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REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 ANÁLISE DA EFICÁCIA DA MOBILIZAÇÃO NEURAL NA FLEXIBILIDADE DOS MÚSCULOS ISQUIOTIBIAIS Fernando Antonio Rodrigues Cardoso Ana Patrícia Bastos Ferreira Débora Viviane Albuquerque Granja Santana RESUMO A falta da flexibilidade resulta em movimentos corporais imperfeitos, provoca o estresse mecânico das estruturas envolvidas, predispondo o indivíduo a lesões cumulativas do aparelho locomotor. Para restaurar a função nestas estruturas, pode ser utilizada a técnica de mobilização do sistema nervoso, que visa normalizar as funções mecânica e fisiológica desse sistema. Foi realizado um estudo experimental de caráter quantitativo, cuja amostra foi composta por 30 estudantes do curso de Fisioterapia. Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos, cada um com 15 participantes. No Grupo 1 (G1) foi realizado um total de 10 sessões de mobilização neural do nervo ciático, e o Grupo 2 (G2) constituiu um grupo controle. As sessões foram realizadas duas vezes por semana e foram calculadas as médias de goniometria de amplitude de movimento (ADM) de flexão de quadril e extensão de joelho, além da flexibilidade mensurada através do Teste Dedo-Solo. Foi verificada uma diferença estatisticamente significante para o ganho de ADM após a aplicação da mobilização neural para a flexão de quadril (p-valor <0,001) e para a extensão de joelho (p-valor <0,001). A flexibilidade é uma capacidade fundamental para o desenvolvimento movimento humano, para a boa execução das atividades diárias, favorecendo assim, a prática e o desempenho do movimento especializado. Através dos resultados obtidos, foi possível evidenciar o aumento da flexibilidade dos isquiotibiais a partir do ganho de ADM nas articulações envolvidas, nos indivíduos submetidos à Mobilização Neural, comprovando a eficácia deste procedimento. Palavras-chave: Flexibilidade, Alongamento, Nervo Ciático, Fisioterapia. REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 INTRODUÇÃO Um dos principais grupamentos musculares responsáveis pela função motora dos membros inferiores (MMII) diz respeito aos isquiotibiais. Localizado na região posterior da coxa, este grupamento é composto pelos músculos semitendinoso, semimembranoso e bíceps femoral. Essa grande massa muscular está envolvida diretamente nos movimentos de flexão do joelho e extensão do quadril, sendo ativada durante a bipedestação, ao caminhar e ao correr (HALL, 2005; FREITAS; DOMINGUES, 2008). A flexibilidade consiste na capacidade de uma articulação ou uma série de articulações movimentarem-se de maneira suave e fluida, ao longo de uma amplitude de movimento (ADM). Sem restrições e de forma indolor, esta função desempenha um papel importante na fase final de várias situações da dinâmica corporal (KISNER; COLBY, 2009; JESUS, 2004). Nesse contexto, a flexibilidade pode sofrer influência de três fatores: a estrutura óssea da articulação, a quantidade de tecido periarticular e a extensibilidade de tendões, ligamentos e tecido muscular que passam pela articulação. Geralmente, o hábito do sedentarismo é considerado um dos maiores responsáveis pela redução de flexibilidade, pois o desuso da estrutura ocasiona uma adaptação dos tecidos conjuntivos a comprimentos menores, com consequente perda da extensibilidade (CONCEIÇÃO; DIAS, 2004). Diante do exposto, a falta da flexibilidade resulta em movimentos corporais imperfeitos, o que contribui para o uso vicioso da estrutura anatômica em questão, provocando estresse mecânico e predispondo a lesões cumulativas do aparelho locomotor (CONCEIÇÃO; DIAS, 2004). A redução desta capacidade provoca uma alteração dos sistemas funcionais, e no caso da musculatura esquelética, essa situação pode estar associada à atrofia das fibras musculares (JESUS, 2004; FREITAS; DOMINGUES, 2008). Além da atrofia muscular, o sistema nervoso também pode sofrer alterações que resultam em disfunções nas estruturas que recebem sua inervação (LOPES; BARJA; MATOS, et al., 2010). Contudo, os