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Ciências jurídicas

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS 
JURÍDICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 
UNIDADE 1 – MORAL, TEORIAS ÉTICAS E O DIREITO ......................................... 7 
1.1 MORAL ................................................................................................................ 7 
1.2 ÉTICA E SUAS FUNÇÕES ...................................................................................... 12 
1.3 TEORIAS ÉTICAS ................................................................................................. 14 
1.4 DIREITO E MORAL ............................................................................................... 17 
1.5 DIREITO E EQUIDADE ........................................................................................... 20 
1.6 DIREITO E JUSTIÇA .............................................................................................. 21 
UNIDADE 2 – BIODIREITO ...................................................................................... 24 
2.1 CONCEITO E PILARES QUE REGEM O BIODIREITO ................................................... 25 
2.2 AS FONTES DO BIODIREITO .................................................................................. 27 
2.3 PRINCÍPIOS QUE REGEM O BIODIREITO ................................................................. 28 
2.4 EUTANÁSIA, BIOPIRATARIA E OUTROS TEMAS DO BIODIREITO .................................. 33 
UNIDADE 3 – A LIBERDADE DE EXPRESSÃO ..................................................... 44 
UNIDADE 4 – VERBETES FUNCIONAIS DO DIREITO ........................................... 48 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68 
 
 
 26 
INTRODUÇÃO 
 
Ética, moral, justiça, equidade, princípios, liberdade...essas são condições ou 
qualidades requeridas como ideais em vários momentos da vida, por isso, 
dedicamos este módulo para refletir um pouco sobre tais temas, os quais fazem 
sentido para todas as áreas do conhecimento humano, principalmente na seara do 
Direito. 
Produto da cultura humana que vem se desenvolvendo e aprimorando ao 
longo dos séculos e, por isso mesmo, diretamente vinculada aos valores (que 
consideramos como bons e justos) recebidos dos nossos antepassados, a ética vem 
permeando a vida de cada ser humano, passando por momentos de indiferença, de 
vivacidade, de aprimoramento, de conscientização, enfim, a ética está sempre 
presente em nossas vidas. 
Segundo Kazmierczak (2008), sempre que falamos em ética, temos a ideia de 
um comportamento ideal, um comportamento conforme o padrão adotado por uma 
coletividade. 
 
Figura 1: Direito, Moral e Ética. 
Fonte: http://www.coladaweb.com 
 
Historicamente, com o passar do tempo, e com a submissão das civilizações 
por outras mais poderosas, tornou-se claro que determinados valores acreditados 
como bons e justos para determinada coletividade, apresentavam-se como não tão 
certos para outras, justamente pelo fato de não possuirmos uma forma moral exata, 
já que a moral e o justo tomam proporções e conceitos diversos, nas diversas 
populações, com visões totalmente subjetiva e adaptada ao modo de viver de cada 
região do mundo, com diferentes culturas e modos de vida. 
A moral e a ética estão, assim, estreitamente ligadas aos processos de 
evolução e de mudança da história. Nos dias de hoje, as palavras ética e moral são 
abordadas constantemente nas instituições conhecidas por nós como a igreja, 
família e algumas organizações culturais que têm o objetivo de cultivar em cada um 
os valores éticos condizentes com a realidade em que vivemos, porém, resgatando 
ensinamentos básicos como ações humanitárias, igualdade entre todos e respeito às 
outras pessoas. 
Somam-se aqui questões relativas à liberdade de expressão e o Biodireito, 
ambos convergindo para garantir o respeito que o ser humano merece. 
A liberdade de expressão, espécie do gênero Direito Fundamental, é a base 
da qual emanam inúmeros outros direitos de liberdade. É a partir dela que o 
indivíduo tem a possibilidade de externar, expressar seus pensamentos, suas ideias, 
seus sentimentos e emoções, suas opiniões sobre os mais variados temas, desde 
convicções filosóficas, políticas, religiosas, bem como se manifestar cultural, artística 
e cientificamente, o que lhe permite uma interação com o meio social; comunicando-
se, transmitindo e recebendo informações; educando e sendo educado; adquirindo e 
repassando o conhecimento. Isto faz do ser humano não um mero espectador 
passivo e inerte da vida em sociedade, mas um efetivo integrante; um agente 
produtor e transformador da realidade que o circunda (VIANNA, 2013). 
Biodireito é um termo que pode ser entendido no sentido de abranger todo o 
conjunto de regras jurídicas já positivadas e voltadas a impor – ou proibir – uma 
conduta médico-científica e que sujeitem seus infratores às sanções por elas 
previstas (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
Para completar o módulo, dispomos ao final os verbetes funcionais do 
direito. 
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se 
fazem necessárias: 
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas 
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da 
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao 
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira 
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo 
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo 
original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que 
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também 
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser 
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos 
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de 
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado 
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 
3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação 
reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu 
julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de 
direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé 
ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento. 
4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições 
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento 
crítico. 
5) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou 
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para 
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Por fim: 
6) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para 
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última 
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + 
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis 
 
1
 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou 
similares. 
 
2
 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0.Editora 
Positivo, 2005. 
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material 
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 
UNIDADE 1 – MORAL, TEORIAS ÉTICAS E O DIREITO 
 
