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Apostila Constitucional

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MARCOS CÉSAR GONÇALVES DE OLIVEIRA
APOSTILA DE DIREITO 
CONSTITUCIONAL
GOIÂNIA – 2008
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
1. NOÇÕES GERAIS
1.1. CONSTITUCIONALISMO
O Constitucionalismo surgiu a partir do Iluminismo, notadamente no século XVIII, como uma forma de se estabelecer, em oposição ao Absolutismo, a organização formal dos Estados, através da edição de Constituições escritas e rígidas, que fixassem mecanismos de limitação do poder estatal, através de concessão de direitos e garantias fundamentais às pessoas de alguma forma vinculadas àqueles Estados.
A primeira Constituição escrita e rígida surgiu no Estado da Virgínia, promulgada em 1776. Contudo, as mais famosas, também editadas naquela época, foram as Constituições dos Estados Unidos da América (1787) e da França (1791), a partir da Revolução Francesa, apresentando dois traços marcantes: organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais.
Num período seguinte, o renomado constitucionalista (Paulo Bonavides) ensina que o direito constitucional começou a tutelar os direitos humanos, momento em que foi possível separar na Constituição o elemento material de seu conteúdo inicial do elemento formal das garantias.
O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental à organização e ao funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura política; tem por objeto, pois, a constituição política do Estado, no sentido de estabelecer sua estrutura, a organização de suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e limitação do poder, através, inclusive, da previsão de diversos direitos e garantias fundamentais. (Alexandre de Morais).
1.2. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
A Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, que tem por fim estabelecer o conteúdo referente à composição e ao funcionamento da ordem política desse Estado (organização do poder, distribuição da competência, exercício da autoridade, direitos individuais e sociais da pessoa humana).
O eminente professor Alexandre de Moraes destaca o conceito ideal de Constituição a partir do triunfo do movimento constitucional no início do século XIX, desenvolvido pelo constitucionalista J.J. Gomes Canotilho: “Este conceito ideal identifica-se fundamentalmente com os postulados político-liberais, considerando-os como elementos materiais caracterizadores e distintivos” que são os seguintes: consagrar um sistema de garantias da liberdade; conter o princípio da divisão de poderes, no sentido de garantia orgânica contra os abusos dos poderes estaduais; e, deve ser escrita.
2. PRINCIPAIS CONCEITOS DA TEORIA GERAL DO ESTADO
2.1. INTRODUÇÃO
O estudo da Constituição, a lei fundamental de organização do Estado, pressupõe o conhecimento de certas noções básicas de teoria geral do Estado; dessa forma, antes de iniciarmos o estudo do direito constitucional, é de fundamental importância que certos conceitos sejam expostos, como o de Estado, formas de Estado, formas de governo, sistemas de governo, regimes políticos e poder constituinte.
2.2. ESTADO
É uma sociedade política dotada de características próprias, ou dos seguintes elementos essenciais: povo, território e soberania. Vejamos:
- povo – é o elemento humano do Estado, o conjunto de pessoas que mantêm um vínculo jurídico-político com o Estado, pelo qual se tornam partes integrantes deste; não se confunde com população (soma dos nacionais – povo – com os estrangeiros encontrados no território) e nação (vinculação histórico-culturo-lingüístico).
- território – é o elemento material do Estado, o espaço dentro do qual este exerce a sua supremacia sobre pessoas e bens.
- soberania – é o elemento formal do Estado; supremacia na ordem interna e independência na ordem externa.
2.3. FORMAS DE ESTADO. Estado é a pessoa jurídica de direito público externo, dotado de soberania frente aos demais Estados estrangeiros. Forma de Estado é o modo pelo qual este Estado se estrutura, sendo simples ou composto.
Simples ou unitário: geralmente adotado em países de pequena extensão territorial, formado por um único Estado, existindo uma unidade do poder político interno, cujo exercício ocorre de forma centralizada; qualquer grau de descentralização depende da concordância do poder central - ex.: Brasil-Império, Itália, França e Portugal.
Composto ou complexo: formado por mais de um Estado, existindo uma pluralidade de poderes políticos internos; há diversas espécies de Estados compostos: 
a) União pessoal (é possível somente em Estados monárquicos, é a união de dois ou mais Estados sob o governo de um só rei; em virtude de casamento ou sucessão hereditária, o mesmo monarca recebe a coroa de dois ou mais Estados - ex.: Espanha e Portugal, no período de 1580 a 1640); 
b) União real (é a união de dois ou mais Estados sob o governo do mesmo rei, guardando cada um deles a sua organização interna - ex.: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algares, de 1815 a 1822); 
c) Confederação (é a união permanente e contratual de Estados que se ligam para fins de defesa externa, paz interna e outras finalidades que possam ser ajustadas; os Estados confederados conservam a soberania, guardando inclusive a possibilidade de se desligarem da União – Ex.: CEI – Comunidade dos Estados Independentes) e 
d) Federação (é a união de dois ou mais Estados para a formação de um novo, em que as unidades conservam autonomia política, enquanto a soberania é transferida para o Estado Federal - ex.: Estados Unidos, Brasil, Argentina, México etc; não há possibilidade de secessão, e a base jurídica é uma Constituição).
2.4. FORMAS DE GOVERNO: A expressão “forma de governo” é a mais precisa quando se procura estudar os órgãos de governo, tendo em vista sua estrutura fundamental e como estão relacionados, é o modo de organização política do Estado, SISTEMATIZAÇÃO, RELACIONAMENTO DO GOVERNO; existem duas formas de governo: monarquia e república.
MONARQUIA: palavra de origem grega, monarchía, forma de governo em que o rei ou monarca é investido na qualidade de Chefe de Estado, governo de um só, caracteriza-se pela vitaliciedade, hereditariedade e irresponsabilidade do Chefe de Estado; o monarca governa enquanto viver; a escolha é feita dentro da linha de sucessão dinástica, e o rei não tem responsabilidade política. Podendo ser absoluta ou relativa.
Absoluta: todo o poder está concentrado nas mãos de uma só pessoa, que o exerce de forma ilimitada, sem qualquer controle; possui poderes ilimitados tanto para fazer as leis como para aplicá-las. 
Relativa (limitada ou constitucional) – o poder do soberano é delimitado pela Constituição - ex.: Brasil-Império, Reino Unido da Grã Bretanha, Espanha e Japão.
REPÚBLICA: palavra de origem latina, res publica, coisa pública, caracteriza-se pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do Chefe de Governo; são feitas eleições periódicas para a escolha deste, que deve prestar contas de seus atos para o povo que o elegeu ou para um órgão de representação popular.
2.5. SISTEMAS DE GOVERNO: grau de relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo, os doutrinadores costumam apontar a existência de 3 (três) espécies: presidencialista, parlamentarista e ditatorial.
PRESIDENCIALISMO: foi uma criação americana do século XVIII, resultou da aplicação das idéias democráticas, concentradas na liberdade e na igualdade dos indivíduos e na soberania popular. Tudo surgiu da péssima lembrança que os americanos tinham da atuação do monarca quando submetidos à coroa inglesa e da oposição ao absolutismo.
O Executivo e o Legislativo são independentes, apresentando as características básicas a seguir enunciadas: as chefia de Estado e chefia de governo são atribuídas a uma mesma pessoa (Presidente da República).
A chefia do executivo é unipessoal, escolhido pelo povo cabendo exclusivamente ao Presidente da República a fixação de metas do Poder Executivo, apoiando-se em auxiliares de sua inteira confiança. 
No Brasilpara ser presidente da república tem que ter mais de 35 anos, brasileiro nato, estar registrado por partido e no gozo de seus direitos políticos.
Mas o executivo também possui atividades atípicas, tais como: julgar com caráter de coisa julgada administrativa (CAT, JARI), legislar (MP, Decretos, processo legislativo – iniciativa, veto, sanção e promulgação), interferir nas decisões judiciais (indulto e comutação de penas – art. 84, XII da CF)
O Presidente da República eleito pelo povo, de forma direta ou indireta, possui mandato certo para o exercício da chefia do poder, não podendo o Presidente da República ser destituído por motivos puramente políticos, existe participação do Executivo no processo legislativo e separação entre o Executivo e o Legislativo.
O Presidente da República não depende de maioria no Congresso Nacional para permanecer no poder e não pode ser destituído do cargo pelo Legislativo, a menos que se cometa crime de responsabilidade que autorize o processo de “impeachment”.
Trata-se de uma “ditadura por prazo certo”, pois não há possibilidade política de destituição de um mau governo antes de seu término, já que o Presidente da República somente poderá ser destituído se cometer crime de responsabilidade.
Por duas vezes o povo brasileiro já foi convocado a manifestar-se sobre o sistema de governo a ser adotado no Estado brasileiro, em 1963 e 1993, tendo optado, nas duas oportunidades, por ampla maioria, pelo presidencialismo.
PARLAMENTARISMO: sistema de governo oriundo de longa evolução histórica, não sendo objeto de um movimento político determinado. Tem como berço a Inglaterra, fruto de intensas lutas políticas, familiares e religiosas que desencadearam o processo que determinou a criação do parlamentarismo.
