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Unoesc
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas: Ed. Ridendo Castigat Mores, 1764.
Fábio Lemes
XANXERÊ-SC
2020
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas: Ed. Ridendo Castigat Mores, 1764.
O jurista italiano Cesare Beccaria, considerado o principal representante do iluminismo penal e da Escola Clássica do Direito Penal, foi o autor do clássico livro Dos delitos e das penas, em 1764. Sendo uma das obras inauguradoras do humanismo iluminista do século XVIII, Beccaria trata do despertar a respeito de uma sociedade desigual. Mesmo com tamanha distância temporal, a obra mantém influência nos avanços do sistema penal até hoje. Além disso, é possível verificar que vários dos princípios defendidos pelo autor são apresentados na legislação brasileira atual.
O escritor introduz o seguinte dilema: mesmo que as vantagens da sociedade devam ser repartidas entre todos os seus membros, a tendência contínua é de que se acumule no menor número os privilégios, o poder e a felicidade, enquanto a maioria só resta miséria e fraqueza. Diante disso, aponta como solução o uso de boas leis para combater os abusos das minorias, assim, promovendo o bem-estar social. Mais adiante, trata a respeito dos abusos na aplicação de penas, que, além de desumanas, eram falhas. Beccaria afirma:
Ninguém se levantou, senão frouxamente, contra a barbárie das penas em uso nos nossos tribunais. [...] e muito poucas pessoas tentaram reprimir, pela força das verdades imutáveis, os abusos de um poder sem limites, e fazer cessar os exemplos bem freqüentes dessa fria atrocidade que os homens poderosos encaram como um dos seus direitos (p. 8)
	Devido à revolta diante crueldades e irregularidades, apresenta seus anseios de reforma, baseados em princípios gerais e no debate dos principais erros da legislação em vigor na época.
	Proposta por Rousseau, a teoria do Contrato Social é utilizada por Beccaria em sua obra. O autor elucida, no segundo capítulo, a respeito da origem das penas e do direito de punir. O contrato social estabelecido é entre a sociedade e o Estado, onde a sociedade sacrifica uma parte de sua liberdade para que, em troca disso, o Estado responda com a garantia de segurança e proteção aos bens tutelados pelo Direito Penal. 
Entretanto, havia necessidade de meios que protegessem os bens tutelados, coibindo infrações penais, e estas eram as penas: sanções ao descumprimento das normas, punindo aquele que desviou-se do contrato social. Beccaria trata também das penalidades excedentes como abusivas: “As penas que ultrapassam a necessidade de conservar o depósito da salvação pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas serão quanto mais sagrada e inviolável for a segurança e maior a liberdade que o soberano conservar aos súditos”.
	Conforme Cesare Beccaria, no terceiro capítulo, podem ser três as consequências em relação à aplicação dos princípios que devem nortear o processo penal:
1) Diz respeito ao princípio da reserva legal, onde só as lei podem fixar penas de cada delito. Além disso, garante que a competência de produzi-las cabe ao legislador.
2) Garante que o legislador deve criar leis gerais, dirigidas a toda a população, e não a casos específicos.
3) Indica aversão às penas cruéis, odiosas, inúteis e que contrariam os fins propagados pelo contrato social
Já no quarto capítulo, Beccaria afirma que não cabe aos juízes o direito de interpretação das leis penais, e sim ao legislador. De acordo com o autor, os legisladores são depositários das vontades atuais de todos, assim, representando a vontade social. Enquanto isso, ao juiz caberia apenas examinar se o agente infringiu ou não a lei. Sendo assim, é possível a análise de que o autor favorece a mens legislatoris, intenção do legislador ao criar a norma, e não a mens legis, que visa interpretar a norma no seu sentido literal. O objetivo insere-se em resguardar a real intenção proposta na lei, de modo que alcance seu real anseio pretendido.
	Mais adiante, no quinto capítulo, o escritor aborda a respeito da importância da clareza da norma, pois sua obscuridade, falta de clareza, é tão maléfica quanto a arbitrariedade tomada por um juiz. Diante disso, retrata sobre a acessibilidade da escrita das leis, que devem estar disponíveis para que a população possa tomar conhecimento acerca das consequências impostas a determinados atos. Com isso, o agente sente-se enfraquecido a tomar certas atitudes, sabendo que será coagido, diminuindo assim a criminalidade.
