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ANÁLISE DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA VIDA PRIVADA PERSPECTIVAS E CONSEQUÊNCIAS - MATHEUS FELIPE DE OLIVEIRA REIS

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Prévia do material em texto

FACULDADE DE SANTO ANTÔNIO DA PLATINA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
MATHEUS FELIPE REIS DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA VIDA 
PRIVADA: PERSPECTIVAS E CONSEQUÊNCIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTO ANTÔNIO DA PLATINA 
2020 
MATHEUS FELIPE REIS DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA VIDA 
PRIVADA: PERSPECTIVAS E CONSEQUÊNCIAS 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à 
Faculdade de Santo Antônio da Platina – 
Universidade Brasil, como requisito parcial obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof. Me. Pedro Gonzaga Alves. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTO ANTÔNIO DA PLATINA 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OLIVEIRA, Matheus Felipe Reis de. 
 
 
Análise da intervenção do Estado na vida privada: perspectivas e 
consequências. / Matheus Felipe Reis de Oliveira – PR, 2020. 
 
68 folhas, 29 cm. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – 
Faculdade de Santo Antônio da Platina – Universidade Brasil. 
 
Orientador: Prof. Me. Pedro Gonzaga Alves. 
 
 Inclui referências. 
 
 1. Direito Constitucional. 2. Direito Público. 3. Intervenção do 
Estado. I. Análise da intervenção do Estado na vida privada: perspectivas 
e consequências. II. Faculdade de Santo Antônio da Platina – 
Universidade Brasil. 
 
 CDU: 342 
 
 
MATHEUS FELIPE REIS DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA VIDA 
PRIVADA: PERSPECTIVAS E CONSEQUÊNCIAS 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à 
Faculdade de Santo Antônio da Platina/Universidade 
Brasil, como requisito parcial para a obtenção do título de 
Bacharel em Direito, com nota final igual a __________ 
conferida pela Banca Avaliadora formada por: 
 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Me. Pedro Gonzaga Alves 
Presidente e Orientador 
 
 
 
 
________________________________________________ 
1ª Examinador 
 
 
 
 
________________________________________________ 
2º Examinador 
 
 
 
 
 
Santo Antônio da Platina – PR, ______ de ______________ de 2020. 
AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida, pela saúde e pelo 
discernimento necessário para estar concluindo o curso de Direito, e me 
possibilitado realizar o sonho de ser advogado. 
 Agradeço a minha família, por todo o apoio e incentivo que me deram, 
durante todos esses 5 anos de dedicação aos estudos. De maneira especial, 
agradeço a minha mãe Ilma, por não ter medido esforços para que eu conquistasse 
esta graduação, assim, como colaborou irrestritamente para que eu alcançasse a 
tão sonhada aprovação no exame da OAB; e, também, ao meu pai Claimilson, por 
ter colaborado substancialmente, desde o início, até o final, para que eu 
conseguisse me formar. 
 Agradeço aos meus avós maternos: Adalgisa e Daniel, por todo o amor, 
apoio, carinho e orgulho recíproco que temos entre nós. E, carinhosamente, 
agradeço ao meu filho, Matheus Jr., meu maior amor, e a inspiração diária da minha 
vida. 
 Agradeço, o meu orientador, professor Pedro Gonzaga, por todos os seus 
ensinamentos durante o curso, e principalmente, pelo auxílio na elaboração desta 
pesquisa, o qual com extrema atenção e destreza, através de sua inteligência, 
competência e exigência, nos fez crescer como acadêmicos e como ser humano. 
 Agradeço ao corpo docente da FANORPI, professores que fizeram parte da 
minha formação, contribuindo imensamente para o meu aprendizado. Estendo os 
agradecimentos à Coordenação do Curso e à direção da Faculdade. 
 Agradeço, por fim, a todos os amigos que fiz durante essa jornada, pessoas 
maravilhosas, que merecem todo o sucesso em suas vidas. 
 A todos que, direta ou indiretamente, tiveram parte nesta conquista, o meu 
muito obrigado! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A nós foi dado o direito de sonhar, e a Deus foi dado 
o poder de realizar nossos sonhos.” (Yla Fernandes) 
OLIVEIRA, Matheus Felipe Reis de. Análise da intervenção do Estado na vida 
privada: perspectivas e consequências. 2020. 68 fls. Trabalho de Conclusão de 
Curso (Graduação em Direito). Faculdade de Santo Antônio da Platina – 
Universidade Brasil. Orientador: Prof. Me. Pedro Gonzaga Alves. Santo Antônio da 
Platina, 2020. 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem por objetivo apresentar o surgimento e evolução da 
sociedade, passando desde o período do estado natural aos dias atuais. Verifica-se 
que o ser humano trocou o estado de natureza onde a liberdade era total, mas 
também a guerra de todos contra todos era constante e o direito era do mais forte, 
para viver em coletividade de forma cooperada, outorgando parte de sua liberdade a 
um terceiro – o Estado – e em troca seria protegido por ele. Todavia, observa-se foi 
que, ao longo do tempo o Estado passou a intervir na vida privada dos indivíduos. 
Então, o presente estudo, tenciona apresentar níveis de intervenção estatal diversos 
ao longo da história, enfocando no estado brasileiro atual, com o fito de contribuir 
como alicerce coadjuvante no posicionamento do Brasil na resolução de problemas 
sociais que só tem se agravado, em decorrência de uma intervenção inadequada do 
estado soberano na sociedade. Intenta-se, ainda, discorrer sobre a Ordem 
Econômica Constitucional Brasileira, tendo por base o art. 170 da Constituição 
Federal de 1988, além de visões doutrinárias sobre o assunto. 
 
 
Palavras-chave: Constituição Federal. Direito Constitucional. Estado Natural. 
Intervenção Estatal. Sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OLIVEIRA, Matheus Felipe Reis de. Analysis of State intervention in private life: 
perspectives and consequences. 2020. 68 pages Course Conclusion Paper 
(Graduation in Law). Santo Antônio da Platina Faculty - University Brazil. Advisor: 
Prof. Me. Pedro Gonzaga Alves. Santo Antônio da Platina, 2020. 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work aims to present the emergence and evolution of society, going 
from the period of the natural state to the present day. It appears that the human 
being changed the state of nature where freedom was total, but also the war of all 
against all was constant and the right was the strongest, to live collectively in a 
cooperative way, granting part of their freedom to a third - the state - and in return 
would be protected by it. However, it was observed that, over time, the State began 
to intervene excessively in the private life of individuals. Therefore, the present study 
intends to present different levels of state intervention throughout history, focusing on 
the current Brazilian state, with the aim of contributing as a supporting foundation in 
Brazil's position in solving social problems that have only worsened, due to 
inadequate intervention by the sovereign state in society. It is also intended to 
discuss the Brazilian Constitutional Economic Order, based on art. 170 of the 1988 
Federal Constitution, in addition to doctrinal views on the subject. 
 
 
KEYWORDS: Constitutional Right. Federal Constitution. Natural State. State 
Intervention. Society. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09 
1 O ESTADO DE DIREITO: CONTEXTUALIZAÇÃO E CONCEITOS ..................... 12 
1.1 SURGIMENTO DO ESTADO .......................................................... .....................12 
1.1.1 O Estado sob diferentes perspectivas...............................................................13 
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO...............................................................16 
1.2.1 Democracia e Estado de Direito........................................................................171.2.2 Estado Social de Direito....................................................................................18 
1.2.3 Estado Democrático..........................................................................................20 
1.2.3.1 Caracterização do Estado Democrático de Direito.........................................21 
1.2.4 O Estado Autoritário..........................................................................................23 
1.3 O ESTADO MODERNO.......................................................................................25 
2 FORMAS DE ESTADO INTERVENTOR E LIMITES DO INTERVENCIONISMO 
ESTATAL...................................................................................................................27 
2.1 O ESTADO INTERVENCIONISTA.......................................................................27 
2.2 ESTADO MÍNIMO................................................................................................28 
2.2.1 Indispensabilidade do Intervencionismo............................................................29 
2.3 O ESTADO LIBERAL...........................................................................................30 
2.3.1 Relação entre Direito e Economia no Estado Liberal........................................33 
2.4 A ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988..............35 
 
