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SUMÁRIO GLOSSÁRIO 4 CAPÍTULO 1: O SEGURO DE VIDA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO PATRIMONIAL E PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 8 1. Introdução aos Seguros 8 1.1. Avaliação de riscos e planejamento de aquisição de seguros 8 1.2. Aspectos legais do seguro 10 1.3. Características dos principais seguros de pessoas disponíveis no mercado 12 1.3.1. Cálculo do prêmio 13 1.3.2. Contratação de um seguro 13 1.3.3. Principais tipos de seguro de vida 14 1.3.4. Estrutura das coberturas dos seguros de pessoas 15 1.3.5. Regimes financeiros 16 1.4. Aspectos tributários dos seguros 17 1.5. A SUSEP no contexto da assessoria financeira 18 1.6. Técnicas de venda e principais objeções 18 CAPÍTULO 2 – PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA 19 2. Planejamento de Aposentadoria 19 2.1. Definição 19 2.2. Pilares do modelo de previdência brasileira 20 2.3. Identificando o momento de vida 21 2.4. Método estratégico de detecção do momento de vida 22 CAPÍTULO 3 – WEALTH MANAGEMENT 25 3. Wealth Management – Conceitos Tributários 25 3.1. Princípios Importantes do Direito Tributário 25 3.1.1. Regimes tributários 26 3.1.2. Planejamento Tributário 26 3.1.3. Impostos sobre a Pessoa Física 26 3.1.4. Impostos sobre a Pessoa Jurídica 28 3.1.5. Imposto sobre Operações Financeiras 30 3.1.6. Declarações de IRPF e DCBE 30 3.2. Wealth Management - Planejamento Sucessório 30 3.2.1. Fundo restrito ou exclusivo fechado 31 3.2.2. Fundo de Previdência 32 3.2.3. Seguro de vida 33 3.2.4. Holding Patrimonial 34 3.2.5. Conta de Investimentos no Exterior 34 3.2.6. Empresa de Investimentos (PIC) 35 3.2.7. Fundo Exclusivo no Exterior 35 3.2.8. Trusts 36 3.2.9. Joint Tenancy With Right of Survivorship 37 3.2.10. Testamento no Exterior 37 3.3. Wealth Management – Política de Investimento e Veículos de Alocação 37 3.3.1. Política de Investimentos 38 3.3.2. Veículos de gestão 39 WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 4 GLOSSÁRIO Beneficiário (seguros) - pessoa física ou jurídica livremente indicada pelo segurado, respeitadas as determinações legais e regulamentares, para receber os valores dos capitais segurados – indenizações –, na hipótese de ocorrência do sinistro. Beneficiário (trust) - são os beneficiários finais dos recursos que estão sob o trust; e em favor de quem os ativos do trust são mantidos. Benefício Definido - tipo de cobertura no qual o valor do capital segurado e o valor do prêmio são estabelecidos previamente na proposta. O prêmio será calculado tendo como valor de referência o benefício que será pago caso ocorra o sinistro. A indenização, nesse caso, pode ser paga de uma única vez, ou sob a forma de renda. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) - órgão máximo do mercado segurador no Brasil, responsável por dar as diretrizes e normas da política de seguros privados. Contribuição variável - tipo de cobertura no qual o valor e o prazo de pagamentos dos prêmios podem ser definidos previamente na proposta. O valor do capital segurado, pagável de uma única vez ou sob a forma de renda, será calculado ao final do período de diferimento com base no saldo acumulado na provisão matemática de benefícios a conceder e no fator de cálculo Contribuições - tributos instituídos pelo Governo Federal com uma destinação específica. Por exemplo a extinta CPMF, cujos valores arrecadados eram destinados ao custeio das necessidades da saúde pública. Corretor- pessoa física ou jurídica que faz a intermediação da contratação do plano. Entidades abertas de previdência complementar - são instituições constituídas unicamente sob o formato de sociedades anônimas, tendo como objetivo criar planos que possam assumir coberturas por invalidez, sobrevivência ou morte. Elas não podem ter seguros em suas carteiras de produtos. Estipulante - pessoa física ou jurídica que propõe a contratação de plano coletivo, ficando investido de poderes de representação do segurado nos termos da legislação e regulamentação em vigor Fundo exclusivo - o fundo restrito ou exclusivo é aquele destinado a apenas um investidor, ou poucos investidores (no caso do fundo restrito), que podem ser os herdeiros de um patrimônio Holding Patrimonial - estrutura de Pessoa Jurídica cujo objetivo é deter bens. Ela não será uma empresa operacional, e sim, proprietária de bens que podem ser, inclusive, outras empresas. A holding pode ser constituída sob a forma de sociedade limitada, sociedade por ações ou Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). Impostos - encargos incidentes sobre renda, patrimônio e bens de consumo. Letter of Wishes - documento contendo os desejos do settlor em relação à gestão do patrimônio e às regras de distribuição aos beneficiários, entre outros. Período de cobertura- período durante o qual o segurado terá direito a receber a indenização. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 5 Esse período geralmente é especificado na apólice, podendo ter renovação anual, por exemplo, ou durar apenas alguns dias, como no caso do seguro de viagem. Planejamento Tributário - conjunto de estratégias para otimizar a carga tributária e tornar mais eficiente o processo de pagamento de tributos utilizando estruturas e caminhos permitidos pela legislação aplicável. Plano Gerador de Benefício Livre - o PGBL é um produto de previdência complementar aberta que permite ao participante aportar recursos que serão investidos em ativos visando o longo prazo, para composição de uma reserva de aposentadoria. Prêmio - valor pago pelo segurado à seguradora em troca da cobertura de risco. Princípio da Anterioridade - princípio do Direito Tributário que afirma que o tributo pode ser aplicado apenas no exercício fiscal posterior ao que a nova lei foi aprovada, respeitando-se também a noventena, ou seja, um período de, no mínimo, 90 dias após a data da aprovação da lei. Princípio da Disponibilidade (ou Capacidade Contributiva) - princípio do Direito Tributário que diz que o contribuinte deve ter capacidade financeira para pagamento do tributo. Princípio da Igualdade (ou Isonomia) - princípio do Direito Tributário que afirma que os tributos são aplicáveis a todos, tratando com igualdade os iguais, e desigualmente os desiguais. Cidadãos com menor renda, por exemplo, não podem ser tributados como os mais ricos. Princípio da Irretroatividade – princípio do Direito Tributário que diz que um tributo pode ser aplicado apenas aos fatos geradores ocorridos após a instituição da lei que o criou. Princípio da Legalidade - princípio do Direito Tributário que afirma que, para que um tributo possa ser cobrado pelo Estado, deve existir uma lei que o regule. Protector - apontado pelo settlor para garantir que as condições do trust sejam cumpridas pelo trustee. Detentor de alguns poderes enquanto guardião do trust. Regime de Caixa - no regime de caixa, a tributação ocorre apenas no momento que houver a disponibilização da renda, ou ganho de capital, e o fato gerador é o real ganho auferido pelo contribuinte. Regime de Competência - no regime de competência, a tributação ocorre na periodicidade que a PJ deve pagar seu imposto, independente da disponibilização do ganho. O fato gerador é a valorização do ativo no período de apuração e não necessariamente o ganho efetivo. Regime Geral de Previdência Social - regime previdenciário destinado aos trabalhadores das empresas em geral Regime Próprio de Previdência Social - regime previdenciário voltado aos servidores públicos. Repartição Simples - regime previdenciário no qual aqueles que pagam os prêmios mensais ajudam a financiar o pagamento de indenizações quando ocorrem os sinistros. Esse regime é usado, por exemplo, pela Previdência Social – quem contribui com o INSS ajuda a pagar os benefícios dos que já se aposentaram. Nas seguradoras, o regime de repartição simples é usado para todas as coberturas de risco que têm pagamento à vista. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 6 Segurado - pessoa física que contrata ou, no caso de contratação sob a forma coletiva,adere ao plano. Seguro Anual Renovável - tipo de seguro de vida cuja vigência da apólice é anual e, portanto, é necessária a renovação. Seguro de Vida Inteira - é um seguro de vida temporário estendido até o dia do falecimento do segurado. A seguradora calcula o prêmio considerando a probabilidade de o segurado falecer, tendo como base uma média de idade Seguro de Vida Temporário - tipo de seguro de vida com as mesmas características do anual renovável, com a diferença de que sua vigência não é anual. A duração da cobertura pode ser de períodos maiores, como 20 anos. Seguro prestamista - seguro que pode ser adquirido quando alguém assume uma dívida e serve para quitá-la em caso de falecimento ou invalidez do segurado. Settlor - é o instituidor do trust. É ele que transfere o patrimônio ao Ttust, sendo o titular econômico dos ativos, podendo ou não manter poderes relativos à estrutura, como por exemplo, sobre a gestão dos investimentos Sinistro - é a concretização de um risco probabilístico, na qual o bem segurado sofre algum tipo de prejuízo. Sistema de Aposentadoria Aberta - operado por seguradoras e Entidades Abertas de Previdência Complementar. Nele, há planos de aposentadoria empresariais, instituídos e patrocinados por empresas, e também planos individuais. Sistema de Aposentadoria Fechada - tem como principal característica o fato de que os planos de previdência são criados pelas empresas, e os funcionários e as empresas (no papel de patrocinadoras) podem contribuir mensalmente para compor uma reserva. Sistema Oficial de Previdência - regime sob o qual estão a Seguridade Social e os regimes de previdência. A Seguridade Social tem como finalidade garantir assistência básica aos cidadãos e está ligada à função social do Estado. Sociedades Seguradoras - pessoa jurídica obrigatoriamente constituída sob a forma de sociedade anônima – S/A –, que assume a responsabilidade pela cobertura dos riscos especificados na apólice, mediante o recebimento do prêmio correspondente. Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) - autarquia vinculada ao Ministério da Economia, é responsável por regular, supervisionar, fiscalizar, controlar e incentivar as atividades de seguros, resseguro, capitalização e Previdência Complementar Aberta (seguradoras, resseguradoras, corretoras de seguros e de resseguros). Taxa de carregamento - taxa cuja finalidade é remunerar os vendedores do seguro e cobrir as despesas de venda do produto (com pessoal, marketing, transporte, infraestrutura etc). Taxas - tributos que incidem sobre a prestação de um serviço público. Trust - os trusts são estruturas de administração patrimonial típicas de países cujo sistema jurídico é o anglo-saxão (Estados Unidos, Reino Unido, dentre outros). Trata-se de um contrato WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 7 onde define-se uma relação fiduciária entre o instituidor (settlor), que é o proprietário original do patrimônio, e o agente fiduciário (trustee). Trustee - titular legal dos ativos, tem a propriedade fiduciária do patrimônio que está sob o trust. Ele é o responsável pela administração do trust, sempre com o objetivo de atender os interesses dos beneficiários. Trust deed - trata-se do contrato em si. Principal documento para constituição do trust, onde estão os direitos e deveres das partes, bem como as regras de administração e distribuição. Vida Gerador de Benefício Livre - o VGBL é um seguro com garantia por sobrevivência. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 8 Caros alunos, bem-vindos à disciplina de Wealth Management (Gestão Patrimonial). Nela, veremos os conceitos essenciais para a prática de assessoria financeira no contexto de pequenas e grandes fortunas familiares, com ênfase tanto na gestão dos recursos quanto na sucessão. No primeiro capítulo, conheceremos um importante instrumento de gestão patrimonial e planejamento sucessório: o seguro de vida. Após um breve panorama sobre o segmento de seguros, conheceremos as principais características das coberturas de vida. Na segunda unidade, veremos um panorama sobre o planejamento de aposentadoria, incluindo estudos sobre a previdência básica (social) e a previdência complementar (aberta e fechada). No capítulo final, trataremos especificamente de wealth management, analisando com profundidade os principais aspectos tributários dessa prática, as ferramentas de planejamento sucessório tanto no Brasil quanto no exterior, as estratégias para elaboração de uma política de investimento e os principais veículos de gestão de fortunas. CAPÍTULO 1: O SEGURO DE VIDA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO PATRIMONIAL E PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 1. INTRODUÇÃO AOS SEGUROS Caros alunos, bem-vindos ao capítulo sobre Seguro de Vida. Nosso foco será, majoritariamente, o estudo do seguro de pessoas, classe de seguros dentro da qual está inserido o seguro de vida. Veremos temas como as definições legais do seguro de vida, os riscos envolvidos na operação, aspectos tributários e as características dos produtos e das principais coberturas. O viés da abordagem será o da assessoria financeira e planejamento financeiro. Embora o seguro de vida não seja um valor mobiliário, como um produto de investimento, ele é fundamental dentro do planejamento financeiro. Ele visa mitigar riscos que podem se materializar ao longo da vida financeira das pessoas. Esses riscos, naturalmente, mudam ao longo da vida e há seguros que se adequam a cada fase. Considere, por exemplo, uma pessoa casada que tem como principais preocupações o bem-estar dos filhos e do cônjuge. Além de acumular patrimônio que garanta a vida financeira da família caso ele venha a faltar, é possível complementar essa proteção com um seguro de vida. 1.1. Avaliação de riscos e planejamento de aquisição de seguros Um seguro é contrato feito entre duas partes. Uma das partes, a seguradora, se obriga perante o segurado (ou eventuais beneficiários indicados por ele) a pagar uma indenização que compense um prejuízo econômico resultante de riscos. A outra parte, o segurado, paga um prêmio à seguradora em troca da opção de receber a indenização caso ocorra o sinistro. O risco a ser indenizado pelo seguro tem algumas características específicas. Primeiro, ele WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 9 precisa ter um valor financeiro, ou seja, precisa necessariamente ser indenizado por meio de valor à vista, não podendo ser pago na forma de bens de valor equivalente, por exemplo. O risco a ser indenizado deve também ser: • Incerto: esse risco deve ser aleatório, dependente de probabilidades significativamente menores que cem por cento para ocorrer. • Possível: o evento deve ter probabilidade significativamente maior do que zero de ocorrer. • Independente: a vontade das partes não deve influenciar a ocorrência do evento, o qual deve ocorrer espontaneamente. • Futuro: o evento não pode ter ocorrido previamente à assinatura do contrato de cobertura de risco. • Lícito: o evento não pode ser decorrente de ato ilícito de quaisquer partes. Um exemplo prático de como um contrato de seguros pode mitigar riscos é o seguro prestamista, que pode ser adquirido quando alguém assume uma dívida e serve para quitá-la em caso de falecimento ou invalidez do segurado. Considere a seguinte situação hipotética: Um banco concede um empréstimo para um cliente de 70 anos, no valor de R$ 100.000,00, a ser pago em 120 parcelas de R$ 1.102,25. Esse pagamento embute uma taxa de juros de 6% ao ano. Essa operação gera para o indivíduo e seus familiares um risco em termos de planejamento sucessório. Caso esse cliente venha a falecer, os bens dele que forem para inventário serão usados para quitar a dívida. Essa situação pode resultar em inadimplência caso o inventário ou os herdeiros não disponham de recursos suficientes ou da liquidez necessária para pagar a dívida. Fica claro que há um risco de crédito nessa operação, associado ao falecimento do cliente. Esse risco pode ser mitigado pela contrataçãode um seguro prestamista em favor do banco. Suponhamos que a probabilidade de falecimento desse cliente nos próximos 10 anos seja de 30%. Sem considerar o efeito da carteira de crédito do banco, seria esperado que o custo do empréstimo tivesse de ser maior para cobrir o risco de inadimplência pela morte do tomador do empréstimo. Logo, a existência do seguro prestamista reduz o risco para o tomador do empréstimo, para seus herdeiros e também para a instituição financeira. Com isso, a taxa do financiamento pode ser mais barata. É fácil imaginar que, a cada decisão que tomamos e a cada ato que praticamos, assumimos riscos. Os seguros podem ser usados para mitigar os efeitos indesejados gerados por nossos atos e decisões. Uma boa assessoria financeira deve considerar cada momento da vida do cliente e sugerir a proteção correspondente a esse momento. A Figura 1 fornece uma direção para identificarmos a necessidade de proteção mais adequada para cada momento da vida do cliente, em função da riqueza acumulada por ele. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 10 Figura 1: Tipos de seguros mais indicados em cada fase da relação entre idade e patrimônio acumulado 1.2. Aspectos legais do seguro Mais do que simplesmente ter conhecimento sobre as leis e normas que regem o mercado de seguros de pessoas, é importante entender o funcionamento do Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP). Todo sistema está subordinado ao Ministério da Economia, instituição que coordena a formulação e execução da política econômica do país, tendo como área de sua competência, entre outras, a moeda, as instituições financeiras, o crédito, a poupança popular, os seguros privados e a Previdência Complementar Aberta. A Figura 2 mostra o organograma da área de Previdência Complementar Aberta e dos Seguros Privados do Sistema Financeiro Nacional. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 11 Figura 2: Organograma do Sistema Financeiro Nacional Abaixo do Ministério da Economia, temos o órgão normativo do mercado de seguros e previdência complementar aberta, o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). Ele é o órgão máximo do mercado segurador no Brasil, responsável por dar as diretrizes e normas da política de seguros privados. O CNSP é composto por membros indicados por diferentes instituições públicas. O órgão tem poderes regulatórios para constituir políticas gerais de seguros e resseguros, como também a regulação, organização, criação, inspeção e funcionamento das entidades que operam neste mercado. Um nível abaixo no organograma está a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), órgão fiscalizador do sistema. A SUSEP, autarquia vinculada ao Ministério da Economia, é responsável por regular, supervisionar, fiscalizar, controlar e incentivar as atividades de seguros, resseguro, capitalização e Previdência Complementar Aberta (seguradoras, resseguradoras, corretoras de seguros e de resseguros). Esse órgão é o responsável por apurar as denúncias dos segurados contra as seguradoras, entre outras instituições participantes desse mercado. No último nível, temos os operadores do sistema, as Sociedades Seguradoras, as Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC), as Empresas de Resseguro e os Corretores de Seguros. As sociedades seguradoras são as instituições que recebem o prêmio negociado, assumindo o risco e garantindo as devidas indenizações em caso de ocorrência de sinistro vigente ao contrato acordado. Elas podem ter, em sua carteira de produtos, planos de previdência complementar aberta. Já as entidades abertas de previdência complementar são instituições constituídas unicamente sob o formato de sociedades anônimas, tendo como objetivo criar planos que possam assumir coberturas por invalidez, sobrevivência ou morte. Elas não podem ter seguros em suas carteiras de produtos. Há