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Revista CAASP 01/06/20

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REVISTA DA CAASP2PALAVRA DO PRESIDENTE
Palavra do Presidente 
LUÍS RICARDO VASQUES DAVANZO
PRESIDENTE DA CAASP
ABORDAGENS SOBRE 
UM MAL A SER 
VENCIDO
REVISTA DA CAASP 3 PALAVRA DO PRESIDENTE
A terrível pandemia está nos dizendo a que veio, mas não encontra vida 
fácil junto à advocacia. Ordem dos Advogados do Brasil, suas Secionais e 
as Caixas de Assistência atuam diuturnamente para que a classe supere 
todos os tipos de contratempos causados pelo coronavírus. Algumas das 
ações levadas a cabo pela OAB SP e a CAASP são descritas logo nas primeiras 
páginas desta edição – e outras tantas estão sendo anunciadas a cada dia 
nos demais veículos de comunicação das entidades, instrumentos de uma 
força-tarefa que não descansa.
A seção “Saúde” deste quadragésimo-quarto número da Revista da CAASP 
aborda a questão epidemiológica a partir de análises históricas, científicas 
e sociais. Nossa reportagem ouviu infectologistas brasileiros e estrangeiros 
para revelar aos leitores como e por quê um microorganismo transfere-se 
de animais para habitantes de uma determinada localidade e deles para o 
mundo inteiro, analisa as condutas consensuais – e as contraditórias – para 
combatê-lo e projeta seu futuro no seio da sociedade.
A Covid-19 certamente transformará para sempre o modo de viver em 
comunidade, notadamente nos grandes centros urbanos. Isso já é perceptível, 
por exemplo, nos meios de transporte. A seção “Dia a Dia” mostra, a partir 
de experiências pessoais, como locomover-se de bicicleta é cada vez mais 
comum em São Paulo, quanto isso contribui para evitar aglomerações e 
quanto ajuda o corpo humano a aumentar sua capacidade imunológica.
Em paralelo, vale lembrarmos que algumas transformações já vinham 
acontecendo antes do advento do coronavírus, e o uso da inteligência artificial 
na aplicação da justiça é uma delas. Outra reportagem desta edição tenta 
responder à pergunta: seremos julgados por robôs? A matéria em questão 
traz a resposta de especialistas e, fatalmente, depara-se com o inevitável 
vírus: algoritmos estão ajudando, e muito, a combater a Covid-19. 
Esta edição, lançada num momento absolutamente atípico da humanidade, 
traz ainda uma entrevista com o presidente do Tribunal de Justiça de São 
Paulo, desembargador Geraldo Pinheiro Franco, e um alentado artigo da 
advogada Gláucia Savin, presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB 
SP, que nos alerta: “Os aglomerados humanos que contam com habitações 
subnormais, desprovidas de saneamento básico, propiciam um ambiente 
favorável à propagação de doenças, como vemos agora, na pandemia do 
coronavírus”.
Boa leitura!
REVISTA DA CAASP4
JUSTIÇA FEITA POR ROBÔS 
EM VEZ DE HOMENS?
ESPECIAL
página 32 
ÍNDICE
GERALDO 
PINHEIRO FRANCO
ENTREVISTA
página 24 
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TJ
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REVISTA DA CAASP 5
Presidente
Luís Ricardo Vasques Davanzo
Vice-presidente
Aline Silva Fávero
Secretário-geral
Antônio Ricardo Miranda Júnior
Secretário adjunto
Paula Cristina Fernandes
Diretor-tesoureiro
Rodrigo de Moraes Canelas
Diretores
Andréa Regina Gomes, Leandro 
Caldeira Nava, Raquel Tamassia 
Marques, Roberto de Souza Araújo 
e Thaís Helena Cabral Kourrouski
CAIXA DE ASSISTÊNCIA
DOS ADVOGADOS
DE SÃO PAULO
GESTÃO 2019 - 2021
Editor e jornalista responsável
Paulo Henrique Arantes
(Mtb.22.615)
Repórteres
Joaquim de Carvalho e 
Karol Pinheiro
Colaboradora
Vivian Schlesinger (Literatura)
Projeto gráfico e editoração 
eletrônica
Brain Comunicação Digital 
Beatriz de Moura Barretto
Consultor de TI
Arildo Campos
Publicidade
Ana Cláudia Dias de Castro
Fone: (11) 3292-4555
Ilustrações
Paulo Caruso
REVISTA DA CAASP
Revista da CAASP é uma publicação 
bimestral da Caixa de Assitência 
dos Advogados de São Paulo
Rua Benjamim Constant, 75 
São Paulo - SP CEP 01005-000 
Tel.: (11) 3292-4400.
OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO 
REFLETEM NECESSARIAMENTE 
A OPINIÃO DA REVISTA OU DA 
CAASP.
ÍNDICE
NOTÍCIAS
página 6
SAÚDE
CORONAVÍRUS: PASSADO, 
PRESENTE E FUTURO
página 14
DIA A DIA
PANDEMIA PODE DEFINIR FUTURO 
DOS TRANSPORTES EM SÃO PAULO
página 42
CINEMA
O VÍRUS MORTAL DE ELIA KAZAN
página 50
LITERATURA
OPULÊNCIA
página 54
OPINIÃO
GLÁUCIA SAVIN
página 60
REVISTA DA CAASP6
A OAB SP e a CAASP instituíram um 
auxílio humanitário para a advocacia. 
Denomina-se Benefício Alimentar 
Temporário e destina-se a profissionais 
regularmente inscritos nos quadros da 
Secional que estejam em dificuldade 
econômica que lhes comprometa o 
sustento próprio e da família. A finalidade 
do benefício é a compra de alimentos 
(cesta básica).
 O Benefício Alimentar Temporário 
tem valor de R$ 100,00. Para requerê-lo, 
basta preencher o formulário disponível no 
site da Caixa (www.caasp.org.br) e enviá-
lo para o email beneficiocovid@caasp.org.
br. , acompanhado de cópia da Carteira da 
OAB.
A medida é parte das ações que 
vêm sendo desenvolvidas pela Ordem e a 
Caixa para minimizar as dificuldades que 
a advocacia enfrenta face à pandemia 
de coronavírus. O número de possíveis 
beneficiários será limitado à disponibilidade 
de um fundo específico cujo montante 
inicial de recursos poderá atender até 36 
mil inscritos, entre advogadas, advogados, 
estagiárias e estagiários de Direito.
“O Benefício Alimentar Temporário 
não foi concebido para solucionar 
problemas econômicos da advocacia. Sua 
natureza é humanitária. Trata-se de um 
socorro emergencial àqueles colegas que 
se encontrem num grau de dificuldade até 
mesmo para alimentar a família”, explica o 
presidente da CAASP, Luís Ricardo Vasques 
Davanzo.
“A criação do Benefício Alimentar 
cumpre o foco da Ordem e da Caixa no 
momento: priorizar quem tem menos”, 
afirma o presidente da OAB SP, Caio 
Augusto Silva dos Santos.|
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
CAASP E OAB SP CRIAM 
BENEFÍCIO ALIMENTAR 
TEMPORÁRIO PARA A 
ADVOCACIA
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REVISTA DA CAASP 7
A Campanha CAASP de Vacinação 
contra Gripe, que imuniza contra os vírus 
Influenza e H1N1, começou na Capital no 
dia 6 de abril. De 13 de abril a 8 de maio, 
realizaram-se as visitas às Subseções da 
OAB SP. Neste ano, a ação preventiva 
esteve mais em conta para a advocacia 
do que na edição passada: R$ 57,00. Foi 
gratuita a participação daqueles com mais 
de 65 anos.
As equipes de vacinação e o 
corpo técnico da CAASP orientaram os 
participantes nos locais para que sejam 
observados os procedimentos de segurança 
necessários para evitar a disseminação do 
coronavírus.
 “A Campanha de Vacinação contra 
Gripe foi organizada pela Caixa de modo 
a cobrir a demanda da advocacia de 
forma confortável e segura. Sabemos das 
implicações excepcionais que existem neste 
ano por conta da pandemia de coronavírus, 
que a todos aflige. Por isso, as tratativas 
com a empresa que praticará o ato vacinal 
foram extremamente detalhistas”, afirmou 
a vice-presidente da CAASP, Aline Fávero. 
Para evitar aglomerações, foram abertos 
lotes limitados de vacinas semanalmente.
A advocacia recebeu a vacina 
quadrivalente, que imuniza contra gripes 
sazonais e H1N1. “É sabido que a vacina a ser 
aplicada ainda não imuniza contra o novo 
coronavírus. Mas garante a proteção das 
pessoas contra as demais gripes, evitando 
uma possível concorrência de sintomas 
com a Covid-19”, concita o presidente da 
Caixa de Assistência, Luís Ricardo Vasques 
Davanzo.
Segundo o presidente da OAB SP, 
Caio Augusto Silva dos Santos, “a saúde 
preventiva, mais do que nunca, é pauta 
prioritária da Ordem e da Caixa. Neste 
momento, em que todos vivemos as 
agruras provocadas por uma pandemia 
sem precedente, barrar uma segunda 
fonte de infecção viral é fundamental”.|
CAASP REALIZA CAMPANHA 
DE VACINAÇÃO CONTRA 
GRIPE EM TODO O ESTADO
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
REVISTA DA CAASP8
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
A Caixa de Assistência dos Advogados 
de São Paulo agregou à sua rede novos 
laboratórios para a realização do exame 
de detecção da Covid-19, localizados na 
Capital, na Grande São Paulo, no Interior e 
no Litoral. São 38 serviços ao todo (listados 
em www.caasp.org.br),cujo atendimento 
abrange 94 cidades. .
A maioria das unidades procede à 
coleta em domicílio. Em hospitais, o exame 
é condicionado à internação do paciente. 
A realização do teste requer prescrição 
médica. 
“Os serviços credenciados para 
realização do teste de coronavírus têm a 
qualidade exigida pelo sistema de saúde 
da CAASP e estão prontos para atender os 
colegas. Não descansaremos um minuto 
sequer na luta para que a advocacia vença 
esse mal que se põe à nossa frente”, afirma 
a vice-presidente da Caixa, Aline Fávero.
O credenciamento de laboratórios 
que realizam teste de coronavírus soma-
se a uma série de iniciativas da CAASP em 
apoio à advocacia neste momento de crise 
de saúde pública. Já em março, a entidade 
passou a analisar e a deliberar de imediato 
as solicitações por auxílio extraordinário, 
feitas junto ao setor de Benefícios, de 
advogados e advogadas contaminados 
pela Covid 19.|
LABORATÓRIOS 
REFERENCIADOS PELA CAASP 
FAZEM TESTE DE COVID-19 EM 
94 CIDADES
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REVISTA DA CAASP 9
Desde o dia 30 de março as compras 
nas farmácias da Caixa de Assistência dos 
Advogados de São Paulo e também na loja 
virtual da entidade (www.caaspshop.com) 
podem ser parceladas em até 10 vezes no 
cartão de crédito. Antes, o parcelamento 
máximo dava-se em até cinco vezes. A 
medida, fruto de pedido formalizado à 
CAASP pelo conselheiro secional Luiz 
Eugênio Marques de Souza, soma-se a 
uma série de iniciativas que vêm sendo 
tomadas pela Caixa e pela OAB SP em 
apoio à advocacia contra as dificuldades 
decorrentes da pandemia de coronavírus.
