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PAGE 54 1) DIREITO PENAL - CONCEITO E FINALIDADES Sob o aspecto formal, Direito Penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem-lhes aplicadas. Já sob o enfoque sociológico, o Direito Penal é mais um instrumento (ao lado dos outros ramos do direito) de controle social de comportamentos desviados, visando assegurar a necessária disciplina social. OBS.: Funcionalistas – pessoas que buscam qual é a real função do Direito Penal (há, dentre eles, os funcionalistas sistêmicos – a missão do Direito Penal é resguardar a norma, o sistema, o direito posto, atrelado aos fins da pena – JAKOBS; e funcionalistas teleológicos – para eles, o fim do direito penal é assegurar bens jurídicos, valendo-se das medidas de política criminal - ROXIN). ROGÉRIO GRECO - A finalidade do Direito Penal é proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade. REGIS PRADO – o pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal radica na proteção de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à comunidade. É político o critério de seleção dos bens a serem tutelados pelo Direito Penal; a sociedade, dia após dia, evolui. Bens que em outros tempos eram tidos como fundamentais e, por isso, mereciam a proteção do Direito Penal, hoje, já não gozam desse status. GÜNTHER JAKOBS – afirma que o Direito Penal não atende a essa finalidade de proteção de bens jurídicos, pois quando é aplicado, o bem jurídico que teria de ser por ele protegido já foi efetivamente atacado. Para JAKOBS, o que está em jogo não é a proteção dos bens jurídicos, mas, sim, a garantia de vigência da norma, ou seja, o agente que praticou uma infração penal deverá ser punido para que se afirme que a norma penal por ele infringida está em vigor (não é o que predomina ainda). DAMÁSIO – Bem é tudo aquilo que pode satisfazer as necessidades humanas. Todo valor reconhecido pelo Direito Penal torna-se um bem jurídico. Os bens jurídicos são ordenados em hierarquia. O Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos mais importantes, intervindo somente nos casos de lesão de bens jurídicos fundamentais para a vida em sociedade. A CF exerce duplo papel. Se de um lado orienta o legislador, elegendo valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade, por outro, segundo a concepção garantista do Direito Penal, impede que esse mesmo legislador, com uma suposta finalidade protetiva de bens, proíba ou imponha determinados comportamentos, violando direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana, também consagrados pela Constituição. CONTEÚDO DO DIREITO PENAL O conteúdo do Direito Penal abarca o estudo do crime, da pena e do delinqüente, que são os seus elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. Na parte introdutória são estudadas a propedêutica jurídico-penal e a norma penal. Esta é cuidada quanto à sua aplicação no tempo e no espaço, como também a sua exegese. Acrescentam-se partes referentes à ação penal, punibilidade e medidas de segurança. 1.1) DIREITO PENAL OBJETIVO E SUBJETIVO O Direito Penal objetivo é o conjunto de leis penais vigentes; é expressão do poder punitivo estatal. Direito Penal subjetivo é o direito de punir do Estado (é o próprio ius puniendi) – ele é condicionado. Há 3 limitações: a) limitação temporal: prescrição, por ex.; b) limitação espacial: princípio da territorialidade art. 5º do CP); c) limitação modal: princípio da dignidade da pessoa humana, por ex. Ao particular, como se sabe, só cabe o chamado ius persequendi ou o ius accusationis, ou seja, o direito de vir a juízo e pleitear a condenação de seu suposto agressor, mas não o de executar, ele mesmo, a sentença condenatória, haja vista ter sido a vingança privada abolida de nosso ordenamento jurídico. O ius puniendi, segundo ROGÉRIO GRECO, pode se subdividir em: a) positivo e negativo.O positivo seria o poder que tem o Estado não somente para criar tipos penais, como também para executar suas decisões condenatórias. O negativo seria, conforme as lições de ANTONIO RIEZU, “a faculdade de derrogar preceitos penais ou bem restringir o alcance das figuras delitivas”, atribuição essa que compete ao STF, quando declara a inconstitucionalidade de lei penal, produzindo eficácia contra todos e efeito vinculante (art. 102, parágrafo 2º da CF). OBS.: Exceção ao monopólio estatal do direito de punir – Estatuto do índio – art. 57 da Lei 6001/73 – será tolerada a aplicação pelos grupos tribais de aplicação de sanções penais, desde que não fira princípios básicos do Estado. DIREITO PENAL MATERIAL (SUBSTANTIVO) E FORMAL (ADJETIVO) O primeiro é representado pela lei penal, que define as condutas típicas e estabelece sanções. O segundo é o Direito Processual Penal, que determina as regras de aplicação do Direito Penal substantivo. O Direito Processual Penal não é o complemento do Direito material ou substantivo. A moderna doutrina do Direito reconhece a sua autonomia. Sendo autônomo, não pode ser considerado como Direito Penal adjetivo. DIREITO PENAL GARANTISTA DE LUIGI FERRAJOLI BOBBIO – as normas de um ordenamento não estão todas no mesmo plano. Há normas inferiores e normas superiores. Aquelas dependem destas. Subindo das normas inferiores àquelas que se encontram mais acima, chega-se a uma norma suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior e sobre a qual repousa a unidade do ordenamento. Cada ordenamento possui uma norma fundamental que dá unidade a todas as outras normas. Tal hierarquia de normas existe nos chamados Estados Constitucionais de Direitos – onde LUIGI FERRAJOLI busca fundamentos do seu modelo garantista. Num sistema em que há rigidez constitucional, a Constituição é a “mãe” de todas as normas. Todas as normas consideradas inferiores nela vão buscar sua fonte de validade, não podendo contrariá-la sob pena de serem taxadas de inconstitucionais. A Constituição nos garante uma série de direitos, tidos como fundamentais, que não poderão ser atacados pelas normas que lhe são hierarquicamente inferiores. Assim, o legislador infraconstitucional não poderá proibir ou impor determinados comportamentos, sob a ameaça de uma sanção penal, se o fundamento de validade de todas as leis, que é a Constituição, não nos impedir de praticar ou, mesmo, não nos obrigar a fazer aquilo que o legislador nos está impondo. FERRAJOLI distingue as garantias em primárias e secundárias. Primárias – são os limites e vínculos normativos, as proibições e obrigações, formais e substanciais. Secundárias – são as diversas formas de reparação; a anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos – subseqüentes às violações das garantias primárias. SALO DE CARVALHO – a teoria do garantismo penal, antes de mais nada, se propõe a estabelecer critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando qualquer modelo de controle social maniqueísta que coloca a ‘defesa social’ acima dos direitos e garantias individuais. Dez axiomas do garantismo penal · Nulla poena sine crimin – somente será possível aplicação da pena quando houver crime; · Nullum crimen sine lege – somente haverá crime se existir lei · Nulla Lex (poenalis) sine necessitate – a lei penal somente poderá proibir ou impor comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados bens; · Nulla necessitas sine injuria – as condutas devem obrigatoriamente ultrapassar a pessoa do agente – não poderão se restringir à sua esfera pessoal, à sua intimidade; · Nulla injuria sine actione – devem ser exteriorizados mediante uma ação; · Nulla actio sine culpa – somente as ações culpáveis poderão ser reprovadas; · Nulla culpa sine judicio – necessidade de um juiz imparcial · Nullum judicium sine accusatione – necessidade de um órgão de acusação; · Nulla accusatio sine probatione – cabe à acusação o ônus da prova · Nulla probatio sine defensione – deveser assegurada a ampla defesa, com todos os recursos a ela inerentes. PRIVATIZAÇÃO DO DIREITO PENAL Após 2ª guerra mundial descobriu-se as atrocidades do nazismo, surgindo a “vitimologia”. Institutos penais e processuais penais foram criados sob o enfoque dos interesses precípuos da vítima, sendo sua vontade levada em consideração, ex.: ação penal de iniciativa privada ou pública condicionada à representação, arrependimento posterior, criação da lei 9099/95, afirmando que os seus objetivos serão, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade etc. A referida Lei dos Juizados Especiais nos fornece outro exemplo que se amolda ao conceito de privatização no Direito Penal, vale dizer, a composição dos danos, na qual, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação (ações penais privada e pública condicionada à representação apenas). 1.2) FONTES DO DIREITO PENAL Elas indicam o lugar (origem) de onde vem a lei, como também indicam como se revelam as normas penais. 1.2.1) Fonte material É a União (art. 22, I, da CF). Trata-se de fonte de produção. Cabe tão-somente à União, como única fonte de produção, ditar normas gerais do Direito Penal, bem como proibir ou impor determinadas condutas sob a ameaça de sanção. OBS.: os Estados podem, excepcionalmente, produzir normas penais em questões específicas, desde que autorizado por Lei Complementar (art. 22, parág. único, da CF). 1.2.2) Fonte formal/de cognição/de conhecimento Correspondem aos processos de exteriorização do Direito Penal ou de se revelarem as suas regras. A doutrina moderna as divide em: a) fonte formal imediata – é a lei, unicamente; b) fonte formal mediata – costumes e princípios gerais do direito (serão tratados). A) Costumes São os comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade e necessidade. Não existe no Direito Penal costume incriminador, por conta da reserva legal. Existe costume abolicionista? R: 1ª corrente – Não revoga, pois uma lei só pode ser revogada por outra lei (LICC). 2ª corrente – revoga, em especial quando a infração penal é tolerada pela sociedade; 3ª corrente – uma lei só pode ser revogada por outra lei (trabalha com a LICC). Enquanto não revogada, terá eficácia plena, jurídica e social – é a que prevalece. BOBBIO – nos ordenamentos em que o costume é inferior à lei, não vale o costume ab-rogativo; a lei não pode ser revogada por um costume contrário, mas não pune o comportamento quando perde a eficácia social (jurisprudência e doutrina moderna). Assim, o costume serve para interpretação. Possível se mostra o uso do costume segundo a lei, atuando dentro dos limites do tipo penal (costume interpretativo), ex.: ato obsceno; furto durante repouso noturno. OBS.: art. 218 do CP – corrupção de menores – neste caso, a vítima não pode já ser corrompida sexualmente – único crime que exige que a vítima seja honesta (não depravada sexualmente) mesmo não trazendo o termo “mulher ou pessoa honesta”. B) Princípios gerais do direito DAMÁSIO - São fontes formais mediatas. Só podem suprir as normas penais não incriminadoras. FREDERICO MARQUES – esses princípios gerais descansam em premissas éticas que são extraídas, mediante indução, do material legislativo. É no campo da licitude penal que têm função os princípios gerais do direito, ampliando-a. Em certos casos, a adequação típica do fato praticado pelo agente a uma norma penal incriminadora, que enseja a aplicação da sanctio juris, choca-se com a consciência ética do povo. Não obstante haver crime em face da norma, essa conclusão é repelida pelas regras do bem comum. Então, o fato deve ser justificado pelo princípio geral do direito e o agente absolvido **Tal quadro simplista de classificação de fontes não existe mais depois do advento da EC 45/2004. Após esta emenda constitucional, a correta classificação fica desta forma: a) fonte imediata – lei (única capaz de regular direito incriminador); ao lado da lei há a CF, tratados internacionais de direitos humanos e jurisprudência; b) fonte mediata – doutrina. Os costumes apresentam-se como fontes informais. 1.2.3) Tratados internacionais de direitos humanos Com a emenda constitucional 45/2004, os tratados internacionais de direitos humanos terão status constitucional se aprovados com quorum de emenda constitucional (quorum especial). Assim, tal tratado será passível de controle de constitucionalidade, difuso ou concentrado. Os tratados de direitos humanos terão status supralegal se aprovados com quorum comum – fica abaixo da CF e acima das leis ordinárias – posição do STF**. Aqui, há um controle de convencionalidade, podendo só ser difuso, não podendo ser discutido no STF. 1.3) PRINCÍPIOS 1.3.1) Princípios correlacionados com a missão fundamental do Direito Penal A) Princípio da proteção exclusiva de bens jurídicos – este princípio impede que o Estado venha a utilizar o Direito Penal para proteção de bens ilegítimos. Ex.: o Direito Penal não pode proteger determinada religião. O Direito Penal protege os bens jurídicos mais relevantes para o homem. B) Princípio da intervenção mínima – o Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, mantendo-se subsidiário e fragmentário. Subsidiariedade – o Direito Penal só intervém em abstrato (tipificando comportamentos) quando ineficazes os demais ramos do direito (o Direito Penal deve ser a ultima ratio). O Direito Penal deve, portanto, interferir o menos possível na vida em sociedade, devendo ser solicitado quando os demais ramos do Direito, comprovadamente, não forem capazes de proteger aqueles bens considerados da maior importância. BITENCOURT – Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais. Fragmentariedade – o Direito Penal só intervém no caso concreto quando houver relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado – ***extrair-se-á daqui o princípio da insignificância. ROGÉRIO GRECO – Uma vez escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada a lesividade e inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a fazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal, originando-se, assim, a sua natureza fragmentária. MUÑOZ CONDE – O Direito Penal se limita somente a castigar as ações mais graves contra os bens jurídicos mais importantes. B.1) Princípio da insignificância segundo o STF e STJ STF A) Requisitos: 1º) mínima ofensividade da conduta do agente; 2º) nenhuma periculosidade da ação; 3º) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4º) inexpressiva lesão jurídica (são todos requisitos OBJETIVOS). B) Critério de avaliação: a realidade econômica do país. C) Aplica aos crimes contra a Administração Pública. D) NÃO se aplica aos crimes contra a fé pública STJ A) Requisitos: 1º) mínima ofensividade da conduta do agente; 2º) nenhuma periculosidade da ação; 3º) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4º) inexpressiva lesão jurídica (são todos requisitos OBJETIVOS). OBS.: há julgados (não é o que prevalece) exigindo primariedade e bons antecedentes. B) Critério de avaliação: significância da lesão para a vítima. C) NÃO aplica aos crimes contra a Administração Pública: o bem jurídico é a moralidade administrativa. D) NÃO se aplica aos crimes contra a fé pública DAMÁSIO – Ligado aos chamados “crimes de bagatela” (ou “delitos de lesão mínima”), recomenda que o Direito Penal, pela adequação típica, somente intervenha nos casos de lesão jurídica de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de perturbações jurídicas mais leves (pequeníssima relevância material). Esse princípio tem sido adotado pela nossa jurisprudência nos casos de furto de objeto material insignificante, lesão insignificante ao Fisco, descaminho e dano de pequena monta etc. Hoje, adotada (se assim entender) a teoria da imputação objetiva, que concede relevância à afetaçãojurídica como resultado normativo do crime, esse princípio apresenta enorme importância, permitindo que não ingressem no campo penal fatos de ofensividade mínima. OBS.: (ver matéria de tipicidade conglobante). Jurisprudência – aplicação do princípio da insignificância no caso de posse de drogas para consumo pessoal: Posse de drogas por militar para consumo pessoal STF - NÃO se aplica – há apenas um julgado de 24/06/2008 aplicando tal princípio. De resto, não se aplica. FUNDAMENTAÇÃO: Não-aplicação do princípio da insignificância, em prol da saúde, disciplina e hierarquia militares. Posse de drogas para consumo pessoal TJ/RS(julgado de 05/09) – quando em grande quantidade – NÃO se aplica - presume ameaça a bem jurídico que extrapola a individualidade estrita do agente, atingindo a coletividade. TJ/RS(julgado de 05/09) – quando em pequena quantidade – NÃO se aplica - Trata-se de delito de perigo abstrato cuja repressão visa a preservar a saúde pública. Rejeição ao princípio da insignificância: uma corrente mais radical da doutrina entende que todo e qualquer bem merece a proteção do Direito Penal, desde que haja previsão legal para tanto – não vigora. CARLOS VICO MAÑAS – ao realizar o trabalho do tipo penal, o legislador apenas tem em mente os prejuízos que o comportamento incriminado possa causar à ordem jurídica e social. Todavia, não dispõe de meios para evitar que também sejam alcançados os casos leves. O princípio da insignificância surge justamente para evitar situações dessa espécie, atuando como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. ROGÉRIO GRECO – Nem todos os tipos penais permitem a aplicação do princípio, a exemplo do que ocorre com o delito de homicídio. No entanto, existem infrações penais em que a sua aplicação afastará a injustiça do caso concreto, pois que a condenação do agente, simplesmente pela adequação formal do seu comportamento a determinado tipo penal, importara em gritante aberração, devendo ser usado outros ramos do direito para a solução do caso. Crime patrimoniais praticados sem violência – predominância da aplicação do princípio da insignificância. Crimes patrimoniais praticados com violência – predominância da não aplicação do princípio da insignificância. 1.3.2) Princípios correlacionados com o fato do agente A) Princípio da exteriorização ou materialização do fato – o Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos – direito penal do fato (distinto do direito penal do autor – este pune pelo que a pessoa é, pelo que ela pensa, pelo estilo de vida que a pessoa leva, ex.: Direito Penal Nazista). Art. 2º do CP - Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A doutrina critica a contravenção penal da vadiagem exatamente por ferir o princípio da materialização do fato. B) Princípio da legalidade – próxima aula. C) Princípio da ofensividade - para que ocorra o delito, é imprescindível relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. DAMÁSIO – O Direito Penal só deve ser aplicado quando a conduta ofende um bem jurídico, não sendo suficiente que seja imoral ou pecaminosa. ***Com base nele, o STF não reconhece o crime de porte de arma desmuniciada 2ª Turma, mas na 1ª Turma no HC 93188 – reconheceu o crime de porte de arma desmuniciada – significa “sem munição e sem capacidade de pronto municiamento”. Se o agente carrega munição no bolso, caracterizar-se-á o crime. 1.3.3) Princípios correlacionados com o agente do fato A) Princípio da responsabilidade pessoal – proíbe-se o castigo penal pelo fato de outrem. Deve-se descrever a responsabilidade de cada um no delito – não existe denúncia genérica, vaga. Art. 5º, XLV, da CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; ZAFFARONI – a pena é uma medida de caráter estritamente pessoal, haja vista ser uma ingerência ressocializadora sobre o condenado. A.1) Pena de multa - ROGÉRIO GRECO – Quanto à pena de multa – mesmo com a edição da Lei 9268/1996, que, além de dar nova redação ao art. 51 do CP, revogou os seus antigos parágrafos 1º e 2º e passou a considerar a pena de multa como dívida de valor, aplicando-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, impedindo, ainda, a sua conversão em pena privativa de liberdade, entendemos que a multa não perdeu o seu caráter penal. Dessa forma, em caso de morte do condenado, não poderá o valor correspondente à pena de multa a ele aplicada ser cobrado de seus herdeiros, uma vez que, neste caso, estaríamos infringindo o princípio da responsabilidade pessoal. Todavia, se estiver diante de uma responsabilidade não penal, como, a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do condenado e tendo havido a transferência de seus bens aos seus sucessores, estes respondam até as forças da herança, conforme preceitua a parte final do inciso XLV, art. 5º da CF. Hoje, a pena de multa é considerada uma das 3 modalidades de penas previstas pelo art. 32 do CP, sendo inscrita como dívida ativa da Fazenda Pública, passível tão-somente de execução, não sendo mais permitida sua conversão em pena privativa de liberdade (mas não perdeu sua natureza penal, assim e como tal deve ser tratada, impedindo-se a sua cobrança após a morte do autor da infração). Nada se garante que ela seja efetivamente paga pelo condenado, Pode acontecer, e não raramente, que o condenado à pena de multa não tenha, ele próprio, condições de arcar com o seu pagamento. Nada impede, assim, que seu pai, ou algum outro familiar ou mesmo amigo, solidários com o condenado, queiram por ele pagar o valor correspondente à pena de multa, oportunidade em que será desrespeitado o princípio da intranscendência da pena. Há duas espécies de multa: 1ª) a cominada no tipo penal; 2ª) multa substitutiva (ou vicariante). Em 1984, o CP adotou o sistema do dia-multa (sistema bifásico), onde, na primeira fase, o juiz fixará o número de dias-multa (10 a 360), usando como critério as circunstâncias judiciais. A segunda fase consiste em atribuir o valor ao dia-multa (1/30 até 5x o S.M), baseando na condição econômica do réu (se for pouco para o réu, poderá aumentar até do triplo). Quanto à execução da pena de multa, quando já transitada em julgado, ela será considera dívida de valor, devendo ingressar com uma execução sob pena de penhora de bens – obedecendo as normas da lei de execução fiscal e do CTN. Há uma situação em que não será aplicada as leis tributárias, que é no caso de morte do agente, acarretando a extinção da punibilidade – a pena não pode passar da pessoa do condenado (princípio constitucional). B) Princípio da responsabilidade subjetiva – o agente só pode ser responsabilizado pelo fato: previsto, mas querido (dolo direto); previsto, mas aceito (dolo eventual); previsto, mas não aceito (culpa consciente); previsível (culpa inconsciente). Não há responsabilidade objetiva. C) Princípio da culpabilidade – o Direito Penal, para punir alguém, exige: a) agente capaz; b) com potencial consciência da ilicitude; c) sendo dele exigível conduta diversa. DAMÁSIO – o juízo de reprovabilidade (culpabilidade), elaborado pelo juiz, recai sobre o sujeito imputável que, podendo agir de maneira diversa, tinha condições de alcançar o conhecimento da ilicitude do fato (potencial consciência da ilicitude). O juízo de culpabilidade, que serve de fundamento e medida da pena, repudia a responsabilidade penal objetiva. O princípio da culpabilidade possui 3 sentidos fundamentais: · Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime – a culpabilidade é o terceiro elemento integrante do conceito analítico de crime; · Culpabilidade comoprincípio medidor da pena – deverá o julgador, após a condenação, encontrar a pena correspondente à infração penal praticada, tendo sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério regulador; · Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa – o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico. D) Princípio da igualdade – todos são iguais perante a lei. Ele deve ser observado pelo legislador, quando cria o crime; pelo juiz quando aplica a pena; na execução penal. OBS.: a igualdade é material, e não formal – tratar desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades (estabelecimento penal para mulheres, idoso cumprimento pena em casa, etc.). Possui previsão expressa na Convenção Americana de Direitos Humanos e CF. E) Princípio da presunção de inocência – previsão na CF (art. 5º, LVII, da CF). A CF, na verdade, diz que não se pode considerar o agente culpado antes do trânsito em julgado. Assim, o STF tem preferido a expressão “presunção de não-culpa ou de não culpabilidade” – HC 91952 – tal expressão é mais condizente com o instituto da prisão provisória. OBS.: A CADH refere-se à “presunção de inocência”. OBS.: O STF discute, hoje, se processo penal em andamento gera ou não maus antecedentes – a tendência é decidir que não gera. 1.3.4) Princípios correlacionados com a pena do agente A) Princípio da proibição da pena indigna – a ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana (tem previsão na CADH). B) Princípio da humanização das penas – está umbilicalmente ligado ao princípio anterior. Proíbe-se pena cruel, desumana e degradante. OBS.: discute-se, com base neste princípio, a constitucionalidade do RDD, pois caracterizaria uma forma de pena cruel, desumana e degradante – ***STJ: RDD é constitucional. C) Princípio da proporcionalidade – a pena deve ser proporcional à gravidade da infração. É um princípio constitucional implícito no princípio da individualização da pena. ALBERTO SILVA FRANCO – O princípio da proporcionalidade exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que pode alguém ser privado (gravidade da pena). No plano abstrato, deve o legislador, atento a tal princípio procurar alcançar a tão almejada proporcionalidade. No que diz respeito especificamente à proporcionalidade em concreto, ou seja, aquela levada a efeito pelo juiz, sua aferição não é tão tormentosa quanto aquela que deve ser realizada no plano abstrato. Isto porque o art. 68 do CP, ao implementar o critério trifásico de aplicação da pena, forneceu ao julgador meios para que pudesse, no caso concreto, individualizar a pena do agente, encontrando, com isso, aquela proporcional ao fato por ele cometido. D) Princípio da pessoalidade/intransmissibilidade da pena – possui guarida constitucional (art. 5º, XLV, da CF). XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; 1ª corrente – admite-se exceções, qual seja, a pena de confisco, constitucionalmente prevista (FMB); 2ª corrente – este princípio é absoluto, não admitindo exceções – confisco não é pena, é efeito da condenação – posição majoritária. Possui previsão na CADH (art. 5º, Item 3) – ela não prevê qualquer exceção. E) Princípio da vedação do bis in idem – possui 3 significados: 1º) significado processual – ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime. 2º) significado material – ninguém pode ser condenado duas vezes em razão do mesmo fato. 3º) significado execucional – ninguém pode ser executado duas vezes por condenações relacionadas ao mesmo fato. OBS.: o juiz pode significar a reincidência como agravante de pena? R: LFG – é bis in idem. Todavia, a CF traz o princípio da individualização da pena, pois será punido mais severamente o reincidente do que o primário (aquele que praticou um roubo apenas, logo, aquele (o reincidente) deve ser punido de forma mais rigorosa). F) Princípio da individualização da pena – previsão no art. 5º, XLVI, da CF XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos; O primeiro momento da chamada individualização da pena ocorre com a seleção feita pelo legislador, quando escolhe para fazer parte do pequeno âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas condutas, positivas ou negativas, que atacam nossos bens mais importantes. A esta fase seletiva, realizada pelos tipos penais no plano abstrato, chamamos de cominação. É a fase na qual cabe ao legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito Penal, individualizando as penas de cada infração penal de acordo com a sua importância e gravidade. Tendo o julgador chegado à conclusão de que o fato praticado é típico, ilícito e culpável, dirá qual a infração penal praticada pelo agente e começará, agora, a individualizar a pena a ele correspondente – art.68 do CP – critério trifásico. Também ocorre a individualização na fase da execução penal, conforme determina o art. 5º da Lei 7210/84 Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. 1.3.5) Princípio da legalidade (princípio relacionado ao fato do agente – item 1.3.2) Estado de direito e o princípio da legalidade Estado de direito e princípio da legalidade são dois conceitos intimamente relacionados, pois que num verdadeiro Estado de Direito, criado com a função de retirar o poder absoluto das mãos do soberano, exige-se a subordinação de todos perante a lei. Hoje, os países que possuem uma Constituição rígida, ou seja, aquelas cuja modificação de seu texto somente pode ser realizada por meio de um procedimento qualificado de emendas, que obedeça não só à forma constitucionalmente prevista, bem como às matérias que poderão ser objeto dessa modificação, adotam um verdadeiro Estado Constitucional de Direito, no qual a Constituição, como fonte de validade de todas as normas, não pode ser contrariada pela legislação que lhe é inferior. Como instrumento de defesa da hierarquia constitucional existe o controle de constitucionalidade das leis. Além do controle de constitucionalidade das leis, outro importante instrumento disponível na busca pela perfeita acomodação dos textos legais à norma fundamental é a chamada interpretação conforme a Constituição. Art. 5º, XXXIX, da CF – para uma 1ª corrente, traz o princípio da legalidade, que é sinônimo do princípio da reserva legal. Uma 2ª corrente diz que o princípio da legalidade não se confunde com o princípio da reserva legal – princípio da legalidade se refere à lei em sentido amplo (art. 59 da CF), abrangendo todas as espécies normativas previstas neste artigo constitucional; princípio da reserva legal abrangeria apenas lei ordinária e lei complementar. Para uma 3ª corrente, princípio da legalidade nada mais é do que anterioridade + reserva legal – art. 1º do CP – prevalece tal corrente na doutrina (lei anterior + previsão em lei). Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Há previsão também na CADH. O princípio da legalidade constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais. A lei é a única fonte do Direito Penal quando se quer proibir ou impor condutas sob a ameaça de sanção. Tudo o quenão for expressamente proibido é lícito em Direito Penal. Ele foi previsto em todos os Códigos Penais Brasileiros, desde o Código Criminal do Império, de 1830, até a reforma da parte geral do Código em 1940, ocorrida em 1984. Quanto à origem do princípio da legalidade, uma 1ª corrente diz advir do Direito Romano, uma 2ª corrente diz advir da Carta do João Sem-Terra, em 1215. Prevalece a 3ª corrente, que diz que tal princípio teve origem no Iluminismo, sendo recepcionado pela Revolução Francesa. A) Fundamentos do princípio da legalidade – 1º) fundamento político – o poder punitivo não pode ser arbitrário. É a exigência de vinculação do Poder Executivo e Poder Judiciário a leis formuladas de forma abstrata. 2º fundamento democrático – desdobramento do fundamento político. É o respeito à divisão de poderes (separação de funções). O parlamento, representante do povo, deve ser o responsável pela criação de crimes. 3º fundamento jurídico – uma lei prévia e clara produz importante efeito intimidativo. OBS.1: o princípio da legalidade aplica-se, subsidiariamente, às contravenções penais – não há infração penal sem lei anterior...(não se fala apenas em “crime”). OBS.2: Abrange medida de segurança? R: 1ª corrente – não abrange medida de segurança, pois esta não tem finalidade punitiva, mas sim curativa. 2ª corrente – abrange medida de segurança, pois também é espécie de sanção penal – prevalece esta corrente (MP do Piauí entendeu ser a primeira corrente). OBS.3: o art. 3º do CPM respeita a reserva legal, mas ignora a anterioridade – não foi recepcionado pela CF. Funções do princípio da legalidade 1. Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena sine lege praevia) – esta é a regra; a exceção é a retroatividade, desde que seja para beneficiar o agente; 2. Proibir a criação de crimes e penas pelos costume (nullum crimen nulla poena sine lege scripta) – sem a lei não se pode proibir ou impor condutas sob a ameaça de sanção; 3. Proibir o emprego de analogia para criar crimes (nullum crimen nulla poena sine lege stricta) – veda-se o uso da analogia in malam partem. Se o fato não foi previsto expressamente pelo legislador, não pode o intérprete socorrer-se da analogia a fim de tentar abranger fatos similares aos legislados em prejuízo do agente; 4. Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena sine lege certa) – é vedado a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos/ deve haver uma definição precisa da conduta proibida ou imposta. Princípio da legalidade é uma garantia, todavia, a lei é dada em seu sentido estrito – “não há crime sem lei”. Logo, Medida Provisória não pode criar crime (Direito Penal incriminador) – não é lei em sentido estrito. E se tratar sobre Direito Penal Não-incriminador? R: · 1ª corrente – MP não pode versar sobre Direito Penal, seja incriminador ou não – art. 62 da CF – posição majoritária - MUNHOZ CONDE. Sustentam que: I. Função de legislar em matéria penal cabe ao Legislativo; II. A decisão de inovar o sistema jurídico por via de MP cabe a só uma pessoa – Presidente da República – não foi eleito pelo povo para atuar nessa função; III. A MP pode ser rejeitada pelo CN; assim pessoas podem ser presas provisoriamente e caberia apenas uma futura indenização contra o Estado, e nada mais; IV. MP só cabe nos casos de relevância e de urgência (matéria penal sempre é relevante); V. MP só possui força de lei; posteriormente, após aprovação do CN, poderá ser convertida em lei; · 2ª corrente – Não é possível MP incriminadora, porém, não-incriminadora, admite-se – LFG. O **STF, no RE 254818/PR, discutindo os efeitos benéficos da MP 1571/97 (que permitiu o parcelamento de débitos tributários e previdenciários, com efeito extintivo da punibilidade) proclamou sua admissibilidade em favor do réu – outro ex.: registro de arma de fogo, impedindo a punição daqueles que não registraram suas armas – Estatuto do Desarmamento – tendência a ser adotada nos próximos concursos, mesmo não sendo a posição majoritária. OBS.4: resolução do CNJ CNMP, TSE – atos não legislativos com força normativa – logo, não podem criar crime, nem cominar pena. OBS.5: Lei delegada – não pode. Lei Delegada não pode tratar sobre direitos individuais, logo, não podendo tratar sobre Direito Penal. B) Anterioridade da lei – a lei deve ser anterior aos fatos que procura incriminar. Evita-se a retroatividade maléfica (a retroatividade benéfica admite-se). C) Lei escrita – deve a lei ser escrita; evita-se o costume incriminador D) Lei estrita – evita-se a analogia incriminadora. Não se veda a analogia, e sim uma espécie de analogia (a benéfica, por ex, é bem-vinda). E) Lei certa – é uma lei de fácil entendimento – evita-se a ambiguidade. Ex.: art. 20 da lei 7170/83 – expressão “atos de terrorismo” – lei escrita, anterior, estrita e não certa, pois não se sabe o que é ato de terrorismo, logo, fere o princípio da legalidade. F) Lei necessária – evitar a hipertrofia do Direito Penal – princípio da intervenção mínima. Princípio da legalidade é o pilar do garantismo. Fala-se em poder punitivo X garantia do cidadão. Garantismo é reduzir ao máximo o poder punitivo, elevando em patamar máximo as garantias. É o mínimo poder punitivo versus o máximo de garantias, e quem fez isso com o garantismo foi o princípio da legalidade. G) Lei penal – ela pode ser: · Completa – quando ela dispensa complemento normativo (dado pela norma) ou valorativo (dado pelo juiz), ex.: homicídio – art. 121. · Incompleta – ela depende de complemento normativo ou valorativo. Divide-se em: · Norma penal em branco – depende de complemento normativo. Ela pode ser: · Própria/em sentido estrito/heterogênea – quando o complemento normativo não emana do legislador, ex.: lei de drogas (o que vem a ser drogas é conceituado pelo Poder Executivo); · Imprópria/em sentido amplo/homogênea – o complemento normativo emana do legislador · norma penal em branco homóloga/homovitelina – complemento emana da mesma instância legislativa. Lei penal complementada por lei penal, ex.: art. 327 do CP – conceito de funcionário público. · Norma penal em branco heteróloga/heterovitelina – o complemento emana de instância legislativa distinta, ex.: lei penal sendo complementada por lei civil. · Norma penal em branco ao revés – o complemento diz respeito a sua sanção, e não ao preceito primário, ex.: Lei 2889/56 – lei do genocídio. · Norma penal incriminadora: é reservada a função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo as condutas, sob a ameaça de pena (norma penal por excelência). Existem 2 preceitos: a) preceito primário (preceptum iuris) – é o encarregado de fazer a descrição detalhada e perfeita da conduta que se procura proibir ou impor; b) preceito secundário (sanctio iuris) – cabe a tarefa de individualizar a pena, cominando-a em abstrato; · Norma penal não-incriminadora: possuem as seguintes finalidades: a) tornas lícitas determinadas condutas – normas permissivas justificantes; b) afastar a culpabilidade do agente, erigindo causas de isenção de pena - normas permissivas exculpantes; c) esclarecer determinados conceitos – normas penais explicativas; d) fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal – normas penais complementares. Quando a norma depende de complemento valorativo – dependem de complemento dado pelo juiz – tipo aberto – ex.: crime culposo Quanto às fontes formais do Direito Penal (já visto), há as imediatas: Lei, CF, TIDH, jurisprudência; e as mediatas – doutrina. Os costumes constituem em fontes informais. Os princípios constituem fontes imediatas do Direito Penal. atos administrativos complementos de normas penais em branco em sentido estrito – fonte imediata. Críticas: Norma penal em branco fere o princípio da taxatividade? R: Enquanto a norma não for complementada, não terá eficácia jurídica ou social. Não fere o princípio da taxatividade, já que não terá tal eficácia. 1ª Corrente: Norma penal em branco em sentido estrito fere a legalidade e seu fundamento democrático, poissó o Legislativo pode legislar sobre Direito Penal, e não o Poder Executivo – ROGÉRIO GRECO. 2ª Corrente, Rebate: na norma penal em branco em sentido estrito, o legislador já criou tipo penal incriminador com todos os seus requisitos básicos, limitando-se a autoridade administrativa a explicitar um desses requisitos. Logo, a norma penal em branco é constitucional. H) Legalidade formal e material Legalidade formal – obediência às regras de elaboração da lei. Legalidade material – obediência ao conteúdo da CF e dos tratados de direitos humanos. Legalidade material gera uma lei válida. Ex.: Regime integralmente fechado – era uma lei vigente, mas tal artigo, de acordo com o STF, não tinha validade, pois infringia a CF – tal regime foi julgado inconstitucional, pois não obedecia à legalidade material. Quais as formas de se questionar a validade de uma lei/de se controlar a legalidade material? R: Hoje se fala em 4 formas: 1ª) Controle concentrado de constitucionalidade (STF, diretamente, analisa a lei em abstrato, não se preocupando com o caso em concreto – sua decisão tem efeito erga omnes); 2ª) Controle difuso de constitucionalidade (a ação chega ao STF de maneira indireta, passando pelos tribunais inferiores, e a Suprema Corte analisa o caso concreto e não a lei em tese – sua decisão tem efeito inter partes); 3ª)* Controle difuso abstrativizado de constitucionalidade – a lei chega ao STF de maneira indireta, ou HC e recursos em geral, mas o STF, ao julgar, analisará a lei em tese (em abstrato) – decisão com efeito erga omnes (o que aconteceu com o caso do regime integralmente fechado); 4ª) Controle de convencionalidade – a lei do ordenamento interno ferindo norma de tratado de direito humanos de status supralegal, ex.: CADH. Se for tratado de direitos humanos de status constitucional (quorum de emenda constitucional) o controle será de constitucionalidade. I) Princípio da reserva legal e mandados de criminalização – retirado do livro do Prof. CLEBER MASSON A CF de 1988, seguindo o modelo de algumas constituições européias, como as da Alemanha, Espanha, Itália, França e da própria Comunidade Européia, estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização (ou penalização). Cuida-se de hipóteses de obrigatória intervenção do legislador penal. Com efeito, os mandados de criminalização indicam matérias sobre as quais o legislador não tem a faculdade de legislar, mas a obrigatoriedade de tratar, protegendo determinados bens ou interesses de forma adequada e, dentro do possível, integral. Os mandados de criminalização explícitos contidos na CF são encontrados nos arts. 5º, incisos XLII (racismo), XLIII (tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e crimes hediondos) e XLIV (ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático) e parágrafo 3º (os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais); 7º, incisos X (retenção dolosa do salário dos trabalhadores); 227, parágrafo 4º (abuso, violência e a exploração sexual da criança ou adolescente); 225 (condutas lesivas ao meio ambiente). Há, também, mandados implícitos de criminalização, podendo ser citado o exemplo do necessário e urgente combate eficaz à corrupção eleitoral. Alguns dos mandados de criminalização já foram atendidos pelo legislador ordinário de modo satisfatório (é o caso da Lei 8072/90, que definiu os crimes hediondos, e, juntamente com os assemelhados, a eles conferiu tratamento mais severo); outros de forma insuficiente; vários simplesmente ignorados. E, dentre os olvidados pelo legislador, destaca-se a tipificação legal do terrorismo, crime equiparado aos hediondos e ainda não definido a contento – não se desconhece que a Lei 7170/83 (Lei de Segurança Nacional), em seu artigo 20, fala em “atos de terrorismo”, porém não define terrorismo e tampouco quais seriam esses atos que o identificariam. INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL INTRODUÇÃO Interpretar é tentar buscar o efetivo alcance da norma. HUNGRIA: Como toda norma jurídica, a norma penal não pode prescindir do processo exegético, tendente a explicar-lhe o verdadeiro sentido, o justo pensamento, a real vontade, a exata razão finalística, quase nunca devidamente expressos com todas as letras. In claris cessat interpretatio – quando o texto for claro o suficiente, não haverá necessidade de interpretação – não é o que vigora no Brasil! Não há norma suficientemente clara que prescinda da interpretação e que a conclusão sobre a clareza de determinado enunciado normativo é resultado do próprio processo interpretativo. ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO Interpretação objetiva e subjetiva Interpretação objetiva – busca-se descobrir a suposta finalidade da lei. Interpretação subjetiva – procura-se alcançar a vontade do legislador. Tal distinção tem sido severamente criticada pela doutrina – o que importa não é o que o legislador queria dizer senão o que efetivamente disse. Interpretação quanto ao órgão (sujeito). Interpretação autêntica – É á interpretação realizada pelo próprio texto legal. Em determinadas situações, a lei, com finalidade de espantar quaisquer dúvidas quanto a este ou aquele tema, resolve, ela mesma, no seu corpo, fazer a sua interpretação. Ela pode ser: a) contextual – é a interpretação realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal que se procura interpretar, ex.: art. 327 do CP – definiu o conceito de funcionário público no mesmo instante que previa, no corpo do Código, os crimes que, para sua configuração, exigiam essa qualidade, procurando evitar, dessa forma, outra interpretação tendente a modificar aquilo que realmente se pretendia alcançar; b) posterior – é a interpretação realizada pela lei, depois da edição de um diploma legal anterior. Serve para afastar qualquer duvida de interpretação existente quanto a outro diploma legal já editado anteriormente. OBS.: Pode-se atribuir essa modalidade de interpretação à exposição de motivos do Código? R.: Não! Embora seja a exposição de motivos uma justificativa feita pela comissão encarregada de elaborar o projeto, explicando os pontos alterados, bem como a necessidade de ser inovado o nosso ordenamento jurídico, essa exposição de motivos não é votada pelo Congresso Nacional e nem sancionada pelo Presidente da República – devem ser consideradas como interpretações doutrinárias. Interpretação doutrinária – é a realizada pelos estudiosos do Direito, os quais, comentando sobre a lei que se pretende interpretar, emitem opiniões pessoais – communis opinio doctorum. Interpretação judicial – é a realizada pelos aplicadores do Direito, ou seja, pelos juízes de primeiro grau e magistrados que compõem os tribunais ao aplicar seus entendimentos na solução do caso concreto. Somente se deve falar em interpretação judicial ou jurisprudencial com relação àquela que é levada a efeito intra-autos, ou seja, sempre no bojo de um processo judicial. Se ministros do STF ou do STJ emitirem suas opiniões, interpretando a lei penal em palestrar, congresso, etc. (extra-autos), jamais se poderá considerar esse tipo de interpretação como de natureza judicial – e sim interpretação doutrinária. OBS.: Súmulas: elas traduzem as decisões reiteradas de um tribunal sobre determinado assunto. Elas, mesmo que editadas pelos Tribunais Superiores, não tinham o condão de vincular as atuações dos juízes monocráticos, tampouco dos integrantes dos demais Tribunais. Hoje, depois da promulgação da EC 45/2004, faz-se uma divisão da interpretação judicial sumular em vinculante e não-vinculante. Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aosdemais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso." Somente o STF é que poderá editar súmulas com efeitos vinculantes. Os demais Tribunais e, inclusive o próprio STF ainda poderão continuar a produzir suas súmulas que, embora traduzam as conclusões a respeito de suas reiteradas decisões sobre o mesmo fato, não vinculam os juízes de primeiro grau, ou desembargadores ou mesmo os ministros que, atuando naquela Corte Superior de Justiça, a ela não se filiam. As súmulas já editadas pelo STF não receberam automaticamente o efeito vinculante, inclusive enquanto as súmulas não forem confirmadas por dois terços dos integrantes do STF, ou seja, 8 Ministros, nenhuma delas terá efeito vinculante – art. 8º da EC 45/04. Estas súmulas não confirmadas continuarão apenas tendo o efeito prático de orientar o órgão julgador a adotar aquele posicionamento já previsto em súmula, não cabendo, no entanto, a reclamação para anular a decisão judicial, muito menos o ato administrativo. Interpretação quanto aos meios empregados Interpretação literal (gramatical) – é aquela em que o exegeta se preocupa, simplesmente, em saber o real e efetivo significado das palavras. Interpretação teleológica (lógica) – o intérprete busca alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se destina regular/busca os fins propostos pela lei. Interpretação sistêmica – o exegeta analisa o dispositivo legal no sistema no qual ele está contido, e não de forma isolada. Interpreta-se com os olhos voltados para o todo, e não somente para as partes. Interpretação histórica – o intérprete volta ao passado, ao tempo em que foi editado o diploma que se quer interpretar, buscando os fundamentos de sua criação, o momento pelo qual atravessava a sociedade etc., com vista a entender o motivo pelo qual houve a necessidade de modificação do ordenamento jurídico, facilitando, ainda, a interpretação de expressões contidas na lei. Interpretação quanto aos resultados Interpretação declaratória – o intérprete não amplia nem restringe o seu alcance, mas apenas declara a vontade da lei. Ex.: art. 141, III, do CP – crimes contra a honra terão suas penas aumentadas de um terço se qualquer deles for praticado na presença de várias pessoas (não são duas pessoas, pois se fosse assim, a lei traria tal termo; logo, necessita-se de, pelo menos, três pessoas). Interpretação restritiva – é aquela em que o intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que esta, à primeira vista, disse mais do que efetivamente pretendia dizer (lex plus dixit quam voluit), buscando, dessa forma, apreender o seu verdadeiro valor. Art. 28, II, do CP (a embriaguez voluntária ou culposa pelo álcool ou substancia de efeitos análogos não exclui a imputabilidade penal, mas o artigo não quis referir-se à embriaguez patológica, uma vez que esta última encontra-se abrangida pelo art. 26, caput, do CP (casos de doença mental). Interpretação extensiva – quando, para que se possa conhecer a exata amplitude da lei, o intérprete necessita alargar seu alcance, haja vista ter aquela dito menos do que efetivamente pretendia (lex minus dixit quam voluit), Quando a lei proibiu a bigamia, criando, para tanto, o crime previsto no art. 235 do CP, quis, de maneira implícita, também abranger a poligamia. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA Interpretação analógica quer dizer que a uma fórmula casuística, que servirá de norte ao exegeta, segue-se uma fórmula analógica. O legislador, em determinadas passagens pelo CP, por não poder prever todas as situações que poderiam ocorrer na vida em sociedade, e que seriam similares àquelas por ele já elencadas, permitiu, expressamente, a utilização de um recurso, que também amplia o alcance da norma penal, conhecido como interpretação analógica. Primeiramente, o CP, atendendo ao princípio da legalidade, detalha todas as situações que quer regular e, posteriormente, permite que tudo aquilo que a elas seja semelhante possa também ser abrangido pelo mesmo artigo. Ex.: art. 121, parágrafo 2º, III, do CP – homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: (...) III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; Quando o legislador fez inserir as expressões ou por outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resulta perigo comum, ele quis dizer que qualquer outro meio dissimulado ou que causa excessivo sofrimento à vítima e aquele que possa trazer uma situação de perigo a um número indeterminado de pessoas, embora não elencados expressamente por esse inciso, estão também por ele abrangidos e, em virtude disso, qualificam o crime de homicídio. Percebe-se que, da mesma forma que a interpretação extensiva, a interpretação analógica amplia o conteúdo da lei penal, com a finalidade de nela abranger hipóteses não previstas expressamente pelo legislador, mas que por ele foram também desejadas. Pode-se, portanto, entender que a interpretação extensiva é o gênero, no qual são espécies a interpretação extensiva em sentido estrito e a interpretação analógica. Como, então, poder-se-á diferenciar ambas as espécies? Analisando a lei penal. Se, para abranger situações não elencadas expressamente no tipo penal, o legislador nos fornecer uma fórmula casuística, seguindo-se a ela uma fórmula genérica, far-se-á, aqui, uma interpretação analógica. Caso contrário, se, embora o legislador não tenha fornecido um padrão a ser seguido, o interpretador tiver de ampliar o alcance do tipo penal para alcançar hipóteses não previstas em lei, mas queridas por ele, estar-se-á diante de uma interpretação extensiva em sentido estrito. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO É o método de interpretação mediante o qual o intérprete, de acordo com uma concepção penal garantista, procura aferir a validade das normas mediante o seu confronto com a Constituição. As normas infraconstitucionais devem, sempre, ser analisadas e interpretadas de acordo com os princípios informadores da Carta Constitucional, não podendo, de modo algum, afrontá-los, sob pena de verem judicialmente declaradas a sua invalidade, seja através do controle direto de constitucionalidade, exercido pelo STF, seja pelo controle difuso, atribuído a todos os juízes que atuam individual (monocráticos) ou coletivamente (colegiados). ANALOGIA Trata-se de forma de auto-integração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso semelhante, atendendo-se, assim ao brocado ubi eadem ratio, ubi eadem legis dispositio. Está prevista no art. 4º da LICC como uma das formas do juiz decidir o caso quando ausente disposição em lei (junto dos costumes e princípios gerais do direito). Com essa fórmula, mesmo que para determinado caso não haja norma expressa regulando-o, o juiz não pode eximir-se de julgá-lo, embora ocorra uma lacuna na lei. O mesmo não ocorre com o sistema jurídico-penal, que se tem por perfeitoem suas normas incriminadoras. Tudo aquilo que não for expressamente proibido é permitido em Direito Penal. As condutas que o legislador deseja proibir ou impor, sob a ameaça de sanção, devem vir descritas de forma clara e precisa, de modo que o agente as conheça e as entenda sem maiores dificuldades. O campo de abrangência do Direito Penal, dado o seu caráter fragmentário, é muito limitado. Se não há previsão expressa da conduta que se quer atribuir ao agente, é sinal de que esta não mereceu a atenção do legislador, embora seja parecida com outra já prevista pela legislação penal. Analogia in bonam partem – é perfeitamente viável. É muitas vezes necessária para que ao interpretarmos a lei penal não cheguemos a soluções absurdas. Se a analogia in malam partem é aquela que, de alguma maneira, prejudica o agente, a chamada in bonam partem, ao contrário, é aquela que lhe é benéfica. Ex.: aplicação do art. 128, II, do CP – aborto sentimental – aos casos de gravidez resultante de atentado violento ao pudor. Analogia in malam partem - significa a aplicação de uma norma que define o ilícito penal, sanção, ou consagre occidentalia delicti (qualificadora, causa especial de aumento de pena e agravante) a uma hipótese não contemplada, mas que se assemelha ao caso típico. Evidentemente porque prejudica e contrasta o princípio da reserva legal, é inadmissível. JUIZ COMO LEGISLADOR POSITIVO E COMO LEGISLADOR NEGATIVO O juiz ampliando o alcance da lei a outras situações que não foram objeto de regulamentação expressa (casos de analogia in bonam partem) estará (aqui entendidos os juízos monocráticos e colegiados), funcionando como um legislador positivo. Ao contrário, quando reconhece a inconstitucionalidade de determinado diploma penal, seja por meio de controle concentrado, exercido pelo STF, seja por meio do controle difuso, inerente a todo legislador, estará exercendo as funções de um legislador negativo, impedindo, outrossim, a aplicação da lei ao caso concreto. 2) TEMPO DO CRIME – LEI PENAL NO TEMPO Quando que um crime se considera praticado? R: há 3 teorias: a) teoria da atividade – o crime se considera praticado no momento da ação ou omissão; b) teoria do resultado – o crime se considera praticado no momento do resultado, não importando o momento da conduta; c) teoria da ubiqüidade – o crime se considera praticado tanto no momento da conduta quanto do resultado. O CP adotou a teoria da atividade – art. 4º do CP Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Há 3 repercussões praticas: · Análise da imputabilidade do agente; · Análise das circunstâncias da vítima – ex.: art. 121, parágrafo 4º, do CP – quando praticado o homicídio, a vítima era menor de 14 anos, e quando a vítima morreu, está já era maior de 14 anos – analisa-se o caso no momento da ação; assim, aplicará a causa de aumento de pena no momento da conduta; · Análise de sucessões de leis penais no tempo – ex.: no momento do tiro, existia a lei A. No momento da sentença, existia a lei B. Quando há uma efetiva sucessão de leis penais, surge o conflito no tempo. Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso – tempus regit actus (mesmo princípio do Processo Penal). Contudo, essa regra (da irretroatividade) cede diante de alguns casos, exceções fundamentadas em razões político-sociais. Casos em que prevalecerá a exceção: I) na época do fato, este era considerado crime, mas lei posterior deixa de considerar crime – lei abolicionista – abolitio criminis. II) quando da realização do fato, era crime, mas lei posterior diminui a pena – parágrafo único do art. 2º do CP – lei posterior mais benéfica. Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Chama-se de extra-atividade a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua vigência, desde que benéficas ao agente. Tem-se, portanto, a extra-atividade como gênero, de onde seriam espécies a ultra-atividade e retroatividade. Ultra-atividade – quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência; Retroatividade – seria a possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor. OBS.: Lei intermediária – pode acontecer a hipótese em que a lei a ser aplicada não seja nem aquela vigente à época dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolação da sentença – caso da lei intermediária. A regra da ultra-atividade e da retroatividade são absolutas no sentido de, sempre, ser aplicada ao agente a lei que mais lhe favoreça, não importando, na verdade, o momento de sua vigência, isto é, se na data do fato, na data da sentença ou mesmo entre esses dois marcos. 2.1) ABOLITIO CRIMINIS É a supressão da figura criminosa, ex.: sedução, adultério. Para o CP, sua natureza jurídica é causa extintiva da punibilidade (art. 107, III, do CP). Tem doutrina minoritária dizendo que natureza jurídica da abolitio criminis é exclusão da tipicidade (em todos os outros casos de extinção de punibilidade, o tipo continua existindo, ex.: na prescrição, o tipo continua vigente, e na abolitio criminis o próprio tipo penal desaparece) – FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS, BASILEU GARCIA. Lei abolicionista não respeita a coisa julgada. Art. 5º, XXXVI, da CF - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; O art.2º não infringe o art. 5º, XXXVI, da CF, pois o mandamento constitucional tutela a garantia individual do cidadão, e não o direito de punir do Estado. Os efeitos extrapenais permanecem. Apenas os efeitos penais é que desaparecem. Ex.: sentença servindo com título executivo judicial (sanção civil) – permanece! OBS.: Lei abolicionista pode retroagir na vacatio legis? R: Ex.: Lei 6368/76 punia o usuário de drogas com pena de 6 meses a 2 anos; a Lei 11343/2006 pune hoje com pena de advertência e outras. 1ª corrente – lei na vacatio não tem eficácia jurídica ou social (não pode retroagir na vacatio). 2ª corrente – considerando que a finalidade da vacatio é informar a iminente alteração do ordenamento, lei neste estágio pode ser aplicada para aqueles que demonstram conhecimento da mudança. A 1ª corrente é a que prevalece. OBS.2: Vacatio legis indireta – considera-se a hipótese em que a lei, além do seu normal período de vacatio legis, em seu próprio corpo, prevê um outro prazo para que determinados dispositivos possam ter aplicação, a exemplo do que ocorreu com os arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento. ...Assim sendo, flagrado o paciente dentro do período chamado de vacatio legis indireta (...), em que estava suspensa a eficácia do dispositivo legal que lhe foi imputado, há reconhecer a atipicidade da conduta e a ausência de justa causa para a ação penal”(STJ, HC 58703/RJ). Extrai-se do caput do art. 2º do CP que, havendo a descriminalização e uma vez cessados os efeitos da sentença condenatória, deverá ser providenciada a retirada do nome do agente do rol dos culpados, não podendo a sua condenação ser considerada para fins de reincidência ou mesmo antecedentes penais. Os efeitos civis, ao contrário, não serão atingidos pela abolitio criminis. Abolitio criminis temporalis Ou também chamada de suspensão da tipicidade. É a situação na qual a aplicação de um determinado tipo penal encontra-setemporariamente suspensa, não permitindo, consequentemente, a punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão. Ex.: posse irregular de arma – art. 12 da Lei 10826/2003. O ar. 30 da mesma lei determinou que os possuidores e proprietários de armas de foto não registradas deveriam, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias após a publicação da lei solicitarem o seu registro apresentado nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse – tal prazo já foi várias vezes prorrogado. 2.2) SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NA CONTINUIDADE DELITIVA Continuidade delitiva é a pluralidade de crimes nas mesmas circunstâncias de tempo, modo e lugar (é uma ficção jurídica). 1ª corrente – na dúvida, o juiz aplicará a lei mais favorável. 2ª corrente – como o crime é único, ele é praticado tanto no primeiro momento (na vigência da 1ª lei), como num segundo momento (na vigência da 2ª lei) – está seguindo o mesmo espírito do crime permanente. Prevalece a segunda corrente. Súmula 711 do STF A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU A PERMANÊNCIA. OBS.: Fala-se em combinação de leis quando ao julgador é conferida a possibilidade de extrair de dois diplomas os dispositivos que atendam aos interesses do agente, desprezando aqueles outros que o prejudiquem. É possível combinação de leis? R: 1ª corrente – não, pois assim, o juiz passa a legislar (criando a lex tentia). 2ª corrente– sim, pois se o juiz pode o mais (não aplicar uma lei no todo), ele poderá o menos (não aplicar lei em parte) – doutrina moderna (LFG, DAMÁSIO, ROGÉRIO GRECO). A própria doutrina moderna reconhece que a posição do STF e do STJ é a primeira. Todavia, as últimas decisões desses tribunais indicam a possibilidade de combinação de leis. É o caso do STF ao decidir pelo cabimento, a autor de crime de tráfico de drogas cometido sob égide da Lei 6368/76, do benefício introduzido pelo art. 33, parágrafo 4º, da Nova Lei de Drogas – Lei 11343/2006. Concluiu-se que aplicar a causa de diminuição não significa baralhar e confundir normas uma vez que o juiz, ao assim proceder, não cria lei nova, mas apenas se movimenta dentro dos quadros legais para uma tarefa de integração perfeitamente possível. Enfatizou-se, também, que a vedação de junção de dispositivos de leis diversas é apenas produto de interpretação da doutrina e da jurisprudência, sem apoio direto em texto constitucional. O STF, assim, abandonou, destarte, a teoria da ponderação unitária ou global (a lei na sua totalidade, na globalidade das suas disposições, deve ser aplicada), e filiou-se à teoria da ponderação diferenciada, pela qual, considerada a complexidade de cada uma das leis em conlfito no tempo e a relativa autonomia de cada uma das disposições, é preciso proceder-se ao confronto de cada uma das disposições de cada lei, podendo, portanto, acabar por se aplicar ao caso sub judice disposições de ambas as leis. Há uma 3ª corrente (decisão ilhada no STJ) que entende que não pode combinar lei, devendo o réu escolher a que ele achar a melhor. 2.3) APLICAÇÃO DA LEI MAIS FAVORÁVEL Se o processo já estiver em andamento, o juiz ou Tribunal poderá aplicar a Lex mitior (lei menos grave, no caso de retração da lei mais benéfica). Depois do trânsito em julgado, quem aplica a lei mais favorável? R: Se for numa 1ª fase de concurso ou prova objetiva, é o juiz da execução (Súmula 611 do STF) súmula nº 611 Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. Mas dependerá, para uma outra fase de concurso, se for uma aplicação meramente matemática – será o juiz da execução. Mas se for uma aplicação de um juízo de valor – ter-se-á que entrar com revisão criminal – ROGÉRIO GRECO entende assim. Assim, toda vez que o juiz da Vara de Execuções, a fim de aplicar a Lex mitior, tiver de, obrigatoriamente, adentrar no mérito da ação penal de conhecimento, já não possuirá competência para tanto. Apuração da maior benignidade da lei Pode acontecer que ocorra sucessão de leis e, na busca por aquela que melhor atenda aos interesses do agente, não consiga o julgador identificar a que efetivamente possa ser considerada como Lex mitior. NÉLSON HUNGRIA, então, citando dispositivos dos Códigos mexicano e espanhol que dispunham que em caso de dúvida sobre a lei mais favorável deverá ser ouvido o réu, entendia ser essa a posição “mais racional, pois ninguém melhor do que o réu para conhecer as disposições que lhe são mais benéficas”. OBS.: Quanto à lei penal em branco e retroatividade da lei que serve como complemento – na hipótese de norma penal em branco sofrer alteração de conteúdo de seu complemento, deve-se analisar, primeiramente, se o complemento é lei ou espécie normativa diversa da lei. Se lei (NPB em sentido amplo), havendo alteração benéfica, sempre retroage. Se espécie normativa diversa da lei, (NPB em sentido estrito), deve ser analisado se a alteração tem fins de atualização ou descriminalização. Se meramente atualizadora, não retroage; se abolicionista, retroage. 2.4) LEI EXCEPCIONAL E TEMPORÁRIA – LEIS ULTRATIVAS Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Lei temporária (temporária em sentido estrito) tem prefixado no seu texto o tempo de vigência, o tempo de sua duração. Lei excepcional (temporária em sentido amplo) é a que atende à excepcional situação de emergência (guerras, calamidades, epidemias), perdurando durante todo o período excepcional. DAMÁSIO – quando a lei ordinária retoma o seu vigor após a extinção da vigência da lei excepcional ou temporária, não é mudada a concepção jurídica do fato. Este passa a ser lícito porque não mais estão presentes as condições temporais ou de fato exigidas por aquelas. Terminado o prazo de sua vigência e em vigor a lei ordinária menos severa, não há alteração do estado jurídico do fato, no sentido de tornar mais benigna a repressão penal, mas ausência das situações que justificavam a maior punibilidade. Ex.: Lei 1521 de 51 e Lei 8137 de 1990 contém um dispositivo de lei penal excepcional – crime de congelamento de preços – Crimes contra a Economia Popular. Se o comerciante vender um produto acima do preço previsto em tabela oficial, comete crime contra a Economia Popular. Todavia, este artigo só se rege em situações de crises econômicas. Terminado a época o congelamento de preços, os inquéritos policiais e as ações penais devem seguir, pois o fato foi praticado em época de crise econômica. Art. 5º, XL, da CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; Discute-se se o art. 3º foi recepcionado pela CF, tendo como base o inciso XL, do art. 5º, da CF. 1ª corrente – para ZAFFARONI, ROGÉRIO GRECO, NILO BATISTA, não trazendo a CF qualquer exceção à proibição da ultratividade maléfica, o art. 3º não foi recepcionado. Prevalece a 2ª corrente – a lei nova não revoga a anterior, pois não trata exatamente da mesma matéria. Não há, portanto, um conflito de leis penais no tempo, por isso que o art. 3º foi recepcionado pela CF de 1988. OBS.: não se pode confundir abolitio criminis com o princípio da continuidade normativo típica. Na abolitio criminis existe uma revogação formal e supressão do conteúdo, da figura criminosa. Aqui, a intenção do legislador é não mais considerar o fato como criminoso, ex.: crime de sedução. No princípio da continuidade delitiva há a alteração formal e deslocamento do conteúdo (permanece criminoso). A intenção do legislador é manter o fato como criminoso, ex.: antigo crime de rapto violento previsto art. 219, hoje é seqüestro qualificado com finalidade libidinosa. O legislador deu nova roupagem. 