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AULA 3 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL Prof. Stéphanie Meyer Piazza 2 CONVERSA INICIAL Olá! Nesta aula, realizaremos uma breve introdução sobre os instrumentos de Gestão Ambiental e abordaremos especificamente o instrumento de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas, tais como aqueles aplicados a bacias hidrográficas, unidades de conservação, áreas costeiras e áreas metropolitanas. Bom estudo! PROBLEMATIZAÇÃO As bacias hidrográficas são regiões sobre o Planeta Terra nas quais o escoamento superficial em qualquer ponto converge para um único ponto fixo, chamado de exutório1. Essas regiões são, portanto, delimitadas em função do escoamento da água, um recurso natural limitado e de domínio público, que possui múltiplos usos, como abastecimento urbano, industrial, irrigação, produção de energia elétrica e também preservação da vida aquática. Muitas vezes o grande número de usos que se dá em uma bacia hidrográfica pode gerar conflitos, pois um uso pode prejudicar a qualidade ou reduzir a quantidade de água, afetando outros usos. Essa situação gera preocupações relacionadas ao gerenciamento de recursos hídricos. Existem diversos instrumentos de Gestão Ambiental destinados a regiões geográficas delimitadas. Você saberia dizer quais são os instrumentos disponíveis para a gestão de bacias hidrográficas? Não responda agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades de solução para o problema. 1 É um ponto de um curso d'água onde se dá todo o escoamento superficial gerando no interior uma bacia hidrográfica banhada por este curso. 3 TEMA 1 - INTRODUÇÃO AOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL Os instrumentos de Gestão Ambiental são mecanismos pelos quais a gestão pode ser realizada. Podem ser entendidos como: (...) a sistematização de procedimentos técnicos e administrativos para assegurar a melhoria e o aprimoramento contínuo do desempenho ambiental de um empreendimento ou de uma área a ser protegida e, em decorrência, obter o reconhecimento de conformidade das medidas e práticas adotadas. (BITAR, ORTEGA, 1998) Segundo os autores citados, os instrumentos de Gestão Ambiental podem ser divididos em dois grupos: a) Instrumentos de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas: destinados à gestão territorial, englobam regiões como bacias hidrográficas, áreas metropolitanas e costeiras, etc. b) Instrumentos de Gestão Ambiental de empreendimentos: aplicados em empreendimentos e atividades socioeconômicas, tais como rodovias, minerações, hidroelétricas, aterros sanitários, etc. Nesta aula, trataremos dos Instrumentos de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas. Instrumentos de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas A Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas apresenta grande complexidade por trabalhar com um enorme número de variáveis - sociais, econômicas, ambientais, culturais e políticas - e envolver diversos atores - as comunidades, os movimentos sociais, as empresas, as organizações não governamentais, o poder público. Atualmente no Brasil, as regiões geográficas onde a Gestão Ambiental está sendo aplicado com maior ênfase são: Bacias Hidrográficas, Unidades de Conservação Ambiental, Áreas Costeiras e Áreas Metropolitanas. Instrumentos de Gestão Ambiental de recursos hídricos e bacias hidrográficas A preocupação com a conservação dos recursos hídricos vem aumentando em função da crescente poluição e deterioração gerada pelas atividades humanas e dos riscos de escassez hídrica relacionados às mudanças climáticas. 4 No Brasil, um importante marco para a gestão dos recursos hídricos foi a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433/1997 (BRASIL, 1997). A PNRH cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, com o objetivo de: Coordenar a gestão integrada das águas. Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos. Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos. Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos; e promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos. A Figura 1 mostra os integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e as respectivas atribuições: Figura 1 – Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: integrantes e atribuições. A PNRH considera a água como um bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, cujos usos prioritários devem ser o consumo humano e a dessedentação de animais. 5 A lei estabelece as bacias hidrográficas como unidades territoriais de gestão. Mas, o que isso significa? Que a gestão deixa de estar focada nos limites administrativos (Municípios, Estados) e passa ser alinhada aos limites físicos dos recursos hídricos. Além disso, a lei insere a participação de usuários e comunidades no processo de gestão, que passa a ser descentralizado. A participação se dá especialmente por meio dos Comitês de Bacia Hidrográfica, compostos por representantes da União, dos Estados e do Distrito Federal, dos Municípios, dos usuários das águas e das entidades civis de recursos hídricos. Os principais instrumentos da PNRH encontram-se brevemente explicados a seguir: 1. Planos de Recursos Hídricos. 2. Enquadramento dos corpos de água em classes. 3. Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos. 4. Cobrança pelo uso de recursos hídricos. 