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Aula 05 Direito Ambiental p/ AGU - Procurador Federal Professor: Thiago Leite Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Sumário 1 – Código Florestal – panorama geral ........................................................ 2 2 – Área de Preservação Permanente ........................................................ 18 3 – Áreas de Uso Restrito ........................................................................ 24 4 – Reserva Legal ................................................................................... 26 5 – Áreas Verdes Urbanas ........................................................................ 31 6 – Proteção no bioma Mata Atlântica ........................................................ 32 7 - Manejo florestal na Região Amazônica .................................................. 40 8 - Gestão das Florestas Públicas .............................................................. 42 9 - Concessão Florestal ........................................................................... 52 10 – Jurisprudência Correlata ................................................................... 65 11 - Questões........................................................................................80 12 - Resumo da aula...............................................................................97 AULA 05 Legislação Florestal Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite AULA 05 – LEGISLAÇÃO FLORESTAL 1 – Código Florestal – panorama geral O antigo Código Florestal (Lei 4.771/65), apesar de sua importância histórica, não foi elaborado com o fim de tutelar diretamente o meio ambiente, refletindo o estágio inicial da sociedade da época em relação à preocupação com o ecossistema. Como reflexo da evolução do pensamento ambientalista e diante da necessidade de mudanças significativas no arcabouço normativo, foi publicado, no ano de 2012, o novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012). A lógica que rege o Código Florestal é a compatibilização da proteção do meio ambiente com a exploração econômica (noção de desenvolvimento sustentável), nos termos do parágrafo único do artigo 1º-A: “Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá aos seguintes princípios...” Portanto, o novo Código Florestal traz a preservação das florestas e demais formas de vegetação sob o prisma do desenvolvimento sustentável, materializando o comando constante no artigo 170, III e VI da CF/88. Prosseguindo no estudo do Código Florestal temos a descrição, nos incisos do parágrafo único do artigo 1º-A, dos princípios que o regem, quais sejam: I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar das gerações presentes e futuras; II - reafirmação da importância da função estratégica da atividade agropecuária e do papel das florestas e demais formas de vegetação nativa na sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia; III - ação governamental de proteção e uso sustentável de florestas, consagrando o compromisso do País com a compatibilização e harmonização entre o uso produtivo da terra e a preservação da água, do solo e da vegetação; Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite IV - responsabilidade comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas e rurais; V - fomento à pesquisa científica e tecnológica na busca da inovação para o uso sustentável do solo e da água, a recuperação e a preservação das florestas e demais formas de vegetação nativa; VI - criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis. Esse Código Florestal é alvo de numerosas críticas por parte da comunidade ambientalista, que alega haver uma inversão de valores na norma, pois a produção rural estaria sendo privilegiada, exigindo-se da função ambiental sua submissão ao preceito desenvolvimentista. Ou seja, a primazia é dada à produção agropecuária (função produtiva), e para isso o meio ambiente deveria se adaptar, de modo a viabilizar aquela. O artigo 2º basicamente repete a essência do contido no artigo 225 da CF, ao estabelecer que a flora é bem de todos e que o direito de propriedade deve ser exercido de modo a garantir a preservação do meio ambiente, o que justifica a imposição de limitações administrativas. Também deixa claro que a obrigação de reparar o dano ambiental (responsabilidade civil) possui natureza real (propter rem), sendo transmitidos ao sucessor. Lei 12.651/2012 Art. 2 o As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação nati va, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legisla ção em geral e especialmente esta Lei estabelecem. § 1o Na utilização e exploração da vegetação, as ações ou omissões contrárias às disposiç ões desta Lei são consideradas uso irregular da propriedade, aplicando-se o proce dimento sumário previsto no inciso II do art. 275 da Lei n o 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, sem prejuízo da responsabilidade civil, nos termos do § 1 o do art. 14 da Lei n o 6.938, de 31 de agosto de 1981, e das sanções administrativas, civis e penais. § 2o As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, d e qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural . O artigo 3º traz um rol extenso de conceitos aplicáveis à legislação ambiental: Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite I - Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13° S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44° W, do Estado do Maranhão; II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa; IV - área rural consolidada: área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio; V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3o da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006; VI - uso alternativo do solo: substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana; VII - manejo sustentável: administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando- se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços; VIII - utilidade pública: a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho; c) atividades e obras de defesa civil; d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais referidas no inciso II deste artigo; e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal; IX - interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas; b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área; c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei; d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade; f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente; Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal; X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental; a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável; b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber; c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo; d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro; e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores; f) construção e manutenção de cercas na propriedade; g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável; h) coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos; i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área; j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função