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DIREITO CIVIL IV - todos os casos concretos

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DIREITO CIVIL IV - CCJ0224
Semana Aula: 1
O Direito das Coisas
Tema
Introdução ao Direito das Coisas 
Palavras-chave
Direito das Coisas. Conceito. Classificação. Reais. Obrigacionais.
Objetivos
a) Compreender a disposição dos bens e sua ligação com as pessoas (físicas ou jurídicas);
b) Conhecer o conceito e características do Direito das Coisas;
c) Identificar as diferenças entre direitos reais e direitos obrigacionais;
d) Reconhecer conceitos e características dos direitos reais.
Estrutura de Conteúdo
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
1.1 Do Direito das Coisas 
1.1.1 Conceito
1.1.2 Características
1.1.3 Diferença entre direitos reais e obrigacionais
1.1.4 Titularidade e obrigações propter rem
1.1.5 Classificação dos direitos reais
Procedimentos de Ensino
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
É necessário contextualizar a disciplina Direito das Coisas e suas peculiaridades em relação aos outros segmentos do Direito Civil. No texto do CC de 2002, o Livro correspondente aos Direitos Reais é o que se dedica ao tratamento legislativo da posse, da propriedade, dos direitos reais sobre coisa alheia (direitos reais limitados), não apenas no momento da aquisição, mas principalmente no período da sua existência. 
1.1.1. Conceito: O Direito das Coisas é o segmento do Direito Civil que congrega o conjunto de regras e princípios que regem a relação de senhoria, de poder, de titularidade, que submete a coisa à uma pessoa. Está fundado primordialmente na função social e na boa-fé e sua importância é representada pela significação econômica, política e social dos institutos inseridos nas denominadas situações jurídicas reais devido à influência e repercussão que eles geram na estrutura da sociedade e da economia de uma nação. 
Estão disciplinados nos arts. 1.196 a 1.510 (Livro III da Parte Especial) do CC, além de haver leis especiais que também tratam de vários aspectos a eles relacionados. Sofrem influência de outros ramos do Direito, como o Direito Urbanístico (como no exemplo do Estatuto da Cidade – Lei n° 10.257/01), o Direito Administrativo (nas questões referentes às limitações e restrições aos poderes e faculdades inerentes aos direitos reais, tais como nas servidões e limitações administrativas, na desapropriação para fins de utilidade pública ou de interesse social), o Direito Econômico, o Direito Tributário, entre outros. 
Em termos históricos, o Direito Civil – Direito das Coisas - sofreu influência do direito francês, que identificava o direito de propriedade como direito subjetivo padrão, espinha dorsal do direito privado. O paradigma, nesta fase, era o Código Civil da França, promulgado em 1804. Entretanto, devido à nossa colonização portuguesa, a história da ocupação das terras no Brasil se iniciou em Portugal. Compreendem-se neste contexto o movimento expansionista que teve início na Idade Média (com as Cruzadas); os períodos caracterizados pela vigência da Lei das Sesmarias; pela concessão de terras devolutas pelo poder público a determinados privilegiados mediante o compromisso – geralmente não cumprido – de ocupação efetiva das glebas de terras, de medição e de demarcação; pelo advento da Lei de Terras, que passou a promover a institucionalização da propriedade a partir da “relação” homem-terra; e pela Lei Hipotecária n° 1.237, de 1864, que criou a obrigatoriedade do registro dos títulos. O CC brasileiro de 1916, seguindo a tendência codificante originada na Europa, reconheceu a propriedade, desprovida, contudo, de função social. As desigualdades e a exploração daí resultantes deram início ao período que culminou com o Estado do Bem Estar Social (Welfare State) e a concepção da função social da propriedade e da posse surgiu da ideia de se aproximar a análise dos institutos da realidade social e econômica subjacente, aplicando-se no campo e na cidade, tanto nos bens móveis quanto nos imóveis. Exemplares de tais mudanças, no âmbito pátrio, são a Constituição Federal de 1988 e o já referido CC de 2002.
1.1.2.Características: São consideradas características dos direitos reais: a) tipicidade e taxatividade (somente são direitos reais os taxativamente elencados em lei como direitos reais. Estão previstos no art. 1.225 do CC e em leis especiais, dentre elas os Decretos-Lei n° 261/67 e 911/69 e a Lei nº. 6.766/79); b) direito de sequela (a circunstância de o direito real aderir imediatamente à coisa, sujeitando-a diretamente ao seu titular de modo a poder segui-la em poder de qualquer detentor ou possuidor); c) preferência (privilégio de obter o pagamento da dívida com o valor do bem vinculado exclusivamente à sua satisfação, restrito aos direitos reais de garantia); d) oponibilidade erga omnes (ou seja, o direito real tem eficácia contra todas as pessoas, reconhecendo-se, pois, a presença de um dever geral negativo de respeito ao direito real titularizado); e) publicidade (possibilidade de conhecimento acerca da titularidade e da existência de alguma limitação ao direito); f) elasticidade (possibilidade de desmembramento de algum ou alguns poderes do direito de propriedade); g) exclusividade (inadmissibilidade de existência de duas ou mais pessoas com direitos reais iguais sobre a mesma coisa; apenas uma delas é titular do direito real sobre o bem). 
Objeto: Em regra, exige-se que a coisa, de modo a ser objeto de direito real, apresente três características fundamentais: a) corporeidade; b) possibilidade de apropriação; c) função utilidade ou valor econômico. Contudo, se faltar a corporeidade, ainda assim poderá haver a encampação do sistema de direito real caso a lei preveja, expressamente, modos específicos de transferência, ou que remeta, também de modo expresso, o regime de transferência ao de um dos direitos reais previstos na lei, ou ainda, que preveja que determinado direito real pode se exercer sobre determinados direitos reais ( são exemplos o usufruto sobre universalidades, os direitos reais de garantia sobre direitos ou títulos de crédito e a comunhão hereditária).
1.1.3. Diferença entre direitos reais e obrigacionais
A propósito dos critérios de distinção entre direitos reais e direitos pessoais, surgiram duas principais correntes doutrinárias para justificar a separação rígida dos regimes jurídicos a eles pertinentes: a) as teorias clássicas (ou teorias realistas), que defendem ser o direito real o poder imediato da pessoa sobre a coisa que se exerce erga omnes, ao passo que o direito pessoal opõe-se apenas e unicamente à uma pessoa, de quem se exige determinado comportamento prestacional; b) as teorias personalistas, cujos adeptos consideram que os direitos reais são relações jurídicas entre pessoas, como os direitos pessoais, não havendo relação jurídica entre pessoa e coisa: a diferença, assim, está no sujeito passivo, pois, enquanto no direito pessoal (de crédito), o sujeito passivo é pessoa certa e determinada, no direito real, é indeterminado, daí a noção de uma obrigação passiva universal – a de respeitar o direito real; c) a teoria eclética, que atua como autêntica “síntese da dialética hegeliana”, uma vez que considera o núcleo da teoria clássica (poder imediato e direto sobre a coisa) como o lado interno do direito real, e o núcleo da teoria personalista (a oponibilidade erga omnes) como seu lado externo.
A conclusão a que se chega é a de que a propriedade e os demais direitos reais devem ser considerados como situações jurídicas complexas com direitos, poderes, faculdades, deveres, obrigações, ônus com conteúdos diversos. Além disso, percebe-se que o critério mais adequado para distinguir os direitos reais dos direitos pessoais consiste no aspecto interno referente ao modo do exercício dos primeiros. O direito real contempla o poder de utilização da coisa sem intermediário e tal aspecto é característico das situações reais. A circunstância do exercício do direito real se dar diretamente, sem interposição de quem quer que seja, é o traço marcante de distinção em relação aos direitos pessoais. Estes, por sua vez, pressupõem a intervenção deoutro sujeito. Alguns outros critérios distintivos são também apresentados: a) o objeto do direito real há de ser, necessariamente, coisa determinada, ao passo que a prestação do devedor, nos direitos pessoais, como objeto da obrigação, pode ser genérica, desde que seja determinável; b) a violação a um direito real consiste, em regra, num fato positivo, o que nem sempre se verifica na violação de um direito pessoal; c) o direito real concede ao seu titular um gozo permanente da coisa porque tende à perpetuidade, como regra, já o direito pessoal é eminentemente transitório, extinguindo-se no momento em que a obrigação é adimplida; d) somente os direitos reais são adquiridos através da usucapião, o que não ocorre com os direitos pessoais; e) em termos designativos, o direito real é conhecido como “ius in re”, ao passo que há determinados direitos pessoais que correspondem ao “ius ad rem” (direito à coisa), ou seja, nestes há a pretensão à aquisição de um direito real, como no exemplo do contrato de compra e venda de bem móvel sem que, ainda, tenha ocorrido a entrega do bem (tradição); f) os direitos reais caracterizam-se pelo verbo “ter” (ínsito à idéia de poder sobre os bens), ao passo que os direitos obrigacionais, pelo verbo “agir” (exigir determinado comportamento alheio).