sistemas nervosos central (SNC) e periférico (SNP) devem ser considerados como um todo, em virtude da sua notável capacidade de adaptação em resposta a qualquer movimento corporal, por formar um tecido contínuo. Em virtude desta característica, estresses no SNP são REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 transmitidos para o SNC e tensões do SNC podem ser levadas para o SNP (ALMEIDA; MOREIRA, 2011). A porção central desse sistema é responsável pela recepção de estímulos sensoriais geradores de comandos motrizes que desencadeiam respostas no corpo humano. Já a porção periférica está constituída pelas vias que conduzem os estímulos do SNC aos órgãos que realizam as ordens emanadas da porção central. Os nervos compreendem as vias que conduzem esses impulsos, e dentre os diversos nervos que constituem o corpo humano, nos MMII está o ciático (KIERNAN, 2003; BUTLER, 2003; DANGELO; FATTINI, 2010). Com relação à localização topográfica do nervo ciático, após a sua saída do plexo lombar, ele abrange a região glútea, descendo para coxa, no ponto médio entre a tuberosidade isquiática e o trocânter maior do fêmur. Em decorrência da sua localização anatômica, este nervo é o responsável pela inervação dos músculos isquiotibiais (VICENTE; VIOTTO; BARBOSA, et al., 2007; BUTLER, 1989). Uma das técnicas terapêuticas direcionadas para o tratamento de alterações que acometem o sistema nervoso é a mobilização neural. O ato de mobilizar o tecido nervoso não é uma idéia recente, pois desde 1800 essa técnica vem se aperfeiçoando no meio científico, tanto na teoria quanto na prática. A técnica de mobilização do sistema nervoso visa normalizar as funções mecânica e fisiológica desse sistema, restaurando assim disfunções ocasionadas em estruturas músculo- esqueléticas. Dessa maneira, este tipo de mobilização pode contribuir para minimizar os efeitos deletérios relacionados à falta de flexibilidade muscular e aos distúrbios neurais, sendo reconhecida como mais um recurso terapêutico direcionado ao retorno funcional do corpo (OLIVERIRA JUNIOR; TEIXEIRA, 2007). Diante deste contexto, o objetivo deste estudo foi comprovar a eficácia da mobilização neural no ganho da flexibilidade dos músculos isquiostibiais. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado um estudo experimental, caracterizando esta pesquisa como analítica, de corte transversal, através de uma abordagem quantitativa. A amostra deste estudo foi composta por 30 estudantes do curso de Fisioterapia, jovens e saudáveis, sem história de patologias musculoesqueléticas envolvendo os membros inferiores (MMII). Participaram da pesquisa acadêmicos de ambos os REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 sexos, com faixa etária variando entre 18 e 25 anos. A pesquisa foi realizada na clínica-escola de uma instituição de ensino superior (IES) privada localizada na região metropolitana do Recife. Os critérios de inclusão consistiram nos indivíduos serem considerados sedentários há pelo menos seis meses; em se comprometerem a não participar de nenhum programa de exercícios durante o período deste estudo e apresentarem encurtamento bilateral da musculatura posterior da coxa (grupamento dos isquiotibiais). Nos critérios de exclusão constaram os estudantes que apresentaram hipermobilidade articular (frouxidão ligamentar); trauma recente nos MMII; alterações congênitas ou patológicas dos MMII, além de indivíduos que apresentaram um Índice de Massa Corpórea (IMC) maior que 30, constatandouma situação de obesidade. Para o procedimento de avaliação dos participantes, foi realizada a Goniometria das articulações do quadril e do joelho (bilateralmente) e também o Teste da Distância Dedo-Solo, para verificar a flexibilidade da cadeia posterior. Para a avaliação da flexibilidade da cadeia muscular posterior da coxa, foi utilizado um goniômetro universal da marca Carci com duas hastes de 20 cm de comprimento e eixo com precisão de medida de dois graus, para ser registrada a goniometria de quadril e joelho, bilateralmente. Também foi utilizada