácia                       
jurídica constitucional foram levados a efeito com a responsabilização penal das empresas                       
causadoras de danos. Pois a aceitabilidade da teoria da dupla imputação acarretou problemas no                           
plano da efetividade jurídica, como a impossibilidade de prosseguir com a persecução penal nos                           
casos de inviabilidade de identificação dos membros. Outrossim, outra questão a ser analisada                         
versava sobre a punibilidade exacerbada de integrantes da pessoa jurídica, que apesar do cargo                           
diretivo, ou até mesmo na ausência dele não tinham controle verdadeiro sobre as ações da                             
empresa e eram punidos ainda assim, enquanto a impunidade das grandes empresas impulsionava                         
a destruição ambiental. 
A responsabilidade criminal da pessoa jurídica tem respaldo na Teoria da Realidade, que                         
defende a possibilidade de o ente coletivo cometer crimes de maneira autônoma e independente,                           
como também de ser submetido ao juízo de culpabilidade além de sofrer sanções específicas e                             
compatíveis com a sua natureza jurídica. Nesse aspecto, outro óbice causado pela teoria da dupla                             
imputação consistia na dificuldade de imputar especificamente, na exordial acusatória o grau de                         
envolvimento de cada membro participante do delito quando um colegiado de dirigentes                       
conduzisse a ação criminosa. Assim, sendo a pessoa jurídica independente e autônoma perante                         
suas ações, nada mais coerente que punir seus delitos sem a obrigatoriedade de buscar a                             
individualização dos indivíduos, que de qualquer forma agiram em seu benefício ou em seu                           
interesse. É importante destacar, que prevalece a necessidade de a conduta criminosa ser                         
cometida em benefício ou interesse do ente moral, caso a conduta seja em interesse exclusivo de                               
pessoa física, a personalidade jurídica é usada como instrumento, e logicamente não pode figurarcomo meio e autor do crime.  
Frente às discussões doutrinárias a respeito dos crimes cometidos por entes coletivos,                       
Victor Augusto Estevam instituiu reformulações diante do conceito de crime aplicado às pessoas                         
jurídicas criando uma definição própria de dolo e culpa aplicável a elas. Desconsiderando a                           
dogmática jurídico-penal tradicional utilizada na responsabilidade das pessoas naturais. 
Em suma, a adoção da Teoria da Dupla Imputação diante do cometimento de condutas                           
ilícitas por pessoas jurídicas em face do meio ambiente, é consequência de um sistema jurídico                             
penal-processual que tem maior apego a conceitos e dogmas ontológicos, o que acaba por                           
dificultar e obstar a prestação jurisdicional. Assim, a resistência em responsabilizar pessoas                       
jurídicas criminalmente também contribuiu para o aumento de crimes ambientais praticados por                       
entes coletivos com a certeza da impunidade. A proteção do meio ambiente é um escopo social e                                 
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uma finalidade constitucional do sistema jurídico pátrio moderno, que não admite que grandes                         
corporações poderosas esgotem nossos recursos naturais e destruam nossa biodiversidade. A                     
causa ecológica não é apenas uma bandeira levantada por militâncias, pois o meio ambiente                           
equilibrado proporciona melhores condições climáticas e consequentemente mais tempo de vida                     
saudável a toda humanidade. Se no direito penal os crimes contra a vida são tutelados com                               
tamanha indignação, não nos parece exagero que os crimes ambientais sejam comparados a estes,                           
haja vista que atentar contra esse bem jurídico coloca em risco nossa própria existência, que                             
depende dos ecossistemas, das florestas, e lagos para sobreviver. Das muitas coisas inimagináveis                         
que a evolução tecnológica pode fazer, recriar e reconstruir um meio ambiente é tarefa                           
inalcançável para quem acredita que o dinheiro compra tudo. No entanto, o único sistema                           
repressivo que funciona perante as grandes empresas, é a lógica capitalista do estigma social, das                             
multas milionárias e da visibilidade negativa da conduta criminosa que causa prejuízo aos                         
interesses econômicos. Por esse motivo a culpabilidade da pessoa jurídica funciona como um                         
juízo de valor que visa a reprovabilidade social das ações delituosas, o que conduz a um                               
ajustamento de conduta com base na apreensão do estigma social negativo e no medo do                             
prejuízo econômico, pois quando o objetivo é o lucro, consciência ecológica só é utilizada como                             
fachada visando aferimento de novos públicos.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
Em suma, conclui-se que a Teoria da Dupla Imputação nasceu em um período posterior a fase de                                 
ausência de punibilidade criminal específica das pessoas jurídicas, o que resultou em uma                         
mudança de paradigma que continuou a ser motivo de divergência entre os doutrinadores                         
brasileiros. Nesse contexto, a dupla imputação obrigatória consistia na exigibilidade de figurar no                         
polo passivo da demanda em conjunto com a pessoa jurídica, pessoas naturais que assumissem                           
cargo de direção e chefia perante a empresa. Assim, o litisconsorte passivo necessário passou a                             
ser pressuposto para o alcance da prestação jurisdicional. De modo que, se na exordial acusatória                             
não constasse o nome e qualificação dos membros diretivos da pessoa jurídica                       
concomitantemente, a denúncia seria considerada inepta, ensejando o trancamento da ação, e                       
consequentemente a frustração da persecução penal. Diante dos óbices causados pela adoção da                         
dupla imputação, são reconhecidos outros problemas que atrapalham e impedem a eficácia plena                         
da norma, como a dificuldade de identificação dos membros diretivos da pessoa jurídica que                           
impedem a persecução penal. Como também a punibilidade exacerbada de funcionários, que                       
ainda que figurasse em cargos de direção, ou ainda na ausência deles, eram punidos sem ter o real                                   
poder de controle sobre a empresa, o que deixava a pessoa jurídica impune e livre para a prática                                   
de novos crimes ambientais. No mais, exigia-se em casos de condutas lesivas praticadas por                           
órgãos corporativos, a especificação acerca do grau de envolvimento de cada membro, o que                           
frustrava completamente a denúncia do Ministério Público. Dessa forma, observados a falta de                         
eficiência prática diante da aplicação da teoria, conclui-se que sua desnecessidade sinalizada pelos                         
tribunais contribui com a proteção ao meio ambiente. Assim, a mudança de posicionamento do                           
STF influenciou tribunais de segunda instância, e fez com que o STJ seguindo o precedente da                               
Suprema Corte decidisse pela desnecessidade e assim rompesse com a hegemonia da teoria. A                           
tendência jurisprudencial aponta para uma nova fase de responsabilização das pessoas jurídicas                       
no cenário criminal, principalmente levando em consideração o estrago ambiental feito por                       
grandes empresas que causaram devastação no país. O desastre em Mariana, Brumadinho,                       
queimadas por todo país, demonstram a necessidade de tornar eficiente a prestação jurisdicional                         
quando o bem jurídico violado é o meio ambiente. Portanto, a desnecessidade da dupla                           
imputação figura como avanço perante a necessidade de proteger a biodiversidade, ao ponto que                           
permite a responsabilização apenas da pessoa jurídica em casos de não identificação dos                         
membros, que diante da aplicação da teoria da dupla imputação causaria o trancamento da ação e                               
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logicamente a frustração da persecução penal. Assim, a facilitação da propositura da ação                         
contribui com o mecanismo do estigma social, que por sua vez intimida as grandes empresas e as                                 
amedrontam, utilizando a lógica capitalista para inibir ações delituosas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2019.Disponível em< ​https://bdm.unb./handle/10483/23657​> acesso em 02/06/2020 
 
 
 
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