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Unidade IV - Remédios Constitucionais

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DIREITO CONSTITUCIONAL I 
Faculdade Estácio Doca
2020.1
1.	UNIDADE 4: Remédios constitucionais	2
1.1.	Introdução:	2
1.2.	Habeas Corpus	3
1.2.1.	A teoria brasileira do habeas corpus:	3
1.2.2.	Considerações gerais do habeas corpus:	4
1.2.2.1.	Impetrante:	4
1.2.2.2.	Paciente:	5
1.2.3.	Representação processual:	5
1.2.4.	Ato impugnado:	5
1.2.5.	Habeas corpus coletivo?	6
1.2.6.	Competência:	6
1.2.7.	Espécies:	7
1.2.8.	Prova:	7
1.2.9.	Liminar:	7
1.2.10.	Concessão de ofício:	7
1.2.11.	Procedimento:	8
1.2.12.	HC substitutivo e de decisão que indefere liminar:	8
1.3.	Mandado de segurança	8
1.3.1.	Introdução:	8
1.3.2.	Finalidade do mandado de segurança:	9
1.3.3.	Caráter residual do mandado de segurança:	9
1.3.4.	Direito líquido e certo:	9
1.3.5.	Espécies:	10
1.3.6.	Autoridade coatora:	10
1.3.7.	Ilegalidade ou abuso de poder:	10
1.3.8.	Legitimidade:	12
1.3.9.	Autoridade coatora:	12
1.3.9.1.1.	Teoria da encampação:	13
1.3.10.	Litisconsórcio passivo necessário:	14
1.3.11.	Informações:	14
1.3.12.	Procedimento:	14
1.3.13.	Prazo para a impetração	14
1.3.14.	Competência:	15
1.3.15.	Desistência:	15
1.4.	Mandado de segurança coletivo:	15
1.4.1.	Introdução:	15
1.4.2.	Legitimidade ativa	15
1.4.3.	Objeto:	16
1.4.3.1.	Direitos difusos podem ser protegidos por mandado de segurança coletivo?	17
1.4.4.	Legitimidade passiva:	17
1.4.5.	Concomitância de processos e ausência de conexão ou continência:	18
1.4.6.	Coisa Julgada:	18
1.5.	Habeas Data	18
1.5.1.	Introdução:	18
1.5.2.	Natureza jurídica	19
1.5.3.	Legitimidade ativa	19
1.5.4.	Legitimidade passiva:	19
1.5.5.	Procedimento:	20
1.5.6.	Competência	20
1.5.7.	Habeas data e dados sigilosos:	21
1.6.	Mandado de injunção	21
1.6.1.	Introdução:	21
1.6.2.	Objetivo:	21
1.6.3.	Comparativo com a ADO:	22
1.6.4.	Legitimidade ativa	22
1.6.5.	Legitimidade passiva:	23
1.6.6.	Competência:	23
1.6.7.	Efeitos da decisão:	23
1.6.8.	Litispendência:	24
1.6.9.	Procedimento:	24
1.6.10.	Medida cautelar:	25
1.7.	Ação Popular	25
1.7.1.	Introdução:	25
1.7.2.	Objeto:	25
1.7.3.	Requisitos:	25
1.7.4.	Legitimidade ativa:	26
1.7.5.	Legitimidade passiva:	26
1.7.6.	Intervenção móvel:	26
1.7.7.	Competência:	27
1.7.8.	Medida cautelar:	27
1.7.9.	Coisa Jugada:	27
1.7.10.	Custas:	28
1.8.	Ação Civil Pública:	28
1.8.1.	Ação civil pública enquanto “remédio constitucional”:	28
1.8.2.	Microssistema da tutela do processo coletivo:	28
1.8.3.	Âmbito de proteção:	28
1.8.4.	Titularidade:	30
1.8.5.	Medida Cautelar:	31
1.8.6.	Coisa julgada:	31
1.8.7.	Litispendência:	33
REFERÊNCIAS:	34
UNIDADE 4: Remédios constitucionais
Introdução:
	
	Flávio Martins, adotando a distinção de Ruy Barbosa, explica que o termo “direitos fundamentais” correspondem a normas de conteúdo declaratório. Portanto, posições de vantagem conferidas pela lei, como o direito à vida, à liberdade de expressão, à liberdade religiosa, etc. Já as garantias fundamentais correspondem a normas de conteúdo assecuratório. 
“São instrumentos destinados a garantir, a assegurar os direitos previamente tutelados” (MARTINS, 2017, p. 602).
	Os remédios constitucionais são, portanto, garantias fundamentais, tendo em vista que asseguram os direitos fundamentais previstos na Constituição.
	Os remédios constitucionais tem íntima ligação ao princípio da inafastabilidade da jurisdição. Desde a Constituição de 1946 (art. 141, § 4º), segundo Gilmar Mendes, foi constitucionalizada a fórmula no qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (CF/88, art. 5º, XXXV). Trata-se, segundo o autor, da consagração da tutela judicial efetiva, que garante a proteção judicial contra lesão ou ameaça a direito.
	Portanto, os remédios constitucionais são, nas palavras de Ingo Sarlet, “procedimentos de matriz constitucional (e, neste sentido, ações constitucionais), que outorgam ao indivíduo, inclusive na condição de integrante de uma coletividade, a possibilidade de se defender de ingerências indevidas em sua esfera privada, protegendo-se contra abusos de poder, agressões aos seus direitos, além de viabilizarem a efetivação dos direitos e garantias fundamentais em geral” (A eficácia dos direitos fundamentais, p. 199).
	Nessa unidade serão estudadas as seguintes ações: habeas corpus, mandado de segurança (individual e coletivo), habeas data, mandado de injunção (individual e coletivo), ação popular e ação civil pública. 
Habeas Corpus
	O habeas corpus é considerado por muitos, a primeira garantia de direitos fundamentais, concedida por “João Sem Terra”, monarca inglês, na Magna Carta, em 1215, e formalizada, posteriormente, pelo Habeas Corpus Act, em 1679.
	No Brasil, a primeira manifestação do instituto deu-se em 1821, através de um alvará emitido por Dom Pedro I, pelo qual se assegurava a liberdade de locomoção. Contudo, a terminologia “habeas corpus” é de 1830, no Código Criminal.
	Foi garantido constitucionalmente a partir de 1891, permanecendo nas Constituições subsequentes, inclusive na de 1988, que, em seu art. 5º, LXVIII.
A teoria brasileira do habeas corpus:
	A Constituição de 1891 estabeleceu, no art. 72, § 22: 
dar-se-á́ habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer violência, ou coação, por ilegalidade, ou abuso de poder.
	Considerando a abstração do dispositivo, três posições firmaram‐se com o advento da Constituição de 1891: 
1ª. Ruy Barbosa sustentava que a garantia deveria ser aplicada em todos os casos em que um direito estivesse ameaçado, ou impossibilitado de seu exercício por abuso de poder ou ilegalidade; 
2ª. O habeas corpus, por sua natureza e origem histórica, era remédio destinado exclusivamente à proteção da liberdade de locomoção; e 
3ª. O Supremo Tribunal Federal propugnava incluir na proteção do habeas corpus não só́ os casos de restrição da liberdade de locomoção, como também as situações em que a ofensa a essa liberdade fosse meio de ofender outro direito.
	A prevalência da terceira corrente possibilitou o uso do habeas corpus para anular até mesmo ato administrativo que determinara o cancelamento de matrícula de aluno em escola pública; para garantir a realização de comícios eleitorais; para o exercício de profissão, dentre outras possibilidades.
	Pedro Lessa explica que quando se ofende a liberdade religiosa, obstando que alguém penetre no templo, tem cabimento o habeas corpus, pois foi embaraçada a liberdade de locomoção que se feriu a liberdade religiosa. Por outro lado, quando se ofende a liberdade religiosa, porque se arrasam as igrejas, ou se destroem os objetos do culto, não é possível requerer o remédio, porque aí não está em jogo a liberdade de locomoção das pessoas.
	Em 1926, o habeas corpus teve seu âmbito de proteção reduzido, ficando vedada a sua aplicação para proteção de outros direitos que não a liberdade de ir e vir.
Considerações gerais do habeas corpus:
	O “autor da ação” constitucional de habeas corpus recebe o nome de impetrante;
	O indivíduo em favor do qual se impetra, isto é o beneficiado, é denominado paciente. Podendo ser o próprio impetrante.
	A autoridade que pratica a ilegalidade ou abuso de poder, autoridade coatora ou impetrado. 
	IMPORTANTE: o habeas corpus trata-se de uma ação e não um recurso, que visa à tutela jurisdicional da liberdade.
