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Eugenia e Projeto Nacionalista: A segregação racial em prol do avanço republicano.

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO 
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO 
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
EMERSON DOS SANTOS BRAGA 
ELIENE COTRIM 
DANIELLE VITORIA BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
 
 EUGENIA E O PROJETO NACIONALISTA: A SEGREGAÇÃO RACIAL 
EM PROL DO AVANÇO REPUBLICANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2019 
 
 
1 
 
 
 
EMERSON DOS SANTOS BRAGA 
ELIENE COTRIM 
DANIELLE VITORIA BARBOSA 
 
 
 
 
 
 
 EUGENIA E O PROJETO NACIONALISTA: A SEGREGAÇÃO RACIAL 
EM PROL DO AVANÇO REPUBLICANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo apresentado como requisito parcial à 
obtenção do título de licenciado em História 
pela Universidade Nove de Julho sob a 
orientação da Prof.(a) Dra. Enidelce Bertin. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
 2019 
 
2 
 
 
EUGENIA E O PROJETO NACIONALISTA: A Segregação racial em 
prol do avanço republicano. 
 
Emerson dos Santos Braga 1
Eliene Cotrim 2
Daniele Vitoria barbosa 3
 
 
RESUMO: ​Este presente artigo tem com objetivo analisar a inserção dos recém 
libertos na sociedade republicana. Tendo em vista que o racismo e preconceito 
racial ainda são pautas na sociedade atual, buscamos entender a narrativa da 
construção social Brasileira, analisando as políticas de segregação, e a concepção 
de um ideia de superioridade racial, assim como as mentalidades criadas a partir 
dessas práticas. Partindo desse contexto, utilizaremos como base deste artigo, 
uma revisão historiográfica que visa uma discussão crítica sobre o assunto. 
 
PALAVRAS- CHAVE: Eugenia, História do Brasil Republicano, Estereótipos, 
Racismo. 
 
ABSTRACT: ​This article aims to analyze the insertion of the newly freed in 
republican society. Given that racism and racial prejudice are still guidelines in 
today's society, we seek to understand the narrative of Brazilian social construction, 
analyzing the policies of segregation, and the conception of an idea of racial 
superiority, as well as the mentalities created from these practices. From this 
context, we will use as base of this article, a historiographical revision that aims a 
critical discussion about the subject. 
 
KEY-WORDS: ​Eugenics, History of republican Brazil, Stereotypes, Racism. 
 
Introdução: A constituição da sociedade brasileira iniciou-se a partir de um sistema 
colonial e escravocrata. Em meio a esse processo, a inserção do escravizado 
contribuiu para construção de uma cultura pluralizada e rica em diversidade 
1 Discente do curso de Licenciatura plena em História, da Universidade Nove de Julho. 
2 Discente do curso de Licenciatura plena em História, da Universidade Nove de julho. 
3 Discente do curso de Licenciatura plena em História, da Universidade Nove de Julho. 
 
3 
 
 
composta por uma sociedade miscigenada, pautada na submissão e na 
superioridade de um grupo sobre o outro. Subjugados como um mero produto 
mercantil, os escravizados tornaram -se peças na engrenagem do sistema colonial, 
vistos apenas como “máquinas de trabalho” braçal, sendo uma moeda valiosa para 
a elite. Sem percepção própria, sem humanidade, sem história, e por esses motivos 
passíveis de escravização. Indolente, problemático, Incapaz, o termo africano ganha 
um novo termo “Negro”, atribuindo um ar de inferioridade. (Hernandez, 2005) 4
Após a abolição da escravidão, em 13 de maio de 1888, os exs cativos não 
conquistaram de fato sua emancipação, eram livres perante a lei, porém sem 
qualquer respaldo governamental. O preconceito e racismo tornaram-se frequentes, 
o que acabará por os deixar -los à margem da sociedade , uma vez que para a elite 
eram vistos como seres inferiores, essa mentalidade influenciou diversas ações de 
exclusão, dentre elas a aplicação da eugenia, nosso objeto de pesquisa neste 
trabalho. 
Seguindo o modelo de sociedade europeu, visava- se uma modernização rápida, o 
que desempenhou no imaginário nacional, o conceito de um ideal de progresso 
pautado na narrativa europeia. Algo inviável se considerar a composição da 
sociedade brasileira, porém amplamente disseminada por uma elite, que pouco 
representa a massa populacional. A eugenia ganhou popularidade na europa, 
justamente por ir de acordo com os ideais burgueses, era uma forma de legitimar 
cientificamente a superioridade hereditária. Para os europeus, a miscigenação era 
um fator negativo, que impedia o pleno desenvolvimento da sociedade. De acordo 
com seu criador, o médico inglês Francis Galton , a eugenia seria o estudo dos 5
aspectos físicos que poderiam aprimorar ou piorar a raça humana. A teoria foi 
amplamente adotada pela elite intelectual brasileira, justamente por seu contexto de 
aprimoração, que juntamente com a higienização e o sanitarismo serviriam para 
uma divisão da sociedade, selecionando os aptos, no geral os bem nascidos, e 
4 HERNANDEZ, Leila. A África na sala de aula: Visita à história contemporânea. São Paulo:Selo 
Negro, 2005. 
5Francis Galton, médico inglês. Nasceu em Birmingham, Inglaterra. É Conhecido como pai da 
eugenia, estudou Medicina em Cambridge (Inglaterra). Após a morte de seu pai, herdou sua fortuna o 
que possibilitou o investimento total em sua teoria. IN “Biography of Francis Galton, <www. 
galton.org> 
 
4 
 
 
excluindo os não aptos, no geral escravos e mestiços, visando atingir a 
superioridade social. 
O objetivo deste artigo parte da intenção de entender o processo eugênico aplicado 
ao Brasil, compreendendo o funcionamento e sua influência sobre um grupo social. 
Para tanto, partimos de uma revisão bibliográfica estabelecida como base para 
traçar um panorama sobre o assunto, constituindo uma pesquisa crítica sobre a 
eugenia. Dentre as fontes utilizadas para base teórica deste artigo, estão o trabalho 
da Historiadora Pietra Diwan , que visa em seu livro “Raça pura”, destrinchar a 6
história da eugenia no mundo e principalmente no Brasil, também questionando os 
motivos pelo qual o Brasil aderiu a uma teoria tão contraditória ao seu passado 
histórico. Em complemento ao trabalho de Diwan, usaremos os livros “Espetáculo 
das raças” e “Nem Preto, Nem Branco”, da historiadora Lilia Moritz Schwarcz , no 7
primeiro livro Lilia define o Brasil como um grande “Laboratório racial” constituído 
por uma terra pluralizada, uma raça híbrida e uma rica diversidade cultural, porém 
essa mesma sociedade exclui uma parcela da população, usando as ideias 
eugênicas para legitimar -las como uma ameaça ao progresso republicano. Ainda 
para contribuir com a base teoria, temos a visão da historiadora Nancy Stepan , que 8
discorre em seu livro “Hora da Eugenia, sobre a aplicação da eugenia na América 
Latina como todo, explicitando as políticas de exclusão direcionadas aos negros, 
indígenas e pobres, estabelecendo um controle racial e social, e dificultando a 
imigração. 
Por fim, temos o trabalho do sociólogo Paulo Ricardo Bomfim , explicitando em seu 9
livro “Educar, Higienizar e Regenerar”, a aplicação da eugenia voltada para a 
educação pública, usada para “Moldar” o cidadão desde sua base de acordo com 
pensamento republicano, expressando pela superioridade e a mentalidade do 
progresso. 
6 Pietra Diwan, Historiadora. Possui mestrado e doutorado em História Socialpela PUC- SP, 
especialista no século XX, trabalha as relações entre o corpo e a história. 
7 Lilia Moritz Schwarcz, Historiadora. Possui mestrado em Antropologia Social pela Unicamp e 
doutorado em Antropologia Social pela USP. Atualmente é professora titular do departamento de 
Antropologia da USP. 
8 Nancy Stepan, Historiadora. Professora de História na Universidade Columbia, EUA. Conhecida por 
sua pesquisas em História, eugenia e saúde pública. 
9 Paulo Ricardo Bonfim, Sociólogo. Mestre em educação pela USF, Especialista em 
História,Sociedade e cultura pela PUC-SP. Pesquisador na área de educação focado no estudo 
relativos a educação brasileira, política educacional e gestão escolar. 
 