Entretanto, a despeito de tais diferenças, tem aumentado o número de críticas à distinção entre direitos reais e obrigacionais: a) inicialmente, com as denominadas “situações mistas” que apresentam aspectos e características típicas de direitos reais e direitos obrigacionais, como no exemplo da obrigação propter rem; b) em decorrência da insuficiente contraposição entre dever genérico e dever específico relacionada a algumas das relações reais (exemplo disso seria o usufruto, que, como espécie de direito real, gera o dever geral de abstenção – oponível à coletividade quanto ao respeito à titularidade do direito pelo usufrutuário -, mas também proporciona o surgimento de deveres específicos entre usufrutuário e nu-proprietário – há, neste exemplo, uma estrutura externa, ínsita aos direitos reais, e uma estrutura interna que, diga-se en passant, em nada se distingue das prestações devidas nas relações obrigacionais); c) com base no princípio da relatividade dos efeitos dos contratos e, consequentemente, das obrigações daí decorrentes, uma vez que há contratos que produzem efeitos a outras pessoas que não apenas os contratantes, como nos exemplos da cessão de crédito; d) porque os valores mobiliários passaram a ser mais valorizados do que no passado, contribuindo para que o direito de crédito se aproxime cada vez mais do direito de propriedade, fazendo nascer a ideia de “propriedade de créditos”; e) e, sobretudo, em decorrência da funcionalização das relações patrimoniais à plena realização das relações de caráter existencial.
Diante disto, constata-se que, nas relações obrigacionais, há predominância do aspecto pessoal, em que a satisfação do credor normalmente se operará na concretização das prestações de dar, de fazer ou de não-fazer pelo devedor, ao passo que, nas relações reais, devem ser reputados predominantes os aspectos reais, porquanto as faculdades de usar, de fruir, de dispor e de reivindicar se relacionam apenas à atuação do titular do direito real. Contudo, não se deve cogitar de exclusividade eis que haverá situações em que a relação pessoal assumirá feições reais e vice-versa.
1.1.4. Titularidade e obrigações propter rem
No Direito das Obrigações é estudada a relação jurídica entre duas pessoas, com o estabelecimento de vínculo entre devedor e credor. O Direito das Coisas, por sua vez, regula a submissão da coisa à pessoa e, por isso, neste segmento do Direito Civil observa-se a ligação instituída entre a pessoa e sua titularidade sobre um bem (a título de posse, propriedade, usufruto, servidão, etc.). 
É importante observar algumas hipóteses que não há clareza a respeito de se a ligação entre credor e devedor é pessoal (Direito das Obrigações) ou real (Direito das Coisas). Daí a necessidade de identificar outros casos, tais como ocorre na obrigação propter rem.
- a) as obrigações propter rem (também denominadas obrigações ob rem ou in rem scriptae), que podem ser conceituadas como aquelas que decorrem de um direito real sobre determinada coisa. Vinculam-se tais obrigações a esta coisa, razão pela qual a acompanha nas várias modificações. Trata-se, de hipótese em que se associa a coisa a uma obrigação, apresentando natureza ambulatória já que sua titularidade acompanha aquela referente ao direito real. Apresentam as seguintes características: referem-se ao titular de um direito real; o devedor se libera da obrigação diante do abandono da coisa, abdicando do direito real; a obrigação se reveste de uma acessoriedade especial, dotada de ambulatoriedade, o que faz com que a obrigação se transmita automaticamente com a transferência da titularidade da coisa; seguem o princípio da taxatividade (do numerus clausus), não sendo admitida qualquer outra obrigação propter rem além daquelas expressamente previstas na lei; b) os ônus reais que consistem em obrigações que limitam o uso e o gozo da propriedade, constituindo direitos ou gravames oponíveis erga omnes e que aderem à coisa, como na renda constituída sobre imóvel. Diferem das obrigações propter rem, pois: o inadimplemento do conteúdo do ônus repercute no próprio bem objeto do direito que serviu de causa ao surgimento do ônus como garantia, como no exemplo das dívidas de IPTU; traduzem-se, sempre, em posição jurídica passiva de natureza pecuniária, ou seja, geram ao onerado a prestação de pagar quantia em dinheiro devido à situação jurídica real sobre determinado bem; do inadimplemento decorre uma sujeição do onerado no sentido de reconhecer-se ao credor a excussão preferencial da coisa sobre a qual é fundado o direito real do onerado; têm sua responsabilidade limitada ao bem onerado, além de cujo valor não responde o devedor; seus efeitos desaparecem com o perecimento da coisa, enquanto os da obrigação propter rem podem persistir; implicam prestação positiva e são exigíveis por ação de natureza real, enquanto as obrigações propter rem podem se expressar em prestação negativa, e sua ação é de índole pessoal; c) as obrigações com eficácia real, também denominadas obrigações oponíveis a terceiros, podem ser consideradas figura híbrida. Revelam-se autênticas obrigações stricto sensu – com direito a uma prestação -, com a nota peculiar de serem oponíveis a terceiros, como ocorre nos casos de anotação preventiva do contrato de locação no Registro de Imóveis para fins de proporcionar a continuidade da locação mesmo em caso de alienação do bem imóvel (art. 8°, da Lei n° 8.245/91).
1.1.5. Classificação - Há vários critérios de classificação dos direitos reais, mas, dentre os que realmente interessam à melhor compreensão do tratamento jurídico existente, podem ser apontados: 
1. aquele que leva em conta a noção de pertencimento da coisa ao seu titular (critério da titularidade do objeto) e divide os direitos reais em: a) direito na própria coisa (jus in re propria, também denominado “direito real ilimitado”. Trata-se da propriedade); b) direitos na coisa alheia (jus in re aliena, da mesma forma conhecidos como “direitos reais limitados”. São todos os demais que não o direito de propriedade);
2. aquele que se refere à natureza da coisa objeto do direito real. Por este critério, têm-se os direitos reais imobiliários e os direitos reais mobiliários, conforme a natureza jurídica da coisa objeto do respectivo direito real;
3. aquele que leva em consideração o aspecto intrínseco (funcional) inerente aos direitos reais, classificando-os em: a) direitos reais de gozo ou fruição; b) direitos reais de garantia e c) direitos reais de aquisição;
4. aquele que secciona os direitos reais em: a) acessórios, que não existem independentemente ou autonomamente, como o penhor, a hipoteca e a anticrese; b) principais, que podem ser constituídos e mantidos independentemente de outro direito.
5.aquele que leva em conta a amplitude dos poderes: a) direito real ilimitado – o direito de propriedade; b) direitos reais limitados – os demais direitos reais.
Estratégias de Aprendizagem
Leitura do Livro Didático de Direito Civil IV, páginas 7 a 22. O aluno poderá, também, buscar materiais complementares através da internet.
Indicação de Leitura Específica
- Livro Didático de Direito Civil IV, páginas 7 a 22.
- Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=rIokdX9UEpw
- Filme para identificar institutos dos Direitos Reais: Gran Torino (2008)
Aplicação: articulação teoria e prática
(OAB FGV II EXAME UNIFICADO 2011) Assinale a alternativa que contemple exclusivamente obrigação propter rem:
(A) a obrigação de indenizar decorrente da aluvião e aquela decorrente da avulsão.
(B) a hipoteca e o dever de pagar as cotas condominiais.
(C) o dever que tem o servidor da posse de exercer o desforço possessório e o dever de pagar as cotas condominiais.
(D) a obrigação que tem o proprietário de um terreno de indenizar o terceiro que, de boa-fé, erigiu benfeitorias sobre o mesmo.
Avaliação
CASO CONCRETO 1
Wade Wilson alugou um apartamento de propriedade de Peter Parker em Belém(PA). O contrato de locação previu: valor e pagamento do aluguel, dever de cuidados com o bem, as taxas de condomínio serem de responsabilidade de Wade Wilson (locatário) e que a duração do contrato é de 3 anos. Assim durante todo o lapso contratual o locatário cumpriu o contrato, pagando em dia o aluguel e o valo da taxa de condomínio, bem como manteve o devido cuidado com o bem. Véspera da data de devolução do apartamento Peter Parker recebeu comunicação do município de Belém informando que havia débito de 2 anos nos valores referente ao IPTU do apartamento. Com fulcro no informado responda:
a) Peter Parker pode cobrar os valores referente ao IPTU de Wade Wilson, vez que este era responsável pelo imóvel durante o período? Explique.
b) Vencido o prazo de 3 anos do contrato, caso Wade Wilson recuse-se a devolver o apartamento, quais características do Direito das Coisas Peter Parker pode dispor para impor seu direito de propriedade sobre o bem? Explique.
DIREITO CIVIL IV - CCJ0224
Semana Aula: 2
Posse: Elementos e teorias
Palavras-chave
Posse. Conceito. Teorias. Elementos. Classificações.
Objetivos
a) Compreender o instituto posse e sua aplicação no Direito das Coisas;
b) Conhecer as teorias sobre posse e sua aplicação no Direito brasileiro;
c) Identificar os elementos caracterizadores da posse;
d) Classificar e conhecer as diversas formas de posse;
Estrutura de Conteúdo
UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
1.2 Da Posse
1.2.1 Teorias acerca da posse: o conceito de posse
1.2.2 Posse: sujeitos, objeto e natureza jurídica
1.2.3 Distinção entre posse, detenção e outros atos
1.2.4 Classificação da posse
Procedimentos de Ensino
A presente aula trata de um dos temas mais relevantes do Direito das Coisas, a saber, a posse. A pessoa que domina o conceito e os contornos da posse poderá melhor interpretar e aplicar as normas relacionadas aos diversos direitos reais e seus efeitos envolvendo o titular da situação jurídica real e os bens. 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
1. Da Posse
O significado técnico da palavra “posse” recebeu a influência de três grandes escolas doutrinárias: a) para os glosadores, a posse consistia no contato físico com a coisa, ou seja, o poder físico com a intenção de tê-la para si (para alguns) ou com a intenção de dono (para outros glosadores); b) para Savigny, a posse consistia na faculdade real e imediata de dispor fisicamente da coisa com intenção de dono e de defendê-la contra agressões de terceiros; c) para Ihering, a posse se retratava no fato de alguém proceder, intencionalmente em relação à coisa, como normalmente atua o proprietário, ou seja, a propriedade tem na posse a sua imagem exterior, a sua posição de fato. 
