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Olimṕıada de F́ısica e Astronomia do IFCE 2019 Nı́vel C Sábado, 04 de maio de 2019 Por favor, leia as instruções antes de iniciar a prova: 1. O tempo dispońıvel para a prova é de 04 horas. A prova tem 03 problemas dissertativos. 2. O estudante deve permanecer na sala de aplicação por, no mı́nimo, 90 minutos. 3. Utilizar apenas caneta na solução dos problemas. 4. Na resolução do problema dissertativo: • Utilize apenas o lado da frente das folhas de papel fornecidas. O verso é destinado a uso como rascunho. • Se houver resultados numéricos, estes devem ser escritos com o número de algarismos significativos apropriado, conforme indicado no problema. Não se esqueça de indicar as unidades. • Escreva tudo o que considerar relevante para a resolução da questão. Utilize o mı́nimo de texto posśıvel, devendo exprimir-se, sobretudo com equações, números, figuras e gráficos. 5. Nas folhas de rascunho e nas folhas que você não quiser levar em consideração na correção, faça um grande X na sua face. 6. Os estudantes deverão devolver todo o material da prova, incluindo folhas de problemas e de respostas. 7. É permitido o uso de calculadora não programável. Prolema 01 Nı́vel C P1-1 Instabilidade de Rayleigh - Plateau1 (10 pontos) Leia a página de instruções gerais antes de começar este problema. Introdução A instabilidade de Plateau-Rayleigh, muitas vezes chamada de instabilidade de Rayleigh, ex- plica porque e como um fluxo de fluido se divide em pacotes menores com o mesmo volume, mas com menor área de superf́ıcie. A explicação dessa instabilidade começa com a existência de pequenas perturbações no fluxo. Metas Na parte A vamos investigar como o formato de um jato de água se altera com a altura de queda do jato. Já na parte B iremos investigar a própria instabilidade e a explicação do fenômeno. As duas partes desse problema não são dependentes. Parte A - Formato do jato de água (2 pontos) Assim, vamos começar o problema investigando como o formato de um jato de fluido varia com a altura. Considere um orif́ıcio circular de raio a ejetando um fluxo de água cont́ınuo Q de densidade ρ para baixo, conforme a figura abaixo: Figura 1: Esquema do jato de água caindo. Assuma que no ponto A, temos uma velocidade de fluxo U0, uma pressão interna PA, e um raio de curvatura a. Já no ponto B temos uma velocidade de fluxo U(z), uma pressão PB e um raio de curvatura r. Considere que a diferença de altura entre esses pontos é z. Assuma 1Proposto por @Thomas Bergamaschi (IPhO 2018), da série problemas da piranha 2 Prolema 01 Nı́vel C P1-2 que efeitos de viscosidade são despreźıveis, que a componente radial da velocidade do fluido é insignificante, e que a velocidade da água U(z) independe de r. A.1 Comece relacionando os parâmetros em A, U0 e Pa, com os em B, U(z) e PB e a diferença de altura z. 0,4pt Perceba que devido à curvatura do jato de água a pressão no interior do jato é levemente maior que a pressão atmosférica, onde essa diferença ∆P é dada pela equação de Young-Laplace: ∆P = σ ( 1 R1 + 1 R2 ) (1) em que R1 e R2 são os dois raios de curvatura principais do jato de água e σ é a tensão superficial da água. A.2 Ache a pressão aproximada em A e B, em função de P0, σ, a e r. Considere que o jato caiu uma distancia z pequena de modo que a inclinação da superficie seja pequena. 0,4pt A.3 Com os resultados de A.1 e A.2, ache a razão U(z)/U0. 