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Elisângela B. das Neves Holanda
 
HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO
NORTE APLICADA AO TURISMO
 
DECEMBER 5 - 20 • 9 AM - 5 PM 
BEECHTOWN PARK
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b th j th f h t d li t t
 
1 
1. OS PRIMEIROS HABITANTES DO NORDESTE BRASILEIRO E DO RIO 
GRANDE DO NORTE 
 
De acordo com André Prous (2006), o Nordeste do Brasil foi povoado por grupos de 
caçadores e coletores de frutos, cujas características ainda não estão claramente identificadas. 
Esse período é marcado por uma intensa produção de grafismos pintados e gravados em abrigos 
sob rochas e lajedos. Nos dois últimos milênios antes da Era Cristã surgiram os primeiros 
indícios de horticultura e posteriormente a cerâmica tornando-se um elemento importante na 
identificação das culturas arqueológicas mais tardias. 
Entre 9.000 e 12.000 anos atrás, de acordo com os estudos realizados, as características 
de ocupação dos sítios modicaram-se em todo o nordeste brasileiro. Nota-se uma diminuição 
quantitativa dos vestígios de instrumentos e, muitas vezes, dos vestígios alimentares 
encontrados nos abrigos, o que sugere que os mesmos eram pouco frequentados na vida 
quotidiana. No entanto, continuavam sendo utilizados, pelo menos para finalidades de rituais: 
decoração dos paredões (“arte rupestre”), por exemplo e às vezes sepultamentos. Cada região, 
no entanto, desenvolve algumas peculiaridades, seja no modo de sepultar os mortos, seja nos 
temas pintados ou gravados nos suportes rochosos, seja, ainda, na forma de representá-los 
(PROUS, 2006). 
Gabriela Martin (1997), pesquisadora da pré-história do Nordeste brasileiro, em especial 
no Rio Grande do Norte e Pernambuco, traçou um perfil metodológico e conceitual para o 
estudo dos grafismos rupestres. Para a arqueóloga e os pesquisadores que trabalham no 
Nordeste, a metodologia aplicada na análise das representações gráficas limita-se à 
identificação das formas padrões e das definições dos estilos gráficos. De acordo com Gabriela 
Martin, há duas especificações na Arqueologia que podem diferenciar os grafismos: a pintura, 
cujas figuras foram retratadas com uso de “tinta”, e as gravuras, incisões em baixo relevo feitas 
nas rochas. De modo geral, os grafismos podem ser definidos como: a) puros: representações 
de nível geométrico; b) composição: figuras reconhecidas, como humanos, animais e plantas. 
É a partir da definição dos grafismos em uma área arqueológica que se determina o tipo de 
Tradição Arqueológica associada aos registros rupestres. 
De acordo com as concepções de Anne Marie Pessis (1992), os registros rupestres, em 
primeiro lugar, são fontes caracterizadoras de padrões culturais e sociais, por isso, não devem 
ser tratados de forma isolada a outros registros materiais e nem tão pouco dos indivíduos que 
os produziram. Em segundo lugar, os registros funcionam como um sistema de comunicação 
social. Daí resulta o fato de que, em determinadas áreas geográficas, há uma constância de 
 
2 
padrões pictóricos, tratando-se então de uma percepção sensível do mundo e da vida cotidiana, 
e que levou os indivíduos a executarem e manterem os registros, de forma que houvesse um 
“entendimento mútuo” entre o grupo. 
 
1.1 PINTURAS RUPESTRES COMO FONTE DE INFORMAÇÕES SOBRE A PRÉ-
HISTÓRIA 
 
Durante a sua vivência, o homem pré-histórico criou meios para produção do seu 
sustento. Dentre eles estão as mais diversas formas de instrumentos e utensílios materiais. As 
pontas de projéteis, os machados polidos ou seus vasilhames de cerâmica sofreram uma 
mudança na técnica e na qualidade ao longo do tempo. E esses materiais, muitas vezes por sua 
requintada elaboração, tornaram-se as peças preferidas para a exposição em museus, e 
consequentemente, referência para a cultura material pré-histórica. 
A pintura rupestre faz parte da cultura material de antigos grupos humanos, assim como 
as pontas de projéteis. Para Pessis e Guidon (2000), no estudo das pinturas rupestres, o que 
interessa é poder reconstruir o perfil cultural dos grupos humanos que viviam na região em 
distintos momentos desde há 500 séculos até a chegada dos colonizadores europeus. 
Assim, de acordo com as propostas metodológicas indicadas por determinados 
pesquisadores, e então adotadas pela Arqueologia brasileira, a identificação das pinturas 
rupestres faz-se a partir do que se denomina Tradição. No Brasil existem hoje oito Tradições 
Arqueológicas relacionadas aos registros rupestres. No caso do Rio Grande do Norte, a 
Tradição Nordeste é a que melhor ilustra a cultura pré-histórica. Isto porque as figuras 
representadas seguem uma temática variada, entre o cotidiano e o cerimonial. Por definição, ela 
é tratada como narrativa. Nos diversos painéis localizados nos tetos e paredes de abrigos 
rochosos surgem imagens de animais e de figuras humanas em nítidos movimentos, como se a 
ação estivesse acontecendo naquele momento ou como se estivesse mesmo sendo descrita, 
narrada. 
Para completar a composição das imagens, figuras geométricas adicionam-se ao 
conjunto pictórico. As figuras da Tradição Nordeste apresentam forma policrômica, nas cores 
vermelha, amarela, branca, preta. A pigmentação vermelha é proveniente do óxido de ferro 
adicionando as outras substâncias ricas em cálcio conforme visualizado na Figura 01; o amarelo 
é extraído da goetita (óxido de ferro hidratado); o branco é obtido da kaolinita ou gipsita; o 
preto é resultado do carvão animal ou vegetal. 
 
 
3 
Figura 01 - Sítio arqueológico Xique-xique I, Carnaúba do Dantas RN 
 
Fonte: Autor, 2020. 
 
No caso da Tradição Agreste, as pinturas representadas pelo Nordeste brasileiro, 
especialmente Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte estão isoladas, sem uma 
composição contextual e são, na sua maioria, de figuras biomorfas. Os animais mais retratados 
por essa Tradição são, em grande parte, de quelônios e aves de pernas longas e com asas abertas. 
Outra característica marcante desta Tradição são as figuras de mãos em negativo espalhadas 
pelos painéis, ou mesmo decoradas com diversos padrões, como é o caso da subtradição 
Soledade, no Rio Grande do Norte. Já as figuras antropomorfas aparecem em grandes tamanhos, 
com braços e pernas abertos 
 
1.2 O HOMEM PRÉ-HISTÓRICO NO SERIDÓ 
 
De acordo com as teorias mais gerais, os primeiros grupos humanos migraram da Sibéria 
para o Alasca por volta de 11.000 e 11.500 anos A.P., período em que o máximo glacial permitiu 
uma passagem natural da Ásia para a América pelo estreito de Behring. Correspondendo ao 
Paleolítico superior, que é datado de 75.000 a 12.000 anos A.P. Ao atravessar o estreito de 
Bering, o homem o teria feito em época correspondente ao Pleistoceno Superior, ou seja, entre 
100 mil e 12 mil anos A. P. Com um clima mais frio do que o atual, os grupos que migraram 
para as terras brasileiras encontraram na bacia do Amazonas suporte suficiente para a 
sobrevivência de seus integrantes, mas também, um ponto dispersor para outras regiões. Em 
fins do Pleistoceno, as oscilações de temperatura promovidas pelas correntes marítimas 
acabaram tornando o clima mais quente, e transformando assim todo o ecossistema. As 
populações humanas passaram a ocupar áreas de savanas tropicais, hoje conhecidas como 
cerrados, caatinga e agreste, que no período de chuva tinham uma maior disponibilidade de 
frutos, e durante todo o ano, tinha-se uma boa variedade de alimentos, incluindo raízes, 
moluscos marinhos e uma grande quantidade de animais de pequeno e médio porte. 
 
4 
(SCHMITZ,1989). Os megamamíferos, já em vias de extinção no final do Pleistoceno, deram 
lugar aos animais menores, variações de suas próprias espécies, como a preguiça, o tatu, o 
cavalo, ou acabaram totalmente extintos. 
Com as mudanças ambientais, populações supostamente acostumadas ao estilo de vida 
nômade teriam se dispersado por todo o continente, o que acabou contribuindo para uma 
diversificação culturale linguística. Dessa dispersão, a ocupação do Rio Grande do Norte deu-
se de forma gradativa e efetiva por praticamente todo o território, ou seja, tanto o litoral quanto 
o interior foram habitados por grupos humanos pré-históricos em diferentes épocas e com 
diferentes níveis tecnológicos e culturais. Por onde passaram, foram deixados no solo restos 
materiais e esqueletos, demonstrando que em diversas áreas do atual Estado Norte-rio-
grandense ocorreram atividades intensas de caça, pesca, fabricação de instrumentos, além dos 
registros picturais nos paredões rochosos de grutas e cavernas. 
Mas foi na região conhecida como Seridó, no centro-sul do Estado, especialmente nos 
municípios de Carnaúba dos Dantas e Parelhas que há uma grande concentração de registros 
conhecidos dessas atividades, especialmente de pinturas rupestres, demonstrando uma relativa 
movimentação cultural, com níveis tecnológicos e artísticos semelhantes às populações 
estabelecidas no Piauí. A Figura 02 mostra o mapeamento dos sítios arqueológicos no RN. 
 
Figura 02 – Mapeamento dos sítios arqueológicos do RN 
 
Fonte: LARQ/UFRN, 1992. 
 
Provavelmente, a migração de povos originários do Piauí em direção ao Seridó, teria 
ocorrido pela passagem da serra de Santana e o curso do rio Piranhas-Açu, em torno de 10.000 
e 9.000 anos., baseando-se essa datação em enterramentos encontrados em Carnaúba dos 
Dantas. O cenário que compõe o ambiente na região no período correspondente ao fim do 
 
5 
Pleistoceno, ou Pleistoceno Superior, é de uma área marcada por uma vegetação subarbustiva, 
de cerrados, e imensas savanas onde as herbáceas proporcionavam alimentos aos animais de 
megafauna (LAROCHE, 1991). Desses animais, os mais representativos são os Megaterium, 
Toxodon e o Haplomastodon. Com uma diversificação faunística, pois além dos grandes 
mamíferos, a região já contava com uma variedade de animais de médio e pequeno porte, grupos 
de caçadores - coletores teriam se estabelecido na região. 
No Seridó, os abrigos em que se encontram os registros rupestres, na sua maioria, 
possuem pouco sedimento sobre suas plataformas, o que indica pouca possibilidade de 
habitação, e, quase de forma unânime, localizam-se nos lugares mais altos das serras com 
orientação para os cursos de água, como o sítio Mirador (Parelhas), distante 1 quilômetro do 
rio Seridó e a Furna dos Caboclos (Carnaúba dos Dantas), situado a 30 metros sobre o riacho 
dos Balanços (MARTIN, 1997). 
 
1.2.1 As áreas de ocupação no Seridó 
 
A formação geográfica da microrregião do Seridó tornou-se atrativa à ocupação aos 
antigos grupos humanos em decorrência da formação fisiográfica do seu relevo, da 
disponibilidade dos recursos hídricos e das condições de temperatura favoráveis a uma 
ocupação mais efetiva, especialmente entre os municípios de Parelhas e Carnaúba dos Dantas. 
 
1.2.1.1 Carnaúba dos Dantas 
 
As primeiras informações sobre a presença pré-histórica de grupos humanos na região 
foram dadas por José de Azevedo Dantas, um sertanejo autodidata que registrou a ocorrência 
de pinturas rupestres, desenhando fielmente cada figura presente nos vales do rio Seridó e do 
rio Carnaúba, entre os anos de 1924 e 1926. Com base nesse trabalho, pesquisadores 
pernambucanos iniciaram, na década de 1980, incursões no Seridó em busca de outras 
evidências que comprovassem a antiguidade dessas populações e caracterizassem a sua 
formação cultural. A partir de 2004, foram realizados vários estudos e catalogados mais 60 
Sítios Arqueológicos, com pinturas e gravuras, sendo todos classificados dentro de suas 
características geomorfológicas e arqueológicas. Equipes de arqueologia da Universidade 
Federal de Pernambuco vêm desenvolvendo pesquisas na área, tendo promovido escavações 
nos sítios Pedra do Alexandre, Casa Santa, Serrote das Areias, e outras investigações nos 
demais sítios, entre eles o Talhado do Gavião, e os sítios denominados Xique-xique I, II e IV. 
 
6 
1.2.1.2 Parelhas 
 
O município de Parelhas dista 10 quilômetros de Carnaúba dos Dantas. Por sua 
localização, faz parte do “cinturão” de serras que compõe a região do Seridó. Com isso, o relevo 
da região varia de ondulado a montanhoso, com altitude média de 500 metros. A área é 
abastecida pela bacia hídrica que leva o nome da região, o rio Seridó, que por sua inclinação 
íngreme, torna suas vertentes com alto grau de vazão, aumentando assim a sazonalidade dos 
rios. 
A presença de populações pré-histórica na região está representada nos sítios Mirador e 
Pedra do Chinelo, que pelas suas estruturas físicas (blocos de pedra caídos formando abrigos 
naturais) com uma boa acomodação sedimentar e pela presença de pinturas rupestres em seus 
paredões, vem passando por intervenções arqueológicas desde a década de 1980. O sítio 
Mirador situado nas proximidades da barragem do rio Seridó a 480 metros de altitude, encontra-
se com diversos e imensos blocos rochosos rolados sobre a superfície, e dois destes, ao se 
depositarem no solo, ficaram à meia-encosta, formando assim um abrigo natural. A Figura 03 
mostra o local onde houve intervenção arqueológica na década de 90. 
 
Figura 03 – Vista de um dos abrigos do Sítio Mirador (Parelhas/RN) 
 
Fonte: Autor, 2019. 
 
As pinturas rupestres presentes no abrigo fazem parte da Tradição Nordeste, 
Subtradição Seridó. Mas o elevado grau de deterioração do painel tem dificultado a reprodução 
e a identificação das imagens. Os animais mais representados no abrigo são de aves e cervídeos, 
porém, podendo ser encontrados felinos e artrópodes. Algumas dessas representações chamam 
a atenção porque esses animais estão agrupados, como se estivessem junto ao seu bando. 
 
1.3 O LAJEDO DE SOLEDADE (APODI/RN) 
 
 
7 
De acordo com Eduardo Bagnoli (1994), o Lajedo de Soledade, localizado no município 
de Apodi (RN), é a maior exposição de rocha calcária da Bacia Potiguar. Esta rocha formou-se 
há 90 milhões de anos, quando um mar raso cobria a região. Posteriormente, com o recuo do 
mar, chuvas e correntes esculpiram o calcário, criando cavernas, fendas e abrigos. Este conjunto 
de estruturas acumula, durante a estação chuvosa, grande quantidade de água, o que tem atraído, 
desde os tempos mais remotos, enormes animais da fauna pleistocênica como, mais 
recentemente, o homem pré-histórico. Vestígios destas ocupações são encontrados com 
abundância, quer seja espalhado pela superfície do Lajedo, como é o caso dos ossos de 
mastodontes, preguiças e tatus gigantes, ou registrados nos pisos, paredes e tetos dos abrigos 
rochosos, como é o caso das pinturas e gravuras rupestres. Por encontrar-se em área sedimentar 
de interesse para a exploração de petróleo, o Lajedo de Soledade foi visitado, pioneiramente 
pela PETROBRÁS, em agosto de 1987, através do geólogo Geraldo L. N. Gusso. Guiado por 
habitantes da vila instalada nas imediações, Gusso tomou conhecimento das pinturas rupestres 
existentes e que representam aves, mãos e figuras geométricas e abstratas. Não passou 
despercebida, porém, a ameaça que a exploração do calcário exercia sobre este patrimônio. A 
mineração artesanal do calcário, com a finalidade de produzir cal, era praticada por boa parte 
da população da Vila de Soledade e representava, junto com a agricultura (praticada somente 
na estação chuvosa), a principal atividade econômica da região. Entre 1987 e 1990, Gusso, 
Bagnoli e outros geólogos da PETROBRÁS realizaram diversas visitas ao local, já que este 
demonstrou ser um ótimo exemplo de reservatório carbonático, semelhante aos existentes nas 
bacias de Campos e Santos. 
Em fevereiro de 1991, com a possibilidade da destruição do Lajedo, um grupo de 
geólogos da PETROBRÁS e ambientalistas de Natal iniciaram uma "missão de salvamento" ao 
Lajedo de Soledade. A Figura 04 mostra parte da vista panorâmica do lajedo. 
 
Figura 04 – Lajedo de Soledade. 
 
Fonte: Autor, 2020. 
 
8 
No lajedo, pesquisadoresda Universidade Federal do Rio Grande do Norte encontraram 
fósseis de animais pré-histórico, como o bicho-preguiça e tatus gigantes, mastodontes e tigres-
de-dente-desabre que viveram no Nordeste no período Glacial. 
 
1.4 AS ETNIAS E A OCUPAÇÃO DO RN 
 
De acordo com Tarcísio Medeiros (2001), o litoral norte-rio-grandense, na época da 
“descoberta do Brasil”, era habitado pelos tupis, originários do Paraguai e do Paraná, porém, 
com reflexões verbais diferentes. Receberam o nome local de potiguares ou potiguaras. 
Medeiros (2001), descreveu o tipo físico dos potiguares: “tinham o porte mediano, acima de 
1,65 cm, reforçados e bem feitos no físico, olhos pequenos, negros, encavados e erguidos, 
amendoados (...), eram mais ou menos baços, claros. Pintavam o corpo com desenhos coloridos 
(...), furavam os beiços”. 
Os tapuias, que moravam no interior, foram descritos da seguinte maneira, por Olavo 
de Medeiros Filho (1997): “as mulheres eram, indistintamente, pequenas e mais baixas de 
estatura que os homens. Possuíam a mesma cor atrigueirada, sendo muito bonitas de cara, 
obedecendo cegamente aos maridos em tudo que fosse razoável.” E, mais adiante, acrescenta: 
“os tapuias andavam inteiramente nus. Não usavam barbas e depilavam sistematicamente todos 
os pelos surgidos no corpo, inclusive as sobrancelhas (...) Os tapuias pintavam hediondamente 
o corpo com tinta extraída do fruto de jenipapo, a fim de adquirirem um aspecto terrível nos 
combates”. 
Tarcísio Medeiros (2001) apresenta a seguinte classificação da população nativa, 
formada por diversas nações, na época da descoberta do Brasil: 
✓ Litoral: potiguares ou potiguaras; 
✓ Seridó: arius, cariris, panatis, curemas, pebas e caicós; 
✓ Chapada do Apodi: paiacus, cariris, pajeús, pegos, moxoiós e canindés; 
✓ Zona Serrana: pacajus, panatis, icós e parins. 
 
2. A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPÉIA 
 
A Europa, no final do século XV, se encontrava presa em seus limites, sentindo a 
necessidade e se expandir. O comércio das especiarias, monopolizado pelas cidades italianas e 
desenvolvidas no Mediterrâneo, prejudicava o restante dos países do continente. A razão era 
muito simples: os produtos eram vendidos por um preço muito alto. A necessidade de quebrar 
 
9 
esse monopólio passou a ser uma questão de sobrevivência para uma economia monetária. Era 
preciso, com urgência encontrar ouro. Como diversas lendas colocassem grandes tesouros na 
África e na Ásia, os europeus sonhavam em se apossar dessas fortunas. Era preciso, também, 
acabar com os intermediários, e os pais que realizasse tal feito obteria lucros fabulosos. 
Além da necessidade de conseguir ouro, a Europa se encontrava apertada entre o mar e 
seus inimigos. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos, o caminho para o oriente 
se fechava para os europeus. 
Portugal, por sua posição geográfica, se lançou ao mar em busca de novas rotas. 
Adquirindo experiência nessas viagens, saía na frente em busca de um caminho marítimo para 
o Oriente. Aos poucos, e como consequência dessas empreitadas, os portugueses foram 
aperfeiçoando os seus navios. No século XV, as galeotas e as galés de dois mastros haviam sido 
ultrapassadas, surgindo as barcas, barinés e as caravelas, que se imortalizaram durante as 
grandes descobertas. 
 
2.1 A CONQUISTA DA AMÉRICA E DO BRASIL 
 
Antes da unificação da Espanha, o Reino de Aragão, desde o século XII, estava voltado 
para o Mediterrâneo. Mais tarde, quando se criou o Estado Nacional, com a expulsão dos 
muçulmanos, a Espanha não se preocupou em navegar pelo Ocidente para atingir o Oriente. O 
grande defensor para seguir a rota ocidental foi um estrangeiro, filho de Gênova, chamado 
Cristóvão Colombo. E a viagem só se efetivou graças ao apoio de dois grupos poderosos: o 
católico, liderado por Luís de Santangel. Colombo, na realidade, não pensava em descobrir um 
continente e, no entanto, foi o que aconteceu. A partir desse momento (1492), a Espanha teve 
que valorizar uma política Atlântica, principalmente após as descobertas de minas de prata e de 
ouro no continente americano. 
Após a descoberta da América por Cristóvão Colombo, a Espanha entra na briga, 
procurando obter benefícios da Igreja, graças ao prestígio que desfrutava na Cúria Romana. As 
bulas iam saindo, refletindo a maior ou menor influência de uma das duas potências ibéricas, 
em dado momento provocando, inclusive, o protesto do teólogo Francisco Vitória. 
Finalmente, Espanha e Portugal chegaram a um acordo. Com o Tratado de Tordesilhas 
(7 de junho de 1494), o mundo ficaria dividido entre as duas potências ibéricas. 
Descoberto o caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama, D. Manuel prepara 
uma grande esquadra que parte rumo ao Oriente. O comando da armada é entregue a Pedro 
Álvares Cabral. Participavam da armada nomes ilustres: Nicolau Coelho, Sancho de Tovar, 
 
10 
Péro Escobar, Pedro de Ataíde, Vasco de Ataíde, o bacharel mestre João etc. No dia 9 de março 
de 1500, após a missa solene no dia anterior, Cabral e seus companheiros iniciavam a viagem. 
Roteiro: ilhas Canárias, São Nicolau. No dia 23, a nau de Vasco de Ataíde desapareceu. No mês 
seguinte, no dia 22, os expedicionários avistam um monte que recebeu o nome de Monte 
Pascoal. 
Nicolau Coelho manteve os primeiros contatos com os nativos. Foram celebradas duas 
missas, ambas por Henrique Coimbra. A primeira, num domingo, dia 26 de abril de 1500, e a 
segunda, no dia 1º de maio. No dia seguinte, a esquadra partia rumo ao Oriente. Estava, 
oficialmente, descoberto o Brasil em Porto Seguro (Bahia). O acontecimento foi narrado de 
maneira brilhante na carta de Pero Vaz de Caminha. 
No final do século XX surgiram várias polêmicas sobre o local exato do descobrimento 
do Brasil. A tese consagrada, e até aqui indiscutível, é a de que o Brasil foi descoberto em Porto 
Seguro, na Bahia. Lenine Pinto (1998) confronta essa tese, argumentando que o descobrimento 
do Brasil não ocorreu na Bahia e sim no Rio Grande do Norte. Ele afirma que a expedição de 
Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil, ao contrário do que se tem dito até hoje, teria 
pela primeira vez atingindo o Brasil provavelmente na praia de Touros, em abril de 1500. 
Como a historiografia se baseiam em relatos escritos (cartas e diários de bordo), o certo 
é que a esquadra de Pedro Álvares Cabral, após o descobrimento do Brasil, seguiu para as 
Índias. No entanto, antes de prosseguir viagem, Cabral mandou a Portugal uma caravela, “a 
naveta de mantimentos (esvaziada de seu conteúdo” para levar a carta de Pero Vaz de Caminha 
“e cerca de 20 cartas” dando notícia sobre a terra descoberta – o Brasil, que ainda não havia 
sido batizado com esse nome (BUENO, 1998). Gaspar de Lemos avançou “em direção ao 
noroeste, acompanhando a costa brasileira provavelmente até o cabo de São Roque, no Rio 
Grande do Norte”, de onde mudou o curso seguindo direto para Lisboa, onde chegou em junho 
de 1500. O rei D. Manuel imediatamente enviou uma expedição exploradora para tomar posse 
da terra, confirmando a sua soberania, e iniciar a exploração do litoral. 
 
3. A COLONIZAÇÃO DO RN 
 
3.1 A POSSÍVEL PRESENÇA ESPANHOLA NO RN 
 
A prioridade da descoberta do Brasil continua sendo uma questão polêmica. Para alguns 
estudiosos, os espanhóis chegaram primeiro. Varnhagen, por exemplo, defende que Alonso de 
 
11 
Ojeda teria atingido o delta do Açu no Rio Grande do Norte. Outros autores concordam que o 
navegador espanhol visitou o Brasil, divergindo apenas do local. 
A viagem de outro navegante espanhol também é alvo de discussões. Parece que Vicente 
Yañez Pinzon teria realmente vindo do Brasil. Robert Southey chegou a afirmar o seguinte. “A 
primeira pessoa que descobriu a costas do Brasil foi Vicent Yañez Pinzon”. 
Segundo os cronistas, no dia 26 de janeiro de 1500, Pinzon chegou a um lugar que 
denominou de Santa Maria de La Consolación. A controvérsia que existe ésobre onde ficaria 
essa Santa Maria de La Consolación. Para uns, seria o cabo de Santo Agostinho. Varnhagen 
indica a Ponta de Mucuripe. Guanino Alves, que pesquisou a viagem de Vicente Pinzon, 
discorda e indica a ponta de Itapajé, no litoral norte do Ceará, como o local certo. O fato é que 
o navegante hispânico tomou posse da terra em nome da Espanha. E deu à região visitada o 
nome de Rostro Hermoso. Depois, Pinzon se dirigiu para o Norte, chegando até a foz do rio 
Amazonas, que denominou de Santa Maria de La Mar Dulce. 
Outro navegador espanhol que provavelmente passou pelo Rio Grande do Norte foi 
Diego de Lepe e, segundo alguns pesquisadores, teria atingido a enseada do Açu. 
De acordo com Capistrano de Abreu (1999), alguns navegadores apontaram o Cabo de 
São Roque (hoje localizado no município de Maxaranguape/RN). 
Apesar das controvérsias, não se pode negar que os espanhóis antecederam aos 
portugueses na descoberta do Brasil, considerando que estiveram no País antes de abril de 1500. 
 