uma fita métrica para aplicar o Teste de Dedo-Solo em cada participante. Durante a realização dos procedimentos experimentais foi utilizada uma maca, para que os participantes permanecessem posicionados em decúbito dorsal. O encurtamento dos músculos isquiotibiais foi verificado posicionando os voluntários em decúbito dorsal e fazendo a elevação do membro inferior (MI) avaliado, progredindo para a flexão do quadril com o joelho estendido (o MI contralateral ficou em repouso, apoiado na maca durante a avaliação). A presença de encurtamento era confirmada quando os indivíduos apresentavam uma flexão de quadril menor que 90 graus, com o joelho do MI avaliado estendido. Para realizar a goniometria dos quadris, o eixo do goniômetro foi posicionado ao nível do trocânter maior do fêmur, com braço fixo acompanhando uma linha imaginária localizada na região lateral do tronco e o braço móvel acompanhando a face lateral da coxa do MI avaliado. Todos os voluntários foram posicionados em REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 decúbito dorsal e o pesquisador responsável solicitou que realizassem a flexão do quadril com extensão simultânea do joelho ipsilateral. Os membros superiores (MMSS) permaneceram em repouso ao longo do corpo, durante todo o procedimento. Enquanto era realizada a goniometria do quadril avaliado, o MI contralateral permanecia estendido. Em seguida, esta mesma mensuração foi feita no MI oposto. Para realizar a goniometria dos joelhos, cada voluntário foi posicionado em decúbito dorsal, mantendo as pernas fletidas com os pés apoiados em uma maca. Em seguida, um dos quadris era flexionado a 90° e o avaliador responsável solicitava que o participante estendesse ativamente o joelho. O goniômetro era posicionado com o braço fixo apontando para o trocânter maior do fêmur, o fulcro no centro da articulação do joelho seguindo a linha do côndilo lateral do fêmur, e o braço móvel apontava para o maléolo lateral. Posteriormente, foi procedida a mensuração da perna contra-lateral. Outro teste de flexibilidade utilizado consistiu no Teste Dedo-Solo, no qual cada voluntário foi posicionado em ortostatismo, com os pés paralelos e braços ao longo do corpo. Em seguida, o avaliador responsável solicitava ao participante que fizesse a flexão do tronco mantendo os braços e a cabeça relaxados. Quando alcançada a posição de máxima flexibilidade, o avaliador media a distância perpendicularmente do terceiro dedo da mão direita até o encontro ao solo. Os dados coletados durante a avaliação inicial dos voluntários foram registrados em uma Ficha de Avaliação, elaborada especificamente para este fim, para que as variáveis pudessem ser comparadas ao final da fase de procedimentos experimentais. Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos, cada um com 15 participantes. Nos indivíduos do Grupo 1 (G1) foram aplicadas manobras de Mobilização Neural do nervo ciático, e os participantes do Grupo 2 (G2) fizeram parte de um grupo Controle (e portanto não participaram dos procedimentos experimentais, sendo apenas submetidos às avaliações inicial e final). Todos os participantes foram instruídos a usar roupas apropriadas para não impedir a execução do movimento adequado de flexão de quadril, além de possibilitar a visualização da articulação do joelho durante todas as etapas da pesquisa. REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 Inicialmente, todos os sujeitos foram avaliados e, após serem randomizadamente escolhidos, apenas os voluntários do G1 foram submetidos à Mobilização Neural do nervo ciático. Foram realizadas 3 séries de 1 minuto para cada MI, com intervalo de 30 segundos de descanso entre cada série. Para este procedimento, os indivíduos ficavam em decúbito dorsal em uma maca, e um pesquisador responsável posicionava-os em flexão de 90º do quadril com 90º do joelho, de forma passiva. Posteriormente, para iniciar a mobilização neural, realizava a extensão completa do joelho fazendo a dorsiflexão do tornozelo do MI tratado, com movimentos oscilatórios entre a dorsiflexão