Buscar

Criminologia - Material Autoral de Apoio

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 68 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
3 
 
Sumário 
1. INTRODUÇÃO......................................................................................6 
2. O QUE É CRIMINOLOGIA? ..............................................................10 
3. CONEXÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS DISCIPLINAS.......11 
4. POLÍTICA CRIMINAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS E AS FUNÇÕES 
DA CRIMINOLOGIA...........................................................................13 
5. OBJETOS DA CRIMINOLOGIA.........................................................15 
6. BREVE HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA............................................21 
7. SELETIVIDADE CRIMINAL E CIFRAS OCULTAS DA 
CRIMINALIDADE...............................................................................24 
8. MODELOS DE RESPOSTA AO PROBLEMA CRIMINAL E A 
JUSTIÇA RESTAURATIVA...............................................................26 
9. PREVENÇÃO CRIMINAL E AS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA 
CRIMINALIDADE...............................................................................27 
10. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS DO CRIME E CRIMINALIDADE......34 
11. CRIME DE COLARINHO BRANCO..................................................52 
12. CRIME ORGANIZADO......................................................................57 
BIBLIOGRAFIA......................................................................................67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
4 
OBJETIVO DO CURSO 
Sejam bem-vindos ao Curso de Extensão do Instituto de Estudos 
Jurídicos. 
Ao se considerar a construção de um plano pedagógico de curso a equipe 
docente se reúne e debate qual é a construção mais adequada a ser feita no 
contexto de nossos programas de extensão e aperfeiçoamento, no sentido de 
permitir aos nossos discentes a evolução em sua área de atuação e a ampliação 
de raciocínio jurídico que surge em decorrência da análise crítica proposta, 
Nesse sentido, neste curso o professor Waldek Fachinelli Cavalcante, 
desenvolve análises quanto à moderna Criminologia, sem perder de vista os 
objetivos traçados pela criminologia Clássica, em viés crítico e tendente a 
demonstrar os conceitos mais adequados aos tempos atuais. 
O estudo da Criminologia decorre da pós-graduação em Ciências 
Criminais do Iejur, a qual parte do estudo Ético e Filosófico, passando pela 
Criminologia, a fim de abranger temas complexos e contemporâneos em Direito 
Penal, partes geral e especial, Direito Processual Penal, além de relevantes Leis 
Penais Especiais. 
Em contexto de curso de extensão, o tema ganha alta relevância. 
Desejamos a todos bons estudos. 
1. INTRODUÇÃO 
Desenvolver as sociedades, melhorar a qualidade de vida da 
população, iluminar o caminho do ser humano, fundamentar políticas públicas, 
informar a sociedade são nortes de toda ciência. Quando a busca é por soluções 
para o problema criminal, estamos diante de uma ciência específica. 
Bem-vindas e bem-vindos ao fascinante, instigante, mágico, 
apaixonante e imprescindível mundo criminológico. Seus objetos atraem a 
atenção social desde a constituição das sociedades organizadas, apesar de sua 
abordagem científica ser relativamente recente. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
5 
A ciência tem se mostrado o melhor caminho para a humanidade 
evoluir. E assim deve ser na busca por alternativas para o controle do crime. A 
Criminologia, apesar de ser uma ciência nova, é a melhor ferramenta para a 
sociedade civil organizada conhecer e atuar sobre esse problema individual e 
social. 
Claro que uma apostila irá somente introduzir o tema e trazer tópicos 
criminológicos, pois a Criminologia abarca uma infinidade de pesquisas, objetos 
e objetivos a exigirem estudos específicos, havendo graduações, mestrados e 
doutorados abarcando a disciplina. Há estudos criminológicos alcançados pela 
biologia, sociologia, antropologia, história, psicologia, psiquiatria, economia, 
ciência política, estatística etc. 
A Criminologia é uma mescla de estudos científicos com objetos e 
funções próprios. É a ciência que bebe em diferentes fontes para procurar 
respostas a um dos problemas mais complexos que a humanidade enfrenta: o 
crime. 
O desafio da Criminologia é tão intrincado que começa pela própria 
definição de um de seus principais objetos, o crime. 
Se a Criminologia é uma ciência relativamente nova, no Brasil o seu 
desenvolvimento é bastante frágil, com pouco investimento em pesquisas 
empíricas, além de questões ideológicas atrapalharem o seu desenvolvimento. 
Acaba por ser vista, mesmo em ambientes mais esclarecidos, como 
um conjunto de conhecimentos teóricos sem relevância prática, com os manuais 
simplesmente reproduzindo conhecimentos desatualizados, repetindo 
informações sobre história da Criminologia, escolas penais e teorias 
criminológicas. 
Boa parte dessa superficialidade creditamos à raiz Europeia da 
Criminologia brasileira, onde uma luta entre o Direito e a Criminologia atrasou o 
conhecimento, ficando o estudo criminológico vinculado ao Direito que tem 
pouca familiaridade com pesquisas empíricas. A Criminologia Europeia com sua 
raiz afastada do campo empírico, sua subordinação ao Direito, seu vínculo ao 
marxismo acabou perdendo muito espaço e tempo. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
6 
Melhor sucesso teve a Criminologia na América do Norte, onde 
nasceu vinculada às ciências sociais, apropriou-se de métodos empíricos e 
interdisciplinares, buscou desde o começo soluções para os problemas do 
cotidiano social. 
Assim, fixe-se que a Criminologia é uma ciência prática, pesquisando 
respostas para questões reais que afligem a vida em comunidade. 
Claro que há que se abordar a história da ciência e suas Escolas, mas 
essa é uma tarefa secundária. Há que se investir em pesquisas científicas e no 
estudo dos resultados criminológicos para responder diversas questões, tais 
como: 
Como melhor tomar decisões no âmbito de políticas públicas voltadas 
para o controle do crime? 
O que deve ser crime? 
O que não deve ser crime? 
Qual pena aplicar? 
O que é crime? 
Qual a melhor estratégia a ser adotada para controlar o crime? 
Como alocar os recursos do Estado para controlar o crime? 
Qual o papel das instâncias formais e informais de controle social do 
crime? 
É necessário pesquisas científicas para conhecer o problema 
criminal? Com qual método? 
Ampliar o Sistema de Justiça Criminal resolve o problema do crime? 
Como a sociedade seleciona o que será crime, o que será investigado, 
o que será julgado, o que será prevenido? 
Pobres cometem mais crimes que ricos? Características pessoais e 
sociais interferem na ação dos órgãos do Sistema de Justiça Criminal? 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
7 
Afinal, como se dá a seletividade criminal? 
O crime é um problema individual (biológico), social ou psicológico? 
Temos conhecimento de todos os crimes que ocorrem? A realidade 
carcerária reflete a realidade do crime na sociedade? Há cifras ocultas da 
criminalidade? 
E o crime organizado, o que é? Ele existe? 
E a lavagem de dinheiro? E o crime de colarinho branco? 
E o terrorismo? É crime, luta pela liberdade ou estratégia de guerra? 
O que a globalização e o desenvolvimento tecnológico têm a ver com 
a criminalidade? 
O que distúrbios ambientais, tais como a poluição, seca, aquecimento 
global e outros tem a ver com a criminalidade? 
Como “tratar” os apenados? 
Como lidar com as redes criminosas e os mercados ilícitos (mercados 
negros) diante de uma demanda constante por bens ilícitos vinda da “sociedade 
legítima”?Como agir diante da criminalidade cibernética? 
Em uma sociedade de risco e em uma modernidade líquida é possível 
instituir uma política criminal baseada em evidências? 
Como a inteligência criminal e a análise criminal podem colaborar com 
o controle do crime? 
Como o gênero interfere na criminalidade? 
Afinal, o que é Criminologia? 
Com essas poucas perguntas já fica bem evidente o quanto a 
aprender, muito o que pesquisar, muita investigação empírica a ser realizar, o 
que extrapola, em muito, o fim destas poucas linhas. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
8 
E lembremos que estamos a tratar de uma ciência não exata, estamos 
a lidar com o ser humano, a sociedade, e todas as suas complexidades. Então, 
não há respostas fáceis e simples de se obter. 
Razão pela qual o investimento em pesquisas é imprescindível, pois 
a realidades diferentes há que se levar atuações diferentes, em uma 
complexidade tão grande, muitas vezes a solução será buscada com a atuação 
de toda a sociedade global, muitas vezes será necessária uma transformação 
social, outras vezes há que se atuar sobre o indivíduo. 
2. O QUE É CRIMINOLOGIA? 
Para muitos a Criminologia tem dificuldade em se estabelecer como 
uma ciência autônoma, ou como uma disciplina específica, pois os seus objetos 
podem ser estudados pela economia, ciência social, sociologia, ciência política, 
psicologia, história, direito etc. Então, todas essas ciências desenvolvem estudos 
que envolvem seus objetos e fins. 
Nessa perspectiva, Criminologia não encontraria uma definição, nem 
seria uma cadeira independente, mas uma reunião de conhecimentos 
produzidos por biólogos, sociólogos, juristas, historiadores, matemáticos, 
economistas, cientistas sociais, psicólogos, médicos e outros profissionais com 
um foco específico. 
Esse foco seria o estudo “do processo de produção das leis, do 
descumprimento das infrações penais e da reação social ao descumprimento 
dessas normas”, nas palavras de Edwin Sutherland. 
Assim, seria o estudo dos atos criminalizados, do que é tratado como 
crime e por que, do como as instâncias formais e informais de controle social 
reagem ao descumprimento das normas, como entendemos o desvio criminal, 
quem comete crime. 
Contudo, a Criminologia pode, sim, ser considerada uma ciência 
autônoma. É de se observar que a ciência em si tem definição muito 
questionada, então, não aprofundemos muito nessa temática, neste âmbito, 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
9 
deixando claro que a Criminologia é considerada uma ciência, pois possui um 
objeto peculiar, um método e um conjunto de conhecimentos próprios. 
Didaticamente, a Criminologia é a ciência interdisciplinar, a qual 
investiga fatos e baseia-se na observação, sendo assim uma ciência empírica, 
fugindo de opiniões, de simples argumentos, analisando o mundo real. 
Possui como objetos o controle social da criminalidade, a vítima, o 
infrator e o crime, produzindo, dessa forma, conhecimento sistematizado e 
verificável (científico) sobre as melhores estratégias de atuação sobre o 
criminoso, a vítima, a prevenção do crime, a origem e o desenvolvimento da ação 
criminal, esta última abordada como uma questão tanto individual, como social. 
Importante destacar ser a criminologia uma ciência do ser, porém não 
é uma ciência exata. 
3. CONEXÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS DISCIPLINAS 
Como dito, inúmeras disciplinas se dedicam de algum modo ao estudo 
do controle do crime, da vítima, do infrator, do crime. Contudo, poucas se 
dedicarão prioritariamente ao fato criminal. A ciência criminológica é 
interdisciplinar, assim, terá contribuições da biologia criminal, da psicologia 
criminal, da antropologia criminal, da sociologia criminal, da economia, da 
psiquiatria e assim por diante. 
Porém, a Criminologia não será biologia, psicologia, psicologia, 
antropologia ou outras ciências. A Criminologia é essa ciência que com seu 
método e objetos próprios irá se dedicar exclusivamente ao delito, ao infrator, à 
vítima e ao controle social do crime, como uma ciência totalizadora do problema 
criminal. 
Com essa interdisciplinaridade e papel integrador, a Criminologia irá 
beber em diferentes fontes, utilizando-se de conhecimento de outras disciplinas 
e incorporando a suas investigações com seu método próprio, coordenando e 
integrando o saber sobre o fato criminal, sem ser parte de outras ciências. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
10 
Interessante, neste momento, traçar a sua relação com dois campos 
do saber que causam muita confusão e conflitos. Trata-se do seu contato com 
as chamadas ciências criminais, a Política Criminal e o Direito Penal. 
Importante lembrar que parte do atraso da ciência criminológica deve 
à luta travada pelo domínio do saber criminal, a luta entre as instituições jurídicas 
e a nova ciência, a Criminologia, pelo domínio do conhecimento. Assim, criou-se 
uma dependência orgânica e institucional da Criminologia em relação às 
instituições do Direito, vencendo a força institucional do Direito, o que muito 
prejudicou o desenvolvimento científico. 
No modelo anglo-americano, em que a Criminologia teve autonomia 
investigativa desde o seu princípio, afastada das instituições jurídicas, com 
finalidade prática e aproximada dos métodos sociológicos, evoluiu muito 
rapidamente a pesquisa criminológica. 
É até mesmo questionável se o Direito é ciência, e a distância deste 
com o mundo real e a pesquisa empírica teve o potencial de prejudicar o 
desenvolvimento científico. 
Certo é que Direito Penal e Criminologia são campos do saber 
bastante distintos, sendo o Direito simples ferramenta da Política Criminal. 
O Direito Penal é um conhecimento normativo, cultural, jurídico, do 
dever ser, já a Criminologia é uma ciência empírica, do ser. O Direito Penal 
ocupa-se do crime como um conceito formal, delimitado pela norma jurídica, 
dedica-se à interpretação e análise da norma. 
Por outro lado, a Criminologia aborda o crime como um fato real, 
utilizando-se de métodos empíricos para estudá-lo. O objeto da Criminologia não 
está no mundo das ideias, do dever ser, o objeto da Criminologia são fenômenos 
concretos, palpáveis, expressos no seio da sociedade como uma realidade 
tangível, tanto que os critérios jurídicos não são capazes de delimitar o objeto da 
Criminologia. 
Em relação à Política Criminal, esta tem o papel de colher o 
conhecimento produzido empiricamente pela Criminologia sobre o contexto 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
11 
criminal para elaborar estratégias, tomar decisões sobre as ações a serem 
adotadas em relação ao controle do crime. 
A Política Criminal irá utilizar o Direito Penal como uma das 
ferramentas de transformação do conhecimento criminológico em opções 
políticas de controle do crime, baseando-se em evidências científicas. O Direito 
Penal é apenas uma das inúmeras ferramentas à disposição da Política Criminal 
no seu âmbito de decisório. 
 
