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Módulo 6: Direito Hebraico Professor Silvânio Barcelos Os Hebreus Povo de origem Semita que vivia na região da Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates no Crescente Fértil) no final do segundo milênio Antes de Cristo. Por esta época iniciaram um deslocamento que terminou por volta do século XVIII a.C. para a Região da Palestina. Características do povo hebreu Eram agricultores – pastores. Viviam do pastoreio de ovelhas e, principalmente, cabras, do plantio de uvas, trigo e outros produtos. Monoteístas (mono = um + théos = Deus). Esta característica marca toda a História desse povo, bem como toda e qualquer produção cultural que tenham realizado. Bíblia e história: faces de uma mesma moeda Antigo Testamento que reúne a Torá (ou Lei), os Profetas e os Escritos. O Novo Testamento inclui a História (e os ensinamentos) de parte dos hebreus que acreditaram que Jesus era o Messias que o antigo previa. O monoteísmo Eles acreditavam em um só Deus, que por vontade própria havia se revelado à um Patriarca, Abraão, e, a partir desse momento iniciou um relacionamento entre Ele e os que chamavam de “Povo Escolhido”. Este era seu diferencial, os únicos na face da terra com somente um Deus, iniciando a história do monoteísmo que hoje é dominante no mundo. Interferência divina na vida dos hebreus Deus escolhia os líderes, Deus escolhia o lugar onde ficariam, Deus dava fartura ou não, Deus, dependendo de seu merecimento, dava a vitória ou a derrota na guerra. Inspiração divina: DIREITO HEBRAICO Ir contra a Lei seria o equivalente a ir contra Deus. Leigo e divino interagem de tal modo que pecado e crime se confundem, O direito é imutável, somente Deus pode modifica-lo. Os rabinos (chefes religiosos) podem até interpretá-lo para adaptá-lo à evolução social, entretanto, nunca podem modificá-lo. A sociedade hebraica Composta por homens livres de igual nível de direitos, organizados em tribos; As mulheres, a despeito de relativa inferioridade jurídica em relação aos homens, em especial no tocante aos aspectos de aquisição de propriedade e casamento, por força da condição religiosa do Direito, conseguem exercer atividades influentes como de juízas ou profetisas. Os estrangeiros detêm direitos em mesmo nível que os nacionais, à exceção das questões relativas à religião, às quais não tinham acesso a não ser que se convertessem. Ambos os escravos quanto os estrangeiros possuíam certos direitos assegurados pela legislação mosaica pelo costume. Assim eles poderiam casar-se com uma escrava, possuir bens, converter-se ao judaísmo, receber liberdade, em determinadas circunstâncias. A Figura do Rei Justo Escolhido por Deus pela sua imparcialidade, coragem, capacidade. Fortalece-se como um mito importante. Ele julga e decide os casos passados e ordena para os casos futuros. Tradição Judaica justiça como um atributo divino: segundo ela não se desvia o julgamento nem por dinheiro e nem por afeição, nem por temor ao rico e nem por favor ao pobre. Justiça da Aldeia Regula a disputa entre os iguais. A característica distintiva, em relação aos povos de sua época, é a crença em um Deus único. A Lei Mosaica Torá (Lei dos Hebreus) foi criada pelo próprio Moisés Embora esse dado esteve um tanto desacreditado hoje em dia, continuamos denominando a legislação de Mosaica, mesmo porque, provavelmente, foi após a saída do Egito que esse povo começou a estruturar as bases de seu Direito. A base moral da Legislação Mosaica pode ser encontrada nos Dez Mandamentos, que teriam sido escritos, pessoalmente, por Deus no Monte Sinai como forma de aliança entre Ele e o “Povo Escolhido”. Religião como alicerce da sociedade Todas as vezes que esse povo descuidou-se da religião, problemas sociais e políticos aconteceram. Vingança, ou desaprovação, da divindade. Se fosse desdenhada, desuniria a sociedade transformando-a em alvo fácil para problemas internos ou externos. A formação do Direito Hebraico – Legislação Mosaica Apesar da tradição indicar Moisés como o autor do Pentateuco e, por derivação, do Deuteronômio, no século XIII a.C., tais formulações de sabedoria e preceitos legais foram consolidadas somente a partir de 586 a.C., com o surgimento das leis “ extra mosaicas”. (BABILÔNIA) Naquele ano, Nabucodonosor, Rei da Babilônia, conquistou o reino dos hebreus e iniciou uma nova era de cativeiro para o povo hebraico (586 a 539 a.C.). Contato sistemático com outras culturas (persa, grega e, posteriormente, romana) A Torá Após o retorno do cativeiro da Babilônia, no século VI a.C., os hebreus consolidaram a lei oral (Torá) ao lado