3) LEI PENAL NO ESPAÇO Sabendo que o fato punível pode, eventualmente, atingir o interesse de dois ou mais Estados igualmentesoberanos, o estudo da lei penal no espaço visa a descobrir qual é o âmbito territorial da lei penal brasileira, bem como de que forma o Brasil se relaciona com os outros países em matéria penal. 3.1) PRINCÍPIOS SOLUCIONADORES DO CONFLITO DA LEI PENAL NO ESPAÇO 3.1.1) Princípio da territorialidade Aplica-se a lei do local do crime. Não importa a nacionalidade dos sujeitos ou do bem jurídico. 3.1.2) Princípio da nacionalidade ativa Aplica-se a lei da nacionalidade do sujeito ativo. Não importa o local do crime ou nacionalidade do sujeito passivo. 3.1.3) Princípio da nacionalidade passiva Aplica-se a lei da nacionalidade do agente somente quando atinge direitos de um concidadão. Não importa o lugar do crime. 3.1.4) Princípio da defesa ou real Aplica-se a lei da nacionalidade do sujeito passivo ou do bem jurídico lesado. Não importa o lugar do crime ou nacionalidade do agente. 3.1.5) Princípio da justiça penal universal O agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado. Não importa o lugar do crime ou nacionalidade dos sujeitos. 3.1.6) Princípio da representação, da bandeira, da subsidiariedade A lei penal nacional aplica-se aos crimes praticados em aeronaves e embarcações privadas, quando no estrangeiro e aí não sejam julgados. Regra: é o princípio da territorialidade – art. 5º do CP. Trata-se de uma territorialidade temperada, mitigada. Territorialidade Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Exceções: disposições previstas em convenções, tratados e regras de direito internacional, ex.: imunidade diplomática. Exs.: crime cometido dentro do Brasil e a lei brasileira será aplicada – territorialidade; crime cometido fora do Brasil, mas a lei brasileira será aplicada – extraterritorialidade; crime cometido dentro do Brasil, mas a lei estrangeira será aplicada – intraterritorialidade, ex.: imunidade diplomática. Assim, o art. 5º do CP adotou a territorialidade, excepcionada pela intraterritorialidade. 3.2) CONCEITO DE TERRITÓRIO NACIONAL Ele não é apenas o espaço físico (lagos, rios, montanhas etc.), mas também o espaço jurídico, por ficção, equiparação ou extensão, previsto no art. 5º, parágrafos 1º e 2º, do CP. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) Aeronave ou embarcação pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que esteja – é território nacional. Aeronave ou embarcação privada – território nacional, apenas se no espaço aéreo nacional ou em alto-mar. OBS.: Embaixada não é extensão do território que representa, mas é inviolável. Art. 5º, parágrafo 2º - a embarcação pública estrangeira também será território estrangeiro quando no espaço aéreo ou mar territorial brasileiro – princípio da reciprocidade. Casos práticos: 1) embarcação privada brasileira em alto-mar. Em cima dos destroços da embarcação, um italiano matou um argentino ( os destroços da embarcação continuam ostentando a bandeira – aplica-se a lei brasileira. 2) em alto-mar, uma embarcação privada brasileira colidiu com uma embarcação holandesa. Dois sobreviventes (americano e argentino) construíram uma jangada com os destroços das duas embarcações. O americano matou o argentino ( a lei não explica este problema – não há solução legal. A doutrina diz que, se a lei não resolve, aplica-se com a lei da nacionalidade do agente. 3) navio público colombiano atracado na costa brasileira. O marinheiro colombiano desceu do navio e praticou um estupro em terras brasileiras ( dependerá, pois, se ele desceu a serviço (carregará a bandeira) ( aplica-se a lei colombiana; se ele desceu à busca de diversão ( aplica-se a lei brasileira. 3.3) LUGAR DO CRIME Art. 6º do CP Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) O CP adotou a teoria da ubiqüidade – o Brasil considera praticado o crime no lugar da conduta ou no do resultado. DICA: L(Lugar do crime) U(Ubiqüidade) T(Tempo do crime) A(Atividade). Só se aplica a lei brasileira se no nosso território acontecer atos de execução. Ato preparatório, mera cogitação, mero exaurimento, ocorrendo no Brasil, não se aplica a lei brasileira. Ex.: navio particular indo de Portugal a caminho da Argentina. Ao passar pela costa brasileira (passagem inocente), se algum crime ocorrer lá, a lei brasileira não será aplicada. Hoje vem sendo amplamente aplicada no direito brasileiro a teoria da passagem inocente, isto é, quando navio passa pelo território nacional apenas como passagem necessária para chegar ao seu destino (no nosso território não atracará) não se aplica a lei penal brasileira. OBS.: a teoria da passagem inocente nasceu para regulamentar crimes a bordo de navios, não envolvendo crimes praticados em aeronaves, mas a doutrina estende para aeronaves, não vendo razões para restrições. 3.3.1) Crimes à distância (espaço máximo) X crimes plurilocais Nos crimes à distância, o fato criminoso percorre dois ou mais estados igualmente soberanos – conflito internacional de jurisdição – solução: teoria da ubiqüidade, art. 6º do CP (este artigo nasceu para regulamentar tal problema). Nos crimes plurilocais, o fato criminoso percorre diversas localidades do mesmo Estado soberano – conflito interno de competência (matéria de Processo Penal – teoria do resultado – art. 70 do CPP). Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. OBS.: Na lei 9099/95, aplica-se a teoria da atividade quanto ao local do crime. 3.4) HIPÓTESES DE EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL – ART. 7º DO CP Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; - princípio da defesa ou real b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; - princípio da defesa ou real c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; - princípio da defesa ou real d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; - são três correntes: justiça penal universal; princípio da defesa ou real; princípio da nacionalidade ativa (este está errada, pois não se exige apenas que o agente seja nacional; pode ser também o domiciliado no Brasil). A chance é prevalecer a primeira corrente nos Tribunais Superiores (natureza supralegal dos tratados internacionais sobre direitos humanos). II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; - princípio da justiça penal universal b) praticados por brasileiro; - princípio da nacionalidade ativa c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) – princípio da representação § 3º - A leibrasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: (FMB e LFG dizem ser o princípio da nacionalidade passiva – não pode ser, pois este princípio é aplicado quando brasileiro pratica crime contra brasileiro). O que predomina é a aplicação do princípio da defesa ou real. a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. A extraterritorialidade incondicionada será aplicada independentemente de qualquer requisito ou condição – parágrafo 1º do art. 7º do CP. A extraterritorialidade condicionada será aplicada dependendo se a lei estrangeira não foi aplicada – parágrafo 2º do art. 7º do CP. A extraterritorialidade hipercondicionada será aplicada nas hipóteses do parágrafo 3º do art. 7º do CP mais outras condições. 3.4.1) Condições da lei brasileira – parágrafo 2º do art. 7 do CP 1. Agente entrar no território nacional – a situação já estará preenchida, não precisando o agente aqui permanecer. É condição específica de procedibilidade – não pode haver denúncia se não estiver presente; 2. Deve o fato ser punível também no país onde foi praticado – condição objetiva de punibilidade – não impede o processo, mas impede a condenação; 3. estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição – condição objetiva de punibilidade; 4. não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena – condição objetiva de punibilidade; 5. não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável – condição objetiva de punibilidade. Tais requisitos são cumulativos. Há ainda os requisitos do parágrafo 3º, do art. 7º do CP. Deve-se encontrar os requisitos desses 2 parágrafos, simultaneamente. OBS.1: crime de latrocínio contra o Presidente da República na Suíça – para a lei brasileira ser aplicada, dever-se-á aplicar o parágrafo 3º do art. 7º do CP. Não poderá aplicar o inciso I do parágrafo 1º do art. 7º do CP (somente crimes contra a vida ou liberdade do Presidente da República). OBS.2: Qual a justiça competente para julgar os casos de extradição? R.: Em regra, a Jestadual. Será da Jfederal se alcançar uma das hipóteses do art. 109 da CF. Foro territorial – foro da capital do Estado em que ele mora ou morou. Se ele nunca morou aqui – o foro será a capital da República – art. 88 do CPP. OBS.3: Princípio da vedação do bis in idem – há o ângulo processual (ninguém pode ser processado duas vezes pelo o mesmo crime); há o ângulo material (ninguém pode ser condenado pela segunda vez em razão do mesmo fato; ângulo execucional – ninguém pode ser executado duas vezes por condenações relacionadas ao mesmo fato – a extraterritorialidade incondicionada é uma exceção ao princípio da vedação do bis in idem, Razão: fazer valer a nossa soberania. O art. 8º atenua o bis in idem: Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ASSIS TOLEDO entende que tal artigo encerra a extraterritorialidade incondicionada – minoria Exs.: Pena nos EUA – 10 anos de privativa de liberdade; Pena no Brasil – 15 anos de pritativa de liberdade = 15 – 10= 5 anos. Quando penas diferentes, a pena será atenuada. 4) VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS Tratar-se-á das imunidades. A lei penal se aplica a todos, nacionais ou estrangeiros, por igual, não existindo privilégios pessoais (art. 5º, da CF). Há, no entanto, pessoas que em virtude de suas funções ou em razão de regras internacionais, desfrutam de imunidades. Longe de uma garantia pessoal, trata-se de necessária prerrogativa funcional. PRERROGATIVA · Conjunto de precauções que rodeiam a função e que servem para os exercícios destas; · É objetiva e deriva da lei; · Anexa a qualidade do órgão; · É conduta para que a lei se cumpra · Aristocracias das instituições governamentais. PRIVILÉGIO · Exceção da lei comum, deduzida da situação de superioridade das pessoas que a desfrutam; · É subjetivo e anterior à lei. · Tem uma essência pessoal; · Poder frente à lei; · Aristocracias perante as ordens sociais; 4.1) IMUNIDADE DIPLOMÁTICA São imunidades de direito público internacional de que desfrutam: · Os chefes de governo ou de Estado estrangeiro, sua família e membros da comitiva; · Os embaixadores e sua família; · Os funcionários do corpo diplomático e família; · Os funcionários das organizações internacionais (ONU, por ex.), quando em serviço. Eles devem obediência às leis brasileiras. Todavia, estão imunes às conseqüências jurídicas da lei brasileira, ficando sujeitos a conseqüências do país de origem. Isso se aplica a qualquer crime (comum ou funcional). OBS.: Os cônsules possuem imunidade diplomática, restrita aos crimes praticados em razão da função. Praticando um crime (o diplomata), nada impede a investigação pela Polícia, ainda mais quanto às medidas cautelares. A imunidade não pode ser renunciada pelo diplomata, mas pelo o Estado de origem, pode. OBS.: A embaixada não é extensão do território que representa, mas é inviolável. 4.2) IMUNIDADES PARLAMENTARES Há a imunidade absoluta e a relativa. 4.2.1) Imunidade absoluta, material, real, substancial, inviolabilidade, indenidade (Zaffaroni) Previsão legal: art. 53, caput, da CF: Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) O STF acrescentou também a inviolabilidade administrativa e política. A natureza jurídica desta imunidade absoluta: 1ª corrente: causa excludente de crime (PONTES DE MIRANDA); 2ª corrente: causa que se opõe à formação do crime (BASILEU GARCIA); 3ª corrente: causa pessoal de exclusão de pena (ANÍBAL BRUNO); 4ª corrente: causa de irresponsabilidade (MAGALHÃES NORONHA); 5ª corrente: causa de incapacidade pessoal penal por razões políticas (FREDERICO MARQUES); 6ª corrente: atipicidade (STF) – o parlamentar não responderá pelo o crime, nem os coautores e partícipes. SÚMULA Nº 245 DO STF A IMUNIDADE PARLAMENTAR NÃO SE ESTENDE AO CO-RÉU SEM ESSA PRERROGATIVA. (imunidade relativa). O STF só aplica a súmula 245 à imunidade relativa (aí sim, não se estende ao co-réu). A) Limites da imunidade material Exige-se nexo funcional (o parlamentar não tem carta branca; será imune se estiver no exercício de suas funções). Não significa que tal imunidade existe apenas nas dependências do Congresso. Situações: a) ofensa nas dependências da casa legislativa – o nexo funcional é presumido; b) ofensa fora das dependências da casa legislativa – o nexo funcional não é presumido, dependendo de prova. 4.2.2) Imunidade relativa, formal Ela está ligada à: A) Imunidade quanto ao foro – art. 53, parágrafo 1º, da CF § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) A partir da expedição do diploma, se eles tinham processos contra suas pessoas, terão os processos que subir ao STF, ficando até o fim do mandado – trata-se de uma prerrogativa por função – por isso que foi cancelada a súmula 394 do STF (ela era um privilégio e não uma garantia). B) Imunidade quanto à prisão – art. 53, parágrafo 2º, da CF § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) A análise é de conveniência e oportunidade (analisa política) quanto à prisão em flagrante. Regra: não podem ser presos provisoriamente (prisão definitiva é admitida). Exceção:flagrante por crime inafiançável. OBS.: Cabe prisão civil contra parlamentares? R: Não é admita (cai na regra). C) Imunidade quanto ao processo – art. 53, parágrafos 3º, 4º e 5º da CF § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) Tal imunidade deve ser analisada antes e depois da EC 35/2001. Antes da EC 35/2001 · Alcançava todo e qualquer crime e praticado a qualquer tempo; · O STF dependia de autorização para processar da Casa Legislativa; · Enquanto não autorizado, ficava suspensa a ação penal, bem como a prescrição. Depois da EC 35/2001 · Alcança e qualquer crime praticado após a diplomação (crime praticado antes da diplomação, vai até para o STF – prerrogativa de foro – mas não terá prerrogativa quanto ao processo); · O STF não depende de autorização para iniciar o processo. Porém, a casa respectiva pode sustá-lo; · Suspendendo o processo, ficará suspensa também a prescrição (enquanto durar o mandato). A imunidade quanto ao processo não impede a investigação. D) Imunidade quanto à produção de prova – art. 53, parágrafo 6º, da CF § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) Art. 221 do CPP. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. (Redação dada pela Lei nº 3.653, de 4.11.1959) A garantia do art. 221 do CPP não se estende ao parlamentar se na condição de réu ou de investigado – posição do STF. OBS.1: Tais imunidades são garantidas aos parlamentares em estado de defesa ou de sítio? R: art. 53, parágrafo 8º, da CF § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) OBS.2: Parlamentar que se licencia para exercer cargo no Executivo possui quais garantias? R: STF – perde ambas as imunidades – súmula 4 do STF – CANCELADA! Dia 25 de março de 2009, o Min. Celso de Mello votou contra tal entendimento, dizendo que o parlamentar licenciado não perde as imunidades – mas é apenas uma decisão, isolada por sinal. OBS.3: As imunidades dos parlamentares federais se aplicam aos parlamentares estaduais? R: Todas as imunidades se repetem automaticamente aos Deputados Estaduais – princípio da simetria – art. 27, parágrafo 1º, da CF § 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. Súmula 3 do STF – SUPERADA PELO O ADVENTO DA CF/88. OBS.3: As imunidades dos parlamentares federais se aplicam aos vereadores municipais? R: O vereador só tem imunidade absoluta, restrita ao território político. CEstadual pode prever prerrogativa de foro, logo, Vereadores podem ter prerrogativa de foro (no Brasil, as CE do RJ e do PI possuem tal previsão). OBS.4: O parlamentar federal, no caso de homicídio doloso, é julgado no STF (é a CF excepcionando-se a si mesma); o parlamentar estadual, no caso de homicídio doloso, é julgado no TJ; vereador com foro especial, no caso de homicídio doloso, vai a júri (possui previsão constitucional, prevalecendo sobre a CE). Súmula 721 do STF SÚMULA Nº 721 A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. ELEMENTOS QUE INTEGRAM O TIPO Pode-se dividir os elementos que compõem os tipos penais em duas grandes categorias: elementos objetivos e elementos subjetivos. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO Conforme JESCHECK, eles têm a finalidade de descrever a ação, o objeto da ação e, em sendo o caso, o resultado, as circunstâncias externas do fato e a pessoa do autor. Há tipos penais que descrevem, ainda, o sujeito passivo, como no caso do crime de estupro. A finalidade básica dos elementos objetivos do tipo é fazer com que o agente tome conhecimento de todos os dados necessários à caracterização da infração penal, os quais, necessariamente, farão parte de seu dolo. Divide-se em: · Elementos descritivos – são aqueles que têm a finalidade de traduzir o tipo penal, isto é, de evidenciar aquilo que pode, com simplicidade, ser percebido pelo intérprete; · Elementos normativos – são aqueles criados e traduzidos por uma norma ou que, para sua efetiva compreensão, necessitam de uma valoração por parte do intérprete. ZAFFARONI – são aqueles elementos para cuja compreensão se faz necessários socorrer a uma valoração ética ou jurídica. Exs.: conceitos como dignidade e decoro (art. 140 do CP); sem justa causa (art. 153, 154, 244 etc., do CP) podem variar de acordo com a interpretação de cada pessoa ou em virtude do sentido que lhe dá a norma. ELEMENTO SUBJETIVO O dolo é, por excelência, o elemento subjetivo do tipo. Elemento subjetivo quer dizer elemento anímico, que diz respeito à vontade do agente. O elemento subjetivo dos tipos dolosos é o dolo; às vezes, ao lado do dolo, aparecem elementos subjetivos especiais, como intenções ou tendências de ação, ou mesmo motivações excepcionais, que também integram o tipo subjetivo, ex.: art. 159 do CP – Extorsão mediante seqüestro – na expressão com o fim de obter para si ou para outrem qualquer vantagem como condição ou preço do resgate é que se visualiza o chama especial fim de agir. Há autores – FERNANDO GALVÃO DA ROCHA – que diz que não só o dolo está contido na expressão elementos subjetivos do tipo, mas também a culpa. Dizem que a culpa é um elemento subjetivo do tipo que consiste na representação do risco que ameaça um bem jurídico. ELEMENTOS ESPECÍFICOS DOS TIPOS PENAIS Núcleo do tipo É o verbo que descreve a conduta proibida pela lei penal. O verbo tem a finalidade de evidenciar a ação que se procura evitar ou impor. Há tipos penais que possuem um único núcleo (uninucleares), como no caso do art. 121 do CP, e outros que possuem vários núcleos (plurinucleares), também conhecidos como crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado – ex.: art. 33 da Lei de drogas. Sujeito ativo É aquele que pode praticar a conduta descrita no tipo. Crimes comuns – o legislador não se preocupa em apontar o sujeito ativo, uma vez que as infrações dessa natureza podem ser cometidas por qualquer pessoa. Crime próprio – aquele que somente pode ser praticado por um certo grupo de pessoas em virtude de determinadas condições pessoais. Nesses casos, quando estivermos diante de delitos próprios, o legislador terá de apontar, no tipo penal, o seu sujeito ativo. Ex.: art. 312 do CP (peculato)( só pode praticá-lo o funcionário público, porque tal qualidade é exigida expressamente pelo tipo (não impede o concurso de pessoas, desde que o particular saiba da existência de tal elementar). Crime de mão própria (também chamados de crime de atuação pessoal) – para a sua caracterização, é preciso que o sujeito ativo, expresso no tipo penal, pratique a conduta pessoalmente. Ex.: crime de falso testemunho ( somente a testemunha poderá fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade (ver tal crime no material de penal especial – há entendimento específico do STF sobre tal crime) – cabe apenas a participação (ver a matéria de concursos de pessoas). Pessoa jurídica como sujeito ativo de infração penal – ver material da Lei 9605/98 – leis dos crimes ambientais. Sujeito passivo Pode ser considerado formal ou material. Sujeito passivo formal será sempre o Estado, que sofre toda vez que suas leis são desobedecidas. Sujeito passivo material é o titular do bem ou interesse juridicamente tutelado sobre o qual recai a conduta criminosa, que, em alguns casos, poderá ser também o Estado. Podem figurar como sujeitos passivos, dependendo da natureza da infração penal tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurídicas. Não há óbice algum, por ex., a que uma pessoa jurídica seja sujeito passivo de um crime de furto. Outras infrações, contudo, pela sua própria natureza, são incompatíveis com a condição de sujeito passivo da pessoa jurídica, a exemplo do crime de injúria, uma vez que a pessoa jurídica não possui a chamada honra subjetiva. Objeto material É a pessoa ou a coisa contra a qual recai a conduta criminosa do agente. No furto, objeto do delito será a coisa alheia móvel subtraída pelo agente; no homicídio, será o corpo humano, etc. Muitas vezes o sujeito passivo se confunde com o próprio objeto material, como no caso do homicídio. Não se pode confundir, contudo, objeto material com objeto jurídico, ou seja, o bem juridicamente tutelado pela lei penal. Por ex., no crime de estupro, a mulher é o objeto material do crime, e o objeto jurídico é a liberdade sexual e, num sentido mais amplo, os costumes. LUIZ REGIS PRADO – nem todos os tipos penais possuem objeto material; este não é uma característica comum a qualquer delito, pois só tem relevância quando a consumação depende de uma alteração da realidade fática. FUNÇÕES DO TIPO Função de garantia (ou garantidora) Exerce o tipo uma função de garantia, uma vez que o agente somente poderá ser penalmente responsabilizado se cometer uma das condutas proibidas ou deixar de praticar aquelas impostas pela lei penal. ROXIN – “todo cidadão deve ter a possibilidade, antes de realizar um fato, de saber se sua ação é punível ou não”. Função fundamentadora O Estado, por intermédio do tipo penal, fundamenta suas decisões, fazendo valer o seu ius puniendi. Numa das faces está o tipo garantista, vedando qualquer responsabilização penal que não seja por ele expressamente prevista; na outra, a função fundamentadora por ele exercida, abrindo-se a possibilidade ao Estado de exercitar o seu direito de punir sempre que o seu tipo penal for violado. Função selecionadora de condutas Ao tipo cabe outra função: a de selecionar as condutas que deverão ser proibidas ou impostas pela lei penal, sob ameaça de sanção. Em atenção aos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social, traz para o âmbito de proteção do Direito Penal somente aqueles bens de maior importância, deixando de lado as condutas consideradas socialmente adequadas ou que não atinjam bens de terceiros. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES Crimes comuns e próprios Comuns são os delitos que podem ser cometidos por qualquer pessoa (ex.: homicídio, roubo). São próprios os crimes que exigem sujeito ativo especial ou qualificado. Suas qualidades pode ser de fato, referentes à natureza humana ou à inserção social da pessoa (ex.: mulher no auto-aborto), ou de direito, referentes à lei (ex.: funcionário público no crime de peculato). Podem os crimes próprios ser subdivididos em puros – quando não forem cometidos pelo sujeito indicado no tipo penal, deixam de ser crimes, caso a conduta se concretiza por ato de outra pessoa (ex.: advocacia administrativa – art. 321 do CP); e em impuros – referem-se ao delitos que, se não cometidos pelo agente indicado no tipo penal, transformam-se em figuras delituosas diversas (ex.: se não for a mãe em estado puerperal que matou o seu recém-nascido, tal agente responderá por homicídio). Há ainda os crimes de mão própria, que exigem sujeito ativo qualificado, devendo este cometer pessoalmente a conduta típica. Nesse caso, não admitem co-autoria, mas somente participação. Crimes instantâneos e permanentes Os delitos instantâneos são aqueles cuja consumação se dá com uma única conduta e não produzem um resultado prolongado no tempo (ex.: furto, homicídio) Há uma classe chamada delitos instantâneos de efeitos permanentes, que nada mais são do que os delitos instantâneos que têm a aparência de permanentes por causa do seu método de execução (ex.: bigamia – quando o agente contrair o segundo casamento, ele se tornará bígamo, consumando o delito, estado que perdurará com o passar do tempo. NUCCI traz outras espécies de delitos instantâneos: · Delitos instantâneos de continuidade habitual – aqueles que se consumam através de uma única conduta provocadora de um resultado instantâneo, mas que exigem, em seguida, para a configuração do tipo, a reiteração de outras condutas em formato habitual, ex.: favorecimento à prostituição – induzindo à prostituição, o crime já estará consumado, porém, depende-se, para a perfeita configuração típica, de prova concreta da reiterada conduta da vítima, uma vez que prostituição implica em habitualidade; · Delitos instantâneos de habitualidade preexistente – é a figura típica passível de concretização pela prática de uma única conduta, com resultado instantâneo, embora exija, para tanto, o desenvolvimento habitual de outro comportamento preexistente, ex.: crime de venda de mercadoria de procedência estrangeira introduzida clandestinamente no país, no exercício de atividade comercial – art. 334, parágrafo 1º, c, do CP. Não existindo anteriormente a prática habitual de atividade empresarial, não se configura o delito nesse tipo penal previsto, embora seja ele instantâneo; · Crime eventualmente permanente – é o delito instantâneo, como regra, que em caráter excepcional, pode realizar-se de modo a lesionar o bem jurídico de maneira permanente, ex.: furto de energia elétrica – o furto simples é crime instantâneo; se praticado sob o desvio de energia de modo incessante, será permanente (outros crimes instantâneos podem transforma-se em permanentes, desde que a atividade possa prorrogar-se no tempo. Os delitos permanentes são os que se consumam com uma única conduta, embora a situação antijurídica (sua consumação) gerada se prolongue no tempo até quando queira o agente (ex.: seqüestro e cárcere privado). O delito permanente admite prisão em flagrante enquanto não cessar a sua realização, além de não ser contada a prescrição até que finde a permanência. Crimes comissivos e omissivos Os delitos comissivos são os cometidos por intermédio de uma ação (ex.: estupro); os omissivos são praticados através de uma abstenção (ex.: omissão de socorro). Este se subdividem em dois: a) comissivos por omissão (omissivos impróprios), casos em que o crime é praticado na forma do art. 13, parágrafo 2º, (posteriormente se verá); b) omissivos por comissão (omissivos próprios), que são os cometidos, normalmente, através de uma abstenção, mas que podem ser, excepcionalmente, praticados pela ação de alguém (ex.: agente que impede outrem, pelo emprego da força física, de socorrer pessoa ferida). Crimes materiais, formais e de mera conduta Crimes materiais (ou de resultado ou causais) são aqueles que necessariamente possuem resultado naturalístico; sem a sua ocorrência, o delito é apenas uma tentativa (ex.: furto). Crimes formais (ou de consumaçãoantecipada) são os crimes que comportam a ocorrência de um resultado naturalístico, embora não exista esta exigência, resultando mero exaurimento do delito (ex.: extorsão mediante seqüestro). Crimes de mera conduta são delitos que não comportam a ocorrência de um resultado naturalístico, contentando-se unicamente em punir a conduta do agente (ex.: violação de domicílio). OBS.: NUCCI classifica em crimes de atividade como aqueles que se contentam com a ação humana esgotando a descrição típica, havendo ou não resultado naturalístico – “são chamados de formais ou de mera conduta” – ele iguala os termos – posição minoritária. Crime de dano e crime de perigo Os crimes de perigo são os que se contentam, para a consumação, com a mera probabilidade de haver um dano. Dividem-se em: · Perigo individual – quando a probabilidade de dano abrange apenas uma pessoa ou um grupo determinado de pessoas (art. 130 a 137 do CP); perigo coletivo – quando a probabilidade de dano envolve um número indeterminado de pessoas (art. 250 a 259 do CP); · Perigo abstrato – quando a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo penal, independendo de prova (arts. 28 a 33 da Lei de drogas); perigo concreto – quando a probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada e provada. Os crimes de dano são os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado (ocorre um prejuízo efetivo e perceptível pelos sentidos humanos). Crimes unissubjetivos e plurissubjetivos Unissubjetivos são os crimes que podem ser praticados por uma só pessoa (ex.: aborto, extorsão, constrangimento ilegal, homicídio etc.). Plurissubjetivos são aqueles que somente podem ser cometidos por mais de uma pessoa (ex.: quadrilha ou bando, rixa, bigamia etc.). Isto não significa, no caso dos plurissubjetivos, que todas as pessoas devam ser penalmente punidas. Os plurissubjetivos são também chamados de crime de concurso necessário, delitos coletivos, crimes multitudinários e crimes de autoria múltipla. 27.03.2009 5) TEORIA GERAL DO DELITO 5.1) CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL – ESPÉCIES DE INFRAÇÃO PENAL O Brasil é adepto do sistema dualista (divide a infração penal em duas espécies: crime (delito) e contravenção penal (crime-anão - HUNGRIA, delito liliputiano, crime vagabundo)). A diferença entre crime e contravenção penal é de grau, não havendo distinção quanto ao significado. A diferença é axiológica e não ontológica. Ao contrário de outras legislações que adotaram o chamado critério tripartido, a exemplo de França e da Espanha, no qual existe diferença entre crime, delito e contravenção, diferença esta que varia de acordo com a gravidade do fato e da pena cominada à infração penal, nosso sistema jurídico-penal, da mesma forma que o alemão e o italiano, vez a opção pelo critério bipartido, ou seja, entende, de um lado, os crimes e os delitos como expressões sinônimas, e, do outro, as contravenções penais, espécies do gênero infração penal. 5.1.1) Diferenças entre crime e contravenção penal A) Tipo de pena privativa de liberdade Crime – reclusão ou detenção – art. 1º da LICP. Pode tal pena ser isolada ou alternativa ou cumulativamente com pena de multa Contravenção penal – prisão simples ou apenas pena de multa. Pode também se alternar ou cumular esses dois tipos de pena (arts. 5º e 6º da LCP). Contravenção penal jamais vai para o regime fechado, nem mesmo pela regressão. Este conceito de crime, hoje, é defasado. Há um crime apenado exclusivamente com pena alternativa – art. 28 da Nova Lei de Drogas – Lei 11343 de 2006 – porte de droga para consumo pessoal. Ao cominar no preceito secundário do seu art. 28, as penas relativas ao delito de consumo de drogas, não fez previsão de qualquer pena privativa de liberdade, tampouco de pena pecuniária (multa) – ver material da lei de drogas. B)Tipo de ação penal Crime – admite-se ação penal de iniciativa pública e de iniciativa privada; Contravenção penal – admite apenas ação penal pública incondicionada (art. 17 da LCP). Exceção: vias de fato. Antes da Lei 9099/95, a lesão corporal de natureza leve era de ação penal pública incondicionada; após a lei 9099/95, passou a ser ação penal pública condicionada à representação. A contravenção penal de vias de fatos, segundo a LCP, é de ação penal pública incondicionada. Todavia, não se pode punir o mais com representação e punir o menos incondicionalmente. Logo, a vias de fato depende de representação da vítima – criação doutrinária. STF não concorda com esta exceção! – para este tribunal, vias de fato continua sendo de ação penal pública incondicionada. C) Punibilidade da tentativa Crime – a tentativa é punível. Contravenção penal – a tentativa não é punível. Ela existe, mas não se pune a tentativa. D) Extraterritorialidade da lei Crime – admite extraterritorialidade da lei; Contravenção penal – não admite. Jamais uma contravenção penal alcançará efeitos no estrangeiro. E) Competência para o processo e julgamento Crime – pode ser Estadual ou Federal; Contravenção penal – somente da Justiça Estadual – art. 109, IV, da CF. Exceção: contravenção penal praticada por detentor de foro de prerrogativa de função federal – juiz federal que praticar contravenção penal será julgado no TRF. OBS.: conexão entre contravenção e crime, separar-se-á os processos. F) Limite de pena Crime – 30 anos; Contravenção penal – 5 anos – art. 10 da LCP. G) Período de prova do sursis Crime – em regra, varia de 2 a 4 anos, excepcionalmente poderá variar de 4 a 6 anos; Contravenção penal – 1 a 3 anos – art. 11 da LCP. A análise para selecionar o que seria crime ou contravenção é meramente de natureza política. Ex.: até 1997, porte de arma de fogo era contravenção penal. De 97 até 2003, passou a ser crime. A partir de 2003, algumas modalidades passaram a ser inafiançáveis (o STF julgou inconstitucional tal matéria, entendendo não ser inafiançáveis). 5.2) CONCEITO DE CRIME (Conceitua-se também contravenção penal). 