3 AUTONOMIA DA VONTADE INDIVIDUAL E INTERVENÇÃO ESTATAL............43 
3.1 RELATIVIZAÇÃO DA AUTONOMIA DA VONTADE............................................43 
3.2 DIREITO À PRÓPRIA VIDA.................................................................................44 
3.2.1 Crime de Suicídio..............................................................................................45 
3.2.2 Direito ao Próprio Corpo....................................................................................46 
3.2.2.1 Crime de Aborto.............................................................................................48 
3.3 LIBERDADE DE UNIÃO CIVIL.............................................................................49 
3.4 AUTONOMIA FAMILIAR......................................................................................51 
3.4.1 Autonomia Familiar na Educação Filosófica dos Filhos....................................52 
3.4.2 Liberdade no Sistema de Educação Intelectual................................................53 
3.5 ESTADO LAICO: LIBERDADE RELIGIOSA........................................................55 
3.6 LIBERDADE NO USO DE ENTORPECENTES...................................................57 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................60 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Na história da humanidade, é possível observar que o ser humano vivia 
isoladamente, estabelecendo contatos apenas para fins de procriação. Seus 
interesses, seguramente, variados provocavam graves conflitos, os quais eram 
solucionados por meio de guerras, quase sempre mortais. 
 Os principais motivos, para ocorrência de guerras, eram variados, tais como: 
conquista de alimentos, posse territorial por fêmeas da espécie. Tal período, 
denominado Estado Natural, era devastador da própria humanidade, visto que 
ocorriam constantes guerras de todos contra todos, tencionando-se satisfazer 
interesses, unicamente, individuais, sendo a tutela do direito pertencente, em sentido 
amplo, ao mais forte. 
 À vista disso, com as constantes guerras de todos contra todos, a 
humanidade não progredida, não evoluía intelectualmente e, consequentemente, era 
totalmente passível à extinção da espécie. 
 Desse modo, em determinado momento, o homem passa a viver na 
coletividade, cedendo seus interesses a um terceiro, o qual passou a tutelar o direito 
de todos. Tal situação, ficou conhecida por Contrato ou Pacto Social. Assim, cada 
indivíduo signatário deste pacto, abdicaria, em parte, de sua liberdade total, a qual 
possuía no Estado Natural ao Estado Soberano, com intuito de que todos pudessem 
viver coletivamente em paz, e em cooperação. 
 Dessa forma, em qualquer momento onde surgisse um conflito entre os 
indivíduos, o Estado, único legitimado para defender os direitos de todos, interviria 
atribuindo o ganho da causa a quem julgasse estar com a razão, vindo a pacificar o 
conflito. Possivelmente, esta seria a condição ideal para a humanidade, se não 
fossem as distorções no processo de intervenção estatal, a qual pode reconduzir o 
Estado Social aos problemas do Estado natural, com acréscimo de outros ônus. 
 Verifica-se, assim, que o Estado possui todo o poder, é legitimado para a 
proteção dos direitos e, portanto, é soberano sobre seus governos. A sociedade é 
governada por um representante que, na constância desta posição, toma decisões 
em nome do próprio Estado. 
Deste jeito, tal representante (monarca, presidente, primeiro ministro, etc.), 
munido de poder, pode intervir na população por interesse próprio ou de um 
10 
 
determinado grupo; também, por imperícia, pode intervir demasiadamente na vida 
do indivíduo, impondo-lhe cerceamento da liberdade, bem como oprimindo-o, 
permitindo conflitos desmedidos e aumentando a desigualdade e a perda da 
dignidade humana. 
Neste sentido, este trabalho tem por propósito discorrer sobre os limites da 
intervenção estatal na vida privada, visando apresentar diversos pontos de vista 
adotados no mundo e ao longo da história, sempre traçando um paralelo com a 
realidade brasileira. 
Objetivando a fundamentação da pesquisa, apresentar-se-á conceitos sobre o 
período pré-social, evolução da história do Estado e da sociedade, assim como o 
ponto de vista dos principais filósofos, sociólogos e juristas acerca do tema. 
Também será apresentada uma breve análise acerca da ordem econômica 
constitucional brasileira, bem como dados das diversas culturas mundiais e 
aplicações das respectivas intervenções estatais e, também, informações estáticas 
sobre os resultados de tais políticas. 
O trabalho será ordenado em três capítulos. No capítulo 1, serão 
apresentadas considerações sobre o conceito de Estado de Direito pela ótica de 
pensadores renomados, assim como será realizada uma contextualização e um 
posicionamento sobre a evolução histórica do Estado. 
No primeiro capítulo, discorrer-se-á, ainda, acerca do período do Estado 
Natural da Humanidade, assim como sobre o surgimento e reconhecimento dos 
direitos naturais, origem e definição do Contrato Social e o primeiro contraponto do 
trabalho: Estado Democrático, Estado Democrático de Direito, Estado Social e 
Estado Autoritário. Posteriormente, ainda, será discorrido sobre as principais 
características do Estado Moderno. 
No capítulo 2, tenciona-se realizar uma análise sobre as formas de Estado 
Interventor e o Limites do Intervencionismo Estatal, discorrendo sobre os conceitos 
de Estado Intervencionista, Estado Mínimo, Indispensabilidade do Intervencionismo 
Estatal e Estado Liberal. Também será apresentada a relação entre Direito e 
Economia no Estado Liberal. 
Ainda no capítulo 2, tenciona-se discorrer sobre a Ordem Econômica 
Constitucional Brasileira, a partir do art. 170 da Constituição Federal de 1988. Para 
tanto, serão comentados, isoladamente, os fundamentos, os objetivos e alguns 
11 
 
princípios gerais da atividade econômica brasileira, intentando estabelecer 
mecanismos que auxiliem na interpretação e compreensão da Ordem Econômica 
Constitucional, atualmente em vigor. 
No terceiro e último capítulo, será dissertado sobre o tema autonomia da 
vontade individual, discorrendo sobre a relativização da autonomia da vontade e 
apresentando exemplos reais que mostrarão maneiras como o Estado intervém na 
vida privada, no dia a diados cidadãos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1 O ESTADO: CONTEXTUALIZAÇÃO E CONCEITOS 
 
 O presente capítulo exporá, historicamente, o surgimento e evolução do 
Estado, bem como seus conceitos à luz dos principais referenciais provindos dos 
filósofos, políticos e escritores atuais em relação ao surgimento do conceito em 
discussão. 
 Da mesma maneira, serão expostas suas principais características, evolução 
do Estado primitivo e exposição das etapas relevantes no período compreendido 
entre o momento primário e o vigente. 
 
1.1 SURGIMENTO DO ESTADO 
 
 Precedentemente às famílias monogâmicas e à propriedade privada, a 
composição da sociedade se dava por grupos materiais, nos quais a paternidade era 
ignorada diante da possibilidade de se averiguar a mesma, sendo a mãe elevada à 
posição ao posto de suprema autoridade familiar. 
 A categorização de tais grupos de famílias ocorria pelos anciãos com a 
participação dos conselhos das tribos; a harmonização social possuía seu alicerce 
nas práticas religiosas, dispondo de relações sociais unicamente pessoais. 
 Com o fim do nomadismo e início do ciclo agropecuarista, surgiu-se a 
necessidade das propriedades privadas, as quais despertaram o interesse das 
garantias sucessórias, fazendo, assim, nascer as famílias patriarcais monogâmicas, 
sendo permitido, porém, garantir a hereditariedade dos bens privados. 
 Deste modo, verificou-se que, a certeza da paternidade com objetivo de 
proteger a transmissão hereditária da propriedade privada não era essencial para 
garantir a segurança dos bens. 
Consequentemente, originou-se uma estrutura política concisa capaz de 
resguardar os direitos, na ocasião ameaçados por ladrões ou invasores; da mesma 
maneira possibilitou-se o surgimento de cooperativa para trabalhos conjuntos onde 
toda a sociedade, ou pelo menos uma parte considerável dela, se beneficiava, como 
barragens, estradas, pontes, canais, etc. 
 Após tal união institucionalizada, a qual possuía suas lideranças dentro de 
uma estrutura política, conseguiu-se, contudo, identificar a origem do Estado. 
13 
 
1.1.1 O Estado sob diferentes perspectivas 
 
Analisando, primeiramente, a visão de Karl Marx (2007), infere-se que, em 
sua opinião, o Estado não se tratava de uma imposição divina e, muito menos, fruto 
de um contrato social, mas sim um meio de assegurar a continuidade da dominação 
das classes mais favorecidas sobre as menos favorecidas, ou seja, a minoria 
burguesa, a qual era detentora da maior parte das propriedades privadas, possuía a 
necessidade de se proteger. 
 
As principais ferramentas empregadas na dominação entre classes 
eram o aparato de ordem (jurídica) e da força pública (policial e 
militar). Assim, o liberalismo define o Estado como garantidor do 
direito de propriedade privada e, reduz a cidadania aos direitos dos 
proprietários privados (CHAUI, 2000, p. 89). 
 
 Nesse sentido, Marx, em sua obra “Manifesto Comunista” (ed. 2007), enxerga 
a propriedade como uma entidade opressora, oposta diretamente à classe operária. 
Nessa ótica, o Estado serviria, apenas como forma de subsidio ao domínio burguês, 
ou seja, uma validação de sua dominação. Para Marx, o capitalista “impõe leis”, as 
quais, por sua vez, são intocáveis na conjuntura do Estado Moderno. 
 Na visão do autor, o capitalismo possui direitos sobre a terra e, ao 
trabalhador, compete, apenas, vender sua força de trabalho e adequar sua vida aos 
moldes do sistema capitalista. 
 Por sua vez, Max Weber, na obra “Ensaios de Sociologia” (ed. 1982), pregava 
a concepção do Estado como um ente que detinha o monopólio da legítima 
utilização da força coercitiva sobre aqueles que governa. 
 Em vista disso, um lado operava sopesando direitos e, consequentemente, 
singularizando os poderes Legislativo e Judiciário, sendo o Legislativo considerado 
mais importante por exercer a representação da população e por objetivar garantir a 
segurança de cada indivíduo e, dessa forma, a ordem política. 
 Para Weber, conforme descrito na supramencionada obra, o Estado tem o 
poder de coerção sobre os indivíduos, bem como de formular leis para exercer o 
controle das condutas da sociedade. Segundo o autor, para que o Estado exista, é 
necessário que os dominados obedeçam às autoridades alegadas pelos detentores 
do poder. Desse modo, o poder do Estado se expressa por meio da grande 
14 
 
quantidade de instituições de administrações públicas, como, por exemplo, o 
parlamento, os militares e assim por diante. 
 
Nesse elastério entende-se que em Weber o Estado é uma forma 
específica de política e essa forma não se define pelo consenso e 
participação popular, mas justamente pelo monopólio da violência. 
Assim, na visão de Weber, o Estado é a “estrutura ou o agrupamento 
político que reivindica com êxito o monopólio do constrangimento 
físico legítimo”. (FREUND, 1987, p. 159). 
 