No âmbito do CC, o art. 1.196 apenas apresenta a definição de possuidor, mas não conceitua a posse. Assim, de acordo com o texto codificado, o possuidor é aquele que tem poderes inerentes à propriedade – previstos no art. 1.228, do Código. Revela-se a posse quando um indivíduo exercita ou pode exercitar algum dos poderes correspondentes ao direito de propriedade, como a guarda, o uso, fruição ou disposição da coisa, sendo que sua tutela se efetiva independentemente da prévia comprovação do direito à posse.
Tradicionalmente, só pode haver posse onde haja propriedade privada. Entretanto, com base na concepção social, a posse não pode mais ser compreendida como mera visualização (ou aparência) de propriedade. A posse-moradia, a posse-trabalho, a posse-cultivo, entre outras, representam situações jurídicas que permitem o acesso à moradia, ao trabalho, à sobrevivência digna e, assim, decorrem da previsão constitucional do princípio e valor objetivo da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1°, III), além de representarem concretizações dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas (CF, arts. 5°, 6° e 7°).
O ponto central das discussões teóricas sobre a posse é a distinção entre ser possuidor e ser detentor, eis que, sob o ponto de vista exterior em termos fenomênicos não é possível distinguir possuidor de detentor, muito menos a qualidade da posse. A posse, em regra, exige que haja um assenhoreamento (uma senhoria como poder físico) com relativa autonomia. A posse independe de autorização legal e, por isso, é estranho à sua configuração o elemento da legalidade. Contudo, há a necessidade de que o bem seja suscetível de apropriação. Já em relação à situação do detentor, do chamado fâmulo da posse, a doutrina aponta os seguintes pressupostos: a) uma pessoa que conserva a posse; b) uma outra pessoa titular do direito; c) uma relação de dependência entre elas; d) exercício da posse do dono pelo fâmulo em nome dele, de modo a cumprir ordens ou instruções suas, e não um poder próprio em benefício do dono. 
1.3.1. Teorias acerca da posse: o conceito de posse
- O Direito Romano é referência permanente em torno do estudo histórico da posse. Diante de tal quadro, as duas principais teorias que foram construídas tiveram como base a tentativa de interpretar os textos romanos: a teoria subjetiva e a teoria objetiva. 
Teoria subjetiva - A posse se compõe de dois elementos: a) o corpus, que consiste no elemento material representado pelo poder físico da pessoa sobre a coisa, pressupondo a apreensão desta, ou seja, a existência de relação exterior da pessoa com a coisa (um poder de dominação); b) o animus. que se afigura no elemento intelectual (ou anímico) consistente na intenção de dono, ou seja, na vontade de ter a coisa como sua, daí as expressões animus domini ou animus rem sibi habendi. A posse resulta, assim, da conjunção dos elementos corpus e animus. Caso falte algum dos dois elementos, não há posse, e sim mera detenção, designada por Savigny como “posse natural”. 
Algumas severas críticas foram apresentadas à teoria subjetiva: o exagerado subjetivismo, a não admissão do desdobramento da relação possessória, a dificuldade de identificação do estado anímico para fins de ser precisado concretamente, além das dificuldades de ordem prática. A exacerbação da autonomia da vontade para configuração da posse, segundo a corrente subjetivista, foi objeto de várias críticas, eis que refletiu o ideário liberal-individualista que prevalecia na época da formulação teórica.
Teoria objetiva – Parte da necessidade de se precisar a distinção entre as noções de posse e propriedade que, coloquialmente, são confundidas. A posse passa a caracterizar-se como o poder de fato e a propriedade como o poder de direito sobre a coisa. A teoria objetiva admite a separação dos dois poderes em casos de subtração da coisa (posse injusta) e de transferência do poder de fato sobre a coisa por iniciativa do proprietário (posse justa). Ihering sustentava que o ius possidendi tem importância prática para o proprietário, de modo que seu exercício (a utilização econômica da propriedade) consistiano uso da coisa por si mesmo (utilização imediata ou real), ou cedendo-a a outrem (utilização mediata ou jurídica). Todos os atos de uso, gozo e consumação da coisa têm a posse como condição, razão pela qual a privação da posse relativamente ao proprietário significa a paralisação da realização econômica da propriedade. A noção de propriedade acarreta, para os objetivistas, necessariamente o direito do proprietário à posse.
Deste modo, a posse, para Ihering, consiste no aspecto normal da relação do proprietário com a coisa, é a condição para a realização econômica da propriedade que se expressa no uti (uso), frui (fruição) e consummere (consumo). De acordo com a doutrina objetiva, a posse é a expressão material da propriedade, o que influenciou a redação do art. 485, do CC de 1916 e, conseqüentemente, do art. 1.196, do CC de 2002. Para a teoria objetiva, a tutela da posse decorre da defesa imediata da propriedade, e não se fundamenta na necessidade de evitar a violência. 
Deste modo, o corpus consiste no estado normal externo da coisa, sobre que se cumpre o destino econômico de servir aos homens, e animus deve ser encarado sob o prisma da affectio tenendi (a vontade de ter), ou seja, a vontade de se tornar visível como proprietário. Ihering não exige, portanto, a presença do animus domini para configuração da posse. A posse corresponde ao exercício de um poder sobre a coisa atinente ao da propriedade ou de outro direito real.
Consequências: a) reconhece-se a qualidade de possuir a várias pessoas que, na concepção clássica, são considerados meros detentores, como o usufrutuário, o locatário, o comodatário, o transportador, o administrador, o depositário e o mandatário, entre outros; b) admite-se o desdobramento da relação possessória como um processo normal, decorrente da diversidade das formas de utilização econômica da coisa, daí o reconhecimento da distinção entre posse direta e posse indireta; c) admite-se a posse por outrem eis que não se exige a intenção de dono para caracterizá-la; d) reconhece-se a posse de direitos, inclusive no que tange à posse de direitos pessoais. 
Por outro lado, a maior crítica feita à teoria objetiva diz respeito à orientação consoante a qual a posse fica subordinada à propriedade e, portanto, não é dotada de autonomia e independência, sendo compreendida como mera exteriorização da propriedade. 
Posição prevalecente no direito pátrio e comparado - Na formulação do CC de 1916, a doutrina reconheceu que Clóvis Bevilaqua se inspirou na teoria objetiva para redação dos dispositivos legais sobre a posse. Contudo, não se admitiu que o sistema codificado tivesse adotado a teoria objetiva na sua inteireza ou versão original, pois enquanto os arts. 485, 487 e 497, do Código de 1916, eram representativos da teoria objetiva, os arts. 493 e 520, do texto de 1916, eram indicados como incorporadores da teoria subjetiva. Com o advento do CC de 2002, tem-se divulgado que foram expurgadas as “reminiscências da teoria subjetiva de Savigny” do texto codificado, especialmente as referências quanto ao modo de aquisição da posse por apreensão (CC 16, art. 493, I) e à perda da posse pelo abandono (CC 16, art. 520, I) que eram consideradas normas que se enquadravam na noção subjetiva da posse de Savigny. Manteve-se, com maior extensão, à filiação à teoria objetiva de Ihering.
Desta forma, se no sistema do Código de 1916 havia resquícios ou intromissões indevidas à concepção subjetiva da posse, no sistema de 2002 houve acentuada aderência à concepção objetiva. Há, no entanto, quem ainda sustente a reminiscência da teoria subjetiva no Código de 2002, como se verifica na referência ao animus domini nos arts. 1.238 e 1.260, do texto codificado, em matéria de usucapião de imóvel e de móvel, respectivamente.
A teoria objetiva é aquela seguida na maior parte dos textos codificados no sistema do civil law, em consonância com as influências que marcaram a elaboração do primeiro CC brasileiro (em 1916). Como outros exemplos, podem ser enunciados o Código Civil francês (1804), o Código Civil espanhol (1888), o Código Civil alemão (1900), o Código Civil italiano (1942) e o Código Civil português (1966).
Há de se notar, contudo, que tanto a teoria subjetiva quanto a objetiva encontravam-se vinculadas à prevalência da situação proprietária em claro atendimento aos valores e interesses patrimoniais do liberalismo econômico. Assim, enquanto os subjetivistas sustentavam a necessidade de verificação da intenção de dono para configuração da posse, os objetivistas defendiam a posse como visibilidade, exteriorização da propriedade. Atualmente, deve-se reconhecer a posse por si mesma, tutelada independentemente da circunstância de ser uma aparência de propriedade. A sentença deve ser invertida, à luz da funcionalização social: o proprietário deve atuar de modo semelhante ao atuar (agir) de um possuidor e, eventualmente, em situação de confronto com o possuidor qualificado pela funcionalização social da posse, deve preponderar o interesse daquele que efetivamente cumpre a função social.
1.3.2. Posse: sujeitos, objeto e natureza jurídica
Natureza da posse - Para a teoria subjetiva (Savigny), a posse é, ao mesmo tempo, um fato e um direito. Considerada em si mesma, a posse é um fato; considerada nos efeitos que produz (usucapião e interditos, entre outros), é um direito. Isto porque, como fato, a posse independe do ordenamento jurídico, tanto assim que pode se originar da violência, de negócio nulo, por exemplo. No entanto, levando em consideração os efeitos que ela produz, a posse é um direito.
Já, de acordo com a teoria objetiva (Ihering), a posse é um direito (jus possidendi), assim entendido como o interesse juridicamente protegido, pois nela reúnem-se os dois elementos de um direito subjetivo, a saber, o elemento substancial (interesse) e o elemento formal (a proteção jurídica).