0,4pt A.4 Encontre uma equação para r(z) e resolva ela no limite em que r = a−�, onde �� a. Expresse seu resultado em função de σ, ρ, U0, a, g e z. 0,8pt Parte B - Instabilidade de Rayleigh Plateau (8 pontos) Agora, vamos começar a analisar a instabilidade de jatos ciĺındricos de água limitados por tensão superficial. É precisamente esse efeito que causa o fenômeno representado abaixo: Figura 2: Um feixe ciĺındrico de água se aglomerando em gotas. 3 Prolema 01 Nı́vel C P1-3 Vamos investigar como uma pequena perturbação radial no cilindro de água leva a ocorrência de uma instabilidade capaz de romper o cilindro, gerando gotas de água. Considere que o estado de equiĺıbrio consiste em um cilindro infinitamente longo de fluido com raio R0, densidade ρ, e tensão superficial σ, que está caindo com velocidade U0 na direção ẑ. A partir de agora considere a pressão externa P0, e por simplicidade, despreze os efeitos da gravidade. B.1 Qual a pressão P na interface interior do cilindro? 0,2pt A partir de agora, considere que o cilindro de água é levemente perturbado por uma variação de raio �, de modo que o raio da superf́ıcie obedeça a equação: R(z, t) = R0 + � · eωt+ikz (2) em que � � R0, ω é a taxa de crescimento da instabilidade e k o número de onda referente à perturbação ao longo da direção vertical z do cilindro. Assuma que o eixo z é definido de modo que a origem (z = 0) é o topo do cilindro em t = 0. Considere que ur é a componente radial da velocidade do fluido (após a perturbação), uz a componente vertical da velocidade, e δp a perturbação na pressão. Expresse todos os seus resultados em primeira ordem em �. B.2 Ache a aceleração radial dur dt e a vertical duz dt , em função de ρ e derivadas de δp. 0,3pt B.3 Aplique a equação da continuidade para achar uma relação entre ur, uz, r e suas derivadas. 0,5pt É esperado que as perturbações em velocidade e pressão sejam do mesmo formato que a per- turbação no raio da superf́ıcie, dada pela equação 2. Ou seja, ur, uz e δp, podem ser escritos da seguinte forma: ur(r, z, t) = f(r)e ωt+ikz, (3) uz(r, z, t) = U0 + g(r)e ωt+ikz, (4) δp(r, z, t) = h(r)e ωt+ikz (5) Nas quais f(r), g(r) e h(r), são funções que podem ser descobertas com os resultados acima. B.4 Com os resultados de B.2 e B.3, ache três equações que relacionam f(r), g(r) e h(r) em função delas e suas derivadas, e em seguida, ache uma equação diferencial somente para f(r). 1,5pt 4 Prolema 01 Nı́vel C P1-4 Essa equação, é uma equação modificada de Bessel de ordem 1, cujas soluções podem ser escritas com as funções modificadas de Bessel de primeiro e segundo tipo, I1(x) e K1(x) respectivamente. Não é preciso conhecimento prévio dessas funções para a resolução deste problema. Considere que a solução dessa equação pode ser escrita como: f(r) = C1I1(kr) + C2K1(kr) (6) Em que C1 e C2 são constantes arbitrárias. Note que os gráficos de I1(x) e K1(x) estão representados na fig. 3, para melhor entender o fenômeno. I1(x) K1(x) 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 x I 1 (x ), K 1 (x ) Figura 3: Gráfico de K1(x) e I1(x). Note que I1(0) = 0, lim x→∞ I1(x)→∞ e K1(0)→∞, lim x→∞ K1(x)→ 0. B.5 Com o gráfico da fig. 3, e uma condição de contorno, encontre C1 e C2. 