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A EXCLUSÃO SOCIAL UMA FORMA DE AFRONTA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - DIESSICA SCARLET DE ABREU DA SILVA

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FACULDADE DE SANTO ANTÔNIO DA PLATINA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
DIÉSSICA SCARLET DE ABREU DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
A EXCLUSÃO SOCIAL: UMA FORMA DE AFRONTA AO 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTO ANTÔNIO DA PLATINA 
2020 
DIÉSSICA SCARLET DE ABREU DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A EXCLUSÃO SOCIAL: UMA FORMA DE AFRONTA AO 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à 
Faculdade de Santo Antônio da Platina – 
Universidade Brasil, como requisito parcial obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof. Me. Christovam Castilho Júnior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTO ANTÔNIO DA PLATINA 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 SILVA, Diéssica Scarlet de Abreu da. 
 
 
A exclusão social: uma afronta ao princípio da dignidade da pessoa 
humana / Diéssica Scarlet de Abreu da Silva Santo Antônio da Platina – 
PR, 2020. 
 
61 folhas, 29 cm. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – 
Faculdade de Santo Antônio da Platina – Universidade Brasil. 
 
Orientador: Prof. Me. Christovam Castilho Júnior. 
 
 Inclui referências. 
 
 1. Direito Constitucional. 2. Direitos Humanos. 3. Exclusão Social. I. 
A exclusão social: uma afronta ao princípio da dignidade da pessoa 
humana. II. Faculdade de Santo Antônio da Platina – Universidade Brasil. 
 
 CDU: 342 
 
 
DIÉSSICA SCARLET DE ABREU DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
A EXCLUSÃO SOCIAL: UMA FORMA DE AFRONTA AO 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à 
Faculdade de Santo Antônio da Platina/Universidade 
Brasil, como requisito parcial para a obtenção do título de 
Bacharel em Direito, com nota final igual a __________ 
conferida pela Banca Avaliadora formada por: 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Me. Christovam Castilho Júnior 
Presidente e Orientador 
 
 
 
 
________________________________________________ 
1ª Examinador 
 
 
 
 
________________________________________________ 
2º Examinador 
 
 
 
 
Santo Antônio da Platina – PR, ______ de ______________ de 2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus e as minhas 
filhas, Sofia e Gabriela, em especial à Sofia 
por ter suportado minha ausência durante 
esta caminhada. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço, primeiramente, a Deus pela oportunidade, pois Dele emana toda 
a sabedoria. Agradeço por ter me guiado durante o curso, tendo me dado força, 
saúde, coragem, paciência, sabedoria e resiliência. Ainda, por ter me sustentado 
nos momentos mais difíceis, fazendo com que eu não desistisse da caminhada e 
chegasse até o fim. 
 Agradeço à minha família, em especial a minha mãe, por ter me ensinado o 
real significado das palavras dignidade, perseverança e coragem, e, por me 
incentivar a nunca desistir do curso, tendo por vezes me lembrado de que cada 
etapa foi essencial até chegar a este tão almejado e festejado momento. De 
maneira especial, agradeço ao meu esposo, Sérgio, por ser um marido trabalhador 
e carinhoso, por ter me acompanhado nesta etapa e suportado minha ausência 
durante, bem como, por ser um pai maravilhoso para nossas filhas. 
 Agradeço ao corpo docente da FANORPI, nas pessoas dos professores: 
Christovam Castilho Júnior, o qual, mais do que um mestre e orientador, foi um 
amigo no decorrer desta jornada, pois, sempre nos incentivou a nunca desistir de 
estudar, nos relembrando sempre de que às vitórias virão, contudo, às renúncias 
são indispensáveis durante o processo; Leonardo Goes de Almeida, coordenador 
do curso de Direito, pela dedicação devotada ao curso, sobretudo aos alunos; 
Mateus Faeda Pellizzari e Fernanda Maria Oliveira, pela dedicação devotada ao 
Núcleo de Práticas Jurídicas – NP; Nathan Barros Osipe, pelo carinho, respeito e 
dedicação aos alunos e Gislaine Fernandes de Oliveira Mascarenhas Aureliano e 
Pedro Gonzaga Alves, pelo carinho, respeito e dedicação aos alunos. 
 Em resumo, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para que 
eu concluísse o Curso de Direito. A todos(as), o meu muito obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te 
perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o 
louvarei, a Ele, meu auxílio e Deus meu!” (Salmo 43:5) 
SILVA, Diéssica Scarlet de Abreu da. A exclusão social: uma afronta ao princípio 
da dignidade da pessoa humana. 2020. 61 fls. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Graduação em Direito). Faculdade de Santo Antônio da Platina – Universidade 
Brasil. Orientador: Prof. Me. Christovam Castilho Júnior. Santo Antônio da Platina, 
2020. 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente estudo tem o objetivo de apresentar de maneira contundente a violação 
do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana como fator que 
impulsiona a exclusão social. E, deste modo, busca rememorar por meio de uma 
visão histórica, filosófica e jurídica de dignidade, bem como a apresentação da 
dignidade humana no estado democrático de direito na visão da evolução deste 
conceito. Assim, demostra o mencionado instituto da dignidade e a integração 
social no estado moderno e suas evoluções em relação à exclusão social, 
principalmente em relação à sociedade e a transição do segundo para o terceiro 
milênio. E, deste modo, a inclusão social e políticas públicas participativas 
desenvolvidas no âmbito da relação entre a violação e a exclusão social, e 
andamento na busca do desenvolvimento de uma metamorfose de todos aqueles 
complexos que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei e a moral de uma 
cultura política dentro de um Estado, impulsionando a inclusão e trazendo o 
propósito de uma democracia voltada aos direitos humanos e acelerando a fração 
da inclusão. Assim, o presente escrito utiliza-se do método dedutivo de pesquisa, 
compreendendo estudos bibliográficos, em doutrinas, teses, dissertações e artigos 
científicos, além de uma análise crítica à legislação vigente, comparando-a com 
aquelas que não mais vigem atualmente, com o intuito precípuo de aferir o 
desenvolvimento histórico que culminou na presente situação objeto de pesquisa, 
desde tempos históricos até a atualidade. 
 
Palavras-chave: Constituição Federal. Dignidade Humana. Direitos Humanos. 
Exclusão Social. Princípio Fundamental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SILVA, Diéssica Scarlet de Abreu da. Social exclusion: an affront to the principle 
of human dignity. 2020. 61 pages Course Conclusion Paper (Graduation in Law). 
Santo Antônio da Platina Faculty - University Brazil. Advisor: Prof. Me. Christovam 
Castilho Júnior. Santo Antônio da Platina, 2020. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present study has the objective of presenting in a striking way the violation of the 
constitutional principle of the dignity of the human person as a factor that drives 
social exclusion. And, in this way, it seeks to recall through a historical, philosophical 
and legal view of dignity, as well as the presentation of human dignity in the 
democratic state of law in the view of the evolution of this concept. Thus, it 
demonstrates the aforementioned institute of dignity and social integration in the 
modern state and its evolution in relation to social exclusion, mainly in relation to 
society and the transition from the second to the third millennium. In this way, social 
inclusion and participatory public policies developed within the scope of the 
relationship between rape and social exclusion, and progress in the search for the 
development of a metamorphosis of all those complexes that includes knowledge, 
art, beliefs, law and the morals of a political culture within a state, drivinginclusion 
and bringing about the purpose of a democracy focused on human rights and 
accelerating the fraction of inclusion. Thus, this writing uses the deductive research 
method, comprising bibliographic studies, in doctrines, theses, dissertations and 
scientific articles, in addition to a critical analysis of current legislation, comparing it 
with those that are no longer in force, with the main intention of assessing the 
historical development that culminated in the present situation object of research, 
from historical times to the present. 
 
