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Protestos no Brasil-uma abordagem acerca dos limites ao direito de manifestação estatuído na CF-88

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UERN - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 
FACULDADE DE DIREITO-FAD 
 PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO-PROPEG 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS 
 
 
 
 
FRANCISCO GALDINO DE ANDRADE NETO 
 
 
 
 
PROTESTOS NO BRASIL: UMA ABORDAGEM ACERCA DOS LIMITES AO 
EXERCÍCIO DO DIREITO DE MANIFESTAÇÃO ESTATUÍDO NA CF/88 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MOSSORÓ 
2014 
FRANCISCO GALDINO DE ANDRADE NETO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROTESTOS NO BRASIL: UMA ABORDAGEM ACERCA DOS LIMITES AO 
EXERCÍCIO DO DIREITO DE MANIFESTAÇÃO ESTATUÍDO NA CF/88 
 
 
 
Monografia apresentada à Universidade 
do Estado do Rio Grande do Norte-
UERN, como um dos pré-requisitos para 
conclusão do Curso de Pós-Graduação 
em Direitos Humanos. 
Orientador: Prof. Ms. Edmar Eduardo de 
Moura Vieira 
 
 
 
 
 
MOSSORÓ 
2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Andrade Neto, Francisco Galdino de. 
 Protestos no Brasil: uma abordagem acerca dos limites ao exercício do direito de 
manifestação estatuído na CF/88. / Francisco Galdino de Andrade Neto. – Mossoró, 
RN, 2014. 
 
48 f. 
 
Orientador(a): Prof. Ms. Edmar Eduardo de Moura Vieira 
 
Monografia (Especialização em Direitos Humanos). Universidade do Estado do 
Rio Grande do Norte. Faculdade de Direito. 
 
1. Protestos - Monografia. 2. Direito de manifestação. 3. Limites. I. Vieira, Edmar 
Eduardo de Moura. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III.Título. 
 
 UERN/ BC CDD 340 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Catalogação da Publicação na Fonte. 
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Bibliotecária: Elaine Paiva de Assunção – CRB - 15/492 
 
FRANCISCO GALDINO DE ANDRADE NETO 
 
PROTESTOS NO BRASIL: UMA ABORDAGEM ACERCA DOS LIMITES AO 
EXERCÍCIO DO DIREITO DE MANIFESTAÇÃO ESTATUÍDO NA CF/88 
 
Monografia apresentada à Universidade 
do Estado do Rio Grande do Norte-
UERN, como um dos pré-requisitos para 
conclusão do Curso de Pós-Graduação 
em Direitos Humanos. 
 
 
Banca Examinadora: 
 
__________________________________________ 
Edmar Eduardo de Moura Vieira 
Professor Mestre da UERN 
Orientador 
 
___________________________________________ 
Giovanni Weine Paulino Chaves 
Professor Mestre da UERN 
Examinador 
 
___________________________________________ 
João Paulo do Vale de Medeiros 
Professor Mestre da UERN 
 Examinador 
 
Data da aprovação ______/______/______ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ao Criador razão maior da minha existência. 
 A minha mãe e meu saudoso pai 
 Aos meus avós. 
 A minha esposa Célia e minhas filhas Isadora e 
Isabela. 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus por guiar e iluminar o meu caminho. 
Aos meus familiares que sempre estiveram ao meu lado, pela dedicação, 
compreensão e confiança em mim depositada: minha eterna gratidão. 
Ao meu orientador Edmar Vieira, pela competência, amizade, paciência e 
contribuição para a conclusão desse trabalho acadêmico. 
Aos meus amigos e colegas de classe, pela amizade e companheirismo que, 
de alguma forma, contribuíram neste trabalho. 
Agradeço também aos examinadores deste trabalho pela participação e 
disponibilidade. 
Meus sinceros agradecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Penso que o direito de manifestação não é 
absoluto, é relativo, ou seja, encontra 
limite no desempenho regular do exercício 
dos direitos e dos deveres alheios 
 
Octavio Gallotti 
RESUMO 
 
Os protestos recentes ocorridos no Brasil foram extremamente louváveis na medida 
em que trouxeram à baila questões fundamentais que há muito tempo andavam 
esquecidas pelos nossos governantes, tais como: educação, segurança, saúde, 
gastos públicos etc., fazendo com que o direito de manifestação fosse de fato 
exercido e ao mesmo tempo acordou a população brasileira de seu estado passivo. 
O Brasil como signatário de tratados e convenções internacionais é obrigado a 
tutelar o direito de manifestação e reunião pacífica, sobretudo porque as 
manifestações populares repousam no manto do exercício da democracia, 
alicerçada no art. 5º da Constituição Federal de 1988. Por outro lado, a liberdade de 
reunião e de manifestação não são direitos absolutos, mas possuem restrições 
impostas pelo constituinte, além das que resultam da colisão com outros direitos ou 
valores constitucionalmente protegidos, tais como: à liberdade de locomoção, 
segurança, informação, dentre outros. Arrimado nesse viés constitucional, o trabalho 
monográfico em tela trata dos recentes protestos ocorridos em nosso país, fazendo 
uma abordagem acerca dos limites ao exercício do direito de manifestação estatuído 
na CF/88. Buscando entender melhor esse fenômeno social, cumpre-nos investigar: 
o direito à livre manifestação é absoluto? Quais seus limites? Existe em nosso 
ordenamento jurídico pátrio uma regulação normativa acerca da matéria? A 
capacidade de mobilização através das manifestações populares são referenciais 
importantes para o aprimoramento e reafirmação do Estado Democrático de Direito? 
Em termos conclusivos, constata-se que o direito de manifestação em suas variadas 
vertentes, é essencial para a manutenção do regime democrático, visto que auxilia o 
desenvolvimento da consciência dos cidadãos, que passam a ter acesso a novas 
informações, podendo externar o que pensam e o que desejam para o país. No 
entanto, as manifestações populares devem respeitar outros direitos fundamentais 
igualmente protegidos pela nossa Carta Magna. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Protestos. Direito de Manifestação. Limites. Constituição 
Federal de 1988.
ABSTRACT 
 
Recent protests in Brazil were extremely commendable in that it brought to the fore 
fundamental issues that have long forgotten they walked by our rulers, such as 
education, safety, health, public spending etc., so that the right to demonstrate was 
actually exercised while the Brazilians woke from his passive state. Brazil, as a 
signatory to international conventions and treaties is required to protect the right to 
peaceful assembly and expression, especially since the popular manifestations lie in 
the mantle of the exercise of democracy, based on art. 5º of the Federal Constitution 
of 1988. On the other hand, freedom of assembly and expression are not absolute 
rights, but have restrictions imposed by the constituent, other than those resulting 
from collision with other constitutionally protected rights or values, such as freedom 
of mobility, security, information, among others. Grounded this constitutional bias, the 
monograph comes on screen the recent protests in our country, making the exercise 
of the requirements established manifestation in CF/88. Approach on the boundaries 
seeking to better understand this social phenomenon, we should investigate: the right 
to free expression is absolute? What are its limits? Exists in our homeland law a 
normative regulation on the matter? The mobilization capacity through popular 
demonstrations are important references for the improvement and reaffirmation of 
democratic rule of law? In conclusive terms, it states that the right to demonstrate in 
its various aspects, is essential for the maintenance of the democratic regime, as it 
assists the development of consciousness of citizens, who will have access to new 
information and can express what they think and what they want for the country. 
However, the popular manifestations should also respect other fundamental rightsprotected by our Constitution. 
 
KEYWORDS: Protests. Law of Manifestation. Limits. Federal Constitution of 1988. 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade 
CF- Constituição Federal 
DJE – Diário da Justiça Eletrônico 
EUA – Estados Unidos da América 
PEC – Proposta de Emenda à Constituição 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
STF- Supremo Tribunal Federal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO... ................................................................................................... .... 13 
 
2.CAPÍTULO II: ESCORÇO HISTÓRICO........................................................ ......... .... 15 
2.1. Origem, conceito e natureza jurídica do direito de manifestação ....................... .... 15 
2.2. O cenário histórico do direito de manifestação no Brasil .................................... ... 18 
2.3. O direito de manifestação previsto nos tratados e convenções internacionais de 
Direitos Humanos ...................................................................................................... .... 19 
2.4. As manifestações populares como aprimoramento e reafirmação do Estado 
Democrático de Direito .............................................................................................. ... 21 
 
3. CAPÍTULO III: PROTESTOS NO BRASIL: Uma Abordagem acerca dos Limites 
ao Exercício do Direito de Manifestação Estatuído na CF/88.............................. .... 23 
3.1. Os protestos no Brasil... ..................................................................................... .... 23 
3.2. O direito de manifestação estatuído na Constituição de 1988....... ................... .... 25 
3.2.1. Direito de manifestação do pensamento... ...................................................... .... 27 
3.2.2. Direito de reunião............................................................................................ . .... 29 
3.2.3. Direito à liberdade de expressão...................................................................... ....30 
3.3. Alguns limites espaciais para manifestações públicas ....................................... .... 31 
3.4. Os “Black Blocs” ................................................................................................. .... 32 
3.5. O direito de manifestação e o abuso de autoridade ........................................... .... 33 
3.6. Da colisão do direito de manifestação com outros direitos constitucionalmente 
protegidos... ............................................................................................................... ... 35 
3.6.1 Colisão com a liberdade de locomoção ............................................................ .... 35 
3.6.2 Colisão com o direito à segurança ................................................................... .... 37 
3.6.3 Colisão com o direito à informação .................................................................. .... 38 
3.7. Panorama jurídico atual acerca da regulação do direito de manifestação. ........ .... 39 
3.8. Posição jurisprudencial do STJ e STF............................................................... . .... 40 
 
