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Documentário Justiça

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O documentário de Maria Augusta, brasileira radicada na Holanda, consegue mostrar, acompanhando três casos diferentes, a ineficiência no Tribunal de Justiça. Tendo como sua primeira cena, uma audiência em que um paraplégico acusado de um delito em que não existem provas nem testemunhas além dos policiais que efetuaram sua prisão e que, além disso, o réu teria pulado um muro para fugir dos policiais, Justiça mostra a verdadeira injustiça chamada Sistema Judiciário Brasileiro. Julgando cerca de dez audiências por dia, impossível que um juiz consiga ser eficiente, além da frieza com que julga os processos. Frieza essa, que podemos observar na cena em que o réu, deficiente físico sem uma perna, pede para que seja transferido para um hospital, já que em sua cela, por conta da lotação, não tem como ficar na cadeira de rodas e se arrasta pelas fezes e urina dos outros detentos, e que o magistrado diz que nada pode fazer por ele.Com uma polícia corrupta, provas implantadas, ausência de testemunhas por conta do medo da polícia e do tráfico, ausência de penas alternativas, a promotoria pública junto a uma defensoria antiética, completam o quadro de injustiça. Em uma cena chocante, o réu Carlos Eduardo jura de pés juntos à juíza que a acusação feita a sua pessoa é inverídica, e confessa para sua defensora que realmente culpado, essa ultima, antiética, briga pela absolvição do acusado, colocando em risco sua própria família, com a ideia de que as carceragens já estão superpovoadas. Com uma simples câmera, e diferentemente dos outros documentários pois não acontecem entrevistas, Maria Augusta alertou a sociedade sobre o caos carcerário existente no Rio de janeiro. Mesmo sabendo que esse não somente um problema carioca, ao mostrar o interior da Polinter, observamos centenas de pessoas empilhadas dentro de celas, que nem mesmo a SUIPA (Sociedade Protetora dos Animais) permitiria que abrigassem animais. Sem nenhuma política de reeducação e reinserção na sociedade, aquilo se torna mais um antro de marginalidade, onde os detentos acabam saindo piores do que quando entraram. Originalmente, o documentário Justiçaa faz um alerta para a reforma que o sistema judiciário necessita. Ao filmar o interior de um tribunal consegue retratar com delicadeza que não colocando os marginais na cadeia que resolveremos o problema de violência no Brasil.
1. CREDENCIAIS E OBJETIVOS DA AUTORIA
 
O documentário Justiça, da cineasta Maria Augusta Ramos, retrata de forma particular, a rotina do Judiciário e do sistema prisional brasileiro, que, através de imagens imperativas, revelam ao telespectador o retrato frio e cruel da realidade carcerária e processual do nosso sistema penal. 
 
Neste universo, são focados aqueles que de algum modo, direta e indiretamente, compõe o arcabouço da Jurisdição do Brasil, mais precisamente, a jurisdição do Rio de Janeiro. Deste modo, os personagens trazidos pelo filme são as pessoas que trabalham diariamente com o poder judiciário, como promotores, defensores públicos, juízes, e aqueles que estão apenas de passagem, como os réus e seus familiares.
 
Justiça[1] foi lançado em 2004,recebeu o Prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional de Documentário – ´Visions du Réel´em Nyon, Suiça, 2004 – e o Prêmio "La Vague d'Or" de Melhor Filme, no Festival Internacional de Cinema Feminino de Bordeaux, na França.
 
Maria Augusta Ramos[2], que atualmente vive na Holanda, nasceu em Brasília, em 1964, onde se graduou em música pela Universidade de Brasília. Mudou-se para Europa, onde continuou seus estudos no Groupe de Recherche Musicale, em Paris. Logo depois, estudou em Londres na City University. E na Holanda ingressou na The Netherlands Film and Television Academy, especializando-se em direção e edição. 
No caminhar da carreira, participou de vários festivais internacionais, chegando a ganhar o prêmio mais importante do cinema holandês.
 
