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0 Bruna Vigetta Batista A PUNIBILIDADE DOS AUTORES DE CRIMES DE TRÂNSITO Centro Universitário Toledo Araçatuba 2016 1 Bruna Vigetta Batista A PUNIBILIDADE DOS AUTORES DE CRIMES DE TRÂNSITO Centro Universitário Toledo Araçatuba Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo sob orientação do Prof. Dr. Carlos Paschoalik Antunes. 2 2016 BANCA EXAMINADORA _________________________________ Prof. _________________________________ Prof. _________________________________ Prof. Araçatuba, ____ de ______ de 2016. 3 Dedico este trabalho... A minha família, em especial, minha mãe, Marcia Vigetta Batista, meu pai, Paulo Henrique Batista e meu irmão Gabriel Vigetta Batista por me proporcionarem a realização desse sonho e contribuírem para a formação de meu caráter. Aos demais, mas não menos importantes em minha vida, muito obrigada por me apoiarem sempre. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, por me conceder o dom da vida e ser o meu sustento para a caminhada. A minha família, meus pais, meu irmão, meus avós, pela compreensão, apoio e incentivo para a realização do meu sonho. Aos supervisores de estágio, aos funcionários dos lugares em que passei e aos amigos que encontrei durante esse processo formativo, e que espero tê-los comigo por toda vida. Aos colegas de sala, pela receptividade e companheirismo durante a graduação. A todos os professores pela transmissão do saber e conhecimento jurídico Agradecimento especial ao meu orientador, professor Carlos Paschoalik Antunes, pela colaboração e paciência despendidas. 5 “O Senhor é o Pastor que me conduz não me falta coisa alguma”. (Sl. 23/24) 6 RESUMO O presente trabalho acadêmico trata da punibilidade dos autores de crime de trânsito, em referência às sanções indicadas para cada uma das infrações contidas no código de trânsito brasileiro. Com a essa pesquisa, aponta-se que a necessidade de normatizar as condutas de trânsito surgiu há tempos atrás; o desenvolvimento urbano, econômico e industrial possibilitou que cada vez mais pessoas tivessem condições de comprar um carro; assim houve um aumento na produção automobilística e também a construção de estradas e rodovias. A partir dos princípios constitucionais que regem o direito penal foram criadas leis pelo Sistema Nacional de Trânsito para proporcionar segurança no trânsito, condutas tipificadas que se praticadas configuram crime. Porém ainda na atualidade o número de acidentes que acontecem no Brasil é elevado, frustrando assim a intenção do legislador. Com isso fica caracterizado que o problema não está na falta de regras e punições para os motoristas que desrespeitam o código, e sim na falta de mão de obra estatal para uma maior fiscalização; e na conscientização da população de que a direção defensiva deve ser uma prática constante e que as regras de trânsito não podem ser banalizadas. Palavras-chaves: crime, trânsito, punibilidade, dirigir, motorista. 7 ABSTRACT This academic work deals with the punibilaidade of traffic crime authors, referring to the sanctions set out for each of the offenses contained in the Brazilian traffic code. With our research shows that the need to regulate traffic behavior came to the times ago, the urban, economic and industrial development made it possible for more and more people were able to buy a car; so there was an increase in automobile production and also the construction of roads and highways. From the constitucionas principles governing criminal law laws were created by the National Traffic System to provide traffic safety, typified conduct which if practiced confuguram crime. But even today the number of accidents that happen in Brazil is high, thus frustrating the intention of the legislator. It is determined that the problem is not the lack of rules and punctures for drivers who break the code, but in the absence of hand state work for greater oversight and public awareness of the defensive driving should be a practical constant and that traffic rules can not be trivialized. Key Words: crime, traffic, criminal liability, driving, driver 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 09 I – HISTÓRIAE EVOLUÇÃO DO TRÂNSITO ................................................................... 10 1.1. Análise da Legislação de Trânsito Brasileira ...................................................................... 11 1.2. Considerações históricas acerca da legislação de trânsito brasileira ................................... 13 1.3. Sanções previstas no Código de Trânsito Brasileiro ........................................................... 14 1.4. Objetividade Jurídica ........................................................................................................... 15 1.5. Aplicação da Lei 9099/95 nos crimes de trânsito ................................................................ 15 1.6. Responsabilização do infrator de trânsito ............................................................................ 16 II – A PUNIBILIDADE DEFINIDA PELOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ....... 19 2.1. Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal ..................................................................... 20 2.2. Princípio da anterioridade .................................................................................................... 22 2.3. Princípio da tipicidade ......................................................................................................... 23 2.4. Princípio da especialidade: Código Penal versus Código de Trânsito Brasileiro................ 23 2.5. Princípio da voluntariedade ................................................................................................. 24 2.6. Princípio da proporcionalidade ............................................................................................ 24 2.7. Princípio do devido processo legal ...................................................................................... 25 2.8. Princípio da motivação ........................................................................................................ 25 III – DOS CRIMES DE TRÂNSITO ...................................................................................... 27 3.1. Conceito de Crime de Trânsito ............................................................................................ 27 3.2. Competência Legislativa ..................................................................................................... 27 3.3. Homicídio culposo de trânsito ............................................................................................. 28 3.4. Lesão Corporal Culposa na Direção de Veículo Automotor ............................................... 31 3.5. Omissão de socorro ............................................................................................................. 32 3.6. Fuga do local ....................................................................................................................... 33 3.7. Embriaguezao volante ........................................................................................................ 34 3.8. Violação da suspensão ou proibição .................................................................................... 38 3.9. "Racha” ............................................................................................................................... 39 3.10. Direção sem habilitação..................................................................................................... 40 3.11. Entrega da direção a determinadas pessoas ....................................................................... 42 3.12. Excesso de velocidade em determinados locais ................................................................ 43 3.13. Fraude processual .............................................................................................................. 