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Ciências do Ambiente e Bioclimatologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Esp. Valéria Leite Aranha Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Biodiversidade • Introdução • Conceitos e Importância • Qual é o Valor da Biodiversidade? • Como a Vida na Terra Muda ao Longo do Tempo? • Mudanças Climáticas e a Evolução da Biodiversidade • Clima e Biodiversidade • Diversidade de Espé cies • Manutenção da Biodiversidade • Síntese da Unidade · Aprender sobre o que é biodiversidade, sua importância e como as mudanças climáticas afetam a sua evolução. OBJETIVO DE APRENDIZADO Biodiversidade Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Biodiversidade Introdução Há grandiosidade nesta visão da vida [...] que, enquanto este planeta tem orbitado infinitas formas, as mais belas e mais maravilhosas evoluíram e estão evoluindo (Charles Darwin). Para Townsend et al. (2011), o termo biodiversidade está frequentemente presente tanto na mídia popular quanto na literatura científica, o que, entretanto, muitas vezes ocorre sem uma definição inequívoca do seu significado. Na sua forma mais simples, o termo é usado para expressar a riqueza de espécies, ou seja, o número de espécies presentes em uma unidade geográfica definida. No entanto, a biodiversidade pode ser analisada em uma escala menor ou maior do que a espécie. Por exemplo, podemos incluir a diversidade genética de uma espécie, talvez, procurando conservar subpopulações geneticamente distintas e subespécies. Acima do nível de espécie, podemos desejar assegurar que as espécies que não possuam parentes próximos vivos na atualidade recebam proteção especial, a fim de garantir a manutenção da maior variedade possível de linhagens evolutivas da biota mundial. Em uma escala ainda maior, a biodiversidade pode incluir o conjunto de tipos de comunidades presentes em uma região – pântanos, desertos, estágios iniciais e finais da sucessão de uma floresta e assim por diante. Assim, o termo biodiversidade pode ter significados diferentes. Conceitos e Importância Diversidade biológica, ou biodiversidade, é a variedade de espécies da Terra ou as variações de formas de vida, os genes que elas contêm, os ecossistemas em que vivem e os processos ecossistêmicos de fluxo de energia e ciclagem de nutrientes que sustentam toda a vida (MILLER Jr., 2012.) Para Miller Jr. (2012), espécie é um conjunto de indivíduos que podem se acasalar e produzir descendentes férteis. Cada organismo é um membro de determinada espécie com certas características distintivas. Por exemplo, todos os seres humanos são membros da espécie Homo sapiens sapiens. Até agora, os biólogos identificaram cerca de 1,9 milhões de espécies existentes na Terra. Os cientistas acreditam que a maioria das espécies não identificadas vivem nas florestas tropicais do planeta e nas grandes áreas inexploradas dos oceanos. A diversidade de espécies é o componente mais óbvio, mas não o único, da biodiversidade. Outro componente importante é a diversidade genética. A variedade de espécies da Terra contém uma diversidade ainda maior de genes. Essa diversidade genética permite que a vida na Terra se adapte e sobreviva a dramáticas mudanças ambientais. Diversidade de ecossistemas, a variedade de desertos, pastagens, florestas, montanhas, oceanos, lagos, rios e zonas úmidas da Terra é outro componente 8 9 importante da biodiversidade. Cada um desses ecossistemas é um armazém de diversidade genética e de espécies. Os biólogos classificaram a parte terrestre da biosfera em biomas – grandes regiões, tais como florestas, desertos e pradarias, com climas distintos e certas espécies (principalmente de vegetação) a elas adaptadas. Outro componente importante da biodiversidade é a diversidade funcional, a variedade de processos, como o fluxo de energia e a ciclagem de matéria, que ocorrem dentro dos ecossistemas. Na Figura 1, a representação dos principais componentes da biodiversida- de terrestre. Calor Energia Solar Diversidade Funcional Processos biológicos e químicos, tais como �uxo de energia e reciclagem de matéria necessária para a sobrevivência das espécies, das comunidades e dos ecossistemas. Diversidade Ecológica Variedade de ecossistemas terrestres e aquáticos encontrados em uma área ou na Terra. Calor Calor Calor Nutrientes químicos (dióxido de carbono, oxigênio, nitrogênio, minerais) Consumidores (comedores de plantas e de animais) Calor Decompositores (bactérias, fungos) Produtores (plantas) Diversidade de Espécies Número e abundância de espécies presentes em diferentes comunidades. Diversidade Genética Variedade de material genético em uma espécie ou uma população. CAPITAL NATURAL Figura 1 – Ilustração dos principais componentes da biodiversidade terrestre – um dos mais importantes recursos renováveis da terra e componente essencial do capital natural do planeta Fonte: Adaptado de Miller Jr. (2012, p. 83) Qual é o Valor da Biodiversidade? Para a maioria das pessoas, não há dúvidas quanto ao valor da diversidade biológica, mas apenas esse reconhecimento nem sempre leva à valoração econômica sobre a qual as decisões políticas são geralmente baseadas. Assim, os custos do esgotamento e dos danos causados aos recursos naturais têm sido frequentemente desconsiderados. 