4. POLÍTICA CRIMINAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS E AS FUNÇÕES DA 
CRIMINOLOGIA 
As alternativas para o controle do crime apresentadas pela Política 
Criminal, especialmente no Brasil, têm se mostrado equivocadas, pois não se 
baseiam majoritariamente em evidências científicas. 
As nossas políticas criminais acabam se baseando em ideologias, 
achismo, não em resultado de experiências que apontem as melhores práticas 
a serem adotadas para o enfrentamento do problema social que é a 
criminalidade. 
 As políticas públicas voltadas para o crime refletem um certo 
autoritarismo, simples exercício de poder, de decisão, com o risco de não se 
controlar o crime e muitas vezes piorar o cenário criminal, desperdiçando 
recursos públicos. 
Como função primordial da Criminologia está aformação de um 
arcabouço básico de conhecimentos com validade científica, conhecimento 
seguro e contrastado sobre o controle social, o criminoso, o crime e a vítima. 
Provendo a sociedade e, em consequência, as instituições públicas, de 
informações que possibilitem entender de forma técnica a problemática criminal. 
Sinteticamente, pode-se definir a Política Criminal como a política 
pública que se destina ao planejamento, aplicação e avaliação dos aspectos 
preventivos e repressivos do enfrentamento à criminalidade. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
12 
Assim, para se estabelecer uma Política Criminal baseada em 
evidências, como deve ser defendida, imprescindível a contribuição da 
Criminologia em sua função de construir um núcleo de saber científico sobre a 
realidade criminal. 
Uma política criminal baseada em evidências conta com estudos 
científicos e métodos rigorosos para chegar a uma conclusão sobre o que 
funciona ou não no controle do crime. 
O paradigma da base em evidências procura ampliar a influência da 
pesquisa na política, colocar as informações científicas no centro do processo 
político. 
Há uma base de conhecimento consolidada e institucionalizada que 
pode guiar uma política criminal baseada em evidências, inclusive defendida por 
instituições internacionais como a ONU, UE, OSCE, entre outras. 
Políticas criminais baseadas em evidências têm se desenvolvido em 
diversos países, sendo um movimento que veio para ficar, trazendo 
racionalidade às políticas públicas. 
O uso de opiniões, ao invés de fatos para se elaborar Política Criminal, 
pode causar danos, a implementação de programas inefetivos, provocar 
desperdício de recursos públicos e pode o desvio de atenção das necessidades 
mais urgentes. 
É necessário estar atento para a validade das evidências e os 
métodos usados para localizar, avaliar e sintetizar as evidências. Os efeitos dos 
programas devem ser avaliados em diferentes aspectos. 
A conexão entre pesquisa e política criminal não é clara. E esta não é 
uma realidade só da política criminal. O que se busca com o paradigma da base 
em evidências é aumentar a influência da pesquisa nas políticas públicas. 
Ao menos de quatro formas diferentes as pesquisas científicas podem 
influenciar as decisões políticas: 1) instrumental (provimento de direção das 
políticas públicas); 2) política (para legitimar a decisão política, apontam-se 
resultados científicos); 3) conceitual (a criação de um ambiente que vai 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
13 
incorporando o conhecimento científico e enriquecendo o debate e influenciando 
as políticas públicas; 4) uso impositivo (a exigência que os programas 
governamentais sejam baseados em evidências para receberem fundos, 
geralmente acompanhada de uma lista de melhores práticas). 
Há ao menos quatro obstáculos a separar conhecimento científico da 
política: a) modelos prevalentes; b) ideologia prevalente; c) considerações 
políticas de curto prazo; d) inércia e considerações burocráticas de curto prazo. 
5. OBJETOS DA CRIMINOLOGIA 
 