O Executivo e o Legislativo são interdependentes, apresentando as características básicas a seguir enunciadas: chefia de Estado (função de representação externa e interna, é designada ao Presidente da República ou ao rei) e chefia de governo (a condução das atividades políticas do Estado é atribuída ao Primeiro Ministro com responsabilidade política, pois este não tem mandato) atribuídas a pessoas distintas.
A chefia de governo tem responsabilidade política, pois o Primeiro Ministro não tem mandato, permanecendo no cargo enquanto mantiver apoio da maioria dos parlamentares, podendo permanecer no cargo por alguns dias ou por muitos anos; possibilidade de dissolução do Parlamento pelo Chefe de Estado, com a convocação de novas eleições gerais; interdependência do Legislativo e Executivo, pois compete ao próprio Parlamento a escolha do Primeiro Ministro, que permanece no cargo enquanto gozar de confiança da maioria dos parlamentares.
A grande diferença entre os dois modelos – presidencialismo e parlamentarismo – está no papel do órgão legislativo. No parlamentarismo, este não se limita a fazer leis, mas também é responsável pelo controle do governo, tomando posições políticas fundamentais; no presidencialismo, aquela atividade lhe é atribuída em caráter principal. No parlamentarismo, o parlamento pode destituir o gabinete (conjunto de ministros) por razões de ordem exclusivamente política; no presidencialismo, tal poderia ocorrer em relação ao Presidente da República, pela prática de certos delitos.
A grande desvantagem apontada no parlamentarismo seria a maior instabilidade política na condução do Estado, principalmente em países, como o Brasil, em que não há partidos sólidos, podendo haver uma sucessão de quedas de Gabinetes sempre que a maioria parlamentar não for alcançada; no Brasil, acrescenta-se, ainda, a desfiguração da representatividade do povo na Câmara dos Deputados, onde Estados com uma população menor possuem proporcionalmente um número mais elevado de representantes do que os mais populosos; essa deformação da representação popular favorece os Estados menos desenvolvidos do País, submetidos a oligarquias conservadoras e impeditivas do desenvolvimento local.
DIRETORIALISMO: caracterizado pela concentração do poder político do Estado no Parlamento, sendo a função executiva exercida por pessoas escolhidas por este; há absoluta subordinação do Executivo ao Legislativo. 
É o sistema político adotado na extinta URSS e na Suíça, tendo ali nascido em face da transformação do Estado confederado em federado, levando-se em conta a intenção de não ferir a liberdade dos Cantões.
2.6. REGIMES POLÍTICOS: relacionado diretamente com o grau de respeito à vontade do povo nas decisões estatais, podendo ser democráticos e não democráticos.
DEMOCRACIA: palavra de origem grega, demos - povo e arché - governo, governo do povo, é o regime político em que todo o poder emana da vontade popular; é o governo do povo, pelo povo e para o povo.
O regime democrático pode ser exercido de forma direta (democracia direta), por representantes (democracia representativa) ou combinando ambos os critérios (democracia semidireta); esta última, é a democracia representativa, com alguns instrumentos de participação direta do povo na formação da vontade nacional; é o regime político adotado pela Constituição brasileira de 1988, em seu art. 1°, parágrafo único: “todo o pode emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”; a Carta Magna admite como forma de participação direta do povo o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular.
NÃO DEMOCRÁTICOS: não há prevalência da vontade popular na formação do governo; regimes autoritários, ditatoriais e totalitários.
3. CONSTITUIÇÃO: CLASSIFICAÇÃO, PARTES, ELEMENTOS E HISTÓRICO
3.1. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
3.1.1. QUANTO AO CONTEÚDO:
MATERIAIS: são as que dispõem exclusivamente sobre os aspectos fundamentais da estrutura do Estado, assim como sobre os limites de atuação do poder estatal, estejam inseridas ou não no Texto Constitucional, tais como: forma de Estado, forma e sistema de governo, modo de aquisição, exercício e perda do poder político e direitos individuais - ex.: Constituição inglesa, justamente por não estar codificada em um texto único.
FORMAIS: são as normas inseridas no Texto Constitucional; estas poderiam ser objeto de leis ordinárias, mas foram incluídas na Constituição para o realce de sua importância, bem como para adquirirem maior estabilidade - ex.: CF 88 (licença-paternidade etc.). 
O Brasil, bem como vários outros Estados, tem ampliado consideravelmente o conteúdo de suas Constituições, como exemplo de tal fato tem as normas relativas à ordem econômica e financeira do Estado.
A doutrina e os concursos públicos costumam fazer distinção entre as normas materialmente constitucionais e normas formalmente constitucionais.
3.1.2. QUANTO À FORMA
ESCRITA: as regras estão codificadas em um texto único.
NÃO ESCRITAS: as regras não estão codificadas em um texto único, mas resultam de leis esparsas, da jurisprudência, assim como dos próprios costumes - ex: Constituição inglesa (único exemplo atual e apresenta também textos escritos). 
3.1.3. QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO
DOGMÁTICAS: elaboradas por um órgão constituinte que incorpora no Texto Constitucional os valores políticos e ideológicos predominantes em um determinado momento histórico; a Constituição escrita é sempre dogmática.
HISTÓRICAS (ou costumeiras): produto de lenta evolução histórica, baseando-se em costumes, convenções, precedentes jurisprudenciais e textos esparsos; a Constituição não escrita é sempre histórica ou costumeira - ex: Constituição inglesa. 
3.1.4. QUANTO À ORIGEM
POPULARES, DEMOCRÁTICAS, PROMULGADAS OU VOTADAS: elaboradas por um órgão constituinte composto de representantes legitimamente eleitos pelo povo.
OUTORGADAS: elaboradas sem a participação de representantes legitimamente eleitos pelo povo, sendo impostas pelo governante.
CESARISTAS: é imposta pelo governante (outorgada), mas submetida a posterior referendo do povo, com vistas à ratificação, portanto é uma constituição referendatária.
3.1.5. QUANTO À ESTABILIDADE
IMUTÁVEL: que não pode sofrer qualquer forma de alteração.Exemplo: as Cartas Políticas dos paises Islâmicos.
SUPER-RÍGIDAS: é a Constituição escrita que possui em seu corpo, ao mesmo tempo, dispositivos que não são passíveis de alteração, CLAUSÚLAS PETREAS, e outros que, muito embora possam sofrer mudanças, estão condicionados à observância de regras mais severas que as impostas às demais espécies normativas para sofrer alterações. No Brasil tem as condições formais, materiais, circunstancias e temporais. Vide Poder Constituinte.
RÍGIDAS: é a Constituição escrita que permite alteração em seu corpo, mas exige um procedimento especial de alteração dos preceitos constitucionais mais rigoroso que o das demais normas infraconstitucionais.
SEMI-RÍGIDAS: contêm uma parte flexível e outra rígida; algumas normas constitucionais exigem um procedimento especial de alteração (sujeitas ao atendimento de regras mais solenes e difíceis) e outra não, observando apenas o processo legislativo ordinário, comum às normas infraconstitucionais.
FLEXÍVEIS OU PLÁSTICA: modalidade de Constituição normalmente não escrita, não exige um procedimento especial de modificação; as normas constitucionais alteram-se com o mesmo procedimento das leis ordinárias.
3.1.6. QUANTO AO MODELO
CONSTITUIÇÃO – GARANTIA: modelo clássico; a Constituição estrutura e delimita o poder do Estado, estabelecendo a divisão de poderes e assegurando o respeito aos direitos individuais - ex.: Constituição americana. 
CONSTITUIÇÃO – DIRIGENTE: a Constituição, além de estruturar e delimitar o poder do Estado, inscreve um plano de evolução política, diretrizes a serem seguidas por ele.
CONSTITUIÇÃO – BALANÇO: modelo adotado pelos juristas soviéticos; a Constituição registraria e descreveria a ordem política, econômica e social existente, refletindo a luta de classes no Estado; a cada novo estágio no rumo da construção do comunismo, uma nova Constituição seria promulgada.
3.1.7. QUANTO AO TAMANHO OU EXTENSÃO
SINTÉTICA, NEGATIVA, NEGATIVA OU CONCISA: dispõem somente sobre os aspectos fundamentais da organização do Estado, bem como sobre seus limites, em poucos artigos - ex.: Constituição americana que possui apenas 34 artigos. 
ANALÍTICA, DIRIGENTE OU PROLIXA: dispõem sobre diversos aspectos da organização do Estado, abrangendo questões que poderiam ser objeto de leis ordinárias, em inúmeros artigos. Possui diversas normas especificas do Direito civil, penal, trabalho, administrativo, tributário, financeiro, previdenciário, processual civil e penal.
3.1.8. QUANTO À DOGMÁTICA
ORTODOXA OU SIMPLES: influenciadas por uma só ideologia - ex.: Constituição soviética. 
ECLÉTICAS, COMPLEXAS OU COMPROMISSÓRIAS: influenciadas por ideologias de tendências diversas, resultando de uma fórmula de compromisso entre as forças políticas existentes em um determinado momento histórico.
3.1.9. CLASSIFICAÇÃO E ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
A Constituição Federal de 1988 possui a seguinte classificação:
·
Quanto ao conteúdo: formal, contem no seu corpo dispositivos matérias e formais;
·
Quanto à forma: escrita, consubstanciada em um único documento;
·
Quanto ao modo de elaboração: dogmática, produzida de uma só vez pela assembléia;
·
Quanto à origem: promulgada, elaborada por representantes do povo;
·
Quanto à estabilidade: super-rígida, dispositivos inalteráveis e outros de difícil alteração;
·
Quanto à função: garantia e dirigente, garante os direitos e dirige o Poder Estatal.