Impetrante:
 
	O impetrante poderá ser qualquer pessoa física (nacional ou estrangeira) em sua própria defesa, em favor de terceiro, podendo ser o Ministério Público ou mesmo pessoa jurídica (mas, é claro, em favor de pessoa física).
Paciente:
 
	O paciente será qualquer pessoa física (nacional ou estrangeira) não podendo ser pessoa jurídica.
Representação processual:
	A ação pode ser formulada sem advogado, não tendo de obedecer a nenhuma formalidade processual ou instrumental, sendo, por força do art. 5.º, LXXVII, gratuita.
	Contudo, a petição deve, obrigatoriamente, ser escrita em português.
Ato impugnado:
	A liberdade de locomoção objeto do remédio constitucional deve ser entendida de forma ampla, independentemente de sua lesão ou ameaça decorrer de um ato do Poder Público. 
	Portanto, é possível se impetrar um habeas corpuscontra ato praticado por particulares, como a internação involuntária em clínica psiquiátrica ou internato. 
	Contudo, o art. 142, § 2º da Constituição veda a concessão de habeas corpus em relação a punições disciplinares militares puníveis com prisão. Essa regra foi estendida aos militares estaduais, por força do art. 42, § 1º da CF.
	Veda-se analisar o mérito da prisão e não seus pressupostos de legalidade (RE 338.840)
	Luiz Guilherme Marinoni explica que por tutelar o direito à liberdade de locomoção, o habeas corpus está intimamente ligado à prisão. Portanto a ação tem por função prevenir ou reprimir prisões ilegais. Por isso não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada” (Súmula 693 do STF).
	Ademais, não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade (Súmula 695 do STF). 
	Para o STF o HC não é instrumento adequado para o trancamento de processo de impeachment, considerando que a sanção cabível é de caráter político-administrativa e não coloca em risco o direito de locomoção do Presidente da República (HC 70.055).
	O Supremo Tribunal Federal entende incabível o habeas corpus contra ato jurisdicional de seus ministros ou de seus órgãos fracionários. Isso porque a decisão poderá ser combatida por agravo.
	O ato impugnado deve restringir a liberdade de locomoção, ainda que em tese ou indiretamente. No julgamento do HC 90.617, por exemplo, a 2ª Turma do STF deferiu a ordem para suspender efeitos de decisão que afastavam o paciente de sua função de desembargador. A ordem também foi concedida no HC 121.089, possibilitando a ação constitucional para os casos de medidas cautelares diversas da prisão. Isso porque uma descumpridas, essas medidas podem ser convertidas em prisão preventiva.
Habeas corpus coletivo?
	Gilmar Mendes aponta que há quem defenda sua impetração na defesa de direitos coletivos, de forma semelhante ao que ocorre com o mandado de segurança.
	Apesar de o STJ ter julgados afastando o cabimento do writ em caráter coletivo (RHC 46.998), o STF, em 2018, concedeu habeas corpus coletivo, no julgamento do HC 143.641. As justificativas da corte foram as seguintes:
· Relações de massa exigem tutela adequada coletiva;
· Resgate histórico da teoria brasileira do habeas corpus.
· A possibilidade de concessão da ordem de ofício (CPP, art. 654, § 2º).
· Possibilidade de extensão da ordem de habeas corpus (CPP, art. 580)
· Duração razoável do processo;
· Efetividade da prestação jurisdicional;
· Aplicação analógica da lei do mandado de injunção;
· Calamidade do sistema penitenciário brasileiro.
· Combate à cultura do encarceramento.
· Incapacidade de o Estado garantir direitos mínimos aos presos.
· Proteção aos filhos (CF, art. 227)
· Direitos fundamentais.
· Tratados internacionais (Regras de Bangkok)
Competência:
	O órgão competente para apreciar a ação de habeas corpus será determinado de acordo com a autoridade coatora, excepcionalmente, e a Constituição prevê algumas situações atribuindo previamente a competência a tribunais, em razão do paciente:
· CF, art. 102, I, d e i; II, a; 
· CF, art. 105, I, c; II, a;
· CF, art. 108, I, d; II
· CF, art. 109, VII;
· CF, art. 121, §§ 3º e 4º, V c/c art. 105, I, c.
	O STF definiu no HC 86.834 ser de competência para o TJ ou TRF a competência para o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais.
Espécies:
	O habeas corpus poderá ser preventivo. Em caso de ameaça de violência ou coação da liberdade de locomoção, ou por ilegalidade ou abuso de poder. 
	Nesse caso, ao paciente poderá ser concedido um salvo-conduto.
	O writ poderá ser liberatório ou repressivo, para cessar a violência ou coação.
	Não há prazo legal para a impetração do HC, tal como ocorre no mandado de segurança. Contudo, como já destacado, o wirt deve ser impetrado até o fim do cumprimento da pena restritiva de liberdade. 
Prova:
	Pedro Lenza destaca que tendo em vista o seu caráter voltado para a defesa imediata contra lesão ao direito de liberdade de locomoção, é pacifica a orientação no sentido de se exigir a apresentação de prova pré-constituída e, por isso, de se não utilizar o instituto para proteção de situações jurídicas que demandem dilação probatória ou envolvam estado de fato controvertido.
Liminar:
	Ainda que sem previsão legal para o deferimento de medida cautelar, o STF, no HC 41.296 decidiu ser cabível a liminar em HC. Desde então, não mais se questiona o cabimento de liminar em sede de habeas corpus. 
	Embora sem expressa previsão legal, o provimento cautelar passou a integrar, por construção jurisprudencial, a própria conformação do instituto.
Concessão de ofício:
	A ordem de habeas corpus pode ser concedida de ofício (art. 5º, XXXV, da CF e art. 654, § 2º, do CPP).
	Gilmar Mendes explica que a menção à concessão da ordem de ofício causa alguma confusão. 
	A locução habeas corpus é utilizada com dois significados: a ação e a própria ordem.
	A ordem de habeas corpus, por sua vez, pode ser concedida tanto como resultado da procedência da ação de habeas corpus quanto ex officio, na forma do art. 654, § 2º, do CPP. 
	Esse dispositivo se aplica quando a ordem não é o objeto de ação de habeas corpus. 
	Verificando, em processo em curso, a coação ilegal, o juízo concede a ordem de habeas corpus, mesmo sem requerimento. O poder de conceder a ordem ex officio permite ao julgador analisar qualquer coação ilegal à liberdade de locomoção ligada ao processo em julgamento, ampliando a cognição em duas direções. Por um lado, o juiz ou tribunal não está limitado aos elementos que identificam a ação (partes, causa de pedir e pedido) ou à matéria devolvida no recurso. 
Procedimento:
	O procedimento do HC está previsto nos arts. 647 e seguintes do Código de Processo Penal.
HC substitutivo e de decisão que indefere liminar:
	O STF tem entendimento de que não compete ao tribunal conhecer habeas corpus impetrado contra decisão de relator de tribunal superior, que indefere a liminar. A ideia é evitar o colapso entre os órgãos e a supressão de instância. Contudo, há algumas decisões monocráticas no tribunal, que condicionam a eficácia do provimento até o julgamento do mérito do HC pelo Tribunal coator.
	Para Gilmar Mendes para o resguardo das situações de deferimento da ordem, ou a do indeferimento por novos fundamentos, a súmula 691 do STF teria sido superada. O STF tem abrandado o rigor da Súmula 691 nos casos em que: 
· seja premente a necessidade de concessão do provimento cautelar e 
· a negativa de liminar pelo tribunal superior importe a caracterização ou manutenção de situações manifestamente contrárias ao entendimento do Supremo Tribunal Federal.
· Outra situação refere-se ao entendimento da 1ª Turma do STF de não conhecer de habeas corpus como sucedâneo de recurso.
	Trata-se de uma quebra da jurisprudência da corte que admitiam HC originário, em lugar de recurso ordinário.
Mandado de segurança
Introdução:
	Uadi Lammêgo Bulos conceitua o mandado de segurança como o (2018, p. 767) instrumento processual constitucional, colocado ao dispor de toda pessoa física ou jurídica, para proteger direito líquido e certo, não tutelado por habeas corpus ou habeas data, lesado ou prestes a sofrer ameaça de lesão por ato ilegal ou abusivo, comissivo ou omissivo, proveniente de autoridade pública ou de seus delegados, sejam quais forem as funções que desempenhem.
