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Sartre no documentário O silêncio dos homens

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Prévia do material em texto

FLORA DIMITRIA MELO OLIVEIRA
MARYANE ELLEN MEDEIROS
O EXISTENCIALISMO DOS HOMENS - ARTICULAÇÃO ENTRE O
DOCUMENTÁRIO “O SILÊNCIO DOS HOMENS” E ALGUNS DOS
PRINCIPAIS CONCEITOS DE SARTRE
Curso de PSICOLOGIA
FORTALEZA - CE
2021
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é correlacionar o conteúdo dado na disciplina de
Teorias Psicológicas VI: Humanismo com uma produção a ser escolhida de forma
livre. Alguns dos principais conceitos do Existencialismo, definidos por Sartre, serão
usados como norteador teórico para as análises e reflexões sobre a obra escolhida,
o documentário “O Silêncio dos Homens”.
Trazendo a masculinidade sob diversos aspectos, o documentário traz falas
do que é o “ser homem” em uma sociedade em que o machismo traz consequências
devastadoras para a mulher e para o próprio homem. A questão feita é: como
pode-se falar de silêncio dos homens em um contexto em que são eles os que mais
falam, em muitos momentos interrompendo e descredibilizando falas de mulheres?
Mattos fala sobre o privilégio masculino trazer um fardo secreto. As falas dos
homens como sendo emocionalmente rasas, mostrando uma impenetrabilidade
afetiva nociva para suas relações com mulheres, com outros homens e consigo.
Produzido pelo movimento Papo de Homem e pelo Instituto PdH, o filme leva
a questionamentos quanto à figura do homem que é imposta à sociedade: que
devem ser fortes, provedores financeiros de suas casas, não podem demonstrar
sentimentos, a não ser que sejam de agressividade e raiva. Desta forma, há uma
reflexão crítica à concepção da realidade pré-atribuída ao sujeito, dando à ele mais
poder e liberdade escolha de moldar sua imagem.
Quanto à escolha do conteúdo a ser associado com o filme, Sartre, em sua
obra “O Existencialismo é um Humanismo”, fala sobre a crença dos existencialistas
de que “existência precede a essência”, ou seja, o homem é aquilo o que faz, não se
concebendo e definindo previamente por algo já dado. Essa definição se vincula de
forma direta com a reflexão crítica realizada no documentário, de forma a ficar
evidente à convergência, num ponto final, entre as pontuações efetuadas no filme e
as conceituações do Existencialismo.
2. DESENVOLVIMENTO
Sartre, em seus relatos sobre o existencialismo, traz o homem como
responsável pelo que é. Dessa forma, o sujeito é posto como o principal
encarregado de dar início e prosseguimento ao projeto estruturado para chegar onde
busca. Neste projeto, há uma série de fatores que surgem, tendo o seu sentido
sendo construído ao longo da sua história, em sua subjetividade. Destaca-se,
porém, que a subjetividade referida não traz um sentido rigorosamente individual,
pelo contrário, diz sobre uma constituição de homem dentro de uma dinâmica
universal - todo projeto, mesmo que particular, tem um valor coletivo.
Logo no início do documentário, o coordenador pedagógico Cristiano
Alcântara fala sobre a coletividade como meio de humanização. O homem pode
aprender a tornar-se um ser humano mais ou menos afetivo mediante as
experiências que vive e das pessoas que o cercam. Os atos do sujeito constroem a
imagem de homem que se deseja ser, e é essa a imagem que a todos é
apresentada. “Portanto, a responsabilidade do homem é muito maior do que se pode
supor, pois ela engaja a humanidade inteira'' (SARTRE, 1970).
As escolhas que se faz, mesmo que trazendo impactos globais, são de
responsabilidade exclusiva do homem. Sartre é muito avesso à ideia de que há pré
concepções que definem os caminhos dos sujeitos. Para ele, a liberdade não é uma
escolha, mas sim uma condição. O homem não opta por ser livre, ele assim o é.
À essa liberdade, pode-se atribuir o sentimento de angústia. Como disse
Sartre em sua obra “O Ser e o Nada”, é algo como uma sensação de se estar só e
desnudo. Essa angústia é o “eu”, só pelo fato de conduzir à existência como
consciência de ser, não sendo mais o seguro passado de escolhas já realizadas e
acertadas. A angústia, em sua estrutura essencial, é estabelecida como consciência
de liberdade.