9 UNIDADE Biodiversidade Um dos principais desafios é o desenvolvimento de uma nova economia ecológica, como nos traz Costanza et al. (1997), na qual os valores das espécies, comunidades e ecossistemas possam ser quantificados monetariamente, a fim de compará-los com os ganhos decorrentes de projetos industriais e outros projetos que possam danificá-los. Como vimos na Unidade I, o valor da biodiversidade pode ser medido em termos dos serviços ecossistêmicos “grátis” que a mesma fornece. Muitas espécies têm um valor direto e muitas outras, provavelmente, têm um valor potencial que permanece desconhecido. Por exemplo, a carne de animais selvagens (carne de caça), os peixes e as plantas continuam sendo recursos vitais em muitas partes do mundo, enquanto a maior parte do alimento mundial vem de plantas origi- nalmente selvagensque foram domesticadas em regiões tropicais e semiáridas. No futuro, linhagens selvagens dessas espécies poderão ser exploradas devido à sua diversidade genética e espécies bem diferentes de plantas e animais poderão ser domesticadas. Em segundo lugar, os benefícios potenciais que poderiam advir dos inimigos naturais de espécies-praga seriam enormes, se eles fossem usados como agentes de controle biológico; a maior parte dos inimigos naturais da maioria das pragas permanece sem ser estudada e é frequentemente desconhecida. Finalmente, cerca de 40% dos medicamentos prescritos e não prescritos em todo o mundo têm princípios ativos extraídos de plantas e animais. A aspirina, provavelmente o medicamento mais usado no mundo, teve origem nas folhas do salgueiro-branco- tropical (Salix alba). O tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) tem sido utilizado no estudo da hanseníase e na preparação de uma vacina contra a doença; o peixe-boi-da-flórida (Trichechus manatus), um mamífero ameaçado de extinção, está sendo usado para entender a hemofilia; a espécie vegetal rose periwinkle (Catharanthus roseus) de Madagascar tem produzido dois potentes medicamentos no tratamento da leucemia. Em todos esses casos, as espécies podem ser vistas como representando serviços ecossistêmicos provedores. Outras espécies têm valor econômico indireto. Por exemplo, uma grande quantidade de espécies de insetos selvagens é responsável pela polinização de plantas agrícolas – esse é um outro serviço provedor. Em contexto diferente, o valor monetário do ecoturismo, o qual depende da biodiversidade, está se tornando cada vez mais importante. Em uma escala menor, uma grande quantidade de filmes, livros e programas educativos sobre história natural é “consumida” anualmente sem prejudicar as espécies selvagens nos quais estão baseados. Nesses contextos, a biodiversidade fornece serviços ecossistêmicos culturais. É necessário mais engenhosidade para desenvolver mecanismos para medir os benefícios econômicos indiretos advindos da biodiversidade; por exemplo, as comunidades biológicas podem ter uma importância vital na manutenção da qualidade química dos reservatórios de água, na proteção dos ecossistemas contra enchentes e secas, na proteção e manutenção do solo, na regulação do clima local e, até mesmo, global, e na decomposição ou imobilização de resíduos orgânicos e inorgânicos. Todos esses são serviços ecossistêmicos reguladores. 10 11 Deve ser observado que muitas pessoas apontam para as bases éticas da conservação, argumentando que cada espécie tem o seu próprio valor – um valor que existiria mesmo que o homem não estivesse aqui para apreciá -la ou explorá -la. A partir dessa perspectiva, mesmo as espécies sem um valor econômico concebível necessitariam de proteção. Seria errado, no entanto, enxergar as coisas apenas do ponto de vista da conservação – não que existam argumentos reais contra a conservação –, mas existem argumentos a favor das atividades humanas que tornam a conservação necessária: agricultura, derrubada de árvores, exploração de populações de animais selvagens, exploração de minerais, queima de combustíveis fósseis, irrigação, disposição de resíduos, assim por diante. Para serem efetivos, os argumentos dos conservacionistas devem ser organizados em termos de uma análise custo-benefício, pois os governos sempre determinam suas políticas em decorrência de seus orçamentos e das prioridades de seus eleitores (TOWNSEND et al, 2011). Figura 2 – Qual o valor da biodiversidade? Fonte: Adaptado de Townsend e Collin (2011, p. 520) Importante! O Brasil abriga dois quintos das espécies de plantas e animais da Terra? O desaparecimento maciço de espécies indica que o equilíbrio ecológico do planeta foi profundamente alterado? Estão ameaçados de extinção 34% dos peixes, 25% dos répteis, 25% dos mamíferos, 21% dos anfíbios e 12% das aves? Pense nisso! Você Sabia? 11 UNIDADE Biodiversidade Como a Vida na Terra Muda ao Longo do Tempo? A teoria científica da evolução explica como a vida na terra muda ao longo do tempo por meio de alterações nos genes das populações. As populações evoluem quando seus genes sofrem mutações, conferindo a alguns indivíduos características genéticas que aumentam suas habilidades de sobreviver e produzir descendentes com essas mesmas características (seleção natural). Segundo Miller Jr. (2012), a história da vida na terra é colorida, profunda e complexa. A maior parte do que sabemos dessa história vem de fósseis, réplicas mineralizadas ou petrificadas de esqueletos, ossos, dentes, conchas, folhas e se- mentes, ou impressões de tais itens encontradas em rochas. Os cientistas também perfuram amostras de núcleos de gelo dos glaciares nos polos da Terra e no topo de