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DIREITO PENAL - parte geral

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54
1) DIREITO PENAL - CONCEITO E FINALIDADES
Sob o aspecto formal, Direito Penal é um conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções a serem-lhes aplicadas. Já sob o enfoque sociológico, o Direito Penal é mais um instrumento (ao lado dos outros ramos do direito) de controle social de comportamentos desviados, visando assegurar a necessária disciplina social. OBS.: Funcionalistas – pessoas que buscam qual é a real função do Direito Penal (há, dentre eles, os funcionalistas sistêmicos – a missão do Direito Penal é resguardar a norma, o sistema, o direito posto, atrelado aos fins da pena – JAKOBS; e funcionalistas teleológicos – para eles, o fim do direito penal é assegurar bens jurídicos, valendo-se das medidas de política criminal - ROXIN). 
ROGÉRIO GRECO - A finalidade do Direito Penal é proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade. REGIS PRADO – o pensamento jurídico moderno reconhece que o escopo imediato e primordial do Direito Penal radica na proteção de bens jurídicos – essenciais ao indivíduo e à comunidade. 
É político o critério de seleção dos bens a serem tutelados pelo Direito Penal; a sociedade, dia após dia, evolui. Bens que em outros tempos eram tidos como fundamentais e, por isso, mereciam a proteção do Direito Penal, hoje, já não gozam desse status. 
GÜNTHER JAKOBS – afirma que o Direito Penal não atende a essa finalidade de proteção de bens jurídicos, pois quando é aplicado, o bem jurídico que teria de ser por ele protegido já foi efetivamente atacado. Para JAKOBS, o que está em jogo não é a proteção dos bens jurídicos, mas, sim, a garantia de vigência da norma, ou seja, o agente que praticou uma infração penal deverá ser punido para que se afirme que a norma penal por ele infringida está em vigor (não é o que predomina ainda). 
DAMÁSIO – Bem é tudo aquilo que pode satisfazer as necessidades humanas. Todo valor reconhecido pelo Direito Penal torna-se um bem jurídico. Os bens jurídicos são ordenados em hierarquia. O Direito Penal visa a proteger os bens jurídicos mais importantes, intervindo somente nos casos de lesão de bens jurídicos fundamentais para a vida em sociedade.
A CF exerce duplo papel. Se de um lado orienta o legislador, elegendo valores considerados indispensáveis à manutenção da sociedade, por outro, segundo a concepção garantista do Direito Penal, impede que esse mesmo legislador, com uma suposta finalidade protetiva de bens, proíba ou imponha determinados comportamentos, violando direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana, também consagrados pela Constituição. 
CONTEÚDO DO DIREITO PENAL
O conteúdo do Direito Penal abarca o estudo do crime, da pena e do delinqüente, que são os seus elementos fundamentais, precedidos de uma parte introdutiva. 
Na parte introdutória são estudadas a propedêutica jurídico-penal e a norma penal. Esta é cuidada quanto à sua aplicação no tempo e no espaço, como também a sua exegese. 
Acrescentam-se partes referentes à ação penal, punibilidade e medidas de segurança. 
1.1) DIREITO PENAL OBJETIVO E SUBJETIVO
O Direito Penal objetivo é o conjunto de leis penais vigentes; é expressão do poder punitivo estatal. Direito Penal subjetivo é o direito de punir do Estado (é o próprio ius puniendi) – ele é condicionado. Há 3 limitações: a) limitação temporal: prescrição, por ex.; b) limitação espacial: princípio da territorialidade art. 5º do CP); c) limitação modal: princípio da dignidade da pessoa humana, por ex. Ao particular, como se sabe, só cabe o chamado ius persequendi ou o ius accusationis, ou seja, o direito de vir a juízo e pleitear a condenação de seu suposto agressor, mas não o de executar, ele mesmo, a sentença condenatória, haja vista ter sido a vingança privada abolida de nosso ordenamento jurídico.
O ius puniendi, segundo ROGÉRIO GRECO, pode se subdividir em: a) positivo e negativo.O positivo seria o poder que tem o Estado não somente para criar tipos penais, como também para executar suas decisões condenatórias. O negativo seria, conforme as lições de ANTONIO RIEZU, “a faculdade de derrogar preceitos penais ou bem restringir o alcance das figuras delitivas”, atribuição essa que compete ao STF, quando declara a inconstitucionalidade de lei penal, produzindo eficácia contra todos e efeito vinculante (art. 102, parágrafo 2º da CF).
OBS.: Exceção ao monopólio estatal do direito de punir – Estatuto do índio – art. 57 da Lei 6001/73 – será tolerada a aplicação pelos grupos tribais de aplicação de sanções penais, desde que não fira princípios básicos do Estado. 
DIREITO PENAL MATERIAL (SUBSTANTIVO) E FORMAL (ADJETIVO)
O primeiro é representado pela lei penal, que define as condutas típicas e estabelece sanções. O segundo é o Direito Processual Penal, que determina as regras de aplicação do Direito Penal substantivo.
O Direito Processual Penal não é o complemento do Direito material ou substantivo. A moderna doutrina do Direito reconhece a sua autonomia. Sendo autônomo, não pode ser considerado como Direito Penal adjetivo. 
DIREITO PENAL GARANTISTA DE LUIGI FERRAJOLI
BOBBIO – as normas de um ordenamento não estão todas no mesmo plano. Há normas inferiores e normas superiores. Aquelas dependem destas. Subindo das normas inferiores àquelas que se encontram mais acima, chega-se a uma norma suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior e sobre a qual repousa a unidade do ordenamento. Cada ordenamento possui uma norma fundamental que dá unidade a todas as outras normas. 
Tal hierarquia de normas existe nos chamados Estados Constitucionais de Direitos – onde LUIGI FERRAJOLI busca fundamentos do seu modelo garantista. 
Num sistema em que há rigidez constitucional, a Constituição é a “mãe” de todas as normas. Todas as normas consideradas inferiores nela vão buscar sua fonte de validade, não podendo contrariá-la sob pena de serem taxadas de inconstitucionais. 
A Constituição nos garante uma série de direitos, tidos como fundamentais, que não poderão ser atacados pelas normas que lhe são hierarquicamente inferiores. Assim, o legislador infraconstitucional não poderá proibir ou impor determinados comportamentos, sob a ameaça de uma sanção penal, se o fundamento de validade de todas as leis, que é a Constituição, não nos impedir de praticar ou, mesmo, não nos obrigar a fazer aquilo que o legislador nos está impondo.
FERRAJOLI distingue as garantias em primárias e secundárias. Primárias – são os limites e vínculos normativos, as proibições e obrigações, formais e substanciais. Secundárias – são as diversas formas de reparação; a anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos atos ilícitos – subseqüentes às violações das garantias primárias. 
SALO DE CARVALHO – a teoria do garantismo penal, antes de mais nada, se propõe a estabelecer critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando qualquer modelo de controle social maniqueísta que coloca a ‘defesa social’ acima dos direitos e garantias individuais. 
Dez axiomas do garantismo penal
· Nulla poena sine crimin – somente será possível aplicação da pena quando houver crime;
· Nullum crimen sine lege – somente haverá crime se existir lei
· Nulla Lex (poenalis) sine necessitate – a lei penal somente poderá proibir ou impor comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade de proteger determinados bens;
· Nulla necessitas sine injuria – as condutas devem obrigatoriamente ultrapassar a pessoa do agente – não poderão se restringir à sua esfera pessoal, à sua intimidade;
· Nulla injuria sine actione – devem ser exteriorizados mediante uma ação;
· Nulla actio sine culpa – somente as ações culpáveis poderão ser reprovadas;
· Nulla culpa sine judicio – necessidade de um juiz imparcial
· Nullum judicium sine accusatione – necessidade de um órgão de acusação; 
· Nulla accusatio sine probatione – cabe à acusação o ônus da prova
· Nulla probatio sine defensione – deveser assegurada a ampla defesa, com todos os recursos a ela inerentes.
PRIVATIZAÇÃO DO DIREITO PENAL
Após 2ª guerra mundial descobriu-se as atrocidades do nazismo, surgindo a “vitimologia”. Institutos penais e processuais penais foram criados sob o enfoque dos interesses precípuos da vítima, sendo sua vontade levada em consideração, ex.: ação penal de iniciativa privada ou pública condicionada à representação, arrependimento posterior, criação da lei 9099/95, afirmando que os seus objetivos serão, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade etc.
A referida Lei dos Juizados Especiais nos fornece outro exemplo que se amolda ao conceito de privatização no Direito Penal, vale dizer, a composição dos danos, na qual, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação (ações penais privada e pública condicionada à representação apenas). 
1.2) FONTES DO DIREITO PENAL
Elas indicam o lugar (origem) de onde vem a lei, como também indicam como se revelam as normas penais. 
1.2.1) Fonte material
É a União (art. 22, I, da CF). Trata-se de fonte de produção. Cabe tão-somente à União, como única fonte de produção, ditar normas gerais do Direito Penal, bem como proibir ou impor determinadas condutas sob a ameaça de sanção. OBS.: os Estados podem, excepcionalmente, produzir normas penais em questões específicas, desde que autorizado por Lei Complementar (art. 22, parág. único, da CF). 