.
Quanto ao tamanho: analítica, prolixa ou dirigente, pois possuem matérias não constitucionais.
. 
Quanto à dogmática: eclética, complexa ou compromissória.
3.2. PARTES DE UMA CONSTITUIÇÃO ESCRITA.
Seguindo o magistério de José Afonso da Silva, o texto de uma Constituição pode assim ser divido:
a) preâmbulo;
b) parte introdutória (Título I, Dos Princípios Fundamentais);
c) parte orgânica (Títulos III, IV e V, sobre a organização do Estado);
d) parte dogmática (Título II, dos direitos e garantias fundamentais);
e) disposições gerais e/ou finais;
f) disposições transitórias.
A propósito, é conhecida a divergência doutrinária sobre a normatividade dos preâmbulos das Constituições escritas. Há autores que, filiando-se a corrente mais tradicionalista, afirmam que o preâmbulo é mera declaração, formulada pelo autor do texto constitucional, dirigida ao povo que o recebe, carecendo, portanto, de conteúdo normativo. Outros estudiosos advogam tese segundo a qual o preâmbulo ostenta alta carga axiológica, devendo ser visto como vetor normativo que se projeta sobre as demais partes do texto da Constituição e vincula os órgãos estatais, que devem obedecer as suas prescrições. Concepção intermediária postula a importância das disposições preambulares, não pelo conteúdo propriamente normativo delas, mas porque elas devem ser levadas em consideração como instrumentos de interpretação das normas constitucionais.
Julgando ação direta de inconstitucionalidade em que se discutiu a questão, o Supremo Tribunal Federal lavrou acórdão assim ementado:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre. I. - Normas centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ 147/404). II. - Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
(STF, Pleno, ADI n.º 2076, AC, relator o Ministro Carlos Velloso, j. 15/08/2002).
Nessa decisão, a Corte parece ter se orientado no sentido de negar força normativa ao preâmbulo, ainda que o fundamento determinante para a improcedência da ação direta tenha sido o reconhecimento do caráter laico do Estado criado pela Constituição de 1988.
Não se deve deixar de mencionar, por outro lado, que o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, evidentemente apartado do corpo permanente da Carta, é também formado por enunciados de normas constitucionais informadas pelo princípio da supremacia, que são, portanto, da mesma hierarquia daquelas que resultam das disposições contidas no corpo permanente. A única diferença entre umas e outras normas está em que as do ADCT têm eficácia temporária, uma vez que servem ao objetivo de regular situações resultantes da transição entre o regime constitucional antigo e o novo.
3.3. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO.
Segundo conhecida classificação de Meirelles Teixeira, aperfeiçoada depois por José Afonso da Silva, a estrutura normativa da Constituição pode ser dividida em cinco categorias de elementos, assim:
a) orgânicos, alusivos à regulação e estrutura do Estado e do poder (Títulos III, IV, Capítulos I e II do Título V e VI da CF/88);
b) limitativos, revelados nas normas que enunciam direitos e instituem garantias fundamentais (Título II);
c) sócio-ideológicos, em preceitos que revelam a opção constitucional por algum modelo político, liberal ou socialista, intervencionista ou não (Capítulo II do Título II e Títulos VII e VIII);
d) de estabilização constitucional, criados para a defesa da Constituição e das instituições democráticas, em caso de conflitos e crises, ou para regular os procedimentos de reforma e controle de constitucionalidade dos atos do poder público (normas sobre intervenção federal e estadual, estado de sítio e de defesa, jurisdição constitucional, etc.);
e) formais de aplicabilidade, instituídos em normas atinentes à aplicação e vigência da Constituição (art. 5.º, § 1.º).
3.4. CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS.
A seguir é dado um ligeiro esboço da evolução constitucional brasileira, baseado em características específicas de cada uma das nossas Cartas.
3.4.1. Constituição do Império – 1824. 
Outorgada por D. Pedro I, após a sua elaboração por um Conselho de Estado, essa Carta tem forte inspiração liberal européia, sendo o primeiro texto constitucional a incorporar no seu bojo umadeclaração de direitos e garantias fundamentais (depois dela, veio a Constituição belga, de 1832). Consagrou o governo monárquico hereditário, constitucional e representativo, e dispunha, ao longo de seus 179 artigos, sobre a organização política do Estado, a declaração de direitos e as normas básicas de organização das províncias.
Além disso, apresentava as seguintes características: incorporação de um Poder Moderador, exercido pelo Imperador, protegido por cláusula de irresponsabilidade; semi-rigidez de seu texto, baseada na identificação de tópicos materialmente constitucionais (organização do Estado e dos poderes políticos e direitos individuais) que só poderiam ser objeto de reforma segundo procedimento mais difícil do que o previsto para a legislação ordinária; admitiu a implantação do regime parlamentar mantido ao longo de toda a sua vigência, apesar de a respeito disso não haver expressa menção.
3.4.2. Constituição Federal de 1891 – Primeira República.
Elaborada pelo Congresso Constituinte de 1890/91, instaurou a forma federativa de Estado (transformando as antigas províncias em entes políticos regionais) e a República presidencialista como forma e sistema de governo, modelo que perdura até os dias de hoje. É a nossa Constituição mais breve, disposta em apenas 91 artigos de texto permanente, mais 8 de disposições transitórias. Foi reformada em 1926, durante o governo do Presidente Artur Bernardes. Serviu-lhe de exemplo a Constituição norte-americana de 1787, da qual sorveu a instituição de um Supremo Tribunal Federal e de uma Justiça Federal, o controle difuso de constitucionalidade, a intervenção federal, o bicameralismo do Poder Legislativo federal, a repartição de competências entre os entes federados, com enumeração daqueles poderes atribuídos à União, ficando os remanescentes na esfera da autonomia dos Estados.
Tratou ainda de instituir, pela primeira vez em sede constitucional, o habeas corpus, para a defesa da liberdade individual contra ato arbitrário de autoridade, remédio que depois passou a ser utilizado também para a tutela judicial de outros direitos (“doutrina brasileira do habeas corpus”) e prescreveu um modelo de autonomia municipal. 
Dispôs extensamente sobre uma série de instrumentos de garantia, como a igualdade formal perante a lei, de culto, de associação e de reunião, de pensamento, a inviolabilidade domiciliar, o direito de ampla defesa, a proibição de prisão sem culpa formada, etc.
3.4.3. Constituição Federal de 1934. 
A par de manter a decisão política fundamental trazida pela Carta anterior (República federativa, presidencialismo, direitos e garantias fundamentais), é lembrada por ter sofrido marcante influência do constitucionalismo social do primeiro pós-guerra, incorporando ao seu texto um catálogo de direitos econômicos e sociais, a exemplo da Carta mexicana de 1917 e, principalmente, da Constituição alemã de Weimar, de 1919. Possuía 187 artigos na parte permanente e 26 de disposições transitórias, tendo recebido três emendas em 1935.
Dispôs, assim, sobre a ordem econômica e social, a proteção à família, educação e cultura, e sobre os direitos individuais dos trabalhadores, como o salário mínimo, jornada diária de oito horas, repouso semanal, férias anuais, indenização por dispensa sem justa causa, etc.
Instituiu as Justiças do Trabalho, Militar e Eleitoral (dispondo sobre o sistema eleitoral) e aumentou as competências da União, em razão do crescente intervencionismo estatal nos domínios econômico e social, com a conseqüente redução da autonomia dos Estados.
Além disso, distinguiam-na as seguintes características: criação do mandado de segurança; opção pelo unicameralismo no âmbito legislativo, passando a funcionar o Senado como órgão de colaboração da Câmara; instituição das três garantias dos magistrados: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.
3.4.4. A Constituição de 1937 e o Estado Novo. 
Outorgada por Getúlio Vargas e chamada de “polaca”, por se basear no modelo da Constituição polonesa então vigente, a Carta do Estado Novo é descrita por Raul Machado Horta como tipo evidente de Constituição Semântica (cf. a classificação de Loewenstein), simples “máscara do poder”, pois que vários de seus 187 artigos “permaneceram no domínio do puro nominalismo”. Além da intensa concentração de poderes nas mãos do Presidente da República, na prática, ele ainda passou a exercer outras competências, constitucionalmente atribuídas, p. ex., ao Congresso Nacional.
São suas características: deixar de dispor sobre o mandado de segurança e a Justiça Eleitoral; mencionar a pena de morte, afastada em 1891; admitir exceção à coisa julgada, permitindo que, a requerimento do Presidente da República, o Congresso Nacional, por maioria de dois terços, confirmasse lei declarada inconstitucional pelo STF.
3.4.5. Constituição de 1946.
Resgatou, com a redemocratização do País em 1945, as conquistas alcançadas na Carta de 1934, sendo lembrada pela correção técnica que governou a sua elaboração e pelo fato de conservar a possibilidade de intensa intervenção estatal nos domínios econômico e social, em decorrência, a propósito, do aumento das competências fixadas expressamente para a União. A par disso, instituiu modelo de federalismo de cooperação, para substituição do modelo dual que até então vigorava. Era composta de 218 artigos no corpo permanente e 36 no ADCT, tendo sido emendada 21 vezes.