4. CONCLUSÃO................................................................................... ..................... .... 44 
 
5. REFERÊNCIAS...................................................................................................... .... 45 
 
ANEXOS.................................................................................................................... .... 48 
13 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho científico tem como objeto de estudo os protestos 
recentes ocorridos no Brasil, realizando uma abordagem sobre os limites ao 
exercício do direito de manifestação previsto na Constituição Federal de 1988. Não 
há dúvidas que as manifestações populares são vistas como uma forma de 
comunicação e expressão coletiva, criando um espaço público de discussão. 
 Contudo, cumpre-nos investigar: o direito à livre manifestação é 
absoluto? Quais seus limites? Existe em nosso ordenamento jurídico pátrio uma 
regulação normativa acerca da matéria? A capacidade de mobilização através das 
manifestações populares são referenciais importantes para o aprimoramento e 
reafirmação do Estado Democrático de Direito? 
Buscando responder as essas e outras indagações, a proposta deste 
trabalho pautar-se-á em analisar sob um contexto histórico social, o cenário atual do 
país considerando a eclosão dos recentes protestos ocorridos no Brasil, 
promovendo uma análise acerca da instauração das manifestações populares, seus 
benefícios, implicações, limitações e panorama jurídico atual da regulação deste 
direito constitucional. 
Cumpre esclarecer, que a justificativa que levou à escolha do tema e 
desenvolvimento do presente texto aflorou da verificação de que nos últimos anos as 
manifestações no Brasil ganharam força nas ruas, apoiadas por uma 
heterogeneidade de grupos (sindicatos, agremiações partidárias, universitários, 
pessoas comuns, vândalos etc.) que protestavam contra as mais diversas causas, 
tais como: aumento das tarifas de transporte público, propostas de Emenda à 
Constituição (PEC) 37, tratamento gay, ato médico, gastos com a Copa das 
Confederações e Copa do Mundo, fim da corrupção, dentre outras. 
 Revestindo-se o tema de densa relevância para o mundo jurídico, 
sobretudo porque pretende discutir o tema com a profundidade que merece, visto 
que as manifestações populares evidenciadas no Brasil nesses dois últimos anos 
iniciaram um debate acerca da participação política efetiva da sociedade e 
promoveram a aproximação e conhecimento pelas instituições públicas dos anseios 
e demandas da população. 
A monografia subdivide-se em três capítulos: o primeiro trata das 
considerações iniciais, o qual nos traz uma ideia geral sobre o tema que será 
14 
 
desenvolvido; o segundo aborda a origem, conceito e natureza jurídica do direito de 
manifestação, o cenário histórico do direito de manifestação no Brasil, o direito de 
manifestação previsto nos tratados e convenções internacionais de Direitos 
Humanos e as manifestações populares como aprimoramento e reafirmação do 
Estado Democrático de Direito. 
 O terceiro capítulo trata à luz da Constituição Federal de 1988 e de 
tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário, o direito ao 
exercício da livre manifestação do qual decorrem outros direitos fundamentais, como 
a liberdade de pensamento, de expressão e de reunião, preconizados na Carta 
Magna. 
Coloca em discussão a premente necessidade de regulamentação e 
estabelecimento de limites acerca do direito de livre manifestação, com o intuito de 
garantir e proteger este e os demais direitos constitucionalmente garantidos que 
frequentemente entram em colisão com o exercício do direito de manifestação, como 
por exemplo, o direito à locomoção, à segurança e à informação. Busca-se também 
revelar a importância do direito de manifestação e garantias individuais dentro do 
Estado Democrático de Direito. 
 A guisa de conclusão, tecem-se comentários acerca da posição 
jurisprudencial que envolve a temática (direito de manifestação), a partir de casos 
concretos, focado principalmente nas decisões do Superior Tribunal de Justiça e do 
Supremo Tribunal Federal. 
 No que tange à metodologia de pesquisa e os procedimentos técnicos 
utilizados na presente monografia, podemos classificá-los como bibliográficos e 
documentais. Neste ponto, a pesquisa bibliográfica, constituir-se-á na coleta de 
dados extraídos de artigos científicos, doutrina, trabalhos monográficos, 
jurisprudências, entre outros pertinentes a temática, os quais servirão de norte ao 
trabalho monográfico em apreço. 
Quanto ao método de abordagem a ser empreendido para alcançar os 
objetivos da presente pesquisa científica será o método dedutivo, umavez que se 
partirá de uma proposição geral acerca dos protestos ocorridos no Brasil, para se 
chegar a uma proposição particular: realizar uma abordagem acerca dos limites ao 
exercício do direito de manifestação estatuído na Constituição Federal de 1988. 
 
 
15 
 
CAPÍTULO II 
2. ESCORÇO HISTÓRICO 
2.1. Origem, conceito e natureza jurídica do direito de manifestação 
 
O Direito de Manifestação teve sua origem remota nos primórdios da 
Grécia Antiga, onde o homem já possuía pretensões de se expressar sem sofrer 
gravame, ressaltando que a filosofia grega discutia a afinidade entre o Estado, 
indivíduo e a religião.1 
No entanto, foi no surgimento do século XVIII, século das luzes, no 
período do iluminismo, movimento intelectual e cultural europeu que se baseava na 
exaltação da razão, que tinha como ponto principal do homem a liberdade, o 
conhecimento e a felicidade, que se deu a Revolução Francesa, cujo tema 
revolucionário era “liberdade, igualdade e fraternidade”, que consiste na conquista 
histórica delimitadora dos princípios fundamentais garantidores dos direitos 
humanos, entre os quais está o direito de manifestação. 
De acordo com Maria Lidia de Oliveira Ramos2 foi na derrocada da 
monarquia absoluta que o direito de manifestação teve sua ascensão mais 
acentuada, aonde os valores do povo vieram a ser postos em causa, sobretudo, com 
citada Revolução Francesa (1789) e também Americana (1775 a 1783). Passando-
se, assim, de uma ideia de poder representado no Rei e na existência de uma 
sociedade de ordens, para a ideia de que o poder está no povo. É significativa para 
ilustrar esta asserção a frase de Lincoln: “governo do povo, pelo povo e para o 
povo.” 
Para Tâmara Belo Guerra3 foi também neste momento que passou a 
existir a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 na França, que 
professa em seu artigo 11: “a livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é 
um dos direitos mais preciosos do homem”. 
Dentro desse contexto histórico, o povo saiu às praças públicas para 
reivindicar transformações quanto à regulação do poder público, na medida em que 
 
1 GUERRA, Tâmara Belo. Os Direitos Relativos À Manifestação Do Pensamento Na Constituição Federal De 
1988. Faculdades Integradas “Antônio Eufrásio De Toledo. Presidente Prudente/SP, 2008. 
2
 RAMOS, Maria Lídia de Oliveira, O Direito de Manifestação- Disponível em: 
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6419.pdf - Acesso em 18/10/2014. 
3
 GUERRA, Tâmara Belo. Ibidem p. 37. 
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/6419.pdf
16 
 
nesse período esse poder passou a ter o dever de obediência a certas normas 
jurídicas que limitavam sua própria atuação. Nessa fase, o Estado Absolutista se 
recolhe perante os direitos fundamentais individuais dos cidadãos que clamavam 
nas ruas por mais participação política estatal e via de consequência por melhorias 
sociais em suas condições de vida. 
 
Apregoam Gabriela Xavier e Thaísa Espínola4 que: 
 
Como exemplo, dessa transição, pode-se citar a edição das constituições 
que consagraram os direitos sociais, como a Constituição Alemã de 1919 
(de Weimar) e a Constituição do México, de 1917. A partir desse período o 
Estado passa a assumir o papel principal para concretização das 
finalidades sociais e promoção do bem-comum dos indivíduos como 
sujeitos de direitos. 
 
Para Claudomiro Batista5, na sua origem, o direito de manifestação 
advém das ideias ligadas ao conceito de Direito Natural, passando pela positivação 
nos primeiros ordenamentos jurídicos constitucionalizados, de modo que é intrínseca 
à própria variação que as formas de manifestação podem tomar, podendo ser 
encarada como um gênero em face às suas espécies, tais como: a liberdade de 
manifestação de pensamento; liberdade de reunião; liberdade de expressão etc. 
 
Sobre o tema e com peculiar maestria, Canotilho e Vital Moreira6 tecem a 
seguinte preleção: 
 
Quer dizer: num mesmo titular podem acumular-se ou cruzar-se diversos 
direitos. Assim, por exemplo, o direito de expressão e informação (artigo 
37º) está ‘acumulado’ com a liberdade de imprensa (artigo 38º), com o 
direito de antena (artigo 40º), com o direito de reunião e manifestação 
(artigo 45º). 
 