 Na concepção de Weber, na supramencionada obra, os Estados deveriam 
dispor de representantes soberanos, para exercerem o governo do mesmo, todavia 
para que tal fator ocorresse, deveria ser permitido a sociedade eleger os 
governantes por meio de votação; sendo que, posteriormente, este governante 
deveria formar uma equipe de trabalho composta por membros de sua confiança, 
vindo a constituir um “gabinete”. 
Já, de acordo com Thomas Hobbes, em sua obra “O Leviatã” (ed. 2010), 
essencialmente, o Estado deveria ser uma instituição reguladora das instituições 
entre os indivíduos, sobretudo pelo fato de o homem, em seu estado natural, buscar, 
incessantemente, prover seus anseios de forma egoísta, violenta e vil, instigado 
unicamente por suas paixões. 
Hobbes, na supramencionada obra, divide a humanidade em dois grupos: o 
estado natural e o político social. Para o autor, o estado natural diz respeito a 
completa liberdade do homem, onde o mesmo é favorecido de toda a sorte de 
direito, sem nenhum dever, sendo que, segundo Hobbes, este seria um estado 
pobre, tosco, sórdido, solitário e curto. 
 Todavia, no estado social, existiria um governo que dita ordens com intuito de 
erigir, harmonicamente, uma coletividade dotada não apenas de direitos 
(restringidos), com também deveres. 
 
O homem, por natureza, é egoísta, pois quer fazer apenas o que é 
do seu interesse, sem levar em consideração os anseios dos outros. 
Devido a isso, quando há choques de interesses entre esses 
indivíduos, surgem os conflitos interpessoais, já que “os dois 
desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo, que é impossível ela ser 
gozada por ambos, eles se tornam inimigos. (HOBBES, 1979, p. 74) 
 
15 
 
 Pelo pensamento de Hobbes, exposto na supracitada obra, é possível 
perceber que competiria ao soberano – estado – garantir harmonia, paz e 
segurança, anteriormente garantidas precariamente pela autoridade do senhor 
feudal. 
 Em contrapartida, eram transferidas ao soberano todas as liberdades 
individuais, sendo, dessa maneira, o Estado, o senhor absoluto da vida de todos os 
seres humanos. Desse modo, Hobbes, intitulou o Estado como Leviatã, fazendo 
uma referência ao monstro citado no Livro de Jó, no antigo testamento, o qual diz: 
 
Ninguém é bastante ousado para provocá-lo; O seu coração é firme 
como uma pedra; Não há nada igual a ele na terra, pois foi feito para 
não ter medo de nada; Ele olha com desprezo tudo o que é alto; é rei 
sobre todos os animais orgulhosos. (JÓ in BÍBLIA apud NICEAS, 
2014, on-line) 
 
 Não obstante referida descrição bíblica fazer uma alusão a uma besta 
assustadora, tal animal é o que defende os peixes menores (mais fracos) de serem 
dizimados pelos maiores (mais fortes). Outra analogia, constantemente usada, é a 
de que o Leviatã seria “um gigante cuja carne é a mesma de todos os que a ele 
delegaram o cuidado de os defender" (MARTINS; ARANHA, 2003, p. 86). 
 Assim sendo, infere-se que Hobbes define o Estado comoabsoluto e 
soberano, o que representaria uma condicionante que não existiria no Estado de 
Natureza. 
 Por sua vez, John Locke, na obra “Dois tratados sobre o governo” (ed. 1998), 
mostrava-se crítico das ideias defendidas por Thomas Hobbes, sobretudo a respeito 
da crença do mesmo no direito divino dos reis. Para Locke, todavia, era na 
população, e não no Estado, que se encontrava a soberania. Segundo o autor, 
caberia ao Estado respeitar as leis naturais provindas dos seres humanos. 
 O filósofo também foi grande defensor da separação entre Estado e Igreja, 
sendo que o mesmo apoiava o direito à liberdade religiosa, fato que motivou a Igreja 
Católica a desaprovar, abundantemente, suas ideias. 
 Apesar de defensor da separação entre Estado e Igreja, Locke, na 
supracitada obra, também tutelava a tese de que o poder estatal deveria ser dividido 
em três poderes, sendo: Executivo, Legislativo e Judiciário, considerando o 
Legislativo o mais importante por representar a vontade do povo. 
16 
 
 Embora defendesse a igualdade entre os homens, Locke também era 
favorável à escravidão, não por discriminação racial, entretanto com um pensamento 
claro e objetivo: homens rendidos e capturados em guerras poderiam escolher entre 
ser mortos ou terem a liberdade convertida em escravidão. 
 
1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
 Diante da exposição nos tópicos anteriores, acerca do surgimento do Estado 
em sua forma primitiva e das variadas concepções filosóficas acerca do mesmo, 
ainda no período da idade antiga, este tópico tenciona discorrer sobre o Estado 
Corrente, não omitindo, contudo, que do Estado Antigo ao Moderno, ocorreram 
diversas etapas evolutivas. 
 Com relação a primeira descrição do Estado Moderno, esta encontra-se na 
obra “O Príncipe”, do autor Nicolau Maquiavel, publicado, originalmente no ano de 
1515, onde o mesmo, em desarmonia com o pensamento medieval da época em 
que vivia, defende a existência de um Estado firme o suficiente para conseguir 
enfrentar o poder do papado. 
 Nas palavras de June Müller (1997, on-line): 
 
O pensamento medieval preponderava a concepção dualista cristã 
composta pela Cidade dos Homens (autoridade política) e a Cidade 
de Deus (autoridade divina), sendo esta soberana sobre aquela, pelo 
fato da total submissão do ser social aos designíos divino, 
demonstrada pelos objetivos de construir o reino de Deus na terra, 
conduzir à salvação por intermédio do castigo e remédio à natureza 
decaída humana, obedecer ao governo terreno até o limite do 
governo divino, por meio das ideias de justiça. 
 
 Destarte, os pensamentos de Maquiavel (ed. 2004, p. 25) especificavam 
como características do Estado Moderno: 
 
Decadência do cristianismo e início dos conflitos entre igreja e 
Estado; capitalismo em ascensão; monarquia fortalecida e forças 
políticas concentradas, como exército e cortes de justiça e 
absolutismo do Estado, ocasião em que a burguesia fortemente 
dominou o proletariado, assegurando, apenas aos aristocratas, 
direitos e privilégios. 
 
17 
 
 Em suma, a característica principal do Estado Moderno trata-se da soberania, 
ou seja, concepção em que o soberano (governante) é fidedigno para impor suas 
vontades, ainda que arbitrárias, perante seus súditos (governados), residentes em 
seu território de domínio (território estatal. Para tanto, segundo Araújo (2006, on-
line), alguns meios foram desenvolvidos com intuito de obter um controle sobre a 
política, quais sejam: 
 
– Território definido: foram estabelecidas fronteiras geográficas 
definindo os limites territoriais de cada governo; 
– Idioma comum: um mesmo idioma era falado em cada território 
nacional valorizando a cultura e costumes, outrossim, a possibilidade 
de transmissão das ordens dos monarcas; 
– Centralização da justiça: aplicação de uma legislação una para 
todo o Estado; e 
– Poder militar: para garantir as decisões do governo soberano foi 
necessária a criação de um exército permanente controlado pelo rei. 
 
 Ao analisar a evolução história do Estado, é possível encontrar estudos 
elaborados em distintos enfoques, todavia sempre expressando resultados similares, 
demonstrados por pesquisas doutrinárias a partir do Estado Antigo e do Estado 
Moderno. 
 
1.2.1 Democracia e Estado de Direito 
 
 A democracia como promoção de valores (liberdade, igualdade e dignidade 
da pessoa) de convivência entre os seres humanos, é um conceito mais extensivo 
que o Estado de Direito, o qual originou-se como uma manifestação jurídica da 
democracia liberal. Sua concepção é tão história quanto a da democracia, e se 
engrandece de conteúdo com o passar dos tempos. 
 A evolução histórica e a superação do liberalismo, no qual o Estado de Direito 
se entrelaçou, originam o debate acerca da questão da sua sintonia com a 
sociedade democrática. A reconhecença de sua insuficiência originou o conceito de 
Estado Social de Direito, o qual nem sempre possui conteúdo democrático. 
 Deste modo, inicia-se, agora, o Estado Democrático de Direito, acolhido pela 
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, como sendo um conceito-chave do 
https://www.sinonimos.com.br/reconhecenca/
18 
 
regime adotado, tal como ocorre na Constituição da República Portuguesa (artigo 2º) 
e na Constituição Espanhola (artigo 1º). 
 Assim, o Estado Democrático de Direito concilia o Estado Democrático e o 
Estado de Direito, todavia não se trata apenas de uma reunião formal dos elementos 
de ambas as espécies de Estado. Evidencia, em verdade, um novo conceito, o qual 
incorpora os princípios de ambos os conceitos, entretanto os supera na proporção 
em que agrega um componente revolucionário de transformação do status quo. 
 Para compreender o Estado Democrático de Direito, tem-se, entretanto, que 
discorrer, brevemente, sobre sua evolução e as características de seus 
componentes, para, no final, obter-se um conceito-síntese sobre seu real significado. 
 
1.2.2 Estado Social de Direito 
 
 O individualismo e o abstencionismo ou neutralismo do Estado Liberal 
provocaram imensuráveis injustiças, e os movimentos sociais dos séculos passados 
e deste, em especial, desvendando a insuficiência das liberdades burguesas, 
consentiram que se tivesse consciência da imprescindibilidade da justiça social, 
conforme nota Lucas Verdu apud José Afonso da Silva (1988, on-line): 
 
Mas o Estado de Direito, que já não poderia justificar-se como liberal, 
necessitou, para enfrentar a maré social, despojar-se de sua 
neutralidade, integrar, em seu seio, a sociedade, sem renunciar ao 
primado do Direito. O Estado de Direito, na atualidade, deixou de ser 
formal, neutro e individualista para transformar-se em Estado 
material de Direito, enquanto adota uma dogmática e pretende 
realizar a justiça social. 
 