1pt B.6 Encontre g(r) e h(r). Você pode precisar saber que I1(x) = dI0(x) dx , que K1(x) = −dK0(x)dx e também da propriedade que d(rI1(kr)) dr = krI0(kr). Aqui, I0(x) e K0(x) são também funções modificadas de Bessel de pri- meiro e segundo tipo. 0,5pt Devido a essa perturbação, a pressão na superf́ıcie interior da coluna de água irá crescer para P + δp(r, z, t), com δp(r, z, t) dada pela equação 5, e pelo resultado de B.7 e P é dado pela resposta do item B.1. Com esses resultados, é posśıvel relacionar parâmetros de ω com k. Você pode precisar apro- ximar que a inclinação da superf́ıcie é sempre muito pequena. 5 Prolema 01 Nı́vel C P1-5 B.7 Com os seus resultados anteriores, encontre o valor da nova pressão da coluna de água P + δp(z, t) na superf́ıcie, e encontre δp(z, t) na su- perf́ıcie. 1.5pt Agora, pode-se usar o resultado de B.7 para achar a relação de dispersão do sistema ω2(k). B.8 Use o resultado de B.7 e B.8 para achar ω(k). 0,5pt Com essa equação vemos que instabilidade só ocorre em certos casos de k e R0. B.9 Para quais valores de k e R0 existem modos instáveis? Explique. 1pt Para facilitaro entendimento numérico, você pode precisar de um gráfico da razão I1(x)/I0(x) conforme fornecido na fig. 4. 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 x I 1 (x )/ I 0 (x ) Figura 4: Gráfico de I1(x)/I0(x). Com o gráfico, e a função encontrada previamente, é posśıvel achar pontos notáveis no gráfico de ω(k), afim de esboçar este gráfico futuramente. B.10 Encontre a posição aproximada de todos os pontos notáveis de ω(k) na região de instabilidade. Observação: Estes pontos notáveis incluem mı́nimos, máximos, e também ráızes desta função. 0,3pt Agora, você está em condições de esboçar ω(kR0). 6 Prolema 01 Nı́vel C P1-6 B.11 Esboce ω(kR0) na região de instabilidade, lembrando de indicar todos os pontos notáveis da função que você encontrou no item anterior. 0,5pt Com o seu esboço do item anterior, e os pontos notáveis da função calculado no item B.10, pode-se estimar o tempo caracteŕıstico τc para que o cilindro de água se rompa. B.12 Estime esse tempo caracteŕıstico τc. 0,2pt 7 Problema 02 Nı́vel C P2-1 Rattleback1 (10 pontos) Leia a página de instruções gerais antes de começar este problema. Introdução A “Rattleback” é um objeto bastante curioso. Ela tem um formato ligeiramente assimétrico (pense num semi-elipsoide ou semi-paraboloide ligeiramente deformado), e isso a dá proprieda- des f́ısicas bastante complexas e intrigantes. Se girada em um sentido na vertical (ilustrado na Figura 1, onde a velocidade angular ~ω aponta para cima), nada de interessante ocorre: é um movimento estável, e por isso a Rattleback continua girando nessa direção. Porém, se girada no outro sentido (com ~ω apontando para baixo), o movimento é instável: aos poucos, ela para de rodar (Figura 2(a), com as velocidades demarcadas diminuindo), começa a oscilar (Figura 2(b). Para mais detalhes desse ponto, ver Figura 3), até que eventualmente para de oscilar e volta a rodar, mas com sentido oposto ao da rotação inicial! (Figura 2(c), onde ~ω agora aponta para cima). Assim como na Figura 1, essa nova direção agora é estável, e portanto a Rattleback continuará se movendo nela. Dessa forma, vemos que girar a Rattleback com ~ω em diferentes sentidos da direção vertical nos dá differentes resultados: em nossa descrição, ~ω apontando para cima corresponde a um movimento estável, mas ~ω apontando para baixo corresponde a um movimento instável (e que, eventualmente, migra para o movimento estável). Isso implica que a Rattleback, devido a somente o seu formato, possui uma direção preferencial de rotação! Ao longo dessa questão, analisaremos uma versão simplificada do sistema, mas que ainda assim contém e explica a reversão de direção! (denominaremos “spin” a velocidade angular de rotação das Figuras 1, 2(a) e 2(c), em que a velocidade angular aponta na direção vertical. Portanto, utilizaremos a expressão “reversão de spin” para se referir ao fenômeno da Rattleback) Parte 0: Premissas gerais e resultados matemáticos Como sistema f́ısico, assumiremos uma Rattleback em uma superf́ıcie plana, conforme mostra a Figura 1. A superf́ıcie possui atrito, mas há conservação de energia. Ignoraremos a diferença entre coeficientes estático e dinâmico de atrito. A Rattleback é perfeitamente ŕıgida, de forma que o ponto de contato entre ela e a superf́ıcie é um ponto matemático. O sistema de coorde- nadas x, y, z será o sistema de coordenadas da Rattleback em si, não do sistema (inercial) do laboratório. Ao longo dessa questão, você pode querer usar que: • ~a · (~b× ~c) = ~c · (~a×~b) • ~a× (~b× ~c) = ~b(~a · ~c)− ~c(~a ·~b) As três partes desse problema são independentes. Parte A: Análise geral das equações de movimento (5,2 pontos) Antes de mais nada, devemos definir os parâmetros do sistema e as variáveis que utilizaremos: 1Proposto por @Henrique Zanarella (IPhO 2016), da série problemas do ursinho 8 Problema 02 Nı́vel C P2-2 v̂v̂ ω̂ Figura 1: Rotação estável da Rattleback v̂ v̂ ω̂ v̂ v̂ ω̂ Figura 2: (a) Rotação instável da Rattleback, (b) Oscilação após rotação instável, (c) Rotação estável após a reversão do spin • ~s = posição do centro de massa da Rattleback; • ~v = d~s dt ; • ~r = vetor do centro de massa ao ponto de contato; • ~F = força exercida, pela superf́ıcie de contato, na Rattleback; • ~ω = velocidade angular da Rattleback; • ~h = momento angular da Rattleback; • M = massa da Rattleback; • ~u = versor perpendicular à superf́ıcie, apontando para cima; • g = aceleração da gravidade, que aponta na direção de −~u. 9 Problema 02 Nı́vel C P2-3 Figura 3: Detalhamento da oscilação da Figura 2(b) A.1 Utilizando somente os parâmetros definidos acima, escreva as equações (vetoriais) de movimento da Rattleback. 1,0pt A.2 Mostre que d~h dt = M~r × [ d~v dt + g~u ] (1) 0,5pt A.3 Mostre que, no sistema de coordenadas do laboratório, d dt (~u · ~h) = M (~u× ~r) · d~v dt (2) 0,5pt Com essas equações escritas, podemos começar a levar em consideração o formato da Rattleback. Pensaremos nela como um objeto simétrico nas direções x′, y′ (no sentido que z se mantém nas trocas x′ → −x′ e/ou y′ → −y′), e que sofre uma perturbação não necessariamente pequena. Tal perturbação roda x′ e y′ (de tal forma que eles não são mais perpendiculares) e faz com que os eixos principais x e y de rotação da Rattleback não coincidam mais com x′ e y′. A equação que define seu formato é z = z(x, y) = a [ 1− 1 2 p (x a )2 − qxy a2 − 1 2 s (y a )2] (3) onde a é a distância do centro de massa ao ponto de contato, quando há equiĺıbrio estático do 10 Problema 02 Nı́vel C P2-4 sistema (ver Figura 4), e o termo de q é o termo da perturbação detalhada acima. r z y u a δ ^ ^^ Figura 4: Sistema de coordenadas da Rattleback Neste sistema de coordenadas x̂, ŷ, ẑ, definiremos que o ponto de contato está na posição ~r = (x, y, z). Há algumas restrições sobre os parâmetros p,q, e s. Primeiramente, a Rattleback deve ser côncava em toda a região que pode entrar em contato com o solo. Isso implica que p > 0, s > 0, e ps > q2. A segunda restrição é que, para que as oscilações das Figuras 2(b) e 3 sejam posśıveis, a posição de equiĺıbrio da Rattleback deve ser estável. A.4 Com aproximação de pequenas oscilações, encontre a condição sobre p e q para que o equiĺıbrio seja estável no caso particular p = s. Dica: você pode querer usar as equações (4) e (6) abaixo na sua re- solução. 