	Cesare Beccaria analisa no sexto capítulo o quanto era bárbaro e defeituoso o ordenamento jurídico em relação ao processo prisional da sociedade de meados do século XVIII. A princípio, um dos casos mais contraditórios da época, como afirma o autor, era a cominação da pena de prisão ser executada pela figura do magistrado e não por um processo legislativo, no qual seriam apresentados os delitos que caberia tal sanção. O autor deixa claro a sua visão humanitária acerca do papel das prisões ao relatar: “quando as prisões já não forem a horrível mansão do desespero e da fome, quando a piedade e a humanidade penetrarem nas masmorras” (p.14-15). Para ele, a prisão não deveria ser um lugar de tormento e crueldade, em vista que ali ficavam tanto os condenados por graves delitos quanto cidadãos inocentes.
Um evento importante para que o sistema criminal de uma sociedade seja eficiente é a observância da necessidade de se ter claros os indícios de um delito. No 7° capítulo, o autor preocupa-se com os indícios do delito e as formas de julgamento. Beccaria desenvolve um raciocínio de constatar os tipos de provas, sendo elas: perfeitas e imperfeitas. Além disso, para que ocorresse um julgamento perfeito e livre de infelizes resultados, era necessário um equilíbrio entre o que julga, o acusado e o ofendido, ou seja, “quando o culpado e o ofendido estão em condições desiguais, os juízes devem ser escolhidos, metade entre os iguais do acusado e metade entre os do ofendido, para contrabalançar assim os interesses pessoais” (p. 16-17). Para Beccaria, à essa forma de julgamento não incidiria os princípios morais e valores pessoais por parte dos elementos que o compõe, mas prevaleceria somente a verdade dos fatos e a lei.
Atualmente, diante de um julgamento criminal, é imprescindível o papel da testemunha para a composição e evolução dos fatos do crime, e é o tema principal do oitavo capítulo. Beccaria, no século XVIII, já mencionava os cuidados que o julgador deveria ter quanto às provas testemunhais. A primeira qualidade que uma testemunha precisaria ter é o que chamamos de homem médio, a quem Beccaria intitulou de homem razoável. Outra característica era o interesse em não mentir em julgamento, o que poderia ser facilmente observado através das relações que a testemunha teria com o acusado, como ódio, amizade, laços de parentesco etc.
Não obstante, para que houvesse a real clareza dos fatos, precisaria de mais de uma testemunha, dado que, se o acusado negasse o que teria sido dito pela testemunha e na falta de demais provas, o juiz haveria de conceder a sua absolvição. De acordo com a gravidade do delito, haveria de ponderar mais cuidadosamente os fatos narrados pela testemunha, observando possíveis situações impossíveis descritas nas suas palavras, como magia ou ações cruéis fúteis, sem motivos.
Já no nono capítulo, ao se tratar das acusações secretas, que, à época, eram muito comuns, o jurista defende veementemente a sua total desaprovação. Para ele, este tipo de conduta é característico de um governo regido por uma Constituição fraca, e ainda mais, “tal uso torna os homens falsos e pérfidos” (p. 19).
Posteriormente, no 10° capítulo, o autor, Beccaria, concisamente, explica que não se deve utilizar interrogatórios sugestivos, onde o réu fique à mercê do tribunal e como dito popularmente “se jogue ao fogo”, assumindo a culpa do delito, sem necessariamente ser culpado. O interrogatório deve ocorrer com perguntas coerentes e que não tenham caráter acusatório que influencie negativamente a sentença. O juiz deveir ao fato indiretamente, e nunca em linha reta. A crítica principal proposta pelo autor, em relação à esse tipo de julgamento, justifica-se pela utilização da dor para obter informações do acusado.
