Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Letras Danila Santana Duarte O PAPEL DO PROFESSOR NO COMBATE E NA PREVENÇÃO DO BULLYING EM SALA DE AULA Pará de Minas 2013 1 Danila Santana Duarte O PAPEL DO PROFESSOR NO COMBATE E NA PREVENÇÃO DO BULLYING EM SALA DE AULA Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Letras da Faculdade de Pará de Minas, como requisito parcial para a conclusão do curso de Letras. Orientadora: Prof. Ms. Cristina Mara França Pinto Fonseca Pará de Minas 2013 2 Danila Santana Duarte O PAPEL DO PROFESSOR NO COMBATE E NA PREVENÇÃO DO BULLYING EM SALA DE AULA Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Letras da Faculdade de Pará de Minas, como requisito parcial para a conclusão do curso de Letras. Aprovada em: _____ / _____ / ______ _______________________________________________________ Prof. Ms. Cristina Mara França Pinto Fonseca – Mestre em Letras _______________________________________________________ Prof. Ms. Vanessa Faria Viana – Mestre em Linguística e Língua Portuguesa 3 Dedico este trabalho de conclusão de curso aos meus pais, esposo, amigos, professores e familiares e a todos que algum dia sofreram bullying dentro do ambiente escolar e também a todos que contribuíram e incentivaram para que fosse possível a sua concretização. 4 Agradeço primeiramente a Deus e a Nossa Senhora Aparecida, pela força e pela presença constantes em minha vida, a minha família pelo incentivo e por sempre acreditar no meu potencial, à professora e orientadora Cristina Mara pelo apoio incondicional e a todos os professores do Curso de Letras da FAPAM pelos grandes ensinamentos, meu muito obrigada a todos. 5 “A intolerância, a ausência de parâmetros que orientem a convivência pacífica e a falta de habilidade para resolver os conflitos são algumas das principais dificuldades detectadas no ambiente escolar. Atualmente, a matéria mais difícil da escola não é a matemática ou a biologia; a convivência, para muitos alunos e de todas as séries, talvez seja a matéria mais difícil de ser aprendida”. FANTE 6 RESUMO Esta pesquisa apresenta como tema central “O papel do professor no combate e na prevenção do bullying em sala de aula” e tem como objetivo geral analisar as ações dos professores em prol ao combate e a prevenção do bullying em sala de aula. Na perspectivas teóricas foram abordados os seguintes temas: Os estudos internacionais e nacionais sobre o fenômeno bullying, a conceituação desse fenômeno (bulying), as suas possíveis causas e consequências, o papel social da escola, o bullying e a escola, os pais e o bullying, o papel do professor no combate e na prevenção do bullying no contexto pedagógico e os programas antibullying de prevenção e combate. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com pesquisa de campo, de natureza qualitativa. A coleta de dados foi realizada através de questionários semiestruturados que foram aplicados a alunos e professores do ensino fundamental da Escola Estadual Francisco Tibúrcio. A análise dos dados foi analisada de acordo com o referencial teórico. Os resultados revelaram a existência de bullying na escola pesquisada e indicaram que o lugar de maior incidência da ocorrência desse comportamento agressivo é a sala de aula, e com isso a escola pesquisada precisa qualificar os profissionais de educação para eles possam adotar programas antibullying de prevenção e combate ao bullying para que assim o ambiente escolar se torne um ambiente de paz. Palavras-chaves: Bullying. Prevenção. Combate. Papel do professor. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 08 2 OBJETIVOS.................................................................................................................... 11 2.1 Objetivo geral............................................................................................................... 11 2.2 Objetivos específicos..................................................................................................... 11 2.3 Estrutura da Pesquisa.................................................................................................. 11 3 ESTUDOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS SOBRE O BULLYING............... 13 3.1 Estudos Internacionais - Bullying............................................................................... 13 3.2 Estudos Nacionais - Bullying....................................................................................... 16 3.3 Conceituando o fenômeno bullying............................................................................. 17 3.4 Os envolvidos no bullying............................................................................................ 21 3.4.1 As vítimas de bullying.................................................................................................. 21 3.4.2 Vítima típica................................................................................................................ 22 3.4.3 Vítima provocadora..................................................................................................... 22 3.4.4 Vítima agressora......................................................................................................... 23 3.4.5 O agressor................................................................................................................... 23 3.4.6 Os espectadores........................................................................................................... 25 3.5 As possíveis causas do bullying................................................................................... 26 3.6 As consequências do bullying para os envolvidos...................................................... 28 4 O PAPEL SOCIAL DA ESCOLA................................................................................. 30 4.1 O papel da escola e o bullying..................................................................................... 32 4.2 O papel dos pais e o bullying....................................................................................... 34 4.3 O papel do professor e o bullying................................................................................ 36 4.4 O papel do professor no combate e na prevenção do bullying em sala de aula..... 39 4.5 Programas antibulying de prevenção e combate ao bullying no contexto pedagógico........................................................................................................................... 42 5 METODOLOGIA........................................................................................................... 45 5.1 Lócus da Pesquisa......................................................................................................... 46 5.2 Caracterização da Escola............................................................................................. 46 5.3 Instrumentos de coleta de dados................................................................................. 46 5.4 Procedimentos............................................................................................................... 47 5.5 Sujeitos da pesquisa......................................................................................................47 5.6 Resultados e Discussão................................................................................................. 48 5.7 Questionários aplicados aos alunos do ensino fundamental II................................. 48 5.8 Questionários aplicados aos professores pesquisados............................................... 53 6 CONCLUSÃO................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 69 APÊNDICES....................................................................................................................... 70 ANEXO............................................................................................................................. 73 8 1 INTRODUÇÃO Este estudo pretende analisar o papel do professor no combate e na prevenção do bullying na sala de aula. O interesse por este tema surgiu por considerar que o fenômeno bullying, mesmo sendo há muito tempo uma prática frequente nas escolas, pode ser combatido efetivamente através da educação. O bullying tem sido discutido no meio acadêmico e também através da mídia. Assim, as pessoas estão mais informadas e sabem que não podem se calar diante dessa violência e devem exigir uma postura rigorosa das instituições de ensino que identificarem a sua existência. Brincadeiras de mau gosto como chamar o colega de ‘baleia’, ‘feio’, ‘dentuço’, ou seja, brincadeiras que de alguma forma tendem a ofender seus receptores, estão presentes no universo das salas de aula, mas, a partir do momento em que isso se torna repetitivo, violento em forma física ou psicológica, e que seus receptores passam a sofrer as consequências oriundas dessas “brincadeiras”, sejam elas no âmbito afetivo ou na aprendizagem, esse aluno se torna uma vítima do bullying. O termo bullying é uma palavra oriunda da língua inglesa e não possui tradução para o português. O termo Bully significa “valentão”, e pode ser traduzido por “intimidação”. A palavra bullying é utilizada para denominar comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, que acontecem sem motivação evidente (FANTE, 2005). De acordo com Fante (2005), é considerado bullying toda forma de agressão, seja ela física ou verbal, sem um motivo aparente, causando em suas vítimas consequências que vão desde o âmbito emocional até consequências na aprendizagem. Para ser considerado como bullying é preciso existir a intencionalidade, a frequência nas agressões, a gratuidade que gera consequências muito negativas em seu receptor. Ainda, de acordo com esse autor seu. O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar traumas ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos. (FANTE, 2005, p. 26). Essas “brincadeiras” passaram a ser denominadas de bullying na década de 90, e o primeiro pesquisador a relacionar essas brincadeiras ao nome de bullying foi Olweus (1978), pesquisador e educador da universidade de Bergen, na Noruega. Olweus fez inúmeras pesquisas com relação às consequências que o bullying pode acarretar em suas vítimas. 