 Assim, o Estado transforma-se em Estado Social de Direito, ou seja, a 
alcunha social passa a referir-se à correção do individualismo clássico liberal por 
meio da consolidação dos chamados direitos sociais e realização de objetivos de 
justiça social. Qualifica-se no propósito de conciliar, em um único sistema, dois 
elementos: o capitalismo, como condição de produtividade, e a conquista do bem-
estar social geral, exercendo a função de sustentáculo ao neocapitalismo, 
característico do Welfare State. 
 Vale ressaltar que os regimes ocidentais garantem, de maneira explícita ou 
implícita, efetivar o Estado Social de Direito, ao definirem, em suas constituições, um 
19 
 
capítulo de direitos econômicos e sociais. De forma expressa, encontramos esta 
previsão em constituições como a da República Federal da Alemanha e do Reino da 
Espanha, onde os respectivos Estados são definidos como sociais e democráticos 
de Direito. 
 Entretanto, ainda é insuficiente a noção de Estado Social de Direito, mesmo 
que, como Estado Material de Direito, demonstre uma espécie de Estado que seja 
propenso a criar uma situação de bem-estarcoletivo e que garanta o 
desenvolvimento humano. Todavia, apresenta uma manifesta ambiguidade. Em 
primeiro lugar, pelo fato de que a palavra social está submetida a diversas 
interpretações. 
 Todas as convicções, com sua própria visão do social e do Direito, podem 
resguardar uma concepção do Estado Social de Direito, com exceção da ideologia 
marxista, a qual não confunde o social com o socialista. 
 A Itália fascista, a Alemanha nazista, a Espanha franquista, a Inglaterra de 
Churchil e Attlee, a França, com a Quarta República, Portugal salazarista e, 
especialmente, o Brasil desde a revolução de 1930, como bem observa Paulo 
Bonavides (2001, p. 205-206) foram: “Estados sociais, o que evidencia que o Estado 
social se compadece com regimes políticos antagônicos, como sejam a democracia, 
o fascismo e o nacional-socialismo”. 
 Em segundo lugar, cumpre destacar que o importante não é o social, 
qualificando o Estado, ao invés de qualificar o Direito. Talvez, por isso exista alguns 
filósofos exprimam a ideia de que Estado de Direito e Estado Social não podem ser 
fundidos no plano constitucional. Nesse sentido, Elías Díaz (1973) apud José Afonso 
da Silva (1988, on-line) lembra que: 
 
É importante saber se e até que ponto o neocapitalismo do Estado 
social de Direito não estaria em realidade encobrindo uma forma 
muito mais matizada e sutil de ditadura do grande capital, isto é, algo 
que no fundo poderia denominar-se, e se tem denominado, 
neofascismo, uma vez que o grande capital encontrou fácil entrada 
nas novas estruturas demoliberais, chegando assim a constituir-se 
como peça-chave e central do Welfare State. 
 
 Desse modo, ainda que declarado inconstitucional no chamado Estado Social 
de Direito, permanece sob o mesmo, através de grupos políticos e econômicos mais 
reacionários e violentos, uma tendência e uma vocação do capitalismo ao controle 
20 
 
econômico monopolista e à utilização de métodos políticos de caráter ditatorial e 
totalitário, tencionando evitar, maiormente, qualquer eventualidade realmente 
socialista. 
 Desse modo, a expressão Estado Social de Direito surge carregada de 
suspeição, mesmo que cada vez mais tenha se tornado precisa quando se lhe 
acrescenta a palavra democrático, como ocorre nas Constituições da República 
Federal da Alemanha e do Reino da Espanha, onde a terminologia adotada foi 
Estado Social e Democrático de Direito. 
 Todavia, mantendo a alcunha social ligada a Estado, mistura-se a tendência 
neocapitalista e o endurecimento do Welfare State, que, como mencionado acima, 
delimita qualquer passo à frente no que tange ao socialismo. 
 Desse modo, a doutrina aponta que, possivelmente, para caracterizar um 
Estado não-socialista preocupado, todavia, com os direitos fundamentais de caráter 
social, o ideal seria manter a expressão Estado de Direito, a qual já possui um 
sentido democratizante, contudo, para retirar o sentido liberal burguês individualista, 
a doutrina aponta a possibilidade de qualificar a palavra Direito com o social, de 
modo a definir uma concepção jurídica progressistas e aberta, surgindo, então, em 
lugar de Estado Social de Direito, a expressão Estado de Direito Social. 
 
1.2.3 O Estado Democrático 
 
 As ponderações expostas anteriormente, demonstram que o Estado de 
Direito, nem sempre caracteriza Estado Democrático. Sendo que este possui seus 
fundamentos ancorados no princípio da soberania popular, o qual, segundo Emilio 
Crosa apud José Afonso da Silva (1988, on-line): 
 
Impõe a participação efetiva e operante do povo na coisa pública, 
participação que não se exaure, como veremos, na simples formação 
das instituições representativas, que constituem um estágio da 
evolução do Estado democrático, mas não o seu completo 
desenvolvimento. 
 
 Infere-se, desse modo, que referido princípio democrático tem por objetivo 
atuar como garantia geral dos direitos fundamentais da pessoa humana. Nesse 
sentido, opõe-se ao Estado liberal, pois, como menciona Paulo Bonavides (2001, p. 
216): 
21 
 
 
A ideia essencial do liberalismo não é a presença do elemento 
popular na formação da vontade estatal, nem tampouco a teoria 
igualitária de que todos têm direito igual a essa participação ou que a 
liberdade é formalmente esse direito. 
 
 Assim, é possível perceber que o Estado de Direito é originado no liberalismo. 
À vista disso, na doutrina clássica, se baseia na concepção do Direito Natural, 
permanente e ilimitado e, desse ponto, decorre que a lei, a qual realiza o princípio da 
legalidade, além de ser essência do conceito de Estado de Direito, é projetada como 
norma jurídica geral e abstrata. A generalidade da lei estabelece o fulcro do Estado 
de Direito. Nela, está assentado o justo conforme a razão e dela é que flui a 
igualdade. Pode-se dizer que, sendo regra geral, a lei é regra para todos. 
 Infere-se, deste modo, que a igualdade do Estado de Direito, na visão 
clássica, está fundamentada em um elemento formal e abstrato, ou seja, a 
generalidade das leis. Não existe base material que seja realizada na vida concreta. 
 Por este motivo, como tentativa de corrigir isso, originou-se o Estado Social 
de Direito, o qual, por sua vez, não foi capaz de propiciar a justiça social e, 
tampouco, a autêntica e democrática participação do povo no processo político, de 
onde originou-se a concepção mais recente do Estado Democrático de Direito, qual 
seja o Estado legitimamente justo (ou Estado de Justiça material), iniciador de uma 
sociedade democrática, ou seja, aquela que dá início a um processo de efetiva 
incorporação de todo o povo nos mecanismos do controle das decisões, e de sua 
real participação nos rendimentos da produção. 
 
1.2.3.1 Caracterização do Estado Democrático de Direito 
 
 A composição do Estado Democrático de Direito, não se constitui apenas da 
união formal entre os conceitos de Estado Democrático e Estado de Direito. Trata-
se, entretanto, da criação de um novo conceito, o qual leva em conta os conceitos 
de seus componentes, mas o ultrapassa na medida em que incorpora um 
componente revolucionário de variação do status quo. 
 Nesse ponto, tem-se a importância do artigo 1º da Constituição Federal, no 
qual está expresso que a República Federativa do Brasil se Constitui em Estado 
22 
 
Democrático de Direito, não apenas como uma promessa de organização do Estado, 
visto que a Constituição, neste ponto, já o está proclamando e fundando. 
 A Constituição da República Portuguesa, introduz o Estado de Direito 
Democrático, com o substantivo “democrático”, qualificando o Direito e não o 
Estado. 
 Tal fato, trata-se apenas de uma diferença formal, visto que a Constituição 
Brasileira utiliza a expressão mais adequada, ressaltada pela doutrina, na qual o 
substantivo “democrático” qualifica o Estado, fato que difunde os valores da 
democracia sobre todos os seus elementos típicos e, também, sobre o ordenamento 
jurídico. 
 O direito, magnetizado por tais valores, se enriquece dos sentimentos 
populares e tende-se a ajustar-se de acordo com o interesse da coletividade. 
Todavia, segundo José Afonso da Silva (1988, on-line): 
 
O texto da Constituição de Portugal concede ao Estado de Direito 
Democrático, basicamente, o mesmo conteúdo do Estado 
Democrático de Direito, ao afirmar, em seu artigo 29, que ele é 
baseado na soberania popular, no respeito e na garantia dos direitos 
e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e 
organização política democráticas, que tem por objetivo assegurar a 
transição para o socialismo mediante a realização da democracia 
econômica, social e cultural e o aprofundamento da democracia 
participativa. 
 