Instituiu o direito de greve (superando o modelo corporativista do Estado Novo) e incorporou a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário. Recriou a Justiça Federal de segundo grau e o mandado de segurança. 
Duas de suas emendas são também importantes, pois a de n.º 4/61 (Ato Adicional) instituiu, por curto período, o sistema parlamentar de governo, e a de n.º 16/65 criou a representação de inconstitucionalidade, primeiro instrumento de fiscalização concentrada e abstrata de constitucionalidade dos atos normativos a operar no Brasil.
Durante a sua vigência foi dado o golpe de Estado que trouxe a ditadura militar (1964).
3.4.6. Constituição de 1967 e Emenda Constitucional n.º 01/69.
A Carta de 1967, disposta em 189 artigos, resultou do propósito de consolidar a legislação constitucional que mutilou o Texto Político de 1946, após a edição de várias emendas e atos institucionais, assegurando assim o regime autoritário, centralizador das decisões políticas nas mãos da União e do Executivo, do que resultou um modelo federativo meramente nominal. Elaborada de afogadilho pelo Congresso Nacional, foi, na verdade, outorgada e não promulgada.
O processo legislativo nela previsto dispunha sobre prazos exíguos para a apreciação de projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, além de prescrever ao Chefe do Executivo competência para edição do decreto-lei, que podia ser convolado em lei ordinária por decurso de prazo.
Ademais, a centralização operou por meio da competência que tinha o Presidente para convocar o Congresso a se reunir extraordinariamente, da sua iniciativa para apresentação de proposta de emenda, pelo acréscimo de novas hipóteses de intervenção federal, estado de sítio e medidas de emergência, pela possibilidade de recomendar o Chefe do Executivo ao Congresso a redução da autonomia financeira das outras unidades da Federação, etc.
Reaparece a Justiça Federal de 1.ª instância; são mencionadas as regiões metropolitanas; os direitos individuais passam a poder ser examinados sob a noção de exercício abusivo, o que acarretava a possibilidade da suspensão dos direitos políticos; surge a figura da desapropriação para fins de reforma agrária.
A EC n.º 01/69, outorgada pela junta de Ministros militares que governava o País após a morte de Costa e Silva, na verdade se apresenta como novo texto constitucional, e é caracterizada pelo avanço contra as prerrogativas do Congresso Nacional e de seus membros, com a supressão das inviolabilidades, possibilidade de perda de mandato por desrespeito a diretrizes partidárias e redução das competências do Senado.O mandato presidencial passa a ser de cinco anos, como também são ampliadas as hipóteses de exclusão de apreciação judicial quanto aos atos praticados pelos governos revolucionários, bem assim é prevista a possibilidade de criação de cortes de contas nos municípios com mais de dois milhões de habitantes. 
3.4.7. A Constituição de 05 de Outubro de 1988.
A redemocratização do País, durante a transferência “lenta e gradual” do poder político às autoridades civis, ensejou a edição da Emenda Constitucional n.º 26/85, que convocou Assembléia Nacional Constituinte, sendo seu produto a Constituição brasileira atualmente em vigência.
Necessário, entretanto, apontar algumas de suas características principais, como a grande extensão (atualmente são 250 artigos no Corpo Permanente e 89 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias), o extenso elenco de dispositivos apenas formalmente constitucionais, o elevado número de emendas que recebeu (seis de revisão e cinqüenta e duas promulgadas na forma do art. 60 do corpo permanente, até julho de 2005), bem como o estabelecimento de um núcleo imodificável (as cláusulas pétreas do art. 60, § 4.º).
Além disso, a CF/88 institui um complexo sistema de controle de constitucionalidade, que agrega instrumentos de tutela concreta e abstrata, concentrada e difusa, dispondo também extensamente sobre direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais, políticos e de nacionalidade.
Foi elaborada sob a influência do modelo de Constituição dirigente que se adotou nas Cartas portuguesa e espanhola, além dos aportes doutrinários do moderno constitucionalismo social, sendo apontada como a mais democrática de que se tem notícia entre nós (Luís Roberto Barroso).
CAPÍTULO II - PODER CONSTITUINTE 
1. NOÇÕES GERAIS 
O Poder Constituinte tem sido definido como manifestação soberana da vontade política fundadora do Estado, potestade que cria a organização estatal, estabelecendo limites ao exercício do poder político, instituindo uma ordem jurídica limitada e dependente do seu produto, que é a Constituição.
Convém salientar, ademais, que onde há Estado há Poder Constituinte e haverá Constituição, produto de manifestação, ainda que ilegítima, de soberania, pois qualquer forma de organização do exercício do poder político será definida, ainda que informalmente, por um conjunto de normas vigentes e eficazes às quais se reconhecerá natureza materialmente constitucional.
2. TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE.
Por vários séculos foi comum, na experiência jurídica ocidental, antes mesmo que se pudesse falar em Direito Constitucional, atribuir a Deus ou ao Monarca a capacidade de criar o Estado, sem quaisquer limites ou peias. Esse cognominado poder soberano serviu de justificação teórica do absolutismo monárquico, modelo político vigente na Europa desde fins da Idade Média.
Conforme se referiu anteriormente, a Nação, como titular do Poder Constituinte, é concepção própria dos movimentos revolucionários do último quartel do século XVIII, e dela é precursor o Abade Sieyès que, nessa parte, seguiu as idéias de Rousseau. 
A evolução natural desse pensamento, com o fortalecimento do princípio democrático, resultou na atribuição ao povo da titularidade do Poder Constituinte. Lembre-se que povo é conceito dotado de significado jurídico, sendo um dos elementos formadores do Estado, a sua dimensão pessoal (o conjunto dos indivíduos ligados pelo vínculo de nacionalidade ao Estado). 
É natural, diante disso, ser hoje corrente a opinião segundo a qual corresponde o Poder Constituinte a um dos atributos da Soberania popular, pois o Estado não deve ter outra finalidade senão a de permitir o exercício do poder político com vistas à realização das aspirações populares, que são reveladas na Constituição.
O Poder Constituinte, ainda que produto de manifestação da soberania popular, por questões de ordem prática, evidentemente não pode ser exercido diretamente – os indivíduos que compõem a sociedade política nascente não participam diretamente da feitura da Constituição. O órgão que torna possível uma elaboração constitucional respeitadora da soberania popular é tradicionalmente chamado de Assembléia ou Convenção constituinte. Para funcionar legitimamente essa Assembléia, os seus membros devem ser eleitos diretamente pelo povo, de modo a serem reproduzidas nesse colegiado todas as correntes de pensamento em voga na sociedade.
Além disso, a Assembléia que elabora a Constituição deve ter formação apartada dos órgãos e instituições que cria. Por outras palavras, convém que o Parlamento Constituinte não exerça, concomitantemente ou depois, as atribuições de Poder Legislativo ou Executivo, porque a criação dos órgãos de exercício do poder político é um dos grandes objetivos da Constituição. 
O que se quer dizer com isto é que a Constituição é anterior e superior ao Estado; a Assembléia que a cria tem atribuições tão solenes e importantes que não se pode permitir a confusão entre exercício de poder constituinte e constituído. Essa é a opinião doutrinária dominante.
Tal observação, feita em relação ao contexto de elaboração da Constituição Espanhola de 1978, quando se cogitou de manter as mesmas Cortes que a promulgaram no exercício posterior da função legislativa ordinária, vale como crítica ao que se deu no Brasil, pois, em 1988, promulgada a nossa Carta, a Assembléia Nacional Constituinte se convolou em Congresso Nacional até o fim daquela “legislatura”.
No Direito Comparado se tem observado a prática de levar a consulta popular o trabalho elaborado pela Assembléia, através do referendo, o que se faz para garantir maior legitimidade ao novo texto constitucional.
3. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO.
Quando se fala na capacidade de, por meio de um documento constitucional, inaugurar uma nova ordem jurídica e política e, portanto, um novo Estado, está-se falando no Poder Constituinte originário. A rigor, constituinte mesmo seria apenas essa vontade de fazer a nova Constituição, o que tornaria ociosa a tradicional distinção entre poder originário e derivado. O originário seria o único, de fato, constituinte, sendo o derivado, pelo contrário, constituído, porque disciplinado na Constituição.
De fato, é importantíssima no Direito Constitucional a distinção entre o poder de fazer a constituição – Poder Constituinte – e o poder político exercido dentro das balizas instituídas no seu texto – poderes constituídos. 
Assim, não há qualquer motivo para confundir o Poder Constituinte com aqueles outros, meros órgãos, criados pela Constituição para o exercício do poder político e do governo do Estado – Executivo, Legislativo e Judiciário.
A propósito, a teoria do Poder Constituinte é também importante porque serve de fundamento do princípio da supremacia da Constituição: a Lei Maior não apenas inaugura um ordenamento jurídico, mas ocupa nele posição de superioridade hierárquica absoluta. Junte-se a esse o princípio do Estado de Direito e teremos (pelo menos teoricamente) instrumentos adequados de contenção do exercício arbitrário ou abusivo do poder político. 