	O mandamus é uma criação brasileira. Proveio da Carta de 1934 (art. 113, n. 33). Omitido pelo Texto de 1937, a sua regulamentação ficou restrita à lei ordinária, voltando ao patamar constitucional só com a Constituição de 1946,
	Bulos destaca que a fonte de inspiração imediata do mandado de segurança foi a teoria brasileira do habeas corpus, juntamente com os interditos possessórios e a ação anulatória de atos da administração (Lei n. 221/1894). 
	Indiretamente, guarda similitude com institutos congêneres em vários writs do Direito anglo-americano(mandamus, prohibition, certionari, quo warrant, injunction, declaratory judgements) e no juicio de amparo mexicano (Constituição de 1917), hondurenho e de El Salvador. 	Durante as Ordenações do Reino, tivemos institutos jurídicos parecidos com o mandado de segurança. Nas Ordenações Afonsinas, por exemplo, existiu a apelação extrajudicial, muito próxima do nosso writ. As Ordenações Filipinas, de 1603, que duraram cerca de duzentos anos em Portugal e influenciaram diretamente o Código Civil brasileiro, registraram a carta testemunhável, que deveria ser apresentada no prazo de trinta dias.
	O mandamus é, a um só tempo, garantia constitucional e instrumento processual. Como garantia, vem positivado na Constituição, que consagra os seus pressupostos de impetração, fixando, até, o foro e o juízo competente para o seu julgamento quando a União for interessada (art. 109, I e VIII). Enquanto instrumento processual, trata-se de mecanismo de jurisdição contenciosa, verdadeira ação civil de rito sumário especial, usada para invalidar atos de autoridade, suprir omissões administrativas, evitando lesões a direitos líquidos e certos, pouco importando a natureza do ato impugnado.
	Portanto, ainda que a ação tenha natureza civil é possível impugnar um ato no âmbito de um processo criminal.
Finalidade do mandado de segurança:
	Instrumentalizar o Poder Judiciário na luta contra a ilegalidade ou o abuso de poder, cometidos por autoridades públicas ou agente de pessoa jurídica, no exercício de suas atribuições.
Caráter residual do mandado de segurança:
	O MS não substitui ação declaratória ou ação popular. Ademais, a proteção de direitos inerentes à liberdade de locomoção e ao acesso ou retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, estão excluídos do âmbito de abrangência do mandado de segurança.
Direito líquido e certo:
	Pedro Lenza (2018, p. 1314) ensina que o direito líquido e certo é aquele que pode ser demonstrado de plano mediante prova pré-constituída, sem a necessidade de dilação probatória. 
	Trata-se de direito manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. 
	O autor destaca que em verdade a terminologia constitucional é equivocada, afinal, todo direito, se existente, é líquido e certo. Os fatos que devem ser líquidos e certos para o cabimento do mandado de segurança.
	Desde a década de cinquenta que o Supremo Tribunal Federal entende que líquido e certo é o direito provado documentalmente por prova pré-constituída.
Espécies:
	O mandado de segurança, assim como o habeas corpus pode ser repressivo ou preventivo. 
	O mandado de segurança preventivo, segundo Flávio Martins (2014), é possível “quando o autor demonstrar justo receio de sofrer violação de seu direito por ato de autoridade, ou repressivo, se estiver sofrendo os efeitos da ilegalidade”.
 
Autoridade coatora:
	Trata-se de autoridade pública (titular do poder decisório) ou a pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias), podem praticar ato comissivo ou omissivo, ensejando a impetração do mandado de segurança quando: 
· inexistir balizamento legal para sua consecução; 
· contrariar lei expressa, regulamento ou princípios constitucionais positivos; 
· usurpar ou invadir funções; 
· calcar-se em desvios de competência, forma, objeto, motivo e finalidade; e 
· manter-se em desconformidade com norma legal ou em conformidade com norma ilegal ou inconstitucional.
Ilegalidade ou abuso de poder:
	O cabimento do mandado de segurança dá-se quando perpetrada ilegalidade ou abuso de poder por autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
	Para Uadi Lammêgo Bulos ilegal é o ato que não se submete à lei (lato sensu) e aos princípios cardeais do ordenamento. 
	O abuso de poder, por sua vez, contém-se na ideia de ilegalidade. Basta que a autoridade, no exercício de suas atribuições, transcenda ou distorça os limites de sua competência, alegando agir com fundamento nela, para configurar a hipótese.
	Lesão é o dano concretizado a um bem, comportando mandado de segurança repressivo. 
	Ameaça de lesão, por sua vez, é a possibilidade de consumação do dano, ensejando mandado de segurança preventivo.
	Destaca-se que o art. 1º, § 2º da Lei nº 12.016/09 retira do âmbito do mandado de segurança os atos de gestão de empresas públicas, concessionárias de serviço público ou sociedades de economia mista:
Lei nº 12.016/09, art. 1º, § 2º: Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.
	Luiz Guilherme Marinoni defende a inconstitucionalidade do dispositivo por não fazer qualquer ressalva. Para o autor sempre que o ato praticado por tais agentes for regido pelo direito público, cabe mandado de segurança para contrastar sua legalidade. 
	A restrição só concerne aos atos de gestão comercial – decisões estratégicas – a respeito dos rumos do negócio empreendido pelas empresas públicas, sociedades de economia mista e concessionárias de serviço público. 
	Segundo o art. 5º da Lei n. 12.016/2009, não se concederá mandado de segurança quando se tratar: 
· de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução (Súmula 429 do STF);
· de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo (Súmula 267 do STF); e
· de decisão judicial transitada em julgado (Súmula 268 do STF).
	É possível o ajuizamento do mandado de segurança contra ato disciplinar e atos judiciais:
caberá mandado de segurança se o recurso judicial interposto não produzir efeito suspensivo apto a sanar a ilegalidade ou abuso de poder (STF, 2a T., Pet. 764/RJ, Rel. Min. Paulo Brossard, RTJ, 149:413);
Se o ato impugnado em mandado de segurança decorre de fatos apurados em processo administrativo, a competência do Poder Judiciário circunscreve-se ao exame da legalidade do ato coator, dos possíveis vícios de caráter formal ou dos que atentem contra os postulados constitucionais da ampla defesa e do due process of law” (STF, RMS 24.347, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 4-4-2003);
É certo que esta Corte, abrandando a rigidez da Súmula 267 [‘Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição’], tem admitido Mandado de Segurança quando, do ato impugnado, puder resultar dano irreparável, desde logo cabalmente demonstrado” (STF, MS 22.623-AgRg, Rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 7-3-1997);
	Não cabe mandado de segurança com o fim de busca de efeitos patrimoniais pretéritos.
	Gilmar Mendes destaca que o Supremo Tribunal Federal tem orientação pacífica no sentido do não cabimento de mandado de segurança contra lei ou ato normativo em tese (Súmula 266), uma vez que ineptos para provocar lesão a direito líquido e certo. Contudo, em sua concretização, através de ato administrativo, é possível sua impugnação, incidentalmente, com pedido de declaração de inconstitucionalidade da norma questionada.
	Luiz Guilherme Marinoni, por sua vez, ressalta que não há qualquer proibição contra impetração de mandado de segurança contra leis de efeitos concretos. Portanto, quando a legislação desde logo afeta a posição jurídica do impetrante, por ser a ele endereçada concretamente, é perfeitamente possível a impetração de mandado de segurança.
	O autor aponta o mandado de segurança preventivo pode justamente visar a impedir a violação da esfera jurídica do impetrante em face da incidência de legislação de aplicação vinculada. Portanto, o fato de a legislação ser de aplicação vinculada pelo administrador já constitui elemento suficiente para afastar a cogitação de se tratar de mandado de segurança contra lei em tese. 
	Uadi Lammêgo Bulos, por sua vez, aponta que atos praticados por parlamentares na feitura de leis, na votação de proposiçõesou na própria administração do Legislativo fazem parte do conceito ato de autoridade. Por isso, desde que violem a Constituição, as leis e demais normas regimentais, que norteiam a instituição que integram, é viável a impetração de mandado de segurança.
Legitimidade:
	O legitimado ativo, sujeito ativo, impetrante é o detentor de “direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data”.
	O legitimado passivo, sujeito passivo, impetrado é a autoridade coatora, responsável pela ilegalidade ou abuso de poder, autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
	Podem ser legitimados ativos:
· Pessoas físicas;
· Pessoas jurídicas;
· Nacionais ou estrangeiros;
· Domiciliados ou não no Brasil.
· Órgãos públicos despersonalizados, mas com capacidade processual (MP, mesas do legislativo, Presidências de Tribunais, Chefias do Executivo, etc);
· Universalidades reconhecidas por lei (espólio, massa falida, herança jacente, etc.)
· Ministério Público.