Entretanto, segundo Sartre em “O Existencialismo é um Humanismo”, essa
angústia só se faz presente quando o homem se engaja e nota não ser somente o
que escolhe ser, mas que, em sua total responsabilidade, também exerce esse
papel de influência em toda a esfera humana. Dessa forma, a angústia está presente
onde não há a má-fé e sua tentativa de tirar do homem a responsabilidade de seus
atos.
Na abordagem do documentário, essa liberdade, ao mesmo tempo que é
louvada, é indiretamente questionada. Na abertura do filme, tem-se a fala de um
senhor de aparência humilde que traz o relato de como era a relação com o pai em
sua infância. Ele diz: “a gente não tinha liberdade de sentar e pedir para conversar
(com o pai)”, ou seja, tendo a relação com o pai como algo pré estabelecido, sobre a
qual não valia a pena buscar uma mudança. Por outro lado, o mesmo senhor em
questão relata que, ao ouvir da sua esposa que ela estava grávida, não iria agir na
relação pai-filha da mesma forma que seu pai. Esse trecho traz em si uma
ambiguidade - por um lado a relação com o pai é tida como imutável, ou seja, com
uma falta de liberdade em mudar a situação em que se encontra, concebida por
Sartre no conceito de má fé. Por outro lado, no contexto com sua futura filha, com
uma autonomia de poder mudar a situação e direcioná-la para um caminho mais
saudável.
E por que o sujeito, em sua liberdade, se apoia em a priores em tantos
campos e momentos de suas vidas? A má-fé é para Sartre uma tentativa de burlar
essa condição e a angústia que ela traz. “Para quem pratica a má-fé, trata-se de
mascarar uma verdade desagradável ou apresentar como verdade um erro
agradável” (SARTRE, 1943). Uma forma comum de má-fé são as situações em que
a religião e Deus são usados como responsáveis pelo homem e por suas escolhas.
No documentário, o pastor Ed René Kivitz abre sua fala trazendo e criticando
um discurso muito comum e exemplo da má-fé do sujeito: “Deus disse que homem é
isso, mulher é isso e que família é isso”, ou seja, papéis ditos como pré
determinados por Deus para cada um dos sujeitos com a justificativa de que se deve
cumprir essa pré definição ou estar no pecado. Sendo o homem tomado pela
angústia, ao buscar nessas concepções as respostas para suas questões do dia a
dia, é levado a respostas não necessariamente saudáveis para as suas relações.
Porém, para ele, em muitos momentos o mais cômodo pode ser manter-se nesse
conformismo.
Em determinada cena do documentário, um dos entrevistados traz a
concepção de “sou assim porque fui criado assim”, idéia que bate de frente com o
existencialismo de Sartre. Retomando o conceito de má-fé, pode-se entender o
motivo pelo qual tal afirmação diverge do que é proposto pelo filósofo francês. Ao
pôr a responsabilidade de quem se é em outro lugar, seja na sua criação ou religião,
nega-se a responsabilidade inerente dos atos de cada homem, ato também
entendido como má-fé.
Nessa obra escolhida, identificamos uma forte crença na influência do
ambiente sobre o homem e quem o mesmo vem a se tornar, concepção
extremamente contrária aos ideais existencialistas de Sartre. Para o francês, o
homem define a si mesmo através de seus atos diários, e esses atos têm o poder de
influenciar outros e ser influenciado pelos mesmos. Entretanto, apesar de tal
influência vinda de terceiros, o que realmente define cada homem são suas ações, o
que ele faz de si mesmo, sem culpabilizar qualquer outra entidade por tal formação.
Essa concepção acaba por ser muito incômoda à consciência do ser, ter noção de
toda responsabilidade que repousa em seus ombros trás à tona a angústia existente
nessa verdade.
Durante o documentário escolhido, vê-se diversas referências à sociedade e
como ela afeta o desenvolvimento de cada homem. Quando um dos entrevistados
fala que “nós aprendemos que isso (ser gay) é errado”, nota-se claramente a
influência de uma opinião geral impondo-se nos indivíduos. Mas o que Sartrediria
sobre isso? Em seu texto “O Existencialismo é um Humanismo”, o filósofo francês
afirma que cada homem é responsável por todos os outros, ou seja, ao escolher por
si, cada homem escolhe por todos (SARTRE, 1970). Dessa forma, ao propagar a
homofobia, a pessoa está sujeitando toda a sociedade a essa escolha. Entretanto, o
contrário também é válido. Seguindo a mesma linha de raciocínio, quando o homem
decide mudar o status quo, sua decisão afeta todos ao redor, pois cada um é
responsável por compor a sociedade.