44 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 47 9 INTRODUÇÃO A convivência em sociedade exige do homem uma adequação às regras instituídas pelas próprias pessoas que convivem entre si. Essas regras se fazem necessárias; e para que sejam cumpridas é importante à fiscalização pelos órgãos competentes, bem como a imposição de punições àqueles que as descumprirem. É assim em todas as esferas do direito, e para organizar o trânsito, não seria diferente. O tema tratado neste trabalho foi escolhido em razão do interesse que nasceu através de contato com alguns casos práticos e pela leitura de artigos jurídicos que descrevem o tratamento penal dado ao condutor de veículo que pratica crime de trânsito, situações vividas com certa frequência por aqueles que diariamente utilizam veículo automotor para se locomoverem pelas cidades de nosso país, sejam em grandes ou pequenos centros urbanos. A análise da punição aos infratores da lei de trânsito é importante para o estudo e desenvolvimento do direito, pois revela se efetivamente está sendo justa a aplicação da pena para aqueles que praticam crimes no trânsito e se o tratamento dado causa impactos que geram uma diminuição das práticas delitivas, elemento extremamente importante e necessário, pois o descumprimento das leis de trânsito em nosso país é grande e um dos fatores que justificam esse quadro é a impunidade. Nosso ordenamento jurídico prevê crimes e sanções aos condutores de veículo automotor, e o objetivo do presente trabalho acadêmico é analisar se essas sanções cumprem a sua função social: prevenção e punição. Abordaremos as causa e consequências dos delitos de trânsito, tanto do ponto de vista do infrator, como das vítimas, e também da sociedade que indiretamente é vítima da violência no trânsito; sendo que para a construção do trabalho foi usado o método de compilação, por meio de pesquisas em livros, artigos e internet. No primeiro capítulo será tratado o processo evolutivo do trânsito - desde o seu surgimento até os tempos atuais, tendo em vista que o veículo automotor é a principal forma de locomoção da sociedade brasileira - e o surgimento da necessidade de sua normatização. A análise do segundo capítulo será sobre os princípios constitucionais inerentes ao direito penal e a sua relação com a lei de trânsito e a punibilidade de seus infratores. No terceiro capítulo serão estudados os crimes de trânsito presentes no Código de Trânsito Brasileiro e tratamento que deve ser adotado pelo judiciário aos motoristas que violam as leis. 10 I- A HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TRÂNSITO O trânsito existe desde os tempos primórdios, pois sempre o homem se locomoveu, mas apenas com a evolução da sociedade é que surgiu a necessidade da criação de regras para o uso das ruas e avenidas. Os primeiros veículos tinham como função principal o carregamento de objetos; em seguida passaram a transportar o homem e seus bens, e, já em épocas um pouco mais recentes se desenvolviam veículos de transporte específicos para a população. Desde que se criaram os elementos principais do sistema viário – os meios de transportes e as estradas - nasceu então o trânsito e suas dificuldades. Na época do Império Romano, onde já começava a acontecer congestionamentos, foram elaborados símbolos, indicadores de sentido e as primeiras normas de tráfego. Mais que normas legais, as autoridades de trânsito do mesmo modo passaram a empregar muitas maneiras para sinalizar e regular o uso da via, tais como: placas indicativas, placas proibindo manobras perigosas, e no final do século XIX (1868), surge na Inglaterra um dispositivo de comando da circulação de veículos mediante luzes coloridas – semáforo. O Brasil, em 1891 recebeu o seu primeiro veículo automotor que veio da França. E o primeiro acidente de trânsito em nosso país, ocorreu em 1987, o proprietário do automóvel era Jose do Patrocínio, que uma vez cedeu seu carro para o escritor de poemas Olavo Bilac, porém Olavo Bilac não sabia dirigir e chocou com uma árvore. Então, os Órgãos Administrativos e o Automóvel Clube do Brasil iniciaram um esforço para mudar as circunstâncias do fluxo de carros e deixá-lo mais seguro, passando a 11 falar em normas de trânsito para preservar a integridade dos transeuntes e condutores de veículos. Os prefeitos de São Paulo e Rio de Janeiro com o objetivo de regular a circulação de carros e pessoas, elaboraram em 1903 as primeiras autorizações para guiar, bem como “em 1906, adotou-se no país o exame obrigatório para habilitar motoristas”. (PONTES, 2009 apud OLIVEIRA, 1986, p. 29). No ano 1954 Juscelino Kubitscheck tornou-se Presidente do Brasil depois da morte de Getúlio Vargas com a promessa de “fazer 50 anos em 5”, assim dois acontecimentos transformaram a composição nacional: a edificação de Brasília e a fundação da indústria automobilística brasileira. Seu projeto de gestão continha objetivos inovadores no âmbito da infraestrutura, compreendendo a construção de rodovias para acompanhar a produção dos veículos. O carro que antigamente só quem possuía era a alta sociedade, fez-se objeto de compra da classe média. O progresso e o aumento da condição econômica fizeram surgir mais ruas, rodovias e lugares para guardar uma quantidade cada vez superior de veículos. Por causa do aumento do número de carros em circulação nas ruas foram criadas leis para ordenar o trânsito, pois haviam muitos indivíduos usando o trânsito, o que o fez paulatinamente inseguro. Os deslocamentos apresentavam-se mais velozes e desse modo crescia a quantidade de acidentes e suas consequências. 1.1 - Análise da Legislação de Trânsito Brasileira O Código de Trânsito Brasileiro foi criado para regulamentar o comportamento de motoristas e pedestres ao circularem pelas ruas do Brasil, e após muitas análises e debates que foram realizados seu surgimento se deu por um ato do poder público e contém em si princípios administrativos fundamentais para o exercício do direito no trânsito. Conforme demonstraremos o CTB contemplou o direito à segurança no trânsito, assunto de extrema relevância, buscando garantir a defesa desse direito. Pensando em todos aqueles que circulam pelas vias diariamente, o legislador ao criar a norma quis melhorar o fluxo do tráfego nas metrópoles do país, também dispôs sobre a 12 importância de preparar as futuras gerações que farão parte do trânsito, diminuir a poluição causada pelos veículos e assim proteger o meio ambiente. Lima (2001, p.15) afirma que: Fator positivo foi a imposição de penas mais graves para o homicídio e lesões corporais culposas praticadas no trânsito, punindo-se com mais rigor delitos culposos com consequências graves, cuja culpa stricto sensu, não rara, é a consciente,quase na divisória com o dolo eventual, o que gerava por vezes inconformismo social com a pena aplicada (prevista para o crime culposo do código penal) e provocando tentativas, na maior parte das vezes infrutíferas, de se tipificar os fatos mais graves como homicídios dolosos por dolo eventual. O elevado número de acidentes de trânsito é um sério problema de saúde pública e atarefam o setor, em decorrência dos números de internações elevados e dos altos custos hospitalares, além de produzirem problemas para a sociedade, tais como prejuízos materiais, custos com auxílios previdenciários e enorme tristeza para as vítimas e seus familiares. Essas estatísticas referentes aos fatores de risco relacionados à segurança no trânsito reveladas pela PeNSE são relevantes visto que os acidentes e violências representam as causas mais importantes de morbimortalidade entre jovens e adolescentes. Na faixa de 10 a 14 anos de idade, os acidentes de transporte correspondem a 43,5% das mortes (SAÚDE..., 2008). Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pense/comentarios.pdf A legislação de trânsito trata o tema educação com a maior relevância, o aponta como sendo fundamental para transformar a situação do trânsito brasileiro, e é tratado sob diversos entendimentos. Primeiramente, é interpretada como um direito das pessoas e um dever do Estado (Artigo 74) e é obrigatória para os níveis de ensino de 1o, 2o e 3o graus (Artigo 76), com limite definido para que o currículo mínimo seja disponibilizado no início da vigência do Código (Artigo 315). Da mesma forma define que a habilitação de motoristas ocorra em dois momentos. Depois de o candidato ser aprovado nos exames, ele passa a ter uma “Permissão para Dirigir”, com validade de um ano, período em que não pode cometer nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima, nem reincidir em infração leve. E ao final poderá receber a habilitação definitiva (Artigo 148 §3°). Simultaneamente impõe que no processo de habilitação sejam incorporados os temas pertinentes aos primeiros socorros e à direção defensiva (Artigos 147 e 148). http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pense/comentarios.pdf 13 1.2- Considerações históricas acerca da legislação de trânsito brasileira As primeiras normas escritas regulamentando o trânsito no Brasil surgiram em razão da enorme quantidade de veículos que circulavam na cidade e da necessidade de adoção de medidas que diminuíssem os elevados índices de acidentes de trânsito e datam de 25 de setembro de 1941, quando foi publicado o Decreto nº 3.651 que criou o Código de Trânsito Nacional com marca unicamente administrativa. Depois surgiu a Lei nº 5.108/65 que instituiu um novo código, a qual foi integralizada pelo Decreto nº 62.127/68 e também só convencionou sobre normas administrativas. Lima afirma: “Frequentemente surgiam novas leis federais e estaduais, resoluções do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) e centenas de normas de cunho administrativo dos DETRANs Estaduais”. (2015, p.02) O Decreto nº 86.714/81 - Convenção sobre Trânsito Viário - publicado em 1981, teve origem na Convenção Internacional de Trânsito de Viena que havia sido aprovada em 1980 pelo poder legislativo no Decreto nº 33. O problema é que a Convenção aconteceu antes da validação do Código Nacional de Trânsito de 1965, mas ela somente entrou em vigor em 1981, com isso, a maioria de suas normas, principalmente as referentes à circulação internacional, acharam-se em discordância com o Código Nacional de Trânsito. A Regulamentação Unificada de Trânsito de 2 de setembro de 1992, foi um acordo feito entre Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, e, em 3 de agosto de 1993, se tornaram públicas as normas de trânsito válidas aos países do bloco econômico sul- americano (Diário Oficial da União, nº 147). Mesmo depois da vinda do automóvel, não despontaram em nosso país, efetivamente, lei relativas a crimes de trânsito, sequer alterações no antigo Código de 1890, nem na Consolidação das Leis Penais (Decreto no 22.213, de 14 de dezembro de 1932). Desse modo, um acidente de trânsito com vítima fatal ou lesões corporais só conseguiria se regular ao homicídio culposo e lesão corporal culposa que estavam determinados nos arts. 297 e 306 do Código de 1890 e da Consolidação das Leis Penais. Nem ao menos se achavam contravenções penais referentes a veículos. 