“Negociamos com as empresas 
administradoras de cartão de crédito com 
as quais trabalhamos nas nossas unidades 
e conseguimos essa diferenciação sem 
qualquer taxa adicional. Os sistemas 
internos da Caixa já estão prontos para 
operar com o novo parcelamento a partir 
desta segunda-feira”, explica o diretor-
tesoureiro da CAASP, Rodrigo Canelas.|
CORONAVÍRUS: COMPRAS 
NAS FARMÁCIAS DA CAASP 
PODEM SER PARCELADAS 
EM ATÉ 10 VEZES
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
REVISTA DA CAASP10
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
A concessão do Auxílio Extraordinário, 
um dos benefícios pecuniários que a CAASP 
disponibiliza a advogados e advogadas 
em comprovada situação de carência, 
está sendo analisada de modo imediato 
para aqueles solicitantes que estejam 
contaminados pelo Covid-19, assim decidiu 
a Diretoria da Caixa de Assistência dos 
Advogados de São Paulo, em iniciativa que 
se soma a uma série de medidas já tomadas 
para frear a disseminação e minimizar os 
efeitos da pandemia de coronavírus. Está 
mantido o sistema de recepção de pedidos 
pelo site da entidade (www.caasp.org.br). 
 O deferimento dos pedidos 
é condicionado à comprovação da 
contaminação e ao preenchimento dos 
demais pré-requisitos necessários à 
concessão do benefício.
 O Auxílio Extraordinário visa a 
atender situações especiais ou emergenciais 
imprevisíveis, devidamente comprovadas, 
em valor não superior ao teto fixado 
pela Diretoria, em caráter reembolsável 
ou não, após regular processo, onde se 
apreciará a excepcionalidade do caso e o 
fato de ser o favorecido carente ou não. 
Trata-se de auxílio de natureza pecuniária, 
de prestação única, que visa atender ao 
advogado, à advogada ou dependentes 
devidamente cadastrados na entidade.|
CAASP ANALISA DE IMEDIATO 
PEDIDOS POR AUXÍLIO 
EXTRAORDINÁRIO DE 
ADVOGADOS E ADVOGADAS 
CONTAMINADOS PELO 
CORONAVÍRUS
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REVISTA DA CAASP 11
A advocacia é uma das classes que 
mais sofrem com doenças decorrentes 
de estresse, como hipertensão, risco 
cardiovascular, obesidade e outras 
transtornos psicológicos, como depressão 
e ansiedade. Epidemias – ou pandemias – 
de doenças infecciosas como a da Covid-19 
têm potencial de agravar esses casos e até 
provocá-los em quem nunca experimentou 
efeitos psicológicos dessa ordem. 
Preocupada com a saúde mental da classe, 
a CAASP coloca no ar uma plataforma de 
saúde mental exclusiva para a advocacia 
paulista.
O site, indicado para quem deseja 
obter apoio psicológico ou mesmo aqueles 
interessados em informações científicas 
sobre saúde emocional, traz conteúdos que 
ajudam a lidar com questões emocionais 
e orientam sobre como amenizá-los. 
A advocacia também tem acesso a 
cartilhas e e-books sobre bem-estar e ao 
“estressômetro” – um teste on-line para 
aferir o nível de estresse. O acesso a tudo 
isso é gratuito.
Quem necessitar de uma atenção 
individualizada, poderá recorrer a 
orientação psicológica on-line com 
profissionais de psicologia na plataforma, 
credenciados ao Conselho Federal de 
Psicologia (CFP). Os valores das consultas 
virtuais são subsidiados em mais de 50% 
pela Caixa de Assistência, tornando o preço 
do atendimento mais acessível. A primeira 
consulta com especialista custa R$ 39,90. 
É possível ainda fechar pacotes, duas ou 
mais sessões saem por apenas R$ 35,00 
cada.
A plataforma de saúde mental 
da advocacia paulista - CAASPsico, foi 
desenvolvida pela Bee Touch, startup 
especializada em criar soluções de saúde na 
área. Quem esteve à frente da formulação 
do portal foi a Dra. Ana Carolina Peuker, 
sócia-fundadora da Bee Touch, doutora 
em psicologia e membro do Grupo de 
Trabalho de Enfrentamento à Covid-19, da 
Sociedade Brasileira de Psicologia.
Para acessar a plataforma de 
saúde mental, basta clicar no banner da 
plataforma no rotativo do site da CAASP 
(www.caasp.org.br).|
CAASP LANÇA PLATAFORMA 
ON-LINE DE SAÚDE MENTAL 
EXCLUSIVA DA ADVOCACIA 
PAULISTA 
CA
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
REVISTA DA CAASP12
Ficar em casa é indispensável contra 
a disseminação do novo coronavírus. O 
isolamento social por período prolongado, 
contudo, é um desafio a mais. A falta de 
atividade física pode prejudicar a saúde, 
comprometer o bem-estar e a qualidade de 
vida. Por isso o Departamento de Esportes 
e Lazer da CAASP, sob responsabilidade do 
diretor Roberto de Souza Araújo, firmou 
parceria com a educadora física Andréa 
Gomes para que a advocacia e 
seus familiares exercitem-se em 
casa durante o confinamento de 
forma orientada.
“Sempre estivemos 
comprometidos em promover 
e levar esporte e saúde à 
advocacia. Neste momento de 
crise pelo qual passa o mundo, 
não nos furtamos desse valor 
e contamos com a ajuda da 
tecnologia para seguir cuidando 
do bem-estar da classe”, declara 
Araújo.
Desde 6 de abril, a 
advocacia pode se exercitar 
junto com a personal trainer 
por meio de vídeos que serão 
postados no canal do Youtube da entidade, 
e TV CAASP.
A cada semana um novo vídeo é 
postado. Os treinos têm duração de 30 
minutos. “Os treinos não exigem nenhum 
equipamento especial e podem ser 
realizados com o peso do próprio corpo e 
de acordo com nível de condicionamento 
físico de cada um”, afirma Andréa Gomes.|
NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
EM TEMPO DE QUARENTENA, 
CAASP ORIENTA EXERCÍCIOS 
FÍSICOS NAS REDES SOCIAIS
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REVISTA DA CAASP 13
A CAASP está oferecendo no seu 
canal TV CAASP do Youtube - aulas de 
pilates on-line com a fisioterapeuta Mônica 
Gândara. Originalmente, a aula fazia parte 
do cronograma de atividades presenciais 
de bem-estar, organizada pela diretora 
da CAASP Andréa Regina 
Gomes, para o mês de março. 
“Em virtude da pandemia de 
coronavírus e das medidas 
para frear a transmissão da 
doença, esse e outros eventos 
da entidade foram cancelados. 
Porém, cientes da importância 
de promover o bem-estar 
da advocacia, especialmente 
agora, recorremos à tecnologia”, 
observa Andréa Gomes.
A cada semana um 
novo vídeo é postado. A aula, 
indicada para todos os públicos, 
tem duração de 45 minutos e 
pode ser feita de duas a três 
vezes na semana. Além da aula 
gravada, advogados, advogadas, 
estagiárias e estagiários 
de Direito, seus cônjuges e 
dependentes também poderão 
fazer aulas ao vivo, diretamente com a 
instrutora, às quartas - feiras, às 11h, no 
perfil do Instagram @mo_gandara.|
CAIXA OFERECE AULAS DE 
PILATES NAS REDES SOCIAIS 
PARA A ADVOCACIAPi
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
REVISTA DA CAASP14SAÚDE
SAÚDE
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REVISTA DA CAASP 15 SAÚDE
CORONAVÍRUS: 
PASSADO, 
PRESENTE E 
FUTURO
 Em outubro de 2019, líderes governamentais, autoridades de saúde 
pública e empresas globais que pertencem ao rol de indústrias-chave 
na resposta à pandemias reuniram-se em um evento promovido 
pelo John Hopkins Center for Health Security, a Fundação Bill e 
Melinda Gates e o Fórum Econômico Mundial, para simular o que 
poderia acontecer se um novo vírus varresse o mundo. O que no 
encontro era uma hipótese tornou-se realidade no fim de dezembro, 
quando Organização Mundial da Saúde (OMS) foi informada que 
“uma pneumonia de causa desconhecida” havia sido detectada 
em Wuhan, a maior cidade da província chinesa de Hubei.
A SARS-CoV-2, um novo tipo de coronavírus, espalhou-se por 180 
países, infectando pessoas e matando pacientes. Ruas ficaram 
vazias, pessoas foram afastadas do trabalho, de familiares e amigos, 
hospitais lotaram e sistemas de saúde entraram em colapso.
Depois de séculos de saber acumulado e amparados pelas 
mais modernas tecnologias já produzidas, não somos capazes 
de prever o surgimento de um novo inimigo acelular?
reportagem | KAROL PINHEIRO
REVISTA DA CAASP16
Sete dos vírus da 
família dos coronavírus 
já alcançaram humanos 
vindos de outros animais, 
sendo responsáveis 
por pandemias como a 
Síndrome Respiratória 
Aguda Grave (Sars), 
em 2003, e a Síndrome 
Respiratória do Oriente 
Médio (Mers), em 2012.
Cansados de serem 
pegos de surpresa, 
cientistas se uniram 
num projeto para tentar 
encontrar e catalogar 
todas as ameaças virais presentes em 
animais e que têm potencial de chegar aos 
seres humanos.
Liderado por Dennis Carroll, ex-diretor da 
unidade de pandemia de influenza e ameaças 
emergentes da Agência dos Estados Unidos 
para o Desenvolvimento Internacional 
(USAID), o Global Virome Project (www.
globalviromeproject.org) estima que 
existam cerca 1,6 milhão de espécies virais 
desconhecidas em mamíferos e aves, das 
quais aproximadamente 700 mil teriam 
potencial para infectar humanos, e sobre as 
quais será possível obter conhecimento nos 
próximos 10 anos.
A tarefa de Caroll e sua equipe é ambiciosa, 
mas pode fazer diferença, como apontou o 
doutor em microbiologia pela Universidade 
de São Paulo Atila Iamarino, em um vídeo 
que viralizou na internet. Segundo ele, a 
rapidez com que a China detectou o novo 
coronavírus deve-se ao “monitoramento 
constante de vírus circulando [no país]”. 
Iamarino lembrou que desde a Sars (2003), 
o país asiático realiza estudos em morcegos, 
conhecidos por carregar uma grande 
variedade de vírus, na tentativa de antever 
o aparecimento de um novo microrganismo.
Em “Severe Acute Respiratory Syndrome 
Coronavirus as an Agent of Emerging and 
Reemerging Infection”, estudo publicado 
no Clinical Microbiology Reviews Journal 
em 2007, pesquisadores da Universidade 
de Hong Kong apontam a espécie exata de 
morcegos com potencial para disseminar 
um surto de coronavírus. “A presença de 
um grande reservatório de vírus do tipo 
SARS-CoV em morcego-de-ferradura-grande, 
junto com a cultura de comer mamíferos 
exóticos no sul da China, é uma bomba-
relógio. A possibilidade de reemergência 
da SARS e outros novos vírus e, portanto, 
a necessidade de preparação não deve ser 
ignorada”, escreveram os pesquisadores na 
época. 
