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Eficacia do direito, fatores, teoria tridimensional e problemas da eficácia

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ASSOCIAÇÃO CARUARUENSE DE ENSINO SUPERIOR
EFICÁCIA DO DIREITO: DEFINIÇÃO, FATORES, TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO E OS PROBLEMAS DA EFICÁCIA
Este trabalho foi solicitado pela Professora Sheilla Nadíria do Segundo Período, Diurno, como parte dos requisitos para obtenção de nota na disciplina de Sociologia do Direito.
Aluna:
Marília Gabriela Câmara Duarte Seabra
CARUARU
2012
“O Sociólogo do Direito não julga, mas tenta compreender o fenômeno que se propõe a analisar. Interessa entender e explicar porque as pessoas atuam de certa forma, quais as razões que o fazem atuar”. 
(SABADELL, A. L. p. 65).
“A Sociologia do Direito examina o impacto social das previsões legais, ou seja, o grau de conhecimento e de aceitação destas normas pela população.”
(SABADELL, A. L. p.65).
EFICÁCIA DO DIREITO
Quando se fala em “Eficácia” no âmbito do jurídico reporta-se à idéia do grau de cumprimento da norma dentro da prática social, ou seja, se esta é realmente respeitada por seus destinatários (a quem se dirige) ou quando sua violação é efetivamente punida pelo Estado. Assim, “Eficácia” é a capacidade que a norma tem para produzir efeitos na ordem jurídica vigente.
Sabe-se que algumas normas inseridas no corpo constitucional produzem efeitos imediatos; outras normas, contudo, clamam por determinada atuação positiva do sistema legislativo infraconstitucional. Desta maneira, de acordo com Sabadell (2010, p. 70): “[...] as normas jurídicas nunca são plenamente eficazes”. Todavia, todas as normas constitucionais são dotadas de eficácia e, seja pelo “cumprimento” espontâneo (primária, segundo SABADELL, 2010, p. 70) ou por meio da intervenção coercitiva estatal (ou secundária), resultante da intervenção repressiva do Estado, sua eficácia social resulta de fatores externos (socioeconômico e político) ao ordenamento jurídico, bem como internos, referentes à adequação interna da norma em atingir a finalidade social estabelecida pelo legislador, logo, se ela é funcional no âmbito do próprio sistema.
Na perspectiva tridimensional do direito, como o próprio nome induz, o fenômeno jurídico deve ser dimensionado sob um processo histórico-cultural, de implicação e forma dinâmica unitária, à luz de três elementos: fato, valor e norma, associados à realidade social, de modo a solucionar e/ou encaminhar adequadamente, o caso concreto. Assim, partindo da leitura de Miguel Reale (2009), passa-se a entender a importância do direito como “fato histórico-cultural”, implicando num conhecimento de que se está perante uma realidade essencialmente dialética, isto é, que não é concebível senão como processus, cujos elementos são fato, valor e norma.
Desta maneira, ainda segundo a teoria supracitada, a abordagem sociológica do operador do Direito deve pautar-se no pressuposto de que “não há norma jurídica sem um mínimo de eficácia, de execução ou aplicação no seio do grupo [...]” (REALE, 2009, p. 113). Reale (2009, p. 66-67), ratifica que há vários sentidos imbuídos na palavra “direito”, mas todas levam ao aspecto normativo (o Direito como ordenamento e sua respectiva ciência), ao aspecto fático (o Direito como fato ou em sua efetividade social e histórica), tal como ao aspecto axiológico (o Direito como valor de Justiça) dos quais o aparecimento da norma jurídica - síntese integrante de fatos ordenados - se dialetizam em um “ser” versus “dever ser”. De outra maneira, se buscam, com a norma jurídica, tanto um ideal de justiça (JUSTIÇA), resultante do estudo interno positivado/consensual do direito (VALIDADE), quanto a aplicabilidade e repercussão social por parte das pessoas (EFICÁCIA). Para tal, toda norma vigente destina-se a influir no comportamento humano e é, neste momento, que ela se torna eficazmente positivada (seja esta em maior ou em menor grau). A par desta teoria, entende-se para que o Direito possa realizar o fim que dele se espera, que é a manutenção da ordem e da paz social, ele deve ter validade. Tal validade se verifica de três formas: validade formal, social (eficácia) e fundamento.
Assim, chega-se à conclusão de que o Direito não pode ser considerado um esquema puramente lógico, fechado, sem resultado prático. A ordem jurídica só tem razão ser na medida em que trouxer soluções práticas ao homem, sobretudo como ente social. Esta teoria amplia muito a responsabilidade do intérprete do Direito, exigindo-lhe um maior comprometimento com o moderno pensamento jurídico e, consequentemente, com a solução socialmente adequada para o caso concreto (fato). Resultando daí a importância na metodologia utilizada, pois o resultado estará intimamente vinculado ao método empregado.
A ineficácia do Direito, visivelmente observadas nas classes menos favorecidas (em que a ação do Estado se dá de forma omissa, no que se refere às Garantias fundamentais) faz com que nasçam fenômenos jurídicos infrajurídicos, ou seja, formas não-oficiais de controle social denominada também de pluralismo. As formas supracitadas tornam menos eficazes as normas do Direito positivo e Sabadell (2010, p. 149) ratifica o exposto afirmando que “a existência de tais sistemas indica, em geral, uma crise de legitimidade do direito estatal [...] uma situação na qual o estado não consegue exercer, na prática, o pretendido monopólio de violência legal, nem pode alcançar legitimação e consenso social através de sua ação.”