ainda as empresas constituídas legalmente a fim de operar o resseguro. Esse é um produto que pode ser definido como “o seguro das seguradoras”, já que tem como objetivo a transferência WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 12 de riscos de uma companhia seguradora para um ressegurador. Considere, por exemplo, uma seguradora que iniciou suas atividades no mercado recentemente. Enquanto ela não atingir uma massa crítica de segurados, caso ocorram muitos sinistros simultâneos, a instituição poderá ter problemas para pagar todas as indenizações, podendo até mesmo vir a quebrar. O resseguro dilui o risco dessa seguradora, já que repassa parte dele a outra instituição. Finalmente, temos os corretores de seguros, que são pessoas físicas ou jurídicas legalmente autorizadas a intermediar e promover contratos de seguros entre instituições seguradoras e pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Os seguros têm um vasto arcabouço legal, por ser uma das mais antigas atividades realizadas. Desde a constituição de 1988, passando pelo novo Código Civil Brasileiro, há diversas leis ordinárias, resoluções do CNSP e Circulares da SUSEP. Vemos abaixo um resumo das principais leis e normas dos seguros: • Constituição Federal de 1988: Título VIII – Da ordem social – permite a atividade do mercado de seguros no Brasil. • Novo Código Civil Brasileiro – Art. 757 ao Art. 802 – regulamenta os contratos de seguros. • Decreto-Lei nº 60.459 de 1967 – estabelece as regras do Sistema Nacional de Seguros Privados. • Resolução 117 do CNSP – fixa critérios para coberturas de risco dos seguros de pessoas. • Circulares SUSEP 302, 316, 317 – regulamentam o funcionamento das coberturas de riscos de pessoas. 1.3. Características dos principais seguros de pessoas disponíveis no mercado Para entendermos a dinâmica de um seguro, é necessário conhecermos as fases desse produto, ou seja, como ele se comporta a partir do momento em que é adquirido por um consumidor. O primeiro passo na contratação de um seguro é a apresentação de uma proposta, ou adesão. No caso da proposta, o segurado em potencial decide contratar uma apólice sob determinadas condições e por determinado preço. É elaborada, então, uma proposta, na qual o segurado informará à seguradora dados relevantes para a análise do perfil de risco. Já na adesão, faz-se a contratação de um seguro do tipo coletivo. Nessa modalidade, o participante simplesmente adere a um seguro previamente criado por uma empresa, ou entidade de classe. Na adesão, o segurado aceita se submeter a uma condição preestabelecida. Após elaborada, a proposta é enviada à seguradora para uma análise de subscrição. Nessa etapa, a seguradora analisa a proposta e avalia se vale a pena assumir os riscos daquele potencial cliente. A instituição verifica também se as condições da proposta estão de acordo com as que ela disponibiliza. A seguradora verifica ainda se é a fornecedora de outras apólices para aquele cliente, com o objetivo de apurar o capital máximo segurado. Se todas as informações estão dentro dos parâmetros da seguradora, a proposta é aceita e o WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 13 cliente inicia o pagamento do prêmio. A partir da meia-noite do dia seguinte ao que o cliente realizou o pagamento da primeira parcela do prêmio (ou do valor total, se for o caso), a proposta se torna uma apólice e o cliente passa a gozar de toda a cobertura oferecida. Se o sinistro ocorrer um minuto depois, o segurado estará plenamente coberto e receberá o prêmio. O segurado terá direito a receber a indenização caso o sinistro ocorra durante o período de cobertura. Esse período geralmente é especificado na apólice, podendo ter renovação anual, por exemplo, ou durar apenas alguns dias, como no caso do seguro de viagem. Se ocorrer o sinistro, passamos à etapa seguinte, na qual o cliente envia à seguradora um aviso de sinistro. Assim que a instituição recebe o aviso, inicia-se a fase de liquidação do sinistro. A seguradora coletará evidências e documentos que achar necessários para investigar as circunstâncias de ocorrência do sinistro e sua legitimidade. Demodo geral, quando pensamos em um seguro de vida, essa fase tem duração média de 30 dias, podendo ser interrompida pela seguradora para requisição de novos documentos, ou reenvio de documentos em mau estado. Finalizada a análise, se não houver ressalvas por parte da seguradora, o cliente recebe a indenização. 1.3.1. Cálculo do prêmio O prêmio pago à seguradora é composto de três parcelas. A primeira delas é o prêmio puro. Ele é calculado com base na probabilidade do sinistro. Exemplo: para uma cobertura de morte por qualquer causa, leva-se em conta a probabilidade de falecimento do proponente para uma certa idade num certo período de tempo. O prêmio puro visa, basicamente, cuidar do equilíbrio atuarial da seguradora. Ele é cobrado para garantir que todas as receitas da seguradora serão suficientes para o pagamento de indenizações por sinistro no futuro. Essa parcela do prêmio não tem como finalidade a geração de lucro para a instituição. A segunda parcela que compõe o prêmio é a taxa de carregamento. A finalidade dessa taxa é remunerar os vendedores do seguro e cobrir as despesas de venda do produto (com pessoal, marketing, transporte, infraestrutura etc). O último membro na conta de composição do prêmio é a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que incide sobre o valor do prêmio puro à alíquota de 0,38%. Incide por fim IOF, que no caso de seguro de pessoas é 0,38%, mas que incide sobre o prêmio. O cálculo do prêmio dá-se por meio da fórmula abaixo: Prêmio = Prêmio Puro x (1+ Carregamento) x (1+ IOF) 1.3.2. Contratação de um seguro Os planos de Seguros de Pessoas podem ser contratados de duas formas: a individual, na qual a relação entre os segurados e a seguradora é direta; e a coletiva, na qual a relação entre WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 14 os segurados e a seguradora é indireta, por meio do estipulante (uma entidade de classe, ou empresa, dentre outras). Na contratação de um Plano de Seguros de Pessoas podem estar envolvidas as seguintes partes: • segurado: pessoa física que contrata ou, no caso de contratação sob a forma coletiva, adere ao plano. • seguradora: pessoa jurídica obrigatoriamente constituída sob a forma de sociedade anônima – S/A –, que assume a responsabilidade pela cobertura dos riscos especificados na apólice, mediante o recebimento do prêmio correspondente. • corretor: pessoa física ou jurídica que faz a intermediação da contratação do plano. • beneficiário: pessoa física ou jurídica livremente indicada pelo segurado, respeitadas as determinações legais e regulamentares, para receber os valores dos capitais segurados – indenizações –, na hipótese de ocorrência do sinistro. • estipulante: pessoa física ou jurídica que propõe a contratação de plano coletivo, ficando investido de poderes de representação do segurado nos termos da legislação e regulamentação em vigor. 1.3.3. Principais tipos de seguro de vida Há três grandes classes de seguro de vida comuns no mundo todo: • Seguro Anual Renovável – A vigência dessa apólice é anual e, portanto, é necessária a renovação. A cada ano, a seguradora recalcula o prêmio a ser pago em função da idade do segurado. O pagamento do prêmio é feito mensalmente. Se o seguro de vida anual renovável for do tipo individual, a renovação acontecerá de forma automática durante determinado número de períodos. Após esse tempo, será necessário verificar junto ao segurado se as renovações continuarão. Caso a apólice seja coletiva, essa necessidade não existirá. • Seguro de Vida Temporário – Esse tipo de seguro de vida tem as mesmas características do anual renovável, com a diferença de que sua vigência não é anual. A duração da cobertura pode ser de períodos maiores, como 20 anos. O pagamento do prêmio é flexível. Se um segurado contrata uma apólice de 10 anos, por exemplo, o pagamento integral do prêmio pode ser feito em um período menor, conforme acordado entre cliente e seguradora. • Seguro de Vida Inteira – É um seguro de vida temporário estendido até o dia do falecimento do segurado. A seguradora calcula o prêmio considerando a probabilidade de o segurado falecer, tendo como base uma média de idade. O pagamento do prêmio é flexível, assim como o do seguro de vida temporário. Embora o seguro de vida tenha a cobertura obrigatória de falecimento, há diversas coberturas adicionais, dentre elas: WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 15 • Invalidez Laborativa Permanente Total Por Doença (ILPD) • Invalidez Funcional Permanente Total Por Doença (IFPD) • Doenças Graves • Acidentes Pessoais (Invalidez Parcial ou Morte) • Despesas Médicas, Hospitalares e Odontológicas (DMHO) • Diárias por Internação Hospitalar • Auxílio Funeral 1.3.4. Estrutura das coberturas dos seguros de pessoas As coberturas dos seguros de pessoas podem ser estruturadas na forma de benefício definido ou de contribuição variável. A cobertura estruturada na forma de benefício definido é aquela em que o valor do capital segurado e o valor do prêmio são estabelecidos previamente na proposta. O prêmio será calculado tendo como valor de referência o benefício que será pago caso ocorra o sinistro. A indenização, nesse caso, pode ser paga de uma única vez, ou sob a forma de renda. Todas as coberturas de risco são estruturadas na modalidade de benefício definido. A cobertura por sobrevivência também pode ser estruturada nessa modalidade. Exemplos: • quando o segurado contrata um plano de Seguros de Pessoas com cobertura de morte por qualquer causa (cobertura de risco), ele está contratando uma cobertura que é estruturada na modalidade de benefício definido, pois os valores do capital segurado e do prêmio já estão definidos previamente na proposta. • quando o segurado contrata um plano, definindo no momento da contratação o valor do capital segurado que ele receberá à vista, ao final do período de