Quando analisadas sob o olhar de 
hoje, as palavras do estudo chinês soam 
premonitórias. Mas a verdade é que tentar 
prever qual virus dará seu salto evolutivo 
para a humanidade e quando isso acontecerá 
é raro e quase improvável. 
“As chances de um determinado vírus 
emergir e causar um surto na população 
humana depende muito do processo 
SAÚDE
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Em morcegos e outros animais, a origem de 
vários vírus.
REVISTA DA CAASP 17
evolutivo do próprio vírus, dos animais em 
que se hospedam, das pessoas que têm 
contato com esses animais - e das formas 
com que têm contato -, do ambiente em que 
todos vivem e de como todas essas situações 
corroboram para o salto evolutivo desses 
microorganismos”, diz Eliseu Alves Waldman, 
médico epidemiologista e professor 
do Departamento de Epidemiologia da 
Faculdade de Saúde Pública da Universidade 
de São Paulo.
Além disso, como lembra Maria Rita 
Donalisio, médica epidemiologista e 
professora da Faculdade de Ciências Médicas 
da Unicamp, microrganismos (vírus, bactérias, 
parasitas, fungos) são bons em se adaptar, 
adquirem novas habilidades biológicas e 
ecológicas, respondendo às ações humanas 
sobre seus espaços. 
“As ações antrópicas como invasão 
e degradação de habitats naturais, 
aglomerações humanas, intenso intercâmbio 
e deslocamentos populacionais, contato 
ocupacional ou alimentar com animais 
geneticamente modificados, exposição a 
antibióticos, hormônios e outras substâncias, 
o convívio doméstico com animais silvestres, 
entre outras situações, pressionam para 
mudanças biológicas dessas espécies de 
agentes infectantes”, salienta a professora 
da Unicamp.
É por isso que pandemias têm ocorrido 
com cada vez mais frequência e intensidade, 
não só em número de mortos e infectados, 
mas também em termos econômicos. Um 
levantamento global da consultoria de riscos 
Marsh revelou que esses eventos causaram 
perdas econômicas de US$ 197,7 bilhões no 
mundo, de 2001 a 2016.
“É muito difícil erradicar microorganismos, 
particularmente se circula entre animais”, 
afirma Donalisio, que defende o conceito de 
One Health (Saúde Única, em português), 
no qual a saúde humana depende 
necessariamente da saúde animal e 
ambiental.
Assim, mesmo que a humanidade produza 
ainda mais avanços tecnológicos, teremos 
novas espécies ou adaptações de germes, 
circulando no planeta. O que importa, 
segundo os cientistas consultados pela 
Revista da CAASP, é perceber o início das 
pandemias o mais cedo possível.
A atuação dos serviços de vigilância 
epidemiológica são fundamentais para 
a detecção precoce de pandemias. Esses 
setores contam com vários instrumentos 
epidemiológicos e estatísticos que permitem 
acompanhar o comportamento de doenças 
conhecidas e desconhecidas, prevendo assim 
a sua disseminação e traçando estratégias 
de prevenção e controle da situação 
rapidamente.
O epidemiologista Eliseu Alves Waldman 
SAÚDE
OLHAI E VIGIAI
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Donalísio: “É muito difícil erradicar 
microorganismos que circulam entre animais”.
REVISTA DA CAASP18SAÚDE
destaca a importância desses organismos 
ao lembrar da febre purpúrica brasileira, 
infecção infantil causada por bactéria. 
“Na década de 80, os serviços de vigilância 
do norte do Paraná identificaram um 
comportamento diferente dessa cepa de 
bactérias em humanos e soltaram um alerta. 
A doença chegou a outros estados, mas foi 
rapidamente controlada. Felizmente, pois 
sua letalidade que chegava a 70%”, recorda 
o professor da USP.
Nesse sentido, o ambiente de vigilância 
massiva sob o qual vive o povo chinês - por 
conta de fatores sócio-político-culturais do 
país -, fez ainda mais diferença no impacto 
que a doença teve no país asiático, quando 
comparado ao dos países ocidentais, como 
observou em um artigo no jornal “El País” o 
filósofo sul-coreano Byung-Chul Hang, autor 
de “Sociedade do Cansaço” (2010).
“Na China não há nenhum momento da 
vida cotidiana que não esteja submetido à 
observação. Cada clique, cada compra, cada 
contato, cada atividade nas redes sociais 
é controlada. Quem atravessa no sinal 
vermelho, quem tem contato com críticos 
do regime e quem coloca comentários 
críticos nas redes sociais perde pontos. 
Toda a infraestrutura para a vigilância 
digital se mostrou agora extremamente 
eficaz para conter a epidemia. Quando 
alguém sai da estação de Pequim é captado 
automaticamente por uma câmera que mede 
sua temperatura corporal. Se a temperatura 
é preocupante, todas as pessoas que 
estavam sentadas no mesmo vagão recebem 
uma notificação em seus celulares. Não é 
por acasoque o sistema sabe quem estava 
sentado em qual local no trem”, escreveu 
Byung-Chul Hang.
Ao ser entrevistado no Roda Viva, o 
pesquisador científico Atila Iamarino 
também pontuou a presteza chinesa para 
detecção e resposta à Covid-19. “A China 
tem suas peculiaridades por ser um 
estado autoritário, mas em termos 
de responsabilidade, eu ainda 
acredito que eles agiram mais cedo 
do que qualquer outro país agiu”, 
disse Iamarino.
Além da vigilância epidemiológica 
feita pela OMS, cada país, estado e 
município conta com seu próprio 
sistema e equipes de vigilância 
epidemiológica. Mas de nada adianta 
a detecção precoce de pandemias 
por parte desses organismos se as 
autoridades não agem prontamente 
quando alertadas. E essa foi a triste 
escolha dos países ocidentais.
Quando a China alertou a 
Organização Mundial de Saúde 
sobre o surto do novo coronavírus, 
sua alta taxa de transmissibilidade, 
as complicações aos pulmões e o 
risco de morte que o vírus poderia causar, 
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Wadman: serviços de vigilância epidemiológica 
são fundamentais.
REVISTA DA CAASP 19 SAÚDE
em 31 de dezembro de 2019, e a entidade 
repassou as informações ao resto do mundo, 
o Ocidente tratou o vírus como se fosse uma 
“gripezinha”.
O momento não podia ter sido pior. 
É exatamente no fim de dezembro que 
aeroportos de todo o mundo lotam de 
passageiros prontos para viajarem e 
comemorarem o réveillon em outros 
destinos. Pelo menos 175 mil pessoas 
deixaram a cidade de Wuhan em 1º de 
janeiro, como revelou o jornal “The New 
York Times”, após uma análise dos dados 
coletados das principais telecomunicações 
chinesas que rastreiam os movimentos de 
milhões de telefones celulares por lá. 
O estudo de modelagem “Substantial 
undocumented infection facilitates the rapid 
dissemination of novel coronavirus (SARS-
CoV2)” da Universidade de Columbia, em 
Nova York, apontou ainda que nas duas 
semanas que se seguiram a notícia de que 
havia um surto de um novo coronavírus 
na China, ao menos 85% dos passageiros 
infectados, com sintomas leves ou 
assintomáticas, passaram despercebidos 
por aeroportos de todo o mundo. Os 
pesquisadores acreditam que foi assim que 
o vírus começou a se espalhar localmente 
em outros países, provocando o início da 
pandemia.
Como a matemática ajuda a explicar, 
a transmissão da Covid-19 segue uma 
função exponencial, no qual o número se 
multiplica por ele mesmo. Dessa maneira, 
numa epidemia em que o número de novos 
casos dobra a cada três dias, no primeiro dia 
haverá um caso, no terceiro dois casos, no 
sexto dia serão quatro casos, no nono dia 
serão dezesseis e assim por diante. 
Foi por receio de desacelerar suas 
economias que alguns governantes 
escolheram não levar a sério os reiterdos 
avisos das autoridades sanitárias 
internacionais e locais, minimizando os 
riscos do Covid-19, recusando-se a agir 
com a urgência necessária e perseguindo 
iniciativas de respostas de líderes regionais 
compatíveis com a gravidade da ameaça em 
curso.
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Nos círculos vermelhos, a intensidade da pandemia pelo mundo até o fechamento desta edição.
REVISTA DA CAASP20
Doenças infecciosas epidêmicas sempre 
acompanharam a humanidade. Algumas 
surgem e desaparecem, outras persistem no 
tempo ou adquirem novas características, 
como aconteceu agora com a SARS-CoV-2. 
Também esse vírus será vencido, ainda que 
o custo para chegarmos a esse ponto, com 
o menor número possível de infectados e 
mortos, provoque um choque inicial nas 
economias e a cura demore um pouco para 
chegar.
Apesar de alguns percalços no início, 
quando o mundo percebeu a gravidade da 
pandemia de Covid-19 passou a responder 
com velocidade e mobilização de recursos 
sem precedentes.
O vírus foi identificado rapidamente. 
Seu genoma foi sequenciado por cientistas 
chineses e compartilhado com todo o 
mundo. Conforme os casos foram surgindo 
em outros países, as comunidades científicas 
locais também correram para sequenciar o 
genoma do vírus. Era o que precisava para 
o desenvolvimento de vacinas e drogas para 
tratamento da doença. 
O mundo começou a redirecionar a 
produção industrial e de infraestrutura 
para saúde. Hospitais de campanha foram 
construídos em tempo recorde. Montadoras 
de veículos passaram a usar seu maquinário 
para produzir ventiladores e respiradores, 
que depois são montados por empresas 
especializadas nesse serviço. Cervejarias 
anunciaram a transformação de etanol em 
álcool em gel, entre muitas outras iniciativas 
globais e locais.
Aliadas às medidas de isolamento - 
característica das mais importantes nessa 
cadeia de medidas -, as estimativas de 
impacto da pandemia foram revisadas e 
começaram a apontar projeções um pouco 
mais animadoras. 
Segundo o centro de análise do Imperial 
College Londres, no estudo “The global 
impact of Covid-19 and 
strategies for mitigation 
and Supression”, ainda que 
seja necessário manter o 
isolamento e até ampliá-
lo em alguns países e que 
serviços de saúde sigam 
sendo muito requisitados, o 
mundo ganhou tempo.
Na economia, estudos 
preliminares também 
mostram que estamos no 
caminho certo. “Pandemics 
depress the economy, public 
health interventions do not: 
evidence from the 1918 flu”, 
estudo do Federal Reserve 
VAMOS VENCER ESSA 
PANDEMIA?
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Cientistas em trabalho diuturno. Chegaremos à cura, mas quando?
SAÚDE
REVISTA DA CAASP 21
(o Banco Central americano) e da escola de 
negócios Sloan School of Management, do 
MIT (Massachusetts Institute of Techonology), 
mostrou que as medidas de isolamento 
horizontal podem ser também responsáveis 
por uma recuperação econômica mais rápida 
e robusta após o seu fim.