 A democracia que o Estado Democrático de Direito efetiva, trata-se de um 
processo de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária, onde todo o 
poder emana do povo e deve ser exercido em proveito do mesmo, diretamenteou 
por representantes eleitos; participativa, visto que abrange a participação crescente 
do povo no processo decisório e na formação dos atos de governo; pluralista, pelo 
fato de respeitar a pluralidade de ideias, culturas e etnias. 
 Desse modo, presume-se o diálogo entre opiniões e pensamentos diferentes, 
além de a possibilidade de convivência harmônica entre as variadas formas de 
organização e interesses diferentes da sociedade; há de ser um processo em que se 
libertara a pessoa humana das variadas formas de opressão que não depende 
somente do reconhecimento formal de alguns direitos individuais, sociais e políticos, 
mas, sobretudo, da validade das condições econômicas passiveis de favorecimento 
do seu pleno exercício. 
23 
 
 O Estado de Democracia popular não é subordinado ao monismo ou 
personalismo político, todavia propende-se a realizar uma condensação do processo 
contraditório do mundo atual, manifestando, entre os Estados capitalista ou 
neocapitalista do Ocidente e os coletivistas do Leste. Nesse sentido, se pronuncia 
Elías Díaz (1973) apud José Afonso da Silva (1988, on-line): 
 
Dessa forma, e sem querer chegar com isso apressadamente 'à 
grande síntese final' ou a qualquer outra forma de 'culminação da 
História' (isto deve ficar bem claro), cabe dizer que o Estado 
democrático de Direito aparece como a fórmula institucional em que 
atualmente, e sobretudo para um futuro próximo, pode vir a 
concretizar-se o processo de convergência em que podem ir 
concorrendo as concepções atuais da democracia e do socialismo. A 
passagem do neocapitalismo ao socialismo nos países de 
democracia liberal e, paralelamente, o crescente processo de 
despersonalização e institucionalização jurídica do poder nos países 
de democracia popular constituem em síntese a dupla ação para 
esse processo de convergência em que aparece o Estado 
democrático de Direito. 
 
 Todavia, a Constituição Federal Brasileira de 1988, não chegou a organizar 
um Estado Democrático de Direito de cunho socialista, contudo abriu as 
perspectivas de realização social profunda, por meio da prática dos direitos sociais, 
os quais ela inscreveu, e pelo inteiro exercício dos instrumentos que oferta à 
cidadania, os quais possibilitam a concretização do um Estado de justiça social, 
alicerçado na dignidade da pessoa humana. 
 
1.2.4 O Estado Autoritário 
 
 O Estado Autoritário ou, simplesmente, autoritarismo, trata-se de uma forma 
de uma forma de governo, cuja característica central é a total obediência da 
sociedade aos membros do governo. Desse modo, o formato de governo é 
antagônico ao respeito da liberdade individual. A supramencionada forma de 
governo, obtém poder em despotismos, totalitarismos, em governos autocráticos, em 
ditaduras militares ou, ainda, em democracias liberais. 
 Nessa forma de governo, deve-se haver um único partido político, dissolvendo 
o pluripartidarismo, duramente burocratizado e organizado. No Estado Autoritário, o 
líder é o supremo poder, de forma a não existir autoridade igual ou superior a ele. 
Em outras palavras, os governantes, neste regime, creem que podem limitar ou 
24 
 
suprimir a liberdade individual, com intuito de manter a ordem social. Os poderes 
legislativo e judiciário, bem com os meios de comunicação e as propagandas são 
centralizados na figura do líder. As notícias de circulação, bem como as produções 
artísticas e culturais, são controladas pelo Estado. Atividades intelectuais sofrem 
rebaixamento, ou seja, não é permitido as pessoas habituarem-se ao pensamento e 
à crítica, ao contrário, as mesmas devem ser subordinadas as hierarquias. 
 
O autoritarismo apesar da relação com o militarismo, nem sempre 
caminha junto ao estado militarista, mas para se manter no poder 
precisa daqueles que são os representantes das forças armadas 
nacionais, por isso irá criar relações entre os militares, os políticos e 
os detentores do poder econômico. (ARANHA, 2003, p. 220) 
 
 No Estado Autoritário, o Governo não se preocupa em realizar um controle da 
vida privada de seus cidadãos a fim de reeduca-los à ideologia do regime, todavia 
preocupa-se em tornar a população cada vez mais alienada a realidade, 
oportunizando diversões públicas que as desviem das preocupações políticas. 
 Foi este o caso do Brasil que, no período de 1964 a 1985, teve no futebol o 
centro de suas atenções, sobretudo a partir da eleição indireta do General Emílio 
Garrastazu Médici, o qual estipulou como questão de honra para o país a obtenção 
do tricampeonato na Copa do Mundo de 1970, alcançado de maneira vitoriosa. 
 Segundo Cotrim (2002, p. 435): “esta alienação imposta pelo Governo, 
através do esporte, levou a oposição da época a parodiar Karl Marx, dizendo que o 
futebol é o ópio do povo”. 
 Pode-se dizer, ainda, que os regimes políticos denominados ditaduras 
militares, ocorridos no decorrer da história da humanidade, foram modelos de 
Estado Autoritário, uma vez que implantaram estados de exceção, os quais se 
impuseram por meio da força das armas e por elas foram preservados. 
 Vale ressalta que, o termo autoritarismo, já era vinha sendo discutido desde a 
Grécia Antiga. Os gregos, ao debaterem as teorias e organizações do Estado já 
expressavam sua preocupação com relação a definição do Estado Autoritário. 
 
Segundo Platão e Aristóteles, a marca do autoritarismo é a 
ilegalidade, ou seja, a violação das leis e regras pré-estipuladas pela 
quebra da legitimidade do poder; uma vez no comando, o tirano 
revoga a legislação em vigor, sobrepondo-a com regras 
estabelecidas de acordo com as conveniências para a perpetuação 
deste poder. Aristóteles também definiu que de um lado existe o 
25 
 
caráter puro e sadio da organização política, de outro, sua forma 
viciada e corrompida, ocorrendo o primeiro quando a autoridade 
suprema (individual ou coletiva) é exercida em benefício do interesse 
social; e o segundo, chamado degeneração, quando prevalece o 
interesse particular. (ARANHA, 2003, p. 226) 
 
 Importante destacar, ainda, que, na Grécia Antiga, sob o Governo de Péricles 
(século V a. C) e sob o nome de democracia, ocorreu, na verdade, um governo 
autoritário, o qual impôs medo a população, com o intuito de assumir o controle total 
do Estado. 
 Cumpre trazer à baila a situação de Portugal que, em 1926, sofreu um golpe 
de Estado, transformando-se em uma ditadura que perdurou, aproximadamente, 50 
anos. Outros países como Irã, Iraque, Líbia, Filipina, Angola, Egito, Argentina, 
Paraguai, Cuba, Argélia e até mesmo o Brasil também foram submetidos a tal forma 
de governo. No Brasil, este regime durou por, aproximadamente, 21 anos, tendo 
chegado ao fim no ano de 1985, com a eleição de um civil, Tancredo Neves. 
 Segundo Cotrim (2002, p. 440), algumas das características que ajudam um 
Estado Autoritário a se sustentar, enquanto forma vigente de poder, são: 
 
Exclusividade do exercício do poder; enfraquecimento dos vínculos 
jurídicos do poder político; arbitrariedades; restrição, substancial, das 
liberdades públicas e individuais, alteração da legislação institucional, 
de modo a criar regras para a manutenção do poder; controle do 
pensamento, censura às opiniões; agressividade à oposição; 
cerceamento das liberdades individuais e de movimentação; 
emprego de métodos ditatoriais e compulsórios de controle político e 
social, dentre outras. 
 
 Em síntese, pode-se dizer que o autoritarismo faz parte dos mais antigos 
sistemas de lideranças e é praticado, há milhares de anos, por diversas e grandes 
nações. 
 
1.3 O ESTADO MODERNO 
 
 Ao longo dos anos, foram sendo percebidos diversos problemas sociais, 
resultante das políticas liberais ou, no mínimo, da má aplicabilidade das mesmas. 
Com a interferência do Estado cada vez menor, elevaram-se surpreendentemente 
as desigualdades sociais, provocando exploração de trabalho do mais forte sobre o 
26 
 
mais fraco, emtermos de economia, resultando em muita pobreza e desigual 
alcance dos recursos existentes. 
 
Os Estados europeus, na década de setenta, com mais 
intensidade, começaram a aplicar os conceitos do que viria a ser o 
Estado de bem-estar social (do inglês: Welfare State) como 
alternativa ao modelo liberal que apresentava drástico declínio. No 
Estado de bem-estar, o Soberano troca o papel de mínima 
intervenção na vida dos indivíduos para atuar efetivamente no 
provimento dos serviços de saúde, educação, habitação, 
seguridade social, renda e controle social para erradicação entre as 
classes. (NICEAS, 2014, on-line) 
 
 Entretanto, o padrão do bem-estar também veio a entrar em declínio na 
década de oitenta, com chegada ao poder da Primeira-Ministra inglesa Margareth 
Thatcher, a qual percebeu que a Inglaterra não possuía condições de sustentar tal 
política, decidiu por reduzir o estado, preservando apenas uma pequena estrutura, 
considerada mínima, e privatizando empresas que não possuíssem ligação direta 
com as atividades do governo. 
 Esse modelo de governo adotado na Inglaterra difundiu-se por todo o mundo, 
inclusive no Brasil que adotou o sistema de privatização das estatais, durante o 
governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). 
 Todavia, o Brasil não pode visto como um Estado de Bem-Estar, tal e qual os 
europeus, visto que ainda não foi capaz de implementar referidas políticas e 
tampouco conseguiu reduzir a desigualdade social e promover o bem-estar, por 
intermédio de serviços de qualidade, em áreas como educação, saúde, segurança, 
entre outras. 
 Em resumo, pode-se dizer que o país vive, atualmente, uma era de 
intervenção jurídica como um esforço para compensar, de maneira não preventiva, 
os conflitos sociais. 
 
 
 
 
 
27 
 
2 FORMAS DE ESTADO INTERVENTOR E LIMITES DO INTERVENCIONISMO 
ESTATAL 
 
 O presente trabalho discorreu, até este ponto, sobre a contextualização e 
conceitos do Estado de Direito, assim como sobre o surgimento e a evolução 
histórica do Estado, fazendo, ainda, uma breve análise acerca do Estado Moderno. 
 A partir do presente capítulo serão apresentadas questões acerca das formas 
de Estado Interventor e dos limites de tal intervenção, abordando ainda a ordem 
econômica do Estado Brasileiro, sob a égide da Constituição Federal de 1988. 
 