KEYWORDS: Federal Constitution. Human dignity. Human rights. Social exclusion. 
Fundamental Principle. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 
1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS..................................12 
1.1 ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOS ........................................................ ........13 
1.2 DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS......................................15 
1.3 VISÃO HISTÓRICA E FILOSÓFICA DOS DIREITOS HUMANOS......................17 
1.4 DIREITOS HUMANOS X EXCLUSÃO SOCIAL...................................................19 
1.5 A CONQUISTA DOS DIREITOS SOCIAIS NO DIREITO COMPARADO............22 
1.5.1 Constituição Mexicana de 1917........................................................................22 
1.5.2 Constituição Russa de 1918..............................................................................24 
1.5.3 Constituição de Weimar de 1919......................................................................25 
2 OS DIREITOS HUMANOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO..............29 
2.1 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988........................................................................32 
2.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PARÂMETRO ÉTICO-
JURÍDICO...................................................................................................................35 
2.3 A DEFERÊNCIA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO 
PRESSUPOSTO ÉTICO-JURÍDICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS 
ESTADOS DEMOCRÁTICOS....................................................................................37 
2.4 O FENÔMENO DA COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS.................39 
3 A DIGNIDADE HUMANA E A INTEGRAÇÃO SOCIAL.........................................41 
3.1 O ESTADO MODERNO E SUAS EVOLUÇÕES EM RELAÇÃO À EXCLUSÃO 
SOCIAL......................................................................................................................42 
3.2 A SOCIEDADE E A TRANSIÇÃO PARA O TERCEIRO MILÊNIO .....................46 
3.3 A INCLUSÃO SOCIAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARTICIPATIVAS...........48 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................54 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente trabalho tem como objeto o estudo da violação do Princípio 
Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, fazendo uma abordagem técnica 
e analítica do mesmo, bem como trazendo uma visão histórica, filosófica e jurídica 
no bojo do Estado Democrático de Direito. Desta feita, abordará de que forma a 
violação do referido princípio favorece a exclusão social. 
 Segundo se extrai da mais abalizada doutrina, e, consoante entendimento 
majoritário, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é tido como base de uma 
sociedade justa e democrática. Eventos históricos, como a Segunda Guerra 
Mundial, serviram como mola propulsora para pesquisadores e estudiosos do 
assunto, os quais buscaram estabelecer alguns requisitos essenciais à vida 
humana de acordo com o grau evolutivo. 
 A dignidade humana, no contexto contemporâneo, se coloca sempre no 
cerne de qualquer decisão, judicial ou não, servindo como base para todo o 
ordenamento jurídico. Ressalta-se o fato de que tal visão é aceita em diferentes 
partes do mundo como Brasil, Portugal, Alemanha, tendo por base o que dispõe a 
Declaração Universal dos Direitos do Homem. 
 Porém, lamentavelmente ainda encontra-se uma significante parte da 
sociedade privada desse direito extremamente essencial e indispensável à vida 
humana, desencadeando uma ruptura ao ser humano a ponto de o mesmo excluir 
se do meio social, imaginando ser indigno de tal direito e escondendo-se as 
margens da sociedade para não ser notado naquele corpo social. 
 Destarte, a dignidade humana e a integração social, emergem com uma 
função de extrema importância no resgate desses indivíduos que hora foram 
excluídos da sociedade, oferecendo meios para colocá-los de forma igual a seus 
semelhantes observando suas individualidades e sua existência evolutiva do 
nascimento até a morte, atribuindo sentido a vida desses seres humanos por meio 
do trabalho, saúde, educação e convívio social. 
 Onde este resgate se inicia com a restauração, assim, tanto o social como 
individual está intimamente ligada à dignidade humana, faz parte intrinsecamente 
com todo o ser, e esse resgate não se refere a uma visão diferenciada porque o 
indivíduo está em situação especial, mas sim em oportunidades e meios para seu 
desenvolvimento social assim como seus semelhantes. 
11 
 
E neste sentido, a Dignidade da Pessoa Humana encontra-se 
intrinsecamente relacionada com a exclusão social, pois, com a evolução da 
sociedade e a transformação do Estado moderno, perseveravam ideias liberais e 
que valorizavam o Estado mínimo e consequentemente o mesmo não interferiam 
na economia do país e concentrava sua atenção somente em direitos básicos da 
população. Assim os seres humanos eram atingidos diretamente pela exclusão 
social forçada pelo mercado e alavancado pelos meios de produção executados na 
época, até a marcante crise de 1929. 
 Assim, em que surgem os primeiros debates e lutas voltadas exclusivamente 
para áreas sociais e dessa maneira surgem limites e conexões que envolvem o 
Estado, capital e trabalho, estimula a atenção para a sociedade em suas 
necessidades sociais intrínsecas, e assim resgata das profundezas a obrigação do 
ente estatal de mediador com forças políticas para resolver as relações de cunho 
social. 
 Dessa maneira, emergem a inclusão social e políticas públicas participativas, 
com o intuito de alavancar a inclusão social. Sendo assim, a conquista da 
democracia que é elemento incontestável na busca de maior envolvimento a 
políticas públicas voltadas a áreas dos direitos humanos com alcance mundial, 
onde é possível um grande envolvimento em áreas fundamentais como 
desigualdades, desempregos, deficiências educacionais, hostilidade aos direitos 
humanos, saneamento básico, entre tantos outros essenciais que possa contribuir 
diretamente com o fim da exclusão social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 Os Direitos Humanos, por grande parte da população, erroneamente, 
chamado de “direito que protege bandidos”, não deve, sob qualquer hipótese, ter 
sua importância e sua nobreza minimizadas. 
 Tamanha é a sua importância, que o mesmo está relacionado à dignidade da 
pessoa humana. Uma pessoa privada de sua liberdade, de maneira injusta, ou 
mesmo impedida de se alimentar ou de obter educação, moradia e saneamento, 
indubitavelmente tem sua dignidade ofendida. Esse seria um exemplo capaz de 
auxiliar na compreensão dos Direitos Humanos. 
 O Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, assim aduz 
sobre o tema: 
 
O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano 
que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de 
sua proteçãocontra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento 
de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade 
humana pode ser definido como direitos humanos fundamentais 
(MORAES, 1998, p. 59). 
 
 Percebe-se, desse modo, que os Direitos Humanos são direitos naturais, os 
quais sempre existiram, não tendo os mesmos sido criados pelo homem, tendo a 
sociedade, apenas, os reconhecido em seus ordenamentos jurídicos em dado 
momento da história. Na atualidade, inclusive, é possível se falar em direitos 
supranacionais, os quais ultrapassam as fronteiras dos países e superam a 
soberania de Estados. 
 Tais direitos são constantemente violados em países mais pobres, em 
desenvolvimento ou em estado de guerra. Pois bem, estando vinculados à natureza 
humana, são forçosamente abstratos, são de seres humanos de qualquer raça, cor, 
convicção religiosa ou em qualquer continente do planeta. São irrevogáveis, não se 
perdem como o decurso do tempo, visto que estão presos à natureza imutável do 
ser humano. São particulares, pois cada ser humano é ente completo e perfeito, 
mesmo se isoladamente considerados, independentemente da comunidade (não é 
um ser social que só se completa na vida em sociedade). 
 Entretanto, cumpre mencionar que, ultimamente, com a evolução das 
relações jurídicas, tem se reconhecido direitos humanos coletivos, como o Direito do 
13 
 
Consumidor ou o Direito Ambiental, que visa proteger o meio ambiente impondo 
regras contra a poluição. 
 
1.1 ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 De maneira geral, a doutrina concorda acerca da importância de se traçar um 
paralelo entre a origem do constitucionalismo e o surgimento dos Direitos Humanos. 
Posto que toda Constituição, além de a formação do Estado, por meio da criação 
órgãos estatais e da descrição de sua maneira de atuação; objetiva limitar o Poder 
Estatal. Desse modo, garante-se uma íntegra parcela de direitos individuais e/ou 
sociais, os quais não poderiam ser suprimidos, de maneira arbitrária, pelos agentes 
estatais. 
 Tais Direitos Fundamentais, os quais podem ser individuais ou coletivos, 
estão expressos na Carta Magna de 1988, e são conhecidos, são os conhecidos 
Direitos Humanos e devem ser admitidos, independentemente de qualquer previsão 
legal ou constitucional. Cumpre destacar que, em geral, tais direitos são 
indisponíveis, e deveriam anteceder a qualquer outro direito do cidadão. 
 Nesse sentido, Moraes (1998, p. 61), chega a afirmar que: 
 
Os direitos humanos fundamentais, portanto, colocam-se como uma 
das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, 
no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a 
limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade 
humana. 
 
 Na mesma linha, Herkenhoff (1999, p. 33), aduz que os Direitos Humanos 
“são direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo 
contrário, são direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir”. 
 Desse modo, evidencia-se que os direitos fundamentais assumem posição de 
definitivo destaque na sociedade. Sendo que se torna invertida a tradicional relação 
entre Estado e indivíduo, além de se reconhecer que o indivíduo possui, primeiro, 
direitos e, posteriormente, obrigações perante o Estado. Sendo que este tem, em 
relação ao indivíduo, primeiro os deveres e, após, os direitos. Além de o fato de que 
os Direitos Humanos são reconhecidos como a maneira de proteção que os 
cidadãos possuem contra atitudes abusivas, por parte do Estado ou de quem 
detenha poder para lhe representar. 
14 
 
 Os Direitos Humanos, devido à sua importância, ultrapassam o poder 
judiciário, sendo que, não há como se falar em uma prestação jurisdicional deste, 
visto que é dever do Estado como um todo, tendo caráter mais abrangente que o 
jurídico, um caráter político. Importante, ainda, mencionar que, pela sua importância, 
os Direitos Humanos ultrapassam as três esferas do poder: o Executivo, o 
Legislativo e o Judiciário. 
 Destarte, além de o constitucionalismo, tem-se a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão de 1789, como documento que confirma o nascimento dos 
Direitos Fundamentais. Entretanto, a verdadeira preocupação da comunidade 
internacional na promoção de tais direitos, é verificada no pós-guerra em 1945, 
ocasião em que a violação de tais direitos ficou marcadas na história da 
humanidade. 
 Como assevera Piovesan (2000, p. 87): 
 
[…] Muitos dos direitos que hoje constam do “Direito Internacional 
dos Direitos Humanos” surgiram apenas em 1945, quando, com as 
implicações do holocausto e de outras violações de direitos humanos 
cometidas pelo nazismo, as nações do mundo decidiram que a 
promoção de direitos humanos e liberdades fundamentais deve ser 
um dos principais propósitos da Organização das Nações Unidas. 
 
 Importante ressaltar que, embora possuam previsão legal, os Direitos 
Humanos no Brasil, começaram a ser efetivados somente a partir de meados da 
década 1980, no século passado. 
 Promulgada a atual Carta Constitucional, em 1988, houve um resgate da 
cidadania em um país que acabava de sair de um regime de mais de 20 anos de 
governos militares; sendo que, tal resgate ainda não foi concluído em sua totalidade, 
pois passa por obstáculos, como, por exemplo, a falta de informação e a baixa 
escolaridade da população; fatores que tal população desconheça seus direitos 
básicos. Assim, se a população desconhece seus direitos, não há como exigi-los. 
 Desta forma, evidencia-se que, em geral, o cidadão não se enxerga como um 
sujeito de Direitos Humanos, os quais, culturalmente, são atribuídos a camadas 
especiais da população, como presidiários ou pessoas que sofrem violência ou 
abuso de agentes estatais, em geral policiais. 
 