3.2 O MARCO DE TOUROS 
 
A primeira expedição que alcançou terras potiguares foi a de 1501. Essa viagem, 
iniciada no dia 10 de maio de 1501, se encontra envolvida em controvérsias. A começar sobre 
quem a teria comandado. Alguns nomes são apresentados: D. Nuno Manoel, André Gonçalves, 
Fernando de Noronha, Gonçalo Coelho e Gaspar de Lemos - o nome mais aceito. Quem 
participou também dessa expedição foi Américo Vespúcio. Após sessenta e sete dias de viagem, 
foi alcançado o Rio Grande à altura do Cabo de São Roque e, segundo Câmara Cascudo, ali foi 
chantado o marco de posse mais antigo do País, registrando-se, na ocasião, contatos entre 
portugueses e potiguares (CASCUDO, 1984). 
As cartas de Américo Vespucio a Lourenço de Medici (a Carta de Cabo Verde, a Carta 
de Lisboa e Mundus Novus) e a Pietro Soderini (Lettera) descrevem as suas aventuras de 
travessia do Atlântico e a chegada ao litoral norte-rio-grandense. As datas são divergentes. A 
Carta de Lisboa e Mundus Novus apontam 7 de agosto de 1501 como o dia em que a expedição 
 
12 
chegou ao Rio Grande do Norte. A Lettera indica o dia como sendo 17 de agosto. Muito 
provavelmente, segundo Medeiros Filho (1997), a data provável da chegada dos portugueses 
ao Rio Grande do Norte é 7 de agosto de 1501 
Sobre o Marco de Touros, Cascudo (1994) faz a seguinte narração: “ (...) O povo, por 
causa dos desenhos em forma de cruz no Marco de Posse, acreditou ser ele milagroso, surgindo 
assim, um culto, onde era preparado um chá com fragmentos da pedra que tinha poderes 
milagrosos, trazendo alívio e cura às mazelas do corpo e do espírito". 
Nesse período, o governo lusitano, verificando que o litoral brasileiro estava sendo 
visitado por corsários, entre eles aventureiros franceses, resolveu enviar expedições militares 
para defender sua colônia. Foram as chamadas expedições guarda-costas, sendo consideradas 
as mais marcantes aquelas que vieram sob o comando de Cristóvão Jacques, entre 1516 a 1519 
e 1526 a 1528. Uma iniciativa ingênua, considerando a imensa extensão do litoral. É o próprio 
Cristóvão Jacques que sugere o início do povoamento como solução para resolver o problema. 
Eminentes portugueses aprovaram e defenderam a ideia. D. João III, então envia uma expedição 
colonizadora chefiada por Martim Afonso de Souza. 
A base estava lançada e em 1532 fundava-se São Vicente, no Sudeste do País, o que era 
muito pouco, pois o Brasil possuía dimensões continentais. Cristóvão Jacques, entre outras 
coisas, sugere que se aplicasse no Brasil um sistema que já vinha sendo feito nas ilhas do 
Atlântico: o das Capitanias Hereditárias. Uma, na realidade, já havia sido criada em 1504 por 
D. Manuel, a de Fernando de Noronha. D. João III adota oficialmente o sistema no Brasil, 
criando quinze capitanias no período compreendido entre 1534 e 1536. Entre elas, a de João de 
Barros, no futuro Rio Grande, como lembra Câmara Cascudo, "começando da Baía da Traição 
(Acejutibiró, onde há cajus azedos, segundo Teodoro Sampaio), limite norte da Donatária 
Itamaracá, pertencente a Pero Lopes de Souza, até a extrema indefinida”. A capitania possuía 
cem léguas de extensão. 
De acordo com Denise Monteiro (2000), a capitania era uma das maiores do Brasil, ao 
lado de Pernambuco, alongando-se pelos “sertões dos atuais estados do Ceará, Piauí e 
Maranhão”, com o limite sul na Baía da Traição, no atual estado da Paraíba, e o limite norte na 
Angra dos Negros, no atual estado do Ceará. Quanto ao nome, diz Cascudo (1999), não haver 
dúvidas que procede da percepção que os portugueses tiveram do rio Potengi, correndo “largo 
e manso”, em “curva serena” na direção do Refoles. Tarcísio Medeiros (1985) diz que o Rio 
Grande do Norte ficou conhecido primeiro pelo nome de rio dos Tapuios, mais tarde pelo do 
rio Potengi e finalmente por capitania do Rio Grande. 
 
13 
Em 1535, João de Barros, Aires da Cunha e Fernão Álvares prepararam a maior 
esquadra particular que havia saído do Tejo até aquele momento: " Com cinco naus e cinco 
caravelas, novecentos homens e mais de cem cavalos". O comando coube a Aires da Cunha. O 
governo investiu também nessa expedição: "D. João III emprestara artilharia, munições e armas 
retiradas do próprio Arsenal Régio", informa Câmara Cascudo. Por essa razão, muitos eram de 
opinião que Aires da Cunha pretendia, além de fundar colônias no Norte do Brasil, atingir o 
Peru pelo interior. 
A expedição foi um fracasso total com a morte de Aires da Cunha. Os portugueses 
conseguiram fundar, ao Norte, o povoado de Nazaré, onde permaneceram três anos. Morreram 
setecentos homens. Os expedicionários partiram em busca de melhor sorte. Os resultados, 
porém, foram péssimos. Alguns foram jogados nas Antilhas; outros atingiram Porto Rico. E um 
grupo formado por São Domingos e João de Barros conseguiu reaver seus filhos que, quando 
regressavam de Nazaré, numa tentativa infrutífera, procuravam colonizar o Rio Grande. Foi 
nessa oportunidade que teria ocorrido o conflito entre potiguares e lusitanos. Como descreve 
Cascudo (1999), mesmo fracassando, essa foi em sua opinião, "a primeira tentativa de 
colonização no Rio Grande do Norte". 
Devido ao abandono a que foi relegada a capitania do Rio Grande e ao endividamento 
de João de Barros, a coroa portuguesa resolveu intervir diretamente: perdoou a dívida contraída 
com a primeira expedição (1535) e, após o seu falecimento, em 1570, concedeu uma pensão de 
500 mil réis à viúva e a um dos filhos uma indenização pela cessão da capitania à Metrópole 
portuguesa, uma vez que eles não dispunham de condições para manter os direitos dos 
donatários (LYRA, 1998). Em 1582, a Capitania do Rio Grande foi convertida para Capitânia 
Real. 
 
3.3 OS FRANCESES NO RIO GRANDE DO NORTE 
 
Em virtude do fracasso do sistema de Capitanias Hereditárias em grande parte do Brasil, 
principalmente ao norte da capitania de Pernambuco, não foi povoada pelos colonizadores 
portugueses. Essa área do Brasil era constantemente ameaçada de invasão por outras nações 
europeias, principalmente os franceses. 
Tentando fugir das perseguições religiosas, os protestantes franceses, liderados por 
Gaspar de Coligny e Nicolau Villegaignon invadiram o Rio de Janeiro em 1555, fundando ali 
uma colônia (França Antártica), de onde foram expulsos em 1567 por Estácio de Sá, sobrinho 
do governador-geral, Mem de Sá. Expulsos do Rio de Janeiro, os franceses voltaram-se então 
 
14 
para o Nordeste que, à exceção de Pernambuco e Bahia, estava por povoar. Estiveram os 
franceses em Sergipe e, em seguida, na Paraíba, tendo sido expulsos nas duas ocasiões por 
Cristóvão de Barros. Aqui firmaram uma aliança com os índios locais, os potiguares, e passaram 
a explorar e contrabandear pau-brasil. Em 1594, liderados por Jacques Riffault e Charles de 
Vaux, os franceses tentaram implantar um núcleo colonizador no Maranhão. A pressão, 
segundo Pandiá Calógeras (MEDEIROS,1985), era tão forte, que havia dúvidas sobre o Brasil, 
se permaneceria português ou se passaria ao domínio francês. 
Segundo Lenine Pinto (1998), os franceses demoraram a serem expulsos da Capitania 
do Rio Grande por três motivos: porque Portugal tinha uma população diminuta e grande parte 
dela estava envolvida “em manter conquistas ultramarinas desde o Marrocos à China”, pela 
importância do comércio de especiarias orientais e pela tibieza do Estado português em se fazer 
respeitar pela coroa francesa. Um outro fator era que aliança com os índios potiguares garantia 
uma boa retaguarda para os franceses. O escambo praticado entre franceses e índios foi uma 
solução economicamente viável para ambos, pois permitiam aos franceses “explorar o pau-
brasil com total apoio e trabalho dos Potiguara, e estes conseguiam utensílios, armas e prestígio 
social por estarem aliados aos estrangeiros”. Ademais, ambos se viam como aliados na guerra 
que moviam contra os portugueses, e o apoio recíproco “era imprescindível, seja pelo 
conhecimento da terra e número de guerreiros disponíveis dos Potiguara, seja no municiamento 
e conhecimento das táticas europeias dos franceses” (LOPES, 2003). 
 
3.4 A UNIÃO IBÉRICA 
 
O cardeal D. Henrique assumiu o governo português em 1578. O prelado contava 
sessenta e seis anos e, como não tinha filhos, criava um problema para a sucessão do trono 
português. No dia 31 de janeiro de 1580, o governante morreu. 
Entre os diversos pretendentes ao trono, três netos de D. Manuel se apresentavam com 
maiores possibilidades: D. Antônio, prior do Crato, D. Catarina e Felipe II, rei da Espanha. D. 
Catarina renunciou a favor de Felipe II. A disputa se reduziu entre D. Antônio, que era filho 
bastardo do infante D. Luís, e o monarca espanhol, que era o mais poderoso, pois contava com 
o apoio de importantes figuras da nobreza e do clero lusitano. Os dois rivais partiram para a 
disputa armada. D. Antônio enfrentou as tropas fiéis a Felipe II, chefiados pelo duque de Alba, 
sendo posteriormente derrotado. D. Felipe não agiu somente pela força das armas, fez 
praticamente, tudo. Propostas tentadoras aos membros da nobreza, além do apoio da 
 
15 
Companhia de Jesus. Em síntese, ele comprou o apoio recebido de seus adversários com ouro 
e também através de seu poderio militar. 
Para o Brasil, esse período foi uma fase altamente positiva. Exemplo: a conquista do 
Norte e Nordeste do País. Felipe II, ao anexar Portugal e suas colônias, sentiu a situação de 
abandono em que estava parte do Nordeste e todo o Norte do Brasil. E o que era pior: a constante 
ameaça que representava a permanência dos franceses no Rio Grande. Tendo em vista essa 
situação, o monarca não perdeu tempo. Através de duas Cartas Régis (9 - 11 - 1596 e 15 - 03 - 
1597), determinou a expulsão do inimigo e que fosse construída uma fortaleza e ainda, fundada 
uma cidade. Em síntese: conquistar o Rio Grande, consolidando tal feito através da colonização. 
Por essa razão, um fato deve ficar bem claro: a expulsão dos franceses do Rio Grande foi uma 
iniciativa de Felipe II, o que significa dizer, hispânica. 
 
3.5 A EXPULSÃO DOS FRANCESES E A FUNDAÇÃO DE NATAL 
 
Os franceses passaram a fazer investidas contra a Paraíba, com o apoio dos potiguares. 
O ataque mais audacioso se realizou entre 15 a 18 de agosto de 1597. Portanto treze navios, o 
embate se deu com a fortaleza de Santa Catarina de Cabedelo, sob o comando do aventureiro 
Jacques Riffaul, que desembarcou trezentos e cinquenta homens. Não foi um simples assalto 
de corsários, mas se constituiu uma verdadeira batalha. A fortaleza foi defendida por apenas 
vinte soldados. A artilharia contava com cinco peças. Os portugueses resistiram ao ataque, 
forçando os franceses a baterem em retirada. Foram eles que iniciaram o processo de 
miscigenação entre europeus e americanos na região. Dois aventureiros se destacaram: Charles 
de Voux e Jacques Riffault. Ainda hoje um local guarda no nome a lembrança de Riffault, no 
bairro do Alecrim em Natal, onde se ergueu a Base Naval (Refoles). 
A conquista do Rio Grande não se apresentava como sendo uma tarefa fácil. E foi por 
assim compreender que D. Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, determinou que o 
capitão-mor de Pernambuco, Manuel Mascarenhas Homem, tomasse todas as providências para 
que se organizasse uma grande expedição militar com o objetivo de que as ordens de Filipe II 
fossem executadas. Assim foi feito. Uma poderosa expedição foi organizada. Desta, uma parte 
iria por mar com uma esquadra formada por sete navios e cinco caravelões, sob o comando de 
Francisco de Barros; e outra seguiria caminhando por terra, liderada por Feliciano Coelho, 
capitão-mor da Paraíba. 
Manuel Mascarenhas Homem assumiu o comando geral, agindo com o máximo de 
empenho para que nada faltasse a fim de que os objetivos fossem alcançados: expulsar os 
 
16 
franceses, construir uma fortaleza e fundar uma cidade. Participou da jornada um grupo de 
religiosos: os jesuítas Gaspar de Samperes (autor da planta da futura fortaleza) e Francisco 
Lemos, e mais dois franciscanos - Bernardino das Neves, que funcionava como intérprete, e 
João de São Miguel. Narra Câmara Cascudo: "Feliciano Coelho partiu por terra com as quatro 
companhias pernambucanas e uma paraibana capitaneada por Miguel Álvares Lobo, num total 
de 178 homens e 90 indígenas guerreiros de Pernambuco e 730 da Paraíba, com seus tuixauas 
prestigiosos e bravos: Pedra Verde (Itaobi), Mangue, Cardo-Grande etc. a 17 de dezembro de 
1597 o exército marchou. Mascarenhas viera com as naus". 
Acontece que as forças terrestres foram atingidas pela varíola, sendo obrigadas a 
retroceder, com exceção de Jerônimo de Albuquerque que se uniu à expedição marítima. Havia 
uma justificativa: Jerônimo desfrutava de grande prestígio entre os nativos. A viagem pelo mar 
continuou e, no caminho, sete naus francesas fugiram para evitar um confronto com a esquadra 
lusitana. 
No dia 25 de dezembro, a frota luso-espanhola atingia o rio Potengi. A primeira 
providência dos invasores foi fazer um entrincheiramento com varas de mangue para que 
pudessem se defender das investidas dos potiguares. Medida acertada, porque não demorou 
muito os nativos atacaram com toda violência. Era a guerra que começava. Com o passar dos 
dias, os luso-espanhóis começaram a perder terreno no conflito armado. A situação se agravou 
a tal ponto que ficou crítica, como narrou Vicente Salvador: "Depois de continuar os assaltos 
que puseram os nossos em tanto aperto que escassamente podiam ir buscar água para beber a 
uns poços que tinham perto da cerca". 
O quadro era muito triste: mortos, feridos e doentes. O clima ficava, a cada momento, 
mais insustentável. Foi quando, providencialmente, chegou Francisco Dias com reforço, 
evitando uma humilhante derrota. Servindo para que os luso-espanhóis pudessem manter a 
posição onde se encontravam. Não fosse a chegada de Feliciano Coelho, que partiu da Paraíba 
com mais soldados, armas e munições, tudo estaria perdido. A situação, ainda assim, continuava 
delicada. Era preciso negociar a paz com urgência. 
A fortaleza de madeira não foi construída, como pensava Câmara Cascudo, em um 
"arrecife a setecentos e cinquenta metros da barra do Potengi". A razão é muito simples: naquele 
local, a construção não suportaria o impacto das águas. O edifício foi erguido na praia. 
Para Hélio Galvão (1979), que pesquisou exaustivamente sobre a Fortaleza, o nome 
correto seria Fortaleza da Barra do Rio Grande. O problema não é tão simples. Naquela época 
se usava de maneira indiferente mais de um nome para indicar um prédio público. Aquele 
edifício pode ser chamado também de Fortaleza dos Reis Magos, o que não pode, certamente é 
 
17 
designá-lo por "Forte dos Reis Magos", que por sinal é a versão popular usada de maneira errada 
pelos cronistas tradicionais. 
Os trabalhos de construçãoda fortaleza começaram no dia 6 de janeiro de 1598. Hélio 
Galvão explica o seguinte: "O trabalho se desenvolvia entre dificuldades e imprevistos, a 
ameaça constante de índios e franceses, a atenção dos homens voltada para a vigilância do 
acampamento. Diríamos que Mascarenhas Homem lançou a pedra fundamental e a partir daí 
ninguém parou. O material foi chegando, as pedras que vinham de Lisboa lastrando os navios 
eram guardadas, acumulava-se cal e os implementos imprescindíveis eram providenciados". 
A primeira fortaleza, a de madeira, foi concluída no dia 24 de junho de 1598. E tinha, 
como descreveu Câmara Cascudo, "a forma clássica do forte marítimo, afetando o modelo do 
polígono estrelado". 
Em 1614, o engenheiro-mor do Brasil, Francisco Frias de Mesquita, realizou trabalhos 
na fortaleza, fazendo pequenas modificações sem alterar a planta original. A obra foi concluída 
somente em 1628. 
A capitania se chamava, no início, do Rio Grande, passando a incluir "do Norte" quando 
surgiu outra de igual nome, no Sul do País. Não houve, no Rio Grande, uma conquista. A 
expedição de Manuel Mascarenhas Homem estava praticamente derrotada. Os missionários 
saíram da fortaleza para se transformarem em embaixadores da paz. Um passo significativo 
nesse sentido foi dado quando os nativos conseguiram distinguir os militares e colonos dos 
sacerdotes. O padre Francisco Pinto foi, na realidade, o grande e incansável apóstolo. Percorreu 
o sertão, enfrentou múltiplas vicissitudes. Nos momentos mais difíceis conseguia reunir novas 
forças graças à sua fé, operando verdadeiros milagres na obra de persuasão. Primeiro, a 
catequese e, através dela, o padre Francisco Pinto e seus companheiros missionários 
procuravam levar os silvícolas para o lado dos portugueses. O padre Pero Rodrigues, numa 
carta, transcrita por Hélio Galvão, registra o trabalho árduo e difícil dos religiosos. Os padres 
ajudavam ao exército com os acostumados exercícios da Companhia, que eram "a edificação 
de todos, pregando, confessando, fazendo amizades e não se negando a nenhum trabalho, de 
dia e de noite, como no acudir aos índios nossos amigos, que nos ajudavam na guerra, por 
adoecerem gravemente de bexigas e, quando era possível, acudiam a curar e consolar na morte". 
No processo de pacificação, os missionários não agiram sozinhos. Contaram com o 
apoio de alguns chefes nativos: Mar Grande e Pau Seco, entre outros. Os líderes potiguares 
foram negociar a paz com os brancos porque as suas mulheres exigiram o fim das hostilidades. 
Contribuíram também com o processo de cristianização de seus irmãos ao lado dos 
missionários. 
 
18 
Não se pode esquecer, igualmente, o desempenho de Jerônimo de Albuquerque que foi 
de suma importância. Filho de Jerônimo Santo Arco Verde (Ubirá - Ubi) que, por sua vez, era 
filho do chefe nativo Arco Verde. Mestiço, possuía sangue tupi em sua veia; corajoso e hábil, 
falando o idioma nativo, desfrutava de grande influência entre os habitantes de todo o Nordeste. 
A paz era o anseio das duas facções em luta e as negociações obtiveram êxito. 
Terminadas as hostilidades, Manuel Mascarenhas Homem partiu para a Bahia, com o objetivo 
de relatar os acontecimentos ao governador, D. Francisco de Souza que, sem demora, 
determinou que fossem solenemente celebradas as pazes. Isso aconteceu no dia 11 de junho de 
1599, na Paraíba, na presença de muitas autoridades - Mascarenhas Homem; Feliciano Coelho 
de Carvalho, ouvidor-mor geral, e Brás de Almeida; de diversos chefes nativos; do intérprete 
frei Bernardino das Neves e do apóstolo dos potiguares, padre Francisco Pinto. As pazes foram 
finalmente ratificadas e estava assim assegurada a posse definitiva da terra, ou mais 
precisamente da Capitania do Rio Grande. 
Após a pacificação dos índios, as autoridades da capitania construíram uma igreja 
(antiga catedral de Natal), inaugurada no dia 25 de dezembro de 1599, e demarcaram o espaço 
para a nova cidade. A população, sentindo-se segura pelo recém assinado tratado de paz, 
começou a ocupar lentamente as imediações do templo religioso. Desta forma, a inauguração 
da igreja representa o marco cronológico inicial de Natal, quarta cidade fundada no Brasil. 
Ainda hoje se discute quem teria sido o fundador da Cidade do Natal. Os primeiros 
cronistas indicavam o nome de Jerônimo de Albuquerque, alegando que, por sua participação 
no processo de pacificação, com sua garra e valentia, teria sido o primeiro capitão-mor do Rio 
Grande e logo depois fundado Natal. A informação se baseava muito mais na intuição do que 
em qualquer base documental. É, portanto, compreensível que os primeiros historiadores se 
confundissem. Frei Vicente Salvador, por exemplo, narra o seguinte: "Feitas as pazes com os 
potiguares, como fica dito se começou logo a fazer uma povoação no Rio Grande a uma légua 
do forte, a que chamam a Cidade dos Reis, a qual governa também o capitão do forte que El 
Rei costuma mandar cada três anos". 
Para Francisco Adolfo Varnhagen (1981), "feitas as pazes com os índios, passou 
Jerônimo de Albuquerque a fundar no próprio Rio Grande uma povoação. E como era para isso 
imprópria a porção do arrecife ilhada (em preamar) onde estava o forte, segundo ainda hoje se 
pode ver, escolheu para isso o primeiro chão elevado e firme, que se apresenta às margens 
direitas do rio, obra de meia légua acima de sua perigosa barra (...). A dita povoação, depois 
vila e cidade, de cujo nome não conseguiu fazer - se digna por seu correspondente crescimento, 
 
19 
se chamou de Natal em virtude, sem dúvida, de se haver inaugurado o seu pelourinho ou a igreja 
matriz a 25 de dezembro desse ano da fundação (1599)". 
Vicente de Salvador confundiu a "povoação dos Reis" com a futura capital do Rio 
Grande do Norte. Na realidade, durante a construção da fortaleza, Manuel Mascarenhas Homem 
mandou erguer algumas casas para abrigar os oficiais que participaram da tentativa de 
conquista. Com isso, surgiu uma povoação que se chamou de Santos Reis. Natal seria fundada, 
posteriormente, e não tinha nenhuma relação com a povoação que nasceu próxima daquele 
edifício militar. 
Varnhagen vai mais além, descreve a evolução daquele núcleo urbano: "A dita 
povoação, depois vila e cidade". Essa afirmação, porém, não é sustentável. Natal como disse 
Câmara Cascudo, "nasceu cidade". Não há desse modo, nenhuma relação com a primitiva 
povoação que floresceu nas proximidades da fortaleza. A razão é clara: Felipe II mandou que 
se fundasse uma cidade e não uma povoação. Natal surgiu no local onde floresceu a povoação. 
Natal nasceu cidade, porém, sem casas e sem ruas, aumentando a controvérsia. 
O local escolhido para a fundação da cidade foi um chão elevado e firme à margem 
direita do rio Potengi. A demarcação foi feita com cruzeiros de posse. A cruz do Norte ficou na 
atual rua Junqueira Aires, a cruz do Sul, no declive do baldo. 
A povoação estava centralizada na capelinha onde existe a antiga catedral. No início, 
recebeu o nome de Rua Grande, depois Praça da Matriz e, atualmente Praça André de 
Albuquerque na Cidade Alta. 
A Capitania do Rio Grande possuía dois núcleos: uma povoação em decadência e uma 
cidade que, na prática não existia, mas aos poucos, com o passar do tempo, começava a surgir. 
Câmara Cascudo (1999) chega a afirmar que houve “nome anterior deixando vestígio na 
história e cartografia erudita”: Cidade dos Reis, Cidade do Rio Grande, Cidade de Santiago. O 
topônimo NATAL, denominação que somente surgiria em documento a partir de 1614”. Outra 
denominação aparece durante o domínio holandês, quando a cidade foi denominada de Nova 
Amsterdam. 
Sobre a denominação Cidade do Natal ou de Natal, foi sugerida pelo renomado 
historiador e folclorista norte-rio-grandense Luís da Câmara Cascudo. Segundo ele, a expressão 
Cidade do Natal deve ser compreendida como cidade fundada no dia em que se comemora o 
nascimento de Cristo, 25 de dezembro.Assim, gramaticamente falando, a forma Cidade de 
Natal é acertada. Natal é adjetivo quando se refere ao nascimento ou local onde ocorre o 
nascimento. A partícula de na expressão Cidade de Natal indica relação de uma denominação 
 
20 
e o de seria apenas um reforço de expressão. Porém, referindo-se à cidade fundada no dia do 
nascimento de Cristo, também se pode dizer Cidade do Natal. 
Sobre o fundador da Cidade do Natal, com o avanço das pesquisas, ficou provado que 
Mascarenhas Homem não designou Jerônimo de Albuquerque para exercer a função de capitão-
mor do Rio Grande e, o que é mais importante, Jerônimo não se encontrava presente na data da 
fundação da cidade e, portanto, não pode ser considerado como sendo seu fundador. 
De acordo com PETROVICH (2000), Vicente Lemos foi o primeiro historiador a 
afirmar que João Rodrigues Colaço teria sido o homem que exerceu, pela primeira vez, a função 
de capitão-mor do Rio Grande, numa nota publicada na revista do Instituto Histórico e 
Geográfico do Rio Grande do Norte, Vol. 6, página 138: A conquista iniciada em princípios de 
1598, e na qual tanto distinguiu-se Jerônimo de Albuquerque, remete no ano seguinte, e, ciente 
D. Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, de bom êxito da empresa, nomeou capitão-
mor do forte a João Rodrigues Colaço, o primeiro que realmente governou a capitania". Depois, 
entretanto, Vicente de Lemos muda de opinião. No seu livro "Capitães Mores e Governadores 
do Rio Grande do Norte", declarou que Jerônimo de Albuquerque foi o fundador da Cidade do 
Natal. 
Diante de tantas controvérsias, é importante destacar que não existem documentos que 
comprovem quem de fato fundou a cidade. Por isso, é conveniente que informe apenas os nomes 
dos possíveis fundadores. 
 
3.5.1 O crescimento da cidade 
 
No início, Natal possuía cerca de 30 a 40 casas de palha e barro. Seus habitantes com 
maiores recursos viviam nos arredores, em seus sítios, e vinham à cidade para missas de 
domingos e de santos. Nessa época, a sociedade era formada por indígenas, escravos, homens-
livres, colonos, donos de engenho, de sítios e fazendas. Era cidade apenas no nome, não tinha 
moradores. 
De 1633 a 1654, a nossa capitania viveu sob o domínio do invasor holandês, não 
apresentou evolução e expansão urbana. Em 1700, Natal tinha apenas a rua Grande, em frente 
à matriz, e as atuais ruas de Conceição e Santo Antônio. Em 1810, Natal tinha praça, três igrejas, 
o palácio da Câmara e a prisão. Não tinha calçamento; andava-se na areia solta. 
Registra a história natalense que, antes de 1889, havia uma rivalidade entre habitantes 
dos bairros da cidade e da Ribeira que durou dezenas de anos. Moleques, soldados, criados e 
valentões mantinham essa separação. O encontro de gente de um bairro no outro, provocava 
 
21 
cenas de lutas e brigas. A origem do nome vinha da alimentação preferida pela população dos 
dois bairros; canguleiro, o comedor de cangulo, habitava a Ribeira; xaria, comedor de xaréu, 
morava na Cidade Alta. 
A Ribeira era um alagadiço que atingia até a Praça Augusto Severo. Toras de madeiras, 
colocadas após a Estação Ferroviária, chamada de ponte, facilitavam o trânsito. Da ponte para 
cima, havia os xarias; e para baixo, os canguleiros. Tudo era motivo de desavença. O Batalhão 
de Segurança tinha seu quartel na Ribeira e o Exército, na Cidade. Os meninos do grupo escolar 
Augusto Severo eram canguleiros; os do Colégio Santo Antônio eram xarias; verdadeiras 
batalhas se travavam utilizando-se de paus, pedras, areias e insultos. 
A ladeira da Junqueira Aires, que distanciava a Cidade da Ribeira, foi integrada pelos 
bondes (puxados por burros) e pelo calçamento. Misturaram-se e uniformizaram as duas áreas, 
acabando-se as desavenças. 
No século XX, houve a preocupação em ordenar o crescimento da cidade. O agrimensor 
italiano Antônio Polidrelli planejou a Cidade Nova, local que corresponde ao atual bairro de 
Petrópolis e Tirol. Foi aberta a Avenida Oitava, atual Hermes da Fonseca, que compreendia o 
espaço, desde a rua Campos Sales a Av. Deodoro, abrangendo quarteirões com ruas, avenidas 
e praças. Em 1916, a construção da Ponte de Igapó facilitou a comunicação entre as duas partes 
da cidade separadas pelo rio Potengi. 
Somente a partir da década de 1940, Natal teve crescimento mais acelerado. Durante a 
II Guerra Mundial, deu-se a ligação entre a cidade e a base aérea de Parnamirim, com a estrada 
cortando os bairros de Petrópolis e Tirol. 
Na década de 60, a periferia começa a ser ocupada com a construção da Cidade da 
Esperança, primeiro conjunto habitacional de Natal. 
Nos anos 80, a implantação do Distrito Industrial favoreceu o surgimento de conjuntos 
habitacionais na Zona Norte. Nesse mesmo período, houve também a ocupação populacional 
ao longo da BR-101 e o surgimento do bairro Pitimbu. 
A expansão da cidade continuou até os limites e fronteiras naturais do município de 
Natal, nas décadas seguintes. 
Hoje, a Cidade do Natal é composta por 36 bairros divididos em quatro zonas 
administrativas 
 
3.5.1.1 Natal e sua Região Metropolitana 
 
 
22 
A Lei Complementar 152, de 16 de janeiro de 1997, definiu a criação da Região 
Metropolitana de Natal, formada por Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará 
Mirim, Macaíba e Extremoz. Em 2002, por meio da Lei Complementar 221, Nísia Floresta e 
São José de Mipibu foram adicionados. Já em 2005 (LC 315), Monte Alegre passou a constituir 
a Região Metropolitana; em 2009 (LC 391), Vera Cruz foi adicionada; em 2013 (LC 485), foi 
a vez de Maxaranguape; em 2015 (LC 540), Elmo Marinho passou a fazer parte da Região 
Metropolitana e, no mesmo ano (LC 559), Arês e Goianinha foram incluídas. . Em 2019, Bom 
Jesus foi incluído. Totalizando, então, 15 municípios. 
 