Se a Constituição é normativa suprema; se as leis devem ser elaboradas em harmonia com a Constituição; se o Estado somente pode atuar dentro dos limites impostos pela Constituição e pela lei; então, temos que o Estado está subordinado à soberania popular, cuja vontade se revela na Carta Magna.
Diz-se que o exercício do Poder Constituinte é pré-jurídico ou suprajurídico justamente porque o novo Direito é ditado pela Constituição. A doutrina tradicional elenca as seguintes características do Poder Constituinte originário:
a) inicial, porque inaugura uma nova ordem jurídica, revogando a legislação anterior incompatível com a Constituição promulgada;
b) ilimitado, pois no seu exercício não há qualquer dever de obediência à ordem constitucional anterior;
c) incondicionado ou autônomo, porque é apenas o seu titular quem determina o modo como deve ser exercido, porque o processo de elaboração constitucional não precisa respeitar regras procedimentaisvigentes no passado.
Calha perceber que, conquanto nominalmente atribuído à titularidade soberana do povo, é bem sabido que houve, há e provavelmente haverá sempre Constituições que entram em vigência sem que tenham sido consultados outros interesses que não os do grupo político hegemônico na comunidade. Bem por isso merece lembrança a conhecida classificação, já mencionada, que aparta as constituições promulgadas das outorgadas.
4. PODER CONSTITUINTE DERIVADO – REFORMADOR, DECORRENTE E REVISOR.
Toda Constituição, quando entra em vigência, deve revelar aptidão de permanência, de perenidade. Isto porque, sendo texto orgânico, de formação e disciplina do Estado e do governo, a Carta Política não pode ser cunhada para ter existência curta. A freqüente sucessão de um texto por outro, a curtos intervalos, pode se tornar indesejável fator de instabilidade política e institucional. 
Assim, a Constituição deve, a um só tempo, organizar adequadamente o Estado e permitir que a evolução política, jurídica e social, não a torne obsoleta. Daí decorre, por exemplo, a noção quanto a ser conveniente que o seu texto não seja exageradamente detalhado, de modo a permitir a sua adequada integração a novas realidades.
Além disso, as Constituições escritas devem adotar, como válvula de escape da defasagem que decorre do longo tempo de vigência, procedimentos para sua modificação formal. Apenas a própria Constituição, não outro ato normativo qualquer, deve instituir os mecanismos que permitem tais alterações. O exercício da capacidade de mudar formalmente a Carta é chamado de Poder Constituinte derivado reformador e deverá, obrigatoriamente, ser haurido do Poder Constituinte originário, através de expressa disposição constitucional. Isso é o mesmo que afirmar que a Constituição pode mudar, mas apenas segundo as regras, formais e materiais, que ela própria estabelece. 
Subordina-se o Poder Derivado reformador, portanto, ao Originário, condicionando-se o primeiro ao cumprimento das regras estabelecidas pelo segundo, para ser exercido. Assim sendo, pode-se afirmar o Poder Constituinte derivado é limitado, pois deriva da Constituição, subordinando-se aos limites de exercício nela impostos; além disso, é também condicionado, porque somente é exercitado segundo as regras procedimentais e de circunstância que a Carta também estatui.
4.1. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR.
As modificações formais no texto da Constituição se denominam Poder Constituinte Derivado Reformador. Esse Poder, que na verdade é constituído e subordinado, na opinião de doutrina vetusta (entre outros, Afonso Arinos de Mello Franco) pode ser exercido por duas vias: a de emenda e a de revisão.
No caso brasileiro, a Carta de 1988 adotou as duas modalidades de reforma. Com efeito, o art. 60 do seu Corpo Permanente trata do poder de emenda, enquanto o art. 3.º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias cuida do poder de revisão.
Enquanto o poder de emenda tem caráter ordinário, no sentido de que é possível a sua utilização sempre que se apresentem as condições que possibilitam ou motivam a alteração formal do texto constitucional, o poder de revisão se caracteriza pela excepcionalidade do seu exercício. A revisão constitucional se caracteriza, ainda, pela prévia determinação de um período dentro do qual é promovida ampla reavaliação quanto à eficiência e adequação das normas constitucionais até ali vigentes, sendo permitidas alterações textuais segundo procedimentos menos solenes. 
A comparação entre os mencionados dispositivos, art. 3.º do ADCT e art. 60 do corpo permanente, permite perceber que, sob o aspecto formal, pelo procedimento de revisão é muito mais simples mudar a Constituição do que através do procedimento de emenda: enquanto no primeiro as alterações são aprovadas com maioria absoluta dos votos dos membros do Congresso Nacional, por deliberação unicameral e em turno único, no segundo há a necessidade de aprovação por voto de três quintos dos membros de cada Casa, com dois turnos de votação. 
4.2. PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE
Nos Estados que se organizam sob a forma de Federação, por outro lado, a autonomia das entidades político-administrativas regionais (Estados-membros, no caso brasileiro), é inaugurada com a elaboração da Constituição Estadual, que é qualificada como produto do exercício de um Poder Constituinte derivado decorrente.
4.3. PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR
O poder constituinte derivado revisor, assim como o reformador e decorrente, é fruto do poder constituinte originário, porquanto vinculado a este.
O poder de revisão, segundo tem entendido majoritariamente a nossa doutrina, já foi integralmente exercitado, restando exaurida a eficácia do art. 3.º do ADCT quando, promulgadas seis Emendas de Revisão, foi encerrado o respectivo procedimento. Assim sendo, a partir de julho de 1994, quando o Parlamento declarou encerrado o procedimento de revisão, somente com inteira obediência ao art. 60 do corpo permanente é que podem ser concebidas novas modificações formais na Carta. A justificativa que há para tal afirmação é a de que a faculdade de admitir mudanças no corpo da Constituição, disciplinando o procedimento a ser obedecido, é exclusiva do Poder Constituinte Originário, que, em 1988, prelecionou que a revisão teria lugar em procedimento único e concentrado, a se iniciar depois de completados cinco anos de vigência da CF.
O art. 3º. do ADCT estabeleceu que a revisão constitucional seria realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. NORMA DE EFICÁCIA EXAURIDA, conforme bem diz o doutrinador Uadi Lammego Bulos.
O objetivo do Legislador Constituinte foi “atualizar” a Constituição Federal às necessidades da sociedade.
5. LIMITES DO PODER DE REFORMA CONSTITUCIONAL.
Subordinado e dependente que é à Constituição e ao próprio Poder Constituinte Originário, o Poder de Reforma não pode ser exercitado irrestritamente. Na verdade, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, como forma de evitar que contra si sejam cometidos atentados que acabem por desnaturá-la, estabelece em seu artigo 60 os limites para o exercício desse Poder, na verdade constituído.
Em primeiro lugar, quem exerce o Poder de Reforma é o Congresso Nacional (art. 60, § 2.º), por ser dotado de maior representatividade, além do que é o órgão constitucional ao qual se atribuiu o exercício típico do Poder Legislativo, estando, portanto, vocacionado para a tarefa.
Ademais, a doutrina tem identificado categorias típicas de limites que podem ser previstas em uma Constituição, com o objetivo de frear modificações impertinentes. São eles:
a) temporais – aqueles que proíbem o exercício do Poder de Reforma por determinado espaço de tempo, geralmente contado a partir da data da entrada em vigência da Constituição, como ocorreu com a Carta Brasileira do Império, de 1824, em cujo art. 174 era dito serem permitidas emendas apenas depois de transcorridos quatro anos desde a outorga do seu Texto (a CF/88 não possui limitações dessa natureza no seu corpo permanente); Alguns doutrinadores entende que o §5.º do art. 60 da CF é um caso de limitação temporal;
b) circunstanciais – quando há proibição de início ou prosseguimento da tramitação de proposta de emenda nas situações que a própria Constituição considera impróprias – art. 60.º, § 1.º (estado de defesa, estado de sítio, intervenção federal);
c) formais – os atinentes aos atos que obrigatoriamente se devem encadear para conduzir à aprovação de uma proposta de emenda, e que dizem respeito, portanto, ao procedimento de sua elaboração: iniciativa, que só pode ser exercida pelo Presidente da República, por um terço, no mínimo, dos Deputados ou Senadores ou por mais da metade das assembléias legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros; quorum qualificado para deliberação e aprovação, de três quintos dos membrosde cada Casa; votação em dois turnos sucessivos em cada Casa; proibição de reapresentação na mesma sessão legislativa de emenda rejeitada ou havida por prejudicada (art. 60, caput, incisos I, II e III, §§ 2.º, 3.º e 5.º);
d) materiais – aqueles que se traduzem em proibições quanto a temas, assuntos, matérias cuja disciplina, prevista quando do exercício do Poder Constituinte Originário, não pode ser revisitada pelo Poder de Reforma.
Sobre os limites materiais ao Poder Constituinte Derivado Reformador, convém verificar que eles são estabelecidos com a finalidade de proteger um núcleo normativo essencial da Constituição, formado por aquele conjunto de preceitos que dão a tônica, a estrutura, a identidade do sistema que ela inaugura, sendo, portanto, de imprescindível manutenção enquanto dura a vigência da Carta. Fala-se aí de preceitos de caráter superconstitucional.
Saliente-se, por outro lado, a distinção que a doutrina aponta entre os limites materiais explícitos e implícitos ao exercício do Poder de Reforma.