9 A partir de então, várias pesquisas a respeito das causas e consequências do bullying passaram a ser desenvolvidas em todo o mundo. Os Estados Unidos são um grande pioneiro nas pesquisas e também na prevenção e combate ao bullying em suas escolas. O fenômeno bullying foi melhor estudado, neste país, a partir de uma grande tragédia ocorrida no ano de 2001, na qual dois jovens de 15 anos entraram em uma escola secundária e assassinaram, a tiros, treze alunos e, em seguida, se suicidaram. Durante a investigação, a polícia descobriu que esses dois alunos eram vítimas de bullying nessa escola. No Brasil, o bullying passou a ser conhecido e estudado pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), na qual se desenvolveu um projeto em onze escolas na cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de conscientizar e prevenir a ocorrência de bullying nas escolas fluminenses. Portanto é objetivo dessa pesquisa analisar o papel do professor na prevenção e no combate ao bullying no cotidiano escolar, como também refletir sobre suas ações, ou seja, se as atitudes docentes podem de alguma forma gerar ou prevenir o bullying no cotidiano da sala de aula. A partir do tema apresentado, entende-se necessário desenvolver a presente pesquisa, com a finalidade de identificar estratégias que possam ser aplicadas nas salas de aula pelos docentes que podem prevenir e combater o bullying e as atitudes que podem gerar tal violência. Com este trabalho, também se pretende deixar claro que o comprometimento do professor em conhecer as consequências que o bullying pode trazer para as suas vítimas é de suma importância, para assim prevenir e combater este problema na sala de aula de forma completamente efetiva. Levantam-se com esta pesquisa outras questões: Se o professor teria condições de lidar com o problema, bullying, de maneira adequada para todos os escolares? Se o professor tem o dever de cuidar da educação conceitual e da educação comportamental, em sala de aula? Sendo assim, é possível analisar se a ação se a postura do professor pode combater e prevenir o bullying na sala de aula? Se o professor precisa de mais conhecimento a respeito do bullying e de suas trágicas consequências para assim atuar melhor no combate e na prevenção do bullying? Este trabalho se justifica por trazer a temática do fenômeno bullying para as discussões acadêmicas, uma vez que muito se tem discutido na mídia, a esse respeito e, em muitos casos, confundindo-se o que realmente se configura como sendo bullying. É muito comum ouvir-se o termo bullying ser atribuído a muitas brincadeiras ou a um episódio de “violência” como 10 brigas e discussões corriqueiras no ambiente pedagógico, mas para ser configurado bullying esse tipo de violência tem suas especificidades e suas particularidades. O bullying pode acarretar graves consequências para à sua vítima uma simples “brincadeiras” não, consequências que pode prevalecer para toda a vida em algumas vítimas desse tipo de violência. Dessa forma, o bullying faz parte de uma realidade vivida em muitas escolas e em muitas salas de aula. Advém daí a necessidade de o professor conhecer e saber definir, de forma adequada, o termo e saber quais as consequências que o bullying pode trazer para as suas vítimas, para assim prevenir, combater e desmitificar esse problema na sala de aula. Sendo assim, este trabalho poderá ser útil como pesquisa socioeducativa não só para o estudante do curso de formação de professores, tendo em vista que buscará informações e definições conceituais científicas embasadas em autores que estudam o fenômeno bullying no ambiente escolar. 11 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Analisar o papel do professor no combate e na prevenção do bullying em sala de aula. 2.2 Objetivos específicos a) definir o bullying e verificar suas causas e consequências; b) analisar as ações dos professores o que fazem para prevenir e combater o bullying na sala de aula; c) verificar se as ações por parte dos professores podem implicar na ocorrência de bullying na sala de aula; d) refletir sobre o papel social da escola. 2.3 Estrutura da Pesquisa A presente pesquisa está estruturada em quatro capítulos: o primeiro capítulo apresenta a introdução da pesquisa intitulada “O papel do professor no combate e na prevenção do bullying em sala deaula”, que constitui-se de uma breve abordagem sobre o bullying no contexto escolar, a relevância, a justificativa e as questões que norteiam a presente pesquisa. O segundo capítulo apresenta o objetivo geral e os objetivos específicos aos quais a presente pesquisa pretende atingir e apresenta a estrutura do trabalho. As perspectivas teóricas inerentes à pesquisa estão divididas em dois capítulos: o capítulo três abrange os estudos internacionais e nacionais referentes ao bullying, os envolvidos nessa prática de violência e as possíveis causas e consequências do bullying. O capítulo quatro abrange o papel social da escola; o papel da escola e o bullying, o papel dos pais e o bullying, o papel do professor e o bullying , o papel do professor no combate e na prevenção do bullying em sala de aula e os programas antibullying de prevenção e combate ao bullying no contexto pedagógico. 12 No capítulo cinco apresentam-se a metodologia utilizada na pesquisa e as etapas que foram percorridas para a coleta de dados e a análise dos dados coletados através dos questionários os confrontando-os com os estudos teóricos. Enfim, o capítulo seis apresenta a conclusão que se pode chegar diante dos resultados coletados e analisados e dos estudos realizados nas perspectivas teóricas. 13 3 ESTUDOS INTERNACIONAIS E NACIONAIS SOBRE O BULLYING A realidade a que se assiste nas escolas são diversas formas de violências que estão infiltradas muitas das vezes ocultas, os alunos passam por situações constrangedoras, como humilhações, ameaças, apelidos, brincadeiras de mau gosto, fofocas, chantagens, provocações e até mesmo agressões físicas e morais. Sempre que isso ocorre à vítima, ela se isola, entra em depressão, fica em silêncio ficando com medo do próximo ataque ou manifestação do agressor. O bullying pode ser considerado um fenômeno novo, pois passou a ser investigado e estudado apenas nas últimas décadas, esse fenômeno despertou a atenção dos estudiosos devido às graves consequências causadas nos envolvidos, e pelos requintes de crueldade com que o agressor age contra a vítima de forma oculta dentro do contexto escolar. Portanto, faz-se necessário que o fenômeno bullying seja estudado e seja divulgado e que todos adquiram o conhecimento e possa refletir que esse fenômeno está presente em todos os contextos sociais, como escolas, universidades, famílias, vizinhanças e locais de trabalho. Fante (2005), afirma que é na escola e no trabalho que se acentua de maneira indelével sobre o indivíduo, levando-o a atitudes inesperadas, por vezes desesperadas, que em casos graves levam até ao suicídio. 3.1 Estudos Internacionais - Bullying Para se entender o bullying, é necessário estudá-lo historicamente. Segundo Fante (2005), embora o fenômeno seja tão antigo quanto à própria escola e, mesmo que já houvesse certa preocupação, por parte de educadores, em relação à problemática entre agressores e vítimas, anteriormente à década de 1970, não havia um estudo sistemático a respeito do fenômeno. A partir desta época e, primeiramente na Suécia, a sociedade do referido país passou a se interessar pelos problemas entre agressores e vítimas e, posteriormente, esta preocupação se estendeu por todos os países escandinavos. Os primeiros estudos a respeito do bullying se deram início na década de 1970, pelo professor Dan Olweus na universidade de Bergen – Noruega e com a campanha nacional antibullying nas escolas norueguesas, na Europa os estudos começaram na década de 1990. Antes o bullying não era considerado um problema que merecesse intervenção social, ou seja, educacional, pois esse tipo de atitude era vista simplesmente como brincadeira. Entretanto, muitos educadores notaram que tais atitudes entre alunos figuravam verdadeiros problemas 14 mediante várias consequências, levando alunos ao baixo rendimento escolar, a abandonarem as escolas ou em caso mais grave até ao suicídio. Apesar da gravidade da violência, Fante (2005), afirma que as autoridades educacionais não se comprometiam oficialmente, pois ainda não existiam políticas públicas a este respeito até a década de setenta. Um fato marcou intensamente as pesquisas: No final de 1982, um jornal noticiava o suicídio de três crianças no norte da Noruega, com idades entre 10 e 14 