4. A INVASÃO HOLANDESA 
 
4.1 A INVASÃO À BAHIA 
 
A primeira tentativa de implantar uma colônia no Brasil, pelos holandeses, foi na Bahia. 
Os armadores holandeses conheciam o Brasil, mantendo relações amistosas com os 
portugueses, durante os reinados de João III, D. Sebastião e o cardeal D. Henrique. Com a 
anexação de Portugal e suas colônias pela Espanha, a situação mudou. Felipe II, inimigo dos 
Países Baixos, determinou "o confisco dos navios flamengos que estivessem nos portos de seus 
novos domínios, europeus, africanos, asiáticos e americanos". Fugitivos da Bahia, os flamengos 
contaram na Holanda como seria fácil conquistar Salvador, devido à precariedade do sistema 
montado para defender a colônia. Um deles, Francisco Duchs, chegou a participar do ataque 
que resultou na capitulação da Bahia, em 1625. 
O sonho de dominar o Brasil era antigo, porém, como desfrutavam de lucros com a 
participação no comércio, durante o governo português deixaram de lado tal ideia. Agora, a 
situação era diferente. Os espanhóis se apresentavam como inimigos. Deviam, portanto, 
aproveitar a oportunidade para se apossarem do Brasil foi a criação da Companhia Privilegiada 
das Índias Ocidentais, pela Carta Patente de 3 de junho de 1621. 
A companhia decidiu atacar a Bahia, mas precisamente Salvador, capital da colônia, 
que, segundo eles, arrecadava 8.000 florins anuais. A notícia de que a Holanda iria atacar a 
Bahia chegou ao Brasil. O governador geral, Diogo de Mendonça Furtado, que procurou tomar 
todas as providências, porém, encontrou dificuldades, até mesmo má vontade, como era o caso 
do bispo D. Marcos Teixeira. A 8 de maio de 1624 os holandeses chegaram a Salvador e, após 
dois dias de luta, dominavam a cidade. Preso Diogo de Mendonça Furtado, Johan Van Dorth 
passou a governar. Os batavos, contudo, não foram felizes. O povo que havia abandonado a 
 
23 
cidade, passado o susto, procurou reagir, crescendo a figura de D. Marcos Teixeira, apesar de 
sua idade bastante avançada. Esgotado, não suportou as vicissitudes e veio a falecer. Os 
holandeses, entretanto, tiveram também suas baixas. Cedo perderam o cel.Van Dorth. O seu 
substituto, Albert Schenteu, também morreu, sendo sucessor Wielen Schauten. Matias de 
Albuquerque, em Pernambuco, assumiu o governo da colônia e enviou para a Bahia um reforço, 
sob o comando de Francisco Nunes Marinho. 
A metrópole mandou uma esquadra, chefiada por D. Francisco de Moura. A armada, 
depois de passar por Pernambuco, foi para a Bahia, onde realizou o cerco de Salvador. Era 
preciso, contudo, muito mais. Filipe II, diante da repercussão negativa pela grande derrota, cuja 
consequência foi a perda da Bahia, resolveu tomar uma decisão mais firme e, então, enviou ao 
Brasil a maior expedição militar que atingiu o continente americano até aquele momento, com 
mais de 12.000 homens e 70 navios, ficando conhecida na História como "Jornada dos 
Vassalos". D. Fadrique de Toledo Osório assumiu o comando. Da expedição participaram não 
somente militares das duas nacionalidades, Espanha e Portugal, como figurar ilustres. 
No dia 22 de março de 1625, a armada atingiu a Bahia e a 01 de maio Salvador estava 
libertada. 
A Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais resolveu fazer nova investida contra a 
colônia luso-espanhola. O alvo, agora, seria Pernambuco, com mais de 130 engenhos, cuja safra 
ultrapassava as mil toneladas, fazendo de Pernambuco "a principal e mais rica região produtora 
de açúcar do mundo". No aspecto militar, o Nordeste brasileiro estava desguarnecido e, assim, 
não tinha condições de resistir a um ataque de uma grande esquadra. 
A notícia sobre uma nova invasão holandesa ao Brasil se espalhava, rápida, pela Europa. 
Matias de Albuquerque, que se encontrava em Madri, foi nomeado "Governador e Comandante 
Supremo do Nordeste". O governador geral Diogo Luís de Oliveira recebeu instruções da 
metrópole para reforçar e melhorar o sistema de defesa da Bahia e Pernambuco. Matias de 
Albuquerque partiu para o Nordeste brasileiro com poucos soldados, um reforço 
verdadeiramente ridículo diante da grande ameaça. Ao chegar a Pernambuco constatou que, 
para fazer frente aos holandeses, contava apenas com tropas que, na sua maioria, eram 
integradas por homens inexperientes. 
 
4.2 A INVASÃO À PERNAMBUCO 
 
No dia 15 de fevereiro de 1630, uma poderosa esquadra holandesa, com mais de 50 
navios e 7.000 homens, sob a chefia de Hendricks Cornelizon Loncg, atacou o porto de Recife 
 
24 
com toda sua força. Resistência heroica, porém, ineficaz e, assim, a 3 de março, caíram Olinda 
e Recife. Mas Matias de Albuquerque não desistiu e, adotando a tática de guerrilha, concentrou 
suas forças no Arraial do Bom Jesus. Os colonos levaram uma grande vantagem: conheciam a 
terra e atiravam o máximo que podiam, impedindo, ou melhor, retardando a vitória dos 
flamengos. A 20 de abril de 1632 ocorreu um fato que mudou o destino da guerra: a deserção, 
para o lado dos invasores, de Domingo Fernandes Calabar. Profundo conhecedor da região, 
passou a fornecer as informações que os holandeses precisavam e, desse modo, ajudaram na 
ampliação de seu domínio, destruindo inclusive o Arraial do Bom Jesus. A guerra trazia 
enormes prejuízos. A Companhia das Índias Ocidentais resolveu enviar o conde Maurício de 
Nassau Siegen, com amplos poderes para pacificar a população e promover o desenvolvimento 
da colônia, para enfim adquirir os tão sonhados lucros. Começava outra fase da dominação 
holandesa. 
O conde de Nassau veio com o título de "Governador Capitão General e Almirante de 
Terra e Mar". Vinha, portanto, para administrar e consolidar a conquista. Chegou no dia 23 de 
janeiro de 1637 no Recife. Trouxe consigo artistas, (Franz Jasz Prost) e cientistas (Jorge 
Marograv e Wielen Piso), ganhando fama de mecenas. Entre seus feitos podem ser citados os 
seguintes: apoio os senhores de engenho, tomando medidas que asseguravam uma melhor 
produção de açúcar; reformulou a administração pública; procurou acalmar os ânimos dos 
portugueses; proibiu que se cobrassem juros de 18% ao ano, além de promover diversão para o 
povo. Na área militar, realizou algumas conquistas (Alagoas, Ceará, Sergipe), porém sofreu um 
grande revés na Bahia. 
 
4.3 A INVASÃO AO RN 
 
A Fortaleza da Barra do Rio Grande, pela sua beleza, impunha respeito. Os holandeses 
sabiam da importância de cunho estratégico daquele edifício militar. Possuíam, ao mesmo 
tempo, certo temor. Começar, então, a recolher o maior número de informações para elaborar 
um plano eficaz para capturá-la. A 19 de julho de 1625, o capitão Uzel Johannes de Laet fez 
um reconhecimento, encontrando no Rio Grande um engenho e muito gado. 
No outro ano, o nativo Marcial, fugitivo dos portugueses, se apresentou ao Conselho 
Político do Brasil Holandês. Objetivo: realizar uma aliança com os batavos. Fornecendo, 
naturalmente, preciosos dados aos flamengos. O Conselho Político, contudo, foi prudente. 
Enviou Elbert Simient e Joost Closte ao Rio Grande, em 1631, para adquirir maior 
conhecimento da região. Foi nessa expedição que os batavos conseguiram, por sua sorte, 
 
25 
importante dados que se encontrava em poder dos portugueses e que facilitaram, 
posteriormente, a conquista do Ceará. Os documentos se encontravam com um português 
chamado João Pereira, que foi morto. Após tantos estudos, os holandeses decidiram, finalmente, 
realizar a conquista do Rio Grande. Narra Câmara Cascudo: "A 21 de dezembro de 1631 
partiram do Recife quatorze navios, com dez companhias de soldados veteranos. Dois 
conselheiros da Companhia assumiram a direção suprema, Servaes Carpentier e Van Derem 
Haghen. As tropas eram comandadas pelo Tenente-Coronel Hartman Godefrid Van Steyn-
Gallefels. Combinaram desembarcar em Ponta Negra, três léguas ao sul de Natal, marchando 
sobre a cidade". O capitão-mor Cipriano Pita Carneiro reagiu, ordenando que seus liderados 
abrissem fogo contra os invasores. Os holandeses, contudo, desistiram de realizar a conquista. 
Depois, passaram por Genipabu, agindo como verdadeiros salteadores, levando duzentas 
cabeças de gado. Fracassou, assim, a primeira tentativa dos flamengos para dominar o Rio 
Grande. 
No dia 5 de dezembro de 1633, partiu do Recife a esquadra sob o comando do almirante 
Jean Cornelis Sem Lichtard. Comandava as tropas o tenente-coronel Baltazar Bijma. Afirma 
Câmara Cascudo (1999): "Todo o dia 9 é de artilharia. Os holandeses montam as peças de 12 
libras e os morteiros lança-granadas erguem trincheiras com cestões e sobem os canhões para 
os morros, a cavaleiro do forte. De lá atiram, quase de pontaria, desmontando as peças 
portuguesas. Assim 10, com trocas de descargas, gritos, toque de cornetas e granadas. Dia 11 
foi a mesma tarefa". O Tenente-coronel Bijma intimou o capitão-mor Pero Mendes Gouveia 
para que se rendesse, através de uma carta. Resposta de Gouveia: "V. Excia. Deve saber que 
este forte foi confinado à minha guarda por S.M. Católica e só a ela ou alguém de sua ordem a 
posso entregar". Atitude heroica, porém, inútil. A artilharia flamenga, montada nas dunas 
próxima da fortaleza falava mais alto. Segunda-feira, dia 12 hasteada a bandeira branca pelos 
sitiados. O capitão-mor Gouveia estava gravemente ferido. Por essa razão, não participou das 
negociações para a entrega da fortaleza ao inimigo. Enfermo, não possuía mais o comando. 
Caía a Fortaleza da Barra do Rio Grande. Começava, a partir daquela data, o domínio holandês 
no Rio Grande do Norte. Ao se apossarem do Rio Grande, os holandeses mudaram o nome da 
fortaleza para Castelo Keulen. Natal passou a se chamar Amsterdã (ou Nova Amsterdã). Logo 
após a conquista, Joris Gardtzman assumiu o governo sozinho. 
Em 1638, o conde Maurício de Nassau visitou Natal, acompanhado de sábios e artistas. 
Recebeu a visita de Janduí que foi retratado pelo pintor Albert Echout. 
 
 
26 
5. A EXPULSÃO HOLANDESA 
 
5.1 A INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA 
 
Em 1642, André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira já confabulavam, 
animados com a restauração do Maranhão.Não estavam sozinhos. O governador geral Antônio 
Teles da Silva enviou em 1644, experientes militares, liderados por Antônio Dias Cardoso, para 
Pernambuco, para que atuassem como instrutores. Ainda nesse ano, André Negreiros e João 
Fernandes, juntos elaboravam um plano para iniciar a reação contra os holandeses, tudo feito 
secretamente porque a trégua entre Holanda e Portugal não permitia se agisse às claras. Dentro 
desse contexto, em 1644, Henrique Dias e seu batalhão negro seguiam da Bahia para 
Pernambuco, como se estivessem fugindo. E, logo depois, D. Antônio Felipe Camarão, com 
seus nativos, segue o mesmo rumo, oficialmente perseguindo os fugitivos. 
Em 15 de maio de 1645, João Fernandes Vieira e Antônio Cavalcanti, na várzea de 
Capibaribe. Assumiam um compromisso para lutar "em nome da liberdade divina". Pouco dias 
depois, ou seja, 23 de maio, os dois juntamente com outras personalidades, assinavam um 
documento onde demonstravam sua disposição de lutar pela "restauração de nossa pátria". A 
insurreição começou no dia 3 de junho de 1645, na várzea do Capibaribe. Em agosto, os 
comandados de João Fernandes Vieira ultrapassavam mil homens, entre as batalhas que 
obtiveram maior significação pode ser apontada: a de Tabocas, em 1645, quando os revoltosos 
venceram os batavos do coronel Hans e do capitão Blauer. E as duas batalhas de Guararapes. 
A primeira, em 19 de abril de 1648, com os revoltosos sendo chefiado pelo mestre-de-campo 
general Francisco Barreto e, ainda, as tropas de André Vidal, de Henrique Dias, de Antônio 
Felipe Camarão e de Vieira. Os holandeses tinham no tenente-general Sigismundo Von 
Schoppe seu principal líder. A vitória sorriu para os coloniais. A segunda, que se realizou em 
18 de fevereiro de 1649, foi mais uma derrota dos holandeses. Era, praticamente, o fim do 
domínio holandês no Brasil. 
A Holanda passava por uma crise, estando envolvida na "Guerra de Navegação" contra 
os ingleses, forçando desviar a atenção e recursos que seriam destinados ao Brasil. A Inglaterra, 
interessada na destruição de sua rival, passou a ajudar a colônia portuguesa em sua luta contra 
os batavos. Através do "Ato de Navegação", de Cromwell, ficaram os holandeses sem liberdade 
de ação no mar, onde até aí haviam gozado de inegável supremacia'. A expulsão dos holandeses 
foi, sobretudo, uma grande vitória dos portugueses, mestiços e, também, uma bela participação 
de negros e nativos. Fez nascer, ou pelo menos reforçou, o sentimento nativista, nacionalista. 
 
27 
Demonstrou toda a força de um novo tipo que estava nascendo: o brasileiro, e lançava as bases 
de uma futura nação independente: o Brasil. 
 
5.2 OS MASSACRES NO RN 
 
Segundo Câmara Cascudo (1984), "o engenho Cunhau foi construído na sesmaria dada 
por Jerônimo de Albuquerque em 2 de maio de 1604 aos seus filhos Antônio e Matias. Constava 
de 500 quadradas na várzea de Cunhau e mais duas léguas em Canguaretama". 
No início do século, o engenho exportava açúcar para Recife. Possuía um fortim, sob o 
comando do capitão Álvaro Fragoso de Albuquerque. Esse fortim foi atacado, vencido e 
destruído pelo coronel Artichofski, em outubro de 1634. A Companhia confiscou o engenho de 
Antônio Albuquerque Maranhão. Depois, o engenho passou por várias mãos. 
A resistência à presença holandesa recomeçou e acentuou-se em 1638, quando os 
flamengos fizeram uma frustrada tentativa de conquista da Bahia. A vida, porém, continuou na 
capitania sem maiores acontecimentos até o regresso de Maurício de Nassau para a Holanda, 
em março de 1644, quando “a colônia entrou em uma fase de completa resistência, 
entusiasmando-se todos com as vitórias conseguidas” pelas tropas luso-brasileiras diante das 
forças batavas 
No dia 15 de julho de 1645, sábado, Jacob Rabbi apareceu em companhia dos janduís, 
liderados por Jerereca no engenho de Cunhau. A simples presença dos tapuias e de potiguares 
causou pânico na população. Jacob Rabbi trazia instruções de Paul Linge. Publicou um 
documento, convidando a população para, no domingo, comparecer à capela para participar de 
uma reunião, quando seriam transmitidas determinações do Conselho Supremo. 
No dia seguinte a pequena capela do engenho ficou lotada. Os colonos entravam na 
capela desarmados. A capelinha tinha como padroeira Nossa Senhora das Candeias. A maioria 
do povo atendeu ao convite, lotando o templo. Tiveram, entretanto, que deixar suas armas do 
lado de fora. 
O padre André de Soveral, paulista de São Vicente, missionário e tupinólogo, começou 
a celebrar a missa, considerando que a reunião seria realizada após o ato religioso. Possuía entre 
70 e 90 anos. Era muito querido pelos seus paroquianos. Os nativos se aproximaram da capela. 
Fecharam as portas. Os fiéis compreenderam o que iria acontecer. Tarde demais. Quando o 
padre André Soveral elevou a hóstia, era o sinal combinado, começou o massacre. As vítimas 
mal tiveram tempo de pedir perdão de seus pecados. Gritos, súplicas, gemidos. Alguns tapuias 
procuraram atingir o sacerdote, André Soveral, então, disse: "Aquele que tocar no padre ou nas 
 
28 
imagens do altar terá os braços e as pernas paralisados!”. Os tapuias recuaram, porém Jerereca 
acertou um golpe violento no sacerdote, que caiu. Ainda conseguiu se erguer, mas por pouco 
tempo, tombando sem vida. Morreram ao todo sessenta e nove pessoas. 
A notícia se espalhou, provocando revolta. Iniciando, pouco depois, a fase das 
represálias. Em outubro de 1645, apareceu o capitão João Barbosa Pinto, matando holandês, 
com fúria selvagem. 
Nenhum massacre tinha ocorrido após o de Cunhau e não havia, igualmente, sinais de 
algum levante próximo ao Rio Grande. Acontece que, no dia 2 de outubro de 1645, chegou de 
Recife o conselheiro Bullestraten. E se reuniu, secretamente, com Gardtzman. Tudo indica que 
trazia ordens para executar os portugueses. 
O massacre de Uruaçu ocorreu no dia 3 de outubro de 1645, os colonos que se 
encontravam no Castelo Keulen foram levados para Uruaçu: Antônio Vilela, Cid, seu filho, 
Antônio Vilela Júnior, João Lostau Navarro, Francisco de Bastos, José do Porto, Diogo Pereira, 
Estevão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da 
Silveira, Simão Correia e o padre Ambrósio Francisco Ferro, que exercia as funções de vigário 
de Natal. Ao chegar a Uruaçu, a tropa formou um quadrado e, no interior desse quadrado, 
ficaram o sacerdote mais os colonos. Foi dada a seguinte ordem: que eles se despissem e se 
ajoelhassem. Os portugueses compreenderam, então, o que iria acontecer. O padre Ambrósio 
Ferro, com tranquilidade deu a absolvição. O pastor Astetten fez uma exortação para que os 
prisioneiros abjurassem a fé católica. Obteve, entretanto, uma resposta negativa de todos, numa 
atitude firme e corajosa dos portugueses. Os colonos se despediram uns dos outros, praticando 
atos de devoção. Isso irritou profundamente o pastor e seus companheiros. Começaram a 
torturar as vítimas com tanto ódio, que somente o fanatismo religioso poderia explicar tal 
insanidade. Não ficam satisfeitos. Jacob Rabbi chamou os nativos para que eles completassem 
o massacre. Fizeram corpos em pedaços. Arrancaram olhos, línguas, etc. Esse foi apenas o 
primeiro ato. O segundo não demoraria muito tempo. Os holandeses se dirigiram até o arraial, 
afirmando que chegaram ordens do Supremo Conselho, determinado que eles deveriam assinar 
alguns documentos. Os homens se despediram de seus familiares, chorando, porque sabiam que 
iriam caminhar para a morte. Durante o caminho, rezavam. Os pressentimentos se realizaram. 
Os cronistas fizeram relatos minuciosos. Narram, entre outros detalhes, o seguinte: “Antônio 
Baracho foi amarrado a uma árvore e arrancam-lhe, quando ainda estava vivo, a língua”. 
Abriram o corpo de Mateus Moreira e tiraram o seu coração. Antes de morrer, ele disse: 
"Louvado seja o Santíssimo Sacramento". Espatifou, com o pau, a cabeça de umacriança, filha 
de Antônio Vilela. A filha de Francisco Dias teve o seu corpo partido em duas partes. A mulher 
 
29 
de Manuel Rodrigues Moura, depois que o marido morreu, teve cortado os pés e as mãos. A 
vítima sobreviveu, ainda, três dias ao lado do marido morto. 
Os nativos procuraram salvar oito rapazes. Os holandeses ofereceram uma oportunidade 
para que os jovens conseguissem a liberdade: eles teriam que passar para o lado dos holandeses. 
João Martins deu a seguinte resposta: "não me desamparará Deus dessa maneira, a minha Pátria 
e o meu rei. Matai-me logo, pois tenho inveja da morte e da glória dos meus companheiros". 
Uma moça, muito bonita, foi vendida aos nativos, ou melhor, trocada por um cão de raça. Dois 
jovens, Manuel Álvares e Antônio Bernardes, com várias feridas, puxaram suas armas brancas, 
investindo contra os tapuias, matando alguns inimigos antes de morrer. 
Uma menina, de nome Adriana, ao saber que seus pais seriam mortos, se recolheu a uma 
casa, chorando, em seguida. Foi quando a Virgem Santíssima apareceu, procurando consolar 
aquela criança. E prometeu que seus pais seriam vingados. “Pouco tempo depois, Camarão foi 
até o Rio Grande, punindo, com energia, os batavos”. “D. Beatriz, esposa de Joris Gardtzman, 
comandante do Castelo Keulen, por piedade crista, levou as viúvas dos portugueses que tinham 
falecido em Uruaçu, para Natal”. “Durante a noite, Gardtzman e sua mulher, juntamente com 
outros holandeses, ouviram uma música, belíssima vindo do local onde ocorreu o morticínio”. 
Em dezembro de 1645, João Barbosa Pinto apareceu em Cunhaú e “vingou todo o 
sangue derramado”. Em 05 e 06 de janeiro de 1648, Henrique Dias, o glorioso negro Mestre de 
Campo, atacou os holandeses em Guaraíras (Arês), matando todos os holandeses, os seus 
escravos e os seus aliados indígenas; em agosto de 1651, mais uma vez João Barbosa Pinto 
reaparece em Cunhaú, sendo seguido pouco depois por Antônio Dias Cardoso que, sabendo da 
intenção dos holandeses de fazer funcionar aquele engenho, incendiou tudo, impedindo o seu 
funcionamento (CASCUDO, 1984). 
Na noite de 4 para 5 de abril de 1646 Jacob Rabi foi emboscado e assassinado a tiros e 
golpes de espada, em Natal, depois de participar de uma festa no sítio conhecido como Portinho 
de Dirck Muller, cujo “proprietário recebia, por parte dos portugueses, o tratamento de Rodrigo 
Moleiro”, topônimo que sobrevive até hoje como Regomoleiro, distrito do município de São 
Gonçalo do Amarante. Joris Garstman, sogro de João Lostão Navarro, morto por Rabi em 
Uruaçu, foi acusado como mandante.36 Há cronistas que afirmam, segundo Medeiros Filho 
(1989), que a cobiça foi o motivo maior de Garstman ter mandado matar Jacob Rabi, um homem 
rico, que tinha muitos tesouros escondidos. 
A Figura 05 mostra o banner ilustrativo do processo de beatificação e os locais dos 
massacres. 
 
 
30 
Figura 05 – Banner da canonização e locais do massacre. 
 
Fonte: Autor, 2020. 
 
Não se discute, até hoje, a veracidade dessas informações. Diferem apenas em alguns 
detalhes. No essencial, ou seja, que os holandeses promoveram dois grandes massacres, 
liderados por Jacob Rabbi, com a participação dos janduís, constituem um fato indiscutível. 
Com relação aos dois últimos itens é que, de uma maneira geral, existem dúvidas, colocando, 
ambos no plano das lendas, fruto do espírito religioso e da ingenuidade do povo daquela época. 
André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão, 
aproveitando-se dos ressentimentos causados pela saída de Nassau e pela nova política 
holandesa no Brasil, estimularam a luta dos brasileiros contra os holandeses. O movimento 
ganhou a adesão de todos os estratos da sociedade – brancos, negros e índios, irmanados, 
juntaram-se para expulsar o invasor holandês, que, após algumas derrotas, passou à defensiva. 
Felipe Camarão, filho de Potiguaçu, um dos maiorais potiguares à época da conquista da 
capitania do Rio Grande, foi um dos grandes nomes da resistência portuguesa contra os 
holandeses, como o seu pai, que recebera o nome de Antônio Camarão na pia batismal, também 
fôra um grande aliado dos lusitanos. Antônio Felipe Camarão nasceu provavelmente no período 
da conquista do Rio Grande, pois como ele mesmo afirmara contava 46 anos em 1647. Nascido 
no Rio Grande “foi ‘criado e doutrinado’ na aldeia de São Miguel ou Meretibe em Pernambuco, 
pelos franciscanos” (LOPES, 2003). 
Em 1654 os holandeses foram expulsos da Capitania do Rio Grande, ficando alguns 
refugiados no interior do estado e aliando-se aos índios. Na atualidade, o dia 03 de outubro é 
considerado o dia dos mártires de Cunhau e Uruaçu, sendo feriado religioso em todo estado. 
 
31 
Os mártires de Cunhaú e Uruaçu foram canonizados no dia 15 de outubro de 2017. 
Foram canonizados ao todo 30 pessoas, entre elas dois sacerdotes e 28 leigos. Sendo dois 
mártires de Cunhaú e 28 de Uruaçu. 
 