Concernente ao conceito de manifestação, a enciclopédia online 
WIKIPÉDIA7 nos traz a seguinte definição: 
 
 
4
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. O direito de manifestação no Brasil. Jus 
Navigandi, Teresina, ano 19, n. 4005, 19 jun. 2014. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/29506. Acesso em: 
19 out. 2014. 
5 
OLIVEIRA JUNIOR, Claudomiro Batista de, Afirmação Histórica e Jurídica da Liberdade de Expressão. 
Disponível em: http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/brasilia/05_395.pdf - Acesso em 18/10/2014. 
6
 CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anotada. 3.ed. 
Coimbra: Coimbra Editora, 1993. 
7
 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesta%C3%A7%C3%A3o – Acesso em 18/10/2014. 
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/brasilia/05_395.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesta%C3%A7%C3%A3o
17 
 
Manifestação é uma forma de ação de um conjunto de pessoas em favor 
de uma causa ou em protesto contra algo. As manifestações são uma 
forma de ativismo, e habitualmente consistem numa concentração ou 
passeata, em geral com cartazes e com palavras de ordem contra ou a 
favor de algo ou alguém. As manifestações têm o objetivo de demonstrar 
(em geral ao poder instalado) o descontentamento com relação a algo ou o 
apoio a determinadas iniciativas de interesse público. É habitual que se 
atribua a uma manifestação um êxito tanto maior quanto maior o número 
de pessoas participantes. Os tópicos das manifestações são em geral do 
âmbito político, econômico, e social. 
 
Ao passo que a doutrina jurídica da citada autora portuguesa Maria Lidia 
Ramos8, conceitua manifestação da seguinte forma: 
 
A liberdade de Manifestação consiste, pois, na possibilidade de os 
cidadãos se agruparem na via pública, para exprimirem uma mensagem, 
opinião pública, sentimento ou protesto através da sua presença e/ou da 
sua voz, abrangendo gestos, emblemas, insígnias, bandeiras, cantos, 
gritos, aclamações, entre outras formas, sem exclusão do silêncio. 
 
Quanto a sua natureza jurídica, temos que o direito de manifestação 
possui natureza jurídica de direito fundamental, visto que estão atrelados a direitos 
mínimos que garantem uma vida mais digna ou no entendimento da doutrina servem 
de base para o princípio da dignidade do ser humano, visando impedir violações por 
parte do próprio Estado, buscando, inclusive, barrar abusos do Poder Público. 
 
Socorremo-nos outra vez da autora Maria Lídia9 para quem: 
 
O Direito de Manifestação, que, revestindo de natureza de um direito 
fundamental, pressupõe um encontro ou aglomerado de pessoas, no 
mesmo local, pretendendo exprimir uma opinião pública, sentimento ou 
protesto (...) tornando o direito de manifestação uma pura modalidade do 
direito de reunião. 
 
 
Por todo efeito, vê-se que o direito de manifestação possui sua gênese 
nas conquistas da sociedade ao longo da história, depreendendo-se que a luta pelo 
reconhecimento do cidadão não é apenas uma forma de protesto contra governos, 
mas uma necessidade de ser parte, pertencer à sociedade, tomar parte, participar 
como sujeito de direitos da construção do hoje e do porvir, diz respeito à própria 
 
8
 RAMOS, Maria Lídia de Oliveira. Ibidem. p.366. 
9 Ibidem. p.367. 
18 
 
materialização constitucional da mais sublime força pulsante da democracia, ser 
ouvido por todos, e ser respeitado como tal.10 
 
 
2.2. O cenário histórico do direito de manifestação no Brasil 
 
 
O Brasil tem manifestaçõesque vão construir a nação como país de 
extremas reivindicações, foi assim na revolta da chibata, na qual os marinheiros 
eram contra os castigos sofridos, na Guerra do Contestado, conflito armado entre o 
exercito e os camponeses miseráveis da região Sudoeste do Paraná e Noroeste de 
Santa Catarina. 11 
 Tivemos a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que tratou o 
nome comum de uma série de manifestações públicas ocorridas entre 19 de março 
e 08 de junho de 1964 no Brasil em resposta à suposta "ameaça comunista". Vários 
grupos sociais, incluindo o clero, o empresariado e setores políticos diversos se 
organizaram em marchas, levando às ruas mais de um milhão de pessoas com o 
intuito de derrubar o governo Goulart.12 
 Fazemos menção também as Diretas Já, que foi um dos movimentos 
de maior participação popular, da história do Brasil. Teve início em 1983, no governo 
de João Batista Figueiredo e propunha eleições diretas para o cargo de Presidente 
da República. A campanha ganhou o apoio dos partidos PMDB e PDS, e em pouco 
tempo, a simpatia da população, que foi às ruas para pedir a volta das eleições 
diretas.13 
 O povo volta a manifestar-se em 1992, após muitos anos de ditadura 
militar e eleições indiretas para presidente, uma campanha popular tomou as ruas 
para pedir o afastamento do cargo do presidente Fernando Collor de Melo. Acusado 
de corrupção e esquemas ilegais em seu governo, a campanha “Fora Collor” 
 
10
 OLIVEIRA SOBRINHO, Afonso Soares de. A luta pelo direito fundamental à manifestação pacífica: a rua 
como locus privilegiado do exercício da cidadania- Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13728 – Acesso em 19/10/2014. 
11
 FERREIRA, Bruno. A História das Revoltas e Manifestações no Brasil. Disponível em: 
http://historiabruno.blogspot.com/2013/06/a-historia-das-revoltas-e- manifestacoes.html#ixzz3GpOHXdWD – 
Acesso em 19/10/2014. 
12
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_da_Fam%C3%ADlia_com_Deus_pela_Liberdade – Acesso 
em 19/10/2014. 
13
 Disponível em: http://www.infoescola.com/historia/diretas-ja/ - Acesso em 19/10/2014. 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13728
http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13728
http://historiabruno.blogspot.com/2013/06/a-historia-das-revoltas-e-%20manifestacoes.html#ixzz3GpOHXdWD
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcha_da_Fam%C3%ADlia_com_Deus_pela_Liberdade
http://www.infoescola.com/historia/diretas-ja/
19 
 
mobilizou muitos estudantes que saíram às ruas com as caras pintadas para 
protestar contra a corrupção no país. 
 Por tudo isso, vê-se que as manifestações populares fazem parte das 
lutas históricas brasileiras, são como uma forma de comunicação e expressão 
coletiva, criando um espaço público de discussão que fazem parte sem sombra de 
dúvidas da nossa gênese política. Ou seja, a sociedade civil institui com as 
manifestações populares uma esfera que transcende a hierarquia estatal, 
possibilitando a atualização das demandas sociais junto ao Estado, traduzindo os 
diferentes interesses, lutas e discursos sociais.14 
 
2.3. O direito de manifestação previsto nos tratados e convenções 
internacionais de Direitos Humanos 
 
 Os direitos humanos são consequências da própria evolução da 
humanidade e de seu ideal libertário, principiado desde a antiguidade, não 
resultando de um acontecimento histórico único, mas de um processo complexo, 
com várias fases, como os antecedentes, o reconhecimento, as declarações, da 
positivação constitucional, a generalização, universalização e especificação.15 
 O Brasil é signatário de tratados e convenções internacionais que 
tutelam o direito de manifestação e reunião pacífica, a obrigarem sua obediência 
como norma supralegal, prevendo a Declaração Universal dos Direitos do Humanos 
em seus arts. 18, 19 e 20 da seguinte maneira: 
 
 
Artigo 18 
 
Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e 
religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a 
liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, 
pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em 
particular. 
 
 
Artigo 19 
 
 
14
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. Ibidem. p.12. 
15
 GONÇALVES, Luiz Alcione, A colisão dos direitos fundamentais nas manifestações públicas à luz da teoria da 
argumentação jurídica de Robert Alexy. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-
fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-
alexy#ixzz3Gzn5JnEw – Acesso em 20/10/2014. 
http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-alexy#ixzz3Gzn5JnEw
http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-alexy#ixzz3Gzn5JnEw
http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-alexy#ixzz3Gzn5JnEw
20 
 
Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito 
inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber 
e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente 
de fronteiras. 
 
Artigo 20 
 
Todo o homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas. 
 
 
 A Declaração universal terminou por influenciar documentos 
posteriores como a Convenção Europeia de Direitos Humanos adotada pelo 
Conselho da Europa em 1950 e em vigor desde 1953, com a finalidade de proteger 
as liberdades fundamentais e com força obrigatória para os estados signatários 
alusivos à manifestação e suas derivadas expressões (reunião, pensamento, opinião 
etc.) 
 De igual modo, o Pacto de São José da Costa Rica de 1969, prevê em 
seu art. 15: 
Artigo 15 - Direito de reunião 
 
É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício desse 
direito só pode estar sujeito às restrições previstas em lei e que se façam 
necessárias, em uma sociedade democrática, ao interesse da segurança 
nacional, da segurança ou ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a 
moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas. 
 
 Como se vê, vários dispositivos de Tratados Internacionais celebrados 
pelo governo brasileiro de forma democrática, estendem a qualquer cidadão os 
direito de se reunir para manifestar de forma pacífica, através dos diferentes 
veículos e linguagens de comunicação, o que inclui, obviamente, qualquer forma de 
manifestação: de pensamento, de crença religiosa, política etc. 
 
 Para Alexandre de Moraes16, em sua obra Direitos Humanos 
Fundamentais: 
 
Os direitos humanos fundamentais, como o direito de manifestação e 
reunião em sua concepção atualmente conhecida, surgiram como produto 
da fusão de varias fontes, desde tradições arraigadas nas diversas 
civilizações, até a conjugação dos pensamentos filosófico-jurídicos, das 
ideias surgidas com o cristianismo e com o direito natural. 
 