 
15 
 
1.2 DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
 Para uma melhor compreensão acerca do presente trabalho, faz-se 
necessário estabelecer uma distinção entre as expressões “Direitos Humanos” e 
“Direitos Fundamentais”, as quais, frequentemente, são utilizadas como sinônimos. 
Importante mencionar que os Direitos Fundamentais, de certa maneira, são também 
Direitos Humanos, no sentido de que, seu titular, sempre será o ser humano, ainda 
que esteja representado por uma certa coletividade, como povo, nação, Estado. 
 Cumpre destacar que os Direitos Fundamentais são o conjunto de direitos e 
liberdades do ser humano, institucionalmente reconhecidos e positivados no âmbito 
do Direito Constitucional de determinado Estado. Ao mesmo tempo em que os 
Direitos Humanos estão englobados pelo Direito Internacional, independentemente 
de sua vinculação a determinada ordem constitucional, sendo universalmente 
válidos e possuindo caráter supranacional. 
 Importa mencionar a contribuição de Celso Lafer (1988, p.22), ao afirmar que: 
“o valor da pessoa humana enquanto conquista histórico-axiológica encontra sua 
expressão jurídica nos direitos fundamentais do homem”. 
 Relevante considerar que, de toda a sorte, existe uma relação íntima entre os 
Direitos Humanos e os Direitos Fundamentai já que, muitas das Constituições 
originadas após a Segunda Guerra Mundial, possuem inspiração tanto na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, quanto nos documentos 
internacionais e regionais que lhe sucederam. 
 Expressivo, ainda, destacar que, nos últimos anos, tem-se observado um 
processo aproximativo e harmonizador entre o conteúdo das declarações 
internacionais e os textos constitucionais, fato que vem sendo denominado por 
Direito Constitucional Internacional. 
 Em meio às diversas terminologias utilizadas, importa destacar o uso recente 
da expressão “Direitos Humanos Fundamentais”, por parte da doutrina. Todavia, a 
referida terminologia não alcança o conteúdo. E, o uso de uma nova nomenclatura 
só se justifica se ocorrer a associação de novos valores ao novo termo. 
 Referida terminologia,embora não tenha o objetivo de afastar a pertinência 
da distinção traçada ente Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. Todavia, 
revela uma clara vantagem de ressaltar, relativamente os Direitos Humanos de base 
internacional, visto que estes também dizem respeito ao reconhecimento e proteção 
16 
 
de certos valores e reinvindicações essenciais de todo ser humano. Nesse sentido, 
cumpre destacar a fundamentalidade em sentido material, a qual diferentemente da 
formal, é comum aos direitos humanos e aos direitos constitucionais. Percebe-se, 
deste modo, que a fundamentalidade formal é a observada no Brasil, uma vez que 
não existe uma efetiva aplicação dos Direitos Fundamentais previstos no 
ordenamento Jurídico do Estado. 
 Importante se faz atentar ao fato de que não existe uma identidade 
necessária entre o elenco dos Direitos Humanos e os Direitos Fundamentais 
reconhecido, muito menos entre o Direito Constitucional dos Estados e o Direito 
Internacional e, tampouco, entre as Constituições; pelo simples fato de que, em 
grande parte das vezes, o rol de Direitos Fundamentais Constitucionais está abaixo 
do catálogo dos Direitos Humanos constantes em documentos internacionais; à 
proporção que, outras vezes, está bem mais adiante, tal qual ocorre com a atual 
Carta Constitucional Brasileira. 
 Segundo Doroteu (2012, on-line): 
 
É fundamental levar-se em conta a distinção quanto ao grau de 
efetiva aplicação e proteção das normas consagradoras dos direitos 
fundamentais e dos direitos humanos. Sendo que em relação aos 
primeiros, há, geralmente, melhores condições para se 
concretizarem efetivamente em face da existência de instâncias 
dotadas de poder para fazerem cumprir e respeitar esses direitos. 
Ressalta-se o fato de que a eficácia (jurídica e social) dos direitos 
humanos que não fazem parte do rol dos direitos fundamentais de 
determinado ordenamento depende da sua recepção na ordem 
jurídica interna e, ainda, do status jurídico que a mesma lhe atribui, 
vez que lhe falta cogência. Logo, a efetivação dos direitos humanos 
depende da boa vontade e da cooperação dos Estados 
individualmente considerados, e da ação eficaz dos mecanismos 
jurídicos internacionais de controle. 
 
 Infere-se assim que, o processo de positivação dos Direitos Humanos, 
transformando-os em Direitos Fundamentais, gera grande polêmica e debate acerca 
de sua natureza, bem como de seus significados, e de suas implicações políticas e 
jurídicas relevantes, sobretudo quando se destaca o fato de que, tais direitos, não se 
apresentam somente diante do Estado, entretanto, fundamentalmente, como 
oponíveis em relação aos demais cidadãos e nas suas interrelações cotidianas, 
surgindo a expressão “Direitos Públicos Subjetivos”. 
 
17 
 
1.3 VISÃO HISTÓRICA E FILOSÓFICA DOS DIREITOS HUMANOS 
 
 A vida em sociedade trás muitos benefícios ao homem, mas, por outro lado, 
cria – se uma série de limitações que, chegam seriamente a afetar a Dignidade 
Humana. Muitos filósofos interpretaram a vida em sociedade de varias formas e 
maneiras para o melhor convívio em sociedade tendo como finalidade a dignidade 
humana. 
 Segundo Kant (2004, p. 21), “reconhecer a dignidade da pessoa humana, 
significa reconhecer que a pessoa tem valor superior ao objeto, ou seja, a pessoa 
nunca poderá ser comparada a um simples objeto e merece um tratamento 
primordial”. A partir desse destaque a pessoa passou a ser vista de por outro 
ângulo. 
 Do mesmo modo o filósofo demonstra que o homem jamais deve ser 
considerado como coisa material que pode ser percebida pelos sentidos, nem 
mesmo pelo próprio ser, onde fica evidenciado o fundamento basilar de sua 
dignidade em sua capacidade de governar-se pelos próprios meios e seus desejos, 
de estabelecer-se um fim e nunca um meio: 
 
O homem é, duma maneira geral, todo o ser racional, existente 
como um fim em si mesmo, não simplesmente como meio para uso 
arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as 
suas ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo com nas que se 
dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser 
considerado simultaneamente como um fim. Portanto, o valor de 
todos os objetos que possamos adquirir pelas nossas ações é 
sempre condicional. Os seres cuja existência depende, não em 
verdade da nossa vontade, mas da natureza, têm, contudo, se são 
seres irracionais. Apenas um valor relativo como meios e por isso 
se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam 
pessoas, porque a sua natureza os distingue já como fins em se 
mesmos, quer dizer, como algo que não pode ser empregado como 
simples meio e que, por conseguinte, limita nessa medida todo o 
arbítrio (KANT, 2004, p. 25). 
 
 Nesse momento é importante relembrar os fatos históricos que marcou o 
Brasil que ajudou a pensar e defender a dignidade da pessoa humana. Com o fim 
da Segunda Guerra Mundial em 1945 que surge uma pequena mudança, e com o 
fim da Abolição dos Escravos em 1888, fica claro e registrado uma nova visão de 
dignidade humana. Pois por 128 anos perdurou a abolição dos escravos no Brasil. 
18 
 
 A Revolução Industrial no Brasil foi outro marco na década de 1930, com 
muitos pontos positivos e negativos, garantindo os Direitos dos Trabalhadores e 
proibindo o trabalho infantil no Governo de Getúlio Vargas. 
 Em 1988 nasce a Constituição Federal do Brasil, garantindo os Direitos e 
Deveres dos cidadãos, conforme dispõe os artigos 5º e 6º da Carta Magna. 
 Com todas essas mudanças e transformações, fundamentados de maneira 
precípua nos interesses, potencialidades e faculdades do ser humano, sublinhando 
sua capacidade para a criação e transformação da realidade natural e social, e seu 
livre-arbítrio diante de pretensos poderes transcendentes, ou de condicionamentos 
naturais e históricos, de maneira a ressaltar o humanismo, foi o impulso que 
incentivou e suscitou aqueles que aspiram para si ou para outrem, a materialização 
do princípio da Dignidade da pessoa humana. 
 Conforme Gottens (2008, p. 55): 
 
Esta concepção, dotada de profundo humanismo, principalmente 
quando analisada em mundo concreto, onde, infelizmente, o 
homem ainda constitui um meio, não existindo as condições 
necessárias para que se torne um fim, inspirou os que desejam a 
efetiva concretização do princípio da dignidade da pessoa humana 
em nosso mundo. 
 