5 
 
 
O Conceito da Eugenia 
 
Purificar a raça. Aperfeiçoar o homem. Evoluir a cada geração. Se superar. Ser 
saudável. Ser belo. Ser forte. Todas as afirmativas anteriores estão contidas na 
concepção de eugenia. Para ser melhor, o mais apto, o mais adaptado é necessário 
competir e derrotar o mais fraco pela concorrência. Lutas de raças. Para a política, 
lutas de classes. A teoria da eugenia nasceu como a salvação de uma sociedade 10
em crise, era preciso legitimar a ideia do escolhido por deus, mentalidade que se 
mantinha, desde a era medieval, pautado na ideia de superioridade hereditária. 
A eugenia pode ser definida de acordo com a historiadora Nancy Stepan, como um 
movimento pelo “Aprimoramento” da raça humana, pela preservação da “Pureza” de 
determinados grupos.(STEPAN,2005). A eugenia baseou -se na mentalidade 11
construída desde a antiguidade, e que já estava enraizada no pensamento 
ocidental, os ideais eugênicos estão pautados no padrão de perfeição grega, nas 
concepções de força do exércitos romanos, sempre próximos a imagem de deuses. 
Usado para legitimar a teoria, a “Árvore da eugenia”, era o símbolo que 
representava a evolução humana,como uma árvore, a eugenia extrai sua matéria- 
prima de diversas fontes e as organiza em uma entidade harmoniosa. 12
Representação da árvore pode ser entendida como uma alusão ao ciclo da vida , 
nascemos com uma semente que germina, cresce e morre, deixando na terra outras 
sementes, que então darão continuidade ao ciclo. Essa noção de linearidade está 
inserida na sociedade ocidental, pautada, em sua grande parte, nas narrativas 
religiosas e científicas. A árvore expressava a narrativa eugênica de superioridade, 
o quão saudável ela esta, maiores as chances de longevidade, isso liga a vida 
humana, a perfeição está ligada ao êxito. A ideia de longevidade não é 
exclusividade dos eugenistas,e tão pouco nasceu com a teoria, a Santa Inquisição 13
10 DIWAN, Pietra. A Eugenia e sua genética histórica: A gênese de uma pseudociência. IN.Raça 
Pura: Uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007. P.21. 
11 STEPAN, Nancy. Ciência e conhecimento social. IN. A Hora da Eugenia: Raça, Gênero e nação na 
América latina. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. P.9. 
12 DIWAN, Pietra. Eugenia, o último tabu do século XX. IN. Raça Pura: Uma história da eugenia no 
Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 2007. P.14. 
13 Chamada também de Santo Ofício. Era uma Instituição formada pela tribunais da Igreja Católica, 
que perseguia, julgava e punia as pessoas acusadas de desviar-se das normas de conduta, 
condenados à decapitação ou a morte em fogueiras. 
 
6 
 
 
também foi uma forma de exterminar em busca da superioridade, porém ligada a 
ideia de “Vontade divina”, uma vez que ser diferente em tempos medievais era 
sinônimo de possessão, bruxarias ou heresia, passíveis sempre de condenações, 
muitas vezes em fogueiras. A inquisição em termos de extermínio, é quão ou mais 
cruel que o Nazismo , esse pautado de fato na ideia eugênica, se pensarmos que 14
na era medieval tudo era pautado em uma superioridade, ou seja, pela “Vontade 
divina”, ou pela hereditariedade, o poder de um grupo sobre o outro, só ajudou 
legitimar o que viria a ser a ideia eugênica. 
 
Francis Galton e a Eugenia 
 
Eugenia, deriva do grego “eugen-s” (Bem - nascido), palavra inventada por Francis 
Galton em 1883, para representar as possíveis aplicações sociais do conhecimento 
da hereditariedade para obter -se uma desejada “Melhor reprodução”. (Stepan, 
2005). Galton foi fundamental para formulação da eugenia, que buscava melhorar o 
estoque humano e impedir a degeneração do potencial genético, introduzindo a 
própria palavra eugenia na Faculdade humana, e foi fundamental para popularizar a 
noção entre os cientistas e intelectuais de sua época . 15
Francis Galton (1822 -1911), era um legítimo homem vitoriano, de origem 
aristocrata, membro de uma família burguesa próspera da cidade de Birmingham 
(Inglaterra), suas ideias estavam de acordo com pensamento da época, pautavam 
-se no Darwinismo Social que ganhava notoriedade na sociedade inglesa do fim do 
século XIX, especialmente após o lançamento do livro em “A Origem das Espécies” 
de Charles Darwin, primo de Galton . O parentesco de Darwin e Galton, ajudou na 16
elaboração da teoria, amplamente apoiado por seu primo, buscando legitimar a 
melhoria da raça humana, empenhado em provar seu dever com a ciência, Galton 
pautou boa parte de seu currículo na missão de melhorar o gene humano, para 
14 O Partido Nacional - Socialista, ou Nazismo, surgiu na Alemanha após o final da Primeira Guerra 
Mundial, com a chegada de Adolf Hitler ao poder. 
15 Trecho da revista “American Journal of Sociology”. volume X, Junho de 1904: Número 1. IN 
“Eugenicist”, <​www.galton.org​> 
16 Francis Galton era filho de Samuel Tertius Galton (1783 - 1844) e Frances Ann Violeta Darwin 
(1783 - 1874). Sua mãe era neta Erasmus Darwin,que por sua vez era avô de Charles Darwin, 
estabelecendo o parentesco entre Galton e Darwin. IN. “Ancestry of Francis Galton”, 
<​www.galton.org​> 
 
7 
http://www.galton.org/
http://www.galton.org/
 
 
Galton, a teoria poderia se converter em uma espécie de religião. Trazer para o 
mundo social as características da natureza e da vida animal a fim de aperfeiçoar a 
humanidade como se fossemos “Cavalos”, era uma teoria bem aceita na época. 17
Aproximação de Darwin e Galton não foi duradoura, uma vez que a interferência de 
Galton nas teorias de Darwin, causou a separação dos primos. Galton, criou uma 
técnica de análise chamada “Retratos Compostos”, que tinha como objetivo definir 
os padrões da personalidade através da características fisionômicas para entender 
a população. 18
Contra o Casamento originados “por gosto” ou seja, pelo amor, Galton defende no 
manifesto “Hereditary Improvement” de 1873, que o valor de uma raça é mais 
importante que sua educação e o meio ambiente, legitimando a ideia de que os não 
aptos não poderiam se reproduzir, pois poderiam pôr em risco a evolução da 
sociedade. Para a historiadora Nancy Stepan, a eugenia encorajou a administração 
científica e “racional” da composição hereditária da espécies humana. Introduziu 
também novas ideias sociais e políticas inovadoras potencialmente explosivas - com 
a seleção socialdeliberada contra os indivíduos supostamente “inadequados”, 
incluindo-se aí cirurgias esterilizadoras involuntárias e racismo genético. (Stepan, 
2005) É inegável que Francis Galton tornou -se o pai da eugenia, porém somente 
após sua morte em 1912, a teoria foi verdadeiramente levada em consideração na 
Inglaterra, já sendo amplamente adotada em terras norte americanas, atingindo 
status de ciência, ou de praticamente de uma religião, como Galton já esboçava o 
desejo de ser,porém,ainda não transformado em lei, como exemplo dos Estados 
unidos, que já em 1907, criou sua primeira lei de esterilização. 
A Inglaterra não via a necessidade de usar a teoria em forma de lei, apesar de já ser 
amplamente adotada por biólogos para resolver os problemas da sociedade. A 
eugenia chegou ao poder e foi usada como arma política de disseminação social e 
limpeza étnica. Alemanha,Estados Unidos e Escandinávia, seu maiores executores, 
17 DIWAN, Pietra. Raça Pura: Uma história da eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo:Contexto, 
2007. P.47. 
18 DIWAN, Pietra. Raça Pura: Uma história de eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo: Contexto, 
2007. P.43. 
 