Na realidade, a posse surge como um fato e, para a doutrina majoritária, sua proteção decorre da necessidade que o núcleo social tem de impedir o exercício arbitrário das próprias razões. Logo, a posse, em si mesma, não é um direito, mas em suas conseqüências o é.
A posse, como exteriorização de uma certa situação de poder entre o homem e uma coisa, pode ser verificada em três situações distintas: a) posse como conteúdo de certos direitos (posse-conteúdo); b) posse como requisito para aquisição de certos direitos reais (posse-condição de nascimento de direitos); c) a posse por si mesma (posse em si mesma). 
Sujeitos da posse – tanto pessoas naturais (ou físicas) quanto pessoas jurídicas, sejam de direito público ou de direito privado.
Objeto da posse – A posse tem por objeto coisas (bens corpóreos), havendo polêmica quanto à admissibilidade da posse sobre direitos reais e, com mais intensidade, sobre direitos pessoais. A coisa, desde que não considerada fora do comércio jurídico, é objeto de posse, eis que viável sua utilização econômica seja direta ou indiretamente e, a esse respeito, não há discussão. 
Contudo, algumas polêmicas surgem: 
a) discute-se acerca da possibilidade de serem objeto de posse em separado os bens acessórios. Em se tratando de parte integrante e constitutiva da coisa principal de maneira que não possam ser destacados sem alteração e prejuízo da substância da coisa, entende-se que não é admissível a posse sobre o bem acessório;
b) controverte-se ainda acerca da possibilidade de a posse incidir sobre cada um dos “bens” que integram a universalidade. Caso sejam universalidades de fato, compostas por coisas, obviamente que a posse pode incidir sobre cada uma delas (e não sobre a universalidade). Já na hipótese de serem universalidades de direito, sustenta-se a impossibilidade da posse eis que são abstrações jurídicas como no exemplo da herança. Contudo, todos os elementos que a integram, considerados individual e separadamente, são suscetíveis de posse eis que também compostos por direitos patrimoniais; 
c) há ainda, o tema dos “novos bens” e o objeto da posse. A questão remonta aos direitos autorais (Lei n° 9.610/98),à propriedade intelectual dos programas de computador (Lei n° 9.609/98). A esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n° 228, com o seguinte teor: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”. No que concerne à questão do fornecimento/corte de energia, em regra, tem-se entendido que há obrigação de fazer no fornecimento de energia e, por isso, o regime a ser aplicado é o do Direito das Obrigações, mas há julgado que admitiu ação possessória para obstar o desligamento da linha telefônica ou a retirada do aparelho pela concessionária telefônica. O certo é que a realidade dos “novos bens” não se confunde com o objeto material dos Direitos Reais e, portanto, não podem ser considerados coisas propriamente ditas. Desse modo, a princípio, não se revela possível considerá-los como objeto de posse; 
d) A grande controvérsia diz respeito à posse de direitos. Alguns autores reconhecem apenas a posse dos direitos reais de fruição (ou gozo) como nos exemplos do uso, usufruto, habitação e servidão. Outros doutrinadores também incluem os direitos reais de garantia além dos direitos reais de gozo. Há, finalmente, aqueles que inserem, ainda, os direitos pessoais patrimoniais. Contudo, só pode haver posse sobre coisa, e não sobre direito (real ou pessoal).
Posse dos direitos pessoais - A admissibilidade da posse dos direitos pessoais é considerada consequência lógica da noção de que a posse é o exercício de um direito, como postulado da teoria objetiva de Ihering. Para Savigny, não é possível tal admissão, eis que a posse corresponde ao poder físico sobre a coisa. 
Deste modo, a despeito de corrente mais liberal admitir a posse de direitos pessoais patrimoniais (ou direitos obrigacionais, de crédito), há posição predominante no sentido contrário. Rechaça-se, pois, a possibilidade da posse dos direitos pessoais de conteúdo extrapatrimonial, somente admitindo a posse dos direitos pessoais de conteúdo patrimonial, cujo exercício esteja ligado ao exercício de poderes sobre uma coisa corpórea, como nos exemplos do locatário, mandatário, depositário, entre outros.
O interesse relacionado ao tema, em termos práticos, consiste na possibilidade de extensão dos interditos possessórios à defesa de direitos pessoais atinentes ao exercício da função pública e à tutela possessória dos interesses individuais em face da Administração Pública, daí a construção teórica da denominada posse dos direitos pessoais. Sucede que, na atualidade, outros remédios e instrumentos processuais têm sido utilizados e servidos com maior precisão técnica para tal fim, como o mandado de segurança que é contemplado com previsão constitucional e infraconstitucional.
No texto do CC de 1916, o art. 490, ao tratar da posse de boa-fé, considerava que a posse poderia incidir sobre a coisa ou o “direito possuído”, o que mereceu a interpretação no sentido da admissibilidade da posse de direito pessoal, em consonância com a teoria objetiva. No entanto, o CC de 2002, no art. 1.201, retirou a referência à expressão “do direito possuído” que constava do art. 490, revogado e, consequentemente, não contempla mais a possibilidade de um direito ser objeto da posse. 
1.3.3. Distinção entre detenção, posse e outros atos
A detenção se caracteriza pela presença de dois elementos: a) a presença de um vínculo de subordinação entre o detentor e o titular da posse; b) o detentor conserva a coisa em seu poder, em nome do titular da posse e sob as suas instruções. Daí o detentor ser também denominado servidor da posse. O conceito que é traduzido no art. 1.198, do CC, é o do fâmulo da posse em relação ao dono, ou seja, uma pessoa que, devido à dependência (compreendida sob o ponto de vista econômico) relacionada a outro indivíduo, exerce sobre a coisa não um poder próprio, mas sim o poder de fato por ordem do último.
Deve-se ainda ressaltar que não se consideram possuidores, e sim equiparados a meros detentores, aqueles que têm mera permissão (deve ser expressa) ou recebem a tolerância do possuidor para manterem contato com a coisa, bem como não autorizam a aquisição da posse os atos violentos, clandestinos ou precários (CC, art. 1.208).
Finalmente, também pode ser considerada mera detenção a situação fática relacionada à pessoa no bem público de uso comum do povo ou de uso especial (CC, art. 100). Tratando-se de bens que apresentam finalidade pública, nos termos do ordenamento jurídico brasileiro se situam fora do comércio jurídico e, conseqüentemente, são insuscetíveis de apropriação privada. 
Não se pode, ainda, confundir posse com mera permissão (exemplo: solicitação de uso do bem, com permissão do proprietário ou mero possuidor) e com a tolerância (caso em que outra pessoa utiliza a coisa, o que é presenciado pelo possuidor ou proprietário que, no entanto, não interfere para proibir o uso). 
1.3.4. Espécies de posse
Há duas grandes classificações a respeito da posse em consonância com os critérios do modo de aquisição e da subjetividade: a) acerca do modo de aquisição no que pertine ao reconhecimento (ou não) de vícios objetivos, a posse se divide em posse justa e posse injusta; b) no plano da subjetividade pode-se distinguir a posse de boa fé da posse de má fé. A presença (ou ausência) de qualquer dos vícios objetivos influi na qualificação da posse (justa ou injusta), podendo o possuidor ter (ou não) convicção de que seu poder é legítimo ou ilegítimo (posse de boa fé ou de má fé). 
Há, no entanto, vários outros critérios de classificação da posse, inclusive sob a perspectiva da funcionalização da posse. Contudo, deve haver especial cuidado na análise da doutrina e legislação estrangeiras a respeito da posse, eis que não existe uniformidade nos conceitos e terminologia.
Posse direta e indireta - A divisão da posse em direta e indireta atende a uma necessidade prática, a saber, a determinação acerca das pessoas que merecem proteção possessória, identificando as conseqüências jurídicas que se relacionam à posse na sua plenitude. Lembre-se que o desdobramento da posse somente é possível na concepção de Ihering no âmbito da teoria objetiva da posse. Assim, podem coexistir duas posses sobre a mesma coisa, ou seja, posses paralelas que não se excluem. A distinção entre posse direta e posse indireta se verifica quando os poderes inerentes à propriedade possuem distintas titularidades e passou a ser importante para o fim de conferir proteção possessória às pessoas que detêm algum tipo de poder inerente à propriedade.
Desdobramento da posse - A teoria subjetiva da posse não admitia, por exemplo, a posse do locatário, do comodatário, e considerava que o credor pignoratício e o depositário somente tinham posse derivada porque a lei expressamente o autorizou. A teoria objetiva da posse, ao contrário, passou a admitir o desdobramento da posse e, desse modo, reconheceu e legitimou a posse em favor das pessoas acima referidas na condição de possuidores diretos.
O CC de 2002, no art. 1.197, encampou a possibilidade do desdobramento da relação possessória, referindo-se claramente à posse direta que pode coexistir com a posse indireta. Em razão da mediação que se estabelece entre posse direta e posse indireta, costuma-se designar o fenômeno como “desmembramento vertical da posse”, distinguindo-o do “desmembramento horizontal da posse”, este reconhecido em relação à composse. 
Distinção -A posse direta (também denominada de posse subordinada) é aquela reconhecida ao não proprietário a quem cabe o exercício de uma das faculdades da propriedade, por força de obrigação ou de direito real sobre coisa alheia. A posse direta envolve o exercício de contato físico imediato (direto) sobre o bem, permitindo que o possuidor administre o bem. É a posse pertencente à pessoa que tem a coisa sob seu poder físico e imediato, em razão de um direito real ou obrigacional. 