 Todavia, com os grandes avanços da sociedade e das atrocidades contra a 
humanidade trazidas pela segunda guerra mundial se faz necessário estabelecer 
de forma permanente a dignidade como base do Estado Democrático de Direito. 
 Ao identificar e distinguir aceitando como verdadeiros e indispensáveis ao 
ser humano os direitos como educação, habitação, saúde, liberdade, entre outros 
tantos necessários a caracterização de dignidade, o Estado assume uma 
responsabilidade infinita de garantir verdadeiramente de fato tais direitos elencados 
nos artigo 5º e 6° da constituição Federal do Brasil de 1988, bem como tantos 
outros imprescindíveis a uma vida com dignidade. 
 Para tanto, não deve se criar obstáculos e limites para uma pessoa 
simplesmente por motivos de situação desfavorável em meio social, mas, deve 
respeitar e priorizar as peculiaridades de cada indivíduo, de maneira a atender 
seus valores e sua autonomia e oferecendo oportunidades de participação 
democrática nas decisões que envolvam seu meio social, de maneira a incentivar a 
dignidade no direito e na sociedade com intuito de obstar o incentivo a exclusão. 
19 
 
1.4 DIREITOS HUMANOS X EXLCUSÃO SOCIAL 
 
 Os Direitos Humanos estão presentes na sociedade moderna, entretanto nem 
sempre estiveram, visto que as primeiras iniciativas de garantias, as quais podem 
ser compreendidas como início ou criação dos mesmos, são datadas do século XIV, 
e à medida que à proporção que o capitalismo avança na sociedade, os Direitos 
Humanos, recentemente discutidos e implementados,acabaram entrando em crise e 
vivenciando retrocessos, como se têm relatos em 1825, quando se instaurou na 
França, e a própria Igreja preservou, durante muito tempo, aversão às ideias de 
igualdade e direitos sociais para os trabalhadores, semelhante a Inglaterra, a qual, 
também teve seus atritos políticos. 
 Todavia, de acordo com Trindade (2002, p. 81), “já em 1688 a Inglaterra havia 
acertado o passo com a burguesia que, com exceção dos servos, os demais 
homens livres do reino tinham várias liberdades e garantias através da Magna 
Charta Libertatum”. 
 Desse modo, as mudanças na forma de produção não ocorreram em todos os 
países de forma gradativa, em algumas mais rapidamente. Contudo, cabe destacar 
que as referidas transformações econômicas ocorreram acompanhadas do 
desenvolvimento das nações jurídicas. Segundo Trindade (2002, p. 84): 
 
A figura dos sujeitos de direitos atualmente mais voltada a um sujeito 
de direitos virtuais, pois está basicamente em sua vontade, podendo 
escolher sobre a venda de sua força de trabalho a outro sujeito de 
direitos, sendo essa relação fundamental para o modo de produção 
capitalista. 
 
 Por sua vez, Iamamoto (2009, p. 18), afirma que “[...] a pauperização e a 
exclusão social são a outra face do desenvolvimento das forcas produtivas do 
trabalho social, [...]”. 
 Compreende-se, assim, que o referido modelo de produção acentuou as 
diferenças sociais por meio do desemprego e da alienação do trabalhador em 
relação ao seu produto, entretanto a população organizou-se e iniciou revoluções, 
revoltas e todo tipo de movimentos, com intuito de garantir direitos trabalhistas 
direcionados à redução da jornada de trabalho e ao trabalho menos exaustivo, 
condições dignas de trabalho, seguridade social e questões políticas, ocorrendo um 
significativo avanço no que tange à garantia de direitos. 
20 
 
 De acordo com Bobbio (2004, p. 16-17): 
 
Os direitos humanos são coisas desejáveis, mas mesmo sendo 
desejados, não foram todos reconhecidos até o presente momento. 
Sendo que os direitos do homem são aqueles cujo reconhecimento é 
condição necessária para o aperfeiçoamento da pessoa humana, ou 
para o desenvolvimento da civilização, como saúde e alimentação 
normalmente garantidas pela legislação de cada país, sendo a 
alimentação prioridade absoluta, pois é a garantia à vida, preservada 
pela Organização Mundial da Saúde e outras Organizações Não 
Governamentais (ONGs) do mundo todo e, atualmente, o problema 
está em proteger os direitos adquiridos e não garantir novos. 
 
 Pode-se dizer, então, que em relação aos Direitos Humanos, de modo geral, 
ocorreram avanços nas constituições de vários países, acordos e declarações em 
nível mundial para que os mesmos fossem respeitados e garantidos, diminuindo 
assim a prática de ações desumanas e exclusão social. 
 Destarte, a exclusão social acompanha a história da humanidade, visto que, 
nos documentos e livros mais antigos, é possível encontrar registras desta, como na 
Bíblia, onde é possível encontrar diversas passagens sobre a exclusão dos pobres, 
prostitutas, leprosos, dentre outros. Focault, em sua obra “A história da loucura” 
(1972), discorre acerca da exclusão do louco na sociedade, esquecido em antigos 
leprosários ou em navios que nunca aportavam, com intuito de impedi-los de serem 
integrados à sociedade ou, simplesmente, presos em casas de misericórdia ou 
torres malcheirosas, sem condições de higiene e sem atendimento digno, 
menosprezados à condição semelhante a de animas, em muitos casos. 
 Tal exclusão, mesmo com o avanço na garantia dos Direitos Humanos, os 
quais preveem a inserção e igualdade na sociedade, ainda hoje se faz presente 
como uma mácula cultural. 
 Para Campos (2003, p. 27), “a exclusão é um todo que se constitui a partir de 
um amplo processo histórico determinado que acompanha, em maior ou menor 
grau, a evolução da humanidade” e, no ponto de vista do mesmo autor (p. 29), a 
exclusão social, possui “[...] características de natureza política e econômica fazendo 
com que alguns segmentos sociais sejam algo porque têm, enquanto outros não 
sejam porque não têm e possivelmente, jamais serão, pois nunca terão”. 
 Vê-se assim, que quando se refere ao ter, o autor não se restringe ao ter 
econômico apenas, contudo também ao ter, por exemplo a saúde mental, para que 
esteja inserido na dinâmica sociofamiliar e também produtiva. 
21 
 
 Martins, (1997, p. 14), salienta que: 
 
[...] não existe exclusão: existe contradição, existem vítimas de 
processos sociais, políticos e econômicos excludentes; existe o 
conflito pelo qual a vítima dos processos excludentes proclama seu 
inconformismo, seu mal-estar, sua revolta, sua esperança, sua força 
reivindicativa e sua reivindicação corrosiva. 
 
 Nesse sentido, as pessoas que possuem transtornos mentais acabam sendo 
vítimas de processos de estigmatização e cerceamento, consideradas inaptas para o 
exercício de funções de responsabilidade social ou trabalhista. Todavia, quando ao 
se pensar em processos de reinvindicação, as pessoas com transtornos mentais, 
acabam deixando com que suas pretensões se esvaziem, visto que não há 
credibilidade em condições de lucidez e competência para diferenciar processos 
vinculados ao cotidiano da vida econômica e social. 
 Sassaki (1997, p. 03), traz a inclusão social como: 
 
Um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em 
seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais 
e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na 
sociedade. 
 
 Importa mencionar que ao se pensar em inclusão social, Mittler (2003, p. 
138), afirma que: “os objetivos da inclusão e da justiça social envolvem mudanças 
fundamentais na sociedade e nas nossas assunções sobre o potencial humano”. Vê-
se, assim que é realmente necessário que realmente se mude a forma de encarar as 
pessoas e as relações que se estabelecem dentro do contexto sociofamiliar, para 
que se eduquem e desenvolvam-se valores como o cuidado da vida sob quaisquer 
circunstâncias, mesmo que seja o cuidado para a manutenção da vida social. 
 Cumpre destacar que, sem a vida social, o sujeito perde sua identidade como 
membro integrante da sociedade e, em consequência, como um sujeito que possui o 
direito de estar em convívio com a sociedade e ser respeitado como ser humano 
acima de sua condição de saúde mental. Torna-se um sujeito que tem um 
sofrimento psíquico, porém continua sendo ser humano e manifestando desejos e 
anseios que devem ser levados em consideração. 
 Por derradeiro, relevante destacar que, mesmo assim o sujeito precisará de 
acompanhamento e supervisão dos familiares e órgãos da sociedade civil, os quais 
22 
 
se constituíram com o objetivo de garantir direitos a todas as pessoas quer sejam 
cidadãos de direito efetivo ou em potencial. 
 
1.5 A CONQUISTA DOS DIREITOS SOCIAIS NO DIREITO COMPARADO 
 
 Até por volta do início do século XX, o status de cidadania era composto por 
direitos civis e políticos. Tais direitos, como salienta Marshall (1967) apud Fiorim 
(2006, on-line), “exerciam pouca influência direta sobre a desigualdade social 
inscrita no sistema de classes”. Destarte, os direitos civis, reconhecidos desde a 
revolução Francesa, eram indispensáveis para uma economia de mercado 
competitiva, na proporção em que conferiam igualdade de oportunidades e 
liberdades econômicas aos indivíduos. 
 Destarte, os direitos políticos carregavam o poder de destruir a sociedade 
capitalista, entretanto a consciência potencial exigiria uma inversão de propósitos do 
movimento operário, fato que ocorreria nas primeiras décadas do século XX, época 
em que os ideais revolucionários seriam substituídos pela ênfase na participação 
política eleitoral. Foi nesse momento que ocorreu a incorporação dos direitos sociais 
ao status de cidadania, tencionando o reconhecimento do igualvalor social dos 
indivíduos, assim como a redução de classe e possibilitando igualdade de acesso a 
elementos essenciais do bem-estar social. 
 
Nos anos duríssimos que se seguiram aos escombros da maior 
guerra até então travada pelas nações (1914-1918), as esperanças 
pela universalização dos direitos humanos puderam ser alimentadas, 
pois foi nesse momento que os direitos sociais foram estabelecidos 
pela primeira vez em algumas cartas constitucionais nacionais 
(FIORIM, 2006, on-line). 
 
 Cumpre destacar que, em relação à política, isso significa o abandono da 
doutrina liberal e a constituição de um Estado de caráter social, meramente 
intervencionista. 
 