2.1 ESTADO INTERVENCIONISTA 
 
 Como mencionado anteriormente, o Estado nada mais é do que uma união 
entre os interesses de todos os indivíduos, cujo objetivo central é representá-los e 
protegê-los; atuando como um representante da vontade geral e estando legitimado 
para dirimir conflitos, por meio da intervenção direta ou proporcionando instrumentos 
para que os próprios cidadãos os façam da maneira que melhor lhes for 
conveniente, interferindo somente em situações extrema, ultima ratio. 
 Nesse sentido, cumpre destacar que, segundo Streck e Morais (2004, p. 73): 
 
O Estado Intervencionista, ou simplesmente intervencionismo, trata-
se de um sistema político e econômico, o qual se caracteriza pela 
produção desenvolvida na iniciativa privada, mas regulada pelo 
Estado por meio de mecanismos interventivos. A diferença entre o 
referido sistema e o Estado Social, ou simplesmente Socialismo, 
consiste no fato que, no intervencionismo, a produção se desenvolve 
por iniciativa do governo. 
 
 Assim, no Estado intervencionista, a política do Soberano é a de interferência 
na regulamentação da vida social, através de sanções ao não cumprimento de suas 
regras. 
 Para Streck e Morais (2004, p. 35): 
 
O papel do Estado no intervencionismo exerce-se até onde houver 
interesse da sociedade. O Estado deverá então assumir aquilo que a 
iniciativa privada não assumir. O Estado intervencionista procura o 
equilíbrio entre os direitos sociais e os direitos individuais, 
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/O
28 
 
coordenando as atividades essenciais de manutenção da sociedade 
e promovendo a justiça social, sem ser necessariamente socialista. 
 
 Na referida concepção de Estado, o governo (Estado) adota concepções 
consideradas radicais sob o respaldo de estar agindo em defesa da essencial função 
da sociedade, a qual consiste na preservação da espécie através da cooperação e 
de uma vida pacifica, todavia, em contrapartida, gera maior insegurança, maior 
desordem e maiores possibilidades de ser promover injustiça. 
 Cumpre trazer à baila que, no Estado Intervencionista, os mercados não 
possuem a capacidade de auto equilíbrio, motivo pelo qual não se deve adotar 
política de livre mercado, sem interferência, taxas nem subsídios, apenas com 
regulamentos suficientes para proteger os direitos de propriedade, motivo pelo qual 
os governos possuirão um papel permanente na economia, por meio, a título de 
exemplo, da adoção de políticas estimulantes e seguras para o investimento e para 
o aumento de consumo, de maneira a promover o emprego. 
 
2.2 ESTADO MÍNIMO 
 
 Pelo ponto de vista do Direito, o Estado Mínimo, ou minimalista, é se 
contrapõe radicalmente ao intervencionista. Enquanto no intervencionismo, o Estado 
interfere ao máximo nas relações sociais, no minimalismo o objetivo central é a 
liberdade dos cidadãos, interferindo somente nas questões que julgar de extrema 
importância. 
 
No minimalismo, o Estado desloca parte de suas atividades ao 
cidadão preconizando a não intervenção em prol da liberdade e, por 
conseguinte bem estar de todos. Todavia, a concessão de completa 
liberdade e delegação de suas próprias funções resultaria em um 
retorno do homem ao seu estado natural, dissolvendo a sociedade 
(STRECK; MORAIS, 2004, p. 39). 
 
 Assim, basicamente, o Estado opera como um guardião, o qual vigia 
proximamente as relações sociais, sem interferir, atuando apenas nos casos 
extremamente necessários para se manter a igualdade, a liberdade e o bem estar 
dos cidadãos. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Interven%C3%A7%C3%A3o_do_Estado_na_economia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Subs%C3%ADdio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_de_propriedade
29 
 
 Cumpre trazer à baila que a não interferência do Estado Mínimo de Direito 
abrange os diversos campos de atuação do próprio Direito, como: nos 
relacionamentos sociais de qualquer espécie, nos relacionamentos civis de origem 
contratual e obrigacional; resultando, assim, em uma liberdade e responsabilidade 
econômica, sobretudo no âmbito do Direito Penal. 
 Importante mencionar que, a ideia de Estado Mínimo, presume uma 
transferência das atribuições do Estado perante a sociedade e a economia. Sugere-
se a não-intervenção, e tal afastamento em benefício da liberdade individual e da 
competição entre os agentes econômicos. Devendo, portanto, a regulação 
econômica, ser feita pelas forças do mercado. 
 
Ao Estado Mínimo cabe garantir a ordem, a legalidade e concentrar 
seu papel executivo naqueles serviços mínimos necessários para 
tanto: policiamento, forças armadas, poderes executivo, legislativo e 
judiciário etc. Abrindo mão, portanto, de toda e qualquer forma de 
atuação econômica direta, como é o caso das empresas estatais. A 
concepção de Estado mínimo surge como reação ao padrão de 
acumulação vigente durante grande parte do século XX, em que o 
Estado financiava não só a acumulação do capital, mas também a 
reprodução da força de trabalho, via políticas sociais (STRECK; 
MORAIS, 2004, p. 39). 
 
 Desse modo, na medida em que o Estado deixa de financias políticas sociais, 
torna-se, ele próprio, máximo para o capital. O suporte estatal ao capital, não 
apenas deixa de ser incentivo ao processo de acumulação, assim como ele se 
maximiza diante das precisões cada vez mais inflexíveis do capital financeiro 
internacional. 
 
2.2.1 Indispensabilidade do Intervencionismo 
 
 Faz-se indispensável o agir do Estado quando de suas incumbências 
essenciais, sob pena de se dissolver o estado social e se retornarao estado natural 
do ser humano. Mesmo em um Estado radicalmente minimalista, é inaplicável a 
inexistência de intervenção. 
 
Os indivíduos componentes da sociedade com interesses diversos 
necessitam de um soberano que intervenha não permitindo que se 
transforme em conflitos, e uma vez que este já exista, aplique meios 
30 
 
para pacificá-los. Deve haver também, interferências na área 
econômica, conduzindo a sociedade em uma direção que garanta 
maior condições de sobrevivência que teria cada indivíduo em 
direções antagônicas; um instrumento para alcançar isso seria a 
liberdade contratual desde que se aplique o princípio da função 
social (STRECK; MORAIS, 2004, p. 45). 
 
 Dessa maneira, como garantidor da paz, o Estado de Direito tem o dever de 
aplicar, ainda que de maneira minimalista, regras para eliminar qualquer tipo de 
violência a outras pessoas, por meio de punições que se adaptem à realidade e 
necessidade da cultura em questão, todavia respeitando a dignidade humana. 
 
2.3 O ESTADO LIBERAL 
 
 Primeiramente, cumpre mencionar que, frequentemente, a Revolução 
Francesa é associada ao início das ideias liberais e seu respectivo modelo de 
Estado, visto que o supramencionado período formatou a direção que norteia o 
sistema de ideais políticos e as convicções do século XIX. 
 Nesse sentido, Comparato (2001, p. 51), aduz que: 
 
É relevante o fato de que a Revolução Francesa foi levada a cabo 
principalmente pelas partes mais baixas do Terceiro Estado, ou seja, 
pelos camponeses pobres e então aliados à nascente burguesia. 
Não obstante, em um primeiro momento, os resultados da Revolução 
serviram unicamente aos burgueses, ou seja, aos comerciantes e 
aos proprietários de terras que viam no Estado de Polícia pré-
revolucionário uma restrição completamente que engessou a máxima 
realização de seus interesses. Realizada a Revolução, os burgueses 
cuidaram para que seus efeitos se restringissem a satisfazer seus 
anseios, mas não fossem a ponto de realizar o tipo de justiça social 
almejado pelo campesinato e pelos sans-culottes. As promessas que 
a sociedade liberal lhes havia feito de segurança, legalidade e 
solidariedade não se concretizaram e, já na primeira metade do 
século XIX, a pauperização das massas era notável. 
 
 Relevante se faz ainda mencionar que, no Estado Liberal, ou ainda, no 
Estado Liberal-Democrático, a humanidade testemunhou consideráveis avanços no 
que tange aos avanços dos direitos e garantias individuais. Os direitos 
intransmissíveis do homem deveriam ser conservados e poderiam estar expressos 
na garantia à propriedade, entendida, pelos liberais, como a liberdade, a vida e os 
bens matérias. 
31 
 
 Referidas conquistas poderiam ser exemplificadas por meio do surgimento 
dos partidos políticos – a partir do século XIX, e o mecanismo para retratação da 
sociedade civil, o voto universal. 
 Embora as conquistas da sociedade civil, o liberalismo não alcançou as 
expectativas em termos de emancipação humana, visto que, considerando o caráter 
supressivo do sistema capitalista intensificado pelas consequências da livre-
concorrência, ou seja, a descontrolada competição e a acumulação desigual do 
capital, ocasionaram um aprofundamento do desiquilíbrio social. 
 
O termo “liberalismo” padece de um alto grau de polissemia, pois sua 
formação e maturação como doutrina econômica e ideologia social 
se desenvolveu ao longo dos séculos XVII a XX. Esse período de 
alta ebulição social, política e econômica assistiu ao surgimento do 
Estado Nação, à ascensão da burguesia, ao surgimento e 
predominância do mercado como principal instituição política e 
econômica e à progressiva internacionalização da economia e do 
comércio (POLANYI, 1957, p. 163). 
 