montanhas, e examinam os sinais de vida antiga encontrados em diferentes camadas nesses núcleos. Todo o conjunto de evidências recolhidas por esses mé- todos, chamado registro fóssil, é desigual e incompleto. Algumas formas de vida não deixaram fósseis ou esses foram decompostos. Fósseis encontrados até agora, provavelmente, representam apenas 1% de todas as espécies que já viveram. Como conseguimos ter essa variedade surpreendente de espécies? A resposta científica envolve a evolução biológica (ou simplesmente evolução), processo pelo qual ocorreram as mudanças de vida na Terra ao longo do tempo e por meio de alterações nas características genéticas das populações. De acordo com a teoria da evolução, todas as espécies descendem de espécies anteriores, ou ancestrais; em outras palavras: a vida vem da vida. A ideia de que organismos mudam ao longo do tempo e são descendentes de um único ancestral comum tem existido, de uma forma ou de outra, desde os primeiros filósofos gregos. No entanto, ninguém tinha desenvolvido uma explicação convincente de como isso teria acontecido até 1858, quando os naturalistas Charles Darwin (1809 1882) e Alfred Russel Wallace (1823 1913) propuseram, independentemente, o conceito de seleção natural como um mecanismo de evolução biológica. Foi Darwin quem meticulosamente reuniu evidências para apoiar essa ideia e publicou, em 1859, seu livro A origem das espécies por meio da seleção na- tural. Darwin e Wallace observaram que os organismos individuais devem lutar constantemente para obter comida, água e outros recursos suficientes de modo a evitar serem comidos e para se reproduzirem. Também observaram que os indiví- duos em uma população com uma vantagem específica sobre outros nessa mesma população tinham maior probabilidade de sobreviver e de produzir descendentes portadores da mesma vantagem. Essa vantagem era devida a uma característica ou traço possuído por esses indivíduos, mas não por outros de sua espécie. 12 13 Com base nessas observações, Darwin e Wallace descreveram um processo chamado seleção natural, pelo qual indivíduos com certos traços são mais propensos a sobreviver e se reproduzir, em um determinado conjunto de condições ambientais, do que aqueles sem os traços. Os cientistas concluíram que esses traços que conferem sobrevivência se tornam mais prevalentes nas populações futuras da espécie conforme os indivíduos, seus portadores, tornam-se cada vez mais numerosos e passam suas características aos descendentes. Um enorme conjunto de evidências tem apoiado essa ideia. Como resultado, a evolução biológica pela seleção natural tornou-se uma importante teoria científica que explica, de maneira geral, como a vida tem mudado ao longo dos últimos 3,5 bilhões de anos e por que a vida é tão diversa hoje em dia. 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500 0 Cenozoico Eubactéria Arquibactéria Procariotas Eucariotas Protistas Plantas Fungos Animais Primeiros Seres Humanos Mesozoico Extinção dos Dinossauros Paleozoico Pré-Cambriano As plantas colonizam a terra Origem dos organismos multicelulares Os mais antigos fósseis eucariotas Acúmulo de O2 naatmosfera a partir de cianobactérias fotossintéticas Os mais antigos fósseis procariotas Origem da Terra A terra esfria o su�ciente para a crosta se solidi�car Figura 3 – Este diagrama fornece uma visão geral da evolução da vida na Terra em seis grandes reinos de espécies como resultado da seleção natural Fonte: Adaptado de Miller Jr. (2012, p. S21) 13 UNIDADE Biodiversidade Mudanças Climáticas e a Evolução da Biodiversidade Como Processos Geológicos e Mudanças Climáticas Afetam a Evolução? Movimentos de placas tectônicas, erupções vulcânicas, terremotos e mudanças climáticas alteraram os habitats da vida silvestre, eliminaram um grande número de animais e criaram oportunidades para a evolução de novas espécies. A superfície da Terra mudou dramaticamente durante sua longa história. Os cien- tistas descobriram que enormes fluxos de rocha fundida no seu interior quebram sua superfície em uma série de gigantescas placas solidas, chamadas placas tectônicas. Por centenas de milhões de anos, elas se afastaram lentamente no manto do plane- ta. Esse fato de que placas tectônicas se afastam tiveram dois efeitos importantes so- bre a evolução e a distribuição da vida na Terra. Primeiro, as localizações (latitudes) dos continentes e bacias oceânicas têm grande influência sobre o clima da Terra e, assim, ajudam a determinar onde as plantas e os animais podem viver. Segundo, o movimento dos continentes permite que as espécies se movam, adaptem-se a novos ambientes e formem novas espécies por meio da seleção natural. Quando os continentes se juntam, as populações podem se dispersar para novas áreas e se adaptar às novas condições ambientais. Quando se separam e ilhas são formadas, as populações devem evoluir em condições isoladas ou se tornam extintas. Placas tectônicas adjacentes, que estão se movendo lentamente próximas umas das outras, por vezes se movem rapidamente. Tais movimentos bruscos podem causar terremotos que, por sua vez, também podem afetar a evolução biológica, provocando fissuras na crosta terrestre, que eventualmente causam a separação e o isolamento de populações de espécies. Durante longos períodos de tempo, esse ciclo pode levar à for mação de novas espécies à medida que cada população isolada muda geneticamente, em resposta às novas condições ambientais. As erupções