e a posição neutra do tornozelo, por 1 minuto ininterruptamente. Este procedimento foi efetuado outras duas vezes. Em seguida, o mesmo procedimento foi realizado com o MI contralateral. Este protocolo de mobilização neural de ciático foi realizado com a freqüência de 2 vezes por semana, totalizando 10 sessões. Nenhum tipo de aquecimento prévio foi realizado, antes da execução dos procedimentos, a fim de influenciar possíveis alterações teciduais. Ao final do período de procedimentos, todos os participantes de ambos os grupos foram reavaliados, mensurando-se as mesmas variáveis da avaliação inicial, para fins de comparação. Foram seguidos os preceitos éticos determinados pelo Conselho Nacional de Saúde através da resolução 196/96 que regulamenta as Diretrizes de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital de Câncer de Pernambuco sob nº CAAE: 1857.0.000.447-11. Aos participantes foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para leitura e autorização voluntária dos procedimentos. RESULTADOS Para a análise dos dados foi construído um banco de dados na planilha eletrônica do Microsoft Excel, com posterior exportação para o software SPSS versão 13, no qual foi realizada a análise estatística. Foram calculadas as frequências percentuais, médias e o desvio padrão. Para comparação entre os valores obtidos antes e depois de cada procedimento (goniometria de quadril, goniometria de joelho e o teste de dedo-solo), foi utilizado o teste de Wilcoxon, considerando isoladamente cada grupo. Para avaliar a existência de diferença REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 estatisticamente significante em relação aos resultados finais obtidos pelos participantes de cada grupo, foi aplicado o teste de Mann-Whitney. Em toda a análise foi considerado o nível de significância de 5% (p < 0,05). Foram avaliados 30 participantes, de ambos os sexos, cuja média de idade correspondente a 20,9 ± 2 anos, sendo apresentadas a idade mínima de 18 anos e máxima de 25 anos. Gráfico 1- Distribuição dos voluntários segundo o sexo. No Gráfico 1 está representada a distribuição dos voluntários avaliados segundo o sexo. Foi possível observar uma predominância relacionada ao sexo feminino (83,3%), e apenas 16,7% destes indivíduos eram do gênero masculino. A Tabela 1 ilustra a análise descritiva das medidas de Goniometria de Quadril e Joelho e do teste de Dedo-Solo antes e depois a Mobilização Neural, na qual os dois primeiros dados estão mensurados em graus, e o terceiro, em centímetros. O delta simbolizado por “Δ” significa a diferença entre os valores mensurados antes e depois do procedimento. É importante mencionar que a melhora na ADM do quadril é REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 percebida à medida que o valor da goniometriade quadril aproxima-se de 90º. Já para as demais variáveis (goniometria de joelho e teste dedo-solo), estima-se uma melhora quando os valores aproximam-se de 0 (zero). No grupo submetido à Mobilização Neural (G1), a goniometria inicial do quadril evidenciou uma média de 61º. Após a aplicação da técnica, o resultado observado foi uma média de 79,8º. Desta forma, foi observado um ganho de 18,8° em relação à ADM do quadril, confirmando assim a diferença estatisticamente significamente obtida (p-valor <0,001). Para a goniometria de joelho, a média inicial observada foi de -36,9º, e após a aplicação da técnica, o resultado encontrado foi correspondente a -11,8º. Neste sentido, a diminuição destes valores confirma a relação estatisticamente significante encontrada (p-valor <0,001). Em relação ao teste de Dedo-Solo, antes da aplicação do procedimento foi verificada uma média de 10,4cm, e após a aplicação da técnica, a média encontrada correspondeu a 1,3cm. A redução destes valores possibilitou a obtenção de uma relação estatisticamente significativa (p-valor <0,001). A tabela 2 ilustra a análise descritiva das medidas de Goniometria de Quadril e Joelho e do teste de Dedo-Solo do Grupo Controle (G2), na qual os dois primeiros dados estão em graus, e o