A respeito dos juramentos, no 11° capítulo, Beccaria afirma que fazer o juramento é uma espécie de autocondenação, onde o acusado estará praticamente decretando o seu fim, olhando pelo lado do processo de condenação, por esse exato motivo, o juramento é levado de forma quase que invalida pelos acusados, pois estes, são indiretamente forçados a falar a verdade, porém até o ponto em que essa verdade não os incrimine. Entretanto, a maior indignação do autor está atrelada ao fato do juramento ser realizado em nome de Deus, onde todas as forças de sentimentos religiosos estariam sendo destruídas. Portanto, é preferível para o réu infringir uma lei divina, pois não são temíveis, juridicamente falando.
Em outro momento, já no 12° capítulo, trata a respeito da “questão ou tortura”. O acusado será considerado culpado, somente em trânsito em julgado. Beccaria afirma que só há crime certo ou incerto: no crime certo o réu é culpado e será julgado pelas leis do seu país, levando em consideração todos os princípios que o resguarde. Já no crime incerto, o juiz não tem provas suficientes que condenem o agente, portanto, considera-se o acusado inocente.
 Utilizar a tortura como meio de obter respostas é a forma mais inútil de se resolver o problema, será apenas um desafio de quem é o mais robusto que será considerado inocente. 
Posteriormente, no capítulo 13°, trata-se da duração do processo e da prescrição. O espaço de tempo da investigação das provas do delito é definido por lei, não pelo juiz. Tratando-se de um delito constatado é importante que não se retarde o castigo, para que assim os demais membros da sociedade entendam que atos como ao do agente serão punidos, servindo contra um freio útil contra os celerados. Nos crimes atrozes deve-se diminuir a duração da instrução e do processo, prolongando o tempo de prescrição. Ao contrário, nos delitos “mais leves” e mais comuns, prolonga-se o tempo dos processos e diminui-se o tempo fixado para a prescrição.
O autor enfatiza, no 14° capítulo, que a tentativa, se devidamente provada sua intenção e motivos, deve ser punida, mesmo que uma lei não tenha a possibilidade de punir este delito. Todavia, é necessário coibir desde as primeiras tentativas de crimes. Consoante a Beccaria, os crimes tentados devem receber um preceito punitivo mais brando do que crimes consumados, pois o crime não havia se completado. Assim como a gradação de penas, deve ser aplicado castigos divididos em graus para os cúmplices, se não forem os agentes imediatos. Isto é, se não agirem em conjunto com os executores do crime, a pena é menor. Porém, caso participem ativamente do crime recebem penas iguais. Alguns tribunais preferem a impunidade do cúmplice à sua condenação, porque traria novas informações sobre crimes de magnitudes enormes e de relevância social.
O idealizador desta obra, desse modo, repudia práticas em que uma pessoa se beneficiaria ao delatar seus “companheiros” envolvidos no crime e também o tribunal em aceitar e multiplicar essa conduta de tal forma que aduz sobre inserção de homens mais frios e insensíveis a tudo o qual concerne às pessoas.
Já no 15° capítulo, Cessare Beccaria assevera duas possibilidades de causa e efeito de crueldade exacerbada na pena. A princípio, há a dificuldade de definir penas justas e proporcionais aos crimes os quais demonstram uma crueldade monstruosa. Com efeito, diante disso o controle emocional daquele que comina penas é afetado. Em segundo lugar, as torturas mais violentas podem ocasionar a impunidade. Porque quanto mais selvagens o castigo, torna-se insustentável manter essa barbaridade no sistema legislativo. Afinal a natureza humana, quer o bem ou o mal, é circunscrita na mesma moeda. Assim, ou essa lei será modificada ou, possivelmente, pode ser revogada afirmando a impunidade. Beccaria, então, compreende que urge, nessa perspectiva, penas menos abusivas com a finalidade de impor no ser a consequência de seus atos, contudo de forma que o mesmo não venha repeti-lo na sociedade.
Já no capítulo 16, o autor afere se é realmente justo e necessário a aplicação da pena de morte. De acordo com Beccaria, há dois motivos para este método. Quando a nação entra em um período confuso em que leis são substituídas por desordem e, outrossim, se porventura um cidadão preso ainda comandar operações fora da prisão representando um risco para a sociedade. A morte pode ser vista não como uma pena a qual acarreta medo para impedir de que, eventualmente, tenha-se delitos. Outrossim, a prisão, pelo escritor, é observada como um modo de causar constante sofrimento à alma, causando, logo, um sentimento de aversão para reiteração da conduta criminosa.