	Não tem legitimidade ativa ad causam para impetrar mandado de segurança o parlamentar que pretende defender prerrogativa do Congresso Nacional, visto que direito individual, para fins de mandado de segurança, é o que pertence a quem o invoca e não apenas à sua categoria, corporação ou associação de classe (STF, MS 23.914-AgRg, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 24-8-2001).
Autoridade coatora:
	Uadi Lammego Bulos explica que no mandado de segurança o sujeito passivo é quem irá suportar os ônus, os incômodos decorrentes da concessão da ordem, não a autoridade coatora, pois esta é mera informante. 
	O coator não é parte, no sentido material do termo, mas, apenas, na acepção processual.
	A parte, substancialmente falando, é somente a pessoa jurídica de direito público, e de direito privado, se for delegada ou concessionária de serviço público.
	Por isso, Luiz Guilherme Marinoni explica que, enquanto fonte de prova, a autoridade coatora tem o dever de dizer a verdade nas informações que presta, a parte não tem tal obrigação. 
	Para saber quem é a autoridade coatora no mandado de segurança basta delimitar o agente público, ou seja, descobrir quem pratica atos capazes de lesar o administrado. A autoridade coatora, portanto, é quem pratica efetivamente o ato ou a omissão, causando constrangimento ilegal, e, por isso, é chamada ao processo para prestar informações.
	Flávio Martins destaca que não há que se confundir a autoridade coatora com o mero executor material do ato. A autoridade coatora é a que concreta e especificamente tem poder sobre a situação jurídica do impetrante. Portanto, coator é a autoridade superior que pratica ou ordena concreta e especificamente a execução ou inexecução do ato impugnado e responde pelas suas consequências administrativas. Nesse sentido, o art. 6º, § 3º da Lei nº 12.016/09 dispõe o seguinte:
Art. 6º (...)
§3º Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática.
Teoria da encampação:
	Humberto Theodoro Júnior ensina que a jurisprudência desenvolveu a chamada “teoria da encampação” buscando superar equívocos de impetração de segurança, exatamente quando o ato atacado é de autoria de uma autoridade subalterna à aquela que, de fato determinou a sua prática, que, em outros termos, não participou, in concreto, do objeto da causa:
 
Segundo essa construção pretoriana, se a autoridade superior encampar o ato de seu inferior hierárquico – que seria o legitimado para figurar na posição processual de “autoridade coatora” –, promovendo, em juízo, sua defesa, passará a ocupar dita posição, daí em diante. Ao encampar o ato de seu subalterno, a autoridade superior faz com que tenha sido irrelevante o equívoco cometido na petição inicial. (THEODORO JÚNIOR, 2019, p. 214)
	Na prática, o STJ adotou a teoria, editando a súmula 628, que acabou por restringir sua aplicação:
Súmula 628: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.
Litisconsórcio passivo necessário:
	Segundo o Supremo Tribunal Federal, é obrigatória a citação do réu (pessoa jurídica ou física que a autoridade coatora está vinculada), na condição de litisconsorte passivo necessário.
Informações:
	As informações devem ser prestadas diretamente pela autoridade coatora, e não por advogado, no prazo improrrogável de dez dias (Lei n. 12.016/2009, art. 7º, I). Sendo o próprio agente administrativo o informante, haverá uma presunção relativa de veracidade. 
	A ausência de informações por parte da autoridade coatora não significa revelia (confissão ficta).
Procedimento:
	O procedimento está previsto na Lei nº 12.016/09.
	A inicial deve ser apresentada em 2 vias, com os documentos que a instruem reproduzidos na cópia.
	Exige-se a indicação do órgão ao qual a autoridade coatora se vincula.
	A exordial seguirá os requisitos previstos no art. 319 do Código de Processo Civil de 2015.
	É possível o pedido de exibição de documentos, quando ele se encontra na repartição ou estabelecimento público ou autoridade ou terceiro que se recuse a fornecê-lo.
	O mandado de segurança poderá ser renovado, dentro do prazo de 120 dias, se houver ação prévia, extinta sem o julgamento do mérito.
	O juiz poderá conceder liminar para a suspensão do ato impugnado, com ou sem caução, fiança ou depósito.
	O art. 10 da Lei prevê a possibilidade de indeferimento liminar da inicial quando:
· não for o caso de mandado de segurança;
· faltar algum dos requisitos legais;
· decorrido o prazo de impetração.
	Caberá apelação (quando o indeferimento for dado por juiz monocrático) ou agravo interno (quando proferido por relator em Tribunal).
Prazo para a impetração
	O direito de interposição do MS decai em 120 dias, após a ciência, pelo interessado, do ato impugnado.
	Para a jurisprudência, o prazo se inicia da publicação do ato no Diário Oficial.
Competência:
	Assim como no habeas corpus, o órgão competente para apreciar a ação do mandado de segurança será determinado de acordo com a autoridade coatora.
Desistência:
	O Plenário do STF já decidiu que o impetrante pode desistir de mandado de segurança a qualquer tempo, mesmo que proferida decisão de mérito a ele favorável, e sem anuência da parte contrária, mas desde que não tenha havido trânsito em julgado da decisão.
Mandado de segurança coletivo:
Introdução:
	O mandado de segurança coletivo foi introduzido pela Constituição de 1988 (CF, art. 5.°, LXX) e regulamentado pela Lei 12.016/2009, que dispõe apenas sobre a legitimidade ativa (art. 21), os direitos tutelados e os efeitos da decisão liminar (art. 21, parágrafo único) e de mérito (art. 22).
	Pedro Lenza destaca que a grande diferença entre o mandado de segurança individual e o coletivo reside em seu objeto e na legitimação ativa. 
	As explicações sobre “direito líquido e certo”, “ilegalidade e abuso de poder”, “legitimação passiva” e “campo residual”, são idênticas ao mandado de segurança individual.
Legitimidade ativa
	Podem impetrar o mandado de segurança coletivo:
· Partido político com representação no Congresso Nacional; e
· Organização sindical, entidade de classe ou associação, desde que estejam legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos 1 ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
	Apesar de a doutrina buscar a ampliação dos legitimados, alegando que o rol da Constituição seria exemplificativo, o STF entende que o rol é taxativo.
	A exigência constitucional é a de que o partido político necessita apenas de um representante no Congresso para ser legitimado à impetração do mandamus.
	 Já as organizações sindicais, entidades de classe e associações deverão preencher os seguintes requisitos constitucionais:· estar legalmente constituídas; e 
· atuar na defesa dos interesses dos seus membros ou associados.
	O requisito de estarem em funcionamento há pelo menos 1 ano é exclusivo das associações, não sendo exigida para os partidos políticos, organizações sindicais e entidades de classe.
	Conforme estabelece o art. 21 da Lei nº 12.016/09 o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional na defesa de seus interesses legítimos relativos:
· a seus integrantes; ou 
· à finalidade partidária.
	Marcelo Novelino defende que a interpretação restritiva dos interesses legítimos relativos à finalidade partidária é inconstitucional. Uma interpretação à luz da Constituição exigeria que a expressão “finalidade partidária” seja compreendida de forma ampla, como sendo o objetivo dos partidos políticos em geral. 
	Nos termos da Lei Orgânica dos Partidos Políticos, estes se destinam a “assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal” (Lei 9.096/1995, art. 1.°). 
	A legitimidade do partido político, portanto, não pode ser interpretada como sendo restrita apenas aos interesses de seus membros ou do próprio partido.
	Contudo, essa não é a posição da jurisprudência.
Objeto:
	O mandado de segurança coletivo busca a proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, contra atos ou omissões ilegais ou com abuso de poder de autoridade, buscando a preservação (preventivo) ou reparação (repressivo) de interesses transindividuais, sejam os individuais homogêneos, sejam coletivos. 
	A definição de direitos individuais homogêneos e coletivos está prevista no art. 21, parágrafo único, da Lei nº 12.016/09:
· individuais homogêneos: assim entendidos, para efeito desta lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade, ou de parte dos associados ou membros do impetrante; 
· coletivos: assim entendidos, para efeito desta lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica.
	Uadi Lammêgo Bulos explica que os individuais homogêneos são interesses acidentalmente coletivos. O rótulo individual homogêneo visa permitir que situações comuns, derivadas de gênese idêntica, recebam o devido amparo legal, tornando viável a defesa conjunta de vários interesses singulares. 
	Interesses de origem comum são aqueles que possuem identidade com a causa petendi. Logo, as causas de pedir de tais interesses são precisamente as mesmas ou, ao menos, similares. Mas origem comum não significa que o fato gerador seja o único, e o mesmo, para todos os direitos individuais. O preponderante é que sejam situações juridicamente iguais, ainda que os fatos se diferenciem no plano empírico.