 
 
2. INTRODUÇÃO
 
 
Antes mesmo de iniciar as filmagens, a diretora conta que passou dois meses entrevistando possíveis personagens e conhecendo o cotidiano do Fórum Central. Maria Augusta Ramos, narra em entrevista no próprio documentário que quando fez sua seleção, abdicou de entrevistas diretas, narração em off, trilha sonora ou outros elementos que pudessem interferir no que é mostrado. 
 
“(...) que colocou sua câmera como se fosse mira telescópica e atirou, certeira, no coração do problema. Com visão aguçada pela tranqüilidade em que vive na Europa, a cineasta mergulhou na vida dos principais personagens envolvidos nos delitos, desde a sua prática até o julgamento: o réu e sua família, a polícia, o promotor, o defensor público e o juiz; suas vidas cruzadas pelos aspectos humanos e a diferença das funções que cabe a cada um e a todos na sociedade.”[3]
 
A edição, em vários, momentos é marcada por oposições, como acontece na seqüência que salta do plano das paredes marmorizadas do Palácio da Justiça para o enfoque sobre as celas superlotadas da Casa de Custódia da Polinter.
 
No filme, Maria Augusta acompanha um pouco mais de perto uma defensora pública, um juiz que também é professor do curso de Direito e um réu. Primeiro, a câmera os flagra no tribunal de justiça; depois, fora dele, já na carceragem da Polinter e, em seguida, na intimidade de suas famílias. Este jogo imperativo de imagens é, segundo a própria cineasta, o prisma pelo qual objetiva traspassar o documentário:
“Em geral nosso olhar é formado pela visão do cinema americano, os ‘filmes de tribunal'. Justiça , sob esse aspecto, é um choque de realidade. O filme traz à tona um universo institucional extremamente fechado e que raras vezes é tratado pelo cinema ficcional brasileiro”.[4]
 
Justiça é um documentário da realidade do sistema judiciário, em especial da primeira instância do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. 
 
 
 
 
3.0 CONCLUSÃO E APRECIAÇÃO CRÍTICA
3.1 Da Jurisdição Alienada à Justiça de Papel
 
O documentário trás à tona várias lacunas existentes no Poder Judiciário: desde o retrato estereotipado do criminoso, passando pelas mazelas de um país que viveu o descaso de governos corruptos, até as vísceras mais profundas do caos, que é o sistema jurídico-carcerário. 
 
Em Justiça, as imagens se tornam pertinentes a cada cena. De tal modo, que num lapso de lembrança, retorno ao Contrato Social de Rousseau[5]Como explicar a legitimidade do jus puniendi? quando diz que "O homem nasceu livre e por toda a parte encontra-se a ferros". É neste momento, que se aperta o pause do controle remoto e congela-se a imagem do DVD, porque a indagação é latejante: 
 
Cezar Roberto Bitencourt[6] ensina que, oDireito Penal, surge para proteger bens jurídicos, delimitando as condutas proibitivas e garantindo que não haja uma ultra-soberania do Estado sobre seus tutelados. Logo, se entendi o Direito Penal como a garantia de ordem social, e que sem ele, a sociedade teria seus os princípios basilares e fundamentais infectados pela barbárie. 
 
Todavia, Direito Penal e liberdade são inversamente proporcionais: à medida que um cresce, o outro diminui. Assim, o pensamento contratualista significa conhecer alguns fundamentos do Direito Penal e do Estado de Direito que estão intimamente relacionados. 
 
Corolário ao entendimento doutrinário, o Poder Judiciário retratado pelo filme faz astanhar a poeira acumulada no volume constante de processos, impulsiona a mensurar o baixo número de magistrados em face à alta burocratização do judiciário e, não obstante, provoca um brado bárbaroshakespeariano: de que tudo isso contribui para o abarrotamento do sistema prisional, tornando “o homem lobo de si mesmo”[7].
 