vulcânicas também ocorrem ao longo dos limites das placas tectônicas e podem afetar a evolução biológica ao destruir habitats e diminuir ou eliminar as populações das espécies (MILLER Jr., 2012). Alterações Climáticas e Catástrofes Afetam a Seleção Natural Durante sua longa história, o clima da Terra mudou drasticamente. Por vezes, es- friou e cobriu boa parte da terra com gelo glacial. Em outras, aqueceu-se, derretendo o gelo e fazendo subir drasticamente o nível do mar, o que aumentou a área total coberta por oceanos e diminuiu a da terra. Tais períodos alternados de resfriamento 14 15 e aquecimento levaram ao avanço e recuo das camadas de gelo em altas latitudes em grande parte do hemisfério norte mais recentemente, cerca de 18 mil anos atrás. Essas mudanças climáticas de longo prazo têm um efeito importante sobre a evolução biológica pela determinação dos locais onde plantas e animais podem sobreviver e prosperar, e pela mudança da localização de diferentes tipos de ecossistemas, tais como desertos, pradarias e florestas. Algumas espécies foram extintas porque o clima mudou muito rapidamente para que se adaptassem e sobrevivessem, e novas espécies evoluíram para preencher suas funções ecológicas. Outra força que afeta a seleção natural são os eventos catastróficos, tais como colisões entre a Terra e asteroides de grandes dimensões. Provavelmente hou- ve muitas dessas colisões durante os 3,5 bilhões de anos de vida na Terra. Tais impactos causaram grande destruição de ecossistemas e eliminaram um grande número de espécies. No entanto, também causaram mudanças nas localizações dos ecossistemas e criaram oportunidades para a evolução de novas espécies (MILLER Jr., 2012). Conforme as condições ambientais mudam, o equilíbrio entre a formação de novas espécies e a extinção das existentes determina a biodiversidade da Terra. Atividades humanas estão diminuindo a biodiversidade, causando a extinção de muitas espécies e destruindo ou degradando habitats necessários para o desenvolvimento de novas espécies. Clima e Biodiversidade Introdução A primeira etapa para entender as questões relacionadas ao clima e como ele afeta a biodiversidade terrestre é conhecer a diferença entre condições meteoroló- gicas e clima. As condições meteorológicas são um conjunto de condições físicas da atmosfera inferior, como temperatura, precipitação, umidade, velocidade do vento, camada de nuvens e outros fatores, em determinada área por um período de horas ou dias. O clima é um padrão geral da área de condições atmosféricas em períodos que variam de, no mínimo, três décadas a centenas de anos. Em outras palavras, o clima é a condição meteorológica em média durante um longo período de tempo. O clima varia em partes diferentes da Terra, principalmente em razão dos longos períodos de tempo, dos padrões de circulação do ar e das correntes oceânicas globais que distribuem calor e precipitação de forma desigual entre os trópicos e outras partes do mundo (SPOOLMAN, 2016). 15 UNIDADE Biodiversidade Os Principais Fatores que Influenciam o Clima de uma Área Entrada de energia solar, rotação da Terra, padrões globais do movimento da água e do ar, gases na atmosfera e recursos da superfície terrestre. Figura 4 – Este mapa generalizado das zonas climáticas atuais da Terra também mostra as correntes oceânicas principais e as áreas de afloramento (onde as correntes trazem nutrientes do fundo do oceano para a superfície) Fonte: minilua.com Energia Solar A maior incidência de energia solar é no Equador O ar úmido sobre, esfria e libera umidade como chuva O ar resfria e desce em latitudes inferiores O ar quente sobe e se move para os polos O ar resfria e descem em latitudes inferiores Circulação do ar global Conforme o ar sobre o Equador é aquecido, ele se eleva e se move para os polos (à esquerda). A rotação da Terra desvia esse movimento do ar sobre diferentes partes do planeta. Esse processo cria padrões globais de ventos predominantes que ajudam a distribuir o calor e a umidade na atmosfera, o que leva à variedade de �orestas, pradarias e desertos do planeta (à direita). Equador 0º 30º N 30º S 60º N Calota Polar Ventos Oeste Alísios do Nordeste Alísios do Sudeste Ventos Oeste Desertos Frios Desertos Frios Floresta de coníferas Floresta tropical decídua Floresta tropical decídua Floresta tropical chuvosa Floresta tropical decídua e pradaria Floresta tropical decídua e pradaria Deserto quente Deserto quente Calota Polar 60º S O ar úmido sobre, esfria e libera umidade como chuva Desertos Frios Desertos Frios Floresta de coníferas Floresta tropical decídua Floresta tropical decídua Floresta tropical chuvosa Floresta tropical decídua e pradaria Floresta tropical decídua e pradaria Deserto quente Deserto quente Figura 5 – Circulação do ar global Fonte: Adaptado de Spoolman (2016, p. 111) 16 17 • Aquecimento desigual da superfície da Terra pelo Sol: o ar é muito mais aquecido no Equador, onde os raios solares incidem diretamente, do que nos polos, onde os raios solares incidem em um ângulo menor e se espalham sobre uma área muito maior. As diferenças na entrada de energia solar na atmosfera ajudam a explicar o motivo das regiões tropicais próximas do Equador serem quentes, as regiões polares, frias e as regiões temperadas entre elas geralmente apresentarem temperaturas médias intermediárias. A intensa incidência de radiação solar nas regiões tropicais leva a uma evaporação muito grande de umidade