Direitos difusos podem ser protegidos por mandado de segurança coletivo?
	Sobre o tema a doutrina se divide.
	Uadi Lammêgo Bulos entende que não, considerando que a tutela pode ser obtida por outros meios processuais, como a ação civil pública.
	Luiz Guilherme Marinoni, por sua vez, entende que a interpretação literal do dispositivo, restringindo o âmbito de proteção do writ, seria um retrocesso, contrária à própria vontade do constituinte que buscou a ampliação da prestação da tutela jurisdicional aos “novos direitos” transindividuais.
	Gilmar Mendes, por sua vez, defende que partidos políticos possam defender interesses difusos, ligados a suas finalidades institucionais, ou a desvios no poder exercido pela situação. Já organizações sindicais, entidades de classe e associações, estariam restritos à defesa de direitos coletivos de seus associados.
	Para o STF, o objeto do mandado de segurança coletivo “será um direito dos associados, independentemente de guardar vínculo com os fins próprios da entidade impetrante do writ, exigindo-se, entretanto, que o direito esteja compreendido nas atividades exercidas pelos associados, mas não se exigindo que o direito seja peculiar, próprio, da classe” (STF, MS 22.132) 
	O writ coletivo é um instrumento voltado para a tutela de prerrogativas plúrimas, condizentes com os direitos de pelo menos parte da categoria (Súmual 630 do STF). Por isso o STF exige um elo de pertinência temática entre os direitos subjetivos comuns dos integrantes da categoria e os fins institucionais dos sindicatos e associações.
	IMPORTANTE: Não é necessária a autorização individualizada de cada um dos associados para a impetração do writ coletivo. Basta uma autorização genérica em seus estatutos sociais (RE 141.733 e Súmula 629).
Legitimidade passiva:
	A legitimidade passiva do mandado coletivo é idêntica à do writ singular. 
	No mandado coletivo é necessário que se aponte a autoridade responsável pela prática do ato ilegal ou abusivo. Trata-se daquele que representa em juízo a entidade legitimada passivamente para a causa.
Concomitância de processos e ausência de conexão ou continência:
	A impetração do mandado coletivo não impede o uso, simultâneo, do writ individual. Saindo, primeiro, a sentença do mandado de segurança individual, seu resultado prevalecerá sobre a impetração coletiva, que perderá o objeto em relação a ele.
	Também é facultado ao sujeito pedir a suspensão do processo individual até o outro ser julgado. No entanto, se a parte não requerer a desistência do processo individual, no prazo de 30 dias da propositura da ação coletiva, ele não será beneficiado pelos efeitos da coisa julgada (art. 22, § 1º)
	O mandado coletivo não equivale a um litisconsórcio formado por vários impetrantes de writs individuais. Por isso, não é preciso que se declinem na petição inicial os nomes de todos os beneficiários. 
	Quando da execução da sentença o status de cada associado ou filiado virá à tona, cumprindo à autoridade impetrada exigir deles a comprovação do vínculo associativo. 
Coisa Julgada:
	O art. 22 da Lei nº 12.016/09 limitou os efeitos subjetivos da coisa julgada no MS coletivo aos membros ou categoria substituídos pelo impetrante. Permitiu-se também a desistência da impetração individual em nome do ajuizamento coletivo do instituto.
Habeas Data
Introdução:
	O habeas data também foi introduzido pela Constituição de 1988 (CF, art. 5°, LXXII) e regulamentado pela Lei 9.507/97, sendo concedido para assegurar:
· o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; ou 
· a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo. 
	As origens remotas do habeas data prendem-se aos Freedom of Information Act de 1974 e 1978, que conferia aos particulares o direito de obterem informações constantes em bancos de dados públicos ou privados. 
	Gilmar Mendes explica que, no Brasil, o remédio constitucional foi concebido como instrumento de acesso aos dados constantes dos arquivos do Governo Militar, que atualmente constitui um instrumento de utilidade relativa no sistema geral da Constituição de 1988. 
	A garantia do habeas data não se confunde com o direito de obter certidões (art. 5º, XXXIV, “b”), ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (art. 5º, XXXIII). 
	Caberá o mandado de segurança na hipótese de recusa do fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou esclarecimento de situações de interesse pessoal, próprio ou de terceiros), ou informações de terceiros. Por outro lado, sendo o pedido for para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, aí sim o remédio será o habeas data.
	Pedro Lenza explica que no direito de certidão, o solicitante deve demonstrar que o faz para defesa de direitos e esclarecimentos de situações de interesse pessoal (art. 5º, XXXIV, ‘b’). No habeas data basta o simples desejo de conhecer as informações relativas à sua pessoa, independentemente da demonstração de queelas se prestarão à defesa de direitos.
	Luiz Guilherme Marinoni destaca também que o habeas data não serve para:
· obter vista de processo administrativo; e 
· obter informações a respeito da identidade de possíveis responsáveis por agressões e denúncias feitas contra o impetrante.
	Nessas hipóteses, o remédio adequado para tutela do direito do impetrante também seria o mandado de segurança. 
Natureza jurídica
	Uadi Lammêgo Bulos explica que o habeas data possui natureza jurídica mista ou ambivalente:
· apresenta a face de uma autêntica ação mandamental: concede ao impetrante o direito líquido e certo de obter informações; e
· pode ter a índole constitutiva: possibilita a retificação ou complementação (STF: HD75) de dados. 
Legitimidade ativa
	Qualquer pessoa, física ou jurídica, poderá ajuizar a ação constitucional de habeas data para ter acesso às informações a seu respeito. 
	Como instrumento de proteção de dimensão do direito de personalidade, os dados que devem ser conhecidos ou retificados se refiram à pessoa do impetrante e não tenham caráter genérico ou de terceiros.
	Luiz Guilherme Marinoni defende a possibilidade de, em caso de falecimento do titular do direito à informação, a impetração do habeas data ser feita pelos herdeiros ou sucessores da pessoa, inclusive cônjuge supérstite.
Legitimidade passiva:
 
	O polo passivo será preenchido de acordo com a natureza jurídica do banco dedados. 
	Em se tratando de registro ou banco de dados de entidade governamental, o sujeito passivo será a pessoa jurídica componente da administração direta e indireta do Estado. 
	Na hipótese de registro ou banco de dados de entidade de caráter público, a entidade que não é governamental, mas, de fato, privada, figurará no polo passivo da ação. 
	O art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 9.507-97, conceitua banco de dado de entidade de caráter público como “todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações”.
	No RE 673.707, o STF RE 673.707, considerou que o habeas data pode ser utilizado para a obtenção de dados próprios armazenados em cadastro utilizado pela receita estadual para fins de arrecadação tributária. 
	Não prevaleceu a tese que o banco de dados era protegido pelo sigilo fiscal e, com isso, não seria público.
	Foi reconhecida repercussão geral à tese de que “o habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais”
Procedimento:
	O art. 8º da Lei exige prova da recusa da informação pela autoridade, para a demonstração do interesse processual.
	O art. 21 prevê a gratuidade da justiça na hipótese de habeas data.
	Não há previsão expressa na lei sobre a possibilidade de deferimento de medida cautelar no habeas data. Contudo, para Luiz Guilherme Marinoni, o juiz pode, mediante requerimento da parte, alçar mão de técnica antecipatória para satisfazer desde logo o direito da parte ou acautelá-lo para realização eventual e futura. O fato de o legislador infraconstitucional não ter previsto direito à antecipação da tutela no processo de habeas data em nada prejudica o direito da parte, já que o direito fundamental à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva dos direitos implica direito à técnica antecipatória. 
	A sentença que julgar o habeas data só fará coisa julgada se a prova documental for suficiente para permitir um juízo sobre a existência ou inexistência do direito material afirmado em juízo. Do contrário, o pedido de habeas data poderá ser renovado (art. 18 da Lei 9.507/1997) ou poderá ser proposta ação pelo procedimento comum ordinário para obtenção da providência negada (aplica-se analogicamente a Súmula 304 do STF).
Competência
	A competência é regulada conforme a natureza do réu. 
	Vide CF, arts. 102, I, d; II, a; 105, I b, 108, I d; 109, VIII; 121, § 4º, V; 125, § 1º.
Habeas data e dados sigilosos:
	A principal polêmica sobre o instituto diz respeito ao seu cabimento em dados considerados sigilosos em função de sua imprescindibilidade à segurança do Estado e da sociedade.