 Sob essa ótica pode-se afirmar que o instituto do direito de manifestação 
vai surgindo em primeiro lugar, como o resultado necessário da liberdade de 
 
16
 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da 
Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 
21 
 
pensamento, sendo a sua forma de exteriorização consolidação do Estado 
Constitucional. Surge como consequência do movimentoconstitucionalista e ao 
longo de um processo de construção política que durante mais de três séculos gerou 
o que veio a ser conhecido atualmente como o Estado Democrático de Direito17, 
tema no qual será trataremos no tópico a seguir. 
 
2.4. As manifestações populares como aprimoramento e reafirmação do 
Estado Democrático de Direito 
 
 No Estado Democrático de Direito, as manifestações populares são 
importantes para a formação da “opinião pública”, que elege dois dos três poderes. 
Legislativo e Executivo são premiados com mandatos graças à anuência do povo, 
que é detentor do poder. A escolha se faz com base nas informações, críticas, 
notícias, propagandas políticas eleitorais e partidárias.18 
 Diante do contexto de garantia dos direitos fundamentais e tendo em 
vista o vasto universo de interesses individuais existentes na sociedade pluralista 
atual, os movimentos sociais inauguram uma dinâmica política participativa capaz de 
reivindicar demandas sociais junto ao Estado, traduzindo as diferentes lutas e 
discursos da sociedade civil. 
 Segundo Beatriz Bastide Horbach19 APUD Antonio Francisco de 
Souza, um dos grandes estudiosos do tema relacionado ao direito de manifestação 
em Portugal trata da matéria da seguinte forma: 
 
Diz-me que liberdade de reunião e de manifestação praticas no teu país e 
dir-te-ei que democracia alcançaste. Com essa frase, António Francisco de 
Souza, um dos grandes estudiosos desse tema em Portugal, iniciou sua 
palestra na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 
setembro de 2012, já ressaltando, de pronto, que, sem liberdade de 
reunião e de manifestação, não há democracia de fato. 
 
17
 BOCCHI, Olsen Henrique. A liberdade de expressão no Estado Democrático de Direito. Uma abordagem ética 
e solidária. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2715, 7 dez. 2010. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/17981. 
Acesso em: 23 out. 2014. 
18
 GUERRA, Tâmara Belo. Ibidem. p. 19 
19 HORBACH, Beatriz Bastide. Restringir manifestações não é inconstitucional. Disponível em: 
http://www.conjur.com.br/2013-jul-06/observatorio-constitucional-restringir-manifestacoes-nao-inconstitucional. 
Acesso em 25/10/ 2014. 
 
http://jus.com.br/artigos/17981
http://www.conjur.com.br/2013-jul-06/observatorio-constitucional-restringir-manifestacoes-nao-inconstitucional
22 
 
 
 
 Por outro lado, a luta pelo reconhecimento do cidadão não é apenas 
uma forma de protesto contra governos, mas uma necessidade de ser parte, 
pertencer à sociedade, tomar parte, participar como sujeito de direitos da construção 
do hoje e do porvir, independente de cor, sotaque, origem, condição social e opção 
sexual ou religiosa. 
 
 Nas palavras de Afonso Soares de Oliveira Sobrinho20 
 
A luta pelos direitos diz respeito às liberdades como núcleo da dignidade 
da pessoa humana, como cidadão que é parte na república. Diz respeito à 
própria materialização constitucional da mais sublime força pulsante da 
democracia, ser ouvido por todos, e ser respeitado como tal. 
 
 
 
 Desse modo, a liberdade de manifestação, em suas variadas vertentes, 
é essencial para a manutenção do regime democrático. Especialmente quando 
demonstrada por meio de reuniões e de protestos pacíficos, auxilia o 
desenvolvimento da consciência dos cidadãos, que passam a ter acesso a novas 
informações, podem externar o que pensam, o que desejam para o país. As 
manifestações instigam o debate de temas polêmicos pela sociedade. Qualquer 
espécie de censura injustificada à liberdade de reunião deve ser reprimida, assim 
como qualquer abuso ou crime cometido por seus participantes, tema que iremos 
abordar no próximo capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20
 OLIVEIRA SOBRINHO, Afonso Soares de. A luta pelo direito fundamental à manifestação pacífica: a rua 
como lócus privilegiado do exercício da cidadania. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 117, out 2013. 
23 
 
CAPÍTULO III 
3. PROTESTOS NO BRASIL: UMA ABORDAGEM ACERCA DOS LIMITES AO 
EXERCÍCIO DO DIREITO DE MANIFESTAÇÃO ESTATUÍDO NA CF/88 
3.1. Os protestos no Brasil 
 
 Em meados de junho de 2013, uma série de protestos ocorreu em 
centenas de cidades brasileiras. Tendo inicialmente como foco de reivindicação a 
redução das tarifas do transporte coletivo, as manifestações ampliaram-se, 
ganhando um número imensamente maior de pessoas e também novas 
reivindicações. A violência policial aos atos também contribuiu para que mais 
pessoas fossem às ruas para garantir os direitos de livre manifestação.21 
Apoiadas por uma heterogeneidade de grupos (sindicatos, agremiações 
partidárias, universitários, pessoas comuns, vândalos etc.) que protestavam contra 
as mais diversas causas, tais como: aumento das tarifas de transporte público, 
propostas de Emenda à Constituição (PECs) 37 e 33, tratamento gay, ato médico, 
gastos com a Copa das Confederações e Copa do Mundo, fim da corrupção, dentre 
outras causas, as quais eclodiram de forma pulsante em todo país. 
 
Segundo Boaventura de Sousa Santos22: 
As manifestações populares ocorridas no Brasil marcaram o cenário 
histórico do país, devido a sua originalidade quanto à diversidade 
ideológica e a multiplicidade de interesses antagônicos dos diversos grupos 
sociais participantes (...)Não podia, pois, ser maior a surpresa internacional 
perante as manifestações que levaram para a rua centenas de milhares de 
pessoas nas principais cidades do país. Enquanto perante as recentes 
manifestações na Turquia foi imediata a leitura sobre as "duas Turquias", 
no caso do Brasil foi mais difícil reconhecer a existência de "dois Brasis". 
Mas ela aí está aos olhos de todos. A dificuldade em reconhecê-la reside 
na própria natureza do "outro Brasil", um Brasil furtivo a análises simplistas. 
 
De outra banda, a violência presente nas manifestações populares 
agravou a conjuntura de instabilidade no país, criando uma atmosfera de medo, 
insegurança e desordem pública. Essa atmosfera de medo impactou diretamente 
todos os cidadãos, impondo a presença das forças públicas policiais no sentido de 
 
21
 PINTO, Tales dos Santos – Manifestações Populares no Brasil. Disponível em: 
http://vestibular.brasilescola.com/atualidades/manifestacoes-populares-no-brasil.htm - Acesso em 23/10/2014. 
22
 SANTOS, Boaventura de Sousa. O preço do progresso. Carta Maior. 19/6/2013. Disponível em 
http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/O-preco-do-progresso/28736. Acesso em: 24/10/2014. 
http://vestibular.brasilescola.com/atualidades/manifestacoes-populares-no-brasil.htm
http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/O-preco-do-progresso/28736
24 
 
assegurar o direito de ir e vir do restante da população que não participava do 
movimento, manter a ordem e viabilizar o convívio social, direitos esses também 
assegurados na Constituição de 1988.23 
 
Luiz Flávio Gomes24 discorreu sobre o perfil dos manifestantes: 
O Movimento Passe Livre (MPL) adotou como pretexto inicial o aumento da 
tarifa dos ônibus. Mas ele mesmo confessou que não conta com controle 
de todos os participantes. É patente a heterogeneidade dos grupos que 
estão participando das passeatas (O Estado de S. Paulo de 15.06.13, p. 
A24), que vão desde sindicatos (dos metroviários, ferroviários etc.), 
agremiações partidárias (juventude do PT etc.), entes coletivos pós-
modernos, anarquistas, incontáveis universitários, até “tropa de choque” 
violenta, conhecida como “black blocs” (que, com panos ou lenços no 
rosto, máscaras de gás, roupas pretas e estética punk, foi o grande 
responsável pelas destruições materiais dos protestos do dia 11.06.13. 
 