Eles avaliaram a experiência dos Estados 
Unidos durante e após a chamada gripe 
espanhola, que se estendeu entre janeiro 
de 1918 e dezembro de 1920, causando pelo 
menos 50 milhões de mortes e infectando 
cerca de um terço da população mundial. As 
localidades norte-americanas que reagiram 
mais prontamente à pandemia de 1918 
registraram uma retomada econômica mais 
forte no ano seguinte.
Contudo, prever quando a pandemia 
irá acabar é mais um exercício de 
futurologia. As características de uma 
epidemia - a contagiosidade do patógeno, 
a taxa de transmissão, a disponibilidade de 
equipamentos médicos e assim por diante 
- mudam rapidamente durante o curso da 
própria doença, por isso cientistas de várias 
partes do mundo correm contra o tempo 
para encontrarem um remédio contra o novo 
coronavírus e, principalmente, uma vacina.
Os mais otimistas preveem uma vacina 
para Covid-19 dentro de um ano e meio. 
Porém, é possível ainda que o vírus sofra 
mutações e as vacinas talvez precisem estar 
em constante desenvolvimento, como ocorre 
com as vacinas da gripe. A Organização 
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Estádio do Pacaembu transformado em hospital de campanha.
SAÚDE
REVISTA DA CAASP22
Mundial da Saúde anunciou uma pesquisa 
global chamada de Solidarity (solidariedade, 
em inglês) para testar, em milhares de 
pacientes, quatro terapias promissoras 
contra a Covid-19. 
Até que essas abordagens saiam, 
seguiremos eliminando surtos aqui e ali. 
“A epidemia de doença meningocócica 
(epidemia de meningite) da década de 70 
teve impacto devastador, principalmente 
nas grandes cidades brasileiras e, pior, nas 
periferias urbanas. Doença bacteriana grave 
com alta mortalidade, a meningite abarrotou 
os poucos hospitais que tinham isolamento. 
Somente em 1974, após a campanha de 
vacinação em massa, a curva epidêmica 
caiu mais rapidamente”, lembra Maria Rita 
Donalisio.
Enfrentar e sobreviver a pandemias 
não é fácil. Mas eventos extremos podem 
catalisar boas mudanças. A partir da SARS-
CoV-2 podemos finalmente aprender que a 
preparação para pandemias não se restringe 
apenas a tentar descobrir qual será o 
próximo vírus a emergir, mas também a ter 
um sistema de saúde consolidado, estável 
e universal, um programade investimentos 
constante em ciência e tecnologia e confiança 
nos cientistas.|
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Avenida Paulista deserta: sem distanciamento social, sistema de saúde entrará em colapso.
SAÚDE
REVISTA DA CAASP 23 SAÚDE
REVISTA DA CAASP24GERALDO PINHEIRO FRANCO | ENTREVISTA
GERALDO
PINHEIRO FRANCO
ENTREVISTA
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REVISTA DA CAASP 25 ENTREVISTA | GERALDO PINHEIRO FRANCO
Geraldo Pinheiro Franco nasceu em São Paulo e se formou em Direito pela USP na turma de 1979. 
Ingressou na magistratura em 1981 e desde 2001 atua no TJ-SP. Foi presidente da Seção de Direito 
Criminal no biênio 2014-2015. Como corregedor da Corte que hoje preside, fez mais de 700 visitas 
às serventias judiciais e extrajudiciais ao longo de 2018. Em entrevista ao editor da Revista da 
CAASP, Paulo Henrique Arantes, informou que, graças à qualidade do sistema de informática do 
Tribunal, 40 mil servidores passaram a atuar remotamente durante a crise do coronavírus, sem 
comprometimento dos processos.
Nas linhas a seguir, Pinheiro Franco fala sobre a situação financeira do Tribunal, do polêmico 
contrato com a Microsoft, de prerrogativas da advocacia, da criação do juiz de garantias e outros 
assuntos, entre os quais a politização da justiça. “A política e a ideologia não são bons parceiros 
do juiz. Se desejarem fazer política, deixem a magistratura. O juiz precisa de isenção absoluta, 
imparcialidade absoluta e independência absoluta”, diz o magistrado.
[ Revista da CAASP ] – A informatização da Justiça é cada vez mais necessária, e se faz ainda 
mais importante face à pandemia de coronavírus. Como está o TJSP nesse campo?
[Geraldo Pinheiro Franco] – A tecnologia da informação fez do Tribunal de Justiça uma 
Corte 100% digital. E os processos físicos antigos, segundo projeto de minha gestão, deverão 
ser digitalizados até o final de 2021. Estamos bem. Implementando novidades e melhorando 
nossa capacidade. O trabalho remoto que estamos realizando nesse momento bem diz 
sobre isso. Em 10 dias, mercê do trabalho de juízes e servidores técnicos, colocamos 40 mil 
servidores em casa, em sistema de trabalho remoto, que vem funcionando perfeitamente. 
Mas ainda vamos melhorar, em prol do cidadão e dos profissionais do Direito.
A inteligência artificial é cada vez mais utilizada no Direito. Seremos julgados por máquinas?
Não se trata de sermos julgados por máquinas. Nada disso. Bem diferente. As máquinas vão 
fazer trabalhos para que ganhemos tempo. Indicarão aos juízes, por exemplo, casos similares 
e decididos pacificamente na jurisprudência. A partir disso, o magistrado poderá examiná-los 
com muito mais agilidade, deixando mais tempo para o exame de outros mais complexos. 
Os robôs são de uma utilidade ímpar. Processam, por exemplo, as execuções fiscais, com 
“SE DESEJAREM FAZER POLÍTICA, 
DEIXEM A MAGISTRATURA”
REVISTA DA CAASP26
absoluta agilidade, apresentando-as ao 
juiz para deliberação especial ou decisão. 
Ganhamos em tempo, qualidade e 
quantidade, com segurança.
Comente a questão do contrato do TJSP 
com a Microsoft, a medida do CNJ e a 
posição do STF.
O tema está superado, não fosse pela 
deliberação do Conselho Nacional de 
Justiça, mas pelo entendimento da 
Corte, hoje, no sentido de que vamos 
implementar e realinhar nossas relações 
comerciais com a Softplan, empresa 
parceira do Tribunal desde muito tempo 
e que tem plenas condições de continuar 
a prestar-nos excelentes trabalhos. 
Vamos implementar novas versões do 
SAJ, que tem sido aplaudido por todos, 
notadamente pelos advogados de São 
Paulo, permitindo mais ferramentas e 
mais agilidade e segurança. Aliás, nesses 
vários e vários anos, não tivemos caso 
algum envolvendo ato de insegurança 
no sistema. 
O TJSP tem um déficit orçamentário da 
ordem de 600 milhões de reais. Como isso será resolvido? Como o Governo do Estado tem se 
comportando quanto a essa questão?
O déficit foi apontado no início de minha gestão. Refere-se a parcela de 2019 e à projeção 
de 2020, pelo valor a menos do orçamento deste exercício. Estabelecemos contatos 
mensais com o Executivo e o Tribunal de Contas para atacar esse problema, e não tenho 
dúvida que, a despeito do momento atual, haverá sensibilidade do Executivo no trato da 
questão, notadamente porque o Judiciário presta um relevante serviço à sociedade. Mas 
fazemos nossa parte. Reduzimos despesas de toda natureza, estamos revisando contratos, 
suspendendo nomeações (salvo de 86 novos juízes, indispensável frente a um quadro aberto 
de mil), dentre outras medidas.
O professor José Eduardo Faria, da USP, fala com muita propriedade sobre um novo 
paradigma do Direito, que se dissemina mundo afora, menos garantista, mais punitivista. 
O senhor enxerga essa tendência?
Não conheço a visão do professor. Mas não vejo dessa forma. Nem o garantismo, nem o 
punitismo, para usar suas expressões, representam o bom caminho. O juiz julga com a lei, 
o fato, as regras de experiência, a jurisprudência e sua consciência. É isso que precisamos 
entender. E é preciso afastar ideias preconcebidas de que se busca decidir nesse ou naquele 
sentido sem lastro naquelas condições acima referidas. Fugir dessa realidade representa 
“(CORONAVÍRUS) 
COLOCAMOS 40 
MIL SERVIDORES 
EM CASA, EM 
SISTEMA DE 
TRABALHO 
REMOTO”
GERALDO PINHEIRO FRANCO | ENTREVISTA
REVISTA DA CAASP 27
permitir o julgamento ideológico e político, que refutamos claramente. Não se pode, ainda, 
erigir teses fundadas em casos isolados, como é muito utilizado entre nós. Isso não contribui 
para nada, tampouco para definir novos paradigmas.
Há excesso de recursos na Justiça brasileira? Há pessoas que consideram o recurso, muitas 
vezes, como algo meramente protelatório por parte de advogados...
O juiz é humano e erra. Quando pode, corrige o equívoco. Quando não pode, o Tribunal - que 
também pode errar - o faz. Essa é a lógica do sistema do direito. O exercício do direito ao recurso, 
quando fundado, é absolutamente legítimo 
e necessário. Essa é a regra respeitada 
pela imensa maioria dos profissionais. Os 
inconformismos protelatórios existem, é 
verdade, mas são utilizados por alguns 
poucos que esqueceram seus juramentos. 
Qual sua opinião sobre a criminalização 
da violação das prerrogativas profissionais 
dos advogados?
Já me manifestei no sentido de que o erro 
não pode ser criminalizado, tampouco o 
entendimento, ainda que contrário. O que 
pode ser criminalizado, e para todos, juízes, 
promotores, advogados e defensores, é o 
exercício ilícito de suas funções, nos limites 
do tipo penal. É preciso bom senso nessa 
relação profissional, que, no âmbito do 
Estado de São Paulo, existe. Somos parceiros 
e as questões são conversadas e definidas 
naturalmente, como tem de ser. Nenhum 
de nós das carreiras jurídicas, públicas e 
privadas, quer um mal profissional entre 
nós. E lutaremos juntos para afastar a 
quem não merece continuar nessa família 
tão querida.
Advogados são rotineiramente sujeitos a 
situações vexatórias, em revistas nos fóruns etc. Tal conduta é necessária? Promotores 
parecem não sofrer com tais procedimentos.
A generalização é ruim. Os advogados são tratados com respeito. Nunca me foi apontada 
uma situação verdadeiramente vexatória. E se for, a providência será imediata. Procuramos 
adequar nossos meios para viabilizar o ingresso dos advogados nos fóruns com tranquilidade 
e, repito, respeito. A segurança é necessária para todos. Absolutamente todos. Mas, é evidente 
que, se um juiz e um promotor são conhecidos porque trabalham no prédio diariamente, a 
segurança sobre eles é menor. Parece claro isso. Quando eu entro sozinho nos fóruns da 
Capital, sem avisar, apresento minha identidade (RG). Quando vou ao Conselho Nacional 
de Justiça, ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal e entro pelo átrio, 
“REDUZIMOS 
DESPESAS 
DE TODA 
NATUREZA, 
ESTAMOS 
REVISANDO 
CONTRATOS, 
SUSPENDENDO 
NOMEAÇÕES.”
ENTREVISTA | GERALDO PINHEIRO FRANCO
REVISTA DACAASP28
igualmente passo por 
revista. E acho natural.
