Buscar

Helena: A Bela e a Mitologia Grega

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

VENDO HELENA EM TODA MULHER
Por Dr Joel Brinco
Na monumental e absolutamente prospectiva obra de Goethe, Mefistófeles diz a Fausto: “- Com essa dose no corpo, logo vês Helena de Tróia em qualquer mulher.” Fausto, I, 2603-4.
Nesse momento, Fausto estava paralisado pela fascinação da imagem de Helena refletida em um espelho.
Em uma de suas cartas a C.G. Jung , Freud cita Mefistófeles, dizendo: “ Sinto-me como aquele que vê Helena em toda mulher !”
Primeira consideração inicial levaria em conta Helena como mãe de todos os Helenos, que nós ocidentais chamamos de gregos. Nunca existiu uma Grécia, mas se me perguntarem pela Hélade, esta sim, existe até hoje com Atenas como capital. Helena, heroína Homérica par excellence só poderia ter nascido exclusivamente em um povo com o apurado refinamento estético existente no grego antigo. Nossa tarefa seria então, depurarmos o nosso olhar, através de um exercício do Belo, para enxergarmos Helena em toda mulher.
Que seria então, Ver Helena em toda mulher? 
Helena co-habita e existe enquanto possibilidade em toda mulher. Por não se tratar de uma criação masculina, habita também enquanto imagem, em nós, homens. Em sua etimologia, Helena proviria do indo-europeu suel, “brilhar, brilho, luz”, irmã de Castor e Pólux, sendo encontrada anteriormente ao mundo clássico, na passagem do Neolítico para o Bronze Antigo (3000-2600 A.C. ), como uma divindade agrária dispensando fertilidade ao solo e fecundidade aos animais, como uma das muitas formas e variações da Grande Mãe. Em Homero, na Ilíada e na Odisséia, romances que narram a Guerra de Tróia e o custoso retorno de Odisseus a Ítaca, lá está Helena, incendiária e “responsabilizada” pela violenta sangria. Alguns autores da antiguidade clássica tratavam-na como simples mulher, adúltera e criminosa, recebendo o epíteto de “cadela” e “cahorra”, pasmem vocês. Alguma semelhança com os pancadões e os funks da vida não será mera coincidência. Lembram-se do bordão: “_Só as cachorras ! Uh! Uh! Uh! Uh! Uh !” É por aí. Mas isso é puro machismo praticado de maneira execrável com Helena, e o presente artigo pretende-se a uma defesa histórica da Bela, que centenas de anos mais tarde, na forma de conto de fada, resgata a Fera.
Como nasceu Helena ?
Da união entre Zeus na forma de Cisne, com Nêmesis, deusa da justiça distributiva – que foi assazmente perseguida por Zeus, metamorfoseando-se em tudo o que lhe viera à imaginação, inclusive em peixe, até que ficou cansadinha transformando-se em gansa, sendo então fecundada pelo implacável Olímpio. Essa passagem prefigura o tema da fuga e traz em germe também o tema do rapto que perpassa o mito em sua extensão. Ou seja, o que a mitologia nos ensina é basicamente isso : Toda mulher quer ser raptada.
Helena ganha o epíteto de “ a mais bela entre as mortais” , tem como Madrinha, Afrodite, “a mais bela entre as deusas”, que se torna sua Iniciadora,
Em toda sua trajetória. 
A história é grande e cheia de tramas e complexidades, características de Helena, que era tida como a Grande Tecelã, a Tecelã por excelência. Mesmo entre as mulheres troianas, Helena praticava sua arte de tecer. Penélope, mulher de Ulisses (ou Odisseus), tecia durante o dia e à noite desfazia o que havia tecido, nos mostra o componente Helena em si própria. Ulisses, um homem feminino, foi o único grande herói a retornar de Tróia por sua identificação e proximidade com Helena em Penélope. Homens brutalizados como Agamêmnon não sucederiam a tal proeza.
Helena em Tróia :
Era uma vez uma princesinha espartana de nome Helena, que encantou Paris que a raptou para Tróia. Menelau, irado, congrega outros gregos bons de briga, formam uma armada e partem para Tróia, no intuito de libertarem Helena. Está armado o balacobaco.
Em Tróia, durante a guerra, Helena não desfrutava da confiança dos troianos. Como poderiam confiar plenamente em uma espartana, dentro de suas próprias muralhas, com o exército grego do lado de fora ?
Uma participação de Helena é digna de nota : ela se aproxima do cavalo de madeira e imita as vozes das esposas dos guerreiros que se encontravam no bojo da máquina, com intuito de incentiva-los e encoraja-los a destruírem a cidade de Tróia o mais rápido possível.