1.5.1 Constituição Mexicana de 1917 
 
 No México, no final de 1910, eclodiu a primeira revolução popular vitoriosa do 
século XX. A ditadura de Porfírio Díaz mantinha-se no poder desde 1876, ora pela 
23 
 
força, ora mediante eleições fraudulentas, e sustentava-se num bloco social 
integrado por latifundiários, grandes exportadores de minérios e de produtos 
agrícolas, uma Igreja Católica ferrenhamente antiliberal e antissocialista, e o capital 
estrangeiro instalado em vários setores da economia. Nesse mesmo ano, um setor 
das classes dominantes liderado por Francisco Madero tentou pôr em andamento 
um programa de tímidas reformas liberais, que foi derrotado em nova fraude 
eleitoral. Esse fato levou à insurreição armada desse grupo em aliança com os 
camponeses. 
 Segundo Fiorim (2006, on-line): 
 
Várias guerrilhas camponesas brotaram, reivindicando reforma 
agrária, liberdades políticas e direitos sociais. Derrotaram 
militarmente a ditadura e estiveram prestes a tomar o poder – o que 
foi habilmente evitado por seus aliados liberais. A presença decisiva 
das classes populares na revolução mexicana impôs-lhe uma 
dinâmica que produziu, em 1917, uma constituição de vanguarda: 
além de estender os direitos civis e políticos a toda a população, pela 
primeira vez incorporava amplamente direitos econômicos e sociais – 
com o consequente estabelecimento de restrições à propriedade 
privada. 
 
 Destarte, a constituição garantia acesso à educação, laica, gratuita, 
democrática e baseada nos resultados do progresso científico. Considerava a 
democracia não somente uma estrutura jurídica e um regime político, mas também 
um sistema de vida fundado na constante promoção econômica, social e cultural do 
povo (art. 3°). À semelhança dos franceses de 1789, salvaguardava a liberdade 
individual (art. 5°) e religiosa (art. 24). 
 Previa ainda, a supramencionada Carta Constitucional, que “a propriedade 
das terras e das águas compreendidas dentro dos limites do território nacional 
pertence originariamente à Nação, a qual teve e tem o direito de transmitir seu 
domínio a particulares, constituindo a propriedade privada”. Assim, a nação podia 
impor “à propriedade privada as regras ditadas pelo interesse público e regular o 
aproveitamento dos elementos naturais suscetíveis de apropriação, com vistas à 
distribuição equitativa e à conservação da riqueza pública” (art. 27). 
 Trindade (2002, p. 154), menciona que: 
 
Os artigos 34 e 35 estendiam a cidadania a todos os homens e 
mulheres de mais de dezoito anos, assegurando-lhes sufrágio e 
24 
 
elegibilidade universais. Por fim, no artigo 123, a constituição 
descrevia os direitos sociais dos trabalhadores: fixação da jornada de 
trabalho em oito horas; normalização do trabalho infantil e feminino; 
licença maternidade e intervalos para amamentação; repouso 
semanal remunerado; fixação de salário mínimo; isonomia salarial; 
remuneração adicional em horas extras; participação dos 
trabalhadores nos lucros das empresas; encargo patronal pelo 
fornecimento de 20 habitação, escolas, enfermarias e outros serviços 
a seus empregados; responsabilidade patronal pela prevenção de 
acidentes de trabalho; liberdade sindical e direito de greve; 
indenização ao empregado por dispensa sem justa causa; previsão 
de leis instituindo seguros sociais. 
 
 Por derradeiro, cumpre mencionar que, embora mantendo o capitalismo, essa 
foi a constituição socialmente mais avançada até então produzida pela humanidade. 
 
1.5.2 Constituição Russa de 1918 
 
 Após a revolução socialista russa, os delegados populares reunidos na 
assembleia que, naquele momento, encarnou o novo poder revolucionário – o III 
Congresso Pan-Russo dos Sovietes de Deputados Operários, Soldados e 
Camponeses – proclamaram a “Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e 
Explorado”, que viria a ser conhecida como um contraponto proletário à Declaração 
burguesa de 1789. 
 
Essa Declaração inaugurou uma ótica completamente nova da 
abordagem tradicional dos direitos humanos. Em vez da perspectiva 
individualista, de um ser humano abstrato, contida na Declaração de 
1789, a Declaração russa elege como ponto de partida o ser humano 
concretamente existente, que está na sociedade ocupando 
determinada posição social. Ela reconhece que a sociedade 
capitalista está cindida em classes sociais antagônicas e nega a 
noção de sociedade juridicamente igualitária e, portanto, uniforme. 
Assim, a Declaração toma partido dos explorados e procura suprimir 
toda exploração do homem pelo homem a partir da nacionalização 
dos meios de produção, dos bancos e da obrigatoriedade do trabalho 
(FIORIM 2006, on-line). 
 
 Relevante mencionar que, a declaração acima mencionada, será incorporada 
à primeira Constituição da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, em 
julho de 1918. Essa Constituição manifesta o propósito de assegurar liberdade e 
igualdade reais aos que, até então, nunca as haviam tido: os trabalhadores das 
cidades e do campo. Ela assegura a separação entre Estado e Igreja, a liberdade de 
25 
 
expressão (art. 14), de reunião (art. 15) e de associação dos trabalhadores (art.16). 
Garante o acesso à educação (art. 17) e torna o trabalho um dever de todos (art. 
18). No artigo 22 proclama a igualdade de direitos dos cidadãos independentemente 
de sua raça ou nacionalidade e repudia qualquer opressão das minorias nacionais 
ou limitação de sua igualdade jurídica. 
 
É importante notar que tanto a Declaração quanto a Constituição 
silenciaram sobre um ponto que, desde o século XVIII, tornara-se 
crucial no ocidente: as garantias dos direitos individuais. 
Considerando o caráter socialista da revolução 21 em curso, a 
ênfase necessária àquele momento acabou recaindo em medidas 
para a conquista da igualdade, pois se assim não fosse, a 
desigualdade social do capitalismo não seria quebrada (TRINDADE, 
2002, p.157). 
 
 Derradeiramente, cumpre destacar que, a omissão dos direitos individuais 
facilitou a imposição ditatorial do governo central, como demonstrou posteriormente 
a história. 
 
1.5.3 Constituição de Weimar de 1919 
 
 Após a 1ª Guerra Mundial, a Alemanha, destroçada pelo conflito e pelos 
encargos e indenizações de guerra, foi sacudida por uma rebelião, que veio a se 
tornar uma verdadeira guerra civil, culminando na abdicação do Kaiser Guilherme II, 
na proclamação da república e na formação de um governo provisório de caráter 
marcadamente socialista, sob comando do Partido Social-democrata. 
 A socialdemocracia alemã, embora de forte base operária, já havia 
abandonado a perspectiva de revolução social, estando mais preocupada em 
conciliar as contradições sociais nacionais. Estando a Alemanha imersa em grave 
crise econômica e social e ameaçada pelo “perigo vermelho” soviético, a 
socialdemocracia apoiou a elaboração de uma constituição de caráter social, que 
incorporasse todos os extratos sociais, a fim de controlar os movimentos sociais. 
 
Votada em julho de 1919, a Constituição de Weimar estabelece a 
igualdade jurídica dos indivíduos, os direitos civis e as liberdades 
individuais, seguindo a tradição liberal. Assegura a responsabilidade 
do Estado no amparo à maternidade, à saúde e ao desenvolvimento 
social dasfamílias (art.119); a assistência à juventude (art.12); os 
direitos de reunião (art.123); de associação (art.124) e de acesso ao 
26 
 
serviço público (art.128). Garante, ainda, a liberdade religiosa, 
artística, científica e de ensino e assegura a escolaridade obrigatória, 
pública e gratuita (art.145). No plano econômico, indica que a 
organização da economia deve assegurar a todos uma existência 
conforme a dignidade humana, ficando a liberdade econômica 
individual dentro desses limites (art.151). Garante a propriedade 
privada, desde que esta cumpra a sua função social (art. 154); prevê 
a instituição de um direito do trabalho uniforme (art.157) e de um 
sistema geral de previdência social e de proteção à saúde (art.161) e 
assegura a liberdade de associação (art.159). A constituição ainda 
conclama empregados e patrões a colaborarem na regulamentação 
das condições de salário e trabalho, assim como na evolução 
econômica geral das forças produtivas (art.165) (COMPARATO, 
1999, p.187-188). 
 
 A Constituição de Weimar, salienta Trindade (2002, p.162-163): 
 
Foi, do ponto de vista social, mais tímida do que as constituições 
mexicana e russa. Mas, exatamente por procurar um ponto de 
equilíbrio na luta de classes, preservando o capitalismo, inspirou a 
redação de algumas constituições que, nos entreguerras, buscavam 
exorcizar o fantasma da revolução mediante concessões aos 
trabalhadores. 
 
 Essas constituições pareciam supor que a humanidade ingressava em uma 
era que a libertaria das guerras, da exploração do homem pelo homem e a 
resgataria de todas as formas de opressão individual, social, nacional, racial e de 
gênero, superando a intolerância, os preconceitos e as divisões artificiais entre os 
seres humanos. Os acontecimentos posteriores, porém, frustrariam esperanças tão 
otimistas. 
 Apesar de não terem sido postas plenamente em prática, essas constituições 
sinalizam importante mudança na forma como até então a cidadania vinha sendo 
reconhecida, na medida em que incorporam uma categoria inteiramente nova de 
direitos humanos. Elas também significam um avanço na construção do Estado 
Social que será completamente instituído no pós-Segunda Guerra Mundial. Porém, 
antes disso, os direitos humanos passarão por um período de grave crise, diante dos 
governos de ultradireita europeus. 
 