diferimento, se e somente se ele estiver vivo, ele estará contratando uma cobertura estruturada na modalidade de benefício definido. A cobertura estruturada na modalidade de contribuição variável é aquela em que o valor e o prazo de pagamentos dos prêmios podem ser definidos previamente na proposta. O valor do capital segurado, pagável de uma única vez ou sob a forma de renda, será calculado ao final do período de diferimento com base no saldo acumulado na provisão matemática de benefícios a conceder e no fator de cálculo. Vale destacar que somente a cobertura por sobrevivência pode ser estruturada na modalidade de contribuição variável. A cobertura por sobrevivência diz respeito ao risco de um indivíduo sobreviver a uma determinada idade. Exemplo: um investidor faz um plano de previdência e, após a aposentadoria, opta por converter sua reserva em renda por um período de 20 anos, estimando que essa será sua expectativa de vida. Porém, findo o prazo, o investidor permanece vivo e WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 16 tem o pagamento de seu benefício interrompido. A cobertura por sobrevivência garante a esse investidor o recebimento de rendas por ter ultrapassado determinada expectativa de vida. Exemplo: O Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é um plano em que o segurado paga prêmios que podem ou não ter os seus valores estabelecidos previamente. Ao final do período de diferimento, a seguradora calcula o valor do seu capital segurado pago sob a forma de renda, com base no valor acumulado na provisão matemática de benefícios a conceder e no fator de cálculo. É fácil imaginar que, quanto mais o segurado tiver acumulado, maior será o valor de renda que ele irá receber. Período de diferimento: período compreendido entre a data de início de vigência da cobertura por sobrevivência e a data contratualmente prevista para início do pagamento do capital segurado. Fator de cálculo: resultado numérico calculado mediante a utilização de taxa de juros e a tábua de mortalidade, quando for o caso, utilizado para obtenção do capital segurado a ser pago sob a forma derenda. 1.3.5. Regimes financeiros Os regimes financeiros são modelos que possibilitam estabelecer o equilíbrio entre as receitas (prêmios recebidos) e despesas (sinistros pagos) de um plano de seguros de pessoas ao longo de um determinado período de cobertura. Em outras palavras, pode-se dizer que regime financeiro é a maneira pela qual o seguro será financiado ou, ainda, como são aplicados os prêmios recebidos para financiar as indenizações de sinistros. Dependendo do regime financeiro adotado, o valor do prêmio cobrado pela seguradora poderá financiar os sinistros ocorridos durante o período de competência do prêmio pago ou ser suficiente para cobrir um período maior. Enquanto no primeiro caso não há acúmulo de recursos, no segundo a seguradora deve provisionar uma parcela do prêmio pago para ser utilizada no futuro. Há várias formas de calcular o equilíbrio atuarial. A mais simples é o regime de repartição simples, que busca equilíbrio entre receitas (prêmios) e despesas (indenizações). No regime de repartição simples, aqueles que pagam os prêmios mensais ajudam a financiar o pagamento de indenizações quando ocorrem os sinistros. Esse regime é usado, por exemplo, pela Previdência Social – quem contribui com o INSS ajuda a pagar os benefícios dos que já se aposentaram. Nas seguradoras, o regime de repartição simples é usado para todas as coberturas de risco que têm pagamento à vista. Um segundo tipo de regime é o de repartição de capitais e cobertura. Ele é usado em caso de seguros cuja indenização é paga de forma parcelada, como por exemplo, a transformação da reserva em renda. Esse regime de pagamento da indenização é interessante como estratégia de planejamento sucessório. O segurado pode indicar como beneficiários dessa apólice familiares com reputação de serem perdulários. Dessa forma, ele garante a substistência da família e evita que a indenização recebida seja gasta de uma vez, fruto de um descontrole financeiro. Outra forma comum de calcular o equilíbrio atuarial é o regime de capitalização, usado em coberturas de risco e por sobrevivência cujas indenizações são pagas à vista ou em forma WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 17 de renda. No regime de capitalização, a reserva é composta de maneira individual, e há uma remuneração atrelada a ela. Esse regime é frequente nos seguros de vida inteira. Nos planos de seguros de pessoas com cobertura de risco, desde que essas coberturas sejam estruturadas no regime financeiro de capitalização, é possível a previsão dos seguintes valores garantidos: resgate, saldamento, benefício prolongado e portabilidade. • Resgate – permite ao segurado, antes da ocorrência do sinistro, retirar os recursos da provisão matemática de benefícios a conceder; • Portabilidade – permite ao segurado, antes da ocorrência do sinistro, movimentar os recursos da provisão matemática de benefícios a conceder para outro plano de Seguros de Pessoas, seja com cobertura de riscos ou com cobertura por sobrevivência; • Saldamento – consiste na manutenção da cobertura originalmente contratada com redução do valor do capital segurado contratado, proporcionalmente ao prêmio pago na eventualidade da interrupção definitiva do pagamento dos prêmios; e • Seguro prolongado – consiste na redução do período de cobertura com manutenção do valor do capital segurado na eventualidade de ocorrer a interrupção definitiva do pagamento dos prêmios. Devido à natureza do regime financeiro de repartição simples e de repartição de capitais de cobertura, os planos estruturados nesses regimes não permitem concessão de resgate, saldamento, seguro prolongado ou devolução de quaisquer prêmios pagos, uma vez que cada prêmio pago é destinado ao custeio das despesas de administração e das indenizações a serem pagas no próprio período. Com isso, os segurados ou beneficiários só terão direito a alguma indenização em caso de sinistro. 1.4. Aspectos tributários dos seguros Os prêmios que são pagos nos seguros de pessoas têm incidência de IOF à alíquota de 0,38%. Esse valor já está embutido no valor pago pelo segurado, e está discriminado na apólice. A única exceção é o VGBL, sobre o qual não há cobrança do imposto. Vale destacar que as indenizações das coberturas de risco e de vida são isentas tanto de Imposto de Renda quanto do Imposto de Transmissão Causa Mortis ou Doação (ITCMD). Por isso, o seguro de vida surge como uma opção interessante de planejamento sucessório, dando maior eficiência tributária ao processo. Outra vantagem do seguro de vida é que a indenização é paga em um prazo relativamente curto, se comparado com o processo de partilha dos bens. Por isso, o seguro de vida pode garantir liquidez praticamente imediata para que uma família custeie suas necessidades até o fim do processo de inventário. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 18 1.5. A SUSEP no contexto da assessoria financeira Os seguros de pessoas idealmente são comercializados por corretores de seguros. Essa profissão, até 2019, era regulamentada e fiscalizada pela SUSEP. Com a revogação da Lei 4.594 de 1964 pela MP 905 de 2019, a profissão deixou de ser regulamentada e fiscalizada pela SUSEP. Passou a ser possível a contratação de seguros diretamente com a seguradora ou por indicação de empresa ou profissional não regulamentado. No entanto, o mercado passa por um processo de transição. É possível que a atividade de corretor de seguros se torne semelhante à de assessor de investimentos, ou de especialista de investimento, nas quais, para o exercício da profissão, é necessária não apenas uma formação sólida na área, mas também a obtenção de uma certificação por meio de um exame de verificação de conhecimentos técnicos. 1.6. Técnicas de venda e principais objeções Os seguros, de modo geral, têm a função de mitigar riscos ao longo da vida. Quando um assessor financeiro trata desse assunto com um cliente, é preciso que ele leve em consideração o momento de vida em que a pessoa se encontra naquele ponto. Não faz sentido, por exemplo, ofertar um seguro de vida inteira para um jovem em início de carreira. As preocupações típicas dessa fase têm menos a ver com transmissão de patrimônio e mais com constituição de riqueza, custeio da faculdade etc. No começo de carreira, tipicamente, a renda de uma pessoa é menor e seus gastos também o são. Nessa fase, começa a constituição do patrimônio, e a prioridade é a multiplicação. Logo, os seguros que mais fazem sentido a um cliente nesse momento de vida têm a ver com a saúde: seguro médico, seguro saúde, dentre outros desse tipo. À medida que o ciclo de vida avança, o patrimônio do investidor aumenta, mas as despesas também. De modo geral, despesas com o casamento e o primeiro imóvel consomem boa parte das receitas de um casal, e surgem preocupações com acidentes de trabalho, invalidez, doença crítica. Portanto, seguros com esse tipo de cobertura de risco e outros que garantam a manutenção do fluxo de caixa caso o cliente precise se ausentar do trabalho por razões de saúde são os mais indicados. Passado o auge da fase de acumulação de riqueza, o cliente entra na fase de desacumulação e transmissão do patrimônio. Nessa fase, fazem sentido apólices de seguro de vida inteira, seguro de cuidados, assistência médica de longa duração, dentre outros. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 19 CAPÍTULO 2 – PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA 2. PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA O objetivo deste capítulo é dar uma visão geral do planejamento para aposentadoria e os principais pontos a serem considerados para uma estratégia de sucesso. Falaremos sobre os pilares do modelo de previdência brasileira, das estratégias e rendas disponíveis no mercado de seguros e previdência e de um possível roteiro para abordagem do tema junto a clientes potenciais. 