5.1. CRIME 
 
Objeto da Criminologia de definição mais complexa, o delito, crime ou 
conduta desviada, continua carente de uma definição precisa, pois não basta à 
Criminologia uma definição jurídico-formal do delito. 
Há inúmeras acepções de crime e a problemática de se procurar uma 
definição criminológica para o delito como objeto da Criminologia foi maior no 
nascedouro da Criminologia, pois não se aceitava bem a ideia de uma ciência 
empírica ter o mesmo objeto que uma ciência normativa. 
Assim, a Criminologia corria o risco de mitigar sua autonomia por ter 
um objeto definido pelo Direito, ou afastar o necessário componente normativo 
da definição de crime, importante ponto de partida para pesquisar o fenômeno 
empírico. 
A dificuldade com essa questão, da definição de crime para a ciência 
Criminologia, ainda é latente, contudo, muito amainada, pois, além da 
Criminologia ter expandido seus objetos, a disciplina atuar com um marco 
normativo não é algo contraditório para uma ciência empírica. 
Além disso, várias outras particularidades do problema do delito 
passaram a ser mais relevantes que trabalhar sobre uma delimitação formal do 
conceito de crime, tais como os processos de criminalização e 
descriminalização, a criminalidade nos diversos estratos sociais etc. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
14 
Ressalte-se que, para a Criminologia, não é relevante somente os 
fatos estritamente considerados infração penal, até porque a Criminologia se 
ocupa com fatos sem relevância penal, como fatos prévios ao crime, as 
incivilidades, condutas atípicas de interesse criminológico, as cifras negras ou 
ocultas da criminalidade, questões transnacionais, ambiente social em que o 
crime ocorre etc. 
Logo, apesar de o conceito jurídico de crime ser uma orientação 
relevante, a Criminologia e o Direito trabalham com concepções diversas. Da 
mesma forma a ideia de delito natural da filosofia, assim como a formulação 
sociológica da conduta desviada não são suficientes. 
Dessa forma, o conceito de crime é bastante relativo e problemático 
em vários âmbitos, constituindo-se, para a ciência em estudo, como um 
problema social, passando por vários filtros das instâncias sociais para se 
estabelecer o que é crime. 
O conceito de crime e o estabelecimento de quais condutas levarão 
essa marca variam conforme as mudanças sociais, a cultura, o desenvolvimento 
social, o tempo, o espaço, as circunstâncias. 
Há um conceito universal? As condutas consideradas crime têm um 
padrão universal, os mesmos fatos são criminalizados em todos os países? O 
estabelecimento do que é crime ou não sofre influência histórica e cultural? Há 
um processo de criminalização de parte do grupo social? As respostas são 
simples e esclarecem a profundidade do tema. 
5.2. O CRIMINOSO 
O delinquente foi o protagonista dos estudos criminológicos clássicos, 
os quais o consideravam uma pessoa diferenciada das demais, uma vida 
biopsicopatológica. 
A Criminologia contemporânea deixou o criminoso em segundo plano, 
mudando seu foco para o controle social, a vítima e o crime, sem deixar de lado 
a pessoa delinquente. A criminologia moderna aborda a pessoa infratora em sua 
realidade biopsicossocial, em sua interação social. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
15 
O ser humano infrator já foi considerado um pecador que poderia ter 
obedecido as leis e não o fez, o crime seria consequência do seu livre arbítrio, 
sem sofrer influências do meio ambiente, seria uma escolha, consequência da 
liberdade. 
Também já foi considerado um ser doente, detentor de uma patologia, 
um determinismo biológico que o levaria inexoravelmente a ser um criminoso. 
Por outro lado, há abordagens que tem o delinquente como um ser 
incapaz, frágil, fraco e indefeso, precisando, em consequência, da tutela do 
Estado. Abordagem muito próxima do pensamento marxista que atribui à 
estrutura econômica e à sociedade a conduta criminal, sendo o criminoso vítima 
de uma sociedade falha. 
A evolução dos estudos criminológicos faz com que hoje o criminoso 
seja visto de uma forma muito mais complexa e rica. Contemporaneamente o 
delinquente é majoritariamente entendido como um ser “normal”. 
Claro que há pessoas com patologias que cometem crimes, porém 
essa não é a regra, basta se atentar para os autores de crimes econômicos, 
crimes de colarinho branco, crimes contra a administração pública e vários outros 
para se perceber que o criminoso é uma pessoa, em regra, “normal”. 
Como reflexão, pode-se questionar, conhece alguém que já cometeu 
um crime? Dirigiu após consumir álcool, fez download de algo pelo qual deveria 
pagar, comprou produtos piratas,injuriou ou difamou alguém, caluniou um 
político, usou drogas de difusão ilícita, conhece alguém que já cometeu aborto, 
furtou algo, fez afirmações falsas em um documento etc? 
5.3. A VÍTIMA 
A vítima que por longo período foi esquecida pelos estudos 
criminológicos, pela Política Criminal e pelo Sistema de Justiça Criminal, que 
dedicavam sua atenção quase que exclusivamente ao delinquente, agora 
ressurge vigorosamente no campo científico e político. 
Muito esforço tem sido dedicado para compreender como pessoas se 
convertem em vítimas, as relações das vítimas com os criminosos, os reflexos 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
16 
do crime sobre a vítima e como repará-los, estabelecimento de programas de 
prevenção voltadas para certos tipos de vítimas, a atuação social no processo 
de vitimização, a disposição da vítima em colaborar com o controle social. 
Nessa seara, há polêmica sobre a conceito de vítima, sobre a vítima 
pessoa jurídica, a necessidade de se proteger organizações, os crimes 
aparentemente “sem vítima”, como nos crimes de colarinho branco, financeiros, 
contra o consumidor, nos quais há uma “despersonalização” da vítima. 
Recentemente, vindo a vítima a tomar posição central nos estudos 
criminológicos, acentuam-se as pesquisas em seis focos de interesse, 
resumidamente: 1) o processo de escolha da vítima e seu processo de interação 
com o delinquente; 2) a prevenção criminal com foco na vítima; 3) a criminalidade 
oculta e a colaboração da vítima na busca por informações sobre a criminalidade; 
4) o sentimento de insegurança e o medo do crime; 5) programas sociais de 
amparo à vítima; 6) o relacionamento da vítima com o Sistema de Justiça 
Criminal. 
5.4. CONTROLE SOCIAL DO CRIME 
A sociedade, em busca de estabilidade social, coesão, conformidade 
e integração, possui um controle social composto por instituições, estratagemas 
e sanções. 
O controle social conta com diversos ordenamentos normativos, 
constituindo-se de sistemas religiosos, éticos, costumeiros, jurídicos etc. Abarca 
diversas instâncias a colaborar com um conjunto de processos sociais com a 
finalidade de impor disciplina social, tais como a família, a igreja, associações, 
instituições de ensino, o Sistema de Justiça Criminal etc. 
O controle social dispõe de estratégias de prevenção, repressão, 
socialização entre outras para responder ao problema do crime, assim como 
conta com diferentes modalidades de sanções e destinatários do controle social. 
Assim, para a defesa dos valores e normas sociais, em busca da 
conformidade, para o controle do crime, essas diferentes instâncias, compostas 
por agências estatais e não estatais agem de forma proativa e reativa. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
17 
Dessa forma, o controle social, esse conjunto de instituições, 
estratégias e sanções, compõe-se de instâncias formais e informais de controle 
social do crime. 
Nessa linha, objetivando a disciplina social, agem as instâncias 
informais de controle social do crime, como a família, escola, o âmbito 
profissional, os meios de comunicação social, comunidade e outras. Da mesma 
forma as instâncias formais de controle social do crime, compostas 
principalmente pela Polícia, órgãos judiciários e o sistema penitenciário. 
Então, o controle do crime é exercido por inúmeras instituições, sendo 
talvez de menor importância o papel das instâncias formais, apesar de 
chamarem maior atenção social, uma vez que instituições como a família, igreja, 
escola e comunidade tem uma capilaridade e potencial incalculável de 
prevenção criminal. 
Para a Criminologia, tanto as instâncias formais como as informais 
são objeto de estudo, para buscar prover a sociedade de informação qualificada 
para melhor tratar o problema criminal. 
Desse modo, a efetividade dos controles sociais do crime sofre 
acentuada atenção da Criminologia, sendo o Sistema de Justiça Criminal alvo 
de severas críticas. 
5.5. O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL 
 
Possuindo uma estrutura semelhante nos países ocidentais, o 
Sistema de Justiça Criminal é composto no Brasil por órgãos dos Poderes 
Executivo e Judiciário da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. O 
Sistema de Justiça Criminal possui atribuições que abarcam desde a prevenção 
ao crime stricto senso, até a execução imposta aos condenados por sentença 
criminal. 
É integrado por órgãos especificamente voltados para atuar sobre o 
fenômeno criminal e que devem agir em harmonia, propiciando o cumprimento 
de seu fim. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
18 
Em geral, o Sistema de Justiça Criminal é dividido em três 
subsistemas: subsistema policial (ou de segurança pública), subsistema de 
justiça criminal (ou judicial) e subsistema de execução penal. Suas funções são 
exercidas majoritariamente pelos Poderes Públicos estaduais, sendo de menor 
amplitude a participação dos órgãos federais e municipais. 
O denominado subsistema de justiça criminal policial é composto 
pelas Polícias Civis, Polícias Militares, Guardas Municipais, Polícia Federal, 
Polícias Rodoviária e Ferroviária, Secretaria Nacional de Segurança Pública 
(Senasp) e Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). 
O subsistema judicial é composto por juízes de direito, Tribunais de 
Justiça, Ministério Público estadual, Defensoria Pública estadual, juízes federais, 
Tribunais Regionais Federais, Ministério Público Federal, órgão judiciários 
eleitorais e militares. Além desses, alguns tribunais superiores também têm 
atribuições criminais. 
O subsistema de execução penal é integrado sobretudo pelos 
departamentos penitenciários, integrando-o também órgãos da Defensoria 
Pública, Ministério Público, Judiciário, seja no domínio estadual ou federal. Ainda 
o compõem o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), 
o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e os Conselhos Locais. 
Esta composição pode ser alargada dependendo da interpretação que 
se der para a atuação de determinados órgãos e entidades, como é o caso da 
própria advocacia privada. 
Abaixo, quadro com os principais órgãos componentes do Sistema de 
Justiça Criminal brasileiro. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
19 
 