1.2.2) Fonte formal/de cognição/de conhecimento
Correspondem aos processos de exteriorização do Direito Penal ou de se revelarem as suas regras. A doutrina moderna as divide em: a) fonte formal imediata – é a lei, unicamente; b) fonte formal mediata – costumes e princípios gerais do direito (serão tratados).
A) Costumes
São os comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade e necessidade. Não existe no Direito Penal costume incriminador, por conta da reserva legal.
 Existe costume abolicionista? R: 1ª corrente – Não revoga, pois uma lei só pode ser revogada por outra lei (LICC). 2ª corrente – revoga, em especial quando a infração penal é tolerada pela sociedade; 3ª corrente – uma lei só pode ser revogada por outra lei (trabalha com a LICC). Enquanto não revogada, terá eficácia plena, jurídica e social – é a que prevalece. BOBBIO – nos ordenamentos em que o costume é inferior à lei, não vale o costume ab-rogativo; a lei não pode ser revogada por um costume contrário, mas não pune o comportamento quando perde a eficácia social (jurisprudência e doutrina moderna).
Assim, o costume serve para interpretação. Possível se mostra o uso do costume segundo a lei, atuando dentro dos limites do tipo penal (costume interpretativo), ex.: ato obsceno; furto durante repouso noturno. OBS.: art. 218 do CP – corrupção de menores – neste caso, a vítima não pode já ser corrompida sexualmente – único crime que exige que a vítima seja honesta (não depravada sexualmente) mesmo não trazendo o termo “mulher ou pessoa honesta”. 
B) Princípios gerais do direito
DAMÁSIO - São fontes formais mediatas. Só podem suprir as normas penais não incriminadoras. FREDERICO MARQUES – esses princípios gerais descansam em premissas éticas que são extraídas, mediante indução, do material legislativo. É no campo da licitude penal que têm função os princípios gerais do direito, ampliando-a. Em certos casos, a adequação típica do fato praticado pelo agente a uma norma penal incriminadora, que enseja a aplicação da sanctio juris, choca-se com a consciência ética do povo. Não obstante haver crime em face da norma, essa conclusão é repelida pelas regras do bem comum. Então, o fato deve ser justificado pelo princípio geral do direito e o agente absolvido
**Tal quadro simplista de classificação de fontes não existe mais depois do advento da EC 45/2004. Após esta emenda constitucional, a correta classificação fica desta forma: a) fonte imediata – lei (única capaz de regular direito incriminador); ao lado da lei há a CF, tratados internacionais de direitos humanos e jurisprudência; b) fonte mediata – doutrina. Os costumes apresentam-se como fontes informais. 
1.2.3) Tratados internacionais de direitos humanos
Com a emenda constitucional 45/2004, os tratados internacionais de direitos humanos terão status constitucional se aprovados com quorum de emenda constitucional (quorum especial). Assim, tal tratado será passível de controle de constitucionalidade, difuso ou concentrado. 
Os tratados de direitos humanos terão status supralegal se aprovados com quorum comum – fica abaixo da CF e acima das leis ordinárias – posição do STF**. Aqui, há um controle de convencionalidade, podendo só ser difuso, não podendo ser discutido no STF. 
1.3) PRINCÍPIOS
1.3.1) Princípios correlacionados com a missão fundamental do Direito Penal
A) Princípio da proteção exclusiva de bens jurídicos – este princípio impede que o Estado venha a utilizar o Direito Penal para proteção de bens ilegítimos. Ex.: o Direito Penal não pode proteger determinada religião. O Direito Penal protege os bens jurídicos mais relevantes para o homem.
B) Princípio da intervenção mínima – o Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, mantendo-se subsidiário e fragmentário. 
Subsidiariedade – o Direito Penal só intervém em abstrato (tipificando comportamentos) quando ineficazes os demais ramos do direito (o Direito Penal deve ser a ultima ratio). O Direito Penal deve, portanto, interferir o menos possível na vida em sociedade, devendo ser solicitado quando os demais ramos do Direito, comprovadamente, não forem capazes de proteger aqueles bens considerados da maior importância. BITENCOURT – Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais.
Fragmentariedade – o Direito Penal só intervém no caso concreto quando houver relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado – ***extrair-se-á daqui o princípio da insignificância. ROGÉRIO GRECO – Uma vez escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada a lesividade e inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a fazer parte de uma pequena parcela que é protegida pelo Direito Penal, originando-se, assim, a sua natureza fragmentária. MUÑOZ CONDE – O Direito Penal se limita somente a castigar as ações mais graves contra os bens jurídicos mais importantes.
B.1) Princípio da insignificância segundo o STF e STJ 
	STF
A) Requisitos: 1º) mínima ofensividade da conduta do agente; 2º) nenhuma periculosidade da ação; 3º) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4º) inexpressiva lesão jurídica (são todos requisitos OBJETIVOS).
B) Critério de avaliação: a realidade econômica do país.
C) Aplica aos crimes contra a Administração Pública.
D) NÃO se aplica aos crimes contra a fé pública
	STJ
A) Requisitos: 1º) mínima ofensividade da conduta do agente; 2º) nenhuma periculosidade da ação; 3º) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4º) inexpressiva lesão jurídica (são todos requisitos OBJETIVOS). OBS.: há julgados (não é o que prevalece) exigindo primariedade e bons antecedentes.
B) Critério de avaliação: significância da lesão para a vítima. 
C) NÃO aplica aos crimes contra a Administração Pública: o bem jurídico é a moralidade administrativa.
D) NÃO se aplica aos crimes contra a fé pública
DAMÁSIO – Ligado aos chamados “crimes de bagatela” (ou “delitos de lesão mínima”), recomenda que o Direito Penal, pela adequação típica, somente intervenha nos casos de lesão jurídica de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de perturbações jurídicas mais leves (pequeníssima relevância material). Esse princípio tem sido adotado pela nossa jurisprudência nos casos de furto de objeto material insignificante, lesão insignificante ao Fisco, descaminho e dano de pequena monta etc. Hoje, adotada (se assim entender) a teoria da imputação objetiva, que concede relevância à afetaçãojurídica como resultado normativo do crime, esse princípio apresenta enorme importância, permitindo que não ingressem no campo penal fatos de ofensividade mínima.
OBS.: (ver matéria de tipicidade conglobante). 
Jurisprudência – aplicação do princípio da insignificância no caso de posse de drogas para consumo pessoal:
	Posse de drogas por militar para consumo pessoal
	STF - NÃO se aplica – há apenas um julgado de 24/06/2008 aplicando tal princípio. De resto, não se aplica. FUNDAMENTAÇÃO: Não-aplicação do princípio da insignificância, em prol da saúde, disciplina e hierarquia militares.
	Posse de drogas para consumo pessoal
	TJ/RS(julgado de 05/09) – quando em grande quantidade – NÃO se aplica - presume ameaça a bem jurídico que extrapola a individualidade estrita do agente, atingindo a coletividade.
TJ/RS(julgado de 05/09) – quando em pequena quantidade – NÃO se aplica - Trata-se de delito de perigo abstrato cuja repressão visa a preservar a saúde pública.
Rejeição ao princípio da insignificância: uma corrente mais radical da doutrina entende que todo e qualquer bem merece a proteção do Direito Penal, desde que haja previsão legal para tanto – não vigora.
CARLOS VICO MAÑAS – ao realizar o trabalho do tipo penal, o legislador apenas tem em mente os prejuízos que o comportamento incriminado possa causar à ordem jurídica e social. Todavia, não dispõe de meios para evitar que também sejam alcançados os casos leves. O princípio da insignificância surge justamente para evitar situações dessa espécie, atuando como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.
ROGÉRIO GRECO – Nem todos os tipos penais permitem a aplicação do princípio, a exemplo do que ocorre com o delito de homicídio. No entanto, existem infrações penais em que a sua aplicação afastará a injustiça do caso concreto, pois que a condenação do agente, simplesmente pela adequação formal do seu comportamento a determinado tipo penal, importara em gritante aberração, devendo ser usado outros ramos do direito para a solução do caso.
Crime patrimoniais praticados sem violência – predominância da aplicação do princípio da insignificância.
Crimes patrimoniais praticados com violência – predominância da não aplicação do princípio da insignificância.
1.3.2) Princípios correlacionados com o fato do agente
A) Princípio da exteriorização ou materialização do fato – o Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos – direito penal do fato (distinto do direito penal do autor – este pune pelo que a pessoa é, pelo que ela pensa, pelo estilo de vida que a pessoa leva, ex.: Direito Penal Nazista). Art. 2º do CP -
        Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A doutrina critica a contravenção penal da vadiagem exatamente por ferir o princípio da materialização do fato. 
B) Princípio da legalidade – próxima aula.