2.1. Definição Previdência é a “qualidade do que é previdente”, precavido quanto ao planejamento do futuro. O conceito está intimamente ligado a estimativas, conjecturasa respeito de como será o futuro em termos de expectativa de vida e o planejamento financeiro adequado para a aposentadoria. Assim, ao falarmos de previdência no planejamento financeiro, estamos considerando o projeto que deve conter o maior prazo, ou seja, quanto antes iniciado, melhor. Na figura a seguir, temos um diagrama que nos ajuda a entender como fazer uma estimativa de qual será a renda necessária na aposentadoria. Consideramos que a renda na ativa equivale aos rendimentos líquidos de uma pessoa durante seu período de atividade profissional. A pessoa do exemplo tem uma renda de R$ 14.000 por mês e tem custos e despesas em torno de R$ 9.500. Portanto, ela tem um poder de poupança que é a WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 20 diferença entre os dois valores, ou seja, R$ 4.500. Digamos que essa pessoa tenha sido contribuinte da previdência básica (INSS), por ter trabalhado em regime CLT, e se aposentou tendo direito a um benefício mensal de R$ 5.000 do INSS. Nesse caso, há um descasamento entre a renda na aposentadoria e o custo de vida. Uma das maneiras de suprir essa diferença é utilizando as ferramentas de previdência privada, alvo do nosso estudo. É importante destacar, contudo, que o planejamento de aposentadoria pode envolver outros tipos de aplicações, como fundos imobiliários, títulos públicos, dentre outras opções. 2.2. Pilares do modelo de previdência brasileira Há dois pilares que sustentam o modelo de previdência brasileira. O primeiro deles é o Sistema Oficial, ou Sistema Público. Sob ele, estão a Seguridade Social e os regimes de previdência. A Seguridade Social tem como finalidade garantir assistência básica aos cidadãos e está ligada à função social do Estado. Já os regimes de previdência pública têm a finalidade de oferecer aos brasileiros a composição de uma reserva para a aposentadoria. O Regime Geral de Previdência Social é destinado aos trabalhadores das empresas em geral, e o Regime Próprio de Previdência Social é voltado aos servidores públicos. Existe ainda um regime de previdência exclusivo dos militares. Podemos considerar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também é parte importante do Sistema Oficial. Ele tem função previdenciária, porque garante ao trabalhador uma reserva atualizada por uma taxa de juros, e que pode ser usada quando ele é demitido. Outra função importante do FGTS, além da previdenciária, é a de financiamento do sistema imobiliário. O segundo pilar do modelo de previdência brasileiro é o Sistema Privado, sob o qual temos o Sistema de Aposentadoria Fechada, mercado cujo órgão fiscalizador é a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) e o Sistema de Aposentadoria Aberta, fiscalizado pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). O Sistema de Aposentadoria Fechada tem como principal característica o fato de que os planos de previdência são criados pelas empresas, e os funcionários e as empresas (no papel de patrocinadoras) podem contribuir mensalmente para compor uma reserva. A massa de recursos composta pelas contribuições é usada para pagar as aposentadorias e demais benefícios, como pensões, aos funcionários e seus beneficiários. O sistema fechado é operado pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar, os fundos de pensão. Eles podem ser de dois tipos: os fundos fechados próprios, criados e patrocinados por apenas uma empresa, e os multipatrocinados, que podem reunir mais de uma empresa patrocinadora, facilitando a gestão dos ativos e reduzindo os custos. O Sistema de Aposentadoria Aberta é operado por seguradoras e Entidades Abertas de Previdência Complementar. Nele, há planos de aposentadoria empresariais, instituídos e patrocinados por empresas, e também planos individuais. Há dois grandes tipos de planos de previdência complementar aberta: o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). O primeiro tem características WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 21 previdenciárias, e o segundo é um seguro com garantia por sobrevivência. Apesar das diferenças, ambos têm o mesmo objetivo, que é constituir uma reserva que garanta o futuro tanto do próprio participante (no caso do PGBL) ou segurado (no VGBL) quanto dos beneficiários deles. PGBL e VGBL têm características distintas principalmente quanto à tributação. Os participantes que utilizam o modelo completo de declaração de ajuste anual do Imposto de Renda para a Pessoa Física (IRPF) podem deduzir as contribuições feitas em PGBL do respectivo exercício, no limite máximo de 12% de sua renda bruta anual, desde que sejam participantes da previdência básica. Ou seja, para que a aplicação em PGBL faça sentido, a pessoa deverá: - Fazer declaração de IR no modelo completo; - Aplicar até 12% de sua renda bruta anual; - Participar de plano de previdência básica (INSS ou Regime Próprio). Exemplo: Renda bruta anual: R$100.000,00 (base de cálculo do IRPF); Aplicação em PGBL no mesmo exercício: R$12.000,00 (12% da renda bruta anual) Nova Base de Cálculo do IRPF: R$88.000,00 Ou seja, o participante deixa de pagar IRPF sobre o valor investido em PGBL. O imposto será pago somente quando o participante for de fato fazer uso dos recursos do plano. A diferença entre o PGBL e o VGBL diz respeito ao diferimento fiscal. Enquanto o plano de previdência PGBL há o diferimento sobre a declaração de imposto de renda, mas tributação total no momento do resgate ou recebimento dos benefícios, no caso do VGBL não há a opção do diferimento na declaração de IR, mas somente os rendimentos são tributados no resgate. Exemplo Saldo acumulado de R$85.000,00, sendo R$50.000,00 principal e R$35.000,00 rendimentos. Principal - R$50.000,00 Rendimentos – R$35.000,00 Base de cálculo do IR sobre esse resgate total – R$35.000,00 2.3. Identificando o momento de vida Atuar como assessor de investimentos no planejamento de aposentadoria de um cliente envolve perceber que existem dois momentos importantes e distintos na vida de uma pessoa. O primeiro momento é o de acumulação, no qual o principal objetivo é formar um patrimônio para usufruir dele no futuro. O segundo momento é o de desacumulação, no qual o cliente irá usufruir do patrimônio WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 22 constituído. Há um momento de transição entre os dois, denominado início do usufruto, que se constitui como o ponto mais importante a ser detectado ao assessorar um investidor em seu planejamento de aposentadoria. No momento de acumulação, o investidor tipicamente está em busca de veículos de investimento variados, com o objetivo de aumentar sua rentabilidade e multiplicar o patrimônio. Ao longo do período de acumulação, eventualmente, o investidor tem maior apetite ao risco do que teria na fase de usufruto. Pode correr maiores riscos de mercado, liquidez e crédito em troca de uma rentabilidade maior. Como o tempo até o início da fase de aposentadoria é maior, embora alguns eventos de volatilidade possam causar perdas, há horizonte suficiente para a recuperação dos recursos. Nessa fase da vida, as pessoas costumam ter gastos com saúde relativamente constantes. Os gastos são, de modo geral, com plano de saúde, que pode contar com subsídio da empresa, caso sejam trabalhadores assalariados. Portanto, há uma propensão maior a tomar risco. Quando o investidor entra no período de usufruto dos recursos acumulados, ele tende a fazer uma revisão do portfólio de investimentos, porque o objetivo principal passa a ser a proteção do patrimônio. Uma vez que a aposentadoria está na iminência de começar, o patrimônio já não deve ser submetido à mesma volatilidade da fase de acumulação. Eventuais perdas podem não ser recuperadas em tempo hábil até que o investidor comece, de fato, a usar os recursos para suprir suas necessidades na nova fase. Por isso, ao adentrar a fase de desacumulação, o apetite por risco diminui significativamente, e o investidor passa a preferir aplicaçõesque protejam seu capital, conquanto lhe confiram uma rentabilidade menor. Os gastos com saúde, que eram constantes na fase anterior, passam a ser crescentes. Há um aumento brusco no custo dos planos de saúde e aqueles que antes contavam com subsídio da empresa no pagamento das mensalidades agora perdem o benefício e têm de arcar sozinhos com a despesa. Nessa fase, os aspectos de sucessão patrimonial ganham mais importância. Esses aspectos, se bem compreendidos pelo assessor, podem ajudar no atendimento ao investidor, para direcionar a ele as aplicações mais adequadas ao seu momento de vida. Nesse contexto, surge a importância da detecção da fase de transição, que é a do início do usufruto. Muitas vezes, os investidores atingem esse momento sem terem consciência disso, o que pode levá-los a decisões equivocadas de investimento dos recursos. 2.4. Método estratégico de detecção do momento de vida A definição de uma estratégia de aposentadoria passa por um exercício de projeção do futuro, das eventuais necessidades de caixa e despesas, das receitas e ganhos, dentre outras variáveis. É uma tarefa árdua, complexa e com alto grau de incerteza. Embora haja ferramentas e simuladores para realizar previsões e recomendar aplicações aos investidores, essas soluções não são definitivas, sendo apenas auxílios ao assessor. É importante que o profissional conheça as questões levantadas anteriormente, sobre o momento de vida do investidor, e domine um método WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 23 de abordagem para auxiliar o cliente no planejamento da aposentadoria. Esse método compreende o uso de um roteiro estratégico que deve sempre ser revisitado em períodos de 2 a 3 anos. O roteiro consiste em responder perguntas simples, como as que listamos a seguir. 