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O HOMEM COMO UM SER RADICALMENTE LIVRE: A CONCEPÇÃO ANTROPÓLOGICA EM SARTRE
Eudes Henrique da Silva 
RESUMO:
O presente artigo pretende refletir sobre a concepção antropológica sartriana, tendo como eixo norteador sua ideia acerca da liberdade. Deste modo, o nosso percurso será simples e versará sobre dois momentos, num primeiro momento, a título de introdução, veremos um pouco contextualizado e de forma geral como surgiu a corrente filosófica existencialista. Depois, adentraremos nos conceitos de homem e de liberdade, para entender de forma sistematizada a visão antropológica de Sartre. Para isso utilizamos o seu texto O existencialismo é um humanismo. Sartre acreditava na liberdade de tomar decisões, de dar saltos existenciais para o desconhecido, apesar de reconhecer que o "homem está condenado a ser livre" e que esta não pode estar dissociada da responsabilidade, assim, segundo ele, sou responsável por mim e por todos, e crio uma certa imagem do homem por mim escolhida; escolhendo-me, escolho o homem.
Palavras-chave: Existencialismo. Homem. Liberdade. Responsabilidade.
ABSTRACT:
This article examines the anthropological concept Sartre, and are guided by his concept of freedom. Thus, our route is simple and will focus on two moments, at first, by way of introduction, we will say something in context and in general emerged as a philosophical existentialist. Then we turn the concepts of man and freedom, in a systematic way to understand the anthropological Sartre. We used your text Existentialism Is a Humanism. Sartre believed in freedom to take decisions, existential leaps into the unknown, while acknowledging that "man is condemned to be free" and that this can not be separated from liability, so he says I am responsible for myself and all, and create a certain image of the man chosen for me, picking me, I choose man. 
Keywords: Existentialism. Man. Freedom. Responsibility.
INTRODUÇÃO
O existencialismo tal como a gente pensa tem seu início no século XIX com a falência do Idealismo objetivo. No entanto, firmou-se como corrente filosófica no período que marca as duas grandes guerras mundiais. Em meio a isso, o grande otimismo pregado pelo idealismo, pelo positivismo e pelo marxismo se vê em crise, a grande questão é onde se encontra a garantia do sentido da história em nome da razão, do espírito absoluto, a garantia de valores estáveis e de um progresso incontido pregado pelo pensamento iluminista de até então. A própria história dignou-se de frustrar tal segurança. As duas grandes guerras mundiais jogaram por terra os ideais da razão moderna. De outro modo, o existencialismo é uma corrente filosófica contemporânea que se afirma na Europa logo depois da Primeira Guerra Mundial, se impõe, como já vimos acima, entre as duas guerras, e toma corpo sobretudo nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial.
Assim, se considerarmos o tempo de seu nascimento e de seu crescimento, é fácil perceber que o existencialismo resulta e leva em consideração a situação histórica de uma Europa dilacerada física e moralmente por duas guerras. A Europa entre as duas guerras, experimenta em muitas das suas populações a perda da liberdade, com regimes totalitários em diversos países.
Designando um conjunto de doutrinas mais preocupadas com a existência concreta, do que com ideias abstratas, o existencialismo afirma-se nesse ambiente de crise. É uma reação contra a identificação entre realidade e racionalidade: a realidade, a existência são mistérios que a razão não pode pretender ter uma compreensão absoluta. O homem é um ser dilacerado por situações problemáticas, vive a experiência do absoluto, daquilo que não é claro e transparente e, por isso, se faz necessário uma filosofia que fale do homem concreto. Ou ainda, o existencialismo surge como uma resposta aos estigmas vividos pelo pensamento vigente, não tendo com isso a mesma presunção do mesmo, mas leva em consideração o homem em sua realidade nua e crua, como ser finito lançado no mundo continuamente dilacerado por situações cruciais. Sartre consegue enxergar o homem sem dissociá-lo de sua realidade concreta. Ora, encontramos um Sartre imerso num século onde a consciência humana está sujeita, por parte de não poucos, a tornar-se um brinquedo impotente de forças sobre-humanas; está num século atraído pelas seduções de irresponsabilidade, e é exatamente neste emaranhado de crise de valores que ele surge com ideias existencialistas, causando grande impacto.
Deste modo, o existencialismo seria a manifestação da esperança do homem em si mesmo, mesmo que ele seja considerado um ser simplesmente aí, jogado num mundo hostil, sem Deus ou esperança de salvação e que, na maioria das vezes encontra-se afundado numa existência inautêntica, no qual tudo está escolhido e decidido. O existencialismo assume, portanto, a postura de expor o homem a si mesmo, conclamando-o a assumir as possibilidades autênticas de sua existência.
O nosso texto versa sobre o homem como um ser radicalmente livre, apoiado na concepção antropológica de Sartre e tem como objetivo central compreender o homem sob uma perspectiva existencialista sartreana, seguindo o seguinte percurso: num primeiro momento, abordaremos o conceito sartreano de homem, depois nos apoiaremos no conceito do autor acercada liberdade, para melhor entender a própria condição humana.