1,2pt Dadas essas condições, podemos usar a equação (3) para analisar o movimento utilizando o sistema de coordenadas da Rattleback. Nesse sistema de coordenadas, podemos escrever ~u como: ~u = w ( fx√ x2 + y2 , fy√ x2 + y2 ,−1 ) (4) onde f := −(px 2 + sy2 + 2qxy) a √ x2 + y2 (5) e onde w é uma constante de normalização dada por 11 Problema 02 Nı́vel C P2-5 w = 1√ 1 + f 2 (6) Sabemos que ~u é o versor na direção vertical e, portanto, é constante no sistema de coordenadas do laboratório. A.5 Sendo ~̇u a variação temporal de ~u no sistema de coordenadas da Rat- tleback, mostre que 0 = ~̇u+ ~ω × ~u (7) 1,0pt A.6 Mostre que ~ω = ~̇u× ~u+ n~u (8) onde n é o “spin” citado no ińıcio da questão, que corresponde à com- ponente vertical da velocidade angular (ou seja, a componente de ~ω na direção de ~u). 0,5pt Com aproximação de pequenos valores de x e y (já que analisaremos o sistema ao redor do equiĺıbrio x = y = 0), podemos usar a equação (8) para escrever os componentes de ~ω: ωx = nfx√ x2 + y2 − d dt ( fy√ x2 + y2 ) ωy = nfy√ x2 + y2 + d dt ( fx√ x2 + y2 ) (9) ωz = fy√ x2 + y2 · d dt ( fx√ x2 + y2 ) − fx√ x2 + y2 · d dt ( fy√ x2 + y2 ) − n Como podemos ver, ωx e ωy somente possuem termos em primeira ordem em x e y, enquanto ωz possui termos de zerésima (o termo “−n”) e de segunda ordem em x e y. A.7 Com as equações (9), calcule, em aproximaçãode primeira or- dem em x e y, as componentes vx, vy e vz da velocidade do centro de massa da Rattleback. Não é necessário expandir as deri- vadas contidas na equação (9), e não é necessário substituir f por sua definição f = −px2+sy2+2qxy a √ x2+y2 . 0,5pt Com isso, e sabendo que os momentos de inércia em x, y, e z são tais que hx = Aωx hy = Bωy (10) hz = Cωz 12 Problema 02 Nı́vel C P2-6 podemos usar os resultados da A.7 reescrever a equação (1) para então finalizar as equações de movimento. Após reescrever (1), assumimos uma resposta da forma x = eσt e y = αeσt para o movimento (com σ e α sendo parâmetros a determinar). Após realizar os cálculos, podemos chegar às seguintes equações: nσ − ασ2 = −M A [ −(αg + σna) a(1 + α 2) p+ sα2 + 2αq + a2nσ − a2ασ2 + agα ] − (B − C)n(nα + σ) e (11) nασ + σ2 = M B [ −(g − anσ) a(1 + α 2) p+ sα2 + 2αq − a2nασ + a2σ2 + ag ] − (C − A)n(n− ασ) Não nos preocuparemos em resolver essas equações. Porém, notaremos que, para uma mesma configuração da Rattleback (α mantido constante) caso a direção de spin seja invertida (n → −n), o valor de σ também se altera da mesma forma: σ → −σ. Como a parte real de σ é, em geral, não-nula, isso significa que, para uma determinada direção de spin, a resposta oscilatória aumenta (o que significa que a energia está sendo passada da rotação de spin para a oscilação), enquanto que, na outra direção de spin, o a oscilação diminui (o que significa que a energia está sendo passada da oscilação para a rotação de spin). Isso é completamente consistente com comportamento da Rattleback, já que (conforme as Figuras 1 e 2), a mudança de direção só ocorre em uma direção de spin! Parte B - A reversão de spin (1,8 pontos) Por mais que a análise acima explique a reversão, queremos entendê-la de forma um pouco mais clara. Considere o momento exato em que a reversão ocorre. Nesse instante, toda a energia da Rat- tleback está na oscilação demonstrada nas Figuras 2(b) e 