1. Possuo um montante de investimentos com liquidez suficiente para garantir 6 meses de despesas? Essa pergunta é de extrema importância, já que esse montante comporá a reserva de emergência do investidor. Ela deve permanecer em aplicações de alta liquidez e baixo risco (um fundo DI, por exemplo), para suprir as necessidades do investidor e de sua família durante 6 meses caso algum imprevisto ocorra. Feita essa reserva, passamos à pergunta seguinte: 2. Estou contribuindo para o regime público de previdência (social, militar ou próprio)? Se o investidor já contribuiu, ou continua contribuindo, trata-se de um sinal positivo. Por menor que seja essa renda, ela ajudará a complementar os gastos fixos da pessoa ao longo da aposentadoria, diminuindo o esforço de poupança necessário para que ela atinja seus objetivos de renda quando parar de trabalhar. O assessor deve enfatizar que, ainda que seu cliente seja um autônomo, é importante que ele contribua com a previdência pública para ter essa renda garantida ao se aposentar. 3. Estou investindo pelo menos 12% da minha renda tributável anual em planos de previdência? Se o investidor contribui com a previdência pública, ele tem direito ao benefício do diferimento fiscal. Ao aplicar em fundos do tipo PGBL um valor equivalente a até 12% de sua renda tributável , o investidor pode deduzir essa quantia da base de cálculo do Imposto de Renda. 4. Tenho um objetivo financeiro de médio prazo para realização de algum sonho? Essa pergunta ajuda a entender qual deve ser a rentabilidade a ser perseguida pela carteira, e quais os investimentos mais adequados para que o objetivo seja atingido. Se o cliente responder “sim” a essa pergunta, pode-se passar à seguinte: 5. Para realizar o sonho do item D. prefiro investir/poupar ou estou disposto a tomar um empréstimo? Essa pergunta é importante para detectar o nível de reservas que o investidor tem. Se ele declarar intenção de tomar empréstimo para realizar o sonho, é um indicador de que o nível de reserva dele é insuficiente para atingir o objetivo. Portanto, é preciso considerar entre as despesas desse cliente as parcelas do empréstimo que será contraído. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 24 6. Penso em aposentar/usufruir do meu patrimônio até o próximo período? Essa é uma das perguntas mais importantes. O período em questão é aquele de 2 a 3 anos, dentro do qual as questões devem ser repassadas junto ao investidor. Se houver intenção de aposentadoria, é sinal de que o investidor chegou ao ponto de transição, o início do usufruto. Caberá, então, ao assessor, preparar seu cliente para esse momento revendo as aplicações atuais e pensando na constituição de uma carteira adequada. As recomendações são: o investidor deve buscar garantir, por meio de uma renda, suas despesas fixas, tais como plano de saúde, condomínio, despesas com alimentação e remédios. Os recursos restantes devem ser aplicados em investimentos com menor volatilidade e menor risco, gerando liquidez para imprevistos e possibilitando a sucessão patrimonial de forma mais eficiente possível. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 25 CAPÍTULO 3 – WEALTH MANAGEMENT 3. WEALTH MANAGEMENT – CONCEITOS TRIBUTÁRIOS Daremos início ao nosso capítulo de estudos sobre Wealth Management, ou gestão patrimonial, considerando alguns importantes conceitos tributários. Conhecê-los é fundamental ao assessor financeiro, porque a questão tributária interfere diretamente na gestão patrimonial das famílias. É importante saber quanto custa, do ponto de vista tributário, para manter um patrimônio e para transmiti-lo aos herdeiros. Inicialmente, deve-se fazer distinção entre três conceitos que são, genericamente, chamados de “tributos”, mas não são sinônimos. O primeiro tipo de tributo são os impostos, que podem ser definidos como encargos incidentes sobre renda, patrimônio e bens de consumo. Os impostos podem ser diretos, ou seja, cobrados diretamente do contribuinte, como o Imposto de Renda. Podem também ser indiretos, como os que incidem sobre os bens de consumo. Há, além dos impostos, as taxas, que são tributos que incidem sobre a prestação de um serviço público. Finalmente, existem ainda as contribuições, tributos instituídos pelo Governo Federal com uma destinação específica. Por exemplo a extinta CPMF, cujos valores arrecadados eram destinados ao custeio das necessidades da saúde pública. 3.1. Princípios Importantes do Direito Tributário Além de conhecer os tipos de tributos, o assessor também deve ter familiaridade com alguns dos mais importantes princípios do Direito Tributário tal como é aplicado no Brasil. • Legalidade – Para que um tributo possa ser cobrado pelo Estado, deve existir uma lei que o regule. • Igualdade (ou Isonomia) – Os tributos são aplicáveis a todos, tratando com igualdade os iguais, e desigualmente os desiguais. Cidadãos com menor renda, por exemplo, não podem ser tributados como os mais ricos. • Irretroatividade – Um tributo pode ser aplicado apenas aos fatos geradores ocorridos após a instituição da lei que o criou. • Anterioridade – O tributo pode ser aplicado apenas no exercício fiscal posterior ao que a nova lei foi aprovada, respeitando-se também a noventena, ou seja, um período de, no mínimo, 90 dias após a data da aprovação da lei. • Disponibilidade (ou Capacidade Contributiva) - O contribuinte deve ter capacidade financeira para pagamento do tributo. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 26 3.1.1. Regimes tributários Há dois regimes tributários e conhecer cada um é importante para ações posteriores de gestão patrimonial. O primeiro deles é o regime de caixa, padrão quando o contribuinte é uma Pessoa Física. No regime de caixa, a tributação ocorre apenas no momento que houver a disponibilização da renda , ou ganho de capital, e o fato gerador é o real ganho auferido pelo contribuinte. O segundo é o regime de competência, padrão quando o contribuinte é uma Pessoa Jurídica. No regime de competência, a tributação ocorre na periodicidade que a PJ deve pagar seu imposto, independente da disponibilização do ganho. O fato gerador é a valorização do ativo no período de apuraçãoe não necessariamente o ganho efetivo. 3.1.2. Planejamento Tributário O planejamento tributário pode ser definido como um conjunto de estratégias para otimizar a carga tributária e tornar mais eficiente o processo de pagamento de tributos utilizando estruturas e caminhos permitidos pela legislação aplicável. Um bom planejamento tributário será de suma importância na gestão patrimonial. Cabe aqui fazer uma distinção importante. Muitas vezes, o termo “planejamento tributário” evoca uma imagem negativa na mente dos investidores. Mas essa prática não pode ser confundida com a de evasão fiscal, ou sonegação de impostos. A evasão ocorre quando um contribuinte deixa de pagar imposto fora da lei. O planejamento tributário não é evasão fiscal, e sim, elisão fiscal, ou seja, a otimização do pagamento de impostos dentro do permitido pela legislação. 3.1.3. Impostos sobre a Pessoa Física Veremos agora quais são os impostos que incidem sobre a Pessoa Física e a Pessoa Jurídica, e quais seus impactos na gestão de patrimônio das famílias em suas diversas estruturas. O primeiro e mais importante imposto que incide sobre a Pessoa Física é o Imposto de Renda. Ele incide tanto sobre a renda geral, que inclui salários e aluguéis recebidos, quanto a renda financeira, aquela proveniente dos investimentos, o ganho de capital na alienação de bens e títulos e valores mobiliários e os dividendos recebidos do exterior. Analisaremos, a seguir, cada uma dessas categorias. Renda geral A renda geral é aquela que inclui recebimentos de salários e aluguéis. No caso dos salários, o recolhimento do imposto é na fonte, feito pelos empregadores. O imposto sobre os aluguéis recebidos deve ser recolhido pelo contribuinte via Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF). A renda financeira é tributada diretamente na fonte, e de maneira definitiva, pela instituição financeira. Quanto às alíquotas, consideremos, em primeiro lugar, o caso do Imposto de Renda sobre a renda WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 27 geral. A tributação ocorre de acordo com a tabela progressiva, em função do valor da renda, segundo as seguintes alíquotas: Faixa de renda Alíquota Até R$ 1.903,98 Isento De R$ 1.903,99 a R$ 2.826,65 7,5% De R$ 2.826,66 a R$ 3.751,05 15% De 3.751,06 a R$ 4.664,68 22,5% Acima de R$ 4.664,69 27,5% Renda Financeira Já o imposto que incide sobre a renda financeira segue uma tabela regressiva, e as alíquotas variam em função do prazo de aplicação: Prazo Alíquota Até 180 dias 22,5% De 181 a 360 dias 20% De 361 a 720 dias 17,5% Acima de 720 dias 15% Ganho de Capital Geral O imposto sobre o ganho de capital geral inclui ganhos na alienação de imóveis, participação societária fora da bolsa de valores e investimentos no exterior. A tributação segue uma tabela progressiva, em que a alíquota aumenta em função do ganho. Ganho Alíquota Até R$ 5.000.000,00 15% De R$ 5.000.000,01 a R$ 10.000.000,00 17,5% De R$ 10.000.000,01 a R$ 30.000.000,00 20% Acima de R$ 30.000.000,00 22,5% Esse imposto é recolhido pelo contribuinte, por meio do pagamento de um DARF. Ganho Líquido de Ações em Bolsa de Valores A alíquota de imposto para ganho de capital com ações na Bolsa de Valores é única, de 15%. O imposto é recolhido pelo contribuinte, via DARF. Dividendos de Empresas Brasileiras Os dividendos pagos por empresas brasileiras aos acionistas são isentos de tributação. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 28 Dividendos de Empresas Sediadas no Exterior Há incidência de imposto de acordo com a tabela progressiva, em função do valor recebido. O imposto deve ser recolhido pelo próprio contribuinte, via DARF. Faixa de renda Alíquota Até R$ 1.903,98 Isento De R$ 1.903,99 a R$ 2.826,65 7,5% De R$ 2.826,66 a R$ 3.751,05 15% De 3.751,06 a R$ 4.664,68 22,5% Acima de R$ 4.664,69 27,5% Outro imposto importante que incide sobre a Pessoa Física e tem grande impacto na gestão de patrimônio, especificamente no planejamento sucessório, é o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD). Esse imposto incide sobre doações e heranças, e é de competência estadual. As alíquotas variam entre os estados, podendo ir de zero a 8%. Cada estado define sua alíquota e a metodologia de cobrança. A tributação seguirá a alíquota do estado em que a pessoa que faleceu vivia, ou então, onde estavam a maior parte dos bens da pessoa. O ITCMD sobre imóveis é recolhido no estado em que o bem se situa. Esse imposto deve ser recolhido diretamente pelo contribuinte, através de uma Guia de Arrecadação de Receitas Estaduais (GARE). 