8 
 
 
mas os cinco continentes se renderiam à ciência da boa linhagem. (DIWAN, 2007). 
 19
“A eugenia pode ser definida como ciência que trata daquelas 
agências sociais que influenciam, mental ou fisicamente, as 
qualidades raciais das futuras gerações” (Galton, 1906. P.3. Nota) 
 
A genética e a eugenia, por exemplo, criaram e deram significado científico e social 
a novos objetos de estudo, como os indivíduos ou grupos supostamente 
inadequados hereditariamente (ou “disgênicos”) que constituíam populações 
humanas particulares. Nesse sentido, a ciência é vista como uma força produtiva 
que gera conhecimento e práticas que conforma o mundo que vivemos (Nancy, 
2005) . Ao criar a eugenia, Galton procurou estabelecer um método científico de 20
controle das médias populacionais e sociais, com ele visava -se uma política de 
esterilização, restrição e limpeza, que seria usada como base, posteriormente, no 
governo extremista de Hitler e no Brasil como parte da construção de uma nova 21
nação, o que trataremos com maior profundidade nas próximas páginas. As 
condições de saúde provocadas pelo crescimento urbano, a industrialização, as 
péssimas condições de bairros operários e a proliferação de doenças, contribuíram 
para que a teoria de Francis Galton, fosse aceita por biólogos e intelectuais , a 
busca pelo “Melhor do ser humano”, faria a eugenia torna-se grande trunfo da 
sociedade moderna. 
 
Eugenia como arma ideológica, política e social. 
 
A eugenia tornou -se uma poderosa arma a favor da ideologia. “Hereditarizar” os 
comportamentos negativos tornou-se uma norma entre biólogos para resolver todos 
os problemas sociais em diversos países. O que se pode perceber, é que apesar 22
de amplamente defendida, a teoria não foi usada de forma homogênea em todos os 
19 Raça Pura: Uma história de eugenia no Brasil e no mundo. P. 46 
20 Hora da Eugenia: Raça, Gênero e nação na América Latina. P.17 
21 Adolf Hitler (1889 -1945), Chanceler da Alemanha, chegou ao poder através do Partido Nacional 
Nazista, estabelecendo um governo ditatorial. 
22 “Super Homem” no poder. IN Raça Pura: Uma história de eugenia no Brasil e no mundo. P.47. 
 
9 
 
 
lugares onde foi aplicada, se desenhando de diferentes formas de acordo com o 
país ou a época, alguns de forma mais amena, outros de modo radical. 
 
A ideia eugênica moderna se baseia em modelos políticos e 
filosóficos, legalizada em diversos países, por ir de acordo ao 
seus sistemas democráticos tradicionais. A eugenia estava 
ligada a conjunto de diferenças de sexo e gênero, a história 
frequentemente mencionam as relações da eugenia com as 
mulheres, mas consideram que esta relação era, geralmente, 
mais de passagem que um tema central. (STEPAN, 2005. 
P.17) 
 
A primeira lei de esterilização foi implantada no Estados unidos em 1907, seguindo 
o ideal de melhoria da raça, sob o pretexto de ser necessário a busca pelo ser 
humano perfeito. O modelo eugênico norte americano serviu como exemplo para 
Alemanha nazista, o difundindo de em uma escala jamais vista antes na história, a 
proposta incluía não sou a melhoria da raça, como o extermínio de qualquer um 
considerado não apto, dentre elas a deliberidade mental, esquizofrenia, psicopatia, 
epilepsia, cegueira e a surdez hereditária, assim como as posições políticas e 
crenças religiosas. As ideias eugênicas já estavam enraizadas na Alemanha, bem 
antes do Nazismo, passando por momentos distintos de sua história, porém 
somente com a chegada de Hitler ao poder, que ela ganhou proporções de 
atrocidade, a experiência do Nazismo serviu como exemplo histórico de onde a 
teoria eugênica pode chegar, em prol de uma melhoria racial, fazendo com que a 
teoria entrasse em declínio. Em meio a esse contexto, a teoria eugênica chegou ao 
Brasil recebida com grande entusiasmo por ir de acordo com o pensamento 
progressista republicano. Pensamento que já vinha sendo construído desde a 
entrada da república, a premissa era repetir o modelo de sucesso europeu em terras 
tupiniquins. De outro lado, porém, devido a sua interpretação pessimista de 
mestiçagem, tais teorias acabavam por inviabilizar um projeto que mal começara a 
se montar. 23
23 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo da miscigenação. IN. O espetáculo das Raças: Cientistas, 
instituições e questão racial no Brasil - 1870/ 1930. São Paulo: Cia das Letras, 1993. P. 24. 
 
10 
 
 
Era inviável para um país como o Brasil aderir a tal teoria, visto que sua mestiçagem 
iria de desencontro com a ideia de “Embranquecimento” defendida pela elite 
dominante. Raça no Brasil nunca foi um termo concreto, variando de acordo com a 
imagem expressada pela época, em certos momentos positivamente , em outros 
momentos negativamente, segundo o pensamento republicano, a miscigenação 
brasileira fadava o país ao fracasso. 
 
Foi no final do século do XIX, que os teóricos do darwinismo racial 
fizeram dos atributos externos e fenótipos elementos essenciais, 
definidores de moralidade e do devir dos povos. Vinculados e 
legitimados pela biologia, a grande ciência deste século , os modelos 
darwinistas sociais constituíram -se em instrumentos eficazes para 
julgar povos e culturas a partir de critérios deterministas. (Moritz, 
2012. P. 20) 24
 
Apesar de estar em declínio em boa parte da Europa, a eugenia parecia viável para 
Brasil. Era preciso algo que viesse de encontro ao pensamento progressista, seria 
preciso salvar o país do fracasso, cenário hereditário de anos de mestiçagem. Com 
a entrada da república, a ideia era que o Brasil se desligasse do passado colonial 
rumo a modernização, imprimindo um modelo europeu de sociedade. Para Nancy 
Stepan, eventual entusiasmo pela eugenia manifestados por médicos, cientistas e 
higienistas tem de ser visto como o apogeu de um longo processo de transformação 
intelectual e social que se desenhou ao longo do século XIX . 2524 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O laboratório Racial Brasileiro. IN. Nem preto, Nem Branco, muito pelo 
contrário: Cor e Raça na sociedade Brasileira. São Paulo: Claro Enigma, 2012. P. 20 
25 STEPAN, Nancy. Hora da Eugenia: Raça, gênero e nação na América Latina. P. 29. 
 
11 
 
 
Eugenia no Brasil 
 
A historiadora Nancy Leys Stepan, dedicou -se a estudar a relação da América 
latina com a eugenia. Sobre o Brasil, a autora aponta que o clima tropical 
predominante e sua população mestiça, seria de acordo com pensamento europeu 
uma terra disgênica, porém mesmo com esse cenário inviável, o país não ficaria de 
fora do movimento eugênico. Já em 1870, os jornais produzidos pelas Faculdades 
de Medicina, já pregavam uma higienização para sociedade brasileira, porém não 
havia de fato o contato com essa narrativa, que ainda se restringia aos setores 
acadêmicos onde a ideia eugênica já começava a ser difundida,porém conhecida 
sob o nome de Higienização. 
 