A difícil recuperação europeia dos encargos da Primeira Guerra 
Mundial, associada à grande depressão econômica de 1929, 
pareciam indicar o desmoronamento completo do capitalismo. O 
desemprego castigava os trabalhadores num momento em que os 
sistemas de seguros inexistiam ou ainda eram insuficientes. Essa 
27 
 
situação de crise alimentou os movimentos trabalhistas em suas 
reivindicações por proteção contra as terríveis incertezas do 
desemprego, da doença e dos acidentes, bem como da certeza da 
velhice sem ganhos. Cabe dizer que inexistia qualquer solução para 
tamanha instabilidade no interior do esquema da velha economia 
liberal. Então, como a resolução desse quadro impôs a necessidade 
de ampla transformação do funcionamento da economia e do 
Estado-Nação, pode-se dizer que os reveses econômicos dos 
entreguerras acabaram por deslocar o liberalismo pelo menos até a 
segunda guerra mundial (FIORIM 2006, on-line). 
 
 A reorganização econômica se deu por meio do fortalecimento do Estado 
Nacional nos planos econômico e social. Caberia ao governo erguer barreiras 
alfandegárias visando a proteção dos mercados nacionais, subsidiar as atividades 
produtivas estratégicas, promover o pleno emprego, a fim de diminuir o desemprego 
em massa e institucionalizar uma série de seguros sociais e econômicos para 
garantir que os indivíduos dispusessem de um mínimo bem-estar social. 
 A depressão econômica não atingiu a URSS, que ostentava notável 
crescimento econômico graças aos planos quinquenais pelos quais orientava suas 
políticas econômicas. Não é à toa que a prática do planejamento será adotada 
também por países ocidentais, que em meio à crise econômica buscavam uma 
forma de pôr termo à instabilidade. 
 Muito embora o Estado montado em parte dos países ocidentais nos 
entreguerras tenha caráter notadamente social, reconhecendo e efetivando direitos 
sociais aos cidadãos, os direitos humanos enfrentarão um período de violações 
sistemáticas com a constituição dos Estados nazifascistas na Itália e na Alemanha, 
que conduzirão o mundo à Segunda Guerra Mundial. Somente após esse conflito é 
que os direitos humanos recobrarão lugar de destaque e estarão de modo 
onipresente na agenda internacional. 
 Antiliberal, antimarxista e antidemocrático, o nazifascismo irá se estruturar a 
partir das figuras pessoais de Hitler e Mussolini e orientará suas ações com vistas à 
expansão territorial, ao desenvolvimento industrial, principalmente bélico, e à 
perseguição aos judeus, sobretudo na Alemanha, e aos comunistas. 
 O regime totalitário nazifascista significou a total negação dos direitos 
individuais, civis e políticos, freando o desenvolvimento e a expansão dos direitos 
humanos. Os campos de extermínio dos “imperfeitos” e das “raças impuras” foram o 
maior atentado aos direitos à vida, à igualdade e à liberdade. 
28 
 
 O racismo deformou a concepção de que todo homem tem uma mesma 
natureza e instaurou e demarcou diferenças, o que inviabilizou o discurso e a própria 
ideia de direitos humanos que vinha evoluindo desde 1789. Sem dúvida alguma, foi 
um período de grave crise dos direitos, pois chegou-se a negar validade à sua 
titularidade para todos os seres humanos. Isso afastava tanto a noção de que todas 
as pessoas são naturalmente titulares de direitos (visão jusnaturalista) como as 
várias concepções, entre elas a marxista, que consideram essa titularidade como 
resultado do processo histórico de conquistas sociais. Negado isso, quaisquer 
atentados aos seres humanos podem ser perpetrados sem subterfúgios. 
 
Não há mais necessidade de justificar violações mediante recursos 
da racionalidade. Todos os que, real ou supostamente, se 
interpuserem ao objetivo eleito – salvação da raça, redenção da 
pátria – tornam-se simplesmente obstáculos a serem removidos. Não 
são humanos ou, se o forem, são de uma espécie inferior. Na 
hipótese mais benéfica, inassimiláveis. São, em todo o caso, pouco 
mais que animais – portanto, descartáveis, judeus, comunistas, 
socialdemocratas, sindicalistas, dissidentes católicos e protestantes, 
ciganos, deficientes mentais, eslavos, sérvios e gregos não 
colaboracionistas etc. (TRINDADE, 2002, p.184). 
 
 Analisando esse momento do século XX, Trindade (2002, p. 183) conclui que: 
 
O nazismo e os demais fascismos legislaram e agiram contra a 
humanidade, praticaram políticas racistas, xenófobas e imperialistas, 
dividiram pessoas e populações entre as que deveriam viver e as 
que precisariam ser abolidas, tentaram o extermínio, por métodos 
industriais, de povos inteiros, e levaram 60 milhões de seres 
humanos a morrerem durante a guerra que deflagraram. 
 
 Ante o exposto, vê-se que fora examinada a fase do direito denominada 
expressa, como concreta e limitada, visto que quando as declarações são 
incorporadas às constituições nacionais e medidas políticas são tomadas para sua 
consecução. 
 Findadas as considerações acerca dos Direitos Humanos, bem como 
abordada a conquista dos Direitos Sociais sob a ótica do Direito Comparado, no 
próximo capítulo abordar-se-á a questão dos Direitos Humanos ante o Estado 
Democrático de Direito. 
 
 
 
29 
 
2 OS DIREITOS HUMANOS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
 
 Preliminarmente, importa destacar que a democracia consiste em um 
conjunto de valores alicerçados no conceito da pessoa humana – igualdade, 
liberdade e segurança jurídica -, compreendendo um ponto de vista mais abrangente 
da noção de Estado de Direito, o qual foi construído a partir de uma manifestação 
jurídica da democracia liberal. 
 Desse modo,a hegemonia do liberalismo sucedeu um enfático debate entre o 
Estado de Direito e a sociedade democrática. Assim, as transformações históricas 
revelaram a sua existência insatisfatória, fato que ensejou na criação da ideia de 
Estado Social de Direito, por vezes, dotado de elementos democráticos. 
 Alcança-se, agora, ao Estado Democrático de Direito, recepcionado pela 
Constituição Federal Brasileira de 1988 em seu art. 1º, estabelecendo o regime 
adotado. O mesmo ocorre nas Constituições da República Portuguesa e do Reino 
da Espanha, respectivamente nos arts. 2º (Estado de Direito Democrático) e 10º 
(Estado Social e Democrático de Direito). 
 Aduz Silva (2007, p. 112): 
 
O Estado Democrático de Direito reúne os princípios do Estado 
Democrático e do Estado de Direito, não como simples reunião 
formal dos respectivos elementos, porque, em verdade, revela um 
conceito novo que os supera, na medida em que incorpora um 
componente revolucionário de transformação do status quo. 
 
 Referindo-se aos preceitos históricos, percebe-se que o Estado de Direito tem 
seus pilares no chamado Estado Liberal, ou melhor, Estado Liberal de Direito, cujos 
elementos essenciais são: dependência da lei, sendo que esta representava um ato 
advindo do Poder Legislativo, o qual se incumbia de desempenhar as atribuições em 
nome do povo-cidadão; separação dos poderes, que divide de modo independente e 
harmônico os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com o intuito de asseverar 
a criação de leis, a independência e imparcialidade deste último em razão dos 
demais e coerção dos que detém poder particular; exposição e segurança dos 
direitos individuais. Tais primados denotam os preceitos fundamentais do Estado de 
Direito, fundado na concepção liberal que apoia os direitos do homem, 
transformando os súditos em cidadãos desprendidos. 
 
30 
 
Contudo, características do Estado Liberal como neutralidade e 
individualismo causaram inúmeras injustiças, relevando aos 
movimentos pretéritos a insuficiência das liberdades burguesas e 
ressaltando, deste modo, a necessidade de se propor uma justiça 
social fundamentada no Direito. Assim, converte-se em Estado Social 
de Direito o qual apresenta um Estado despojado do individualismo 
liberal que observa os direitos sociais e as metas de justiça social. 
Tem-se o “Welfare State”, um Estado que visa ao capitalismo, como 
meio de obtenção de produção, e ao bem-estar social da coletividade 
(BESTER, 2005, p. 11). 
 
 Destarte, os países ocidentais, como a Alemanha e a Espanha, aderiram esse 
conceito de Estado Social de Direito no momento que se reportam, em suas 
Constituições, às atividades sociais e econômicas. 
 Não obstante as críticas encetadas a despeito do Estado de Direito e o 
Estado Social de Direito, vê-se que nem sempre houve a preocupação de se 
promover um Estado Democrático. Este, por sua vez, tem seus pilares concatenados 
no primado da soberania popular – evolução do Estado Democrático –, que, 
segundo Ferreira (2002, p. 75): 
 
Representa o poder do povo, expresso pelo eleitorado, de eleger 
seus principais representantes (a cidadania ativa) ou de ser eleito 
(cidadania passiva). Almeja atingir ao princípio democrático a fim de 
se impor a segurança geral dos direitos fundamentais da pessoa 
humana. 
 