A posse direta é temporária, eis que entre o possuidor direto e o possuidor indireto existe uma relação jurídica de natureza transitória que tende a se extinguir, quando então todos os poderesse concentram na pessoa do titular da propriedade. Além disso, a posse direta é sempre derivada, sendo limitada no tempo. Entretanto, isto não obsta que o possuidor direto defenda sua posse por iniciativa própria, independentemente da assistência ou intervenção do possuidor indireto. Reconhece-se, inclusive, a possibilidade de o possuidor direto defender sua posse contra o possuidor indireto, e vice-versa.
A posse indireta, por sua vez, é aquela que o proprietário conserva para si quando se demite, temporariamente, de um dos poderes elementares da propriedade, cedendo-o seu exercício a outra pessoa. Neste caso, o proprietário permanece como titular do ius possidendi, transferindo o ius possessionis ou parte do ius possidendi a alguém. 
Pressupostos da posse indireta: a) que a coisa se encontre na posse direta de outra pessoa; b) que entre os dois possuidores – direto e indireto – haja relação jurídica de que derive o desdobramento da posse, seja por vínculo originário dos Direitos Reais, Direito das Obrigações, Direito das Sucessões ou Direito de Família. 
Posse justa e injusta - A classificação que distingue a posse justa da posse injusta leva em conta o reconhecimento da existência (ou ausência) de vícios objetivos quando da aquisição da posse. 
A posse justa é aquela cuja aquisição não repugna ao Direito, ou seja, é a posse isenta dos vícios da violência, clandestinidade ou precariedade no momento da sua aquisição pelo possuidor (CC, art. 1.200).
Ao revés, a posse injusta é aquela cuja aquisição repugna ao Direito, cuidando-se da posse adquirida por modo proibido, apresentando vício objetivo na sua aquisição (violência, clandestinidade ou precariedade); é a posse ilícita no momento da sua aquisição. Os vícios da posse são a violência (vi), a clandestinidade (clam) e a precariedade, daí a subclassificação da posse injusta em posse violenta, posse clandestina e posse precária. 
É importante mencionar a possibilidade da posse justa se transformar em posse injusta e vice-versa. A mudança do título da posse (justa e injusta) ocorre pela superveniência de uma causa exterior adversa à manutenção da mesma espécie de posse. 
2.4. Posse de boa fé e de má fé - A classificação que distingue a posse de boa fé e a posse de má fé também é adotada no CC (art. 1.201), apresentando clara importância prática quanto aos seus efeitos. Trata-se de classificação que leva em consideração o plano da subjetividade do possuidor quanto à circunstância de haver vício ou obstáculo que impeça a regular e legítima aquisição da coisa. 
A posse de boa fé é aquela em que o possuidor ignora o vício original, ou o obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa. A boa fé é concebida de modo negativo, como ignorância, e não como convicção. Aspectos essenciais da posse de boa fé: a) existência de um vício obstativo da aquisição da posse, ou seja, uma mácula, mancha ou senão que restringe a aquisição da posse ao campo dos meros fatos; b) ou a presença de um obstáculo impeditivo da aquisição da posse, a saber, um empeço, um estorvo, um óbice à constituição da situação jurídica titularizada; c) e a ignorância, por parte do possuidor, da ocorrência do elemento material que impede a regular aquisição da coisa. Os tribunais brasileiros presumem a boa fé do possuidor. 
A posse de boa fé, por sua vez, se subdivide em posse de boa fé real e posse de boa fé presumida. A primeira ocorre quando a convicção do possuidor se fundamenta em elementos objetivos evidentes, não suscitando dúvida quanto à legitimidade da aquisição. A segunda consiste na posse de boa fé em que o possuidor tem justo título, gerando presunção iuris tantum.
A posse de má fé, ao contrário, é aquela em que o possuidor tem consciência de que há obstáculo, ou sabe da existência do vício que impede a aquisição da coisa. É a posse em que o possuidor tem conhecimento do vício, sabe da ilegitimidade de sua posse e, apesar de tal conhecimento, mantém-se possuidor. Não basta a alegação da ausência de ciência da ilicitude como atitude passiva do indivíduo para caracterizar a posse de boa fé; há um aspecto dinâmico na questão da ciência de boa fé no sentido da investigação acerca da existência de proprietário ou de outro possuidor com melhor posse. Devem ser empregados todos os meios necessários para certificação da legitimidade de sua posse.
A posse originalmente de boa fé pode, no curso da situação possessória, pode transformar-se em posse de má fé. Há dificuldade em se determinar o momento em que a posse de boa fé perde esse caráter. Em tese, a boa fé desaparece quando as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente, deslocando-se para dados objetivos (CC, art. 1.202). Há parcela da doutrina que defende que, neste caso, o momento da cessação da boa fé seria o momento da citação.
Posse com ou sem justo título - Tal classificação é especialmente importante para o efeito da usucapião ordinária com a diminuição dos prazos para fins de reconhecimento do fenômeno da aquisição da propriedade através da usucapião, entre outros efeitos. Além disso, trata-se de classificação que se relaciona à classificação anterior na distinção entre posse de boa fé e posse de má fé.
O justo título é a situação jurídica, o fato jurígeno que, formalmente, é hábil para transmitir um direito, mas que possui um defeito intrínseco, normalmente não conhecido pelo adquirente, daí a posse com justo título ser normalmente considerada como posse de boa fé (presumida). O título é considerado a causa eficiente da posse, a qualidade com que a pessoa figura na situação possessória, e não o instrumento comprobatório de negócio ou ato jurídico. O justo título configura estado de aparência que enseja a conclusão de que o indivíduo tem boa posse.
A presunção de boa fé em favor do possuidor com justo título, no entanto, não é absoluta (iuris et de iure), admitindo seu afastamento diante da certeza provocada pela prova em contrário ou decorrente de mandamento legal expresso proibitivo da presunção.
Posse nova e posse velha - O CC de 2002 não reproduziu os antigos preceitos contidos nos arts. 507 e 508, do CC de 1916, que disciplinavam as denominadas posse nova e posse velha. A posse nova é aquela reconhecida com período temporal inferior a ano e dia. Já a posse velha é aquela reconhecida com período temporal superior a ano e dia. Tais preceitos, no entanto, prosseguem previstos no CPC, que atribui o direito de reintegração ou manutenção de posse liminarmente quando o esbulho ou a turbação datar de menos de ano e dia. 
Posse ad interdicta e ad usucapionem - A classificação que divide a posse ad interdicta e a posse ad usucapionem leva em conta os efeitos jurídicos da posse.
A posse ad interdicta é aquela considerada em si mesma, correspondendo ao ius possessionis já que independe da existência de direito do possuidor sobre a coisa. É a posse apenas considerada como poder de fato sobre a coisa e, assim, merece proteção dos interditos possessórios. Posse ad interdicta é aquela apta a receber os benefícios da proteção possessória via os interditos (ações de reintegração e manutenção, e ação proibitória). Toda situação de fato caracterizada como posse, em regra, é tutelada via os interditos possessórios, inclusive o possuidor injusto e o possuidor de má fé quando sofrer ameaça ou agressão de terceiro.
A posse ad usucapionem é aquela que apenas é reconhecida em favor da pessoa que possui a coisa como sua, ou seja, com a presença do animus rem sibi habendi (ou animus domini) de Savigny. Cuida-se da posse que enseja a usucapião como modo de aquisição da propriedade, ou em outras palavras, é o elemento de suporte fático da usucapião, a posse qualificada pelo animus domini. Não há usucapião sem posse, daí a posse ad usucapionem como modalidade de posse cujo titular é o possuidor que possui a coisa como lhe pertencendo. Não é necessário que o possuidor da coisa se julgue proprietário – opinio domini -, sendo suficiente que tenha vontade de possuir a coisa como se ela lhe pertencesse. 
O locatário, porexemplo, somente tem posse ad interdicta eis que não apresenta o ânimo de ter a coisa para si. 
Outras classificações - Além dos critérios de classificação da posse mais conhecidos, há outros que se revelam importantes para certos fins e efeitos, além de haver classificação mais atual e contemporânea à luz da função social.
Posse natural e civil - A posse natural é a posse considerada como poder físico sobre a coisa ou a possibilidade de utilização da coisa; posse que se exterioriza; exige-se o contato físico do possuidor em relação à coisa. A posse civil é a que decorre da lei sem que o possuidor pratique qualquer comportamento ou adote qualquer conduta para tanto, como no exemplo do direito de saisine no âmbito do Direito das Sucessões (CC, art. 1.784; CC 1916, art. 1.572). 
Ius possessionis e ius possidendi - Trata-se de critério de classificação da posse que leva em consideração a figura do possuidor relativamente à coisa, daí a distinção entre ius possessionis e ius possidendi. O ius possessionis é a posse que decorre do poder físico, do assenhoreamento da coisa. O ius possidendi é a posse que existe por força de um direito, como no exemplo do proprietário que, em razão do direito real de propriedade, tem posse baseada no ius possidendi. 
Posse simples e posse funcionalizada - Na realidade, a tessitura da função social, seja na propriedade, seja na posse, se localiza na atividade desempenhada pelo titular da relação sobre a coisa à sua disposição. Se a função social da propriedade se exerce pela função social que a posse-conteúdo tem, ou seja, se é pela posse que a função da propriedade se cumpre, é correta a afirmação de que é a posse que tem uma função social saliente, e não a propriedade em si.