Qual sua avaliação 
do pacote anticrime 
recentemente aprovado? 
Particularmente, o que 
acha da figura do juiz de 
garantias?
Tenho me manifestado 
contrário ao juiz das 
garantias, porque o 
sistema de hoje funciona 
bem e com segurança, 
notadamente ao 
réu. Não existe meia 
imparcialidade. Ou o juiz 
é imparcial ou parcial, e 
nesse último caso não 
pode ser juiz. Julguei 
milhares de ações penais 
em primeiro grau e 
milhares de recursos 
em segundo grau e, 
absolutamente, nunca tive qualquer entendimento preconcebido pelos destinos do processo. 
As provas e sua adequação à lei permitem a conclusão de um juiz. Nada além disso. Assim 
é em São Paulo. A lei está suspensa. Mas o E. Desembargador Corregedor Geral da Justiça já 
estuda meios possíveis para a implantação do sistema, se declarada a constitucionalidade. 
Há outro problema sério que todos precisam saber e vou levar ao Supremo Tribunal Federal. 
Não há orçamento viável para implantar a novidade legal. O legislador não se preocupou 
com essa circunstância, que é básica, ao meu parecer. É preciso entender que todos, 
absolutamente todos, os direitos dos réus são respeitados no sistema de hoje.
“REFUTAMOS CLARAMENTE 
O JULGAMENTO POLÍTICO E 
IDEOLÓGICO.”
GERALDO PINHEIRO FRANCO | ENTREVISTA
REVISTA DA CAASP 29
Caiu de moda a máxima de que “juiz só fala nos autos”? Um magistrado pode - ou deve, em 
alguma hipótese - manifestar suas preferências políticas?
Jamais. A política e a ideologia não são bons parceiros do juiz. Se desejarem fazer política, 
deixem a magistratura. O juiz precisa de isenção absoluta, imparcialidade absoluta e 
independência absoluta. 
Métodos alternativos de solução 
de conflitos. Qual sua opinião? 
Como e quando devem ser 
adotados?
Após a Constituição de 1988, 
todos entendem que devem 
levar suas questões ao Judiciário. 
Ninguém procura resolver 
pendências por outras vias, 
como a simples conversa com 
o vizinho. E o Judiciário está 
assoberbado. E assim, precisa 
de sistemas alternativos de 
solução de conflitos, observada, 
evidentemente, a segurança 
jurídica para o cidadão.
Está na moda culpar a 
Constituição brasileira 
pelos males do país, como 
entrave ao desenvolvimento 
econômico e como responsável 
por um suposto excesso de 
“PROCURAMOS VIABILIZAR O 
INGRESSO DOS ADVOGADOS NOS 
FÓRUNS COM TRANQUILIDADE E 
RESPEITO”
ENTREVISTA | GERALDO PINHEIRO FRANCO
REVISTA DA CAASP30
judicialização. A nossa Constituição atrapalha?
Não sei se atrapalha. Mas a Constituição traz muitos direitos e poucos deveres. E precisamos 
de deveres para viver e ajudar nosso País. O excesso de judicialização vem da incompreensão 
de muitos acerca da utilização correta do direito de petição, do direito de discutir contra o 
particular e contra o Estado. O Poder Judiciário no País está bem estruturado e isso também 
traz segurança no âmbito econômico. Tem problemas? Evidente que sim. Mas vamos 
procurando saná-los e nos reinventar. Acreditem no Judiciário, como, já disse antes, porque 
acreditamos nos advogados. 
Por último, desejo afirmar que as instituições no âmbito do Estado de São Paulo, notadamente 
as do sistema de justiça - OAB, MP, Defensoria Pública - trabalham bem, estão irmanadas, 
resolvem seus problemas e dificuldades em conjunto e entendem as dificuldades próprias 
de cada qual. E assim é que contribuímos para a democracia. Tenho orgulho do sistema de 
justiça do Estado de São Paulo.
GERALDO PINHEIRO FRANCO | ENTREVISTA
REVISTA DA CAASP 31 ENTREVISTA | GERALDO PINHEIRO FRANCO
REVISTA DA CAASP32ESPECIAL
ESPECIAL
[ reportagem ] 
PAULO HENRIQUE ARANTES
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JUSTIÇA FEITA POR ROBÔS 
EM VEZ DE HOMENS? 
REVISTA DA CAASP 33 ESPECIAL
JUSTIÇA FEITA POR ROBÔS 
EM VEZ DE HOMENS? 
REVISTA DA CAASP34
A informática, chamada de Inteligência 
Artificial (I.A.) em sua face mais ousada, 
ganha terreno no universo jurídico. Capaz 
de pesquisar, organizar, separar, verificar, 
orientar e agilizar processos, ela será um dia 
capaz de julgar? Ou já é? O debate extrapola a 
seara tecnológica e adentra a ética. O Direito 
está se desumanizando? Seremos julgados 
por robôs?
Alguns estudiosos chegam a prever o fim 
da advocacia como é hoje, com a habilidade 
estratégica baseada em algoritmos 
substituindo o conhecimento erudito e a 
capacidade de argumentação. Outros, não 
tão cruéis, enxergam a questão pelo ótica 
de um princípio de comando, ou seja, a I.A. 
participa até certo ponto, um ser humano 
tem a decisão final.
“Em questões burocráticas, de 
sistematização de decisões, a Inteligência 
Artificial pode participar. Na validação, eu 
digo que não”, afirma o advogado Spencer 
Sydow, presidente da Comissão de Direito 
Digital da OAB SP e autor de livros sobre o 
tema. 
Advogados que sabem como votam 
determinados juízes largam na frente na 
defesa dos clientes. Quando não sabem, 
vale uma mãozinha. “No Brasil, empresas 
de T.I. oferecem os meios. Você paga uma 
mensalidade, diz em qual vara está o seu 
processo e um programa diz qual seu 
percentual de êxito se determinada linha for 
seguida”, explica Sydow. 
“O próprio Código de Processo Civil 
estabelece o seguinte: existem casos que são 
paradigmáticos, que podem ser usados em 
causas repetitivas pelos juízes. Se você tem 
situações muito semelhantes, você cria casos 
paradigmáticos e decisões paradigmáticas 
que podem ser repetidas”, explica Sydow, 
que professor da FGV Direito.
Nas mãos da advocacia, a Inteligência 
Artificial ganha cada vez mais relevância nas 
chamadas causas de massa, que abrangem 
grande número de pessoas com pleitos 
praticamente idênticos – restituições de 
seguro obrigatório, por exemplo, entre 
tantas outras. Para Spencer Sydow, aquilo 
que ele chama de “advocacia de butique”, 
seletiva, para clientes e casos repletos de 
particularidades, está blindado contra a I.A.
“Nós temos que diferenciar processos 
mecânicos de processos humanos. Toda 
vez que um processo exigir humanidade, e 
o processo crime é o melhor exemplo, ele 
nunca será da categoria de massa: cada caso 
é um caso, cada conduta é uma conduta, 
cada elemento subjetivo é especial, cada 
contexto social, ambiental e ecológico é 
diferente”, explica.
Fato é que algoritmos podem indicar 
ao advogado quais elementos devem ser 
ESPECIAL
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Sydow: diferenciar processos mecânicos de 
processos humanos.
REVISTA DA CAASP 35 ESPECIAL
incluídos em determinada petição. “Isso não 
quer dizer que a função criativa do advogado 
esteja eliminada. A oratória e a capacidade 
de decidir o quê e como expor em uma 
petição são inerentes ao bom advogado. Por 
que Cícero era Cícero? Por sua capacidade 
de expor os fatos e o Direito e de fazer as 
pessoas acreditarem. Isso, até o momento, 
nenhuma Inteligência Artificial consegue 
fazer”, argumenta Christian Perrone, mestre 
em Direito pela Universidade de Cambridge 
e membro do Instituto de Tecnologia e 
Sociedade do Rio de Janeiro.
No Judiciário brasileiro, programas de 
computador têm agilizado processos - é 
inegável. O Tribunal de Justiça de Pernambuco 
utiliza o robô Elis para triagem de processos 
de execução fiscal, conferindo dados da 
Certidão de Dívida Ativa. Elis analisa mais de 
80 mil processos em 15 dias, enquanto 70 
mil processos levariam um ano, em média, 
para serem triados por mãos humanas.
Em Minas Gerais, o Tribunal de Justiça 
conta com o programa Radar para que 
magistrados localizem casos repetitivos 
e os agrupem. Já o Tribunal de Justiça de 
Rondônia vale-se do robô Sinapses, que 
faz uso de redes neurais. Sinapses possui 
um banco de dados de 44 mil despachos, 
sentenças e julgamentos, e agrupa decisões 
sobre um mesmo tema.
Já no Rio Grande do Norte, o robô Poti 
ajuda o Tribunal de Justiça em execuções 
fiscais e penhora de bens. Um servidor 
costuma executar 300 ordens de bloqueio 
em um mês. Poti leva 35 segundos para fazer 
o mesmo serviço.
Quando se espalha para esferas mais 
delicadas, a I.A. mostra-se perigosa.Robôs 
não têm certas sensibilidades nem se 
comovem diante da realidade social. O que 
acontece nos Estados Unidos é emblemático.
O sistema criminal americano utiliza um 
algoritmo denominado Compas, auxiliar 
de juízes para determinar se um réu deve 
permanecer preso ou aguardar o julgamento 
em liberdade. Em síntese, o programa avalia 
o histórico do acusado e compara-o com o 
de outros, conferindo-lhe uma “pontuação 
de risco”.
ROBÔS, 
RÁPIDOS E 
INSENSÍVEIS
W
EB
Perrone: oratória do advogado não pode ser 
substituída.
REVISTA DA CAASP36
A avaliação leva em conta, entre outros 
fatores, o número de vezes que o réu 
foi abordado ou detido pela polícia. É 
necessário explicar por que réus negros são 
prejudicados pelo Compas?
Segundo Perrone, “o que é essencialmente 
humano, como a empatia e as emoções 
relacionais, a I.A. não consegue emular. 
Compreender a culpa é essencial no Direito 
Penal, ter noção das dificuldades relacionais 
é fundamental no Direito de Família e assim 
por diante”.
Perrone ressalta que os casos judiciais 
carregam elementos variáveis e pontuais 
que podem ser estáveis ou repetitivos. 
Para exemplificar, ele cita a quebra de 
sigilo de dados pessoais: “Muitos dos 
dados expostos terão natureza similar, 
assim como a definição do motivo ou culpa 
pela exposição dos dados. Nesse sentido, 
esses elementos poderiam ser ‘julgados’ de 
maneira conjunta, não haveria necessidade 
de centenas, milhares ou mesmo milhões de 
processos judiciais diferentes. No entanto, 
quanto ao dano causado pela exposição, 
aí podem existir diferenças e discrepâncias 
significativas”.
O Conselho Nacional de Justiça tem atuado 
como orquestrador das experiências com 
I.A. no Judiciário brasileiro, distribuindo uma 
plataforma a ser reproduzida localmente. No 
âmbito do órgão foi criado um Laboratório 
da Inteligência Artificial, cujo coordenador, 
juiz Bráulio Gusmão, conversou com a 
Revista da CAASP.