	Uadi Lammêgo Bulos defende que o sigilo das informações, imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado (CF, art. 5º, XXXIII), dirigem-se a terceiros, e não aos próprios titulares dos dados. Do contrário, tornar-se-á inoperante o habeas data.
	Gilmar Mendes, por sua vez, afirma que nos termos do art. 5º, XXXIII, o acesso a informações de órgãos públicos não abrange aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
	Contudo, o autor ressalta que essa exceção não poderia ser banalizada, sob pena de se tornar inócua a garantia do habeas data. Ademais, dados de caráter pessoal não podem, em princípio, estar cobertos pelo sigilo em relação ao próprio sujeito.
Mandado de injunção
Introdução:
	A Constituição dispõe que se concederá mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 
	Assim como o mandado de segurança coletivo e o habeas data esse writ foi inserido no ordenamento jurídico pela Constituição de 1988, sendo regulamentado pela Lei nº 13.300/16.
	Para Pedro Lenza, os dois requisitos constitucionais para o mandado de injunção são:
· norma constitucional de eficácia limitada, prescrevendo direitos, liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
· falta de norma regulamentadora, tornando inviável o exercício dos direitos, liberdades e prerrogativas acima mencionados (omissão). 
Objetivo:
	Para Uadi Lammêgo Bulos, o mandado de injunção tem o objetivo de tornar as normas constitucionais não-autoaplicáveis, aptas a garantir o gozo de qualquer direito privado, coletivo, difuso, individual homogêneo, político, econômico, social etc.
	Gilmar Mendes explica que o mandado de injunção foi instituto com vistas a sanar o problema da ineficácia das disposições constitucionais que concediam direitos sociais, em particular daquelas definidoras das obrigações estatais no plano da educação pública. 
	Trata-se de instrumento que, conjuntamente com a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, visa a tutelar a pessoa diante das omissões inconstitucionais do Estado. Porém o mandado de injunção objetiva dar tutela a um direito subjetivo, constituindo mecanismo que permite a fiscalização concreta da inconstitucionalidade por omissão. 
	Por isso, correta a afirmação de Direly da Cunha Júnior de que o mandado de injunção é uma ação constitucional de garantia individual, enquanto a ação direta de inconstitucionalidade por omissão é uma ação constitucional de garantia da Constituição.
Comparativo com a ADO:
	Uadi Lammêgo Bulos, faz o seguinte comparativo entre o MI e a ADO:
Legitimidade ativa
	São legitimados ativos para o mandado de injunção individual, como impetrantes, as pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
	Por outro lado, são legitimados ativos para a impetração do mandando de injunção coletivo, como impetrantes:
· Ministério Público;
· Partido político com representação no Congresso Nacional;
· Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 ano; e
· Defensoria Pública.
	Há, portanto, uma ampliação da legitimidade do mandado de injunção coletivo, se comparado com o mandado de segurança coletivo.
	As organizações sindicais, entidades de classe e associações, devem comprovar a pertinência temática, estado restritas à defesa de direitos de seus associados.
	Os partidos políticos só poderão impetrar o MI para asseguraro exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária.
Legitimidade passiva:
	O mandado de injunção individual ou coletivo deverá ser impetrado contra o Poder, o órgão ou a autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora.
	A petição deve indicar o órgão competente para a produção do ato normativo, bem como a pessoa jurídica em que ele está vinculado. 
	No caso de normas de iniciativa reservada, o mandado de injunção deverá ser impetrado também em face do titular da referida iniciativa.
Competência:
	A competência do mandado de injunção se dá em razão do legitimado passivo. Vide: CF, arts. 102, I, “q”, 102, II,“a”, 105, I, “h”, 121, § 4º, V, e 125, § 1º.
Efeitos da decisão:
	A doutrina e a jurisprudência desenvolveram três correntes sobre os efeitos da decisão do mandado de injunção.
· Concretista direta: a concessão da ordem “concretiza” o direito diretamente, independentemente de atuação do órgão omisso, até que a norma constitucional venha a ser regulamentada.
A decisão vale ou para todos (geral) e, nesse caso, terá efeitos erga omnes, ou para um grupo, classe ou categoria de pessoas (coletivo), ou apenas para o impetrante, pessoa natural ou jurídica (individual);
· Concretista intermediária: julgando procedente o mandado de injunção, o Judiciário fixa ao órgão omisso prazo para elaborar a norma regulamentadora. Findo o prazo e permanecendo a inércia, o direito passa a ser assegurado para todos (geral), para grupo, classe ou categoria de pessoas (coletivo) ou apenas para o impetrante, pessoa natural ou jurídica (individual); 
· Posição não concretista: a decisão apenas decreta a mora do Poder competente para a produção da norma. 
	Historicamente, o STF adotou a posição não concretista, apenas declarando a mora do Poder Público, sem, de fato, resolver o problema posto em julgamento. O fundamento era a função de legislador negativo, e não positivo, da Corte Constitucional.
	Posteriormente, o STF adotou em alguns casos a posição concretista individual intermediária, que correspondia à do Ministro Néri da Silveira, qual seja, fixar um prazo e comunicar ao órgão omisso para que elaborasse a norma naquele período. Decorrido in albis o prazo fixado, o autor passaria a ter o direito pleiteado (efeitos inter partes).
	Por fim, o STF passou a adotar a posição concretista geral, quando do julgamento da omissão na regulamentação do direito de greve dos servidores públicos. 
	Legislativamente, o art. 8º da LMI adotou como regra, a posição concretista individual. Contudo, o art. 9º, § 1º da lei, admite, excepcionalmente, a adoção da posição concretista geral. 
Nos termos da lei, a sentença tem eficácia temporal limitada, até a regulamentação da autoridade competente.
	O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da impetração fundada em outros elementos probatórios. É possível ainda, nos termos do art. 10 da Lei, ação revisional por qualquer interessado, da decisão, quando houver alteração fática. 
	Eventual norma regulamentadora posterior, terá efeitos ex nunc. 
Litispendência:
	O art. 13, parágrafo único, da LMI prescreve que o mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a desistência da demanda individual no prazo de 30 dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva. 
Procedimento:
	A petição inicial deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual (CPC, art. 319) e indicará, além do órgão impetrado, a pessoa jurídica que ele integra ou aquela a que está vinculado.
	Quando a petição não for transmitida por meio eletrônico, tanto a peça quanto os documentos que a acompanham serão juntados em tantas vias quantos forem os impetrados.
	Se a documentação pertinente estiver em posse de terceiro ou do poder público, é possível o pedido de exibição do documento, para que o juiz assinale prazo de 10 dias para sua apresentação. Sendo a recusa de seu fornecimento do impetrado, a ordem será feita no próprio instrumento da notificação.
	Ao receber a inicial o órgão julgador poderá:
· determinar a notificação do impetrado sobre o conteúdo da petição inicial, devendo-lhe ser enviada a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste informações e a ciência do ajuizamento da ação ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, devendo-lhe ser enviada cópia da petição inicial, para que, querendo, ingresse no feito; ou
· Indeferir a inicial liminarmente, quando a impetração for manifestamente incabível ou improcedente.
	Após o prazo das informações o MP será ouvido (se não for o impetrante).
Medida cautelar:
	Não cabe medida cautelar no MI, considerando a natureza de seu provimento final.
Ação Popular
Introdução:
	Uadi Lammêgo Bulos aponta que a origem da ação popular está ligada à história do Direito romano. 
	Como disse o jurisconsulto Paulo, ela assim foi cognominada para garantir direito próprio do povo: “denominamos ação popular aquela que ampara direito próprio do povo” (eam popularem actionem dicimus, quae suun jus populi tenetur).
	Pedro Lenza explica que não obstante a Constituição de 1824 falasse em ação popular em seu art. 157, esta se referia a certo caráter disciplinar ou mesmo penal. Por isso, o autor defende que foi a Constituição de 1934 que primeiro previu em seu texto a garantia constitucional. Ela foi retirada no texto da Constituição de 1937, retornando na Constituição de 1946.
	A previsão constitucional está no art. 5º, LXXIII.
	Pedro Lenza destaca que a ação popular, ao lado do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular, são instrumentos da democracia direta e participação política previstos constitucionalmente.
	A regulamentação legal da ação popular é feita pela Lei nº 4.717/65.
Objeto:
	Busca-se a proteção da res publica, ou, segundo Pedro Lenza, tem por escopo a proteção dos interesses difusos.
	A ação popular pode ser usada de forma 
· Preventiva: ajuizada antes de os efeitos lesivos serem consumados; ou 
· Repressiva: ajuizada para ressarcir o dano causado.