terceiro, em centímetros. No grupo Controle (G2), a goniometria inicial do quadril evidenciou uma média de 55,1º. Na reavaliação, o resultado observado foi uma média de 55,7º. Desta forma, não foi verificada diferença estatisticamente significante (p-valor <0,159), não havendo ganho em relação à ADM do quadril. Para a goniometria de joelho, a média inicial observada foi de -36,5º e na reavaliação o resultado encontrado foi correspondente a -36,2º. Neste sentido, não houve variação estatisticamente significante dos valores, com o p-valor <0,478. Em relação ao teste de Dedo-Solo, na primeira avaliação, foi REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 verificada uma média de 12,2cm, e na ultima avaliação, a média encontrada foi equivalente a 12,3cm. Posto isso, não houve diferença estatisticamente significativa (p-valor <0,888). A tabela 3 ilustra a análise descritiva das medidas finais de Goniometria de Quadril e Joelho e do teste de Dedo-Solo do Grupo de Mobilização Neural (G1) e grupo Controle (G2). No Grupo Controle (G2) a média para a Goniometria de quadril foi de 55,7°, enquanto que no grupo de Mobilização Neural (G1), a goniometria final da referida articulação evidenciou uma média de 79,8º, demonstrando que a aplicação da técnica gerou um valor superior ao encontrado no grupo controle, além de ser constatado um valor estatisticamente significante (p<0,001). Para a goniometria de joelho, G1 obteve uma média de -11,8°, já o grupo controle permaneceu com 36,2°, mostrando mais uma vez que o G1 teve um valor estatisticamente significante. E para o teste de dedo-solo, o G1 apresentou uma média de 1,3cm, e no G2 foi observada uma média de 12,3cm. DISCUSSÃO No contexto da terapia manual, esta pesquisa almejou demonstrar a eficácia da técnica de mobilização neural no ganho de flexibilidade dos músculos Isquiostibiais. De acordo com Monnerat e Pereira (2010), no decorrer dos últimos anos, observou- se um grande avanço desta técnica que tem como objetivo restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nervoso, melhorando a neurodinâmica e restabelecendo o fluxo axoplasmático, obtendo uma homeostasia dos tecidos nervosos. Segundo Mallmann; Moesch; Tome, et al., (2012), o termo neurodinâmica foi proposto em 1995 por Shacklock, por sugerir a inclusão da fisiologia, patofisiologia e patomecânica do tratamento do sistema nervoso. Atualmente, estudiosos como Hall REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 e Elvey (1999), Butler (2003), Shacklock (2007), e vêm trabalhando na divulgação da técnica de mobilização neural pelo mundo, comprovando a sua eficiência. Na perspectiva de Jesus (2004), a técnica de mobilização neural deve ser realizada com oscilações lentas em pacientes que apresentem algum comprometimento neural. Por obter resultados significativos em seus estudos, o autor defende que a mobilização do nervo interfere no fluxo axoplasmático, podendo melhorar a função neural do membro em que é realizada a técnica. Em relação ao gênero dos indivíduos, Ruaro; Ruaro; Reis, et al., (2006) analisaram a eficácia da técnica em indivíduos com lombociatalgia. A amostra foi composta por 6 voluntários, sendo 5 do sexo feminino e 1 do sexo masculino, com média de idade de 46±14 anos. Quanto à distribuição pelo sexo, esta foi ligeiramente inferior à observada nos sujeitos selecionados para a presente pesquisa, entretanto, a faixa etária indicada foi bem superior. Já Smaniotto e Fonteque (2004) recrutaram uma amostra com 10 indivíduos do sexo feminino, com média de idade entre 23 a 45 anos. Quanto à faixa etária, essa foi superior à do presente estudo. Ainda contemplando os achados de Smaniotto e Fonteque (2004), a mobilização neural tem se demonstrado eficaz para a alteração da flexibilidade da musculatura e o retorno das funções normais do sistema nervoso. Como resultado, é observado o consequente aumento de ADM, principalmente na flexão articular do quadril. Fonteque; Petry; Salgado, et al., (2005), descreveram a eficácia da mobilização neural no ganho de ADM do quadril, em comparação