Durante a realização da Copa do Mundo de 2014, tivemos de forma 
isolada, alguns protestos contra a realização do torneio, porém em menores 
proporções do que as manifestaçõesque ocorreram em 2013, talvez fragilizadas 
pela paixão do povo brasileiro pelo futebol e pela violência de alguns grupos radicais 
(Black Blocs)25 e diversos vândalos que se infiltraram nesses protestos. 
Em nosso estado Rio Grande do Norte, estudo realizado pela Consult em 
parceira com a Tribuna do Norte revelou que a maioria dos natalenses reprovou a 
realização de manifestações de rua durante o período da Copa do Mundo. 
De acordo com a pesquisa quantitativa, mais de 55% dos entrevistados 
discordam de novos protestos parecidos com os que ocorreram no ano passado 
(2013). Além de não concordar com as manifestações, o levantamento aponta que o 
natalense não tem ilusão sobre o famigerado “legado da Copa”. Para 53,18% dos 
consultados, Natal não ficará melhor após a realização do Mundial. Os moradores 
da zona Norte são os mais desesperançosos.26 
 
23
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. Ibidem. p.15. 
24
 GOMES. Luiz Flávio. Vandalismo ou juventude lúcida? Disponível em:<http://www.jus.com. 
br/revista/texto/24734/vandalismo-ou-juventude-lucida#ixzz2WnkrUvH8. Acesso em 27/10/2014. 
25
 Discorreremos sobre os Black Blocs no tópico 3.4 deste trabalho. 
26
 Disponível em: http://tribunadonorte.com.br/noticia/natalense-e-contra-protestos-durante-a-copa/283508 - 
Acesso em 25/10/2014. 
http://tribunadonorte.com.br/noticia/natalense-e-contra-protestos-durante-a-copa/283508
25 
 
Noutro norte, devemos ter em mente que os protestos devem servir para 
reivindicar direitos de forma pacífica e ordeira; e não ao contrário, conforme 
preconiza Beatriz Bastide Horbach27: 
O caráter pacífico das manifestações tem relação com o estado de 
tranquilidade ou a ausência de desordem. Não é qualquer perturbação, 
contudo, que permite a intervenção estatal para impedir a realização da 
reunião como um todo. Pequenas ocorrências podem ser consideradas 
aceitáveis e até mesmo “naturais” nos ajuntamentos de muitas pessoas. 
Apenas contra esse tipo de minoria é que deve haver intervenções 
pontuais, não apenas para garantir a segurança pública, mas também dos 
demais participantes da reunião. 
 
Destarte, os últimos protestos ocorridos no Brasil foram extremamente 
louváveis na medida em que trouxeram à baila questões fundamentais que há muito 
tempo andavam esquecidas pelos nossos governantes, tais como: educação, 
segurança, saúde, gastos públicos etc., fazendo com que o direito de manifestação 
fosse de fato exercido e ao mesmo tempo acordou a população brasileira de seu 
estado passivo, para tornar-se o braço forte do Estado.28 
 
3.2. O direito de manifestação estatuído na Constituição de 1988 
 
 
As manifestações populares repousam no manto do exercício da 
democracia, alicerçada no art. 5º da Constituição Federal de 1988, que trata dos 
direitos e deveres individuais e coletivos, com destaque para os incisos IV, IX, XV e 
XVI , in verbis: 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
 
 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença; 
 
 
 
27
 Ibidem. p.8 
28
 SUZUKI, Claudio Mikio e AZEVEDO, Vinicius Cottas. Atos contrários ao direito constitucional de livre 
manifestação: práticas ilegais- Disponível em: http://claudiosuzuki.jusbrasil.com.br/artigos/121941244/atos-
contrarios-ao-direito-constitucional-de-livre-manifestacao-praticas-ilegais. Acesso em 25/10/2014. 
http://claudiosuzuki.jusbrasil.com.br/artigos/121941244/atos-contrarios-ao-direito-constitucional-de-livre-manifestacao-praticas-ilegais
http://claudiosuzuki.jusbrasil.com.br/artigos/121941244/atos-contrarios-ao-direito-constitucional-de-livre-manifestacao-praticas-ilegais
26 
 
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo 
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair 
com seus bens; 
 
 
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos 
ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem 
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas 
exigido prévio aviso à autoridade competente; 
 
Conforme preceitua o artigo XVI transcrito, é livre o exercício de 
manifestação independentemente de autorização, sendo apenas exigido prévio 
aviso à autoridade competente sobre a reunião pública. O mesmo artigo condiciona 
a liberdade de manifestação de pensamento à identificação do autor a ocorrência 
reunião pública a fins pacíficos, vedando o caráter paramilitar. Percebe-se, então, 
que os direitos fundamentais não são amplos e irrestritos, sendo que sua efetividade 
está diretamente vinculada à observação de condições, visando o equilíbrio com os 
demais direitos existentes no ordenamento jurídico. 
Segundo Gabriela Costa Xavier29 as manifestações populares são vistas 
como uma forma de comunicação e expressão coletiva, criando um espaço público 
de discussão. Ou seja, a sociedade civil institui com as manifestações populares 
uma esfera que transcende a hierarquia estatal, possibilitando a atualização das 
demandas sociais junto ao Estado, traduzindo os diferentes interesses, lutas e 
discursos sociais. Nessa medida, o sujeito de direito individual cede lugar a um 
sujeito social e coletivo responsável pelo exercício da cidadania ativa - sujeito 
coletivo de direito. 
Nesse sentido, Eduardo de Oliveira Fernandes expõe que a defesa dos 
valores republicanos e democráticos é imprescindível para o alcance da convivência 
social madura e do bom funcionamento do Estado e da comunidade em geral: 
 
A defesa dos valores republicanos e democráticos é parte inalienável de 
uma agenda intocável de qualquer sociedade que tencione alcançar uma 
razoabilidade mínima de convivência social madura, garantindo o bom 
funcionamento do Estado, governo, sociedade civil e de todos os demais 
entes, incluindo nesse rol as pessoas físicas e jurídicas.
30
 
 
29
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. O direito de manifestação no Brasil. Jus 
Navigandi, Teresina, ano 19, n. 4005, 19 jun. 2014. Disponível em: http://www.jus.com.br/artigos/29506. Acesso 
27/10/2014. 
30
 FERNANDES. Eduardo de Oliveira. Novas manifestações democráticas e antigas dificuldades republicanas. 
02 de Julho de 2013. Defesanet. Disponível em: http://www.defesanet.com.br/riots/noticia/11360/Novas-
Manifestacoes-Democrarticas-e-Antigas-Dificuldades-Republicanas/. Acesso em: 27/10/2014. 
http://www.jus.com.br/artigos/29506
http://www.defesanet.com.br/riots/noticia/11360/Novas-Manifestacoes-Democrarticas-e-Antigas-Dificuldades-Republicanas/
http://www.defesanet.com.br/riots/noticia/11360/Novas-Manifestacoes-Democrarticas-e-Antigas-Dificuldades-Republicanas/
27 
 
 De outra banda, temos que a liberdade de reunião e de manifestação não 
são direitos absolutos, mas possuem restrições impostas pelo constituinte, além das 
que resultam da colisão com outros direitos ou valores constitucionalmente 
protegidos, tais como: os direitos de ir e vir, liberdade, segurança, vida, etc. do 
restante da população. 
 Para Beatriz Bastide Horbach31, em nosso país a proibição de qualquer 
manifestação deve ser baseada em razões fundadas. Nesse aspecto, a doutrina 
italiana entende que não é suficiente a simples menção ao perigo de alteração da 
ordem pública ou possível agressão a bens protegidos. Tal fundamentação, por ser 
complexa, faz com que seja difícil o estabelecimento de regras geraissobre limites à 
liberdade de expressão. É necessário, por conseguinte, analisar-se o caso concreto. 
 Desse modo, os direitos relativos à manifestação, como a direito de 
reunião, liberdade de expressão e de pensamento nas suas várias vertentes são 
sustentáculos da democracia, pois formam a opinião pública, porém não deve colidir 
com outros direitos fundamentais (ir e vir, por exemplo) os quais são igualmente 
valorados pelo nosso arcabouço jurídico pátrio.32 
 
3.2.1. Direito de manifestação do pensamento 
 
Na lição de Gisela Barroso Istamati33 a liberdade de manifestação do 
pensamento constitui um dos aspectos externos da liberdade de opinião. Essa 
exteriorização do pensamento pode dar-se entre interlocutores presentes ou 
ausentes. No primeiro caso em forma de diálogo, de conversação, exposição, 
conferência, palestra e etc. No segundo caso pode ocorrer entre pessoas 
determinadas, por meio de correspondência pessoal e particular (carta, telegrama, 
telefone), ou expressar-se para pessoas indeterminadas, sob a forma de livros, 
jornais, revistas, televisão, rádio etc. 
 
 
31
 Ibidem. p. 12 
32
 GUERRA, Tâmara Belo. Ibidem. p. 15 
33
 ISTAMATI, Gisela Barroso. O Supremo Tribunal Federal e a Liberdade De Expressão: Análise de Casos após 
a Constituição de 1988 – Disponível em: http://www.sbdp.org.br/ver_monografia.php?idMono=119. Acesso em 
27/10/2014. 
http://www.sbdp.org.br/ver_monografia.php?idMono=119
28 
 
 Para o ilustre professor José Afonso da Silva34: 
 
Manifestação do pensamento é o direito de exprimir, por qualquer forma, o 
que se pensa em Ciência, Religião, Arte, ou o que for. Trata-se de liberdade 
de conteúdo intelectual e supõe o contato do indivíduo com seu semelhante. 
De certo modo esta resume a própria liberdade de pensamento em suas 
várias formas de expressão. Trata-se da liberdade do indivíduo adotar a 
atitude intelectual de sua escolha: quer um pensamento íntimo, quer seja a 
tomada de posição pública; liberdade de pensar e dizer o que se crê 
verdadeiro. 
 
Mauricio Antonacci Krieger35 faz uma constatação bastante interessante a 
respeito da liberdade de pensamento e de expressão. Para o autor, a pessoa não se 
conforma em ter uma opinião sobre determinado assunto, pois é do instinto do ser 
humano querer convencer às demais pessoas que suas teses são as corretas, que o 
mundo deve ser visto conforme sua visão referente ao que pensa. 
 