14 Somente em 1998 foi promulgado o Código de Trânsito Brasileiro através da Lei nº 9.503 que entrou em vigor em 23 de Janeiro de 1998, trazendo em seu bojo alterações significativas no que diz respeito à imposição de pena mais graves ao crime de homicídio praticado no trânsito e o crime de lesão corporal, que é de grande incidência nas estradas do país. A fim de gerenciar o tráfego nas vias públicas, o Estado promulgou a Lei nº 9.503/97, criando assim o Sistema Nacional de Trânsito. No artigo 5º da referida lei, consta declarado que integra o sistema nacional de trânsito; a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, que tem o propósito de realizar ações de organização e administração do sistema viário, e o controle e punição dos autores de crimes de trânsito. 1.3- Sanções previstas no Código de Trânsito Brasileiro As sanções previstas no Código de Trânsito Brasileiro podem ser classificadas em penalidades, impostas pela autoridade competente ao condutor infrator; e compreendem a advertência por escrito, a multa, a suspensão do direito de dirigir, a apreensão do veículo, a cassação da CNH, a cassação da permissão para dirigir e a frequência obrigatória em cursos de reciclagem, conforme dispõe o artigo 256 do CTB. E as medidas administrativas, que são aplicadas visando manter a proteção e a segurança daqueles que estão no trânsito como, por exemplo, a retenção do veículo, ou sua remoção do local, recolhimento do documento de habilitação, recolhimento do certificado de registro e do CRLV, transbordo do excesso de carga, realização de teste de dosagem alcoólica, realização de perícia de substância entorpecente e o recolhimento de animais soltos na via, medidas que estão dispostas no artigo 269 do referido código. As penas máximas impostas para os crimes de trânsito previstos no CTB, sem exceção, são superiores 01 (um) ano, sendo assim, não são crimes de menor potencial ofensivo. Para esses crimes é cabível a prisão em flagrante. A natureza jurídica da pena para o crime de trânsito pode ser punitiva ou reparatória, ou também punitiva e reparatória, como é o caso da multa. 15 1.4 – Objetividade Jurídica Conforme se verifica no artigo 5º, caput da CF e nos artigos 1º §2º e art. 28 do CTB, a segurança no trânsito é direito de todos e tem grande valor que é protegida pela lei. A segurança, em sentido amplo, é direito de todos e esta prevista constitucionalmente no capítulo reservado aos direitos fundamentais, art.5º CF. No plano infraconstitucional, em sentido estrito – a segurança no trânsito está prevista no art. 1º §2º da Lei 9.503/97 - que preceitua: Art. 1º [...] “§ 2º O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito”. [...] Art. 28 “O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo- o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito”. A fim de assegurar esse direito, foi promulgada em 1998 a Lei 9.503, que regulamentou o trânsito de pessoas, veículos e animais no território nacional, e atribuiu aos Órgãos e Entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito a competência para orientar, disciplinar e punir àqueles que põem em risco a integridade das pessoas e do meio ambiente. Damásio (1998, p.19),assim diz: “o objeto jurídico na maior parte dos delitos tradicionais, pertence ao homem, à pessoa jurídica ou ao estado. Nos delitos de trânsito, a objetividade jurídica principal pertence à coletividade (segurança no trânsito) sendo esse o seu traço marcante”. Ou seja, a norma tem o objetivo de proporcionar segurança para todos aqueles que estão no trânsito, e é dever do Estado garantir essa proteção. Cabe ao condutor e aos transeuntes cumprir as regras de trânsito para que essa segurança aconteça de fato. 16 1.5- Aplicação da Lei 9099/95 nos crimes de trânsito Examinamos certas informações importantes dessa seção criminal do Código de Trânsito Brasileiro. Inicialmente com relação a finalidade da Lei nº 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais - para os crimes de trânsito, o CTB determinou que para alguns crimes nele previstos fosse aplicada a Lei dos Juizados Especiais Criminais, sendo que os artigos 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099/95 serão utilizados para o crime de lesão corporal culposa, participação em competição não autorizada e embriaguez ao volante. Em resumo, é possível afirmar que a Lei nº 9.099/95 cuida das infrações de menor potencial ofensivo, que são aquelas contravenções e crimes com sanção de aprisionamento por período não superior a dois anos. São onze os delitos de trânsito conhecidos no Código de Trânsito, e desse total, oito não contam com punição máxima maior do que dois anos, e com isso são teoricamente contravenções pouco prejudiciais, utilizando-se para elas estritamente a Lei nº 9.099/95. Diversos posicionamentos surgem na doutrina, e Rodrigues assim afirma: A necessidade de representação da vítima só ocorre no crime de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (artigo 303do Código de Trânsito Brasileiro), pois somente neste “delitum” é que há vítima certa e individual, aquela que sofreu a lesão corporal (2007, p.61). E este raciocínio é acertado, pois não se pode exigir a representação, se não existe vítima específica. 1.6 – Responsabilização do infrator de trânsito A composição civil dos danos será reduzida a termo e, homologada pelo Juiz através de decisão irrecorrível, e sua aplicabilidade será de título a ser executado no juízo civil competente. Na legislação de trânsito brasileira um novo instituto é o da reparação do dano, na figura da multa reparatória, que pode ser paga pessoalmente à vítima. A Lei visava assegurar o reembolso dos danos sem a necessidade de após ter de recorrer ao juiz cível. É resultado da sentença penal condenatória a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime (Código Penal, art. 91, I). O Código de Trânsito, em seu artigo 297 deu origem à chamada multa reparatória, e surge questão divergente logo de inicio em sua análise: ainda que tenha recebido o nome de 17 pena, doutrinadores a refutam, pelo fato dela apresentar claro e indiscutível efeito civil, que tem por objetivo a reparação do dano material resultante de crimes de trânsito. Algumas cortes recursais ainda examinam delitos de trânsito como tragédias provocadas pelo acaso e, não, por culpa daquele que dirigia no momento. As sanções são leves, e o rito processual longo. Proferida a decisão, é dada ao réu a oportunidade para recorrer. Fuga (2015, p.21) explica que: Nesse contexto, de grande relevância é a concausa no evento danoso. O estudo não apresenta grandes dificuldades quando há somente uma atitude e um dano decorrente, sem dano preexistente e apenas uma ação ou omissão que proporcione o dano, todavia as complicações são inerentes ao mundo moderno e complexo em que se vive. A situação apresenta grande complexidade quando, por exemplo, em decorrência do acidente, a vítima vem a falecer pelas sequelas do evento e também por doença preexistente – saúde debilitada, hemofílico, diabético, entre outros. Esses fatos, com concausas preexistentes, concomitantes ou supervenientes alteram a estrutura do nexo causal da relação. Embora seja notória certa inclinação à isenção da punição, aos poucos surgem certos progressos. Na legislação atual, subir na calçada e colidir contra uma criança enquanto se pratica um “racha”, é declarado como um delito de dolo eventual (que tem o mesmo valor ao da pessoa que atira inadvertidamente entre a multidão, tirando a vida de um transeunte). Diferente de anteriormente em que esse crime era classificado por homicídio culposo (que corresponde a disparar uma arma acidentalmente, ao limpar o cano). O raciocínio é de que o condutor não deixou sua residência preparado para praticar um assassinato, mas comportou-se de modo tão imprudente que assumiu os riscos de provocar uma tragédia. E por isso, é digno de receber uma pena mais elevada. Além disso, dizimar um indivíduo no trânsito, no resultado de um acidente, que tem como causa a embriaguez do motorista, aliada à disputa de corrida de automóvel não permitida em ruas e avenidas - embriaguez e "racha" em grande parte dos casos se acompanham -, não se condiz com o simples desfazimento da obrigação de precaução objetiva - nessa situação, as regras legais referentes ao trânsito -, porém apresenta-se como sendo alguma coisa infinitamente superior a tudo isso: aparenta a intenção de transgredir tais 18 regras. O autor