Como o próprio nome está a dizer, limitações materiais explícitas serão aquelas expressamente apontadas na Carta, sendo esse o caso do § 4.º do art. 60, que aduz a impossibilidade de ser objeto de deliberação “a proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direito, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes, os direitos e garantias individuais”. Freqüente é, no ponto, a afirmação de que as normas mencionadas nesse dispositivo estão protegidas por cláusulas pétreas.
Existe franca polêmica quanto ao alcance que se deve dar às prescrições contidas no § 4.º do artigo 60. OSCAR VILHENA VIEIRA resume bem a questão:
Que direitos e garantias podem ser considerados superconstitucionais? Quais aspectos da Federação estão protegidos? Que aspectos da separação de Poderes não podem ser alterados? E assim por diante. Se as cláusulas superconstitucionais forem interpretadas de forma generosa, largas parcelas da Constituição irão sofrer um processo de “engessamento”, pondo em risco a própria sobrevivência do texto constitucional como um todo. Por outro lado, se se incorrer na tentação de uma interpretação restritiva abre-se a possibilidade de flexibilizar ainda mais o processo de reforma, deixando os valores fundamentais da Constituição totalmente vulneráveis.
Na discussão em torno dos limites materiais ao poder de reforma pode-se vislumbrar duas posições bastante antagônicas. Uma primeira neoliberalizante, e uma segunda que busca assegurar os avanços sociais reconhecidos pela Constituição.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal dá testemunho veemente dessas dificuldades interpretativas. Muito embora a Corte reconheça a possibilidade de controle judicial da compatibilidade das emendas com os limites impostos ao poder de reforma pela Constituição, não foram freqüentes, durante a vigência da Carta de 1988, decisões declaratórias de inconstitucionalidade de dispositivos de emendas. Não que se esteja a postular ampla revisão judicial do exercício do Poder Constituinte derivado reformador, em eventual ofensa ao princípio da separação de Poderes, mas, pelo menos na opinião de vários doutrinadores, a atuação do STF, nessa parte, é considerada tímida.
As limitações materiais implícitas ao poder de reforma, por outro lado, seriam aquelas que se percebe existentes, muito embora não estejam textualmente previstas na Carta. Essa concepção surgiu na doutrina como forma de encarecer a supremacia do Poder Constituinte Originário: a parte mais importante e sensível da sua obra não pode ser afrontada pelo exercício do Poder de Reforma.
Algumas dessas limitações implícitas são pressentidas com maior evidência. Exemplo: a inalterabilidade das disposições que no artigo 60 da CF atinam com o processo, com o rito de deliberação e aprovação das emendas à Constituição. Tratar-se-ia, aqui, do que a doutrina já chamou de limites implícitos formais.
 
O desrespeito a qualquer dos limites a que se aludiu antes se traduz num juízo de inconstitucionalidade da emenda respectiva – desrespeitar as limitações formais, materiais e circunstanciais ao exercício do Poder de Reforma traz a constatação de ser inconstitucional a emenda eventualmente promulgada por esses meios. Assim sendo, e conforme se verá em outro capítulo, a emenda à Constituição pode ser objeto de controle de constitucionalidade.
CAPITULO III - INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
1. A INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
Interpretar é utilizar um caminho para encontrar a verdade.
Interpretar então é descomplicar, todavia a tarefa não é fácil como se imagina, num primeiro momento. Tudo porque existe um grande número de métodos e princípios. Então, paradoxalmente nos encontramos diante de inúmeros instrumentos, os quais apresentam a solução, mas também complica por demais o próprio processo.
Em virtude de sua peculiar estrutura normativo-material, a Constituição necessita de métodos específicos de interpretação. Isso porque enquanto as leis são compostas em sua maior parte por regras, a Constituição é formada basicamente por princípios, sobretudo em sua parte dogmática referente aos direitos fundamentais. Por não possuírem uma estrutura proposicional do tipo SE “A”, ENTÃO “B”, os princípios constitucionais, além de interpretados, devem ser densificados e concretizados (caráter aberto, polissêmico e indeterminado do texto constitucional).
2. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
A questão da escolha de um “método justo” de interpretação é um dos problemas mais controvertidos e difíceis de serem resolvidos na esfera do Direito Constitucional. A melhor forma de se interpretar a Constituição é fazendo uso de métodos desenvolvidos pela doutrina e jurisprudência e complementares entre si. Os principais métodos de interpretação constitucional são apresentados por Canotilho. 
Vamos a eles: métodos (jurídico ou hermenêutico-clássico; tópico-problemático; hermenêutico-concretizador; científico-espiritual; e, normativo-estruturante) e princípios (unidade da Constituição; concordância prática ou harmonização; correção funcional; eficácia integradora; força normativa da Constituição; máxima efetividade; interpretação conforme a Constituição; proporcionalidade e razoabilidade; e, presunção de constitucionalidade das leis).
Método jurídico (hermenêutico clássico)
Defendido por Forsthoff, este método parte da premissa de que a constituição é uma espécie de lei (tese da identidade entre lei e constituição) e que, portanto, deve ser interpretada através das regras tradicionais da hermenêutica (genético, filológico, lógico, gramatical, teleológico).
- genético (averiguar as origens dos conceitos utilizados na Constituição);
- filológico (buscar o sentido literal, gramatical, textual);
- lógico (utilizar o texto constitucional não como uma “colcha de retalhos”, mas sim como um sistema);
- histórico (investigar o contexto no qual se desenvolveu os trabalhos do legislador constituinte e também os registros dos debates ocorridos); e,
- teleológico (encontrar a finalidade, o objetivo, o propósito da norma).
Para os adeptos desta teoria o princípio da normatividade da constituição estaria assegurado pela dupla relevância atribuída ao texto – ponto de partida e limite para interpretação.
Método tópico-problemático
O método tópico-problemático consiste em uma técnica do “pensar problemático”.
Viehweg foi o responsável, em 1953, pela retomada da tópica no campo jurídico, como forma de reação ao positivismo.
O nome “tópico” vem da palavra topos – que significa esquema de pensamento, raciocínio, argumentação, ponto de vista, lugar-comum. Os operadores do Direito servem-se de vários topoi (pronuncia-se topuá) extraídos de princípios gerais, de decisões judiciais, de crenças e opiniões comuns. Esses topoi são submetidos a opiniões pró e contra, a fim de se descobrir qual a interpretação mais conveniente.
Trata-se de uma teoria da argumentação jurídica voltada para o problema e para o conceito de compreensão prévia, apta a fundamentarum sistema material de direito em contraposição ao sistema formal do dedutivismo lógico. É uma técnica de chegar ao problema “onde ele se encontra”, elegendo os critérios recomendáveis a uma solução adequada.
Há um processo aberto de argumentação entre vários intérpretes na busca da adequação da norma ao problema concreto.
Este método tem como ponto de partida a compreensão prévia, tanto do problema como da constituição e, como ponto de apoio, o consenso ou senso comum, que se expressam, por exemplo, através da doutrina dominante ou da jurisprudência pacífica.
Na visão dos que defendem a utilização deste método, o caráter prático da interpretação da constituição aliado a sua estrutura normativo-material (aberta e indeterminada), impõe se dê preferência à discussão dos problemas, uma vez que a open texture do texto constitucional não permite qualquer dedução subsuntiva.
As principais críticas feitas a este método são que:
1ª) sua utilização pode conduzir a um casuísmo ilimitado, uma vez que os métodos clássicos de interpretação, assim como a norma e o sistema são tratados como simples topoi;
2ª) a interpretação não deve partir do problema para a norma, mas da norma para o problema.
Alguns autores apontam como suas principais utilidades a complementação e comprovação dos resultados obtidos de outra forma e o preenchimento de lacunas.
Método hermenêutico-concretizador
Inspirado nas obras de Viehweg e Luhmann, este método parte do pressuposto de que “a interpretação da constituição é concretização”. Por não haver interpretação independentemente de problemas concretos, a interpretação e a aplicação consistem em um processo unitário.
Seus elementos básicos são a norma que se vai concretizar, a compreensão prévia do intérprete e o problema concreto a resolver. A concretização e a compreensão só são possíveis quando há um problema concreto a ser resolvido. Assim, a leitura do texto da constituição começa pela pré-compreensão de seu sentido através do intérprete, a quem compete concretizar a norma a partir da situação histórica igualmente concreta. Os fundamentos da compreensão prévia seriam estabelecidos pela teoria da constituição.
Este método relaciona texto e contexto, em um movimento de ir e vir conhecido como círculo hermenêutico. Trata-se de uma metodologia positivista atenta à realidade concreta, pautada em um pensamento problematicamente orientado (não axiomático e assistemático), de teor empírico e casuístico.
A principal diferença em relação ao método anterior é que neste há um primado do texto sobre o problema.
Método científico-espiritual
Também conhecido como valorativo ou sociológico este método parte da premissa fundamental de que a constituição deve ser interpretada como um todo (visão de conjunto).
Na concepção de Smend, principal expoente na defesa da utilização deste método, a interpretação deve considerar a ordem ou sistema de valores subjacente à constituição, assim como o sentido e a realidade que esta possui como elemento do processo de integração comunitária. Nenhum instituto do direito constitucional poderá ser compreendido em si, fora da conexidade que guarda com o sentido de conjunto e universalidade expressos pela constituição.