Ao passo que para Celso Ribeiro Bastos36: 
 
A liberdade de pensamento nesta seara já necessita de proteção jurídica. 
Não se trata mais de possuir convicções íntimas, o que pode ser atingido 
independentemente do direito. Agora não. Para que possa exercitar a 
liberdade de expressão do seu pensamento, o homem, como visto, depende 
do direito. É preciso, pois, que a ordem jurídica lhe assegure esta 
prerrogativa e, mais ainda, que regule os meios para que se viabilize esta 
transmissão. 
 
Depreende-se que a manifestação do pensamento é um direito totalmente 
livre, cada pessoa pode pensar e refletir sobre o assunto que quiser e ter a opinião 
que bem entender. Assim, ninguém pode proibir alguém de pensar, mesmo que 
suas ideias sejam as mais absurdas possíveis, visto que, estamos falando do foro 
íntimo da pessoa, o mais íntimo de todos, o pensamento, que reflete o que cada um 
sente e esconde, os mais variados desejos e segredos. 
Entretanto, no momento que esse pensamento é expressado, da maneira 
que for, e atingir a honra de outra pessoa ou extrapolar os limites do aceitável, o 
direito surge para defender aqueles que se sentirem prejudicados, material ou 
 
34
 SILVA, José Afonso da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2008. 
35
 KRIEGER, Mauricio Antonacci. O direito fundamental da liberdade de pensamento e de expressão – 
Disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-direito-fundamental-da-liberdade-de-pensamento-e-de-
express%C3%A3o. Acesso em 27/10/2014. 
36
 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 19. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2009. p.187. 
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-direito-fundamental-da-liberdade-de-pensamento-e-de-express%C3%A3o
http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-direito-fundamental-da-liberdade-de-pensamento-e-de-express%C3%A3o
29 
 
moralmente, pelas opiniões ou reflexos do pensamento dos outros. Nestes termos, 
as consequências podem ser tanto relacionadas ao direito civil e, até mesmo, ao 
direito penal.37 
 
3.2.2. Direito de reunião 
 
 A Constituição Federal assegura a todos, brasileiros e estrangeiros 
residentes no Brasil, o livre exercício do direito de reunião, preceituando em seu o 
artigo 5º inciso XVI que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais 
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem 
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido 
prévio aviso à autoridade competente. 
Para Luiz Alcione Gonçalves38 o direito de reunião apoia-se em nosso 
sistema de Direito Constitucional Positivo, materializando-se nas manifestações 
públicas que envolvem protestos, crítica ou exposição de opiniões acerca de 
questões de interesse plúrimos, embora devam encontrar limites diante de situações 
que tornem incompatíveis o seu resguardo com a preservação e garantias de outros 
direitos constitucionais. 
O ilustre professor Manoel Jorge39 apresenta quatro elementos que 
devem estar presentes para configurar o exercício do direito de reunião: 
 
(i) Pluralidade de participantes – Para diferenciar da liberdade de 
manifestação do pensamento, posto que, nesse caso, o exercício do direito 
do indivíduo se dá de forma isolada; (ii) Duração Limitada e Caráter 
Episódico – Aqui temos o elemento tempo, pois a reunião deve ter duração 
limitada e caráter episódico; (iii) Propósito Certo – Com efeito, a reunião 
encerra propósito certo, determinado, distinguindo, assim, dos 
agrupamentos ocasionais e das aglomerações que não possuem objetivo 
voltado à discussão de temas de interesses dos indivíduos, como ocorreu 
com a liberdade de reunião. O elemento finalidade não está presente 
quando o propósito do agrupamento é diversão; (iv) Local Fechado ou Área 
Reservada – Cabe referir o elemento lugar, pois a reunião não pode ser 
realizada no meio de via pública. Deve ocorrer em local fechado ou ao 
menos em área cercada. 
 
 
37
 KRIEGER, Mauricio Antonacci. Ibidem. p. 09 
38
 GONÇALVES, Luiz Alcione. A colisão dos direitos fundamentais nas manifestações públicas à luz da teoria da 
argumentação jurídica de Robert Alexy. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-
fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-alexy. Acesso em 
28/10/2014. 
39
 SILVA NETO, Manoel Jorge e – Curso de Direito Constitucional. 6ª Ed.; Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. 
http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-alexy
http://jus.com.br/artigos/31710/a-colisao-dos-direitos-fundamentais-nas-manifestacoes-publicas-a-luz-da-teoria-da-argumentacao-juridica-de-robert-alexy
30 
 
 Regulamentando esse direito temos em nosso ordenamento jurídico 
pátrio a Lei nº 1.207, de 25 de outubro de 1950 que dispõe sobre o direito de 
reunião, assegurando que sob nenhum pretexto poderá qualquer agente do Poder 
Executivo intervir em reunião pacífica e sem armas, convocada para casa particular 
ou recinto fechado de associação, salvo no caso do § 15 do artigo 141 da 
Constituição Federal, ou quando a convocação se fizer para prática de ato proibido 
por lei. 
 
3.2.3. Direito à liberdade de expressão 
 
A Constituição Federal no artigo 5º, inciso IX, nos traz:“IX - é livre a 
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença”. 
Leciona Gisela Barroso Istamati40 que o direito à liberdade de expressão 
alberga em seu bojo um sem-números de formas e direitos conexos e que não 
podem ser restringidos a um singelo externar sensações ou intuições, com a 
ausência da elementar atividade intelectual, na medida em que a compreende. 
Dentre os direitos conexos presentes no gênero liberdade de expressão podem ser 
mencionados aqui: liberdade de manifestação de pensamento de comunicação; de 
informação; de acesso à informação; de opinião; de imprensa, mídia, de divulgação 
e de radiodifusão. 
Para Tâmara Belo Guerra41: 
 
A liberdade de expressão, dentre os direitos relativos à manifestação do 
pensamento assegurada no ordenamento jurídico, é, como visto, o mais 
amplo, uma vez que revelar-se por meio de juízos de valor ou da 
sublimação dos formatos em si, não se preocupando com o ocasional teor 
valorativo destas. É o que ocorre com manifestações como a música, o 
teatro, a pintura etc. 
 
Na Constituição de 1988 foram estabelecidos limites ao exercício da 
liberdade de expressão tais como a vedação ao anonimato, o direito de resposta e 
indenização por danos morais e patrimoniais à imagem, a preservação da 
intimidade, vida privada, honra e a imagem das pessoas, para exigir qualificação 
 
40
 Ibidem. p. 12 
41
 Ibidem. op. cit. p. 36 
31 
 
profissional dos que se dedicam aos meios de comunicação e para que seja 
assegurado a todos o direito de acesso à informação.42 
 
3.3. Alguns limites espaciais para manifestações públicas 
 
A Constituição Brasileira, em seu artigo 5º, lócus privilegiado dos direitos 
fundamentais, protege o direito de associação, mesmo em hipóteses de 
manifestações políticas. Devem tais manifestações, porém, ser realizadas 
pacificamente, em locais públicos e com aviso prévio à autoridade competente, para 
que essa possa viabilizar o trânsito, desviando rotas, e mobilizar aparato policial.43 
No quesito da limitação espacial, porém, é certo que no Brasil não há de 
se estabelecer proibição a manifestações em frente a órgãos político-
administrativos. Afinal, é em frente a esses órgãos, quando em operação, que as 
manifestações públicas podem efetivamente atingir maior repercussão. 
Para Eliomar de Lima44, é legítimo, democrático e até recomendável 
protestar, não aceitar as práticas políticas vigentes, exigir direitos, manifestar-se, 
enfim. O que não é democrático é ser violento. Quebrar vidraças de lojas e bancos, 
invadir e ocupar prédios públicos, infernizar a vida das pessoas, muitas das quais 
impossibilitadas de sair de casa, até para ir trabalhar, se constitui num um atentado 
a liberdade de ir e vir e numa afronta a Lei Maior. É, pois, uma forma de ditadura 
com efeito contrário aos justos protestos do povo. 
Assim, a limitação territorial/espacial para as manifestações públicas 
somente se justificam enquanto óbice ao exercício de outros direitos de elevado 
status, porquanto não há direito absoluto e, por conseguinte, os direitos relativos à 
manifestação do pensamento podem padecer de exceções, desde que esculpidas 
na ordem constitucional. Deve-se pontuar, ainda, a necessidade de haver equilíbrio 
entre os direitos previstos na Constituição. 
 