“Conflitos familiares, educação sexual, exames e atestados pré 
nupciais parecem ser assuntos que mais interessam aos eugenistas 
brasileiros, enquanto a genética,a seleção natural e social são 
bastante negligenciadas. A abordagem é mais sociológica que 
biológica”. (TROUNSON, 1931,apud, STEPAN,2004. p. 345 ) 26
 
A década de 70 é entendida com um marco para a história das idéias no Brasil, uma 
vez que Representa o momento de entrada de todo um novo ideário positivo- 
evolucionista em que os modelos raciais de análise cumprem um papel 
fundamental. Era um período de fortalecimento dos centros de ensino, surgimento 27
de faculdades, museus e institutos de pesquisas, estabelecendo novos modelos de 
análise, por outro lado a escravidão entrava em declínio, com a Lei do Ventre livre 
assinada 1871 , que viria culminar o surgimento dos movimentos abolicionistas, 28
que posteriormente influenciaram a abolição da escravidão no Brasil. 
26 STEPAN,Nancy. Eugenia no Brasil, 1917 - 1940. IN. HOCHMAN,G., ARMUS, D. orgs. Cuidar, 
controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América latina e Caribe. Coleção 
História e Saúde. Rio de janeiro: Fiocruz,2004. P.345. 
27 SCHWARCZ,Lilia Moritz. O Espetáculo da Miscigenação. IN. O Espetáculo das Raças: São Paulo: 
Cia das Letras, 1993. P. 19 
28 Assinada em 28 de setembro de 1871, A Lei do Ventre Livre é considerada um marco no processo 
de abolição da escravidão no Brasil. Qualquer gestão a partir daquela data, o bebê nasceria livre, a 
lei em questão não se aplicava às crianças, essa ainda continuariam sob a condição de cativo. IN. 
<Arquivonacional.gov.br/736-lei-do-ventre-livre> 
 
12 
 
 
Em meio a esse turbilhão, as teorias raciais ganharam força com uma elite que via 
o progresso de acordo com sua ótica, direcionando - as favor de seus interesses. O 
pensamento republicano quanto a nossa identidade eram baseadas em 
interpretações racistas do Brasil vindas de fora, o país era fortemente influenciado 
por essas narrativas. A visão europeia sobre o Brasil, era de um país degenerado, 
decorrente de um cruzamento promíscuo, produzindo assim um povo instável e 
incapaz de chegar a um progresso. A autora Nancy Stepan, disserta em seu 
trabalho “Eugenia no Brasil” (2004), as palavras do eugenista Britânico K. E. 
Trounson sobre o movimento eugênico Brasileiro: 
 
“Aparentemente os brasileiros interpretam a palavra [eugenia] 
de forma menos estrita que nós e fazem -na cobrir muitas 
coisas que chamariamos de higiene e sexologia elementar 
(Sic), e não se traça uma distinção muito clara entre as 
condições congênita devidas a acidentes pré natais e doenças 
estritamente genéticas” (TROUNSON,1931, apud, STEPAN, 
2004. P. 345 ) 29
 
As expectativas de progresso nacional inspirada pelo advento da República 
frustravam -se num regime que em muitos aspectos pouco representou de 
mudança a maioria da população, alijada, como sempre, dos espaços de articulação 
política, não obstante o caráter “Livre” e “democrático". Sérgio Buarque de 30
Holanda, discute em Raízes do Brasil, os moldes que nos tornaram, um país onde a 
democracia era vista como um “lamentável mal entendido”, indo de encontro aos 
interesses de uma aristocracia focada apenas na manutenção dos privilégios. Não 
por mera coincidência, o hino da república, criado em 1890, ecoava 
orgulhosamente: “Nós nem cremos que escravos outrora, tenha havido em tão 
nobre país” , apesar de recente, já acreditava- se que a escravidão seria passível 31
de esquecimento. 
29 STEPAN,Nancy. Eugenia no Brasil, 1917 - 1940. IN. HOCHMAN,G., ARMUS, D. orgs. Cuidar, 
controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América latina e Caribe. Coleção 
História e Saúde. Rio de janeiro: Fiocruz,2004. P.345. 
30BONFIM,Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar: Uma História da Eugenia no Brasil. 
Jundiaí: Paco Editorial, 2017. P. 35. 
31 SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem Preto,Nem Branco, muito pelo contrário. P.22 
 
13 
 
 
O palimpsesto social brasileiro: Deixando passado colonial rumo ao futuro 
cosmopolita. 
 
“O Brasil quer crescer, quer progredir, quer desenvolver-se, 
quer multiplicar -se , quer expandir -se, quer ocupar o lugar de 
destaque no convívio internacional. Isto é quer ocupar posição 
de real prestígio, de grande validade e notória capacidade no 
concerto das nações.” (Olegario de Moura. Vice - Presidente 
da Sociedade Eugênica de São Paulo - 1919) 32
 
A tentativa de apagar seu passado, renegar anos de escravidão e aqui construir 
uma nova terra, essa agora, pautada em um modelo europeu, fez com a eugenia 
ganha-se adeptos entre a elite intelectual brasileira. Identificados pela ideia de 
progresso e envoltos nas promessas expressadas pelo discursos eugênicos sobre 
um melhoramento racial, que seria perfeito para um país sem identidade e que 
precisava urgentemente evoluir, mesmo que fosse às custas de uma reformulação 
incompatível com a grande massa. A apropriação da eugenia por intelectuais 
brasileiros, face ao contexto apresentado, e a maneira como a educação foi 
aquilatada e ressignificada pelo adeptos dessa novidade científica , eram 33
perfeitamente compreensíveis com a mentalidade progressista da época. 
Com as concepções dos europeus acerca do empecilho do desenvolvimento do 
Brasil, a intelectualidade brasileira percebeu a necessidade de criar-se uma 
concepção sobre o Brasil. Com inspiração em Augusto Comte e sua ideia de 
sociedade organicista, buscavam sempre o melhor funcionamento da sociedade 
baseado na racionalidade, a partir de uma visão “laica, disciplinar e anticlerical”. 
Essa concepção é perceptível na frase “Ordem e Progresso” que até hoje (2019) 
estampa a bandeira nacional. O Brasil precisava se modernizar, para entrar no 34
mapa do mundo contemporâneo, precisava ser visto e reconhecido como uma 
nação, deixando o status de colônia para tornar-se uma terra cosmopolita. 
32 MOURA, Olegário. Saneamento, Eugenia e Civilização. IN Annaes de Eugenia. Sociedade 
Eugênica de São Paulo, 1919. P. 82 -90. 
33 BONFIM,Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar. P. 58. 
34 DIWAN, Pietra. Raça Pura: Uma História de Eugenia noBrasil e no mundo. São Paulo, Contexto, 
2007. 
 
14 
 
 
Com a abolição revolucionou-se cenário nacional, sendo a primeira decisão 
governamental em prol do bem da população. Assinada em 13 de maio de 1888, 
pela então regente, princesa Isabel, a lei dava tão sonhada liberdade para cerca de 
700 mil escravos, que se viram livres de sua servidão. Jornais louvavam a lei, 
Muitas páginas foram escritas em sua comemoração. Nas ruas, a população 
celebrou ruidosamente a emancipação dos escravos . O Brasil tornava -se uma 35
país de pessoas livres, a escravidão havia sido abolida e a princesa Isabel 
ovacionada com a heroína do povo. 
Na manhã do 14 de maio, o jornal Diário Popular estampava em sua capa em 
grandes letras garrafais , a manchete “A Lei Áurea” seguida de trechos da lei e um 
texto que explicava o leitor as causa que o que mudaria com entrada da lei: 
 
“Desde ontem nos transmitiu o telegrapho a íntegra do decreto que 
sancionou a lei da extinção do escravos: Decreto n. 9353, de 13 de 
maio de 1888, que extingue a escravidão no brasil. A princesa Isabel 
regente, em nome do imperador o sr. D. Pedro II, há por bem 
sancionar e mandar que se execute a seguinte resolução da 
Assembleia Geral: 
Art 1: É declarada, da data presente em lei, a extinta a escravidão no 
Brasil. 
Art 2: Revogam -se as disposições em contrário - Rodrigo Augusto da 
Silva, do conselho de sua magestade o imperador [...] assim tenha 
entendido e faça executar. 
Palácio do Rio de Janeiro em treze de maio de 1988 - por Isabel 
Princesa Imperial Regente. 
Bem raro, em nossa terra, o poder executivo é como agora, mero 
executor de um poder do povo. E trata -se da Lei Áurea, a grande lei 
regeneradora, a que a um tempo resgatar do cativeiro a raça 
malsinada, e ergue o país da aviltante ignomínia. 
(Américo Campos. Jornal Diário Popular. São Paulo, 14 de maio de 
1888. Ano. IV. N. 1048 ) 36
35 COSTA, Emília Viotti. A Abolição. 9 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2010. P.10 
36 Capa do jornal Diário Popular, Hoje Diário de S. Paulo. CAMPOS, Américo. A Lei Áurea. Diário 
Popular. São Paulo, 14. Maio. 1888. Ano. IV. N. 1048. 
 