de florestas, pradarias e corpos de água. Como resultado,as regiões tropicais normalmente apresentam maior precipitação do que as outras áreas da Terra; • Rotação da Terra em seu eixo: conforme a Terra gira em torno de seu eixo, a linha do Equador gira mais rápido do que as regiões para o norte e sul. Consequentemente, as massas de ar que se elevam acima da Terra e se movem na direção norte-sul para as áreas mais frescas são desviadas para diferentes partes da superfície do planeta. A atmosfera sobre essas diferentes áreas é dividida em grandes regiões chamadas células, diferenciadas pela direção do movimento do ar. As diferentes direções de movimento do ar são chamadas ventos predominantes – ventos de superfície grandes que sopram quase que continuamente e ajudam a distribuir o calor e a umidade sobre a superfície da Terra e conduzem as correntes oceânicas; • Propriedades do ar, da água e da terra: o calor do Sol evapora a água do oceano e transfere calor desse para a atmosfera, especialmente próximo ao Equador quente. Essa evaporação de água cria células de convecção cíclicas gigantes que circulam ar, calor e umidade verticalmente e de lugar a lugar na atmosfera. Os ventos predominantes que sopram sobre os oceanos produzem movimentos em massa da água de superfície chamada correntes oceânicas. Conduzidas por ventos predominantes e pela rotação da Terra, as principais correntes ajudam a redistribuir o calor do Sol, de forma que influenciam o clima e a vegetação, especialmente nas áreas costeiras. Esse calor e as diferenças na densidade da água (massas por volume de unidade) criam correntes oceânicas quentes e frias. Os ventos predominantes e os continentes interrompem de forma irregular essas correntes e as levam, em seguida, a fluir em padrões mais ou menos circulares entre os continentes – no sentido horário, no Hemisfério Norte, e sentido anti-horário, no Hemisfério Sul. A água também se move verticalmente nos oceanos conforme a água mais densa afunda, enquanto a água menos densa sobe. Isso cria um círculo conectado de correntes oceânicas profundas e rasas. Esse círculo funciona como uma esteira transportadora gigante, que move o calor para e do mar profundo e transfere água quente e fria entre os trópicos e os polos. O oceano e a atmosfera estão fortemente ligados de duas formas: as correntes oceânicas são afetadas por ventos na atmosfera e o calor do oceano afeta a circulação atmosférica. Um exemplo de interações entre o oceano e a atmosfera é a oscilação sul do El Niñ o. Esse fenômeno meteorológico em grande escala ocorre a cada poucos anos 17 UNIDADE Biodiversidade quando os ventos predominantes no Oceano Pacifico enfraquecem e mudam a direção. O aquecimento acima da média resultante das águas do Pacifico altera as condições meteorológicas de dois terços da Terra por um ou dois anos. Os padrões de circulação de ar da Terra, os ventos predominantes e a configuração de continentes e oceanos são fatores na formação de seis células de convecção – três delas ao sul do Equador e três, ao norte dele. Essas células levam a uma distribuição irregular dos climas, o que resulta em desertos, pradarias e florestas. Diversidade de Espécies A diversidade de espécies é um componente importante da biodiversida- de, que tende a aumentar a sustentabilidade de alguns ecossistemas. Uma característica importante de uma comunidade e do ecossistema a que pertence é sua diversidade de espécies, ou o número e a variedade de espécies que ela contém. A diversidade de espécies das comunidades varia de acordo com a sua localização geográfica. Para a maioria das plantas e animais terrestres, a diversidade de espécies (principalmente a riqueza delas) é maior nos trópicos, e vai diminuindo à medida que nos afastamos do equador em direção aos polos. Os ambientes mais ricos em espécies são florestas e grandes lagos tropicais, recifes de coral e a zona do fundo do oceano. Que Efeitos a Riqueza de Espécies tem em um Ecossistema? Quanto maior a riqueza de espécies e sua correspondente teia alimentar e de interações bióticas em um ecossistema, maior sua sustentabilidade, ou sua capacidade de resistir às perturbações ambientais, tais como seca ou infestações de insetos. Em um ecossistema rico em espécies, cada uma delas pode explorar uma parte diferente dos recursos disponíveis – por exemplo, algumas plantas florescerão precocemente e outras, mais tarde; algumas têm raízes superficiais para absorver água e nutrientes no solo, outras, mais longas, para atingir solos mais profundos. A riqueza de espécies parece aumentar a produtividade e estabilidade, ou a sustentabilidade, de um ecossistema. Que Papel Desempenham as Espécies em um Ecossistema? Cada espécie desempenha um papel ecológico especifico, chamado nicho. Qual- quer espécie pode desempenhar uma ou mais das cinco funções importantes – na- tiva, introduzida, indicadora, chave ou engenheira – em um ecossistema especifico. • Espécies generalistas: têm nichos amplos. Podem viver em muitos lugares diferentes, comer uma variedade de alimentos e muitas vezes tolerar uma 18 19 ampla gama de condiç õ es ambientais, como exemplo citamos: moscas, baratas camundongos, ratos, guaxinins e seres humanos. • Espécies especialistas: ocupam nichos estreitos e podem ser capazes de viver em apenas um tipo de habitat, utilizar apenas um tipo ou alguns poucos tipos de alimentos ou tolerar uma faixa estreita de clima e outras condiç õ es ambientais. Por