 Assim, o foco político demoveu-se para a implementação de medidas 
populistas, ou de bem-estar social, o que intitulou o chamado período do Estado de 
Bem-Estar Social. 
 Em meio aos avanços ocasionados pelo Estado de cunho liberal, originaram-
se as novas concepções, com intuito de proteger a questão social, diretamente a 
“justiça social”. E, com base nessa concepção, surgiu o denominado Estado do 
Bem-Estar Social, como a interferência do poder político em área, até então, 
exclusivas da iniciativa privada. 
 
Inaugura-se um processo de transformação do papel do Estado 
perante a sociedade. Sob a orientação teórica keynesiana o Estado 
deixa de ser o fiscal ou Estado “polícia”, como sugeriu a “mão 
invisível” de Adam Smith, para expressar-se como um ente protetor e 
assistencialista: “um novo espírito de ajuda, cooperação e serviços 
mútuos começou a se desenvolver e se tornou mais forte como 
advento do séc. XX” (STRECK; MORAIS, 2004, p. 56). 
 
 Essa nova estrutura do Estado, foi desenvolvendo na medida em que as 
crises acirraram, visto que, de acordo com a concepção marxista, as crises 
econômicas são formadas em seu próprio seio, ou seja, o sistema produz suas 
crises. 
32 
 
 De acordo com Bonavides (2005, p. 50): 
 
A livre-concorrência, instituída pela política liberal, provocou a 
eliminação daqueles que não sobreviveram a uma espécie de 
“seleção natural” das indústrias, onde houve o fechamento de 
pequenas empresas que não se adequaram ao jogo de forças do 
livre mercado, inaugurando a fase monopolista do capitalismo. Tendo 
em vista o crescente desemprego, os trabalhadores das indústrias, 
ou o que a teoria marxista denomina como proletários, passam a se 
organizar em sindicatos, que acabam se fortalecendo por meio de 
algumas conquistas trabalhistas, como a redução da jornada de 
trabalho, descanso semanal e férias anuais remunerados, além de 
outras conquistas obtidas por sucessivos embates entre a classe 
burguesa e a classe trabalhadora. 
 
 Importante mencionar que, dentre outras aspirações de cunha social, a 
denominada política protecionista do Estado de Bem-Estar Social, tinha por objetivo 
resgatar empregos para uma relevante quantidade de trabalhadores, os quais 
seguiam à margem do mercado de trabalho. Para tanto, o poder público aproveitou 
parte desta mão de obra nas empresas estatais, além de oferecer subsídios às 
empresas que garantissem a empregabilidade. 
 Cumpre destacar que, segundo Matteuci (1983, p. 687): 
 
Em diferentes locais do globo, a doutrina liberal deparou-se com 
problemas estruturais diferentes, cuja solução influenciou cada forma 
específica de liberalismo e levou à formação de diversas formas de 
pensar – todas liberais, todas compartilhando a mesma essência 
liberal –, mas ao mesmo tempo diferentes em muitos aspectos 
relevantes. Assim, até hoje o termo “liberal” tem significados 
diferentes conforme o país em que é pronunciado. 
 
 Importante salientar, também, que o pensamento liberal provocou, juntamente 
com a Revolução Política que dele se originou, uma separação entre negócio 
público e privado, ou seja, uma ruptura entre os assuntos de competência do Estado 
(que tem por função ocupar-se com a política, ou seja, com questões da esfera 
pública) e os de competência da sociedade civil (cujo objetivo seria ocupar-se de 
atividades particulares, sobretudo no campo da economia). 
 Relativamente à política liberal econômica, Dallari (2003, p. 66-67) ensina 
que: 
 
33 
 
Contrariando os postulados da política econômica liberal, a postura 
do poder público se fortaleceu, nas primeiras décadas do século XX, 
pela teoria do inglês John Maynard Keynes, onde o mesmo previu 
uma interferência direta do Estado na política econômica, tanto no 
mercado econômico quanto na esfera social. A política financeira do 
Estado “social” acarretou severas críticas ao custo desta orientação 
política, pois a manutenção da máquina administrativa, ampliada 
para atender às novas determinações do Estado provedor, advinha 
basicamente da cobrança de impostos da classe burguesa e de 
alguns segmentos de posição financeira privilegiada. 
 
 Por fim, faz-se importante mencionar que,o pensamento liberalista, defende a 
criação de instituições que propiciem aos cidadãos voz ativa nas decisões políticas. 
A partir disso, passou a ocorrer o fortalecimento do Parlamento, órgão, por 
excelência, de representação das forças que atuam na sociedade e com capacidade 
para controlar os excessos do poder central. 
 
2.3.1 Da relação entre Direito e Economia no Estado Liberal 
 
 O novo ordenamento implantado pelo Estado Liberal, tem concepção central 
um mercado natural, em que a atuação de todos os participantes é a conquista de 
seus interesses individuais sem amarras, substituindo um mercado artificial, repleto 
de limitações e calcado pela insegurança gerada pelo poder irrefutável do soberano. 
 Segundo Gomes (2000, p.06): 
 
O Direito foi posto à disposição da liberalização econômica por 
intermédio da criação de institutos como o negócio jurídico e o 
contrato e da consequente elevação da liberdade contratual a axioma 
central do ordenamento. 
 
 Dessa maneira, a igualdade exclusivamente formal entre as partes, garantiria 
a equiparação entre os contratantes; o contrato de trabalho era conduzido, 
unicamente pela vontade das partes, sem os problemas das corporações de ofícios 
ou os vínculos feudais de subserviência e recíproco auxílio. 
 Importante mencionar que, o mercado natural, tem como característica a 
extensa abstenção do Direito (ao menos no plano ideal) na regulamentação da 
economia; de modo que, o Direito controlava os contratos e a propriedade, todavia 
não na qualidade de institutos econômicos. 
 
34 
 
 De acordo com Moreira (1973, p. 75): 
 
Assim, a economia é “jogada para fora do direito”, eis que as 
instituições jurídicas de cunho econômico não eram reconhecidas 
como tais. Elas integravam o âmbito do Direito Privado, eram diluídas 
nas relações entre os particulares. 
 Vale trazer à baila que as limites impostos, no Estado Liberal, ao poder do 
soberano constituem o objetivo do movimento que culminou nas origens da 
mencionada filosofia política, visto que, como dito anteriormente, a corrente filosófica 
que se sobressaiu com o findar da Revolução Frances, tencionava a o surgimento 
de um mercado autorregulado, livre de interferências estatais de qualquer gênero. 
 
Por meio da concepção de lei “geral e abstrata” portadora de uma 
igualdade estritamente formal e do abstencionismo econômico, o 
Estado Liberal atribuiu segurança jurídica às trocas mercantis, criou 
um mercado de trabalho repleto de mão de obra barata e assegurou 
à iniciativa privada a realização de qualquer atividade potencialmente 
lucrativa (POLANYI, 1957, p. 73). 
 
 Conhecida essa característica abstencionista, faz-se relevante mencionar que 
qualquer atuação do Estado Liberal, tinha por base a premissa de somente 
considerar legítima a ação estatal estritamente necessária; sendo que, esse critério 
de necessariedade, apenas se efetiva quando a atuação estatal intente preservar a 
segurança individual dos cidadãos. 
 
Levando em consideração que a Revolução Francesa, passo mais 
importante para a consolidação desse modelo estatal, foi idealizada e 
realizada em prol da burguesia, parece seguro concluir que o Estado 
Liberal é um Estado Burguês. Temos, portanto, na feliz expressão de 
Carl Schmitt (1934, p. 145), um Estado Burguês de Direito cuja 
Constituição corresponde aos ideais do individualismo da burguesia 
e contém em seu bojo uma escolha pela liberdade. Mas note-se: pela 
liberdade burguesa. Ou seja: pela liberdade contratual, pela liberdade 
de propriedade, de comércio e de indústria. Dessa liberdade 
burguesa Carl Schmitt (1934, p. 147) aponta duas consequências 
básicas presentes em todas as constituições liberais. São elas: (i) o 
princípio da distribuição, segundo o qual a liberdade do indivíduo é 
um dado anterior ao Estado, e, em princípio, ilimitada (ao revés, o 
poder do Estado de invadir a esfera de liberdades individuais está, 
em princípio, limitado – direitos fundamentais de liberdade); e (ii) o 
princípio da organização, cuja finalidade é pôr em prática o princípio 
da distribuição, de modo que o poder do Estado se divida em feixes 
de competência atribuídos a órgãos diferentes – separação de 
poderes (MIRANDA, 1997, p. 87). 
 
35 
 
 Pertinente mencionar, ainda, que a caracterização do Estado Burguês de 
Direito, mencionado acima pelo autor, ocorre mediante uma ideologia de 
manutenção do status quo de repulsa à mudança. Seu intuito é sua própria 
autocontenção, concretizando apenas as possibilidades que representem ameaça à 
segurança individual; de maneira que, toda ação política de cunho transformador se 
encontra, de modo automático, fora de tal espectro e, consequentemente, distante 
do campo da legalidade. 
 Relevante se faz, também, expor que, referida forma de Estado de Direito 
permite que, como demonstrado, um sem número de injustiças se mantenham sob o 
amparo da lei. 
 
Em termos abrangentes, é essa perspectiva que norteará a 
existência do Estado Liberal durante todo o século XIX, 
principalmente durante seu apogeu pós-1848, momento em que a 
quantidade de riquezas produzidas possibilitou algumas concessões 
sociais que acalmaram as massas (LASKI, 1973, p. 172). 
 