1.1 Moral 
O termo moral é utilizado hoje em dia de maneiras muito diferentes, 
dependendo dos contextos. Essa multiplicidade de usos dá lugar a muitos mal-
entendidos. Vamos observar que a palavra moral é algumas vezes empregada como 
substantivo, outras vezes como adjetivo, e que ambos os usos encerram, por sua 
vez, diferentes significações de acordo com os contextos. 
Ao empregarmos o termo moral como substantivo (“a moral”, com minúscula 
e artigo definido), estaremos nos referindo a um conjunto de princípios, preceitos, 
comandos, proibições, permissões, normas de conduta, valores e ideais de vida boa 
que, em seu conjunto, constituem um sistema mais ou menos coerente, próprio de 
um grupo humano concreto em uma determinada época histórica. 
Nesse uso do termo, a moral é um sistema de conteúdos que reflete 
determinada forma de vida. Esse modo de vida não costuma coincidir totalmente 
com as convicções e os hábitos de todos e de cada um dos membros da sociedade 
tomados isoladamente. Por exemplo, dizer que os romanos da época da República 
eram pessoas trabalhadoras, austeras e combativas não significa que não houvesse 
entre eles alguns que não merecessem tais qualificativos morais, e ainda assim tem 
sentido manter essa descrição geral como síntese de um modo de ser e de viver que 
contrasta com o de outros povos e com o que foram os próprios romanos mais tarde, 
digamos, no Baixo Império. 
A moral é, portanto, nessa acepção do termo, um determinado modelo ideal 
de boa conduta socialmente estabelecido e, como tal, pode ser estudado pela 
Sociologia, pela História, pela Antropologia Social e pelas outras Ciências Sociais. 
No entanto, essas disciplinas adotam um enfoque claramente empírico, e desse 
modo estabelecem um tipo de saber que chamamos de teórico, ao passo que a 
Ética pretende orientar a ação humana (ainda que de uma forma indireta), e em 
consequência deve ser incluída entre os saberes práticos. 
Ainda como substantivo, o termo moral pode ser usado para fazer referência 
ao código de conduta pessoal de alguém, como quando dizemos que “Fulano possui 
uma moral muito rígida” ou que “Beltrano carece de moral”. Falamos então do 
código moral que guia os atos de uma pessoa concreta ao longo de sua vida: trata-
se de um conjunto de convicções e pautas de conduta que costuma constituir um 
sistema mais ou menos coerente e serve de base para os juízos morais que cada 
um faz dos outros e de si mesmo. Esses juízos, quando são emitidos em condições 
ótimas de suficiente informação, serenidade, liberdade, entre outras, são chamados 
às vezes de “juízos ponderados” (CORTINA; MARTINEZ, 2009). Tais conteúdos 
morais concretos, pessoalmente assumidos, são uma síntese de dois elementos: 
a. o patrimônio moral do grupo social a que alguém pertence; e, 
b. a própria elaboração pessoal com base no que alguém herdou do grupo; 
essa elaboração pessoal está condicionada por diferentes circunstâncias, tais como 
idade, condições socioeconômicas, biografia familiar, temperamento, habilidade para 
raciocinar corretamente, entre outras. 
Embora em geral a maior parte dos conteúdos morais do código moral 
pessoal coincida com os do código moral social, não é obrigatório que seja assim. 
De fato, os grandes reformadores morais da humanidade, tais como Confúcio, Buda, 
Sócrates ou Jesus Cristo, foram em certa medida rebeldes ao código moral vigente 
em seu mundo social. 
Outro modo de encontrarmos o termo Moral, ainda substantivo, só que agora 
com inicial maiúscula, para referir-se a uma “ciência que trata do bem em geral, e 
das ações humanas conforme marcadas pela bondade ou pela malícia”. Pois bem, 
essa suposta ciência do bem em geral, a rigor, não existe. O que existe é uma 
variedade de doutrinas morais (moral católica, moral protestante, moral comunista, 
moral anarquista, entre outras) e uma disciplina filosófica, a Filosofia Moral ou Ética, 
que por sua vez contém uma variedade de éticas diferentes, e até contrapostas 
entre si (ética socrática, ética aristotélica, ética kantiana, entre outras). 
Temos de insistir na distinção entre os dois níveis lógicos que representam as 
doutrinas morais e as teorias éticas: enquanto as primeiras tratam de sistematizar 
um conjunto concreto de princípios, normas, preceitos e valores, as segundas 
constituem uma tentativa de explicar um fato: o fato de que os seres humanos se 
orientam por códigos morais, o fato de que existe moral. 
Mas a verdade é que no momento de elaborar determinada doutrina moral, 
utilizam-se elementos tomados das teorias éticas, e vice-versa. De fato, as doutrinas 
morais costumam ser construídas mediante a conjunção de elementos tomados de 
diferentes fontes, sendo as mais significativas dentre elas: 
1. as tradições ancestrais acerca do bem e do mal, transmitidas de geração 
em geração; 
2. as confissões religiosas, com seu correspondente conjunto de crenças e as 
interpretações dadas pelos dirigentes religiosos a tais crenças; 
3. os sistemas filosóficos (com sua correspondente Antropologia filosófica, 
sua Ética e sua Filosofia social e política) de mais sucesso entre os intelectuais e a 
população. 
Precisamos não confundir que as doutrinas morais permanecem no plano das 
morais concretas (linguagem-objeto), ao passo que as teorias éticas pretendem 
remontar a reflexão até o plano filosófico (metalinguagem que considera as morais 
concretas uma linguagem-objeto). 
Para irmos fechando essas reflexões acerca da palavra moral como 
substantivo, vejamos a sua expressão no masculino, dos tipos: “ter o moral bem 
elevado”, “estar com o moral alto”, e outras semelhantes. Aqui, moral é sinônimo de 
“boa disposição de espírito”, “ter forças, coragem ou confiança suficiente para fazer 
frente – com dignidade humana – aos desafios que a vida nos apresenta”. Essa 
definição tem uma profunda significação filosófica, sendo que a partir dessa 
perspectiva, a moral não é apenas um saber, nem um dever, mas, sobretudo, uma 
atitude e um caráter, uma disposição da pessoa inteira que abarca o cognitivo e o 
emocional, as crenças e os sentimentos, a razão e a paixão, em suma, uma 
disposição de espírito (individual ou comunitária) que surge do caráter que se tenha 
forjado previamente (CORTELA, MARTINEZ, 2009). 
Por fim, os autores acima colocam uma última possibilidade de empregar o 
termo “moral” como substantivo genérico: “a moral”. Desse modo, estaremos nos 
referindo a uma dimensão da vida humana: a dimensão moral, ou seja, essa faceta 
compartilhada por todos que consiste na necessidade inevitável de tomar decisões e 
levar a termo ações pelas quais temos que responder diante de nós mesmos e 
diante dos outros, necessidade que nos impulsiona a buscar orientações nos 
valores, princípios e preceitos que constituem a moral no sentido que expusemos 
anteriormente. 
Mas, e moral como adjetivo? 
A maioria das expressões em que aparece esse adjetivo estão relacionadas 
com a Ética, mas nem todas: por exemplo, quando dizemos que temos “certeza 
moral” sobre algo, normalmente queremos dizer que acreditamos firmemente nesse 
algo, embora não tenhamos provas que possam confirmá-lo ou desmenti-lo. Esse 
uso do adjetivo “moral” é, em princípio, alheio à moralidade, e se situa em um âmbito 
meramente psicológico, no entanto, em outras expressões como “virtude moral”, 
“valores morais” entre outras, há uma referência constante a essa dimensão da vida 
humana chamada de “a moralidade”. 
Em princípio, o adjetivo moral tem sentidos diferentes: 
1. moral como oposto a imoral, por exemplo, diz-se que este ou aquele 
comportamento é imoral, ao passo que aquele outro é um comportamento 
realmente moral. Nessesentido, é usado como termo valorativo, porque 
significa que uma determinada conduta é aprovada ou reprovada; aqui se 
está utilizando “moral” e “imoral” como sinônimo de moralmente “correto” e 
“incorreto”. Esse uso pressupõe a existência de algum código moral que 
serve de referência para emitir o correspondente juízo moral. Assim, por 
exemplo, pode-se emitir o juízo “a vingança é imoral” e compreender que 
esse juízo pressupõe a adoção de algum código moral concreto para o qual 
essa afirmação é válida, ao passo que outros códigos morais – digamos, os 
que aceitam a Lei de Talião – não aceitariam a validade desse juízo; 
2. moral como oposto a amoral, por exemplo, a conduta dos animais é amoral, 
isto é, não tem nenhuma relação com a moralidade, pois se supõe que os 
animais não são responsáveis por seus atos. Menos ainda os vegetais, os 
minerais ou os astros. Em contrapartida, os seres humanos que atingiram um 
desenvolvimento completo, e na medida em que possam ser considerados 
“senhores de seus atos”, têm uma conduta moral. Os termos “moral” e 
“amoral” assim entendidos não avaliam, mas descrevem uma situação: 
expressam que uma conduta é ou não suscetível de qualificação moral 
porque reúne, ou não reúne, os requisitos indispensáveis para ser posta em 
relação com as orientações morais (normas, valores, conselhos, entre outras). 
A Ética tem que esclarecer quais são concretamente esses requisitos ou 
critérios que regulam o uso descritivo do termo “moralidade”. Essa é uma de suas 
tarefas principais, por ora, esta segunda acepção de “moral” como adjetivo é mais 
básica que a primeira, uma vez que só pode ser qualificado de “imoral” ou de “moral” 
no primeiro sentido aquilo que possa ser considerado “moral” no segundo sentido. 
Embora o termo “moralidade” seja utilizado frequentemente em referência a 
algum código moral concreto (por exemplo, quando se usam expressões como 
“duvido da moralidade de seus atos” ou “fulano é um defensor da moralidade e dos 
bons costumes”), esse termo também é utilizado com outros sentidos diferentes, dos 
quais vamos destacar mais dois: 
a) Por um lado, distingue-se “moralidade” de outros fenômenos humanos 
como “legalidade”, “religiosidade”, entre outros. Em muitos contextos emprega-se o 
termo “moralidade” para denotar essa dimensão da vida humana a que acima nos 
referimos como “a moral” (substantivo genérico): trata-se dessa forma comum às 
diversas morais concretas que nos permite reconhecê-las como tais apesar da 
heterogeneidade de seus respectivos conteúdos. Nesse sentido, “moralidade” seria 
sinônimo de “vida moral” em geral. 
Houve muitos tipos de moral ao longo da história, e hoje em dia é evidente a 
existência de uma pluralidade de formas de vida e de códigos diferentes coexistindo 
– nem sempre convivendo – no seio de nossas complexas sociedades modernas. 
No entanto, apesar de sua diversidade de conteúdos, pode perceber-se a moral ou a 
moralidade em uma série de características comuns às diferentes propostas morais. 
 Toda moral se cristaliza em juízos morais (“essa conduta é boa”, “aquela é 
uma pessoa honrada”, “essa divisão foi justa”, “não se deve agredir o 
próximo”, entre outros). 
 Os juízos morais correspondentes a diferentes tipos de moral apresentam 
certas afinidades: 
- no aspecto formal, os juízos morais fazem referência a atos livres, 
responsáveis e imputáveis, o que permite supor em nós, seres humanos, uma 
estrutura biopsicológica que torna possível e necessária a liberdade de escolha e as 
subsequentes responsabilidade e imputabilidade – uma “moral como estrutura”; 
- quanto ao conteúdo, os juízos morais coincidem ao se referir ao que os 
seres humanos anseiam, querem, desejam, necessitam, consideram valioso ou 
interessante. No entanto, é conveniente distinguir dois tipos de juízos segundo o 
conteúdo: os que se referem ao justo e os que tratam sobre o bom. Os primeiros 
apresentam um aspecto de exigibilidade, de auto-obrigação, de prescritividade 
universal, entre outros, ao passo que os segundos nos mostram uma modesta 
aconselhabilidade em relação ao conjunto da vida humana. Esses dois tipos de 
juízos não expressam necessariamente as mesmas coisas em todas as épocas e 
sociedades, de modo que cada moral concreta difere das demais quanto ao modo 
de entender as noções do justo e do bom e na ordem de prioridades que 
estabelecem em cada uma. 
Vemos, portanto, que a moralidade é um fenômeno muito complexo, que por 
isso admite diversas interpretações: mas não devemos perder de vista o fato de que 
essa variedade de concepções morais evidencia a existência de uma estrutura 
comum dos juízos em que se expressam, e que essa estrutura moral comum remete 
a um âmbito particular da vida humana, um âmbito diferente do jurídico, do religioso 
ou do da mera cortesia social: o âmbito da moralidade. 
Por fim, podemos conferir ao termo moralidade, um sentido claramente 
filosófico que consiste em contrapor “moralidade” a “eticidade” que veremos mais 
adiante. 
 