anos, ato que, com toda a probabilidade, foi motivado principalmente pela situação de maus-tratos a que eram submetidas pelos seus companheiros de escola. (FANTE, 2005, p. 45). A essa irreparável tragédia Silva (2010) acrescenta que “em resposta à grande mobilização nacional diante dos fatos, o Ministério da Educação da Noruega realizou, em 1983, uma campanha em larga escala, visando ao combate efetivo do bullying escolar”. Na Noruega, durante muitos anos esse fenômeno foi motivo de inquietações e debates inclusive instigados pelos meios de comunicação, pelos pais e professores, mas sem ações efetivas das autoridades educacionais. O Fenômeno Bullying passou a ser objeto de atenção das autoridades educacionais somente em 1983, quando um estudante levou a morte três alunos (na faixa etária de 10 a 14 anos), cuja principal causa foi identificada como maus tratos a que era submetido por seus companheiros de escola. Devido à divulgação e tensão advindas do caso, o Ministério da Educação da Noruega desencadeou uma campanha nacional para a prevenção e extinção da violência nos ambientes escolares. Para a realização da pesquisa, Olweus (1978), utilizou um questionário contendo 25 questões de múltipla escolha e aplicou a oitenta e quatro mil estudantes, trezentos a quatrocentos professores e mil pais, entre vários períodos de ensino. Um fator importante para a pesquisa sobre a prevenção do bullying foi analisar sua natureza e ocorrência. Com o uso dos questionários foi possível verificar a frequência das agressões, os tipos, os locais de maior risco, os tipos de agressores e as percepções individuais quanto aos números de agressores. Esse questionário foi adaptado e utilizado em diversos estudos, em vários países, inclusive no Brasil, pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA, 2003), possibilitando assim, a instituir comparações interculturais. Em 1993, Dan Olweus escreveu o livro: “Bullying at School: What We Know and What We Can Do”, (O bullying nas escolas: O que se sabe a respeito e o que se pode fazer). No livro, o autor discute o problema e também sugere diferentes formas de identificar 15 possíveis vítimas e autor, e indica estratégias de intervenção. De acordo com Fante (2005), no livro Dan Olweus: Desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo. (FANTE, 2005, p. 45). O programa de intervenção proposto por Olweus (1978 apud FANTE, 2005) tinha como características principais desenvolver regras claras contra o bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte de professores e pais, aumentar a conscientização do problema, avançando no sentido de eliminar alguns mitos sobre o bullying, prover apoio e proteção às vítimas. Os estudos de Olweus (1978) constataram que um em cada sete alunos noruegueses estavam envolvidos em caso de bullying, tanto no papel de vítima como no de agressor. Esta descoberta deu início a uma mobilização social de amparo legal que deu origem a uma campanha nacional antibullying, com o devido apoio do governo Norueguês. Em pouco tempo de atuação da campanha, houve a redução de 50% dos casos de bullying nas escolas da Noruega. Com resultados bastante satisfatórios, a campanha antibullying na sua práticaserviu de exemplo em outros países inicialmente no Reino Unido, Canadá e Portugal. As pesquisas mundiais sobre o bullying apontam o crescimento do fenômeno e estima que 5% a 35% das crianças e adolescentes, em idade escolar, estejam envolvidas em condutas violentas dentro do ambiente educacional. Para Olweus (1978), bullying é “quando uma pessoa é intimidada e fica exposta repetidamente e ao longo do tempo às ações negativas por parte de uma ou mais pessoas, e ele ou ela tem dificuldade em defender-se”. O fenômeno bullying, atualmente nos Estados Unidos, é tema de grande interesse, pois o fenômeno cresce visivelmente entre os alunos americanos. O aumento de casos bullying é notório, com altos índices de incidência, os pesquisadores americanos classificam o bullying como um conflito global. Olweus (1978) é o maior representante no combate e resistência contra o bullying, e suas pesquisas servem de referência mundial na prevenção, identificação e combate ao mesmo. No Brasil, a preocupação com o bullying e suas consequências é recente, o questionário sobre o tema criado por Dan Olweus – Modelo TMR (Training and Mobility of Researchers) com tradução e adaptação por Mora-Mérchan, Ortega, Pereira, Menesini (1999) 16 é adaptado conforme a realidade do país que o utilizará. No Brasil, no caso, o questionário pode ajudar na produção de dados para melhorar a identificação da vítima/agressor e na compreensão sobre o bullying e elaboração de propostas para combatê-lo. 3.2 Estudos Nacionais - Bullying No Brasil, o bullying ainda é pouco estudado, se comparado com a Europa, no que se refere aos estudos internacionais acerca do bullying o Brasil está pelo menos com 15 anos de atraso na realização de estudos sobre esse fenômeno. O fenômeno bullying é discutido por diversos autores, que utilizam como base os estudos desenvolvidos por Dan Olweus. De acordo com Fante (2005), em 1997, a professora Marta Canfield e seus colaboradores observaram os comportamentos agressivos apresentados por crianças em 4 escolas de ensino público de Santa Maria, Rio Grande do Sul, utilizando uma forma adaptada por sua equipe, do questionário desenvolvido pelo professor Dan Olweus em 1989. A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância Adolescência – ABRAPIA, no Brasil, realiza estudos e divulga o fenômeno desde 2001. A ABRAPIA no período entre novembro e dezembro de 2002 e março de 2003 realizou uma pesquisa no estado do Rio de Janeiro, por meio de aplicação de questionários a alunos de 5ª a 8ª série de 11 escolas (nove públicas e duas particulares). A esse respeito Fante (2005, p. 47), comenta: Também foi realizada pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA, 2003) uma pesquisa em 11 escolas do município do Rio de Janeiro, contando com a participação de 5.875 alunos de 5ª a 8ª séries. Os resultados divulgados mostraram que 40,5% desses alunos admitiram estar envolvidos em bullying. Nos anos 2000 a 2001, os professores, Israel Figueira e Carlos Neto, realizaram pesquisas para diagnosticar o fenômeno bullying em duas escolas do Rio de Janeiro, usando uma forma adaptada do questionário. (ABRAPIA, 2001) No ano de 2002, a professora Cleodelice aparecida Zonato Fante, pesquisou o bullying em escolas municipais do interior paulista, para reduzir e combater comportamentos agressivos. A publicação do livro: “Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, publicado em 2005, faz uso dos estudos de Dan Olweus, enfatizando a importância de seus estudos para diferenciar o bullying dos demais atos presentes no desenvolvimento do ser: 17 Olweus desenvolveu os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo (FANTE, 2005, p. 45). As pesquisas realizadas por Fante (2005), não são patrocinadas nem incentivadas pelo governo brasileiro, os recursos utilizados para as pesquisas são próprios e os trabalhos são voluntários, e com isso podemos perceber o descaso do governo brasileiro em prol das problemáticas sociais importantes como a do bullying. De acordo com Fante (2005, p. 50), diante a falta de recursos financeiros e incentivos governamentais: Diante da limitação de recursos financeiros disponíveis para a realização das pesquisas e o número de alunos entrevistados não ultrapassou a marca de 450 indivíduos por grupo. As pesquisas realizadas, por Fante (2005) têm o objetivo de conscientizar pais, professores, alunos, psicólogos, pediatras e demais profissionais envolvidos no processo educacional, demonstrando que é possível reduzir os índices de sua manifestação do bullying por meio de medidas criadas e sugeridas pela autora no Programa Educar para a Paz. Em Outubro de 2004, Leonardo Cheffer, publicou, nos Anais da Sexta Semana de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá: Subjetividade e Arte, o qual o autor trata a respeito de bullying, descrevendo o início de uma pesquisa quantitativa e qualitativa, realizada com duzentos e quarenta alunos de quinta a oitava série de uma escola pública de uma cidade do estado do Paraná, a fim de caracterizar o perfil das vítimas do bullying. Com a pesquisada realizada pela ABRAPIA (2001), também foi possível constatar que o bullying está presente nas escolas brasileiras, com maior incidência se comparado com os países europeus. A ABRAPIA (2001) foi fonte de busca para diversos estudos na área, por se tratar de um trabalho realizado sobre o bullying no Brasil. Contudo, após 19 (dezenove) anos de existência a instituição fechou as portas, devido às dificuldades para o financiamento das suas atividades. Em consequência todos os sites de que serviam de apoio para pesquisas saíram do ar. O que justifica a ausência de referências em relação a estes estudos. 3.3 Conceituando o fenômeno bullying Para se conceituar o fenômeno bullying, Fante (2005), o designa como uma palavra inglesa, uma forma de gerúndio, usada para definir um fenômeno, cujo autor é chamado de 18 Bully, palavra esta que se traduz como “brigão” e “valentão”. No Brasil, tratando-se de um assunto recentemente abordado, não há registros de tradução dessa palavra, que designa um fenômeno inteiramente ligado às várias ações maldosas sucedidas no espaço escolar. O bullying também é conhecido com outros nomes, como assédio moral, mobbing na Noruega e Dinamarca, mobbning na Suécia e Finlândia, harassment nos Estados Unidos, acoso na Espanha, entre outras denominações. A primeira pergunta que se faz é: O que é bullying? Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, praticadas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas, sem motivos justificáveis, praticado com o intuito de maltratar a outra pessoa. Fante (2005, p. 27), caracteriza o Bullying como: Uma palavra de origem inglesa, uma forma de gerúndio, usada para definir um fenômeno, cujo autor da agressão é chamado de Bully, traduzido como “Valentão”, “Tirano”. Dessa forma o Bullying, compreende uma série de comportamentos agressivos de maneira repetitiva e traz em sua prática uma relação de desequilíbrio de poder, em que, a vítima não consegue se defender das agressões sofridas, em geral por apresentar comportamentos inferiorizantes. Para Fante (2005), o bullying é uma forma de violência muito cruel, visto que a pessoa que sofre a agressão fica com um alto nível de ansiedade, o que acaba interferindo negativamente nos seus processos de aprendizagem e convívio social, devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida. O bullying é um comportamentoofensivo, humilhante, que desmoraliza de maneira repetida, com ataques violentos, cruéis e maliciosos, sejam físicos ou psicológicos. O bullying está basicamente ligado à incapacidade de lidar com a diferença e de aceitá-la, cada vez mais se veem atos de intolerância e desrespeito àquilo que não se enquadra na homogeneidade e que é considerado diferente. Segundo Silva (2010), o fenômeno bullying pode se expressar de forma verbal, física e material, psicológica, moral, sexual e virtual. Em sua forma verbal, materializa-se através de insultos, ofensas, xingamentos, gozações, colocações de apelidos pejorativos, piadas ofensivas e as “zoadas”. Física e materialmente, encontram-se atitudes de bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, roubar, furtar ou destruir os pertences da vítima e atirar objetos contra as mesmas. Sob a forma psicológica e moral verificam-se atos que visam a irritar, humilhar e ridicularizar, excluir, isolar, ignorar, desprezar, discriminar, ameaçar, 19 intimidar, chantagear, e outros. A forma sexual do bullying está em abusar, violentar, assediar e insinuar a vítima. Para diferenciar o bullying de uma “simples brincadeira” é preciso usar o bom senso. O fundamental é sempre ter em mente que a brincadeira não causa sofrimento a outra pessoa ao contrário do bullying, mas é preciso tomar cuidado para não generalizar. A falta de critérios para identificar o bullying pode causar uma precipitação na avaliação, quando todas as situações de conflito de grupos são caracterizadas como este fenômeno. Para ser considerado bullying, a agressão deve ocorrer entre pares (colegas de classe ou de trabalho, por exemplo). É necessário salientar o bullying é uma agressão, mas nem todas as agressões são consideradas bullying, como discussões ou brigas pontuais. Para diferenciar o bullying de outras formas de violência e das brincadeiras próprias da idade devem-se utilizar alguns critérios de identificação, pois as condutas bullying apresentam características próprias. São elas: ações de violência repetida contra a mesma vítima num período prolongado de tempo, relação de desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima, ausência de motivos que justifiquem tal agressão, esses comportamentos são graves e danosos. O Bullying não se deixa confundir com outros tipos de violência, pois apresenta características próprias que marca os envolvidos por toda a vida. De acordo com Fante (2005, p. 30): O bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar traumas ao psiquismo de suas vítimas e envolvidos. Portanto, o conceito de bullying deve ser compreendido como um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica, exercida de maneira contínua dentro do ambiente escolar. O bullying apresenta três personagens: o agressor, a vítima e o espectador. Mas, segundo Fante (2005, p. 71), os estudiosos identificaram e classificaram os tipos de papéis sociais desempenhados pelos protagonistas de bullying de cinco maneiras: A vítima típica; A vítima provocadora; A vítima agressora; O agressor; O espectador. 20 De acordo com Calhau (2009), acrescenta-se a esses cinco tipos a figura do novato, o aluno transferido de escola que fica fragilizado nas situações de bullying. O bullying pode ser dividido em duas categorias: o Bullying direto caracterizado por ataques diretamente à vítima, englobando atitudes como colocar apelidos, fazer ameaças, ofender verbalmente, fazer expressões e gestos que provoquem mal-estar, além de comportamentos como chutar e bater, o bullying direto é mais executado pelo sexo masculino, e o Bullying indireto, que é mais presente no sexo feminino e nas crianças, é caracterizado pela ausência da vítima em questão, sendo as atitudes mais utilizadas por forçar as vítimas ao isolamento social. Geralmente os agressores espalham comentários maldosos sobre as vítimas, recusa em se socializar com a vítima e impede que outros também se socializem, critica o modo de vestir, raça, religião e incapacidade entre outros. A esse respeito Fante (2005, p. 50), comenta: Os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger); a indireta talvez seja a que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversíveis. Esta última acontece através de disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social. De todos, o que se vê, o bullying indireto é o mais difícil de ser percebido, pois geralmente quando vemos uma criança sozinha achamos que ela é tímida e não quer se socializar. Outra forma de agressão que está muito acentuada remete ao cyberbullying que acontece fora das escolas, porém usam coisas do dia a dia escolar, para ridicularizar o outro, usa-se a tecnologia para mostrar o mundo à imperfeição ou o desgosto pelo outrem, ao contrário do Bullying que acontece somente dentro da escola. O cyberbullying consiste em utilizar os mais atuais e modernos instrumentos da internet e da telefonia móvel com o intuito de constranger, humilhar, maltratar e difamar suas vítimas. É uma forma perversa muito utilizada pelo agressor fora do ambiente escolar. Conforme Calhau (2009, p. 8): Os atos de bullying são de uma perversidade tremenda. Eles podem ocorrer a nossa volta e não serem percebidos como tais, caso não façamos um esforço para conectá- los. Eles vão ocorrendo de forma silenciosa e diuturna em nosso meio, em corredores, em banheiros públicos, na sala de aula do colégio, em comunidades do Orkut, etc. 21 Portando, o bullying tem a intenção de ferir a vítima de forma repetitiva e com desequilíbrio de poder, podendo ocorrer em todos os ambientes de forma velada, causando danos psicológicos nas vítimas. 3.4 Os envolvidos no bullying O bullying caracteriza-se por ser uma violência oculta. É de grande importância saber identificar e diferenciar o bullying de quaisquer outros tipos de manifestações presentes nos ambientes escolares. Atualmente encontramos dentro dos ambientes escolares uma clientela diversificada, com objetivos e gostos diferentes, essas diferenças entre os alunos que muitas vezes os levam a serem alvos de brincadeiras e gozações. A identificação dos envolvidos precocemente é de suma importância para as escolas e as famílias possam traçar estratégias e ações efetivas contra o bullying. Na prática do comportamento bullying são identificados e classificados os papéis desempenhados pelos envolvidos. São eles: vítima, agressor e espectador. 3.4.1 As vítimas de bullying Os alunos que são vítimas de bullying, geralmente não precisam fazer nada para serem alvos, os agressores simplesmente as elegem, sem nenhum motivo especial. A maioria das vítimas de bullying são aqueles que possuem características diferentes em relação ao grupo, como obesidade, deficiência física, superdotadas ou com dificuldades de aprendizagem. A vítima geralmente é passiva, insegura e introvertida. Silva (2010, p. 38) afirma que geralmente as vítimas: São indivíduos que não conseguem reagir aos comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra elas. Normalmente são mais frágeis fisicamente ou apresentam alguma “marca” que as destaca da maioria dos alunos: são gordinhas ou magras demais, altas ou baixas demais; usam óculos; são “caxias”, deficientes físicos; apresentam sardas ou manchas na pele, orelhas ou nariz um pouco mais destacados; usamroupas fora da moda; são de raça, credo, condição socioeconômica ou orientação sexual diferentes... Portanto, como se pode perceber os motivos que levam as vítimas a se tornarem alvos de bullying são muito fúteis e banais. 