15 
 
 
Dessa forma, por simples ato legislativo endossado pela coroa e aclamado pela 
grande maioria da população, eliminava -se uma instituição que vigorava por mais 
de três séculos . Acreditava -se que com o fim da abolição, a mesma seria 37
facilmente esquecida, o negro tornou -se “ livre” mas esta liberdade veio com o 
nascimento de um discurso etnológico que o encaixava em um “novo rótulo”, 
passava de escravo para alcunha de negro, isto é, uma nova denominação que 
apenas serviria para continuar o inferiorizado perante ao restante da sociedade. As 
antigas “máquinas de trabalho”, passaram a “objetos de ciência” de uma sociedade 
que os via como uma ameaça ao progresso, sua presença era sinônimo de um 
retrocesso inviável aos planos de elite, que desejava ser aceita em meio ao mundo 
cosmopolita. Parte da sociedade, principalmente para fazendeiros e donos de 
terras, a abolição não foi recebida positivamente. O fim da escravidão, foi sinônimo 
de ruína para os donos de terras, perdendo sua principal fonte de lucro, o que 
causou revoltas contra o governo, esperavam ressarcimento pela perda da mão de 
obra escrava. Os ex escravos foram abandonados à sua própria sorte. Caberia a 
eles, daí por diante, converter sua emancipação em realidade. Se a lei lhes garantia 
status de homens livres, ela não fornecia meios para tornar sua liberdade efetiva 
(Viotti, 2010) 
Largados à própria sorte, sem educação ou recompensa, os ex cativos juntaram se 
as correntes migratórias dos pobres sem profissão que fugiram para as cidades. 
Porém, com os planos de modernização urbana, facilitou -se a entrada de 
imigrantes europeus, em sua grande maioria italianos, a partir de 1890, o que 
tornava ainda mais difícil a inserção dos ex cativos no cenário industrial que nascia 
com a abertura da republica. Como o caso de São Paulo, o principal destino dos 
imigrantes italianos, que pulou de 129 mil habitantes em 1883, para 240 mil em 
1900, um aumento de quase 100% em 7 anos . Na abertura da republica, as 38
cidades ganham status de metrópole, se despedindo do passado colonial e 
monárquico. São Paulo, passa a concentrar o capital econômico, enquanto o Rio se 
concentrar a reforçar o status de capital, algo que já vinha desde 1808 quando 
passou a sediar o império português. O Brasil se abriu para uma revolução, 
37 COSTA, Emília Viotti. A Abolição. P. 11. 
38STEPAN, NL. Eugenia no Brasil, 1917-1940. P. 336 
 
16 
 
 
favorável a elite, uma vez que a modernização trouxe aos grande centros, 
iluminação nas ruas, avenidas arborizadas, saneamento básico e transporte de 
ponta, já para os pobres e ex cativos sobrou apenas moradias de condições 
insalubres, empregos com baixos salários e nenhuma condição de acesso à 
educação e saúde. Enquanto para elite, o acesso a educação era facilitado, aos 
pobres, o abismo era imenso, estudar no brasil na época era apenas para quem 
tinha posses. Com o intuito de segregar a educação de acordo com suas posses, 
surgiram no Brasil as primeiras instituições de ensino, a Escola Normal da Praça em 
São Paulo e o colégio Dom Pedro II no Rio de Janeiro, dois exemplos de um modelo 
de ensino que prezaria a posse em prol de criar uma geração educada a partir de 
um abismo social, que separaria a criança pobre e/ou negra, da criança branca de 
classe média. Surgiram assim as primeiras cartilhas com cunho eugênico, que 
ensinavam as crianças que ser branco era o certo, ser negro não. Higienizar ou 
eugenizar a população já era nos primeiros anos do século XX prioridade 
governamental apoiada pela elite intelectual republicana. 
 
“Concebido como célula mater do aparelho escolar paulista, e 
por extensão, da própria sociedade, o edifício da Escola 
Normal da Praça torna -se o padrão a ser adotado na 
construção dos grupos escolares e escolas normais do estado 
de São Paulo, na virada do XIX para o XX” (Monarcha, 2016. 
P. 98 ) 39
 
Antes mesmo de considerar o fator financeiro aliado a cor da pele para segregar a 
população, a miscigenação, já era pauta entre os intelectuais brasileiros, a prova 
disso é o quadro do pintor espanhol Modestos Brocos, ”A Redenção de Cam” 
retratando o embranquecimento através das gerações,expressando a ideia que já 
vinha sendo construída, de que a parcela negra da população seria nociva para 
brasil. Observado com cuidado pelo viajantes estrangeiros, analisado com ceticismo 
por cientistas americanos e europeus interessados na questão racial, temido por 
39 MONARCHA,Carlos. Arquitetura escolar republicana: A escola normal da praça e a construção de 
uma imagem de criança. IN: FREITAS, Marcos Cezar (org) História social da infância no Brasil. 9 ed. 
São Paulo: Cortez, 2016. 
 
17 
 
 
boa parte da elite pensante local, o cruzamento de raças era entendido, como efeito, 
como uma questão central paraa compreensão dos destinos da nação . 40
A definição de cor pode variar de acordo com seu grau de instrução ou de onde 
você vem, isso já era visto desde meados do século XIX. Segundo a Historiadora 
Enidelce Bertin , um problema comum antes da abolição era a variedade de termos 41
para definição da cor da pele, podendo ser norteada pela condição social, uma vez 
que tonalidade da pele poderia definir uma maior ou menor proximidade com a 
condição de liberto. Quanto maior era a aproximação com uma condição social 
favorável, mais o tom de pele poderia ser definido como pardo, algo que poderia 
em tese “retirar” alguém da condição de escravo. Já para a historiadora Lilia Moritz 
Schwarcz, assim que constatou -se que o brasil era de fato um país mestiço e 
negro, preferiu-se simplificar os termos relacionados a cor no censo demográfico, 
retirando a denominação nas pesquisas realizadas , mesmo que censos tenha 42
sido realizados periodicamente, o item “Cor” não era levado em consideração. 
 
“Historicamente, a formação na nação se constituiu em problema para 
os segmentos dominantes, sobretudo, a partir do século XIX, período 
de formação do Estado Nacional e após a República em 1889. A forte 
presença dos africanos escravizados no interior da sociedade 
brasileira de então se chocava com os preceitos ditados pelos 
pensamentos eugenistas que vigorava no Brasil em formação. 
(MENEZES, 2018. P. 35) 
 
Eugenia e a Regeneração Nacional 
 
Quatro fatores fizeram com que a elite republicana embriaga-se com as ideias 
eugênicas. O primeiro fator era aliado ao ideal de patriotismo e a tentativa de 
modernização das cidades, o que fez com que o Brasil estivesse mais próximo dos 
assuntos internacionais, despertando entre a elite intelectual republicana o interesse 
pelos ideais eugênicos. A imagem de “limpeza racial” expressadas na teorias de 
40 SCHWARCZ,Lilia Mortiz. O espetáculo das raças. P. 18. 
41 BERTIN, Enidelce. Relações escravistas, relações de gênero e as cartas de liberdade. IN. Alforrias 
na São Paulo do século XIX: Liberdade e dominação. P. 113. 
42 SCHWARCZ, Lilia Mortiz. Nem Preto, Nem Branco, muito pelo contrário. P; 97. 
 