1. Planos de Recursos Hídricos São planos diretores elaborados por bacia hidrográfica, por estado e por país, que visam a fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos, com uma visão em longo prazo. O Plano Nacional de Recursos Hídricos foi aprovado em 30 de janeiro de 2006, e contém um conjunto de diretrizes, metas e programas construídos em amplo processo de mobilização e participação social. Para conhecer mais sobre as Bacias Hidrográficas e os Comitês de Bacia Hidrográfica, assista ao vídeo disponibilizado pela Agência Nacional de Água: https://www.youtube.com/watch?v=uRzt9tv0EJU Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o Plano de Recursos Hídricos, assista ao vídeo a seguir, sobre a Plano da Bacia Hidrográfica do Paraná 3. https://www.youtube.com/watch?v=uRzt9tv0EJU 6 2. Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água Visa assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas e diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes. As principais regulamentações para o enquadramento são resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH): Resolução CONAMA nº 357/2005 (CONAMA, 2005), que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes; Resolução CONAMA nº 396/2008 (CONAMA, 2008), que estabelece o enquadramento das águas subterrâneas; e Resolução CNRH nº 91/2008 (CNRH, 2008), que estabelece os procedimentos gerais para o enquadramento dos corpos d’água superficiais e subterrâneos. 3. Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos Esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes usos de recursos hídricos: derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água paraconsumo final; extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos; aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; e outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. A outorga é realizada por autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos Estados ou do Distrito Federal, dependendo da localização e da natureza de cada bacia ou corpo d’água. Para saber mais sobre os Planos de Recursos Hídricos e o Enquadramento dos corpos de água, assista ao vídeo disponibilizado pela Agência Nacional de Água: https://www.youtube.com/watch?v=f2Yj9NYID9w Para saber mais sobre a Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos, assista ao vídeo disponibilizado pela Agência Nacional de Água: https://www.youtube.com/watch?v=FsgkXCf3bic https://www.youtube.com/watch?v=f2Yj9NYID9w https://www.youtube.com/watch?v=FsgkXCf3bic 7 4. Cobrança pelo uso de recursos hídricos É um importante instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos, o qual já abordamos na aula passada. Instrumentos de Gestão Ambiental de Unidades de Conservação Ambiental Na aula anterior, abordamos acerca das Unidades de Conservação (UC). Nessa aula, daremos ênfase a um dos instrumentos mais utilizados na gestão dessas unidades: o Plano de Manejo. Segundo a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (BRASIL, 2000), as UC podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da unidade. A partir de 2007, a gestão de todas as UC Federais passou para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Dentre os instrumentos de gestão previstos pelo SNUC, está o Plano de Manejo, e trata-se de um documento técnico mediante o qual, fundamentado nos objetivos gerais da UC, estabelece-se o zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o Plano de Manejo de UC assista ao vídeo a seguir, sobre a Plano de Manejo da Estação Ecológica da Ilha do Mel. Instrumentos de Gestão Ambiental de Áreas costeiras Na legislação ambiental brasileira, considera-se a Zona Costeira como um espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. A Zona Costeira é definida pelo Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), que prevê o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira e dá prioridade à conservação e proteção, entre outros, dos recursos Toda UC deve dispor de um plano de manejo que precisa ser elaborado no prazo de cinco anos. Esse plano, segundo o SNUC, deve abranger além da área da UC, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos. Nele, devem estar medidas para promover a integração das UC à vida econômica e social das comunidades vizinhas. 8 naturais, tais como recifes, praias, costões, dunas e manguezais, dos sítios ecológicos de relevância cultural e demais unidades naturais de preservação permanente e dos monumentos que integrem o patrimônio natural, histórico, paleontológico, espeleológico, arqueológico, étnico, cultural e paisagístico. A primeira versão do PNGC foi publicada em 1990, e tem como finalidade primordial o estabelecimento de normas gerais visando a gestão ambiental da Zona Costeira do país, lançando as bases para a formulação de políticas, planos e programas estaduais e municipais. Para tanto, busca: Promover o ordenamento do uso dos recursos naturais e da ocupação dos espaços costeiros. Estabelecer o processo de gestão, de forma integrada, descentralizada e participativa, das atividades socioeconômicas na Zona Costeira. Desenvolver sistematicamente o diagnóstico da qualidade ambiental da Zona Costeira. Incorporar a dimensão ambiental nas políticas setoriais voltadas à gestão integrada dos ambientes costeiros e marinhos. Controlar efetivamente sobre os agentes causadores de poluição ou degradação ambiental que ameacem a qualidade de vida na Zona Costeira. Produzir