22 Segundo Fante (2005), os alvos do bullying são aqueles considerados pela turma como diferentes “esquisitos”. São tímidos, retraídos, passivos, submissos, ansiosos, temerosos, com dificuldade de defesa, de expressão e de relacionamento. Às vezes é difícil identificar o bullying como forma de violência por parte dos familiares e da escola, pois a “vítima” teme em denunciar seus agressores, com medo de sofrer represálias e por vergonha de admitir que esteja passando por situações humilhantes na escola ou porque não acreditarão nele. A sua denúncia seria interpretada pela própria “vítima” como uma confissão de fraqueza ou impotência de defesa. Segundo Fante (2005), os estudiosos dos comportamentos bullying, identificam e classificam os tipos de papéis desempenhados, que são bem definidos entre os envolvidos no fenômeno da seguinte forma: 3.4.2 Vítima típica São aquelas vítimas geralmente encontradas em maior número neste papel de vítima, facilmente classificadas por Silva (2010,) como: “alunos que apresentam pouca habilidade de socialização. Em geral são tímidas ou reservadas e não conseguem reagir aos comportamentos provocadores e agressivos dirigidos contra ela”. Pois costumam ser retraídas, passivas, sem amigos que lhes deem apoio ou as protejam. Fante (2005, p. 72) acrescenta que suas características mais comuns são: Aspectos físicos mais frágeis que o de seus companheiros; medo de lhe causem danos ou de ser fisicamente ineficaz nos esportes e nas brigas, sobretudo no caso dos meninos; coordenação motora deficiente, especialmente entre os meninos; extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa autoestima, algumas dificuldades de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. A vítima típica tem maior facilidade de relacionamento com pessoas adultas e elas possuem dificuldade de se imporem, tanto física como verbalmente, apresenta comportamentos não agressivos. 3.4.3 Vítima provocadora Conforme Silva (2010), as vítimas provocadoras “são aquelas capazes de insuflar em seus colegas reações agressivas contra si mesmas. No entanto, não conseguem responder aos revides de forma satisfatória. Elas, em geral discutem ou brigam quando são atacadas ou 23 insultadas”. No geral, provocam tensão nos ambientes em que frequentam despertando o interesse de agressores. Podem ser hiperativas, imaturas, dispersivas, impulsivas, ofensoras, costumam ser irritantes, demonstrando assim sua insegurança. Para Fante (2005) a vítima provocadora é aquela que provoca e atrai reações agressivas contra as quais não consegue lidar com eficiência. A vítima provocadora é aquele aluno de “gênio ruim”, que age com agressão quando é provocado ou insultado, mas geralmente de maneira ineficaz, costuma ser hiperativa, inquieta e ofensora, de costumes irritantes e, na maioria das vezes, é responsável por causar tensões no ambiente que se encontra. 3.4.4 Vítima agressora De acordo Silva (2010), a vítima agressora “reproduz os maus-tratos sofridos como forma de compensação, ou seja, ela procura outra vítima, ainda mais frágil e vulnerável, e comete contra ela todas as agressões sofridas”, pois, elas são tão ansiosas quanto agressivas, têm dificuldade de convívio social e são muito impulsivas. São geralmente um tipo inquieto e irritante propenso a níveis elevados de estresse. A tendência é que a vítima agressora reproduza os maus tratos assegura Fante (2005, p. 72), “fazendo com que o bullying se transforme numa dinâmica expansiva, cujos resultados incidem no aumento no número de vítima”. E com isso, o bullying vem se transformando em uma epidemia mundial pelo círculo vicioso a que se forma, na complexidade de suas relações e reproduções se tornando um problema de difícil solução. 3.4.5 O agressor O agressor é aquele que vitimiza os mais fracos, muitas vezes o agressor se une aos demais alunos para se autoafirmar. Os agressores também são denominados bullies, eles gostam de poder e de controle. Os agressores geralmente buscam uma vítima que lhes pareçam vulneráveis aos seus ataques, gostam de impor sua autoridade através do medo e das ameaças morais ou da força física. A esse respeito Fante (2005, p. 73) afirma que o agressor: 24 “sente uma necessidade imperiosa de dominar e subjugar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaça e de conseguir aquilo que se propõe. Pode vangloriar- se de sua superioridade real ou imaginária sobre outros alunos”. O que caracteriza o agressor ou bullie é a sua personalidade. Para Silva (2010), “Traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes (...) associadas a um poderoso poder de liderança que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou de intenso assédio psicológico”. É possível identificar os praticantes de bullying precocemente, pois geralmente eles apresentam traços perversos e um histórico de condutas como mentiras constantes, fúria, irresponsabilidade, ausência de culpa ou remorso, sexualidade precoce exacerbada, etc. O agressor geralmente se une em grupos com outros alunos formando (gangues). Os autores Silva (2010) e Fante (2005) acreditam que os agressores são membros de famílias desestruturadas, e que apresentam relacionamento afetivo deficitário total ou parcial, como também pode ser atitudes da própria índole do indivíduo. Seus pais exercem uma má influência, praticam atos agressivos e violentos para solucionar conflitos. Portanto, vale a pena ressaltar, que filhos de bullies tem maior chance de se tornarem bullies. Os autores de atos de bullying são apáticos, são mais forte fisicamente em relação às vítimas, sente necessidade de dominar e julgar os outros. Geralmente são deficientes de afeto, e a manifestação de violência é visível desde cedo nos maus-tratos com os irmãos, colegas, animais, etc. Calhau (2009, p. 8) afirma que os bullies: É mau-caráter, impulsivo, irrita-se facilmente e tem baixa resistência às frustrações. Custa a adaptar- se às normas; não aceita ser contrariado, não tolera os atrasos e pode tentar beneficiar-se de artimanhas na hora das avaliações. É considerado malvado, duro e mostra pouca simpatia para com suas vítimas. Os bullies adotam comportamentos extremamente antissociais e se envolvem em atos delinquentes como roubos, vandalismo além de poderem consumir álcool, drogas ilícitas e se envolverem com más companhias. Nesse sentido, Calhau (2009, p. 17) informa que: O agressor (de ambos os sexos) envolvido no fenômeno estará propenso a adotar comportamentos delinquentes, agressão sem motivo aparente, uso de drogas, porte ilegal de armas, furtos, indiferença à realidade que o cerca, crença de que deve levar vantagem em tudo, crença de que é impondo-se com violência que conseguirá obter o que quer na vida... afinal foi assim nos anos escolares. 25 Para os agressores, a violência praticada não traz prejuízos para si, mas apenas para a vítima, no entanto, segundo a Constituição Federal, o Código Penal Brasileiro e o Estatuto da Criança e do adolescente, as práticas do bullying podem ser consideradas crime. Para confirmar o Art. 146 do Código Penal descreve que “Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça ou depois de lhe haver ridicularizado, por qualquer outro meio a capacidade de resistência, é crime de constrangimento ilegal”. (BRASIL, 2013). Portanto, fica claro que os prejuízos não se restringem apenas às vítimas. 3.4.6 Os espectadores Os espectadores presenciam o bullying, mas não o sofre nem o pratica, eles têm conhecimento do bullying, conhece os envolvidos, mas não se posicionam frenteà situação. Segundo Silva (2010), são indivíduos que presenciam as ações dos agressores contra as vítimas, mas não tomam atitudes diante do fato. Não defendem o agredido e não se posicionam a favor dos agressores e nem se unem a eles. Muitos espectadores ficam em silêncio, por temerem se tornar um alvo, ou por medo de se envolverem num problema que consideram não ser deles, ou seja, a indiferença frente aos problemas do outro, fator marcante na atual sociedade, contribui fortemente para que não haja uma ação contra este tipo de atitude. Não querem se comprometer, acreditam que o problema é com o outro e ele que resolva. Silva (2010) divide os espectadores em três grupos distintos, o passivo, o ativo e o neutro. O espectador passivo normalmente recorre a essa postura por temer ser objeto de retaliações do bullie. Quanto ao espectador ativo, apesar de não participar de forma atuante na violência, demonstra certo apreço pelo ato, seja com risadas ou palavras que incentivam o bullie a continuar praticando-a. De acordo com Silva (2010, p. 46), os espectadores ativos: Estão inclusos neste grupo os alunos que, apesar de não participar ativamente dos ataques contra as vítimas, manifestam apoio “moral” aos agressores, com risadas e palavras de incentivo. Não se envolvem diretamente, mas isso não significa, em absoluto, que deixam de se divertir com que veem. O espectador neutro, não se deixa tocar pelo ato presenciado, nem positiva como o espectador ativo nem negativamente como o espectador passivo. Ele mantém uma postura apática frente ao bullying. De acordo com Silva (2010, p. 46): 26 Dentre eles, podemos perceber os alunos que, por uma questão sociocultural (advindos de lares desestruturados ou de comunidades em que a violência faz parte do cotidiano), não demonstram sensibilidade pelas situações de bullying que presenciam. Fante (2005, p. 73-74) afirma que os espectadores: Representa a grande maioria dos alunos que convive com o problema e adota a lei do silêncio por temer se transformar em novo alvo para o agressor. Mesmo não sofrendo as agressões diretamente, muitos deles podem se sentir inseguros e incomodados. Segundo Calhau (2010), as testemunhas não denunciam os fatos para seus pais e professores, no ambiente escolar, pois a fama de “dedo duro” é terrível, e também eles se sentem ameaçados e temem sofrer represálias e até pagar com a vida por entregar o agressor. A atitude de omissão por parte dos espectadores contribui para que o bullying continue a acontecer, pois a ação não contraria pelos que sabem dos atos violentos e não funcionam como forma de coibi-los. A não repreensão do bullying faz com que o fenômeno se propague cada vez mais em todos os ambientes sociais. A grande maioria dos espectadores não concorda com as agressões, mas preferem ficar em silêncio por medo do agressor. 