6. A GUERRA DOS BÁRBAROS 
 
Após a expulsão dos holandeses, a Capitania do Rio Grande apresentava o seguinte 
quadro, descrito por Câmara Cascudo (1984): "a Capitania ficou devastada. A população quase 
desapareceu. Plantios, gado, destruídos. Os flamengos tinham incendiado as casas principais, 
queimando livros de registro". 
Quando Antônio Vaz Gondim, novo governador de 1656 a 1662, assumiu o comando 
da capitania do Rio Grande, dois anos após a expulsão dos holandeses, uma de suas 
providências mais importantes foi, logo após o restabelecimento do senado da câmara de Natal, 
em 1659, conclamar os antigos moradores a retornar às suas antigas roças e fazendas mais de 
150 colonos. Ele assumiu o governo, tomando medidas para reorganizar a capitania, partindo 
praticamente do nada. Reconstruindo a Fortaleza e Matriz, organizando a defesa da cidade, mas, 
sobretudo, iniciando uma política de povoamento. Lançou os fundamentos de uma 
infraestrutura para que fosse possível efetivamente governar a capitania. 
Os colonos que viviam no interior, sem recursos para a aquisição de escravos africanos, 
capturavam nativos. Mais do que isso, os sesmeiros provocavam os naturais da terra para que 
eles lutassem contra os seus vizinhos, ou, então contra os brancos, que assim promoveriam a 
chamada "guerra justa", obtendo maior número de escravos. As vítimas tinham duas opções: 
submeter-se, sofrendo todo o tipo de humilhação, ou rebelar-se. A situação se agravou porque 
os holandeses voltaram ao Nordeste com um único objetivo: levantar os silvícolas do Rio 
Grande do Norte contra os portugueses. Os holandeses que se casaram com as viúvas lusitanas 
pleiteavam os bens de suas esposas. 
Os portugueses cobiçavam as terras dos silvícolas, procurando se apossar delas, através 
do extermínio ou empurrando os nativos para o interior. Irritando, dessa maneira, os tapuias e 
os potiguares. Esta forma de expansão sem respeito aos bens dos índios, que ainda eram preados 
para o eito escravo, concorreu para os primeiros atritos, o correr de sangue de uma guerra que, 
por espaço de cinquenta anos, chamada "Guerra dos Bárbaros", o Rio Grande, mal nascido, só 
conheceu violências, extorsões, vilipêndio e rapinagem. 
Em 1685, os janduís já demonstravam descontentamento e começou a se rebelar. Em 
1687, a situação se agravou, sendo descrita por Câmara Cascudo (1984) da seguinte maneira: 
 
32 
"Os indígenas corriam incendiando, matando o gado e os vaqueiros e plantadores do sertão (...). 
Mais de cem homens mortos". 
O capitão-mor Pascoal Gonçalves de Carvalho, desesperado, pediu ajuda aos seus 
colegas de Pernambuco e Paraíba, além do Senado da Câmara de Olinda. A situação era crítica 
de fato. Os silvícolas avançavam rumo à capital. Atingiu Ceará-Mirim, próximo de Natal. Para 
se defenderem, os colonos construíram casas-fortes e paliçadas. 
Alguns reforços foram enviados para a capitania, como o terço dos paulistas e, 
posteriormente, Domingos Jorge Velho. De acordo com Medeiros Filho(2001), o velho 
bandeirante chegou à região do rio Piranhas-Açu no dia 5 de junho de 1688, juntando suas 
forças às de Antônio de Albuquerque da Câmara, que então ocupava a casa-forte do Cuó, no 
sítio Penedo, próximo a atual cidade de Caicó. Auxiliado pelos homens de Albuquerque da 
Câmara, Jorge Velho construiu uma casa-forte às margens do rio Piranhas, na confluência do 
rio Espinharas. Domingos Jorge Velho permaneceu na Capitania do Rio Grande de 2 de agosto 
de 1688 a 31 de agosto de 1691, quando partiu para destruir Palmares, ele travou com os índios 
do sertão norte-rio-grandense algumas das mais renhidas batalhas da história brasileira. 
Não conseguiram terminar a guerra, apesar de seus esforços. É que a solução para o 
conflito dependia muito mais de visão administrativa, habilidades e espírito de justiça do que 
força e armas. O que mantinha a guerra era, sem dúvida, a ambição e a crueldade de 
determinados colonos que almejavam a todo preço as terras que pertenciam aos nativos. Mesmo 
que, para isso, fosse preciso exterminar os verdadeiros donos das terras! Mas os portugueses e 
seus descendentes necessitavam da proteção dos soldados para atingir tais objetivos. Acontece 
que, por falta de recursos, os soldados não estavam sendo pagos. Passando fome, desertavam. 
E mais, como disse Cascudo, as tropas "estavam obstruídas pela displicência, indiferença, 
descaso, ignorância, os pecados dos desinteresses que a distância multiplica". A guerra, 
portanto, continuava variando de intensidade. E continuaria sempre, caso não fosse enviado 
para o Rio Grande do Norte um líder que desejasse acabar com o conflito, lutando contra os 
interesses dos oportunistas e dos aventureiros, devendo se impor pela energia e, sobretudo, por 
seu espírito de justiça! 
Em 1695, Bernardo Vieira de Melo assumiu o governo da capitania. Veio com objetivo 
de pacificar os nativos. Todo o seu trabalho foi desenvolvido nesse sentido. Fundou o Arraial 
de Nossa Senhora dos Prazeres, em 24 de abril de 1696. Permaneceram dois meses na região, 
tomando todas as medidas que fossem necessárias para manter a paz entre os colonos e os 
nativos. Enfrentou mil e uma dificuldades. Que deveriam ser mantidos pela população local. 
Sobre a sua atuação, disse Tarcísio Medeiros: "Bernardo Vieira de Melo, com atitudes firmes e 
 
33 
demonstrações de suas forças, somente usou desses recursos para fazer-se respeitar e, ao 
mesmo, atrair e agradar os silvícolas, criando, desta forma, um clima de confiança que permitiu 
o diálogo entre as partes e o ajuste de condições capazes de satisfazer a todos". 
Diante de sua atuação, o Senado da Câmara de Natal pediu a prorrogação do mandato 
de Bernardo Vieira de Melo. A solicitação foi aceita. O capitão-mor, contudo, além de enfrentar 
uma série de vicissitudes, sofreu alguns aborrecimentos com a rebeldia e os desmandos de 
Moraes Navarro que, finalmente, foi forçado a entregar os nativos que estavam presos, sob a 
pena de ser excomungado pelo bispo D. Frei Francisco de Lima. Navarro teve que se retirar da 
região, vencendo a causa o capitão-mor do Rio Grande. Bernardo Vieira de Melo conseguiu 
mais duas conquistas: que fosse dada "a cada Missão uma légua de terra em quadrado, medida 
e demarcada", e que a Capitania do Rio Grande passasse da jurisdição da Bahia para 
Pernambuco, fato que ocorreu em 11 de janeiro de 1701. E foi graças ao seu esforço, energia e 
persistência que Vieira de Melo conseguiu pacificar os nativos. 
O capitão-mor Bernardo Vieira de Melo aldeou os índios e incentivou a formação de 
povoados no interior da capitania, criando condições políticas e administrativas para a ocupação 
definitiva do Rio Grande. Na capitania do Rio Grande, as Missões só funcionaram efetivamente 
no último quartel do século XVII, começando pelo trabalho de organizar duas aldeias potiguares 
ainda existentes no litoral norte-rio-grandense; só depois é que os aldeamentos foram 
expandidos para o interior, tendo sido a de Apodi a única entre as cinco primeiras (Guajiru, 
Guarairas, Igramació, Mipibu e Apodi). 
 
7. A ADMINISTRAÇÃO E A ECONOMIA COLONIAL 
 
7.1 A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E O SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS VILAS 
 
A administração municipal estava entregue ao Senado da Câmara, funcionando no 
consistório da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação. Presidida por um juiz ordinário. 
Durante o império, foi transformado em Câmara Municipal (25/03/1824). 
Até 1770, seis de seus membros substituíam o capitão-mor, por sua morte ou qualquer 
outro impedimento. A partir daquela data, o capitão-mor passou a ser substituído por uma junta, 
formada pelos seguintes membros; vereador mais velho, comandante da fortaleza e o juiz 
Ouvidor. A capitania tinha apenas um município: Natal. Com a expansão da colonização em 
direção ao interior e o aumento populacional da capitania do Rio Grande, foram criadas as dez 
primeiras freguesias e as sete primeiras vilas, sendo aquelas criadas quase sempre antes destas. 
 
34 
As freguesias correspondiam, de acordo com Denise Monteiro (2000), “às áreas de assistência 
religiosa, implicando na presença de padres, igrejas e capelas, e abrangiam grandes áreas onde 
a população vivia dispersa em diferentes fazendas”. Nas localidades onde havia uma maior 
densidade populacional, foram erguidas as primeiras vilas, casos como o das “missões 
religiosas de aldeamento indígena do litoral – Guajiru, Mipibu, Guaraíras e Igramació – e dos 
primeiros povoados de importância no sertão, que estiveram na rota das primitivas frentes de 
conquista do interior da capitania – Vila do Príncipe (Caicó) e Vila Nova da Princesa (Assú). 
Em 1800, o Rio Grande do Norte possuía 8 vilas, sendo quatro aldeias indígenas. Dos 
oito municípios, cinco ficavam no litoral e agreste (Natal, Vila Flor, Guaraíras, Extremoz e 
Mipibu) e três no sertão (Vila Nova do Príncipe, Vila Nova da Princesa e Portalegre). 
A autoridade máxima da comarca era o Ouvidor. Primeiro nomeado pelos donatários 
das capitanias, e depois, pelo próprio rei. O poder político era exercido pelas Câmaras 
Municipais, instaladas nas localidades que tivessem pelo menos a categoria de vila, concessão 
feita por ato régio. As Câmaras Municipais eram semelhantes às atuais Câmaras dos 
Vereadores. Os vereadores não eram remunerados. Havia ainda outros funcionários com 
funções específicas, como o tesoureiro e o escrivão. Para ser eleito vereador era necessário ser 
proprietário de terras e escravos, não podendo votar e ser votada o indivíduo que exercesse 
atividades manuais. Dessa forma, a população pobre, livre e mestiça era excluída politicamente. 
 O Pelourinho era símbolo da autonomia e jurisdição municipal, atesta a presença da 
justiça permanente e os direitos da população governar-se por intermédio de seus eleitos. Não 
se sabe a data no qual o Pelourinho foi erigido. Em 1695 já se colocava editais ou bandos no 
Pelourinho, costume que se tornou tradição até, possivelmente, em 1806. 
 
7.2 A ECONOMIA COLONIAL 
 
O primeiro ciclo econômico do Rio Grande do Norte foi, como ocorreu com o Brasil de 
forma geral, o do "pau-brasil". Além dos portugueses, outros europeus se beneficiaram da 
extração dessa madeira cobiçada. Principalmente os franceses, que entraram em contato com 
os nativos e, contando com a amizade dos potiguares, exploraram e contrabandearam o pau-
brasil para a Europa. Expulso o francês, o desenvolvimento se arrastava de maneira muito lenta. 
Predominou, no início da colonização portuguesa, o interesse militar: a defesa da região e a 
expansão rumo ao Norte. 
Em 1615, havia apenas o engenho de Cunhaú funcionando. A capitania apresentava uma 
situação melhor em 1630: "iniciava-se a produção açucareira e o ciclo do gado progredia, 
 
35 
iniciando o povoamento do sertão, seguindo-se a expansão da criação de gado rumo aos vales 
do Açu e Apodi e, igualmente, à região do Seridó. Para muitos historiadores, "o ciclo do gadopromoveu o desenvolvimento e o povoamento, embora de maneira muito esparsa, de toda a 
Capitania do Rio Grande do Norte - condicionada pela própria atividade econômica básica (...) 
A atividade agrícola desenvolvia-se mediocremente à sombra dos "currais", voltada para o 
abastecimento das populações locais". 
O ciclo do gado criou uma maneira de viver própria, ou seja, uma cultura especial 
caracteriza pelo "individualismo do seu participante", segundo Câmara Cascudo. Continua o 
mesmo autor: "Dá-lhe a noção imediata de independência, de improvisação, de autonomia, de 
livre arbítrio, de arrojo pessoal". No século XVIII, a economia se baseava, principalmente, em 
duas fontes: a agricultura e a indústria pastoril. A cultura da mandioca chegou a produzir cerca 
de 56.400 alqueires de farinha. Por outro lado, a indústria pastoril cresceu bastante. Como 
lembra Tarcísio, "além de fornecer gado às feiras da Paraíba e Pernambuco, os criadores de 
Mossoró ou Açu nas oficinas" exploravam a indústria de carne seca. Garibaldi Dantas, em um 
estudo realizado no início do século XX, trata da dependência da agricultura da "boa ou má 
distribuição do regime pluviométrico". Essa afirmação é perfeitamente válida para os séculos 
anteriores. Dois fatores, portanto, influenciavam a produção agrícola: a seca e os açudes. O 
primeiro fator, a seca. "As secas são fenômenos climatológicos caracterizados pela deficiência, 
a irregularidade ou má distribuição das precipitações pluviométricas". 
A seca, ao contrário do que possa imaginar, "vêm de datas antiquíssimas na nossa 
cronologia histórica". A primeira que se tem notícia data de 1600. A seca atinge, e muito, a 
pecuária, desorganizando a criação de gado. 
No século XVII foram registradas cerca de quatro secas (1600, 1614, 1691, 1692) e no 
período seguinte o fenômeno se repetiu em número bem maior, num total de vinte e uma: 1710, 
1711, 1723, 1724, 1726, 1727 etc. 
O gado bovino apresenta semelhança com a raça "Garaneza", provavelmente 
introduzida no Estado pelos franceses, e “Cacacú, possivelmente vinda do Ceará. O fato é que 
o gado se apresentava com uma grande fecundidade”. 
 
8. A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA DE 1817 
 
A existência do "pacto colonial, que desde o descobrimento regulamentava as relações” 
colônia-metrópole, vai ser responsável por uma série de rebeliões no período compreendido 
entre 1680 e 1817. Estão incluídas as Revoluções de Beckmam (Maranhão/1684), Guerra dos 
 
36 
Emboabas (região da descoberta do ouro/1709), Guerra dos Mascates (Pernambuco/1710), 
Revolta de Felipe dos Santos (Vila Rica/1720), Conjuração Mineira (Vila Rica 1789), 
Conjuração Baiana (Bahia/1798) e finalmente Revolução Pernambucana (Nordeste/1817). 
Para o Nordeste brasileiro, o mais significativo desses movimentos foi a rebelião de 
1817 que, tendo se iniciado em Pernambuco, estendeu-se por quase toda região como as demais 
rebeliões da época, a de 1817 teve entre suas causas principais a rivalidade entre portugueses e 
brasileiros. Afirma-se que os brasileiros nunca alcançavam postos elevados nas milícias, que 
eram sempre comandadas por portugueses. Mas nesse contexto, o quadro econômico não pode 
ser esquecido. Secas constantes, queda no mercado internacional do preço do açúcar e do 
algodão levaram a uma recessão econômica de grande significado. Os abusivos impostos, 
cobrados pela metrópole para manter a corte portuguesa que ainda se encontrava no Brasil, 
completou o panorama do qual a revolução deflagraria. 
Informado de que se tramava no Recife um movimento de caráter nativista, e também 
sobre o nome dos envolvidos na conspiração, o então governador, capitão-general Caetano 
Pinto de Miranda Montenegro, ordenou a prisão de todos os comprometidos. A prisão dos civis 
foi efetuada quase sem reação. Porém, ao receber a ordem de prisão, o capitão José Barros 
Lima, "O Leão Coroado" reagiu ferindo mortalmente o enviado ao governo que tentava detê-
lo. Iniciou-se, assim, o movimento que tratou de organizar um governo provisório, no qual 
havia representantes de quase todos os segmentos da sociedade. Faziam parte do grupo; 
Domingos José Martins, o representante do comércio; José Luís Mendonça, pela magistratura; 
Domingos Teotônio Jorge, escolhido o comandante em armas pelos militares; o padre João 
Ribeiro, pelo clero; Manuel Correia de Araújo, pelos agricultores, e como secretário do interior 
foi nomeado o padre Miguelinho. Para conselheiros foram escolhidos o ouvidor (autoridade 
judiciária) Antônio Carlos Ribeiro de Andrada; o dicionarista Antônio de Morais Silva, e o 
comerciante Gervásio Pires Ferreira. Para autoridades eclesiásticas, o capelão Luís Ferreira. 
Uma nova "Lei orgânica" foi adotada pelo governo, que vigoraria até a elaboração de uma Carta 
Constitucional. Dentre outras providências, a nova lei determinava: 
✓ Forma republicana de governo; 
✓ Liberdade de imprensa e religião; 
✓ Manutenção do direito de propriedade e da escravidão. 
A reação foi organizada por D. Marcos de Noronha e Brito, que contou com o apoio de 
comerciantes portugueses do Recife e de alguns rebeldes mais moderados que temiam o caráter 
socialista do movimento. Recife foi bloqueada e, em maio de 1817, já estavam presos os 
revoltados, depois de violenta repressão. 
 
37 
8.1 A REVOLUÇÃO DE 1817 NO RN 
 
A Capitania do Rio Grande do Norte, à época da revolução, era governada por José 
Inácio Borges que, ao ser informado do movimento pernambucano, preparou-se para resistir. 
Tratou de entrar em contato com o comandante de Divisão do Sul, André de Albuquerque 
Maranhão, que se encontrava em Goianinha. Chegaram a conferenciar por cerca de duas horas 
sobre a segurança da capitania frente aos acontecimentos de Pernambuco, isso aconteceu no dia 
24 de março de 1817. No retorno a Natal, o governador pernoitou no Engenho Belém, próximo 
à atual cidade de Nísia Floresta. Ao amanhecer, José Inácio Borges viu que o engenho estava 
cercado pelas tropas sob o comando do próprio André de Albuquerque, que aderira ao 
movimento. Preso, o agora ex-governador José Inácio Borges foi enviado a Recife, onde ficou 
preso na fortaleza das Cinco Pontas. 
No dia 25 de março, o movimento revolucionário obteve vitória no Rio Grande do Norte 
e, no dia 28, André de Albuquerque Maranhão entra solenemente em Natal com sua tropa, 
dando início ao governo revolucionário, cuja sede seria o Edifício das Provedorias da Fazenda 
ou Real Erário, onde atualmente funciona o memorial Câmara Cascudo. Nada foi feito pelo 
governo revolucionário. A promessa de aumento de soldo aos soldados não foi cumprida. A 
reação monarquista, no Rio Grande do Norte, parte da residência do alfaiate Manuel da Costa 
Bandeira. É de lá que surgem os contra-revolucionários, depois das nove badaladas do sino da 
Igreja, o sinal pré-determinado para o ataque. Chegando ao Palácio, encontraram o chefe 
revolucionário só, sem guarda, sem defesa. Após um breve tumulto, André de Albuquerque tem 
a virilha atravessada por uma espada. Ferido mortalmente é conduzido prisioneiro para a 
fortaleza onde, na madrugada de 26 de abril de 1817, falece, sem socorros médicos ou qualquer 
tipo de assistência. Seu corpo foi arrastado pelas ruas da cidade, como se fosse um mendigo: 
"Amarram-no a um pau, com cordas e oito soldados carregam o corpo para a cidade", descreve 
Cascudo. Morte inglória para um homem da estatura de André de Albuquerque. Quando o corpo 
passava pela Ribeira, foi envolvido por uma esteira dada por Ritinha Coelho. Albuquerque foi 
encarado como um traidor da monarquia. André de Albuquerque foi sepultado na única igreja 
existente na cidade. 
No mesmo dia do sepultamento de André de Albuquerque, foi organizado um governo 
interino, que permaneceu no comando do Rio Grande do Norte até o regresso de José Inácio 
Borges. Estava encerrada, de maneira melancólica, a participação do Rio Grande no movimento 
revolucionário de 1817.38 
8.1.1 Padre Miguelinho e sua participação na Revolução de 1817 
 
O padre Miguel de Almeida e Castro nasceu na cidade do Natal, no dia 17 de setembro 
de 1768, sendo seus pais o capitão Manoel Pinto de Castro, português, e D. Francisca Antônio 
Teixeira. Foi batizado em 3 de dezembro de 1768, na Matriz da Apresentação. Aos 16 anos foi 
morar em Recife. Em 1784, entrou para Ordem Carmelita da Reforma, quando se transformou 
em frei Miguel de São Bonifácio, lembrança da avó materna que era Bonifácia. Por essa razão, 
ficou conhecido como frei Miguelinho. Acontece, entretanto, que indo para a Europa, em 1800, 
requereu do Papa Pio VII, a sua secularização. Ao voltar ao Brasil, já era padre, o que confundiu 
muita gente, fazendo com que o sacerdote potiguar continuasse sendo chamado de frei 
Miguelinho. Mas o certo é chamá-lo de padre Miguelinho, por ter conseguido sua secularização. 
No ano de 1817 foi nomeado Mestre da Retórica do Seminário de Olinda. Em Recife, 
morou com sua irmã Clara de Castro. Idealista, participou da Revolução Pernambucana de 
1817, sendo preso no dia 21 de maio de 1817. Na noite anterior, juntamente com Clara Castro, 
ficaram queimando os papéis que incriminavam todos aqueles que tinham participado do 
movimento. Disse para sua irmã: "Mana, nada de choro. Está órfã. Tenho enchido os meus dias, 
logo me veem buscar para a morte. Entrego-me à vontade de Deus e nele te dou um pai que não 
morre. Mas aproveitemos a noite e imita-me: ajuda-me a salvar a vida de milhares de 
desgraçados". Preso, foi levado à Fortaleza das Cinco Pontas. Padre Miguelinho, juntamente 
com setenta e dois revolucionários, seguiu no brigue "Carrasco" para Salvador. Desembarcou 
na capital da Bahia no dia 10 de junho. Durante o seu julgamento, perante uma comissão, o 
conde dos Arcos tentou ajudá-lo, perguntando se ele tinha inimigo, ao que o padre respondeu: 
"não senhor, não são contrafeitas. As minhas firmas nesses papéis são todas autênticas. Por 
sinal, em uma delas falta o 'O' de Castro, ficou pela metade por acabar porque faltou papel". 
José Luiz de Mendonça esbravejava com a decisão condenatória. Ai, Miguelinho fala (...): 
“Querido amigo, façamos e digamos unicamente aquilo para que temos tempo”. Ajoelhou-se 
diante do crucifixo e rezou, com lágrimas, o salmo MISERE MEI DEUS” 
Foi condenado por crime de lesa-majestade e fuzilado no dia 12 de junho de 1817. 
 
9. A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E SUA REPERCUSSÃO NO RN 
 
Reassumindo o governo do Rio Grande do Norte, depois dos acontecimentos de 1817, 
José Inácio Borges era considerado simpatizante da causa da independência. Foi nessa época 
 
39 
que o conflito entre separatistas e recolonizadores começou a ganhar vulto. É bem verdade que 
essas divergências eram mais dirigidas aos indivíduos do que às duas ideologias. 
Terminada a Revolução de 1817, a Coroa portuguesa resolveu conceder autonomia à 
capitania do Rio Grande do Norte, afastando-a da influência política e administrativa de 
Pernambuco. Primeiro, em 25 de março de 1818, foi criada a Ouvidoria do Rio Grande do 
Norte, desligando-a da Paraíba; somente em 1820, através de alvará expedido pelo rei D. João 
VI, em 3 de fevereiro, foi oficializada a Alfândega do Rio Grande do Norte, marco do fim da 
subordinação econômica a Pernambuco. 
Com o afastamento de José Inácio Borges do governo, foi formada uma Junta 
Constitucional Provisória, composta por sete membros, e eleita no dia 3 de dezembro de 1821. 
A citada junta era presidida pelo coronel Joaquim José do Rego Barros, ligado ao movimento 
de 1817, ainda sendo os demais membros da lista simpatizantes da causa separatista. Um baixo-
assinado com cerca de 50 assinaturas, tendo à frente o capitão Joaquim Torquato Soares Raposo 
da Câmara, solicitava a criação de uma nova junta, afirmando que a então governante era ilegal 
e insustentável. 
A reação da junta não se fez esperar, determinou a prisão não só do primeiro signatário 
da lista, mas também do ouvidor. Temendo mais agitação, o presidente da Câmara convocou 
novas eleições. Foi escolhido um governo temporário, eleito e empossado no mesmo dia. 
Finalmente no dia 18 de março, tomou posse a Junta de Governo Provisório, que permaneceu 
no poder até 24 de janeiro de 1824. No dia de 2 de dezembro de 1822, chega ao Rio Grande do 
Norte a notícia da separação política. A 22 de janeiro de 1823, a junta promove, com grande 
pompa, as comemorações que o fato merecia. No entanto, a coroação do primeiro imperador 
brasileiro, no dia 01 de dezembro de 1822, não foi comemorada, permaneceu ignorada pela 
população local, que passou a integrar o império brasileiro. 
 
9.1 A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR 
 
A Confederação do Equador foi um movimento revolucionário que contou com “intensa 
participação dos segmentos sociais subalternos”, organizados em brigadas populares, formadas 
por homens livres pobres e até mesmo por escravos. 
Um dos motivos do movimento foi a dissolução da Assembleia Constituinte em 1823, 
que tinha como objetivo elaborar a primeira Constituição do nascente império brasileiro. 
Devido às medidas autoritárias do imperador as províncias do Nordeste se reuniram buscando 
a separação do Brasil. 
 
40 
O Rio Grande do Norte aderiu à Confederação do Equador em 03 de agosto de 1824. 
Os partidários da Confederação eram, em sua maioria, egressos da Revolução de 1817. 
Estavam, porém, divididos, uns apoiando o Imperador, outros defendendo a instituição de um 
governo popular, baseado no livre sufrágio coletivo (CASCUDO, 1984). Por aqui o movimento 
restringiu-se a uma luta dos principais grupos políticos dominantes para empalmar novas 
posições políticas e administrativas, acarretando a transferência de poder dos conservadores 
para os liberais. 
A Confederação do Equador, contudo, não deu certo. As tropas imperiais dominaram o 
movimento. A 01 de dezembro de 1824, jurava-se a Constituição outorgada de 1824. O levante 
estava totalmente vencido. E a ordem imperial restabelecida em todo o Nordeste e Norte do 
Brasil. 
 
10. O PERÍODO REGENCIAL 
 
Apesar de ter sido um dos responsáveis pela independência brasileira e, posteriormente, 
aclamado imperador, D. Pedro I fez um governo oscilante, que foi do popular ao impopular em 
muito pouco tempo. em 07 de abril de 1831, quando o imperador abdicou do trono brasileiro 
em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, de apenas 5 anos, o que gerou um problema político, 
pois, pela Constituição de 1824, o herdeiro só poderia assumir se tivesse 18 anos. 
A abdicação de D.Pedro I e a impossibilidade da posse de Pedro de Alcântara como 
imperador, exigia a imediata organização da nação, Como forma de evitar abusos, a 
Constituição estabelecia que deveriam ser escolhidos três regentes para substituir o herdeiro do 
trono, até que o mesmo fosse maior de idade. A escolha desses regentes teria de ser feita pelo 
Legislativo, que, por estar em férias, não poderia fazê-lo. Os parlamentares que estavam no Rio 
de Janeiro escolheram uma regência formada por três membros provisórios que governariam o 
Brasil até que o Legislativo voltasse das férias e procedesse a indicação de três novos membros 
permanentes. Os regentes procuraram implementar um projeto de descentralização política. 
Uma das medidas com esse objetivo foi a criação da Guarda Nacional, que retirava poder do 
Exército, transferindo-o para os fazendeiros, responsáveis pela organização de milícias. Em 
1834, foi elaborado um Ato Adicional, que determinava algumas alterações na Constituição de 
1824. As mais significativas foram a criação das assembleias legislativas provinciais, que 
teriam a função de elaborar leis para as províncias, e a criação da Regência Uma. 
 
 
 
41 
10.1 O RN DURANTE O PERÍODO REGENCIAL 
 
A virada histórica do período regencial transcorreu sem maiores problemas no Rio 
Grande do Norte. Enquanto eclodiam várias rebeliões regionais no país, algumas de caráter 
republicanoe separatista, aqui não ocorreu nenhuma rebelião de maior vulto: apenas alguns 
pequenos movimentos armados em algumas poucas localidades à época da abdicação de D. 
Pedro I. Um destacamento militar paraibano tentou saquear a cidade de Natal, mas a população 
civil armada expulsou o agrupamento que se avizinhara da cidade. No mais, o que ocorreu no 
Rio Grande do Norte, de 1831 a 1840, foram brigas entre os grupos políticos que disputavam o 
poder, “apenas fumaça de fogo de monturo entre as facções locais” (CASCUDO, 1984). 
Novos municípios (Assu, Angicos, Apodi, São Gonçalo, Goianinha, Touros e Santana do 
Matos) foram criados. Em 1836, o Rio Grande do Norte já tinha duas comarcas (Natal e Açu) 
e 13 municípios. Vinte e duas eram as escolas existentes na província. Entre 1830 e 1840, a 
população chega a 100 mil habitantes, quase 30 mil a mais que a de 1820. Natal, capital da 
província era o principal centro urbano. em torno da atual Praça André de Albuquerque – a 
chamada Cidade Alta. Nela se situavam, além da Igreja Matriz, as outras únicas quatro 
construções importantes da cidade, que abrigavam o Senado da Câmara de Natal, o Palácio do 
Governo, a Fazenda Pública e o Quartel Militar. Algumas casas se espalharam pelas atuais Ruas 
Santo Antônio, Princesa Isabel, Vigário Bartolomeu, João Pessoa e Conceição. Desta última 
rua partia a ligação da Cidade Alta com a Ribeira, ou Cidade Baixa, onde, desde a primeira 
década do século XIX, já havia aproximadamente 300 moradores, dentre eles os comerciantes 
que faziam os negócios de importação e exportação de mercadorias da província, em seus 
armazéns situados na Rua da Alfândega, atual Rua Chile (MONTEIRO, 2000). 
 
11. SEGUNDO REINADO 
 
Em 1840, após muitas idas e vindas, foi proclamada a antecipação da maioridade de 
Pedro de Alcântara (D. Pedro II), aclamado imperador no dia 23 de julho de 1840, com quinze 
anos incompletos, dando início ao Segundo Reinado (1840 a 1889). 
Em 1847, foi adotado o sistema Parlamentarista o que facilitou a conciliação entre 
liberais e conservadores em 1853, reforçando ainda mais a estabilidade política, fundamental 
para o desenvolvimento econômico do país. 
 