18 
 
 
Francis Galton e difundida massivamente pela europa, era viável ao pensamento 
republicano brasileiro como solução as mazelas trazidas pela miscigenação, a tal 
limpeza sócio - racial remete também ao modo como deveriam agir os eugenistas, 
esfregando, torcendo e branqueando os corpos do povo brasileiro, como se fossem 
roupas sujas . 43
O segundo fator é era o imaginário internacional sobre o Brasil. A situação racial do 
Brasil no início do século XX, era de uma nação racialmente híbrida composta pela 
mistura de negros, indígenas e imigrantes europeus, que ao ver estrangeiro tornava 
o país uma terra de degenerados, socialmente instável e incapaz de progressão . 44
O terceiro fator, era a situação da ciência brasileira, éramos uma nação 
subdesenvolvida percorrendo o caminho de uma possível modernização, composta 
por uma população massivamente analfabeta e pobre, detentora de uma economia 
instável, e uma elite que que vivia em paradoxo fora da realidade nacional, tudo isso 
era aliado um fraco mercado de pesquisa científica, que se restringia em grande 
parte as escolas de medicina. O quarto e último fator, foi a adesão brasileira a 
primeira guerra mundial, que em tese trouxe valores antes não imprimidos na 
sociedade. O patriotismo, a ordem, a disciplina e a supremacia racial passaram a 
fazer parte do imaginário da elite brasileira. Para Nancy Stepan, a Eugenia brasileira 
se difere cientificamente e ideologicamente da Eugenia Nazista, norte americana e 
britânica. A variante brasileira, e que se espalhou também por toda a América Latina 
é derivada das concepções neolamarckianas . (STEPAN, 2004). 45
A ciência brasileira deriva da francesa, e na aplicação do aspectos eugênicos não 
houve diferenças entre as duas. Isso fica claro durante a primeira reunião da 
Sociedade eugênica de São Paulo , onde a pauta do ato foi inspirado 46
massivamente no modelo de sociedade francesa, assim como em outros aspectos 
da sociedade, se pensarmos que a reformulação urbana também inspirou -se no 
43 DIWAN, Pietra. O Paradoxo Tupiniquim. IN. Raça Pura: uma história de eugenia no Brasil e no 
mundo. P.87. 
44 STEPAN, Nancy. Eugenia no Brasil, 1917 - 1940. Rio de Janeiro: FioCruz, 2004) 
45 ​A teoria neolamarckista de Edward Cope operava com um mecanismo alternativo à seleção 
natural. Acréscimos ou decréscimos dos estágios ontogênicos produziram ​características que 
poderiam ser geradas e integradas ao organismo por meio da herança de caracteres adquiridos. 
46 ​Fundada em 1918, a ​Sociedade Eugênica de São Paulo​, foi a primeira do gênero da América 
Latina. Sob a liderança de Renato Kehl, o principal propagandista da eugenia no Brasil, a Sociedade 
reuniu mais de uma centena de associados, a maioria formada por médicos de São Paulo e Rio ​de 
Janeiro. 
 
19 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro_(estado)
 
 
modelo de sociedade francês. O modelo de sociedade francês iria de acordo com a 
moralidade da elite republicana, enxergando na regeneração racial uma aliada a 
doutrina católica praticada e pregada na sociedade da época. Sendo o primeiro, e 
maior propagandista da eugenia no brasil, Renato Kehl começou a organizar 47
reuniões, já em meado da década de 10, com médicos e cientistas objetivando 
discutir as teorias eugênicas de Francis Galton, assim criou em 1918, a primeira 
sociedade eugênica brasileira. Além de Kehl, diversos médicos foram inspirados 
pelo movimento internacional eugênico, passando a se envolver fervorosamente em 
defesa de uma pureza de raça no Brasil. 
Em meados da primeira década do século XX, o Rio de Janeiro passava por um 
período de turbulência. A então capital federativa, vivia sua primeira revolta contra 
as políticas públicas de Reformulação Urbana, a chamada Revolta da vacina era 48
uma resposta do povo para a campanha de vacinação compulsória contra 
proliferação varíola, proposta pelo médico e sanitarista Oswaldo Cruz e aprovada 49
pelo governo de Pereira Passos , Vacinar -se era visto com uma violação, porém 50
apesar das revoltas, para os médicos e sanitaristas uma coisa era certa: a 
emergência em curar um país enfermo. Para tornar o estado saudável, seria 
necessário extirpar todos os resquícios de nossa miscigenação. Civilizar nossa 
herança indígena, roubada pelos portugueses, e branquear nossa herança negra, 
desprezada após abolição da escravidão, em 1888 . Segundo o historiador Nicolau 51
Sevcenko, o regulamento proposto pela campanha de vacinação compulsória, era 
rígido impondo vacinações obrigatórias desde recém nascidos até idosos, 
ameaçando quem não às tomasse com demissões e multas. O objetivo era uma 
47 ​Renato Ferraz Kehl foi farmacêutico, médico, escritor e um influente eugenista brasileiro de início 
do século XX, o principal disseminador das teorias eugenista no Brasil. 
48 Revolta popular em resposta a campanha de vacinação compulsória contra varíola,proposta porOswaldo Cruz e aprovado pelo Prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos em novembro de 1904. 
Entre os dia 10 e 16 de novembro a cidade do Rio de Janeiro foi tomada por uma guerra 
generalizada com barricadas,saques e incêndios. 
49 Oswaldo Cruz, médico e sanitarista. Liderou campanhas sanitaristas entre 1903 -1909, tornando 
-se responsável pela direção do instituto Oswaldo Cruz, onde ficou até 1916. Idealizou a campanha 
de vacinação compulsória contra a varíola em 1904, durante a reformulação urbana do governo do 
prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos. Oswaldo Cruz foi um dos disseminadores das ideias 
eugênicas no Brasil. 
50 Pereira Passo, foi prefeito do Rio Janeiro entre 1903 e 1906. Responsável pelo transformação 
urbana do Rio de Janeiro. 
51 DIWAN, Pietra. O paradoxo tupiniquim. IN. Raça Pura: Uma história de eugenia no Brasil e no 
mundo. P.92. 
 
20 
 
 
aderência massiva e rápida, sem qualquer preocupação com psicológico da 
população, a ordem era submissão total a decisão do governo . A ideias eugenistas 52
surgiram em meio aos conflitos, propondo a solução de cura para o Brasil, muitos 
seriam os caminhos da cura, desde o branqueamento por cruzamento até o controle 
da imigração. A ideia de sociedade e o progresso nesse contexto não levava em 
conta nosso passado histórico, apenas se pautava em modelos universais, que para 
os intelectuais da época, era visto com uma lei natural de evolução, ou seja, algo 
que permitiria classificar o êxito de uma sociedade a partir de seu gene positivo, 
legitimando uma sociedade promissora, a que tivesse uma raça pura e digna de 
progresso. Foi com a popularidade que ganhou entre elite intelectual, que o 
movimento sanitarista pautou- se na eugenia, para legitimar a preocupação com o 
problema da regeneração nacional. Com isso, o desenvolvimento das ideias 
eugênicas no Brasil se favoreceu da perspectiva que via nas condições ambientais 
a responsabilidade pelas modificações dos seres humanos. Vale ressaltar que, o 
Brasil passava por uma massiva movimentação política e social, ações de caráter 
modernizante que visava uma espécie de evolução. Toda sociedade elabora seus 
próprios marcadores de diferença. Ou seja, transforma diferenças físicas em 
estereótipos sociais, em geral de inferioridade, e assim produz preconceito, 
discriminação e violência. 53
 
A relação entre os intelectuais e a Eugenia 
 
Muitos intelectuais da época, foram adeptos da eugenia, não há documentos que 
prove que tal autor foi eugenista, claro é preciso entender que o pensamento 
eugenista era algo da época, e muitos que aderiram a eugenia só expressavam o 
pensamento da elite republicana em relação ao Brasil. Ser eugenista não é uma 
condenação,mas sim uma constatação que muitos intelectuais do período 
compartilhavam e defendiam essas ideias . Apesar de Renato Kehl ter sido o maior 54
52 SEVCENKO,Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: 
Scipione, 1993. P. 17. 
53 SCHWARCZ, Lilia Moritz. Raça e gênero. IN. Sobre o Autoritarismo no Brasil. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2019. P. 174. 
54 DIWAN, Pietra. Raça Pura. P. 92 
 
21 
 
 
divulgador das idéias eugênicas no Brasil, outros pensadores tiveram ligação direta 
ou indiretamente com a eugenia, dentre eles Roquette Pinto, Oliveira Vianna, Vieira 
de Carvalho e Monteiro Lobato, todos tiveram sumariamente as menções a eugenia 
apagadas de suas biografias. Monteiro Lobato,em especial,teve sua obra editada 
para que algumas menções a um suposto discurso eugenista não constasse em seu 
currículo,principalmente as direcionadas ao público infantil, já trabalhos como 
Presidente Negro, seu único romance, foram propositalmente esquecidas ao longo 
dos anos, não ganhando poucas reedições (até o momento). 
 