O Sistema de Justiça Criminal, como instância formal de controle 
social da criminalidade, recebe grande atenção social e da Criminologia, 
passando a ser foco de atenção científica, em uma virada temática, perquirindo-
se como a sociedade reage formalmente ao crime. 
Entre as maiores críticas dirigidas às instâncias formais de controle 
do crime, está o seu processo de seleção da delinquência, a seletividade 
criminal, gerando inclusive cifras negras ou cifras ocultas da criminalidade, 
predominando como sua clientela representantes das classes mais pobres da 
sociedade, mesmo sabendo-se que o crime está fortemente presente em todos 
os estratos sociais. 
6. BREVE HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA 
O crime, o infrator e o problema criminal não são fatos recentes na 
história humana, haja vista que sempre houve quem rompesse a ordem social, 
o comportamento esperado. 
Logo, a preocupação com o desvio criminal não é recente, contudo, a 
sua abordagem científica e a instituição da Criminologia são realidades novas 
historicamente. Respostas científicas de maior valor para o controle do crime e 
incorporadas à Política Criminal, algo mais moderno ainda. 
Subsistema Policial
•Polícias civis
•Polícias militares
•Guardas Municipais
•Órgãos de trânsito
•Polícia Federal
•Polícia Rodoviária 
Federal
•SENASP
•Secretarias de 
Segurança Pública
•Etc
Subsistema Judicial
•Órgãos do Judiciário 
em diversas instâncias 
da União e Estados
•Defensoria Pública
•Ministério Público
Subsistema
penitenciário ou de 
execução penal
•Órgãosdo Judiciário
•Conselho 
Penintenciário
•Defensoria Pública
•Ministério Público
•Departamentos 
Penitenciários
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
20 
Como estudo científico, considera-se o seu nascimento com o 
positivismo criminológico, ou Escola Positiva italiana, generalizando o método 
empírico-indutivo na busca de esclarecer o problema criminal, tendo como 
principais representantes Lombroso, Garófalo e Ferri. 
Anteriormente a essa inauguração da ciência criminológica, foram 
apresentadas diversas conclusões de estudos sobre a criminalidade, em uma 
fase que pode ser chamada de pré-científica. 
Nessa etapa, por um lado temos a chamada Criminologia Clássica, 
esteada nas ideias do Iluminismo. Por outro, um enfoque empírico, desenvolvido 
por estudiosos de diversas áreas, mas ainda de forma dispersa. Tendo ambas a 
serventia substituir a especulação e o sobrenatural pela observação e análise. 
A Criminologia Clássica tem base liberal, racionalista, considerando o 
crime mero fato individual, um descumprimento da lei, não analisando a pessoa 
delinquente, nem a realidade social ao seu redor. 
Apesar dos avanços concebidos pela Criminologia Clássica, tem o 
crime como uma simples escolha racional, não apresentando uma estratégia 
para a construção de uma Política Criminal. O representante mais consagrado 
dessa fase é Beccaria. 
Nessa fase pré-científica, destacam-se ainda as pesquisas 
desenvolvidas por Bentham e Howard, analisando a realidade penitenciária e 
defendendo sua reforma e a relevância do emprego de estatísticas. 
São encontradas ainda relevantes pesquisas no domínio da 
Fisionomia, Frenologia, Psiquiatria, Antropologia, inclusive com a contribuição 
de Darwin. 
A denominada Escola Cartográfica ou Estatística Moral, considerada 
uma ponte entre a Criminologia Clássica e a Criminologia Positiva, nasce com 
as bruscas mudanças sociais promovidas pela Revolução industrial, a qual 
trouxe desorganização social e o crescimento da criminalidade. Um choque com 
o ideal Iluminista. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
21 
À denominada Escola Cartográfica incumbiu o papel de estudar o 
crime como uma questão de massa, social, como fato social, algo mensurável. 
Aplicando, assim, métodos estatísticos, quantitativos, para entender a dinâmica 
da criminalidade, não do criminoso. 
Passando ao positivismo criminológico ou Escola Positiva, o que mais 
fortemente a caracteriza é a sua metodologia empírica, experimental, casando-
se com o modelo causal-explicativo defendido pelo positivismo para a ciência. 
Enquanto para a Criminologia Clássica o crime era algo abstrato, para 
a Escola Positiva o crime é algo concreto, natural, empírico, real. Para entender 
o crime e a criminalidade, a Escola Positiva defende ser imprescindível conhecer 
suas causas, para atingir sua raiz com programas de prevenção. 
Representante sempre citado desse período de desenvolvimento da 
ciência criminológica, Lombroso deve ser lembrado não pela sua tipologia de 
criminosos, pelo seu criminoso nato, mas sim pelo emprego do método empírico, 
superando o mágico, o teológico, o abstrato, o metafísico no conhecimento da 
realidade criminal. 
Outro pesquisador de absoluto relevo para o positivismo criminológico 
foi Ferri, considerado o pai da Sociologia Criminal. 
Ferri defendia ser o crime produto da ação de uma gama de 
elementos, entre eles aspectos sociais, físicos e individuais, não seria, dessa 
forma, fruto de uma patologia do ser. 
A Escola Positiva provocou uma série de polêmicas entre correntes 
de pensamento clássicas e positivistas, assim como divergências entre 
positivistas sobre a relevância do meio social e de fatores socioeconômicos na 
criminalidade. 
Como consequência, despontaram as lutas entre escolas de 
pensamento e a formação das denominadas escolas ecléticas, buscando um 
equilíbrio entre os divergentes. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
22 
Nesse contexto surgem a Escola de Lyon, a Escola da Defesa Social, 
a Escola Sociológica Alemã, a Terza Scuola, o pensamento psicossociológico 
de Tarde entre outras a traçar os rumos da moderna Criminologia. 
A Escola Francesa de Lyon defende a importância extraordinária do 
ambiente social na origem da criminalidade, sendo fundamentais os estudos de 
Lacassagne e Tarde. 
Tarde, que foi diretor de Estatística Criminal do Ministério de Justiça 
francês, desenvolveu estudos qualificados como psicossociológicos. Elaborou 
estudos sobre o processo de aprendizagem criminal, dando muito relevo a esse 
processo, dando ênfase que a sociedade com seus valores e ideais influi 
decisivamente no processo de construção da criminalidade. 
Tarde foi precursor de inúmeros estudos modernos, como as 
subculturas criminais, o desenvolvimento tecnológico e sua relação com o crime, 
queda dos valores sociais e familiares como criminógenos, o êxodo rural na sua 
relação com a criminalidade. 
A Terza Scuola, a Escola Sociológica Alemã, a Escola da Defesa 
Social tiveram a grande virtude de consolidar a ciência criminológica, 
provocando a ponderação sobre as questões mais relevantes para a nova 
ciência. 
Nessa linha, enriquecem o debate sobre o a influência da Sociologia, 
Antropologia, Estatística e Psicologia no Direito. A necessidade de se tratar do 
problema criminal de forma científica, fugindo de sua abordagem filosófica ou 
jurídica. A defesa da sociedade com o trabalho organizado da Criminologia e 
outras ciências. 
Dessa maneira, chegamos à contemporânea Criminologia, em busca 
de entender como traços individuais interagem com fatores sociais, procurando 
caminhos para enfrentar o desafio da criminalidade moderna. 
7. SELETIVIDADE CRIMINAL E CIFRAS OCULTAS DA CRIMINALIDADE 
O poder de definição do que será perseguido, investigado, 
denunciado, julgado e punido faz parte do estabelecimento do que será crime, 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
23 
formando-se uma instância de imputação do que será delito ou não (o que será 
tratado como crime no interior do Sistema de Justiça Criminal). 
A seleção da delinquência é legítima quando estabelecida pelo poder 
legislativo, em bases proporcionais, assentada em evidências científicas e 
obedecendo a preceitos democráticos e constitucionais, para se definir o que 
será crime ou não, ou qual pena aplicar. 
Ocorre que, no seio das instâncias formais de controle do crime 
também há um processo silencioso de seleção, refletindo, por exemplo, no 
predomínio de pessoas de estrato social menos privilegiado economicamente 
nos presídios. 
As ações do Sistema de Justiça Criminal são mal distribuídas e há 
discricionariedade em suas ações ao escolher sobre o que atuar, e sobre quem 
atuar, operando sobre uma clientela específica. 
Esse processo de seleção sobre onde agir pode obedecer a diferentes 
mecanismos, como o poder dos possíveis alvos de atuação do processo, com 
status econômico e político, limitando de diferentes formas a capacidade e 
vontade do Sistema de Justiça Criminal de contra eles abrir processos formais, 
ou se estes são instalados, não tenham um fim adequado com a consequente 
punição. 
Outro mecanismo de seleção da criminalidade é o estereótipo, tendo 
a clientela do Sistema de Justiça Criminal preferencialmente certos sinais 
exteriores que se imputam a um delinquente, tais como o vestuário, cor da pele, 
origem, local em que se encontra e outros estigmas que retroalimentam esse 
processo de seleção criminal. Pois as estatísticas vão mostrar que os portadores 
de tais características são maioria entre os escolhidos pelo Sistema de Justiça 
Criminal. 
Esse processo de seleção da criminalidade é responsável, também, 