ao alongamento passivo. Os resultados obtidos variaram entre 14 e 28 graus de aumento na ADM de flexão de quadril no grupo submetido à mobilização neural. Estes achados assemelham-se aos do presente estudo, visto que os voluntários obtiveram um aumento de, em media, 18,8°. Já no estudo de D’agostin (2007), em que se verificou a flexibilidade da musculatura posterior da coxa e a graduação da dor em pacientes com hérnia discal (L5-S1), com princípios do método Reeducação Postural Global e também da mobilização neural, foi evidenciada uma melhora na flexibilidade e no quadro álgico após a intervenção, permitindo uma maior amplitude de movimento na flexão do quadril. Segundo Machado e Bigolin (2010), quanto à flexibilidade do joelho, após a intervenção da técnica, os sujeitos de sua pesquisa apresentaram uma melhora da flexibilidade estatisticamente significativa, e o programa de mobilização neural REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 mostrou ser eficaz no incremento da flexibilidade da cadeia muscular posterior. Comparando estes dados com os da presente pesquisa, também foi observado um aumento significativo na análise do ângulo de extensão do joelho, podendo-se assegurar a eficiência da técnica estudada na flexibilidade muscular. Corroborando com estes achados, Jesus (2004) e Lima; Vasconcelos; Arcanjo, et al., (2012) realizaram a técnica de mobilização neural, com oscilações lentas, em pacientes com tensão neural e em seguida verificaram um aumento da flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Desta forma, concluíram que a mobilização do nervo interfere no fluxo axoplasmático, podendo ser esperada a melhora da função neural. No tocante à avaliação da flexibilidade da cadeia posterior por meio do Teste Dedo- Solo, foi observado que os participantes da pesquisa de Machado e Bigolin (2010) obtiveram valores negativos, ou seja, ultrapassaram a linha zero, ao conseguirem encostar os dedos no solo. Com isso, ficou demonstrada acentuada melhora da flexibilidade dos músculos isquiotibiais. No presente trabalho, também foi verificado um aumento significativo da flexibilidade dessa musculatura após a aplicação da técnica, através deste teste. Para Oliverira e Teixeira (2007), apesar da técnica não atuar diretamenteem músculos e fáscias, pode ser observado um ganho da flexibilidade da musculatura envolvida, além do aumento ADM das articulações dos MMII. CONCLUSÃO Através dos resultados obtidos, a Mobilização Neural tem se mostrado capaz de melhorar a função do membro submetido á técnica, sendo possível evidenciar um aumento da flexibilidade dos isquiostibiais a partir do ganho de ADM nas articulações envolvidas. Perante esses achados, houve uma sobreposição no grupo de mobilização neural para o grupo controle, e os efeitos citados só ocorreram no grupo que usufruiu da técnica. Contudo, foi testificado que a capacidade dos indivíduos pode ser restaurada e potencializada pela mobilização neural, oferecendo um movimento articular cada vez mais livre. Porém, com a gama diversa de terapias disponíveis ao fisioterapeuta, é importante que este pratique uma terapia efetiva, e empregue técnicas como a mobilização neural com o intuito de promover uma melhor qualidade de vida aos indivíduos, baseando-se em evidências, de acordo com a avaliação clínica do paciente que esteja sob sua responsabilidade. REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE V. 1 / N. 1 / 2014 REFERÊNCIAS ALMEIDA, E.F.; MOREIRA, N.P.C. Mobilização Neural: interpretação e efeitos. Saúde em Diálogo, Fortaleza, v.1, n.2, p.07-13, 2011. BUTLER, D.S. Adverse Mechanical tension in the Nervous System: A Model for Assessment and Treatment. The Australian Journal of Physiotherapy, v. 35, n. 4, p. 227-238, 1989. BUTLER, D.S.; JONES, M.A. Mobilização do sistema nervoso. 1. ed. São Paulo: Manole, 2003. CONCEIÇÃO, A.O.; DIAS, G. A. S. Alongamento muscular: uma versão atualizada. Lato & Sensu, Belém, v. 5, n. 1, p. 136-141, 2004. DANGELO, J.G.; FATTINI, C.A. 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