A função social da posse gera a distinção entre a posse qualificada (ou posse social) e a posse simples. Atitudes como cercar, murar o terreno, construir um cômodo nos fundos, de modo a atrair, a tentar exteriorizar poder sobre a coisa, impedindo que outras pessoas se apossem da coisa imóvel, caracterizam a posse simples, ou seja, atos de gestor de negócios de modo a atender presumivelmente à vontade do dono da coisa.
A posse funcionalizada permite a proteção do “ser” nas exigências mínimas da vida em sociedade, como um lugar para morar (posse-moradia), um lugar para plantar (posse-trabalho), um lugar para exercer as atividades econômicas e sociais relevantes, ou seja, seu exercício permite o atendimento aos direitos fundamentais de segunda geração.
A posse com função social permite que o imóvel (urbano ou rural) atenda aos direitos fundamentais de segunda geração e, por isso, é mister reconhecer-se a necessidade de proteção especial à posse funcionalizada. 
Posse exclusiva, Composse e posses paralelas - Como regra, o objeto da posse deve ser exclusivo. A posse exclusiva é o que comumente ocorre. A título excepcional, no entanto, admite-se a pluralidade de possuidores sobre a mesma coisa. Se a propriedade pode ser comum, também é reconhecida a posse comum, exercida pro indiviso. Daí a regra do art. 1.199, do CC, que reconhece a composse, ou seja, a posse em comum da mesma coisa, no mesmo grau, de mais de uma pessoa. A composse é a posse de duas ou mais pessoas sobre coisa indivisa, desde que os atos possessórios de qualquer deles não excluam os demais. A composse é a comunhão da situação fática da posse, ao passo que o condomínio é a comunhão da propriedade. 
Os requisitos para configuração da composse são: a) a posse de duas ou mais pessoas; b) a coisa indivisa como objeto da composse. A composse é situação verificável nos casos de em que várias pessoas exercem simultaneamente ingerência fática sobre a mesma coisa, sem que as partes sejam localizadas, contando cada compossuidor com uma fração ideal sobre a posse. É alvissareiro salientar que cada compossuidor: a) é considerado possuidor do todo em relação a terceiro e, assim, poderá exercer todos os direitos que lhe competem, inclusive o de, per se, invocar a proteção possessória para a defesa da coisa comum no seu todo, e não apenas na sua parte ideal; b) deverá agir de modo harmônico e civilizado para não suprimir os direitos dos outros compossuidores, na relação interna.
A composse pode terminar pela: a) divisão consensual ou judicial da coisa comum devido ao desaparecimento da coisa comum; b) posse comum de um dos compossuidores que isole uma parte da coisa comum, sem oposição dos demais, passando a praticar atos possessórios com exclusividade, acarretando uma divisão de fato.
Insta também salientar que a composse oferece dois fenômenos: a) a posse pro-diviso que consiste naquela que o compossuidor continua a ter, em termos de contato físico e material, eis que antes da morte do antigo possuidor já tinha. Na posse pro-diviso, a coisa é divisível (apesar de manter-se indivisa), e os compossuidores podem exercer poderes sobre partes distintas; b) a posse pro-indiviso é aquela que os compossuidores passarão a ter pela primeira vez, porquanto nunca a tiveram anteriormente. Neste caso, a coisa é indivisível fisicamente e, por isso, não comporta o exercício de poderes em relação a partes distintas, e sim apenas sobre a totalidade da coisa.
Por fim, a composse não pode ser confundida com o desdobramento da relação possessória em posse direta e posse indireta, em que os graus da posse são diversos, como nos exemplos do locador (possuidor indireto) e locatário (possuidor indireto). Neste caso, sobre uma coisa pode incidir mais de uma posse exclusiva, cada qual recaindo sobre poder diferente. O desdobramento da relação possessória em posse direta e posse indireta caracteriza, ao seu turno, a existência de posses paralelas em graus diferentes, o que distingue tal situação da composse. O fenômeno do desdobramento da relação possessória só foi admitido na teoria objetiva de Ihering.
Convalescimento (interversão) da posse - De acordo com o Direito brasileiro, considera-se que a posse mantém o mesmo caráter em que foi adquirida, preservando suas características e particularidades, salvo prova em contrário (CC, art. 1.203). A regra é, portanto, a de que não há possibilidade de alguém, unilateralmente, modificar a qualificação da posse, convalescendo os vícios objetivos e subjetivos quanto à aquisição da posse.
Contudo, duas exceções têm sido indicadas à imodificabilidade do caráter da posse: a) fato de natureza jurídica, que consiste na constituição de relação jurídica de direito real ou de direito obrigacional, convertendo-se a posse injusta em posse justa com base na interversão da posse que se caracteriza pela bilateralidade; b) fato de natureza material, que se verifica quando da manifestação da inequívoca intenção do possuidor de privar o proprietário do poder de disposição sobre a coisa, mediante a prática de atos prolongados neste sentido, sem a oposição da pessoa que deveria reverter a situação. O Enunciado n° 237, da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, encampou tal orientação.
Função social da posse - Tal como ocorre em relação à propriedade, a posse não pode ser dissociada da noção de função social. No sistema jurídico brasileiro, fundado na solidariedade política, econômica e social e na busca do pleno desenvolvimento da pessoa humana, o conteúdo da função social assume a idéia e o papel do tipo promocional na direção de que a disciplina das formas e espécies de posse e suas interpretações devem ser atuadas para garantir e promover os valores sobre os quais se funda o ordenamento.
Ainda que se saiba que a noção conceitual de função social seja imprecisa, vaga, abstrata, com certa margem de indeterminação, tal aspecto se mostra coerente com a idéia de maior adequação ao caso concreto, de cláusula aberta que deve ser concretizada e efetivada à luz da realidade subjacente.
Há, inicialmente, o reconhecimento de que há prioridade histórica da posse sobre a propriedade, eis que cronologicamente a propriedade começou pela posse, geralmente posse geradora da propriedade como na posse qualificada para fins de usucapião. Além disso,a noção da função social se vincula necessariamente à idéia do uso da coisa e, por isso, modifica significativamente conceitos e categorias do regime tradicional das situações proprietárias e possessórias. A função social é a essência dinâmica da estrutura jurídica, e não é mais considerada mero limite (externo) à situação jurídica.
Atualmente, cogita-se de um direito de posse autônomo, representativo de uma situação jurídica e fática definida que se afasta do direito de propriedade. Isto posto, pode-se identificar a posse em três situações distintas: a) posse como conteúdo de certos direitos; b) posse como requisito para aquisição de certos direitos reais; c) posse por si mesma. Na última situação, inexiste vinculação entre a posse e a existência de qualquer direito, já que a posse se origina de fato independente e isolável, ou pode surgir do desligamento da função, de conteúdo de um direito cedido a outrem ou exercido por outrem, como no fenômeno da interversão da posse (CC, arts. 1.198, parágrafo único, e 1.203). A posse por si mesma é importante para a sociedade, eis que por meio dela a pessoa tem possibilidade de atender às necessidades vitais, como a moradia e o cultivo, daí as denominadas posse-moradia e posse-trabalho.
A função social da posse é, pois, estabelecida pela necessidade social, pela necessidade da terra para o trabalho, para a moradia, ou seja, para atendimento às necessidades básicas que pressupõem a dignidade da pessoa humana. Trata-se da exteriorização do conteúdo imanente da posse, a caracterizar sua utilidade social e sua autonomia, inclusive quanto ao direito de propriedade.
Estratégias de Aprendizagem
Leitura do Livro Didático de Direito Civil IV páginas 22 a 34. O aluno poderá, também, buscar materiais complementares através da internet.
Indicação de Leitura Específica
- Código Civil: Arts: 1196 ao 1224.
- Livro Didático de Direito Civil IV, páginas 22 a 34.
- Vídeos: https://www.youtube.com/watch?v=OM8i0iiGOkg
https://www.youtube.com/watch?v=D0dmoi5G-kw
https://www.youtube.com/watch?v=qXhTiUZyfbA
- Filme: Distrito 9 (2009)
Aplicação: articulação teoria e prática
Veja aplicação deste tema em questão da OAB:
Questão 33 (OAB FGV VII EXAME UNIFICADO 2012) Acerca do instituto da posse é correto afirmar que
A) o Código Civil estabeleceu um rol taxativo de posses paralelas.
B) é admissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
C) fâmulos da posse são aqueles que exercitam atos de posse em nome próprio.
D) a composse é uma situação que se verifica na comunhão pro indiviso, do qual cada possuidor conta com uma fração ideal sobre a posse.
Avaliação
CASO CONCRETO 2
Mogli comprou uma mansão de 1.200 m² em Balneário Camboriú (SC), tendo realizado o devido registro em cartório desta compra. Esta mansão serve apenas como casa de veraneio, vez que é uma casa de praia. Pocahontas resolveu passar o carnaval em Balneário Camboriú, assim realiza contrato de locação com Mogli, o contrato firmado é por temporada (período do carnaval), sendo pactuado o valor e data de devolução do imóvel (12:00 h da quarta-feira de cinzas), analisando a presente situação responda:
a) Pocahontas tornou-se possuidora do imóvel? Qual das teorias sobre a posse abraça esta situação? Explique
b) Classifique a posse apresentada.
c) Quando Pocahontas chegou à casa conheceu o Sr. Aladdin, caseiro contratado por Mogli para cuidar da casa de praia. Pode-se afirmar que Aladdin é possuidor da casa? Explique.
DIREITO CIVIL IV - CCJ0224
Semana Aula: 3
A Posse
Tema
Posse: Efeitos, aquisição e perda. 
Objetivos
a) Compreender os efeitos da posse;
b) Entender as formas de aquisição da posse;
c) Aprender as formas de proteção a posse
d) Determinar a perda de posse.