3.5 As possíveis causas do bullying De acordo com Calhau (2009), a realidade brasileira a qual se tem assistido é a existência de maior preocupação com o ter do que ser a nossa cultura é centrada no individualismo no egoísmo em detrimento aos interesses coletivos. O padrão de beleza imposto pela mídia gera preconceito com aqueles que fogem dos padrões aceitáveis como ideal. Esse desrespeito é resultado da cultura centrada no individualismo. Segundo Fante (2005, p. 62), as causas do comportamento bullying são inúmeras e variadas: As causas desse tipo de comportamento devem-se à carência afetiva, à ausência de limites e ao modo de afirmação de poder dos pais sobre os filhos, por meio de “práticas educativas” que incluem maus- tratos físicos e explosões emocionais violentas. Os pais geralmente agem com agressão contra seus filhos e o agressor sente necessidade de reproduzir os maus-tratos sofridos em casa e também os sofridos na escola, como talvez de exercer autoridade e de fazer-se notado de autoafirmação perante a seu grupo. A reprodução constante desses comportamentos agressivos e intimidatórios no 27 convívio escolar implica um número cada vez maior de alunos, uma dinâmica doentia uma espécie de Síndrome de Maus-Tratos (SMAR). Essa síndrome se intensifica entre os educandos conforme aumenta o grau de escolaridade, alastrando de forma epidêmica dando origem ao bullying. Para Fante (2005, p. 62) outras causas estão associadas ao bullying: A ausência de modelos educativos humanistas, capazes de estimular e orientar o comportamento da criança para a convivência pacífica e para o seu crescimento moral e espiritual, fatores indispensáveis ao bom processo socioeducacional, que se torna promotor de autossuperação na vida. A falta de modelos educativos humanistas induz o educando a intolerância, que resulta na não aceitação das diferenças pessoais inerentes a todos os seres humanos. O bullying frequentemente começa pela recusa de aceitação de uma diferença como deficiência física, religiosa, psicológica, opção sexual, social, etc. Essas diferenças fazem surgir conflitos interpessoais no ambiente educativo. Segundo Silva (2010), a escola é responsável pela causa do bullying devido ao número excessivo de alunos e por possuir uma estrutura física inadequada, além disso, as escolas não sabem lidar com problemas da família e do aluno. A escola é também responsável pela falta de preparo dos profissionais da educação para educar sem o uso de coerção e agressão e também falta espaços onde o aluno possa expressar suas emoções e dificuldades pessoais, além do espaço escolar ser menos omissivo e mais punitivo para assim a violência dentro do ambiente escolar seja combatida. A omissão dos pais em relação a seus filhos é apontada também como causadora do bullying, pois tais atitudes dos pais geram nos filhos descompromisso com aprendizagem e com sua desvalorização. A falta de apoio emocional dos pais geram crianças inseguras com dificuldades de relacionamento, com baixa autoestima, faz com que essas crianças obtenham aceitação social através de atitudes agressivas. 3.6 As consequências do bullying para os envolvidos As consequências do bullying envolvem todos os envolvidos, desde a vítima ao agressor. De acordo com Fante (2005), as consequências relativas ao bullying são inúmeras, dependendo de como as vítimas recebem as agressões, de como reagem a seus agressores. A esse respeito Fante (2005, p. 44) comenta: 28 As consequências para as vítimas desse fenômeno são graves e abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o absentismo e a evasão escolar. As vítimas do bullying podem sofrer as consequências dessa violência fora do ambiente escolar, trazendo-lhe prejuízos no ambiente de trabalho na constituição familiar na educação dos filhos, além de problemas psicológicos e mentais. O bullying é um fenômeno comportamental que atinge o ego de suas vítimas, envolve e vitimiza as crianças, tornando-as reféns da ansiedade e insegurança e que interfere negativamente nos seus processos de aprendizagem, devido à excessiva mobilização de emoção, medo, de angústia e raiva reprimida. Podemos ressaltar que além do medo de represália, a vítima tem medo de denunciar seu agressor devido ao fato de expor que ela está sendo vítima de situações humilhantes na escola. Segundo Fante (2005), a superação dos traumas causados pelo fenômeno poderá ou não ocorrer, dependendo das características individuais de cada vítima, bem como da sua habilidade de se relacionar consigo mesma, com o meio social, e com a família. Quando a vítima não consegue superar os traumas causados pelo bullying, os desenvolvimentos psíquicos e os seus comportamentos são prejudicados, a vítima pode ter sentimentos negativos e pensamentos de vingança, baixo autoestima, dificuldades de aprendizagem, queda no rendimento escolar,podendo também desenvolver transtornos mentais e psicopatologias, levando-a ser um adulto com dificuldades de relacionamento e com outros graves problemas. E em casos extremos a vítima pode cometer suicídio. As consequências do bullying são tão graves que se pode citar como exemplo, o caso ocorrido em dia 7 de Abril de 2011, no Rio de Janeiro, que ficou marcado na memória dos brasileiros. Um jovem desequilibrado invadiu a escola de ensino fundamental no bairro de Realengo, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro e com auxílio de armas de fogo executou 11 crianças e logo após cometeu suicídio. A sociedade ficou chocada com o acontecimento e também com a causa que levou o jovem a cometer tamanha barbárie. A mídia logo noticiava que o que levou o jovem a essa violência foi o fato dele ter sido alvo de bullying por parte dos colegas durante sua trajetória escolar na mesma escola em que havia cometido à chacina. E com essa tragédia, pode-se confirmar que as consequências do bullying para as vítimas são gravíssimas e muitas vezes essas vítimas têm desejo deliberado de vingar a violência sofrida. 29 A vítima pode também desenvolver comportamentos agressivos ou depressivos, e ainda, quando adulto praticar ou sofrer bullying no ambiente de trabalho, além de desenvolver fobia escolar. Os momentos que antecedem a ida à escola e a volta são marcados por sofrimento psíquico que afeta o biológico. Esse sofrimento nem sempre a vítima consegue exprimir, o que dificulta o seu diagnóstico e possível tratamento. De acordo com Fante (2005, p. 81), os agressores também sofrem consequências da prática de bullying; O agressor (de ambos os sexos) envolvido no fenômeno estará propenso a adotar comportamentos delinquentes, tais como: agregação a grupos delinquentes, agressão sem motivo aparente, uso de drogas, porte ilegal de armas, furtos, indiferença à realidade que o cerca, crença de que deve levar vantagem em tudo, crença de que é impondo-se com violência que conseguirá obter o que quer na vida... afinal foi assim nos anos escolares. É grande a relação entre o bullying e a criminalidade. O agressor sente a sensação de consolidação de suas condutas, mesmo sem perceber que está prejudicando a si mesmo, o agressor supervaloriza a violência como forma de obter poder, caminho que pode o levar ao mundo do crime futuramente, tornando-o uma pessoa de difícil convivência nas relações interpessoais. Os espectadores por sua vez, mesmo não se envolvendo de forma direta com o comportamento bullying, também sofrem as consequências, pois veem o direito de uma escola segura, solidária e saudável sendo violada à medida que o bullying foi corrompendo as suas relações interpessoais, causando dano ao desenvolvimento socioeducacional. O fenômeno bullying passou a ser considerado problema de saúde pública, pois acarreta danos físicos e emocionais em aqueles que estão direta ou indiretamente envolvidos nele. 30 4 O PAPEL SOCIAL DA ESCOLA A escola tem sido vista ao longo de sua história como sendo um espaço destinado ao processo de ensino aprendizagem. Até pouco tempo, o aprendizado do conteúdo programático era o único que interessava na avaliação escolar. Na escola do passado as escolhas eram claras e restritas, os modelos ideológicos eram rígidos e poucos democráticos, porem mais explícitos e determinados. Dessa forma, a educação era bem mais fácil para os adultos que tinham que exercer apenas o papel de educador, os educandos copiavam e reproduziam os modelos vigentes de comportamento e os estereótipos socioculturais da época. Segundo Fante (2005), a comunidade escolar tende a reproduzir, em maior ou menor escala, a sociedade como um todo. Todos os membros dessa comunidade devem exercer seus papéis de forma eficiente e solidária para que os alunos possam aprender e praticar o aprendizado na fase adulta. A escola pode ser vista como grupo social e como instituição, ela pode ser considerada como um conjunto de indivíduos que possuem interesses em comuns e que estão em contínua interação e é considerada como instituição, pois carrega um conjunto de normas e procedimentos padronizados, que são valorizados pela sociedade, objetivando a socialização do indivíduo e a transmissão cultural. A escola é um espaço social diversificado, por isso saber conviver e respeitar as diferenças e viver em comunidade é importante para termos uma sociedade mais justa e democrática. A esse respeito Chalita (2008, p. 201) comenta: A escola é um lugar que reúne muita gente. Diferentes olhares, gostos, caprichos, talentos, sentimentos, sonhos, necessidades, histórias de vida, contextos. E esse lugar tão especial também guarda uma missão igualmente especial: fazer toda essa gente feliz, com princípios de justiça e equidade social. Essa missão pode parecer óbvia, mas não é nada simples, pois cada pessoa tem sua maneira peculiar de ser feliz. Todavia, desejam ser felizes, mas ninguém alcança a felicidade sozinho. A escola é uma instituição social com o objetivo de desenvolvimento as potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos pragmáticos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valores, que deve acontecer de forma contextualizada desenvolvendo nos alunos a capacidade de se tornarem cidadãos participativos na sociedade em que vivem). 