1. O CONCEITO SARTREANO DE HOMEM
O humanismo existencialista em Sartre considera o homem como fim em si mesmo, como criador e legislador dos valores, como o principal responsável pelo descortinamento de sua existência. A partir dessa concepção, o homem é aquilo que ele constrói de si, se autoconstrói. Para o nosso autor, o homem é um homem ligado por um compromisso e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolhe ser, mas de que é também um legislador pronto a escolher, ao mesmo tempo que a si próprio, a humanidade inteira, não poderia escapar ao sentimento da sua total e profunda responsabilidade.
É esse sentimento, que faz o nosso autor conceber o homem como um ser de "liberdade" e de "angústia", esses dois aspectos são caros ao pensamento sartriano, pois se por um lado, nós temos um sujeito livre, por outro, temos a dimensão da responsabilidade, que por muitas vezes pode bloquear a ação do sujeito que não quer comprometer-se e responder por seus atos. A de se considerar também, que o próprio sentimento de liberdade já pode trazer angústia naquelas pessoas que passaram a vida toda a mercê de outrem; assumir-se, pode significar, percorrer um caminho por si só, enfrentar perigos, responder por si, sem ter que responsabilizar ninguém, isso tudo pode realmente deixar o indivíduo apreensivo e, consequentemente, angustiado. A angústia sempre nasce de uma ausência, nesse caso específico, da ausência de alguém que possa viver pelo sujeito que ainda não aprendeu a descortinar sua existência no mundo.
No que concerne ao primeiro aspecto dito acima, qualquer vocação transcendente, ou seja, a inclinação do homem a querer devotar-se ao Sobrenatural, é entendida como submissão e abdicação do exercício da liberdade, no qual se funda a dignidade e a autenticidade do homem. Na fidelidade à liberdade está o sentido do homem e de sua existência. O homem, no pensamento sartriano é concebido enquanto ser-em-situação e, portanto, com necessidade de engajamento e responsabilidade pessoal por todas as ações e projetos de vida e, sobretudo, como ser de liberdade, sendo esta a raiz fundamental da pessoa humana. O homem é no mundo e é igualmente nesse lócus que sua humanidade dá-se a conhecer e é a partir desse conhecimento, que não é total, mas parcial que o mundo é o mundo do homem. É partindo dessa compreensão, que o homem, na medida em que existe se projeta para além de si mesmo. Ele se define na medida em que existe, e existir é defrontar-se com o absurdo, com o mistério inefável de simplesmente existir.
Para Sartre, "o homem é, antes de mais nada, um projeto que se vive subjetivamente [...]; nada existe anteriormente a este projeto; nada há no céu inteligível,o homem será antes de tudo que tiver projetado ser". A experiência do homem, enquanto existência em construção está intrinsecamente ligada ao outro, que partilha igualmente dos mesmos anseios. Segundo Ferreira Jr., “O homem que experiência como existente, ser de projeto, não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros homens em cada uma de suas escolhas. Ele decide o que é e o que são os outros à medida que há uma universalidade das condições de existência humana”. 
Como já vimos acima é no mundo que se dá o evento de conhecimento do homem consigo mesmo e com o outro. As ações do sujeito não somente determinam sua situação enquanto ser existente, mas também pode definir a de outrem; essa definição ela pode ser eficiente e satisfatória, ou de modo negativo, trazendo consequências drásticas ao sujeito. Nas palavras de Andrade, “o mundo é, pois o palco onde se desenrola um acontecimento fundamental: o encontro do Para-si com outro Para-si, diferente dele, possuidor de uma transcendência que não é a sua. A realidade humana se constitui assim, como Para-Si-Para-Outro.”
A teoria sartriana do ser-para-si conduz a uma teoria da liberdade. O ser-para-si define-se como ação e a primeira condição da ação é a liberdade. O que está na base da existência humana é a livre escolha que cada homem faz de si mesmo e de sua maneira de ser. O em-si, sendo simplesmente aquilo que é, não pode ser livre se não se constitui, ou se descobre enquanto ser humano com o outro. 
A ação humana de livre escolha o põe em uma situação muito cara e delicada no pensamento existencialista de Sartre, que é a angústia, e esta tem sua raiz na própria consciência do homem de aperceber-se como ser existente jogado no mundo.
Em síntese, para Sartre, "um homem nada mais é do que uma série de empreendimentos, que ele é a soma, a organização, o conjunto das relações que constituem estes empreendimentos". E a consciência de si se dá através do encontro com o outro, ou nas palavras de nosso autor, "para obter uma verdade qualquer sobre mim, necessário é que eu passe pelo outro. O outro é indispensável à minha existência, tal como, o conhecimento que eu tenho de mim".
2. A LIBERDADE COMO FUNDAMENTO DO EXISTIR HUMANO
A questão da liberdade, assim como a ética está presente na história da filosofia ocidental, desde a antiguidade. Na concepção aristotélica, a liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário, onde o a gente se torna causa de si, já que não sofre a ação de causa externa, ou seja, no ato voluntário livre o agente é causa de si, isto é, causa integral de sua ação.