42
 OLIVEIRA JUNIOR, Claudomiro Batista de. Afirmação Histórica e Jurídica da Liberdade de Expressão. 
Disponível em: http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/brasilia/05_395.pdf. Acesso em 28/10/2014. 
43
 Disponível em: 
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfCooperacaoInternacional/anexo/Respostas_Venice_Forum/10Port.pdf. 
Acesso em 28/10/2014. 
44
 LIMA. Eliomar de. Por que manifestação com depredação do patrimônio público? Disponível em: 
http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/por-que-manifestacao-com-depredacao-do-patrimonio-publico/. Acesso 
em 29/10/2014. 
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/brasilia/05_395.pdf
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfCooperacaoInternacional/anexo/Respostas_Venice_Forum/10Port.pdf
http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/por-que-manifestacao-com-depredacao-do-patrimonio-publico/
32 
 
3.4. Os “Black Blocs” 
 
Os “Blacks Blocs” são um grupo formado por indivíduos com propósitos 
semelhantes de luta contra o sistema político e econômico vigente (anarquismo, 
anticapitalismo e antiglobalização) que surgiu na Alemanha nos anos 80 e nos 
Estados Unidos nos anos 90.45 
Aludem Gabriela Xavier e Thaísa Espínola46 que o referido grupo busca 
protestar contra o sistema por meio da desobediência civil e ação direta (violência 
contra a ação policial e vandalismo contra o patrimônio de grandes organizações), 
sendo seus participantes identificados por sua vestimenta preta, capuzes, rostos 
cobertos e pelas armas que carregam como paus e pedras. Ou seja, não é um grupo 
centralizado e permanente, o bloco surge conforme o contexto e não tem 
participantes fixos que identifiquem uns aos outros, e são “por isso, incontroláveis”. 
Tal grupo apropriou-se, de tal forma dos atos públicos que afastou das 
manifestações o cidadão comum, verdadeira força de um movimento popular. Atraiu 
uma antipatia que prejudicou as causas merecedoras da indignação dos cidadãos 
entre elas, obviamente, a má qualidade dos transportes, da saúde, da polícia e da 
política. Do "milhão", as passeatas recuaram para os milhares e, finalmente, as 
centenas, como nas últimas duas ocasiões.47 
Nessa conjuntura, grande parcela da população se tornou contrária às 
manifestações populares e aos movimentos sociais na forma como estavam sendo 
conduzidos, devido à mencionada violência. O sociólogo português Boaventura de 
Sousa Santos acredita que os grupos radicais como os “Blacks Blocs” afastam a 
população dos protestos, conforme posicionamento dado em entrevista à folha de 
São Paulo48: 
 
Quando o capital financeiro será cada vez mais influentes, quando as 
Monsantos conseguem pôr no Congresso a [semente] Terminator, quando 
os evangélicos dominam a agenda política, quando os ruralistas dominam a 
agenda política, os governos, mesmo que tenham uma orientação de 
esquerda, precisam ser pressionados de baixo. A partir de baixo. E essa 
 
45
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. Ibidem. p.15 
46
 Ibidem. 16 
47
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. Ibidem. p.14 
48
 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1362319-dilma-tem-grande-insensibilidade-social-
diz-guru-da-esquerda.shtml. Acesso em 29/10/2014. 
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1362319-dilma-tem-grande-insensibilidade-social-diz-guru-da-esquerda.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1362319-dilma-tem-grande-insensibilidade-social-diz-guru-da-esquerda.shtml
33 
 
pressão tem de ser pacífica. E tem de ser inclusiva. E para ser inclusiva tem 
de trazer para a rua as pessoas que nunca foram para a rua, os chamados 
despolitizados, as avós, os netos. 
 
De acordo com Marcos Antônio Duarte Silva49 algumas indagações têm 
surgido no horizonte pátrio, ante estas estratégias dos “Black Blocs”: esta forma de 
manifestação estratégica é legitima? Existe um limite estabelecido na lei dos 
possíveis limites de uma manifestação popular e seu alcance? A democracia permite 
qualquer coisa, ou este sistema tem sua forma auto protetiva? Os “Black Blocs” 
representa uma ameaça a democracia? 
O fato é que se há um sistema de governo em nosso país, se este precisa 
de reforma, de mudanças, de uma nova leitura, os meios para se fazer isto 
certamente não será quebrando e espantando as pessoas que querem 
manifestações pacificas para exigirem seu direito, visto que mesmo que se discordeda condução que o governo está tomando, é vital para manutenção das conquistas 
até agora atingidas manter o ideal de Estado Democrático de Direito, e se for 
necessário se fazer manifestações, que se faça dentro dos limites estabelecidos 
pela lei.50 
 
3.5. O direito de manifestação e o abuso de autoridade 
 
 
Conforme discorremos em linhas anteriores o direito a livre manifestação 
é uma garantia constitucionalmente prevista no artigo 5º, IV da Constituição Federal 
de 1988. Ainda o artigo 220, § 2º dispõe que é vedada toda e qualquer censura de 
natureza política, ideológica e artística.51 
De outro quadrante, temos que a manifestação pública deve ter alguns 
limites estabelecidos também por lei, por exemplo, quem danifica prédios públicos 
responde pelo crime de dano qualificado previsto no artigo 163, III do Código Penal 
 
49
 SILVA, Marcos Antônio Duarte. Os black blocs, apenas uma estratégia nas manifestações sociais? . 
Disponível em: http://www.direitopositivo.com.br/modules.php?name=Juridico&file=display&jid=418. Acesso em 
29/10/2014. 
50
 SILVA, Marcos Antônio Duarte. Ibidem. p.22 
51
 SUZUKI, Claudio Mikio e AZEVEDO, Vinicius Cottas. Atos contrários ao direito constitucional de livre 
manifestação: práticas ilegais. Disponível em: http://claudiosuzuki.jusbrasil.com.br/artigos/121941244/atos-
contrarios-ao-direito-constitucional-de-livre-manifestacao-praticas-ilegais. Acesso em 30/10/2014. 
http://www.direitopositivo.com.br/modules.php?name=Juridico&file=display&jid=418
http://claudiosuzuki.jusbrasil.com.br/artigos/121941244/atos-contrarios-ao-direito-constitucional-de-livre-manifestacao-praticas-ilegais
http://claudiosuzuki.jusbrasil.com.br/artigos/121941244/atos-contrarios-ao-direito-constitucional-de-livre-manifestacao-praticas-ilegais
34 
 
e quem comete a mesma ação contra bens privados responde pelo “caput” do artigo 
163 do referido código. 
O ato de pichar e/ou conspurcar prédios públicos ou monumentos é 
disciplinado pelo artigo 65 da Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) e tem pena de 
detenção de 3 meses a 1 ano, e multa, cabendo ainda a agravante se o bem é 
tombado em virtude de seu valor artístico, arqueológico ou histórico. 
 
 Em artigo publicado acerca do direito à livre manifestação apregoam 
Claudio Mikio Suzuki e Vinicius Cottas Azevedo52: 
 
O direito constitucional deve ser exercido de forma plena, sem excessos. A 
população merece ser ouvida, contudo, quem se aproveita desta situação 
deve ser punido conforme os mesmos ditames legais, tendo em vista a 
diferença entre a vontade e consciência de exercer um direito pátrio previsto 
na Constituição Federal e a vontade e consciência de cometer um ato ilícito, 
seja o ambiente, lugar e época que for. 
 
 
 Constate-se, assim, que em meio aos manifestantes pacíficos, foram 
infiltrados grupos criminosos, cuja única finalidade é a de praticar toda a sorte de 
crimes, principalmente aqueles contra o patrimônio, a exemplo do dano (contra o 
patrimônio público e particular), furto, roubo etc. Nesses casos, não estamos diante 
do exercício de um direito, mas sim de práticas criminosas que podem, e mais do 
que isso, devem, por lei, ser reprimidas pelo Estado.53 
 Igualmente qualquer abuso de autoridade deve ser punido. Para os 
professores Rogério Greco e William Douglas54 alguns policiais, infelizmente 
despreparados, têm feito uso excessivo da força, inclusive contra manifestantes 
pacíficos. São efetuados tiros com munição de borracha sem a devida distância de 
segurança necessária, em locais do corpo que causam perigo para a vida daquele 
que recebe os disparos. Enfim, esse abusos não podem ocorrer, e devem receber a 
devida punição por parte do Estado, após regular apuração dos fatos. 
 
 
52
 Ibidem p. 4 
53
 GRECO, Rogério e DOUGLAS, William. Segurança Pública e Movimentos Populares. Disponível em: 
http://www.rogeriogreco.com.br/?p=2288. Acesso em 30/10/2014. 
54
 GRECO, Rogério e DOUGLAS, William. Idem . p 8. 
http://www.rogeriogreco.com.br/?p=2288
35 
 
3.6. Da colisão do direito de manifestação com outros direitos 
constitucionalmente protegidos 
 
 Os direitos relativos à manifestação, como a direito de reunião, liberdade 
de expressão e de pensamento nas suas várias vertentes são sustentáculos da 
democracia, pois formam a opinião pública, porém não deve colidir com outros 
direitos fundamentais (locomoção, segurança, informação etc.) os quais são 
igualmente valorados pelo nosso arcabouço jurídico pátrio. 
 Nos dizeres de Tâmara Belo Guerra55 a colisão de direitos fundamentais 
pode surgir de duas formas: 1º. Conflito entre direitos fundamentais (colisão de 
direitos fundamentais em sentido estrito); 2º. Conflito entre direitos fundamentais e 
os bens coletivos protegidos constitucionalmente (colisão de direitos fundamentais 
em sentido amplo). 
 Sobre o tema e com peculiar maestria, CANOTILHO56 tece a seguinte 
preleção: 
 
Quer dizer: num mesmo titular podem acumular-se ou cruzar-se diversos 
direitos. Assim, por exemplo, o direito de expressão e informação (artigo 
37º) está ‘acumulado’ com a liberdade de imprensa (artigo 38º), com o 
direito de antena (artigo 40º), com o direito de reunião e manifestação 
(artigo 45º). 
 
 Deste modo, a colisão de direitos fundamentais em sentido estrito 
ocorre quando o exercício de um direito fundamental atinge outro direito fundamental 
de forma negativa, sendo que a solução aplicada às hipóteses supracitadas quando 
não sobrevier do legislador por meio da compressão dos direitos e da regra da 
proporcionalidade, será conferida aos juízes. No tópico seguinte trataremos acerca 
dessa colisão. 
 