exemplo, algumas aves marinhas ocupam nichos especializados, alimentando-se de crustáceos, insetos e outros organismos encontrados em praias e áreas alagadas costeiras vizinhas. Por causa de seus nichos estreitos, essas espécies são mais propensas à extinção quando as condiç õ es ambientais mudam. Por exemplo: o panda gigante da China está seriamente ameaçado em razão de uma combinação de perda de habitat, baixa taxa de natalidade e dieta especializada, que consiste principalmente de bambu. • Espécies nativas: são aquelas que normalmente vivem e prosperam em um ecossistema especifico. • Espécies introduzidas, invasoras ou exóticas: espécies imigrantes, deliberada ou acidentalmente introduzidas em um ecossistema. • Espécies indicadoras: espécies que fornecem avisos precoces de danos a uma comunidade ou um ecossistema. Os pássaros são excelentes indicadores biológicos, porque encontrados em quase toda parte e afetados rapidamente por mudanças ambientais, tais como a perda ou a fragmentação de seus habitats e a introdução de pesticidas químicos. As populações de muitas espécies de aves estão em declínio. Estudo de Casos: Estudo de Caso nº 1 – Baratas: as últimas sobreviventes da natureza As baratas, insetos que muitas pessoas amam odiar, têm existido por cerca de 350 milhões anos, sobrevivendo até mesmo aos dinossauros. Uma das mais bem-sucedidas histórias da evolução, elas prosperaram porque são generalistas. As 3.500 espécies de baratas da Terra podem comer quase tudo, incluindo algas, insetos mortos, restos de unha, sais depositados pelo suor no tênis, cabos elétricos, papel, cola e sabão. Também podem viver e se reproduzir em quase todos os lugares, exceto nas regiões polares. Algumas espécies podem passar um mês sem comer, sobreviver por semanas com apenas uma gota de água e resistir a doses maciças de radiação. Uma espécie pode sobreviver congelada por 48 horas. As baratas geralmente conseguem escapar de seus predadores – e de um pé humano em sua perseguição – porque a maioria das espécies tem antenas que podem detectar pequenos movimentos de ar. Também têm sensores de vibração em suas articulações no joelho, e podem responder mais rápido do que você consegue piscar o olho. Algumas têm até asas. Elas têm olhos compostos que lhes permitem ver em quase todas as direções ao mesmo tempo. Cada olho tem cerca de 2 mil lentes, contra apenas uma em cada um dos seus olhos. E, talvez o mais significativo, elas têm altas taxas de reprodução. Em apenas19 UNIDADE Biodiversidade um ano, uma única barata asiática e seus descendentes podem adicionar cerca de 10 milhões de novas baratas no mundo. Sua alta taxa reprodutiva também ajuda a desenvolver rapidamente a resistência genética a quase qualquer tipo de veneno que jogamos contra elas. A maioria das baratas experimenta os alimentos antes que entrem em suas bocas e aprendem a evitar os venenos de gosto ruim. Limpam-se comendo seus próprios mortos e, se o alimento for escasso o suficiente, comem também os vivos. Cerca de 25 espécies de baratas vivem em casas e podem conter vírus e bactérias que causam doenças. Por outro lado, elas desempenham um papel importante nas teias alimentares da natureza, porque são uma saborosa refeição para aves e lagartos (MILLER Jr., 2012). O que você achou desse estudo de caso? Não dá para negar que as baratas estão entre as espécies mais adaptáveis e prolíficas do planeta, certo? Ex pl or Estudo de Caso nº 2 – Por que os anfíbios estão desaparecendo? Anfíbios (sapos, rãs e salamandras) vivem parte de sua vida na água e parte em terra. As populações de alguns anfíbios, também consideradas espécies indicadoras, estão em declínio em todo o mundo. Eles foram os primeiros vertebrados a pôr os pés na terra. Historicamente, têm sido melhores na adaptação às mudanças ambientais por meio da evolução do que muitas outras espécies. Algumas espécies de anfíbios não estão em peri- go, mas muitas outras enfrentam dificuldades para se adaptar a algumas das rápidas mudanças ambientais que ocorreram no ar, na água e na terra durante as últimas décadas, mudanças estas resultantes, na maior parte das vezes, de atividades humanas. Desde 1980, as populações de centenas das quase 6 mil espécies de anfíbios do mundo foram desaparecendo ou diminuindo em quase todo o planeta, mesmo em reservas naturais protegidas e parques. De acordo com uma avaliação de 2008 conduzida pela União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (International Union for Conservation of Nature – IUCN), cerca de 32% das espécies conhecidas de anfíbios (e mais de 80% daquelas no Caribe) estão ameaçadas de extinção, e as populações de outras 43% das espécies, em declínio. As rãs são especialmente sensíveis e vulneráveis a perturbações ambientais em vários pontos do seu ciclo de vida. Enquanto girinos, vivem na água e comem plantas; já adultas, vivem principalmente na terra e se alimentam de insetos que podem expô-las a pesticidas. Os ovos das rãs não têm carapaças proteto- ras para bloquear a radiação UV ou a poluição. Como adultas, elas absorvem água e ar por meio de suas finas e permeáveis peles, podendo facilmente absorver poluentes da água, do ar ou do solo. E não têm pelos, penas ou es- camas para protegê-las. 20 21 Nenhuma causa foi identificada para explicar esses declínios nas espécies dos anfíbios. No entanto, os cientistas identificaram uma série de fatores que podem afetar as rãs e outros anfíbios em vários