Nessa perspectiva, prisão perpétua também seria uma pena grave pois o ser seria a todo momento monitorado e privado de sua liberdade e prazeres. Beccaria, neste sentido, entende que esta pena é equivalente à pena de morte e o compara a vida de um escravo. Portanto, Beccaria ainda pode aceitar, durante certos períodos, a aplicação da pena de morte a determinados crimes. Porém, quem pode decidir o valor de uma vida humana? Seriam os juízes que ao sentenciar um ser a morte, estão depois se esbanjando em conforto e comida? Esse autor critica a pena de morte e não considera um meio legal e justo para a resolução dos conflitos de interesses.
Posteriormente, no 17° capítulo, o autor trata do banimento e das confissões, onde afirma que: é considerado banido aquele cujo danificou a tranquilidade pública, não obedece às leis, perturbando, logo, o meio no qual residem outros indivíduos. Além disso, será isolado da sociedade por representar um risco ao que estão a sua volta e terá seus bens confiscados.
A perda de bens pode ser pior que o banimento. Porém, a princípio, pode ser encarado de diversas outras formas, tal como a redução apenas de parte do patrimônio, pode perder todos os bens declarando o cidadão como morto politicamente ou deve-se destinar esses bens aos legítimos herdeiros e não ao “príncipe” como livro cita ou, no contexto atual, ser recolhido pelo Estado. 
Destarte, Beccaria condena a prática das confiscações não pela sua função formal dos delitos e das penas e sim na vida social pois o desespero, a drástica forma de como mudou sua situação sócio-econômica e a infâmia gerada para com a sua família a qual não teve participação do ato criminoso. 
Já no 18° capítulo, o autor a infâmia aos atos de improbação pública, com efeito, desencadeia a quebra de confiança a algum tipo de fraternidade que une determinada população, sobretudo, contra o culpado da acusação. Reitera a necessidade da raridade como frequência de aplicação das penas infamantes, porquanto uma maior frequencia o emprego demasiado só resultaria no enfraquecimento da força de opinião própria. Ainda, para que não haja uma banalização do termo, pois ao declarar infames ações semelhantes, apenas por esse motivo, é diminuir a infâmia das que efetivamente merecem tal designação. Por fim, deve ser priorizado os meios de harmonizar as relações constantes e de atender às instituições públicas, aquelas que são dotadas de caráter probo em suas ações.
Mais adiante, no 19° capítulo, Beccaria aborda a respeito da publicidade e da presteza das penas Certamente, como afirma o autor, a justiça e utilidade de uma pena subordina-se à prontidão de aplicação da pena, assim como à proporção ao delito praticado, visto que a perda da liberdade já é a pena, assim a condenação só deve prosseguir na estrita medida que a necessidade o exige, como dispõe Beccaria.
Os efeitos do castigo que se segue ao crime devem ser em geral impressionantes e sensíveis para que os que testemunharam; haverá, porém, necessidade de que esse castigo seja tão cruel para quem sofre? Quando os homens se reuniram em sociedade, foi para so se sujeitarem aos mínimos males possíveis; e não há país que possanegar esse princípio incontestável ( p. 39).
Assim a presteza da pena é mister, e quanto menos tempo percorrer do delito à aplicação da pena, o caráter de punição e aplicação de justiça da lei ficará mais claro à população. assim como manter-se-á o respeito ao mínimo castigo a que se sujeitam os indivíduos em sociedade.
Já no 20° capítulo da obra, o autor trata sobre o castigo ser inevitável: “A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável causará sempre uma forte impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade” (p. 40). O direito de punir, entretanto, não pertence a qualquer um: pertence às leis. Além disso, ao tratar a respeito da graça do perdão, Beccaria afirma: “Quando o soberano concede graça a um criminoso, não será o caso de dizer que sacrifica a segurança pública à de um particular e que, por um ato de cega benevolência, pronuncia um decreto geral de impunidade?” (p. 41). Posicionando-se firmemente, deixa claro o limite do perdão do ato, e que o interesse e a segurança pública são prioridade.