Estrutura de Conteúdo
UNIDADE 1 INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
1.3.Da Posse
1.5.Efeitos da posse
1.6. Da aquisição e perda da posse
Procedimentos de Ensino
A presente aula trata de questões práticas referentes ao fenômeno possessório. A pessoa que domina o conceito e os contornos da posse poderá melhor interpretar e aplicar as normas relacionadas aos diversos direitos reais e seus efeitos envolvendo o titular da situação jurídica real e os bens. 
UNIDADE 1 ? INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS E POSSE
1.3.5. Efeitos da Posse
Tutela da posse - No estudo da posse, sempre reconheceu-se sua eficácia jurídica, mesmo para aqueles que somente a consideraram como simples fato. A despeito das divergências acerca das teorias da posse, sempre se reputou fundamental a identificação dos efeitos da posse nos vários sistemas jurídicos que foram construídos a esse respeito. 
Deste modo, prevalece a corrente que defende a multiplicidade dos efeitos da posse, podendo ser enunciados os seguintes como mais relevantes: a) direito aos interditos; b) direito à percepção de frutos; c) direito à indenização pelo valor das benfeitorias úteis e necessárias; d) direito ao levantamento das benfeitorias voluptuárias; e) direito à usucapião da coisa possuída; f) direito à reparação dos danos sofridos com a turbação ou o esbulho. Ainda na doutrina, há quem defenda que somente são efeitos da posse aqueles que se produzem independentemente de qualquer influência ou idéia de propriedade e, neste caso, os efeitos da posse seriam apenas o direito aos interditos e o direito à usucapião. 
O tema referente à classificação da posse ? e, conseqüentemente, a identificação das espécies de posse ? é importante para a compreensão da atribuição de efeitos jurídicos à posse. Alguns dos efeitos da posse se produzem em qualquer das modalidades e espécies de posse, enquanto que outros se vinculam a determinada espécie ou classificação.
Um dado atual e que merece maior consideração diz respeito à distinção entre posse com função social (ou posse qualificada) e posse comum (ou simples), devido à presença de atividade humana social e economicamente relevante na primeira, o que normalmente ocorrerá através da moradia, do desenvolvimento de alguma atividade empresarial (comercial, industrial ou de prestação de serviços), no que se refere aos imóveis urbanos, e da produção de bens, serviços e moradia no pertinente aos imóveis rurais. 
Protege-se a posse porque o possuidor como tal exerce atos de posse, e não porque ele exerce atos semelhantes ao proprietário; a proteção da posse por si mesma se justifica em razão da finalidade de extrair as utilidades econômicas e sociais da coisa, como produção de riqueza, moradia, alimentação, lazer, entre outras, em benefício do possuidor e da comunidade.
Ademais, a posse com função social permite o atendimento aos princípios fundamentais do sistema jurídico, conferindo dignidade à pessoa do trabalhador no campo, com a consciência do sustento próprio e de outros através da produção, e ao morador da cidade, com a eliminação das habitações indignas, humilhantes e vexatórias. Com a concretização da posse com função social é possível a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais.
Direito aos interditos - A posse pode sofrer agressão através do esbulho ou da turbação. A proteção possessória, tal como regulada no art. 1.210, do CC, é considerada como o efeito principal da posse e que se produz independentemente da qualidade da posse. Trata-se da heterotutela da posse no sentido da distinção para a autotutela da posse.
Insta mencionar que a ameaça de turbação ou esbulho configura terceira forma de agressão à posse devido à violência iminente. O objetivo do remédio do interdito proibitório é a segurança do possuidor: a) contra violência iminente à sua posse; b) mediante preceito proibitório ? vim fieri veto; c) cominando-se pena ao transgressor deste.
Assim sendo, para corrigir as agressões à posse, a lei criou os interditos possessórios que correspondem às ações judiciais cujo objetivo é fornecer a proteção possessória. Nos termos do art. 1.210, do CC, o possuidor tem direito a ser manutenido na posse da coisa em caso de turbação, a ser reintegrado (ou restituído) na posse em caso de esbulho ou a ser segurado de violência iminentese tiver justo receio de ser molestado na sua posse.
Meios de proteção via interditos possessórios: a) interdito de manutenção de posse ? é a ação do possuidor turbado que pretende se manter na posse da coisa; b) interdito de reintegração de posse ? é a ação do possuidor esbulhado que pretende ser restituído na posse da coisa; c) interdito proibitório ? é a ação do possuidor para impedir que a ameaça se concretize em turbação ou esbulho.
Nos casos de composse, reconhece-se a faculdade de praticar atos possessórios sobre o objeto comum e, entre estes, está a manutenção, que é a conservação da posse. Daí a disposição contida no art. 1.314, do CC em vigor, consoante a qual o condômino, como qualquer possuidor, poderá defender a sua posse contra outrem, em perfeita sintonia com a previsão do art. 1.199, do mesmo texto.
A proteção possessória é, portanto, concedida em favor do possuidor contra qualquer outra pessoa (inclusive contra o proprietário). Cuida-se de matéria que envolve o Direito Civil mas também o Direito Processual Civil. O CC traça algumas regras a respeito do direito aos interditos em razão da sua consideração como um dos principais efeitos da posse, mas tal postura não é excludente do tratamento dado à matéria pelo CPC. Neste passo, cumpre mencionar que as ações possessórias encontram-se previstas como procedimentos especiais de jurisdição contenciosa no art. 554 e seguintes, do CPC A tramitação das ações possessórias nos juízos e tribunais deve obedecer às normas contidas no CPC. Nos termos do Código de Processo Civil, em se tratando de posse nova relativamente ao novo possuidor ? com data do esbulho ou da turbação há menos de ano e dia do ajuizamento da ação possessória -, é possível a concessão de liminar no procedimento especial. Somente propõe ação possessória quem tem ius possessionis, ou seja, o possuidor tem que provar a posse, o assenhoreamento que tem sobre a coisa.
Direito aos frutos - Outro efeito da posse consiste no direito à percepção dos frutos. Os frutos são utilidades periodicamente produzidas pela coisa, sob o aspecto objetivo, como uma safra, os rendimentos do capital, entre outros.
A regra é a de que os frutos da coisa pertencem ao seu dono ou a quem ele transferiu a faculdade de fruí-la. Os frutos são acessórios e, por isso, não existem independentemente da coisa principal. Não têm existência independente. No âmbito dos bens acessórios, encontram-se os frutos, os produtos e as benfeitorias. Os frutos se particularizam pela potencialidade de surgirem e se renovarem sem diminuição ou deterioração da coisa principal. Os produtos, ao revés, são bens extraídos da coisa principal, diminuindo sua substância porque não se reproduzem periodicamente como os frutos, sendo exemplificados com o ouro, o petróleo, as pedras, o cobre, a prata. 
A regra sofre exceção quanto ao possuidor de boa fé (CC, art. 1.214). Este tem direito aos frutos percebidos enquanto durar a boa fé. São as seguintes condições para a aquisição dos frutos pelo possuidor: a) que se trate de frutos propriamente ditos; b) que os frutos tenham sido separados da coisa principal; c) que a percepção dos frutos tenha ocorrido antes da cessação da boa fé. O direito à percepção dos frutos, por parte do possuidor de boa fé, é modo de aquisição da propriedade deles. Há de se ressaltar que a boa fé perdurará enquanto houver convicção do possuidor de que sua posse é justa e legítima. Desta forma, o momento da cessação da boa fé, se não demonstrada em época anterior, é o da contestação da lide, conforme orientação predominante na doutrina.
O possuidor de má fé não tem direito à percepção dos frutos, devendo restituir os que foram colhidos e percebidos, bem como será obrigado a indenizar os frutos não percebidos por culpa sua. Ele terá, apenas, direito ao reembolso das despesas de produção e custeio, de modo a evitar o enriquecimento sem causa (CC, art. 1.216).
Já os produtos da coisa principal não são adquiridos pelo possuidor que, por isso, deve restituí-los. Há o dever do possuidor de restituir os produtos da coisa principal. Caso verifique a impossibilidade na restituição dos produtos, o possuidor será obrigado a indenizar o proprietário, sendo que o quantum da reparação deve corresponder ao proveito real que o possuidor obteve com a venda dos produtos.
Direito às benfeitorias - Outro efeito da posse se relaciona ao direito às benfeitorias, conforme disciplina legal prevista nos arts. 1.219 a 1.222, do CC. À semelhança do direito à percepção dos frutos, o possuidor deveria também adquirir a titularidade de todo e qualquer melhoramento que realizou na coisa principal por ele possuída, incorporando-o definitivamente ao seu patrimônio. Sucede que as benfeitorias, em regra, aderem à coisa principal de modo que torna-se impossível ou extremamente dificultosa sua separação do bem principal, daí a diferença de tratamento comparativamente aos frutos. 
As benfeitorias são bens acessórios da coisa principal, representando melhoramentos realizados na coisa. A finalidade é torná-la melhor, mais útil ou mais bela. Deste modo, as benfeitorias aderem à coisa principal de tal modo que se torna impossível ou extremamente dificultoso separá-las. Algumas benfeitorias que, materialmente, comportariam a separação, não podem ser levantadas sem detrimento da coisa. Apenas algumas comportam ser retiradas da coisa principal sem perda do valor próprio, e sem sacrifício do bem principal.
Aspectos gerais - Diante da circunstância de não ser possível o levantamento das benfeitorias na maior parte dos casos, surge a possibilidade da conversão em direito à indenização do valor da benfeitoria realizada. Para tanto, é importante a distinção entre posse de boa ou de má fé, bem como entre as espécies de benfeitorias realizadas na coisa.