 Contudo, relevante mencionar que esse ideal de Estado Democrático 
somente pode ser compreendido a partir da noção de governo do povo, a qual se 
mostra inserida no próprio conceito do vocábulo democracia, sendo necessário 
ponderar de que maneira se atingiu a prevalência de um governo popular e quais 
são as instituições do Estado concebidas pela ratificação desse governo. Após, é 
imprescindível conhecer como o Estado, que foi sistematizado com preceitos 
democráticos, organizou suas teorias que vêm sendo compiladas nas Constituições 
no que diz respeito às formas de Estado e de governo. 
 Infere-se, portanto, que a igualdade apregoada no Estado de Direito, no ideal 
clássico, caracteriza-se na lei (preceito formal e abstrato), não tendo fundamento 
material que se realize na vida concreta. Na experiência frustrada de se conquistar 
um Estado Social de Direito, não foi possível garantir a justiça social nem tão pouco 
31 
 
a participação democrática do povo. Já o Estado Democrático viabiliza meios de se 
prover uma justiça material em todos os seus âmbitos. 
 A ideia de Estado Democrático de Direito não consiste apenas na reunião dos 
conceitos de Estado Democrático e de Estado de Direito. Na verdade, funda um 
conceito novo, atentando-se aos elementos componentes os quais se prevalecem 
na medida em que reúne um componente revolucionário de transformação da 
condição anterior. Dessa forma, é que se denota o impetuoso apreço do artigo 1º da 
Constituição da República do Brasil de 1988, no instante em que se ratifica como 
Estado Democrático de Direito. 
 Tal conceito admite a democracia como sendo o resultado do convívio social 
numa sociedade livre, justa e solidária (artigo 3º da CF), onde o poder emana do 
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (artigo 1º, 
parágrafo único, CF); participativa, uma vez que o povo faz parte do processo 
decisório e da constituição dos atos do governo; pluralista, pois considera a 
universalidade de pluralismo de concepções, etnia e cultura; libertação da pessoa 
humana das formas de opressão. 
 Segundo Díaz (2002) apud Silva (2007, p. 120): 
 
O Estado Democrático de Direito aparece como a fórmula 
institucional em que atualmente, e sobretudo para um futuro, pode vir 
a concretizar-se o processo de convergência em que podem ir 
concorrendo as concepções atuais da democracia e do socialismo. A 
passagem do neocapitalismo ao socialismo nos países de 
democracia liberal e, paralelamente, o crescente processo de 
despersonalização e institucionalização jurídica do poder nos países 
de democracia popular, constituem em síntese a dupla ação para 
esse processo de convergência em que aparece o Estado 
Democrático de Direito. Ainda o mesmo autor, sintetiza e conceitua-o 
como “a institucionalização do poder popular ou, como digo, a 
realização democrática do socialismo. Acaso esteja despontando-se 
uma nova definição para o estatismo, uma vez que o socialismo de 
Marx apresentava imperfeições no instante em que o Estado tem que 
administrar os bens de produção. 
 
 Ainda, Barile (2000) apud Moraes (2004, p. 53) define: 
 
O Estado Democrático de Direito, que significa a exigência de reger-
se por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo 
povo, bem como o respeito das autoridades públicas aos direitos e 
garantias fundamentais. 
32 
 
 Por derradeiro, cumpre destacar que, a Constituição Federal 1988, não 
acolhe inteiramente o socialismo ao declarar, em seu art. 1º, aderente do Estado 
Democrático de Direito, uma vez que somente permite precedentes de cunho social 
com respaldo na dignidade da pessoa humana. 
 
2.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
 Os princípios fundamentais constituem-se em diretrizes basilares que 
impulsionam decisões de cunho político indispensáveis ao estabelecimento do 
Estado Democrático de Direito, definindo lhe a forma de ser. Observa-se que o 
adjetivo fundamental denota a ideia de algo extremamente necessário, sem o qual 
não se permitiria a existência de qualquer alicerce, pelo que tal inserção na Carta 
Magna demonstra o intuito do nobre constituinte em elevar os princípios à função de 
normas que sustentam a ordem constitucional, sendo, deste modo, admitidos como 
fundamentos da República e do Estado Democrático de Direito. 
 Assim, estabelece-se no artigo 1° da Constituição Federal de 1988, o rol de 
princípios fundamentais, dos quais, está presente o princípio da dignidade da 
pessoa humana, in verbis: 
 
Art. 1º – A República Federativa do Brasil, formada pela uniãoindissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I – A soberania; 
II – A cidadania; 
III – A dignidade da pessoa humana; 
IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V – O pluralismo político. 
 
 Seguindo os passos de outros países, a Constituição Brasileira confere ao 
princípio da dignidade da pessoa humana caráter normativo amplo, visto que 
apresenta reflexo perante todo sistema político, social e jurídico. Além disso, 
expressa, de forma veemente, a importância que o Estado atribui à pessoa humana, 
uma vez que aquele existe em razão desta. Portanto, o ser humano representa a 
motivação de toda a atividade estatal. 
 Nesse aspecto, Tepedino (2001, p. 500) destaca que: 
33 
 
A dignidade da pessoa humana torna-se o objetivo central da 
República, funcionalizando em sua direção a atividade econômica 
privada, a empresa, a propriedade, as relações de consumo. Trata-
se não mais do individualismo do século XVIII, marcado pela 
supremacia da liberdade individual, mas de um solidarismo 
inteiramente diverso, em que a autonomia privada e o direito 
subjetivo são remodelados em função dos objetivos sociais definidos 
pela Constituição e que, em última análise, voltam-se para o 
desenvolvimento da personalidade e para a emancipação do homem. 
 
 O lugar proeminente que ocupam os princípios traduz a marca do direito 
constitucional contemporâneo e é consequência do reconhecimento que se aplica 
aos mesmos de plena eficácia, sobrepondo-se, desta feita, ao antigo entendimento 
formalista ou puramente complementar das regras legais. 
 Como salienta Sarmento (2004, p. 42), a ascensão dos princípios hoje vive “a 
sua idade de ouro”. Adiante, o autor acrescenta que: 
 
Simbolizam traves-mestras do sistema jurídico, irradiando seus 
efeitos sobre diferentes normas e servindo de balizamento para a 
interpretação e integração de todo o setor do ordenamento em que 
radicam. Revestem-se de um grau de generalidade e de abstração 
superior ao das regras, sendo, por consequência, menor a 
determinabilidade do seu raio de aplicação. Ademais, os princípios 
possuem um colorido axiológico mais acentuado do que as regras, 
desvelando mais nitidamente os valores jurídicos e políticos que o 
condensam. 
 
 A superioridade dos princípios na Magna Carta é sustentada pelo autor Ivo 
Dantas (2002), o qual defende que a existência daqueles possibilitam a criação de 
um sistema interno de hierarquia na própria Constituição Federal, tendo em vista 
que estão em patamar acima das demais questões preconizadas no texto maior e 
sobre estas, desempenham uma força vinculante, no que tange à atividade 
interpretativa. 
 Em contraposição a esta tese, há a teoria da unidade da Constituição, a qual 
vaticina que as normas constitucionais estão apresentadas e organizadas num 
mesmo plano, sem previsão de hierarquia. 
 A ação imediata dos princípios, decorre do funcionamento de parâmetros 
interpretativos e integrativos, uma vez que apresentam suporte à ordem jurídica sob 
o aspecto de sistema. 
 Nesse ínterim, as normas jurídicas, para grande parte dos juristas, delineiam 
duas estruturas: regras e princípios. Barroso (2003, p. 152) explica: 
34 
 
A dogmática moderna avaliza o entendimento de que as normas 
jurídicas, em geral, e as normas constitucionais, em particular, 
podem ser enquadradas em duas categorias diversas: as normas-
princípio e as normas-disposição. As normas–disposição, também 
referidas como regras, têm eficácia restrita às situações específicas 
às quais se dirigem. Já as normas-princípio, ou simplesmente 
princípios, têm, normalmente, maior teor de abstração e uma 
finalidade mais destacada dentro do sistema. 
 
 Por sua vez, Ávila (2004, p. 31) propõe um conceito que tem a finalidade de 
promover a diferenciação entre as regras e os princípios: 
 
As regras são normas imediatamente descritivas, primariamente 
retrospectivas e com pretensão de decidibilidade e abrangência, para 
cuja aplicação se exige a avaliação da correspondência, sempre 
centrada na finalidade que lhes dá suporte ou nos princípios que lhes 
são axiologicamente sobrejacentes, entre a construção conceitual da 
descrição normativa e a construção conceitual dos fatos. Os 
princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente 
prospectivas e com pretensão de complementariedade e de 
parcialidade, para cuja aplicação se demanda uma avaliação da 
correlação entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos 
decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção. 
 
 Findando a análise das teorias que debatem sobre princípios e regras, cabe 
ressaltar que o constituinte brasileiro não enquadrou a dignidade da pessoa no 
elenco dos direitos e garantias fundamentais, pois preferiu enfatizá-la como princípio 
fundamental. Neste contexto, Sarlet (2002, p. 69-70) ensina que: 
 
O dispositivo que reconhece a dignidade como princípio fundamental 
encerra normas que outorgam direitos subjetivos de cunho negativo 
(não-violação da dignidade), mas que também impõem condutas 
positivas no sentido de proteger e promover a dignidade, tudo a 
demonstrar a multiplicidade de normas contidas num mesmo 
dispositivo. 
 
 
 Deste modo, percebe-se que o constituinte de 1988 preocupou-se em colocar 
a dignidade da pessoa humana em ponto de destaque, isto é, como fundamento da 
República Federativa do Brasil, a partir da perspectiva de Estado Democrático de 
Direito, para demonstrar que o indivíduo é o alvo da moderna estrutura jurídica, bem 
como para esclarecer que qualquer prática que tende a reduzi-la à condição de 
coisa ou que intencione a privá-la dos meios necessários a sua manutenção, não 
será admitida. 
35 
 
 Garcia (2004, p. 54), evidencia que: 
 
Na Constituição brasileira (...), a dignidade da pessoa humana figura 
entre os princípios fundamentais que estruturam o Estado como tal, 
portanto, inserindo-se entre os valores superiores que fundamentam 
o Estado, a dignidade da pessoa representará o crivo pelo qual serão 
interpretados não somente os direitos fundamentais mas, todo o 
ordenamento jurídico brasileiro nas suas variadas incidências e 
considerações. 
 