presume a consequência e concorda com a sua incidência (Fórmula de FRANK – seja o que for dê no que der, não deixo de agir). A justificativa para atribuir a espécie dolosa dos crimes de homicídio e lesões corporais graves aos delitos ocorridos em virtude do trânsito, não é um modo de o Estado revidar-se do agente que as praticou, e sim adequar a lei e examiná-la conforme a verdadeira evolução temporal condizente do país. Isso não significa uma descaracterização da lei, e sim um entendimento de que certas ocorrências de dolo eventual são desconsideradas pelos magistrados e demais órgãos julgadores brasileiros. É imprescindível reprimir de maneira devida os infratores, para mais satisfatoriamente proteger a intangibilidade dos objetos do direito garantidos pelo Estado, de maneira especial, o direito à vida. 19 II A PUNIBILIDADE DEFINIDA PELOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL Avançando na exposição de dessa dissertação, ao parto agora para uma apreciação constitucional, faz-se indispensável considerar certos princípios basilares que constroem e caracterizam de modo específico o conglomerado de regras jurídicas existentes em nosso país. Ou seja, são as bases que orientam a classificação das normas aplicáveis na atualidade, por meio de deliberações importantes que se difundem ao longo de todo o ordenamento jurídico e suas leis, integrando-lhes o entendimento e sendo utilizado como parâmetro para a sua perfeita assimilação e raciocínio, justamente por determinar o sentido e o senso de uma série de normas, no que lhe concede o argumento e lhe dá nexo simétrico. Isto posto, as premissas genéricas do direito são instrumentos básicos e de relevância essencial para a formação, o emprego e a análise das regras legais. Dessa maneira, para a apropriada utilização da legislação, o advogado e demais profissionais e o teórico da sabedoria do direito não podem escusar-se de um olhar para a massa dos axiomas normativos, estabelecida, sobretudo na carta-magna. Os ramos da ciência jurídica que versam sobre as infrações e as sanções penais, o poder que o estado possui para definir as regras das demandas criminais e também sobre a atuação que o poder público desenvolve para proteger tudo aquilo que é importante para a coletividade são formados por normas predominantes em nosso sistema, essas que guiam a sua concepção e a sua duração, tendo assim que serem rigorosamente cumpridas. Então, as leis de direito penal, as regras para as ações judicias, e as determinações da administração pública precisarão estar de acordo com os princípios constitucionais.Conforme ESPÍNDULA (2003, p.24) nos esclarece, princípio: Designa a estruturação de um sistema de ideias, pensamentos ou normas por uma ideia-mestra, por um pensamento-chave, por uma baliza normativa, donde todas as demais ideias, pensamentos ou normas derivam, se reconduzem e/ou se subordinam. Significado semelhante é dado por SARMENTO (2002, p.42): Os princípios representam as traves-mestras do sistema jurídico, irradiando seus efeitos sobre diferentes normas e servindo de balizamento para a interpretação e integração de todo o setor do ordenamento em que radicam. 20 Nessas circunstâncias, referindo-se a análise exposta de uma produção técnica concernente ao âmbito jurídico, faz-se de enorme relevância a compreensão e a delimitação de certas premissas que balizam a legislação administrativa, processual penal e penal a elas correspondentes. Nessa sequência, apresentarei a pesquisa e a verificação daqueles requisitos de maior importância e profundamente associados à ao conteúdo que estamos examinando. 2.1- Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal Recepcionado nos artigos 5º, inciso II, 37 caput e 84, inciso IV da Constituição da República Federativa do Brasil, este se refere ao principal esteio dos governos que democraticamente atuam e exercitam-se em conformidade com a lei, recebendo um novo sentido com a pujança regimental do maior número das cartas magnas dos povos do ocidente que já antes de quinhentos anos atrás se transformaram daquelas que eram interpretadas como um simples diploma de recomendações aos entes do congresso nacional, em um conjunto de normas que verdadeiramente funcionam como transmissor a estruturação, análise e a execução de diversas leis, assim como pela declaração de sua expressa e concreta utilidade. Desse modo a legalidade estabelece o rigoroso cumprimento e a conformidade ao código - em sua definição mais abrangente - bem como a lei maior, das quais os seres humanos, e o próprio governo que as elaborou, não podem esquecer-se, vejam que, inegavelmente, são os princípios nos quais o direito se revela que regularmente instituem garantias e lhes atribui obrigações, não se tratando de ressalva a ponderação licitamente realizada para que procedimentos regulamentares que estão em posições menos elevadas ajustem apreciações e oportunidades viáveis específicas que propõem alterações inesperadas por causa dos desenvolvimentos técnicos, evoluções na ciência jurídica e diversas circunstâncias simplesmente práticas que passam por modificações devido acontecerem em momento e lugar definidos, necessitando presteza e cuidado nos detalhes no momento de suas devidas elaborações a fim de que a teoria tenha recursos próprios para se manter no decorrer do tempo, para não se transformar em uma lei ineficiente. Na prática, limitações à prerrogativa da atuação jurisdicional conforme as regras pré-estabelecidas são somente as realizadas pela lei maior em seus artigos 62 (medidas 21 provisórias), 136 (estado de defesa) e 137 (estado de sítio). Se a obediência à norma é importante no que se diz respeito à concepção e à reforma do direito, não é um erro afirmar que fica cada vez mais evidente a sua indispensabilidade, para valer-se de proteção para o governado à vista das determinações abusivas do poder constituinte em relação às punições resultantes dos encargos teoricamente descumpridos. Nesse relacionamento litigioso é que se declara como sendo de fundamental relevância para todas as pessoas o preceito da conformidade da lei, já que retira o ressalto de todo tipo legal decorrente de um resquício mínimo de um ato formalmente ou materialmente ilegal, anulando o feito que se desenvolveu irregular pela ilegalidade que copiosamente lhe sustentou. Desse modo a defesa da validade dos atos jurídicos restringe a autoridade jurisdicional do governo diminuindo os riscos de arbitrariedades. Falta mencionar o registro feito pelos teóricos do direito a respeito da distinção que existe entre o princípio da legalidade e o da reserva legal, significando o princípio da legalidade as possibilidades de interpretação da constituição em que é designada unicamente a lei sendo que não comporta extensão à norma de assuntos particulares, enquanto princípio da reserva legal tem sentido de obediência e cumprimento das classes regulamentadoras convencionadas de modo inerente à lei suprema ou exercício incorporado aos limites estabelecidos pelo ente administrativo responsável pela criação das leis. O princípio que exige a pré-existência da lei é mais amplo, uma vez que outorga o consentimento de se originar o direito a cada um dos gêneros das normas estatuídas mencionadas no artigo 59 da Constituição Federal – contanto que considerados os parâmetros solenes e concretos estendendo-se sobre a conduta de todos os cidadãos que compõem a nação brasileira; à medida que o princípio que define que ninguém sofrerá sansão sem que assim esteja descrito na lei, fica restrito aos âmbitos tangíveis fundados na legalidade, onde não há lugar para outra norma que determine as regras senão a lei rigorosamente manifesta (lei ordinária e lei complementar), assim como o faz o artigo 5º, inciso XXXIX da Constituição da República Federativa do Brasil, correspondendo a condutas típicas (delitos), consequentemente, de pouca dimensão. 22 2.2- Princípio da anterioridade A partir do princípio da anterioridade é possível afirmar que é vedado aos entes da administração pública estabelecer sanção ao ato que aconteceu anteriormente a regular decretação do crime, assim como é proibido dar punição mais rigorosa majorada após a efetivação do feito de responsabilidade do autor. Parte de discordância é se a norma legalizadora de trânsito com pena mais leve tem em si retroprojeção, com destino de ser adotada em episódios que se deram primeiro que o início de sua vigência. Este caso só se demonstra com relevância para o direito, no momento em que o ato for praticado durante a duração da lei mais grave e a deliberação do juiz for pronunciada quando já estiver valendo a regra que cesse o efeito da anterior e que contém uma pena atenuada. A lógica exposta pode ser apresentada no formato da seguinte questão: Se um ato ilícito que era corrigido com o registro de cinco pontos, transformar-se, com a regra atual a ser aprovada, em perda de três pontos; na oportunidade do seu veredito pelo juiz de direito, qual a ordem a ser empregada para o caso? Apresentam-se considerações de que, na falta da lei que regule o assunto, utiliza-se por aproximação, com fundamento no artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, o semelhante ensinamento ajustado para a situação parecida na área penal. Elucidando: se uma pessoa dirigisse seu veículo sob o efeito de álcool em momento anterior à vigência da Lei Federal número 11.705/2008 que concedeu novo texto alterando assim o artigo 165 do código de trânsito brasileiro, achava-se submetido à sanção de privação de seu direito de conduzir veículo automotor pelo período que poderia ser de um mês até um ano. Na hipótese do delegado competente para atuar no inquérito policial entendesse na proximidade de pronunciar a sua deliberação, na ocasião em que então já tinha validade a supracitada lei 11.705/2008, que modificou o item do CTB aumentando a punição para pena completamente estipulada de descontinuação do direito de dirigir por 12 meses, não a conseguiria prescrever, já que é menos branda. Vamos supor nesta ocasião o contexto inverso, concedendo à nova norma uma sanção mais benéfica. Seria a circunstância de se deixar de lado a cominação da lei anterior que recaiu sobre a atitude do réu naquele momento em que foi praticada? Para a maioria dos autores de obras jurídicas penais a resposta é positiva em razão do idêntico motivo anteriormente recorrido, procurando na similitudea provisão da omissão nas diretrizes regulamentadoras sobre trânsito. 