No Brasil, uma das normas mais eficazes encontra-se no Direito Civil: prisão por não pagamento de pensão alimentícia. Este estudo é um tema sempre polêmico e denota forte carga emocional em sua avaliação porque sempre há um credor necessitando de meios para subsistência, do outro lado, há um devedor que possui direitos que devem ser respeitados. Todavia, muitas vezes, as pessoas das camadas marginais são as que, realmente, ‘pagam’ pelo “inadimplemento”. Desta maneira, o sociólogo-jurista deve proceder de forma a respeitar a dignidade da pessoa humana e jurídica, independentemente de classe social.
Todo código tem pretensão de ser pleno, de bastar para explicar as hipóteses da vida. Contudo, o “Direito é feito para a vida e não a vida para o Direito” (FILHO, 2008, p. 155), porque “[...] o direito nasce no meio social, é criado, interpretado e aplicado por membros da sociedade e persegue finalidades sociais, tentando influenciar o comportamento de seus membros. [...] é parte e produto do meio social.” (SABADELL, 2010, p. 63).
Assim sendo, a importância da Sociologia do Direito se dá pelo fato de que o jurista/operador/instrumentador do Direito deve ponderar sobre suas decisões, não levando apenas o ordenamento jurídico como ponto funcral em suas decisões, mas também os estudos sociológicos, pois as decisões judiciais devem basear-se no que reflete a sociedade (posto que advém dela e para ela), não se restringindo aos limites da lei escrita.
CONCLUSÃO
A lei é o principal elemento do contrato social (consenso ou coesão), pois é a maneira pela qual ele se exterioriza. O seu cumprimento é consequência da maior ou menor interferência do Estado. Para tanto, a validade formal é a própria positivação das normas, faz-se necessário, pois, que determinada ação/situação passe a ser regulada por uma norma escrita. Sabe-se, em Direito, que uma lei só é válida se preencher os requisitos formais estabelecidos pelo Estado.
No Brasil, as leis devem ser escritas, editadas pelo Poder Legislativo e devem respeitar o procedimento estabelecido pela Constituição Federal. Devem ter fundamento, sendo que este reside no fato sobre o qual a norma será construída, devendo ser relevante na medida em que necessita da tutela legal. Logo, o Direito deve ter eficácia para que atinja sua finalidade, tal como observa Gusmão (2008, p.58-59). O conceito é claro, se o Direito não for percebido por seus destinatários, não terá validade alguma.
Assim sendo, uma lei que não é respeitada não realiza os objetivos de sua criação, sendo ineficaz porque não se aplica à finalidade para a qual foi instituída. Exemplo disso é o dispositivo de lei que proíbe a utilização de telefone celular por condutorde veículo, quando este estiver em movimento. Sabe-se que são poucos os motoristas que respeitam esta norma, pois a grande maioria dos juristas encerra, neste ponto, o estudo da questão, todavia é importante analisar quais as causas da ineficácia, ou seja, os motivos que levam “certas” pessoas a burlar as leis, bem como por que outras não o fazem.
Isto ocorre porque a própria estrutura da norma se volta para a proibição de determinada conduta, o que se tem é a previsão de algo inevitável. Assim, entendendo-se que o objetivo da lei é o de evitar que determinada situação ocorra, a ineficácia se verifica no momento em que esta se realiza. Em outras palavras, as leis são criadas para evitar que as pessoas ajam de certas maneiras.
Não seria razoável dizer que a causa reside nas leis, pois há uma série de outros aspectos que contribuem para o comportamento ilegal, sejam eles sociais, como a desigualdade, ou psicológicos. Contudo, as leis contribuem, em parte, para a sua própria ineficácia. Isto ocorre porque as previsões legais buscam unicamente evitar comportamentos que, na verdade, são inevitáveis, mas não estabelecem meios de correção para o comportamento criminoso, nem, muito menos, indicam maneiras de se minimizar os efeitos do delito.
Tal situação pode ser verificada analisando-se o próprio Sistema Penal Brasileiro que tem, praticamente, um único tipo de sanção, salvo alguns casos, o encarceramento. É visível, pois, que as prisões estão abarrotadas, desde perigosos homicidas a “ladrões de galinha”. Além disso, a pena de prisão não reeduca ninguém, não há planejamento para tal. Sem falar que não há a reintegração do criminoso que volta para a sociedade.
A história já demonstrou que as sanções não impedem os atos criminosos. Desta maneira, as normas deveriam se voltar, também, para a questão da reestruturação social, após o crime, de forma a auxiliar as vítimas e reeducar os criminosos.
Em síntese, as considerações supracitadas levam às seguintes conclusões: não é possível liquidar a violência, pois ela está enraizada na natureza humana. O que é possível é o controle dos atos violentos. Tal controle é indispensável. No entanto, são necessários instrumentos aptos a realizar este controle: a lei, que deve ser a garantia da ordem e da paz social e que é a exteriorização do ‘contrato social’.
Na tentativa de impedir atos lesivos, as normas possuem um nível de ineficácia. Isso ocorre porque são imperfeitas na sua estrutura, já que se preocupam apenas com a sanção. Logo, observa-se, pois, que o sistema jurídico possui falhas, mas ele não é estático, podendo/devendo ser inclusive modificado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FILHO, Arnaldo Lemos, ET. ALLI. Sociologia Geral e do Direito. São Paulo: Alínea, 2008.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao Estudo de Direito. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. 441 p.
REALE, Miguel. Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. 
SABADELL, A. L. Manual de Sociologia Jurídica: introdução a uma leitura externa do direito. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
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