 
42 
11.1 A PARTICIPAÇÃO DO RN NA GUERRA DO PARAGUAI 
 
A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado da América do Sul e um dos maiores 
do século XIX. Mas não foi o primeiro. A beligerância entre o Brasil e os seus vizinhos na 
região platina começa em 1850, quando o governo brasileiro interveio no Uruguai para derrubar 
Oribe, líder do partido blanco, e colocar em seu lugar Rivera, líder dos colorados. Ao derrubar 
Oribe, o governo brasileiro teve de enfrentar uma guerra contra Rosas, caudilho argentino, que 
o apoiava. Vencido Rosas, e tendo no governo argentino um aliado, Urquiza, uma vez mais o 
Brasil enfrentou percalços com os uruguaios. Aguirre, chefe dos blancos, tomou o poder no 
Uruguai e fez uma aliança com Solano Lopez, ditador do Paraguai. A Argentina ligou-se aos 
colorados e ao Brasil. Em 1864-65, o Brasil derrubou Aguirre e pôs um aliado, o colorado 
Venâncio Flores, para governar o Uruguai. A deposição “de Aguirre foi o ponto de partida para 
a guerra contra o Paraguai de Solano Lopez”, conflito no qual Brasil, Argentina e Uruguai 
entraram como aliados, esquecendo suas rivalidades históricas, numa luta que se estendeu de 
1864 a 1870. 
Natal à época da guerra do Paraguai era uma cidade de aproximadamente 6.500 
habitantes. No Rio Grande do Norte, o recrutamento foi feito pelo Presidente da Província 
Olinto Meira, um grande batalhador pelo voluntariado. com a eclosão da guerra não faltaram 
“apelos vibrantes ao patriotismo da população para que acorresse às bandeiras em defesa da 
Pátria”, citando inclusive a participação do deputado Amaro Bezerra que ofereceu seus 
préstimos ao presidente conselheiro Luís Barbosa da Silva, através de um manifesto publicado 
em 4 de janeiro de 1867, no qual solicitava ao povo do Rio Grande do Norte participação e 
empenho na luta que então se travava contra a ameaça estrangeira. Ressalte-se que o deputado-
guerreiro cobrava em manifesto a participação da sociedade norte-rio-grandense, não somente 
através da exortação, pois, segundo suas próprias palavras, estava pronto para compartilhar “à 
vossa frente ou ao vosso lado perigos e sofrimentos”, visto que só assim poderia provar que 
desejava “felizes e grandes destinos” para o povo da província que nele confiou. O oferecimento 
de Amaro Bezerra não foi aceito, “mas o seu exemplo, estimulando a coragem e as energias 
cívicas do povo, em muito contribuiu para que, daí por diante, jamais faltassem numerosos 
contingentes de norte-rio-grandenses nas fileiras dos bravos que desafrontaram no estrangeiro 
nossa honra ultrajada” (LYRA, 1998). 
Foram aproximadamente 2.000 norte-rio-grandenses para os campos de batalha, dos 
quais 1.200 morreram. Os dados do Presidente Olinto Meira, até agosto de 1866, são os 
seguintes: 1.467 soldados norte-rio-grandenses convocados (nem todos do Corpo de 
 
43 
Voluntários da Pátria), sendo 1.410 praças e 57 oficiais. Os Presidentes Luiz Barbosa e Gustavo 
Adolfo de Sá, sucessores de Olinto Meira, contribuíram, cada um, com 430 e 300 soldados, 
respectivamente. Temos dessa forma um efetivo de 2.197 soldados norte-rio-grandenses. 
 
11.2 ECONOMIA NO RN 
 
Por volta da segunda metade do século XVIII, a Inglaterra consubstanciou o seu 
processo de industrialização, demorou aproximadamente meio século para irradiar-se pelo 
continente europeu. O Brasil, em virtude de opções econômicas feitas durante o Império, perdeu 
a chance de se transformar numa nação industrializada. Tivemos alguns pequenos surtos 
industrializantes, mas, de um modo geral, optamos por um desenvolvimento econômico 
baseado na exportação de produtos primários. A modernização brasileira, principalmente no 
centro-sul, é facilmente percebida, fazendo-se notar em vários setores da economia, 
espalhando-se, mais vagarosamente, pelo restante do país. Com a divisão internacional do 
trabalho, a economia do Brasil e do Rio Grande do Norte integraram-se mais rápido e 
definitivamente ao mercado internacional. Houve um aumento na nossa produção açucareira e 
a produção de algodão foi intensificada. 
Na primeira metade do século XIX, a economia do Rio Grande do Norte se diversificou 
bastante, passando “a produzir com alguma expressão, além do gado, do couro, do algodão e 
da rapadura, outros produtos como o sal, que traria um grande incentivo ao crescimento do 
litoral, sobretudo a Mossoró, como o tabaco, o peixe salgado e as drogas medicinais”, além de 
“minerais como o ouro e a prata, o ferro, o amianto, o cristal e pedras calcárias, silicosas e 
graníticas. 
O número de engenhos de açúcar mais que dobrou entre 1845 e 1860. Em 1859, a 
província do Rio Grande do Norte tinha 159 engenhos, que davam uma safra de 370.000 arrobas 
por ano; em 1861, já eram 173 engenhos somente na área próxima a Natal, com uma produção 
de 375.000 arrobas por ano. 
A seca de 1844-1846 foi possivelmente a de maior impacto sobre a estrutura econômica 
e social do Rio Grande do Norte, pois forçou a migração de grandes contingentes populacionais 
do campo para as vilas e cidades, principalmente as litorâneas. Do ponto de vista econômico, 
mostrou a fragilidade em que se assentava a pecuária bovina, levando “a uma valorização da 
agricultura, ou seja, ‘mostrou a instabilidade da riqueza do gado e convenceu a muitos da 
necessidade de formar estabelecimentos agrícolas mais sólidos’”, ponto de vista defendido pelo 
presidente da província alguns anos depois. Tendo em vista os efeitos da seca serem menos 
 
44 
sentidos na região, foi na faixa litorânea que, num primeiro momento, a agricultura recebeu um 
maior impulso, principalmente com a expansão do cultivo da cana-de-açúcar (MONTEIRO, 
2000). Mas foi o algodão o produto que incrementou, a partir da segunda metade do século 
XIX,a economia norte-rio-grandense. Apesar das constantes secas (foram nove grandes secas 
no século XIX), a produção algodoeira do Rio Grande do Norte teve um aumento considerável. 
Nos anos 1860, a lavoura do algodão passou a da cana-de-açúcar. Em pouco mais de 20 
anos, a produção de algodão cresceu mais de quinze vezes. Contribuiu para isso algumas 
inovações tecnológicas, a Guerra da Secessão (Estados Unidos), o surto de desenvolvimento 
industrial brasileiro e o aumento da área plantada (Seridó). O algodão, diz Cascudo (1984), 
cresceu baseado única e exclusivamente na vontade do pequeno produtor. Foram vários os 
senhores de engenho que abandonaram a plantação da cana-de-açúcar para se dedicarem à 
produção algodoeira. Mas a cultura algodoeira continuou sendo mais uma atividade de 
pequenos produtores. Muitas firmas se instalaram no Rio Grande do Norte para aproveitar o 
boom do algodão. As mais importantes foram a Casa de Guarapes, de Fabrício Gomes Pedroza, 
e a Ulrich J. Graff. Esta era uma empresa exportadora de algodão, com capitais suíço e inglês, 
que chegou a abrir uma filial em Mossoró. A Ulrich Graff mantinha, desde 1860, transporte 
direto de mercadorias entre Natal e Inglaterra. Os seus proprietários, Johan e Jacob Ulrich, eram 
proprietários da campina e da lagoa “que ficavam por trás da atual Igreja do Bom Jesus”, no 
bairro da Ribeira. 
O fim da Guerra da Secessão, nos Estados Unidos, refletiu negativamente na exportação 
do algodão norte-rio-grandense, que caiu de preço, o que fez declinar sensivelmente a receita 
da província. Em relatório de outubro de 1872, o presidente do Rio Grande do Norte, Henrique 
Pereira de Lucena, indica ter sido a baixa do preço do algodão e a liquidação da Casa Comercial 
de Fabrício & Companhia, nos Guarapes, como os responsáveis pela queda da arrecadação. 
Mesmo com a queda de preço, a produção algodoeira no Rio Grande do Norte não passou por 
grandes problemas; novas terras incorporadas para o plantio do “ouro branco” do sertão e a 
decadência da pecuária bovina contribuíram para a manutenção do estágio de produção. Em 
1877-79, depois de uma das mais terríveis secas que assolaram o Nordeste, houve um recuo da 
pecuária paralelamente a um movimento de proteção à agricultura, o que resultou na 
manutenção da produção algodoeira. 
Outro setor da economia norte-rio-grandense de destaque foi o salineiro. As salinas do 
Rio Grande do Norte são conhecidas desde o início do século XVII, porém só passaram a ser 
regularmente exploradas no século XVIII, com a fundação das “oficinas de charque”. A 
chegada da Família Real ao Brasil ensejou a necessidade de outras regiões do Brasil terem 
 
45 
acesso ao sal potiguar, tendo em vista terem cessado os carregamentos do sal português, o que 
deu um novo impulso à extração salineira; o regente português permitiu o carregamento do sal 
norte-riograndense para o sul do país, quando através de carta-régia permitiu “o carregamento 
de sal do Rio Grande do Norte para o Rio de Janeiro, ilha de Santa Catarina e Rio Grande do 
Sul”. 
Apesar de a extração e o comércio do sal representarem um percentual significativo da 
economia do Rio Grande do Norte, as autoridades da província começaram a manifestar um 
certo desconforto com a concorrência estrangeira. De 1808 a 1859, a indústria salineira norte-
riograndense não teve um grande progresso, desenvolvendo-se “de acordo com as exigências 
do consumo humano e animal do país” e às vezes com a venda de uma parte da produção para 
o exterior, quando “da passagem de alguns navios estrangeiros” pela província. No entanto, 
com a proibição de vender sal para o exterior, pelo decreto nº 2485, do ano de 1859, o parque 
salineiro do Rio Grande do Norte foi sensivelmente abalado. 
A baixa qualidade do nosso sal em comparação com o sal estrangeiro e os altos custos 
de transporte, porém, limitavam o nosso mercado, como bem expressa a opinião do presidente 
da província Pedro Leão Veloso, em fevereiro de 1862: “Mais largamente exploradas seriam as 
nossas salinas, se o seu sal pudesse competir com o estrangeiro; e para as charqueadas, 
achassem mercado no Rio Grande do Sul; o que é impossível atentas as despesas do transporte, 
em razão do monopólio da navegação de cabotagem por navios nacionais” (CASCUDO, 1984). 
Para Denise Monteiro (2000), Mossoró e Macaíba passaram a desempenhar um papel 
importante na economia do Rio Grande do Norte. Até a metade do século XIX, a exportação da 
produção da região oeste da província era feira pelo porto de Aracati (CE), por onde também 
entravam as mercadorias importadas. Com a abertura do porto de Areia Branca (RN), em 1867, 
para dar vazão às necessidades de exportação do algodão, Mossoró terminou por desempenhar 
um importante papel como centro comercial, pois para lá convergiam as mercadorias do oeste 
potiguar e ainda de regiões do Ceará e dos sertões da Paraíba e do Seridó. Macaíba também 
floresceu em virtude do surto algodoeiro, quando Fabrício Gomes Pedrosa instalou sua casa 
importadora e exportadora no porto fluvial dos Guarapes, que funcionou “como intermediária 
no comércio entre os povoados e vilas situados nos vales dos rios Jundiaí e Potengi, e em parte 
da região do Seridó – e no porto da capital” (MONTEIRO, 2000). 
 
 
 
46 
11.3 O MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO BRASIL E NO RN 
 
O Brasil foi um dos países em que a abolição da escravidão se deu mais tarde por vários 
motivos. Em primeiro lugar, havia a resistência dos proprietários rurais, que tinham medo de 
uma mudança radical nas relações de trabalho. Em segundo lugar, a sociedade brasileira era – 
e ainda é – profundamente racista, e temia que ocorresse no Brasil uma revolução nos moldes 
da do Haiti. A classe média, indefinida, ia a reboque, ao sabor dos ventos. Porém, sempre houve 
uma minoria que defendia a abolição do trabalho escravo. 
As autoridades brasileiras, por vezes, comprometeram-se a extinguir o tráfico de 
escravos. Apesar da promessa, o tráfico negreiro prosseguia. Porém, em 1845, a Inglaterra 
decretou o Bill Aberdeen, que autorizava a Marinha inglesa a aprisionar os navios negreiros 
que cruzassem o oceano Atlântico e permitia o julgamento dos traficantes de acordo com as leis 
inglesas. Muitos navios brasileiros foram presos, pela Marinha inglesa, em águas internacionais 
e nacional, praticamente obrigando o governo brasileiro a decretar, em 1850, a Lei Eusébio de 
Queirós, que proibia o tráfico internacional de escravos, 
Nos anos 1870-80, como dito acima, houve um acirramento do movimento 
abolicionista, com ampla participação dos setores urbanos. Associações emancipadoras e 
jornais abolicionistas foram criados. Aumentaram os debates e a pressão para que a escravidão 
fosse extinta. D. Pedro II incentivou as discussões. O movimento de propaganda abolicionista 
cresceu significativamente. Políticos e intelectuais de prestígio encaminharam pedidos ao 
imperador, mas a resistência dos escravocratas manteve-se firme. A decisão, então, foi 
encaminhada por fases: foram decretadas duas leis que aboliram lentamente a escravidão no 
país: a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885). Em 13 de maio de 1888, a 
escravidão foi totalmente abolida no país, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea. 
 
11.3.1 O trabalho escravo no RN 
 
O Rio Grande do Norte não teve grandes contingentes de escravos africanos como 
Pernambuco e Bahia, grandes áreas açucareiras, porque a principal atividade econômica aqui 
desenvolvida era a pecuária, que requeria uma quantidade pequena de mão-de-obra. No entanto, 
com a expansão da lavoura canavieira, “durante longo tempo concentrada no engenho de 
Cunhaú”, houve um crescimento do número de escravos negros existentes na capitania. A 
pequena quantidade de escravos nas áreas em que a atividade econômica principal era a 
pecuária deve-se ao fato de que quem geralmente cuidava do rebanho eram os próprios 
 
47 
proprietários,auxiliados por um pequeno número de trabalhadores, sendo estes quase sempre 
de origem indígena. 
O Rio Grande do Norte se abastecia de escravos em dois centros: Pernambuco e 
Maranhão. De Pernambuco os negros eram enviados para a região açucareira potiguar, 
sobretudo a partir de 1845, quando a indústria do açúcar foi ativada nos municípios de São 
Gonçalo, Ceará-Mirim, São José de Mipibu, Papari, Goianinha e Canguaretama. 
Os negros comprados no Maranhão chegavam ao Rio Grande do Norte via Ceará, sendo 
desembarcados em Areia Branca, atendendo às necessidades da indústria salineira de Açu, 
Mossoró, Macau e Areia Branca. O negro, portanto, atuava principalmente em dois tipos de 
trabalho: nas indústrias açucareira e salineira, e em menor quantidade nas fazendas de gado. 
Alguns negros, contudo, não suportavam a vida miserável que levavam. Fugiam, penetrando 
no interior, e formando comunidades "fechadas", que se isolavam da sociedade dos brancos, 
mantendo somente um contato estritamente necessário, como aconteceu em Coqueiros, 
Sibaúma, Zumbi, Negros do Riacho, Capoeira dos Negros etc. Essas comunidades, 
provavelmente, não se originaram de quilombos. Exemplo: Capoeira dos Negros. Os habitantes 
desse local, conta o Sr. Severino Paulino da Silva, um de seus descendentes, vieram de Açu, 
talvez por causa de uma grande seca. Faziam parte de uma família formada pelo casal Joaquim 
e sua senhora, Caiada, e seus filhos, todos negros. O casal vendeu doze cavalos não adultos 
para comprar a propriedade. O Sr. Carrias, antigo dono da Capoeira, enganou seu Joaquim 
entregando uma procuração em lugar do documento de venda. Quando o Sr. Joaquim morreu, 
o Sr. Carrias reuniu os filhos do falecido e disse a verdade, exigindo mais cem mil réis para 
passar o documento legal da venda do sítio. Os filhos do Sr. Joaquim pagaram a quantia exigida, 
assegurando a posse definitiva da terra. 
 
11.3.2 O pioneirismo da abolição mossoroense 
 
No Rio Grande do Norte, o movimento abolicionista caminhava a passos rápidos. 
Artistas, estudantes, a imprensa, o Exército, os escravos e, principalmente, os intelectuais 
exigiam o fim da escravidão. Intelectuais criticavam em seus trabalhos a escravidão; o poeta 
Segundo Wanderley, influenciado pela obra de Castro Alves, um dos maiores críticos da 
escravidão, aderiu ao movimento abolicionista. Merece destaque, também, a marcante presença 
de Almino Affonso como um dos grandes batalhadores para a extinção da mão-de-obra escrava, 
tendo inclusive sido o redator da ata que extinguiu a escravidão em Mossoró, quase cinco anos 
antes da Lei Áurea. Além da participação de intelectuais, o movimento abolicionista no Rio 
 
48 
Grande do Norte contou com ampla participação de padres: João Cavalcanti de Brito, de Natal; 
Antônio Joaquim, de Mossoró; Amaro Castor Brasil, de Caicó; e outros. 
Disse Câmara Cascudo (1984): "a ideia da abolição encontrou adeptos entusiastas e 
adversários com antipatia pessoal aos propagandistas e não ao pensamento de restituir ao negro 
o estado de liberdade". Esse clima de hostilidade entre os grupos antagônicos, a favor ou contra, 
foi provocado, certamente, pelo entusiasmo dos jovens, com ativa participação em comícios 
públicos. Havia também um clima de aventura. O macauense Joaquim Honório da Silveira 
viajou para o Ceará, numa jangada, para levar "uma petição de Habeas Corpus em favor dos 
escravos que estavam prisioneiros na Fortaleza, sendo condecorado com uma medalha de prata 
pelo” Clube do Cupim. 
Macaíba contava, em 1869, com uma sociedade que lutava pela libertação dos escravos. 
Mas foi em Mossoró que se iniciou uma campanha sistemática, com forte influência cearense. 
A "Libertadora Mossoroense" foi fundada em 6 de janeiro de 1883, libertando seus escravos no 
dia 30 de setembro de 1883. 
Damasceno de Menezes mostra a ascendência cearense no acontecimento: "Do Estado 
vizinho, Mossoró recebera relevante contingente de homens de alta formação cívica, e cedo a 
sociedade local participara do espírito libertador pelas influências de intercâmbio cultural e 
comercial que desde os seus primórdios se entrelaçaram à vida das comunidades do Oeste 
Potiguar". O mesmo autor mostra que não houve, naquele trinta de setembro, um ato 
subversivo, porque não feriu nenhum dispositivo legal. Os escravos foram libertados através da 
entrega das Cartas de Liberdade. Isso acontecia de várias maneiras. A diferença é que, em 
Mossoró, no dia trinta de setembro de 1883, as cartas foram entregues na mesma data, em 
solenidade pública, libertando todos os escravos que ainda existiam no município. Segundo 
Damasceno de Menezes, "juridicamente houve abolicionismo em Mossoró. Sim, comemorou-
se o civismo de um povo. O cristianismo houve por bem abalar os corações magnânimos do 
grande povo potiguar, o dar-se a extinção antecipada do elemento servil em a terra de Santa 
Luzia, para exemplo, memória e prova de altruísmo de uma geração que diante da justiça e pelo 
amor, pela prova de alto espírito compreensivo se tornou imortal". Mas após o trinta de 
setembro, foi fundado o "Clube dos Spartacus", cujo primeiro presidente foi um ex-escravo, de 
nome Rafael. O objetivo dessa associação era promover a fuga de escravos de outros municípios 
para Mossoró. Esta concepção, na realidade, era subversiva, porque contrariava a legislação 
vigente no País. Mossoró era, assim, na prática, um município livre. Libertou seus escravos de 
maneira legal, porém acabou com a instituição da escravidão em suas terras. Dentro desta 
perspectiva, houve abolicionismo em Mossoró. O exemplo dessa cidade passou a ser seguido 
 
49 
por outras comunidades do interior. Açu libertou seus escravos em 24 de junho de 1885. Depois 
foi a vez de Carnaúba (30/03/1887) e, logo a seguir, Triunfo (25/05/1887). Natal não possuía 
mais escravos em fevereiro de 1888. 
 
12. A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA 
 
O Brasil vivenciou a sua primeira experiência republicana quando D. Pedro I abdicou 
do trono do Brasil, em favor do seu filho, a 7 de abril de 1831. Sendo o herdeiro ainda de menor 
idade, a solução constitucional encontrada foi a escolha de uma regência exercida por três 
membros, sob a presidência do mais velho. Dessa forma, iniciou-se no País o Período 
Regencial, composto por muitas características republicanas, como o aparecimento dos 
primeiros políticos, eleições para a escolha dos regentes e, principalmente, a suspensão do poder 
moderador do imperador, que era o grande entrave ao exercício da democracia. A 23 de julho 
de 1840, com a vitória da campanha pela antecipação da maioridade do imperador, é encerrado 
o Período Regencial que, apesar de conturbado por uma série de revoluções internas, foi 
exatamente rico para a História Política. 
A propaganda republicana apareceu no Brasil, de maneira sistemática, a partir de 1880. 
Os jornais, os clubes e o P.R. (Partido Republicano) vão ser os responsáveis pela divulgação 
das ideias que determinaram a queda da monarquia no Brasil. 
Foi praticamente nula a participação do povo, principalmente das classes mais 
desfavorecidas e da classe média. Os republicanos aproveitaram a insatisfação popular, pelas 
péssimas condições em que viviam os menos afortunados, para atrair o povo, engrossando 
assim as fileiras do movimento republicano. Instala-se, nesse contexto, no dia 15 de novembro 
de 1889, um regime que poderia ter acontecido em 1822, com a separação política de Portugal, 
ou com a abdicação em 1831. Entretanto, os partidários da república sustentaram sempre a ideia 
de que foi o longo período monarquista que deu condições para que o Brasil conservasse a sua 
integridade territorial, não se fragmentando em vários países, a exemplo da parte espanhola da 
América. 
 
12.1. A CAMPANHA REPUBLICANA NO RN 
 
No Rio Grande do Norte é através de um documento, enviado ao Clube Republicano do 
Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 1817, que aconteceu a primeiraadesão coletiva às ideias 
republicanas. Os signatários desse documento eram fazendeiros, comerciantes, senhores de 
 
50 
engenho, além de três vice-presidentes da província. Foram eles: Antônio Basílio, Ribeiro 
Dantas, Manuel Januário Bezerra Montenegro E Estevão José Barbosa de Moura. 
A reação ao movimento republicano no Rio Grande do Norte era representada pelos 
partidos Liberal e Conservador. Não havia, entretanto, unidade ideológica entre esses dois 
partidos. Ao contrário as divergências internas eram muito acentuadas o que, de certa maneira, 
iria facilitar o desenvolvimento da campanha pela substituição do regime monárquico no Brasil. 
O jornal "A Gazeta de Natal" faria a contrapropaganda pelo partido Conservador, enquanto que 
a dos liberais era mantida pelo "Correio de Natal". 
A reunião que marcou a fundação do Partido Republicano aconteceu na residência de 
João Avelino, situada na Praça Leão XII (Coronel José da Penha), no bairro da Ribeira, Natal, 
em 27 de janeiro de 1889, com a participação de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, que 
passou a liderar a campanha. A ata do nascimento do Partido Republicano registra a primeira 
diretoria, composta por Pedro Velho, presidente; Hermógenes Tinoco, vice-presidente; João 
Avelino, primeiro secretário; João Ferreira Nobre, segundo secretário; e Manuel Onofre 
Pinheiro, tesoureiro. Teria sido em 1851, através do Jornal "Jaguarari", dirigido por Manuel 
Brandão, o início oficial da propaganda Republicana no Rio Grande do Norte. Seguiu-se, em 
1873, a revista "Eco Miguelinho", de Joaquim Fagundes José Teófilo. O movimento cresce e 
adquire uma maior organização no período entre 1857 e 1875, com a participação de Joaquim 
Teodoro Cisneiro de Albuquerque. Ampliando-se ainda mais o ideário republicano, em 1886, 
Januncio Nóbrega e Manuel Sabino da Costa fundam um núcleo republicano em Caicó. 
Nasce, em seguida, o jornal "A República", órgão oficial do partido recentemente 
fundado (01 de julho de 1889). Foi um telegrama assinado por José Leão Ferreira Souto, 
dirigido ao Partido Republicano, que trouxe a notícia da vitória da campanha republicana pela 
mudança do regime, para o Rio Grande do Norte. Os monarquistas se inteiraram da novidade 
também por telegrama, esse assinado por Umbelino Ferreira Gouveia, datado de 16 de 
novembro de 1889. 
A proclamação da República não foi comemorada, nem despertaram reações. Supõe-se 
que o povo norte-rio-grandense, como os demais brasileiros, não teve consciência da mudança 
que se operava. Aqui, também, o povo foi "arrastado" para a causa republicana. 
Os liberais ainda tentaram fazer Antônio Basílio Ribeiro Dantas permanecer à frente do 
governo da província. Porém a designação de Pedro Velho, chefe do Partido Republicano, que 
chegou a Natal assinada por Aristides Lobo, acabou com as pretensões liberais. Pedro Velho 
foi aclamado governador do Estado, mas governou por poucos dias. No dia 30 de novembro, o 
Dr. Adolfo Afonso da Silva Gordo era nomeado governador, pelo governo provisório do novo 
 
51 
regime. Apesar da frustração, o chefe republicano no Rio Grande do Norte aceitou a nova 
nomeação. Posteriormente, Pedro Velho foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte 
com expressiva votação. Finalmente, no dia 28 de fevereiro de 1892, Pedro Velho de 
Albuquerque Maranhão foi eleito governador, pelo Congresso Estadual, administrando até 25 
de março de 1896. 
 
13. A REPÚBLICA VELHA NO RN 
 
A transição do Império para a República foi a primeira grande mudança de regime 
político ocorrida no Brasil desde a proclamação da independência. Lideranças republicanas de 
perfil mais reformador pretendiam que a mudança de regime político tivesse como resultado 
uma maior participação da população na vida política brasileira. 
Após o dia 15 de novembro de 1889, entraram em confronto três projetos distintos de 
República: o democrático, o militar e o oligárquico. Os militares foram os responsáveis pelos 
acontecimentos que precipitaram a proclamação da República e eram favoráveis à implantação 
de uma ditadura militar, com um governo forte e reformista. Os oligarcas, por sua vez, 
defendiam uma República que garantisse autonomia aos estados, controlados pelas elites 
políticas locais (grandes proprietários de terras). O grupo democrático, formado por uma 
parcela dos grupos médios urbanos, teve poucas oportunidades de pôr em prática o seu projeto 
político. 
Apesar de acabar com o voto censitário, a grande maioria da população foi mantida 
afastada do processo político, pois a Constituição proibia os analfabetos, as mulheres, os 
membros regulares de ordens religiosas, os praças militares de votar. A mudança de regime 
político, não trouxe mudanças significativas para a sociedade brasileira, que durante a Primeira 
República estava desigualmente dividida entre a cidade e o campo, “com uma população na 
maioria analfabeta, pobre e desassistida em tudo, sem saúde e sem escolas, marginalizada do 
processo social” (IGLESIAS, 1993). 
O Rio Grande do Norte no período da República Velha (1889-1930) foi controlado 
politicamente por duas oligarquias: Albuquerque Maranhão e Bezerra de Medeiros. Esta 
defendia os interesses econômicos dos grupos ligados à atividade algodoeira; enquanto aquela, 
envolvida desde o início do povoamento e colonização do Rio Grande do Norte com os 
interesses do açúcar, defendia a atividade açucareira. 
 