1. Sob o enfoque formal, crime é aquilo que está estabelecido em uma norma penal incriminadora, sob ameaça de pena (aquilo que está na lei). Sob o aspecto formal, crime seria toda conduta que atentasse, que colidisse frontalmente contra a lei penal, editada pelo Estado. 2. Sob o enfoque material, crime é comportamento humano causador de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal. Considerando-se o seu aspecto material, conceitua-se o crime como aquela conduta que viola os bens jurídicos mais importantes. Os conceitos formal e material não traduzem com precisão o que seja crime. Surge, assim, outro conceito, chamado analítico, porque realmente analisa as características ou elementos que compõem a infração penal. 3. Sob o enfoque formal-material, crime é um comportamento humano previsto em lei, causador de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado passível de sanção penal. 4. O conceito analítico leva em consideração os elementos que compõe a infração penal (sua estrutura). Prevalece que os elementos componentes do crime são: FATO TÍPICO + ILICITUDE + CULPABILIDADE. OBS.: a punibilidade aparece como conseqüência jurídica. A Teoria Bipartida ou dicotômica é aquela que sustenta que crime é fato típico e antijurídico (DOTTI, MIRABETE, DELMANTO e DAMÁSIO). A Teoria Tripartita é aquela que sustenta que crime é fato típico, antijurídico e culpável (é a que predomina). OBS.: Nada tem a ver com teoria finalista ou clássica – sistemas penais ligados com a conduta, inserida no Fato Típico. RESUMO DOS ENTENDIMENTOS QUANTO À ESTRUTURA DO CRIME: · Fato típico e antijurídico, sendo a culpabilidade apenas um pressuposto de aplicação da pena (RENÉ ARIEL DOTTI, DAMÁSIO, MIRABETE); · Fato típico e culpável, estando a antijuridicidade incita ao próprio tipo (MIGUEL REALE JÚNIOR); · Fato típico, antijurídico e punível, constituindo a culpabilidade a ponte que liga o crime à pena (LFG); · Fato típico, antijurídico e culpável, sendo a punibilidade mera conseqüência jurídica – é a correntemajoritária (ZAFFARONI, REGIS PRADO, ROGÉRIO GRECO). SISTEMAS PENAIS Sistema é um conjunto de teorias a serem adotadas como seu objetivo. Nos três primeiros sistemas a seguir, as pedras angulares são: a conduta e a culpabilidade. Clássico Ano de 1900. Adota a teoria causal ou naturalista da ação – quanto à conduta, e a teoria psicológica da culpabilidade – quanto à culpabilidade. Autores principais: Lizst, Beling, Rabruch “Ação” para eles era a inervação muscular, produzida por energias de um impulso cerebral, que provoca modificações no mundo exterior – teoria causal ou naturalista da ação. Teoria psicológica da culpabilidade – “culpabilidade” é o vínculo psicológico que une o autor ao fato por meio do dolo ou da culpa. A) Estrutura A concepção filosófica foi o positivismo científico. O crime, segundo estes autores, tinha dois aspectos: a) objetivo – compunha-se do: I- fato típico – por sua vez, compunha-se de: · Conduta · Tipicidade · Resultado · Nexo causal (previsto nos crimes materiais) A tipicidade do fato faz presumir a sua antijuridicidade..., II- Antijuridicidade - ...salvo quando houver alguma excludente de ilicitude. Corresponde ao injusto penal (fato típico + antijuridicidade) sem a analisa da culpabilidade. b) subjetivo – compunha-se da: III- culpabilidade – dolo ou culpa. A imputabilidade era pressuposto da culpabilidade – possibilidade de ser culpado. Não há como encontrar um “clássico bipartido”, pois, o dolo e a culpa pertencem à culpabilidade – não teria como analisar a culpa e o dolo – haveria responsabilidade objetiva – pois para os bipartidos, a culpabilidade é mero pressuposto da pena. Surgiram problemas com este sistema quando os aplicadores do Direito se deparavam com a coação moral irresistível. Neoclássico Ano de 1907. Adota a teoria causal ou naturalista da ação – quanto à conduta, e a teoria normativa da culpabilidade – quanto à culpabilidade. Autores principais: Frank, Mezzer. Ele pegou toda a estrutura do Sistema Clássico e corrigiu certos problemas. Teoria normativa da culpabilidade – “culpabilidade” é sinônimo de reprovabilidade, isto é, poder agir de outro modo. Não se pune alguém quando ela não tinha escolha na hora de agir. A) Estrutura “Culpabilidade” passou a ser sinônimo de “reprovabilidade” – só se pode considerar alguém culpado quando aquele ato praticado pelo o agente for digno de censura. A culpabilidade – aspecto subjetivo do crime – passou a ter o seguinte conteúdo: · Imputabilidade – deixou de ser pressuposto da culpabilidade. · Dolo ou culpa · Exigibilidade de conduta diversa – inserindo elemento que sana os casos de coação moral irresistível. O resto – fato típico e antijuridicidade – continuam com os mesmos elementos do Sistema Clássico. Alguns doutrinadores começaram a perceber que seria essencial analisar a intenção do agente para verificar se o fato foi típico ou atípico, pois, nestes dois sistemas vistos, não há elemento subjetivo dentro do fato típico. Para isto, criaram uma teoria - Teoria dos elementos subjetivos do injusto – dentro do injusto há elementos subjetivos, pois, em alguns crimes, é fundamental a sua análise (elemento subjetivo dentro do fato típico). Na verdade. Todavia, descobriram que a vontade do agente é sempre fundamental para a análise dos crimes (para todos eles). Finalista Ano de 1931. Adota a teoria finalista da ação – quanto à conduta, e a teoria normativa pura da culpabilidade – quanto á culpabilidade. Autores principais: Welzel. O sistema anterior separava a conduta da finalidade. A conduta era analisada no fato típico, e o dolo, na culpabilidade. Não há como analisar uma conduta humana sem verificar a sua finalidade – Welzel – a finalidade é inerente da conduta humana. A) Estrutura – Welzel transferiu o dolo e culpa para o fato típico. I- Fato típico: · Conduta dolosa e culposa · Resultado · Nexo causal · Tipicidade II- Ilicitude – igual às outras teorias. III- Culpabilidade: · Imputabilidade · Exigibilidade de conduta diversa · Potencial consciência da ilicitude – elemento novo que Welzel inseriu na culpabilidade. O “dolo” no sistema neoclássico era formado pela: a) consciência, b) vontade e, c) consciência da ilicitude – dolo normativo ou dolo híbrido. Ou seja, já existia a “consciência da ilicitude”. Welzel o passou para a culpabilidade, transformando em “potencial consciência da ilicitude”. Dolo natural – só tem consciência e vontade. Não há mais a consciência da ilicitude. Dentro de uma concepção finalista, há possibilidade de existir finalista bipartido ou tripartido. Para ambos, a culpabilidade é fundamental, mas para alguns – bipartidos - a culpabilidade é pressuposto da pena, e para outros – tripartidos – a culpabilidade é elemento do crime. Teoria finalista da ação – “ação” é o comportamento humano consciente e voluntário, dirigido a uma finalidade. Teoria normativa pura da culpabilidade - a culpabilidade só contém elementos normativos, pois o dolo e culpa foram para o fato típico. *Teoria social da ação – é uma teoria construída dentro do sistema finalista. Alguns a chamam de “teoria pós-finalista”. “Ação”, para quem a adota, é o comportamento humano dominável pela vontade, dirigido a uma finalidade e socialmente relevante. Agrega-se um elemento social à ação. Funcionalista Ano de 1970. Adota a teoria da imputação objetiva – quanto à conduta. Elementos fundamentais: função do Direito Penal e expansão do conceito de culpabilidade. Autores principais. Roxin e Jakobs. Para o funcionalismo, o mais importante é a construção de um sistema justo. De acordo com os seus autores, somente será assim se analisar todos os elementos do crime à luz da função do Direito Penal. Função do Direito Penal: para Roxin, é a proteção subsidiária de bens jurídicos (funcionalismo racional-teleológico - moderado). Para Jacobs, a função é garantir a vigência da norma e assegurar expectativas normativas (funcionalismo sistêmico - radical). Teoria da imputação objetiva – (será explicado posteriormente). 5.3) FATO TÍPICO É o 1º substrato do crime – BETIOL. Materialmente, fato típico é um fato humano indesejado, orientado pelo princípio da intervenção mínima, consistente numa conduta produtora de um resultado e que se ajusta formal e materialmente ao tipo penal. 5.3.1) Elementos do fato típico CONDUTA, RESULTADO, NEXO CAUSAL, TIPICIDADE FORMAL E MATERIAL. A) Conduta Nosso legislador constituinte previu expressamente em nossa Constituição Federal a possibilidade de punir penalmente a pessoa jurídica por ter ela própria praticado uma atividade lesiva ao meio ambiente – art. 225, parágrafo 3º, da CF: § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Hoje, a lei 9605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, responsabilizando criminalmente, como dito acima, as pessoas jurídicas, quando necessário. Analisar-se-á o que é conduta para 6 teorias A.1) Conduta para a teoria causalista – crime é fato típico, ilícito e culpável (ele sempre será tripartite, e a conduta está no fato típico). Conduta é uma ação humana, voluntária, causadora de modificação no mundo exterior. OBS.1: o dolo e a culpa localizam-se na culpabilidade. OBS.2: o tipo penal só deve ter elementos objetivos. Note-se que, para essa visão, não se inclui a finalidade na sua conceituação, pois é objeto de estudo no contexto da culpabilidade, em que se situa o elemento subjetivo do crime (dolo e culpa). Críticas: 1ª) não abrange os crimes omissivos, já que para esta corrente, conduta é ação; 2ª) dolo e culpa estão na culpabilidade (a conduta é cega); 3ª) não há como negar elementos não objetivos nos tipos penais. A.2) Conduta para a teoria neokantista – tem base causalista. Ela também é tripartide. A conduta está no fato típico.É o comportamento humano voluntário causador de modificação no mundo exterior. OBS.1: a expressão “comportamento” abrange os crimes omissivos. OBS.2: dolo e culpa permanecem na culpabilidade. OBS.3: Admite valoração da conduta. Críticas: 1ª) dolo e culpa na culpabilidade; 2ª) partindo de conceitos causalistas, ficou contraditória quando reconheceu elementos normativos e subjetivos no tipo. A.3) Conduta para a teoria finalista – também é tripartite. É o comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim. Dolo e culpa migram da culpabilidade para o fato típico. OBS.1: o causalismo é cego; o finalista é vidente. Críticas: 1ª) a finalidade não explica os crimes culposos (sendo também frágil nos crimes omissivos. 2ª) centralizou a teoria no desvalor da conduta, menosprezando o valor do resultado. A.4) Conduta para a teoria finalista dissidente – só há uma diferença com a anterior. Não há o 3º substrato do crime – não existe a culpabilidade. A culpabilidade é mero pressuposto para a aplicação da pena. É bipartite. A.5) Conduta na teoria social da ação – é tripartite. A conduta está no fato típico. É o comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a um fim, e socialmente relevante. OBS.1: dolo e culpa permanecem no fato típico. DANIELA DE FREITAS MARQUES – o conceito jurídico de comportamento humano é toda atividade humana social e juridicamente relevante, segundo os padrões axiológicos de uma determinada época, dominada ou dominável pela vontade. A.6) Teorias funcionalistas – analisam a finalidade, a função do Direito Penal (analisa-se o crime em razão da missão do Direito penal: contenção de crimes, e não do que o crime é feito). NUCCI – Para a teoria funcional, conduta é a ação ou omissão voluntária e consciente capaz de evidenciar uma autêntica manifestação da personalidade, ou seja, explicitar a esfera anímico-espiritual do ser humano (ROXIN – teoria personalista da ação). Ou, ainda, é a ação voluntária e consciente capaz de evitar um resultado, desde que lhe seja juridicamente exigível que assim faça (JAKOBS – teoria da evitabilidade individual). Tais teorias baseiam-se em critérios normativos e pretendem afastar as teorias causal e finalística de conduta, porque entendem que ambas se norteiam por critérios não jurídicos, logo, inadequados. Aliás, mencionam que as duas partem dos mesmos pressupostos e a única diferença substancial é que o finalismo acrescenta ao conceito de conduta a finalidade do agente ao movimentar-se, regido pela vontade e pela consciência. 1. Funcionalismo teleológico (ROXIN) - Para ele, crime é fato típico, ilícito e reprovável (não fala em culpabilidade). A reprovabilidade é constituída de: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta diversa e necessidade da pena. Para ele, culpabilidade passa a ser limite da pena. Assim, conduta é comportamento humano voluntário, orientada pelo princípio da intervenção mínima, causadora de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. OBS.1: dolo e culpa permanecem no fato típico. OBS.2: para ROXIN, a missão do Direito Penal é proteger bens jurídicos indispensáveis ao convívio social e harmônico (por isso que ele admite o princípio da insignificância). Crítica: A reprovabilidade como elemento integrante do crime. 2. Funcionalismo sistêmico ou radical (JAKOBS) – Ele é tripartite (FT, ILI, CUL). Conduta, para ele, é comportamento humano voluntário, causador de um resultado evitável, violando o sistema, frustrando as expectativas normativas. OBS.1: dolo e culpa permanecem no fato típico. OBS.2: JAKOBS, a missão do Direito Penal é proteger o sistema (respeito ao sistema normativo) – seja furto simples, seja insignificante, de qualquer modo, violou-se o sistema, não trabalhando com o princípio da insignificância. Deve o violador do sistema ser tratado como um inimigo – onde nasce o Direito Penal do Inimigo. Características do Direito Penal do Inimigo: · Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios – o DPI não aguarda o início da execução para punir alguém, já punindo atos preparatórios (ex.: crime de quadrilha ou bando). Rebate: ao formar a quadrilha, não há preparação do crime, e sim já há a execução do crime (não é ato preparatório punível); · Antecipação da punibilidade com a criação de tipos de mera conduta – violação de domicílios, tipos omissivos próprios etc.; · Antecipação da punibilidade com a criação de tipos de perigo abstrato (perigo presumido) – o STF constantemente vem negando crime de perigo abstrato no Brasil (fez isso com o porte de arma, porte de droga); · Desproporcionalidade das penas; · Surgimento das leis de luta e de combate – leis repentinas de combate a determinados crimes. · Restrição de garantias penais e processuais – crimes hediondos, crimes de tortura, crime de drogas; Crítica: a teoria de JAKOBS serve para Estados totalitários (nazismo, facismo etc.). Prevalece na doutrina que predomina o finalismo clássico. Seria o nosso CP embasado nesta doutrina. A doutrina moderna trabalha com o funcionalismo de ROXIN, corrigindo a culpabilidade. O CPM é causalista – art. 33 do CPM. A.7) Causas de exclusão da conduta Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar em conduta. I- Atos involuntários: a) atos reflexos (se o ato reflexo é preordenado (proposital) para a prática do crime, não excluirá a conduta, pois o ato reflexo virou o seu instrumento). Não é movimento humano dominável pela vontade – há situações em que o nosso organismo reage a determinados impulsos e, em virtude disso, podem advir lesões ou danos; b) força irresistível – a força física absoluta pode ser proveniente da natureza ou da ação de um terceiro. Há forma física proveniente da natureza quando um sujeito é arrastado pelo vento, por uma corrente de água, é empurrado por uma árvore que cai etc.; quanto à força irresistível praticada por terceiros, cita-se a coação física irresistível – vis absoluta – não se confunde com a coação moral irresistível (interfere na culpabilidade, e é regida pelo art. 22 do CP). Quando ocorre a coação física irresistível, o agente será absolvido da mesma forma, porém, a fundamentação é pela atipicidade da conduta. II- atos inconscientes: a) atos realizados em situação de hipnose e sonambulismo. OBS.: No caso de embriaguez completa, desde que não seja proveniente de caso fortuito ou de força maior, embora não tenha o agente se embriagado com o fim de praticar qualquer infração penal, mesmo que não possua a menor consciência daquilo que faz, ainda sim será responsabilizado pelos seus atos. Isso porque o art. 28, II, do CP determina que não excluirá a imputabilidade penal a embriaguez voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. O agente é responsabilizado pelos resultados ocorridos em virtude do ato de querer, voluntariamente, embriagar-se, ou mesmo em razão de ter, culposamente, chegado ao estado de embriaguez – teoria da actio libera in causa – se a ação foi livre na causa (ato de fazer a ingestão de bebidas alcoólicas, por ex.) deverá o agente ser responsabilizado pelos resultados dela decorrentes. A.8) Espécies de conduta Ao autor da prática do fato podem ser imputados dois tipos de conduta: dolosa ou culposa. A regra, para o CP, é de que todo crime seja doloso, somente sendo punida a conduta culposa quando houver previsão legal expressa nesse sentido. A.8.1) Conduta dolosa – previsão legal: art. 18, I, do CP. Dolo é a vontade livre (?)* e consciente dirigida a realizar ou aceitar realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. (*) O fato de ser livre ou não, exclui a culpabilidade. A liberdade ou não do movimento é questão de ser auferida na culpabilidade – exigibilidade de conduta diversa. Logo, o artigo não deveria falar em liberdade – crítica. Elementos do dolo: intelectivo – consciência; volitivo – vontade. A consciência, o momento intelectual do dolo, basicamente diz respeito à situação fática em que se encontrao agente. O agente deve ter consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, para que se lhe possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo. A consciência, no entanto, não quer dizer que o agente conheça o tipo penal ao qual se amolda sua conduta, pois que, conforme esclarecem BUSTOS RAMÍREZ e HORMAZÁBAL MALAREÉ, “a exigência do conhecimento se cumpre quando o agente conhece a situação social objetiva, ainda que não saiba essa situação social objetiva se encontra prevista dentro de um tipo penal”. A vontade é outro elemento sem o qual se desestrutura o crime doloso. Aquele que é coagido fisicamente a acabar com a vida de outra pessoa não atua com vontade de matá-la. Não se confunde com desejo – este não passa de uma atitude emotiva carente de toda eficácia na configuração do mundo exterior, ao contrário da vontade que constitui o motor de uma atividade humana capaz de dominar os cursos causais – PATRÍCIA LAURENZO COPELLO. Teorias do dolos: 1. Teoria da vontade – dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal. 2. Teoria da representação – pode-se falar em dolo toda vez que o agente tiver tão-somente a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decidir pela continuidade de sua conduta. Para os adeptos dessa teoria, não se deve perquirir se o agente havia assumido o risco de produzir o resultado, ou se, mesmo o prevendo como possível, acreditava sinceramente na sua não-ocorrência. Para a teoria da representação, não há distinção entre dolo eventual e culpa consciente, pois que a antevisão do resultado leva à responsabilização do agente a título de dolo. 3. Teoria do assentimento ou consentimento ou da assunção – dolo ocorre sempre que o agente, prevendo determinado resultado como possível, decide prosseguir, assumindo o risco de produzi-lo, não se importando com a sua ocorrência, mesmo não o querendo de forma direta. Aqui o agente não quer o resultado diretamente, mas o entende como possível e o aceita. 4. Teoria da probabilidade – trabalha com dados estatísticos, ou seja, se de acordo com determinado comportamento praticado pelo agente, estatisticamente, houvesse grande probabilidade de ocorrência do resultado, estaríamos diante do dolo eventual. JOSÉ CEREZO MIR – “se o sujeito considerava provável a produção do resultado estaremos diante do dolo eventual. Se considerava que a produção do resultado era meramente possível, se daria a imprudência consciente ou com representação”. O Brasil adotou a teoria da vontade quando fala em dolo direto e a do assentimento quando fala do dolo eventual – art. 18, I, do CP. Espécies de dolo: 1. Dolo direto ou determinado – o agente, com a sua conduta, prevê determinado resultado, buscando realizá-lo. É o dolo por excelência. 2. Dolo indireto ou indeterminado – o agente, com sua conduta, não busca realizar resultado determinado. Ele se subdivide em 2 espécies: · Alternativo – o agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta na realização de qualquer um deles. Agente quer a lesão ou quer o homicídio (“querer qualquer um deles”). FERNANDO GALVÃO – o dolo indireto alternativo apresenta-se quando o aspecto volitivo do agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado ou em relação à pessoa contra qual o crime é cometido. Quando a alternatividade do dolo disser respeito ao resultado, fala-se em alternatividade objetiva; quando a alternatividade se referir à pessoa contra qual o agente dirige sua conduta, a alternatividade será subjetiva. Ex. de dolo alternativo quanto à pessoa: o agente, a certa distância, efetua disparos com sua arma de fogo contra duas pessoas, querendo matar uma ou outra. Como se percebe, aqui também encontramos um misto de dolo direto com eventual; · Eventual – o agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo sua conduta na realização de um, mas aceitando o outro. Há intensidade diferente comparado ao alternativo. JESCHECK – dolo eventual significa que o autor considera seriamente como possível a realização do tipo legal e se conforma com ela. 3. Dolo cumulativo – o agente pretende alcançar dois ou mais resultados típicos em sequência – progressão criminosa. Quero lesionar; lesionando, vejo que quero matar realmente a vítima. 4. Dolo de dano – a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. 5. Dolo de perigo – a intenção é expor a risco o bem jurídico tutelado. Os crimes de perigo, que podem ser subdivididos em perigo abstrato e perigo concreto, constituem uma antecipação da punição levada a efeito pelo legislador, a fim de que o mal maior, consubstanciado no dano, seja evitado. Assim, podemos dizer que, punindo-se um comportamento entendido como perigoso, procura-se evitar a ocorrência do dano. Na verdade, em muitas situações, aquilo que se identifica como um dolo de perigo acaba se confundindo com a inobservância do dever objetivo de cuidado, característica dos crimes culposos, razão pela qual GONZALO QUINTERO OLIVARES afirma – “do ponto de vista técnico, os delitos de perigo apresentam características estruturais que os aproximam dos delitos imprudentes, ao menos até um certo grau de desenvolvimento, isto é: são condutas imprudentes 03.04.2009 6. Dolo normativo (dolus malus) – é o dolo adotado pela teoria neokantista, elemento da culpabilidade (não está no fato típico), tendo como requisitos: a) consciência; b) vontade; c) consciência atual da ilicitude (elemento normativo da culpabilidade) - adeptos da teoria psicológico-normativa. No dolo haveria um elemento de natureza normativa, qual seja, a consciência sobre a ilicitude do fato. Dependendo da teoria que se adote, essa consciência deverá ser real (teoria extremada do dolo) ou potencial (teoria limitada do dolo). Na precisa lição de ASSIS TOLEDO, “a teoria extremada do dolo – a mais antiga – situa o dolo na culpabilidade e a consciência da ilicitude no próprio dolo. O dolo é, pois, um dolo normativo, o dolus malus dos romanos, ou seja: conduta proibida (consciência atual da ilicitude). A teoria limitada do dolo quer ser um aperfeiçoamento da anterior, pois desta não diverge a não ser em alguns pontos: substitui o conhecimento atual da ilicitude pelo conhecimento potencial: além disso, exige a consciência da ilicitude material, não puramente formal”. 7. Dolo natural – dolo adotado pelo finalismo. Ele se encontra no fato típico, tendo como requisitos: a) consciência; b) vontade. 8. Dolo geral (erro sucessivo) – ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado um resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. É uma espécie de erro de tipo acidental, não isentando o agente de pena. Ex.: A quer matar T com um tiro e o dá. Aquele imagina que este está morto e o taca no mar, momento em que realmente T morre por afogamento. Dessa forma, se o agente atuou com animus necandi (dolo de matar) ao efetuar os disparos na vítima, deverá responder por homicídio doloso, mesmo que o resultado morte advenha de outro modo que não aquele pretendido pelo agente (aberratio causae), quer dizer, o dolo acompanhará todos os seus atos até a produção do resultado, respondendo o agente, portanto, por um único homicídio doloso, independentemente da ocorrência do resultado aberrante. 9. Dolo antecedente – ele antecede à conduta. Não interessa!!! Exceção: dolo antecedente punível – embriaguez completa não acidental (no momento da conduta não há consciência); adota-se a teoria actio in libera causa. 10. Dolo concomitante – está presente no momento da conduta. O dolo sempre deverá ser concomitante, por isso que não interessa os outros dois tipos de dolo. 11. Dolo subseqüente – é posterior à conduta. Não interessa!!! ROXIN – quem mata por descuido seu inimigo e se alegra depois disso, ou seja, assume o sucesso conscientemente em sua vontade, evidentemente apesar disso somente responde pelo homicídio imprudente e não a título de dolo. Pois, somente se pode falar de realização do plano quando o plano existia antes de acontecer a ação executiva. 11. Dolo de 1º grau –é sinônimo de dolo direto, isto é, o agente prevê determinado resultado dirigindo sua conduta na busca desse mesmo resultado. 12. Dolo de 2º grau – entre o agente e o seu fim, mostra-se necessário realizar outros eventos, não diretamente queridos, mas imprescindíveis. Ex.: quero matar um desafeto que pegará um voo. Para isso, explodirei o avião (todavia, todos os demais passageiros também morrerão). Outro exemplo dado pela doutrina é o caso de irmãos xifópagos – se alguém matar um dos irmãos, consequentemente, o outro também morrerá (contra o que queria matar – dolo de 1º grau; contra o que consequentemente morreu – dolo de 2º grau, pois já se sabia que ele morreria junto com a morte do irmão). BITENCOURT – o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado como de primeiro grau, e em relação aos efeitos colaterais, representados como necessários, é classificado como de segundo grau. OBS.: No dolo eventual, o resultado não querido é eventualmente possível (assume-se o risco do resultado não ocorrer) No dolo de 2º grau, o resultado não querido é certo (o resultado não querido é imprescindível para que ocorra o resultado querido – caso dos irmãos xifópagos, o agente responderá por 2 homicídios, em concurso formal). Se o resultado é inerente ao meio escolhido – dolo direto de segundo grau. Se o resultado não for inerente ao meio escolhido – dolo eventual. 13. Dolo de propósito – é o dolo refletido. Nem sempre majora a pena. A pré-determinação não qualifica o crime de homicídio. O homicídio premeditado nem sempre é qualificado (a premeditação, por si, só não qualifica o crime). 14. Dolo de ímpeto – é o dolo repentino. Serve como atenuante de pena (dolo previsto nos crimes de multidão, em brigas de torcida de futebol). OBS.: Doente mental tem dolo? R.: Tem dolo, todavia, a doença mental exclui a culpabilidade. O inimputável tem consciência e vontade, ainda que dentro de seu precário mundo valorativo. A.8.2) Conduta culposa – art. 18, II, do CP. Conceito: consiste numa conduta voluntária que realiza o fato ilícito não querido pelo o agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era previsível (culpa inconsciente), e que poderia ter sido evitado se o agente atuasse com o devido cuidado. O art. 33, II, do CPM traz um verdadeiro conceito de crime culposo. Elementos da culpa: · Conduta – pode ser uma ação ou omissão. Na conduta dolosa, como regra, existe uma finalidade ilícita, e na conduta culposa a finalidade é quase sempre lícita – os meios escolhidos e empregados pelo agente para atingir a finalidade lícita é que foram inadequados ou mal utilizados; · Violação de um dever de cuidado objetivo – é a previsibilidade objetiva. O agente atua em desacordo com o que esperado pela lei e pela sociedade. Cada membro da sociedade parte do princípio de que esse dever de cuidado objetivo será observado pelo seu semelhante. Quem precisa de norma expressa para considerar perigosa a conduta daquele que coloca um pesado vaso de flores no parapeito de uma janela localizada no 13º andar de um prédio? Tal conduta e outras do gênero devem ser evitadas porque infringem um dever de cuidado objetivo. Caso contrário, isto é, caso o agente as pratique e, em conseqüência, venha a produzir resultados lesivos, terá de responder por eles. A palavra “objetivo” é usada para designar um padrão – comportamento de pessoa de mediana prudência e discernimento. Se alguém agir sem observar tal dever de cuidado, praticará a conduta culposa. Tal elemento nada mais é do que a caracterização da imprudência, negligência e imperícia.; · Formas de violação do dever de cuidado (a doutrina chama isso de “modalidades de culpa”): · Imprudência – é a afoiteza. É a conduta positiva; prática de um ato perigoso sem os cuidados que o caso requer; · Negligência – é a falta de precaução. É um deixar de fazer aquilo que a diligência normal impunha; · Imperícia – é a falta de aptidão técnica para o exercício de arte, ofício ou profissão. · Resultado naturalístico – alteração física no mundo exterior. Assim, em regra, crime culposo é sempre material (o tipo penal descreve a conduta mais o resultado naturalístico, sendo este indispensável para a consumação, ex.: homicídio). No crime formal, o tipo descreve a conduta mais o resultado naturalístico, sendo este dispensável (o crime já se consumou com a conduta – crime de consumação antecipada – acontecendo o resultado, ocorrerá mero euxarimento, ex.: extorsão). No crime de mera conduta, o tipo descreve apenas uma conduta (não há resultado naturalístico descrito), ex.: violação de domicílio. Exceção (crime culposo que dispensa resultado naturalístico): art. 38 da lei de drogas – prescrição de droga errada ou em alta dose, por médico – FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS – consuma-se independentemente da ingestão da droga pelo o paciente; · Nexo causal; · Previsibilidade – é a possibilidade que tinha o agente de conhecer o perigo (não se confunde com “previsão” – nesta, você conhece o perigo). Exceção de crime culposo que não tem previsibilidade: culpa consciente (conhece-se o perigo, mas acha que poderá evitar, logo, há algo mais do que previsibilidade; há previsão). Se o fato escapar totalmente à previsibilidade do agente, o resultado não lhe poderá ser atribuído, mas sim ao caso fortuito ou à força maior. É previsível o fato, sob o prisma penal, quando a previsão do seu advento, no caso concreto, podia ser exigida do homem normal, do homo medius, do tipo comum de sensibilidade ético-social. Tal previsibilidade leva em conta critérios comuns de experiência (coisas que normalmente acontecem – quod plerumque accidit). É “objetiva” porque indica um padrão que não é outro senão aquele conhecido (padrão de uma pessoa de mediana prudência e discernimento). Conseqüência da imprevisibilidade objetiva do resultado – o fato será atípico. A previsibilidade subjetiva do resultado é trabalhada dentro da culpabilidade. Conseqüência da imprevisibilidade subjetiva do resultado – falta de culpabilidade. Previsibilidade objetiva seria aquela, conceituada por HUNGRIA, em que o agente, no caso concreto, deve ser substituído pelo chamado “homem médio, de prudência normal”. Se, uma vez levada a efeito essa substituição hipotética, o resultado ainda assim persistir, é sinal de que o fato havia escapado ao âmbito da previsibilidade do agente, porque dele não se exigia nada além da capacidade normal dos homens. Na previsibilidade subjetiva não existe essa substituição hipotética: não há a troca do agente pelo homem médio para saber se o fato escapava ou não à sua previsibilidade; o que é levado em consideração são as condições particulares, pessoais do agente, quer dizer, consideram-se, na previsibilidade subjetiva, as limitações e as experiências daquela pessoa cuja previsibilidade está se aferindo em um caso concreto; · Tipicidade – art. 18, parágrafo único, do CP – no silêncio, o crime é doloso. O dolo é a regra; a culpa, a exceção. Sim, porque de acordo com o princípio da intervenção mínima somente as infrações penais mais graves é que merecerão a atenção da lei penal (são perfeitamente aplicáveis aos delitos culposos os conceitos do princípio da insignificância). OBS.: Crime culposo fere o princípio da legalidade? R.: O tipo aberto é uma espécie de tipo incompleto que tem complemento valorativo, ex.: crime culposo. Fere então os elementos da legalidade? Há quem entenda que esta complementação valorativa feriria o princípio da legalidade (a lei deve ser certa). Todavia, para a maioria da doutrina, o crime culposo, apesar de aberto (dependendo de complementação valorativa, não existindo uma definição típica completa e precisa para que se possa, como acontece em quase todos os delitos dolosos, adequar a conduta do agente ao modelo abstrato previsto em lei), não fere o princípio da legalidade (mais precisamente o princípio da taxatividade), pois obedece um mínimo de determinação necessária. MUÑOZ CONDE – os delitos culposos são tipos abertos no sentido já anteriormente assinalado de queuma característica do tipo de injusto dever ser complementada por via judicial ou doutrinária. Isto não implica qualquer lesão ao princípio da legalidade, de vez que a própria natureza das coisas impede que se possam descrever com maior exatidão na lei todos os comportamentos negligentes suscetíveis de ocorrer ou realizar-se. Espécies de culpa: 1. Culpa consciente - culpa consciente é a culpa com previsão. É aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer (resultado não assumido pelo o agente). 