1.2 Ética e suas funções 
Frequentemente utiliza-se a palavra “ética” como sinônimo do que 
anteriormente chamamos de “moral”, ou seja, esse conjunto de princípios, normas, 
preceitos e valores que regem a vida dos povos e dos indivíduos. A palavra “ética” 
do grego ethos, significava originariamente “morada”, “lugar em que vivemos”, mas 
posteriormente passou a significar “o caráter”, o “modo de ser” que uma pessoa ou 
um grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por sua vez, o termo “moral” procede do 
latim mos, moris, que originariamente significava “costume”, mas em seguida passou 
a significar também “caráter” ou “modo de ser”. 
Desse modo, “ética” e “moral” confluem etimologicamente em um significado 
quase idêntico: tudo aquilo que se refere ao modo de ser ou caráter adquirido como 
resultado de pôr em prática alguns costumes ou hábitos considerados bons. 
Dadas essas coincidências etimológicas, não é de estranhar que os termos 
“moral” e “ética” apareçam como intercambiáveis em muitos contextos cotidianos: 
fala-se, por exemplo, de uma “atitude ética” para designar uma atitude “moralmente 
correta” segundo determinado código moral; ou diz-se que um comportamento “foi 
pouco ético” para significar que não se ajustou aos padrões habituais da moral 
vigente. Esse uso dos termos “ética” e “moral” como sinônimos está tão difundido 
que não vale a pena tentar impugná-la. Mas convém ter consciência de que esse 
uso denota, na maioria dos contextos, o que aqui denominamos “a moral”, ou seja, a 
referência a algum código moral concreto. 
Para nos referirmos à Filosofia Moral é preciso distinguir moral de ética. 
Chamamos de “moral” esse conjunto de princípios, normas e valores que cada 
geração transmite à geração seguinte na confiança de que se trata de um bom 
legado de orientações sobre o modo de se comportar para viver uma vida boa e 
justa. E chamamos de “Ética” essa disciplina filosófica que constitui uma reflexão de 
segunda ordem sobre os problemas morais. A pergunta básica da moral seria então: 
“O que devemos fazer?”, ao passo que a questão central da Ética seria antes: “Por 
que devemos?”, ou seja, “Que argumentos corroboram e sustentam o código moral 
que estamos aceitando como guia de conduta?”. 
A caracterização da Ética como Filosofia moral leva-nos a enfatizar que essa 
disciplina não se identifica, em princípio, com nenhum código moral determinado. 
Pois bem, isso não significa que permaneça “neutra” diante dos diferentes códigos 
morais que existiram ou possam existir. Tal “neutralidade” ou “assepsia axiológica” 
não é possível, uma vez que os métodos e objetivos próprios da Ética a 
comprometem com certos valores e a obrigam a denunciar alguns códigos morais 
como “incorretos”, ou até mesmo como “desumanos”, enquanto outros podem ser 
reafirmados por ela na medida em que os considere “razoáveis”, “recomendáveis” ou 
até mesmo “excelentes”.No entanto, concordamos com Cortina e Martinez (2009) ao dizerem que não 
é certo a investigação ética nos levar a recomendar um único código moral como 
racionalmente preferível. Dada a complexidade do fenômeno moral e a pluralidade 
de modelos de racionalidade e de métodos e enfoques filosóficos, o resultado tem 
que ser necessariamente plural e aberto. Mas isso não significa que a Ética fracasse 
em seu objetivo de orientar de modo mediato a ação das pessoas. 
Em primeiro lugar, porque diferentes teorias éticas podem dar como resultado 
algumas orientações morais muito semelhantes (a coincidência em certos valores 
básicos que, embora não estejam de todo incorporados à moral vigente, são 
justificados como válidos). 
Em segundo lugar, porque é muito possível que os progressos da própria 
investigação ética cheguem a evidenciar que a missão da Filosofia moral não é a 
justificação racional de um único código moral propriamente dito, e sim um quadro 
geral de princípios morais básicos dentro do qual diferentes códigos morais mais ou 
menos compatíveis entre si possam legitimar-se como igualmente válidos e 
respeitáveis. O quadro moral geral assinalaria as condições que todo código moral 
concreto teria que cumprir para ser racionalmente aceitável, mas essas condições 
poderiam ser cumpridas por uma pluralidade de modelos de vida moral que 
rivalizariam entre si, mantendo-se desse modo um pluralismo moral mais ou menos 
amplo. 
Enfim, à Ética cabe uma tripla função: 
1) esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos; 
2) fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as razões 
que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente; e, 
 3) aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas 
duas primeiras funções, de maneira que se adote nesses âmbitos sociais uma moral 
crítica (ou seja, racionalmente fundamentada), em vez de um código moral 
dogmaticamente imposto ou da ausência de referências morais. 
Ao longo da história da Filosofia ofereceram-se diferentes modelos éticos que 
procuram cumprir as três funções anteriores: são as teorias éticas. As éticas 
aristotélica, utilitarista, kantiana e discursiva são bons exemplos desse tipo de 
teorias. São constructos filosóficos, geralmente dotados de um alto grau de 
sistematização, que tentam dar conta do fenômeno da moralidade em geral, e da 
preferibilidade de certos códigos morais na medida em que estes se ajustam aos 
princípios de racionalidade que regem o modelo filosófico de que se trata, vistos na 
sequência. 
 
1.3 Teorias éticas 
As doutrinas morais são sistematizações de algum conjunto de valores, 
princípios e normas concretos, como é o caso da moral católica, ou da protestante, 
ou da moral laicista implantada pelos regimes inspirados no marxismo-Ieninismo. 
Tais “sistemas morais” ou “doutrinas morais” não são propriamente teorias 
filosóficas, ao menos no sentido técnico da palavra “Filosofia”, embora às vezes 
possam ser expostos por seus correspondentes moralistas com o uso de 
ferramentas da Filosofia para conseguir certa coerência lógica e expositiva 
(CORTINA; MARTINEZ, 2009). 
As teorias éticas, diferentemente das morais concretas, não buscam de modo 
imediato responder a perguntas como “O que devemos fazer?” ou “De que modo 
deveria organizar-se uma boa sociedade?”, e sim a estas outras: “Por que existe 
moral?”, “Quais motivos - se é que existem - justificam que continuemos a utilizar 
alguma concepção moral concreta para orientar nossas vidas?”, “Quais motivos - se 
é que existem - avalizam a escolha de uma determinada concepção moral diante de 
outras concepções rivais?”. 
As doutrinas morais se oferecem como orientação imediata para a vida moral 
das pessoas, ao passo que as teorias éticas pretendem antes dar conta do 
fenômeno da moralidade em geral. Como é de imaginar, a resposta oferecida pelos 
filósofos a essas questões está muito longe de ser unânime. Cada teoria ética 
oferece uma determinada visão do fenômeno da moralidade e o analisa a partir de 
uma perspectiva diferente. Todas elas estão construídas praticamente com os 
mesmos conceitos, porque não é possível falar de moral prescindindo de valores, 
bens, deveres, consciência, felicidade, finalidades da conduta, liberdade, virtudes, 
entre outros. A diferença que observamos entre as diversas teorias éticas não 
provém, portanto, dos conceitos com que lidam, mas do modo como os ordenam 
quanto a sua prioridade e dos métodos filosóficos que empregam (CORTINA, 
MARTINEZ, 2009). 
Retrospectivamente, as teorias éticas vieram se construindo no Ocidente a 
partir de Sócrates (século V a.C.) ou talvez antes com os pré-socráticos. 
Aristóteles foi o primeiro filósofo a elaborar tratados sistemáticos de Ética. O 
mais influente desses tratados, a Ética a Nicômaco, continua a ser reconhecido 
como uma das obras-primas da filosofia moral. Ele afirma que existe moral porque 
os seres humanos buscam inevitavelmente a felicidade, a ventura, e para alcançar 
plenamente esse objetivo necessitam das orientações morais. Ele também nos 
proporciona critérios racionais para averiguar que tipo de comportamentos, quais 
virtudes, em suma, que tipo de caráter moral é o adequado para essa finalidade. 
Enfim, Aristóteles entende a vida moral como um modo de autorrealização e, 
por isso, dizemos que a ética aristotélica pertence ao grupo das éticas 
eudemonistas, porque assim se aprecia melhor a diferença em relação a outras 
éticas. 
A ética passou pelo período helenista (epicurismo e estoicismo). O epicurismo 
é ética hedonista, isto é, uma explicação da moral em termos de busca da felicidade 
entendida como prazer, como satisfação de caráter sensível. Já o sábio estoico é o 
que consegue conquistar os bens internos e desprezar os externos, chegando a ser, 
nas palavras de Sêneca, “artífice da própria vida”. 
Na Antiguidade Clássica e na Idade Média (Santo Agostinho e Santo Tomás 
de Aquino são os ícones) podemos agrupar as éticas que tiveram como base última 
de sustentação a pergunta pelo “ser”, isto é, pela verdadeira realidade das coisas, 
incluindo as coisas humanas, como a moralidade. 
Num segundo momento, da filosofia moderna, de Descartes até princípios do 
século XX, as reflexões em torno da ética passam pela consciência (CORTINA E 
MARTINEZ, 2009). 
Mais contemporaneamente podemos falar da ética em termos de linguística, 
ou seja, a existência da linguagem e da argumentação são os fenômenos que levam 
ou que buscam sentido. 
Não seguimos uma ordem cronológica estrita, pois, em última instância, os 
três enfoques que acabamos de mencionar se sobrepõem entre si à medida que vão 
surgindo na história, mas pensamos que um agrupamento semelhante pode ser útil 
para compreender alguns elementos importantes das teorias expostas. 
O contexto cultural no qual surgiram as diferentes teorias passa, sem dúvida 
pelos antigos gregos que se somou ao elemento latino, graças à assimilação que os 
romanos fizeram do grego, acrescentando àquele legado sua própria contribuição. 
Posteriormente, com a expansão do cristianismo, o componente greco-Iatino de 
nossa cultura se enriqueceu com a contribuição oriental da sabedoria judaica – 
condensada no Antigo Testamento – e com a própria contribuição cristã reunida no 
Novo Testamento. Desse modo, a cultura ocidental foi se configurando – como 
quase todas as culturas – como uma cultura mestiça, na qual convivem – nem 
sempre em harmonia – elementos de procedência muito diferente. Não se deveria 
perder esse fato de vista no momento de compreender as tensões que percorrem a 
história da Filosofia em geral, e da Ética em particular. Mas, longe de encarar essa 
mestiçagem como um defeito e tais tensões como obstáculos, afirmamos antes o 
contrário: a mestiçagem é fecunda e as tensões são condições de possibilidade de 
desenvolvimento (CORTINA; MARTINEZ, 2009). 
De fato,embora a história da Ética reúna uma diversidade de teorias, 
frequentemente contrapostas, isso não deve nos levar à ingênua conclusão de que 
qualquer uma delas poderia ser válida para nós – seres humanos do princípio do 
século XXI - nem tampouco à desesperança da inferência de que nenhuma delas 
pode trazer nada para a resolução de nossos problemas. Ao contrário, o que a 
sucessão histórica das teorias revela é a enorme fecundidade de uma invenção 
grega – a Ética – que soube se adaptar aos problemas de cada época elaborando 
novos conceitos e esboçando novas soluções. A questão que deve ocupar os éticos 
de hoje é a de perfilar novas teorias éticas que possamos considerar à altura de 
nosso tempo. 
 