C) Princípio da ofensividade - para que ocorra o delito, é imprescindível relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. DAMÁSIO – O Direito Penal só deve ser aplicado quando a conduta ofende um bem jurídico, não sendo suficiente que seja imoral ou pecaminosa. 
***Com base nele, o STF não reconhece o crime de porte de arma desmuniciada 2ª Turma, mas na 1ª Turma no HC 93188 – reconheceu o crime de porte de arma desmuniciada – significa “sem munição e sem capacidade de pronto municiamento”. Se o agente carrega munição no bolso, caracterizar-se-á o crime. 
1.3.3) Princípios correlacionados com o agente do fato
A) Princípio da responsabilidade pessoal – proíbe-se o castigo penal pelo fato de outrem. Deve-se descrever a responsabilidade de cada um no delito – não existe denúncia genérica, vaga. 
Art. 5º, XLV, da CF - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; 
ZAFFARONI – a pena é uma medida de caráter estritamente pessoal, haja vista ser uma ingerência ressocializadora sobre o condenado.
A.1) Pena de multa - ROGÉRIO GRECO – Quanto à pena de multa – mesmo com a edição da Lei 9268/1996, que, além de dar nova redação ao art. 51 do CP, revogou os seus antigos parágrafos 1º e 2º e passou a considerar a pena de multa como dívida de valor, aplicando-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, impedindo, ainda, a sua conversão em pena privativa de liberdade, entendemos que a multa não perdeu o seu caráter penal. Dessa forma, em caso de morte do condenado, não poderá o valor correspondente à pena de multa a ele aplicada ser cobrado de seus herdeiros, uma vez que, neste caso, estaríamos infringindo o princípio da responsabilidade pessoal. Todavia, se estiver diante de uma responsabilidade não penal, como, a obrigação de reparar o dano, nada impede que, no caso de morte do condenado e tendo havido a transferência de seus bens aos seus sucessores, estes respondam até as forças da herança, conforme preceitua a parte final do inciso XLV, art. 5º da CF.
Hoje, a pena de multa é considerada uma das 3 modalidades de penas previstas pelo art. 32 do CP, sendo inscrita como dívida ativa da Fazenda Pública, passível tão-somente de execução, não sendo mais permitida sua conversão em pena privativa de liberdade (mas não perdeu sua natureza penal, assim e como tal deve ser tratada, impedindo-se a sua cobrança após a morte do autor da infração). 
Nada se garante que ela seja efetivamente paga pelo condenado, Pode acontecer, e não raramente, que o condenado à pena de multa não tenha, ele próprio, condições de arcar com o seu pagamento. Nada impede, assim, que seu pai, ou algum outro familiar ou mesmo amigo, solidários com o condenado, queiram por ele pagar o valor correspondente à pena de multa, oportunidade em que será desrespeitado o princípio da intranscendência da pena. 
Há duas espécies de multa: 1ª) a cominada no tipo penal; 2ª) multa substitutiva (ou vicariante). Em 1984, o CP adotou o sistema do dia-multa (sistema bifásico), onde, na primeira fase, o juiz fixará o número de dias-multa (10 a 360), usando como critério as circunstâncias judiciais. A segunda fase consiste em atribuir o valor ao dia-multa (1/30 até 5x o S.M), baseando na condição econômica do réu (se for pouco para o réu, poderá aumentar até do triplo). 
Quanto à execução da pena de multa, quando já transitada em julgado, ela será considera dívida de valor, devendo ingressar com uma execução sob pena de penhora de bens – obedecendo as normas da lei de execução fiscal e do CTN. Há uma situação em que não será aplicada as leis tributárias, que é no caso de morte do agente, acarretando a extinção da punibilidade – a pena não pode passar da pessoa do condenado (princípio constitucional). 
B) Princípio da responsabilidade subjetiva – o agente só pode ser responsabilizado pelo fato: previsto, mas querido (dolo direto); previsto, mas aceito (dolo eventual); previsto, mas não aceito (culpa consciente); previsível (culpa inconsciente). Não há responsabilidade objetiva. 
C) Princípio da culpabilidade – o Direito Penal, para punir alguém, exige: a) agente capaz; b) com potencial consciência da ilicitude; c) sendo dele exigível conduta diversa. 
DAMÁSIO – o juízo de reprovabilidade (culpabilidade), elaborado pelo juiz, recai sobre o sujeito imputável que, podendo agir de maneira diversa, tinha condições de alcançar o conhecimento da ilicitude do fato (potencial consciência da ilicitude). O juízo de culpabilidade, que serve de fundamento e medida da pena, repudia a responsabilidade penal objetiva. 
O princípio da culpabilidade possui 3 sentidos fundamentais:
· Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime – a culpabilidade é o terceiro elemento integrante do conceito analítico de crime;
· Culpabilidade comoprincípio medidor da pena – deverá o julgador, após a condenação, encontrar a pena correspondente à infração penal praticada, tendo sua atenção voltada para a culpabilidade do agente como critério regulador;
· Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa – o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico.
D) Princípio da igualdade – todos são iguais perante a lei. Ele deve ser observado pelo legislador, quando cria o crime; pelo juiz quando aplica a pena; na execução penal. OBS.: a igualdade é material, e não formal – tratar desigualmente os desiguais na medida das suas desigualdades (estabelecimento penal para mulheres, idoso cumprimento pena em casa, etc.). Possui previsão expressa na Convenção Americana de Direitos Humanos e CF. 
E) Princípio da presunção de inocência – previsão na CF (art. 5º, LVII, da CF). A CF, na verdade, diz que não se pode considerar o agente culpado antes do trânsito em julgado. Assim, o STF tem preferido a expressão “presunção de não-culpa ou de não culpabilidade” – HC 91952 – tal expressão é mais condizente com o instituto da prisão provisória. OBS.: A CADH refere-se à “presunção de inocência”. OBS.: O STF discute, hoje, se processo penal em andamento gera ou não maus antecedentes – a tendência é decidir que não gera.
1.3.4) Princípios correlacionados com a pena do agente
A) Princípio da proibição da pena indigna – a ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana (tem previsão na CADH). 
B) Princípio da humanização das penas – está umbilicalmente ligado ao princípio anterior. Proíbe-se pena cruel, desumana e degradante. OBS.: discute-se, com base neste princípio, a constitucionalidade do RDD, pois caracterizaria uma forma de pena cruel, desumana e degradante – ***STJ: RDD é constitucional. 
C) Princípio da proporcionalidade – a pena deve ser proporcional à gravidade da infração. É um princípio constitucional implícito no princípio da individualização da pena. 
ALBERTO SILVA FRANCO – O princípio da proporcionalidade exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que pode alguém ser privado (gravidade da pena). 
No plano abstrato, deve o legislador, atento a tal princípio procurar alcançar a tão almejada proporcionalidade. No que diz respeito especificamente à proporcionalidade em concreto, ou seja, aquela levada a efeito pelo juiz, sua aferição não é tão tormentosa quanto aquela que deve ser realizada no plano abstrato. Isto porque o art. 68 do CP, ao implementar o critério trifásico de aplicação da pena, forneceu ao julgador meios para que pudesse, no caso concreto, individualizar a pena do agente, encontrando, com isso, aquela proporcional ao fato por ele cometido. 
D) Princípio da pessoalidade/intransmissibilidade da pena – possui guarida constitucional (art. 5º, XLV, da CF). 
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
1ª corrente – admite-se exceções, qual seja, a pena de confisco, constitucionalmente prevista (FMB); 2ª corrente – este princípio é absoluto, não admitindo exceções – confisco não é pena, é efeito da condenação – posição majoritária. Possui previsão na CADH (art. 5º, Item 3) – ela não prevê qualquer exceção. 
E) Princípio da vedação do bis in idem – possui 3 significados: 1º) significado processual – ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo crime. 2º) significado material – ninguém pode ser condenado duas vezes em razão do mesmo fato. 3º) significado execucional – ninguém pode ser executado duas vezes por condenações relacionadas ao mesmo fato. OBS.: o juiz pode significar a reincidência como agravante de pena? R: LFG – é bis in idem. Todavia, a CF traz o princípio da individualização da pena, pois será punido mais severamente o reincidente do que o primário (aquele que praticou um roubo apenas, logo, aquele (o reincidente) deve ser punido de forma mais rigorosa). 
F) Princípio da individualização da pena – previsão no art. 5º, XLVI, da CF
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
O primeiro momento da chamada individualização da pena ocorre com a seleção feita pelo legislador, quando escolhe para fazer parte do pequeno âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas condutas, positivas ou negativas, que atacam nossos bens mais importantes. A esta fase seletiva, realizada pelos tipos penais no plano abstrato, chamamos de cominação. É a fase na qual cabe ao legislador, de acordo com um critério político, valorar os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito Penal, individualizando as penas de cada infração penal de acordo com a sua importância e gravidade. 
Tendo o julgador chegado à conclusão de que o fato praticado é típico, ilícito e culpável, dirá qual a infração penal praticada pelo agente e começará, agora, a individualizar a pena a ele correspondente – art.68 do CP – critério trifásico. 