2. Culpa inconsciente - é a culpa sem previsão. Quando o agente deixa de prever o resultado que lhe era previsível, fala-se em culpa inconsciente ou culpa comum (o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente). 3. Culpa própria - é a culpa que aqui se estuda (imprudência, negligência, imperícia). 4. Culpa imprópria - É aquela em que o agente, por erro evitável, fantasia certa situação de fato, supondo estar acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante putativa), e, em razão disso, provoca intencionalmente o resultado ilícito, apesar de a ação ser dolosa, o agente responde por culpa por razões de política criminal (art. 20, parágrafo 1º, segunda parte, do CP). Há 3 sinônimos de culpa imprópria: culpa por equiparação ou assimilação ou extensão. CONSCIÊNCIA VONTADE DOLO DIRETO Previsão do resultado Querer DOLO EVENTUAL Previsão do resultado Assumir risco (aceitar) CULPA CONSCIENTE Previsão do resultado Não quer/não aceita (acreditar poder evitar) CULPA INCONSCIENTE Previsibilidade (possibilidade de prever) Não quer/não aceita OBS.1: Crime de racha (disputa não autorizada de veículo automotor no trânsito) é dolo eventual ou culpa consciente? R.: Prevalece no STJ de que é dolo eventual. OBS.2: Existe, no Direito Penal, compensação de culpas? R.: Não existe. Cada qual responderá pela sua conduta culposa, independentemente do fato de ter a outra pessoa também contribuído para a produção desse mesmo resultado. Todavia, a culpa concorrente da vítima pode atenuar a responsabilidade do agente (art. 59 do CP). ROGÉRIO GRECO – é possível a concorrência de culpa – o comportamento da vítima, como concorrente para o resultado, deve ser considerado não só nos casos em que ela goze também do status de agente. OBS.3: Culpa presumida – não se pode falar, ainda em presunção de culpa em Direito Penal. OBS.4: Tentativa nos delitos culposos – Não cabe. Parte da doutrina, contudo, aceita a possibilidade de tentativa nos crimes culposos, quando da ocorrência da chamada culpa imprópria (culpa por extensa, por assimilação), quando o agente, nos casos de erro evitável nas descriminantes putativas, atua com dolo, mas responde pelo resultado causado com as penas correspondentes ao delito culposo. A.8.3) Crime preterdoloso – art. 19 do CP Conceito: o preterdolo é uma espécie de crime agravado pelo resultado. Há 4 espécies de crimes agravados pelo resultado: · Crime doloso agravado dolosamente – ex.: homicídio qualificado; · Crime culposo agravado culposamente – ex.: incêndio culposo agravado por morte culposa de alguém; · Crime culposo agravado dolosamente – ex.: homicídio culposo agravado pela omissão de socorro; · Crime doloso agravado culposamente – ex.: lesão corporal seguida de morte – é a única espécie considerada de preterdolo. Assim, crime preterdoloso é aquele previsto no art. 19 do CP, é uma espécie de crime agravado pelo resultado, constituído de dolo no antecedente e culpa no conseqüente. Elementos: · Conduta dolosa visando determinado resultado; · Provocação culposa de resultado mais grave do que o resultado; · Nexo causal entre conduta e resultado. Só posso imputar o resultado ao agente se o resultado for ao menos culposo. Se for proveniente de caso fortuito ou força maior, não tem como imputar o resultado ao agente, respondendo apenas pela lesão corporal (no caso de lesão corporal seguida de morte). Ex.: lesão corporal dolosa ( morte culposa ( art. 129, parágrafo 3º, pena de 4 a 12 anos; empurrão doloso (vias de fato) ( morte culposa ( art.121, parágrafo 3º, do CP – homicídio culposo (contravenção penal absorvida). A.9) Erro de tipo – art. 20 do CP Conceito: erro de tipo é a falsa percepção da realidade. Entende-se por erro de tipo aquele que recai sobre as elementares, circunstâncias, justificantes ou qualquer dado agregado a determinada figura típica. OBS.: Erro de tipo não se confunde com erro de proibição. No erro de tipo se está diante de uma falsa percepção da realidade (o agente não sabe o que faz). No erro de proibição há perfeita percepção da realidade (o agente sabe o que faz, mas desconhece a ilicitude de seu comportamento). Ex.1: saio de uma festa e me apodero de um guarda-chuva. Ao chegar em casa, percebo que não era o meu = erro de tipo, pois não sabia o que estava fazendo. Ex.2: marido chega a casa e quer manter conjunção carnal com a esposa; esta recusa. Ele emprega violência para manter a conjunção carnal pensando ser lícito tal conduta, pois é casado com ela = erro de proibição. Espécies: Pode ser: · Essencial – ele recai sobre dados principais do tipo. Se avisado do erro, o agente deixa de seguir agindo ilicitamente. · Acidental – ele recai sobre dados periféricos do tipo. Se avisado do erro, o agente corrige e continua a seguir agindo ilicitamente. Ex.1: “A” vai caçar. Há uma linha imaginária dizendo que atrás dessa linha só ficará a caça (o caçador não pode ficar pra lá da linha). De repente, um arbusto se mexe e “A” atira. Quando verifica, está “B” morto (“A” imaginava ter matado um animal – erro de tipo essencial – não sabia o que estava fazendo). Ex.2: “A” quer furtar sal, mas furta açúcar sem querer – erro de tipo acidental – a conduta continua sendo de furto. O erro de tipo essencial se divide em: · Inevitável – imprevisível, escusável; · Evitável – previsível, inescusável, O erro de tipo acidental se divide em: · Sobre o objeto · Quanto à pessoa; · Na execução; · Resultado diverso do pretendido; · Erro sobre o nexo causal 06.04.2009 I- Erro de tipo essencial – art. 20 do CP – o agente, desconhecendo um dado principal do tipo penal, acaba por praticar um crime sem querer (ex.: atirar contra um arbusto, imaginando lá se esconder um animal, quando, na verdade, lá estava alguém). Se inevitável, não há consciência nem previsibilidade. Excluirá o dolo e a culpa. Erro de tipo essencial evitável – exclui dolo, mas pune a modalidade culposa se prevista em lei, pois o crime era previsível. Erro de tipo essencial inevitável – excluirá o dolo e a culpa. Uma 1ª corrente compara a diligência do agente com a do homem médio. Uma 2ª corrente trabalha com o caso concreto – corrente majoritária – a idade do agente, o grau de instrução, o local do crime, o horário do mesmo etc., tudo pode evitar na evitabilidade ou não do erro. II- Erro de tipo acidental – · Erro sobre o objeto – não tem previsão legal (criação doutrinária). O agente representa equivocadamente a coisa visada (ex.: alguém subtrair açúcar, mas acaba subtraindo sal, pois o agente representou equivocadamente a coisa visada). Ele não exclui dolo nem culpa. Não isenta o agente de pena, respondendo pelo crime. Prevalece que o crime considera o objeto lesado. ZAFFARONI diz que tal erro não tem previsão legal, logo, isto tudo é interpretação, devendo se considerar o objeto mais favorável ao agente; · Erro quanto à pessoa – art. 20, parágrafo 3º, do CP. O agente representa equivocadamente a pessoa visada com a ação criminosa. Não há erro na execução, mas somente má representação da vítima - representação errônea do alvo (ex.: agente atira contra pessoa que entra em casa, imaginando ser o seu pai, quando, na verdade, era o seu tio). Não excluirá dolo nem culpa, não isentando o agente de pena, respondendo o agente pelo crime, considerando-se as qualidades da vítima pretendida (vítima virtual); · Erro na execução (aberratio ictus) – art. 73 do CP. O agente, por acidente ouerro no uso ou meios de execução, atinge pessoa diversa da pretendida, apesar de havê-la representado corretamente (ex.: querendo matar o seu pai, o agente dispara arma de fogo, mas por falta de pontaria, acabo por atingir o seu tio). No erro quanto à pessoa, a execução é perfeita, todavia, a representação é má; aqui no erro na execução, a execução que não é perfeita, mas a representação está correta. Não excluirá dolo nem culpa, não isentando o agente de pena. O agente responderá pelo crime, considerando as qualidades da vítima pretendida (vítima virtual). Se ambas forem atingidas, ocorrerá o concurso formal de delitos (art. 70 do CP). Há o conflito entre pessoas (PESSOA X PESSOA). A doutrina moderna classifica a aberratio ictus em dois: a) erro na execução em sentido estrito – a vítima pretendida está no local; b) acidente – a vítima pretendida pode não estar no local; · Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) – art. 74 do CP. Trata-se de espécie de erro na execução. O agente, por acidente ou erro na execução , provoca lesão em bem jurídico diverso do pretendido. (Ex: para danificar o veículo do meu desafeto, lanço uma pedra que, por erro na execução, acaba por atingir o motorista). Coisa x pessoa!. Responderá pelo crime provocado (o resultado diverso do pretendido) a título de culpa. Se atingir os dois, será concurso formal de delitos. OBS.: Se o bem jurídico lesado valer menos do que o pretendido, o agente responderá por tentativa do crime pretendido – não se aplicando a regra do art. 74 do CP; · Erro sobre o nexo causal (aberratio causae) – não tem previsão legal; criação doutrinária. O agente provoca o resultado pretendido, porém com nexo diverso. Há duas espécies: a) erro sobre o nexo em sentido estrito – o agente mediante um ato provoca o resultado, porém com o nexo diverso do pretendido (ex.: o agente empurra a vítima do penhasco para que morra afogada. Na queda, a vítima bateu a cabeça contra uma rocha, morrendo por traumatismo craniano); b) dolo geral – o agente mediante conduta desenvolvida em dois ou mais atos, provoca o resultado desejado, porém com resultado diverso do pretendido – há dois ou mais atos (ex.: depois de atirar contra a vítima e imaginá-la morta, o agente arremessa o seu corpo ao mar, vindo então a morrer – só morre quando jogada ao mar). O aberratio causae não exclui o dolo nem a culpa, não isentando o agente de pena, respondendo o agente pelo crime provocado. 1ª corrente – considera-se o nexo visado, (pretendido), evitando-se responsabilidade penal objetiva; 2ª corrente – considera-se o nexo real, suficiente para provocar o resultado desejado (o agente quer matar de qualquer jeito) – posição majoritária; 3ª corrente – ZAFFARONI – princípio do in dubio pro réu – considera-se o mais benéfico ao réu. III- Erro de subsunção – criação doutrinária. É erro que recai sobre valorações jurídicas equivocadas, sobre interpretações jurídicas errôneas. O agente interpreta equivocadamente o sentido jurídico do seu comportamento. Ex.: falsifica talão de cheque pensando ser documento particular. Não exclui dolo nem culpa, não isentando o agente de pena – ele responderá pelo crime, podendo o erro servir como mera atenuante inominada. OBS.: O agente queria matar um Delegado de Polícia Federal, mas acabou, por erro na execução, matando um Delegado de Polícia Estadual. No ponto de vista penal, considera-se praticado o crime contra a vítima virtual (Delegado Federal), mas no ponto de vista processual penal, considera-se a vítima real; logo, a competência para o processo será da Justiça Estadual. IV- Erro provocado por terceiro – art. 20, parágrafo 2º, do CP. No erro de tipo, o agente erra por conta própria, por si só. No erro determinado por terceiro, há uma terceira pessoa que induz o agente em erro, ex.: médico quer matar paciente, induzindo a enfermeira a ministrar no doente dose, ocultando dela tratar-se de veneno. Quem determina o erro dolosamente, responde por crime doloso; quem determina culposamente, responde por crime culposo. O agente enganador é, na verdade, o autor mediato. Mas se a enfermeira percebe o erro e continua ministrando o veneno, responderá pelo o crime doloso. Se ela não percebe o erro, mas lhe era previsível, responderá a título de culpa. V- Erro de tipo X delito putativo por erro de tipo ERRO DE TIPO DELITO PUTATIVO POR ERRO DE TIPO · O agente não sabe o que faz (falsa percepção da realidade); · O agente imagina estar agindo licitamente; · O agente ignora a presença de uma elementar; · O agente pratica um fato típico sem querer. · O agente não sabe o que faz (falsa percepção da realidade); · O agente imagina estar agindo ilicitamente; · O agente ignora a ausência de uma elementar; · O agente pratica um fato atípico sem querer. A.10) Ação e omissão (crime comissivo e crime omissivo) A.10.1) Crime comissivo – é tipo proibitivo. O direito penal protege bens jurídicos, proibindo determinadas condutas desvaliosas. O agente direciona sua conduta a uma finalidade ilícita. No crime comissivo, o agente infringe um tipo proibitivo, realizando a conduta desvaliosa proibida. É a regra no Direito Penal. Ex.: matar alguém, estuprar, constranger etc. A.10.2) Crime omissivo – é tipo mandamental. O direito penal protege bens jurídicos, determinando a realização de condutas valiosas. No crime omissivo, o agente deixa de agir de acordo com o que determinado por lei. A norma mandamental (a norma que manda agir) pode decorrer: · Do próprio tipo penal – a omissão é elementar do tipo (“deixar de...”). Há o crime omissivo próprio (puro ou simples). MIRABETE – são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico – existe o dever genérico de proteção; · De cláusula geral – o omitente responde por crime comissivo, como se tivesse agido. Há o crime omissivo impróprio (impuro). Há um dever especial de proteção. Para que se possa falar em crime omissivo impróprio é preciso que o agente se encontre na posição de garante ou garantidor, isto é, tenha ele a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância. A cláusula geral é o art. 13, parágrafo 2º, do CP: CRIME OMISSIVO PRÓPRIO CRIME OMISSIVO IMPRÓPRIO O agente tem o dever genérico de agir (recai sobre todos indistintamente); O agente tem um dever específico de evitar o resultado (se não evitar, responderá pelo crime, como se tivesse agido) – recai sobre determinadas pessoas (art. 13, parágrafo 2º, do CP); Subsunção direta de fato e norma (há um tipo descrevendo uma omissão e o fato é uma omissão) – crime de mera conduta Subsunção indireta de fato e norma (o fato é uma omissão, porém o tipo descreve uma ação) – crime material Não admite tentativa. Admite tentativa. OBS.: há tipo omissivo próprio culposo, ex.: art. 38 da Lei de Drogas. Exemplo de crimes comissivos-omissivos ou de conduta mista Art. 169, parágrafo 2º, II, do CP – apropriação de tesouro; Art. 168-A do CP – apropriação indébita previdenciária; B) Resultado Ele pode ser de duas espécies: naturalístico – alteração física no mundo exterior; normativo – lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Para o Direito Penal, há 2 espécies de resultado: naturalístico (material) e o jurídico (normativo). O que aparece como fase do fato típico é o resultado material, pois, o jurídico, com se verá, existe em todos os crimes. B.1) Resultado naturalístico - é a modificação do mundo exterior provocada pela conduta. Se há um crime de homicídio, haverá um resultado naturalístico: o cadáver (morte da vítima). Crimes materiais ou de resultado – são aqueles cujos tipos descrevem condutas e resultados (naturalístico) e exige ambos para efeitos de consumação (conduta e resultado). Ex.: homicídio, lesão corporal, aborto, etc. Crimes formais ou de consumação antecipada – o tipo descreve conduta e resultado, mas se contenta com a conduta dirigida ao resultado para fins de consumação.A conseqüência da produção do resultado material (naturalístico) é mero exaurimento (que não faz parte do iter criminis). A conseqüência do exaurimento será levada em conta pelo juiz na dosagem da pena. No crime de corrupção passiva, o exaurimento é causa de aumento de pena (art. 317 do CP). Crimes de mera conduta ou simples atividade – o tipo penal só descreve a conduta. Também são chamados de delitos de intenção (alguns vem com o termo “com o fim de...”). B.2) Resultado jurídico - lesão ou ameaça de lesão ao bem juridicamente tutelado. É um conceito jurídico. Não há como visualizar o resultado, como se faz no homicídio, mas existe em todos os crimes. Resultado jurídico do homicídio: lesão à vida. Existe crime sem resultado naturalístico, porém, não há crime sem resultado jurídico. Crimes de lesão ou de dano – é aquele para o qual a lei exige a lesão ao bem tutelado para efeito de consumação. Ex.: homicídio – só haverá consumação quando o bem jurídico protegido vida for atingido. Crimes de perigo ou ameaça – são aqueles em que a lei se contenta com um perigo ao bem tutelado para efeito de consumação. Eles se bipartem em: · crimes de perigo concreto – a lei exige a comprovação do perigo. Ex.: art. 309, do CTB – conduz automóvel sem habilitação, gerando perigo de dano. · crimes de perigo abstrato - a lei presume o perigo. Ex.: art. 306 do CTB – crime de embriaguez ao volante (se tornou assim depois da vigência da “Lei Seca”. Antes, era considerado crime de perigo concreto). OBS.:Todo crime tem resultado naturalístico ou normativo? R.: Nem todos os crimes tem resultado naturalístico. O material exige; o formal dispensa; o de mera conduta sequer tem. Todos os crimes tem resultado normativo. Não há crime sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. C) Relação de causalidade/Nexo causal É o nexo causal, vínculo entre conduta e resultado. O estudo da causalidade busca concluir se o resultado, como um fato, decorreu da ação que se pode ser atribuído objetivamente, ao sujeito ativo. Teorias sobre a relação de causalidade Teoria da causalidade adequada – por esta teoria, elaborada por VON KRIES, causa é a condição necessária e adequada a determinar a produção do evento. JOSÉ DA COSTA JÚNIOR – considera-se a conduta adequada quando é idônea a gerar o efeito. A idoneidade baseia-se na regularidade estatística (a conduta adequada funda-se no quod plerumque accidit, excluindo acontecimentos extraordinários, fortuitos, excepcionais, anormais). No exemplo de BELING, não existiria relação causal entre acender uma lareira no inverno e o incêndio produzido pelas fagulhas carregadas pelo vento. Teoria da relevância – entende como causa a condição relevante para o resultado. LUÍS GRECO diz que será irrelevante tudo aquilo que for imprevisível para o homem prudente, situado no momento da prática da ação. Só o objetivamente previsível é causa relevante. Seguindo esta teoria, aquele que joga um balde d’água em uma represa completamente cheia, fazendo com que se rompa o dique, não pode ser responsabilizado pela inundação, pois que sua conduta não pode ser considerada relevante a ponto de ser-lhe imputada a infração penal tipificada no art. 254 do CP. Teoria da equivalência dos antecedentes causais – de VON BURI, adotada pelo CP brasileiro. Considera-se causa a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Isso significa que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem, desde que indispensáveis à sua ocorrência. Verifica-se se o fato antecedente é causa do resultado a partir de uma eliminação hipotética. O artigo 13, caput, do CP, adota a causalidade simples, generalizando as condições, é dizer, todas as causas concorrentes se põe no mesmo nível de importância, equivalendo-se em seu valor (teoria da equivalência dos antecedentes causais ou da conditio sine qua non). Ex.: morte por envenenamento (venefício) – todas as condutas antecedentes à morte, para esta corrente, são causa para a morte. Só se saberá o que é causa quando se somar a teoria da equivalência à teoria da eliminação hipotética dos antecedentes causais (teoria de THYREN) – no campo mental da suposição e da cogitação, o aplicador deve proceder à eliminação da conduta do sujeito ativo para concluir pela persistência ou desaparecimento do resultado. Persistindo o resultado, não é causa; desaparecendo, é causa. Ex.: “A” compra o bolo, compra o veneno, mistura o bolo com o veneno, toma um suco de laranja e serve o bolo à vítima e esta morre. OBS.: Tal teoria pode regressar ao infinito – crítica a esta teoria. É contra o regresso ao infinito que surge a teoria da imputação objetiva. C.1) Teoria da imputação objetiva – Com o surgimento da teoria da imputação objetiva, a preocupação não é, à primeira vista, saber se o agente atuou efetivamente com dolo ou culpa no caso concreto. O problema se coloca antes dessa aferição, ou seja, se o resultado previsto na parte objetiva do tipo pode ou não ser imputado ao agente. O estudo da imputação objetiva acontece antes mesmo da análise dos seus elementos subjetivos (dolo e culpa). Insurgindo-se contra o regresso ao infinito decorrente da causalidade simples (limita o alcance da chamada teoria da equivalência dos antecedentes causais), a teoria da (não) imputação objetiva enriquece a relação de causalidade objetiva acrescentando o nexo normativo consistente em: · Criação ou incremento de um risco não permitido (que a sociedade não tolera); · Resultado na linha de desdobramento causal da conduta. Teoria Finalista Teoria da Imputação objetiva - causalidade objetiva: depende de um simples nexo físico, ou seja, relação de causa/efeito. - causalidade objetiva: o nexo físico é importante, mas não único, exige também um nexo normativo. Este nexo consiste na: 1. criação ou incremento de risco proibido (risco que a sociedade não tolera) 2. realização do risco no resultado (o resultado esta na linha desdobramento causal normal do risco) - causalidade psíquica: analisa dolo/culpa - causalidade psíquica: analisa dolo/culpa A teoria da imputação objetiva não substitui nada, mas sim acrescenta o nexo normativo ao nexo físico. Exemplo: exemplo do bolo que é comprado por terceira pessoa e que o envenena para matar alguém. A tia boleira fazendo um bolo, a sociedade tolera esse risco? Sim. Assim, não há nexo normativo, desse modo não podemos imputar a ela o resultado. A imputação objetiva não substitui a teoria do nexo causal (teoria da equivalência dos antecedentes), apenas acrescentando o nexo normativo. OBS.: Qual o resultado jurídico da imputação objetiva? Para a maioria da doutrina a imputação objetiva é o corretivo do nexo causal. Para LFG, a criação ou incremento do perigo deve ser analisado na tipicidade material. Conclusões: 1. a imputação objetiva é uma análise que antecede a imputação subjetiva; 2. a expressão mais apropriada seria teoria da não imputação objetiva; 3. foi criada para se contrapor aos dogmas da teoria da equivalência (regresso ao infinito); 4. uma vez concluída pela não imputação objetiva (ausência do nexo normativo), o fato é atípico. Trecho retirado do material das aulas do Damásio, prof. ANDRÉ ESTEFAM Honig, na década de 30, disse que o critério jurídico de imputação é o ideal para se usar na estrutura do crime, ao invés do nexo causal que se baseia em critérios naturais, lógicos – controle do curso causal. Leva-se em conta o que é justo, e não o que é lógico. Em 1970, Hoxin escreveu um livro e defendeu a tese de Honig, adotando critérios jurídicos, justos de imputação, todavia, discordava em alguns pontos. Hoxin desenvolveu uma série de critérios jurídicos de imputação - teoria geral da imputação objetiva. Até hoje, seu pensamento amadureceu, os critérios jurídicos de imputação objetiva são – níveis de imputação: 1) Criação de um risco proibido e relevante – analisar-se-á se a pessoa criou ou não um risco proibido, e também se verá se tal risco é relevante; 2) Verificar a produção do risco no resultado – analisar-se-á seo resultado surgiu através de fatores alheios ou não, através do risco criado; 3) Resultado se encontra ou não no âmbito de proteção do tipo penal – cada tipo penal tem uma esfera, um âmbito de proteção. Jacobs também é adepto da teoria da imputação objetiva. Desenvolveu a sua visão em 1985. Uma das maiores diferenças com a teoria do Hoxin e de Jacobs, é que este entende ser impossível abandonar o nexo causal (é algo tão intuitivo na cabeça das pessoas, que quando acontece um crime a primeira coisa que se pensa é no nexo causal entre a conduta e o resultado). Para Jacobs, primeiro, deve-se analisar o nexo causal (teoria da equivalência dos antecedentes), e posteriormente se analisará a teoria da imputação objetiva, restringindo o nexo causal, corrigindo-o. Ele elenca alguns princípios corretores: a) principío do risco permitido, b) princípio da proibição ao regresso, c) princípio da confiança, d) princípio da competência da vítima. No Brasil há possibilidade de se adotar a teoria da imputação objetiva segundo a visão de Jacobs, pois a de Roxin vai contra a lei, art. 13 do CP. C.2) Concausas - Concausa significa pluralidade de causas concorrendo para o mesmo evento. Exemplo: “A” e “B” concorrendo para a morte de “C” sem que o primeiro saiba do segundo e vice-versa. Por exemplo, “A” dá um tiro e “B” ministra veneno. A pessoa que ministrou o veneno responde por homicídio, visto que “C” morreu envenenado. Mas e “A”, responde por qual crime? É para decidir sobre qual crime, tentado ou não, responde a pessoa que deu o tiro. Dentro das causas, elas podem ser dependentes - é aquele fator que se insere dentro do desdobramento causal natural/esperado da conduta, ex.: pessoa saca uma arma de fogo carregada e efetua vários disparos contra a cabeça de um indivíduo; a perícia verifica que a vítima faleceu de traumatismo crânio-encefálico (“quod plerumque accidit” – o que normalmente acontece) - e independentes – causa que está fora do desdobramento causal esperado; representam eventos inusitados, surpreendentes, algo que destoa do comum, ex.: duas pessoas discutem por motivos banais, e uma delas pega um canivete pequeno e corta a outra pessoa, criando um ferimento inciso (de pouca relevância), a vítima vai embora, e não consegue estancar o sangramento, pois a vítima era portadora de hemofilia, vindo a óbito. As causas independentes se bipartem: a) causas absolutamente independente; b) causas relativamente independente. I. absolutamente independente A causa efetiva do resultado não se origina direta ou indiretamente de outrem. Quando esta ocorrer, o agente não responde por ela, pois mesmo que não tivesse praticado a sua conduta, a causa independente aconteceria de qualquer forma – não há nexo causal entre conduta e resultado. a) preexistente A causa efetiva do resultado é anterior à concorrente. Exemplo: as 19h, “A” ministra veneno para “C” e as 20h “B” efetua um tiro em “C”, este morre em decorrência do envenenamento. “A” responde por homicídio por envenenamento. E “B”? Se eliminarmos o envenenamento ela não seria causa do tiro; assim, são absolutamente independentes e preexistentes. “B” vai responder por tentativa de homicídio. b) concomitante A causa efetiva do resultado concorre no mesmo tempo que à concorrente. Exemplo: “A” as 19h envenenava “C”; também as 19h entrou um assaltante e deu um tiro em “C”. O assaltante vai responder por homicídio consumado e “A”? O envenenamento não se originou do tiro, pois se tirarmos um o outro aconteceria; a soma disso dá tentativa. Desse modo, “A” responde por tentativa de homicídio. c) superveniente A causa efetiva do resultado é posterior à concorrente. Exemplo: “A” as 19h envenenou “C”, porém as 20h caiu um lustre na cabeça de “C”, sendo que este morreu em razão de traumatismo craniano. “A” responde por qual crime? A queda do lustre não se originou do envenenamento, mas sim posterior. Assim, responde por tentativa. II. relativamente independente A causa efetiva do resultado se origina direta ou indiretamente de outrem. São aquelas causas que, somadas à conduta, levam à produção do resultado. Há uma conjugação, uma soma de fatores. Só uma não criaria o resultado; só a concausa também não produziria o resultado. Pela teoria da equivalência, há nexo causal. a) preexistente A causa efetiva do resultado é anterior a outra. Exemplo: “A” deu uma facada em “C”, mas a facada foi de raspão, apesar da intenção de matar. Ocorre que “C” era hemofílico e morreu. A doença preexistia à facada. A resposta de acordo com o CP (causalidade simples) é que ele responde por homicídio consumado. A jurisprudência atenua o rigorismo, para você responder por consumação você tem que saber que a pessoa era hemofílica, sob pena de responsabilidade penal objetiva. Assim, pela teoria da imputação objetiva responde por tentativa (se você não sabe que a pessoa é hemofílica, caso contrário responde por homicídio consumado). b) concomitante A causa efetiva do resultado concorre no mesmo tempo que outra. Exemplo: uma pessoa dá um tiro na outra e a pessoa percebe que o tiro esta vindo na sua direção e tem um ataque cardíaco e morre. Quem deu o tiro responde por homicídio consumado. c) superveniente A causa efetiva do resultado é posterior a outra. Há um dispositivo próprio – artigo 13, §1º CP: Superveniência de causa independente (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Há duas espécies de causas relativamente independente superveniente: · aquela que “por si só” produziu o resultado: o resultado sai da linha de desdobramento causal normal da conduta (causa imprevisível). Exemplo: eu dou um tiro numa pessoa que vai ao hospital e é submetida a uma cirurgia bem sucedida, mas morre em decorrência da queda do teto do hospital. São causas relativamente independentes supervenientes. Aqui o agente responde por tentativa; a queda do teto é imprevisível. No caso do exemplo acima citado, a pessoa lesionada não se encontraria no hospital no momento do desabamento ou do incêndio se não tivesse sido alvo do ato agressivo do agente. Mas a morte da vítima não lhe pode ser debitada visto que tal resultado decorreu de uma cadeia causal que se interpôs no desenvolvimento da cadeia causal anterior e produziu, independentemente desta, o evento “morte”. O desabamento ou o incêndio teria provocado a morte da vítima mesmo que se encontrasse no hospital por outros motivos. · aquela que não “por si só” produziu o resultado: o resultado encontra-se na linha de desdobramento causal normal da conduta (previsível). Exemplo: eu dou um tiro numa pessoa que vai ao hospital e é submetida a uma cirurgia e morre devido a um erro médico. O erro médico é superveniente e relativamente independentemente. Aqui o agente responde por crime consumado, pois o erro médico não por si só produziu o resultado. OBS.: E a infecção hospitalar? A jurisprudência majoritária trata a infecção hospitalar como trata o erro médico, ou seja, o agente responde pelo crime consumado, aquele que não “por si só” produziu o resultado. Com exceção da concausa relativamente independente superveniente que está disposta no artigo 13, §1º do CP – causalidade adequada – as outras são causalidade simples. Na causalidade adequada somente haverá imputação do fato se, no conjunto das causas, fosse a conduta do agente, consoante as regras de experiência comum, a mais adequada à provocação do resultado ocorrente. A causalidade adequada trabalha com o resultado em linha de desdobramento causal normal? Nós vimos isso na linha de imputação objetiva, por isso há quem diga que o §1º é o berço da imputação objetiva. C.3) Crime omissivos - Há causalidade no crime omissivo? Há duas espécies de crime omissivo: I- Próprio, puro ou simples Há somente omissão de um dever de agir, imposto normativamente, dispensando, via de regra,a causalidade naturalística (são crimes de mera conduta). Exemplo: artigo 135, 244, 246, 319 do CP. Aqui, a preocupação é se agiu ou não. II- Impróprio, comissivo por omissão, omissivo qualificado São tipos abertos. O dever de agir é para evitar um resultado concreto. Estamos diante de crime de resultado material, exigindo, conseqüentemente, a presença de nexo causal entre a ação omitida (e esperada) e o resultado. Esse nexo, no entanto, não é naturalístico (do nada, nada surge). Na verdade, o vínculo é jurídico, isto é, o sujeito não causou o resultado, mas como não o impediu é equiparado ao verdadeiro causador (nexo de não impedimento, nexo de evitação). Esse dever de agir é atribuído a determinadas pessoas que possuem a posição de garantidoras – artigo 13, §2º CP. OBS.: O que é nexo de evitação? É sinônimo de nexo de impedimento, ou seja, é o nexo jurídico nos crimes omissivos impróprios – ZAFFARONI. O garantidor, quando deve e pode agir, fará nas seguintes situações: · tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância ( pai e filho, salva vidas; · de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado ( babá: pai que pede a terceiro para olhar o filho, sendo que este se afoga devido a negligencia daquele. · com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado ( jogar alguém na piscina; se este não sabe nadar, aquele que o jogou tem o dever de salvá-lo. D) Tipicidade D.1) Evolução Crime: 1. Fato típico (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade ( tipicidade formal – ajuste subsunção); 2. ilícito; 3. culpável. Crime: 1. fato típico (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade ( tipicidade formal + tipicidade material – relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico); 2. ilícito; 3. culpável. Crime: 1. fato típico (conduta, resultado, nexo causal e tipicidade ( tipicidade formal + tipicidade conglobante que se divide em material e atos antinormativos (não determinado ou não incentivados por lei)); 2. ilícito; 3. culpável. Tipo penal: ZAFFARONI: é o instrumento legal, logicamente necessário e de natureza predominantemente descritiva, que tem por função a individualização de condutas humanas penalmente relevantes.Tipicidade para ZAFFARONI = tipicidade formal + tipicidade conglobante (tipicidade material + atos antinormativos). D.2) Conceito 1 Analítico É o quarto elemento do fato típico. Não confundir tipicidade com tipo penal. Tipicidade é a subsunção do fato à norma. Tipo penal é o modelo de conduta proibida. 