1.4 Direito e moral 
A palavra direito corresponde à ideia de regra, direção, sem desvio. Em 
sentido mais amplo, podemos dizer que a palavra “direito” tem três sentidos: 1º - 
regra de conduta obrigatória (direito objetivo); 2º - sistema de conhecimentos 
jurídicos (ciência do direito); e, 3º - faculdade ou poderes que tem ou pode ter uma 
pessoa, ou seja, o que pode uma pessoa exigir de outra (direito subjetivo). 
O direito positivo é direito vigente, histórico, efetivamente observado, passível 
de ser imposto coercitivamente, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, 
costumes, resoluções, regulamentos, decretos, decisões dos tribunais, entre outros. 
É o direito terminável na história de um país com pouca margem de erro, por se 
encontrar em documentos históricos. É o direito vigente ou que teve vigência 
(GUSMÃO, 2011). 
O direito objetivo é aquele que entendemos como norma obrigatória, ou como 
o conjunto destas, ou ainda o direito em seu sentido objetivo. São as normas 
jurídicas obrigatórias, garantidas pelos aparelhos policiais e judiciais do Estado, no 
caso do direito nacional e, pelas organizações internacionais, no caso do direito 
internacional. O Código Penal, ou qualquer norma desse código, os Códigos de 
Processo, o Código Civil, bem como qualquer uma de suas regras, são exemplos de 
direito objetivo. 
Estabelecido o que entendemos por direito, por direito positivo e por direito 
objetivo, devemos agora distingui-lo da moral. Distinção que só foi pensada em um 
estágio mais evoluído da Cultura. Os egípcios, os babilônios, os chineses e os 
próprios gregos não distinguem o direito da moral e da religião. Para eles, o direito 
se confunde com os costumes sociais, ou seja, moral, religião e direito são 
confundidos. 
Nos códigos antigos encontramos não só preceitos jurídicos, como, também, 
prescrições morais e religiosas. O direito nesse tempo ainda não havia adquirido 
autonomia, talvez porque, como nota Roubier (1951 apud GUSMÃO, 2011, p. 69), 
“nas sociedades antigas, a severidade dos costumes e a coação religiosa permitiram 
obter espontaneamente o que o direito só conseguiu mais tarde”. 
Os próprios romanos, organizadores do direito, definindo-o sob a influência da 
Filosofia grega, consideraram-no como ars boni et aequi. Todavia, o grande 
jurisconsulto Paulo, talvez compreendendo a particularidade do direito, sustentou 
que non omne quod licet honestum est (o permitido pelo direito nem sempre está de 
acordo com a moral). 
Deve-se, sob o império do Iluminismo, a Thomasius, em 1713, cujas ideias 
foram desenvolvidas por Kant, a distinção entre direito e moral. Partindo da 
consideração da coercibilidade como a marca do direito, não o confundiu com os 
deveres morais, por considerá-los incoercíveis, em contraposição aos jurídicos, que 
seriam coercíveis. Já Kant atribuiu à moral o julgamento dos motivos, das 
resoluções, da intenção e da consciência, enquanto ao direito, a disciplina da 
conduta exterior do homem e das manifestações da vontade. Por isso, diz Kant, o 
direito é coercitivo, enquanto a moral, incoercível. Contra Kant, podemos dizer que 
no direito penal a intenção é levada em conta. No direito civil, contrato e testamento 
são interpretados em função da vontade declarada e da intenção do contratante ou 
do testador. No plano da Teoria Geral do Direito, uma escola, “escola de exegese”, 
sustentou que na interpretação da lei deve-se indagar a intenção do legislador. Tais 
exemplos demonstram que o ponto de vista de Kant deve ser acolhido com 
reservas. 
Todavia, alguns juristas, como Jellinek, definiram o direito como o mínimo 
ético. Petrone foi mais além, considerando-o “precipitado histórico da moral”. 
Maggiore, seguindo essa linha, compreendeu-o como a petrificação da moral. Ripert 
e Josserand também não se afastaram dessa posição. Ripert (La Régle Morale dans 
les Obligations Civiles, 1925) chega a dizer: “entre a regra moral e a jurídica inexiste 
diferença de domínio, de natureza e de finalidade. E não pode haver, prossegue 
Ripert, por dever o direito realizar a justiça, que é ideia moral. Porém, como nota o 
citado civilista francês, há uma diferença formal: a regra jurídica é a regra moral 
imposta mais energicamente, dotada de sanção exterior, necessária a atingir o seu 
objetivo. Ele acrescenta que o direito só pode aperfeiçoar-se se continuamente 
receber a influência da moral, que é a sua origem e lhe serve de fundamento. 
Timasheff pensa ser o direito a moral imposta pelo poder, enquanto J. Freund 
considera-o resultante da dialética entre política e ética. DeI Vecchio, por sua vez, 
além da coercibilidade específica ao direito, indicou a bilateralidade como elemento 
que o distingue da moral. O direito enlaça-se com deveres, enquanto a moral só 
impõe deveres (GUSMÃO, 2011). 
Não há dúvidas de que a coercibilidade e a bilateralidade são, de modo geral, 
notas específicas ao direito. É incompatível com a moral o constrangimento; o dever 
moral deve ser observado voluntariamente, enquanto o constrangimento é essencial 
ao direito. A consciência, a vontade e a intenção em si são incontroláveis 
juridicamente. A sanção jurídica é bem diferente da sanção moral. 
O dever moral não é exigível por ninguém, reduzindo-se a dever de 
consciência, ao tu deves, enquanto o dever jurídico deve ser cumprido sob pena de 
sofrer o devedor os efeitos da sanção organizada, aplicável pelos órgãos 
especializados da sociedade. Assim, no direito, o dever é exigível, enquanto na 
moral, não. Entretanto, não é só, pois, enquanto o direito é heterônomo, por ser 
imposto ou garantido pela autoridade competente, mesmo contra a vontade de seus 
destinatários, a moral é autônoma, pois é imposta pela consciência ao homem. 
Destarte, podemos dizer que o direito, se não respeitado voluntariamente, poderá 
sê-lo pela intervenção dos aparelhos policial e judiciário, o que não ocorre com a 
moral, que exige a observância espontânea, voluntária, de seus preceitos 
(GUSMÃO, 2011). 
O direito, apesar de acolher alguns preceitos morais fundamentais, 
garantindo-os com sanções eficazes, aplicáveis por órgãos institucionais, tem campo 
mais vasto que a moral, pois disciplina também matéria técnica e econômica 
indiferente à moral, muitas vezes com ela incompatíveis, como, por exemplo, alguns 
princípios orientadores do direito contratual, fundados no individualismo e no 
liberalismo, inconciliáveis com a moral cristã e, portanto, com a moral ocidental. Mas, 
apesar disso, o jurídico não está excluído de julgamentos éticos, assim como 
qualquer conduta humana. 
Se paramos para analisar a sociedade pré-letrada ou primitiva, veremos que a 
regra do direito se confundia com a da moral, e assim, direito, moral e religião não 
se diferenciavam. Mas mesmo no direito das altas civilizações há infiltração da moral 
no direito. Infiltração constatável facilmente no direito privado e no direito penal. 
No direito penal, regras morais como, por exemplo, não matar, não furtar, 
respeitar os mortos, os túmulos, o culto e os símbolos sagrados, são impostas pela 
norma penal, enquanto no direito privado é no direito de família que os deveres e as 
regras morais estão mais presentes.Mas, também, no direito das obrigações, 
principalmente nas épocas de crise, se faz sentir tal influência. Assim, regras 
jurídicas que proíbem o enriquecimento sem causa; a regra que veda o ato 
emulativo, isto é, o exercício do direito só para prejudicar outrem e o abuso do 
direito; a que proíbe a transmissão de mais direito que tem o titular; a que proíbe 
causar dano injusto a outrem; bem como a obrigação natural tutelada indiretamente 
pelo direito, isto é, a obrigação não mais exigível pelo credor por ter ocorrido a 
prescrição, bem como a dívida de jogo, são exemplos de deveres morais tutelados 
pelo direito obrigacional, porque, não podendo ser exigida no Judiciário a 
observância dessas obrigações, se espontaneamente pagas, irrestituível é o que for 
pago (GUSMÃO, 2011). 
No direito público, a obediência à autoridade legítima, alicerce da ordem 
política, tem origem moral. Os princípios fundamentais da justiça segundo a 
Civilização Ocidental, oriundos dos romanos, neminem laedere (não causar prejuízo 
a ninguém) e suum cuique tribuere (dar a cada um o que lhe é devido), têm origem 
ética. A noção de boa-fé, pressuposta em todas as relações jurídicas, é, antes de 
ser jurídica, noção moral. Portanto, o direito não é indiferente à moral. Apesar de 
distintos, a moral exerce influência sobre o direito. 
Mas nem todas as prescrições morais são tuteladas pelo direito, pois, se o 
fossem, o direito seria a imposição, pelo poder social, da moral de uma época, 
civilização ou sociedade. Muitas das prescrições morais, que não são essenciais à 
paz, à segurança e ao convívio sociais, não se encontram no direito. 
Concluindo: o direito é heterônomo, bilateral e coercível, enquanto a moral, 
autônoma, unilateral e incoercível (GUSMÃO, 2011). 
 