Requisitos:
	É necessário haver lesão 
· Ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe;
· À moralidade administrativa;
· Ao meio ambiente;
· Ao patrimônio histórico e cultural.
	Pedro Lenza aponta que a noção de ilegalidade está incluída na ideia de lesividade. 
	Uadi Lammêgo Bulos destaca que a mera presunção de ilegalidade ou lesividade do ato já enseja a sua propositura.
	A ação popular não pode fazer as vezes de uma ação direta de inconstitucionalidade. Ademais, não visa tutelar direito líquido e certo, substituindo o mandado de segurança.
	O essencial é que o ato ilícito ou lesivo afete, obrigatoriamente, o patrimônio público.
	Assim sendo, descabe ação popular contra lei em tese, pois o seu objeto só se materializa por meio de atos concretos de execução.
Legitimidade ativa:
	Apenas cidadãos são parte legitimas para a propositura da ação popular. Aqui, o conceito de cidadania é stricto sensu, isto é, brasileiro em gozo de seus direitos político. 
	A prova desse status é feita pela apresentação do título de eleitor ou documento correspondente. 
	Trata-se, pois de um requisito essencial da inicial e um documento indispensável para a propositura da ação.
	Para Pedro Lenza aquele entre 16 e 18 anos de idade, que tem título de eleitor, pode ajuizar a ação popular sem a necessidade de assistência, porém, sempre por advogado (capacidade postulatória).
	O autor aponta ainda que teoricamente, havendo reciprocidade (art. 12, § 1º), o português poderá ajuizar a ação popular. Contudo, como existe vedação da Constituição de Portugal, não seria possível, atualmente não é possível ao português equiparado ajuizar a ação constitucional.
Legitimidade passiva:
	De acordo com o art. 6º da Lei, figurarão o agente que praticou o ato, a entidade lesada e os beneficiários do ato ou contratolesivo ao patrimônio público.
	O art. 9º da Lei prevê que o MP funciona de regra como fiscal da ordem pública, na ação popular. Contudo, havendo a desistência pelo autor, caberá ao órgão, entendendo presentes os requisitos, dar prosseguimento ao feito.
Intervenção móvel:
	No processo da ação popular está prevista a possibilidade de intervenção móvel da pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação (art. 6.o, § 3º, da Lei 4.717/1965). 
	Trata-se de intervenção semelhante à prevista na Lei da Ação de Improbidade Administrativa (art. 17, § 3º, da Lei 8.429/1992), sugerindo a doutrina sua aplicabilidade a todo o microssistema do processo coletivo.
Pela intervenção móvel, reconhece-se que o que determina o polo da demanda em que atuará a pessoa jurídica é o interesse público primário. 
	Vale dizer: não tem a pessoa jurídica necessariamente o dever de defender a higidez de ato – temido ou consumado – que sabe descompassado com as exigências do Estado Constitucional. 
Competência:
	Caberá à primeira instância o julgamento da ação popular, independentemente da parte passiva da lide.
CUIDADO: Pedro Lenza defende como hipótese de julgamento de ação popular originária no STF, as previsões do art. 102, I, “f” e “n”, da Constituição. 
Dada a patente similitude da natureza jurídica do SESI e congêneres à do SEBRAE, seja no tocante à arrecadação e aplicação de contribuições parafiscais, seja, em consequência, quanto à sujeição à fiscalização do Tribunal de Contas, aplica-se ao caso a fundamentação subjacente à Súmula 516/STF: O Serviço Social da Indústria — SESI — está sujeito à jurisdição da Justiça estadual. (STF, RE 366.168).
Medida cautelar:
	Desde que presentes os requisitos legais (periculum in mora e fumus boni iuris), é possível a concessão de liminar, podendo a ação popular ser tanto preventiva, visando evitar atos lesivos, como repressiva, buscando o ressarcimento do dano, a anulação do ato, a recomposição do patrimônio público lesado, indenização etc. 
Coisa Jugada:
	A coisa julgada no processo da ação popular segue o regime jurídico próprio aos direitos transindividuais (coletivos e difusos).
	A coisa julgada se opera secundum eventum probationem: 
· a ação for julgada procedente ou improcedente por ser infundada, produzirá efeito de coisa julgada oponível erga omnes. 
· se a improcedência for por deficiência de provas, haverá apenas a coisa julgada formal, podendo qualquer cidadão intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art. 18 da lei), já que não terá sido analisado o mérito. 
	Ela é ultra partes, no caso de direitos coletivos, e erga omnes, no caso de direitos difusos.
	A extensão subjetiva da coisa julgada é secundum eventum litis – e não a sua formação.
Custas:
	O autor da ação popular é isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência, salvo comprovada má-fé.
Ação Civil Pública:
Ação civil pública enquanto “remédio constitucional”:
	Enquadrar a ação civil pública enquanto ação constitucional não gera nenhuma polêmica, considerando que a CF prevê em seu art. 129, III a titularidade do Ministério Público para propô-la. No entanto, nem sempre os doutrinadores enquadram-na como um remédio constitucional. 	Voltemos, portanto, às palavras iniciais acerca dos direitos e garantias fundamentais. Se os remédios constitucionais são garantias para tutelar direitos previstos na Constituição, tem-se a ação civil pública, assim como a ação popular, um instrumento de tutela de direitos individuais homogêneos, difusos e coletivos. Nesse sentido Luiz Guilherme Marinoni explica o seguinte:
A Constituição não arrola dentro dos direitos fundamentais a ação civil pública. Formalmente, portanto, é possível questionar a sua fundamentalidade como instrumento para tutela dos direitos individuais homogêneos, difusos e coletivos. Se, contudo, o ângulo de apreciação do problema se desloca do formal para o material, fica fácil concluir que a ação civil pública constitui direito fundamental na ordem jurídica brasileira. Trata-se de particularização do direito fundamental à tutela adequada, efetiva e tempestiva mediante processo justo. (MARINONI, 2018, p. 897)
Microssistema da tutela do processo coletivo:
	A ação civil pública é regida por um microssistema legislativo, constituído da Lei nº 7.347/85 e o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) em seus arts. 81 a 104.
	O CDC é aplicado também, no que couber às ação popular, ação de improbidade, mandado de segurança coletivo e mandado de injunção coletivo. 
Âmbito de proteção:
	A ação civil pública se assemelha às chamadas class actions do common law. Do ponto de vista do bem jurídico protegido, serve como instrumento de tutela do meio ambiente, do consumidor, dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e da ordem econômica, da ordem urbanística, das pessoas portadoras de necessidades especiais, dos titulares de direitos mobiliários e dos investidores do mercado, da infância e da adolescência, do idoso. 
	Já do ponto de vista estrutural não há dúvidas que a ACP busca a tutela dos direitos coletivos e difusos. A polêmica diz respeito aos chamados direitos individuais homogêneos. A definição legal de tais direitos está prevista no art. 81, parágrafo único do CDC:
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
	A titularidade do Ministério Público acerca da tutela dos direitos individuais homogêneos foi discutia no STF. Três eram as correntes:
· os direitos individuais homogêneos, por pertencer a um grupo de pessoas, qualificam-se como subespécie de direitos coletivos e, por isso podem ser amplamente tutelados pelo Ministério Público. 
· a legitimação ativa do Ministério Público para a tutela de direitos individuais homogêneos deve ser limitada às hipóteses previstas pelo legislador ordinário.
· a legitimidade do Ministério Público para tutelar em juízo direitos individuais homogêneos diz respeito aos casos em que a lesão a esses direitos comprometeria também interesses sociais subjacentes. Portanto, trata-se de uma leitura com vistas no art. 127 da Constituição. Trata-se da tese que prevaleceu no STF. RE 631111
	Da casuística, destacam-se os seguintes casos sobre a legitimidade do MP para propositura da ACP:
· mensalidades escolares (Súmula STF nº 643);
· aumento de serviços público municiais de água e esgoto (RT 784/258);
· discussão sobre Seguro DPVAT; RE 631111
· fornecimento de remédios; RE 605533
· tratamento médico hospitalar; 
· ação de alimentos; REsp 1265821
	Por outro lado, ficou assentado a ilegitimidade nas seguintes hipóteses:
· matéria tributária (restituição de taxa de iluminação pública) ARE 694294;
· execução de decisões dos Tribunais de Contas RE 823347
	Luiz Guilherme Marinoni destaca que a ACP pode buscar qualquer forma de tutela jurisdicional: a prestação de tutela inibitória, de remoção do ilícito, reparatória e ressarcitória.