 
 
52 
13.1 GOVERNO DE PEDRO VELHO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO (1892-1896) 
 
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão governou o Rio Grande do Norte em dois 
momentos: o primeiro (de 17 de novembro a 06 de dezembro de 1889), quando assumiu 
provisoriamente pouco após a proclamação da República, em substituição ao tenente-coronel 
Antônio Basílio Ribeiro Dantas; o segundo (de 28 de fevereiro de 1892 a 31 de outubro de 
1895), quando foi eleito pelo Congresso Legislativo, em 1892. Com a eleição de Pedro Velho 
pelo Congresso Legislativo, crescia o poder de pressão da família Albuquerque Maranhão e 
começava no estado uma campanha de nepotismo sem precedentes. Pedro Velho conseguiu a 
indicação e, depois, a eleição do irmão Augusto Severo para deputado federal; nomeou seu 
irmão Alberto Maranhão Secretário do Governo e outros membros da família para cargos 
públicos. 
De acordo com Itamar de Souza (1989), a marca do governo Pedro Velho não foi a 
realização de obras materiais, e sim “a organização em todos os setores” da atividade do estado, 
implementando uma série de medidas como o estabelecimento do Corpo Militar de Segurança 
e a Guarda Republicana, a regularização do processo eleitoral, a regulamentação da instrução 
primária e secundária; instituiu o Serviço Sanitário do Estado, aumentou a arrecadação, 
regulamentou o Batalhão de Segurança e a Secretaria do Governo, consolidou a legislação sobre 
o governo e a divisão dos municípios, organizou a legislação sobre as terras, instalou o Tribunal 
de Justiça e instituiu o montepio dos funcionários estaduais (pedra fundamental da previdência 
social no Rio Grande do Norte). 
O substituto de Pedro Velho no governo foi o desembargador Joaquim Ferreira Chaves 
que, mesmo não pertencendo à família Albuquerque Maranhão, era ligado por estreitos laços 
de amizade aos membros da primeira oligarquia estadual. 
 
13.2 GOVERNO DE JOAQUIM FERREIRA CHAVES (1896-1900) 
 
Ferreira Chaves fez algumas obras importantes durante o período em que esteve à frente 
dos destinos do estado: construiu açudes no interior (em Martins e em Pau dos Ferros), iniciou 
a construção do Teatro Carlos Gomes e fez reparos em alguns importantes prédios públicos. 
Um momento dramático do seu governo foi o crescimento, em 1898, do movimento messiânico 
na Serra de João do Vale (município de Campo Grande), que desorganizava a vida produtiva 
naquela região, tendo em vista os sertanejos abandonarem os seus afazeres para acompanhar o 
agricultor místico Joaquim Ramalho.53 
Durante o governo de Ferreira Chaves, a Constituição Estadual, que impedia a 
candidatura de menores de 35 anos para a Presidência ou Vice-Presidência do estado, foi 
reformada para permitir a candidatura de Alberto Maranhão, então com 26 anos.5 Beneficiado 
pela alteração constitucional de 1898 (que diminuiu de 35 para 25 a idade mínima para alguém 
se candidatar a Presidente do estado), Alberto Maranhão foi eleito Presidente do Rio Grande 
do Norte. A mudança veio a beneficiar, também, posteriormente a Tavares de Lyra, candidato 
à sucessão de Alberto Maranhão. 
 
13.3 GOVERNO DE ALBERTO FREDERICO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO (1900-
1904) 
 
Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba, no dia 2 de outubro 
de 1872, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e D. Feliciano Pedrosa de 
Albuquerque Maranhão. Os seus estudos iniciais foram realizados, primeiro, em Macaíba e, 
depois, em Natal. Mais tarde foi para Recife, onde se formou em Direito pela Faculdade de 
Ciências Jurídicas e Sociais de Pernambuco, no dia 8 de dezembro de 1892, com 20 anos. 
Alberto Maranhão se casou com D. Inês Barreto. Teve seis filhos: Paula, Laura, Judite, Jovino, 
Cleanto e Caio. 
Alberto Maranhão assumiu o governo do Rio Grande do Norte em 1900. Fez uma 
administração medíocre e fútil, não realizando praticamente nada de importante, praticando um 
nepotismo nefasto e promovendo festas no Palácio do Governo (Palácio Potengi). As poucas 
obras públicas realizadas eram feitas sem concorrência, e quase sempre contratadas pelo 
arquiteto Herculano Ramos e pelo major Theodósio Paiva, funcionário do Tesouro. A única 
obra de relevância no seu governo foi a conclusão do Teatro Carlos Gomes (Teatro Alberto 
Maranhão), iniciada na gestão de Ferreira Chaves, inaugurado “no dia 24 de março de 1904, 
véspera do término do seu mandato”. O material utilizado para a sua construção “era fornecido 
por Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão, irmão do governador” (SOUZA, 1989). 
Foi no seu governo que surgiu a questão dos limites fronteiriços entre o Rio Grande do 
Norte e o Ceará, que disputavam uma área litorânea, na qual se desenvolvia a produção salineira 
e as “oficinas”. Ceará e Rio Grande do Norte não tinham as suas fronteiras demarcadas. Quando 
foram fundadas charqueadas em Mossoró e em Açu, criou-se uma rivalidade com as “oficinas” 
cearenses. As oficinas do Rio Grande do Norte foram praticamente extintas, criando-se um 
monopólio cearense das charqueadas. Somente o Ceará ficou produzindo carne seca. Para isso, 
entretanto, era necessário o sal norte-rio-grandense. Para resolver o problema dos produtores 
 
54 
cearenses, foi sugerido que os limites de Aracati fossem estendidos, invadindo territórios do 
Rio Grande do Norte, o que só seria possível com a concordância das vilas limítrofes, do lado 
norte-rio-grandense da fronteira. Mesmo sem a concordância de Assu e Aquirás (CE), o juiz 
(ouvidor) Manoel Rademaker entregou os territórios potiguares à vila de Aracati, criando um 
sério problema fronteiriço, que só seria definitivamente solucionado no início do século XX. 
Mesmo após a concessão dos territórios ao Ceará, os limites continuaram sem ser demarcados, 
o que levou o governo cearense a impetrar uma ação no Supremo Tribunal, solicitando a 
marcação das fronteiras. A elevação de Grossos (área pertencente ao Rio Grande do Norte) à 
vila, em 13 de julho de 1901, foi estopim da crise, pois a elevação foi decidida pelo Legislativo 
cearense e sancionada pelo Presidente do Ceará, Pedro Augusto Borges. Incontinenti, o 
presidente do Rio Grande do Norte Alberto Maranhão protestou, inclusive enviando tropas para 
o local, mesma atitude tomada pelo governo cearense. Prevaleceu, entretanto, a resolução 
pacífica, através de arbitramento, favorável ao Ceará. Não satisfeito com a resolução, o ex-
governador do estado, Pedro Velho, convidou o grande jurista baiano Rui Barbosa (auxiliado 
por Tavares de Lyra) para defender a causa norte-rio-grandense, a qual obteve êxito, como 
atestaram as decisões do juiz Augusto Petrônio. Estava definitivamente resolvida a questão de 
limites entre Rio Grande do Norte e Ceará. 
 
13.4 GOVERNO AUGUSTO TAVARES DE LYRA (1904-1906) 
 
Considerado um homem de vasta cultura, fomentou a economia pública, interessando-
se pela indústria do sal, canavieira e algodoeira. Em 1905, foi fundado o Banco do Natal 
(posteriormente batizado de Banco do Estado do Rio Grande do Norte – BANDERN), 
controlado pela família Albuquerque Maranhão. A maioria dos acionistas do banco era das 
famílias Albuquerque Maranhão e de Tavares de Lyra. Iniciou o processo de urbanização de 
Natal, com a construção da praça Augusto Severo e a pavimentação de várias ruas da cidade, 
além de ter investido na iluminação a gás acetileno. 
Durante seu governo o RN passou por um grande problema de seca e a capital recebeu 
muitos flagelados, mas com auxílio do governo federal, o governo de Tavares de Lyra 
“organizou quatro comissões em torno das quais se dividiram os flagelados” para trabalharem 
em obras pela capital do estado. Assim, o governo estadual utilizou os flagelados da seca na 
construção da Estrada de Ferro Central, que ligava Natal a Ceará Mirim, na construção da Praça 
Augusto Severo e na pavimentação de algumas ruas (Rua nova (Av. Rio Branco e outras) de 
 
55 
Natal. Ainda assim o quadro era crítico, com a ocorrência de saques no comércio local e, até 
mesmo, na casa do governador. 
Em 1906, ao completar dois anos de governo, atendendo um convite do Presidente da 
República Afonso Pena, quando de sua visita a Natal, Tavares de Lyra afastou-se do governo 
do estado e assumiu o cargo de Ministro da Justiça e Negócios Interiores. Assumiu o Vice-
Presidente Manoel Moreira Dias, que convocou eleições para preencher o cargo, sendo eleito 
Antônio José de Melo e Sousa. 
 
13.5 GOVERNO DE ANTÔNIO JOSÉ DE MELO E SOUSA (1907-1908) 
 
Antônio Sousa realizou poucas obras físicas, pois além do tempo reduzido que governou 
o estado, havia poucos recursos para ser empregados. Entre as suas poucas realizações, 
podemos destacar a recuperação do cais Tavares de Lyra e colocação de iluminação a gás 
acetileno em algumas ruas de Natal; no interior, mandou desobstruir os canais do vale do Ceará-
Mirim. 
A principal marca política do governo de Antônio de Melo e Souza foi a alteração 
constitucional que permitiu o aumento do mandato de governador (de 4 para 5 anos), 
preparando o retorno e a longa permanência de Alberto Maranhão. 
 
13.6 GOVERNO DE ALBERTO FREDERICO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO (1908-
1913) 
 
Em seu segundo mandato, Alberto Maranhão realizou uma profícua administração: 
fundou o Conservatório de Música; o Hospital Jovino Barreto (hoje Onofre Lopes); o Derby 
Clube (para incentivar o hipismo), e construiu a Casa de Detenção e o Asilo de Mendicidade. 
Implantou a luz elétrica em Natal e, posteriormente, os bondes elétricos. Inaugurou a Escola 
Normal, em 3 de maio de 1908. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, que atualmente tem o seu 
nome, dando-lhe as feições atuais e que foi entregue ao público no dia 19 de julho de 1912. 
Alberto Maranhão estendeu sua ação também ao interior, como mostrar Itamar de 
Souza: "em São José de Mipibu, ele mandou as águas de uma fonte natural e permanente para 
o abastecimento d’água daquela cidade. Em Macaíba, sua terra natal, construiu o cais de 
atracação, melhorando assim o transporte fluvial entre aquela cidade e a capital do Estado. Em 
Macau, mandou fazer um aterro, numa extensão de quatro quilômetros, ligando esta cidade à 
estrada do sertão, à margem do rio Assú". Para facilitar o deslocamento de pessoas e produtos 
 
56 
entre o sertão e as cidades portuárias, ele construiu três mil quilômetros de estradas carroçáveis 
em direção às cidades de Canguaretama e Natal. 
O segundo governo de Alberto Maranhão surpreendeu pelo dinamismo, sendo 
considerado, por unanimidade,como a melhor administração durante a República Velha. Nem 
tudo, porém, foi positivo na segunda administração do oligarca potiguar que procurou, 
abertamente, imortalizar os membros de sua família. O município de Vila Flor teve o seu nome 
mudado para "Pedro Velho". Além dessa homenagem, mandou fazer um busto do irmão que 
foi colocado na "square Pedro Velho". Fazendo uma crítica ao ilustre político potiguar, disse 
Itamar de Souza: "Este segundo governo de Alberto Maranhão teve três características básicas: 
primeiro procurou imortalizar os membros da oligarquia aponto seus nomes em municípios, 
repartições públicas, monumentos e praças; segundo monopolizou importantes setores da 
economia estadual, favorecendo, assim, os amigos e correligionários, em detrimento do erário 
público; e, terceiro, realizou uma grande e inovadora administração com o dinheiro tomado 
emprestado no estrangeiro". 
Alberto Maranhão, após deixar o governo, em 31 de dezembro de 1913, foi deputado 
federal, representando o seu Estado nessa função, de 1927 até 1929. Abandonado a vida 
política, saiu do Rio Grande do Norte e foi morar com a família em Parati, no Rio de Janeiro. 
Faleceu no dia 01 de fevereiro de 1944, em Angra dos Reis, sendo sepultado no outro dia, em 
Parati. Em setembro de 2005, os restos mortais de Alberto Maranhão e sua esposa foram 
transladados de Parati e depositados num memorial localizado no Teatro Alberto Maranhão. 
 
13.7 GOVERNO DE JOAQUIM FERREIRA CHAVES (1914-1920) 
 
Ao assumir, Ferreira Chaves procurou fazer um governo austero, visando equilibrar o 
orçamento estadual: demitiu funcionários, reduziu subvenções e suprimiu gratificações, além 
de anular alguns contratos celebrados no governo de Alberto Maranhão, por considerá-los 
lesivos aos cofres públicos. Objetivando incrementar a economia do estado, incentivou a 
industrialização, concedendo isenção fiscal aos empresários que investissem no setor industrial; 
restaurou a liberdade de comércio no setor salineiro, o que aumentou as exportações do setor, 
bem como a arrecadação de impostos. A sua grande obra, entretanto, foi a construção da Estrada 
de Automóveis Seridó, facilitando o deslocamento para aquela sub-região do estado. À margem 
da estrada foi instalada uma linha telefônica. Ainda no interior, intensificou o combate ao 
banditismo, prendendo mandantes e executores de crimes, além dos coiteiros. Em Natal, a 
gestão de Ferreira Chaves também foi positiva. Instalou o Corpo de Bombeiros, urbanizou a 
 
57 
cidade, calçando e arborizando as ruas, ampliou as dependências do Hospital Juvino Barreto, 
edificou o prédio da antiga Escola Doméstica. 
 
13.8 GOVERNO DE ANTÔNIO JOSÉ DE MELO E SOUSA (1921-1924) 
 
A nova gestão de José de Melo e Sousa a frente do Executivo estadual foi marcada pela 
ênfase dispensada às áreas educacional (com a construção de 54 escolas primárias), de saúde 
pública (com a criação de laboratórios e serviços de profilaxia), e de agricultura (Diretoria Geral 
de Agricultura e Obras Públicas). Com o intuito de preencher as vagas no magistério estadual, 
criou em Mossoró uma Escola Normal Primária, que se encarregou de preparar professoras para 
o ensino primário; foi criada a Escola Profissional, onde eram ministradas aulas de serralheria, 
sapataria, funilaria e alfaiataria; criou a Escola de Farmácia, primeira instituição de ensino 
superior do estado; por último, fez funcionar o Grupo Escolar Augusto Severo. Preocupado 
com a precariedade do estado sanitário no estado, foram reformados os serviços de Higiene e 
Saúde Pública, além de criados os Serviços de Profilaxia das Moléstias Venéreas e de Profilaxia 
Rural e um Posto Antiofídico 
 
13.9 GOVERNO DE JOSÉ ALGUSTO DE MEDEIROS (1924-1928) 
 
José Augusto fez um governo de pacificação e amplas realizações, colocando em prática 
uma nova política de reurbanização. Para tanto foi criada a Comissão de Saneamento de Natal, 
subordinada ao Departamento de Agricultura e Obras Públicas, sob a chefia do engenheiro 
Henrique Novaes, com a finalidade de estudar e elaborar um projeto de remodelação da cidade, 
ampliar os serviços de abastecimento d’água e da rede de esgotos. Baseando-se nas reformas 
médicas e sanitárias implementadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, foi elaborado um grande 
programa de saúde pública, com a atuação de médicos, higienistas e sanitaristas, para atender 
especialmente à população pobre. A campanha visou especialmente o combate das principais 
endemias, promovendo a vacinação da população. Procurou melhorar a iluminação pública 
(aquisição de máquinas para a Usina do Oitizeiro), o sistema de transportes (compra de bondes 
e aumento da linha férrea para os bairros do Alecrim e de Lagoa Seca) e as comunicações 
telefônicas (aumento do número de linhas). 
José Augusto era reconhecido nacionalmente como um político ligado às questões de 
educação. As ações na área educacional da gestão de José Augusto estavam relacionadas, 
também, às mudanças políticas e sociais pelas quais passava o país, que começava a se 
 
58 
industrializar e se ressentia da falta de mão-de-obra qualificada ou pelo menos com um mínimo 
de formação educacional. Com esse objetivo criou, com o apoio da Igreja Católica, a 
Universidade Popular, com atuação nos municípios de Natal, Touros e Goianinha (SOUZA, 
1989). 
 
13.10 GOVERNO DE JUVENAL LAMARTINE DE FARIAS (1928-1930) 
 
De acordo com Itamar de Souza (1989), Juvenal Lamartine foi, juntamente com Alberto 
Maranhão, o governador mais criativo do Rio Grande do Norte durante a República Velha. No 
seu governo, a ênfase foi dada à diversificação da produção agrícola do estado, tendo importado 
mudas de fumo, amoreira e laranjeiras; na pecuária, procurou melhorar geneticamente o 
rebanho bovino, criando com esse objetivo uma estação de monta, em Jundiaí. Na área da saúde 
foram inaugurados o Leprosário São Francisco de Assis e o Edifício da Saúde, tendo sido essas 
as suas principais realizações na área de saúde pública. Na área financeira, salvou o Banco de 
Natal (nome que ele mudou para Banco do Rio Grande do Norte) da falência. Expandiu o banco 
em direção ao interior, através da abertura de agências nos principais municípios do estado. E, 
ainda, dando continuidade ao projeto governamental de José Augusto, investiu no setor 
educacional. A sua preocupação maior era com a educação popular, criando 49 escolas em 
vários municípios do estado e auxiliando vários estabelecimentos de ensino privado. um dos 
grandes obstáculos para o desenvolvimento da economia norte-rio-grandense “era a falta de 
estradas para transportar o algodão e outras mercadorias do interior para os portos do litoral”. 
Com o objetivo de escoar a produção agropecuária do estado, Juvenal Lamartine construiu mais 
de 400 quilômetros de estradas, e pôs pontes e bueiros em algumas das principais rodovias 
estaduais, implementando uma política, em nível local, semelhante à adotada pelo presidente 
Washington Luís (SOUZA, 1989). 
O governo de Juvenal Lamartine coincidiu com a organização da aviação civil brasileira. 
O histórico de Natal nesse período é glorioso. Devido à sua privilegiada posição geográfica, 
Natal teve um papel fundamental nas travessias transoceânicas. Procurando desenvolver esse 
espírito aventureiro, foi criado o Aero-Clube de Natal e, no mesmo local, uma Escola de 
Aviação, chefiada por Djalma Petit, além de campos de pouso em vários municípios do estado. 
Voltaremos a esse tema com um pouco mais de profundidade. 
O governo de Juvenal Lamartine foi interrompido, quando eclodiu a revolução de 3 de 
outubro de 1930, que modificou significativamente o panorama do País. 
 
 
59 
14. A MARCHA DE LAMPIÃO NO RN 
 
No dia 10 de junho de 1927, Lampião penetrou com seu bando em Luiz Gomes, no Rio 
Grande do Norte. O objetivo dessa marcha era atacar Mossoró. No seu caminho, deixou um 
rastro de destruição. Sequestrou pessoas apenas parapedir resgate. Transformou fazendas em 
ruínas. Em "Caiçara dos Tomás" houve um confronto com os soldados comandados pelo 
tenente Napoleão de Carvalho Angra, com a derrota dos policiais. 
Uma parte do grupo de Lampião tentou atacar Apodi. A população, contudo, estava 
preparada. Quando os bandidos se aproximaram da cidade, o tenente Juventino Cabral, à frente 
de policiais e civis, ordenou que abrissem fogo. Os salteadores resolveram não se arriscar. 
Recuaram. 
Em Dix-sept Rosado, praticamente sem ninguém, o bando de Lampião praticou diversos 
atos de vandalismo. Raul Fernandes transcreveu no seu livro "A Marcha de Lampião", a 
descrição feita por uma testemunha dos acontecimentos: "Demônios entregues aos maiores 
desatinos, quebrando portas, espaldeirando quem encontravam, exigindo dinheiro, roubando 
tudo, numa fúria diabólica. A palavra de ordem era matar e roubar". Lampião mandou um 
ultimato ao prefeito de Mossoró, exigindo quatrocentos contos para evitar a invasão e posterior 
saque da cidade. A carta onde ele pedia o resgate foi escrita por Antônio Gurgel do Amaral e 
entregue por Pedro José. Rodolfo Fernandes respondeu dizendo que não podia enviar a 
importância exigida: "Estamos dispostos a recebê-los na altura em que desejarem. Nossa 
situação oferece absoluta confiança e inteira segurança". Lampião não se conformou e enviou 
um bilhete com novas ameaças. Rodolfo Fernandes respondeu com altivez, reafirmando que 
não dispunha do valor pedido. Concluiu dizendo que "Estamos dispostos a acarretar com tudo 
o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se firmemente inabalável na sua defesa, 
confiando na mesma". 
O ataque começou às dezesseis horas. Dentro de pouco tempo, o tiroteio atingiu o auge. 
A resistência, porém, continuou. O ataque contra a cidadela do prefeito fracassou. Os 
cangaceiros tentaram completar o certo. O pessoal da Estação impediu que isso acontecesse. 
Após muito tiroteio, a vitória sorriu para os mossoroenses. 
 
15. A REVOLUÇÃO DE 30 NO RN 
 
Foram principalmente os motivos de origem política e econômica que determinaram a 
eclosão do movimento revolucionário de 1930 no Brasil. A crise do sistema capitalista mundial 
 
60 
a partir de outubro de 1929, que atingiu as nossas exportações de café, funcionou como 
determinante de ordem econômica. Quando o presidente Washington Luís transferiu ao 
Instituto do Café do Estado de São Paulo a responsabilidade para solucionar o impasse surgido 
no setor exportador do principal produto brasileiro, perdeu o apoio dos cafeicultores, que lhe 
conferiam sustentáculo político. O rompimento da política "café com leite", que determinava a 
alternância de um presidente paulista e um mineiro frente ao governo do País, teria sido a causa 
política. A comprovação de fraude eleitoral na escolha de Júlio Prestes para a Presidência da 
República, o assassinato de João Pessoa, vice-presidente derrotado, funcionaram como causas 
imediatas do movimento revolucionário que marca o início da Segunda República no Brasil. 
A revolução de 30 foi, na realidade, um marco na história brasileira. Com ele terminou 
a República Velha. No RN, Juvenal Lamartine governa o Rio Grande do Norte. Além de uma 
extrema dependência em relação ao poder central, o seu governo se caracterizou pela 
intolerância política para com os seus adversários. Nesse contexto, João Café Filho fazia 
oposição. Perseguido, fugiu para a Paraíba. E se integrou ao movimento promovido pela 
"Aliança Liberal", que defendia a candidatura de Getúlio Vargas para presidente da República 
e João Pessoa para vice. Os candidatos da oposição ao governo Washington Luís, Getúlio e 
João Pessoa, foram derrotados no Rio Grande do Norte. Afirmam os historiadores que a derrota 
foi causada pelo apoio dado por Juvenal Lamartine ao paulista Júlio Prestes. Os adeptos da 
"Aliança Liberal" no Rio Grande do Norte formavam, na realidade, um pequeno grupo que 
recebeu o apoio do coronel Dinarte Mariz no Seridó. Juvenal Lamartine, ao tomar 
conhecimento do início da revolução, abandonou o Estado, na noite de 5 de outubro de 1930. 
O major Luiz Tavares Guerreiro, à frente do 29º BC, partiu da Paraíba e chegou a Natal 
no dia 6, sem encontrar qualquer tipo de resistência. Natal viveu dia de pânico, assim descrito 
por Tarcísio Medeiros (2001): "tropas de desocupados, aventureiros, que atemorizaram as 
famílias natalenses, obrigando os incautos, nos comícios das praças, ajoelhar quando era 
cantado o hino a João Pessoa:” João Pessoa, bravo filho do sertão. Toda a pátria espera um dia 
a sua ressurreição... ' Ai daquele que não obedecesse!". 
 
15.1 OS INTERVENTORES DO RN 
 
No período entre 1930-35, a situação política do Rio Grande do Norte era bastante 
instável, com “alto índice de ‘turbulências’ políticas, registrando-se uma grande rotatividade 
das interventorias tenentistas”. O Rio Grande do Norte contou com cinco interventores, nesse 
período: Irineu Joffily (1930-1931), Aluísio de Andrade Moura (1931-1931), Hercolino 
 
61 
Cascardo (1931-1932), Bertino Dutra da Silva (1932-1933) e Mário Leopoldo Pereira da 
Câmara (1933-1935). É a maior rotatividade em termos nacionais, com a gestão dos 
interventores sendo bastante atribulada e de curta duração (COSTA, 1995). 
Após momentos eleitorais conturbados em 1934, foi eleito para governar o RN Rafael 
Fernandes Gurjão (1935-1943). Encerrando o mandato do mesmo, seguem: Antônio Fernandes 
Dantas (1943-1945), Georgino Avelino (1945) e Miguel Seabra Fagundes (1945-1946), Ubaldo 
Melo (1946-1947) e Orestes da Rocha Lima (1947). 
 
15.2 A INTENTONA COMUNISTA DE 1935 
 
A Intentona Comunista de 1935 não foi um episódio isolado que ocorreu apenas no Rio 
Grande do Norte. Ela surgiu dentro de um contexto internacional e, ao mesmo tempo, brasileiro. 
Foi a ANL que inspirou o movimento comunista que eclodiu em novembro de 1935 na cidade 
de Natal e que ficou conhecido como sendo a Intentona Comunista. A Intentona Comunista foi 
iniciada na noite de 23 de novembro de 1935, ocasião em que no Teatro Carlos Gomes - hoje 
Alberto Maranhão - estava acontecendo uma solenidade de colação de grau do Colégio Marista. 
O governador Rafael Fernandes Gurjão e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, 
abrigaram-se na residência de Xavier Miranda, nas proximidades do teatro, e depois foi para o 
Consulado da Itália, sob os cuidados do cônsul Guilherme Lettieri. O prefeito Gentil Ferreira, 
também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob a proteção do cônsul Carlos 
Lamas. Coube ao major Luís Júlio, da Polícia Militar e ao coronel Pinto Soares, do 21º BC, a 
organização da resistência. Os combates estenderam-se por várias horas, até acabar a munição, 
quando as forças legais se renderam. As comunicações telefônicas foram cortadas, resistindo 
apenas a estação telegráfica de Macaíba, através da qual os legalistas pediram socorro à capital 
federal. 
Durante os combates, o quartel da polícia militar resistiu, lutando contra um inimigo 
"muitas vezes superior em número", relata João Medeiros Filho. A resistência durou várias 
horas, terminando quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram pelo Rio 
Potengi. Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um 
Comitê popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, 
como ministro de Abastecimento e Quintino de Barros, 3º sargento, músico do 21º BC, como 
ministro da Defesa. O comitê se instalou na Vila Cinanto, até então residência oficial do 
governador. 
 
62 
Durante a vigência do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal 
atravessou momento de grandes dificuldades, principalmente para a aquisição de gêneros 
alimentícios, uma vez que os rebeldes saquearam muitos armazéns e lojas que abasteciam a 
cidade. Entre os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M. Martins & Cia.m Viana 
& Cia., M. Alves Afonsoetc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. 
Por onde os rebeldes passavam, implantavam o pânico. 
No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado 
"Liberdade", que publicou as seguintes palavras, transcritas por João Medeiros Filho: Enfim, 
pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros, 
Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos mártires, 
centralizados e corporificados na figura legendária de Luís Carlos Prestes, o "Cavaleiro da 
Esperança". 
 
16. NATAL NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 
 
O período entre as duas guerras mundiais foi marcado pela instabilidade econômica 
internacional, com um sem número de crises, que aumentaram de intensidade após a quebra da 
Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, pelo retorno da corrida imperialista e, 
fundamentalmente, pelo surgimento de regimes políticos totalitários no continente europeu, 
como os governos nazifascistas na Alemanha e na Itália e comunista na União Soviética. 
 