pontos do seu ciclo de vida: • Perda de habitat e fragmentação, especialmente pela drenagem e ocupação de áreas alagadas, agricultura, desmatamento e urbanização. • Seca prolongada, que pode secar os corpos d’água, de forma que poucos girinos sobrevivem. • Aumentos na radiação UV resultantes da redução do ozônio estratosférico durante as últimas décadas, causada por produtos químicos que colocamos no ar e se acumulam na estratosfera. Maiores doses de radiação UV podem danificar embriões de anfíbios em lagoas rasas e adultos que se expõem ao sol para se aquecer. • Parasitas, tais como vermes, que se alimentam de ovos de anfíbios depositados na água, parecem ter causado um aumento na proporção de nascimentos de anfíbios com membros amputados ou adicionais. • Doenças virais e fú ngicas, especialmente o fungo quitrí deo, que ataca a pele dos sapos, aparentemente reduzindo sua capacidade de absorver água, levando à morte por desidratação. Essas doenças podem se espalhar porque os adultos de muitas espécies de anfíbios se reúnem em grandes grupos para se reproduzir. • Poluição, em especial a exposição a pesticidas em lagoas e nos corpos dos insetos consumidos pelos sapos, o que pode torná-los mais vulneráveis a doenças bacterianas, virais, fú ngicas e a alguns parasitas. • Mudanças climáticas. Um estudo de 2005 revelou uma aparente correlação entre as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento atmosférico e a extinção de cerca de dois terços das 110 espécies conhecidas do sapo arlequim em florestas tropicais nas Américas Central e do Sul. Alterações climáticas, ou pelo menos padrões climáticos de curto prazo como o El Niñ o, desempenharam um papel importante na extinção do sapo dourado da Costa Rica. • Caça excessiva, especialmente na Ásia e na França, onde as pernas de rã� são uma iguaria. • Imigração natural, ou a introdução deliberada de predadores e competidores exóticos (como algumas espécies de peixes). A combinação de tais fatores, que variam de um lugar para outro, é provavelmente responsável pela maior parte do declínio e desaparecimento dos anfíbios. Por que deveríamos nos importar que algumas espécies de anfíbios estejam sendo extintas? Os cientistas nos oferecem três razões. • Primeiro, os anfíbios são indicadores biológicos sensíveis a mudanças nas condiç õ es ambientais, tais como perda e degradação de habitats, poluição do ar e da água, radiação UV e mudanças climáticas. As ameaças mais intensas para sua sobrevivência sugerem que a saúde ambiental está se deteriorando em muitas partes do mundo. 21 UNIDADE Biodiversidade • Segundo, anfíbios adultos desempenham papéis ecológicos importantes nas comunidades biologicas. Por exemplo, eles comem mais insetos (incluindo mosquitos) do que os pássaros. Em alguns habitats, a extinção de determinadas espécies de anfíbios pode levar à extinção de outras espécies, como répteis, aves, insetos aquáticos, peixes, mamíferos, anfíbios e outros que se alimentam deles ou de suas larvas. • Terceiro, os anfíbios são um armazém genético de produtos farmacêuticos esperando ser descobertos. Por exemplo, compostos de secreções da pele de anfíbios têm sido isolados e utilizados como analgésicos e antibióticos e em tratamentos para queimaduras e doenças cardíacas. Muitos cientistas acreditam que as chances cada vez maiores da extinção global de uma variedade de espécies de anfíbios são um alerta sobre os efeitos nocivos de uma série de ameaças ambientais para a biodiversidade, principalmente resultantes da atividade humana (MILLER Jr., 2012). Você poderia imaginar que um sapinho como os dendrobatídeos encontrados nas florestas tropicais do Brasil fossem tão impor- tantes? Veja ao lado um espécime Dendrobates azureus. Ex pl or Manutenção da Biodiversidade O gerenciamento da biodiversidade pode sustentar a riqueza biológica e ao mesmo tempo fornecer oportunidades econômicas. Cada Nação tem três formas de riqueza: material, cultural e biológica. Sua riqueza biológica – a biodiversidade – pode ser uma fonte de alimentos, remédios e outros produtos. Entretanto, a proteção da riqueza biológica frequentemente é uma proposta arriscada. Até mesmo em países desenvolvidos, as pessoas frequentemente se opõem a proteções ambientais porque temem que tais medidas tenham consequências econômicas adversas; no entanto, cuidar do meio ambiente pode fazer muito sentido economicamente, as pessoas podem preservar e lucrar com sua riqueza biológica. Algumas Histórias de Sucesso da Utilização Sustentável da Riqueza Biológica: • Uso da diversidade genética: um universitário mexicano especialmente ob- servador descobriu o Zea diploperennis, um milho selvagem que se acreditava estar extinto há muito tempo. Ele havia desaparecido da maior parte de sua distribuição original, mas uma população restante se agarrou à vida em uma re- gião de 364 hectares de terreno montanhoso perto de Jalisco. DiferentementeFo nt e: iSt oc k/ Ge tty Im ag es 22 23 do milho domesticado, o Z. diploperennis é perene e resistente à maioria dos vírus. As transferências de genes dessa espécie selvagem para plantas cultiva- das podem aumentar a produção de milho no México e em outros lugares. Em reconhecimento ao potencial valor da espécie Z. diploperennis, o governo me- xicano isolou seu habitat montanhoso como uma reserva biológica, a primeira já criada para proteger um parente selvagem de uma lavoura importante; • Descoberta de substâncias químicas úteis: muitas