Defende-se aqui uma concepção sistêmica e espiritualista da constituição, entendida como o conjunto de distintos fatores integrativos da ordem estatal.
Sua principal diferença em relação aos métodos positivistas é o fato de ser extremamente crítico com respeito ao conteúdo constitucional, apreciado globalmente, em seus aspectos teleológicos e materiais, que servem de critério para a interpretação. Aqui, leva-se em consideração “fatores extraconstitucionais”, busca-se o “espírito da constituição”.
Método normativo-estruturante
Segundo Friedrich Muller, principal teórico deste método concretista, deve-se falar em concretização e não em interpretação, que é apenas uma etapa daquela.
Diante da impossibilidade de se isolar a norma da realidade – direito e realidade não são esferas incomunicáveis, nem categoriais autônoma –, na concretização da norma o operador deve considerar tanto os elementos resultantes da interpretação do programa normativo (texto, norma propriamente dita) quanto os decorrentes da investigação do domínio normativo (situação normada, realidade social que o texto intenta conformar).
Distingue “texto normativo” – que não é a lei, mas apenas a forma da lei – de “norma”. O texto apenas dirige e limita as possibilidades legais de uma determinada concretização material do direito (função diretiva e limitativa), não possuindo uma importância inerente a ele. O texto só toma sentido quando colocado numa operação ativa de concretização.
A concretização das normas é feita através dos métodos clássicos desenvolvidos por Savigny aliados a alguns elementos adicionais.
Os elementos de concretização da norma são: os elementos metodológicos (elementos clássicos e alguns princípios de interpretação constitucional); os elementos do âmbito da norma; os elementos dogmáticos; os elementos teóricos (estabelecidos pela teoria da constituição); e os elementos político-jurídicos.
De acordo com esta teoria, os três primeiros elementos (metodológicos, do âmbito da norma e dogmáticos), por estarem em uma relação direta com a norma, seriam hierarquicamente superiores aos demais. Este é considerado o ponto falho deste método que procura desenvolver uma teoria da estrutura da normatividade constitucional, uma vez que depois de abrir-se para a realidade, o concretismo tem sua última postulação assentada numa estrutura jurídica limitativa.
3. POSTULADOS NORMATIVOS APLICATIVOS (“PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS”)
Alguns critérios utilizados na interpretação e aplicação das normas possuem uma operacionalidade essencialmente distinta em relação aos princípios. São metanormas que estabelecem critérios de interpretação ou a estrutura de aplicação de outras normas e que, por isso, desempenham um importante papel hermenêutico dentro do ordenamento jurídico.
Não obstante, apesar da forma diversa de atuação, a doutrina tem designado esta espécie normativa como princípio. Por ser a denominação secundária, já que o nome é apenas um rótulo que apomos às coisas, iremos utilizar a denominação tradicional.
A seguir, será feita a análise de alguns postulados que, embasados na supremacia da constituição, são utilizados na interpretação e aplicação de normas infraconstitucionais.
Princípio da supremacia
Toda interpretação normativa se assenta no pressuposto da superioridade jurídica da constituição, sendo que em razão dessa supremacia, nenhum ato jurídico será válido se for incompatível com ela.
A supremacia da constituição decorre da idéia de superioridade do poder constituinte, o que faz com que sua obra esteja situada no ápice da pirâmide normativa, servindo de fundamento de validade de todos os demais atos jurídicos.
No plano dogmático e positivo, a superioridade constitucional se traduz no estabelecimento da forma (competência, procedimentos...) e do conteúdo dos atos normativos infraconstitucionais que, na hipótese de inobservância dos critérios constitucionalmente estabelecidos, serão submetidos ao controle de constitucionalidade.
Além de impedir a violação positiva (por ação) da constituição, o princípio da supremacia impõe, em certos casos, o dever de legislar, pois a omissão inconstitucional também constitui uma violação (negativa) a este princípio.
A missão do Judiciário de defender a supremacia da constituição tem papel de destaque no sistema geral de freios e contrapesos concebido pelo constitucionalismo moderno como forma de contenção do poder.
Por fim, vale lembrar que a idéia de supremacia da constituição está presente em todos os casos de controle de constitucionalidade.
O Supremo Tribunal Federal já deixou consignado, em acórdão unânime, que “a constituição não pode submeter-se à vontade dos poderes constituídos e nem ao império dos fatos e das circunstancias. A supremacia de que ela se reveste – enquanto for respeitada – constituirá a garantiamais efetiva de que os direitos e as liberdades não serão jamais ofendidos”
.
Princípio da presunção de constitucionalidade das leis
A idéia de que os poderes públicos retiram suas competências da Lei Maior suscita uma presunção, ainda que relativa (juris tantum), de conformidade entre os atos por eles produzidos e a constituição.
Reforça esta presunção o fato de que, antes de promulgadas, as leis passam necessariamente por um controle preventivo de constitucionalidade perante o legislativo (comissões especializadas) e o executivo (veto jurídico), o que, todavia, não impede a declaração em sentido contrário pelo órgão jurisdicional competente.
Luís Roberto Barroso assinala que este princípio “desempenha função pragmática indispensável na manutenção da imperativadade das normas jurídicas e, por via de conseqüência, na harmonia do sistema”. Isso porque o “descumprimento ou não-aplicação da lei, sob o fundamento de inconstitucionalidade, antes que o vício haja sido proclamado pelo órgão competente, sujeita a vontade insubmissa às sanções prescritas pelo ordenamento”.
A conseqüência prática deste princípio é que, no caso de dúvida acerca da constitucionalidade, deve a norma ser considerada como válida. Assim, havendo várias interpretações possíveis, deve o intérprete optar por aquela que seja compatível com a constituição “interpretação conforme a constituição).
No Brasil, este princípio tem sido reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência que, em diversas ocasiões, já assentado que “a dúvida milita em favor da lei, que a violação da constituição há de ser manifesta e que a inconstitucionalidade nunca se presume”.
No tocante ao descumprimento de uma lei inconstitucional pelo Chefe do Poder Executivo, entende-se que, em virtude de sua competência para produzir atos de igual categoria em relação ao Legislativo, poderia ele negar cumprimento a uma lei considerada inconstitucional, desde que a recusa seja expressa e se aponte a inconstitucionalidade.
Princípio da interpretação conforme a constituição
Como uma decorrência da supremacia das normas constitucionais e da unidade do ordenamento jurídico, este princípio evita a anulação de normas dúbias.
Quando da interpretação de normas infraconstitucionais polissêmicas ou plurissignificativas, deve-se dar prevalência à que lhes confira sentido compatível, e não conflitante, com a constituição (presunção de constitucionalidade das leis). Assim declaração de inconstitucionalidade deve ser o último recurso de que lançará mão o juiz.
Contém um princípio conservador da norma, que tem por escopo preservar a autoridade do comando normativo e o princípio da separação dos poderes. Sua finalidade “é possibilitar a manutenção no ordenamento jurídico das leis e atos normativos editados pelo poder competente que guardem valor interpretativo compatível com o texto constitucional”.
De acordo com o Tribunal Constitucional Federal alemão, nenhuma lei será declarada inconstitucional quando comportar uma interpretação em harmonia com a constituição e, assim, puder conservar seu sentido ou significado.
No entanto, não é permitido ao intérprete contrariar o sentido literal da lei, nem o objetivo que o legislador inequivocamente pretendeu alcançar com a regulamentação, tendo em vista que a finalidade da lei não deve ser desprezada. Assim, este princípio encontra dois limites: o sentido claro do texto (não pode ser contra legem) e o fim contemplado pelo legislador. A vontade do juiz não pode substituí-lo, em razão da preeminência conferida ao legislativo para concretizar a constituição, o que torna esta espécie de interpretação um princípio de autolimitação judiciária.
Problemática é a utilização deste princípio em relação à emenda. Se no caso da lei ordinária a constituição permanece intocada, na emenda não acontece o mesmo. Esse evento deve ser limitado através da aferição da constitucionalidade da emenda baseada nos princípios constantes das cláusulas pétreas.
Alguns autores sustentam que, em certos casos, a interpretação conforme a Constituição se equipara a uma declaração de nulidade sem redução de texto, pois, não raro, “a preservação da norma, cuja expressão literal comporta alternativas constitucionais e alternativas inconstitucionais, ocorre mediante restrição das possibilidades de interpretação, reconhecendo-se a validade da lei com a exclusão da interpretação considerada inconstitucional”.
Na jurisprudência do STF é possível encontrar, em diversas ocasiões, a utilizaçao dos dois institutos como se fossem idênticos.
De fato, em ambos os casos há dois pontos em comum:
1º) as hipóteses possíveis de aplicação da norma são reduzidas; e
2º) não há qualquer alteração no texto normativo.
Não obstante, apesar da proximidade e dos efeitos semelhantes, não se deve equiparar tais institutos. Na interpretação conforme, há uma declaração de constitucionalidade, conferindo-se um sentido à norma e, em princípio, afastando-se todos os demais. Na declaração de nulidade sem redução de texto, há um juízo de inconstitucionalidade, excluindo-se uma determinada interpretação e permitindo-se as demais, desde que comportadas pelo seu texto. Neste caso, os tribunais deverão observar a cláusula da reserva de plenário (CF/88, art.97).