1.5 Direito e equidade 
No ordenamento jurídico brasileiro, o vocábulo “equidade” aparece 
empregado, em textos e contextos diferentes, com as seguintes conotações: 
equilíbrio; igualdade; imparcialidade; isonomia; justiça; moderação; retidão; 
serenidade; e, ainda, critério para aplicação da lei; fonte do Direito; e justiça 
adequada a um caso concreto. 
Equidade é o respeito pelo direito de cada pessoa, adequando a norma ao 
caso concreto, pelo que se considera justo. É a apreciação e julgamento justo em 
virtude do senso de justiça imparcial, visando a igualdade no julgamento. 
A aplicação da equidade exige do aplicador sensibilidade e bom senso 
nessa sua ação, para evitar desnaturar normas que devam ser impostas a todos os 
entes sociais. 
PAULO NADER (2010), sobre equidade, informa que ela é a justiça do caso 
particular, mas não se confunde com caridade ou misericórdia, como se fosse um 
ato religioso, uma vez que a equidade serve à realização de justiça na seara do 
Direito. 
Em nosso ordenamento jurídico, ao juiz, em determinadas situações, a lei 
permite julgar com base na equidade, quando ausentes normas positivadas e 
expressas ao caso concreto, a fim de evitar lacunas jurídicas odiosas. 
Se tomarmos por alicerce que a equidade é a justiça do caso concreto, ela 
não é apenas uma forma de aplicar sua noção a casos em que não se tenha norma 
condizente ao caso concreto, mas sim um modus operandi presente em todas as 
ações do julgador, que deve buscar com equilíbrio e proporcionalidade subsumir o 
caso particular ao conceito abstrato e genérico da norma jurídica, este mais amplo, 
para, ao final, realizar a tal almejada e utópica Justiça. 
 
Guarde... 
Utiliza-se a equidade para auxiliar no julgamento imparcial de pedidos 
idênticos, tendo sua fundamentação nos artigos 212, §3º, da Constituição Federal; 
Artigos 413; 479; 928, parágrafo único; 944, parágrafo único; e, 953, parágrafo 
único, todos do Código Civil. Artigo 140, parágrafo único, do Código de Processo 
Civil. 
 
1.6 Direito e justiça 
Direito e justiça têm sido confundidos por filósofos, políticos e até mesmo 
literatos, mas não há porque confundi-los, porquanto o direito é (ou deve ser) o 
veículo para a realização da justiça, que é (ou deve ser) a meta da ordem jurídica. 
Nossa ideia de justiça foi herdada em grande parte, de Platão, Aristóteles e 
dos juristas romanos. Os dois primeiros deram a ela o sentido ético e formal, 
enquanto os romanos, o sentido jurídico e material. Platão via a justiça como virtude 
suprema, harmonizadora das demais virtudes e a harmonia, segundo ele, é a sua 
nota fundamental, que, para ser alcançada, exige equilíbrio entre ação e reação ou 
entre pretensão e obrigação. Como equilíbrio e proporção a definiu Aristóteles. É 
clássica a distinção que formulou entre justiça distributiva e justiça corretiva 
(sinalagmática ou comutativa) em função do critério de proporção e de igualdade. 
A primeira, pelo critério de proporção, distribui os bens correspondentes ao 
mérito e às necessidades de cada um, enquanto a justiça corretiva ou sinalagmática, 
com base no princípio de igualdade, é aplicável às trocas entre as pessoas. A 
distributiva depende do Estado, que pode distribuir bens e honras, levando em conta 
o mérito de cada um. Já a sinalagmática preside as relações entre os homens, 
equilibrando-as de modo que cada um receba o que merece, o que lhe é devido. 
Esta última subdivide-se em comutativa, em sentido estrito, e judicial. 
A primeira preside as relações de troca, isto é, as relações contratuais, 
enquanto a judicial (juiz ou árbitro), quando observada, a sanção aplicada ao réu é 
adequada e proporcional ao delito por ele praticado. 
Em síntese, de Aristóteles acolhemos duas notas formais características da 
justiça: igualdade e proporcionalidade. 
Vieram depois os romanos, que, com seu espírito prático, não cogitaram dos 
aspectos formais da justiça, mas de seus princípios, de seu conteúdo. É no Digesto 
que vamos encontrar a definição romana da justiça: Justitia est constans etperpetua 
voluntas jus suum cuique tribuendi (justiça é a constante e perpétua vontade de dar 
a cada um o que é seu). Essa é a regra fundamental da justiça dos romanos, 
completada com outra, alterum non laedere (não causar dano injusto a outrem ou “a 
ninguém ofender”). Eis os preceitos do direito justo romano que serviram de fonte e 
de manancial inesgotável para as legislações da Civilização Europeia. 
Com tais princípios, o Ocidente, através de sua história, criou a sua ideia de 
justiça, formulando, em função de situações histórico-sociais, o conceito do justo, 
que, variando com a modificação dessas situações, não se alterou em sua 
substância (GUSMÃO, 2011). 
 
Resumindo: justiça é a igualdade de tratamento jurídico, bem como 
proporcionalidade da pena ao delito, da indenização ao dano, do preço à coisa 
vendida, da prestação à contraprestação, entre outros. Daí ser a justiça: 
1) comutativa, tendo por critério a igualdade, aplicável às relações entre os 
indivíduos (direito de família, direito dos contratos, direito das sociedades comerciais 
etc.); 
2) distributiva, tendo por critério a proporcionalidade, que rege o direito penal, 
a reparação de danos, o direito fiscal, a distribuição de bens ou de encargos, entre 
outros. 
Mas o Ocidente não se limitou a construir apenas uma teoria da justiça, pois, 
desde os romanos, vem elaborando teorias jurídicas, destinadas a estabelecer uma 
ordem jurídica justa, e a legitimar a ordem jurídica dominante. Não se satisfez, 
portanto, em formular os elementos componentes da ideia de justiça, por ser muito 
mais importante encontrar o meio de realizá-la historicamente. Desse propósito 
resultou outra questão: a da relação entre justiça e direito. 
Já vimos que o direito é norma executável coercitivamente, enquanto a justiça 
é finalidade, ou melhor, exigência moral de realizá-la no meio social (nem sempre 
atendida), valor, que pode ou não influir no legislador, apesar de dever influí-lo. A 
diferença, portanto, que existe entre direito e justiça, é semelhante à que há entre 
ideal e realidade (fato). Ajustiça não é coercível, enquanto o direito é; a justiça é 
autônoma, pois não é imposta à nossa consciência, brotando nela como os demais 
valores, sendo, assim, valor moral, enquanto o direito é heterônomo, por termos a 
consciência de nos ser ele imposto pela sociedade (costumes) ou pelo poder público 
(legislação). A justiça é a meta a ser atingida pelo direito e, dessa forma, distingue-
se deste como o “meio” da “finalidade”. É critério das leis, das condutas e das 
sentenças judiciais. 
Finalmente, a justiça deve ser entendida como a exigência de dar a cada um 
o que é seu e de não causar dano injusto a outrem, considerado como nosso 
semelhante, e não como meio de satisfação de nossos interesses. A justiça exerce 
três funções em relação ao direito: 1ª - meta do direito; 2ª - critério capaz de julgá-lo 
e de aperfeiçoá-lo; 3ª - fundamento do direito histórico. Torna-o problemático e 
revela (quantas vezes), a sua imperfeição, injustiça e desumanidade. A justiça, 
escreveu Alain, é a dúvida sobre o direito que salva o direito (GUSMÃO, 2011). 
 
 
UNIDADE 2 – BIODIREITO 
 
Globalização, inovações tecnológicas, avanços da Medicina, Engenharia 
genética, temas relacionados a aspectos morais, científicos, religiosos, sexuais e 
jurídicos são alguns dos motivos que trouxeram o Biodireito à baila deste módulo, 
apesar de sabermos que são temas extremamente polêmicos. 
Focaremos em dois pontos: as revoluções advindas da Biotecnologia e da 
Medicina, lançando alguns conceitos sobre Biopirataria e Eutanásia, mas sem 
querer levantar ou criar polêmicas, ressaltando o respeito às opiniões pessoais. 
Fato é que a Engenharia Genética tem sido responsável por grandes 
avanços na área de saúde, como a terapia gênica por meio de células-tronco, e 
também é fato que o homem tem interferido em processos antes monopolizados 
pela natureza, o que nos leva a crer que breve poderá controlar determinados 
fenômenos que antes escapavam ao seu domínio (BARBOZA, 2001). 
 