No 21° capítulo, ao tratar de asilos, Beccaria afirma que: “Multiplicar os asilos é formar pequenas soberanias, porque, quando as leis não têm poder, novas potências se formam de ordem comum, estabelece-se um espírito oposto ao do corpo inteiro da sociedade” (p. 42). Porém, nesse caso, por mais que subentenda-se o posicionamento contrário do autor, este prefere não explicitar sua opinião, afirmando que esta questão não cabe à ele, mas às leis.
O autor inicia sobre “dar a cabeça a prêmio”, tema do 22° capítulo, com o seguinte questionamento: “será vantajoso para a sociedade pôr a prêmio a cabeça de um criminoso, armar os cidadãos de um punhal e fazer assim outros tantos carrascos?” E a resposta é negativa uma vez que, pôr a cabeça a prêmio, ou seja, propor uma determinada recompensa para trazer o acusado seja morto ou vivo, isso pode excitar os cidadãos a cometerem crimes e a desrespeitarem nações caso o acusado esteja em outro país. Dessa forma, pode demonstrar uma fraqueza da nação uma perspectiva de não conseguir controlar seu próprio país.
O 23° capítulo dedica-se a abordar sobre o dever das penas serem proporcionais aos delitos. Neste capítulo, o autor Beccaria diz que a intensidade de uma sanção deve ser proporcional ao delito cometido, tendo em conta, à dimensão do prejuízo ao bem público. “Deve, pois, haver uma proporção entre os delitos e as penas”. E para justificar sua fala dá o exemplo:
Se estabelece um mesmo castigo, a pena de morte por exemplo, para quem mata um faisão e para quem mata um homem ou falsifica um escrito importante, em breve não se fará mais nenhuma diferença entre esses delitos (p. 44).
Logo, ele ressalta que isso é relevante manter o senso moral. Ademais, ele também diferencia os delitos grandes dos pequenos, sendo que os menores delitos serão pequenos ofensa feitas aos particulares enquanto os grandes tendem a destruição da própria sociedade. Portanto, o legislador se torna responsável pela divisão e distribuição das penas em conformidade com delitos, para que assim, não ocorra no período da aplicação pequenas sanções para grandes crimes.
Beccaria, no 24° capítulo, faz uma observação de que a verdadeira forma de medida dos delitos é pelo dano causado à sociedade. Ademais, ele apresenta outras medidas dos quais não concorda, como:
· O tamanho de um crime não depende da intenção de quem o comete. Logo, se punisse a intenção, seria necessária uma nova lei penal para cada crime.
· Medir a gravidade de um crime pela dignidade da pessoa ofendida, de preferência ao mal que possa causar à sociedade. 
· Definir um crime um tanto mais grave quando maior for ofensa à divindade.
No 25° capítulo, o autor defende a ideia de que ato criminoso se atende às essas três divisões, são: Crimes que visam a destruição da sociedade ou daqueles que a representam; Crimes que atingem o cidadão em sua vida, seus bens ou sua honra; Crimes que são atos contrários às leis que visam o bem público.
Todo e qualquer delitos fora desse conjunto não é considerado crime sob pena de se incorrer em prevalência de interesses particulares. Ademais, esse conceito de delito que tem como base o bem público que é de suma importância para que a moral e o direito sigam na mesma direção de forma harmoniosa. Uma vez que, todo cidadão pode fazer tudo que a lei não proíbe, sem ter medo outros incômodos além dos que podem resultar de sua própria ação.
No 26° capítulo, Beccaria fala sobre crimes de traição contra sua própria majestade, Estado ou representante. Dentro desses crimes, por vezes faltas leves eram punidas das formas mais severas, faltando assim proporcionalidade na aplicação das penas.
	Mais adiante, no 27° capítulo, o autor trata sobre os atentados contra a segurança dos particulares. Estes não são considerados crimes menores, pois envolve atentados contra a vida, bens, honra… Apesar de que a desigualdade seja inevitável, as penas só serão legítimas se forem aplicadas tanto os aos pobres quanto aos mais ricos. Os crimes mais graves, como os contra a vida, devem ser punidos de maneira mais forte.