Titularidade:
	São legitimados para a propositura da ACP: MP, Defensoria Pública; Pessoas jurídicas de direito público da administração direta e indireta; associação constituída há pelo menos 1 ano e que tenha entre suas finalidades a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência,aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
II - a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de 2014)
	O Ministério Público, quando não for parte nos autos, funcionará como custos legis. 
	Assim como na ação popular, havendo desistência por parte do autor, o parquet ou outro legitimado poderá, à seu juízo de discricionariedade, assumir a titularidade ativa da ação.
	Em relação às associações, o juiz pode dispensar o requisito de constituição a pelo menos um ano quando houver manifesto interesse social seja pela característica do dano, seja pela relevância do bem jurídico protegido (LACP, art. 5º, § 4º).
	Discute-se na doutrina se pode o juiz controlar a representação adequada do legitimado para a condução do processo coletivo. Luiz Guilherme Marinoni ressalta que o controle jurisdicional pode se dar do ponto de vista abstrato e concreto:
· Abstrato: previsão legal;
· Concreto: pertinência temática no caso concreto.
Todos os legitimados às ações coletivas estão submetidos ao controle jurisdicional da representação adequada, inclusive o Ministério Público e a Defensoria Pública. São critérios para tanto: (i) a posição do legitimado diante do direito material defendido em juízo (afinidade temática); e (ii) a credibilidade, a capacidade técnica e a capacidade financeira do legitimado. A ausência de representação adequada desautoriza a condução do processo pelo simples legitimado legal. (MARIONI e MITIDIERO, 2018, p. 900)
	Para o STF a legitimação ocorre em regime de substituição processual. Portanto, os titulares do direito não necessitam ser indicados ou qualificados na petição inicial, mas chamados por edital a intervir como litisconsortes, se desejassem. 
	Gilmar Mendes destaca que a condenação genérica fixa a responsabilidade do réu pelos danos causados, e caberia aos próprios titulares, depois, promover a ação de cumprimento, consistente na liquidação e execução pelo dano sofrido.
	A intervenção móvel também é possível na ACP, sendo ainda prevista a formação de litisconsórcio ativo (facultativo) com os demais legitimados.
Medida Cautelar:
	Os arts. 4º e 12 da Lei nº 7.347/85 preveem a possibilidade de concessão de tutela antecipada de natureza satisfativa ou cautelar no bojo da APC:
· Tutela satisfativa: realização antecipada do direito afirmado em juízo;
· Tutela cautelar: medida assecuratória da possibilidade de realização do direito no futuro.
	Luiz Guilherme Marinoni defende ainda a possibilidade de utilização do CPC para permitir a tutela definitiva da parcela incontroversa (CPC, art. 356).
Coisa julgada:
	A coisa julgada na ACP respeita o regime comum da coisa julgada do processo coletivo.
	Ela se dá secundum eventum probationis, de modo que só faz coisa julgada quando houver prova suficiente para a cognição das alegações.
	Do ponto de vista subjetivo será:
· ultra partes, no caso dos direitos coletivos;
· erga omnes no caso dos direitos difusos;
· secundum eventum litis no caso de direitos individuais homogêneos.
	Ainda sobre a coisa julgada, o art. 16 da Lei da ACP dispõe o seguinte:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
	A Lei nº 9.494/97, posteriormente, inseriu nova limitação, agora restrita às ACPs propostas por associações:
Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
	Sobre a limitação à circunscrição territorial do julgador, há quem entenda que o dispositivo é inconstitucional (RIZZARDO, 2014, p. 263), seja porque a jurisdição é una e indivisível, seja porque tal restrição é contrária à própria natureza da ação (MARIONI e MITIDIERO, 2018, p. 901). Luiz Guilherme da Costa Wagner Júnior adiciona ainda o argumento de que “na verdade, a extensão da coisa julgada não está ligada à competência do juízo que julgará a causa, mas sim ao objeto do processo” (2003, p. 146).
	No seio do STF, houve decisão direta em relação ao disposto no art. 2º-A da Lei nº 9.494/97:
EXECUÇÃO – AÇÃO COLETIVA – RITO ORDINÁRIO – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. Beneficiários do título executivo, no caso de ação proposta por associação, são aqueles que, residentes na área compreendida na jurisdição do órgão julgador, detinham, antes do ajuizamento, a condição de filiados e constaram da lista apresentada com a peça inicial. (RE 612043, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-229 DIVULG 05-10-2017 PUBLIC 06-10-2017)
	Em relação ao art. 16 da Lei da Ação Civil Pública, não houve manifestação expressa sobre sua (in)constitucionalidade, mas o Plenário do tribunal já aplicou o dispositivo: 
		
Agravo regimental em reclamação. 2. Ação coletiva. Coisa julgada. Limite territorial restrito à jurisdição do órgão prolator. Art. 16 da Lei n. 7.347/1985. 3. Mandado de segurança coletivo ajuizado antes da modificação da norma. Irrelevância. Trânsito em julgado posterior e eficácia declaratória da norma. 4. Decisão monocrática que nega seguimento a agravo de instrumento. Art. 544, § 4º, II, b, do CPC. Não ocorrência de efeito substitutivo em relação ao acórdão recorrido, para fins de atribuição de efeitos erga omnes, em âmbito nacional, à decisão proferida em sede de ação coletiva, sob pena de desvirtuamento da lei que impõe limitação territorial. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (Rcl 7778 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 30/04/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-094 DIVULG 16-05-2014 PUBLIC 19-05-2014)
	Do voto do relator Min. Gilmar Mendes, destaca-se o seguinte excerto: 
Pelo que percebo, o art. 16 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, inserido pelo art. 2º-A da Lei nº 9.494, de 10 setembro de 1997, compatibiliza-se com o atual sistema jurídico pátrio, na medida em que preserva a higidez relativa à competência jurisdicional de cada órgão do Poder Judiciário, evitando, destarte, uma conhecida deficiência oriunda do processo de natureza coletiva que dava ensejo a inúmeras distorções, quando permitia, v. g., que juízes de piso se investissem de uma pretensa “jurisdiçãonacional”. (Rcl 7778 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 30/04/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-094 DIVULG 16-05-2014 PUBLIC 19-05-2014, p. 10 do acórdão)
	O STJ, por sua vez, sede de recurso repetitivo decidiu o seguinte:
DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ART. 543-C, CPC). DIREITOS METAINDIVIDUAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO X BANESTADO. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. EXECUÇÃO/LIQUIDAÇÃO INDIVIDUAL. FORO COMPETENTE. ALCANCE OBJETIVO E SUBJETIVO DOS EFEITOS DA SENTENÇA COLETIVA. LIMITAÇÃO TERRITORIAL. IMPROPRIEDADE. REVISÃO JURISPRUDENCIAL. LIMITAÇÃO AOS ASSOCIADOS. INVIABILIDADE. OFENSA À COISA JULGADA.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A liquidação e a execução individual de sentença genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474, CPC e 93 e 103, CDC).
1.2. A sentença genérica proferida na ação civil coletiva ajuizada pela Apadeco, que condenou o Banestado ao pagamento dos chamados expurgos inflacionários sobre cadernetas de poupança, dispôs que seus efeitos alcançariam todos os poupadores da instituição financeira do Estado do Paraná. Por isso descabe a alteração do seu alcance em sede de liquidação/execução individual, sob pena de vulneração da coisa julgada. Assim, não se aplica ao caso a limitação contida no art. 2º-A, caput, da Lei n. 9.494/97.
2. Ressalva de fundamentação do Ministro Teori Albino Zavascki.
3. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido.
(REsp 1243887/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/10/2011, DJe 12/12/2011) 
	Portanto, pela atual jurisprudência do STJ o dispositivo da Lei de Ação Civil Pública deve ser interpretado de modo que os efeitos subjetivos da decisão devem levar em conta não limites geográficos, mas a real extensão do dano e dos interesses postos em juízo.
Litispendência:
	Nos termos do art. 104 do CDC, a ACP não induz litispendência em eventuais processos individuais de mesmo objeto, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão os indivíduos que não requererem a suspensão de suas ações no prazo de 30 dias do ajuizamento da ACP:
 Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
REFERÊNCIAS:
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 11 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2018.
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de direito constitucional. 11 ed. rev. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2017.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 21 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo, 2017.
MENDES, Gilmar Ferreira. e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2017.
RIZZARDO, Arnaldo. Ação civil pública e ação de improbidade administrativa. 3. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2014.
SARLET, Ingo Wolfagang, MARINONI, Luiz Guilherme e MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
WAGNER JÚNIOR, Luiz Guilherme da Costa. A Ação Civil Pública como Instrumento de Defesa da Ordem Urbanística, Editora Del Rey, Belo Horizonte, 2003.

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