pela criação das chamadas cifras ocultas ou cifras negras da criminalidade.Cifra oculta, ou criminalidade oculta, ou cifra negra, é fenômeno 
caracterizado pelo elevado número de condutas criminosas que não são 
computadas nas estatísticas oficiais. 
A quantidade de criminalidade oculta não é conhecida, mas se 
acredita que seja maior que o volume apresentado pelas estatísticas oficiais. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
24 
Como dito, cifra oculta é a criminalidade não levada às instâncias 
formais de controle ou não registrada por elas. Por outro lado, denomina-se 
mortalidade de casos criminais às mortes dos processos formais dentro do 
Sistema de Justiça Criminal. 
Isso pois nem todo crime notificado será esclarecido, nem todo crime 
esclarecido será denunciado, nem todos os denunciados serão condenados, 
nem todos os condenados cumprirão pena, não conseguindo sobreviver muitos 
casos na passagem de uma instância para outra do Sistema de Justiça Criminal. 
São apontadas como razões para a existência da criminalidade 
oculta: a não visibilidade do crime; razões ligadas à vitima que por diversos 
motivos não reporta o fato (a vítima é uma instância não formal de seleção 
determinante); a tolerância diante de certos tipos de crime; a utilização de formas 
não formais de atuar sobre a criminalidade; a discricionariedade de órgãos do 
Sistema de Justiça Criminal que selecionam quais crimes irão receber e 
processar. 
A criminalidade oculta é um grande entrave para as pesquisas 
criminológicas, pois conhecer-se a verdadeira realidade da criminalidade é 
essencial para poder melhor lidar com o problema delitivo. 
Para superar essa dificuldade em se perceber a criminalidade real, 
tem sido usadas técnicas de pesquisa, tais como os inquéritos de autodenúncia 
e os inquéritos de vitimização, com o fim de se conhecer o verdadeiro volume de 
crimes e sua distinção dos relatórios oficiais. 
8. MODELOS DE RESPOSTA AO PROBLEMA CRIMINAL E A JUSTIÇA 
RESTAURATIVA 
Cabe à contemporânea Criminologia, como um de seus principais 
objetivos, examinar a qualidade das soluções e respostas dadas pela sociedade 
ao problema criminal. 
Três modelos de resposta social ao delito são geralmente 
apresentados com paradigmáticos: o modelo dissuasório clássico, o modelo 
ressocializador e o modelo integrador. 
Para o paradigma dissuasório, a intervenção sobre a criminalidade se 
reduz à busca da punição, à aplicação de pena ao infrator, à existência de um 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
25 
ordenamento jurídico amplo, à certeza de uma punição rápida, o que provocaria 
um benéfico efeito dissuasório e a preventivo do crime diante da sociedade. O 
crime para o esquema dissuasório se resume a um enfrentamento entre o Estado 
e o delinquente. 
O modelo dissuasório trabalha com uma visão limitada de prevenção 
criminal, supervaloriza o pode intimidatório da pena, esquece-se da vítima e da 
comunidade, não resolve conflitos. 
Por outro lado, o modelo ressocializador possui como objetivo 
primário a reintegração do infrator à sociedade, muda o foco da intervenção, 
procurando intervir na pessoa do criminoso. 
A ideologia ressocializadora sofre duas principais críticas, primeiro o 
fato de que nem todos os infratores precisam, são capazes ou desejam passar 
por um processo de renovação. Segundo a falta de legitimidade do Estado para 
promover essa requalificação do infrator. 
O modelo integrador, a seu turno, quer desenvolver o sistema de 
resposta ao problema criminal trazendo novas demandas, procurando que a 
intervenção seja mais ampla. 
O modelo integrador cria uma visão revolucionária de reação ao 
delito, enfatizando a necessidade de compensar e recompor os danos do crime, 
pacificar conflitos que desaguaram na conduta ilícita, reparação e participação 
da vítima e da comunidade na pacificação das relações sociais envolvidas. 
Esse modelo apresentado como Justiça Restaurativa faz duras 
críticas ao paradigma vigente, pois esquece da vítima e da comunidade na 
resposta ao conflito e que estes devem ter papel central na solução da contenda. 
É um modelo não punitivo, uma alternativa ao paradigma retributivo 
dominante, certo da incapacidade e ineficácia do atual Sistema de Justiça 
Criminal para solucionar o problema do crime, procura reconstruir 
profundamente o esquema operante. 
Para a Justiça Restaurativa, deve-se romper com o modelo punitivo-
retributivo, o qual só mira em retribuir o malfeito, tendo o crime como relação 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
26 
entre o Estado e o criminoso, a fim de centrar as atenções na reparação à vítima, 
à sociedade e até mesmo ao ofensor, solucionando conflitos, trazendo as partes 
(vítima, comunidade, criminoso) ao centro do processo. 
A Justiça Restaurativa concebe o crime como desavença entre 
pessoas, um conflito a ser solucionado por essas, em conjunto com a 
comunidade, aplicando técnicas diversas, como a mediação. O crime não é 
considerado como um fato jurídico isolado, mas consequência de uma 
multiplicidade de fatores. 
9. PREVENÇÃO CRIMINAL E AS ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA 
CRIMINALIDADE 
9.1. CONCEITO DE PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE 
Há antecedentes históricos longínquos que indicam a preocupação 
com a prevenção da criminalidade, como a própria arquitetura das pirâmides 
egípcias, pensada para evitar ataques. 
Contudo, o interesse maior pelo tema surge com a expansão dos 
índices de criminalidade e do sentimento de insegurança provocada por 
transformações sociais, culturais e econômicas. 
Globalização, exclusão social, diluição dos mecanismos informais de 
controle, sociedades multiétnicas, multiplicação dos espaços de anonimato, 
adensamento das áreas urbanas, entre outros, são mudanças contemporâneas 
que explicam o aumento da criminalidade. 
A Resolução 2002/13, do Conselho Econômico e Social das Nações 
Unidas, de 24 de julho de 2002, e o seu anexo Guidelines for the Prevention of 
Crime, reconhece que: 1. As causas do crime são múltiplas; 2. A prevenção da 
criminalidade deve assentar em políticas, estratégias e planos de ação (ou 
programas) multisetoriais, multidisciplinares, concebidos e implementados com 
a participação da sociedade civil. 
Sendo o próprio conceito de crime e, em consequência, sua 
prevenção, objeto de acalorados debates científicos, surgem inúmeras e 
respeitáveis propostas de conceitos. Assim, devido ao curto espaço desta 
apostila, apresentam-se os conceitos formulados pela ONU e pela União 
Europeia. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
27 
Conforme a Rede Europeia de Prevenção da Criminalidade, a 
prevenção da criminalidade “abrange todas as medidas destinadas a reduzir ou 
a contribuir para a redução da criminalidade e do sentimento de insegurança dos 
cidadãos, tanto quantitativa como qualitativamente, quer através de medidas de 
dissuasão de atividades criminosas, quer através de políticas e ações destinadas 
a reduzir os fatores potencializadores das causas de criminalidade. A prevenção 
da criminalidade inclui o contributo dos governos, das autoridades competentes, 
dos serviços de justiça criminal, das autoridades locais e das associações 
especializadas que tiverem criado na Europa, dos setores privados e do 
voluntariado, bem como dos investigadores e do público, com o apoio dos meios 
de comunicação social.” 
Já as Nações Unidas definem a prevenção da criminalidade como 
“compreendendo as estratégias e as medidas que visam reduzir o risco de 
ocorrência de crimes, e os seus potenciais efeitos danosos nos indivíduos e na 
sociedade, incluindo o medo do crime, pela intervenção para influenciar as suas 
múltiplas causas. O cumprimento das leis, penas e condenações, embora 
também desempenhe funções preventivas, encontra-se fora do escopo das 
linhas de orientação, considerandoa extensa cobertura do assunto em outros 
instrumentos das Nações Unidas”. 
Logo, tanto o controle social informal, como o controle social formal 
(Sistema de Justiça Criminal) devem agir de forma complementar na busca de 
conter os índices criminais. 
Até recentemente, a preocupação das políticas criminais era focada 
na reação a infrações penais, contudo, essa postura de ação retardada ao 
evento criminal vem sofrendo redirecionamentos, buscando-se, então, 
desenvolver-se estratégias para diminuírem-se os fatores de risco a que o crime 
venha a ocorrer e procurando aumentar a resistência individual ao cometimento 
do crime. 
9.2. TIPOLOGIAS DE PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE 
Em última instância, o que toda sociedade deseja é que o crime e 
seus danos não venham a ocorrer, pois é melhor prevenir que remediar, como 
diz a máxima. Essa tarefa de evitar que desvios criminais venham a se 
concretizar deve ser enfrentada pelos controles sociais formais e informais. Os 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
28 
formais são os órgãos do Sistema de Justiça Criminal, os informais promovidos 
por setores outros como a escola, a comunidade, a igreja, o trabalho, a família 
etc. Todos esses âmbitos de atuação, agindo conjuntamente, podem trazer um 
impacto muito positivo ao controle do crime. 
As ações de prevenção possuem naturezas diversas, daí se constatar 