Neste caminhar, o Poder Judiciário deverá ser extinto, já que é a causa das doenças do Brasil? – é a primeira impressão que se tem devido à morosidade com que os depoimentos, os fatos e as decisões são narrados nas cenas do filme. Mas num segundo momento, o espectador é estimulado também a lembrar que o federalismo brasileiro se originou de forma centrífuga – de dentro para fora – e três sãoos poderes que respondem por esta nação.
 
            Deste modo, é passível da responsabilidade o Poder Executivo e o Poder Legislativo pelos problemas levantados pelo documentário. Até porque, uma vez que autônomos e harmoniosos entre si, estes poderes podem construir novas cadeias, penitenciárias, estudar possibilidades e criar penas alternativas que possibilitem ao encarcerado um pouco mais de dignidade. 
 
Mas é sabido que a solução não está centrada nas melhorias dos sistemas prisionais, somente. De modo tripartite, também é possível ampliar condições de trabalho, financiar a modernização, celerizar e informatizar o próprio Judiciário, para que, os operadores do Direito, não sejam estereotipados como: os alienados que operam uma Justiça de Papel.
_ x _
Em uma visão geral do imaginário cinematográfico, o pouco que se sabe sobre o cotidiano do sistema judiciário é oriundo de ficções norte-americanas com os chamados "filmes de tribunal". Quando um documentário como Justiça aparece para evidenciar de forma bastante clara como se articulam as relações de poder na justiça criminal brasileira, o resultado é no mínimo impactante. De saída, há um deslocamento de sentido e uma tentativa de despojar o olhar desse véu idealizado sobre os atores sociais que movimentam o Poder Judiciário.
Usando os mesmos aspectos formais do cinema-direto, a diretora Maria Augusta Ramos deixa sua câmera estática para registrar a frieza do ambiente nas salas de audiência e o caráter ritualizado dos interrogatórios feitos por juízes aos réus, dentro do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Não há entrevistas ou depoimentos no documentário. Fixa em tripé, a câmera comporta-se como olhar neutro e quase ausente. Mas o uso de várias câmeras permite uma montagem que sublinha os jogos de olhares entre juízes, promotores, defensores e réus.
Nesse sentido, o documentário revela a brutal distância de linguagem entre quem faz e executa a lei e aqueles que são condenados por ela. Nos tribunais, juízes insistem em ler documentos com acusações e sentenças escritas pelo Ministério Público em linguagem acadêmica e hermética para o réu. A postura empolada dos magistrados da justiça revela um mecanismo de poder excludente, onde o juiz permanece em patamar superior e o réu com braços recuados. Com os dedos teclando impacientemente sobre a mesa, a juíza e futura desembargadora Fátima Clemente é o símbolo da arrogância. O silêncio é particamente brutal nesses casos em que o diálogo parece ser impossível. Os longos corredores do tribunal, em típico cenário asséptico e iluminado, são indícios do labirinto sem saída de um sistema penal alienado das condições político-econômicas do Brasil.
Apesar da aparente imparcialidade de Justiça, fica evidente o posicionamento da cineasta diante das discussões em torno do tema. Ela sabe exatamente qual cena terá mais impacto para o público. Ao registrar várias seqüências filmadas em celas lotadas de presos na Polinter, Maria Augusta Ramos aponta o olhar sobre a completa indiferença quanto ao sistema carcerário brasileiro.
Seu posicionamento é legitimado em outra cena que mostra a defensora pública Maria Ignez Kato - uma das poucas personagens humanizadas do documentário, conversando com familiares na mesa de jantar sobre sua rotina de trabalho. "Esses promotores pensam que vão salvar a sociedade. Dizem que ninguém é preso nesse país, enquanto os presídios estão aí superlotados", argumenta. Maria Ignez acrescenta que só os mais pobres acabam presos. "São só gente pé-de-chinelo, que rouba celular, carteira, pequenas coisas. Outro dia tive apareceu um acusado de roubo de três óleos de pele e tive entrar com vários recursos para livrar ele da cadeia".