da lei escrita (Torá Chebikhtav), TORÁ: extremamente sagrada e de caráter subsidiário, prevalecendo sobre as leis escritas. A primeira codificação do direito oral hebraico foi efetuada em 192 d.C. através da Michná Toráh, constituindo, ainda hoje, o corpo de Direito Civil da sociedade judaica. O TALMUD (significa “estudo”) Reunião da Michná Toráh e de outros corpos de leis hebraicas, mediante a análise e a interpretação das mesmas, com o objetivo de manter a fidelidade dos textos jurídico-religiosos aos preceitos da Lei Mosaica. O Talmud é o verdadeiro corpo da legislação hebraica, segundo Flávia Lages de Castro (2007). Deuteronômio (5º livro da Bíblia) O nome é de origem grega e quer dizer segunda lei ou repetição da lei. Servir a Deus não é apenas seguir sua lei. Moisés enfatiza a obediência em consequência do amor: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e com todo o teu entendimento". “Caminho da benção e da maldição“: no qual Deus previne o povo a seguir seus mandamentos, pelos quais o povo ou seria abençoado, ou receberia maldições (porém, caso se arrependesse e voltasse a seguir de coração a Deus, Ele perdoaria o povo). Pontos em destaque no Justiça Administração da Justiça com equidade, reafirmando a necessidade de que cada cidade fosse servida por juízes austeros e respeitados pela comunidade. A imparcialidade no julgamento de causas e as severas penas para juízes corruptos eram a tônica dos preceitos éticos da Justiça entre os hebreus. Processo Horror de “ter o sangue de um justo nas mãos”, ou seja, de cometer injustiças. Ao contrário dos povos mesopotâmicos, os hebreus instituíram a prática da investigação prévia dos fatos, para a formação da culpa do acusado de alguma transgressão. Os patriarcas e juízes tinham a prerrogativa de emitir sentenças. Pena de Talião O direito natural de retaliação, a lex talionis , cujos princípios gerais já estavam presentes no Código de Hammurabi, foi reafirmado no direito hebraico, justificando a resposta da parte ofendida ao ofensor, em igual proporção à lesão recebida, porém, suavizando o rigor das penalidades aplicadas. Individualidade das penas Os hebreus inovaram caracterizando o princípio da individualidade das penas, ou seja, se um crime fosse cometido por um homem, sua esposa, seus filhos e netos não poderiam sofrer qualquer pena, pois a responsabilidade da transgressão recaía exclusivamente sobre o criminoso. Tal princípio caiu em desuso entre os povos da Antiguidade, sendo reeditado em parte pelos romanos e no decorrer do século XVIII d.C. Lapidação Principal forma de aplicação da pena capital ou pena de morte entre os hebreus, através do apedrejamento público. Tal forma de punição, bastante severa e ultrajante, era aplicada geralmente aos idólatras, aos praticantes de feitiçaria, aos filhos rebeldes e às mulheres adúlteras. Cidades de refúgio Tais povoações de refúgio ou de asilo eram destinadas pela justiça hebraica aos acusados de crimes, notadamente aos homicidas, como forma de evitaro justiçamento popular ou linchamento, visto que as autoridades precisavam de tempo para a apuração dos fatos, o que não deveria ser feito em meio ao clamor da população envolvida por apelos emocionais. O cuidado para que não fosse cometida qualquer injustiça era notório. Homicídio voluntário e involuntário (Doloso/qualificado) Os hebreus introduziram uma diferença fundamental no contexto da definição do homicídio: a culpa, a intenção ou não de matar. A justiça hebraica concebia o homicídio voluntário (comum) e o homicídio involuntário, sendo este último isento de penalidades, desde que devidamente comprovado. Testemunhas A palavra empenhada, para os hebreus, possuía uma enorme importância, visto que o referido povo tinha na oralidade um de seus fundamentos culturais. O testemunho de uma só pessoa não era suficiente para reafirmar a culpa ou a inocência de alguém, sendo necessárias, no mínimo, duas a três testemunhas para “ dar fé ” aos atos públicos. O falso testemunho era punido severamente, condenado pelo Decálogo. Quem cometesse falso testemunho era submetido à pena que o acusado teria se fosse condenado. Testemunhar falsamente contra alguém era um dos piores crimes que se podia cometer entre os hebreus. Matrimônio: natureza privada Do ponto de vista jurídico, o matrimônio entre os hebreus não era um assunto de direito religioso ou de caráter civil, mas sim uma questão de natureza privada, particular, entre duas famílias que se uniam pelo casamento de seus filhos. Numa sociedade de origem tribal como a hebraica, o matrimônio tinha especial importância, apesar de não haver legislação