Também ocorre a individualização na fase da execução penal, conforme determina o art. 5º da Lei 7210/84
Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. 
1.3.5) Princípio da legalidade (princípio relacionado ao fato do agente – item 1.3.2)
Estado de direito e o princípio da legalidade
Estado de direito e princípio da legalidade são dois conceitos intimamente relacionados, pois que num verdadeiro Estado de Direito, criado com a função de retirar o poder absoluto das mãos do soberano, exige-se a subordinação de todos perante a lei.
Hoje, os países que possuem uma Constituição rígida, ou seja, aquelas cuja modificação de seu texto somente pode ser realizada por meio de um procedimento qualificado de emendas, que obedeça não só à forma constitucionalmente prevista, bem como às matérias que poderão ser objeto dessa modificação, adotam um verdadeiro Estado Constitucional de Direito, no qual a Constituição, como fonte de validade de todas as normas, não pode ser contrariada pela legislação que lhe é inferior. Como instrumento de defesa da hierarquia constitucional existe o controle de constitucionalidade das leis. 
Além do controle de constitucionalidade das leis, outro importante instrumento disponível na busca pela perfeita acomodação dos textos legais à norma fundamental é a chamada interpretação conforme a Constituição. 
Art. 5º, XXXIX, da CF – para uma 1ª corrente, traz o princípio da legalidade, que é sinônimo do princípio da reserva legal. Uma 2ª corrente diz que o princípio da legalidade não se confunde com o princípio da reserva legal – princípio da legalidade se refere à lei em sentido amplo (art. 59 da CF), abrangendo todas as espécies normativas previstas neste artigo constitucional; princípio da reserva legal abrangeria apenas lei ordinária e lei complementar. Para uma 3ª corrente, princípio da legalidade nada mais é do que anterioridade + reserva legal – art. 1º do CP – prevalece tal corrente na doutrina (lei anterior + previsão em lei). 
        Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Há previsão também na CADH.
O princípio da legalidade constitui uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera de liberdades individuais. 
A lei é a única fonte do Direito Penal quando se quer proibir ou impor condutas sob a ameaça de sanção. Tudo o quenão for expressamente proibido é lícito em Direito Penal. 
Ele foi previsto em todos os Códigos Penais Brasileiros, desde o Código Criminal do Império, de 1830, até a reforma da parte geral do Código em 1940, ocorrida em 1984.
Quanto à origem do princípio da legalidade, uma 1ª corrente diz advir do Direito Romano, uma 2ª corrente diz advir da Carta do João Sem-Terra, em 1215. Prevalece a 3ª corrente, que diz que tal princípio teve origem no Iluminismo, sendo recepcionado pela Revolução Francesa. 
A) Fundamentos do princípio da legalidade – 1º) fundamento político – o poder punitivo não pode ser arbitrário. É a exigência de vinculação do Poder Executivo e Poder Judiciário a leis formuladas de forma abstrata. 2º fundamento democrático – desdobramento do fundamento político. É o respeito à divisão de poderes (separação de funções). O parlamento, representante do povo, deve ser o responsável pela criação de crimes. 3º fundamento jurídico – uma lei prévia e clara produz importante efeito intimidativo. 
OBS.1: o princípio da legalidade aplica-se, subsidiariamente, às contravenções penais – não há infração penal sem lei anterior...(não se fala apenas em “crime”). 
OBS.2: Abrange medida de segurança? R: 1ª corrente – não abrange medida de segurança, pois esta não tem finalidade punitiva, mas sim curativa. 2ª corrente – abrange medida de segurança, pois também é espécie de sanção penal – prevalece esta corrente (MP do Piauí entendeu ser a primeira corrente). 
OBS.3: o art. 3º do CPM respeita a reserva legal, mas ignora a anterioridade – não foi recepcionado pela CF. 
Funções do princípio da legalidade
1. Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla poena sine lege praevia) – esta é a regra; a exceção é a retroatividade, desde que seja para beneficiar o agente;
2. Proibir a criação de crimes e penas pelos costume (nullum crimen nulla poena sine lege scripta) – sem a lei não se pode proibir ou impor condutas sob a ameaça de sanção;
3. Proibir o emprego de analogia para criar crimes (nullum crimen nulla poena sine lege stricta) – veda-se o uso da analogia in malam partem. Se o fato não foi previsto expressamente pelo legislador, não pode o intérprete socorrer-se da analogia a fim de tentar abranger fatos similares aos legislados em prejuízo do agente;
4. Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena sine lege certa) – é vedado a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos/ deve haver uma definição precisa da conduta proibida ou imposta.
Princípio da legalidade é uma garantia, todavia, a lei é dada em seu sentido estrito – “não há crime sem lei”. Logo, Medida Provisória não pode criar crime (Direito Penal incriminador) – não é lei em sentido estrito. E se tratar sobre Direito Penal Não-incriminador? R: 
· 1ª corrente – MP não pode versar sobre Direito Penal, seja incriminador ou não – art. 62 da CF – posição majoritária - MUNHOZ CONDE. Sustentam que: I. Função de legislar em matéria penal cabe ao Legislativo; II. A decisão de inovar o sistema jurídico por via de MP cabe a só uma pessoa – Presidente da República – não foi eleito pelo povo para atuar nessa função; III. A MP pode ser rejeitada pelo CN; assim pessoas podem ser presas provisoriamente e caberia apenas uma futura indenização contra o Estado, e nada mais; IV. MP só cabe nos casos de relevância e de urgência (matéria penal sempre é relevante); V. MP só possui força de lei; posteriormente, após aprovação do CN, poderá ser convertida em lei; 
· 2ª corrente – Não é possível MP incriminadora, porém, não-incriminadora, admite-se – LFG. O **STF, no RE 254818/PR, discutindo os efeitos benéficos da MP 1571/97 (que permitiu o parcelamento de débitos tributários e previdenciários, com efeito extintivo da punibilidade) proclamou sua admissibilidade em favor do réu – outro ex.: registro de arma de fogo, impedindo a punição daqueles que não registraram suas armas – Estatuto do Desarmamento – tendência a ser adotada nos próximos concursos, mesmo não sendo a posição majoritária.
OBS.4: resolução do CNJ CNMP, TSE – atos não legislativos com força normativa – logo, não podem criar crime, nem cominar pena.
OBS.5: Lei delegada – não pode. Lei Delegada não pode tratar sobre direitos individuais, logo, não podendo tratar sobre Direito Penal. 
B) Anterioridade da lei – a lei deve ser anterior aos fatos que procura incriminar. Evita-se a retroatividade maléfica (a retroatividade benéfica admite-se). 
C) Lei escrita – deve a lei ser escrita; evita-se o costume incriminador
D) Lei estrita – evita-se a analogia incriminadora. Não se veda a analogia, e sim uma espécie de analogia (a benéfica, por ex, é bem-vinda).
E) Lei certa – é uma lei de fácil entendimento – evita-se a ambiguidade. Ex.: art. 20 da lei 7170/83 – expressão “atos de terrorismo” – lei escrita, anterior, estrita e não certa, pois não se sabe o que é ato de terrorismo, logo, fere o princípio da legalidade. 
F) Lei necessária – evitar a hipertrofia do Direito Penal – princípio da intervenção mínima. 
Princípio da legalidade é o pilar do garantismo. Fala-se em poder punitivo X garantia do cidadão. Garantismo é reduzir ao máximo o poder punitivo, elevando em patamar máximo as garantias. É o mínimo poder punitivo versus o máximo de garantias, e quem fez isso com o garantismo foi o princípio da legalidade. 
G) Lei penal – ela pode ser:
· Completa – quando ela dispensa complemento normativo (dado pela norma) ou valorativo (dado pelo juiz), ex.: homicídio – art. 121. 
· Incompleta – ela depende de complemento normativo ou valorativo. Divide-se em:
· Norma penal em branco – depende de complemento normativo. Ela pode ser:
· Própria/em sentido estrito/heterogênea – quando o complemento normativo não emana do legislador, ex.: lei de drogas (o que vem a ser drogas é conceituado pelo Poder Executivo);
· Imprópria/em sentido amplo/homogênea – o complemento normativo emana do legislador
· norma penal em branco homóloga/homovitelina – complemento emana da mesma instância legislativa. Lei penal complementada por lei penal, ex.: art. 327 do CP – conceito de funcionário público. 
· Norma penal em branco heteróloga/heterovitelina – o complemento emana de instância legislativa distinta, ex.: lei penal sendo complementada por lei civil. 
· Norma penal em branco ao revés – o complemento diz respeito a sua sanção, e não ao preceito primário, ex.: Lei 2889/56 – lei do genocídio.
· Norma penal incriminadora: é reservada a função de definir as infrações penais, proibindo ou impondo as condutas, sob a ameaça de pena (norma penal por excelência). Existem 2 preceitos: a) preceito primário (preceptum iuris) – é o encarregado de fazer a descrição detalhada e perfeita da conduta que se procura proibir ou impor; b) preceito secundário (sanctio iuris) – cabe a tarefa de individualizar a pena, cominando-a em abstrato;
· Norma penal não-incriminadora: possuem as seguintes finalidades: a) tornas lícitas determinadas condutas – normas permissivas justificantes; b) afastar a culpabilidade do agente, erigindo causas de isenção de pena - normas permissivas exculpantes; c) esclarecer determinados conceitos – normas penais explicativas; d) fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal – normas penais complementares.