Figura 2: Biodireito. 
Fonte: http://ifecampinas.org.br 
 
Nesse sentido e em função do dinamismo com que tais conhecimentos 
surgem, existe a necessidade de normas reguladoras dos procedimentos a serem 
utilizados para que a ciência atinja seus objetivos, sem ferir os princípios éticos e os 
direitos humanos fundamentais, tais como a “dignidade do ser humano” e o “direito à 
vida”. Cabe então ao Direito acompanhar essas inovações científicas, de forma a 
encontrar um ponto de equilíbrio entre a ciência e o ser humano (PARISE, 2006). 
 
2.1 Conceito e pilares que regem o Biodireito 
Biodireito pode ser entendido como a positivação jurídica de permissões de 
comportamentos médico-científicos, e de sanções pelo descumprimento destas 
normas, ou ainda, pode ser entendido no sentido de abranger todo o conjunto de 
regras jurídicas já positivadas e voltadas a impor – ou proibir – uma conduta médico-
científica e que sujeitem seus infratores às sanções por elas previstas (CHIARINI 
JUNIOR, 2004). 
Para ANDRÉ-JEAN ARNAUD (1999), Biodireito é o ramo do Direito que trata 
da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras da 
conduta humana em face dos avanços da Biologia, da Biotecnologia e da Medicina. 
PATRÍCIA SPAGNOLO PARISE (2006) completa que essa nova área 
oferece grande diversidade de abordagens, como por exemplo, a polêmica das 
células-tronco e a manipulação de embriões humanos, as técnicas de reprodução 
assistida, transplante de órgãos e tecidos humanos, clonagem humana, técnicas de 
alteração de sexo, eutanásia, aborto por anencefalia e outras questões emergentes. 
MARIA HELENA DINIZ (2010, p. 7-8) afirma que o Biodireito é 
 
o estudo jurídico que, tomando por fontes imediatas a bioética e a 
biogenética, teria por objeto principal, salientando que a verdade científica 
não poderá acobertar crimes contra a dignidade humana, nem traçar, sem 
limites jurídicos, os destinos da humanidade. 
 
REGINA LÚCIA FIUZA SAUWEN e SEVERO HRYNIEWICK (1997, p. 17) 
afirmam que “a esfera do Biodireito compreende o caminhar sobre o tênue limite 
entre o respeito às liberdades individuais e a coibição de abusos contra o indivíduo 
ou contra a espécie humana (...)”. 
O Biodireito encontra seus pilares em três áreas específicas do Direito: o 
Direito Constitucional, o Direito Civil e o Direito Penal (PARISE, 2006). 
O Direito Constitucional, ramo do direito público, tem por objeto de estudo a 
Constituição Federal, lei maior de um ordenamento jurídico. Relaciona-se com o 
Biodireito no que tange à proteção dos direitos fundamentais, tais como a vida, 
liberdade, saúde, intimidade. Todos estes preceitos são plenamente garantidos por 
nossa Constituição Federal de 1988 e, consequentemente, constituem os objetivos a 
serem alcançados pelas normas específicas criadas pelo campo do Biodireito. 
Já o Direito Civil, que é um ramo do direito privado, integra-se com o 
Biodireito no âmbito dos direitos da personalidade, ou seja, delimitando o início da 
personalidade civil do homem, que de acordo com o art. 2º deste diploma legal3, 
ocorre a partir do nascimento com vida. Esse dispositivo, a propósito, é o que 
inflama as mais diversas discussões acerca dos direitos do nascituro, na área do 
Biodireito. Em crítica ao art. 2º do Código Civil, SÍLVIA MOTA (2003) posiciona-se da 
seguinte forma: 
 
Faltou ao legislador galhardia suficiente para assumir o início da 
personalidade civil da pessoa humana, a partir do momento da concepção 
e, com esta atitude, contribuir para o desvendar de inúmeras questões 
relacionadas ao aborto ou à procriação assistida. 
 
É ainda no Código Civil, arts. 13 a 15, que se encontram os direitos relativos 
à disposição do próprio corpo ou partes dele, durante a vida ou após a morte. 
O Direito Penal, por sua vez, ao definir as condutas consideradas 
antijurídicas, não poderia deixar de se comunicar diretamente com o Biodireito, que 
se vale das normas penais para inúmeras situações, como, por exemplo, a proibição 
do aborto e, consequentemente, a instituição de uma pena para tal procedimento. 
Como se pode notar, a relação tão próxima do Biodireito com estes ramos 
do Direito ainda provoca discussão acerca da real necessidade da delimitação dessa 
nova área e um questionamento se as regras existentes nos ordenamentos 
tradicionais não seriam suficientes para dirimir os conflitos entre homem e ciência. 
A realidade é que os referidos institutos tradicionais não conseguem resolver 
as questões atuais, há uma carência legislativa e as normas já existentes são cheias 
de imprecisões, a ponto de se argumentar se protegem ou desprotegem as 
inusitadas situações que emergem dia após dia. É por isso que a defesa pela 
consolidação do Biodireito como ramo autônomo do Direito tem sido tão trabalhada 
pelos estudiosos da ciência jurídica (PARISE, 2006). 
 
 
3
 Código Civil, Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm
2.2 As fontes do Biodireito 
Podemos dizer que as primeiras fontes do Biodireito foram a Biotecnologia, a 
Medicina e a Bioética. 
As duas primeiras fontes são responsáveis por uma verdadeira “revolução” 
na vida do ser humano, por meio de suas descobertas ligadas à vida e à saúde 
humanas. 
Atualmente, a Bioética une-se ao Biodireito, de forma indissociável, na 
medida em que novas terapias vêm surgindo, como a utilização de células-tronco, 
por exemplo (PARISE, 2006). 
Assim como temos no direito constitucional, civil e penal os pilares do 
Biodireito, é deles que retiramos as suas fontes, principalmente na Constituição 
Federal: 
Art. 1º, III – a dignidade da pessoa humana; 
Art. 5º, caput – todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentesno País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade 
(...); 
Art. 5º, III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano 
ou degradante; 
Art. 5º, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou 
ameaça a direito; 
Art. 5º, XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e 
liberdades fundamentais; 
Art. 196 – a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido 
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e 
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação; 
Art. 225 – todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao 
Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as 
presentes e futuras gerações. 
 
2.3 Princípios que regem o Biodireito 
O ponto de partida para elencarmos os princípios do Biodireito passa 
necessariamente pela Bioética, a qual tem sido dividida em macro e micro, sendo a 
macro Bioética aquela que trata de assuntos tais como preservação do meio 
ambiente, ecodesenvolvimento, biopirataria, patenteamento de organismos 
geneticamente modificados, responsabilidade civil por dano ecológico, entre outros. 
ANA CÉLIA DE JÚLIO SANTOS (2006) explica que em decorrência da 
macrobioética ter-se-ia um código de condutas que deveriam ser seguidas em todo 
tipo de ação humana, principalmente nas experimentações científicas, que pudesse 
trazer como consequência alterações benéficas ou prejudiciais ao meio ambiente. 
Já a microbioética, surgiu de uma restrição do objeto da bioética: a ética da 
vida humana. Nessa direção, MARIA HELENA DINIZ (2006) trata de questões 
relativas à matéria em seu contexto ético-jurídico, tais como: proteção à vida 
humana, direito ao nascimento, direitos do embrião e do nascituro, maternidade e 
paternidade responsável, planejamento familiar, esterilização humana artificial, 
saúde física e mental, transfusão de sangue, transexualidade, transplante de órgãos 
e tecidos, morte digna, experiência científica em seres humanos, fertilização humana 
assistida, entre outros. 
A maioria dos autores que versam sobre o tema concordam que os 
princípios que regem a Bioética e, por consequência, o Biodireito, seriam todos 
aqueles ligados à medicina, à saúde, ao meio ambiente. Vejamos: 
a) Princípio da autonomia: é considerado o principal princípio, pois os 
demais estão de alguma forma vinculados a ele. 
 
[...] refere-se à capacidade de autogoverno do homem, de tomar suas 
próprias decisões, de o cientista saber ponderar, avaliar e decidir sobre qual 
método ou qual rumo deve dar a suas pesquisas para atingir os fins 
desejados, sobre o delineamento dos valores morais aceitos e de o paciente 
se sujeitar àquelas experiências, ser objeto de estudo, utilizar uma nova 
droga em fase de testes, por exemplo. O centro das decisões deve deixar 
de ser apenas o médico, e passar a ser o médico em conjunto com o 
paciente, relativizando as relações existentes entre os sujeitos participantes 
[...] (VARELLA; FONTES; ROCHA, 1998, p. 228). 
 