espécies fazem compos- tos químicos que podem servir de remédios ou outros produtos comerciais. A maioria dos países em desenvolvimento não tem laboratórios para testar espécies quanto a possíveis produtos, mas grandes indústrias farmacêuticas em outros países, sim. O Instituto Nacional de Biodiversidade da Costa Rica coleta e identifica espécies que parecem promissoras e envia extratos delas para análi- ses químicas. Se um produto de uma dessas espécies é comercializado, a Costa Rica recebe parte dos lucros, que são destinados a programas de conservação; • Ecoturismo: o estabelecimento de reservas ricas em espécies e o estímulo a turistas a visitá -las podem ter benefí cios biológicos e econômicos. Por exemplo, nos anos 1970, George Powell estudava aves na floresta nublada de Monteverde, na Costa Rica. Essa floresta estava sendo desmatada rapidamente e Powell teve a ideia de comprar parte dela como um santuário natural. Seus esforços inspiraram pessoas e grupos de conservação a doar fundos, e uma boa parte da floresta está protegida agora como uma reserva natural particular. As plantas e os animais da reserva incluem mais de 100 espécies de mamíferos, 400 de aves e 120 de anfíbios e répteis. A reserva é um dos poucos habitats restantes para jaguar, onça-pintada, puma e seus parentes. Mais de 50 mil turistas agora visitam a reserva florestal Monteverde todos os anos. O ecoturismo centrado nessa reserva fornece emprego aos habitantes locais e tem outros efeitos benéficos – por exemplo, uma escola sem fins lucrativos montada dentro da reserva ajuda a educar as crianças da área. Tais exemplos mostram como podemos colocar nossos conhecimentos sobre princípios biológicos em uso. A saúde de nosso planeta depende de nossa capacidade de reconhecer que os princípios de fluxo de energia e de limitação de recursos, que regem a sobrevivência de todos os sistemas vivos, não mudam. É nosso imperativo biológico e cultural aceitar esses princípios e nos fazer a seguinte pergunta: qual será nosso efeito em longo prazo sobre o mundo da vida? Importante! Como atendemos às necessidades humanas e sustentamos a biodiversidade? Como vimos: Qualquer nação tem riqueza biológica, que as pessoas tenderão a proteger se recon- hecerem seu valor. Práticas sustentáveis permitem que pessoas se benefi ciem economicamente de recursos biológicos sem destruí-los. Importante! 23 UNIDADE Biodiversidade Síntese da Unidade O que é Biodiversidade e por que é Importante? A biodiversidade encontrada em genes, espécies, ecossistemas e seus processos é vital para a manutenção da vida na terra. Biodiversidade é a variedade de espécies da Terra ou as variações de formas de vida, os genes que elas contêm, os ecossistemas em que vivem e os processos ecossistêmicos de fluxo de energia e ciclagem de nutrientes que sustentam toda a vida. Como a Vida na Terra muda ao Longo do Tempo? A teoria científica da evolução explica como a vida na terra muda ao longo do tempo por meio de alterações nos genes das populações. As populações evoluem quando seus genes sofrem mutações, conferindo a alguns indivíduos características genéticas que aumentam suas habilidades de sobreviver e produzir descendentes com essas mesmas características (seleção natural). Como Processos Geológicos e Mudanças Climáticas Afetam a Evolução? Movimentos de placas tectônicas, erupções vulcânicas, terremotos e mudanças climáticas alteraram os habitats da vida silvestre, eliminaram um grande número de animais e criaram oportunidades para a evolução de novas espécies. Como as Atividades Humanas Afetam a Biodiversidade? Atividades humanas estão diminuindo a biodiversidade, causando a extinção de muitas espécies e destruindo ou degradando habitats necessários para o desenvol- vimento de novas espécies. O que é a Diversidade de Espécies e por que é Importante? A diversidade de espécies é um componente importante da biodiversidade, que tende a aumentar a sustentabilidade de alguns ecossistemas. Cada espécie desempenha um papel ecológico especifico, chamado nicho. Qualquer espécie pode desempenhar um ou mais entre cinco papéis importantes – nativa, introduzida, indicadora, chave ou engenheira – em um ecossistema especifico. Como Atendemos às Necessidades Humanas e Sustentamos a Biodiversidade? As pessoas tendem a preservar a riqueza biológica quando reconhecem e se beneficiam economicamente de sua existência. 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Recursos Naturais e Biodiversidade: Preservação e Conservação dos Ecossistemas BARBOSA, Rildo Pereira; VIANA, Viviane Japiassú. Recursos naturais e biodiversi- dade: preservação e conservação dos ecossistemas. São Paulo: Érica, 2014. Ecologia CAIN, Michael L.; BOWMAN, William D.; HACKER, Sally D. Ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2011. Vídeos ICMBio – Biodiversidade Brasileira https://youtu.be/SEFwGcJYbbg Leitura O que é Biodiversidade? https://goo.gl/XmMwQY 25 UNIDADE Biodiversidade Referências MILLER, G. T. Jr. Ecologia e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning Editores, 2012. SPOOLMAN, G. Tyler Miller. Ciência Ambiental. São Paulo: Cengage Learning Editores, 2016. STARR, Cecie Starr et al. Biologia – Unidade e diversidade da vida. São Paulo: Cengage Learning Editores, 2012. TOWNSEND, Colin R.; BEGON, Michael; HARPER, L. Fundamentos em ecologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 26
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