“A abordagem que o Judiciário tem 
feito com relação à I.A. é para atacar 
principalmente o grande volume de casos 
que temos e o fato de que esses casos têm 
uma repetição. Ou seja, eu consigo encontrar 
padrões e a I. A. ajuda a destravar muitos 
casos, tornando o processo mais célere, 
mais eficiente”, esclarece Gusmão.
Segundo o magistrado, não existem 
sentenças totalmente baseadas em 
algoritmos, mas sim decisões de expediente. 
“Tais decisões sempre foram tomadas 
de forma semelhante, então você pode 
criar um algoritmo para que, preenchidas 
determinadas condições, o caminho seja 
definido. Mas isso sempre passa pela análise 
do juiz. É ele quem assina”, descreve.
ESPECIAL
LABORATÓRIO DA I.A.
W
EB
Gusmão: I.A. serve para atacar o grande 
volume de processos.
REVISTA DA CAASP 37
Indagado sobre particularidades 
encontradas em casos aparentemente 
semelhantes, e se isso não exigiria olhos 
humanos, Gusmão responde que sim, 
os casos têm peculiaridades, mas a 
Inteligência Artificial é usada muito mais no 
processamento das demandas, “no dia a dia 
daquela atividade cartorária, principalmente 
na área de defesa do consumidor, em 
questões previdenciárias e tributárias – você 
tem um algoritmo que identifica padrões e 
gera caminho naquele processo no sentido 
da automação”. 
“Não acho que seremos julgados por 
robôs”, finaliza.
É a voz do jurista Lênio Streck, sempre 
mordaz e erudito em suas palavras: “O 
Direito brasileiro já vendeu e comprou 
facilidades, atalhos para resolver nossos 
problemas. Foi assim com as súmulas, com a 
‘commonlização’, com o processo eletrônico 
etc. Tudo para não encarar as causas 
estruturais que levam a uma litigiosidade 
de massa e a uma prestação jurisdicional 
de baixa qualidade. Não tenho razões para 
acreditar que com a I.A. será diferente”.
Para o professor e advogado, “existem 
inúmeros problemas ao se tratar o Direito 
como se ele fosse um fato bruto, como se 
pudesse ser identificado a partir de critérios 
empíricos e dispensasse em algum momento 
a interpretação”. Na mesma linha de Ronald 
Dworkin, grande teórico da interpretação 
jurídica contemporânea, Streck afirma 
que “nenhum algoritmo pode decidir se 
uma interpretação se ajusta e se justifica 
satisfatoriamente num caso”.
Quando aos advogados, Lênio Streck 
diz compreender que alguns façam uso 
estratégico de I. A. na elaboração de suas 
peças. Mas ressalva: “Até onde isso pode 
dispensar a interpretação de um profissional 
humano? Ademais, para essa tecnologia 
ser eficiente para os advogados, ela não 
pressupõe em alguma medida ‘jurisprudência 
mecânica’?”
O jurista finalizou sua missiva enviada à 
Revista da CAASP com as seguintes palavras: 
“Ainda que a Inteligência Artificial funcione, 
superando todos os problemas apontados, 
gostaríamos de viver num mundo no qual 
nossos direitos fossem defendidos e julgados 
com menor presença humana? No qual os 
advogados trabalhassem numa espécie de 
Uber, como definiu certa pesquisadora? E 
o que viria depois? Em breve, as provas de 
concurso substituiriam o conhecimento 
jurídico por habilidades em informática”.
UMA VOZ 
CONTRÁRIA
ESPECIAL
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Streck: “Não se pode tratar o Direito como 
fato bruto”.
REVISTA DA CAASP38ESPECIAL
TECNOLOGIA CONTRA O 
CORONAVÍRUS
O professor Spencer Sydow apontou para a Revista da CAASP algumas formas 
de a Inteligência Artificial contribuir na luta contra o coronavírus, pandemia que 
compromete todas as atividades da sociedade. “A inteligência artificial pode ser 
programada para auxiliar na retirada de fake news de sites e redes sociais. Ela 
pode ser programada para identificar se aquilo é uma notícia verdadeira ou 
falsa, e, se for uma notícia falsa, ela poderia denunciar ou mesmo retirar do ar”, 
diz o advogado.
Em universidades, a Inteligência Artificial foi alimentada com informações 
sobre o sequenciamento genético do vírus, e a resposta foi que, em menos de 
24 horas, a I.A. apresentou 77 elementos com potencial de contar a doença, 
lembra Sydow. “A Inteligência Artificil consegue trabalhar com uma grande 
quantidade de variáveis e fazer testes virtuais de viabilidade de fármacos para 
que eles proporcionem maximização da eficiência de tratamentos”, explica.
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REVISTA DA CAASP 39 ESPECIAL
O jornal Valor Econômico publicou no fim de março uma reportagem que 
demonstra o poder da Inteligência Artificial na construção de uma sociedade 
menos suscetível ao coronavírus. Sistemas como os descritos abaixo ajudaram 
a China a desacelerar a escalada do Covid-19, contribuindo para que o número 
de novos casos diários caísse de 15 mil em 13 de fevereiro para 45 em 28 de 
março.
Uma empresa de Recife, a In Loco, construiu um algoritmo que permite às 
autoridades avisarem os cidadãos quando estes estejam no mesmo local em 
que se encontra alguma pessoa infectada pelo coronavírus, orientando-os 
sobre como proceder em seguida.
A empresa utiliza um sistema denominado geolocalização, parecido com 
o que adotam Uber e iFood. Após apresentar sintomas ou receber resultado 
positivo do teste de Covid-10, a pessoa pode emitir uma notificação a partir de 
um aplicativo que usa o algoritmo da In Loco.
A tecnologia já é utilizada pela Prefeitura de Recife para medir o índice de 
isolamento social por bairro.
Outra empresa, a CyberLabs, do Rio de Janeiro, fechou acordo sem custo 
com o município para uso de suas tecnologias no esforço por isolamento social. 
Câmeras públicas e particulares – em shoppings, restaurantes, academias – 
fotografam e contam as pessoas que transitam em determinado lugar e envia 
os dados à Prefeitura. O programa também projeta as informações sobre um 
mapa, mostrando os lugares de maior risco.
REVISTA DA CAASP40
REVISTA DA CAASP 41
REVISTA DA CAASP42DIA A DIA
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REVISTA DA CAASP 43 DIA A DIA
reportagem | JOAQUIM DE CARVALHO
PANDEMIA PODE 
DEFINIR FUTURO 
DOS TRANSPORTES 
EM SÃO PAULO
A evolução do quadro das pessoas contaminadas 
pelo coronavírus prova que uma boa capacidade 
cardiorrespiratóriaé fundamental para aumento da 
resistência a infecções – e pedalar é uma atividade 
perfeita para tanto. Locomover-se de bicicleta é cada 
vez mais comum em São Paulo, e a tendência é que 
esse hábito cresça ainda mais nos próximos anos. Bom 
sinal para o trânsito e para a saúde.|
REVISTA DA CAASP44
Roberta Godinho só se desloca em 
São Paulo de bicicleta. Por dia, percorre 
pelo menos 10 quilômetros. Formada em 
administração hospitalar, ela foi assistente 
de ninguém menos que Pelé, o Atleta do 
Século, durante 17 anos, em uma empresa 
de marketing esportivo. “Ia para eventos 
de salto alto e bicicleta”, conta, rindo. Há 
25 anos, quando começou a fazer esses 
deslocamentos, pouquíssimos moradores 
de São Paulo usavam a bicicleta como meio 
de transporte regular. 
Hoje, em cruzamentos da avenida Faria 
Lima há concentrações de ciclistas que quase 
se poderiam chamar de congestionamentos. 
Como modal de mobilidade urbana, a 
bicicleta é o meio que mais cresce. Na 
época em que Roberta começou a cortar as 
avenidas paulistanas em sua bike, em 1995, 
não havia pesquisa sobre quantos moradores 
usavam o mesmo tipo de transporte para ir 
ao trabalho.
Em 2007, com a pesquisa origem-destino 
do Metrô, soube-se que eram 304 mil 
pessoas. O último dado disponível, referente 
a 2017, deu conta de que já eram 377 mil. 
Em 13 anos, houve um crescimento de 24%. 
E deve crescer muito mais, segundo estudo 
da consultoria global Kantar. 
Em 10 anos, o número de pessoas que 
usarão a bicicleta como meio de transporte 
regular subirá para mais de meio milhão — 
precisamente 554,2 mil. Ao mesmo tempo, 
segundo o estudo da Kantar, o uso de carros 
deve cair 28%. Já o uso de transporte público 
subirá 10% e o deslocamento a pé subirá 
DIA A DIA
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Roberta Godinho: ex-assistente de Pelé pedala 10 quilômetros por dia.
REVISTA DA CAASP 45 DIA A DIA
25%.
São dados que indicam uma mudança 
radical no cenário da cidade, com trânsito 
muito menos caótico e pessoas muito 
mais saudáveis, já que a bicicleta é uma 
das melhores atividades físicas para 
fortalecimento cardiorrespiratório. Porém, 
segundo o levantamento da consultoria 
global, feito com base em pesquisa de campo, 
a população da capital paulista vê de forma 
crítica e pessimista o futuro da mobilidade.
De acordo com Luciana Pepe, diretora 
de contas da Kantar no setor automotivo, 
essa projeção negativa decorre da atual 
situação dos transportes. 
Em razão da crise econômica 
que existe desde 2015, 
investimentos deixaram de 
ser feitos na infraestrutura 
do transporte, e a situação 
do trânsito piorou.
A boa notícia é que a 
mesma pesquisa indica a 
disposição dos moradores 
de São Paulo de adotar 
soluções inovadoras para 
melhorar o transporte. Em 
razão disso, aumentou o 
número de viagens feitas a 
partir de aplicativos, como 
o Uber, 99 e Cabify, além 
do uso incipiente de carros 
compartilhados, obviamente 
não recomendado enquanto 
durar a pandemia da Covid-19.
E essa disposição não é exclusividade do 
paulistano. A estudo envolveu as principais 
regiões metropolitanas do mundo.
“A pesquisa da Kantar descobriu que 40% 
das pessoas em todo o mundo estão abertas 
a novas soluções, mas nem todas as cidades 
estão prontas para a transformação da 
mobilidade”, destaca Luciana. A estimativa 
é que, no mundo, as viagens de automóveis 
caiam de 51% para 46%. Ao mesmo tempo, 
o ciclismo deve crescer muito — no mundo, 
18%, inferior à taxa estimada para São 
Paulo. Já a caminhada e o transporte público 
aumentarão 15 e 6%, em média, nas maiores 
regiões metropolitanas do planeta.
O empresário Ronaldo Manso Viana tem 
uma trajetória que reflete essa espécie de 
evolução do indivíduo em sua relação com 
os modais de transportes. Ele saiu do carro 
e foi para o transporte público, depois para 
a caminhada e se encontrou sobre as duas 
rodas movimentadas pelo esforço humano.