a existência de diferentes tipologias abordadas pelos teóricos, das quais podem-
se citar algumas: 
a) Prevenção corretiva, a qual é dirigida às causas do crime, em contraposição 
à prevenção punitiva, que busca retirar o criminoso do meio em que está, 
evitando que continue a delinquir, utilizando-se para isso do Sistema de Justiça 
Criminal; 
b) Prevenção geral e prevenção especial, a primeira dirigida a toda a sociedade, 
com o fim de desmotivar potenciais criminosos, evitando que saiam da cogitação 
e passem à execução do crime, por meio da ameaça da pena e sua aplicação; 
a prevenção especial age sobre aqueles que já cometeram o crime, diante da 
falha da prevenção geral, impõe-se ao criminoso a pena para que não venha a 
reincidir, ou neutralizando suas ações com a retirada do meio social; 
c) Prevenção primária, aborda o meio social e físico com o fim de diminuir as 
oportunidades para a prática do crime, procurando o desenvolvimento social. Há 
proatividade na implementação de atividades voltadas ao público em geral. 
Envolve ações para implementar bem-estar social com o fornecimento de 
serviços de saúde, educação, restauração do ambiente urbano, emprego etc.; 
d) Prevenção secundária, que é dirigida àqueles que estão em risco de delinquir. 
Concentra-se principalmente sobre crianças e jovens em situação risco de se 
tornarem infratores, além da implementação de programas comunitários para 
controlar atividades criminais; 
e) Prevenção terciária, que se refere à intervenção principalmente do Sistema 
de Justiça Criminal. Busca prevenir a reincidência, dirige seus esforços àqueles 
sentenciados por terem cometido infrações penais, desenvolvendo programas 
de reinserção social; 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
29 
f) Prevenção situacional, a qual se funda na premissa de que, entre a cogitação 
e a execução crime, age não só a motivação do criminoso, mas também as 
oportunidades que o ambiente propicia, assim, alguns tipos de crimes ou as ditas 
incivilidades poderiam ser impedidas, criando mecanismos que aumentem os 
riscos para os autores dos fatos ilícitos, minimizando seus benefícios e 
diminuindo as oportunidades; 
g) Prevenção social, que tem como alvo o ser humano e é centrada em políticas 
públicas que reduzam os fatores de risco, mirando particularmente crianças, 
jovens e grupos de risco, investindo em educação, saúde, emprego etc. 
h) Prevenção no âmbito da formação da personalidade do indivíduo, a qual é 
voltada para a formação psíquica da pessoa. Pode abranger tanto ações 
voltadas para grupos de risco, como para a sociedade em geral; 
i) Prevenção no âmbito da constituição das situações pre-criminais, que visa 
anular ou restringir conjunturas aptas a permitir a preparação ou execução do 
crime. 
j) Prevenção no âmbito do desenvolvimento dos processos de passagem ao ato, 
que mira a criação de riscos para potenciais criminosos, de forma que impeça a 
execução de atos ilícitos; 
l) Prevenção desenvolvimental, advoga que a tendência ao cometimento de 
crimes é influenciada por padrões de comportamento aprendidos durante o 
processo de desenvolvimento da pessoa ao longo da vida. Os primeiros anos da 
vida seriam muito relevantes para definir todo o curso da existência, razão pela 
qual medidas de longo prazo voltadas à infância, adolescência, à família tem 
maior efetividade na prevenção do crime; 
m) prevenção comunitária, é uma espécie de combinação de prevenção 
desenvolvimental e situacional, com uma conjunção de esforços para diminuir os 
fatores de risco ao longo da vida das pessoas e reduzir as oportunidades do 
crime. Entende que as comunidades residenciais têm uma grande contribuição 
a dar para a prevenção criminal, mobilizando a população local para atuar e 
proteger seu meio social. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
30 
Percebe-se, desse modo, a atenção dos estudos da prevenção em 
três terrenos: individual, situacional e estrutura social. Todos são 
complementares e o papel da Criminologia é essencial na implementação e 
avaliação desses programas. 
9.3. O SENTIMENTO DE INSEGURANÇA E O MEDO DO CRIME 
Apesar de comumente o sentimento de insegurança e o medo do 
crime serem tratados como um mesmo fenômeno, mormente nos discursos 
políticos e na abordagem da mídia, eles possuem abrangência distinta, sendo o 
medo do crime acontecimento mais restrito. O medo do crime é somente mais 
um dos fatores que levam ao sentimento de insegurança. 
A abordagem desses acontecimentos sociais é necessária, pois a 
qualidade de vida do ser humano é diretamente afetada por tais representações, 
tendo as instâncias formais de controle do crime, principalmente as polícias, 
grande responsabilidade diante dessas percepções, haja vista que o seu papel 
é promover a dignidade humana, devendo tomar cautelas para que os riscos 
objetivos não sejam super ou subdimensionados. 
Qualquer um dos dois fatores pode trazer efeitos sociais deletérios, 
com as pessoas se colocando em situação de risco quando não percebem o 
tamanho das ameaças ou perdendo a qualidade de vida quando a percepção de 
risco é exagerada. 
Entre os agentes que podem levar ao sentimento de insegurança, 
podemos citar crise econômica, mudanças climáticas, proliferação de doenças, 
o medo do crime, entre outros, devendo os órgãos de segurança tomar muito 
cuidado, principalmente no tratamento com a mídia, para não fomentar 
inadequadamente essas sensações. 
Assim, o sentimento de insegurança pode ser definido como uma 
imagem do ambiente social em que está inserido o indivíduo, através da 
interpretação de vários sinais que surgem a sua volta, internalizando sensação 
de caos e de falta de controle do Estado sobre o meio social. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
31 
É um ciclo de angústia provocado pela interpretação de vários 
elementos do meio em que se está inserido, vinculado às informações 
disponíveis sobre a realidade, seja em decorrência de experiências pessoais ou 
informações agregadas sobre o universo que nos circunda. 
Já o medo do crime, de menor extensão, pode ser abordado sobre um 
ponto de vista construtivista ou securitarista. Sob o primeiro ângulo, o medo do 
crime retrata uma realidade social produzida pelos meios de comunicação social 
e pelo discurso político, já sob o segundo, há direta relação entre o medo do 
crime e crimes ocorridos.O medo do crime é a inquietude derivada do evento criminal. É uma 
resposta que pode ser produzida tanto por um acontecimento real, como pode 
ser fruto de uma falsa percepção da realidade. 
Tarefa social é fazer com que a percepção dos riscos esteja 
compatível com os riscos objetivos, tanto para que não seja criado um ambiente 
de desequilíbrio social, decorrência de uma interpretação errônea do que está 
acontecendo de fato, como para que uma baixa percepção do risco não leve as 
pessoas a se exporem demasiadamente a ameaças. 
9.4. TRANSFERÊNCIA DA CRIMINALIDADE 
A questão da transferência da criminalidade está diretamente 
relacionada com programas de prevenção que têm como objetivo atuar sobre 
determinado tipo de crime ou determinado ambiente onde este ocorre. 
Geralmente vinculada a estratégias de prevenção situacional, ela 
ocorre quando, ao remover oportunidades para a execução de determinados 
tipos de crimes ou a ação em determinado ambiente, há como efeito a adaptação 
dos criminosos ao novo cenário, deslocando-se para outro local ou para outros 
tipos de crimes. 
A transferência da criminalidade é uma reação do mundo criminal às 
estratégias de prevenção empregadas, haja vista que não se atuou sobre as 
motivações para a prática do crime. Isto ocorre, pois aqueles que estão dispostos 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
32 
a praticar a infração penal são capazes de buscar alternativas, pois sempre 
poderá haver novos alvos. 
Os estudiosos apontam cinco formas de transferência: geográfica, 
temporal, alvo, modus operandi, tipo de crime. 
O evento transferência da criminalidade não necessariamente irá 
ocorrer, contudo, no planejamento das ações preventivas, deve-se dar especial 
atenção para a possibilidade de sua ocorrência, implementando ações 
estratégicas para que as estratégias de prevenção não permitam que 
simplesmente o crime migre para outro lugar, momento, ramo de atuação. 
Para que isso não ocorra, deve-se traçar cenários de possível reação 
da criminalidade, e implementar intervenções para conter o fenômeno, como o 
compartilhamento de dados com outras instâncias, para que possam agir diante 
de uma possível migração de grupos criminosos, ou o diálogo com outros setores 
possivelmente afetados pela transferência. 
A transferência da criminalidade é, por exemplo, fator de preocupação 
diante de uma possível descriminalização do uso e tráfico de drogas, pois os 
traficantes possivelmente irão dedicar-se a outros mercados ilícitos. 
 Contudo, diante da complexidade que é a passagem da cogitação ao 
cometimento de um crime, a transferência não é um fenômeno inevitável, sendo 
que medidas de prevenção e repressão de determinado tipo de criminalidade 
podem até levar à difusão de benefícios no âmbito da segurança pública a áreas 
não necessariamente miradas inicialmente. 
10. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS DO CRIME E CRIMINALIDADE 
 