“Os admiráveis processos hoje em emprego na criação dos belos 
cavalos puro sangue passaram a reger a criação do homem na 
América [...] Desaparecem os peludos - os surdos mudos, os 
aleijados, os loucos, os morféticos, os histéricos, os criminosos natos, 
os fanáticos, os gramáticos, os místicos,os vigaristas, os corruptores 
de donzelas, as prostitutas, a legião inteira de mal formados no físico 
e no moral, causadores de todas as perturbações da sociedade 
humana.” (Trecho de “O presidente Negro” - Choque de Raças, 
Monteiro Lobato. ) 55
 
O trecho de presidente negro acima, mostra a ideia eugenista contida na obra de 
Lobato, que direta ou indiretamente legitimam a necessidade de eugenizar a 
população. A defesa literária de Lobato a teoria eugenica não fica somente em 
“Presidente Negro”, outro exemplo claro é o personagem Jeca Tatu, que seria a 
expressão do pobre mestiço, o estereótipo de que seria um cidadão não privilegiado 
da época, sinônimo de indolência e debilidade física. Os aspectos imortalizados por 
Monteiro Lobato na figura estigmatizada do pobre mestiço Jeca Tatu, problemas 
sociais que assolavam as camadas populares não apenas no campo , seriam 
buscadas no domínio da raça. 56
55Trecho de “Presidente Negro” ou “Choque das Raças”, único romance escrito por Monteiro Lobato, 
lançado especialmente para o público Americano, o livro tratava de um futuro onde a eugenia dado 
certo, que a população negra seria mínima. O livro não foi bem aceito na época e até hoje é um livro 
esquecido na biografia do autor. O livro na época foi recebido como uma clara defesa as teoria de 
Kehl, era uma espécie de manifesto literário a favor da teoria eugênica. 
56 BONFIM, Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar. P. 36. 
 
22 
 
 
A ideia eugênica no Brasil data -se do início do século XX, em especial após a 
primeira reunião da Sociedade Eugênica de São Paulo, porém o racismo e a ideia 
de regeneração racial já estavam no imaginário intelectual, desde bem antes da 
abertura da Republica. Difundidas por aqui pelo contato com pensadores e 
intelectuais europeus, o Brasil tornou -se objeto de estudo de estrangeiros, que 
vinham ao país através de expedições visando registrar a fauna, flora e a 
sociedade, propagando internacionalmente a ideia de uma terra degenerada, 
composta por uma mistura racial massificada, sendo assim impossível a atingir o 
êxito social. A escolas de medicina tiveram um papel fundamental na propagação da 
ideia eugênica. Uma das figuras notáveis nesse campo, foi o médico e antropólogo 
Nina Rodrigues, precursor da medicina no Brasil e disseminador da eugenia, ele 
acreditava que a miscigenação era a única causadora do não progresso do país, já 
que seria o motivo da criminalidade, da loucura e proliferação de doenças. Segundo 
Paulo Ricardo Bonfim, Nina Rodrigues esforçou -se em estabelecer critérios 
rigorosos para a classificação da diversidade étnica na população 
brasileira.(BONFIM, 2017). 
 
“​Pode -se exigir que todas estas raças distintas respondam por seus 
atos perante a lei com igual plenitude de responsabilidade penal? [..] 
por ventura pode -se conceber que a consciência do direito e do 
dever que tem essas raças inferiores , seja a mesma que possui a 
raça branca civilizada?”(RODRIGUES, Nina. 1894. p. 106. apud 
Bonfim, 2017. p.38 ) 57
 
A Sociedade Eugênica de São Paulo e a Liga Brasileira de Higiene Mental 
 
Para elite republicana essa condição de “doente” da sociedade brasileira 
demandava uma busca urgente por uma cura para de mal que impedia o progresso 
da nação. Para Pietra Diwan, o nascimento de um projeto de nação para o século 
XX deveria ser lento e gradual para ocorrer uma transição “Saudável” (2007). 
Renato Kehl, já em 1917 discutia os benefícios da “nova ciência”, como era 
57 BONFIM, Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar. P. 38 
 
23 
 
 
denominada a eugenia, para sociedade, seu discurso daria origem um ano depois a 
Sociedade Eugênica de São Paulo - SESP que priorizaria a discussão do avanço 
nacional através de um olhar que primava pelas questões biológicas e sociais. 
Com 140 membros ativos, a SESP, visava disseminar entre médicos e intelectuais 
as ideias eugênicas, e discutir como aplicá -las na sociedade republicana. Sua 
efetiva fundação é datada de 15 de janeiro de 1918, sediada no Salão Nobre da 
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde também aconteciam as sessões da 
Sociedade de Medicina e Cirurgia . A SESP foi considerada a primeira associação 58
dedicada a eugenia da América latina, seu exemplo foi posteriormente seguido pela 
Argentina com Sociedade Eugênica Argentina e no Peru com a Sociedade Eugênica 
do Peru, a SESP foi criada poucos anos após a criação das sociedades eugênicas 
na Inglaterra e França, seguindo no Brasil o mesmo modelo já realizado nas demais 
associações. A importância da SESP na esfera pública vai de encontro com a 
credibilidade passada pelas ideias expressas na associação, obtendo uma 
repercussão positiva na imprensa da época, consolidando sua existência. Os 
discursos eram reproduzidos em grande jornais, disseminando as ideias em 
diferentes esferas da sociedade, não ficando restrito somente a elite, essa 
repercussão fez com a ideias eugênicas ganha -se rapida popularidade e aderencia 
da sociedade. 
O corpo administrativo da SESP era composto por Arnaldo Vieira de Carvalho 
(Presidente), Olegario de Moura (Vice - presidente), Renato Kehl ( Secretário Geral), 
Argemiro Siqueira (Tesoureiro) e no conselho consultivo seguia o trio Arthur Neiva, 
Franco da Rocha e Rubião Meira. SESP tinha de acordo com seu estatuto interno o 
seguinte objetivo: 
“Estudar as leis de hereditariedade, a regulamentação do meretrício 
dos casamentos e da imigração, a técnicas de esterilização, o exame 
pré nupcial, a divulgação da eugenia, estudo e a aplicação das 
questões relativas à influência do meio, do estado económico, da 
legislação, dos costumes, do valor das gerações sucessivas e sobre 
aptidões físicas, intelectuais e morais” (DIWAN, 2007. P.100) 
 
58 DIWAN, Pietra. Raça Pura. P. 97. O Paradoxo Tupiniquim. 
 
24 
 
 
Foi a partir da publicação no Annales da Eugenia, que a SESP, teve sua primeira 
grande realização, nele foram publicada as conferências com os associados junto a 
artigos produzidos, sempre pautando -se no tema eugênico usado como base para 
legitimar ações de intervenção na sociedade republicana. A durabilidade da SESP 
não foi longa, primeiro pelo decorrer do falecimento de Vieira de Carvalho, então 
presidente da associação, e por conta da mudança de Kehl para o Rio de Janeiro, 
apesar de uma vida curta, sua representatividade contribuiu para construção de 
uma mentalidade em relação a eugenia, mobilizando médicos e intelectuais e 
disseminando a ideia de melhoria da sociedade através do combate aos males 
causados pela miscigenação. A militância de Kehl em prol da eugenia, o tornou uma 
personalidade pública, requisitado pela imprensa e bem articulado no meio 
científico, o eugenia adquiriu grande prestígio social aproximando das duas 
principais frentes da época, as reformas sanitárias e as educacionais . 59
 
“A solução [..] é a política eugênica com o saneamento, e a 
com o combate ao descaramento dos dirigentes e a 
politicagem, é a criação de escolas de civismo para os que 
sabem ler e escolas de a.b.c. para os analfabetos. O ensino 
de preceitos elementares de higiene, em suma, a implantação 
no espirito publico da consciencia sanitaria e da consciência 
cívica.” (KEHL, 1923. apud, BONFIM, 2017. P.121) 
 