2 Material Dependerá da teoria adotada. a. Realistas: é uma tipicidade meramente FORMAL = adequação fato/norma. - Causalista - Neokantista - Finalista - Finalista dissidente - Social da ação b. Idealistas: tipicidade formal + tipicidade MATERIAL = funcionalismo = relevância da ofensa ao bem jurídico. TEORIAS REALISTAS TEORIAS IDEALISTAS FATO TÍPICO FATO TÍPICO Conduta Conduta Resultado Resultado Nexo Nexo Tipicidade = formal = ajuste fato/norma. Tipicidade = tipicidade formal + tipicidade material D.3) Tipicidade formal É a mera operação de ajuste fato/norma. Têm-se duas espécies: 1 Direta ou imediata Entre fato e tipo incriminador ocorre ajuste direto, sem necessidade de normas auxiliares. Subsunção direta (imediata) entre fato e norma. Ex.: artigo 121 do CP ( A mata B, há subsunção direta entre fato e lei incriminadora. 2 Indireta ou mediata Entre fato e tipo incriminador ocorre ajuste indireto, demandando norma auxiliar. Exemplo 1: o artigo 121 do CP pune matar alguém. De fato, A tentou matar B. Conseguimos ajustar a conduta de A diretamente ao artigo 121? Este artigo pune matar alguém e não tentar matar alguém. Assim, precisamos de uma norma auxiliar que é o artigo 14, II do CP. O artigo 14 é uma norma de extensão temporal. Exemplo 2: A matou B induzido por C. C não matou ninguém, somente o A. Como se ajusta a conduta do C ao artigo 121 do CP? Para isto precisamos da norma do artigo 29 do CP, ou seja, a subsunção é indireta. Quem precisa do artigo 29 é o C e não o A. Portanto, trata-se de uma norma de extensão pessoal. OBS.: assim, o art. 29 só serve para o partícipe, e não para quem matou, ou seja: A = matou = responde somente pelo art. 121. B = morreu. C = participou = só quanto a este aplica o art. 29 c/c art. 121. O artigo 13, §2º é chamado de norma de extensão causal. Todas essas normas são chamadas de normas de reenvio. D.4) Tipicidade conglobante Tipicidade material: relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. OBS.: por isso o princípio da insignificância exclui a tipicidade material, logo a tipicidade penal. + Atos antinormativos: atos não determinados ou fomentados por lei (contrários a lei penal). Tipicidade conglobante: trata-se de um corretivo da tipicidade penal, tendo como requisitos a tipicidade material (relevância da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado) e a antinormatividade do ato (não determinado ou incentivado por lei). A partir do momento em que se adota a tipicidade conglobante, o estrito cumprimento de dever legal (determinados) exercício regular de um direito (fomentados) exclui a tipicidade e não mais a antijuridicidade. Conseqüência: adotando-se a tipicidade conglobante o estrito cumprimento de um dever legal e o exercício regular de direito incentivado deixam de excluir a ilicitude para excluir a própria tipicidade penal. De acordo com ZAFFARONI, espera-se de um ordenamento jurídico ordem, isto é, os vários diretos determinando e incentivando os mesmos fatos (é uma incoerência o direito penal tipificar comportamentos que os outros ramos do direito incentivam ou determinam). OBS.1: O que levou Zaffaroni a criar a tipicidade conglobante? O direito pressupõe o ordenamento jurídico; este pressupõe ordem; como pode o processo civil determinar alguém a agir conforme determinado comportamento e o direito penal proibi-lo? Isso é uma desordem. Ou o direito civil extingue a penhora ou o direito penal não proíbe mais. É melhor o direito penal não proibir mais. OBS.2: Qual a relação da tipicidade X ilicitude? 1ª corrente: absoluta autonomia ou independência: a tipicidade penal não gera qualquer juízo de valor no campo da ilicitude. Se há um crime (fato típico e ilicitude) se desaparecer a ilicitude o fato típico permanece, ou seja, um é independente do outro; 2ª corrente: teoria majoritária - teoria da indiciariedade ou ratio cognoscendi: a tipicidade penal gera indícios de ilicitude (presume-se relativamente a ilicitude). O fato típico desperta indícios de ilicitude, assim se desaparece a ilicitude, desaparece o indício, mas o fato típico permanece; 3ª corrente: teoria da absoluta dependência ou da ratio essendi: o fato só permanece típico se também ilícito. É aqui que surge o tipo total do injusto (se desaparecer a ilicitude, desaparece o fato típico); 4ª corrente: teoria dos elementos negativos do tipo: esta teoria chega no mesmo resultado da anterior, mas por caminhos diversos. Aqui, um tipo penal é formado de elementos positivos, isto é, elementos explícitos que devem ocorrer para que o fato seja típico e, também, elementos negativos, ou seja, que não devem ocorrer para que o fato seja típico. Exemplo: matar alguém: para ocorrer o crime é preciso matar alguém, mas não pode estar presente a legítima defesa. Como conseqüência da adoção do conceito de ser o tipo a ratio essendi da antijuridicidade, surgiu a chamada teoria dos elementos negativos do tipo. Para essa teoria, em síntese, toda vez que não for ilícita a conduta do agente não haverá o próprio fato típico. É que, para ela, estando a antijuridicidade fazendo parte do tipo penal, se a conduta do agente for lícita, em virtude da existência de uma causa de justificação, o fato deixará de ser típico. Para esta teoria, não se estuda primeiramente a conduta típica para somente depois levar a efeito a análise da antijuridicidade. Para que possa ser considerada típica a ação, deverá ela também ser ilícita, ou seja, não permitida pelo ordenamento jurídico,em face da inexistência de uma causa de justificação. Injusto penal (injusto típico) – está-se querendo dizer que o fato típico e a antijuridicidade já foram objeto de exame, restando agora ser realizado somente o estudo da culpabilidade do agente. O injusto, portanto, é a conduta já valorada como ilícita. Não se confunde com o tipo total de injusto. O injusto penal existirá quando o intérprete, depois de concluir pela tipicidade do fato, analisando-a, primeiramente, chegar também à conclusão de que não existe qualquer causa que exclua a ilicitude da conduta típica praticada pelo agente. Para aqueles que adotam um tipo total de injusto, não existem dois momentos distintos para a sua análise, mas um único: ou o fato é típico e ilícito desde o início da análise, ou é um fato também permitido desde a sua origem, uma vez que, para essa teoria, o estudo analítico do crime é composto somente por duas características: tipo total de injusto (conduta típica e ilícita) e culpabilidade. OBS.: Lembrar que a teoria da ratio cognoscendi é a predominante na doutrina pátria. O interesse prático está em quem tem que provar a excludente da ilicitude. Ou seja, se o promotor provar que a pessoa matou alguém, é a outra parte que deve provar que foi em legitima defesa. Assim, se o ônus da prova é da defesa, existe in dúbio pro reo? Só existe este princípio quando o ônus da prova é da acusação, pois, se provada a tipicidade, deve a o réu provar que incidiu em alguma excludente de ilicitude, não podendo alegar in dúbio pro réu. A doutrina diz que se na dúvida condena, ou seja, trabalha como sendo o ônus da discriminante da defesa, assim a dúvida não lhe socorre. Mas a jurisprudência diz que a dúvida socorre o réu. Com a lei 11690/08 alterou o artigo 386, VI do CPP: Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) O legislador acabou indo pela jurisprudência quando acrescentou a parte final deste dispositivo. Classificação dos tipos penais: · Tipo básico e tipos derivados – tipo básico ou fundamental é a forma mais simples da descrição da conduta proibida ou imposta pela lei penal (ex.: art. 121 do CP). Tipos derivados são aqueles que, em virtude de determinadas circunstâncias, podem diminuir ou aumentar a reprimenda prevista no tipo básico (ex.: art. 121, §1º, do CP); · Tipos normais e tipos anormais – falava-se nessa classificação quando predominava a teoria causal, natural da ação. Tipo normal era aquele que continha apenas elementos objetivos (descritivos) e tipo anormal aquele que, além dos elementos objetivos, vinha impregnado de elementos subjetivos e normativos (tipos com expressões “com o fim de”, “com o intuito de”); · Tipos fechados e tipos abertos – tipos fechados são aqueles que possuem a descrição completa da conduta proibida pela lei penal (ex.: art. 121 do CP). O legislador, por impossibilidade de prever e descrever todas as condutas possíveis de acontecer em sociedade, criou os chamados tipos abertos, nos quais não há a descrição completa e precisa do modelo de conduta proibida ou imposta. Dever-se-á fazer uma necessária complementação pelo intérprete (ex.: crimes culposos, crimes comissivos por omissão – omissivos impróprios); · Tipos congruentes e tipos incongruentes – tipo congruente – a parte subjetiva da ação se corresponde com a parte objetiva (ex.: crimes dolosos). Tipo incongruente – quando a parte subjetiva da ação não se corresponde com a objetiva. São os casos em que a lei estende o tipo subjetivo mais além do tipo objetivo, ou nos casos em que se restringe o tipo subjetivo frente ao objetivo (ex.: delitos de propósito, de tendência – os que possuem elemento especial do tipo – extorsão mediante seqüestro; crimes preterdolosos); · Tipo complexo – quando no tipo penal há a fusão dos elementos objetivos com elementos de natureza subjetiva. Com a transferência do dolo e da culpa para a conduta típica, o tipo penal passou a ser impregnado não só de elementos objetivos, mas também, e principalmente de elementos subjetivos. 11.05.2009 5.4) ILICITUDE É o segundo substrato do crime, consistente na contrariedade do fato típico a todo ordenamento jurídico, isto é, não há no ordenamento jurídico qualquer norma permitindo, fomentando ou determinando aquela conduta. 5.4.1) Causas excludentes de ilicitude A) Estado de necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A.1) Conceito – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato típico, sacrificando um bem jurídico, para salvar de perigo atual direito próprio ou alheio cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Surge como norteador do estado de necessidade o princípio da ponderação dos bens. Vários bens em confronto são colocados nessa balança, a exemplo da vida e do patrimônio. A partir daí, começaremos a avaliá-los, a fim de determinar a sua preponderância, ou mesmo a sua igualdade de tratamento, quando tiverem o mesmo valor jurídico. A.2) Requisitos – Podem ser objetivos e subjetivos. Os objetivos estão todos no art. 24 do CP. A doutrina lembra do requisito subjetivo. Requisitos objetivos: · Perigo atual – este perigo atual pode advir da natureza, do comportamento do homem ou comportamento animal. Trata-se do perigo atual. E o perigo iminente? R.: 1ª corrente: o perigo iminente está implícito, pois não se exige de alguém defender-se somente quando o perigo é atual – LFG, ASSIS TOLEDO, ROGÉRIO GRECO (este ainda diz que a maioria se encontra com ele); 2ª corrente: não está abrangido o perigo iminente, pois trata-se de um perigo do perigo (algo muito distante para permitir o sacrifício de bens jurídicos alheios). Perigo iminente é incompatível com o requisito objetivo “inevitabilidade do comportamento lesivo”. Na legítima defesa há o perigo iminente, mas aqui não é – é porque o legislador não quis aqui abrangê-lo – corrente majoritária. OBS.: No perigo atual não existe destinatário certo; · Situação de perigo não tenha sido criada voluntariamente pelo o agente: se ele foi o causador voluntário do perigo, ele não poderá alegar o estado de necessidade. O que significa ser causador voluntário? R.: 1ª corrente: ser causador voluntário é agir com dolo (se houve culpa, não impede o estado de necessidade) – corrente majoritária; 2ª corrente: ser causador voluntário é agir com dolo ou culpa (se houve mera culpa, ainda sim não se pode alegar estado de necessidade) – MIRABETE e ROGÉRIO GRECO – art. 13, parágrafo 2º, “c”, do CP impediria que o agente culposo alegue estado de necessidade; · Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo – se o perigo não comporta mais enfrentamento, o bombeiro deve salvar a sua própria vida – trata-se de um dever relativo. Ex.: bombeiro, combatendo um incêndio, só tinha tempo para salvar apenas mais 1 pessoa, mas 2 pessoas necessitavam de ajuda. Pode o bombeiro escolher por uma das pessoas? Uma vida não vale mais do que a outra no Direito Penal, ou seja, o bombeiro pode escolher discricionariamente qualquer das pessoas, não tendo que escolher a vítima mais nova. E o dever contratual de enfrentar o perigo? R.: O dever contratual não impede o estado de necessidade; pode o sujeito se salvar ao invés de salvar terceira pessoa;· Salvar direito próprio ou alheio: estado de necessidade próprio – salvar direito próprio; estado de necessidade de terceiro – salvar direito alheio. Necessita do consentimento de terceira pessoa para salvar sua pessoa? R.: 1ª corrente: o consentimento do terceiro é sempre dispensável, pois a lei não exige tal consentimento – corrente majoritária; 2ª corrente: o consentimento do terceiro é dispensável somente quando o direito ameaçado for indisponível – ROGÉRIO GRECO; · Inevitabilidade do comportamento lesivo: o sacrifício de direitos alheios era o único meio para salvar o seu próprio direito ameaçado; não pode alegar estado de necessidade quem agiu por comodidade. No estado de necessidade há dois bens jurídicos protegidos em confronto. Portanto, sempre a alternativa menos danosa é a que deverá ser escolhida, pois, do contrário, embora não afastando de plano a causa de exclusão da ilicitude, como sugerem alguns autores, o agente responderá pelo seu excesso, nos termos do art. 23, parágrafo único, do CP. · Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado: aqui que se analisa a proporcionalidade entre o bem ameaçado e o bem sacrificado. · Teoria diferenciadora – ela diferencia 2 estados de necessidade: a) estado de necessidade justificante – estado de necessidade que exclui a ilicitude. Quando o bem salvo for mais importante do que o bem sacrificado; b) estado de necessidade exculpante – é o estado de necessidade que exclui a culpabilidade. Quando o bem protegido vale igual ou menos do que o bem sacrificado – hipótese de inexigibilidade de conduta diversa · Teoria unitária – trabalha apenas com o estado de necessidade justificante – excludente de ilicitude. Se o bem salvo vale mais ou igual do que o bem sacrificado, exclui a ilicitude. Se o bem salvo vale igual ou menos do que o bem sacrificado, será causa de diminuição de pena. O CP adotou a teoria unitária – art. 24, parágrafo 2º, do CP. O CPMilitar adotou a teoria diferenciadora. Requisito subjetivo: · Reconhecimento da situação de fato justificante: o estado de necessidade deve ser uma ação objetivamente necessária e subjetivamente conduzida pela vontade de salvamento. Ex.: furto famélico – 1º requisito: fato praticado para mitigar a fome; 2º requisito: único e derradeiro recurso do agente; 3º requisito: que haja subtração de coisa que seja capaz de diretamente mitigar a fome; 4º requisito: insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente ou incapacidade de trabalho. A.3) Espécies de estado de necessidade – a) quanto à titularidade: a.1) EN próprio ou; a.2) EN de terceiro; b) quanto ao elemento subjetivo do agente: b.1) EN real – há efetivamente a situação de perigo; b.2) EN putativo – a situação de perigo foi imaginada pelo o agente – não exclui a ilicitude – o problema deve ser resolvido mediante a análise das chamadas descriminantes putativas; c) quanto ao terceiro que sofre a ofensa: c.1) EN defensivo – sacrifica-se direito do próprio causador do perigo; c.2) EN agressivo – sacrifica-se direito de pessoa alheia à situação de perigo – gera responsabilidade civil. Embora o agente tenha a obrigação de indenizar aquele que sofreu o dano com a sua conduta, se a situação de perigo tiver sido provocada por culpa de terceiro, ser-lhe-á permitida ação regressiva contra este, para haver a importância que tiver sido ressarcida ao dono da coisa. A.4) Aberratio e estado de necessidade Pode ocorrer, por exemplo, que alguém se encontre numa situação de perigo e, com o escopo de salvar-se, venha a causar danos ou mesmo lesões em outrem. Ex.: quando alguém atira em direção ao cão raivoso está-se diante de um estado de necessidade defensivo, mas o tiro acaba acertando terceira pessoa. Note-se que com relação à pessoa atingida não havia qualquer das espécies de estado de necessidade (defensivo ou agressivo). Quando o projétil, desviando-se do seu alvo, atinge uma pessoa, ocorrerá a hipótese de aberratio criminis (resultado diverso do pretendido), prevista no art. 74 do CP. Contudo, tal resultado aberrante, vale dizer, lesão sofrida por aquele que passava pelo local, não poderá ser atribuído ao agente, que se encontra amparo pela causa de justificação do estado de necessidade. B) Legítima defesa B.1) Conceito – está no próprio art. 25 do CP Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Ela jamais pode ser confundida com vingança privada. É preciso que o agente se veja diante de uma situação de total impossibilidade de recorrer ao Estado, responsável constitucionalmente por nossa segurança pública, e, só assim, uma vez presentes os requisitos legais de ordem objetiva e subjetiva, agir em sua defesa ou na defesa de terceiros. B.2) Legítima defesa X Estado de necessidade ESTADO DE NECESSIDADE LEGÍTIMA DEFESA Há um conflito entre vários bens jurídicos diante da mesma situação de perigo Ameaça ou ataque a um bem jurídico Não há destinatário certo Há destinatário certo O perigo decorre de humano, animal ou da natureza Há uma agressão humana injusta Os interesses em conflito são legítimos. Assim, cabe EN de EN (uma pessoa contra a outra, ex.: náufragos disputando um único colete salva-vidas) Os interesses do agressor são ilegítimos (um dos dois tem agir ilegitimamente. Assim não cabe LD de LD (legítima defesa recíproca – autêntica x autêntica). O promotor de justiça, ao receber os autos de inquérito policial e com base nas provas nele produzidas, por não saber apontar o autor inicial das agressões, oferece denúncia em face dos dois (no início da ação penal a dúvida deve pender em benefício da sociedade – in dubio pro societate), a fim de que se permita, durante a instrução do feito e sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, tentar apurar o autor das agressões injustas. Se ao final da instrução processual não restar evidenciado quem teria dado início às agressões, devem os dois agentes ser absolvidos, haja vista que nessa fase processual deverá prevalecer o princípio do in dubio pro reo. Casos: LD x LD putativa: é possível (a putativa é ilegítima); LD putativa x LD putativa: é possível (dois neuróticos se encontram na esquina e cada um acha que um matará o outro); Estado de necessidade X Legítima defesa: não é possível – Aquele que age em estado de necessidade pratica uma conduta amparada pelo ordenamento jurídico, mesmo que esta conduta venha ofender bens também juridicamente protegidos. EN autêntico x LD putativa: é possível (sujeito que pega as chaves de carro de determinada pessoa para salvar outra que precisa de atendimentos médicos. O dono do carro, ao avisar aquele que pega as chaves do carro indo em direção a este, atira contra esta pessoa, pensando estar sendo vítima de um crime de furto). Bens amparados pela legítima defesa – Quais são os bens passíveis de ser defendidos? R.: Tem-se entendido que o instituto da legítima defesa tem aplicação na proteção de qualquer bem juridicamente tutelado pela lei. Assim, pode-se, tranquilamente, desde que presentes seus requisitos, alegar a legítima defesa no amparo daquelas condutas que defendam seus bens materiais ou não. Deve ser frisado que o bem somente será passível de defesa se não for possível socorrer-se do Estado para a sua proteção. Ex.: indivíduo ameaçando outra pessoa de um mal futuro, injusto e grave. A liberdade pessoal está protegida pela lei, mas não se permite que a vítima, no momento em que as palavras estão sendo proferidas, agrida fisicamente o ameaçador. Isso é assim porque o mal prenunciado à vítima não está ocorrendo (atual) e nem prestes a acontecer (iminente), de modo que esta última tem plena possibilidade de, em um Estado de Direito, buscar socorro nas autoridades encarregadas da defesa da sociedade. ROGÉRIO GRECO, MUÑOZ CONDE, JOSÉ CEREZO MIR – os bens jurídicos comunitários não podem ser objeto de legítima defesa – são bens jurídicos supra-individuais, cujo portador é a sociedade,ex.: a fé pública, a saúde pública, ou o Estado, como órgão do poder soberano. Somente quando o Estado atuar como pessoa jurídica serão seus bens jurídicos suscetíveis de legítima defesa. B.3) Requisitos da legítima defesa – podem ser objetivos e subjetivos. Os objetivos se extraem do próprio art. 25 do CP; o requisito subjetivo é lembrado pela doutrina. Requisito objetivo: · Agressão injusta: não se confundindo com mera perturbação, entende-se por agressão injusta a conduta humana que ataca ou coloca em perigo bens jurídicos contrariando o direito. A injustiça da agressão deve ser de conhecimento de quem ataca ou de quem defende ou dos dois? R.: ataque de um doente mental ( 1ª corrente: considerando que o doente não sabe o que faz, sua agressão configura perigo atual. A reação configura estado de necessidade; 2ª corrente: mesmo não sabendo o que faz, a agressão do doente é injusta; ou seja, a reação configura a legítima defesa – corrente majoritária – ninguém é obrigado a dar as costas e fugir – animus dissessus. Assim, quem tem que ter consciência da injustiça da agressão é quem se defende e não quem agride. E o ataque de um animal? R.: se o ataque foi instantâneo, há o perigo atual, havendo o estado de necessidade; se o ataque do animal foi provocado pelo dono, o animal passa a ser o instrumento da agressão do dono (agressão injusta), caracterizando a legítima defesa. A agressão injusta sempre corresponde a um fato típico? R.: ex.: reação a um furto de uso (o furto de uso é atípico, porém, trata-se de uma agressão injusta; furto insignificante – mesmo que se trate de um fato atípico, é possível existir uma agressão injusta). Diferença entre agressão injusta e provocação injusta – ASSIS TOLEDO ensina que “não se pode confundir provocação não intencional com agressão. Embora a agressão possa ser uma provocação (um tapa, um empurrão) nem toda provocação constitui verdadeira agressão (desafios, insultos)”. Deve-se concluir que aquele que provoca alguém sem o intuito de agredi-lo pode agir na defesa da sua pessoa, caso o provocado parta para o ataque, não sendo permitida essa possibilidade àquele que comete injusta agressão. Ex.: quem mata alguém (art. 121) agindo sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, terá sua pena apenas diminuída. · Agressão atual ou iminente: agressão atual é a agressão presente; agressão iminente é a agressão prestes a ocorrer. Agressão passada, a reação é uma vingança. Se a agressão é futura, antecipar a reação é mera suposição. OBS.: E a agressão futura e certa? R.: A reação será caso de inexigibilidade de conduta diversa (ex.: detento que mata o outro, pois este o ameaçou de morte dizendo que, se as reivindicações carcerárias não fossem atendidas pelo o Estado no mesmo dia em que solicitadas, aquele seria morto). Para caracterizar a agressão iminente deve-se entender que seja aquela que não esteja acontecendo, mas irá acontecer quase que imediatamente. Deve haver uma relação de proximidade. Se a agressão é remota, futura, não se pode falar em legítima defesa. · Uso moderado dos meios necessários: qualquer equívoco gera o excesso. Entende por meio necessário o menos lesivo à disposição do agredido no momento da agressão, capaz de repelir o comportamento do agressor. O caso concreto dirá qual será o meio necessário. Além de o agente selecionar o meio adequado à repulsa, é preciso que, ao agir, o faça com moderação, sob pena de incorrer no chamado excesso. Quer a lei impedir que ele, agindo inicialmente numa situação amparada pelo Direito, utilizando os meios necessários, atue de forma imoderada, ultrapassando aquilo que, efetivamente, seria necessário para fazer cessar a agressão que estava sendo praticada. Apesar da inafastável necessidade da moderação no uso dos meios necessários à repulsa, como bem preleciona MIRABETE, “a legítima defesa, porém, é uma reação humana e não se pode medi-la com um transferidor, milimetricamente, quanto à proporcionalidade de defesa ao ataque sofrido pelo sujeito”. · Salvar direito próprio ou alheio: ver estado de necessidade. Ex.: se o agente, percebendo que o seu maior inimigo está prestes a matar alguém e, aproveitando-se desse fato, o elimina sem que tenha a vontade de agir em defesa de terceira pessoa, mesmo que tenha salvo a vida desta última, responderá pelo delito de homicídio. Requisito subjetivo: · Conhecimento da situação de fato justificante: necessário se faz à caracterização da legítima defesa o chamado animus defendi, traduzido no propósito, na finalidade de defender a si ou a terceira pessoa. Classificação doutrinária da LD: · LD defensiva – a reação não constitui fato típico; · LD agressiva – a reação constitui fato típico; · LD subjetiva – é o excesso esculpável na legítima defesa, pois qualquer pessoa nas mesmas circunstâncias se excederia – elimina a culpabilidade; · LD sucessiva – ocorre na repulsa contra o excesso abusivo do agente. Há duas LD, uma seguida/depois da outra (não são simultâneas). C) Estrito cumprimento de um dever legal Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) C.1) Conceito – os agentes públicos*, no desempenho de suas atividades, não raras vezes, devem agir interferindo na esfera privada dos cidadãos, exatamente para assegurar o cumprimento da lei. Essa intervenção redunda em agressão a bens jurídicos, como a liberdade, a integridade física e até mesmo a própria vida. Dentro de limites aceitáveis, tal intervenção é justificada pelo o estrito cumprimento de um dever legal. * - aplicável apenas aos agentes públicos, não abrangendo os particulares. Legal - toma-se a expressão “lei” no seu sentindo amplo, abrangendo todas as espécies normativas. FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO abrange também os costumes. É imprescindível o conhecimento da situação de fato justificante (requisito subjetivo). Ex. de estrito cumprimento de um dever legal: art. 301 do CPP – prisão em flagrante efetuada por autoridades policiais. Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. D) Exercício regular de um direito Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Assim como o estrito cumprimento de dever legal não possui artigo desossando o seu conceito. D.1) Conceito – o exercício regular de um direito compreende as ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e condicionadas à regularidade do exercício deste direito. D.2) Espécies de exercício regular de direito – divide-se em duas hipóteses/espécies (diferente de exemplos): a) ERD pro magistrado – situações em que o Estado não pode estar presente para evitar lesão ao bem jurídico ou recompor a ordem pública, ex.: art. 301 do CPP, primeira parte, ( flagrante facultativo; b) ERD pro castigo – dever oriundo do exercício do poder familiar, ex.: castigos físicos praticados pelos pais aos filhos. São requisitos desta justificante a indispensabilidade e a proporcionalidade. Faltando isto, nasce o excesso. ASSIS TOLEDO entende ser um estrito cumprimento de um dever legal, devendo cumprir a norma do art. 1684, I e II, do CCB). A maioria, como já dita (ROGÉRIO GRECO e MAGALHÃES NORONHA) entende que não há um dever de corrigir os filhos aplicando-lhes castigos moderados, mas sim um direito (podem os pais, ou não, valerem-se de castigos moderados para corrigir seus filhos). O requisito subjetivo aqui também existe: conhecimento da situação de fato justificante. OBS.1: Adotada a tipicidade conglobante, o estrito cumprimento de um dever e o exercício regular de um direito incentivado deixam de excluir a ilicitude paraexcluir a própria tipicidade penal, pois ambos são atos normativos, determinados ou incentivados por lei. OBS.2: Ofendículo – significa o aparato pré-ordenado para a defesa do patrimônio (exs.: cacos de vidro no muro; cerca elétrica; lanças na murada). · 1ª corrente: configura legítima defesa; · 2ª corrente: configura exercício regular de direito; · 3ª corrente: o ofendículo acionado é legítima defesa; o ofendículo enquanto não acionado é um exercício regular de direito – vem prevalecendo esta corrente; · 4ª corrente: diferencia ofendículo de defesa mecânica pré-disposta. No ofendículo o aparato é visível – exercício regular de direito, na defesa mecânica pré-disposta o aparato está oculto – Legitima defesa. Deve existir proporcionalidade no uso de ofendículos. Animal pode ser ofendículo? R.: A doutrina admite que sim. E) Consentimento do ofendido Trata-se de causa supralegal de exclusão de ilicitude. E.1) Requisitos · O dissentimento (não consentimento) não integra o tipo: se integrar, desaparecerá o próprio tipo, ex.: o não consentimento integra o estupro; havendo o consentimento, o fato será atípico; · Ofendido capaz de consentir; · Consentimento livre e consciente; · Deve ser dado pelo próprio ofendido; · Bem disponível; · O consentimento tem que ser dado antes ou durante a execução: não adianta a vítima consentir depois que foi lesado, podendo configurar renúncia ou perdão do ofendido quando crime de ação penal pública condicionada à representação; · O consentimento deve ser expresso: a doutrina já vem admitindo consentimento tácito. 25.05.2009 OBS.: Consentimento para lesar o corpo – o bem jurídico é a incolumidade pessoal. A integridade física, por ex., para os doutrinadores clássicos é bem indisponível. A doutrina moderna ensina que a integridade física é um bem relativamente disponível, desde que: a) se esteja diante de uma lesão leve; b) e tal lesão não contrariar a moral e os bons costumes, exs.: colocação de piercings, tatuagens etc. BITENCOURT diz que a doutrina moderna conseguiu uma guarita da lei – há uma lei que parece ter concordado com a doutrina moderna ( art. 88 da lei 9099/55. E a cirurgia de mudança de sexo? R.: não dá para aplicar o consentimento do ofendido, pois a lesão corporal não é leve; é grave ( trata-se da ablação do órgão. Pode o médico alegar o exercício regular de direito. OBS.: São disponíveis, por natureza, os bens patrimoniais. A vida, pelo contrário, é um bem indisponível por excelência. 5.4.2) Excesso na legítima defesa Art. 23, parágrafo único, do CP Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, ronderá pelo excesso doloso ou culposo.