31 Os profissionais da educação dos dias atuais não têm apenas a função de um mero transmissor de conhecimentos e sim o de facilitador, o de provocador. A escola é o caminho para a construção de uma sociedade mais digna e mais justa. Atualmente, a escola tem a função de proporcionar aos alunos uma formação capaz de compreender de forma crítica a realidade e atuar na superação das desigualdades sociais. A escola também precisa compreender as necessidades sociais a qual ela está inserida e fornecer aos alunos os subsídios adequados para que eles possam ter acesso à informação com a intenção de superar essas dificuldades e levando-os a descobrirem e desenvolverem seus talentos. De acordo com Chalita (2008, p. 258): A educação conduz a comportamentos mais amistosos. Isso porque a educação refina as atitudes. O conhecimento tem essa magia de engendrar pessoas e processos para encontros. Cada encontro é, em semente, uma nova amizade. E cada nova amizade representa uma nova possibilidade de aprender e de ensinar. A escola é um local de transmissão de conhecimento e tem como objetivo diminuir as desigualdades sociais existentes na sociedade, fazendo com que todos tenham os mesmos direitos e deveres, levando em consideração o contexto cultural na qual os alunos estão inseridos. O grande desafio da escola na atualidade é tornar as práticas educativas mais próximas da realidade, promovendo o conhecimento e a educação. Hoje cabe à escola a transmissão de valores e modelos educativos nos quais os jovens possam conduzir sua vida como cidadão ético e responsável. Com se pode perceber com o grande aumento das tecnologias, as aulas tradicionais não prendem mais a atenção dos alunos fazendo com que os alunos sintam-se desinteressado em aprender e cabe ao professor associar os conteúdos a essa nova realidade tecnológica para gerar aprendizado levando em consideração os fatores do cotidiano e elevando o aluno a entender que toda matéria trabalhada tem utilidade. O papel fundamental da escola é preparar o indivíduo para a sociedade. Todos os acontecimentos vivenciados pelo aluno no ambiente escolar traduzem uma vida de aprendizados. Portanto, a boa escola é aquela que proporciona ao educando condições de aprendizado eficientes levando em consideração os conhecimentos prévios trazidos por seus alunos e que levem em consideração uma educação para a vida e não para o mercado de trabalho, uma educação pautada em valores emodelos educacionais que levem o jovem a um caminho ético e democrático, consciente de seus direitos e deveres para com a sociedade. 32 Na Constituição Brasileira e no Estatuto da Criança e do Adolescente, estão previstos os direitos da criança e do adolescente, e que a escola deve ser um ambiente de respeito e proteção, respeito às diferenças, sendo que todos devem ser tratados com dignidade e igualdade. 4.1 O papel da escola e o bullying Pode-se afirmar que o bullying está presente em cem por cento das escolas do mundo, independente de sua tradição, localização ou poder aquisitivo dos alunos, sejam públicas ou privadas. O que pode variar nas escolas são os índices encontrados em cada realidade escolar, devido o conhecimento acerca do bullying. A problemática da violência nas escolas se faz presente é um fenômeno mundial e social complexo e de difícil solução, por atingir a sociedade como um todo. Esse fenômeno é resultante de vários fatores, tanto externos como internos a escola, característicos das interações sociais. Segundo Fante (2005, p. 168): Os fatores externos são decisivos na formação da personalidade do aluno, pela influência que recebe no seu contexto familiar, social e pelos meios de comunicação. A escola não dispõe de recursos e de meios para impedir a influência dos fatores externos sobre a vida de seus alunos, entretanto, torna-se alvo de muitos casos de violência, praticados em decorrência desses fatores que não estão sob seu controle. Os fatores externos a escola são referentes às desigualdades e às exclusões sociais, raciais, a perda de um modelo de referência entre os adolescentes, as violências existentes na sociedade, a desestruturação familiares e a falta de espaços de sociabilidade. De acordo com Fante (2005), os fatores internos podem ser classificados em três categorias: o clima escolar, as relações interpessoais e as características individuais de cada membro da comunidade escolar. Segundo Calhau (2010), as escolas estão passando por um processo muito difícil, pois atualmente os pais transmitiram para a escola o seu papel de educar seus filhos. A escola considerada com melhor qualidade de ensino, seja ela pública ou privada, não é aquela onde o bullying não ocorra, mas aquela que enfrenta o bullying com coragem e determinação. A maioria das escolas particulares omitem a existência do bullying por receio de mancharem sua reputação e de diminuírem sua clientela, essa omissão dificulta as medidas preventivas e combativas e faz com que o bullying prolifere. 33 De acordo com Silva (2010, p. 118): As Varas da infância e juventude têm recebido um número cada vez mais significativo de denúncias relativas às práticas de bullying. No entanto, um dado chama a atenção: quase a totalidade das denúncias é relativa a agressões ocorridas em escolas públicas, onde a tutela do estado é direta. Um grande número de escolas ainda em pleno século XXI ainda desconhecem, omitem, acomodam ou negam a existência do fenômeno bullying dentro do ambiente escolar, apesar de inúmeros casos referentes às tragédias causadas por esse fenômeno terem sido divulgados pela mídia, desprezando totalmente os sentimentos dos alunos em relação ao bullying. A esse respeito Silva (2010, p. 163) comenta: De maneira clara e objetiva, a escola deve procurar meios para se informar sobre as formas que possibilitem saber quais são as experiências e os sentimentos seus alunos possuem em relação ao bullying. Para que as escolas possam prevenir e combater o bullying dentro do contexto escolar, primeiramente a escola deve reconhecer a existência desse fenômeno e ter consciência de suas inúmeras consequências para o desenvolvimento socioeducacional e para a estruturação das personalidades dos educandos. Além de capacitar seus profissionais para identificar, intervir e fazer um encaminhamento adequado em todos os casos de conflitos violentos existentes no ambiente escolar. As instituições escolares têm o dever de discutirem o tema da violência escolar (bullying), mobilizando toda a comunidade escolar para traçar estratégias preventivas e imediatas com o propósito de enfrentar o problema. Para o enfrentamento do problema do bullying escolar, a escola deve formar parcerias com profissionais de diversas áreas especializados no assunto como: pediatras, psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais e também com instituições públicas ligadas à educação e ao direito: conselhos tutelares, delegacias da criança e do adolescente, promotorias públicas, varas da infância e juventude e promotorias de educação. Com essas parcerias, a escola terá eficiência nas medidas preventivas e combativas acerca do bullying. Para Silva (2010, p. 173-174): A luta antibullying deve ser iniciada desde muito cedo, já nos primeiros anos de escolarização. A importância precoce das ações educacionais se deve ao incalculável poder que as crianças possuem para propagar e difundir ideias. 34 Os programas antibullying dentro das escolas devem ser iniciados precocemente, para que assim o bullying não se multiplique e os alunos desde cedo possam aprender a cultura da solidariedade, do respeito às diferenças, da tolerância, da cooperação, da justiça, da dignidade, da amizade e do amor ao próximo, tornando o ambiente escolar um ambiente de paz. De acordo com Silva (2010, p. 119): No Brasil existe um projeto de Lei (nº 350, de 2007) do deputado Paulo Alexandre Barbosa (PSDB – SP), no qual o Poder Executivo fica autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas do estado de São Paulo. No Brasil, não existe uma lei específica de combate ao bullying, como se pode perceber o índice de incidência de violência no contexto escolar brasileiro aumenta a cada dia, mas podem ser aplicadas sanções genéricas previstas na legislação. Os órgãos governamentais devem tomar consciência da importância do combate ao bullying no ambiente escolar, criando políticas públicas para que a escola se torne um ambiente seguro com condições adequadas de trabalho para todos os profissionais da educação. As escolas devem se conscientizar que para a violência seja solucionada não basta somente defender a vítima e punir o agressor. O ideal é investir em iniciativa de prevenção e combate à violência, devendo a escola ser um ambiente democrático transmitindo não só os conteúdos pragmáticos, mas focando também na convivência e nos valores humanísticos e educando a emoção e os sentimentos dos alunos, estimulando- os a pensarem antes de qualquer reação e a lidarem com os seus medos, angústias, rejeições, etc., a serem pessoas proativas, líderes e autores de suas próprias vidas. Portanto, é importante o envolvimento de todos os profissionais da educação para que a escola tenha resultados satisfatórios e positivos na questão do combate ao fenômeno bullying no ambiente escolar e reconhecer que a omissão e a negação em frente à existência dessa problemática tão importante é de responsabilidade de todos, podendo a escola e os seus profissionais ser punidos em prol da negação de sua existência. 