ambiental da área; k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente; XI - (VETADO); Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite XII - vereda: fitofisionomia de savana, encontrada em solos hidromórficos, usualmente com a palmeira arbórea Mauritia flexuosa - buriti emergente, sem formar dossel, em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas; XIII - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina; XIV - salgado ou marismas tropicais hipersalinos: áreas situadas em regiões com frequências de inundações intermediárias entre marés de sizígias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), onde pode ocorrer a presença de vegetação herbácea específica; XV - apicum: áreas de solos hipersalinos situadas nas regiões entremarés superiores, inundadas apenas pelas marés de sizígias, que apresentam salinidade superior a 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de vegetação vascular; XVI - restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, com cobertura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado; Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 97DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite XVII - nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água; XVIII - olho d’água: afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente; XIX - leito regular: a calha por onde correm regularmente as águas do curso d’água durante o ano; XX - área verde urbana: espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais; XXI - várzea de inundação ou planície de inundação: áreas marginais a cursos d’água sujeitas a enchentes e inundações periódicas; [a várzea de inundação se encontra à esquerda da figura ao lado] Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite XXII - faixa de passagem de inundação: área de várzea ou planície de inundação adjacente a cursos d’água que permite o escoamento da enchente; XXIII - relevo ondulado: expressão geomorfológica usada para designar área caracterizada por movimentações do terreno que geram depressões, cuja intensidade permite sua classificação como relevo suave ondulado, ondulado, fortemente ondulado e montanhoso. XXIV - pousio: prática de interrupção temporária de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 (cinco) anos, para possibilitar a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do solo; XXV - áreas úmidas: pantanais e superfícies terrestres cobertas de forma periódica por águas, cobertas originalmente por florestas ou outras formas de vegetação adaptadas à inundação; XXVI - área urbana consolidada: aquela de que trata o inciso II do caput do art. 47 da Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; e XXVII - crédito de carbono: título de direito sobre bem intangível e incorpóreo transacionável. Módulo Fiscal O módulo fiscal corresponde à área mínima necessária a uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável. Ele reflete a média dos módulos rurais do Município. O tamanho do módulo fiscal para cada município está fixado através de Instruções Especiais (IE) expedidas pelo INCRA. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite O parágrafo único do mesmo artigo 3º equipara, para fins de tratamento, a pequena propriedade rural familiar às propriedades rurais com até 4 módulos fiscais que desenvolvam a atividade florestal juntamente com atividade agrícola/criação de animais, bem como às terras indígenas demarcadas e às demais áreas de populações tradicionais que façam uso coletivo da terra. O uso alternativo do solo é a substituição da vegetação nativa por outras coberturas de solo, tais como atividades de agropecuária, implantação de indústria, mineração, geração de energia elétrica. É o famoso desmatamento. Regra geral está proibido de acontecer nas áreas protegidas, mas a lei pode admitir sua incidência, desde que preenchidos os requisitos legais, após prévio processo de licenciamento ambiental. Não será permitida a conversão de vegetação nativa para o uso alternativo do solo caso o imóvel rural possua área abandonada (espaço de produção sem nenhuma exploração produtiva há pelo menos 36 meses, e não caracterizado como área de pousio). Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite O pousio é uma técnica por meio da qual se interrompe temporariamente (máximo 5 anos) o uso agrícola de uma área, possibilitando a recuperação do solo para novos usos. É o que se chama de “descansar a terra”. A exploração das florestas (públicas ou privadas) dependerá de licenciamento ambiental por órgão integrante do SISNAMA, mediante a aprovação prévia do Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS que abarque procedimentos, técnicas e posturas voltadas para compatibilização do uso dos recursos florestais com a preservação dos diversos ecossistemas envolvidos. O PMFS é um documento técnico que contém os procedimentos básicos a serem adotados na gestão dos recursos florestais. A aprovação do PMFS substitui as demais etapas do licenciamento ambiental comum (Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação). Estão dispensados do PMFS a supressão de vegetação em área de uso alternativo do solo (área já sem proteção), a exploração de florestas plantadas fora de APP ou Reserva Legal e a exploração florestal não comercial realizada nas pequenas propriedades rurais familiares ou de populações tradicionais (Art. 32 do Código florestal). Em regra aqueles que usam matéria-prima florestal em suas atividades devem utilizar recursos provindos de florestas plantadas ou desmatamentos (supressão de vegetação nativa) autorizados pelo órgão competente. Nesta última hipótese (utilização de recursos provindos de supressão de vegetação nativa) o agente deverá promover a reposição florestal (plantar novas mudas), salvo em caso de utilização de costaneiras, aparas, cavacos ou outros resíduos provenientes da atividade industrial ou em caso de matéria-prima florestal oriunda de PMFS, de floresta plantada ou não madeireira. (artigo 33 do Código Florestal). As indústrias que utilizam grande quantidade de matéria-prima florestal (limites definidos pelo Chefe do Poder Executivo) são obrigadas a implementar o Plano de Suprimento Sustentável – PSS, que assegurará produção equivalente ao consumo de matéria- prima florestal (deve-se produzir pelo menos a mesma quantidade de matéria-prima consumida, resultando no equilíbrio entre o que é produzido e o que é consumido) O Código Florestal prevê, ainda, que o controle da origem dos produtos florestais (madeira, carvão, etc.) seja feito por um sistema nacional contendo dados de todos os entes da federação, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo órgão ambiental federal do SISNAMA (IBAMA) (artigo 35 do Código Florestal). Os entes federativos que não estejam integrados nesse sistema podem ter a emissão do DOF bloqueados pelo IBAMA. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Independe de autorização a plantação ou reflorestamento com espécies nativas ou exóticas, observadas as condições legais (artigo 35, §1º do Código Florestal). Fora das APP’s e das Reservas Legais é livre a extração de lenha e demais produtos de florestas plantadas (artigo 35, §2º do Código Florestal). O DOF serve, enfim, para que possamos saber se aquele produto florestal é de origem legal ou ilegal. As queimadas e os incêndios no campo são um grande problema ambiental enfrentado não só pelo Brasil, como também por outros países, gerando enorme quantidade de gases de efeito estufa, além de dizimar a fauna e a flora existentes. Pensando nisto o Código Florestal proibiu o uso de fogo na vegetação, salvo em casos específicos, quais sejam: I- em locais ou regiões cujas peculiaridades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestais, mediante prévia aprovação do órgão estadual ambiental competente do Sisnama, para cada imóvel rural ou de forma regionalizada, que estabelecerá os critérios de monitoramento e controle; • O Documento de Origem Florestal - DOF é um documento de controle da origem dos produtos florestais de origem nativa. É uma espécie de licença obrigatória para o transporte e o armazenamento desses produtos florestais (lenha, carvão, palmito...) • O comércio de plantas vivas e outros produtos oriundos da flora nativa dependerá de licença do órgão ambiental competente. Se houver venda para outro país necessitará de outra licença, a ser expedida pelo IBAMA (art. 37) Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite II - emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo; III - atividades de pesquisa científica vinculada a projeto de pesquisa devidamente aprovado pelos órgãos competentes e realizada por instituição de pesquisa reconhecida, mediante prévia aprovação do órgão ambiental competente do Sisnama; IV - as práticas de prevenção e combate aos incêndios e as de agricultura de subsistência exercidas pelas populações tradicionais e indígenas. O combate aos incêndios deverá ser objeto de planos de contingência a serem elaborados pelos órgãos responsáveis pela gestão de áreas que tenham vegetação nativa ou plantios florestais. Nessa mesma toada de evitar a degradação do meio ambiente através de incêndios e queimadas o Código Florestal determinou o estabelecimento, por meio do Governo Federal, da Política Nacional de Manejo e Controle de Queimadas, Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, que tem o objetivo de encontrar alternativa ao uso do fogo no campo, além de ajudar no controle e prevenção dos incêndios florestais. O Governo Federal foi autorizado, ainda, a instituir programa de apoio e incentivo à conservação do meio ambiente, prevendo o uso de tecnologias e práticas que compatibilizem a produtividade com a preservação ambiental, tais como o pagamento por serviços ambientais, a compensação ambiental, a obtenção de crédito agrícola, incentivos fiscais, investimento em ciência e tecnologia, subsídio dos juros agrícolas, etc, sendo a materialização do princípio do protetor-recebedor. O Código Florestal trouxe a importante previsão da Cota de Reserva Ambiental – CRA (artigos 44 e seguintes), que é um título nominativo representativo de • O STJ pacificou o entendimento de que é proibido o uso do fogo na colheita da cana (queima da palha da cana-de-acúcar), salvo autorização pelo órgão ambiental competente (Informativo STJ 449) Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite área com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação, expedido pelo órgão ambiental competente nas seguintes hipóteses: I - sob regime de servidão ambiental, instituída na forma do art. 9o-A da Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981; II - correspondente à área de Reserva Legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder os percentuais exigidos no art. 12 desta Lei; III - protegida na forma de Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, nos termos do art. 21 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000; IV - existente em propriedade rural localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público que ainda não tenha sido desapropriada. Cada CRA corresponderá a 01 hectare (10.000 m2) de área com vegetação nativa primária ou com vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração ou recomposição, ou de áreas de recomposição mediante reflorestamento com espécies nativas. A CRA serve com uma espécie de “moeda verde”, que pode ser transferida, vendida ou comprada por proprietários e usada dentro do mesmo bioma. Segue texto bastante elucidativo, retirado no site do Senado Federal1: “O texto do novo Código Florestal (PLC 30/2011) aprovado pelos senadores na noite desta terça-feira (6) prevê a criação de uma espécie de "moeda verde": a Cota de Reserva Ambiental (CRA). A cota, na definição do projeto, será um "título nominativo representativo de área com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação". Cada CRA corresponderá a um hectare (10 mil metros quadrados) de área com vegetação nativa primária, ou vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração ou recomposição ou ainda áreas de recomposição reflorestadas com espécies nativas. A CRA poderá ser doada, transferida, vendida ou comprada e poderá ser utilizada para compensar 1 Retirado do site http://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2011/12/07/cota-de-reserva- ambiental-podera-ser-moeda-verde-negociada-entre-proprietarios-para-garantir-preservacao-e- recuperacao Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Reserva Legal de imóvel rural situado "no mesmo bioma da área à qual o título está vinculado". Ou seja, em alguns casos, o proprietário obrigado a recompor Reserva Legal em sua propriedade poderá comprar o equivalente em CRA de outro proprietário que tenha preservado Reserva Legal acima do que seria obrigatório em suas terras. Para poder ser usada com essa finalidade, a cota deve representar a mesma quantidade de terra. O código em vigor, de 1965, possui figura semelhante, a Cota de Reserva Florestal, que será considerada como CRA após a vigência da futura lei do novo código. A emissão da cota será feita pelo órgão ambiental a pedido do dono da terra preservada com vegetação nativa ou recomposta em área excedente à Reserva Legal devida em sua propriedade. O proprietário da terra que pedir a emissão da CRA será responsável pela preservação, podendo fazer um plano de manejo florestal sustentável para explorar a área. A cota somente poderá ser cancelada a pedido do proprietário que pediu sua emissão ou por decisão do órgão ambiental no caso de degradação da vegetação nativa vinculada ao título.” O Código Florestal previu, ainda, a obrigação da autoridade ambiental de embargar imediatamente atividade ilegal ligada ao desmatamento (uso alternativo do solo). O capítulo XII do Código Florestal trata da agricultura familiar nas pequenas propriedades rurais, e prevê processos simplificados para o manejo florestal madeireiro sustentável na Reserva Legal, para o licenciamento de PMFS, para inscrição no CAR, além de permitir o cômputo dos plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais para fins de Reserva Legal. A idéia do legislador foi a de fomentar a agricultura familiar através de um regime jurídico próprio (mais simplificado e menos burocratizado). Cabe frisar que o Código Florestal considerou a data de 23/07/2008 (data da publicação do Decreto 6.514/2008) para fins de consolidação das situações em APP’s. Ou seja, haverá um tratamento jurídico para as situações ocorridas antes desse prazo (mais brando, em geral) e outro tratamento jurídico para as situações ocorridas após esse prazo (mais gravoso, em geral). Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br16 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Não esqueçamos que o Código Florestal foi extremamente leniente com a degradação ambiental ocorrida antes desse período de consolidação (23/07/2008), pois apesar de determinar que o proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12 poderia regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA, por meio da recomposição da Reserva Legal, regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal ou por meio da compensação da Reserva Legal, permitiu, que os proprietários/possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos na legislação em vigor à época da supressão estão dispensados de promover a recomposição, compensação ou regeneração para fins de adequação aos percentuais mínimos exigidos pelo novo Código Florestal (artigo 68). Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. § 1o Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água. § 2o Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água. § 3o Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d’água. § 4o Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais: I - (VETADO); e II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular • O artigo 61-A do Código Florestal autoriza, nas APP's, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite § 5o Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros. § 6o Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal com largura mínima de: I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal; II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais; III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais; e IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais. § 7o Nos casos de áreas rurais consolidadas em veredas, será obrigatória a recomposição das faixas marginais, em projeção horizontal, delimitadas a partir do espaço brejoso e encharcado, de largura mínima de: I - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área de até 4 (quatro) módulos fiscais; e II - 50 (cinquenta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais. § 8o Será considerada, para os fins do disposto no caput e nos §§ 1o a 7o, a área detida pelo imóvel rural em 22 de julho de 2008. § 9o A existência das situações previstas no caput deverá ser informada no CAR para fins de monitoramento, sendo exigida, nesses casos, a adoção de técnicas de conservação do solo e da água que visem à mitigação dos eventuais impactos. § 10. Antes mesmo da disponibilização do CAR, no caso das intervenções já existentes, é o proprietário ou possuidor rural responsável pela conservação do solo e da água, por meio de adoção de boas práticas agronômicas. § 11. A realização das atividades previstas no caput observará critérios técnicos de conservação do solo e da água indicados no PRA previsto nesta Lei, sendo vedada a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo nesses locais. § 12. Será admitida a manutenção de residências e da infraestrutura associada às atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural, inclusive o acesso a essas atividades, independentemente das determinações contidas no caput e nos §§ 1o a 7o, desde que não estejam em área que ofereça risco à vida ou à integridade física das pessoas. § 13. A recomposição de que trata este artigo poderá ser feita, isolada ou conjuntamente, pelos seguintes métodos: I - condução de regeneração natural de espécies nativas; II - plantio de espécies nativas; III - plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regeneração natural de espécies nativas; IV - plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas com nativas de ocorrência regional, em até 50% (cinquenta por cento) da área total a ser recomposta, no caso dos imóveis a que se refere o inciso V do caput do art. 3o; V - (VETADO). Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite § 14. Em todos os casos previstos neste artigo, o poder público, verificada a existência de risco de agravamento de processos erosivos ou de inundações, determinará a adoção de medidas mitigadoras que garantam a estabilidade das margens e a qualidade da água, após deliberação do Conselho Estadual de Meio Ambiente ou de órgão colegiado estadual equivalente. § 15. A partir da data da publicação desta Lei e até o término do prazo de adesão ao PRA de que trata o § 2o do art. 59, é autorizada a continuidade das atividades desenvolvidas nas áreas de que trata o caput, as quais deverão ser informadas no CAR para fins de monitoramento, sendo exigida a adoção de medidas de conservação do solo e da água. § 16. As Áreas de Preservação Permanente localizadas em imóveis inseridos nos limites de Unidades de Conservação de Proteção Integral criadas por ato do poder público até a data de publicação desta Lei não são passíveis de ter quaisquer atividades consideradas como consolidadas nos termos do caput e dos §§ 1o a 15, ressalvado o que dispuser o Plano de Manejo elaborado e aprovado de acordo com as orientações emitidas peloórgão competente do Sisnama, nos termos do que dispuser regulamento do Chefe do Poder Executivo, devendo o proprietário, possuidor rural ou ocupante a qualquer título adotar todas as medidas indicadas. § 17. Em bacias hidrográficas consideradas críticas, conforme previsto em legislação específica, o Chefe do Poder Executivo poderá, em ato próprio, estabelecer metas e diretrizes de recuperação ou conservação da vegetação nativa superiores às definidas no caput e nos §§ 1o a 7o, como projeto prioritário, ouvidos o Comitê de Bacia Hidrográfica e o Conselho Estadual de Meio Ambiente. § 18. (VETADO). 2 – Área de Preservação Permanente - APP Uma das formas mais eficazes de proteção do meio ambiente é a criação de porções de terras que, em decorrência de suas características ambientais, são submetidos a um regime jurídico específico, com restrições ao uso, tudo com vistas à preservação do ecossistema. Esse mecanismo foi previsto tanto pela Carta Magna (artigo 225) quanto na Lei da PNMA (artigo 9º), como visto em aula passada. Nesse contexto foi criada a Área de Preservação Permanente – APP, sendo esta uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, que possui importante papel na preservação dos elementos formadores do ecossistema (recursos hídricos, paisagem, estabilidade geológica, • Pequena propriedade rural familiar é o imóvel de até 4 módulos fiscais, gerido e explorado mediante o trabalho pessoal dos componentes da família, com percentual mínimo de renda familiar decorrente da agricultura (art. 3º da Lei 11.326/2006) Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite biodiversidade, solo), além de assegurar o bem estar das populações humanas. As APP’s podem estar situadas tanto em áreas rurais como em áreas urbanas e estão elencadas no artigo 4º do Código Florestal. Vejamos: I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; Também conhecida como “Mata Ciliar”, essa faixa marginal tem a importante função de evitar o assoreamento dos cursos d’água. Rio Efêmero: se forma tão somente pela água das chuvas Rio Perene: possuem águas correntes durante todo o ano Rio Intermitente: secam no período de escassez de chuvas II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas; III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento; IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive; VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; VII - os manguezais, em toda a sua extensão; VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação; X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação; Pico da Neblina, com 2.886m de altura Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite O artigo 5º impõe ao empreendedor, ainda, o dever de adquirir, desapropriar ou instituir servidão administrativa sobre as APP’s criadas por exigência do licenciamento ambiental para implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de energia ou abastecimento público, observando-se a faixa de: Área rural: 30m a 100m Área Urbana: 15m a 30m O Chefe do Executivo (Presidente, Governador ou Prefeito) poderá, por meio de decreto, instituir novas APP’s em áreas cobertas por vegetação, cuja função [da vegetação] seja a de conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha, proteger as restingas ou veredas, proteger várzeas, abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção, proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico, formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias, assegurar condições No entorno de reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais não será exigida APP (artigo 4, §1º) Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, fica dispensada a APP, vedada nova supressão de áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama (artigo 4, §4º) Para a pequena propriedade/posse rural familiar é permitida a chamada agricultura de vazante, desenvolvida ao longo do leito do rio por comunidades tradicionais na porção de terra que fica exposta durante a baixa do rio, desde que não haja supressão de vegetação nativa, e haja a preservação da água, do solo e da fauna silvestre (artigo 4, §5º) É permitida, nos imóveis rurais de até 15 módulos fiscais, a prática da aquicultura e a respectiva infraestrutura nas seguintes APP's: matas ciliares e entorno de lagos e lagoas naturais (desde que observados os requisitos listados nos incisos do §6º do artigo 4º) Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite de bem-estarpúblico ou auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares. Deverá, todavia, haver a declaração de interesse pública nas respectivas áreas a serem instituídas como APP’s (artigo 6º). Em regra é vedada a supressão de vegetação em APP (haja vista sua importância ambiental), e é dever do proprietário, possuidor ou ocupante manter tal vegetação. Caso haja desmatamento o proprietário, possuidor ou ocupante é obrigado a recuperar a área, mesmo que não tenha sido ele o responsável pela degradação, pois a obrigação aqui é propter rem (segue a coisa). Infelizmente foi permitida a concessão de novas licenças para supressão de vegetação nos casos de desmatamento realizado até 22/07/2008 (data da publicação do Decreto 6.514/2008). Só é permitida intervenção ou supressão de vegetação nativa em APP nos casos de utilidade pública (hipóteses descritas no artigo 3º, VIII), interesse social (hipóteses descritas no artigo 3º, IX), ou baixo impacto ambiental (hipóteses descritas no artigo 3, X). Em área de nascentes, dunas e restingas a supressão da vegetação nativa só será autorizada em caso de utilidade pública. Nas áreas de restingas estabilizadores de mangues ou no próprio mangue, quando houver comprometimento da função ecológica do manguezal, é permitida, excepcionalmente, a intervenção ou supressão de vegetação para fins de obras habitacionais ou urbanização envolvendo população de baixa renda. Mais uma vez o Código Florestal privilegiou a ocupação humana em detrimento do meio ambiente. O acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água e para realização de atividades de baixo impacto ambiental é permitido pelo artigo 9º. 3 – Áreas de Uso Restrito O código Florestal inova ao prever as chamadas “Áreas de Uso Restrito”, que são porções de terras localizadas nos pantanais e planícies pantaneiras onde há limitações de cunho ambiental, sendo permitida a exploração econômica sustentável, ficando novas supressões de vegetação nativa para uso alternativo do solo condicionadas à autorização do órgão estadual competente. Em áreas com inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal sustentável • O STF entende que, no caso de desapropriação, deve ser incluído no montante da indenização o valor da vegetação em APP (AI-AgR 677.647) Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite e o exercício de atividades agrossilvipastoris, bem como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas práticas agronômicas, sendo vedada a conversão de novas áreas, excetuadas as hipóteses de utilidade pública e interesse social (artigos 10 e 11). Os Apicuns e Salgados (já vimos, mais acima, os seus conceitos) também passaram, a partir Lei 12.727/2012, a constituir um tipo de área de uso restrito. Nos termos do artigo 11-A os Apicuns e Salgados poderão ser utilizados para as atividades de carcinicultura e salinas, desde que obedecidos os condicionantes constantes nos incisos do §1º do art. 11-A do Código Florestal. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite A licença ambiental, nas hipóteses de que trata o artigo 11-A (carcinicultura e salinas em Apicuns e Salgados) terá o prazo máximo de 05 anos, renovável. 4 – Reserva Legal A reserva legal foi introduzida em nosso ordenamento jurídico por meio da Lei 7.803/89. O seu conceito pode ser extraído do artigo 3º, III do Código Florestal: “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa”. Na verdade a Reserva Legal se constitui como uma limitação administrativa fixada em lei, condicionando o uso da propriedade em prol do interesse público (preservação do meio ambiente). Como limitação administrativa que é, a reserva legal é geral, gratuita e com finalidade pública, e está fundamentada no princípio da função socioambiental da propriedade. • Carcinicultura: técnica de criação de camarões em viveiros • Salinas: produção de sal marinho pela evaporação da água do mar ou de lagos de água salgada Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite A reserva legal terá as seguintes delimitações: Caso o imóvel esteja na Amazônia Legal e nele existam diferentes biomas, haverá uma reserva legal proporcional, considerando separadamente os índices. Este raciocínio pode ser estendido para a situação em que o imóvel esteja localizado parte na Amazônia Legal e parte fora dela. Não se sujeitam à instituição da Reserva Legal: a) Os empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto. b) As áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica. c) As áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e ferrovias. Localizado