16.1 A POSIÇÃO ESTRATÉGICA DE NATAL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 
 
A localização da Cidade do Natal fez com que seu nome ocupasse uma posição de relevo 
na história da aviação mundial. Sobretudo nos tempos iniciais ou, mais precisamente, no 
período compreendido entre 1922 e 1937, que se divide em duas fases: a dos hidroaviões e as 
dos aviões. Os hidroaviões desciam nas águas do Rio Potengi e, posteriormente, os aviões 
pousavam num campo em terra firme. 
No dia 21 de dezembro de 1922, o brasileiro Euclides Pinto Martins e o norte-americano 
Walter Hinton chegavam a Natal, fazendo o "Sampaio Correia II" pousar nas águas do Rio 
Potengi. Estavam realizando o "Raid" Nova Iorque-Rio de Janeiro. 
Após essas façanhas, o capital norte-rio-grandense passou a receber grande número de 
aviadores famosos, que com suas aventuras escreviam a história da aviação. Todos eles foram 
recebidos como verdadeiros heróis. Os natalenses acompanharam a ação dos pioneiros com 
 
63 
muito interesse. Exemplo: a 24 de fevereiro de 1927, Natal recebeu com manifestações de júbilo 
o marquês De Pinedo, italiano que juntamente com Carlo Del Prete e Victale Zachetti chegaram 
à cidade viajando no "Santa Maria". De Pinedo, além de percorrer as principais ruas natalenses 
em carro aberto, participou de um almoço em sua homenagem. No discurso de agradecimento, 
o marquês sentenciou: "Natal será a mais extraordinária estação da aviação mundial". 
Paul Vachet foi enviado a Natal pela Lignes Latécoère para estabelecer aqui uma base 
dentro da rota Brasil-Dakar. E para isso precisava de um campo de pouso. Vachet procurou, 
então, um terreno apropriado para construir um aeroporto. Segundo Câmara Cascudo, “um 
oficial do Exército, o coronel Luís Tavares levava para Parnamirim o batalhão sob o seu 
comando para exercícios militares”. 
O dia 6 de janeiro de 1931 chegava a Natal a esquadrilha da força aérea italiana, 
comandada pelo general Ítalo Balbo. Composta inicialmente por doze aviões, apenas dez 
conseguiram atingir Natal. 
Poucos dias antes, ou seja, em 1º de janeiro do mesmo ano, o navio italiano "Lanzeroto 
Malocell", sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Alberto Coraggio, trazia a Coluna 
Capitolina, doada pelo chefe do governo italiano, Benito Mussolini. A peça havia sido 
encontrada nas ruínas de Roma e foi oferecida ao povo natalense para comemorar o "Raid" 
Roma-Natal, realizado pelos aviadores Del Prete e Ferrarin. 
Um dos aviadores que marcou presença em Natal durante essa época foi o francês Jean 
Mermoz. No dia 13 de maio de 1930, Jean Mermoz realizou a sua primeira travessia. Partindo 
de São Luís do Senegal, chegou a Natal vencendo uma distância de 3.100 quilômetros. Passou 
alguns dias na capital potiguar planejando uma viagem de regresso, o que seria um fato inédito. 
Depois da França, a Alemanha entrou em cena. A Lufthansa estendeu sua ação 
comercial até Natal durante 1933. No outro ano, informa Clyde Smith Junior (1992), "as linhas 
aéreas francesas e alemãs entraram em um acordo que exercia uma cooperação técnica e uma 
sedição de itinerário. Em torno de 1937, elas concordaram em associar suas receitas relativas 
ao trecho África-Natal e, em 1939, a Air France (antiga Lignes Latécoère) e a Condor 
(Lufthansa) tornaram seus bilhetes permutáveis na África do Sul". 
A Itália também esteve presente em Natal através da Linee Aeree Transcontinentali 
Italiane - Ala Litoria (LATI). A empresa foi organizada pelo governo italiano e, posteriormente, 
foi acusada pelos adversários, durante a guerra, de estar a serviço das "Tropas do Eixo". 
 
16.1.1 O Aero Clube de Natal 
 
 
64 
O Rio Grande do Norte não poderia ficar apenas recebendo aviões. Era preciso participar 
de uma maneira mais ativa. Juvenal Lamartine, consciente do problema, apresentou um projeto 
na Câmara Federal para criar um aviódromo em Natal. A 29 de dezembro de 1928, era fundado 
o Aero Clube. 
Tarcísio Medeiros (2001) descreve o evento: "Participaram das festividades, numa 
revoada de Parnamirim a Natal, um "Beu-Vird", pilotado pelo diretor-técnico, comandante 
Djalma Petit, trazendo a bordo o Sr. Fernando Pedrosa, e um aparelho da Générale Aéropostale 
(C.G. A), pilotado por Depecker. Na ocasião, foi batizado o primeiro aeroplano do "club", com 
o nome de Natal". A diretoria do Aero Clube era formada por Juvenal Lamartine, presidente; 
Dioclécio Duarte, vice-presidente, e Adauto Câmara, primeiro secretário. A sede estava situada 
no bairro do Tirol, onde ainda hoje se encontra, apesar de ter passado por sérias crises. E de 
acordo com Tarcísio Medeiros, possuía um "pequeno campo de pouso ao lado do poente da 
sede social'". 
 
16.2 O INÍCIO DA GUERRA 
 
Quando Adolf Hitler invadiu a Polônia, alegando que a Alemanha necessitava de 
"espaço vital", estava iniciando o Segundo Conflito Mundial. De um lado, estavam os 
"Aliados": França, Inglaterra e Estados Unidos. Do lado oposto, Itália, Alemanha e Japão 
formavam as "Forças do Eixo". Os dois grupos lutaram (com a posterior entrada de outras 
nações, inclusive os Estados Unidos da América) durante o período entre 1939-1945, levando 
o mundo a uma devastação que até então nenhuma outra guerra tinha provocado. 
Após a sua entrada no conflito, os norte-americanos procuram uma aproximação com o 
Brasil, porque necessitavam instalar ou melhorar as bases aéreas do Nordeste brasileiro. 
Havia uma grande preocupação dos norte-americanos em demonstrar aos brasileiros que a sua 
presença naquela região do País era apenas para ganhar a guerra. Nada de conquista territorial. 
Em Natal, contudo, havia adeptos das "Forças do Eixo". Em outubro de 1942, ocorreu 
um fato tragicômico: a Rádio Educadora de Natal colocou no ar uma marcha militar alemã e, 
logo em seguida, o hino nacional alemão. A transmissão provocou protesto de grande parte da 
população e a emissora foi fechada, sendo reaberta dois dias depois. 
Apesar de oficialmente neutro, o Brasil vai aos poucos se aproximando da causa dos 
"Aliados", e se afastando das "Forças do Eixo". Essa situação se reflete em Natal, com a maioria 
da população torcendo pela vitória dos "Aliados". 
 
65 
Em dezembro de 1941, chega a Natal o Esquadrão de Patrulhamento da Marinha dos 
Estados Unidos, como nove aeronaves e o avião auxiliar "Clemson". Pouco depois, chegavam 
os fuzileiros navais. Em 1942 eram duzentos homens. 
O almirante Ary parreiras, enviado para construir a Base Naval do Natal, demonstra, na 
opinião de Cascudo, "força realizados, obstinação, ditadura da honestidade, mítica do sacrifício 
silencioso, discreto e diário". 
Os norte-americanos, por sua vez, constroem "Parnamirim Field", uma verdadeira 
megabase, durante o período de guerra. 
Em termos de forças terrestres, desde 12 de junho de 1941, Natal contava com o 16 RI, 
criado aproveitando os efetivos do 29 BC e do II BC de MinasGerais. Segundo Tarcísio 
Medeiros, "no dia 11 de outubro, o general Gustavo Cordeiro de Farias assumia o comando da 
2ª Brigada de Infantaria (...). A aviação unificada desde 18 de janeiro com a criação do 
Ministério da Aeronáutica, possuindo o campo de Parnamirim, estabeleceu a sede da 2ª Zona 
Aérea, cujo comando, confiado ao brigadeiro Eduardo Gomes, impulsionou o primeiro grupo 
de aviões que partia, policiando os ares (...) e os comboios marítimos, num serviço assíduo de 
cobertura e vigilância". 
 
16.3 A ENTRADA DO BRASIL NA GUERRA 
 
No último dia da Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, em 28 de janeiro de 
1941, realizada no Rio de Janeiro, o Brasil rompeu as relações com as Forças do Eixo. Passando 
alguns meses, no dia 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália. O 
avanço das "Tropas do Eixo", lideradas por Rommel, no continente africano, colocou em perigo 
a navegação do Atlântico, da costa brasileira, como também de todo o continente americano. 
Teria sido por causa desse risco que o Brasil cedeu bases militares no litoral do Nordeste para 
servir de apoio às operações militares que seriam desenvolvidas na África. E entrou na guerra. 
Natal, por sinal, já vivia um clima de guerra, inclusive com blecautes diários. Contava 
também com os serviços da Cruz Vermelha, Legião Brasileira de Assistência, Defesa Civil, e 
ainda abrigos antiaéreos familiares e públicos. 
Numa síntese, disse Câmara Cascudo (1999): "Ao redor do campo, Natal, tabuleiros e 
praias, foi organizada e dispostas a defesa militar, munições, matérias-primas em tonelagem 
astronômica. Exército, Marinha, Aeronáutica, Fuzileiros Navais ergueram as barreiras 
defensivas, diárias e contínuas. 
 
66 
Em julho de 1941, o presidente Vargas autorizou os Estados Unidos a construírem a 
Base Aérea de Natal. O projeto para a construção de tal empreendimento já estava pronto desde 
1940, e a sua execução ficou a cargo da Pan Am. Assim, os norte-americanos “construíram do 
outro lado da Base Aérea Brasileira, perto da lagoa, Parnamirim Field, o campo que mais ajudou 
a ganhar a guerra” (CASCUDO, 1999). Além da Base, os americanos construíram um oleoduto 
interligando o Campo de Parnamirim e as docas do rio Potengi, garantindo assim o 
abastecimento de combustível para as organizações militares, e uma pista asfaltada para facilitar 
os deslocamentos entre a Base Aérea e a cidade de Natal; também foram abertas estradas para 
Ponta Negra e Pirangi, facilitando o deslocamento de tropas que patrulhavam o litoral sul do 
estado. Em meados de 1942, Parnamirim Field era o aeroporto mais movimentado do mundo, 
“a maior mobilização técnica obtida pelos Estados Unidos fora de seu território” com “pistas 
de dois mil metros” que facilitavam a descida imediata de 250 aviões. Mil e quinhentos edifícios 
abrigavam 10.000 homens. (...) A gasolina, média de 100.000 litros diários, vem de um pipe 
line com 20 quilômetros de distância, recebendo-a dos navios tanques, na cidade do Natal” 
(CASCUDO, 1999). 
 
16.4 A VISITA DE ROOSEVELT A NATAL 
 
Quando o presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt se encontrava em 
Marrocos, solicitou ao almirante Jonas Ingram para marcar um encontro com Getúlio Vargas, 
presidente do Brasil, na Cidade do Natal. O presidente Getúlio Vargas chegou em Natal no dia 
27 de janeiro de 1943, acompanhado de sua comitiva. Ficou alojado no Destróier Jouett. Na 
manhã do outro dia, dois aviões trouxeram o presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, e sua 
comitiva. 
O governante potiguar Rafael Fernandes foi convidado para comparecer à base sozinho. 
Chegando lá é que soube da novidade. Depois, Getúlio Vargas e Roosevelt, acompanhados de 
Rafael Fernandes, cumpriram um programa de inspeções: base de hidroaviões, Parnamirim e 
os quartéis brasileiros do exército e da aeronáutica. À noite, Vargas e Roosevelt participaram 
da "Conferência de Natal" que, segundo Clyde Smith Junior (1992), "girou em torno de 
interesses mútuos e laços de amizades entre seus países, a prevenção de um possível e perigoso 
ataque dirigido de Dakar para o hemisfério ocidental, e o apoio do Brasil aos objetivos de guerra 
de Roosevelt. No dia seguinte. Roosevelt voou para Trinidad e Vargas voltou ao Rio 
acompanhado pelo almirante Ingram e pelo general Wash". A reunião, portanto, não foi apenas 
 
67 
um encontro cordial de amigos para conversar futilidades. Nela, ficou acertado o envio de tropas 
brasileiras para o "front". 
 
16.5 AS INFLUÊNCIAS AMERICANAS EM NOSSA CIDADE 
 
A presença norte-americana em Natal mudou os hábitos de uma pequena cidade 
nordestina. Lenine Pinto (1995), relata que "dos bares vazava a música das Wurlitzers, das lojas 
o burburinho de consumidores ávidos e, quando as ruas se esvaziavam, acendiam-se os salões 
de bailes, fluíam fantasias (...). Naquele tempo as festas sucediam-se freneticamente, dançava-
se freneticamente, amava-se freneticamente". 
Com a presença americana mudaram o vocabulário, o comportamento, as bebidas e o 
vestuário. Segundo Diógenes da Cunha Lima, os natalenses abandonaram paletó, gravata e 
chapéu, começaram a vestir camisa esporte (sileque), aprenderam a ir à praia todos os dias do 
ano e a se sentar no meio-fio para esperar transporte coletivo, a beber cerveja. Comerciantes 
fizeram fortuna “vendendo relógios suíços, meias de seda e perfume francês.” Brasileiros e 
norte-americanos se confraternizavam em Natal. A jogatina corria solta, a ponto de a Vila 
Cincinato (residência oficial dos governadores/ interventores) ter sido “transformada durante a 
interventoria do General Antônio Fernandes Dantas num mini-cassino”. Outros preferiam 
amenidades, como saraus musicais, cinemas, confeitarias, cafés e prostíbulos (PINTO, 1995). 
Surgiram associações recreativas como, por exemplo, os “Clubes 50”. Tanto o Aero 
Clube como igualmente o “Clube Hípico”, foi alugado com o objetivo de realizar bailes. A 
finalidade principal, certamente, era promover uma maior integração dos militares norte-
americanos com a população natalense. Houve, por causa disso, uma invasão de ritmos 
estrangeiros: “rumba”, “conga”, “bolero”. As moças passaram a agir com mais autonomia e, 
conforme relata Lenine Pinto, “tendo incorporado modos e modismos americanos, algumas 
aproveitaram para alongar o passo: começaram a fumar (por ser o Chesterfield um cigarro 
fraquinho", era a desculpa); a bebericar "Cube Libre" (com a Coca-Cola inocentando a mistura 
de rum) e a pegar os primeiros "foguinhos". 
Como Natal estava em possível área de combate, as Forças Armadas promoveram 
cursos de enfermagem para alguma eventualidade. A Maternidade Januário Cicco (na época 
Maternidade de Natal) foi transformada em hospital militar, o Hospital Onofre Lopes (na época 
Miguel Couto) foi reestruturado, a Associação dos Escoteiros fundou o Hospital Luiz Soares 
(atual Policlínica) e a Cruz Vermelha Internacional por aqui desembarcou, fundando uma filial. 
A cidade passou por sucessivos black-outs e foram construídos abrigos antiaéreos. Os 
 
68 
exercícios de black-outs (blecautes) eram avisados com antecedência à população. Por vezes 
saíam nos jornais e nos programas da Rádio Educadora de Natal (REN), a primeira de Natal. 
A guerra também trouxe para Natal uma das maravilhas da modernidade. Enquanto o 
país enfrentava um racionamento de combustíveis, a capital do Rio Grande do Norte ganhava 
a sua primeira estrada asfaltada, a “Parnamirim Road, um empreendimento norte-americano e 
que ficou conhecida simplesmente por ‘a Pista’, pela população local” 
Natal perdia aos poucos suas características de cidade pequena, com seus habitantes 
levando uma vida modesta e tranquila. Tomando inclusive um aspecto cosmopolita, com a 
passagem, pela cidade, de pessoas de outras nacionalidades, com direito a figuras importantes: 
D. Francis J. Spellman (arcebispo de Nova York), Bernard (príncipe da Holanda), HiginioMorringo (presidente do Paraguai), Sra. Franklin D. Roosevelt (esposa do presidente dos 
Estados Unidos), Sr. Noel Cherles (embaixador do Reino Unido no Brasil) etc. 
Os preços aumentaram por causa da injeção de dólares na economia local. A influência 
norte-americana se fez sentir também na linguagem, com a introdução de algumas palavras e 
expressões inglesas, exemplificadas por Clyde Smith Junior (1992): "change Money" (troque 
dinheiro), "drink beer" (beba cerveja), "give me a cigarrette" (dê-me um cigarro), "black-out" 
(blecaute) etc. Outro fato lembrado pelo mesmo autor: "de uma cidade pequena e desconhecida, 
passou a ser conhecida por milhões de americanos e outros aliados". 
Durante a guerra. Natal cresceu muito, aumentando consideravelmente a sua população. 
 
17. O POPULISMO NO RN 
 
O populismo foi um fenômeno tipicamente urbano, caracterizado pela transição de uma 
sociedade rural para a sociedade urbana e industrial. Os líderes políticos populistas aliciavam e 
manipulavam as massas populares urbanas, que eram convocadas a participar do processo 
político, mas sempre submetidas ao governo, que adotava um comportamento paternalista e 
autoritário, concedendo direitos aos trabalhadores e, ao mesmo tempo, mantendo-os sob 
controle permanente. 
Reformas econômicas e sociais eram, genericamente, a plataforma dos governos 
populistas, que procuravam conter o choque entre as classes sociais, atraindo as classes 
populares e a burguesia industrial, prometendo um projeto que trouxesse benefícios para ambos. 
O governante, dotado de um grande carisma (chave para o líder político populista), apresenta-
se como o promotor das conquistas dos trabalhadores. 
 
 
69 
17.1 O CENÁRIO POLÍTICO NA DÉCADA DE 50 NO RN 
 
No dia 19 de janeiro de 1947 ocorreram eleições para governador do estado, após uma 
campanha bastante acirrada. José Augusto Varela de Albuquerque (PSD) e Floriano Cavalcanti 
(PSP/UDN) foram os dois contendores. A vitória de José Varela foi contestada, sob a alegação 
de fraude e coação, junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que, anulou as urnas em 
algumas zonas eleitorais. O entendimento do TRE deu a vitória ao candidato da coligação 
PSP/UDN, Floriano Cavalcanti. Foi a vez do PSD entrar com pleito junto ao Tribunal Superior 
Eleitoral (TSE) contra a decisão do TRE. Após seis meses, o TSE anulou a decisão do TRE e 
confirmou a vitória do pessedista José Varela que permaneceu no poder até 1951 (SUASSUNA, 
2002). 
Em 1950, através de um acordo partidário foi lançada a candidatura de Jerônimo Dix-
sept Rosado Maia para governador, o qual vendeu o pleito de forma expressiva. Em março, 
porém, pouco mais de um mês depois da posse de Dix-sept, faleceu, vítima de um desastre 
automobilístico, o seu mais importante auxiliar, o Secretário-Geral Mário Negócio. Essa 
tragédia marcou profundamente o seu governo. Cinco meses após a posse uma nova fatalidade 
abreviou o mandato de Dix-sept Rosado. Em 12 de julho de 1951, vítima de acidente aéreo, o 
jovem governador mossoroense morreu, sendo substituído pelo ex-prefeito de Natal e ex-
deputado estadual e então vice-governador Sylvio Pedroza (1951-1956), líder habilidoso e 
diplomático. 
No pleito de 1955, quando foi eleito presidente da República o mineiro Juscelino 
Kubitschek de Oliveira (PSD) e para vice-presidente da República o petebista João Goulart, 
herdeiro político de Vargas, o udenista potiguar Dinarte Mariz venceu Jocelin Vilar (PSD) na 
disputa pelo governo do Rio Grande do Norte. A vitória de Dinarte Mariz, para governador do 
estado em 1955, deu à UDN a liderança na política norte-rio-grandense, empurrando o PSD, 
então a mais forte agremiação partidária, para uma posição subalterna. O grupo cafeísta 
conquistou posições importantes, pois o seu apoio à candidatura de Dinarte Mariz rendeu a 
Djalma Maranhão o cargo de prefeito de Natal e inaugurou uma fase importante da história 
política local, a das lideranças políticas que escoravam a sua força no eleitorado urbano. 
 
17.2 O CENÁRIO POLÍTICO NA DÉCADA DE 60 NO RN 
 
Nos anos 60, o Brasil, passava por uma série crise política, agravada pelo conflito 
ideológico esquerda versus direita, com radicalismo de ambas as partes. Dentro desse contexto, 
 
70 
se destacava o antagonismo entre as forças nacionais ("comunistas") e as forças conservadoras 
("entreguistas"), com a participação ativa de políticos operários e estudantes. 
Como consequência da crise que abalava o País. Quadros renunciou, entregando o cargo 
de presidente da República a João Goulart, em agosto de 1961. Goulart, em agosto de 1961. 
Goulart tomou posse em 7 de setembro e governou, em regime parlamentarista, até ser deposto 
pelo golpe militar em 1964. 
As constantes crises políticas vividas pelo País refletiam e deixavam profundas marcas 
na região nordestina. Apesar do crescimento de sua produção industrial, a participação do 
Nordeste no produto total do País caía para 15,5%, índice menor do que o de outras regiões. 
Como consequências do processo de industrialização cresceram os centros urbanos, e, ao 
mesmo tempo, aumentava o êxodo rural, com o deslocamento de grande número de famílias 
para as grandes cidades. 
Um dos fatores que contribuíram para o êxito do populismo no Rio Grande do Norte foi 
a atuação da Igreja Católica, com a instalação dos sindicatos rurais e com o Movimento de 
Educação de Base. As campanhas de educação popular contribuíram também para acelerar o 
processo de politização das camadas mais humildes. Exemplos: a "Campanha de Pé no chão 
também se aprende a ler", em Natal, e ao “Movimento de Cultura Popular" em Recife, ambas 
em 1960. 
Foi, sobretudo no processo político que o descontentamento popular se refletiu no 
Nordeste, com grandes vitórias conquistadas pela oposição durante o período compreendido 
entre 1956 a 1962. No Rio Grande do Norte, em 1960, Aluízio Alves se elegeu governador e, 
no mesmo ano, Djalma Maranhão chegou à prefeitura de Natal, também pela oposição. A 
campanha política de 1960 se desenrolou num clima de muita agitação. O governo Dinarte 
Mariz deixou um testamento político que desorganizou, completamente, as finanças do Estado. 
O povo norte-rio-grandense estava asfixiado, aspirava por se livrar daquela situação, recebendo 
com entusiasmo a mensagem oposicionista que prometia reformular os processos 
administrativos, dinamizar a administração pública e criar as condições básicas para iniciar a 
industrialização, começando, dessa maneira, o desenvolvimento do Estado. Essa proposta de 
governo era defendida por um jovem e dinâmico político: Aluízio Alves. Uma vez candidato, 
rapidamente assumiu a liderança do seu grupo, organizando uma coligação partidária com a 
denominação de "Cruzada da Esperança", formada pelo PSD, PTB, PCB, PRP, PTN e 
dissidentes da UDN. Para vice-governador foi indicado Monsenhor Walfredo Gurgel, uma das 
mais expressivas lideranças do PSD seridoense. Para a prefeitura da Cidade do Natal, dois 
 
71 
líderes representantes da esquerda: Djalma Maranhão, para titular, e Luiz Gonzaga, para vice-
prefeito. 
Em nível nacional, a Cruzada da Esperança dividia-se. PSD, PTB e PTN apoiavam o 
marechal Lott para presidente da República, um homem honesto, nacionalista, porém, sem 
nenhuma aptidão política. Aluízio Alves e a dissidência da UDN apoiavam Jânio Quadros. Para 
vice-presidente, os candidatos eram João Goulart, com apoio do PSD, PTB e PTN, e Milton 
Campos, apoiado por Aluízio. Djalma Maranhão, um homem da classe média sem nenhuma 
ligação com qualquer grupo econômico forte, de mãos limpas, partiu para a sua campanha com 
muita garra. Sua atuação vai se caracterizar, principalmente, por dois aspectos. Primeiro, um 
caráter nitidamente ideológico. Nacionalista, desencadeava uma luta aberta contra o 
imperialismo. Segundo, a participação direta e espontânea do povo, em seus segmentos mais 
pobres. Dentro dessa linha de ação, foramcriados os Comitês Nacionalistas, cuja importância 
foi salientada por Moacyr de Góes: "a organização da campanha se fez em função dos Comitês 
Nacionalistas. A mobilização origina-se do Comitê, para o Comitê e pelo Comitê. Entre janeiro 
e fins de setembro, foram organizados e funcionaram 240 Comitês Nacionalistas também 
conhecidos como Comitês Populares ou Comitês de Rua. Esse número ganha maior expressão 
quando situado numa cidade de 160 mil habitantes, à época, tendo tido um comparecimento 
eleitoral de pouco mais de 36 mil votantes". A mobilização foi, portanto, muito grande. Crescia 
de importância porque não se fazia apenas a exaltação da personalidade do candidato Djalma 
Maranhão, mas ao mesmo tempo eram discutidos temas locais, regionais e nacionais. 
Paralelamente à campanha política propriamente dita, se realizava também um verdadeiro 
trabalho de politização das massas. Claro, uma vez politizado, o eleitor se integrava na luta 
nacionalista e anti-imperialista. A sua campanha fugia, e muito, das tradicionais campanhas 
políticas, cuja base era o ataque pessoal, tão comum no Rio Grande do Norte e no restante do 
Brasil. 
A campanha de Aluízio Alves foi radicalmente diversa da realizada por Djalma 
Maranhão quanto à metodologia de ação empregada. Bem mais sofisticada. Utilizando 
inclusive uma empresa publicitária. Empregando, de maneira racional e inteligente, os meios 
de comunicação de massa (rádio e jornal). Usando slogans, como "Fome ou Libertação?". 
"mendicância ou trabalho?", ou ainda "Miséria ou Industrialização?", colocava diante do eleitor 
o caos em que se encontrava o Estado, sugerindo uma mudança radical através da vitória da 
oposição. Esse triunfo marcaria o início de um processo de desenvolvimento no Estado do Rio 
Grande do Norte. 
 
72 
A "Tribuna do Norte", jornal de Aluízio Alves, produzia cerca de 5 mil exemplares 
diários, uma tiragem, bem maior do que "A Folha da Tarde", de Djalma Maranhão. Como disse 
Agnelo Alves, irmão de Aluízio Alves, e também jornalista, "foi o jornal que sedimentou a 
imagem de Aluízio, levando diariamente, durante dez anos, seu nome a todo o Estado". A 
'Tribuna do Norte' serviu para influenciar determinados segmentos da sociedade, como 
intelectuais, estudantes e grande parte do funcionalismo público federal, estadual e municipal. 
Contribuiu igualmente para a tomada de decisão de muitos indecisos. Com suas manchetes, 
notícias, fotos e editoriais traçavam um quadro inteiramente favorável aos candidatos da 
Cruzada da Esperança. 
A situação caótica em que se encontrava o Estado foi uma importante causa da vitória 
desta coligação partidária. A liderança carismática de Aluízio Alves empolgou o povo. Ciente 
de seu magnetismo pessoal, ele procurava por todos os meios manter o contato direto e pessoal 
com os eleitores. Os seus comícios e as suas passeatas impressionavam pelo número de 
participantes e pelo entusiasmo. Velhos, moços, crianças, mulheres de todas as idades, agitando 
nas mãos bandeiras e ramos verdes, cantando as músicas da campanha e gritando "Aluízio, 
Aluízio, Aluízio". Um espetáculo nunca visto no Rio Grande do Norte, suplantando, portanto, 
a campanha de José da Penha, o primeiro líder popular da história política do Estado. 
Enfim, Aluízio Alves aparecia como um "homem comum", simples, pobre, de 
resistência física extraordinária, passando noites inteiras acordado, em virtude de vigílias, 
lutando e sofrendo sempre ao lado do povo. Nesse aspecto, certamente, se aproximavam os dois 
líderes populistas: Djalma Maranhão e Aluízio Alves. Ambos se apresentavam como pessoas 
pobres, da classe média, sem dinheiro, lutando contra a máquina lubrificada, manipulada pelos 
poderosos. 
Havia, entretanto, uma grande diferença com relação ao posicionamento ideológico. Um 
da esquerda, o outro do centro. Para Djalma Maranhão, "o nacionalismo é ainda um movimento, 
uma revolução em marcha, para se transformar, no futuro, no mais poderoso partido de toda a 
História do Brasil". Aluízio Alves definia o seu nacionalismo de outra maneira: "o nosso 
nacionalismo é, por isso, pragmático, e se despe de qualquer sentido ideológico de classe. Ele 
assenta no esforço capitalista, o esforço público, no esforço misto. Os seus dois objetivos são: 
primeiro, entregar a instrumentos brasileiros que representam a iniciativa privada e pública o 
comando da economia, estabelecendo mecanismo através do qual o enriquecimento nacional 
não se acumula nas mãos de poucos e antes alcance seu legítimo usufrutuário, que é o povo; 
segundo, criar no Nordeste parcela significativa e ponderável de um grande mercado interno 
que funcione para si e apenas secundariamente para o mercado externo". "Tal nacionalismo não 
 
73 
é anti coisa alguma. Nem anticapitalista nem antissocialista. Ele se situa fora da área do debate 
ideológico para inserir-se corretamente na área em que o nacionalismo deve, por natureza 
colocar-se para colher o apoio de toda a Nação". 
 