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Geralmente, o excesso tem início depois de um marco fundamental, qual seja, o momento em que o agente, com a sua repulsa, fez cessar a agressão que contra ele era praticada. Toda conduta praticada em excesso é ilícita, devendo o agente responder pelos resultados dela advindos. Diz-se doloso o excesso em duas situações: · Quando o agente, mesmo depois de fazer cessar a agressão, continua o ataque porque quer causar mais lesões ou mesmo a morte do agressor inicial (excesso doloso em sentido estrito) – RESPONDE PELO RESULTADO A TÍTULO DE DOLO; ou · Quando o agente, também, mesmo depois de fazer cessar a agressão que era praticada contra a sua pessoa, pelo fato de ter sido agredido inicialmente, em virtude de erro de proibição indireto (erro sobre os limites de uma causa de justificação), acredita que possa ir até o fim, matando o seu agressor, por exemplo. Neste caso, deverá verificar se tal erro era evitável ou inevitável. SE INEVITÁVEL, O AGENTE, EMBORA ATUANDO EM EXCESSO, SERÁ CONSIDERADO ISENTO DE PENA; SE EVITÁVEL O ERRO, EMBORA O FATO POR ELE PRATICADO SEJA TÍPICO, ILÍCITO E CULPÁVEL, VERÁ SUA PENA REDUZIDA ENTRE OS LIMITES DE UM SEXTO A UM TERÇO (ART. 21 DO CP). Ocorre o excesso culposo nas seguintes situações: · Quando o agente, ao avaliar mal a situação que o envolvia, acredita que ainda está sendo ou poderá vir a ser agredido e, em virtude disso, dá continuidade à repulsa, hipótese na qual será aplicada a regra do art. 20, §1º, segunda parte, do CP. Pode-se cogitar da chamada descriminante putativa. A situação de agressão só existia na mente do agente que, por erro quanto à situação de fato, supõe que ainda será agredido e dá continuidade ao ataque. Aplica-se a regra contida no art. 20, parágrafo 1º, do CP (ERRO ESCUSÁVEL ( ISENÇÃO DE PENA; ERRO INESCUSÁVEL ( RESPONDE PELAS PENAS CORRESPONDENTES AO DELITO CULPOSO – culpa imprópria), ou; · Quando o agente, em virtude de má avaliação dos fatos e da sua negligência no que diz respeito a aferição das circunstâncias que o cercavam, excede-se em virtude de um “erro de cálculo quanto à gravidade do perigo ou quanto ao modus da reação” (excesso culposo em sentido estrito) Como consequência das situações feitas acima, surgem, os chamados excessos intensivo e extensivo (o que logo se verá). A) Excesso crasso Ocorre quando o agente desde o princípio já atua completamente fora dos limites legais (excesso óbvio). Ex.: pessoa que mata uma criança que subtrai uma laranja. B) Excesso extensivo ROGÉRIO GRECO ensina que excesso extensivo é aquele quando o agente, inicialmente, fazendo cessar a agressão injusta que era praticada contra a sua pessoa, dá continuidade ao ataque, quando este já não mais se fazia necessário. C) Excesso intensivo Ocorre quando o autor, por consternação, medo ou susto, excede a medida requerida para a defesa. O excesso intensivo pressupõe que a agressão seja atual, mas que a defesa poderia e deveria adotar uma intensidade lesiva menor. D) Excesso acidental Ocorre quando o agente, ao reagir moderadamente, por força de acidente, causa lesão além da reação moderada. Excesso na causa Fala-se em excesso na causa quando há “inferioridade do valor do bem ou interesse defendido, em confronto com o atingido pela repulsa”. Em casos assim (salvar um maço de cigarro que seria furtado, matando o ladrão), o agente responderá pelo resultado. Excesso exculpante ALBERTO SILVA FRANCO – Trata-se da ocorrência de um excesso, na reação defensiva, que não é, por suas peculiaridades, reprovável, ou melhor, merecedor de apenação. Não se cuida de excesso culposo porque, neste, o excesso deriva da falta do dever objetivo de cuidado, enquanto que, naquele, há um excesso resultante de medo, surpresa ou de perturbação de ânimo. ROGÉRIO GRECO – com o chamado excesso exculpante busca-se eliminar a culpabilidade do agente, ou seja, o fato é típico e antijurídico, deixando, contudo, de ser culpável, em virtude de, no caso concreto, não poder ser exigida do agente outra conduta que não aquela por ele adotada. Tal tipo de excesso possuía previsão no CP de 1969. Com a reforma de 1984, contudo, não houve tal previsão expressa, sendo o excesso escusável tratado por nossa doutrina e jurisprudência como causa supralegal de exclusão de culpabilidade. Como já frisado, o excesso exculpante não se confunde com o excesso culposo. O excesso culposo, como vimos anteriormente, pode ocorrer em duas situações: a) derivado de erro inescusável nas descriminantes putativas ou; b) aquele que chamamos de excesso culposo em sentido estrito, porque, ocorrido em razão da não-observância de um dever de cuidado que era exigido no caso concreto. Já no excesso exculpante, o pavor da situação em que se encontra envolvido o agente é tão grande que não lhe permite avaliá-la com perfeição, fazendo com que atue além do necessário para fazer cessar a agressão. Essa sua perturbação mental o leva, em alguns casos, a afastar a culpabilidade Legítima defesa e aberratio ictus Perfeitamente viável é a hipótese de legítima defesa com erro na execução Pode ocorrer que determinado agente, almejando repelir agressão injusta, agindo com animus defendendi, acabe ferindo outra pessoa que não o seu agressor, ou mesmo a ambos (agressor e terceira pessoa). Nesse caso, embora tenha sido feridaou mesmo morta outra pessoa que não o seu agressor, o resultado advindo da aberração no ataque (aberratio ictus) estará também amparado pela causa de justificação da legítima defesa, não podendo, outrossim, por ele responder criminalmente. Contudo, com relação ao terceiro inocente, permanece a responsabilidade civil do agente. Efeitos civis da legítima defesa Nos termos do art. 188, I, do CCB, aquele que atua em legítima defesa não pratica ato ilícito capaz de suportar a obrigação de indenizar. 5.4.3) Descriminante putativa Trata-se de causa de exclusão da ilicitude imaginária (erro ( de tipo ou de proibição?). O erro de tipo, se inevitável, exclui o dolo; se evitável, exclui a culpa. O erro de proibição, se inevitável, isenta o agente de pena; se evitável, responde pelo crime. Conjugando as descriminantes previstas no art. 23 do CP (causas de legítima defesa) com a situação de putatividade, isto é, aquela situação imaginária que só existe na mente do agente, encontramos as chamadas descriminantes putativas. Quando falamos em descriminantes putativas, estamos querendo dizer que o agente atuou supondo encontrar-se numa situação de legítima defesa, de estado de necessidade, de estrito cumprimento de dever legal ou de exercício regular de direito. Ex.: Haveria exercício regular de direito putativo na conduta de quem, na obscuridade, castiga fisicamente um menor, que ele toma pelo próprio filho, quando se tratava do filho do vizinho. Como qualquer erro, aqueles ocorridos numa situação de putatividade podem ser considerados escusáveis ou inescusáveis. Aqui reside a chamada culpa imprópria, que ocorre justamente nas hipóteses em que o agente atua com dolo, mas responde como se tivesse cometido um delito culposo. Há 3 espécies de descriminantes putativas: · Sobre os limites da justificante – ignora os limites da justificante, ex.: pensa estar autorizado a reagir com um tiro. O agente conhece a situação de fato (conhece os limites da reação); · Sobre a permissão da ação – acredita poder subtrair bens do furtador. O agente conhece a situação de fato. Supõe erroneamente estar autorizado a agir Essas primeiras hipóteses são equiparadas a erro de proibição – erro de proibição indireto. O sujeito sabe o que faz, domina a situação de fato e ignora a proibição. · Sobre situação de fato – ex.: imagina uma agressão injusta que não existe. Nas outras duas o agente domina a situação de fato. Quanto a esta última (erro sobre a situação de fato) – encontra no art. 20, parágrafo 1º, do CP` § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 1ª corrente: se o erro for evitável, exclui o dolo; se inevitável, exclui o dolo ou a culpa – teoria limitada da culpabilidade. Para a teoria limitada, se o erro do agente vier a recair sobre uma situação fática, estaremos diante de um erro de tipo, que passa a ser denominado erro de tipo permissivo; caso o erro do agente não recaia sobre uma situação de fato, mas sim sobre os limites ou a própria existência de uma causa de justificação, o erro passa a ser, agora, o de proibição. 2ª corrente: se o erro for inevitável: isenta de pena; se o erro for evitável, diminui a pena – teoria extremada da culpabilidade. Segundo ASSIS TOLEDO, para a teoria extremada da culpabilidade, todo e qualquer erro que recaia sobre uma causa de justificação é erro de proibição, não importando, aqui, distinguir se o erro em que incorreu o agente incide sobre uma situação de fato, sobre a existência ou mesmo sobre os limites de uma causa de justificação. Natureza jurídica do art. 20, parágrafo 1º, do CP: 1ª corrente: para LFG, tal parágrafo adotou a teoria extremada sui generis, pois, no caso de erro evitável, pune o fato na modalidade culposa por razões de política criminal. 2ª corrente: prevalece que o Brasil adotou a teoria limitada – argumentos: 1. Quando se exclui culpa, o agente está “isento de pena”; 2. Posição topográfica da descriminante putativa sobre situação de fato; 3. Exposição de motivos do CP – o Brasil adotou a teoria limitada da culpabilidade. Concluindo com a teoria limitada da culpabilidade, se o erro sobre a causa de justificação recair sobre uma situação de fato, o erro é de tipo (art. 20, §1º, do CP); se incidir sobre a existência ou sobre os limites dessa causa de justificação, o erro é o de proibição (art. 21 do CP). Para a teoria extremada da culpabilidade, todas essas hipóteses são consideradas como erro de proibição. 5.5) CULPABILIDADE 1ª corrente: a culpabilidade não é requisito do crime, mas sua conseqüência, pressuposto de aplicação da pena, juízo de reprovação ou censurabilidade – trata-se da corrente bipartite (crime é formado por FT e ILI). 2ª corrente: a culpabilidade é um terceiro substrato do crime. Juízo de reprovação indispensável para configurar a infração penal (“se o ato não é reprovável, não há crime”) – concursos estaduais fora de São Paulo e concursos federais – adota a corrente tripartite – é a que prevalece. 5.5.1) Dirimentes ou exculpantes da culpabilidade Teoria psicológica da culpabilidade Teoria psicológica normativa da culpabilidade Teoria normativa pura da culpabilidade/teoria extremada da culpabilidade Teoria limitada da culpabilidade · Possui base causalista (encontra dolo e culpa na culpabilidade); · A culpabilidade é dividida em espécies: culpabilidade dolo e culpabilidade culpa. · Há apenas um só elemento: a imputabilidade · Possui base neokantista; · A culpabilidade não tem mais espécies (acabou a culpabilidade dolo e culpabilidade culpa); · A culpabilidade passa a ter elementos: a) imputabilidade; b) exigibilidade de conduta diversa; c) culpa ou dolo (consciência, vontade e consciência atual da ilicitude) – dolo normativo; · Possui base finalista – dolo e culpa não existem mais na culpabilidade, e o dolo só possui consciência e vontade, despida do conhecimento atual da ilicitude – dolo natural · A culpabilidade passa a possuir tais elementos: a) imputabilidade, b) exigibilidade de conduta diversa e c) potencial consciência da ilicitude · Também tem base finalista; · A culpabilidade tem como elementos: a) imputabilidade; b) exigibilidade de conduta diversa; c) potencial consciência da ilicitude; · A única coisa que faz com que as duas sejam diferentes é o fato de entender que o parágrafo primeiro do art. 20 possui outra natureza – o que predomina é que se trata de erro de tipo A) Imputabilidade e suas causas de exclusão A.1) Conceito de imputabilidade – é a capacidade de imputação. É o conjunto de condições pessoais que conferem ao sujeito ativo a capacidade de discernimento de compreensão, para entender seus atos e determinar-se de acordo com esse entendimento. OBS.1: O CP não dá um conceito positivo de imputabilidade, mas diz quais os casos de inimputabilidade – o CP conceitua negativamente a imputabilidade. OBS.2: Imputabilidade é sinônimo de responsabilidade? R.: Da imputabilidade decorre a responsabilidade, não são termos sinônimos. Imunidade absoluta ( o deputado é imputável e não pode ser responsável. A.2) Sistemas de inimputabilidade - há 3 sistemas de inimputabilidade (nada tem a ver com teorias da culpabilidade) Sistema biológico: leva em conta apenas o desenvolvimento mental do agente (doença mental ou idade), independentemente da capacidade de entendimento e autodeterminação. Para esta teoria, todo louco é inimputável. Sistema psicológico: leva em conta somente a capacidade de entendimento e autodeterminação do agente no momento da conduta, independentemente da sua condição mental. Sistema biopsicológico: leva em conta não somente a condição mental do agente, mas também sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento da conduta. A.3) Causas excludentes da imputabilidade – 1. Em razão de anomalia psíquica– art. 26 caput do CP: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Adota-se o sistema biopsicológico – não basta ser louco. No Brasil, nem todo louco é inimputável. OBS.1: O que é doença mental? R.: Deve ser tomada em sua maior amplitude e abrangência, isto é, qualquer enfermidade que venha debilitar as funções psíquicas. Vai depender de perícia. OBS.2: O que é desenvolvimento mental incompleto ou retardado? R.: Entende-se aquele que ainda não concluiu ou não atingiu a maturidade psíquica. No caso do doente mental haverá; denúncia ( processo ( absolvição com sanção penal (precisa do devido processo legal para aplicar a sanção penal – necessita de perícia). O fato não é crime, mas necessita do recebimento da inicial para fazer a perícia no decorrer do processo (é um caso de recebimento da denúncia mesmo não sendo fato típico). Tal sanção penal é a medida de segurança. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O art. 26, parágrafo único, do CP traz o que a doutrina chama de semi-imputável. Aqui há denúncia ( processo ( condenação com pena reduzida ou medida de segurança (a sentença penal é condenatória ( não há exclusão de culpabilidade). 2. Em razão da idade do agente Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Adota-se o sistema biológico. O CP é de 1984 e a menoridade para ele é menor de 18 anos. A CF de 1988 fala a mesma coisa. A CADH, no seu art. 5º, ponto 5, diz que os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível para seu tratamento A CADH não traz a idade do menor, deixando à discricionariedade dos Estados signatários tal escolha – razões de política criminal. O CP e a CF seguem critérios de política criminal e não postulados científicos. Assim, pode a CF ser alterada quanto à menoridade penal? R.: 1ª corrente: o art. 228 da CF é cláusula pétrea, não podendo ser reduzida a menoridade nem mesmo por emenda constitucional – LFG e a maioria doutrinária; 2ª corrente: o art. 228 da CF não é cláusula pétrea, podendo ser reduzida a maioridade – FERNANDO CAPEZ. Menor emancipado que pratica um crime será responsabilizado criminalmente? R.: Emancipação no cível não antecipa a maioridade penal. OBS.: Art. 28, I, do CP Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Emoção: é o estado súbito e passageiro. Paixão: sentimento crônico e duradouro. A emoção não exclui a imputabilidade, mas pode servir como atenuante ou diminuição de pena. A paixão patológica (doentia) equipara-se à doença mental. De resto, não exclui a imputabilidade. 3. Em razão da embriaguez – art. 28, parágrafo 1º, do CP § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Embriaguez é a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool, cujos efeitos podem progredir desde uma ligeira excitação até o estado de paralisia e coma. O CP equipara o álcool a qualquer substância de efeitos análogos. Embriaguez quanto à origem Embriaguez quanto ao grau Acidental: · Caso fortuito – o agente ignora o efeito inebriante da substância; · Força maior – o agente é obrigado, forçado a ingerir a substância que ignora o efeito inebriante; Não-acidental: · Voluntária – o agente quer se embriagar · Culposa - negligente Patológica – é a doentia – será tratada nos termos do art. 26 do CP. Pode ser completa ou semi-completa. Cai no caso de doença mental. Preordenada – o agente se embriaga para praticar crime. Pode ser completa ou incompleta Completa – retira capacidade de entendimento e também da autodeterminação. Incompleta – diminui a capacidade de entendimento e autodeterminação. Níveis de embriaguez – 1º) fase da excitação; 2º) depressão; 3º) letargia (coma alcoólico). A embriaguez só é completa nos dois últimos níveis (depressão e letargia). Na primeira fase se trata de uma embriaguez incompleta. A embriaguez acidental completa exclui a culpabilidade – art. 28, parágrafo 1º, do CP. A embriaguez acidental incompleta diminui a pena – art. 28, parágrafo 2º, do CP. O sistema adota é o biopsicológico. A voluntária completa ou incompleta. não exclui a imputabilidade. A embriaguez preordenada não só exclui a imputabilidade como também serve como agravante de pena – art. 61, II, l, do CP. Adota-se nos casos de embriaguez a teoria da actio in libera causa – o embriagado só responderá pelo crime em razão desta teoria. 08.06.2009 Teoria da actio in libera causa – o ato transitório revestido de inconsciência decorre de ato antecedente que foi livre na vontade, transferindo-se para este momento anterior a constatação da imputabilidade. OBS.: A aplicação indiscriminada desta teoria pode redundar em responsabilidade penal objetiva. Ex.: motorista, completamente embriagado, atropela e mata pedestre. ATO ANTECEDENTE LIVRE NA VONTADE ATO TRANSITÓRIO REVESTIDO DE INCONSCIÊNCIA Previu o atropelamento; quis o atropelamento Embriaguez completa (observar-se-á o momento em que a pessoa era livre na vontade) – DOLO DIRETO Previu o atropelamento; aceitou o resultado Embriaguez completa (antecede a análise para o momento em que ele era livre na vontade) – DOLO EVENTUAL Previu o resultado; imaginou evitá-lo Embriaguez completa (observar-se-á o momento em que a pessoa era livre na vontade) – CULPA CONSCIENTE Enquanto bebia, não previu o atropelamento, porém era previsível Embriaguez completa (observar-se-á o momento em que a pessoa era livre na vontade) – CULPA INCONSCIENTE Não previu o atropelamento; o atropelamento era imprevisível (mesmo não estando bêbado, não dava para prever que havia uma pessoa dormindo no meio da rodovia) Não se usa a teoria da actio in libera causa. OBS.: E o índio selvagem, é inimputável? R.: O simples fato de ser índio, ainda que selvagem, não o torna inimputável. Para que o índio seja inimputável ele deve ser menor de 18 anos, doente mental ou estar embriagado completo. Ele pode ser imputável, mas dependendo, não será culpável (verá no próximo tópico). B) Potencial consciência da ilicitude Para que o injusto penal seja culpável, não basta a capacidade de imputação do agente (imputabilidade), sendo imprescindível a sua potencial consciência da ilicitude. Art. 21 do CP Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 1ª Situação: o agente ignora a lei sem ignorar a ilicitude do fato ( responde pelo crime (fato típico, ilícito e culpável), com diminuição de pena. Ex.: era muito comum na época do adultério (sabe que a conduta é errada, mas não sabia que se tratava de um crime 2ª situação:o agente ignora a lei e a ilicitude fato (fato típico, ilícito e não culpável) ( está diante de um erro de proibição. Ex.: a pessoa chega para outra e fala que acabou de fabricar açúcar em casa e descobre que não poderia ter fabricado, pois há um decreto que pede para que se tena autorização para tanto. 3ª situação: o agente não ignora a lei, mas ignora a ilicitude do fato (ele sabe que a conduta é típica, mas não que a sua conduta estava se inserindo naquele tipo ( erro de proibição, evitável ou inevitável. Espécies de erro de proibição: · Erro de proibição direto – recai sobre seu comportamento; o agente acredita sinceramente que sua conduta é lícita, ex.: turista, no Brasil, que traz consigo maconha para uso próprio, pois em seu país tal comportamento é permitido; · Erro de proibição indireto – ocorre quando o agente supõe que seu comportamento, ainda que típico, é amparado por uma causa excludente da ilicitude; · Erro de proibição evitável – o erro do agente deriva de culpa, pois lhe era previsível. Não isenta de pena, mas pode servir como causa de diminuição (permanece a potencial consciência da ilicitude); · Erro de proibição inevitável – o erro era imprevisível. Isenta o agente de pena, desaparecendo com a potencial consciência da ilicitude. OBS.: Qual a importância da passagem da teoria psicológica normativa para a teoria normativa pura da culpabilidade no que diz respeito ao erro de proibição? R.: Na teoria psicológica da normatividade, a culpabilidade era composta pela imputabilidade, pela exigibilidade de conduta diversa, culpa, dolo, este composto pela consciência, vontade e consciência atual da ilicitude (dolo normativo). Na teria normativa pura da culpabilidade, a culpabilidade é formada pela imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e o consciência potencial da ilicitude. Quando a consciência da ilicitude era atual (teoria psicológica normativa), qualquer espécie de erro de proibição, evitável ou inevitável, excluía a culpabilidade. Passando à potencial consciência (teoria normativa pura), somente o erro de proibição inevitável exclui a culpabilidade. Se evitável, só diminuirá a pena, pois a potencial consciência não desaparece. C) Exigibilidade de conduta diversa Não é suficiente que o sujeito seja imputável e tenha cometido o fato com possibilidade de lhe conhecer o caráter ilícito para que surja a reprovação social (culpabilidade). Além dos dois primeiros elementos, exige-se a capacidade de realizar outra conduta, de acordo com o ordenamento jurídico. Hipóteses de inexigibilidade de conduta diversa: Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) C.1) Coação moral irresistível – (art. 22, primeira parte, CP). Tem como requisitos: · A coação deve ser moral (se for coação física, exclui o fato típico). Tal coação moral irresistível pode ser direcionada a outra pessoa, ligado ao coagido. · A coação deve ser irresistível - se for uma coação moral resistível, haverá atenuante de pena (art. 65, III, do CP); Ex.: “A” coage de forma irresistível “B” a matar “C”. De “B” era inexigível conduta diversa. “A” responderá pelo o art. 121 do CP + crime de tortura, (art. 1º, I, “b”, da Lei de Tortura). Não responderá pelo homicídio + agravante de coação. OBS.: Pode uma pessoa alegar coação moral irresistível da sociedade? R.: A sociedade não pode delinqüir, pois onde ela existe, aí está também o Direito. Assim, a coação irresistível há que partir de uma pessoa ou de um grupo e nunca da sociedade (RT 477/342). C.2) Obediência hierárquica – art. 22, segunda parte, do CP. Tem como requisitos: · Que a ordem não seja manifestamente (claramente) ilegal; · Oriunda de superior hierárquico – ordem de superior hierárquico é a manifestação de vontade do titular de uma função pública a um funcionário que lhe é subordinado, para que realize uma conduta. Estão excluídas as hierarquias familiares, privadas e eclesiásticas. Só é punível o ator da ordem. C.3) Culpabilidade: elementos x dirimentes IMPUTABILIDADE ( art. 26, caput; ( art. 27; ( art. 28, parág. 1º ROL TAXATIVO POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE ( art. 21 ROL TAXATIVO EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA ( art. 22 ROL EXEMPLIFICATIVO Por mais previdente que seja o legislador, não tem condições de prever todos os casos em que a inexigibilidade de conduta diversa deve excluir a culpabilidade. Assim, é possível a existência de um fato não previsto em lei como causa de exclusão da culpabilidade (dirimentes supralegais), exs.: abortamento do feto anancefálico para a gestante (BITENCOURT – hipótese de inexigibilidade de conduta diversa para a gestante); legítima defesa futura e certa; estado de necessidade exculpante (CONCURSO DE DELEGADO DE POLICIA EM MINAS GERAIS – SEGUNDA FASE). 6) PUNIBILIDADE 6.1) CONCEITO É o direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário da norma penal incriminadora, contra quem praticou um fato típico, ilícito, sendo demonstrada sua culpabilidade. É o direito de punir. Não é requisito do crime, mas sua conseqüência jurídica. 6.2) LIMITES AO DIREITO DE PUNIR Limite temporal Ex.: prescrição. Limite espacial Ex.: Princípio da territorialidade – art. 5º do CP. Limite modal Ex.: Princípio da humanidade das penas. 6.3) HIPÓTESES EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE 1º) Na parte geral do CP há o art. 107 (rol exemplificativo); 2º) Parte especial (que não está no art. 107): art. 312, parágrafo 3º, do CP – reparação do dano no crime de peculato culposo. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. 3º) Legislação extravagante – a) transação penal; b) crimes contra a ordem tributária; c) suspensão condicional do processo. 4º) Constituição Federal – apesar de controvertido, há quem entende que a imunidade parlamentar absoluta exclui a punibilidade. O STF entende que é caso de exclusão de tipicidade. OBS.: Causa supralegal de exclusão do fato típico – princípio da insignificância; causa supralegal de exclusão da ilicitude – consentimento do ofendido; causa supralegal de exclusão da culpabilidade – por ex.: abortamento eugênico para a gestante; causa supralegal de exclusão de punibilidade – súmula 554 do STF – pagamento do cheque emitido sem fundo antes do recebimento da denúncia (lida a contrario sensu). 6.4) CAUSAS EXTINTIVAS DE PUNIBILIDADE DO ART. 107 DO CP 6.4.1) Morte do agente Agente nada mais é do que o investigado, acusado, recorrente ou recorrido, executado. A morte do agente extingue a punibilidade a qualquer tempo – principio da personalidade da pena (art. 5º, XLV, da CF). A morte do agente só faz desaparecer os efeitos penais – os efeitos civis permanecem – a sentença continua valendo como título executivo. Trata-se de uma causa de extintiva de punibilidade personalíssima – só extingue a punibilidade de quem morreu. Tal causa pressupõe prova – art. 62 do CPP ( Somente à vista da certidão de óbito e depois de ouvido o MP, o juiz declarará extinta a punibilidade no caso de morte do acusado – a prova é rígida, só pode ser prova mediante certidão de óbito. A doutrina também aceita tal declaração através da declaração de ausência – morte presumida no cível. OBS.1: Extinção da punibilidade em razão de certidão de óbito falsa – conseqüências: 1ª corrente – considerando haver decisão transitada em julgado, sendo vedada a revisão criminal em benefício da sociedade (contra o réu), só resta apurar o crime de falsidade documental – a maioria da doutrina entende assim. 2ª corrente – a certidão é falsa e atesta um fato inexistente; a sentença se fundamentou num fato inexistente, sendo uma sentença inexistente e seus efeitos não sofrem a qualidade de coisa julgada. Assim, o agente voltará a responder por latrocínio e (agoratambém) por falsidade documental – ***é a posição do STF. OBS.2: A morte do agente não impede a revisão criminal. OBS.3: A morte do agente impede a reabilitação? R.: A morte do agente impede a reabilitação. OBS.4: Morte da vítima pode extinguir a punibilidade – ex.: crime de ação penal privada personalíssima - art. 236 do CP. 6.4.2) Anistia, graça e indulto A anistia, graça e indulto são formas de renúncia estatal ao direito de punir. Cabe assim A.G.I em delito de ação penal privada? R.: Na ação penal transfere-se o direito de agir, o direito de perseguir a pena, mas o direito de punir continua com o Estado. Logo, cabe A.G.I em delito de ação penal privada. A) Anistia Espécie de ato legislativo federal (Congresso Nacional), ou seja, lei penal, devidamente sancionada pelo Executivo, através da qual o Estado, em razão de clemência, política, social etc., esquece um fato* criminoso, apagando todos seus efeitos penais (os efeitos civis permanecem). Tal lei penal se chama anômala. (*) – diferença com a abolitio criminis – na abolitio criminis exclui-se a lei (supressão da figura criminosa); na anistia exclui-se o fato em concreto (a lei permanece) A.1) Classificação doutrinária de anistia – é divida em: · Própria – concedia antes da condenação; imprópria – concedida após a condenação; · Irrestrita – quando atinge a todos os criminosos indistintamente; restrita – quando atinge certos criminosos, exigindo condições pessoais, ex.: exigindo primariedade; · Incondicionada – quando a lei não impõe qualquer requisito para a sua concessão; condicionada – quando a lei impõe algum requisito para a sua concessão, ex.: só faz jus à anistia quem reparar o dano; · Comum – a anistia recai sobre crime comum; especial – recai sobre crime político. Uma vez concedida, não pode a anistia ser revogada, porque a lei posterior revogadora prejudicaria os anistiados, violando o art. 5º, XL, da CF. B) Graça e indulto São benefícios concedidos ou delegados pelo Presidente da República, via decreto presidencial, pressupondo a existência de uma sentença penal condenatória transitada em julgado*, atingindo somente os efeitos executórios, subsistindo o crime, a condenação e seus efeitos secundários. Pode-se delegar tal função ao AGU, PGR ou Ministros de Estado. (*) – basta estar transitada em julgada para a acusação – admite-se a execução provisória para acusado preso – STF. DIFERENÇAS GRAÇA INDULTO Tem destinatário certo (indulto individual) Não tem destinatário certo (indulto coletivo) Depende de provocação Concedido de ofício 22.06.2009 6.4.3) A retratação do agente, nos casos em que a lei admite Retratar-se não significa confessar-se. Retratação é desdizer o que disse; trazer a verdade novamente à tona. Quem se retrata é o agente. A lei deve prever tal possibilidade de retratação. Ex.: art. 143 do CP – a retratação extingue a punibilidade da calúnia e da difamação; art. 342, parágrafo 2º - falso testemunho e falsa perícia; a lei de imprensa prevê a retratação na injúria, na calúnia e da difamação – ADPF 130 – Lei de Imprensa não foi recepcionada pela CF de 1988 (hoje, nos crimes contra a honra praticados pela imprensa, aplica-se a norma geral – as do CP – quanto à injúria, como no CP não se prevê retratação neste crime, mesmo praticado por imprensa, não caberá a retratação do agente). Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena. Art. 342, § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) A retratação é um ato unilateral; resgatada a verdade, o juiz deve extinguir a punibilidade. Tal instituto evita a punição penal pelo Estado, mas nada impede uma futura ação cível de reparação. OBS.: Até quando a retratação extingue a punibilidade? Retratação – termo final: art. 143 ( “antes da sentença” – sentença de primeiro grau que encerra o processo por crime do art. 138 e 139; art. 342, parágrafo 2º ( antes da sentença de primeiro que encerra o processo em que ocorreu o falso testemunho ou a falsa perícia. OBS.2: A retratação é comunicável? R.: 1ª corrente: ela é subjetiva, logo, é incomunicável; 2ª corrente: no art. 143, o querelado fica isento de pena – a retratação é subjetiva, incomunicável; no art. 342, parágrafo 2º, o fato deixa de ser punível – a retratação é objetiva (relacionada ao fato), logo, comunicável (CAPEZ, LFG – resposta certa para prova da magistratura). (prescrição será falada depois no ponto 9). 7) CONSUMAÇÃO E TENTATIVA, TENTATIVA QUALIFICADA, ARREPENDIMENTO POSTERIOR E CRIME IMPOSSÍVEL 7.1) ITER CRIMINIS É o conjunto de fases que se sucedem cronologicamente no desenvolvimento do delito. Ele é divido em duas macrofases: · Fase interna – divide em duas: · Cogitação – simples idéia do crime. Em razão do princípio da materialização do fato, a cogitação é sempre impunível. Punir a cogitação é direito penal do autor; · Atos preparatórios – o agente procura criar condições para a realização da conduta criminosa (é o conatus remotus). Em regra, é impunível. Exceção: crime de quadrilha ou bando – a doutrina diz que a punição deste crime denota a impaciência do legislador – é absurdo pensar assim! O certo é adotar o entendimento de que, quando o agente é punido pelo crime de quadrilha ou bando, ele já está executando o crime, pois possui previsão legal como crime autônomo; · Fase externa – divide em duas: · Execução - traduz a maneira pela qual o agente atua exteriormente para realizar o verbo nuclear. Existem três teorias diferenciando atos preparatórios e atos executórios: TEORIA DA HOSTILIDADE AO BEM JURÍDICO (CRITÉRIO MATERIAL) Atos executórios são aqueles que atacam o bem jurídico, criando-lhe uma situação concreta de perigo – NELSON HUNGRIA. TEORIA OBJETIVA-FORMAL Ato executório é o que inicia a realização do núcleo do tipo – FREDERICO MARQUES. TEORIA OBJETIVO-INDIVIDUAL Atos executórios são aqueles que, de acordo com o plano do autor, realizam-se no período imediatamente anterior ao começo da execução típica (é um complemento da teoria anterior) – teoria moderna. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS – o certo é trabalhar com as 3 teorias conjuntamente. Nenhuma é, isoladamente, a correta. · Consumação – assinala o instante da composição plena do fato criminoso. CRIME MATERIAL O tipo penal descreve conduta + resultado naturalístico (este é indispensável) CRIME FORMAL/ CRIME DE CONSUMAÇÃO ANTECIPADA O tipo penal descreve conduta + resultado naturalístico (este é dispensável; a consumação dar-se-á com a conduta). O resultado naturalístico caracteriza mero exaurimento do crime. Ex.: extorsão mediante seqüestro. CRIME DE MERA CONDUTA O tipo penal descreve uma mera conduta, sem resultado naturalístico. Ex.: violação de domicílio, ato obsceno etc. OBS.: A consumação não se confunde com o exaurimento. Diz-se crime exaurido (esgotado plenamente) os acontecimentos posteriores ao término do iter criminis. O exaurimento interferirá na pena. 7.2) TENTATIVA Previsão legal: art. 14, II, do CP. Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) É certo falar tentativa de crime ou crime de tentativa? R.: A tentativa não constitui crime sui generis, com pena autônoma. É ela violação incompleta da mesma norma de que o crime consumado representa a violação plena. Portanto, não há crime de tentativa, mas tentativa de crime. Trata-se de uma norma de extensão. 7.2.1) Elementos da tentativa · Início da execução · Não consumação por circunstâncias alheias à vontade · Dolo de consumação (FMB e LFG a inserem) – ROGÉRIO SANCHES – Já está implícito no segundo. 7.2.2) Consequência da tentativa Art. 14 parágrafoúnico, do CP: Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) - Quanto mais distante da consumação, maior a redução. A tentativa é um tipo manco: na consumação o elemento subjetivo e o objetivo possuem o mesmo tamanho; já na tentativa, o elemento subjetivo é completo, mas o elemento objetivo é menor (não pôde ser completado). Subjetivamente, o crime consumado e o tentado são idênticos. Exceções: art. 352 do CP – pune-se a tentativa e a consumação com a mesma pena; crime eleitoral de votar ou tentar votar em nome de outrem – são os chamados de crimes de atentado/crime de empreendimento. Evasão mediante violência contra a pessoa Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. 7.2.3) Formas de tentativa · Quanto ao iter criminis percorrido – a tentativa pode ser: · Perfeita – o agente, apesar de praticar todos os atos executórios a sua disposição, não consegue consumar o delito por circunstâncias alheias a sua vontade. Também é chamada de tentativa acabada, crime falho · Imperfeita – o agente é impedido de prosseguir na execução, não conseguindo esgotar os atos executórios a sua disposição. Também é chamada de tentativa inacabada; · Quanto ao resultado produzido na vítima – a tentativa se divide em: · Cruenta – a vítima é atingida. Também chamada de tentativa vermelha. · Não cruenta – a vítima não é atingida. Também chamada de tentativa branca · Quanto à possibilidade de alcançar o resultado – pode ser: · Idônea - o resultado era possível de ser alcançado; · Inidônea – resultado não era possível de ser alcançado. Sinônimo de crime impossível. 