De acordo com este princípio, o indivíduo tem o direito de decidir sobre as 
atividades que impliquem alterações em sua condição de saúde física e/ou mental, 
impondo-se, de outro lado, para que sua opinião seja adequada, o dever de os 
envolvidos prestarem todas as informações relevantes sobre o tratamento/pesquisa 
que se irá realizar. 
b) Princípio da beneficência: também identificado como princípio da não 
maleficência, uma vez que ordena aos médicos e cientistas que se isentem de 
qualquer atividade que venha, ou possa vir, a causar um mal despropositado ao 
paciente (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
Este princípio está intimamente ligado ao juramento de Hipócrates (o qual 
afirma: “aplicarei os regimes para o bem dos doentes, segundo o meu saber e a 
minha razão, e nunca para prejudicar ou fazer o mal a quem quer que seja”), e 
significa, nas palavras de ALINE MIGNON DE ALMEIDA (2000, p. 7), “a ponderação 
entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos, 
comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos [...]”. 
Este princípio deve ser analisado em conjunto com o princípio da autonomia, 
de forma que é possível uma mitigação da não maleficência em função da 
autonomia do paciente, o qual pode optar por fazer parte de algum tipo de 
experimentação médico-científica, em busca de tratamentos alternativos, desde que 
lhe sejam previamente esclarecidos todos os riscos potenciais da atividade que será 
realizada, e, ao mesmo tempo, desde que isto não implique em sacrificar-lhe a 
saúde, a integridade física ou psíquica, ou, principalmente, sua própria vida, pois 
esta é sagrada (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
c) Princípio da sacralidade da vida e dignidade da pessoa humana: 
como se observa, envolve a questão “vida humana” como sendo um valor em si 
mesmo, que deve sempre ser respeitada e protegida contra agressões indevidas. 
O princípio da sacralidade da vida humana e da dignidade da pessoa 
humana 
 
[...] são os principais norteadores da bioética, na medida em que 
consideram a vida como sagrada e inviolável. Neste sentido, não se justifica 
a causa do sofrimento e da dor desnecessária, a imputação de um ônus 
superior ao que a pessoa possa suportar, ainda que, por decisão sua, 
mesmo para a realização de pesquisas ou qualquer atividade científica. 
Combate-se assim, a consideração do homem como objeto, como uma 
‘coisa’, a favor da compreensão da vida humana como algo sagrado, 
intangível. Ainda que fora dos aspectos teológicos que a questão envolve, a 
expressão ‘sagrado’ não necessariamente estará ligada a Deus, mas sim ao 
caráter inviolável de seu objeto [...] a vida humana não pode ser sacrificada 
em prol da ciência, e da experimentação [...] (VARELLA; FONTES; ROCHA, 
1998, p. 230). 
d) Princípio da Justiça ou imparcialidade na distribuição dos riscos e 
dos benefícios: quer dizer que uma pessoa não pode ser tratada de maneira 
distinta de outra, salvo haja entre ambas alguma diferença relevante (SANTOS, 
2006). 
Segundo ENÉAS CASTILHO CHIARINI JUNIOR (2004), pode-se dividir o 
princípio da justiça em três questões básicas: 1) o ônus do encargo da pesquisa 
científica; 2) a aplicação dos recursos destinados à pesquisa; e, 3) a destinação dos 
resultados práticos obtidos destas pesquisas. 
Sobre o primeiro ponto, todos os membros da sociedade devem, de forma 
igualitária, e na medida de suas forças, arcar com o ônus da manutenção das 
pesquisas e da aplicação dos resultados. 
Pelo segundo tópico, este princípio implica em uma “[...] distribuição justa e 
equitativa dos recursos financeiros e técnicos da atividade científica e dos serviços 
de saúde” (VARELLA; FONTES; ROCHA, 1998, p. 228), não só para a solução dos 
problemas do “primeiro mundo”, mas também para a busca de soluções para 
problemas típicos dos países subdesenvolvidos. 
E, finalmente, pela terceira decorrência do princípio da justiça, a ciência 
deve ser aplicada de forma igual para todos os membros da espécie humana, não 
devendo existir distinção em função de classe social, ou capacidade econômica 
daquele que necessita de tratamento médico. 
Focando no Direito Ambiental, vamos encontrar vários outros princípios de 
grande importância para o Biodireito, a começar pelo princípio da ubiquidade, o qual 
diz que o bem ambiental é onipresente, de forma que uma agressão ao meio 
ambiente em determinada localidade é capaz de trazer reflexos negativos a todo o 
planeta Terra e, consequentemente, a todos os povos e a todos os indivíduos, não 
só para os membros da espécie humana, mas para todas as espécies habitantes do 
planeta. 
e) Princípio da ubiquidade quer dizer que o direito ao patrimônio genéticoda humanidade enquanto espécie é também onipresente, de forma que deve-se 
preservar, a qualquer custo, a manutenção das características essenciais da espécie 
humana. 
Tal princípio tem aplicabilidade, no âmbito do Biodireito, principalmente 
como impedimento das experimentações científicas em células germinais humanas, 
as quais, uma vez alteradas, poderiam trazer “mutações” indesejáveis para toda a 
espécie humana, uma vez que a alteração das células germinais de um indivíduo 
poderia iniciar um processo de disseminação desta “mutação” perante os indivíduos 
das gerações futuras (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
f) Princípio da cooperação entre os povos pode ser aplicado em duas 
frentes: a primeira na fiscalização das pesquisas e na proteção do ser humano 
enquanto espécie; e a segunda no tocante aos custos e benefícios das pesquisas 
científicas(CHIARINI JUNIOR, 2004). 
ÉDIS MILARÉ (2001, p. 124-5) afirma que a Declaração sobre o Ambiente 
Humano elaborado pela 1ª Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em 
Estocolmo, “[...] enfatizou a necessidade do livre intercâmbio de experiências 
científicas e do mútuo auxílio tecnológico e financeiro entre os países, a fim de 
facilitar a solução dos problemas ambientais”, ressalvando pouco mais adiante que 
“[...] a implementação do princípio não importa em renúncia à soberania do Estado 
ou à autodeterminação dos povos [...]”. 
Este princípio, no âmbito do Biodireito, encontraria um de seus fundamentos 
no princípio da ubiquidade, o qual demonstra a necessidade de proteção global 
contra experimentações indevidas, sobretudo as que envolvam alteração de células 
germinativas humanas. 
Por outro lado, trata-se de um princípio que também decorre de outro 
princípio também aplicável ao Biodireito, o princípio da Justiça. 
Esta decorrência, porém, decorre da aplicação em escala internacional do 
princípio da Justiça, de forma que os diversos países deveriam concorrer no ônus 
dos custos das pesquisas científicas, assim como deveriam ter direito de igual 
acesso aos resultados destas pesquisas. 
Assim, o princípio da cooperação dos povos se daria em duas frentes: a 
primeira na fiscalização das pesquisas e na proteção do ser humano enquanto 
espécie; e a segunda no tocante aos custos e benefícios das pesquisas científicas 
(CHIARINI JUNIOR, 2004). 
g) Princípio da preservação da espécie humana: podemos inferir que ele 
seria uma transposição para o âmbito do Biodireito do princípio ambiental do 
desenvolvimento sustentável. 
Quanto ao desenvolvimento sustentável do Direito Ambiental, ÉDIS MILARÉ 
(2001, p. 122) esclarece tratar-se de um duplo direito: 
 
[...] o direito do ser humano de desenvolver-se e realizar as suas 
potencialidades, quer individual quer socialmente, e o direito de assegurar 
aos seus pósteros as mesmas condições favoráveis. Neste princípio, talvez 
mais do que em outro, surge tão evidente a reciprocidade entre direito e 
dever, porquanto o desenvolver-se e usufruir de um Planeta plenamente 
habitável não é apenas direito, é dever precípuo das pessoas e da 
sociedade. Direito e dever como contrapartidas inquestionáveis. 
 
Assim, na esfera do Biodireito, este princípio significa que o ser humano é 
livre para realizar as pesquisas que julgue úteis para seu aprimoramento enquanto 
espécie, sem, entretanto, esquecer-se, jamais, de sua responsabilidade perante as 
futuras gerações, o que implica no dever de preservação das características 
essenciais da espécie humana, impondo-se limites objetivos às experimentações 
científicas que sejam capazes de alterar o ser humano, não apenas como indivíduo, 
mas também enquanto espécie (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
h) Princípios da prevenção e da precaução: sem entrarmos no mérito dos 
juristas que se dividem ao reportarem a esses princípios, em termos de etimologia 
da palavra/sinônimos, o que vale saber é que ele trata de nos anteciparmos em 
relação aos danos que podem ser causados ao meio ambiente, ou seja, evitar que 
uma atitude e/ou ações do ser humano possam resultar em efeitos indesejáveis ao 
meio ambiente. 
Se pensarmos em prevenção, no âmbito do Biodireito, decorreria dos 
princípios da preservação da espécie humana, da dignidade da pessoa humana, da 
sacralidade da vida e da ubiquidade, uma vez que, em decorrência destes 
princípios, todos os membros da espécie humana estão obrigados, em decorrência 
da dignidade intrínseca de todo ser humano, e da vida humana como objeto 
sagrado, a garantir a preservação das condições de vida necessárias à preservação 
da espécie humana. 
O ponto de maior aplicação deste princípio seria o da problemática 
relacionada à questão dos organismos geneticamente modificados, também 
chamados de transgênicos (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
Ao pensarmos em precaução, para o Biodireito, esse princípio relaciona-se 
com a pesquisa científica que só poderá ser realizada se existirem meios de impedir 
a sua irreversibilidade, e, neste caso, os membros das equipes envolvidas com a 
pesquisa em questão estão obrigados a tomar todas as medidas possíveis e 
necessárias para impedir que ocorram problemas decorrentes da pesquisa a ser 
realizada (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
Guarde... 
Biodireito é o conjunto de leis positivas que visam estabelecer a 
obrigatoriedade de observância dos mandamentos bioéticos, e, ao mesmo tempo, é 
a discussão sobre a adequação – sobre a necessidade de ampliação ou restrição – 
desta legislação (CHIARINI JUNIOR, 2004). 
Seu principal objetivo é garantir a proteção da dignidade do ser humano, 
frente às novas tecnologias médicas e biotecnológicas presentes na sociedade 
contemporânea de diversas maneiras (SOARES; SOARES; MARQUES, 2010). 
 