Aqui, mais um ensinamento do mito, em sua múltiplas deflexões: guerreiro sem mulher ou sem memória dela, ou seja, o famoso retrato da amada no alforje ou na carteira no bolso da calça, literalmente, não presta. Na gíria : “- Não está vencendo não !” . Ainda bem que o retrato da minha Helena está bem aqui em meu bolso.
Outra reflexão : se Helena não existisse enquanto possibilidade em cada mulher, não conseguiria imitar de forma alguma as vozes das esposas dos guerreiros que se encontravam no cavalo de Tróia, de forma alguma. De alguma misteriosa maneira, as Helenas se comunicam no tempo e no espaço. 
Ainda nas muralhas de Tróia, Ulisses se infiltra como espião e encontra em Helena sua principal aliada. Conta-nos o mito que Menelau, marido de Helena, ao matar o último amante da mulher, ergue sua espada para atravessa-la, e que faz Helena ? Deixa simplesmente cair seu véu, revelando-se seminua, fazendo com que a espada do marido caísse de suas mãos.
Como diria a dona Jura, não é brinquedo não ! Segue-se uma reconciliação com Menelau. Joseph Campbell, em sua obra “O Poder do Mito” nos diz que durante a Idade Média, existia uma equivalência entre a armadura de um Cavaleiro e a nudez de uma mulher. Ambos estariam prontos para o combate, mas a semi-nudez de uma mulher, ou seja, a transparência que utilizasse seria muito mais efetiva que a espada de um guerreiro ou que as armas de um cavaleiro andante.
Outras peripécias de Helena :
Finda a Guerra de Tróia, o retorno do Rei e da Rainha de Esparta,não foi menos acidentado. Após dois anos de peregrinação pelo Mediterrâneo oriental, foram lançados por uma tempestade, no Egito, permanecendo lá por um período de cinco anos. Respeitáveis mitólogos, entre eles, eu, considera esse período o equivalente a um rito de saída ( Rite de Sortie / Van Gennep ), um período purgatório do que experienciaram nesses anos de guerra.
Descer ao Egito é uma tarefa psicológica inadiável que deve ser encarada tanto pelo homem como pela mulher. Psicologicamente se faz necessário unir o que está acima ( Cabeça ), com o que está abaixo da cintura ( Genitais ).
O mito sofre muitas digressões, tantas quantas o sofrimento passado por Helena que foi alvo de muita inveja básica por parte de muitas outras mulheres Ifigênia e Tétis, sendo por fim, assassinada por Hécuba.
Pare, pense e medite: Hécuba também era uma mulher, só que identificada muito mais com o princípio masculino do que com o feminino. È possível que uma mulher mate uma mulher. Isso é fonte de grande sofrimento psíquico, traduzido em linguagem psicológica em uma Neurose, com direito a somatizações. Não me surpreenderia se tais somatizações ocorressem principalmente na região pélvica. Uma mulher do Tipo Atená, precisa sim, reconciliar-se com Helena em seu íntimo, para que se torne mais completa, mais plena em si mesma. As armas de Atená são ineficazes, ineficientes ao tentar capturar o Belo Inapreensível de Helena.
Vendo Helena em Toda Mulher :
Beleza inapreensível, Forma vazia, Vaso. Isso é Helena. O “Eterno Feminino”, de acordo com o Mestre Junito Brandão. É a cor ausente em Cézanne, mas por outro lado é Toda cor. Cores que se transmutam em uma única cor, e uma única cor que se transmuta em todas. Vejo Helena em uma estátua – “A Noite” do Michelangelo -, em um sorriso , em um olhar distraído ( quando uma mulher se distrai e permite Helena surgir em seu rosto ), quando se caminha com alma, quando nosso próximo passo é seguido pelo nosso olhar atento cheio de alma. Vejo Helena no Blues e no Jazz. Na MPB ( Chico ) e no dançar de um samba, mexendo os quadris. No pouco que conheço a respeito do Ballet, vejo Helena em “Giselle”. Vejo Helena na expressão de orgasmo da mulher amada. Vejo Helena na tagarelice e no tecer da trama. Vejo Helena quando vai às compras e de repente para estateladafrente a uma vitrine encantada. Vejo Helena em Camille – La Claudel , posto que trágica , assim como vejo Helena na pequena Camile, sobrinha querida de pouco mais de ano de idade.
Helena. Helena. Helena. Será que só existe essa mulher ? ; )

Continue navegando