O possuidor de boa fé tem direito: a) à indenização das benfeitorias necessárias; b) à indenização das benfeitoras úteis; c) ao levantamento das benfeitorias voluptuárias; d) de retenção pelo valor das benfeitorias úteis e necessárias. No que se refere ao valor da indenização, estabelece a lei que o critério a ser adotado é o da indenização pelo valor atual das benfeitorias (CC, art. 1.222). Já o possuidor de má fé somente tem direito à indenização das benfeitorias necessárias, não tendo direito de retenção em razão delas. Nos termos do CC, neste caso, o proprietário pode optar entre pagar o valor atual das benfeitorias necessárias ou o custo delas, devidamente atualizado (CC, art. 1.222, primeira parte).
Direito de retenção - O direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis somente é reconhecido em favor do possuidor de boa fé. Cuida-se de uma garantia especial para exigir a indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis por ele realizadas na coisa principal. 
O ius retentionis consiste na faculdade de o possuidor não restituir a coisa enquanto não for integralmente indenizado pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Trata-se de mecanismo de reforço do direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis. Constitui um dos modos de defesa ou tutela de certos direitos decorrentes da posse, assegurando a conservação do bem pertencente a outrem a quem é credor de dívida referente à coisa possuída. O direito de retenção é direito pessoal com função específica de garantia reconhecida ao possuidor de boa fé que realizou benfeitorias necessárias ou úteis na coisa.
Para o reconhecimento do direito de retenção, são necessários os seguintes requisitos: a) o titular do direito à indenização seja credor do valor correspondente às benfeitorias; b) o possuidor esteja ainda na posse da coisa. A conexão entre o crédito do valor das benfeitorias e o bem possuído revela-se clara. 
O direito de retenção pode ser exercido por via dos embargos nas ações possessórias ? no bojo da contestação -, ou por ação autônoma na eventualidade de não ter sido acionado pelo proprietário ou ex-possuidor.
Direito à usucapião - Outro importante efeito da posse é o direito à usucapião. A usucapião tem a posse como elementobásico e fundamental. Trata-se de modo originário de aquisição da propriedade pela posse continuada durante certo lapso de tempo. Ao lado das espécies tradicionais de usucapião, o CC de 2002 reconheceu a importância da função social da posse na diminuição dos prazos para usucapião quando houver moradia ou desenvolvimento de alguma atividade social e economicamente útil sobre a coisa.
A posse que serve de fundamento para o reconhecimento da usucapião é aquela qualificada pelo animus domini, exercida de modo contínuo, ininterrupto, pacífico, inequívoco, com exteriorização dos atos possessórios. 
Auto-defesa - A auto defesa é outro efeito da posse, expressamente previsto no CC (art. 1.210, § 1°). Trata-se da proteção à posse pela própria força pessoal do possuidor, meio de defesa direta da posse representado pelo desforço imediato, ou seja, uma espécie de legítima defesa da posse. Em sentido amplo, considera-se ato de defesa a faculdade concedida ao indivíduo, emanação direta de sua personalidade, de defender a sua pessoa e bens jurídicos, em casos inadiáveis.
A doutrina aponta duplo fundamento para autorizar a auto defesa: a) o fundamento de direito, diante da iminência do perigo e a impossibilidade de o Poder Judiciário intervir imediatamente para proteger a posse turbada, reconhece-se lícita a defesa privada que impede que a violência prevaleça sobre o direito; b) o fundamento de fato, representado pelo temor provocado pela presença de mal ameaçador, justificando o dano contraposto em via de reação, diante das causas e dos caracteres do mal verificado.
São requisitos da auto defesa: a) o imediatismo, ou seja, que a repulsa à violência ocorra sem retardamento, sem permissão que flua tempo após seu início, e antes que o invasor ou turbador consolide a posição; b) a proporcionalidade entre a agressão e a reação do possuidor, a saber, que os atos de defesa não possam ir além do indispensável para que o possuidor se mantenha ou seja reintegrado na posse da coisa. Eventual excesso na defesa da posse poderá configurar provocação de dano injusto, sujeito à reparação no campo da responsabilidade civil. 
A autotutela da posse é excepcional, eis que o meio ordinário ou comum de proteção das situações jurídicas é a jurisdição ou tutela jurisdicional. De regra, a coação é monopólio estatal, exercitada através de órgãos constituídos de modo especializado e na forma constitucional e que formam o Poder Judiciário. Assim, a título excepcional, quando a via estatal não se mostra em condições hábeis para atender a urgência do caso concreto, admite-se a autotutela, como ocorre na hipótese do desforço imediato.
Neste passo, a doutrina mais recente vem defendendo a orientação que na posse qualificada pela função social, a utilização do desforço imediato é legítima e de fácil reconhecimento social, devido à presença dos elementos de verificação objetiva como a moradia ou o cultivo da terra.
1.3.6. Da aquisição e perda da posse
Introdução - O CC de 1916, nos arts. 493 e 520, enumerava, respectivamente, os modos de aquisição e de perda da posse. A recodificação civil em 2002 não trouxe a reprodução dos preceitos referidos. Isto decorre da orientação observada pelos redatores do projeto de seguir a doutrina objetiva de Ihering. E, como os arts. 493 e 520, do Código de 1916, seriam reminiscências da teoria subjetiva da posse (de Savigny), houve a preocupação quanto à não repetição dos referidos preceitos para evitar qualquer polêmica sobre eventual influência da teoria subjetiva no CC de 2002.
Aquisição da posse - A despeito da não reprodução do revogado art. 493, do Código de 1916, obviamente que os modos de aquisição da posse ali previstos permanecem assim considerados no Direito brasileiro, com pequenas adaptações, como no exemplo do exercício do direito, eis que não há posse sobre direito.
O CC de 2002 abandonou a enumeração dos modos de aquisição da posse, referindo-se, no art. 1.204, que a posse é adquirida no momento em que é possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Tal preceito verifica-se inadequado à realidade hodierna, uma vez que guarda íntima relação com a teoria objetiva da posse que propugna que deve ser considerado possuidor quem exterioriza a propriedade, ignorando a categoria da posse considerada em si mesma, e não como conteúdo de certos direitos, ou condição para aquisição de algum direito real. 
Lembre-se que somente podem ser possuídas as coisas que forem suscetíveis de compra e venda ou circulação econômica e jurídica e que, assim, não consistam em coisas postas fora do comércio (insuscetíveis de apropriação particular ? como as de uso inexaurível como o ar, a luz, bem como as coisas públicas - e as inalienáveis ex lege diante de fundamentos de defesa social e proteção, e as impenhoráveis).
Enumeração legal - A enumeração contida no revogado art. 493, do CC de 1916, era enunciativa, tanto assim é que previa a aquisição da posse por qualquer dos modos de aquisição em geral, após referir-se à apreensão da coisa, ao exercício do direito e à disposição da coisa ou do direito. 
A redação do atual art. 1.204, do CC de 2002, na realidade, deixa de enunciar, ainda que exemplificativamente, os modos de aquisição da posse, mas confirma a regra anterior ao estabelecer que a posse é adquirida quando se torna possível o exercício de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Pode-se adquirir a posse de forma originária (modos originários) ou de forma derivada (modos derivados), levando em consideração a existência (ou não) de relação jurídica entre o atual e o antigo possuidores.
Modos originários - Não se verifica consentimento do possuidor precedente, não havendo relação jurídica entre o novo e o antigo possuidor. A aquisição da posse não guarda relação jurídica com nenhum possuidor ou proprietário anterior ao momento da aquisição. Os modos originários traduzem um estado de fato da pessoa, em relação às coisas, decorrente de assenhoreamento autônomo sem a participação ou manifestação de vontade de outro possuidor precedente.
Modos derivados - Há consentimento do precedente possuidor, verificando-se nos casos em que a posse é transferida, como na tradição. A aquisição da posse tem como suporte uma relação jurídica precedente entre o antigo e o novo possuidores. Nos modos derivados havia uma posse anterior, transmitida ou transferida ao adquirente, incidindo numa coisa que passa à sujeição de outra pessoa em razão de um título jurídico.
A tradição é o modo derivado de aquisição da posse por excelência. Há três modalidades de tradição: a) real, que se consuma com a entrega efetiva da coisa; b) ficta, que decorre da atribuição a uma situação de uma qualidade que não existiria se não fosse a previsão legal a respeito; c) consensual, em que não se verifica a entrega real da coisa e que tampouco decorre de uma ficção jurídica. Esta última apresenta como subespécies a tradição consensual simbólica; a tradição consensual propriamente dita; a tradição consensual brevi manu; e o constituto possessório.
Pessoas que podem adquirir a posse - Nos termos do art. 1.205, do CC, a posse pode ser adquirida pela própria pessoa que a pretende, pelo seu representante (inclusive no caso da pessoa jurídica) e por terceiro sem mandato pendente de ratificação.
A própria pessoa do novo possuidor, obviamente, é o maior interessado na aquisição da posse, tratando-se de pessoa dotada de plena capacidade de fato e, por isso, pode praticar atos de aquisição da posse pretendida.
Na hipótese de aquisição da posse feita por representante ou procurador, será necessária a concorrência de duas vontades, a saber, a do representante e a do representado. Quando o representante adquire a posse em razão de uma causa estabelecida pelo próprio representado, considera-se a posse adquirida diretamente por este. Ao contrário, quando o representante, agindo por conta de outrem e em execução de poderes que lhe foram confiados, adquire a posse em razão de uma causa ou relação jurídica estabelecida ou a estabelecer

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