O documentário aborda o julgamento de cinco réus de furto e porte de drogas, mas escolhe um deles para conduzir o filme: o jovem Carlos Eduardo, que está sendo julgado por porte de carro roubado. Justiça acompanha o desespero da mãe de Carlos, entre idas a uma igreja evangélica, além do nascimento do segundo filho do rapaz com uma namorada. Da mesma forma, Maria Augusta filmou a intimidade familiar do juiz Geraldo Prado e da defensora pública Maria Ignez. É nesse momento que o filme peca, pois acaba teatralizando as ações dos personagens. Essas cenas deixam o documentário com ar falso e ficcionalizado. Mas Justiça serve como bom exercício de linguagem e como questionamento sobre o sistema judiciário e carcerário no País.
DOCUMENTÁRIO: JUSTIÇA 
O tema desse trabalho é o documentário “Justiça”, de autoria de Maria Augusta Ramos.
O filme mostra a rotina do Fórum da cidade do Rio de Janeiro, com as pessoas que lá trabalham: Juízes, promotores, defensores públicos, serventuários e também aquelas que o freqüentam diariamente: réus, familiares destes, advogados, partes, etc. 
Passarei, então, a expor alguns momentos do filme que mais me chamaram atenção.
1. O juiz não nota que o acusado de furto, a quem está interrogando, é paraplégico. 
A Constituição Brasileira, em seu artigo 5º, inciso LIV, preceitua: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 
Será que, no caso desse réu, está sendo aplicado o princípio da Ampla Defesa e do Contraditório? Que provas encontrou o Delegado de Polícia para indiciá-lo? O Ministério Público ofertou a denúncia, o Juiz a recebeu e somente no fim do interrogatório foi que se percebeu que o réu era aleijado (estava em uma cadeira de rodas), condição essa que refuta todas as acusações contra ele. O processo está eivado de nulidades desde sua origem.
2. As cenas gravadas na Polinter mostram celas superpovoadas, verdadeiros depósitos de gente, tratamento degradante dispensado aos presos. 
Verdadeira escola da violência. Do jeito que se encontra o sistema penitenciário não há como recuperar ninguém – é uma afronta à dignidade humana. A Constituição Brasileira, em seu art. 5º, inciso XLIX, diz: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Além de inconstitucional, é absolutamente degradante o que se vê nas celas das delegacias e penitenciárias brasileiras.
3. Uso de expressões “INCREPADO”, ao invés de acusado, réu, denunciado, “DE CUJUS “(latim) que significa morto, falecido, e de “ARTÉRIA” no lugar de rua. 
A linguagem de quem aplica a lei é diferente de quem a recebe. A linguagem do Poder Judiciário por vezes exerce bloqueio aos direitos das classes menos favorecidas, que veem naquele linguajar algo intransponível, que as distancia da Justiça.
4. A formalidade que impera no Poder Judiciário 
A disposição da mobília, onde cada um deve se sentar, a posição central e de nível elevado do magistrado, que alerta ao réu que a posição da cadeira não pode ser alterada e que as mãos devem ficar sobre a mesa, são formalidades necessárias ao bom andamento processual?
5. Condenação sem provas concretas 
Na audiência de oitiva das testemunhas, restou claro que não havia prova concreta contra o Alan. O magistrado sentenciou com base nos depoimentos das testemunhas - policiais militares.
Sentenças que se fundamentam tão somente nos depoimentos dos policiais que prenderam em flagrante o réu, colocando em caixa alta e negrito a circunstância de que o acusado confessara na delegacia o crime a ele atribuído, demonstram que o Juiz não se encontrava seguro de sua conclusão acerca dos fatos. 
Será que o fato de Alan estar soltando pipa é prova bastante e suficiente de que ele participava do tráfico de drogas? (suposição colocada nos autos de que nas bocas de fumo “soltar pipa” é um alerta de que “a polícia vem vindo”). 
Intrigante é o fato do mesmo magistrado ser também professor que ensina a seus alunos sobre a busca da verdade real, sobre os elementos subjetivos que devem ser provados, a fim de se chegar à verdade dos fatos. O documentário mostrou outra realidade. 