23 2.3- Princípio da tipicidade A regra que determina a violação a ser cometida na circulação de veículos para ver admitida oportunamente a sua subsistência, mais do que ter origem em lei precedente à atitude começada, deve genericamente expor com minuciosidade qual a conduta vedada. Como no mundo da interpretação e execução das leis de trânsito vemos não só transgressões que são capazes de serem praticadas por motoristas de automóveis e motocicletas, bem como por transeuntes, por empresas e também por funcionários do estado, a norma tem que colocar de maneira evidente a quem se endereça a obrigação a ser cumprida. Do mesmo modo não contenta a particularidade às penas cujas balizas maiores e menores situem-se afastadas quase a conceder àquele que aplica à lei uma facultatividade totalmente irregular, como é a pressuposição modelo de uma sanção de multa que diversificasse de 1 UFIR a 180 UFIR. Nessa situação a exorbitante parcialidade do competente representante do estado, na oportunidade de impor a pena, resultaria em uma inexistência absoluta de critérios em conformidade com a lei imparciais, causando desconfiança quanto à neutralidade do judiciário em virtude da oscilação do montante da multa designada, sem empecilhos que conseguissem impedir que se ampliasse, indevidamente, até a maior pena, ainda que sob um tímido e ineficiente fundamento apropriado, a seriedade do crime. 2.4- Princípio da especialidade: Código Penal versus Código de Trânsito Brasileiro É importante frisar que embora coexista no ordenamento jurídico brasileiro o CP não se aplica aos crimes de trânsito essa lei geral, sendo que somente poderá ser aplicado o Código de Trânsito em razão do princípio da especialidade (lei especial se impõe à lei geral), É importante frisar que o CTB, no ordenamento jurídico é a lei específica que trata acerca dos crimes de trânsito, e não se deve confundir com os crimes previstos no Código Penal, sendo este último, a legislação geral, que só deverá ser aplicada quando o Código de Trânsito Brasileiro não dispuser sobre o fato praticado. 24 2.5- Princípio da voluntariedade Este princípio trata da intenção do infrator, e não é suficiente que a atitude praticada no plano da realidade esteja inserida na definição imaterial da norma para se estabelecer que o crime não foi praticado. A diferença entre a voluntariedade, a culpa e o dolo é verificada de modo quando transpomos o funcionamento cerebral do ser humano, por isso em certos casos não é fácil a elaboração desse tipo de evidência. Assim, esse princípio vem determinar que o condutor do veículo que pratica a norma prevista no código de trânsito tinha a intenção de fazê-la, simplesmente pelo fato de que o motorista no momento da conduta não esta sob o efeito da coação, ou seja, ele manifestou a sua vontade de forma livre e consciente, o que não pode ser considerada uma verdade absoluta. 2.6- Princípio da proporcionalidade Considerado um super princípio do direito, pois apresenta parâmetros a serem seguidos por todas as normas, ou seja, as leis devem impor sanções proporcionais aos delitos cometidos. Importante lição é a do ilustríssimo Celso Antônio Bandeira de Mello (2000, p. 748), Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa, não só a um específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. 25 Tão importante quanto normatizar condutas que são reprováveis pela sociedade e pelo direito, é no momento da tipificação, se pensar no nível mais ajustado de sanção a ser aplicado para o crime, tem-se então esse dois elementos fundamentais que se completam, a lei que proíbe a conduta ilícita no trânsito e a pena equivalente ao crime praticado, sendo produzida uma efetiva justiça. 2.7- Princípio do devido processo legal A nossa Carta Magna contempla este tão importante princípio em seu artigo 5º, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Esse princípio é um conjunto de garantias fundamentais, previstas em nossa constituição e que garante para todos os indivíduos o direito a um processo com todas as suas fases prenunciadas na lei com todas as suas proteções inerentes. Se no processo não estiverem contemplados os preceitos essenciais, ele fazer-se-á inexistente. É classificado como o mais significativo dos axiomas jurídicos, pois dele provém todos os outros. Ele contempla uma dupla égide ao indivíduo, na esfera tangível e intangível, assim o sujeito terá condições mínimas para proceder com igualdade de chances contra o poder público que o interpela. 2.8- Princípio da motivação Apesar de não estar explicitamente declarado na Constituição Federal quanto às ações do poder público, a doutrina tem afirmado que este princípio está subtendido na carta magna de modo, visto que há uma sutil menção no inciso X do artigo 93 que fala sobre os 26 atos administrativos realizados pelo judiciário e que precisam ser justificados, viabilizando sua gestão e garantindo a divulgação, o que obviamente se amplia, por interpretação, ao órgão máximo do governo e para aqueles que elaboram as leis. 27 III- DOS CRIMES DE TRÂNSITO 3.1- Conceito de Crime de Trânsito Crime de trânsito é a conduta que não pode ser praticada por aqueles que dirigem, pois é vedada pela lei, conforme o artigo 291, caput do CTB: Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. 3.2- Competência Legislativa A Constituição Federal de 1988 em seu art. 22, inciso XI, concede à União a competência privativa para legislar sobre trânsito e transportes no Brasil, e assim, é admitida só uma legislação de trânsito válida em todo o país: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XI - trânsito e transporte; O conceito de trânsito está descrito no art. 1º, § 1º, do CTB, e também de forma mais enxuta, no Anexo I do Código: Art. 1º. 28 § 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga. Anexo I: [...] TRÂNSITO - movimentação e imobilização de veículos, pessoas e animais nas vias terrestres A Lei nº 9.503/97, que deu origem ao Código de Trânsito Brasileiro, atual diploma legal vigente em todo o território nacional e que regulamenta o transporte e mobilidade de uma forma geral, possui uma parte que define os crimes e infrações de trânsito praticadas e suas punições correspondentes, de Direito Penal, que está abrangida nos artigos 291 a 312, e esse tópico está subdividido em duas partes, a primeira parte quetrata de disposições gerais, assim sendo uma parte global, que constam os artigos 291 à 301; e a segunda parte específica, que estabelece os crimes de trânsito de acordo com o tipo, que se encontram nos artigos 302 a 312. Os crimes de trânsito em espécie Conforme destacamos o CTB trouxe em si onze definições de atos penais ilegais: 3.3- Homicídio culposo de trânsito Segundo o Código de Transito Brasileiro, tipifica-se a conduta de homicídio com veículo automotor em: “Art. 302. “Praticar homicídio culposo na direção de veículo 29 automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor” A maior dificuldade indicada preliminarmente pelos pensadores do direito é no que diz respeito ao fato típico descrito na norma penal do homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor. Este que extingue do direito penal o princípio da taxatividade, resultado evidente do preceito fundamental de obediência às leis. Qual seria o significado de "praticar homicídio culposo"? Para compreender, o examinador necessitará valer-se do tipo penal do artigo 121 do Código Penal: "matar alguém". Desafio igual é identificado no artigo 303 que aborda sobre o crime de ofensa material/física efetuada por um condutor de automóvel que manifestamente assume os riscos de seus atos. Tornar-se-ia excelente se o Poder Judiciário brasileiro atuasse com maior rigidez com aquilo que representa o legislativo, afirmando publicamente a inconstitucionalidade dos artigos existentes na lei penal que se diferem das convicções do direito penal atual. Além disso, ao aumentar a punição para o crime de homicídio culposo de trânsito, em analogia com as outras normas classificadas no Código Penal em seu art. 121, §3.