3. Aproximaremos que tal oscilação é periódica, e que a velocidade de spin é despreźıvel durante vários peŕıodos de oscilação. Com essa suposição, calcularemos o torque vertical médio que age sobre o centro de massa da Rattleback. B.1 Por que devemos esperar um torque vertical médio não-nulo? 0,8pt Instantaneamente, podemos usar seu resultado da questão A.3 para escrever que τv = ~u · d~h dt = M~u · ( ~r × d~v dt ) = M(~u× ~r) · d~v dt (12) B.2 Integrando por partes, e sendo T o peŕıodo de oscilação e ~τv a média de ~̄τv num peŕıodo, mostre que T M τ̄v = − ∫ T ~v · (~u× d~r + d~u× ~r) (13) onde ∫ T indica a integração ao longo de um peŕıodo de oscilação. 1,0pt 13 Problema 02 Nı́vel C P2-7 Reescrevendo essa equação, podemos montar uma equação matricial descrevendo a variação temporal do vetor [ωx ωy ux uy]. Calculando os autovalores e autovetores e aplicando os resultados na equação acima, podemos encontrar o torque médio nos dois modos distintos permitidos: τ̄ ev = 1 4 Ma2α ( 1 φ − 1 θ )( 1 α − 1 β )√ 1− ψ2(e′)2{e(e′ + f)− dg}ve2 e ¯ τ fv = 1 4 Ma2β ( 1 φ − 1 θ )( 1 α − 1 β )√ 1− ψ2(f ′)2{f(f + e)− dg}vf 2 para determinados parâmetros α, β, φ, θ, ψ, e′, e, f, d e g (e com ve e vf sendo fatores de escala). Não analisaremos essas equações em detalhe. Porém, vale a pena ressaltar que ψ está relacio- nado à perturbação dada por q e que, caso não haja perturbação, ψ = 1. Pelas equações acima, ψ = 1 implica que os torques são nulos, o que é esperado e, além disso, é uma confirmação matemática de que a reversão de spin ocorre devido à perturbação do formato da Rattleback. Parte C - Sobre a condição de não-deslizamento (3,0 pontos) Por fim, devemos entender se a condição de não-deslizamento é ou não razoável na realidade. A situação cŕıtica para o não-deslizamento é, mais uma vez, a situação em que toda a energia do objeto está na oscilação da Figura 2(b). Assumiremos que o movimento é harmônico: δ = δ0 sen(ωnt) (14) onde δ é o ângulo de inclinação da Rattleback (como na figura 3), e ωn é a frequência de oscilação. C.1 Argumente por que assumir não-deslizamento pode não ser válido, dependendo dos parâmetros δ0 e wn. 1,0pt C.2 Aproximando que o ponto de contato da Rattleback com a superf́ıcie é fixo e que δ0 � 1 rad, calcule a força máxima de atrito ao longo de um peŕıodo (0,3 pt). Com isso, calcule o coeficiente mı́nimo de atrito para que a condição de não-deslizamento seja mantida (0,2 pt). 0,5pt Queremos evitar usar os parâmetros δ0 e ωn em nossas expressões. Afinal, não sabemos, a priori, seus valores. 14 Problema 02 Nı́vel C P2-8 C.3 Calcule a energia máxima de oscilação E0 com a condição de não-deslizamento. Deixe a sua resposta em função do coeficiente de atrito calculado no item anterior e de outros parâmetros do sistema, exceto δ0. Utilize que I0 é o momento de inércia ao redor do centro de massa na direção em que a oscilação está acontecendo. 0,5pt C.4 Sendo ρ o raio de curvatura da superf́ıcie no ponto de equiĺıbrio, calcule ωn. 1,0pt (Nota: no nosso modelo da equação (3), ρ e I0 dependem do eixo de oscilação, já que diferentes direções no plano xy não são equivalentes) Pode ser provado que o eixo relevante a essas equações é o eixo que maximiza ωn. Com isso, temos uma equação para o coeficiente de atrito mı́nimo necessário para o não-deslizamento que assumimos ao longo dessa questão! Porém, ocorre que tal mı́nimo é grande demais: a condição de não-deslizamento não é uma suposição viável para explicar Rattlebacks “reais”. Sendo assim, por mais que o nosso mo- delo explique a reversão de spin, um modelo mais próximo à realidade necessariamente inclui dissipação de energia. Parte D - Referências e curiosidade! (0 pontos) Essa questão foi baseada nos seguintes artigos: (1) Franti, L, “On the rotational dynamics of the Rattleback”, arXiv:1202.6506; (2) Garcia A., Hubbard M., “Spin reversal of the rattleback: theory and experiment”, 418 Proceedings of the Royal Society of London. A. Mathematical and Physical Sciences http://doi.org/10.1098/rspa.1988.0078 Analisamos somente uma parte da discussão contida nesses artigos, então recomendo bastante ler caso queira saber mais! (por exemplo, o modelo geral prevê três classificações diferentes de Rattleback, dependendo do comportamento de σ - acontece que a nossa é a Tipo 1. As de Tipo 0 são ainda mais peculiares que a nossa, porque têm rotações instáveis nos dois sentidos. Isso implica que, caso a energia do movimento não seja dissipada, elas fazem infinitas reversões de spin!) Nota: Só tome cuidado que há uma incorreção no primeiro artigo: a expressão dele de ~u(x, y, z) não reduz como deveria caso uma das coordenadas seja nula, e portanto não pode estar correta. Isso ocorre porque o artigo calcula ~u simplesmente como o gradiente de z - o que não é, em geral, verdade. 15 Problema 03 Nı́vel C P3-1 Força entre part́ıculas carregadas1 (10 pontos) Leia a página de instruções gerais antes de começar este problema. Introdução Neste problema iremos estudar como part́ıculas carregadas interagem através da força eletro- magnética. Essa força pode ser escrita usando uma expressão devido a Lorentz, que relaciona a força sobre uma part́ıcula carregada com carga q quando sujeita à ação de um campo elétrico ~E e um campo magnético ~B: ~F = q ~E + q~v × ~B (1) Pode-se observar da equação 1 que o campo magnético ~B só irá produzir uma força ~F sobre a carga q se a mesma estiver se movendo com velocidade ~v não paralela a ~B. Parte A - Caso Clássico (1,5 pontos) A Lei de Coulomb relaciona a força elétrica entre duas part́ıculas carregadas. Suponha que uma part́ıcula com carga Q esteja na posição ~r′ = x′x̂ e que uma carga q esteja na posição ~r = xx̂+ yŷ + zẑ. A.1 Determine o campoelétrico ~E sobre a carga q devido à carga Q como função de ~r, ~r′ e da permissividade elétrica do vácuo ε0. 0,7pt Se a carga Q estiver em movimento com velocidade ~v ela irá, de acordo com a teoria clássica do eletromagnetismo, gerar um campo magnético dado pela expressão ~B = µ0 4π Q~v × R̂ R2 (2) em que µ0 é a permeabilidade magnética do vácuo, e ~R = ~r − ~r′ é a posição onde se calcula o campo magnético ~B com relação à carga Q. A.2 Determine o campo magnético ~B sobre a carga q devido à carga Q como função de ~r, ~r′, da velocidade ~v e da permeabilidade magnética do vácuo µ0. 0,3pt A.3 Utilizando a equação de Lorentz, determine a força eletromagnética que a carga Q exerce sobre a carga q. 0,5pt 1Proposto por @Fernando Sobreira (IPhO 2006) 16 Problema 03 Nı́vel C P3-2 Parte B - Caso Relativ́ıstico (8,5 pontos) No caso relativ́ıstico, isto é, quando uma das part́ıculas está se movendo com velocidade v ∼ c, é posśıvel obter a força realizada sobre uma part́ıcula carregada em repouso no referencial S do laboratório. Neste caso, a força calculada já inclui o efeito de propagação da informação da posição relativa correta entre as part́ıculas no instante em que a força está atuando. Para obter esta força, é preciso levar