Quando a norma depende de complemento valorativo – dependem de complemento dado pelo juiz – tipo aberto – ex.: crime culposo
Quanto às fontes formais do Direito Penal (já visto), há as imediatas: Lei, CF, TIDH, jurisprudência; e as mediatas – doutrina. Os costumes constituem em fontes informais. Os princípios constituem fontes imediatas do Direito Penal. 
atos administrativos complementos de normas penais em branco em sentido estrito – fonte imediata. 
Críticas: 
Norma penal em branco fere o princípio da taxatividade? R: Enquanto a norma não for complementada, não terá eficácia jurídica ou social. Não fere o princípio da taxatividade, já que não terá tal eficácia.
1ª Corrente: Norma penal em branco em sentido estrito fere a legalidade e seu fundamento democrático, poissó o Legislativo pode legislar sobre Direito Penal, e não o Poder Executivo – ROGÉRIO GRECO. 2ª Corrente, Rebate: na norma penal em branco em sentido estrito, o legislador já criou tipo penal incriminador com todos os seus requisitos básicos, limitando-se a autoridade administrativa a explicitar um desses requisitos. 
Logo, a norma penal em branco é constitucional. 
H) Legalidade formal e material
Legalidade formal – obediência às regras de elaboração da lei.
Legalidade material – obediência ao conteúdo da CF e dos tratados de direitos humanos. Legalidade material gera uma lei válida. Ex.: Regime integralmente fechado – era uma lei vigente, mas tal artigo, de acordo com o STF, não tinha validade, pois infringia a CF – tal regime foi julgado inconstitucional, pois não obedecia à legalidade material.
Quais as formas de se questionar a validade de uma lei/de se controlar a legalidade material? R: Hoje se fala em 4 formas: 1ª) Controle concentrado de constitucionalidade (STF, diretamente, analisa a lei em abstrato, não se preocupando com o caso em concreto – sua decisão tem efeito erga omnes); 2ª) Controle difuso de constitucionalidade (a ação chega ao STF de maneira indireta, passando pelos tribunais inferiores, e a Suprema Corte analisa o caso concreto e não a lei em tese – sua decisão tem efeito inter partes); 3ª)* Controle difuso abstrativizado de constitucionalidade – a lei chega ao STF de maneira indireta, ou HC e recursos em geral, mas o STF, ao julgar, analisará a lei em tese (em abstrato) – decisão com efeito erga omnes (o que aconteceu com o caso do regime integralmente fechado); 4ª) Controle de convencionalidade – a lei do ordenamento interno ferindo norma de tratado de direito humanos de status supralegal, ex.: CADH. Se for tratado de direitos humanos de status constitucional (quorum de emenda constitucional) o controle será de constitucionalidade. 
I) Princípio da reserva legal e mandados de criminalização – retirado do livro do Prof. CLEBER MASSON
A CF de 1988, seguindo o modelo de algumas constituições européias, como as da Alemanha, Espanha, Itália, França e da própria Comunidade Européia, estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização (ou penalização). Cuida-se de hipóteses de obrigatória intervenção do legislador penal.
Com efeito, os mandados de criminalização indicam matérias sobre as quais o legislador não tem a faculdade de legislar, mas a obrigatoriedade de tratar, protegendo determinados bens ou interesses de forma adequada e, dentro do possível, integral.
Os mandados de criminalização explícitos contidos na CF são encontrados nos arts. 5º, incisos XLII (racismo), XLIII (tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e crimes hediondos) e XLIV (ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático) e parágrafo 3º (os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais); 7º, incisos X (retenção dolosa do salário dos trabalhadores); 227, parágrafo 4º (abuso, violência e a exploração sexual da criança ou adolescente); 225 (condutas lesivas ao meio ambiente).
Há, também, mandados implícitos de criminalização, podendo ser citado o exemplo do necessário e urgente combate eficaz à corrupção eleitoral.
Alguns dos mandados de criminalização já foram atendidos pelo legislador ordinário de modo satisfatório (é o caso da Lei 8072/90, que definiu os crimes hediondos, e, juntamente com os assemelhados, a eles conferiu tratamento mais severo); outros de forma insuficiente; vários simplesmente ignorados. E, dentre os olvidados pelo legislador, destaca-se a tipificação legal do terrorismo, crime equiparado aos hediondos e ainda não definido a contento – não se desconhece que a Lei 7170/83 (Lei de Segurança Nacional), em seu artigo 20, fala em “atos de terrorismo”, porém não define terrorismo e tampouco quais seriam esses atos que o identificariam.
INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEI PENAL
INTRODUÇÃO
Interpretar é tentar buscar o efetivo alcance da norma. HUNGRIA: Como toda norma jurídica, a norma penal não pode prescindir do processo exegético, tendente a explicar-lhe o verdadeiro sentido, o justo pensamento, a real vontade, a exata razão finalística, quase nunca devidamente expressos com todas as letras.
In claris cessat interpretatio – quando o texto for claro o suficiente, não haverá necessidade de interpretação – não é o que vigora no Brasil! Não há norma suficientemente clara que prescinda da interpretação e que a conclusão sobre a clareza de determinado enunciado normativo é resultado do próprio processo interpretativo. 
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
Interpretação objetiva e subjetiva
Interpretação objetiva – busca-se descobrir a suposta finalidade da lei.
Interpretação subjetiva – procura-se alcançar a vontade do legislador.
Tal distinção tem sido severamente criticada pela doutrina – o que importa não é o que o legislador queria dizer senão o que efetivamente disse.
Interpretação quanto ao órgão (sujeito).
Interpretação autêntica – É á interpretação realizada pelo próprio texto legal. Em determinadas situações, a lei, com finalidade de espantar quaisquer dúvidas quanto a este ou aquele tema, resolve, ela mesma, no seu corpo, fazer a sua interpretação. 
Ela pode ser: a) contextual – é a interpretação realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal que se procura interpretar, ex.: art. 327 do CP – definiu o conceito de funcionário público no mesmo instante que previa, no corpo do Código, os crimes que, para sua configuração, exigiam essa qualidade, procurando evitar, dessa forma, outra interpretação tendente a modificar aquilo que realmente se pretendia alcançar; b) posterior – é a interpretação realizada pela lei, depois da edição de um diploma legal anterior. Serve para afastar qualquer duvida de interpretação existente quanto a outro diploma legal já editado anteriormente. 
OBS.: Pode-se atribuir essa modalidade de interpretação à exposição de motivos do Código? R.: Não! Embora seja a exposição de motivos uma justificativa feita pela comissão encarregada de elaborar o projeto, explicando os pontos alterados, bem como a necessidade de ser inovado o nosso ordenamento jurídico, essa exposição de motivos não é votada pelo Congresso Nacional e nem sancionada pelo Presidente da República – devem ser consideradas como interpretações doutrinárias. 
Interpretação doutrinária – é a realizada pelos estudiosos do Direito, os quais, comentando sobre a lei que se pretende interpretar, emitem opiniões pessoais – communis opinio doctorum. 
Interpretação judicial – é a realizada pelos aplicadores do Direito, ou seja, pelos juízes de primeiro grau e magistrados que compõem os tribunais ao aplicar seus entendimentos na solução do caso concreto. Somente se deve falar em interpretação judicial ou jurisprudencial com relação àquela que é levada a efeito intra-autos, ou seja, sempre no bojo de um processo judicial. Se ministros do STF ou do STJ emitirem suas opiniões, interpretando a lei penal em palestrar, congresso, etc. (extra-autos), jamais se poderá considerar esse tipo de interpretação como de natureza judicial – e sim interpretação doutrinária.
OBS.: Súmulas: elas traduzem as decisões reiteradas de um tribunal sobre determinado assunto. Elas, mesmo que editadas pelos Tribunais Superiores, não tinham o condão de vincular as atuações dos juízes monocráticos, tampouco dos integrantes dos demais Tribunais. Hoje, depois da promulgação da EC 45/2004, faz-se uma divisão da interpretação judicial sumular em vinculante e não-vinculante. 
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aosdemais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
        § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. 
        § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
        § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso."
 
Somente o STF é que poderá editar súmulas com efeitos vinculantes. Os demais Tribunais e, inclusive o próprio STF ainda poderão continuar a produzir suas súmulas que, embora traduzam as conclusões a respeito de suas reiteradas decisões sobre o mesmo fato, não vinculam os juízes de primeiro grau, ou desembargadores ou mesmo os ministros que, atuando naquela Corte Superior de Justiça, a ela não se filiam. As súmulas já editadas pelo STF não receberam automaticamente o efeito vinculante, inclusive enquanto as súmulas não forem confirmadas por dois terços dos integrantes do STF, ou seja, 8 Ministros, nenhuma delas terá efeito vinculante – art. 8º da EC 45/04. Estas súmulas não confirmadas continuarão apenas tendo o efeito prático de orientar o órgão julgador a adotar aquele posicionamento já previsto em súmula, não cabendo, no entanto, a reclamação para anular a decisão judicial, muito menos o ato administrativo. 