Ronaldo tem uma empresa de tecnologia 
de segurança e, depois do primeiro contato, 
só visita clientes de bicicleta. “No primeiro 
contato, eu vou de carro, porque o cliente 
pode ter uma imagem negativa. Mas depois, 
quando ele já conhece meu trabalho, 
pergunto se ele se importa que eu vá de 
bicicleta. Ninguém se importa. A bicicleta já 
é bem aceita na sociedade”, comenta.
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Ronaldo Viana: visita a clientes de bicicleta depois do primeiro 
encontro.
REVISTA DA CAASP46DIA A DIA
Ronaldo chegou a ir de bicicleta para visitar 
um cliente em Campinas. Saiu do bairro 
onde mora em São Paulo, Butantã, e foi para 
a cidade que fica a quase 100 quilômetros. 
Demorou 4 horas e meia. Voltou de ônibus, 
com a bicicleta no bagageiro. “Por lei, os 
ônibus têm que aceitar até duas bicicletas no 
bagageiro. Tem empresa que não respeita, 
mas é lei”, afirma.
A obrigatoriedade de aceitar bicicleta 
como bagagem é um dos direitos que os 
ciclistas conquistaram nos últimos anos, 
mas ainda falta muito. “A cidade precisa ser 
adaptada para contar com a bicicleta como 
transporte regular”, reivindica Roberta. 
Ela lembra que, nos últimos dez anos, 
houve um crescimento de ciclofaixas, mas 
“sem planejamento correto”. Para ela, é 
um absurdo a cidade de São Paulo não 
implantar faixas exclusivas para ciclistas nas 
duas marginais. E, para isso, não precisaria 
nem usar faixa destinada hoje a carros, 
caminhões e motos.
É só usar a margem do rio, como existe em 
alguns quilômetros da via que acompanha 
o rio Pinheiros. Os ciclistas teriam um anel 
viário para levá-los de um lado a outro da 
cidade. 
A opinião de Roberta deve ser levada em 
conta pela experiência que tem não só em 
deslocamentos na cidade. Ela é uma ciclista 
de ponta. Além de usar as duas rodas para 
seu transporte rotineiro, participa de provas 
de longa distância. “A cidade tem uma mina 
de ouro para o transporte, que é fazer a 
ciclofaixa nas marginais, daria para chegar 
até o aeroporto (Guarulhos) e também 
contornar a cidade”, projeta.
Roberta conhece bem as marginais, e 
também o peso da burocracia contra projetos 
inovadores. Ela sempre usou a ciclofaixa 
inconclusa da Marginal Pinheiros e aprendeu 
a se relacionar até com as capivaras que 
habitam a mata ao lado do rio. 
Como há muito espaço disponível naquela 
área, decidiu fazer o QG das Capivaras, mas 
para atender a outro público, o dos ciclistas.
Ali montou oficina e fez um centro de 
arrecadação para ações sociais relacionas ao 
veículo de duas rodas não motorizado.
Ela estabeleceu relação com as 
bicicletarias da cidade e passou a coletar 
material descartado por essas oficinas. Com 
esse material, ela e os amigos passaram a 
vender como sucata e também a aproveitar 
peças para consertar bicicletas de pessoas 
pobres.
Com o dinheiro arrecadado com a venda 
de sucata, organiza a cada três meses ações 
sociais em favelas, sempre relacionadas a 
ciclistas. Seu grupo vai até uma comunidade 
e oferece alimento e doces enquanto 
consertam bicicletas de moradores. Também 
doam as bicicletas que recebem de ciclistas 
de maior poder aquisitivo. Ao trocar a bike, 
esses ciclistas acabam doando a antiga para 
o QG das Capivaras. “E nós levamos para as 
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Companhia de capivaras às margens do rio 
Pinheiros.
REVISTA DA CAASP 47 DIA A DIA
comunidades e doamos”, afirma Roberta.
Por sinal, as pessoas com renda mais 
elevada formam o grupo que mais cresce 
no uso das bicicletas, segundo a pesquisa 
origem-destino do Metrô.
Entre 2007 e 2017, o crescimento do uso 
da bicicleta foi maior entre os entrevistados 
de alta renda: o índice de utilização no grupo 
que tem renda familiar acima de R$ 11 mil 
aumentou quase 400%.
O QG das Capivaras, apesar de realizar 
um trabalho relevante, enfrentou problemas 
com a burocracia do Estado de São Paulo. 
A estatal que detém a propriedade das 
margens do rio Pinheiros, a Emae, implicou 
com o trabalho que os ciclistas realizavam 
num pedaço insignificante, mas de relevância 
social. E mobilizou forças de segurança para 
desmontar a estrutura de lonaque Roberta 
e os amigos haviam levantado.
Durante alguns meses, ficaram sem sede, 
mas, mesmo assim, continuaram fazendo 
o trabalho social até que a Secretaria de 
Esportes do município tomou conhecimento 
do que eles faziam nas favelas.
Desde dezembro do ano passado, eles 
estão instalados no centro esportivo Pelezão, 
no Alto da Lapa.
Casada com engenheiro, Roberta deixou 
o marketing esportivo para cuidar das filhos, 
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Roberta e companheiros: oficina e centro de arrecadação para ações sociais.
REVISTA DA CAASP48DIA A DIA
mas não abandonou a bicicleta. Além de 
disputar provas de até 1.000 quilômetros, 
presta serviços como entregadora de 
refeições para um restaurante. Ganha 300 
reais por semana, trabalhando apenas no 
horário do almoço, dinheiro que usa para 
suas ações sociais e de incentivo ao ciclismo. 
O marido é que arca com as despesas da 
casa, enquanto ela também não descuida 
dos afazeres domésticos.
Só interrompe esses afazeres quando 
participa de provas, como uma de 
longuíssima distância disputada em Santa 
Catarina. Durante três dias, ela percorreu 
1.000 quilômetros. Parava para se alimentar 
e cochilar, nada mais.
Tanto Roberta quanto Ronaldo acreditam 
que o uso de bicicleta como veículo de 
transporte vai crescer mais do indicam 
estudos como a do Kantar. A razão é o 
coronavírus: há o risco de contágio em 
transporte coletivo e também em táxis ou 
carros de aplicativos. 
“A bicicleta é muito mais segura, um 
veículo individual que pode levar você longe”, 
diz Ronaldo. Além disso, eles acreditam que 
diminuirá a circulação de carros pela cidade, 
em razão da descoberta de que o trabalho 
remoto, em home office, pode ser bem mais 
produtivo do que em escritórios. Com mais 
espaço nas vias, mais ciclistas começarão a 
surgir, não apenas os de fim de semana, mas 
os do dia a dia.
Ronaldo lembra que, em 2018, quando 
houve a greve dos caminhoneiros, algumas 
avenidas ficaram cheias de bicicletas, 
por conta da falta de combustíveis para 
automóveis.
Os dois têm também esperança de que 
os administradores públicos acordem para 
a realidade do ciclismo. Se não fizerem isso, 
serão atropelados pelo trem da história. 
Para eles, o transporte automotor individual, 
definitivamente, entrou em baixa. No 
mínimo, haverá uso complementar: bicicleta, 
mais trem, metrô ou ônibus, ou bicicleta 
(também patinete) mais carros chamados 
por aplicativo ou táxis, além do veículo 
compartilhado.
Um novo mundo está surgindo e essas 
mudanças, como muitas outras, poderão 
ser aceleradas assim que a pandemia for 
vencida.
REVISTA DA CAASP 49 DIA A DIA
REVISTA DA CAASP50CINEMA
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REVISTA DA CAASP 51 CINEMA
Elia Kazan foi um dos grandes nomes da Era 
de Ouro de Hollywood, e já o seria se tivesse 
filmado apenas “Sindicato de Ladrões” e 
“Vidas Amargas”, clássicos decisivos para a 
imortalidade artística de Marlon Brando e 
James Dean. Mas Kazan fez muito mais que 
essas duas obras-primas. Fez, entre outros, 
o ótimo “Pânico nas Ruas”, filme de 1950 que 
contém algumas situações redivivas 70 anos 
depois pela pandemia de coronavírus.
O VÍRUS MORTAL
DE ELIA KAZAN
REVISTA DA CAASP52
 
No submundo de uma cidade portuária 
americana, um trapaceiro do baralho é 
assassinado com dois tiros. A autópsia do 
corpo mostra que ele carregava o letal vírus 
da peste pneumônica, o qual poderia vir 
a ser disseminado pelas pessoas de sua 
convivência e por seus próprios matadores. 
Começa a caçada policial e, em paralelo, a 
luta de um médico idealista para alertar as 
autoridades sobre o potencial devastador do 
microorganismo, cuja contaminação se dá 
pela aspersão de gotículas respiratórias.
O doutor Reed (Richard Widmark) adverte 
para a possível necessidade de quarentena 
e até mesmo de vacinação em massa da 
população local – sim, havia um remédio 
contra a peste pneumônica, que, não contra-
atacada, matava em 48 horas. O dilema 
enfrentado por ele, um oficial-médico da 
Marinha, membro do Departamento de Saúde 
Pública dos Estados Unidos, e compartilhado 
por gestores públicos é: vale a pena criar 
pânico na população? Não, entendem.
 A opção escolhida é correr para capturar 
os assassinos e isolá-los. Mas não só a eles: 
a vítima chegara à cidade como clandestina 
em um navio infestado de ratos, vetores do 
vírus causador da peste pneumônica. Há 
que ser feito um trabalho profilático junto à 
tripulação e aos trabalhadores portuários, 
e uma barreira cultural ergue-se diante do 
doutor Reed. 
 As situações de “Pânico nas Ruas” parecem 
estar de volta em 2020, é claro que num grau 
muito mais elevado agora. Ao alertar para o 
CINEMA
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Ciência e política em conflito diante do vírus mortal.
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REVISTA DA CAASP 53 CINEMA
perigo de disseminação continental do vírus, 
Reed brada: “Não estamos mais na Idade 
Média! Hoje podemos estar em qualquer 
lugar do país ou em outro continente em 
menos de 10 horas”. Era a “globalização” da 
época.
A falta de compreensão do papel da 
imprensa, marca dos Estados Unidos e do 
Brasil atuais, também está na fita: o repórter 
que desvenda o que está sendo escondido 
pela polícia e pelo órgão de saúde pública 
é detido e posto incomunicável para o que 
nada vaze ao público.
 Em “Pânico nas Ruas”, Kazan realiza um 
legítimo noir americano, vencedor do Leão 
de Ouro no Festival de Cinema de Veneza: 
ambientes sombrios (ótima fotografia de 
Joseph MacDonald), perseguições pelas ruas 
da cidade (a sequência decisiva nos armazéns 
do porto é espetacular), diálogos espirituosos 
e desfechos rápidos (ótimo roteiro de Richard 
Murphy). O vilão principal é ninguém menos 
que Jack Palance, com seu rosto anguloso e 
assustador. Tudo é embalado pela música 
contundente de Alfred Newman.
 Kazan foi um diretor brilhante, que 
soube ao longo da carreira manejar o talento 
intempestivo de um Marlon Brando, por 
exemplo. Filmou o crime e o submundo com 
a mesma destreza com que retratou dramas 
familiares e sociais. Caiu do pedestal quando 
foi acusado de delatar artistas durante o 
macarthismo. Mas isso não diminui sua 
obra.| (PHA)
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Elia Kazan: colaboração com o macarthismo não subtrai a genialidade da sua obra.