específica para o mesmo. A monogamia era a regra, havendo, entretanto, a tolerância social do concubinato. Interdições às uniões proibidas ou incestuosas Adultério Tema recorrente no direito hebraico, o crime de adultério era punido com a morte. A sociedade hebraica considerava o maior peso do adultério sobre as mulheres casadas, relevando de certa forma as transgressões masculinas, no âmbito de uma cultura patriarcal. Contudo, em casos concretos de adultério, o homem e a mulher adúlteros eram executados. Divórcio A figura jurídica do divórcio ou repúdio matrimonial está presente em boa parte das sociedades da Antiguidade, tendo sido suprimida pela tradição cristã. Entre os hebreus somente o homem poderia repudiar sua mulher, redigindo para ela uma carta de divórcio, na qual eram expostos os motivos da separação. Apenas motivos “vergonhosos” (altamente subjetivos) seriam tomados como base para o repúdio. Concubinato Numa organização social de origem tribal, a manutenção do grupo era a base para a sobrevivência. Os hebreus valorizavam de forma clara a geração de filhos homens (linhagem masculina). Assim sendo, a busca de consolidação de uma geração patrilinear, bem como a necessidade de povoamento do território, favoreceu o concubinato, com uma única restrição: a esposa e a concubina não poderiam ser irmãs. Dessa forma, um homem poderia ter relações íntimas com sua esposa e com suas concubinas, sem que isto fosse considerado bigamia ou adultério. Estupro A conjunção carnal não consentida, mediante violência física ou grave ameaça, do homem em relação a mulher casada ou virgem comprometida era punida entre os hebreus. Tanto o agressor quanto a suposta vítima eram apedrejados até a morte, diante das portas da cidade, em lugar público. A vítima não seria penalizada apenas numa única circunstância: caso fosse atacada num descampado e não pudesse ser ouvida pedindo socorro. Caso contrário, haveria presunção de conivência. Herança e primogenitura O direito de primogenitura era uma instituição hebraica, ou seja, apenas o filho homem, mais velho, receberia a herança paterna, cabendo às filhas apenas os seus respectivos dotes. Aos demais filhos homens nada caberia, salvo se o pai determinasse alguma parte destinada aos mesmos. Entretanto, mesmo se o filho mais velho tivesse sido gerado por uma concubina, este deveria ser considerado como herdeiro legítimo. Defloração Tal situação se referia apenas à mulher virgem ainda não comprometida, nos casos em que a mesma fosse dominada por um homem que a violentasse e ambos fossem pegos em flagrante delito. A punição para o deflorador era o pagamento de 50 siclos de prata ao pai da vítima (pena pecuniária de aproximadamente 570 g de prata) e o casamento compulsório do agressor com a mulher deflorada, à título de reparação social. Escravos Os escravos eram semoventes e faziam parte do patrimônio de seus senhores, podendo ser comprados e vendidos. Entre os hebreus, os prisioneiros de guerra eram escravizados, havendo, contudo, a possibilidade de escravidão de hebreus por outros hebreus, em virtude de dívidas. Entretanto, tal trabalho compulsório tinha um tempo limitado pela lei: seis anos, findos os quais o escravo hebreu seria libertado e ganharia de seu antigo senhor as condições mínimas para a sua sobrevivência. Caso o escravo hebreu desejasse permanecer em sua condição de escravo, de livre e espontânea vontade, o senhor furaria sua orelha em sinal de posse e o mesmo permaneceria escravo para sempre. Fraude comercial e juros Pesos e medidas, sejam nas atividades comerciais, sejam nas atitudes da vida cotidiana, deveriam ser claramente definidos, evitando as ambiguidades. Os hebreus condenavam a fraude das relações mercantis, especialmente o uso de pesos adulterados para a obtenção de vantagens. O empréstimo de dinheiro ou víveres a juros era permitido aos hebreus para com os estrangeiros. Entre os hebreus os empréstimos poderiam ser feitos sem a cobrança de juros, como símbolo de união e solidariedade. Fauna e flora Para um povo originalmente nômade, habituado às duras condições de vida numa terra sujeita a grandes oscilações climáticas, secas e cheias sazonais, abundância e escassez, a conservação dos “recursos naturais” era de vital importância. Dentre os preceitos legais / religiosos hebraicos, haviam determinações para o uso cuidadoso de matérias-primas, evitando: o corte excessivo de árvores, a matança generalizada de gado, a poluição das águas, o plantio consciente de vinhas, hortos e pomares. Poupar hoje para utilizar no futuro. Fim do módulo!!
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