Interpretação quanto aos meios empregados
Interpretação literal (gramatical) – é aquela em que o exegeta se preocupa, simplesmente, em saber o real e efetivo significado das palavras.
Interpretação teleológica (lógica) – o intérprete busca alcançar a finalidade da lei, aquilo ao qual ela se destina regular/busca os fins propostos pela lei. 
Interpretação sistêmica – o exegeta analisa o dispositivo legal no sistema no qual ele está contido, e não de forma isolada. Interpreta-se com os olhos voltados para o todo, e não somente para as partes. 
Interpretação histórica – o intérprete volta ao passado, ao tempo em que foi editado o diploma que se quer interpretar, buscando os fundamentos de sua criação, o momento pelo qual atravessava a sociedade etc., com vista a entender o motivo pelo qual houve a necessidade de modificação do ordenamento jurídico, facilitando, ainda, a interpretação de expressões contidas na lei.
Interpretação quanto aos resultados
Interpretação declaratória – o intérprete não amplia nem restringe o seu alcance, mas apenas declara a vontade da lei. Ex.: art. 141, III, do CP – crimes contra a honra terão suas penas aumentadas de um terço se qualquer deles for praticado na presença de várias pessoas (não são duas pessoas, pois se fosse assim, a lei traria tal termo; logo, necessita-se de, pelo menos, três pessoas). 
Interpretação restritiva – é aquela em que o intérprete diminui, restringe o alcance da lei, uma vez que esta, à primeira vista, disse mais do que efetivamente pretendia dizer (lex plus dixit quam voluit), buscando, dessa forma, apreender o seu verdadeiro valor. Art. 28, II, do CP (a embriaguez voluntária ou culposa pelo álcool ou substancia de efeitos análogos não exclui a imputabilidade penal, mas o artigo não quis referir-se à embriaguez patológica, uma vez que esta última encontra-se abrangida pelo art. 26, caput, do CP (casos de doença mental). 
Interpretação extensiva – quando, para que se possa conhecer a exata amplitude da lei, o intérprete necessita alargar seu alcance, haja vista ter aquela dito menos do que efetivamente pretendia (lex minus dixit quam voluit), Quando a lei proibiu a bigamia, criando, para tanto, o crime previsto no art. 235 do CP, quis, de maneira implícita, também abranger a poligamia. 
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
Interpretação analógica quer dizer que a uma fórmula casuística, que servirá de norte ao exegeta, segue-se uma fórmula analógica. 
O legislador, em determinadas passagens pelo CP, por não poder prever todas as situações que poderiam ocorrer na vida em sociedade, e que seriam similares àquelas por ele já elencadas, permitiu, expressamente, a utilização de um recurso, que também amplia o alcance da norma penal, conhecido como interpretação analógica. 
Primeiramente, o CP, atendendo ao princípio da legalidade, detalha todas as situações que quer regular e, posteriormente, permite que tudo aquilo que a elas seja semelhante possa também ser abrangido pelo mesmo artigo. 
Ex.: art. 121, parágrafo 2º, III, do CP – homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido: 
        (...)
        III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
Quando o legislador fez inserir as expressões ou por outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resulta perigo comum, ele quis dizer que qualquer outro meio dissimulado ou que causa excessivo sofrimento à vítima e aquele que possa trazer uma situação de perigo a um número indeterminado de pessoas, embora não elencados expressamente por esse inciso, estão também por ele abrangidos e, em virtude disso, qualificam o crime de homicídio. 
Percebe-se que, da mesma forma que a interpretação extensiva, a interpretação analógica amplia o conteúdo da lei penal, com a finalidade de nela abranger hipóteses não previstas expressamente pelo legislador, mas que por ele foram também desejadas. 
Pode-se, portanto, entender que a interpretação extensiva é o gênero, no qual são espécies a interpretação extensiva em sentido estrito e a interpretação analógica. Como, então, poder-se-á diferenciar ambas as espécies? Analisando a lei penal. Se, para abranger situações não elencadas expressamente no tipo penal, o legislador nos fornecer uma fórmula casuística, seguindo-se a ela uma fórmula genérica, far-se-á, aqui, uma interpretação analógica. Caso contrário, se, embora o legislador não tenha fornecido um padrão a ser seguido, o interpretador tiver de ampliar o alcance do tipo penal para alcançar hipóteses não previstas em lei, mas queridas por ele, estar-se-á diante de uma interpretação extensiva em sentido estrito. 
INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO
É o método de interpretação mediante o qual o intérprete, de acordo com uma concepção penal garantista, procura aferir a validade das normas mediante o seu confronto com a Constituição. 
As normas infraconstitucionais devem, sempre, ser analisadas e interpretadas de acordo com os princípios informadores da Carta Constitucional, não podendo, de modo algum, afrontá-los, sob pena de verem judicialmente declaradas a sua invalidade, seja através do controle direto de constitucionalidade, exercido pelo STF, seja pelo controle difuso, atribuído a todos os juízes que atuam individual (monocráticos) ou coletivamente (colegiados). 
ANALOGIA
Trata-se de forma de auto-integração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso semelhante, atendendo-se, assim ao brocado ubi eadem ratio, ubi eadem legis dispositio. 
Está prevista no art. 4º da LICC como uma das formas do juiz decidir o caso quando ausente disposição em lei (junto dos costumes e princípios gerais do direito). 
Com essa fórmula, mesmo que para determinado caso não haja norma expressa regulando-o, o juiz não pode eximir-se de julgá-lo, embora ocorra uma lacuna na lei. O mesmo não ocorre com o sistema jurídico-penal, que se tem por perfeitoem suas normas incriminadoras. 
Tudo aquilo que não for expressamente proibido é permitido em Direito Penal. As condutas que o legislador deseja proibir ou impor, sob a ameaça de sanção, devem vir descritas de forma clara e precisa, de modo que o agente as conheça e as entenda sem maiores dificuldades. O campo de abrangência do Direito Penal, dado o seu caráter fragmentário, é muito limitado. Se não há previsão expressa da conduta que se quer atribuir ao agente, é sinal de que esta não mereceu a atenção do legislador, embora seja parecida com outra já prevista pela legislação penal. 
Analogia in bonam partem – é perfeitamente viável. É muitas vezes necessária para que ao interpretarmos a lei penal não cheguemos a soluções absurdas. Se a analogia in malam partem é aquela que, de alguma maneira, prejudica o agente, a chamada in bonam partem, ao contrário, é aquela que lhe é benéfica. Ex.: aplicação do art. 128, II, do CP – aborto sentimental – aos casos de gravidez resultante de atentado violento ao pudor. 
Analogia in malam partem - significa a aplicação de uma norma que define o ilícito penal, sanção, ou consagre occidentalia delicti (qualificadora, causa especial de aumento de pena e agravante) a uma hipótese não contemplada, mas que se assemelha ao caso típico. Evidentemente porque prejudica e contrasta o princípio da reserva legal, é inadmissível. 
JUIZ COMO LEGISLADOR POSITIVO E COMO LEGISLADOR NEGATIVO
O juiz ampliando o alcance da lei a outras situações que não foram objeto de regulamentação expressa (casos de analogia in bonam partem) estará (aqui entendidos os juízos monocráticos e colegiados), funcionando como um legislador positivo. 
Ao contrário, quando reconhece a inconstitucionalidade de determinado diploma penal, seja por meio de controle concentrado, exercido pelo STF, seja por meio do controle difuso, inerente a todo legislador, estará exercendo as funções de um legislador negativo, impedindo, outrossim, a aplicação da lei ao caso concreto. 
2) TEMPO DO CRIME – LEI PENAL NO TEMPO
Quando que um crime se considera praticado? R: há 3 teorias: a) teoria da atividade – o crime se considera praticado no momento da ação ou omissão; b) teoria do resultado – o crime se considera praticado no momento do resultado, não importando o momento da conduta; c) teoria da ubiqüidade – o crime se considera praticado tanto no momento da conduta quanto do resultado. O CP adotou a teoria da atividade – art. 4º do CP
        Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Há 3 repercussões praticas: 
· Análise da imputabilidade do agente;
· Análise das circunstâncias da vítima – ex.: art. 121, parágrafo 4º, do CP – quando praticado o homicídio, a vítima era menor de 14 anos, e quando a vítima morreu, está já era maior de 14 anos – analisa-se o caso no momento da ação; assim, aplicará a causa de aumento de pena no momento da conduta;
· Análise de sucessões de leis penais no tempo – ex.: no momento do tiro, existia a lei A. No momento da sentença, existia a lei B. Quando há uma efetiva sucessão de leis penais, surge o conflito no tempo. Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso – tempus regit actus (mesmo princípio do Processo Penal). Contudo, essa regra (da irretroatividade) cede diante de alguns casos, exceções fundamentadas em razões político-sociais. Casos em que prevalecerá a exceção: I) na época do fato, este era considerado crime, mas lei posterior deixa de considerar crime – lei abolicionista – abolitio criminis. II) quando da realização do fato, era crime, mas lei posterior diminui a pena – parágrafo único do art. 2º do CP – lei posterior mais benéfica.