10.1. INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
33 
 
 Fatores que influenciam os riscos do crime e da violência1 
 
 A Criminologia possui um vasto campo de atuação, tendo interesse 
sobre essa área do conhecimento profissionais das mais variadas origens, de 
matemáticos a sociólogos, de arquitetos a médicos. 
 Isso não é por acaso, procurar entender o comportamento humano 
e o porquê ele chega a cometer ações criminais provoca a imaginação e afeta 
acadêmicos e não acadêmicos de todos os estratos sociais. 
 A ciência nos tira do senso comum, de visões estereotipadas, do 
preconceito, nos ajuda a compreender e melhor exercer a tarefa de contribuir 
com a sociedade nessa demanda tão complexa. 
 
1 ONU. Manual de diretrizes de prevenção à criminalidade. Nova York, 2010. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
34 
 Seria muito relevante neste momento abordarmos o método 
científico e as técnicas de investigação científica, por um lado para compreender-
se como são construídas as teorias e os modelos de resposta ao problema 
criminal, por outro lado para ajudar o profissional a melhor desenvolver suas 
atividades cotidianas com técnicas como as estatísticas, as pesquisas sociais, a 
exploração, a entrevista, o questionário, a observação, a discussão em grupo, o 
experimento, os testes psicológicos, os estudos de seguimento, entre outros. 
 Contudo, nestas linhas não o cabe, aqui deixamos a provocação 
para ir se conhecer o método criminológico e o uso de bases de dados e o acesso 
à vítima, ao criminoso e ao sistema de justiça criminal para desenvolver-se 
conhecimento válido sobre o fenômeno criminal. 
 Relevante lembrar-se que a Criminologia não é uma ciência 
dura/exata, apesar de ser empírica e interdisciplinar. Logo, lidando com o 
comportamento humano, lidaremos com probabilidades, não com soluções 
imutáveis e irrepreensíveis. 
 E a Criminologia, como já dito, não irá esquadrinhar somente as 
ações do criminoso e os porquês de ter cometido o crime, mas também o meio 
ambiente criminal, os órgãos de controle do crime, a vítima e mesmo o 
estabelecimento do que é crime e como se define o será tipificado como crime 
ou não. 
 Neste capítulo aborda-se exclusivamente as denominadas teorias 
criminológicas. Teorias são ferramentas úteis para entender e explicar o mundo 
a nossa volta. Na Criminologia, nos ajuda a compreender o Sistema de Justiça 
Criminal, o criminoso a vítima e o evento crime. 
As teorias sugerem o como as coisas são, não como deveriam ser, 
diferentemente da ideologia. As teorias criminológicas podem explicar o crime 
no nível macro ou micro, sendo que para sua máxima eficácia devem ter 
consistência lógica, explicar a maior quantidade de comportamentos possíveis e 
ser concisa. 
 O Brasil tem pouca tradição no desenvolvimento de pesquisas 
criminológicas, apesar dos altos índices de criminalidade, e as publicações, em 
geral, tem pouco cunho prático. 
Por ser uma área de conhecimento vasta, multidisciplinar, às vezes 
com aparência de caótica, os manuais de Criminologia costumam, para fins 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
35 
didáticos, organizar o seu conteúdo em Escolas de Pensamento, fazendo um 
apanhado histórico das teorias construídas ao longo do tempo. 
Apesar da vantagem didática, muitas análises científicas que só 
parecem similares são colocadas juntas, empobrecendo o conhecimento 
científico e não deixando claro em que ponto está o entendimento sobre o crime. 
O conhecimento criminológico não é estático e não fica preso a 
Escolas de Pensamento, muito do que se encontra nos manuais são descobertas 
ultrapassadas. 
Modernamente, as inúmeras pesquisas e teorias criminológicas 
concentram-se em quatro grandes temas: 
a) Pesquisas voltadas para o exame da relevância dos traços individuais, dos 
fatores de risco individuais a fazer o crime um resultado provável. Afinal, 
contribuir para um crime é resultado da posição social do indivíduo ou de traços 
individuais? As modernas pesquisas, usando novas tecnologias, deixam claro 
que as pessoas nascem diferentes, os traços individuas são muito relevantes, a 
grande questão é saber como fatores sociais interagem com traços individuais; 
b) Pesquisas a explorar o contexto criminal que dispara o evento desviante, no 
micro e macro nível. O debate gira em torno de fatores estruturais que 
motivariam o crime (pobreza, desigualdade, desemprego, fatores econômicos) e 
fatores que tem o efeito de o desmotivar, como laços sociais, compromisso 
comunitário, rede de contatos. O contexto estudado vai do ambiente familiar e 
relações de amizade à estrutura comunitária, assim como a relevância de fatores 
culturais no fomento e contenção do crime; 
c) Linhas de pesquisas que envolvem o evento criminal, analisando o que faz com 
que no tempo eno espaço tenha-se maior motivação para a execução do crime, 
quais seriam as contingências situacionais que favoreceriam ou incentivariam a 
saída da cogitação para a execução do crime. Essa mesma linha de pesquisa 
tem teorizado as oportunidades para o cometimento, procurando as razões da 
concentração de atividades ilícitas em certas áreas, em certos tipos de vítimas, 
porque certa criminalidade é persistente e como se reduzir essas oportunidades, 
manipulando o ambiente criminal; 
d) Outro agrupamento de pesquisas criminológicas se dedica a investigar se as 
ações adotadas para controlar o crime são eficazes e legítimas. Traz um olhar 
crítico sobre as políticas criminais, os atos tipificados criminalmente, os efeitos 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
36 
do encarceramento e se há resultados positivos sobre a segurança pública. 
Analisa também a seletividade do sistema de justiça criminal etc. 
 
Abaixo iremos abordar algumas das teorias mais difundidas sobre o 
crime. 
10.2. O PROBLEMA DA EXPLICAÇÃO DO DELITO (OU TEORIA GERAL SOBRE 
O COMPORTAMENTO HUMANO?) 
A Criminologia, como já exposto, tendo como fim prover aos órgãos 
do Estado e à coletividade informações sobre o crime, o criminoso, as vítimas e 
o controle social formal e informal do crime, municiando-os com dados científicos 
sobre a questão criminal, permite, de forma mais segura, reprimir/prevenir o 
crime e agir sobre o ser humano criminoso. 
No conceito de Lola Aniyar de Castro, a Criminologia pesquisa o 
processo de criação de normas sociais e de normas penais relacionadas ao 
comportamento desviante, estuda o desvio ou a infração destas normas, a 
reação social formal ou informal que elas podem provocar e os seus efeitos. 
O objeto da Criminologia vai além do que está vinculado ao direito 
criminal e ao relacionado com as instâncias formais de controle social. Abarca 
também o controle informal da infração ou desvio, estudando um amplo contexto, 
explorando a família, escola, igreja, comunidade e outras instâncias informais de 
controle. 
Inicialmente surgida com fim etiológico, buscando a causa do crime, 
no seu desenvolvimento a ciência Criminológica deixou de se preocupar 
somente com o aspecto individual, ou seja, por que alguém comete crimes, 
passando a abordar uma perspectiva mais crítica, estudando a ordem social, 
levando seu alcance para o problema criminal como resultado também da 
estrutura social. 
Certo é que a ciência ainda não alcançou um nível de 
desenvolvimento aceitável para explicar o crime, suas “causas” e estabelecer 
uma teoria definitiva. As próprias limitações das ciências sociais e a 
complexidade que é o comportamento humano, atendendo a fatores 
sociológicos e individuais, não permitem, ainda, visualizar uma perspectiva de 
eliminação deste distúrbio social. Contudo, está a fornecer elementos 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
37 
importantes para tratá-lo, na busca de levar os índices criminais a um grau 
tolerável. 
Há, além disso, correntes na Criminologia que vão atacar o próprio 
sistema de definição do crime. Deixa-se de questionar as causas que levam 
alguém a cometer crimes, para se questionar por que alguém é etiquetado como 
criminoso, inquirindo a legitimidade dessa imputação. 
Para fins didáticos, vamos citar as teorias criminológicas e tratá-las 
sucintamente, conforme guia da Oxford University Press, posteriormente expor 
as teorias criminológicas no caminho costumeiro das correntes sociológicas, 
biológicas e psicológicas. 
As biológicas procuram no corpo humano e no funcionamento de seus 
diversos órgãos a explicação para a execução do delito, tentam detectar uma 
anomalia que elucide a conduta criminal. Os estudos de orientação psicológica 
expõem as razões do comportamento ilícito como decorrência de processos 
mentais normais ou patológicos, enquanto os modelos sociológicos enfrentam o 
crime como um fenômeno social ligado a estruturas, processos e conflitos 
sociais. 
Importante deixar claro que neste curto espaço não é possível abordar 
todas as modernas teorias criminológicas, nem com a devida profundidade. 
A seguir, quadro composto por essas teorias “explicativas” do crime 
na sugestão de caminho de estudo proposto por Figueiredo Dias. 
 
 Bioantropológicas 
 
 
Psicodinâmicas 
Criminologia 
Psicanalítica 
 Teoria do 
Condicionamento 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
38 
 Containment 
Theory 
 Teoria do vínculo 
social 
 O homem 
delinquente 
(teorias de nível 
individual) 
Psico-
sociológicas 
Frustração-
agressão 
Teorias 
etiológico-
explicativas 
 Crime por 
sentimento de 
injustiça 
 Técnicas de 
Neutralização 
 Ecológicas 
 
 
Etiológicas 
Subcultura 
delinquente 
 A sociedade 
criminógena 
(teorias de nível 
sociológico) 
 
Anomia 
 Interacionistas 
(não etiológicas) 
 