	Posteriormente, no 28° capítulo, Beccaria explica como a honra, apesar de apresentar uma ideia simples, é complexa dentro das relações sociais. Algumas necessidades não foram amparadas pelas leis, fato gerador de conflitos, pois os cidadãos cada vez mais vestiam-se de opiniões e críticas, ou seja, pessoas mais ambiciosas dentro do convívio social. Diante disso, os indivíduos ocasionalmente ofendiam-se e um espírito de vingança da parte lesada crescia, formando uma tensão entre os envolvidos. Percebendo tais conflitos, viu-se necessária a criação de leis que amparasse a honra individual, visando a paz nos convívios coletivos.
Após elucidar sobre a injúria, o autor trata de explicar no 29° capítulo sobre os duelos e como as leis as preveniam (ou não). Apesar de os duelos serem comumente usado por escravos, os homens livres também o faziam, mas não qualquer duelo, pois os combatentes receavam que uma batalha simples os fariam em pé de igualdade para com os escravos. As leis da época tentavam impedir que os indivíduos se enfrentassem, o que não logrou sucesso pois a criação dos duelos adveio de costumes muito antigo. Contudo, a melhor forma de impedir que tais duelos ocorressem, segundo o autor, seria punindo o agressor e declarar inocência àquele que, sem violência, sentiu necessidade de defender sua honra. 
Já no 30° capítulo, Cesare retrata os crimes de roubo e os diferencia em duas “modalidades” se podemos assim dizer: o roubo com astúcia e o roubo com violência. O primeiro trata do roubo sem violência, onde o infrator se utiliza da esperteza e subtrai de alguém o que lhe falta. O autor trata esse tipo de roubo como “crime da miséria e do desespero” pois este delito é praticado normalmente por homens que possuem apenas a existência como propriedade. As penas pecuniárias só serviam para aumentar o número de roubos, segundo o autor, mostrando que ele não concorda com tal tipo de pena. 
A segunda modalidade, roubo com violência, consistia no uso da força para subtrair bens de outrem, e segundo o autor, seria justo somar à pena pecuniária as penas corporais, mais severas, com a finalidade de desestimular outros cidadãos à prática. Beccaria deixa transparecer sua opinião negativa para quem coloca em pé de igualdade o roubo com violência perante o roubo com astúcia, como no trecho “Fez-se ver quanto é absurdo pôr na mesma balança uma certa soma de dinheiro e a vida de um homem”.
O contrabando é um delito extremamente sério, mas que a população não o considera dessa forma pois não alcança interesses inerentes à sociedade, como mostra o trecho “É que os delitos que os homens não consideram nocivos aos seus interesses não afetam bastante para excitar a indignação pública.” Para penalizar aqueles que cometem o contrabando, as mercadorias são apreendidas, considerada pelo autor uma medida justa. Para que tal crime seja menos praticado,Beccaria diz em seu 31° capítulo que os direitos também precisam ser limitados, pois os homens só se arriscam quando o sucesso do ato lhes proporcionam grandes lucros. A prisão dos infratores deve ser feita na dosimetria correta e deve ser análoga à natureza do delito, pois quem contrabandeou não merece o castigo de alguém que matou e assim sucessivamente. 
Já no 32° capítulo, o autor discorre sobre as falências. Após fazer distinção entre o falido de boa-fé e o falido de má-fé, Beccaria afirma que o falido de má-fé deve ser punido com severo rigor, diferentemente do falido de boa-fé. Entretanto, é importante ressaltar que o falido de boa-fé não sairia ileso: seria obrigado, sim, a pagar a dívida. 
O tema do 33° capítulo, por sua vez, são delitos que perturbam a tranquilidade pública. Crimes como o vandalismo perturbam e causam desordem social. Como forma de prevenção, Beccaria sugere vigilância intensiva: “Iluminar as cidades durante a noite à custa do público; colocar guardas de segurança nos diversos bairros das cidades; reservar ao silêncio e à tranqüilidade sagrada dos templos, protegidos pelo governo [...]” (p. 56). Criação de leis de silêncio e ordem contribuem para a prevenção.