REVISTA DA CAASP54LITERATURA
OPULÊNCIA
Por Vivian Schlesinger*
LITERATURA
REVISTA DA CAASP 55
Você conhece Campos do Jordão, a “Suíça 
Brasileira a poucas horas de São Paulo? 
Você pode viajar até lá, sem máscara e sem 
internet, sem sair da poltrona, com Opulência, 
o novo livro de Luis Krausz. É um romance 
sobre Campos do Jordão e não é um romance 
sobre Campos do Jordão. Para dizer a verdade 
sobre as coisas - frase ali repetida muitas 
vezes, chamando a atenção à inverdade das 
coisas - trata-se da busca do tempo perdido 
de qualquer cidade ou pessoa atravessada 
pelo rio obsessivo do progresso.
Fundada no Século XVIII, até os anos 1980 
essa estância manteve seu sotaque caipira, 
suas araucárias e seu comércio local. Mas 
isso iria mudar. É na época dessa mudança 
que começa a trama de Opulência, com a 
chegada da família Krausz mais uma vez à 
sua casa de férias na Vila Yara, em Capivari, 
um dos vilarejos que perfaziam a “grande” 
Campos do Jordão dos anos 1980. A despeito 
da resistência dos Krausz, as referências ao 
nome indígena do bairro, Vila Yara, são pouco 
a pouco substituídas por referências ao Sans 
Souci, um novo prédio de apartamentos que 
se interpõe precisamente entre a propriedade 
da família e a vista do bosque do Grande 
Hotel, de nobre passado. Há muito mais 
do que um nome, aqui. Este Sans Souci, de 
cimento e telhado de folhas de zinco, em nada 
lembra o verdadeiro, o palácio construído 
pelo Imperador Frederico, o Grande, perto 
de Berlim, de amplas varandas e jardins 
terraceados, um dos mais belos da Europa. 
O nome do edifício cinzento é uma tentativa 
rasa de trazer, por pretenso senso estético, 
um pouco do Velho Mundo para o Novo. A 
vista do bosque, agora bloqueada pelo prédio, 
é substituída poroutra, na memória, que não 
pode ser apagada.
O capítulo de abertura descreve 
Schlaraffenland, ou Cocanha, país mitológico 
conhecido desde a Idade Média onde não há 
necessidade de trabalhar, o alimento está 
ao alcance das mãos e todos os desejos são 
instantaneamente gratificados. Ao final deste 
capítulo descobre-se onde fica essa terra: 
Quem gosta de trabalhar, de fazer o bem e de 
deixar de lado o mal, ali é considerado inimigo 
[...]. Mas quem for burro, incapaz de fazer 
qualquer coisa direito [...] será nomeado Rei 
sobre todo o país e receberá um grande salário. 
(p. 10)
 Nem o título escapa à lâmina afiada 
da ironia no livro. A busca pela imagem de 
opulência - o que é e não é - revela-se um 
dos temas prediletos de Luis Krausz. Em 
Opulência o leitor de Luis Krausz reencontra 
um narrador conhecido desde seus primeiros 
romances, um adolescente brasileiro de 
família judaica, os Krausz, imigrantes alemães 
que carregam - e transmitem - toda sua 
bagagem centrífuga de exílio, memórias, 
estrangeirismo e a vontade desesperada de 
integrar-se ao novo país. Assim como o autor, 
LITERATURA
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REVISTA DA CAASP56
o narrador cresceu em uma casa onde a alta 
cultura é um grande valor, herança austro-
alemã reverenciada pela família. Ele atravessa 
sem dificuldade, em ambas as direções, a 
fronteira entre presente e passado. Para 
ele, folhear antigas agendas, intactas, da 
escrivaninha da avó ...tinha o sabor de uma 
atividade proibida. Voltar às páginas de 1964 
[observe a data] ou de 1966 significava opor-se 
às leis do progresso. (p. 75)
Uma das técnicas mais originais de 
Luis Krausz aqui é o uso corriqueiro, pelos 
personagens, de expressões idiomáticas em 
alemão para sintetizar a ética do germanismo. 
Relata, por exemplo, o misterioso sumiço de 
dois cobertores de lã Merino, que cobriam 
de paz e de calor o sono das noites frias da 
montanha (p. 62). Quando interpelada a 
respeito, a caseira responde com uma 
carranca silenciosa. Pronto, decreta a avó, não 
se fala mais nisso, não convém aprofundar-se 
na investigação. “Não convém.”
... era a tradução da 
expressão alemã “lieber 
nicht”, literalmente, “é 
preferível não” [...] uma 
sentença para a qual 
não cabia recurso [...] 
Era o último carimbo 
da autoridade absoluta, 
a sentença final que 
chegava a nós depois de 
percorrer os labirintos 
da burocracia do Estado, 
e também os labirintos 
do tempo e da distância, 
provindo de antigos 
éditos imperiais. (p. 62)
Por trás de duas 
palavrinhas, nada 
menos do que a essência 
do caráter alemão, a obediência à autoridade, 
que permitiu que os alemães dessem ao 
mundo os piores, mas também alguns dos 
melhores presentes. Mas há personagens no 
livro (e no Facebook) para quem Paris, e não 
a austeridade germânica, exerce um fascínio 
irredutível que nada tem a ver com a realidade 
de violência, xenofobia e antissemitismo que 
asfaltam as avenidas parisienses. Uma tia do 
narrador, paradigma da elegância na família, 
lembra uma celebridade qualquer da Revista 
Caras:
...com seu sotaque francês e com seus lenços 
de seda esvoaçantes e lindíssimos [...] Exalava 
os ares dos Grands Boulevards, onde pairava 
le vrai chic parisien. [...] Um livro menor da 
francofonia, uma obra secundária no grande 
mapa da imprensa escrita francesa, parecia 
guiá-la como uma bíblia apócrifaa. Eu suspeitava 
que o nome desse livro fosse Paris Match.
O fio condutor do romance são os 
preparativos para uma visita incomum, um 
“....é um romance sobre Campos do Jordão e não é um romance sobre 
Campos do Jordão (...) Trata-se da busca do tempo perdido de qualquer 
cidade ou pessoa atravessada pelo rio obsessivo do progresso”.
LITERATURA
REVISTA DA CAASP 57
chá da tarde na recém-inaugurada mansão 
de veraneio de D. Marianne Némirowska. 
O convite é incomum porque em São Paulo 
ela circula em uma esfera exclusiva de 
colecionadores de arte, aqueles poucos que 
possuem, ou pensam possuir, Matisses, 
Manets, Van Goghs. Em seu gigantesco 
apartamento na Rua Haddock Lobo, cuja 
sala é revestida de seda vermelha, opulentos 
jantares são oferecidos a convidados da 
alta roda, gente que levanta-se ao meio-
dia, almoça às três da tarde e janta às onze 
da noite - feine leute, gentes finas, na ácida 
opinião da avó. A família Krausz não faz parte 
desse círculo em São Paulo, mas em Campos 
do Jordão Mme. Némirowska não tem plateia, 
daí o inesperado convite.
Os preparativos agitam os dias da família 
e aceleram a narrativa. O narrador conduz 
o leitor como se usasse duas câmeras. 
Uma para exteriores, às vezes ensolarados, 
outras vezes enevoados, onde as nativas 
araucárias são derrotadas 
pelas vistosas hortênsias, 
contrabandeadas desde 
a Europa e muito bem 
sucedidas nesse novo 
habitat. Outra câmera é 
para interiores de madeiras 
escuras, gavetas raramente 
abertas, povoadas por 
objetos herdados dos avós 
ou bisavós. Exatamente 
como a alma do exilado: por 
um lado, alguém que anseia 
por viver no presente, 
uma vida solar, ambientar-
se e ser feliz no novo lar, 
ainda que precise às vezes 
aceitar a substituição de 
sua identidade pelo novo e 
superficial; por outro lado, 
alguém cuja essência é feita 
de memórias do mundo deixado para trás, 
que não têm fins utilitários mas nem por isso 
devem ser abandonadas. Mas no presente 
do narrador, nem tudo é solar: o romance se 
passa durante a ditadura militar, devidamente 
caracterizada:
O ministro das Relações Exteriores do governo 
do General Ernesto Geisel, Antônio Francisco 
Azeredo da Silveira, era figura frequente nos 
noticiários. Ele causava revolta. Mas o apelido 
mais áspero cabia ao General Ernesto Geisel, 
que era conhecido como Der Scheissel. (algo 
próximo a “O Merdão”)
 O garoto lembra de Filinto Müller 
(ein Bluthund, um cão sanguinário) e sua 
indisfarçada simpatia pelo nazismo, e de sua 
morte no acidente de avião da Varig em 1973, 
junto com mais 115 passageiros, sufocados 
pela fumaça tóxica provocada por um 
incêndio em um dos banheiros. A ironia de tal 
destino, reservado a um verme nazista, não 
passa despercebida pela avó do narrador: 
“Der Teufel soll ihn holen.” “Que o diabo o 
carregue.” (p. 173)
 A origem judaica da família Krausz 
é parte da bagagem essencial que, por 
recusarem-se a abandonar, obriga-os, às 
vezes, a pagar uma alta taxa de excesso de 
peso. Já a ‘Tia Susanna Frank’ paga o preço 
por abandonar a bagagem. Judia de Danzig 
forçada a fugir para Paris com a ascensão 
daquilo que ascendeu na Alemanha em 1933 e 
em 1936 e depois de 1936...(p. 166), amiga da 
família Krausz, vencida pela vaidade, havia 
aceitado um cargo de confiança na Prefeitura 
de Paulo Maluf. E eis que é chegada a hora de 
Rumpelstiltskin exigir seu pagamento: Maluf 
pede que Tia Susanna Frank o represente 
na missa de sétimo dia em honra a ninguém 
outro que o finado cão sanguinário. 
 Enquanto isto, as transformações 
impostas pelo progresso à antiga Campos do 
Jordão são igualmente cruéis. Ora é a horda 
de turistas nas ruas que tira a paz de espírito, 
o barulho das motos de múltiplas cilindradas 
que invade trilhas até então quase secretas, 
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EB
LITERATURA
REVISTA DA CAASP58LITERATURA
ora são os xingamentos no trânsito de Capivari, 
onde antes só os passarinhos gritavam. A vida 
austera, a confiança nos estalos do pêndulo 
do relógio, a serenidade de um escritório 
onde tudo tem seu lugar e tudo está em seu 
lugar, talvez nunca existiram em Campos do 
Jordão exceto na memória da família Krausz, 
mas é devastadora a constatação de que 
agora definitivamente não existirão mais. 
 Holocausto, sobrevivente, campo de 
concentração, nenhuma destas expressões é 
citada, mas o narrador revela muito naquilo 
que não conta, particularmente sobre o ‘Tio 
Jan’, judeu tcheco sobrevivente de campo de 
concentração. Como no caso em que, toda vez 
que a velha torradeira da casa em Campos do 
Jordão emperrava e acabava queimando as 
torradas, era o pai do garoto 
que se responsabilizava por tudo e comia os 
remanescentes

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