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
        Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.  (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Chama-se de extra-atividade a capacidade que tem a lei penal de se movimentar no tempo regulando fatos ocorridos durante a sua vigência, mesmo depois de ter sido revogada, ou de retroagir no tempo, a fim de regular situações ocorridas anteriormente à sua vigência, desde que benéficas ao agente. Tem-se, portanto, a extra-atividade como gênero, de onde seriam espécies a ultra-atividade e retroatividade. 
Ultra-atividade – quando a lei, mesmo depois de revogada, continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência;
Retroatividade – seria a possibilidade conferida à lei penal de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor. 
OBS.: Lei intermediária – pode acontecer a hipótese em que a lei a ser aplicada não seja nem aquela vigente à época dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolação da sentença – caso da lei intermediária. A regra da ultra-atividade e da retroatividade são absolutas no sentido de, sempre, ser aplicada ao agente a lei que mais lhe favoreça, não importando, na verdade, o momento de sua vigência, isto é, se na data do fato, na data da sentença ou mesmo entre esses dois marcos. 
2.1) ABOLITIO CRIMINIS
É a supressão da figura criminosa, ex.: sedução, adultério. Para o CP, sua natureza jurídica é causa extintiva da punibilidade (art. 107, III, do CP). Tem doutrina minoritária dizendo que natureza jurídica da abolitio criminis é exclusão da tipicidade (em todos os outros casos de extinção de punibilidade, o tipo continua existindo, ex.: na prescrição, o tipo continua vigente, e na abolitio criminis o próprio tipo penal desaparece) – FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS, BASILEU GARCIA. 
Lei abolicionista não respeita a coisa julgada.
        Art. 5º, XXXVI, da CF - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; 
O art.2º não infringe o art. 5º, XXXVI, da CF, pois o mandamento constitucional tutela a garantia individual do cidadão, e não o direito de punir do Estado. 
Os efeitos extrapenais permanecem. Apenas os efeitos penais é que desaparecem. Ex.: sentença servindo com título executivo judicial (sanção civil) – permanece! 
OBS.: Lei abolicionista pode retroagir na vacatio legis? R: Ex.: Lei 6368/76 punia o usuário de drogas com pena de 6 meses a 2 anos; a Lei 11343/2006 pune hoje com pena de advertência e outras. 1ª corrente – lei na vacatio não tem eficácia jurídica ou social (não pode retroagir na vacatio). 2ª corrente – considerando que a finalidade da vacatio é informar a iminente alteração do ordenamento, lei neste estágio pode ser aplicada para aqueles que demonstram conhecimento da mudança. A 1ª corrente é a que prevalece.
OBS.2: Vacatio legis indireta – considera-se a hipótese em que a lei, além do seu normal período de vacatio legis, em seu próprio corpo, prevê um outro prazo para que determinados dispositivos possam ter aplicação, a exemplo do que ocorreu com os arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento.
...Assim sendo, flagrado o paciente dentro do período chamado de vacatio legis indireta (...), em que estava suspensa a eficácia do dispositivo legal que lhe foi imputado, há reconhecer a atipicidade da conduta e a ausência de justa causa para a ação penal”(STJ, HC 58703/RJ).
Extrai-se do caput do art. 2º do CP que, havendo a descriminalização e uma vez cessados os efeitos da sentença condenatória, deverá ser providenciada a retirada do nome do agente do rol dos culpados, não podendo a sua condenação ser considerada para fins de reincidência ou mesmo antecedentes penais. Os efeitos civis, ao contrário, não serão atingidos pela abolitio criminis. 
Abolitio criminis temporalis
Ou também chamada de suspensão da tipicidade. É a situação na qual a aplicação de um determinado tipo penal encontra-setemporariamente suspensa, não permitindo, consequentemente, a punição do agente que pratica o comportamento típico durante o prazo da suspensão. Ex.: posse irregular de arma – art. 12 da Lei 10826/2003. O ar. 30 da mesma lei determinou que os possuidores e proprietários de armas de foto não registradas deveriam, sob pena de responsabilidade penal, no prazo de 180 dias após a publicação da lei solicitarem o seu registro apresentado nota fiscal de compra ou comprovação da origem lícita da posse – tal prazo já foi várias vezes prorrogado. 
2.2) SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NA CONTINUIDADE DELITIVA
Continuidade delitiva é a pluralidade de crimes nas mesmas circunstâncias de tempo, modo e lugar (é uma ficção jurídica). 1ª corrente – na dúvida, o juiz aplicará a lei mais favorável. 2ª corrente – como o crime é único, ele é praticado tanto no primeiro momento (na vigência da 1ª lei), como num segundo momento (na vigência da 2ª lei) – está seguindo o mesmo espírito do crime permanente. Prevalece a segunda corrente. 
Súmula 711 do STF
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU A PERMANÊNCIA.
OBS.: Fala-se em combinação de leis quando ao julgador é conferida a possibilidade de extrair de dois diplomas os dispositivos que atendam aos interesses do agente, desprezando aqueles outros que o prejudiquem. É possível combinação de leis? R: 1ª corrente – não, pois assim, o juiz passa a legislar (criando a lex tentia). 2ª corrente– sim, pois se o juiz pode o mais (não aplicar uma lei no todo), ele poderá o menos (não aplicar lei em parte) – doutrina moderna (LFG, DAMÁSIO, ROGÉRIO GRECO). A própria doutrina moderna reconhece que a posição do STF e do STJ é a primeira. Todavia, as últimas decisões desses tribunais indicam a possibilidade de combinação de leis. É o caso do STF ao decidir pelo cabimento, a autor de crime de tráfico de drogas cometido sob égide da Lei 6368/76, do benefício introduzido pelo art. 33, parágrafo 4º, da Nova Lei de Drogas – Lei 11343/2006. Concluiu-se que aplicar a causa de diminuição não significa baralhar e confundir normas uma vez que o juiz, ao assim proceder, não cria lei nova, mas apenas se movimenta dentro dos quadros legais para uma tarefa de integração perfeitamente possível. Enfatizou-se, também, que a vedação de junção de dispositivos de leis diversas é apenas produto de interpretação da doutrina e da jurisprudência, sem apoio direto em texto constitucional. O STF, assim, abandonou, destarte, a teoria da ponderação unitária ou global (a lei na sua totalidade, na globalidade das suas disposições, deve ser aplicada), e filiou-se à teoria da ponderação diferenciada, pela qual, considerada a complexidade de cada uma das leis em conlfito no tempo e a relativa autonomia de cada uma das disposições, é preciso proceder-se ao confronto de cada uma das disposições de cada lei, podendo, portanto, acabar por se aplicar ao caso sub judice disposições de ambas as leis. Há uma 3ª corrente (decisão ilhada no STJ) que entende que não pode combinar lei, devendo o réu escolher a que ele achar a melhor. 
2.3) APLICAÇÃO DA LEI MAIS FAVORÁVEL
Se o processo já estiver em andamento, o juiz ou Tribunal poderá aplicar a Lex mitior (lei menos grave, no caso de retração da lei mais benéfica).
Depois do trânsito em julgado, quem aplica a lei mais favorável? R: Se for numa 1ª fase de concurso ou prova objetiva, é o juiz da execução (Súmula 611 do STF) 
súmula nº 611
Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.
Mas dependerá, para uma outra fase de concurso, se for uma aplicação meramente matemática – será o juiz da execução. Mas se for uma aplicação de um juízo de valor – ter-se-á que entrar com revisão criminal – ROGÉRIO GRECO entende assim. Assim, toda vez que o juiz da Vara de Execuções, a fim de aplicar a Lex mitior, tiver de, obrigatoriamente, adentrar no mérito da ação penal de conhecimento, já não possuirá competência para tanto. 
Apuração da maior benignidade da lei
Pode acontecer que ocorra sucessão de leis e, na busca por aquela que melhor atenda aos interesses do agente, não consiga o julgador identificar a que efetivamente possa ser considerada como Lex mitior.
NÉLSON HUNGRIA, então, citando dispositivos dos Códigos mexicano e espanhol que dispunham que em caso de dúvida sobre a lei mais favorável deverá ser ouvido o réu, entendia ser essa a posição “mais racional, pois ninguém melhor do que o réu para conhecer as disposições que lhe são mais benéficas”. 
OBS.: Quanto à lei penal em branco e retroatividade da lei que serve como complemento – na hipótese de norma penal em branco sofrer alteração de conteúdo de seu complemento, deve-se analisar, primeiramente, se o complemento é lei ou espécie normativa diversa da lei. Se lei (NPB em sentido amplo), havendo alteração benéfica, sempre retroage. Se espécie normativa diversa da lei, (NPB em sentido estrito), deve ser analisado se a alteração tem fins de atualização ou descriminalização. Se meramente atualizadora, não retroage; se abolicionista, retroage. 