e difundir o conhecimento necessário ao desenvolvimento e aprimoramento das ações de Gerenciamento Costeiro. A implementação do PNGC é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA), apoiada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) como órgão executor e articulado com órgãos e colegiados existentes em nível federal, estadual e municipal. Além do PNGC, Estados e Municípios também apresentam seus planos de gerenciamento costeiro estaduais e municipais, respectivamente. O principal instrumento de Gerenciamento Ambiental Costeiro é o Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro (ZEEC), que se constitui no instrumento balizador do processo de ordenamento territorial necessário para a Para saber mais sobre o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC II), acesse: http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80033/0.PNGC- II97%20Resolucao05_97.CIRM.pdf http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80033/0.PNGC-II97%20Resolucao05_97.CIRM.pdf http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80033/0.PNGC-II97%20Resolucao05_97.CIRM.pdf 9 obtenção das condições de sustentabilidade ambiental do desenvolvimento da Zona Costeira, em consonância com as diretrizes do Zoneamento Ecológico- Econômico do território nacional. Divide as áreas costeiras em grandes compartimentos, conforme suas potencialidades naturais e perspectivas de uso, tanto das porções continentais como das marítimas. Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o ZEEC, assista ao vídeo a seguir, sobre o ZEEC do estado do Paraná. Instrumentos de Gestão Ambiental de áreas metropolitanas Com a acelerada expansão das cidades e regiões metropolitanas, os problemas ambientais começaram a se tornar críticos nos ambientes urbanos. Esses problemas vão desde a poluição do ar, a contaminação, a baixa disponibilidade de água, a falta de locais para disposição de resíduos e as enchentes geradas pela excessiva impermeabilização do solo. Problemas sociais também se tornaram críticos, com o agravamento do histórico quadro de exclusão social e a evidenciação da marginalização e da violência urbanas. O Brasil é um dos países que mais rapidamente se urbanizou. A partir de 1950, se transformou de um país rural em um país eminentemente urbano, e hoje 84% da população mora em cidades. Este processo de transformação caracterizou-se por uma urbanização predatória, desigual e, sobretudo, injusta. Aos poucos, a legislação brasileira foi se adequando para que pudesse lidar com o delicado tema da gestão urbana. A Constituição Federal (BRASIL, 1988), capítulo 2, que dispõe sobre a Política urbana, estabelece que a política de desenvolvimento urbano tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Para isso, a constituição estabelece o Plano Diretor, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, como o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. Define ainda que o atendimento às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor é fundamental para que a propriedade urbana cumpra sua função social. O Plano Diretor pode ser definido como um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano. É construído a partir do diagnóstico da realidade física, social, econômica, política e administrativa da cidade, apresentando um conjunto de 10 propostas de desenvolvimento socioeconômico e de organização espacial dos usos dosolo e da infraestrutura urbana, definidas para curto, médio e longo prazos, e aprovadas por lei municipal. Plano: é plano, porque estabelece os objetivos a serem atingidos, o prazo em que estes devem ser alcançados, as atividades a serem executadas e quem deve executá-las. Diretor: é diretor, porque fixa as diretrizes do desenvolvimento urbano do município. A elaboração do plano diretor e a fiscalização de sua implementação, devem ser perpassadas pela promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; e pela publicidade dos documentos e informações produzidos, que devem ser de livre acesso a qualquer interessado. Para regulamentar o capítulo "Política Urbana" da Constituição Federal, publicou-se a Lei nº 10.257/2001 (BRASIL, 2001), conhecida como Estatuto da Cidade, o mais importante diploma legal que trata da gestão urbana no país. Seu objetivo é garantir o direito à cidade como um dos direitos fundamentais da pessoa humana, para que todos tenham acesso às oportunidades que a vida urbana oferece. Poucas leis na história nacional foram construídas com tanto esforço coletivo e legitimidade social, porém, o que está disposto no Estatuto, só se efetivará a medida em que as forças sociais que o construíram o tornem realidade e façam valer as importantes conquistas nele contidas. São princípios fundamentais do Estatuto da Cidade: Função social da cidade e da propriedade urbana. Gestão democrática. Justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização. Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o Plano Diretor, assista ao vídeo a seguir, sobre o Plano Diretor da cidade de Curitiba. Assista ao vídeo desenvolvido pelo Instituto Polis e da PUC Campinas, e saiba mais sobre o Estatuto da Cidade: https://www.youtube.com/watch?v=d2PSZZYghrY https://www.youtube.com/watch?v=d2PSZZYghrY 11 Direito a cidades sustentáveis, à moradia, à infraestrutura urbana e aos serviços públicos. Função social da cidade e da propriedade urbana. Esse princípio fortalece o direito coletivo à medida que introduz a justiça social no uso das propriedades. O Estado, na sua esfera municipal, deve indicar a função social da propriedade e da cidade, buscando o necessário equilíbrio entre os interesses públicos e privados no território urbano. Gestão democrática Prevê a participação da população urbana em todas as decisões de interesse público, inclusive em todas as etapas de construção do Plano Diretor. Prevê também a promoção de audiências públicas, nas quais o governo local e a população interessada nos processos de implantação de empreendimentos públicos ou privados, ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, podem discutir e encontrar, conjuntamente, a melhor solução para a questão em debate, tendo em vista o conforto e a segurança de todos os cidadãos. Justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização Reafirma a obrigatoriedade do poder público de agir em prol do interesse coletivo. Busca-se a garantia de que todos os cidadãos tenham acesso aos serviços, aos equipamentos urbanos e a toda e qualquer melhoria realizada pelo poder público, superando a situação atual, na qual os setores urbanos, ocupados pela população pobre, permanecem “abandonados” pelo poder público. Direito a cidades sustentáveis, à moradia, à infraestrutura urbana e aos serviços públicos Adequação dos instrumentos de política econômica, tributária, financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens de diferentes segmentos sociais. Considera-se o direito de todos os habitantes de nossas cidades à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, não só para as gerações atuais, como também para as futuras. 12 Alguns dos principais instrumentos utilizados para garantir que os princípios anteriormente listados sejam atendidos são os seguintes: Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios. Imposto predial e territorial urbano progressivo no tempo. Desapropriação com pagamento em títulos da dívida. Usucapião especial de imóvel urbano. Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios O Estatuto da Cidade determina a criação de lei municipal específica para reger o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado. É considerado subutilizado o imóvel cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no Plano Diretor ou em legislação dele decorrente. Imposto predial e territorial urbano progressivo no tempo A ideia central é punir com um tributo de valor crescente, ano a ano, os proprietários de terrenos cuja ociosidade ou mal aproveitamento acarrete prejuízo à população. O objetivo é estimular a utilização socialmente justa e adequada desses imóveis ou sua venda. Desapropriação com pagamento em títulos da dívida Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo no tempo, sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o poder público municipal poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. As áreas que chegarem a ser objeto de desapropriação poderão servir para promoção de transformações na cidade, dentre elas, por exemplo, a implantação de unidades habitacionais ou a criação de espaços públicos para atividades de geração de renda, culturais, de lazer e de preservação do meio ambiente. Usucapião especial de imóvel urbano Estabelece a aquisição de domínio para aquele que possuir área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, com a ressalva de que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 13 Quando não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, poderá ocorrer a usucapião coletiva, desde que os possuidores também não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. Efetivamente, a usucapião coletiva está voltada a reverter a histórica negação da propriedade para grandes contingentes populacionais residente em favelas, invasões, vilas e alagados, loteamentos clandestinos e cortiços, possibilitando a melhoria das condições habitacionais dessas populações. REVENDO A PROBLEMATIZAÇÃO Após o período de estudos, responda ao desafio apresentado no início da aula: você saberia dizer quais os instrumentos disponíveis para a gestão de bacias hidrográficas? a) Os instrumentos que podem ser utilizados para auxiliar na gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas são: os Planos de Recursos Hídricos, o Enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos e a Cobrança pelo uso de recursos hídricos. b) Os instrumentos que podem ser utilizados para auxiliar na gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas são: o Plano de Manejo, Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro e o Plano Diretor. SÍNTESE Nesta aula, estudamos que os instrumentos de Gestão Ambiental podem ser divididos em dois grupos: instrumentos de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas e instrumentos de Gestão Ambiental de empreendimentos. Dentre os instrumentos de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas, destacamos aqueles destinados a Bacias Hidrográficas, Unidades de Conservação Ambiental, Áreas Costeiras e Áreas Metropolitanas, muito utilizados no Brasil. Quando bem utilizados,estes instrumentos facilitam a gestão destas regiões e das atividades humanas ali desenvolvidas, na perspectiva da sustentabilidade. Até a próxima! 14 REFERÊNCIAS BITAR, O. Y.; ORTEGA, R. D. Gestão Ambiental. In: OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, S. N. A. (Eds.). Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. p. 499–508. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. BRASIL. Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. CNRH. Resolução nº 91, de 05 de novembro de 2008. CONAMA. Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005. CONAMA. Resolução CONAMA nº 396, de 3 de abril de 2008. ATIVIDADES 1. Os instrumentos de Gestão Ambiental são mecanismos pelos quais a gestão pode ser realizada, sempre visando assegurar a melhoria do desempenho ambiental de um empreendimento ou de uma área a ser protegida. Sobre os grupos de instrumentos de Gestão Ambiental, assinale a alternativa correta. a. Instrumentos de Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas são aplicados em empreendimentos e atividades socioeconômicas, tais como rodovias, minerações, hidroelétricas e aterros sanitários. b. Instrumentos de Gestão Ambiental de empreendimentos se destinam à gestão territorial, englobando regiões como bacias hidrográficas, áreas metropolitanas e costeiras, entre outras. c. A Gestão Ambiental de regiões geográficas delimitadas é bastante simples, pois envolve um pequeno e previsível número de variáveis e atores, que é comum às diversas regiões nas quais a gestão é desenvolvida. d. Atualmente, no Brasil, as regiões geográficas onde a Gestão Ambiental está sendo aplicado com maior ênfase são as Bacias Hidrográficas, as Unidades de Conservação Ambiental, as Áreas Costeiras e as Áreas Metropolitanas. 15 2. A preocupação com a conservação dos recursos hídricos vem aumentando em função da crescente poluição e deterioração gerada pelas atividades humanas e dos riscos de escassez hídrica relacionados às mudanças climáticas. Para lidar com a gestão de recursos hídricos e bacias hidrográficas, existem instrumentos específicos. Sobre eles, é correto afirmar: a) No Brasil, um importante marco para a gestão dos recursos hídricos foi a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída em 1997, que considera a água como um bem de domínio público e sem valor econômico e estabelece os limites administrativos municipais e estaduais como unidades territoriais de gestão de recursos hídricos. b) Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores elaborados por bacia hidrográfica, por estado e por país, que visam a fundamentar e orientar o gerenciamento dos recursos hídricos pensando sempre em medidas imediatas que resolvam as situações-problema em curto prazo. c) O enquadramento dos corpos de água em classes visa assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas, e diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes. d) A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos visa assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água para consumo humano, não estando sujeito à outorga o lançamento de efluentes em corpo de água. 3. Um dos instrumentos mais utilizados na gestão de Unidades de Conservação Ambiental é o Plano de Manejo. Sobre ele, assinale a alternativa correta. a) É um instrumento importante, mas não previsto pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação, b) Trata-se de um documento técnico mediante o qual, fundamentado nos objetivos gerais da unidade de conservação, estabelece-se o zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais. c) Não são exigidos para todas as unidades de conservação, estando a sua exigência vinculada à área da unidade. 16 d) Inclui medidas para proteger e afastar as unidades de conservação da vida econômica e social das comunidades vizinhas. 4. A Zona Costeira Brasileira é um espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. Sobre ela, é correto afirmar: a) O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro dá prioridade à conservação e proteção, dentre outros, de recifes, praias, costões, dunas e manguezais. b) O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro estabelece normas gerais para a gestão ambiental da Zona Costeira do País, que deve ocorrer de forma integrada, descentralizada e participativa. c) O Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro é o instrumento balizador do processo de ordenamento territorial necessário para a obtenção das condições de sustentabilidade ambiental do desenvolvimento da Zona Costeira. d) Todas alternativas estão corretas. 5. As cidades brasileiras são acometidas por diversos problemas ambientais, tais como a poluição do ar, a contaminação e a baixa disponibilidade de água, e problemas sociais, agravados pelo histórico quadro de exclusão social característico do país. Sobre os instrumentos de Gestão Ambiental de áreas metropolitanas, assinale a alternativa correta. a) O Plano Diretor, estabelecido da Constituição Federal de 1988, é um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, que preza pela função social da propriedade urbana. b) O Plano Diretor, elaborado sem a necessidade de participação popular, é construído unicamente a partir do diagnóstico físico da cidade, apresentando um conjunto de propostas de organização espacial dos usos do solo e dos recursos na cidade. c) O Estatuto da Cidade é um instrumento cuja efetivação independe das forças sociais que o construíram. 17 d) Um dos princípios constante no Estatuto da Cidade é a função social da cidade e da propriedade urbana, a qual fortalece o direito privado à medida que ignora a justiça social no uso da cidade e das propriedades.
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