3.1.4. Impostos sobre a Pessoa Jurídica Consideraremos agora os impostos sobre a Pessoa Jurídica, considerando não o viés operacional, focando na empresa em si, mas no viés de planejamento sucessório. Vamos analisar, então, os principais impostos que incidem sobre uma PJ e que podem afetar uma empresa que concentra o patrimônio de uma família (como uma holding patrimonial, por exemplo). Lucro Presumido A regra de tributação que avaliaremos inicialmente considera o regime de Lucro Presumido, mais comum nas empresas patrimoniais familiares. Há incidência de Imposto de Renda sobre a receita operacional da empresa, a uma alíquota de 15%. Existe ainda uma alíquota adicional de 10% que incidirá sobre o valor que exceder R$ 20.000 por mês. As empresas também são tributadas pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), cuja alíquota é de 9%. Há ainda a incidência de PIS/Cofins, à alíquota de 3,5%. Quanto à receita financeira, todos os tributos acima incidirão sobre 100% do montante. Isso ocorre porque a receita financeira não entra na regra de presunção do lucro. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 29 Lucro Real Caso o regime da empresa seja o de Lucro Real, haverá incidência de Imposto de Renda à alíquota de 15%, mais um adicional de 10% sobre o que ultrapassar R$ 20.000 por mês. A base de cálculo não será a receita, e sim o lucro. Há ainda cobrança de CSLL (9%) e PIS/Cofins (9,25%). Tanto IR quanto CSLL incidem sobre o lucro, mas o PIS/Cofins incide sobre 100% da receita financeira. Simples Nacional A tributação sobre o Simples Nacional (sistema de tributação para pequenas empresas) incide sobre a receita financeira nas mesmas regras da Pessoa Física. O imposto segue a tabela regressiva, em função do prazo de aplicação, com as seguintes alíquotas: Prazo Alíquota Até 180 dias 22,5% De 181 a 360 dias 20% De 361 a 720 dias 17,5% Acima de 720 dias 15% Renda Imobiliária (aluguel) – Lucro Presumido A renda imobiliária é considerada receita operacional nas empresas que tenham a atividade imobiliária no seu objeto social. Sendo assim, o aluguel entra na regra da presunção do lucro, tributando 32% desta renda. Haverá incidência de Imposto de Renda (15%, mais adicional de 10% sobre o valor que exceder R$ 20.000 por mês), CSLL (9%) e PIS/Cofins (3,65%). IR e CSLL incidirão sobre 32% da renda imobiliária e o PIS/Cofins sobre 100% da renda imobiliária Sobre a Renda Imobiliária (Venda) – Lucro Presumido Os imóveis que pertencem a uma empresa podem ser contabilizados de duas formas. Uma delas é no ativo circulante, como estoque. A outra é no ativo imobilizado, como investimento. Dependendo da classificação, a tributação sobre o ganho de capital por ocasião da venda do imóvel poderá variar. Se o imóvel for registrado no balanço como estoque (ativo circulante), incidirá uma alíquota de 6,9% sobre o valor da venda. Caso o imóvel esteja classificado como ativo imobilizado, incidirá uma alíquota de 34% sobre o ganho imobiliário (valor de venda – custo contábil). Vale destacar que só é possível contabilizar no ativo circulante como estoque os imóveis disponíveis para a venda. Os imóveis alugados deverão ser contabilizados no ativo imobilizado como investimentos. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 30 3.1.5. Imposto sobre Operações Financeiras O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é um imposto federal que incide sobre operações de crédito, câmbio,seguros e investimentos (títulos e valore mobiliários). Consideraremos a seguir a cobrança de IOF em operações de câmbio. As operações de câmbio de remessa e recebimento de recursos do exterior são tributadas pelo IOF segundo as seguintes alíquotas: • 6,38% - gastos com cartão de crédito no exterior e com o cartão pré-pago. • 1,10% - compra de moeda estrangeira em espécie e remessa para disponibilidade no exterior. • 0,38% - venda de moeda estrangeira em espécie. 3.1.6. Declarações de IRPF e DCBE A declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) acontece anualmente, tendo sua entrega prevista para o prazo entre 01 de março a 30 de abril do ano calendário com informações referentes a 31 de dezembro do ano anterior. A punição por atraso na entrega é de multa de 1% ao mês incidente sobre o imposto devido, mesmo que já pago integralmente, observados os limites mínimo de R$ 165,74 e máximo de 20% do imposto devido. A Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (DCBE) tem como prazo de entrega o período entre 15 de fevereiro e 05 de abril do ano calendário, com informações referentes ao ano anterior. Há uma série de penalidades previstas para diferentes infrações: • Entrega fora do prazo – 1% do valor declarado limitado a R$ 250.000,00. Se o período de atraso for menor que 30 dias o valor será de 10% da multa devida; se for entre 30 e 60 dias o valor será de 50% da multa devida. • Informações incorretas – 2% do valor declarado limitado a R$ 50.000,00 • Não apresentar declaração – 5% do valor declarado limitado a R$ 125.000,00 • Prestar informação falsa – 10% do valor declarado limitado a R$ 250.000,00 3.2. Wealth Management - Planejamento Sucessório Tendo visto os principais aspectos tributários que podem influenciar na gestão patrimonial, abordaremos agora outro tema fundamental e de grande impacto na conservação do patrimônio e sua perpetuação através das gerações: o Planejamento Sucessório. Os principais objetivos do planejamento sucessório são garantir: WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 31 • A continuidade do negócio familiar sob os mesmos princípios e com os mesmos objetivos do fundador. • A transmissão de bens na proporção desejada em vida, tendo em conta os herdeiros que gostaria de privilegiar. • A qualidade do relacionamento interpessoal e familiar dos potenciais herdeiros na ocasião do falecimento (prevenção de litígios). • A proteção dos herdeiros incapazes. • A minimização do impacto fiscal. • O planejamento financeiro, organizando a distribuição dos recursos. • A gestão profissional do patrimônio, suprindo uma eventual falta de experiência dos herdeiros. • A proteção contra penhoras, casamentos por interesse, conflitos litigiosos e eventuais regras restritivas de direito. • A perpetuação do patrimônio, evitando sua dilapidação pelas próximas gerações. • A agilidade na transmissão de bens, evitando longo período de inventário. Consideraremos, a seguir, os principais veículos de planejamento sucessório. 3.2.1. Fundo restrito ou exclusivo fechado O fundo restrito ou exclusivo é aquele destinado a apenas um investidor, ou poucos investidores (no caso do fundo restrito), que podem ser os herdeiros de um patrimônio. Uma das maiores vantagens dessa estrutura é o fato de ser possível colocar sob ela qualquer tipo de ativo do mercado financeiro (ações, fundos, títulos públicos, títulos de crédito privado, dentre outros), conferindo maior organização ao patrimônio. É possível, em um fundo exclusivo, mudar a estratégia do fundo sem nenhum impacto tributário. A tributação do fundo exclusivo fechado ocorrerá apenas quando houver resgate de cotas. Dentre as vantagens de se constituir um fundo exclusivo, podemos destacar: • Todos os cotistas do fundo devem estar alinhados quanto à política de investimentos do portfólio. • Cada pessoa é uma cotista individual do fundo. • Há maior organização do patrimônio. Já as desvantagens incluem: • A gestão é discricionária, ou seja, não é feita pelos cotistas, mas por um gestor contratado que terá de cumprir o mandato atribuído a ele pelos cotistas. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 32 • Todos os cotistas devem amortizar o fundo ao mesmo tempo, para se manter a proporcionalidade das cotas. Quanto à tributação, há incidência de ITCMD na doação de recursos para os netos, à alíquota de 4% no estado de São Paulo. O Imposto de Renda sobre a valorização da cota incidente no momento da amortização tem alíquotas que variam de 15% a 22,5% em função do prazo do investimento. Há ainda incidência de imposto sobre a valorização da cota incidente no momento da amortização. A alíquota varia de 15% a 22,5% em função do prazo do investimento. Vale lembrar que, em caso de doação de cotas, é preciso verificar se ela não ofende a sucessão legítima. Apenas 50% da massa patrimonial a ser sucedida pode ser livremente direcionada a beneficiários. A outra metade deve, obrigatoriamente, obedecer a legítima e ser distribuída entre os herdeiros necessários. Os fundos restritos ou exclusivos podem ser abertos ou fechados, e há diferenças entre eles quanto à liquidez, tributação e o processo de transferência de cotas. A tabela a seguir compara os fundos abertos e fechados quanto a esses critérios: Fundo exclusivo (ou restrito) aberto Fundo exclusivo (ou restrito) fechado Tributação • Incidência do come-cotas semes- tralmente, exceto em Fundos de Investimento em Ações • Resgates com alíquota regres- siva, de acordo com o tempo de investimento (22,5% a 15%). • Não está sujeito ao come-cotas semestral. • Amortizações periódicas sujeitas a alíquota regressiva, de acordo com o tempo de inves- timento (22,5% a 15%). Liquidez • Aplicações a qualquer tempo. • Não há limitações para resgates. Definido pelo regulamento e regu- lamentação aplicável. • Aplicações podem ser feitas 2x ao ano. • Amortizações a cada 12 meses. • Amortizações proporcionais para todos os cotistas. Transferência de cotas • Não permitida. Exceto nos casos previstos em lei que são: execu- ção de garantia, sucessão ou de- cisão judicial. • Permitida a transferência da titularidade das cotas através de doação ou venda, facilitan- do o processo de planejamento sucessório. 