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Incidente da Desconsideração da Pessoa Jurídica

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Incidente da Desconsideração da Pessoa Jurídica
O incidente da desconsideração da pessoa jurídica ou IDPJ, é uma das três intervenções de terceiros previstas no novo CPC – Código de Processo Civil brasileiro (Lei 13.105/2015). 
Tal incidente consiste na forma processual cabível, por iniciativa da parte ou do Ministério Público quando lhe couber intervir, que regula a matéria da desconsideração da pessoa jurídica (desregard doctrine) com base nos pressupostos definidos pelo direito material.
Segundo André Pagani de Souza :
“Ao que tudo indica, o objetivo buscado pelos arts. 133 a 137 do CPC foi o de harmonizar a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica prevista na lei material com o princípio do contraditório (Constituição Federal, art. 5º, LV). Por exemplo, é preciso que seja observado o princípio do contraditório para se aplicar o art. 50 do Código Civil (Lei 10.406/2002); o art. 28, caput e § 5º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990); o art. 34, da Lei Antitruste (Lei 12.529/2011); o art. 4º da Lei do Meio Ambiente (Lei 9.605/1998); o art. 14, da Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013). Em todas estas hipóteses a lei material confere a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica, mas não prevê a forma pela qual, mediante o processo, isto deve ser feito.” SOUZA, André Pagani. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Processo Civil. Cassio Scarpinella Bueno, Olavo de Oliveira Neto (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/184/edicao-1/incidente-de-desconsideracao-da-personalidade-juridica> Acesso em: 15 nov. 2019
 
O novo CPC de 2015 formatou a possibilidade da Desconsideração de Pessoa Jurídica tratando-a como incidente em seus artigos 133 a 137.
Quando a petição inicial requerer a desconsideração da personalidade jurídica, não necessitará da instauração do IDPJ, conforme o Art. 134, § 2º do CPC.
O Incidente de Desconsideração da Pessoa Jurídica é pedido incidental à ação principal, instaurada de modo a ampliar o objeto do processo e que suspende o processo principal, conforme dispõe o Art. 134, § 3º.
Segundo Gabriel Grigoletto Martins de Souza:
“…o objetivo do incidente é exatamente a desconsideração da personalidade jurídica para atingir diretamente o patrimônio dos sócios da sociedade empresarial […] para instaurar o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é necessários o preenchimento de alguns requisitos, quais sejam, desvio de finalidade ou confusão patrimonial —devidamente comprovados, mediante interpretação restrita, ou ao menos não ampliativa, tudo em obediência à norma expressa e ao devido processo legal...” SOUZA, G. G. M.  Análise Jurisprudencial: Incidente da Desconsideração da Personalidade Jurídica, Jusbrasil, [S.I.], nov 2017. Disponível em: <https://gagrigosouza.jusbrasil.com.br/artigos/517438845/analise-jurisprudencial-incidente-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica?ref=serp> Acesso em: 15 nov. 2019
“O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.” (Art. 134, caput do CPC).
Porém, para que seja acolhido o pedido de desconsideração de pessoa juridica, este deve observar os pressupostos previstos em lei, como determina o Art. 133 § 1º do CPC.
Pressupostos da Desconsideração de Pessoa Jurídica
São alguns pressupostos previstos em lei para a desconsideração de pessoa jurídica, os seguintes artigos:
· O Art. 50 do CC (Lei 10.406/2002), que em seu caput versa sobre o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, detalhando a definição e alcance em seus parágrafos de 1º a 5º.
· O Art. 28 do CDC (Lei 8.078/1990), que define, abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração motivos para a desconsideração da pessoa juridical.
· O Art. 34 da Lei 12.529/2011 – CADE, que define infração de ordem econômica, abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social
· O Art. 116 do CTN (Lei 5.172/1966) que prevê a desconsideração de pessoa juridical que pratique atos ou negócios jurídicos com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.
 
Citação do Réu
Uma vez instaurado o IDPJ, o sócio ou a Pessoa Jurídica, componentes alvo da desconsideração, serão citados e terão 15 dias para se manifestarem e requererem as provas cabíveis como determina o Art. 135 do CPC.
Decisão
 
O Art. 136 ressalta a possibilidade de decisão interlocutória, se necessária, após a fase de instrução.
Sobre a instrução, diz Oscar Valente Cardoso:
“A fase instrutória começa a partir da estabilização do saneamento processual (após a decisão de saneamento e organização e as eventuais manifestações das partes) e pode terminar com uma audiência de instrução e julgamento, a apresentação de memoriais pelas partes ou a manifestação de autor e réu sobre a última prova produzida.
Portanto, não se trata de uma fase obrigatória no processo. Haverá fase instrutória apenas quando não for possível o julgamento antecipado do mérito. Aliás, trata-se da única etapa não obrigatória do procedimento comum. As fases de postulação, saneamento e decisão sempre existirão (ainda que a decisão seja proferida no saneamento), enquanto a instrução só ocorrerá quando for necessária a dilação probatória, com a produção de outras provas, além daquelas já apresentadas na fase postulatória (e, eventualmente, na saneatória).
Ademais, esta etapa afeta diretamente a fase decisória: o julgador deve, em primeiro lugar na fundamentação da sentença, reconstruir os fatos ocorridos, o que se faz por meio do exame e valoração das provas, a partir dos quais incidirão as consequências jurídicas […] ” CARDOSO, Oscar Valente.  A Fase de Instrução no Código de Processo Civil, Jus, [S.I.], jun 2019. Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/74601/a-fase-de-instrucao-no-codigo-de-processo-civil> Acesso em: 15 nov. 2019
Uma vez que, Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não julgue o mérito. (Art. 203, § 2º do CPC), o Art. 136, paragrafo único, prevê o cabimento de agravo interno.
Segundo Alexandre Freitas Câmara, sobre o agravo interno: 
“O agravo interno é recurso que o CPC regula em seu art. 1.021. É cabível contra decisões monocráticas proferidas nos Tribunais, e permite que se garanta a colegialidade típica desses órgãos jurisdicionais. Neste estudo será examinado este recurso, analisando-se sua natureza, seu cabimento, seus efeitos e seu processamento. [..]”CÂMARA, Alexandre Freitas.  Agravo Interno, Enciclopédia jurídica da PUC-SP, São Paulo - SP, 2017. Disponível em: <https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/204/edicao-1/agravo-interno> Acesso em: 15 nov. 2019
Alcance dos Bens
Por fim, uma vez que há a desconsideração da pessoa jurídica, possíveis bens serão alcançados, ainda que alienados ou onerados, pois o CPC em seu Art. 137 afirma que: “acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

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