CONCLUSÃO 
Pretendeu a autora captar a atuação do Poder Judiciário e o sistema carcerário neste País e gerar reflexões acerca da atual estrutura, mas, sobretudo, quis causar um impacto no sentido de mostrar ao espectadorque há muito por se indignar e que não se deve deixar que a injustiça se misture à indiferença.
Achar normal o que é escandaloso é o primeiro passo para a imoralidade. E o que vem depois é a indiferença - daqueles que servem à Justiça, dos que veem injustiças e não denunciam. Indiferença! Este sim é o sentimento mais frio e cruel que podemos ter pelo nosso semelhante.
Documentário Justiça escancara fragilidade do sistema penal
O documentário Justiça, da cineasta brasiliense Maria Augusta Ramos, exibido na semana passada no Superior Tribunal de Justiça (STJ), é o retrato frio e cruel da realidade carcerária e processual do nosso sistema penal.
A iniciativa do presidente do STJ, ministro Edson Vidigal, levando para o espaço cultural do tribunal a discussão sobre as mazelas que atingem o Poder Judiciário, é conseqüência de anos de descaso do poder público com a segurança do estado e do cidadão.
Maria Augusta Ramos, que vive na Holanda, colocou sua câmera como se fosse mira telescópica e atirou, certeira, no coração do problema. Com visão aguçada pela tranqüilidade em que vive na Europa, a cineasta mergulhou na vida dos principais personagens envolvidos nos delitos, desde a sua prática até o julgamento: o réu e sua família, a polícia, o promotor, o defensor público e o juiz; suas vidas cruzadas pelos aspectos humanos e a diferença das funções que cabe a cada um e a todos na sociedade.
O filme deveria ser exibido no horário nobre para que todos pudessem sentir a realidade sem a agressiva reportagem do fim de tarde que mostra o sangue correndo nas avenidas, mas que não expõe, com calma e transparência, a dureza da vida.
Neste momento, em que se discute projeto de lei que pretende alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente, é oportuno mencionar a proposta do deputado Vicente Cascione, que deseja aumentar as penas, até 27 anos de punição. A tentativa de encarcerar crianças e adolescentes nas masmorras dos presídios é a cara do Brasil. Não aplicamos as medidas educativas e aceitamos discutir propostas indecentes que levarão os nossos jovens à morte em vida.
O filme Justiça demonstra a fragilidade do nosso sistema penal e o desinteresse em se desenvolver alternativas que possam, efetivamente, recuperar jovens infratores. As soluções que respeitam as determinações legais, de modo geral, são relegadas por terem sido criadas em outros governos, não recebendo das autoridades os recursos que gerariam possibilidades para formação de cidadãos de bem. Os discursos políticos são misturados à demagogia de que somente com educação será possível salvar nossos jovens.
A verdade é que poucos são os jovens que não se sentem amedrontados em ir à escola pelas ruas escuras e inseguras da periferia de qualquer cidade brasileira. Como receber educação se não é possível, sequer, chegar à sala de aula?
A presença de gangues nas proximidades dos cursos noturnos, ameaçando e assaltando, é a imagem não premiada dos filmetes exibidos pela televisão nas rondas das ruas. A facilidade da compra de drogas pelos jovens os remete ao tráfico miúdo e às prisões infectas e desumanas. A violência cotidiana leva o jovem a acreditar que a vida é assim mesmo.
A vida não é assim mesmo. A vida pode ser melhor se, desde o início, a família e o Estado proporcionarem às crianças o caminho do conhecimento e da cidadania. Os maus exemplos aparecem diariamente na mídia vindo dos que deveriam oferecer as condições ideais na formação de uma grande Nação e, no entanto, roubam, corrompem e pervertem gerações de brasileiros há anos.
A ação do presidente do Superior Tribunal de Justiça, abrindo espaço para o debate público e permanente – fora dos autos – sobre os caminhos dos jovens e os destinos do País, é sopro de esperança e alento para o futuro.

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