º, assumiu-se um desprestígio explícito que é considerado por diversos juristas como inconstitucional. Contudo, aquele que prescreve as leis tinha a intenção de que o motorista de veículo automotor dirigisse com a máxima prudência real no trânsito em comparação com diferentes práticas desenvolvidas no dia a dia da vida. Compreendemos esse valor atribuído legitimamente, sem descumprir a ponderação e o ajustamento tão importantes para o direito e presentes no princípio da proporcionalidade e da adequação. Ofício penoso é apontar as diferenças na circunstância de homicídio culposo de trânsito e de homicídio doloso do Código Penal em que acontece dolo eventual e culpa consciente. Também na atualidade a mais firmada doutrina no meio jurídico se depara com complexidades em individualizá-los e a matéria fica postergada ao julgamento do magistrado. Verifica-se na tradicional doutrina de DAMÁSIO, no dolo eventual, o agente tolera a produção do resultado, o evento lhe é indiferente, tanto faz que ocorra ou não. Ele assume o risco de produzi-lo (CP, art. 18, I, parte final). Na culpa consciente, ao contrário, o agente não quer o resultado, não assume o risco nem lhe é tolerável ou indiferente. O evento lhe é representado (previsto), mas confia em sua não produção (2002, p. 83). A complicação encontrada por aquele que trabalha em prol da justiça será a de invadir a mente do indivíduo com a finalidade de apurar se este se responsabilizou pelo risco ou se meramente acreditou que não iria acontecer. É oportuno salientar que o homicídio 30 culposo retém em si mesmo todos os outros crimes de trânsito, em consequência do princípio da consunção. Existindo duas ou mais vítimas, utiliza-se a norma do concurso formal de crimes (art. 70, CP). Finalmente, a problemática da coautoria nos crimes de trânsito é verdadeiramente preocupante, principalmente com relação ao tema de homicídio culposo. Vejamos a decisão do STF em um caso verídico: Habeas Corpus. 2. Homicídio Culposo. 3. Alegação de inépcia da denúncia e falta de justa causa. 4. Configuração, em tese, de crime (art. 302, caput, da Lei no 9.503/97) a ensejar justa causa para o processamento normal da ação penal. 5. Denúncia apta, por ter preenchido os requisitos legais do art. 41 do CPP. 6. Precedentes. 7. Ordem indeferidaSTF - HC: 85706 GO, Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 06/09/2005, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 30-09-2005. Decisão Turma, por votação unânime, conheceu, em parte, do pedido de habeas corpus e, na parte de que conheceu, indeferiu-o, também por unanimidade, nos termos do voto do Relator. 2ª Turma, 06.09.2005. Resumo- INOCORRÊNCIA, CONSTRANGIMENTO ILEGAL, DENÚNCIA, DESCRIÇÃO, FATO, CIRCUNSTÂNCIAS, CRIME, HOMICÍDIO CULPOSO, ACIDENTE DE TRÂNSITO. - DESCABIMENTO, SEDE, HABEAS CORPUS, DISCUSSÃO, LEGALIDADE, SUSPENSÃO, HABILITAÇÃO, CONDUÇÃO, VEICULO AUTOMOTOR.Doutrina Obra: O PROCESSO CRIMINAL BRASILEIROAutor: JOÃO MENDES DE ALMEIDA JÚNIORReferências Legislativas: LEG-FED CF ANO-1988 ART-00005 INC-00068 CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERALObservações: Acórdãos citados: HC 71622, HC 81034, HC 81256. N.PP.:.(13) Análise:(MSA). Revisão:(RCO). Inclusão: 04/11/05, (MSA). Alteração: 09/11/05, (MSA)”.(Disponível em: https://200.152.40.110/web/index.php?p=44232.600942/2016-18 ) Com referência a interpretação processual, é fundamental recordar aos operadores do direito que não se constrangerá o condutor do veículo a prisão em flagrante que, inclusive depois de ter cometido homicídio culposo, procurar reduzir o mal prestando pronto e integral socorro à vítima (art. 301). No caso dessa situação não acontecer e contanto que existentes as hipóteses positivadas no artigo 302 do estatuto processual penal, competirá à autoridade policial redigir o auto de prisão em flagrante e em seguida determinar a fiança ao condutor, nos termos do artigo 322, posto que o crime tem a pena de detenção prevista. Desse modo, no caso de não haver dolo eventual – no qual a infração será novamente classificada tornando-se a mesma do art. 121, do Código Penal -, e não se verificando as condições do arts. 323 e 324 do CPP que proíbem a autorização da fiança, o condutor que cometeu homicídio culposo ao dirigir veículo automotor terá de ser posto em liberdade pelo delegado de polícia depois de lavrado seu interrogatório e realizado o pagamento da fiança. 31 3.4- Lesão Corporal Culposa na Direção de Veículo Automotor O artigo do Código de Trânsito que trata sobre o crime de lesão corporal assim diz: Art. 303. “Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”. A interpretação que muitos juristas fazem a este artigo é reprovar e questionar a imputação da lesão corporal culposa de trânsito com relação à dosimetria de sua pena in abstracto uma vez que ela termina extrapolando a condenação prevista para aquele que efetua o crime de lesão corporal simples praticada conscientemente como está no Código Penal. Jurisprudência consolidada neste sentido: I. Juizado Especial Criminal: incompetência para o processo dos crimes descritos nos arts. 303, 306 e 308 do C. Trânsito: inteligência do art. 291 e parágrafo do CTB c/c art. 61 L. 9.099/95. 1. Embora o pudesse ter feito, o CTB não converteu em infrações penais de "menor potencial ofensivo", para o fim de incluí-los na competência dos Juizados Especiais, os crimes tipificados nos seus arts. 303 (lesão corporal no trânsito), 306 (embriaguez ao volante) e 308 (participação em competição não autorizada): no art. 291, caput, a aplicação da Lei dos Juizados Especiais foi limitada pela cláusula "no que couber", bastante a excluí-la em relação aos delitos de trânsito cuja pena máxima cominada seja superior a um ano (L. 9.099/95, art. 61); no parágrafo único do mesmo artigo, cingiu-se o CTB a prescrever aos três crimes referidos - todos sujeitos a pena máxima superior a um ano - os arts. 74(composição de danos civis no processo penal), 76 (transação penal) e 88 (exigência de representação para a persecução de lesões corporais). II. Nulidade por incompetência do Juizado Especial: declaração sujeita à existência de prejuízo. 2. O âmbito normativo do dogma fundamental da disciplina das nulidades - pas de nullité sans grief - compreende as nulidades absolutas - qual, no caso, a incompetência do Juizado Especial - se a falta do inquérito policial - que não é garantia de defesa -, e a seqüência do procedimento da L. 9.099/95, perante Juíza que, na comarca, era a titular exclusiva da jurisdição penal, nenhum prejuízo em 32 concreto acarretou à defesa do paciente. 3. Declaração de nulidade restrita, em consequência, ao acórdão confirmatório da sentença condenatória exarado por Turma Recursal dos Juizados Especiais. (STF - HC: 81510 PR, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 11/12/2001, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 12-04-2002<span id="jusCitacao"> PP-00054 </span>EMENT VOL-02064-03<span id="jusCitacao"> PP-00617</span>) Portanto, poderíamos ter a incoerência, como por exemplo, de que o motorista admita ter cometido a lesão "dolosamente" somente para conquistar a uma punição menos severa. O texto da lei igualmente dá margem à críticas, correspondendo aqui as análises que foram feitas no tocante ao crime de homicídio. Em conformidade com o art. 88 da Lei n.º 9.099/95, esse crime resulta de representação do prejudicado, ainda que das lesões causadas nas vítimas sejam graves. Finalmente, a Lei n.º 10.259/01 transformou a definição de infração de menor potencial ofensivo, circunstância que envolveu o crime do art. 303 atribuição que se transferiu ao Juizado Especial Criminal. 3.5- Omissão de socorro A conduta típica definida como crime de omissão de socorro pelo nosso Código de Trânsito está no Art. 304. “Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves”. A sua aplicação pelos tribunais tem sido da seguinte forma: APELAÇÃO-CRIME. USO DE DOCUMENTO FALSO. ART. 304, DO CP (CNH). FALSIDADE GROSSEIRA. TESE AFASTADA. DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR SEM A DEVIDA PERMISSÃO PARA DIRIGIR. ART. 309, DO CTB. CONSUNÇÃO. Incide o princípio da consunção, restando absorvido o delito do art. 309, do CTB, pelo art. 304, do CP, por ser este o mais grave, haja vista que as condutas ocorreram de forma simultânea. A pessoa que faz uso de carteira de motorista falsa, obviamente dirige sem a devida permissão, não podendo haver 33 dupla punição. Autoria e materialidade delitivas comprovadas quanto ao cometimento do crime de uso de documento falso. A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apresentada pela ré à autoridade policial era suficiente a se passar por verdadeira, à primeira vista, pelo homem médio. O policial, ainda que tenha desconfiado da autenticidade do documento, não é parâmetro para o homem médio. Ademais, a ré admitiu tê-la usado, sem problemas, em outras oportunidades. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Crime Nº 70056254162, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rogerio Gesta Leal, Julgado em 21/11/2013) (TJ-RS - ACR: 70056254162 RS, Relator: Rogerio Gesta Leal, Data de Julgamento: 21/11/2013, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 27/11/2013) Nesse sentido, é possível afirmar que na realidade é quase nula a sua utilidade, este artigo foi se tornando obsoleto. Isso por causa da característica exposta em seu enunciado que aumenta a punição para o crime de homicídio culposo e também para a lesão corporal culposa, não sendo possível identificar qualquer chance de imputar duas vezes a mesma violação a aquele que a cometeu. A possiblidade exclusiva de cominação desse delito de forma independente é a de um motorista – sem qualquer arrependimento – atropelar uma pessoa e negligenciar-se a proporcionar a assistência necessária. Mas apesar disso não existiria diferencial com a omissão de socorro comum do Código Penal (art. 135). 3.6- Fuga do local Esse delito está positivado no CTB no Art. 305. “Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.” Ao pretender repreender criminalmente alguém simplesmente devido ao ato de não produzir evidências que o incrimine, o artigo 305 é manifestamente inconstitucional. A norma de modo igual descumpre abertamente o art. 8.º, II, g, do Pacto de São José: a nenhuma pessoa será imposta a obrigação de depor contra si ou confessar-se culpada. Também existe um ponto de vista diferente a ser levado em consideração. O ônus de constranger-se a cumprir o processo (penal ou civil) é exclusivamente ético. À vista disso, aquele que estabelece as leis seria capaz de converter em crime um dever principiológico? Na atualidade, essa lei tem 34 gerado pouquíssimo efeito em sua execução, ficando completamente antiquada em razão das discussões que originou. Reflexo da análise feita pode ser verificado neste julgado: Processo: RC 71004986485 RSRelator(a): Edson Jorge CechetJulgamento: 06/10/2014 Órgão Julgador: Turma Recursal Criminal Publicação: Diário da Justiça do dia 13/10/2014Ementa REEXAME NECESSÁRIO. ART. 305 DO CTB. FUGA DE LOCAL DE ACIDENTE. HABEAS CORPUS DE OFÍCIO. TRANCAMENTO DO TERMO CIRCUNSTANCIADO.1. Atipicidade de conduta. Decisão recente do Órgão Especial do TJRS, que declarou a inconstitucionalidade do art. 305 do CTB.2. Como consequência, proclamando-se inexistência de infração penal, impõe-se a manutenção da decisão que determinou o trancamento do Termo Circunstanciado instaurado pela prática da conduta prevista no dispositivo aludido. SENTENÇA CONFIRMADA. (Recurso Crime Nº 71004986485, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Edson Jorge Cechet, Julgado em 06/10/2014)”. 3.7- Embriaguez ao volante Em nosso país, o delito de embriaguez ao volante vem regulamentado no Art. 306. “Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”. Em 19 de junho de 2008 foi promulgada a Lei nº 11.705, jocosamente apelidada de “Lei Seca”, que define como crime de trânsito a direção de veículo automotor após a ingestão de bebida alcoólica. Porém, no Brasil, existe certo estímulo à comercialização de bebidas alcoólicas. É absurda a contradição que existe entre a lei e o comportamento real. Um exemplo a ser 35 mencionado: são poucas e insuficientes limitações à propaganda de bebidas, possibilitando uma curiosa combinação entre álcool e a prática de esportes, lazer, automobilismo, belas mulheres, falsa impressão de bem estar, etc. Se oculta que a embriaguez é o motivo dominante de acidentes de trânsito, quase sempre fatais. É muito importante que se desenvolvam práticas que promovam a direção consciente no trânsito, para que essa questão possa ser superada. Inserir nas primeiras séries do ensino fundamental matérias como, por exemplo, segurança no trânsito resultaria de modo mais significativo do que a criação de uma norma repressora. Segundo dados da edição mais recente, após o endurecimento da Lei Seca, em 2012,o percentual de adultos que admitem beber e dirigir nas capitais do país teve queda de 16%. No último ano, 5,9% dos brasileiros dizem ainda manter o hábito de conduzir veículos motorizados após o consumo de qualquer quantidade de álcool – o que indica uma queda em relação a 2012, quando 7% dos entrevistados referiram cometer a infração. Os homens (10,7%) assumem mais os riscos da dupla álcool e direção do que as mulheres (1,7%). Fonte http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o- ministerio/principal/secretarias/svs/noticias-svs/20894-monitoramento-de-dados- sobre-transito-e-tema-de-debate Apesar de o Ministério da Saúde apresentar dados que revelem uma diminuição da prática da embriaguez ao volante é imenso o número de motoristas que na madrugada retornam dirigindo embriagados para as suas casas após participar de festa em alguma cidade do nosso país. E problema mais grave ainda é que em certas cidades do Brasil, por conta da prática de negócios escusos e da falta de fiscalização, pessoas despreparadas conseguem obter suas carteiras de habilitação. Vejamos um caso real ocorrido em um trecho da cidade de Seabra, na Chapada Diamantina, estado da Bahia: Um homem foi preso ao pilotar motocicleta embriagado e sem habilitação no km- 377 da BR-242, trecho do município de Seabra, na Chapada Diamantina. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o condutor também é deficiente visual. Durante a abordagem, os policiais perceberam que o condutor apresentava sinais visíveis de embriaguez. Após a realização do teste de etilômetro, foi constatado o valor de 0,42 miligramas de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. A prisão ocorreu na sexta-feira (25). http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/noticias-svs/20894-monitoramento-de-dados-sobre-transito-e-tema-de-debate http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/noticias-svs/20894-monitoramento-de-dados-sobre-transito-e-tema-de-debate http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/noticias-svs/20894-monitoramento-de-dados-sobre-transito-e-tema-de-debate http://g1.globo.com/ba/bahia/cidade/seabra.html 36 O homem foi detido e encaminhado para a Delegacia de Polícia Civil de Seabra, onde responderá pelos crimes de embriaguez ao volante e dirigir sem habilitação gerando perigo de dano, segundo informações da PRF. Fonte: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/03/deficiente-visual-e-preso-ao-dirigir- embriagado-e-sem-habilitacao-na-ba.html Ao estudar o tipo penal do art. 306, constatamos que ainda persiste certa imprecisão em parcela dos operadores do direito com relação ao acontecimento da infração que estamos analisando. Primeiramente, é necessário destacar que a sanção à infração não depende da multa de trânsito que será lançada conforme o art. 165 do CTB. Para se caracterizar a infração administrativa, deverá ser comprovada a presença de no mínimo seis decigramas de álcool por litro de sangue. A violação à regra administrativa não se configura em quantia inferior a esta, mas pode ser caracterizado o crime do art. 306. É importante que se observe um caso julgado pela Corte Suprema: Processo: RHC 82517 CE Relator(a): Min. ELLEN GRACIE Julgamento: 10/12/2002 Publicação: DJ 21-02-2003 PP-00046 EMENT VOL-02099-03 PP- 00474 Órgão Julgador: Primeira Turma Parte(s): RAIMUNDO CÍCERO ARAÚJO JOSÉ HELENO LOPES VIANA MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALEmenta RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. APLICAÇÃO PARCIAL DA LEI 9.099/95. EXAME PERICIAL. NULIDADE.1. O crime previsto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro (embriaguez ao volante) é crime de perigo, cujo objeto jurídico tutelado é a incolumidade pública e o sujeito passivo, a coletividade. A ação penal pública condicionada à representação, referida no art. 88 da Lei nº 9.099/95, se mostra incompatível com crimes dessa natureza. A ação penal é a pública incondicionada.2. Inexistência de nulidade no laudo realizado, tendo em vista que foi subscrito por 2 (dois) peritos oficiais, estando a alegação do recorrente, de que teria sido elaborado apenas por 1 (um) profissional, subordinada ao exame de fatos e provas, inviável em sede de habeas corpus. 