2.4 Eutanásia, biopirataria e outros temas do Biodireito 
PATRÍCIA SPAGNOLO PARISE (2006) reforça que o Biodireito possui 
significativa diversidade de temas, cada um deles abrangendo uma vasta análise, 
tanto sob o ponto de vista jurídico, como ético. Ela elenca alguns desses temas e os 
respectivos dispositivos legais que os amparam. Vejamos: 
1. Reprodução Medicamente Assistida/Técnicas de Reprodução Assistida, 
amparada pela Resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) nº 2.121/20154. 
2. Gestação de Substituição (“barriga de aluguel”), cujas normas também se 
encontram na mesma resolução acima. 
3. Os direitos do embrião e do nascituro, discutidos à luz do Código Civil e 
da Constituição Federal. 
4. Clonagem humana, expressamente proibida em todas as suas formas 
(reprodutiva ou terapêutica) pela Lei nº 11.105/055, no seu art. 6º, IV. 
5. Pesquisa e terapia de células-tronco embrionárias, com observação às 
condições estabelecidas pelo art. 5º da Lei 11.105/05. 
6. Eutanásia6, que não é legalizada no Brasil. Sua prática, portanto, é 
considerada crime-homicídio. 
 
4 Tudo começou com a Resolução CFM nº 1.358/92, a qual após 18 anos de vigência, recebeu 
modificações relativas à reprodução assistida, o que gerou a Res. nº 1957/2010, que a substitui in 
totum e outras na sequência. 
 
5
 Lei nº 11.105 de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1
o
 do art. 225 da 
Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades 
que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho 
Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – 
CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei n
o
 8.974, de 5 de 
janeiro de 1995, e a Medida Provisória n
o
 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5
o
, 6
o
, 7
o
, 8
o
, 
9
o
, 10 e 16, da Lei n
o
 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm
7. Transplante de Órgãos e TecidosHumanos, cujos preceitos legais se 
encontram na CF/88 (art. 199, parágrafo 4º, onde se proíbe a comercialização de 
órgãos e tecidos para transplantes), no Código Civil (arts. 13 ao 15) e nas Leis 
10.211/017 e 9.434/978. Inclui-se, aqui, estudos acerca do chamado xenotransplante. 
8. Adequação de Sexo do Intersexual (hermafrodita) e do Transexual, cujo 
amparo legal encontra-se na Resolução nº 1. 955/20109 do CFM e na jurisprudência. 
9. O Meio Ambiente, protegido pela CF/88, no art. 225 e, em especial, os 
Organismos Geneticamente Modificados – OGM (transgênicos) e seu impacto no 
meio ambiente, conforme regula a Lei 11.105/05. 
10. O Portador do Vírus da Imunodeficiência Humana, em virtude da alta 
discriminação sofrida: protegido não somente em âmbito constitucional, mas 
também, de forma específica, pela Resolução do CFM nº 1.665/200310. 
Apesar de serem temas polêmicos, que acirram os ânimos, paixões, dúvidas 
e contestações, vamos falar um pouco sobre a Eutanásia e a Biopirataria, sendo 
ambos temas com diversos ângulos de análise e pontos de vista, seja pela medicina, 
religião, interesses comerciais, entre outros. 
Que a morte nos assusta cremos não haver dúvidas. Alguns a temem mais, 
outros dizem não a temer...Mas certo é que viver em sofrimento que não tem retorno 
também não é condição que desejamos para nós, correto? Sim. Entretanto, e em 
palavras de MARIA HELENA DINIZ (2010): 
 
 
6
 No ordenamento jurídico pátrio, a prática da eutanásia não está elencada, não de forma explícita e 
objetiva, no Código Penal. Entretanto, aplica-se a tipificação prevista no art. 121, ou seja, homicídio, 
simples ou qualificada, sendo considerado crime a sua prática em qualquer hipótese. Dependendo as 
circunstâncias, a conduta do agente pode configurar o crime de participação em suicídio (art. 122 do 
Código Penal) (GUERRA FILHO, 2005). 
 
7
 Lei nº 10.211 de 23 de março de 2001. Altera dispositivos da Lei n
o
 9.434, de 4 de fevereiro de 
1997, que "dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de 
transplante e tratamento". Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10211.htm 
 
8
 Lei nº 9.434 de 04 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do 
corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm 
 
9 Resolução CFM nº 1.955 de 12 de agosto de 2010. Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo e 
revoga a Resolução CFM nº 1.652/02. Disponível em: 
http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=9520 
 
10 Dispõe sobre a responsabilidade ética das instituições e profissionais médicos na prevenção, 
controle e tratamento dos pacientes portadores do vírus da SIDA (AIDS) e soropositivos. Disponível 
em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2003/1665_2003.htm 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10211.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm
http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/versao_impressao.php?id=9520
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2003/1665_2003.htm
A vida humana deve ser protegida contra tudo e contra todos, pois é objeto 
de direito personalíssima. O respeito a ela e aos demais bens ou direito 
correlatos decorre de um dever absoluto ‘erga omnes’, por sua própria 
natureza ao qual ninguém é lícito desobedecer. Não se pode recusar 
humanidade ao bárbaro, ao ser humano em coma profundo, com razão 
maior ao embrião e ao nascituro. 
 
Etimologicamente, a palavra Eutanásia é um vocábulo grego formado de eu 
(boa) e thanatos (morte), e tem como significado boa morte, a morte sem sofrimento, 
morte doce, tranquila, serena, bondosa (DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, 
https://www.dicionarioetimologico.com.br/eutanasia/; LOURENÇO, 2013). 
Eutanásia significa qualquer ato cometido ou omitido com propósito de 
causar ou acelerar a morte de um ser humano após o seu nascimento, com o 
propósito de pôr fim ao sofrimento de alguém (LOURENÇO, 2013). 
Segundo ARIOVALDO ALVES DE FIGUEIREDO (1986), eutanásia é a 
morte, provocada por outrem, de uma pessoa que sofre enfermidade incurável, para 
abreviar a agonia muito grande ou dolorosa. 
 
Figura 3: Eutanásia. 
Fonte: http://wpmedia.windsorstar.com 
 
No Brasil, a eutanásia é crime, sendo caracterizado esse ilícito penal de 
várias formas, mas ainda sem, digamos, tipificação direta no Código Penal, o que 
está em vias de ser modificado com o projeto de reforma do mesmo, Projeto de lei nº 
236/2012, apresentado ao Senado Federal, que traz grandes inovações para o 
âmbito do direito penal, principalmente no que tange a certas matérias cuja opinião 
pública ainda é bastante controvertida (MENDES, 2012). 
Dentre as inovações trazidas pelo referido projeto de lei, encontra-se a 
tipificação da eutanásia, a qual está prevista como uma modalidade nova e 
https://www.dicionarioetimologico.com.br/eutanasia/
autônoma de crime, distinto do crime de homicídio. A sua descrição consta no art. 
122 do possível novo diploma, in verbis: 
Art. 122. Matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, 
imputável e maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável em 
razão de doença grave: 
Pena – prisão, de dois a quatro anos. 
Para grande parte da doutrina brasileira, o direito à vida continua a ser um 
direito fundamental quase absoluto, cuja relatividade apenas se verifica em casos 
extremamente excepcionais, os quais devem ser expressamente previstos em lei, ou 
até mesmo na própria Constituição. 
Em verdade, a relatividade dos direitos fundamentais é um aspecto já 
amplamente aceito tanto pela doutrina como pela jurisprudência dominantes no país. 
Ademais, o próprio STF, por mais de uma vez já teve a oportunidade de se 
manifestar nesse sentido, ratificando não existir direitos absolutos, quaisquer que 
sejam eles (MENDES, 2012). 
Em artigo intitulado “A eutanásia e o Biodireito”, Renata Lourenço (2012) 
elenca os tipos de eutanásia, os quais transcrevemos abaixo em forma de quadro 
para ilustração e enriquecimento: 
TIPO DE EUTANÁSIA DEFINIÇÃO 
Terapêutica Relacionada com o emprego ou a omissão de meios 
terapêuticos a fim de obter a morte do paciente. 
Eugênica É eliminação indolor dos doentes indesejáveis, dos 
inválidos e velhos, no escopo de aliviar a sociedade do 
peso de ter pessoas economicamente inúteis. 
Criminal É a eliminação indolor de pessoas socialmente perigosas. 
Experimental É a ocisão indolor de determinados indivíduos com fim 
experimental para o progresso da ciência. 
Solidarística É a ocisão indolor de seres humanos no escopo de salvar 
a vida de outrem. 
Teológica É também conhecida como morte em estado de graça. 
Legal É aquela regulamentada ou consentida pela lei. 
Esta expressão é utilizada para os casos em que autor da 
conduta a pratica de acordo com o que a lei estabelece, 
seguindo procedimentos postos na norma legal, sob um 
ordenamento jurídico que permite a conduta. 
Suicídio assistido É o auxílio ao suicídio de quem já não consegue realizar 
sozinha a sua intenção de morrer. 
Homicídio Resulta da distinção entre aquela praticada por médico e 
aquela praticada por parente ou amigo. 
 
Lançamos a baila, análises de Carvalho e Horta (2011), para que reflitam e 
tirem suas conclusões: 
 a eutanásia deve ser a ultima ratio em termos de medidas a serem adotadas 
pelas pessoas que estejam sofrendo, física ou moralmente; 
 pelo princípio da beneficência, o médico deve sempre buscar promover o bem 
do paciente. A regra para a identificação de qual é esse bem é a de promoção 
da cura e da vida, e não a da manutenção de um mal. 
Quanto ao direito à vida, inviolável nos termos do caput do art. 5º da CF/88,

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