 A seu turno, Bonavides (2004, p. 233), aduz que: 
 
Nenhum princípio é mais valioso para compendiar a unidade material 
da Constituição que o princípio da dignidade humana. Sua densidade 
jurídica no sistema constitucional há de ser, portanto, máxima e, se 
houver reconhecidamente um princípio supremo no trono da 
hierarquia das normas, esse princípio não deve ser outro senão 
aquele em que todos os ângulos éticos da personalidade se acham 
consubstanciados. 
 
 Assim, o princípio da dignidade da pessoa humana disponibiliza uma área de 
integridade moral a ser resguardada a toda e qualquer pessoa, simplesmente pelo 
fato de existir no mundo, fato este que permite inferir que é um valor que se confere 
elevada importância jurídica. 
 
2.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PARÂMETRO ÉTICO-JURÍDICO 
 
 Examinando este princípio à luz dos acontecimentos históricos, há que se 
realçar a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, como marco 
internacional do avanço da moral da humanidade, visto que, no artigo 1°, expressa o 
compromisso encetado com a dignidade da pessoa humana quando determina que 
“todos os homens nascem iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e 
consciência, devem agir uns para com os outros em espírito e fraternidade". 
 Certamente, este preceito foi inspirado através das experiências desastrosas 
das duas grandes guerras mundiais da primeira metade do século transcorrido, as 
quais contribuíram para reforçar o pensamento jusnaturalista acerca da concepção 
da dignidade da pessoa humana, bem como suportaram a inserção de conceitos 
racionais e laicizados, mantendo, porém, o entendimento de que todos os homens 
são iguais em dignidadee direitos. 
36 
 
 Todavia, no entender de Sarlet (2002, p. 32): 
 
Kant é o filósofo que apresenta a dignidade como fator de autonomia 
sob o olhar ético do ser humano, visto que compreende que este é 
detentor de razão e pode, desta maneira, auto determinar-se e agir 
em conformidade com as exigências legais, colocando-se em 
posição de notável destaque. 
 
 Posto isto, observa-se que o princípio em questão tem a finalidade de permitir 
um progresso ético que viabilizou a introdução do mesmo na ordem universal dos 
direitos fundamentais do homem. Nesta cadência, constata-se que os direitos 
fundamentais estão ligados ao conceito de dignidade de pessoa humana, ainda que 
apresentem conteúdo e forma de aplicações diversas, pois visam assegurar o 
desenvolvimento das pessoas. Ademais, este princípio funciona como elemento 
atrativo daqueles. 
 Sobre o vínculo entre os direitos fundamentais e o princípio da dignidade 
pessoa humana, discorre Sarlet (2002, p. 84): 
 
Neste Contexto, verifica-se ser de tal forma indissociável a relação 
entre dignidade da pessoa e os direitos fundamentais que mesmo 
nas ordens normativas onde a dignidade ainda não mereceu 
referência expressa, não se poderá - apenas a partir deste dado - 
concluir que não se faça presente, na condição de valor informador 
de toda a ordem jurídica, desde que nesta estejam reconhecidos e 
assegurados os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana. 
Com efeito, sendo correta, a premissa de que os direitos 
fundamentais constituem - ainda que com intensidade variável, 
explicitações da dignidade da pessoa, por via de consequência e, ao 
menos em princípio (já que exceções são admissíveis, consoante já 
frisado), em cada direito fundamental se faz presente um conteúdo 
ou, pelo menos, alguma projeção da dignidade da pessoa humana. 
 
 Tal princípio, portanto, apresenta-se como conteúdo indispensável para a 
existência dos direitos e garantias fundamentais do homem, bem como para permitir 
que se viabilize o desenvolvimento moral da humanidade. 
 
Contudo, há que se ressaltar que tem a possibilidade gerar 
implicação de caráter negativo, por via de restrições ao poder público 
e aos particulares, no que concerne às ações que intencionem 
prejudicar a dignidade pessoal, com o fito de transformar o homem 
em objeto, desprovido de autonomia e dignidade. Em oposição 
àquele, existem medidas positivas que tem a finalidade de tutelar 
37 
 
este princípio, através de mandamentos explícitos e implícitos 
(SARLET, 2002, p. 32). 
 
2.3 A DEFERÊNCIA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
COMO PRESSUPOSTO ÉTICO-JURÍDICO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS 
ESTADOS DEMOCRÁTICOS 
 
 A dignidade do indivíduo representa um adjetivo elementar e a origem de 
todos os valores, sobrepondo-se ao direito positivo, ainda que se admita que a 
expressão “dignidade da pessoa humana” é consequência da evolução de 
pensamento da humanidade. Nesse ínterim, a concepção ética faz-se presente em 
todas as épocas para colaborar na formação desse princípio. 
 
Deste modo, considerando que a ética apresenta intensa relevância 
no conteúdo dos direitos fundamentais e na dignidade da pessoa 
humana, importa destacar que as reformas das instituições devem 
ser verificadas a partir de uma análise progressista do agir ético do 
ser humano. As instituições políticas, como preconiza Montesquieu, 
são compostas por um espírito que é um agrupamento de valores e 
costumes vigorante no âmbito popular. A ordem jurídica, como 
elemento único, é insuficiente para transformar os costumes sociais, 
sendo, pois, necessária uma construção lógica e educacional das 
gerações no sentido de promover um respeito à dignidade humana 
de forma consciente (COMPARATO, 2006, p. 414). 
 
 Nesse contexto, entendendo que o reconhecimento dos direitos fundamentais 
do homem é indispensável para se compor um Estado Democrático de Direito, firma-
se a problemática de que se deve repelir toda violação àquele. Em decorrência disso 
que tais direitos são positivados para ensejar e possibilitar que seja efetivamente 
observado pela humanidade. 
 A força jurídica normativa dos princípios constitucionais, em especial o 
princípio da dignidade da pessoa humana é ressaltado por Sarlet (2002, p. 70), ao 
afirmar que: 
 
A qualificação da dignidade da pessoa humana como princípio 
fundamental traduz a certeza de que o artigo 1º, inciso III, da nossa 
Lei Fundamental, não contém apenas uma declaração de conteúdo 
ético e moral mas, acima de tudo, constitui norma jurídico-positiva, 
dotada, em sua plenitude, de “status” constitucional formal e material 
e, como tal, inequivocamente dotada de eficácia. 
 
38 
 
 Sobre o princípio em tela, aponta Silva (2007, p. 94): 
 
Em conclusão, a dignidade da pessoa humana constitui um valor que 
atrai a realização dos direitos fundamentais do homem, em todas as 
suas dimensões, e, como a democracia é o único regime político 
capaz de propiciar a efetividade desses direitos, o que significa 
dignificar o homem, é ela que se revela como o seu valor supremo, o 
valor que a dimensiona e humaniza. 
 
 Infere-se, assim, que a dignidade constitui valor jurídico mais elevado no 
ordenamento constitucional, pois é um valor jurídico supremo. A denotação pré-
positiva da dignidade da pessoa humana é invocada para caracterizar o “fim 
supremo de todo o Direito” ou para determinar a não violação a esse princípio, o 
qual é visto como respaldo jurídico de todo o arcabouço dos direitos fundamentais. 
 A sociedade livre, justa e solidária concatenada na Constituição Federal de 
1988, a qual é regida por preceitos democráticos, somente é oportunizada quando 
se elevou a dignidade da pessoa humana ao patamar de fundamento deste Estado, 
fato este que priorizou o avanço da personalidade das pessoas que compõem a 
sociedade. 
 A teor dessa importância, vê-se que, ao longo do texto constitucional, está 
presente a dignidade da pessoa humana de diferentes formas, como estabelecer o 
escopo da ordem econômica no sentido de destacar a existência digna (artigo 170, 
caput); planejamento familiar calcado neste princípio (artigo 226, § 6º); a dignidade 
da criança e do adolescente (artigo 227, caput). 
 Nesse sentido, Häberle (2005, p. 93-94), aduz que: 
 
Uma Constituição que parte da dignidade humana e de sua proteção 
deve preocupar-se com que essa dignidade (incluindo suas 
vinculações) seja vista com um objetivo pedagógico − desde as 
escolas até a regulamentação da atividade de radiodifusão −, mesmo 
onde a dignidade não esteja textualmente como constituindo objetivo 
pedagógico. Da previsão textual da dignidade deriva sua condição do 
objetivo pedagógico e educativo. A Constituição assume este 
compromisso perante si própria. 
 
 Em igual sentido, manifesta-se Bonavides (2004, p. 240): 
 
Toda a problemática do poder, toda a porfia de legitimação da 
autoridade e do Estado no caminho da redenção social há de passar, 
de necessidade, pelo exame do papel normativo do princípio da 
39 
 
dignidade da pessoa humana. Sua densidade jurídica no sistema 
constitucional há de ser, portanto, máxima e se houve 
reconhecidamente um princípio supremo no trono da hierarquia de 
normas, esse princípio não deve ser outro senão aquele em que 
todos os ângulos éticos da personalidade se acham 
consubstanciados. 
 
 Assim, verifica-se o reconhecimento jurídico e moral do princípio da dignidade 
da pessoa frente aos direitos fundamentais do homem. Porém, é sabido que estes, 
ante determinada situação em concreta, apresenta, entre si, conflito, o que deriva o 
chamado colisão de direitos fundamentais, permitindo a restrição de um para tutelar 
outro. 
 
2.4 O FENÔMENO DA COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
 Primeiramente, importa ressaltar que, a posição axiológica e normativa dos 
direitos fundamentais num Estado Democrático de Direito, a qual parte da premissa 
de que o homem deve ser respeitado

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