3 - Recurso ordinário improvido. A maioria dos tribunais defende essa interpretação sobre o tema. Entretanto estará certa? Pois, o Direito Penal é ordinariamente subsidiário e só age no momento em que os outros ramos da ciência jurídica não forem bastante para coibir certas condutas. Essa valoração deverá ser realizada pelo legislador que adotará princípios penais atuais, como o da ultima ratio, para mensurar algumas práticas. Isto posto, é concebível entender que se o delito de embriaguez, punível administrativamente determina que seja constatado pelo menos seis decigramas de álcool por litro de sangue, o ramo do direito que coíbe os crimes não teria que satisfazer-se com índice inferior a esse. Nesse entendimento, a descrição do fato ilícito dispõe que o motorista no momento da aferição, tenha pelo menos, essa quantidade de álcool no sangue para que fique configurado o ato ilícito. Apesar da coerência deste juízo, é importante http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/03/deficiente-visual-e-preso-ao-dirigir-embriagado-e-sem-habilitacao-na-ba.html http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/03/deficiente-visual-e-preso-ao-dirigir-embriagado-e-sem-habilitacao-na-ba.html 37 recordar que o fato enquadrado na norma determina que deve estar presente outro componente regulamentar que irá complementar essa quantia ínfima de bebida alcoólica no sangue: a direção irregular do automóvel. Tabela - Sinais da Embriaguez Grau da embriaguez Dose álcool no sangue Sinais Sub - Clínicos 0.4 a 0.8 g/L Embriaguez Clínica Leve 0.8 a 2 g/L Embriaguez Moderada 2 a 3 g/L Coma Alcoólico 4 a 5 g/L Dose Mortal Acima de 5 g/L Fonte: http://www.academiadedireitomilitar.com/index.php?option=com_content&view=article&id=100&catid=35 Assim, se ficar provada a existência de seis decigramas de álcool no sangue do motorista e este conduzir seu automóvel sem irregularidades, não ficará configurado o crime do art. 306, sem exceções para a infração administrativa. É possível realizar a comprovação da intervenção do álcool por todos os modos legais previamente determinados. Essa é a compreensão mais coerente da lei em excelente concordância com o Código de Processo Penal. É notório que na prática sempre se optará por uma prova técnica, mas o estatuto processual não determinou classificação entre os meios de produção de provas. Assim está escrito na Exposição de Motivos do atual CPP: “... nem é prefixada uma hierarquia de provas: na livre apreciação destas, o juiz formará, honesta e lealmente, a sua convicção". Então, aqueles que laboram para a produção da justiça deverão atuar em conformidade com nosso sistema processual e atender ao ordenado na norma acessória. Toda compreensão de que a prova precisará ser fundamentalmente pericial e técnica não possui juridicidade em face ao sistema legal de provas apresentado no CPP http://www.academiadedireitomilitar.com/index.php?option=com_content&view=article&id=100&catid=35 38 vigente. No ponto de vista desta que escreve, meros sinais, contanto que firmes e coerentes com as circunstâncias mostradas nos autos da ação penal, são suficientes para fundamentar uma condenação. Essa é a mais adequada análise, até mesmo porque, em conformidade com os vigentes princípios do garantismo, o suspeito não é forçado a realizar qualquer exame e ao opor-se, não lhe será atribuído o crime de desobediência. É assim primordial a verificação do art. 8.º, II, g, do Pacto de San Jose: "ninguém tem o dever de auto incriminar-se". Por essa razão, é inadiável e imprescindívelalertar os agentes policiais rodoviários que deixem de coagir os motoristas de que irão "para a cadeia" caso se negarem a realizar o teste do etilômetro. Seus formulários antigos possuíam um campo onde estava descrito que o motorista que não realizasse o teste alegando não fazer prova contra si, seria responsabilizado no mesmo momento por crime de desobediência. Estas circunstâncias não estavam em conformidade com o Estado Democrático de Direito. Sempre será um dever inerente a Administração Pública ajustar-se à ordem jurídica e uniformizar o comportamento de seus funcionários. 3.8- Violação da suspensão ou proibição Dispõe o Art. 307. “Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código: Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição”. A conduta daquele que pratica esse delito expressa-se em infringir, ou seja, desobedecer, descumprir a privação ou impedimento para conquistar a permissão ou a habilitação para conduzir os meios de transporte motorizados prescrita como repreensão penal ou administrativa. Processo: RC 71004188934 RS Relator(a): Cristina Pereira Gonzales Julgamento: 25/03/2013 Órgão Julgador: Turma Recursal Criminal Publicação: Diário da Justiça do dia 26/03/2013EmentaRECURSO CRIME. DELITO DE TRÂNSITO. ART. 307 DO CTB. SUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. CONDENAÇÃO MANTIDA.1- Réu que dirigia veículo automotor à revelia da proibição administrativamente imposta, da qual tinha plena ciência, pratica o delito em comento.2- Conjunto probatório suficiente para demonstrar o impedimento para conduzir veículo automotor e a respectiva ciência do réu.3- Descabida a pretensão de afastamento da pena de multa, cumulativamente cominada para o delito, sob pena de afronta ao princípio da legalidade.4- Pedido de isenção do pagamento das custas processuais que deve ser 39 apreciado pelo juízo da execução. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso Crime Nº 71004188934, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado em 25/03/2013). O crime é efetuado no momento em que o motorista desloca-se com o veículo, encontrando-se proibido de guiá-lo por pena previamente prescrita. A tese prevista no caput, bem como no parágrafo único, não é nada além de uma categoria atual do crime de desobediência (art. 330, CP). 3.9- "Racha" Está predito no Art. 308. “Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo § 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo. 40 É possível catalogá-lo como crime de perigo concreto, visto que para sua caracterização é essencial um prejuízo capaz de atingir à integridade coletiva ou particular. Revela-se bastante curiosa a análise de que a violação a essa norma requer a competição de dois ou mais motoristas, em razão de que uma única pessoa jamais será capaz de consumar o "racha". Será considerado subsidiário se, no caso concreto vier a acontecer homicídio culposo ou lesão corporal culposa. E no caso fortuito de a disputa ser supostamente legalizada, o fato não se enquadrará a regra descrita no Código Penal. Um caso real aconteceu na cidade de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul, onde um motorista que praticou “racha”, e assim foi interpretado o caso: Vieira dirigia um carro de passeio, que, segundo consta na ação penal, disputava racha com o veículo conduzido por Marcus Vinícius de Abreu, 22 anos, na avenida Duque de Caxias. Em um determinado momento, houve colisão entre os dois automóveis. O carro dirigido por Abreu foi parar em um poste, derrubando-o. No veículo, que partiu ao meio, estava também a namorada do rapaz, Letícia de Souza Santos. Os jovens foram socorridos para a Santa Casa. Ele morreu horas depois e ela recebeu alta em uma semana. Vieira foi autuado em flagrante, teve pedidos de liberdade negado e até o último dia 2 estava preso na 7ª Delegacia de Polícia Civil de onde saiu com um investigador, lotado na mesma unidade, e foi transferido. Em agosto, o juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, mandou Vieira a júri popular. A defesa então recorreu ao TJMS. Conforme o recurso julgado pela 1ª Câmara Criminal, a defesa do réu pedia a desclassificação para o crime de homicídio culposo (sem intenção de matar) ou a exclusão da qualificadora do perigo comum. De acordo com informações do sistema do Poder Judiciário, o recurso em sentido estrito foi negado por unanimidade entre os desembargadores, que acolheram parecer da Procuradoria de Justiça. Fonte: http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2013/11/tj-mantem-juri- popular-acusado-de-racha-que-terminou-em-morte-em-ms.html 3.10- Direção sem habilitação Prevê o Art. 309. “Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação, ou ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2013/11/tj-mantem-juri-popular-acusado-de-racha-que-terminou-em-morte-em-ms.html http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2013/11/tj-mantem-juri-popular-acusado-de-racha-que-terminou-em-morte-em-ms.html 41 Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. Assim como no delito estudado anteriormente, o fato de dirigir sem habilitação configura-se por crime de perigo concreto, determinando que ocorra risco de prejuízo para eventual composição do tipo penal. Capez, (2012, p.305) ao abordar o assunto em sua obra assim explica: São necessários exames de aptidão física e mental, sobre legislação de trânsito (por escrito), noções de primeiros socorros (conforme regulamentação do CONTRAN) e de direção em via pública. Os exames de habilitação, exceto os de direção veicular, poderão ser aplicados por entidades públicas ou privadas credenciadas pelos órgãos executivos de trânsito estaduais ou do Distrito Federal, de acordo com as normas do CONTRAN. O comportamento passa a ser crime apenas no momento em que aquele que está no comando do volante conduz o veículo de maneira incomum, reduzindo significativamente as condições de proteção no trânsito. A título de exemplo, no momento em que o motorista transita no sentido oposto, quando excede sinal de parada obrigatória, faz manobra perigosa, e assim por diante. Não existindo ameaça concreta essa conduta não deve ser considerada criminalmente proibida por lei, verificando-se meramente um ilícito administrativo (art. 162, I a V, do CTB: infração gravíssima; multa; recolhimento da CNH e retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado). Assim sendo, é possível constatar que o art. 32 da LCP tornou-se revogado após a validação dessa nova norma. Nesse seguimento: Informativo STF, 12-16 fev. 2001, p. 1. A jurisprudência identicamente resolveu que na hipótese do indivíduo que é flagrado guiando um veículo após obter a aprovação no exame de habilitação, mas
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