Vale ressaltar outra passagem no curta escolhido, onde um entrevistado
afirma que “o homem negro nunca vai ser o ideal”. Nessa fala, identificamos
novamente a influência do pensamento predominante na sociedade vigente, onde
boa parcela da população acredita que essa citação é verdadeira. Impondo tal ideia
como fato, vê-se a força que um pensamento pode ter quando propagado pela
população através dos anos, enraizando-se e moldando a concepção futura. Vê-se,
como dito por Sartre e citado anteriormente, a responsabilidade que cada homem
carrega consigo, exercendo influência em toda a humanidade, cada homem
contribuindo para a formação individual de cada ser e da coletividade nas
civilizações.
Já no fim do documentário, uma idealizadora de um projeto que acompanha
homens que praticaram violência contra a mulher ressalta a drástica diminuição de
reincidência nos casos após o início do processo de psicoeducação dos agressores.
Identificando a origem do impulso que desencadeou a violência e compreendendo o
mesmo, foi possível atingir uma taxa de 2% de indivíduos retomando tal hábito,
mostrando assim a importância de se trabalhar com esses homens. Como Sartre
coloca, “o existencialismo propõe que o homem não é outra coisa senão o conjunto
de seus atos, e ao modificar os mesmos, o ser pode reinventar-se, traçar novamente
seu próprio perfil, pois o destino do homem está nas mãos dele mesmo” (SARTRE,
1970).
Por fim, é interessante notar com o discorrer do documentário e das
ponderações realizadas até então, que o local de fuga da angústia e consequente
uso da má-fé, apesar de ainda muito comum, vem passando por fortes
questionamentos. A medida que o documentário vai chegando ao fim, conclusões
sobre isto são realizadas, como a descrita no trecho a seguir:
“É pelo desconforto e pelo acolhimento desse desconforto que pode se
gerar essa transformação. Como fazer isso? Estar sujeito, estar disponível,
à esse desconforto. Muitas vezes diz que se quer transformar, diz que se
quer fazer parte desses grupos (de homens), mas nunca passa da página
um - que é o se ver, se reconhecer, se responsabilizar em relação às coisas
que você faz, você pensa, você decide. Então acho que para criar um grupo
desses (de homens) as pessoas têm que estar dispostas a lidar com o
desconforto.” (CUSTÓDIO, 2019)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a construção deste trabalho, foi possível observar elementos
cotidianos presentes na sociedade que por vezes podem não ser notados na
convivência diária. A fuga da angústia, por exemplo, é algo extremamente comum,
que diversas vezes não sabemos lidar de forma inteligente a partir da nossa
liberdade.
Como exposto anteriormente com os homens entrevistados para o
documentário escolhido, é de extrema importância nos percebermos nesse local de
pessoa de nós mesmos, e dessa forma, desencadear uma busca ao retorno de
quem somos originalmente, ou seja, livres. Fica evidente que o caminho da má-fé é
enraizado em nossa sociedade, com uma série de a prioris que são postos na forma
de como o sujeito deve agir, mas que essa busca pela liberdade citada
anteriormente está presente em batalhas diárias pela libertação de quem somos,
para nossa liberdade.
Neste trabalho, utilizamos predominantemente as obras O Ser e o Nada e O
Existencialismo é um Humanismo, ambas de autoria do filósofo francês Jean-Paul
Sartre, que foi o pensador escolhido para aprofundarmos nossos estudos. Além de
tais obras, o documentário escolhido, O Silêncio dos Homens, está disponível na
plataforma YouTube e foi selecionado por mostrar na prática o quanto a má-fé é
carregada de preconceitos e o quanto se há uma busca, mesmo que em alguns
momentos em menor frequência, de uma liberdade completa. Além disso, traz
informações que podem ser incômodas e que expõem a realidade diversas vezes
ignorada no nosso cotidiano.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MATTOS, Frederico ASO. O Silêncio dos Homens. Nova Perspectiva Sistêmica, v. 28, n.
65, p. 114-116, 2019.
PapodeHomem. O silêncio dos homens | Documentário completo. Youtube, 29 ago.
2019. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=NRom49UVXCE&ab_channel=PapodeHomem>.
Acesso em: 11 out. 2021.
SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução Rita Correia Guedes.
Les Éditions Nagel, Paris, 1970.
SARTRE, Jean Paul. O Ser e o Nada – Ensaio de ontologia fenomenológica. Título
original: “L'Être et le Neant – Essai d'ontologie phénoménologique”. Tradução Paulo
Perdigão. Editora Vozes, Petrópolis – RJ, 2011.

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