3.6.1. Colisão com a liberdade de locomoção 
 
 A Constituição Federal de 1988 tutela o direito de locomoção ao prever 
expressamente em seu art. 5º inciso XV, nos seguintes termos: 
 
 
55 
 Ibidem. p. 43 
56
 CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anotada. 3.ed. 
Coimbra: Coimbra Editora, 1993. 
36 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo 
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair 
com seus bens; 
 
 O prefalado Luiz Alcione Gonçalves57 ensina que o direito de ir, vir e 
permanecer tem uma magnitude, uma importância e um relevo muito grande, pois, 
com a liberdade, a pessoa pode desenvolver-se em várias dimensões (física, 
espiritual, educacional, religiosa e política). E um dos aspectos dessa liberdade é o 
direito de locomoção (direito de ir, vir e permanecer), que permite ao cidadão a 
possibilidade de movimentar-se por todos os espaços públicos e privados na busca 
de integrar-se com sua sociedade, com sua família, com o poder público, seja para 
emprego, educação, saúde ou lazer. 
 Para Gabriela Xavier e Thaísa Espínola58, as manifestações obstam o 
direito de locomoção dos cidadãos na medida em que provocam o bloqueio de ruas, 
fechamento do comércio e a paralisação de diversas atividades econômicas, 
impactando o funcionamento da Cidade. 
 
 Nesse diapasão, leciona Beatriz Bastide Horbach59 que: 
 
Um direito que usualmente entra em conflito com a liberdade de 
manifestação (reunião) é a liberdade de locomoção. O bloqueio de grandes 
vias tornou-se comum nas últimas semanas. A Avenida Paulista, em São 
Paulo, que é uma das principais vias da cidade e abriga diversos hospitais e 
clínicas médicas por suas proximidades, é um claro exemplo disso. Presas 
no trânsito, pessoas que não conseguiramchegar ao trabalho, perderam 
voos e compromissos. (Grifo nosso). 
 
 Em suma, o exercício do direito de manifestação pública não pode colidir 
e por meio de seu exercício violar o direito de circulação das pessoas. Por isso, 
fazendo-se necessária a regulação do uso do espaço público, de modo que o direito 
de locomoção tanto quanto o de manifestação popular sejam respeitados, sobretudo 
porque essa atmosfera de medo impactou diretamente todos os cidadãos, impondo 
 
57
 Ibidem. p. 9 
58
 Ibidem. Op. cit. p. 8 
59
 Ibidem. p. 2. 
37 
 
a presença das forças públicas policiais no sentido de assegurar o direito de ir e vir 
do restante da população que não participava do movimento, manter a ordem e 
viabilizar o convívio social, direitos esses também assegurados na CF/88.60 
 
3.6.2. Colisão com o direito à segurança 
 
Os manifestantes devem respeitar as determinações policiais que digam 
respeito à segurança da população como um todo, uma vez que, embora tenham 
direito à liberdade de expressão do pensamento e de reunião para fins pacíficos, 
assim como o direito ambulatorial de ir e vir ou mesmo de permanecer, tais direitos 
não são absolutos e podem ceder diante do caso concreto, a exemplo do que ocorre 
quando tais manifestações impeçam a circulação do tráfego aéreo, ocupando pistas 
de aeroportos, impedindo a saída de ambulâncias dos hospitais, das locomoções 
das viaturas dos corpos de bombeiros etc.61 
 Constata-se, assim, que o direito à segurança das pessoas que 
participam e das daquelas que não fazem protestos devem ser respeitados e 
garantidos, não atrelando, e nem buscando apenas um grupo impor a todos os 
demais algo além do aceitável. O artigo 5º da Carta Magna em seu caput traz 
expressamente o direito à segurança destacando que “todos são iguais perante a lei, 
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança...” (destaquei). 
 
 Sobre o tema manifestação e segurança pública trazemos mais uma vez 
a doutrina de Rogério Greco e William Douglas62: 
 
É importante para a democracia, segurança, paz, legalidade e liberdade que 
os policiais e a população compreendam que não são inimigos, mas 
componentes da sociedade, ambos com direitos e deveres. O respeito 
mútuo é essencial, mesmo porque não estamos diante de inimigos, mas de 
brasileiros exercendo seus direitos (população) e deveres (policiais). A 
população também deve compreender que os policiais lidam com situação 
de pressão e risco, inclusive contra criminosos infiltrados e que procuram 
gerar danos e caos. Por outro lado, os policiais também precisam se 
 
60
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. Ibidem. p.11 
61
 GRECO, Rogério e DOUGLAS, William. Idem . p 10 
62
 Ibidem p. 10. 
38 
 
conscientizar de sua extrema importância e que deles se espera o mais alto 
grau de autocontrole, a fim de bem exercerem suas missões. 
 
 Antes de concluir o presente tópico é essencial deixar registrado que as 
manifestações pacíficas, sem armas, e com ordem podem e devem ser realizadas. 
Este é o limite, razoável, uma vez ser desejo de todos, quem se manifesta ou não, 
poder usar deste exercício com o mínimo de segurança e consequentemente 
tornando este ato legitimo e coerente. 
 
3.6.3. Colisão com o direito à informação 
 
 Por “informação” se entende o conhecimento de fatos, de 
acontecimentos, de situações de interesse geral e particular que implica, do ponto 
de vista jurídico, duas direções: a do direito de informar e o direito de ser 
informado.63 
 Nos ensinamentos de Tâmara Belo Guerra64 o direito de informação é 
multifacetário e envolve algumas vertentes, sendo uma garantia constitucional de 
todo ser humano e não apenas para os profissionais jornalistas. 
 
 Assim, o artigo 220, “caput”, da Constituição Federal, nos informa: 
 
Art. 220 - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a 
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer 
restrição, observado o disposto nesta Constituição. 
 
 Para Gisela Barroso Istamati65 o direito à informação não é 
simplesmente a liberdade do dono da empresa jornalística ou do jornalista. A 
liberdade destes é reflexa no sentido de que ela só existe e se justifica na medida do 
direito dos indivíduos a uma informação imparcial. A liberdade dominante é a de ser 
informado, a de ter acesso às fontes de informação, a de obtê-la. 
 Durante as manifestações ocorridas no Brasil, nos deparamos diversas 
vezes com a colisão do direito de manifestação e o direito à informação, citamos, por 
exemplo, os manifestantes agredindo repórteres jornalísticos e depredando o seu 
 
63
 ISTAMATI, Gisela Barroso. Ibidem. p. 14 
64
 Ibidem op. Cit. p. 25. 
65
 Ibidem. p. 14. 
39 
 
material de trabalho (câmara fotográfica, microfones, veículos de imprensa etc.) 
numa clara ofensa ao direito à informação das outras pessoas que não participavam 
dos protestos, mas que têm o direito de saber, diga-se, de serem informados pelos 
meios de comunicação acerca dessas manifestações. 
 Um caso que retrata bem essa questão foi à morte do cinegrafista da 
"TV Bandeirantes", Santiago Andrade, ferido em uma explosão durante uma 
manifestação no Rio de Janeiro, onde manifestantes o atingiram na cabeça com um 
rojão quando registrava o protesto. 
 Por tudo isso, vê-se que o direito de manifestação é fundamental para a 
democracia, mas a violência é inaceitável. O cidadão tem o direito de protestar, mas 
a imprensa também tem o direito de informar. Esse aparente conflito de normas 
constitucionais deve ser resolvido mediante o princípio da ponderação e da 
proporcionalidade, podendo, às vezes, ser solucionado pelo equacionamento 
proclamado no próprio texto constitucional. 
 
3.7. Panorama jurídico atual acerca da regulação do direito de manifestação 
 
 Por causa das manifestações populares ocorridas no Brasil 
recentemente veio à tona a premente necessidade de regulamentação e 
estabelecimento de limites acerca do direito de livre manifestação, com o intuito de 
garantir e proteger este e os demais direitos constitucionalmente garantidos.66 
 Na atualidade, não há legislação vigente no Brasil que regulamente o 
direito à livre manifestação e, dada a essa ausência, os manifestantes em 2013 
foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional nº 7.170/1983 e na Lei de 
Organização Criminosa nº 12.850/2013, o que trouxe indignação dos partidários dos 
movimentos sociais, uma vez que não se mostra razoável enquadrar os militantes 
democráticos com base em lei que contém resquícios ditatoriais ou como 
criminosos, respectivamente.67 
 Relata Gabriela Costa Xavier e Thaísa Espínola, que há quatorze 
projetos de lei propondo a regulamentação do direito de manifestar foram 
apresentados no Congresso Nacional, a maioria enviada após as manifestações de 
 
66
 GONÇALVES, Luiz Alcione. Ibidem p. 18. 
67
 XAVIER, Gabriela Costa; ESPÍNOLA, Thaísa Ferreira Amaral Gomes. Ibidem. p.15. 
40 
 
junho de 2013, sendo que dez desses projetos estão tramitando na Câmara de 
Deputados e quatro no Senado Federal. Os assuntos tratados nos projetos são 
diversos e envolvem o mesmo tema: regulação geral dos protestos, proibição o uso 
de máscaras, proibição do uso de armas de baixa letalidade e alteração ou criação 
de novos crimes. 
 No que tange aos projetos que tramitam na Câmara dos Deputados, 
pode-se destacar, por exemplo, o projeto de lei nº 6198/2013, que apresenta a 
seguinte ementa: 
 
Inclui o art. 40-A ao Decreto-lei 3.688, de 3 de outubro de 1941, que trata 
das Contravenções

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