17.2.1 O Governo Djalma Maranhão e suas prioridades 
 
O primeiro problema grave enfrentando por Djalma Maranhão foi, sem dúvida, o déficit 
orçamentário. O prefeito encarou o problema como sendo um grande desafio para seu governo. 
Em primeiro lugar, integridade. Em segundo lugar, tomou medidas para solucionar a crise: 
Código Tributário do Município. Cadastro Fiscal da Prefeitura e aumento de alíquota do 
imposto de Indústria e Profissões. Djalma Maranhão promoveu uma série de iniciativas que 
marcaram o dinamismo de sua administração: Galeria de Arte, Palácio dos Esportes, Estação 
Rodoviária, construção de galerias pluvias, etc. 
Na área cultural, realizou o "I Seminário de Estudos dos Problemas de Educação e 
Cultura do Município de Natal", quando diversos temas forma tratados com objetividade por 
eminentes especialistas: Luís da Câmara Cascudo, João Wilson Melo, Pe. Manoel Barbosa, 
Ivamar Furtado, Max Cunha Azevedo, Chicuta Nolasco Fernandes, Newton Navarro, entre 
outros. Mas o que imortalizou o governo de Djalma Maranhão foi, sem dúvida, a "Campanha 
de Pé no Chão Também se Aprende a Ler", coordenada pelo professor Moacyr de Góes, 
secretário de Educação. O objetivo da campanha era a erradicação do analfabetismo na Cidade 
do Natal. A situação, nesse setor, impressionava. Segundo Moacyr de Góes, "o índice de 
analfabetismo na população acima de 14 anos, era o mais alto do Nordeste (59,97%) e, em 
Natal. O Censo de 1960 revelava a existência de 60.254 adultos". 
Consultando as pessoas residentes nos bairros periféricos, Djalma Maranhão descobriu 
que a necessidade número um, reclamada por todos, era uma só "escolas para crianças que, sem 
poder adquirir farda ou sapatos, não podiam frequentar os grupos escolares construídos pelo 
governo do Estado. As crianças sem estudos, sem divertimentos, sem boa alimentação, sem 
roupas, na miséria, eram as futuras prostitutas e os futuros marginais. Elas precisavam, portanto, 
aprender a ler e a escrever para, prosseguindo nos estudos, pudessem ascender socialmente. A 
escola deveria, fornece tudo: o professor, a carteira, o material escolar e, inclusive, a merenda. 
A educação, portanto, seria o único caminho pelo qual os meninos pobres poderiam mudar de 
"status", sair da miséria. Djalma Maranhão, ligado desde suas origens, às reivindicações 
populares, compreendeu de imediato a dramaticidade daquela necessidade. Aceitou o desafio. 
Designou o professor Moacyr de Góes para planejar, organizar e executar a campanha para 
 
74 
erradicar o analfabetismo em Natal. Uma diretora de Acampamento, ao observar que seus 
alunos chegavam atrasados às aulas, teve uma ideia: antes do início das aulas, promovia uma 
minipartida de futebol. Assim, diariamente, os meninos jogavam sua partidazinha de futebol. 
Criando, ao mesmo tempo, o hábito de acordar cedo para chegar na escola na hora certa. 
Em abril de 1961, através de uma carta, Djalma Maranhão mostrava o porquê dacampanha: "Há momentos decisivos na vida dos povos. É a hora em que a História marca as 
suas encruzilhadas. Acreditamos que o povo brasileiro vive um desses momentos. Na sua luta 
contra o subdesenvolvimento ele precisa se erguer do solo e ganhar a sua independência de 
ação. E só poderá fazer isso se for alfabetizado e tiver uma educação mínima que o faça 
afirmativo na sociedade. Acreditamos que chegamos nessa encruzilhada: ou o povo se 
alfabetiza ou se escraviza.". 
Após apresentar dados estatísticos sobre o analfabetismo em Natal, dizia o que estava 
fazendo: “o número de ‘Escolinhas’ já está em 205”. Mas são precisas 1.878 para erradicar o 
analfabetismo da Cidade. Presentemente estamos ensinando a ler até debaixo de palhas, pois 
nas Rocas construímos cinco pavilhões de 8 metros por 30, cobertos de palhas de coqueiros, 
com piso de barro batido, onde estudam cerca de 1.200 crianças e 300 adultos. Bem justificado 
é o nosso slogan: “DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDER A LER”. Para realizar tal 
obra, o prefeito solicita ajuda da população: "Por outro lado, a Prefeitura, sozinha, não está 
capacitada financeiramente para arcar com todos os ônus da educação popular na cidade. 
Precisamos, assim, da ajuda de todos. Precisamos da sua ajuda". Para concluir, afirma Djalma 
Maranhão: "Queremos ser soldados da campanha de um amanhã melhor para o povo, através 
da educação. Nessa mensagem queremos recordar a você. De Natal subdesenvolvido, no 
Nordeste subdesenvolvido, clamamos para todo o Brasil: precisamos nos dar as mãos, numa 
grande força, para alfabetizar o povo e oferecer-lhe a educação necessária ao desenvolvimento 
do País". 
A campanha cresceu de maneira extraordinária passando por várias fases. A das 
"escolinhas municipais", que funcionavam em salas cedidas por particulares. Depois, os 
"Acampamentos Escolares", escolas rústicas com piso de barro batido e cobertas por palhas de 
coqueiros. Para os adultos que não queiram estudar nos "acampamentos", o ensino era feito na 
casa do analfabeto, onde se reunia um grupo não superior a seis pessoas. Os professores eram 
recrutados entre meninos e meninas do Grupo Escola Isabel Gondim, que se apresentavam para 
ensinar sem receber salário. Um fato de grande importância foi sem dúvida a construção do 
Centro de Formação de Professores, cuja direção, foi entregue à professora Margarida de Jesus 
Cortês. O "Centro" passou a ser o cérebro da campanha. 
 
75 
Atendemos a uma necessidade da população mais carente, da periferia da cidade, foi 
criada a "Campanha de Pé no Chão Também se Aprende uma Profissão". Simultaneamente, o 
governo do Estado adotou o médico Paulo Freire, em iniciativa pioneira de alfabetização em 40 
horas. 
 
17.2.2 O Governo Aluízio Alves e suas prioridades 
 
O governo Aluízio Alves pretendia revolucionar a administração pública, inovando, 
modernizando através de uma ação dinâmica, construindo as condições básicas para o 
desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Aluízio Alves tinha consciência, portanto, da 
verdadeira situação em que se encontrava o Estado: uma região atrasada, subdesenvolvida e 
totalmente despreparada para construir o seu desenvolvimento industrial. Além dessa 
conjuntura geral, o funcionalismo e os fornecedores do governo estavam sem receber 
pagamento há sete meses. O governador procurou melhorar o nível dos funcionários, através 
de cursos, criando gratificações e dando promoções aos que participassem desses treinamentos. 
Essa política era básica para um governo que tinha pressa. Isso, contudo, não era suficiente para 
modernizar o processo administrativo. A máquina burocrática, arcaica e ultrapassada, não 
oferecia condições para atender a demanda de tantas iniciativas. Para suplantar tais obstáculos, 
o governo não vacilou em criar novas entidades, como a Companhia de Serviços Elétricos do 
Rio Grande do Norte (Cosern), Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte (Telern), 
Serviço Cooperativo de Educação (SECERN), entre outros. 
Para iniciar o processo de desenvolvimento era necessário, sobretudo energia farta e 
barata., facilidade de comunicação com os grandes centros urbanos e boas estradas. Na criação 
da Companhia Hidroelétrica de São Francisco (Chesf), para trazer energia elétrica de Paulo 
Afonso para o Nordeste, foram excluídos os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, 
sob a alegação da exploração econômica pela distância superior a 500 quilômetros. Deputado 
federal em 1947, Aluízio Alves lutou durante 13 anos para mudar essa situação, só vindo a 
conseguir a inserção dos três Estados em 1960. Em 1963, como governador do RN, criou pela 
lei 2.721, de 14 de setembro de 1961, a Cosern - Companhia de Serviços Elétricos do Rio 
Grande do Norte, que implantou a energia de Paulo Afonso no território norte-rio-grandense, 
iniciando uma grande obra de infraestrutura para o desenvolvimento industrial e, mais tarde, 
agroindustrial. Resultado: diversas cidades passaram a contar com a energia de Paulo Afonso 
(Taipu, Currais Novos, Acari, etc.). O custo total do plano de eletrificação atingiu a cifra de R$ 
2.283 milhões. Para que se possa ter uma ideia do significado da obra realizada, é suficiente 
 
76 
dizer que, em 1960, 14% da população se beneficiavam dos serviços elétricos. Em 1965, 39% 
da população recebiam os benefícios da energia elétrica. 
No campo das telecomunicações, o governo investiu cerca de R$ 1,3 bilhões, devendo 
salientar que 90% desse capital saíram dos cofres estaduais e o restante foi completado pelas 
prefeituras municipais. 
A 3 de setembro de 1963, foi criado a Telern. Era uma iniciativa pioneira, das mais importantes 
que, juntamente com o plano de eletrificação e com a construção de estradas (365,6 Km de 
estradas construídas de 1961 a 1964, num investimento total de R$ 7.476.933.146,00), criavam 
aquelas condições mínimas que possibilitariam um desenvolvimento maior do Rio Grande do 
Norte. 
A educação, contudo, se constituía num dos problemas mais graves do Estado. Por essa 
razão, passou a ser uma das prioridades do novo governo. Nessa área, a situação era caótica, 
como demonstram os dados divulgados na época: "mais de 65% de analfabetos; podendo-se 
afirmar que cerca de 80% da população ativa apenas sabia assinar o nome; das 250.655 crianças 
em idade escolar, as escolas estaduais só podiam atender a 55 mil, enquanto as municipais 
apenas 27 mil e as particulares não abrigavam mais de 28 mil, num total deprimente de 110 mil 
matrículas. O déficit de mais de 140 mil crianças sem escola, sem nenhuma possibilidade de 
aprender a ler e a escrever, representava mais da metade da população escolar. O Estado contava 
tão somente com 1.020 salas de aula, ocupando 826 prédios, dos quais só 660 portavam 
diploma, e entre os restantes incluíam-se diaristas sem habilitação para o magistério e sem 
estabilidade funcional, reduzindo-se a apenas 2.121 professores". 
Para mudar esse quadro, o governo elaborou diversos projetos que, para sua execução, 
contou com recursos da Aliança para o Progresso, da SUDENE, do MEC e, ainda, do governo 
do Estado. Para administrar os recursos recebidos, foi criado um órgão estruturado de maneira 
moderna e dinâmica, a SECERN, cujo diretor executivo era o secretário de Educação, o 
jornalista Calazans Fernandes. O governo lançou, então, o plano de "FAZER EM 3 ANOS O 
QUE NÃO SE FEZ EM TRÊS SÉCULOS". A grande meta seria "alfabetizar 100 mil pessoas 
acima da idade escolar primária". O governo almejava ainda a extensão da escolaridade a todas 
as crianças do Estado e a construção de mil salas de aulas. 
Para educar o maior número de pessoas no menor espaço de tempo foi lançada a 
Experiência de Angicos, quando foi adotado o método do professor Paulo Freire. O resultado 
da experiência foi considerado altamente positivo: "A batalha durou 40 dias como estava 
prevista. Encerrou-se a experiência pioneira, como resultados que despertou a atençãode todo 
o Brasil: aproveitamento de 70% na alfabetização e 80% na conscientização cívica". 
 
77 
Em 1965, cresceu o número de professores, ou seja, 61% a mais do que em 1960. Para 
atender a demanda sempre crescente de alunos e acabar com o déficit de edifícios escolares, o 
executivo estadual agiu da seguinte maneira: 
a) recuperou velhos prédios; 
b) construiu novos edifícios; 
c) cursos de 1º grau passaram a funcionar em prédios de grupos escolares. 
No ensino de primeiro grau, foram construídas 253 salas de aula em sessenta e sete 
escolas, num total superior a 30 mil metros quadrados de área coberta. No ensino secundário, o 
governo construiu três edifícios, onde funciona o Instituto Padre Miguelinho, Instituto 
Presidente Kennedy - onde hoje está instalado um Curso de Licenciatura Plena, preparando 
professores para o Ensino Fundamental - e o Centro Educacional Winston Churchil. A 
capacidade de matrícula, de 1960 até 1965, aumentou cerca de 60%. 
No ensino superior, foi criada a Faculdade de Jornalismo, instalado o Instituto Juvenal 
Lamartine de Pesquisas Sociais e, ainda, adquirida a Faculdade de Filosofia. Foi criada também 
a Fundação José Augusto, que abrigou em seu seio, além das instituições já citadas, outras como 
a Biblioteca Pública, Centro de Estudos Afro-asiáticos, Centro de Cultural Hispânica e Escola 
de Arte Infantil Cândido Portinari, fazendo com que essa fundação se transformasse numa 
verdadeira secretaria para assuntos culturais. 
Aluízio Alves adotou uma política de bem-estar social da maior importância. Investiu 
no campo da saúde, assistência social, habitação popular e abastecimento de água. Ampliou os 
serviços de abastecimento de água em Natal, Mossoró e Caicó, implantando o sistema de 
Angicos e Santana do Matos. Instalou o serviço de mini abastecimento em 30 municípios. Em 
Natal, no ano de 1965, com relação ao serviço de água, os prédios atingidos por esse benefício 
chegavam à casa dos 100%! O sistema de esgoto, na capital, atingia, em 1960, apenas 10% dos 
edifícios e em 1965, quando Aluízio deixou o governo, o índice já alcançava 75% dos edifícios. 
A Telern (Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte) promoveu a interligação, 
pelo sistema interurbano, de várias cidades do Estado (Caicó, Currais Novos, Cerro Corá, 
Macau, Mossoró e Areia Branca) com Natal. Ligando, pelo mesmo sistema, o Rio Grande do 
Norte com outros Estados do País. 
No turismo, o Rio Grande do Norte não possuía nenhum hotel de grande porte. O 
governo construiu o Hotel Reis Magos, o primeiro de categoria internacional. 
O poder público estadual criou ainda a CODERN (Companhia de Desenvolvimento do 
Rio Grande do Norte) para planejar o desenvolvimento, orientando os investimentos que 
modificaram a estrutura econômica do Rio Grande do Norte. 
 
78 
18. A EDUCAÇÃO NO RN 
 
No Rio Grande do Norte, o processo educativo começou quando foram instaladas as 
vilas, que ficaram sob a administração dos missionários, inclusive com a tarefa da instrução 
civil e religiosa. As meninas foram excluídas do ensino. 
Quando as missões religiosas foram extintas, o missionário foi substituído pelo mestre-
escola nas sete vilas que existiam no Rio Grande do Norte. Em 1827, surgiram as primeiras 
escolas primárias. Foram duas: uma pertencia a dona Francisca Josefa Câmara e a outra, a 
Francisco Pinheiro Teixeira. As primeiras escolas do interior surgiram dez anos depois: São 
José de Mipibu, Princesa, Goianinha, Arês, Touros, Mossoró, Acari, Apodi. 
Em 1834, o ensino primário foi desmembrado do secundário, e os governos provinciais 
passaram a manter os cursos chamados de "Humanidades" ou "Aulas Maiores". Basílio 
Quaresma Torreão fundou o Ateneu que passou a funcionar no dia 3 de fevereiro de 1834. 
Basílio Quaresma escolheu o nome da escola, da versão portuguesa de Athénaion. Como 
explicou Câmara Cascudo, "no Ateneu de Atenas os poetas liam os poemas e os historiadores 
o relato dos jornais pelas terras estranhas e misteriosas". 
O Ateneu passou a funcionar numa dependência do Quartel do Batalhão de Linha, 
porque o prédio estava desocupado. Foi extinto em 1852. O presidente da Província, Antônio 
Bernardo de Passos, fez a escola voltar a funcionar em 1856, mas só se considerou a partir de 
1º de março de 1859, quando o presidente Nunes Gonçalves a instalou num edifício novo. 
No dia 11 de março de 1954, reinstalou-se o Ateneu em um prédio moderno, em forma 
de X, com um ginásio coberto, para a prática de esportes e de educação física, graças aos 
esforços do professor Severino Bezerra de Melo, diretor do Departamento de Educação, e do 
interesse do governador Sylvio Pedrosa, em cujo governo a obra foi concluída. O nome foi 
modificado para Instituto de Educação porque se pretendia, de fato, fazer funcionar um instituto 
de Educação, inclusive com um Grupo Escolar Modelo. Essa proposta não foi concretizada na 
sua totalidade. O Ateneu absorveu tudo. Conforme Chicuta Nolasca Fernandes, "a Escola 
Normal ocupou uma perninha do X, exatamente onde nem sequer havia sanitários”. “Por essa 
razão, ela desabafou: A Escola Normal era uma hóspede indesejável no Ateneu”. E numa 
entrevista com Sylvio Pedrosa fez reivindicações. Como consequência dessa conferência, o 
governo construiu outro edifício, destinado à Escola Normal, Escola de Aplicação e Jardim 
Modelo, formando um novo Instituto de Educação. O ensino que visava preparar professores, 
para lecionar no ensino primário, teve um começo dos mais difíceis. A primeira Escola Normal, 
criada pelo presidente João Capistrano Bandeira de Melo Filho, foi inaugurada no dia 1º de 
 
79 
março de 1874, funcionando numa dependência do Ateneu, sendo extinta pelo presidente José 
Nicolau Tolentino de Carvalho. Foram criadas, outras duas escolas normais. Ambas, entretanto, 
não chegaram a funcionar. A quarta Escola Normal foi a que frutificou, segundo Câmara 
Cascudo. Fundada em 24/4/1908, como a primeira, anexada ao Ateneu até 1910. 
A 2 de janeiro de 1911, iniciou os seus trabalhos no prédio do Grupo Escola Augusto 
Severo. Em março de 1966, no governo Aluízio Alves, a Escola Normal, após ser "hóspede" do 
Instituto de Educação e funcionar na Praça Pedro Velho, foi transferida para novas instalações, 
em Lagoa Nova, com linhas arquitetônicas modernas, passando a se chamar Instituto Presidente 
Kennedy. Inaugurado quando o senador norte-americano Robert Kennedy veio a Natal. 
A Revolução no ensino primário em Natal foi realizada pela Campanha “De Pé no Chão 
Também se Aprende a Ler”, na administração Djalma Maranhão (61/64). Em 1962, Djalma 
Maranhão fundou o Centro de Formação de Professores, com o Ginásio Normal e o Pedagógico. 
Na administração do prefeito Tertius César Pires Rebello, o Centro passou a se chamar 
Instituto Municipal de Educação, 
O ensino normal teve seu grande momento em 1966. Quando o professor Alberto 
Pinheiro de Medeiros, diretor do IME, idealizou uma semana do normalista, promovida em 
conjunto pelas Escolas Normais de Natal. Contou, de imediato, com o apoio da professora 
Chicuta Nolasco Fernandes, diretora do Instituto Presidente Kennedy. Participaram do evento 
o Instituto Municipal de Educação, Instituto Presidente Kennedy, Instituto Nossa Senhora 
Auxiliadora e o Colégio Imaculada Conceição. A 1ª Semana do Normalista Conjunta ocorreu 
no período de 10 a 14 de outubro de 1966. Houve desfile, conferências, debates e jogos. Foi 
encerrada, solenemente, com um festival artístico, no Teatro Alberto Maranhão. Circulou um 
jornal. "O normalista", que publicou trabalhos das alunas. 
Voltando a falar sobre o Ateneu, é preciso dizer que o nome Instituto de Educação teve 
curta duração. Passou, pouco depois, a se chamar Colégio Estadual do Rio Grande do Norte, 
porém, no dia 3 de fevereiro de 1959, durante o governo de Dinarte Mariz, recebeu a 
denominação de Colégio Estadual do Ateneu Norte-Rio-Grandense. Desde os primeiros 
tempos, o Ateneu setornou um centro de cultura, como disse Tarcísio Medeiros: "em derredor 
da vida docente e discente do Ateneu, pode-se dizer sem susto, criou-se e expandiu-se a cultura 
potiguar. Os alunos graduados por ele formaram instituições outras que existem até hoje. 
Criaram centros literários, jornais e associações nos quais imprimiram culto de moral e 
civismo". 
Após a proclamação da República, o ensino progredia, abrindo, inclusive, novas 
oportunidades às pessoas do sexo feminino. Em 1903, as primeiras mulheres prestam exames 
 
80 
de Humanidades, no Ateneu. Algumas mulheres se destacaram na vida intelectual potiguar: 
Isabel Gondim, Dionísia Gonçalves Pinto (Nísia Floresta) e Auta de Sousa. 
O século XX marca o aparecimento de outras escolas. Em Natal: Colégio da Imaculada 
Conceição (1901), Colégio Diocesano Santo Antônio (Marista, 1903), Colégio Nossa Senhora 
das Neves (1932). No interior: Colégio Coração de Maria (Mossoró - 1912), Colégio Santa 
Terezinha do Menino Jesus (Caicó - 1952), Colégio Santa Águeda (Ceará-Mirim - 1937), 
Colégio Nossa Senhora das Vitórias (Açu - 1927), etc. 
No dia 01 de setembro de 1914, foi criada a Escola Doméstica, a primeira do Brasil na 
sua especialidade, sendo um de seus fundadores, Henrique Castriciano de Sousa e contava no 
seu corpo docente com professoras francesas, inglesas, norte-americanas e suíças. O corpo 
discente era formado também por alunas vindas de outros Estados, porém, a maioria das alunas 
eram jovens de famílias do interior, filhas de fazendeiros, comerciantes e criadores. 
Em 24 de junho de 1917, surgiu uma instituição que desempenhou grande influência na 
formação moral e cívica da juventude natalense: "Associação dos Escoteiros do Alecrim", 
fundada por um grupo de idealistas (Luís Soares Correia de Araújo, Elói de Souza, Meira e Sá, 
Henrique Castriciano, Moisés Soares e Monteiro Chaves). 
O ensino Profissional começou a ser ministrado no século XX, com a fundação da 
Escola do Comércio de Natal, no dia 8 de dezembro de 1919. E, sob a inspiração do segundo 
bispo de Natal. D. Antônio dos Santos Cabral, foi instalada a Escola Feminina de Comércio, 
que teve uma experiência efêmera. Depois, surgiu outra, que funcionou no Colégio Imaculada 
Conceição, em 1932. Três anos depois, Mossoró instalava uma escola de comércio. 
O crescimento do ensino nessa área culminou com a criação de duas escolas de nível 
superior. Em Natal, foi fundada a Faculdade de Ciências Econômicas e Contábeis (1957). Um 
pouco depois, 1961, a União Caixeiral de Mossoró fundou a Faculdade de Ciências 
Econômicas. 
O primeiro estabelecimento de ensino superior, entretanto, foi fundado em 1923, pelo 
decreto nº 192: Faculdade de Farmácia, que conseguiu formar apenas dois alunos. Álvaro 
Torres Navarro e José de Almeida Júnior, fechando logo depois. Um de seus professores, 
contudo, Varela Miranda, criou um produto que ainda hoje é comercializado com o nome de 
"Sanarina". 
Após 1934, o ensino secundário passou por algumas transformações, até chegar o ensino 
de primeiro grau e de segundo grau. Nessa época, somente os estudantes filhos de pais ricos ou 
que pertenciam a uma família que tivesse bons recursos financeiros poderiam estudar em 
faculdades, em outras capitais do Nordeste ou mesmo do Sul do País. Acontece que Natal 
 
81 
passou por grandes mudanças, devido à Segunda Guerra Mundial, possibilitando, como disse 
Itamar de Souza, "às elites locais um intercâmbio como personagem de uma cultura, mais 
cosmopolita. (...) A guerra desprovincializou Natal”. Outro fator importante: o movimento 
operário cresceu no País, com os deputados federais debatendo na Câmara questões sociais, 
com reflexos no Rio Grande do Norte. Cresceu, em Natal, o prestígio de Café Filho nas classes 
mais humildes, José Augusto de Medeiros, adversário político de João Café Filho, eleito 
governador do Estado, criou a 1º de maio de 1925, numa solenidade realizada no Teatro Carlos 
Gomes (hoje Alberto Maranhão), a primeira universidade popular do Rio Grande do Norte. As 
aulas eram administradas através de conferências, sendo assistidas por grande número de 
operários. Surgiram, posteriormente, as universidades populares de Goianinha e a de Touros, 
ambas em 1925. 
Em 1944, por iniciativa de D. Marcolino Dantas, o curso de Filosofia dos padres 
salesianos, que era ministrado em Jaboatão (PE), foi transferido para Natal. Tratava-se, como 
disse Itamar de Souza, "do Instituto Filosófico São João Bosco, destinado a formar os clérigos 
salesianos em filosofia, ciências e letras". Esse instituto funcionou até 1959. 
Câmara Cascudo fundou a universidade popular, sendo instalada no dia 1º de maio de 
1948, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. 
Com a multiplicação das escolas de nível superior, começava a se formar a base da 
futura universidade federal: Faculdade de Medicina (1955), Escola de Auxiliar de Enfermagem 
(1955), Faculdade de Filosofia (1955), Escola de Engenharia (1957). Dr. Onofre Lopes, após 
grandes esforços, conseguiu ver seu sonho realizado: a universidade estadual foi criada pela lei 
2.307, de 25/06/1958, no governo de Dinarte Mariz. Dr. Onofre Lopes da Silva foi o seu 
primeiro reitor. Incansável, iniciou a luta pela federalização. Essa aspiração se concretizou pela 
lei no 3.849, em 18/12/1960, assinada pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek de 
Oliveira. 
Como consequência de um verdadeiro "boom" universitário no Brasil, a Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte passou por um período de expansão, ocorrido, sobretudo nos 
anos compreendidos entre 1971 e 1979, nas administrações de Genário Alves Fonseca (1971 a 
1975) e de Domingos Gomes de Lima (1976 a 1979). Com Genário Alves Fonseca, em 1972, 
foi implantada a TV Universitária. Em 1974, algumas unidades foram transferidas para o 
campus e foram, também, criados novos cursos de graduação: Arquitetura, Engenharia Elétrica, 
Química, etc. 
No ano de 1973, a universidade partia para conquistar o interior, com a instalação do 
Núcleo Avançado de Caicó. Depois, viram os campi de Currais Novos, Macau e Santa Cruz. A 
 
82 
administração do professor Gomes de Lima foi sintetizada da seguinte maneira por Itamar de 
Souza: "Este foi o quadriênio de maior dinamismo da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte. A capacidade de trabalho do Magnífico Reitor, professor Domingos Gomes de Lima, 
transformou a vida universitária em todos os setores". 
Em síntese, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte não apenas substituiu o 
papel exercido antes pelo Ateneu, como foi mais além, dando uma efetiva contribuição ao 
desenvolvimento do Estado. 
O Instituto Presidente Kennedy, no governo de José Agripino, quando Marcos Guerra 
exercia as funções de secretário de Educação, foi redimensionado, através de uma proposta com 
o objetivo de formar um novo professor. Passou, então, a ofertar um convênio entre a 
Universidade Regional do Rio Grande do Norte, que legalmente oferta o curso. A primeira 
diretora, a partir da execução desse projeto, foi a professora Eleika Bezerra Guerreiro, contando 
com a consultora pedagógica Maria Isaura Pinheiro, com larga experiência na formação de 
professores. Os professores-alunos pertencem ao Estado e a alguns municípios. 
O sistema cooperativista de ensino foi implantado em Natal, no ano de 1993, quando 
começou a funcionar o Colégio Cooperativista Independente, fundado por funcionários do 
Banco do Brasil. 
Outra escola que funcionava nesse sistema é o Colégio Cooperativista Freinet, fundado 
em 1996. Para Eleika Bezerra Guerreiro, uma das fundadoras do Freinet, "trata-se de garantir 
aos pais a opção de um ensino de qualidade a preços acessíveis. Com isto estaremos 
contribuindo para a diminuição de um grave problema social". 
 
 
 
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