4.2 O papel dos pais e o bullying Os pais têm um papel importante na educação dos filhos. Atualmente se tem visto uma transformação na vida familiar, ou seja, a construção de novos modelos familiares. As 35 relações familiares atuais são marcadas pela desestruturação familiar, pela falta de um dos genitores ou pela falta de bom entendimento afetivo entre os pais ou entre pais e filhos. Na sociedade contemporânea, os pais estão cada vez mais ausentes nas relações familiares, devido à obrigação de trabalhar para manter a família, e com isso os filhos ficam carentes da necessidade afetiva de seus familiares. Como se pode perceber para suprir a carência afetivados filhos os pais usam da permissividade na educação de sua prole não lhe ensinando limites, e muitas das vezes se omitem e fingem não enxergar as condutas transgressoras de seus filhos. A esse respeito Silva (2010, p. 61) comenta: Os pais agem dessa forma sob a alegação de que não querem ferir a sensibilidade dos filhos ou para evitar desavenças familiares. Outros, ainda, assim o fazem como forma de compensar o período que estão distantes dos filhos por motivos profissionais. Os pais com essa atitude educativa de permissividade excessiva em função do sentimento de culpa em relação à ausência no ambiente familiar fazem com que os filhos tenham hábitos autoritários perante aos familiares e as outras pessoas, ou seja, uma troca de papéis. E com isso os pais não questionam se as suas próprias condutas irão refletir em seus filhos em outros ambientes sociais, e muitas das vezes se esquecem de que o ato educativo deve haver regras morais e de condutas, pois educar é um ato de respeito e amor. Os pais devem ter consciência que educar é ensinar os filhos regras e limites, além de ensinar a tolerância, respeito e a lidarem com suas frustrações do dia a dia. Segundo Fante (2005, p. 174): Sendo a família o modelo primeiro de socialização, ela deveria constituir um modelo positivo para a criança, uma vez que o registro de suas primeiras experiências emocionais surge da relação de afeto com as figuras materna e paterna, formando matrizes psíquicas que determinarão sua visão de mundo e de si mesma. É nas relações familiares que as crianças encontram os modelos referenciais ou de referência que são decisivos na formação de sua personalidade e no seu processo socioeducacional, entretanto quando esses modelos de referências são negativos podem acarretar condutas agressivas e violentas comprometendo o desenvolvimento educacional. As relações familiares estão cada vez mais desestruturadas, a presença da violência, seja ela física ou psicológica, se faz constante, gerando como consequência o comportamento inadequado dos filhos em prol a resolução de conflitos. 36 De acordo com Fante (2005) é no ambiente familiar que a criança aprende ou deveria aprender a relacionar-se com as pessoas, respeitar e valorizar as diferenças individuais e a adotar métodos não violentos nos conflitos interpessoais. A família é a base e a sua desestruturação é um dos principais fatores de bullying no ambiente escolar, pois as condutas violentas e os maus tratos sofridos pelas crianças no ambiente familiar as influenciam e as incentivam a resolverem seus conflitos mediante a violência. Essa violência é reproduzida pelos educandos no contexto escolar e quando adultos reproduzem os maus tratos sofridos contra o cônjuge ou os filhos, ou no local de trabalho. Portanto, é necessário que os pais tornem-se modelos de referências positivos e transmitam uma educação de valores e fiquem atentos aos comportamentos de seus filhos, cabendo também a eles abrir espaços para os filhos expressarem seus sentimentos e suas opiniões em relações a eles. É preciso ressaltar que os pais podem ser responsabilizados pelas condutas transgressoras de seus filhos de acordo com a legislação brasileira. Para combater o bullying no ambiente escolar é necessário que se estabeleça parcerias entre pais e escolas, cabe aos pais ao suspeitarem que seus filhos estejam envolvidos em bullying informarem a escola para que ela tome as devidas providências necessárias para intervir diante da situação de forma efetiva. 4.3 O papel do professor e o bullying O bullying é uma forma específica de violência e deve ser identificada, reconhecida e tratada como um problema social complexo e de responsabilidade de todos. O papel dos professores em frente a essa forma de violência é de fundamental importância para detectar precocemente os casos de bullying no ambiente escolar. De acordo com Fante (2005), em estudos realizados no Brasil o lugar de maior ocorrência do fenômeno bullying no ambiente escolar é na sala de aula. Esse dado revela que os professores não sabem distinguir as condutas violentas de brincadeiras próprias da idade. A esse respeito Fante (2005, p. 67-68) comenta: É necessário que os professores sejam capacitados para lidar com esse fenômeno, uma vez que ele os atinge diretamente, a considerar o baixo rendimento, observando em vários alunos, como ‘”resultado de trabalho”, também os afeta veladamente, de maneira sutil e estressante, dentre outros motivos, pelo fato de ser o professor um ser emocional, capaz de perceber e captar tanto as atitudes de interesse dos alunos como o clima emocional da sala. 37 Os professores devem ser capacitados para educar a emoção de seus alunos, porém muitos professores têm dificuldades de intervir em situações de violência ocorridas dentro da sala de aula, agindo muitas das vezes com agressividade com seus educandos. Os professores têm dificuldades emocionais para lidar com problemas de maus-tratos ou de violência que ocorrem em sala de aula e com isso muitos professores acabam agindo com postura autoritária, agressiva e intimidatória como forma de obter poder e controle diante da classe. E com essa postura inadequada os professores transformam-se em modelos referenciais negativos para os alunos que adotam a mesma conduta agressiva adotada por seus mestres. Nas escolas brasileiras já foram retratados pela mídia vários casos de alunos que sofreram bullying advindos de seus próprios professores. Muitos professores se convertem em agressores devido à sua postura autoritária, discriminam seus alunos, fazem comparações, ameaçam, os perseguem, utilizam de apelidos pejorativos os vitimizando a ser mais uma vítima de bullying. A esse respeito Silva (2010, p. 148) comenta: Os alunos vitimizados por quem deveria educá-los e até protegê-los apresentam quadros depressivos caracterizados por sentimentos negativos, autoestima rebaixada, sensação de impotência, desmotivação para os estudos e queda no rendimento escolar. E com essa postura muito professores agem com conduta desrespeitosa diante de seus alunos, sem se darem conta que essas condutas inadequadas podem acarretar em resultados negativos ao aluno vitimizado. Faz-se necessário que o professor leve em consideração a sua postura diante aos sentimentos dos alunos, visto que, a ridicularizarão desse aluno na frente dos demais colegas, é uma das formas de bullying que mais deixa marcas negativas em suas vítimas. De acordo com Silva (2010, p. 169): Todo professor deve proceder de forma que seu comportamento sirva de exemplo para seus alunos. No entanto, por vezes, a escola se depara com circunstâncias em que o professor destitui de suas obrigações e acaba criando situações que podem ameaçar, constranger ou colocar em risco a integridade física ou psicológica de um estudante. Nesses casos, cabe à direção apurar os fatos e, se confirmada a responsabilidade do profissional, deve aplicar-lhe as penas previstas no regimento da instituição. Se necessário, o caso deverá ser encaminhado a instâncias superiores. 38 O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 232, prevê pena (detenção de seis meses a dois anos) para quem ‘submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância à vexame ou à constrangimento’. No entanto, cabe ao professor refletir sua conduta dentro da sala de aula, e transmitir aos alunos a importância do respeito, do companheirismo, da amizade, além de saber intervir de maneira adequada nas situações de conflitos dentro do ambiente escola, agir eticamente pautando sempre no diálogo e sempre priorizando o convívio escolar. Fante (2005, p. 98) enumera alguns questionamentos que os professores devem-se fazer: a) será que as atitudes de alguns profissionais de educação ante um conflito poderão ser adotadas,
Compartilhar