Beccaria trata, no 34° capítulo, sobre a ociosidade: pessoas, por ele chamadas de inúteis, que não contribuem com a sociedade, que não preocupam-se com o enriquecimento. Assim, às leis cabe a regulamentação dos tipos de ociosidades permitidos ou não, de acordo com o interesse público e o fim do Estado, mas sem interferir gravemente na liberdade do interesse individual.
O suicídio, tema central do 35° capítulo, é isento de penalidade, tendo em vista que é impossível uma punição recair sobre um defunto, e recair sobre a família do suicida seria completamente tirano. Entretanto, Beccaria alega que “aquele que se mata faz menos mal à sociedade do que aquele que renuncia para sempre à sua pátria” (p. 57). Dessa forma, a Deus cabe a punição e julgamento.
Mais adiante, no 36° capítulo, o autor aborda acerca dos crimes difíceis de constatar. Estes seriam: adultério, pederastia e infanticídio. A princípio, trata-se do adultério, tema que Beccaria acha de difícil punir e prevenir. O autor afirma que “a alma se apega bem mais fortemente aos lados agradáveis que a seduzem do que às conseqüências perigosas cuja idéia se esforça por afastar” (p. 60). Já a pederastia, mesmo que de difícil constatação, é prática rigidamente punida pelas leis, onde até mesmo a tortura é permitida. Por fim, há o infanticídio, onde o autor afirma que a melhor maneira de prevenir é enrijecendo as leis.
O autor, já naquela época, destina o 37° capítulo a falar sobre uma espécie particular de delito que não tratou até então: liberdade religiosa. Movidos por fanatismo, as condutas dos componentes da sociedade da época eram reprovadas. Porém, mesmo assim, o autor se abstém, e afirma que só aborda sobre delitos do homem natural e do contrato social.
Mais adiante, no 38° capítulo, o autor elucida a respeito de fontes gerais de erros e injustiças na legislação. Cesare afirma que existem falsas ideias de utilidade dentro das leis, criando assim uma injustiça. Ele afirma que: 
“Essas leis são simplesmente o ruído das impressões tumultuosas que produzem certos fatos particulares; não podem ser o resultado de combinações sábias que pesam numa mesma balança os males e os bens; não é para prevenir os delitos, mas pelo vil sentimento do medo, que se fazem tais leis.” (p. 62)
	E como exemplo de injustiça, cita o porte de armas: “[...] contrárias ao fim de utilidade as leis que proíbem o porte de armas, pois só desarmam o cidadão pacífico, ao passo que deixam o ferro nas mãos do celerado” (p. 62).
	Assim como o capítulo anterior tratava de uma forma de injustiça na legislação, o tema do 39° também é considerado uma fonte de falsas ideias de utilidade. “O espírito de família é um espírito de minúcia limitado pelos mais insignificantes pormenores; ao passo que o espírito público, ligado aos princípios gerais, vê os fatos com visão segura, coordena-os nos lugares respectivos e sabe tirar deles conseqüências úteis ao bem da maioria” (p. 64). Após diferenciar ambos os tipos de espírito, o autor garante que dentro da família, a autoridade é inteiramente dos pais. Por outro lado, na república, a autoridade é estabelecida e acordada através de um contrato social. Enquanto a primeira guia pelo medo e pela submissão, a segunda incentiva a liberdade e independência.
	O 40° capítulo aborda acerca do espírito do fisco. Anteriormente a composição da obra, houve um tempo em que todas as penas eram pecuniárias. Desse modo, o que o juiz almejava era a confissão do réu para benefício do fisco. Dessa forma, o objetivo não era a busca pela verdade do caso. Mais adiante, no 41° capítulo, Beccaria trata métodos de prevenção de crimes. Nesse contexto, o autor explica que é melhor proporcionar o bem estar social e prevenir os crimes do que puni-los. A melhor maneira de prevenção seria elaborar, cada vez de maneira mais clara e objetiva, leis coercitivas.
	Ao fim do estudo, portanto, Beccaria conclui que a punição precisa ser necessária, pública e de composição anterior ao ato, para que seja considerada justa. Assim, prevista em lei, e atendendo aos princípios da legalidade e da proporcionalidade.