Gilmar Ferreira Mendes esclarece que “a declaração de compatibilidade não corresponde nem a uma censura de outras interpretações nem à fixação de uma única interpretação como válida”, uma vez que em outras aplicações poderão ser desenvolvidas interpretações diversas em conformidade com o texto constitucional. A equivalência da declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto com a interpretação conforme a Constituição só seria possível se se entendesse que esta “não é apenas uma regra normal de hermenêutica, mas modalidade específica de decisão”, como é o caso daquela.
Princípio da simetria constitucional
Este princípio impõe a adoção, pela constituição dos Estados-membros e pela lei orgânica dos Municípios, dos paradigmas traçados pela Constituição da República, salvo quando esta dispõe em contrário. Apesar de não estar expresso no texto constitucional, este princípio pode ser deduzido do art.25 (“Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”) e do art. 29 (“O Município reger-se-á por lei orgânica [...], atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado...”).
Este princípio impõe que algumas normas da Lei Maior sejam compulsoriamente repetidas pelos demais entes da federação em sua norma organizatória. É o caso, por exemplo, das normas relativas ao processo legislativo federal (CF, arts. 59 a 69) e as hipóteses de intervenção estadual nos municípios (CF, art. 35), consideradas normas de repetição obrigatória.
4. POSTULADOS NORMATIVOS DE INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
O catálogo de princípios utilizados na interpretação da constituição, apesar de ser variável conforme o autor, é ponto de referencia obrigatório da teoria da interpretação constitucional.
A seguir será feita referência aos mais utilizados.
Princípio da unidade da constituição
Considerado pelo Tribunal Constitucional Federal da Alemanha como o mais importante princípio de interpretação da constituição, consiste numa especificação da interpretação sistemática, impondo o dever de harmonização das tensões e contradições existentes entre as normas constitucionais, uma vez que entre elas não existe hierarquia.
Este princípio afasta a tese levantada por Otto Bachof, em seu livro Normas constitucionais inconstitucionais, na qual defende a possibilidade de ser declarar a inconstitucionalidade de uma norma originária da constituição.
A idéia de unidade da ordem jurídica se irradia a partir da constituição e sobre ela também se projeta. As normas constitucionais não devem ser consideradas isoladamente, mas como preceitos integrados num sistema interno unitário de regras e princípios. Considerando-se o ordenamento jurídico como um sistema, a constituiçãoseria o elo entre os seus elementos, por ser a origem comum de todas as normas. É ela, como norma fundamental, que confere unidade e caráter sistemática ao ordenamento.
A pluralidade de concepções, o pluralismo e antagonismo de idéias subjacentes ao pacto fundador, tornam imprescindível a unidade da interpretação.
Na concepção do Tribunal Constitucional Alemão, “uma disposição constitucional não pode ser considerada de forma isolada, nem pode ser interpretada exclusivamente a partir de si mesma. Ela está em uma conexão de sentido com os demais preceitos da constituição, a qual representa uma unidade interna”.
Portanto, as normas constitucionais devem ser harmonizadas por meio de uma interpretação que afaste as contradições entre normas da constituição.
Princípio do efeito integrador
Muitas vezes associado ao princípio da unidade, este princípio estabelece que, por ser a constituição um elemento do processo de integração comunitária, nas resoluções dos problemas jurídico-constitucionais, deve-se dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política, uma vez que essa é uma das finalidades primordiais da constituição.
Acerca deste princípio, Canotilho faz a seguinte observação:
como tópico argumentativo, o princípio do efeito integrador não assenta numa concepção integracionista de Estado e da sociedade (conducente a reducionismos, autoritarismos, fundamentalismos e transpersonalismos político), antes arranca da conflitualidade constitucionalmente racionalizada para conduzir a soluções pluralisticamente integradoras.
Princípio da máxima efetividade
Conhecido também como princípio da eficiência ou princípio da interpretação efetiva, impõe que na interpretação das normas constitucionais se atribua o sentido que lhes empreste a maior efetividade possível, a qual significa a realização do direito, “o desempenho concreto de sua função social”.
Decorrente do fenômeno da juridicização da constituição, o princípio da máxima efetividade impõe a necessidade de dar preferência, nos problemas constitucionais, aos pontos de vista que levem as normas a obter a máxima eficácia social diante das circunstancias de cada caso.
Este princípio está intimamente ligado ao princípio da força normativa da constituição, segundo o qual, na interpretação da constituição, deve-se dar primazia às soluções que, densificando as suas normas, tornem-nas mais eficazes e permanentes.
Embora originariamente ligado à tese da atualidade das normas programáticas, hoje este princípio é invocado, sobretudo no âmbito dos direitos fundamentais.
Para assegurar a efetividade de suas normas, assim como a tutela de situações jurídicas subjetivas, a constituição, além de levar à categoria constitucional um conjunto de ações – hábeas corpus, hábeas data, mandado de segurança e ação popular – prevê dois instrumentos para neutralizar as omissões inconstitucionais: a ADI por omissão e o mandado de injunção.
Princípio da concordância prática (ou da harmonização)
Os bens protegidos pela constituição, em caso de colisão, devem ser tratados de maneira que a afirmação de um não implique o sacrifício total do outro. Assim, havendo conflito entre dois ou mais direitos fundamentais, o intérprete deve utilizar-se deste princípio, a fim de coordenar e combinar os bens jurídicos em conflito, realizando uma redução proporcional do âmbito de alcance de cada um.
Princípio da relatividade (ou convivência das liberdades públicas)
Nenhum direito, por mais importante que seja, pode ser considerado absoluto. Todos, inclusive os direitos e garantias fundamentais, encontram limites estabelecidos por outros direitos igualmente consagrados no texto constitucional.
Ademais, de acordo com o entendimento consagrado pelo STF, “os direitos humanos fundamentais não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas, nem tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito”.
Em virtude da relatividade dos direitos, não se pode estabelecer, em abstrato, uma hierarquia normativa entre eles. Havendo um conflito entre dois ou mais direitos consagrado na constituição, apenas diante de um caso concreto será possível concluir acerta de qual deles deverá prevalecer naquela hipótese.
Princípio da conformidade funcional (ou “justeza”)
Este princípio atua no sentido de não permitir que os órgãos encarregados da interpretação da lei constitucional cheguem a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional estabelecido por ela. Trata-se de um princípio a ser observado, sobretudo, pelo Tribunal Constitucional nas suas relações com o legislador com o governo.
Segundo Canotilho, este princípio tem por finalidade impedir, “em sede de concretização da constituição, a alteração da repartição de funções constitucionalmente estabelecidas”.
Atualmente, ele tende a ser considerado mais como um princípio autônomo de competência do que propriamente como um princípio de interpretação constitucional.
Princípio da proporcionalidade (ou da razoabilidade)
Origem
Originário do direito administrativo, o princípio da proporcionalidade tradicionalmente sempre esteve relacionado à atuação e limitação do Poder Executivo, como medida de legitimidade para as restrições administrativas à liberdade individual impostas no exercício do Poder de Polícia. Posteriormente, este princípio migrou para o Direito Constitucional, onde além de possibilitar sua aplicação autônoma, atua também como uma máxima informadora de todos os demais princípios, os quais devem ser aplicados de forma proporcional.
Ligado em sua origem à garantia do devido processo legal – instituto ancestral do direito anglo-saxão – atualmente é possível constatar “uma nítida europeização” deste princípio, decorrente “do cruzamento das várias culturas jurídicas européias”.
Nomenclatura
Apesar de alguns autores traçarem uma distinção entre princípio da razoabilidade e princípio da proporcionalidade, via de regra, os dois termos são utilizados indistintamente. Não obstante, é possível verificar que razoabilidade é mais utilizado por autores anglo-saxões, enquanto autores de origem germânica preferem proporcionalidade.
Este princípio serve como um parâmetro de valoração dos atos do poder público, segundo os critérios de justiça. Em síntese de vários autores, Luís Roberto Barroso afirma que “é razoável o que seja conforme à razão, supondo equilíbrio, moderação e harmonia; o que não seja arbitrário, caprichoso; o que corresponda ao sendo comum, aos valores vigentes em dado momento ou lugar”.
O autor faz uma distinção entre razoabilidade interna e razoabilidade externa. A primeira seria aquela aferida dentro da lei, ligada à existência de uma relação racional e proporcional entre seus motivos, meios e fins. Já a razoabilidade externa seria a adequação da norma “aos meios e fins admitidos e preconizados pelo texto constitucional”.
Consagração implícita
Apesar de não estar expresso, o princípio da proporcionalidade pode ser deduzido de outras normas constitucionais.
Alguns autores defendem sua íntima conexão com os direitos fundamentais, enquanto outros adotam a concepção germânica que o considera inerente ao próprio Estado de Direito, sendo parte integrante do sistema constitucional na qualidade de princípio implícito.
A concepção de influência norte-americana sustenta que a razoabilidade das leis se torna exigível em virtude do caráter substantivo que deve ser dado à cláusula do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). No Brasil, este é o entendimento predominante no Supremo Tribunal Federal.
Subprincípios
O princípio da proporcionalidade costuma ser dividido em três subprincípios: adequação, necessidade (ou exigibilidade) e proporcionalidade em sentido estrito.
Há uma adequação entre meios e fins, quando as medidas adotadas são aptas para se alcançar os objetivos

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