na Amazônia Legal: 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; Localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite O Poder Público poderá, ainda, reduzir para 50% a reserva legal em imóvel localizado em área de floresta na Amazônia Legal: a) Para fins de recomposição, desde que o Município onde o imóvel está localizado tenha mais de 50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio público e por terras indígenas homologadas; b) Quando o Estado tiver Zoneamento Ecológico-Econômico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu território ocupado por unidades de conservação da natureza de domínio público, devidamente regularizadas, e por terras indígenas homologadas (depois de ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente). O artigo 12 do Código Florestal traz uma hipótese em que o percentual mínimo de 80% da área de reserva legal na floresta amazônica pode ser reduzido para até 50% do imóvel. Tal redução depende do poder público federal, e deve haver indicação pelo Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE estadual e haja área rural desmatada consolidada para fins de regularização. Também traz a hipótese em que a área de reserva legal pode ser majorada em até 50% para fins de cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou redução de emissão de gases de efeito estufa. O proprietário ou possuidor de imóvel com Reserva Legal conservada e inscrita no CAR (Cadastro Ambiental Rural), cuja área seja superior aos limites mínimos fixados em lei, poderá usar a área excedente para fins de servidãoambiental ou Cota de Reserva Ambiental – CRA. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais, formando base de dados estratégica para o controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil, bem como para planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais.2 O órgão ambiental estadual integrante do SISNAMA (ou instituição por ele habilitada) deverá aprovar a localização da Reserva Legal após sua inclusão no CAR, e levará em consideração os seguintes estudos técnicos e critérios: 2 Retirado do site http://www.mma.gov.br/mma-em-numeros/cadastro-ambiental-rural • O compromisso nacional voluntário é de reduzir a emissão de gases de efeito estufa no percentual entre 36,1% a 38,9% até 2020, conforme artigo 12 da Lei 12.187/2009. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite I - o plano de bacia hidrográfica; II - o Zoneamento Ecológico-Econômico; III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida; IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e V - as áreas de maior fragilidade ambiental. Caso o imóvel esteja na Amazônia Legal, em área de floresta, e a extensão da APP, somadas às demais florestas, ultrapassem 80% do imóvel rural, fica • O proprietário ou possuidor não poderá ser punido administrativamente em decorrência da não formalização da Reserva Legal caso ele já tenha protocolado a documentação exigida para a análise da localização da Reserva Legal. a Será admitido o cômputo das APP's no percentual da Reserva Legal, desde que: Esse benefício não implique em novos desmatamentos (uso alternativo do solo) A área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação O proprietário ou possuidor tenha requerido a inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite permitido que o cômputo da APP da área de Reserva Legal implique em novos desmatamentos (artigo 15, §4º). O Código Florestal permite, ainda, a instituição da Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais, desde que respeitados os limites mínimos exigidos em lei para cada propriedade. A Reserva Legal deve ser conservada com sua cobertura de vegetação nativa, admitindo-se sua exploração econômica mediante o manejo sustentável (“administração da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo...”3), aprovado por órgão do SISNAMA. Para a pequena propriedade/posse rural familiar haverá um procedimento simplificado. O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de licenciamento ambiental pelo órgão competente, e não pode descaracterizar a cobertura vegetal, nem prejudicar a conservação da flora nativa, além de garantir a manutenção da diversidade de espécies (artigo 22 do Código Florestal). Independe de licença ambiental, desde que garantida a preservação do ecossistema, a coleta de produtos florestais não madeireiros (folhas, frutos, cipós, sementes). Infelizmente o Código Florestal só determinou a suspensão imediata das atividades em área de Reserva Legal desmatada irregularmente após 22/07/2008, e, nesse caso, o processo de recomposição da vegetação deverá ser iniciado no prazo máximo de 2 anos a partir da publicação do Código Florestal, e concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental – PRA. O proprietário tem o dever, como dito antes, de registrar a Reserva Legal no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR, sendo proibida a alteração de sua destinação, salvo exceções legais. No caso de posse será realizado um Termo de Compromisso, que valerá como título executivo extrajudicial e deverá conter, pelo menos, a localização da Reserva Legal e as obrigações assumidas pelo possuidor. A transmissão da posse redundará na sub- rogação das obrigações assumidas pelo antigo possuidor (artigo 18). 3 AMADO, Frederico. Legislação Comentada para Concursos. São Paulo: Método, 2015. • O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis a Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite A mera inserção do imóvel rural em perímetro urbano por lei municipal não desobriga o proprietário/possuidor de manter a Reserva Legal, que só deixará de existir quando do registro do parcelamento do solo para fins urbanos, conforme a legislação específica (artigo 19). APP RESERVA LEGAL Prevista nos artigos 4º e 6º do Código Florestal Prevista no artigo 12 do Código Florestal Área urbana ou rural Área rural Exploração excepcional (interesse social, utilidade pública, intervenção eventual de baixo impacto ambiental) Exploração apenas sob a forma de manejo florestal sustentável, sendo vedado o corte raso da vegetação Instituição ex lege ou por meio de ato do Chefe do Poder Executivo Instituição ex lege, mas a delimitação deve ser definida pelo órgão ambiental estadual e registrada no CAR Delimitação ocorrerá nas medidas previstas em lei Os percentuais mínimos são definidos em lei (80%, 35% e 20%) Para o STF haverá indenização pelo valor da vegetação em caso de desapropriação Para o STJ haverá indenização limitada pelo valor da vegetação em caso de desapropriação apenas em caso de existência de exploração via plano de manejo florestal 4 5 – Áreas Verdes Urbanas As áreas verdes urbanas podem ser conceituadas como o conjunto de espaços, públicos ou privados, que apresentam cobertura vegetal e que contribuem de modo significativo para a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental nas cidades. 4 AMADO, Frederico. Legislação Comentada para Concursos. São Paulo: Método, 2015. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Podemos citar como exemplos de áreas verdes urbanas: praças, parques urbanos, jardins, parque balneário, jardim botânico, jardim zoológico. O Poder Público municipal poderá usar dos seguintes instrumentos para o estabelecimento de áreas verdes urbanas: Direito de preempção para aquisição de remanescentes florestais relevantes (direito de preferência na aquisição de áreas entre particulares). Transformação de Reservas Legais em áreas verdes nas expansões urbanas. Exigência legal de áreas verdes em loteamentos, empreendimentos, infraestrutura, etc. Aplicação de recursos oriundos da compensação ambiental. 6 – Proteção no bioma Mata Atlântica O legislador constitucional elevou o bioma Mata Atlântica ao status de patrimônio nacional (art. 225, §4º da CF/88), ante a sua importância no equilíbrio Áreas Verdes Urbanas Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questõesAula 05 – Prof. Thiago Leite do meio ambiente e, infelizmente, ante o perigo de extinção de todo o bioma devido a atos predatórios do homem. Portanto, a Mata Atlântica merece um tratamento especial, visando sua preservação e recuperação. Diante de toda essa importância da Mata Atlântica foi publicada a Lei 11.428/2006, que foi regulamentada pelo Decreto 6.660/2008, e visa normatizar, regrar o uso econômico da Mata Atlântica, compatibilizando esse uso com a preservação do meio ambiente. Segundo o artigo 1º da referida Lei compõe o Bioma Mata Atlântica as seguintes formações florestais: Floresta Ombrófila Densa: “Mata sempre verde, com o “teto” da floresta de até 15m, com árvores emergentes de até 40m de altura. Densa vegetação arbustiva. As bromélias, orquídeas, cactos e samambaias também são muito abundantes. Nas áreas mais úmidas, às vezes temporariamente encharcadas, antes da degradação pelo homem ocorriam figueiras, jerivás e palmitos. Estende-se do Ceará ao Rio Grande do Sul, localizada principalmente nas encostas da Serra do Mar, da Serra Geral e em ilhas situadas no litoral entre os Estados do Paraná e do Rio de Janeiro.”5 Floresta Ombrófila Mista: “Conhecida como Mata de Araucárias, pois o Pinheiro Brasileiro (Araucaria angustifolia) constitui o andar superior da floresta, com sub-bosque bastante denso. Antes da interferência humana, essa formação ocorria em grandes proporções nas regiões dos planaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e em maciços descontínuos, nas partes mais elevadas de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais.”6 5 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ 6 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ • A Mata Atlântica é responsável por regular o fluxo dos mananciais hídricos, controlar o clima e o regime de chuvas, além de abrigar uma das maiores biodiversidades do planeta, com mais de 20 mil espécies de vegetais, 250 espécies de mamíferos, 340 espécies de anfíbios, 197 espécies de répteis, 1.023 espécies de aves e 350 espécies de peixes. Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Floresta Ombrófila Aberta: “É considerada um tipo de transição da Floresta Ombrófila Densa, ocorrendo em ambientes com características climáticas mais secas. É encontrada, por exemplo, na Bahia, Espírito Santo e Alagoas.”7 Floresta Estacional Decidual e Semidecidual: “Mata com árvores de 25m a 30m, com a presença de espécies que derrubam as folhas durante o inverno. Considerável ocorrência de epífitas e samambaias nos locais mais úmidos, e grande quantidade de cipós (trepadeiras). Ocorriam, antes da degradação pelo homem, a leste das Florestas Ombrófilas da encosta atlântica, entrando pelo Planalto Brasileiro até as margens do Rio Paraná.”8 Manguezais: “Formação que ocorre ao longo dos estuários, em função da água salobra produzida pelo encontro da água doce dos rios com a água do mar. É uma vegetação muito característica por possuir apenas sete espécies de árvores, mas abriga uma diversidade de microalgas pelo menos dez vezes maior. Essa floresta invisível é capaz de ocupar, com cerca de 200 mil representantes, um único centímetro quadrado de raiz de mangue.”9 Restingas: “Ocupa grandes extensões do litoral, sobre dunas e planícies costeiras. Inicia-se junto à praia, com gramíneas e vegetação rasteira, e torna-se gradativamente mais variada e desenvolvida à medida que avança para o interior, podendo também apresentar brejos com densa vegetação aquática. Abriga muitos cactos, orquídeas e bromélias. Essa formação encontra-se hoje muito devastada pela urbanização.”10 7 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ 8 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ 9 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ 10 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Campos de altitude: “Normalmente ocorrem em elevações e em linhas de cumeadas, associados ou não a fragmentos florestais. Vegetação típica de ambientes montano e alto-montano, com estrutura arbustiva e/ou herbácea. Caracterizam-se por uma ruptura na seqüência natural das espécies presentes nas formações fisionômicas circunvizinhas e a vegetação é formada principalmente por comunidades de gramíneas e arbustos, com grande quantidade de endemismos.”11 Brejos interioranos: “São áreas de clima diferenciado, no interior do semi-árido, também conhecidas regionalmente como “serras úmidas”, por ocuparem primitivamente a maior parte dos tabuleiros e das encostas orientais do Nordeste.”12 Encraves florestais do Nordeste: Floresta tropical baixa, adaptada a clima semi-árido e desértico, de folhas longas, que ocorre em caatinga florestal, ou mata semi-úmida, higrófila e mesófila com camada arbórea fechada, constituída devido à maior umidade do ar e à maior quantidade de chuvas nas encostas das montanhas. Constitui uma transição para o agreste. Na transição com a caatinga são encontradas com mais freqüência palmeiras e algumas cactáceas arbóreas. O artigo 2º da Resolução CONAMA 10/93 define vegetação primaria e secundária: I - Vegetação Primária - vegetação de máxima expressão local, com grande diversidade biológica, sendo os efeitos das ações antrópicas mínimos, a ponto de não afetar significativamente suas características originais de estrutura e de espécies (chamada vegetação virgem ou nativa sem ação humana ou com ação humana mínima) 11 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ 12 http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/as-diferentes-matas-da-mata-atlantica/ Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 36 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite II - Vegetação Secundária ou em Regeneração - vegetação resultante dos processos naturais de sucessão, após supressão total ou parcial da vegetação primária por ações antrópicas ou causas naturais, podendo ocorrer árvores remanescentes da vegetação primária (vegetação significativamente alterada pela ação do homem ou da natureza) O artigo 3º da Lei 11.428/2006 prossegue com conceitos importantes: I - pequeno produtor rural: aquele que, residindo na zona rural, detenha a posse de gleba rural não superior a 50 (cinqüenta) hectares, explorando-a mediante o trabalho pessoal e de sua família, admitida a ajuda eventual de terceiros, bem como as posses coletivas de terra considerando-se a fração individual não superior a 50 (cinqüenta) hectares, cuja renda bruta seja proveniente de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais ou do extrativismo rural em 80% (oitenta por cento) no mínimo; II - população tradicional: população vivendo em estreita relação com o ambiente natural, dependendo de seus recursos naturais para a sua reprodução sociocultural, por meio de atividades de baixo impacto ambiental; III - pousio: prática que prevê a interrupção de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais do solo por até 10 (dez) anos para possibilitar a recuperação de sua fertilidade; IV - prática preservacionista:atividade técnica e cientificamente fundamentada, imprescindível à proteção da integridade da vegetação nativa, tal como controle de fogo, erosão, espécies exóticas e invasoras; V - exploração sustentável: exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável; VI - enriquecimento ecológico: atividade técnica e cientificamente fundamentada que vise à recuperação da diversidade biológica em áreas de vegetação nativa, por meio da reintrodução de espécies nativas; VII - utilidade pública: a) atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura de interesse nacional destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia, declaradas pelo poder público federal ou dos Estados; VIII - interesse social: Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 37 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, conforme resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA; b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena propriedade ou posse rural familiar que não descaracterizem a cobertura vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente. A Lei 11.428/2006 delegou ao CONAMA a competência para definir vegetação primária e vegetação secundária nos estágios avançado, médio e inicial de regeneração do Bioma Mata Atlântica. Importante frisar que, nos termos do artigo 5º, “a vegetação primária ou a vegetação secundária em qualquer estágio de regeneração do Bioma Mata Atlântica não perderão esta classificação nos casos de incêndio, desmatamento ou qualquer outro tipo de intervenção não autorizada ou não licenciada”. Tal medida visa garantir o percentual atual do Bioma Mata Atlântica. Em caso de desmatamento, incêndio ou outro tipo de degradação o Poder Público deverá atuar de forma a recuperar o ecossistema afetado. A utilização do Bioma Mata Atlântica adotará os princípios da função socioambiental da propriedade, da eqüidade intergeracional, da prevenção, da precaução, do usuário-pagador, da transparência das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da gratuidade dos serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações tradicionais e do respeito ao direito de propriedade (art. 6º, parágrafo único da Lei 11.428/2006). O regime jurídico aplicável ao Bioma Mata Atlântica quanto ao corte, supressão ou exploração da vegetação variará conforme se trate de: Proteção e utilização do Bioma Mata Atlântica (art. 6º) Objetivo Geral O desenvolvimento sustentável Objetivos Específicos A salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 38 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite Vegetação primária: O corte e a supressão somente serão autorizados em caráter excepcional, quando necessários à realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública (neste caso mediante prévio Estudo de Impacto Ambiental), pesquisas científicas e práticas preservacionistas (art. 20). Vegetação Secundária: Estágio inicial de regeneração: O corte, a supressão e a exploração dependerão de autorização do órgão ambiental estadual, mas nos Estados em que a vegetação primária e secundária remanescente do Bioma Mata Atlântica for inferior a 5% (cinco por cento) da área original, submeter-se-ão ao regime jurídico aplicável à vegetação secundária em estágio médio de regeneração, ressalvadas as áreas urbanas e regiões metropolitanas. É permitido, ainda, o uso do pousio nos Estados em que tal procedimento for de uso tradicional. Estágio médio de regeneração: O corte e a supressão somente serão autorizados (1) em caráter excepcional, quando necessários à realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública (neste caso mediante prévio Estudo de Impacto Ambiental), pesquisas científicas e práticas preservacionistas, (2) quando necessários ao pequeno produtor rural e populações tradicionais para o exercício de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais imprescindíveis à sua subsistência e de sua família, ressalvadas as áreas de preservação permanente, (3) no caso de perímetros urbanos (para fins de loteamento e edificação), desde que garantidos pelo menos 30% da vegetação nos perímetros urbanos aprovados até a vigência da Lei 11.428/2006 ou 50% da vegetação nos perímetros urbanos aprovados após a vigência da Lei 11.428/2006, e (4) o corte, a supressão e o manejo de espécies arbóreas pioneiras nativas em fragmentos florestais em estágio médio de regeneração, em que sua presença for superior a 60% (sessenta por cento) em relação às demais espécies, poderão ser autorizados pelo órgão estadual competente, observado o Código Florestal. Estágio avançado de regeneração: O corte e a supressão somente serão autorizados (1) em caráter excepcional, quando necessários à realização de obras, projetos ou atividades de utilidade pública (neste caso mediante prévio Estudo de Impacto Ambiental), pesquisas científicas e práticas preservacionistas e (2) nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência da Lei 11.428/2006, a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração dependerá de prévia autorização do órgão estadual competente e somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio avançado de regeneração em no Prof. Thiago Leite www.estrategiaconcursos.com.br 39 de 97 DIREITO AMBIENTAL – PROCURADOR FEDERAL Teoria, jurisprudência e questões Aula 05 – Prof. Thiago Leite mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 da Lei e atendido o disposto no Plano Diretor do Município e demais normas urbanísticas e ambientais aplicáveis. O artigo 17 da Lei 11.428/2006 exige que, nos casos em que seja permitido o corte de vegetação primária ou secundária, seja feita a devida compensação ambiental com a destinação de área equivalente à desmatada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia hidrológica e, sempre que possível, na mesma microbacia ecológica e, em caso de áreas urbanas, no mesmo Município ou região metropolitana. A medida visa atenuar os efeitos da degradação ambiental ante a necessidade do desmatamento de uma área do Bioma Mata Atlântica. A mineração só é permitida, no Bioma Mata Atlântica, apenas nas áreas de vegetação secundária em estágio médio ou avançado de regeneração, e desde que haja licenciamento ambiental com apresentação de EIA/RIMA e adoção de medida compensatória de recuperação de área equivalente à do empreendimento, sendo proibido, portanto, em áreas de vegetação primária (artigo 32 da Lei 11.428/2006). Por último, cabe ressaltar que a Lei 11.428/2006 instituiu o Fundo de Restauração do Bioma Mata Atlântica, composto de recursos advindos do Tesouro Federal, de doações, rendimentos e outros determinados pela legislação,
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