7.2.4) Infrações penais que não admitem tentativa OBS.: Crime que só é típico sob a forma tentada - crime de lesa patria – Lei 7170/83 – art. 11. Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país independente – se conseguir desmembrar, um novo país surgirá (não há como punir). Não admitem tentativa: · Crime culposo – não faz parte da vontade do agente; não há dolo de consumação. OBS.: Existe minoria admitindo a tentativa na culpa imprópria; · Crime preterdoloso – pela mesma razão do crime culposo. OBS.: A doutrina moderna admite tentativa em crime preterdoloso quando a parte frustrada é a dolosa ocorrendo o resultado culposo. Exs.: 1º) aborto qualificado pela morte da gestante – crime preterdoloso ( médico não interrompe a gravidez, mas a gestante morre (é a parte dolosa que ficou frustrada) ( responde por tentativa de aborto qualficado (Prova da PC/DF); 2º) estupro qualificado pela morte da vítima – crime preterdoloso ( a morte da vítima é resultado qualificador culposo; o agente não conseguindo introduzir o pênis na vagina, mas mesmo assim a vítima morreu ( responde por tentativa de estupro qualificada pela morte; · Contravenção penal – OBS.: é errado dizer que não admite tentativa – art. 4º da LCP – a tentativa não é punível – ela pode existir, mas não é punida; · Crime de atentado – ela já pune a tentativa com a pena da consumação. OBS.: ROGÉRIO GRECO discorda ( crime de atentado só não admite a redução da tentativa, mas é possível (ela foi realizada, mas a sua pena é a mesma da consumação); · Crimes habituais – o fato típico exige reiteração de atos. Um ato é fato atípico; dois atos é ato consumado. OBS.: A minoria admite a tentativa – ex.: curandeiro está curando um paciente e tem uma fila de pacientes esperando; · Crimes unisubsistentes – a sua execução não admite fracionamento, exs.: crimes omissivos puros (omissão de socorro, por ex.); crimes de mera conduta – exceção: violação de domicílio (art. 135 do CP); · Crimes que só são puníveis quando ocorre determinado resultado – participação em suicídio, por ex. CEZAR ROBERTO BITENCOURT admite tentativa quando no suicídio resultado lesão grave (minoria); · Crimes com dolo eventual – há doutrinadores não admitindo a tentativa nestes crimes. 7.5) TENTATIVA QUALIFICADA OU ABANDONADA É gênero que tem como espécie a desistência voluntária e o arrependimento eficaz. Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução (I) ou impede que o resultado se produza (II), só responde pelos atos já praticados.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 7.5.1) Desistência voluntária A) Conceito O sujeito ativo abandona a execução do crime quando ainda lhe sobra, do ponto de vista objetivo, uma margem de ação. B) Elementos Art. 14, II Art. 15, primeira parte, do CP Início da execução e não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente Início da execução e não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente. O agente quer prosseguir, mas não pode. O agente pode prosseguir, mas não quer. OBS.: A desistência deve ser voluntária, o que não se confunde com espontânea. O que é voluntário admite influência externa; espontânea não. Voluntária não se confunde com espontânea. Voluntária é a desistência sugerida ao agente e ele assimila, subjetiva e prontamente esta sugestão, esta influência externa de outra pessoa. Se a causa que determina a desistência é circunstância exterior, uma influência objetiva (acender luz, tocar alarme, barulho de sirene) que compele o agente a renunciar o propósito criminoso, haverá tentativa. C) Consequências da desistência voluntária O agente responde pelos atos até então praticados. OBS.: O adiamento da execução configura desistência voluntária? R.: Há duas correntes: 1ª corrente: a desistência momentânea é irrelevante (deve ser sempre definitiva); logo, configura tentativa. 2ª corrente: se o agente apenas suspende a execução e continua a praticar o crime posteriormente, aproveitando-se dos atos já cometidos, haverá tentativa. Se não mais renova a execução por sua vontade, ocorrerá a desistência voluntária – corrente majoritária. 7.5.2) Arrependimento eficaz A) Conceito Ocorre quando o agente, desejando retroceder na atividade delituosa percorrida, desenvolve nova conduta, após terminada a execução criminosa. É também chamada de resipiscência – ZAFFARONI Só cabe arrependimento eficaz em crime material? R.: Sim, só cabe em crimes materiais. No arrependimento eficaz há o esgotamento dos atos executórios, mas o agente age para evitar a consumação do delito. Ex.: agente deu dois tiros na vítima, mas ela ainda não morreu. O agente a leva ao hospital, conseguindo o médico a curar. B) Elementos · Início da execução; · Não consumação por circunstâncias inerentes à vontade do agente. C) Consequências O agente responde somente pelos atos até então praticados. Aqui, basta também a voluntariedade, não precisando ser espontâneo. O arrependimento deve ser eficaz. Não adianta o agente socorrer a vítima e esta vir a óbito. O arrependimento ineficaz pode servir como mera atenuante de pena. 09.07.2009 7.6) ARREPENDIMENTO POSTERIOR – ART. 16 DO CP É uma causa geral de diminuição de pena, favorecendo autor de crime não violento que se arrepende posteriormente à consumação, porém antes do recebimento da inicial. Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Na desistência voluntária o agente desiste de prosseguir quando ainda havia atos de execução a serem praticados. No arrependimento eficaz o agente esgota os atos executórios, mas retrocede para evitar o resultado. No arrependimento posterior presume-se crime consumado. 7.6.1) Requisitos legais do arrependimento posterior · Crime praticado não seja violento ou mediante grave ameaça à pessoa – crime violento culposo admite arrependimento posterior, ex.:lesão corporal culposa no trânsito. A violência contra a coisa não impede o arrependimento posterior, ex.: furto qualificado pelo rompimento de obstáculo. Roubo admite arrependimento posterior? R.: Entende-se majoritariamente que cabe no roubo sem violência própria cabe arrependimento posterior, ex.: uso de psicotrópicos, “boa noite cinderela”. Há uma minoria que entende que a violência imprópria não descaracteriza a violência, não cabendo o arrependimento posterior; · Reparação do dano ou restituição da coisa – somente a reparação do dano integral e a restituição integral da coisa admite o arrependimento posterior. Se a vítima se der por satisfeita pela reparação ou restituição parcial, a jurisprudência admite o arrependimento posterior; · Desde que feito até o recebimento da denúncia ou da queixa; · Por ato voluntário do agente – admite interferência externa (não falou em ato espontâneo). Preenchido os requisitos, o juiz deverá aplicar o instituto – trata-se de direito subjetivo do acusado. Reduz a pena de 1 a 2/3 – variará de acordo com a rapidez da reparação. OBS.1: O arrependimento posterior é comunicável a co-autores e partícipes? R.: 1ª corrente: ele é comunicável a co-autores e partícipes (basta um se arrepender que ele se estende a todos) – corrente majoritária; 2ª corrente: ele é incomunicável – depende de ato voluntário do agente (trata-se de circunstância subjetiva) – corrente minoria. OBS.2: estelionato mediante emissão de cheque sem fundo. Súmula 554 do STF – o pagamento de cheque emitido sem previsão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal – quer dizer que, se for antes do recebimento da denúncia, obstará o prosseguimento da mesma. 7.7) CRIME IMPOSSÍVEL – ART. 17 DO CP Sinônimos: tentativa inidônea, quase-crime, crime oco. 7.7.1) Teorias do crime impossível A) Teoria sintomática Com sua conduta, demonstra o agente ser perigoso, razão pela qual deve ser punido, ainda que o crime se mostre impossível de ser consumado – crítica: É um verdadeira direito penal do autor. B) Teoria subjetiva Sendo a conduta subjetivamente perfeita (vontade consciente de praticar o crime), deve o agente sofrer a mesma pena cominada ao delito tentado. Crítica: é um resquício ao direito penal do autor. C) Teoria objetiva Crime é conduta e resultado. Este (o resultado) configura dano ou perigo ao objeto jurídico. A execução deve ser idônea para se configurar o crime. Ela se divide em duas: · Teoria objetiva pura – não há tentativa mesmo que a inidoneidade seja relativa; · Teoria objetiva temperada – a ineficácia do meio e a impropriedade do objeto devem ser absolutas, pois se relativas, haverá tentativa – adotada pelo nosso CP Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 7.7.2) Elementos do crime impossível · Início da execução · Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente · Resultado absolutamente impossível de ser alcançado – por absoluta ineficácia do meio ou por absoluta impropriedade do objeto material. 7.7.3) Absoluta ineficácia do meio Inidoneidade absoluta do meio. Falta potencialidade causal, pois os instrumentos postos a serviço da conduta não são eficazes, em hipótese alguma, para produção do resultado. Ex.: abortamento por meio de rezas e despachos. 7.7.4) Inidoneidade absoluta do objeto material A pessoa ou a coisa que representa o ponto de incidência da conduta não serve à consumação do delito. Ex.: Abortamento em mulher que apresenta gravidez meramente psicológica. 8) CONCURSO DE PESSOAS Nada mais é do que o número plural de pessoas concorrendo para o mesmo evento. 8.1) CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DE CRIMES QUANTO AO CONCURSO DE PESSOAS · Crime monossubjetivo – pode ser praticado por 1 ou mais pessoas – também é um crime de concurso eventual. É a regra do CP; · Crime plurissubjetivo – só pode ser praticado por número plural de pessoas – crime de concurso necessário · Crime plurissubjetivo de condutas paralelas – as várias condutas se auxiliam mutuamente (umas às outras), ex.: quadrilha ou bando; · Crime plurissubjetivo de condutas convergentes – as condutas convergem/voltam-se para o mesmo fim, ex.: era o adultério; bigamia. · Crime plurissubjetivo de condutas contrapostas – as condutas voltam-se umas contra as outras, ex.: rixa. O assunto concurso de pessoas só tem importância para os crimes monossubjetivos, pois nos crimes plurissubjetivos o concurso já é elementar do delito. 8.2) AUTOR São 3 teorias que explicam o que seja autor: · Teoria restritiva (ou objetiva) – Para esta teoria, autor é aquele que pratica a conduta descrita no tipo; · Teoria extensiva (ou subjetiva ou unitária) – situação de diametralmente oposta a do conceito restritivo. Para esta teoria, autor é todo aquele que, de qualquer modo, concorre para o resultado (não se distingue autor de partícipe); · Teoria do domínio do fato – autor é quem tem o poder de decisão, não necessariamente executando o núcleo do tipo. Só se aplica aos crimes dolosos, sendo inaplicável aos crimes culposos. Prevalece a teoria restritiva na doutrina e jurisprudência. Todavia, o STF já deu clara amostra de que está trabalhando com a teoria do domínio do fato. 8.2.1) Conceito de co-autor · Teoria restritiva – pluralidade de pessoas praticando o núcleo do tipo; · Teoria extensiva – pluralidade de pessoas concorrendo, de qualquer modo, para a prática do crime; · Teoria do domínio do fato – pluralidade de pessoas com o poder de decisão. OBS.1: O que vem a ser co-autor sucessivo? R.: A regra é que todos os co-autores iniciem, juntos, a empreitada criminosa. Mas pode acontecer que alguém, ou mesmo um grupo, já tenha começado a percorrer a execução, quando outra pessoa adere à conduta criminosa daquela, unidos pelo vínculo subjetivo. O que aderiu é o autor sucessivo. A co-autoria sucessiva só é possível até a consumação – pessoa que adere após a consumação pode ser autora de crime autônomo. OBS.2: É possível co-autoria em crime de mão-própria? R.: CRIME COMUM CRIME PRÓPRIO CRIME DE MÃO PRÓPRIA Não exige condição especial do agente Exige condição especial do agente Exige condição especial do agente Admite co-autoria e participação Admite co-autoria e participação. Só admite participação. O crime de mão própria também é chamado de crime de conduta infungível ou crime de atuação pessoal. Ex.: furto Ex.: peculato Ex.: falso testemunho* (*) – Advogado induz testemunha a mentir – a doutrina entende que a testemunha responde pelo o art. 342 do CP e o advogado responde pelo o art. 342 do CP como partícipe. O STF entende que testemunha e advogado são co-autores de falso testemunho (?!). Muitos autores dizem que, quando o STF diz “co-autor”, faltou com a devida técnica. Outros autores dizem que o STF adotou a teoria do domínio do fato, por isso que os dois seriam co-autores. 8.3) PARTÍCIPE É o coadjuvante do crime (fato determinado praticado por autor conhecido e individualizado). Há duas espécies de partícipes: · Partícipe moral – o que induz ou instiga. Induzir é fazer nascer a idéia criminosa. Instigar é reforçar idéia já existente. · Partícipe material – o que auxilia o autor. Auxiliar é dar assistência material (emprestar um carro para o crime, por ex.). 8.3.1) Punibilidade do partícipe A participação é um comportamento acessório. A punibilidade da participação é baseada na teoria da acessoriedade: · Teoria da acessoriedade mínima – pune-se o partícipe apenas quando concorre para um fato típico (basta o fato ser típico) – crítica: o partícipe é punido e o autor não?!; · Teoria da acessoriedade média ou limitada – pune-se o partícipe apenas quando concorre para um fato típico e ilícito, ainda que não culpável – prevalece esta teoria no Brasil; · Teoria da acessoriedade máxima – pune-se o partícipe apenas quando concorre para um fato típico, ilícito e culpável;· Teoria da hiperacessoriedade – pune-se o partícipe apenas quando concorre para um fato típico, ilícito, culpável e punível 8.4) AUTOR MEDIATO É o personagem que não se encaixa no conceito de autor (pois não realiza o núcleo do tipo) nem se encaixa no conceito de partícipe (pois não é mero participante). Considera-se autor mediato aquele que, sem realizar diretamente a conduta prevista no tipo, comete o fato punível por meio de outra pessoa usada como seu instrumento O CP prevê 4 hipóteses expressas de autoria mediata: a) erro determinado por terceiro – art. 20, §2º do CP; b) coação moral irresistível – art. 21, 1ª parte, do CP; c) obediência hierárquica – art. 22, 2ª parte, do CP; d) caso de instrumento impunível – art. 62, III, do CP. Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) OBS.: Crime próprio admite autoria mediata? R.: Admite. A maioria entende que mulher pode ser autora mediata do crime de estupro. OBS.2: O que é autor de escritório? R.: Forma especial de autoria mediata, pressupõe uma máquina de poder, determinando a ação de funcionários, aos quais, no entanto, não podem ser considerados meros instrumentos nas mãos dos “chefões”. O autor de escritório tem poder hierárquico sobre seus soldados (ex.: líderes do PCC). 8.5) REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS · Pluralidade de pessoas; · Relevância causal das várias condutas; · Liame subjetivo entre os agentes OBS.1: Deve o concorrente estar animado da consciência que coopera e colabora para o ilícito, convergindo sua vontade ao ponto comum da vontade dos demais participantes. OBS.2: É indispensável homogeneidade de elementos subjetivos (só concorre dolosamente em crime doloso; só concorre culposamente em crime culposo). OBS.3: Não se exige a acordo de vontades, reclamando apenas vontade de participar e cooperar na ação de outrem. Autoria colateral Fala-se em autoria colateral quando 2 agentes, embora convergindo suas condutas para a prática do mesmo fato, não atuam unidos pelo liame subjetivo. Ex.: A e B querem matar C. Não estão unidos pelo liame subjetivo (um não sabe do outro). A deu um tiro; B deu um tiro. C morreu em razão do tiro de B. Consequência: A responde por tentativa; B responde por consumação. Autoria incerta Nada mais é do que espécie de autoria colateral, porém não se consegue determinar qual dos comportamentos causou o resultado. Ex.: Mesmo exemplo acima, mas no final não consegue saber qual que realmente matou C. Consequência: ambos respondem por tentativa – in dubio por reo. OBS.: O que é autoria indeterminada, desconhecida ou ignorada? R.: É matéria de processo penal, não se apurando a identidade dos autores do crime. · (tem doutrina colocando como 4º requisito do concurso de pessoas a identidade de infração penal – não é requisito, mas sim conseqüência regra do concurso de agentes – art. 29 do CP). A regra trazida pelo CP é a teoria monista (pluralidade agentes e unidade de infração penal). Exceção: teoria pluralista (pluralidade de agentes e pluralidade de infrações penais) exs.: art. 124 e 126 – agente que consente para o abortamento e o terceiro que aborta; art. 317 e 333 – corrupção passiva e ativa; art. 318 e 334 – facilitação de contrabando e descaminho e o crime de contrabando e descaminho; art. 342, §1º e 343 – falso testemunho e que solicita para que a testemunha minta em juízo. 8.6) PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA Trata-se de causa de diminuição de pena – art. 29, §1º, do CP § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Entende-se aquela de pequena eficiência para a execução do crime. Assim, o motorista do assalto a banco não é participante de menor importância, por ex. OBS.: É possível co-autoria de menor importância? R.: Não é possível. A lei só admite na participação. § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) A doutrina chama este parágrafo de cooperação dolosamente distinta ou participação em crime menos grave. Ex.: A e B combinam um furto. A fica em estado de vigia. B toma a intimidade da casa. B se depara com os moradores e agride-os. Assim, o que era para ser um furto, transformou-se num furto. B responderá por roubo. Se a violência empregada por B era imprevisível, A responderá por furto. Se a violência empregada por B era previsível (não se fala em “prevista”), A responderá por art. 155 + aumento de até metade (art. 29, §2º, do CP). Se a violência de B foi prevista por A, responderá por roubo. 8.7) CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) UM CRIME POSSUI: ELEMENTARES CIRCUNSTÂNCIAS Agregadas ao fato, interferem no tipo. Ex.: a violência no roubo – se não existir, caracteriza furto (muda de tipo) Agregadas ao fato, interferem na pena. Ex.: roubo a mão armada – se a arma não existir, o crime continua sendo de roubo, mas não será majorado. As elementares podem ser: · Subjetivas – refere-se ao motivo do crime, estado anímico do agente e condição pessoal do autor; · Objetivas – refere-se ao meio e modo de execução. As circunstâncias podem ser: · Subjetivas – refere-se ao motivo do crime, estado anímico do agente e condição pessoal do autor – NÃO SE COMUNICAM AOS CO-AUTORES OU PARTÍCIPES!!! · Objetivas – refere-se ao meio e modo de execução Elementares e circunstâncias objetivas se comunicam ao crime, desde que os partícipes e co-autores saibam de sua existência. OBS.1: A desistência voluntária ou arrependimento eficaz do autor beneficiam o partícipe? R.: Dependerá da corrente adotada: 1ª corrente: a DV e o AE são hipóteses de extinção de punibilidade da tentativa. Sabendo que para punir o partícipe basta que o fato principal seja típico e ilícito (teoria da acessoriedade limitada) o partícipe será punido por tentativa de homicídio, por ex. (tese majoritária); 2ª corrente: a DV e o AE são hipóteses de atipicidade da tentativa. Não sendo típica, não há como se punir o partícipe, beneficiando-se do arrependimento do autor. OBS.2: É possível participação por omissão? R.: Sim, desde que o omitente: a) tenha o dever jurídico de evitar o resultado; b) adira subjetivamente (liame subjetivo); c) relevância da omissão – assim, evitar-se-á a responsabilidade objetiva – o professor disse ser a tese majoritária. Mas numa aula passada disse ser possível OBS.3: É possível a co-autoria em crimes omissivos? R.: 1ª corrente: não admite co-autoria em crime omissivo (seja próprio ou impróprio), pois cada um dois sujeitos detêm o seu dever de agir de modo individual; 2ª corrente: admite-se co-autoria em crime omissivo desde que presentes os requisitos legais. Está bem concorrida qual tese prevalece (a 1ª parece prevalecer). OBS.4: É possível concurso de pessoas em crimes culposo? R.: 1ª corrente: admite-se co-autoria, mas não participação – tese majoritária. O crime culposo é normalmente definido por um tipo penal aberto, e nele se encaixa todo comportamento que viola dever objetivo de cuidado. 2ª corrente: admite-se co-autoria e participação – não é o que prevalece (o passageiro que induziu a alta velocidade do motorista é partícipe). 15.07.2009 9) PRESCRIÇÃO 9.1) CONCEITO É a perda, em face do decurso do tempo do direito de um Estado punir ou executar punição já imposta. Em resumo, é a perda da pretensão punitiva ou executória. Por mais grave que seja o crime, ele, em regra, será prescritível. Hipóteses de imprescritibilidade no Brasil:art. 5º, XLII, XLIV, da CF – crime de racismo e crime de ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional do Estado Democrático de Direito. OBS.: Tortura prescreve! Deve-se lembrar que o Estatuto de Roma diz que os crimes sujeitos ao TPI – Tribunal Penal Internacional – são imprescritíveis e dentre eles se encontra a tortura. OBS.2: Este rol de imprescritibilidade pode ser alterado? R.: A prescrição é uma limitação temporal ao direito de punir (uma garantia fundamental). Assim, não se pode aumentar tal rol (estará aumentando o direito de punir e diminuindo tais garantias – o rol do art. 5º pode ser modificado para garantir mais o cidadão, e não para piorar a sua situação). 9.2) ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO · Prescrição da pretensão punitiva – ocorre antes da condenação definitiva. Ela não gera qualquer efeito, penal ou cível. Ela se divide em 4 espécies: · Prescrição propriamente dita ou em abstrato (art. 109 do CP); · Prescrição superveniente ou intercorrente (art. 109 c.c. art. 110, §1º, do CP); · Prescrição retroativa (art. 109 c.c. art. 110, §2º, do CP); · Prescrição em perspectiva, por prognose, antecipada ou virtual (criação da jurisprudência que o STF não aceita); · Prescrição da pretensão executória – pressupõe condenação definitiva. Só impede a execução da pena; os demais efeitos permanecem (art. 110, caput, do CP). Prescrição – o tempo faz desaparecer o interesse social de punir. Será agora analisado as espécies de prescrição acima elencadas. 9.3) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM ABSTRATO Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano. Tendo o Estado a tarefa de buscar a punição do delinqüente, deve dizer quando esta punição já não mais o interessa. Eis a finalidade do art. 109 do CP. Sendo incerta a quantidade da pena que será fixada pelo juiz na sentença, o prazo prescricional é resultado da combinação da pena máxima em abstrato e a escala do art. 109 do CP (“teoria da pior das hipóteses”). Assim, a base deste tipo de prescrição é a pena máxima em abstrato. OBS.1: Considera-se causa de aumento ou diminuição de pena? R.: Sim. Se houver causa de aumento variável (ex.: aumento de 1/3 a 2/3), usa-se o máximo (teoria da pior das hipóteses). OBS.2: E se haver uma causa de diminuição da pena? R.: Deve-se usar o mínimo de diminuição (usa-se também da teoria da pior das hipóteses). OBS.3: Há uma hipótese em que a causa de aumento de pena não pode ser usada no cálculo da prescrição – concurso de crimes (119 do CP). Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) OBS.4: Consideram-se agravantes e atenuantes para agravar a pena máxima? R.: Não. A lei não diz o quanto deve ser aumentado ou diminuído (é algo subjetivo). Há uma atenuante que reduzirá o lapso prescricional – art. 115 do CP – menoridade e maiores de 70 anos. 9.3.1) Consequências da PPPA 1. Desaparece para o Estado o seu direito de punir, invabilizando qualquer análise de mérito. Hoje, com a reforma do CPP, o art. 397 prevê a extinção de punibilidade como causa de absolvição sumária. ROGÉRIO SANCHES diz ser erro crasso do legislador, já que não poderia tal possibilidade estar naquele rol (falta análise de mérito); 2. Eventual sentença condenatória provisória deve ser rescindida, não se operando qualquer efeito; 3. O acusado não será responsabilizado pelas custas processuais; 4. Direito à restituição integral da fiança 9.3.2) Termo inicial da PPPA - art. 111 do CP Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) – leia-se: do último ato executório III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) - IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) OBS.: Onde se encaixa o crime “casa de prostituição”? R.: O crime está previsto no art. 229 do CP – trata-se de crime habitual. STF – nos crimes habituais, enquanto não cessada a reiteração, não se conta a prescrição (aplicou o espírito do crime permanente). 9.3.3) Interrupção do prazo Tal lapso prescricional pode ser interrompido (“o cronômetro é zerado”), ou seja, passa a iniciar-se novamente. Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - pela decisão confirmatória da pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; (Redação dada pela Lei nº 11.596, de 2007). Combinando o art. 111 com o 117 do CP, há as balizas prescricionais. Se for um crime processado por rito diverso do júri, terão os seguintes momentos prescricionais: · Dato do fato até recebimento da inicial (interrompe); · Recebimento da inicial até a publicação da sentença condenatória (interrompe); · Publicação da sentença condenatória até trânsito em julgado definitivo (interrompe) O juiz de 1º grau condenando o réu; o TJ confirma em sede de recurso (ele não condenou, apenas confirmou) – não interrompe. Mas se o TJ modificar a sentença de 1º grau, condenando o réu, ocorrerá a interrupção do prazo prescricional Se for o rito do júri, terão tais momentos interruptivos do prazo prescricional: · Data do fato até recebimento da denúncia (interrompe); · Recebimento da denúncia até pronúncia (interrompe); · Pronúncia até acórdão confirmatório da pronúncia (interrompe); · Acórdão confirmatório da pronúncia até publicação da sentença condenatória (interrompe); · Publicação da sentença condenatória até trânsito em julgado definitivo (interrompe). Súmula: 191 do STJ A PRONUNCIA É CAUSA INTERRUPTIVA DA PRESCRIÇÃO, AINDA QUE O TRIBUNAL DO JURI VENHA A DESCLASSIFICAR O CRIME. Ex.1: Crime de furto, pena de 1 a 4 anos. Da data do fato até o recebimento da inicial o Estado tem 8 anos para receber a denúncia (art. 109, IV, do CP). Para publicar a sentença condenatória o Estado tem mais 8 anos para tanto. Havendo recurso, o Estado tem,para transitar em julgado, 8 anos. OBS.1: O juiz pode reconhecer tal espécie de prescrição de ofício ou depende de provocação? R.: art. 61 do CPP Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. OBS.2: Ato infracional prescreve? R.: Sim. Súmula: 338 do STJ A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas. 9.4) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA SUPERVENIENTE Art. 110, § 1º - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada. (Redação dada pela Leinº 7.209, de 11.7.1984) Antes da sentença recorrível, não se sabe qual a quantidade da pena a ser fixada pelo juiz, razão pela qual o lapso prescricional regula-se pela pena máxima em abstrato (teoria da pior das hipóteses). Contudo, fixada a pena, ainda que provisoriamente transitando esta em julgado para a acusação (ou sendo o seu recurso improvido), não mais existe razão para se levar em conta a pena máxima em abstrato, já que, mesmo diante de recurso da defesa, é proibida a reforma para pior (em prejuízo do réu). Base: pena imposta na sentença. 9.4.1) Características da PPPS 1. Pressupõe sentença penal condenatória; 2. Pressupõe trânsito em julgado para a acusação (não recorre ou o seu recurso é improvido); 3. Os prazos prescricionais são os mesmos do art. 109 do CP (porém, com base na pena aplicada na sentença); 4. Conta-se a prescrição da publicação da sentença condenatória até o trânsito em julgado definitivo; 5. Tem as mesmas conseqüências da PPPA. Ex.: Furto, pena varia de 1 a 4 anos. Da data do fato até o recebimento da inicial o Estado tem 8 anos para receber a denúncia. Recebida a inicial, o Estado tem 8 anos para publicar a sentença condenatória. Condenado o réu a 1 ano, quanto tempo o Estado terá para julgar em definitivo este caso? R: Se não transitou em julgado para o MP ( terá 8 anos (já que está se trabalhando com 4 anos – pena máxima em abstrato); se transitou para o MP ( terá 4 anos (já se trabalha com a pena aplicada em concreto). A doutrina moderna ensina que eventual recurso da acusação só evita a prescrição superveniente se, buscando o aumento da pena, for provido pelo tribunal (não cabe quanto a não concessão de sursis, por exemplo). OBS.1: O juiz de 1º grau pode reconhecer presente a PPPS? R.: 1ª corrente: o juiz de 1º grau pode reconhecer a PPPS, desde que a pena fixada tenha transitado em julgado para a acusação. Trata-se de matéria de ordem pública, passível de reconhecimento a qualquer tempo – LFG – é a corrente majoritária. 2ª corrente: o juiz de 1º grau não pode reconhecer a PPPS, uma vez que, ao proferir a sentença, esgotou sua atividade jurisdicional – CAPEZ. 9.5) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA Art. 110, § 2º - A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Seguindo as mesmas características e conseqüências da PPPS, temos no art. 110, §2º, a prescrição da pretensão punitiva retroativa com a seguinte peculiaridade: conta-se da data da sentença até o recebimento da denúncia ou do recebimento da denúncia até a data do fato. Ex.: furto, pena de 1 a 4 anos. O Estado tem 8 anos para receber a inicial. O Estado terá 8 anos para publicar a sentença condenatória, mas ele fez isso em 3 anos. Foi condenado em 1 ano (a PPPS é de 4 anos então). Assim, contando da data em que o MP não recorreu para trás já se passaram mais de 4 anos, estando extinta a punibilidade. 9.6) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM PERSPECTIVA OU VIRTUAL Ex.: Estado tem 8 anos para receber a inicial num crie de furto contado da data do fato. Já se passaram 5 anos e a inicial ainda não foi oferecida. Particularidades: o suspeito é primário; não há causas de aumento ou agravante de pena. Já se verifica que ele receberá pena de 1 ano seu crime prescreverá em 4 anos. Todavia, já se passaram mais de 4 anos. Desta feita, há a falta de interesse de agir do Estado, devendo o juiz reconhecer a extinção de punibilidade desde já. Quando entre a data do fato e o recebimento da inicial ou recebimento da inicial e a publicação da condenação se constatar com base nas particularidades objetivas e subjetivas do caso concreto, a certa pena a ser aplicada ao agente, é possível se antecipar o reconhecimento da PPPR, caso de falta de interesse de agir. 9.7) PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Base: Pena em concreto transitada em julgado. Reconhecida esta espécie de prescrição, extingue-se a pena aplicada, sem, contudo, rescindir a sentença condenatória, que produz efeitos penais e extrapenais, tais como reincidência e título executivo. Ex.: entre a data do fato e o recebimento da inicial há a PPPA; entre o recebimento da inicial e a publicação da sentença condenatória há a PPA, entre a publicação da sentença condenatória e o trânsito em julgado há a PPA; do trânsito em julgado para a acusação para frente é PPPS, e PPPR para trás. A PPE começa a contar do trânsito em julgado para a acusação, mas é pressuposto que o trânsito em julgado tenha ocorrido. Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Se o juiz quando condena reconhece a reincidência, a PPE será aumentada de 1/3. Ex.: Furto – data do fato até o recebimento da inicial dá 3 anos (zerou); do recebimento da inicial até publicação da sentença condenatória dá 2 anos (zerou). Foi condenado a 1 ano. Acusação não recorreu e transitou em julgado – já se fala em PPE (começa a contar do trânsito para o MP). Quanto tempo tem o Estado para executar esta pena? R.: Ele não foi considerado reincidente. Tem 1 ano de pena base, sendo a PPE de 4 anos, contado do trânsito em julgado para a acusação. OBS.: A PPE pode ser interrompida? R.: Art. 107, V e VI, do CP Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) Ex.: Pelo o exemplo acima, o sujeito começou a cumprir a pena e em 2 meses já fugiu da prisão (lembrando que ele foi condenado a 1 ano de reclusão) – art. 113 do CP – o Estado tem o prazo que resta da pena para prender novamente o preso (pena imposta na sentença – pena já cumprida – no caso do exemplo: 1 ano – 2 meses). Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) No caso de reincidente, o prazo de procura pelo o Estado em prender o indivíduo contado do trânsito em julgado será zerado. Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos – não abrange todos os idosos (que é aquele com 60 anos ou mais).(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Não importa se PPP ou PPE, tal artigo se aplica em qualquer das hipóteses. Tal benefício não foi abolido pelo o advento do novo CCB, pois o Direito Penal trabalha com idade cronológica, biológica. STJ e STJ – quanto ao maior de 70 anos, basta ter tal idade na data da decisão que primeiro lhe condenou (em 1º grau). 9.8) CAUSAS IMPEDITIVAS OU SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescriçãonão corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) São causas que “param o cronômetro” – e não o zera. São as chamadas questões prejudiciais. Trata-se de rol taxativo, porém há outras causas de suspensão da prescrição na CF. INDESEJADOS desejados natureza HUMANOS FATOS EXTRA-ATIVIDADE ULTRA-ATIVIDADE RETROATIVIDADE