2.4) LEI EXCEPCIONAL E TEMPORÁRIA – LEIS ULTRATIVAS
        Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.   (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Lei temporária (temporária em sentido estrito) tem prefixado no seu texto o tempo de vigência, o tempo de sua duração.
Lei excepcional (temporária em sentido amplo) é a que atende à excepcional situação de emergência (guerras, calamidades, epidemias), perdurando durante todo o período excepcional. 
DAMÁSIO – quando a lei ordinária retoma o seu vigor após a extinção da vigência da lei excepcional ou temporária, não é mudada a concepção jurídica do fato. Este passa a ser lícito porque não mais estão presentes as condições temporais ou de fato exigidas por aquelas. Terminado o prazo de sua vigência e em vigor a lei ordinária menos severa, não há alteração do estado jurídico do fato, no sentido de tornar mais benigna a repressão penal, mas ausência das situações que justificavam a maior punibilidade.
Ex.: Lei 1521 de 51 e Lei 8137 de 1990 contém um dispositivo de lei penal excepcional – crime de congelamento de preços – Crimes contra a Economia Popular. Se o comerciante vender um produto acima do preço previsto em tabela oficial, comete crime contra a Economia Popular. Todavia, este artigo só se rege em situações de crises econômicas. Terminado a época o congelamento de preços, os inquéritos policiais e as ações penais devem seguir, pois o fato foi praticado em época de crise econômica. 
        Art. 5º, XL, da CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
Discute-se se o art. 3º foi recepcionado pela CF, tendo como base o inciso XL, do art. 5º, da CF. 1ª corrente – para ZAFFARONI, ROGÉRIO GRECO, NILO BATISTA, não trazendo a CF qualquer exceção à proibição da ultratividade maléfica, o art. 3º não foi recepcionado. Prevalece a 2ª corrente – a lei nova não revoga a anterior, pois não trata exatamente da mesma matéria. Não há, portanto, um conflito de leis penais no tempo, por isso que o art. 3º foi recepcionado pela CF de 1988. 
OBS.: não se pode confundir abolitio criminis com o princípio da continuidade normativo típica. Na abolitio criminis existe uma revogação formal e supressão do conteúdo, da figura criminosa. Aqui, a intenção do legislador é não mais considerar o fato como criminoso, ex.: crime de sedução. No princípio da continuidade delitiva há a alteração formal e deslocamento do conteúdo (permanece criminoso). A intenção do legislador é manter o fato como criminoso, ex.: antigo crime de rapto violento previsto art. 219, hoje é seqüestro qualificado com finalidade libidinosa. O legislador deu nova roupagem. 
3) LEI PENAL NO ESPAÇO
Sabendo que o fato punível pode, eventualmente, atingir o interesse de dois ou mais Estados igualmentesoberanos, o estudo da lei penal no espaço visa a descobrir qual é o âmbito territorial da lei penal brasileira, bem como de que forma o Brasil se relaciona com os outros países em matéria penal. 
3.1) PRINCÍPIOS SOLUCIONADORES DO CONFLITO DA LEI PENAL NO ESPAÇO
3.1.1) Princípio da territorialidade
Aplica-se a lei do local do crime. Não importa a nacionalidade dos sujeitos ou do bem jurídico. 
3.1.2) Princípio da nacionalidade ativa
Aplica-se a lei da nacionalidade do sujeito ativo. Não importa o local do crime ou nacionalidade do sujeito passivo.
3.1.3) Princípio da nacionalidade passiva
Aplica-se a lei da nacionalidade do agente somente quando atinge direitos de um concidadão. Não importa o lugar do crime. 
3.1.4) Princípio da defesa ou real
Aplica-se a lei da nacionalidade do sujeito passivo ou do bem jurídico lesado. Não importa o lugar do crime ou nacionalidade do agente. 
3.1.5) Princípio da justiça penal universal
O agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado. Não importa o lugar do crime ou nacionalidade dos sujeitos. 
3.1.6) Princípio da representação, da bandeira, da subsidiariedade
A lei penal nacional aplica-se aos crimes praticados em aeronaves e embarcações privadas, quando no estrangeiro e aí não sejam julgados. 
Regra: é o princípio da territorialidade – art. 5º do CP. Trata-se de uma territorialidade temperada, mitigada. 
Territorialidade
        Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Exceções: disposições previstas em convenções, tratados e regras de direito internacional, ex.: imunidade diplomática. 
Exs.: crime cometido dentro do Brasil e a lei brasileira será aplicada – territorialidade; crime cometido fora do Brasil, mas a lei brasileira será aplicada – extraterritorialidade; crime cometido dentro do Brasil, mas a lei estrangeira será aplicada – intraterritorialidade, ex.: imunidade diplomática. 
Assim, o art. 5º do CP adotou a territorialidade, excepcionada pela intraterritorialidade. 
3.2) CONCEITO DE TERRITÓRIO NACIONAL
Ele não é apenas o espaço físico (lagos, rios, montanhas etc.), mas também o espaço jurídico, por ficção, equiparação ou extensão, previsto no art. 5º, parágrafos 1º e 2º, do CP. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
        § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
Aeronave ou embarcação pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que esteja – é território nacional. 
Aeronave ou embarcação privada – território nacional, apenas se no espaço aéreo nacional ou em alto-mar.
OBS.: Embaixada não é extensão do território que representa, mas é inviolável. 
Art. 5º, parágrafo 2º - a embarcação pública estrangeira também será território estrangeiro quando no espaço aéreo ou mar territorial brasileiro – princípio da reciprocidade. 
Casos práticos: 
1) embarcação privada brasileira em alto-mar. Em cima dos destroços da embarcação, um italiano matou um argentino ( os destroços da embarcação continuam ostentando a bandeira – aplica-se a lei brasileira. 
2) em alto-mar, uma embarcação privada brasileira colidiu com uma embarcação holandesa. Dois sobreviventes (americano e argentino) construíram uma jangada com os destroços das duas embarcações. O americano matou o argentino ( a lei não explica este problema – não há solução legal. A doutrina diz que, se a lei não resolve, aplica-se com a lei da nacionalidade do agente. 
3) navio público colombiano atracado na costa brasileira. O marinheiro colombiano desceu do navio e praticou um estupro em terras brasileiras ( dependerá, pois, se ele desceu a serviço (carregará a bandeira) ( aplica-se a lei colombiana; se ele desceu à busca de diversão ( aplica-se a lei brasileira. 
3.3) LUGAR DO CRIME
Art. 6º do CP
   Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984)
O CP adotou a teoria da ubiqüidade – o Brasil considera praticado o crime no lugar da conduta ou no do resultado. 
DICA: L(Lugar do crime) U(Ubiqüidade) T(Tempo do crime) A(Atividade).
 Só se aplica a lei brasileira se no nosso território acontecer atos de execução. Ato preparatório, mera cogitação, mero exaurimento, ocorrendo no Brasil, não se aplica a lei brasileira. Ex.: navio particular indo de Portugal a caminho da Argentina. Ao passar pela costa brasileira (passagem inocente), se algum crime ocorrer lá, a lei brasileira não será aplicada. Hoje vem sendo amplamente aplicada no direito brasileiro a teoria da passagem inocente, isto é, quando navio passa pelo território nacional apenas como passagem necessária para chegar ao seu destino (no nosso território não atracará) não se aplica a lei penal brasileira. OBS.: a teoria da passagem inocente nasceu para regulamentar crimes a bordo de navios, não envolvendo crimes praticados em aeronaves, mas a doutrina estende para aeronaves, não vendo razões para restrições. 
3.3.1) Crimes à distância (espaço máximo) X crimes plurilocais
Nos crimes à distância, o fato criminoso percorre dois ou mais estados igualmente soberanos – conflito internacional de jurisdição – solução: teoria da ubiqüidade, art. 6º do CP (este artigo nasceu para regulamentar tal problema). 
Nos crimes plurilocais, o fato criminoso percorre diversas localidades do mesmo Estado soberano – conflito interno de competência (matéria de Processo Penal – teoria do resultado – art. 70 do CPP). 
        Art. 70.  A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
OBS.: Na lei 9099/95, aplica-se a teoria da atividade quanto ao local do crime.
3.4) HIPÓTESES DE EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL – ART. 7º DO CP
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
        I - os crimes:
        a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; - princípio da defesa ou real
        b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; - princípio da defesa ou real
        c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; - princípio da defesa ou real
        d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; - são três correntes: justiça penal universal; princípio da defesa ou real; princípio da nacionalidade ativa (este está errada, pois não se exige apenas que o agente seja nacional; pode ser também o domiciliado no Brasil). A chance é prevalecer a primeira corrente nos Tribunais Superiores (natureza supralegal dos tratados internacionais sobre direitos humanos).
        II - os crimes:  
        a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; - princípio da justiça penal universal
        b) praticados por brasileiro; - princípio da nacionalidade ativa
        c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 1984) – princípio da representação
§ 3º - A lei

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