A vontade livre é determinada pela razão ou pela inteligência e, nesse caso, seria preciso admitir que não é causa de si ou incondicionada, mas que é causada pelo raciocínio ou pelo pensamento. No entanto, como disseram os filósofos posteriores a Aristóteles, a inteligência
inclina a vontade numa certa direção, mas não a obriga nem a constrange, tanto assim que podemos agir na direção contrária à indicada pela inteligência ou razão. É por ser livre e incondicionada que a vontade pode seguir ou não os conselhos da consciência. A liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver em harmonia com a direção apontada pela razão.
Sartre pôs a concepção aristotélica ao ponto limite. Para ele, a liberdade é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo. Quando julgamos estar sob o poder de forças externas mais poderosas do que nossa vontade, esse julgamento é uma decisão livre, pois outros homens, nas mesmas circunstâncias, não se curvaram nem se resignaram. Em outras palavras, conformar-se ou resignar-se é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem se conformar, lutando contra as circunstâncias. Quando dizemos estar fatigados, a fadiga é uma decisão nossa. Quando dizemos estar enfraquecidos, a fraqueza é uma decisão nossa. Quando dizemos não ter o que fazer, o abandono é uma decisão nossa. Ceder tanto quanto não ceder é uma decisão nossa.
Por isso, Sartre afirma que estamos condenados à liberdade. É ela que define a humanidade dos humanos, sem escapatória. Somos agentes livres tanto para ter quanto para perder a felicidade.
A tese fundamental do existencialismo sartriano é de que no homem a existência precede a essência. Com isso, valoriza-se a ação, ou seja, importa o que o homem faz de si mesmo. Só a ação define aquilo que o homem é em sua essência. O homem é a totalidade de seus atos e estes, por sua vez, traçam e modificam constantemente a imagem do homem. O homem vive, compromete-se nos seus projetos e desenha seu modo de ser, fora disto não há mais nada. É o que o homem faz que define o que ele é.
Sartre liga a negação de uma essência prévia do homem, onde não há uma natureza humana e não há um destino previamente traçado à negação de um Deus que defina o que o homem é. Para ele, a liberdade humana exige a negação de Deus, "Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem, por conseguinte abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismos, o homem é livre, o homem é liberdade".
E mais, "estamos sós e sem desculpas. [...] o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto livre porque, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo quanto fizer". Dizer que o homem está condenado a ser livre significa dizer que o mesmo é totalmente responsável pelos seus atos. Escolhemos a nossa essência ao efetuarmos a escolha do homem que queremos ser. O homem é, para o nosso autor, essencialmente um projeto e a sua escolha é contínua. Esta liberdade que define o homem não é abstrata: a liberdade é sempre relação a uma determinada situação, às condições de exercício de liberdade.
3. CONCLUSÃO
A guisa de conclusão, não podemos dissociar em Sartre, aquilo que determina sua concepção de homem, sem tratar da problemática da liberdade, pois esta provém do nada que obriga o homem a fazer-se, em lugar de apenas ser. Desse princípio decorre a doutrina sartriana, segundo a qual o homem é inteiramente responsável por aquilo que é; não tem sentido as pessoas quererem atribuir suas falhas a fatores externos, como a hereditariedade ou a ação do meio ambiente ou a influência de outras pessoas. Por outro lado, a autonomia da liberdade, enquanto determinação fundamental e radical do ser-para-si, vale dizer do homem, faz da doutrina existencialista uma filosofia que prescinde inteiramente da ideia de Deus. Sartre tira todas as consequências desse ateísmo, eliminando qualquer fundamento sobrenatural para os valores: é o homem que os cria. A vida não tem sentido algum antes e independentemente do fato de o homem viver; o valor da vida é o sentido que cada homem escolhe para si mesmo. 
É a responsabilidade frente à liberdade do homem que o faz ser um ser de angústia, e esta é definida pelo existencialismo da seguinte forma: "esta espécie de angústia, que é a que descreve o existencialismo, veremos que se explica, além do mais, por uma responsabilidade direta frente aos outros homens que ela envolve. Não é ela uma cortina que nos separe da ação, mas faz parte da própria ação (p.14)". A angústia, entendida aqui como experiência existencial e não como mero sentimento, está ligada à liberdade. Ela é uma vertigem da consciência diante das possibilidades de escolha, diante daquilo que desejamos e tememos simultaneamente; é vista como uma possibilidade do homem, de forma que, se ele renuncia, renuncia a si mesmo.
REFERÊNCIA
ANDRADE, Maria José Netto. Suplício e Salvação: possibilidades de olhar Sartreano. 
Revista Fragmentos de Cultura, Goiânia, n. 1/2, p. 51-63, Jan/fev. 2006.
FERREIRA JR., Wanderley. Jean-Paul Sartre: um homem feito de todos os homens. Revista Fragmentos de Cultura, Goiânia,n. 1/2, p. 13-32, Jan/fev. 2006.
PERDIGÃO, Paulo. Existência e Liberdade: uma introdução à filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&PM, 1995.
SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um humanismo. Trad. de Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Coleção "Os Pensadores").

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