10.3. TEORIAS CRIMINOLÓGICAS 
a) Teoria da escolha racional e da dissuasão: ligadas à visão clássica do 
controle do crime, declaram que, se a punição é certa, severa e célere, as 
pessoas evitarão cometer crimes. Elas operam na perspectiva do crime ser uma 
escolha, os indivíduos escolhem cometer o crime a partir de uma ponderação de 
perda e ganho, uma escolha entre violar ou não a lei. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
39 
Assim, o criminoso pratica os atos ilícitos a partir de uma escolha racional. 
Não há que se falar em causas do crime, pois parte-se do princípio do livre 
arbítrio diante da utilidade e oportunidade para se cometer o ato. 
O Sistema de Justiça Criminal procede com base nessa doutrina clássica, 
contudo esquece-se do fato de que a maioria das pessoas não irão cometer 
crimes em virtude de ser proibido por lei, ou por medo de uma pena, mas em 
virtude de suas convicções íntimas. Da mesma forma o criminoso não deixa de 
cometer crimes ponderando as consequências de suas ações. 
b) Teoria biológica e biossocial: as teorias biológicas tradicionais afirmavam 
que a pessoa comete atos ilícitos em virtude de defeitos biológicos ou genéticos. 
O crime seria resultado dessas anormalidades e não uma ação estudada pela 
pessoa em desvio. Dessa forma, para conter o crime seria necessário eliminar, 
isolar ou tratar a pessoa. 
As modernas teorias biossociais declaram que mesmo as pessoas com 
traços genéticos que levam à predisposição para o crime, essas características 
não são suficientes para levá-las à criminalidade. Com os avanços da ciência na 
área genética, neurológica, bioquímica e outras, é possível afirmar que as 
características individuais são relevantes para o contexto criminal, contudo não 
são determinantes. Havendo a necessidade de se aprofundar a relação entre 
traços individuais e o ambiente social a disparar a conduta ilícita. 
c) Teorias psicológicas: para essas teorias o crime não é uma escolha ou 
um defeito biológico, mas um problema na mente da pessoa. Vicissitudes no 
desenvolvimento infantil ou problemas na personalidade do ofensor são gatilhos 
para o comportamento delituoso. 
O crime seria só mais um sintoma de questões mentais subjacentes. Essas 
teorias defendem que o comportamento criminal pode ser evitado por meio de 
tratamentos a atuarem sobre distúrbios mentais ou traços de personalidade 
impróprios. 
d) Teoria da aprendizagem social: os cientistas formuladores dessas teorias 
defendem que o crime é aprendido pela interação com outras pessoas no meio 
social, como outros comportamentos. Os pesquisadores procuram saber como 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
40 
o processo de aprendizagem criminal se aprimora para poderem conceber 
estratégias para conter essa atividade cognitiva e a execução de atos criminais.Negando que o crime seja resultado de disposições biológicas, psicológicas 
ou uma escolha, tenta explicar como se dá o processo de aquisição e passagem 
de técnicas, valores e ideias criminais. Da mesma forma que atitudes positivas 
reforçam atitudes positivas, atitudes desviantes reforçariam atitudes desviantes, 
sendo necessário elaborar estratégias para modificar os comportamentos 
desviantes, modificando o proceder delitivo, retirando a gratificação dessa 
conduta. 
e) Teoria do laço social ou do controle: o cerne dessas teorias não é o porquê 
alguém comete um crime, mas sim o porquê há pessoas que não são criminosas. 
Em vez de perquirir as razões que levam ao cometimento do crime, perquire-se 
a motivação das pessoas seguidoras das normas. 
Deixando de lado o processo de aprendizado criminal, o corpo humano, a 
mente ou o sistema de escolha, os teorizadores do controle procuram saber 
como as pessoas são controladas pela sociedade eficazmente. 
Essas teorias indicam que uma pessoa irá cometer um crime quando seus 
laços sociais são frágeis ou se romperam, sendo que quando seus laços sociais 
são fortes irá evitar comportamentos delitivos. Por consequência, são relevantes 
para o controle social do crime instâncias como a família, a igreja, a escola, a 
comunidade. 
f) Teoria do etiquetamento (labeling): os pesquisadores procuram 
compreender qual é resultado da rotulação imposta pela sociedade e pelos 
órgãos do sistema de justiça criminal a uma pessoa após ser surpreendida 
cometendo um crime. Qual a consequência de ser tachado como criminoso? 
A estigmatização faria com que a pessoa se visse como criminoso nato e 
impediria sua reintegração? Como a sociedade e o sistema de justiça criminal 
interagem com pessoas que já cometeram crimes? 
Respostas a essas questões são de extrema relevância para os teóricos na 
busca de se evitar a reincidência. Nessa seara, exploram-se respostas ao 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
41 
problema criminal por meio de estratégias como a justiça restaurativa, se busca 
proteger adolescentes infratores da rotulação criminal, implementam-se ações 
de reintegração, evitando-se o desvio secundário, após o desvio primário. 
g) Teoria da desorganização social: concentra-se no desarranjo dos 
controles sociais tradicionais e das estruturas sociais. É uma teoria com olhar 
para aspectos macros a promover o fenômeno criminal. A desorganização de 
instâncias de controle social como a vizinhança, a comunidade, a família levam 
a atividades criminais, referindo-se, por isso, à criminalidade urbana. 
Acredita-se que locais marcados por mudanças constantes e deteriorados 
são mais propensos a terem altas taxas de criminalidade, pois são menos 
propensos a controlar o comportamento de seus residentes. Nessa mesma linha 
de pensamento, defende-se que fatores como índice de desemprego, bem-estar 
social, engajamento comunitário, trabalho voluntário, atividades cívicas são 
relevantes para a higidez social e o controle do crime. 
h) Teoria da anomia: a anomia pode ocorrer, conforme alguns teóricos, 
quando não há meios legítimos para se alcançar os objetivos sociais de sucesso, 
sucederia quando a sociedade está em um estado de desorganização, sem 
estabilidade e integração que permitiriam a todos buscarem os objetivos culturais 
impostos pela sociedade. 
Não havendo meios legítimos para alcançar esses objetivos e eles 
permanecendo desejados, a anomia pode se estabelecer, pressionando para 
que aqueles que não tem iguais oportunidades para alcançar o êxito social 
busquem alternativas. 
Essa falta de oportunidades, aliada à pressão pelo triunfo social, pode 
conduzir à busca por meios ilegítimos para a ascensão social, podendo levar à 
atividade criminal na busca do sucesso. 
i) Teoria do conflito: propõe que a lei e o sistema de justiça criminal 
incorporam os interesses e as normas dos mais poderosos grupos da sociedade, 
ao invés de representar a sociedade como um todo. 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
42 
O ponto de vista da teoria do conflito expõe o sistema legal como uma 
ferramenta para atender os interesses e necessidades dos poderosos, a lei e o 
sistema de justiça criminal sendo usados para manter os poderosos no poder. 
Dessa forma, aqueles que cometem crimes estão simplesmente agindo 
conforme suas próprias normas e valores, como uma cultura dos menos 
favorecidos, numa luta contra a alta sociedade. 
j) Teorias marxistas: para as teorias marxistas o capitalismo é a causa do 
crime. A lei e os sistema de justiça criminal são instrumentos para proteger a 
elite capitalista. Em uma sociedade capitalista, os meios de produção estão em 
posse de uma reduzida elite e são usados para dominar a classe de 
trabalhadores. Os crimes cometidos pela burguesia são crimes de dominação e 
repressão, enquanto os executados pelo proletariado são desvios de 
acomodação ou resistência à burguesia. 
k) Teorias críticas e radicais: são uma crítica ao modo como que o desvio é 
entendido e estudado. Sendo similares às teorias marxistas que acreditam que 
o crime é definido por aqueles que detém o poder social, recomendam que se 
abandone o método tradicional de pesquisa e se sonde como os atores sociais 
influenciam e entendem o crime. 
A teoria crítica não se interessa necessariamente pela explicação do delito, 
nem fornece uma teoria da criminalidade, mas muito se preocupa com o 
processo de seleção do que será crime e como as instâncias formais de controle 
selecionam quem será criminalizado, buscando políticas criminais alternativas. 
Possui uma perspectiva abolicionista, defendendo a descriminalização e a 
reforma social que promoverá a superação das deficiências socioeconômicas 
que propiciam comportamentos sociais negativos. 
10.4. A CONDUTA CRIMINAL À LUZ DA PSICOLOGIA, PSIQUIATRIA E 
PSICANÁLISE 
Em síntese, psiquiatria é o ramo da medicina que cuida das doenças 
mentais; a psicologia é o ramo da ciência que pesquisa a mente e os processos 
mentais, mormente o comportamento humano; já a psicanálise é o grupo de 
 
 
 institucional@iejur.com.br /iejur @iejur (61) 3032-6143 
43 
processos que têm como fim analisar experiências emocionais pretéritas, 
determinando suas consequências na vida mental presente do paciente. 
A psicanálise estuda o crime como expressão de um largo conflito 
psíquico passado, retrato de personalidade em desequilíbrio, só podendo ser 
esclarecido com a pesquisa do inconsciente. 
Uma das vertentes da psicanálise observa a personalidade como uma 
organização composta por três domínios: Id, Superego e Ego. O Id é a instância 
impulsiva e irracional da personalidade; o Superego é a parte que age como 
órgão de controle dos instintos do Id, é o âmbito de inibição dos impulsos, de 
repressão; o Ego é a esfera mediadora dos caminhos opostos do Id e do 
Superego, corresponde ao consciente, é onde está a nossa capacidade de 
raciocínio. 
A Criminologia psicanalítica não aceita a ideia de criminoso nato. Para 
esclarecer o crime, parte de três pilares: o ser humano é antissocial por essência; 
o crime tem explicação social, como decorrência do processo civilizatório sem 
sucesso sobre alguns; na infância se constrói a personalidade, dando ensejo à 
formação de distúrbios que levarão à conduta criminal. Os desvios seriam, então, 
decorrência da falta de controle do Superego sobre o Ego, o crime uma 
decorrência da obediência às demandas do Id, dando vazão ao criminoso 
existente em todos nós. 
As correntes psicanalíticas mais recentes têm dado também atenção 
a comportamentos coletivos, além de deixar de explicar o crime como fruto de 
desarmonia psíquica para apontar a deficiência na absorção de normas sociais 
como sua causa, apontando aspectos sociais que levariam a isso. 
Por outro lado, tratando-se do tema

Continue navegando