em conta que o quadrivetor Ai = (φ/c, ~A) se transforma da mesma forma que o quadrivetor xi = (ct, ~r), isto é através das transformações de Lorentz. Neste caso, φ é o potencial elétrico e ~A é o potencial vetor magnético. Suponha que um sistema de referência S ′ se move com velocidade ~v = vx̂ com relação ao sistema de referência do laboratório S. B.1 Escreva as relações entre os quadrivetores Ai no referencial S como função das componentes do quadrivetor A′i, da velocidade v e da velo- cidade da luz c. 1,0pt Suponha que no sistema S ′ há uma part́ıcula com carga elétrica Q, fixa na origem do sistema de coordenadas. B.2 Determine os valores do potencial elétrico φ′ e do potencial vetor ~A′ numa posição ~r′ = x′x̂ + y′ŷ + z′ẑ do sistema de referência S ′, em função das coordenadas de ~r′, da carga Q e da permissividade elétrica do vácuo ε0. 0,3pt Há ainda, no sistema de referência S uma part́ıcula fixa na posição ~r = xx̂+ yŷ + zẑ. B.3 Determine a distância R′ entre as part́ıculas no referencial S ′, em função das coordenadas de ~r, da velocidade v e da velocidade da luz c. 0,8pt B.4 Determine os valores do potencial elétrico φ e do potencial vetor ~A numa posição ~r do sistema de referência S, em função das coordenadas de ~r, da carga Q e da permissividade elétrica do vácuo ε0. 1,2pt Com os valores de potencial elétrico φ e potencial vetor magnético ~A é posśıvel determinar as componentes dos campos elétrico ( ~E) e magnético ( ~B) gerados pela carga Q, fixa na origem do referencial S ′ sobre a part́ıcula de carga q fixa na posição ~r do referencial S. B.5 Determine o campo elétrico sobre a part́ıcula q. Você pode querer usar o vetor posição ~R = (x − vt)x̂ + yŷ + zẑ que localiza a carga q com relação à carga Q. 0,7pt O campo elétrico ~E obtido no item B.5 pode ser escrito como função do ângulo θ entre o vetor ~R e a velocidade ~v = vx̂. No caso clássico, o campo elétrico ~E é independente do ângulo θ, mas no caso relativ́ıstico isso não ocorre. O campo elétrico relativ́ıstico pode ser escrito em função do fator f(θ) como 17 Problema 03 Nı́vel C P3-3 ~Erel = ~Eclass · f(θ), (3) em que ~Erel e ~Eclass representam o campo elétrico nos casos relativ́ıstico e clássico, respectiva- mente, e f(θ) depende do ângulo θ e da velocidade v da part́ıcula carregada. B.6 Determine qual o fator f(θ). 1,0pt B.7 Para quais valores de θ o módulo do campo elétrico ~E tem seu maior e menor valor? Quais os valores das componentes do campo elétrico na direção de movimento da carga Q (E‖) e na direção perpendicular (E⊥) nestas situações? 0,5pt B.8 Faça um diagrama esboçando as linhas de campo elétrico para uma part́ıcula em movimento. 0,5pt Além do campo elétrico, a carga Q em movimento é responsável por um campo magnético ~B sobre a q. B.9 Mostre que mesmo no caso relativ́ıstico os campos elétrico e magnético estão relacionados por: ~B = 1 c ~v × ~E 1,0pt Suponha agora que ambas as cargas estão em movimento no eixo x e com a mesma velocidade v no referencial S. No caso relativ́ıstico, a expressão de Lorentz dada pela equação 1 continua válida. B.10 Determine a força eletromagnética sobre a carga q devido à carga Q. Você pode expressar as componentes F‖ e F⊥ nas direções paralela e perpendicular ao movimento das cargas, respectivamente. 1,0pt B.11 Compare as expressões obtidas para a força eletromagnética para os casos clássico e relativ́ıstico. Discuta os resultados obtidos. 0,5pt 18
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