3.2.2. Fundo de Previdência Os fundos de previdência são importantes veículos de planejamento sucessório na gestão patrimonial. É possível constituir um fundo exclusivo de previdência com gestão diferenciada, respeitando as limitações aplicáveis às carteiras dos fundos de previdência, regulados pela SUSEP. Uma das maiores vantagens dos fundos de previdência é o fato de que eles não são objeto WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 33 de inventário, já que não são considerados herança. Geralmente, o processo de transmissão dos bens pode ser demorado, sobretudo se houver litígio. Durante esse período, as famílias necessitam de liquidez para suprir suas necessidades, manter o padrão de vida, bem como arcar com todos os custos do processo de inventário. Se a liquidez estiver condicionada à conclusão do inventário, pode haver um agravamento da situação da família. Por não ser objeto de inventário, o fundo de previdência pode conferir à família liquidez imediata. Os beneficiários recebem os recursos diretamente da instituição financeira. Há várias possibilidades de repassar o patrimônio constituído nesses fundos aos beneficiários, como por exemplo a distribuição dos recursos de forma periódica, como uma renda mensal por prazo determinado até que o beneficiário atinja a idade determinada pelo instituidor do plano. Há ainda outras três vantagens decorrentes da não inclusão dos planos de previdência na herança. A primeira é que os recursos do plano não serão canalizados para honrar eventuais dívidas do falecido, como acontece com os bens recebidos por herança. Além disso, os fundos de previdência permitem a livre indicação de beneficiários. Portanto, é possível direcionar o patrimônio a uma pessoa que não esteja entre os herdeirosnecessários. É preciso observar, nesse caso, se esse direcionamento respeita as regras da sucessão legítima. Finalmente, os fundos de previdência não são tributados pelo ITCMD quando os recursos são disponibilizados aos beneficiários. É importante ressaltar que alguns estados (Goiás, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro) já têm em sua legislação previsão para cobrança deste imposto sobre os recursos de planos de previdência. Os fundos de previdência não têm incidência do come-cotas. Haverá cobrança de Imposto de Renda no resgate dos recursos. Quando o regime tributário for o regressivo, a alíquota de IR aplicada será de 10% (após 10 anos), ou seja, a menor alíquota de tributação dos investimentos financeiros para a pessoa física. No caso de recebimento pelos beneficiários quando da sucessão, a alíquota máxima é de 25%. 3.2.3. Seguro de vida Uma apólice de seguro vinculada às necessidades específicas do segurado e seus beneficiários pode ser usada como instrumento de planejamento sucessório. Assim como nos fundos de previdência, os recursos recebidos pelos beneficiários da apólice não passam pelo processo de inventário (não são considerados herança), garantindo liquidez imediata. Todos os benefícios citados na seção dos fundos de previdência também são aplicáveis aos seguros de vida. É possível estipular quem será o beneficiário de uma determinada apólice independente da ordem de sucessão hereditária (deve ser respeitada a parcela legítima quando da elaboração deste planejamento). A indenização paga pela seguradora não está sujeita à incidência do ITCMD, nem do Imposto de Renda. WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 34 3.2.4. Holding Patrimonial O objetivo de uma holding patrimonial é deter bens. Ela não será uma empresa operacional, e sim, proprietária de bens que podem ser, inclusive, outras empresas. A holding pode ser constituída sob a forma de sociedade limitada, sociedade por ações ou Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). O escopo de uma holding patrimonial é bastante abrangente. Sob sua estrutura podem ser inseridos bens e direitos (animais, joias, obras de arte, aeronaves, embarcações e ativos financeiros), imóveis e participações societárias. Como principal vantagem, a holding patrimonial promove o distanciamento dos entraves da sucessão das empresas operacionais. Se sob a holding houver outras empresas operacionais, por exemplo, a estrutura permitirá que as questões sucessórias não sejam empecilhos às operações. A transferência de patrimônio se dará via holding, já que o objeto de sucessão serão as cotas, e não os bens, ativos e empresas. Uma desvantagem dessa estrutura é a forma de tributação. Os rendimentos financeiros auferidos por uma PJ estão sujeitos a uma alíquota de tributação de 34%, consideravelmente maior se comparada a tributação do mesmo rendimento se auferido diretamente pela PF. Haverá incidência de ITCMD na doação dos recursos para os netos, com alíquota de 4% no estado de São Paulo. A distribuição de dividendos é isenta de IR. 3.2.5. Conta de Investimentos no Exterior Os investimentos no exterior têm se tornado opção cada vez mais procurada pelos investidores em busca de diversificação de portfolio e busca de maior rentabilidade. O caminho mais imediato para alcançar mercados internacionais é abrir uma conta de investimentos fora do país. Nesse caso, a Pessoa Física será a titular da conta e remeterá recursos para o exterior (operação sobre a qual incidirá IOF) para, posteriormente, fazer as aplicações nos produtos e adquirir ativos. A partir daí, dependendo do valor remetido, o investidor passa a ser obrigado a declarar a remessa ao Banco Central. A constituição da conta de investimentos é um processo relativamente simples, assim como sua manutenção. Os custos envolvidos costumam ser baixos. O investidor deverá recolher impostos no Brasil a cada recebimento de rendimentos no exterior (dividendos ou cupons de títulos, por exemplo), e não quando do retorno do recurso ao país. Os rendimentos de aplicações financeiras, bem como ganhos na alienação, liquidação ou resgate, serão tributados como ganho de capital com alíquotas entre 15% e 22,5% variando em função do montante do ganho ou rendimento. A variação cambial positiva compõe a base de cálculo deste imposto. Os dividendos são tributados de acordo com a tabela progressiva de IR da Pessoa Física com alíquota de até 27,5%. O recolhimento do imposto deverá ser feito até o último dia útil do mês WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 35 subsequente ao recebimento do rendimento ou dividendo. Os ativos investidos deverão ser identificados na Declaração de Ajuste Anual do IR da Pessoa Física pelo seu valor de mercado em 31 de dezembro, convertido em Reais. Como exceção, temos as cotas de fundos e as ações, que são declarados pelo seu custo de aquisição. 3.2.6. Empresa de Investimentos (PIC) Mais uma possibilidade para gestão de patrimônio com investimento no exterior são as Empresas de Investimento, conhecidas como PIC, ou empresas offshore. Ao constituir uma PIC, a pessoa física brasileira passa a deter participação em uma empresa de investimentos no exterior. Portanto, ao fechar câmbio para remeter recursos, essa será uma operação de capitalização, pois o montante será injetado na empresa. O investidor receberá cotas em contrapartida, e a empresa é que realizará os investimentos no exterior. Como a PIC é uma empresa com sede fora do Brasil, ela não será tributada no país pelos rendimentos dos investimentos, pois eles serão considerados caixa da empresa. Além disso, se a empresa estiver localizada em um paraíso fiscal, também não haverá tributação sobre a renda. Vale destacar que, desde que os investimentos sejam declarados e os impostos pagos, não há impedimentos legais no Brasil para a abertura de uma empresa em paraíso fiscal. A tributação, nesse caso, incidirá sobre a Pessoa Física sócia da empresa, com domicílio fiscal no Brasil, quando ela receber algum tipo de distribuição de lucros e dividendos da empresa. O sócio da empresa offshore terá possibilidade de diferimento do imposto sobre o recebimento de dividendos e ganhos de capital. A tributação só será devida quando ocorrer uma distribuição para o acionista, independente dos recursos retornarem ao Brasil. Na distribuição de dividendos incidirá IR de acordo com a tabela progressiva da Pessoa Física, que tem alíquota máxima de 27,5%. A variação cambial do capital será tributada como ganho de capital com alíquotas entre 15% e 22,5%, variando em função do montante do ganho. A participação na empresa offshore (“PIC”) deverá ser informada na declaração de ajuste anual do IR da Pessoa Física pelo valor de seu capital a custo de aquisição. 3.2.7. Fundo Exclusivo no Exterior Basicamente, do ponto de vista de estrutura, o fundo exclusivo no exterior é semelhante à empresa de investimento no exterior. Ele é um fundo de investimento do qual os membros da família são cotistas. Os custos de estruturação e manutenção do fundo, contudo, serão consideravelmente superiores aos da PIC. O tratamento tributário é feito exatamente como o da empresa offshore. Enquanto os recursos estiverem no fundo, os rendimentos não serão tributados. A tributação ocorrerá apenas quando houver algum tipo de disponibilização dos recursos aos cotistas. Assim como na PIC, fato WEALTH MANAGEMENT E PRIVATE BANKING 36 gerador do imposto não é a vinda dos recursos para o Brasil, e sim, sua saída do fundo. No resgate das cotas do fundo, incidirá imposto sobre o ganho de capital com alíquotas entre 15% e 22,5% variando em função do montante do ganho. A variação cambial positiva compõe a base de cálculo deste imposto. As cotas do Fundo (“PIF”) deverão ser informadas na Declaração de Ajusta Anual do IR da Pessoa Física pelo seu custo de aquisição. 3.2.8. Trusts Os trusts são estruturas de administração patrimonial típicas de países cujo sistema jurídico é o anglo-saxão (Estados
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