 Derradeiramente, importa trazer à baila que o apogeu do Estado Liberal, 
perdurou por cerca de meio século, somente entrando em decadência a partir de 
1880, simultaneamente ao fim dessa fase do capitalismo; sendo que o espírito liberal 
sofreu forte abalo devido à Primeira Guerra Mundial, época em que passou a existir 
um forte tendência do Estado do Bem-Estar, não sendo mais possível falar sobre um 
Estado Liberal nos moldes acima retratados. 
 
2.4 A ORDEM ECONÔMICA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 
 
 Inicialmente, cumpre mencionar que as bases constitucionais do atual sistema 
econômico do Estado Brasileiro, estão dispostas entre os arts. 170 a 192, da 
Constituição Federal de 1988. 
 Desse modo, a ordem econômica, identificada em nossa Carta Constitucional 
vigente, trata-se de uma forma econômica capitalista, visto que está, inteiramente, 
apoiada na apropriação privada dos meios de produção e na iniciativa. 
 Acerca do tema Horta (apud Moraes, 2008, p. 796), afirma que: 
 
O texto constitucional na ordem econômica está impregnado de 
princípios e soluções contraditórias. Ora reflete um rumo do 
36 
 
capitalismo liberal, consagrando os valores fundamentais desse 
sistema ora avança no sentido de intervencionismo sistemático e do 
dirigismo planificador, com elementos socializadores. 
 
 
 Dispõe a Carta Constitucional, in verbis: 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos uma 
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados 
os seguintes princípios: 
I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento 
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e 
de seus processos de elaboração e prestação; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte 
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e 
administração no País. 
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer 
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos 
públicos, salvo nos casos previstos em lei (BRASIL, 1988). 
 
 Da leitura do texto constitucional, é possível inferir que a ordem Econômica 
Constitucional do Estado Brasileiro, tem como princípios a valorização do trabalho 
humano e a livre iniciativa privada. 
 Com relação a valorização do trabalho, vale mencionar que também é 
fundamento da República Federativa do Brasil, nos termos do art. 1º, IV, da 
Constituição Federal, inferindo-seque a valorização do trabalho é um princípio e, 
mais precisamente, segundo a lição de Canotilho (2006, p. 201), “um princípio 
político constitucionalmente conformador”. 
 Vê-se, desse modo, que a valorização do trabalho se trata de um princípio 
destacado pelo legislador constituinte dentro do estilo consolidado pela doutrina 
social da igreja, tornando-se um valor cristão. 
 Por sua vez, o eminente Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, 
Eros Grau (2004, p. 162) assevera que: 
 
37 
 
Esta caracterização principiológica, denota uma preocupação com 
um tratamento peculiar ao trabalho que, em uma sociedade 
capitalista moderna, se peculiariza na medida em o trabalho passa a 
receber proteção não meramente filantrópica, porém politicamente 
racional 
 
 Acompanhando o raciocínio do eminente Ministro, infere-se que trabalho está 
relacionado ao fator social da produção, todavia ele encontra-se muito mais à frente 
da necessidade econômica de suprir as necessidades materiais, trata-se de uma 
necessidade característica da natureza humana. 
 Silva (2001, p. 766), por sua vez, alerta que: “nossa ordem econômica 
embora de natureza capitalista que “dá prioridade aos valores do trabalho humano 
sobre todos os demais valores da economia de mercado”. 
 A seu turno, a livre iniciativa, como segundo fundamento da ordem 
econômica, é, também princípio da República Federativa do Brasil (art. 1º, IV, CF). 
Trata-se, portanto, segundo Araújo e Serrano Júnior (2006, p. 466), também de: 
 
Princípio político constitucionalmente conformador, que segundo 
possui uma densidade normativa, da qual se pode extrair a faculdade 
de criar e explorar uma atividade econômica a título privado e a não 
sujeição a qualquer restrição estatal, senão em virtude de lei. 
 
 Nesse sentido, percebe-se que, a premissa da livre iniciativa, possui um 
sentido normativo positivado (liberdade a qualquer pessoa) e, de igual forma, um 
atributo negativo (imposição da não-intervenção estatal). 
 Silva (2001, p. 767), comenta que: 
 
A livre iniciativa consagra uma economia de mercado, de natureza 
capitalista, já que a iniciativa privada é um princípio básico da ordem 
capitalista, e afirma também que a liberdade de iniciativa envolve a 
liberdade de indústria e comércio ou liberdade de empresa e a 
liberdade de contrato. 
 
 Contudo, em contrapartida, Eros Grau (2004, p. 186-187) reconhece e insiste 
que: 
 
A liberdade de iniciativa não se identifica apenas com a liberdade de 
empresa, pois ela abrange todas as formas de produção individuais 
ou coletivas, dando ensejo às iniciativas privada, cooperativa, 
autogestionária e pública. 
 
38 
 
 Todavia, é cediço que a livre iniciativa possui seu ponto sensível na 
denominada liberdade empresarial, a qual, segundo Vaz (apud Araújo; Serrano 
Júnior, 2006, p. 465), pode ser entendida sobre três vertentes: “liberdade de 
investimento ou acesso; liberdade de organização; liberdade de contratação”. 
 Relevante registrar também, que os supramencionados fundamentos da 
valorização do trabalho humano e da livre iniciativa, possuem como objetivo garantir 
a todos uma digna existência, segundo os ditames da justiça social. 
 Assim, importa mencionar que existência digna é o intuito ou objetivo da 
ordem econômica. Cumpre registrar que a Carta Magna, em seu art. 1º, III, 
engrandece, também, a pessoa humana como fundamento da República Federativa 
do Brasil. A dignidade da pessoa humana ou, simplesmente, existência digna, 
respalda e confere unidade não apenas aos direitos fundamentais, entretanto 
também à ordem econômica. Sob tal aspecto, é a conceituação de Silva (2001, p. 
769): 
 
Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o 
conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o 
direito à vida. Concebido como referência constitucional unificadora 
de todos os direitos fundamentais [observam Gomes Canotilho e 
Vital Moreira], o conceito de dignidade da pessoa humana obriga a 
uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido 
normativo-constitucional e não uma qualquer ideia apriorística do 
homem, não podendo reduzir-se o sentido de dignidade humana à 
defesa dos direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a nos casos 
de direitos sociais, ou invoca-la para construir ‘teoria do núcleo da 
personalidade’ individual, ignorando-a quando se trate de garantir as 
bases da existência humana. Daí decorre que a ordem econômica há 
de ter por fim assegurar a todos existência digna (art. 170), a ordem 
social visará a realização da justiça social (art. 193), a educação o 
desenvolvimento da pessoa e o seu preparo para o exercício da 
cidadania (art. 205) etc., não como meros enunciados formais, mas 
como indicadores do conteúdo normativo eficaz da dignidade da 
pessoa humana. 
 
 No que tange à ordem econômica possuir como consequência a justiça social, 
cumpre observar que tal expressão (justiça social) não possui sentido único, sendo 
seu uso divulgado, em especial, pela doutrina social da Igreja, podendo ser 
considerada como, a “virtude que ordena para o bem comum todos os atos humanos 
exteriores” (FERREIRA FILHO, 2007, p. 359). 
 Também, nesta direção de raciocínio, Eros Grau (2004, p. 208) menciona 
que: “a justiça social, inicialmente quer significar superação das injustiças na 
39 
 
repartição, a nível pessoal do produto econômico (…) passando a consubstanciar 
exigência de qualquer política econômica capitalista”. 
 Vale também destacar a lição de Silva (2001, p. 770), o qual anuncia que: “a 
“justiça social só se realiza mediante equitativa distribuição da riqueza”. 
 Vê-se, assim, pela posição de ambos os autores, que a distribuição de 
riqueza possibilita que o capitalismo se humanize. 
 Ocorre que, de acordo com Bulos (2007, p. 1238): 
 
Um dos instrumentos de tutela dos hipossuficientes (CF, art. 6º) que 
até hoje, não saiu do papel. O espírito do neoliberalismo não 
conseguiu estancar as desigualdades sociais, criadas e produzidas 
pela iníqua distribuição de rendas 
 
 Por derradeiro, para o bom desempenho da ordem econômica, cujas bases 
são a valorização do trabalho humano e a livre iniciativa, os quais tem por objetivo 
garantir uma digna existência a todos, conforme os ditames da justiça social, 
deverão ser observados os princípios previstos nos incisos do art. 170 da Carta 
Constitucional de 1988. 
 Referidos princípios, assim como outros já mencionados, tratam-se de 
princípios gerais da atividade econômica, apontados como essência condensadora 
de diretrizes relacionadas à apropriação privada dos meios de produção e a livre 
iniciativa, os quais unificam a ordem capitalista da economia do Estado Brasileiro. 
 
O primeiro destes princípios é a soberania nacional, que constitui 
também um fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, 
inc. I da CF/88) e entre nós figura-se como um dos elementos 
constitutivos do Estado, sendo seu elemento formal que implica em 
supremacia na ordem interna e independência na ordem externa. 
Porém, sua inserção na ordem econômica diz respeito à formação de 
um capitalismo nacional autônomo e sem ingerências, e não se 
supõe o isolamento econômico perante as demais nações. A 
soberania nacional econômica, nos traz a noção de que o 
constituinte de 1988 não rompeu com o sistema capitalista, mas quis 
que se formasse um capitalismo nacional autônomo, isto é, não 
dependente (SILVA, 2001, p. 770). 
 
 A Carta Magna prevê, também, a propriedade privada e sua função social 
como sendo princípios da ordem econômica (art. 170, II e III). A despeito de, no art. 
5º, XXII e XXIII, da Carta Constitucional, encontram-se normas exatamente iguais, 
40 
 
além de outros dispositivos constitucionais a respeito, onde a propriedade é descrita 
como direito individual. 
 Segundo Eros Grau (2004, p. 216): 
 
Tal entendimento constitui uma imprecisão, pois existe distinção 
entre “função individual”

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