A liga Brasileira de Higiene Mental foi criada por Gustavo Riedel , com a intenção 60
de aperfeiçoar a assistência e os cuidados aos doentes mentais. Faziam parte da 
liga, médicos, psiquiatras, educadores e intelectuais. Seu alcance ia desde de uma 
revista própria da liga intitulada “Arquivos Brasileiros de Hygiene Mental ”, até uso 61
da imprensa, com pronunciamentos radiofônicos e panfletos. Como pretendia 
oferecer serviços à população, a liga também foi abrangente, incluindo um 
59 BONFIM, Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar . P.119. 
60 Gustavo Riedel, foi psiquiatra responsável pelo primeiro consultório psiquiátrico do Brasil. Foi 
membro titular da Academia Nacional de Medicina e médico no Hospício Nacional dos Alienados, sua 
gestão causou uma série de mudanças na instituição, influencia na ideia de assistência psiquiátrica 
na época. Foi presidente e fundador da Liga Brasileira de Higiene Mental em 1922. 
61 Principal meio de disseminação das ideias da Liga Brasileira de Higiene Mental, editada de 1925 a 
1947. 
 
25 
 
 
consultório gratuito de psicanálise, montagem de laboratório de psicologia avançada 
e aplicação de teste em escolas. (REIS, 1994). A LBHM se aproxima das ideias 
eugênicas, uma vez que a questão dos não aptos era tratada com uma patologia 
mental. A eugenia foi a justificativa para que a liga chegasse ao êxito em sua 
missão, o que interessava ao LBHM era prevenção e não cura, o que em tese não 
deixa livre da característica eugênica, pois seu alvo era o indivíduo comum. Sendo 
assim, o programa promovido pela liga era direcionado ao pobres, visto como 
criminalmente insanos, de onde viriam as patologias como crime, delinquência e 
prostituição. (BONFIM, 2017) Compreender -se que o objetivo a ser atingido na 
aplicação dos meios terapêuticos e higiênicos tenha aumentado consideravelmente. 
De fato, não estamos diante de um homem isolado, mas sim na presença de uma 
sociedade, e o poderio dos meios de ação deverá ser proporcional à importância do 
objetivo. O pensamento eugênico se aproveita da biologia para legitimar 62
preconceitos, caráter torna-se ideológico a científico. Legitimar suas ações, uma 
vez que o alvo era sempre o pobre, mestiço e negro. 
 
Eugenia e a Educação 
 
Outra esfera influenciada pela eugenia foi a educação. Através do “Boletim da 
Eugenia” , propagava- se as ações voltadas para educação pautadas na eugenia 63
positiva , procurando favorecer ao fomento de uma geração “eugenizada”. Renato 64
Kehl defendia que as características herdadas eram mais decisivas do que o meio 
que se habita, sendo assim a educação deveria servir como instrumento 
aprimoração de qualidades e aptidões. Acreditava - se que as características 
positivas não poderiam ser alteradas,uma vez que o indivíduo nascia ou não com 
ela, a partir dessa ideia usaria a educação para desenvolver uma consciência 
eugênica, ou seja, era ensinado que não deveria haver consumar relações ou 
62 REIS, José Roberto Franco. Higiene Mental e a eugenia: Projeto de regeneração nacional da Liga 
Brasileira de higiene mental (1920- 1930) 1994. P.19 
63 O Boletim da Eugenia era uma espécie de periódico sobre disseminação das ideias eugênicas. 
Idealizada por Renato Kehl, era algo voltada aos intelectuais, a publicação foi financiada com recurso 
próprios de Kehl, vinculando pequenos artigos, geralmente de médicos voltadas a intenção de 
popularizar as ideia da teoria Galteana. 
64 ​A eugenia positiva tinha como objetivos centrais propiciar a seleção eugênica na orientação aos 
casamentos e estimular a procriação dos casais considerados eugenicamente aptos para tal​. 
 
26 
 
 
matrimônio com raças diferentes (ou inferiores). As características não aptas de 
indivíduo os denunciavam com disgênicos ou eugênicos, acreditava -se que ações 
educativas não poderia mudar essas características, mas eram necessárias para se 
entender os perigos da miscigenação. Já para o indivíduo considerado apto, era 
direcionado a uma educação que priorizaria suas características e o ajudaria a 
aprimorar sua linhagem. O uso da educação física era um meio encontrado para o 
ideal eugênico, uma vez que com ela priorizaria e aprimorar o condicionamento 
físico, além de ensinar a disciplina e a moral. 
 
“A instrução e a educação podem engrandecer pelo cultivo de 
algumas qualidades e restringir outras, poderão dar um verniz 
mediante o qual são disfarçados em parte ao feio moral, porém não 
lograram crear um caráter que em estado rudimentar se se trasmitta 
por hereditariedade” (KEHL, 1929. apud, BOMFIM, 2017. P.141 ) 65
 
Tendo em vista sua aplicação relacionada a eugenia, a educação foi fortemente 
influenciada pela teoria. Suas práticas e medidas, tiveram exemplos com o ensino 
obrigatório de educação física nas escolas, que aplicado até hoje no sistema 
educacional. Pretendia -se criar um sistema que buscava desenvolver uma nação 
evoluída e saudável, esse modelo foi amplamente aceito na sociedade da época por 
de encontro com a mentalidade construída com a abertura da republica e legitimava 
a imaginário da elite sobre os perigos de seguirmos em uma nação mestiça. 
 
“Tem os leitores o primeiro número do Boletim da Eugenia. 
Aparece modestamente: pequeno formato, poucas páginas. 
Promette pouco, deseja apenas, auxiliar a campanha em prol 
da Eugenia entre os elementos cultos e entre os elementos, 
que, embora de mediana cultura, desejam, também orientar 
-se sobre o momento assumpto” ( Apresentação do Boletim da 
Eugenia - jan. KEHL,1929.apud, BOMFIM, 2017. P.148) 
 
 
65 BONFIM, Paulo Ricardo. Educar, Higienizar e Regenerar. Boletim da Eugenia P. 141 e 148 
 
27 
 
 
O esquecimento da Eugenia 
 
Sabe -se que quando a eugenia foi efetivamente aplicada no Brasil, a teoria já 
encontrava -se em processo de desuso em outros países. Um dos motivos que 
levou ao processo de desuso da eugenia, foi a ascensão de Hitler ao poder, e sua 
campanha de extermínio, o exemplo deixado pelo nazismo de onde a eugenia pode 
chegar, se usada para legitimar uma ideia extremista, fez com os especialistas re 
considerassem a então concepção de “ciência” da eugenia. Em contraponto ao 
cenário europeu, o Brasil mostrava -se cada vez mais encantado pelas ideias 
eugênicas, disseminado a necessidade de eugenizar a população para um êxito 
nacional, Preservar o futuro racial do Brasil, sua unidade nacional e sua 
homogeneização ao longo de toda a década de 1920, e sendo intensificada na era 
vargas (DIWAN, 2007). 
Todo o contexto político e as ações governamentais adotadas pelo governo Vargas 
mantinham em tese as ideias eugênicas, uma vez que a proposta nacionalista do 66
governo se inspirava na ideial nazifacista. Pregando a radicalização das políticas 
nacionalistas, aproximavam- se do discurso eugênico, ou seja, era segregar em prol 
do nacionalismo. A ordem era que nenhum país precisava tanto melhorar sua raça, 
quanto o Brasil. O cruzamento prol melhoramento disseminado por Kehl, era ideal 
para o brasileiro entender a importância de se interessar pelos “problemas vitais de 
toda a ordem”. (DIWAN, 2007) O livro “Lições de Eugenia”, escrito por Renato Kehl 
em 1929, se resumia em um livro sobre patriotismo, e disseminador das ideias 
eugênicas em um discurso positivista sobre os benefício que eugênia trás para uma 
nação. O discurso de KEHL apesar de em tese estar de acordo com ideia 
nacionalista de Vargas, entrou em declínio após o acordo da política da “Boa 
Vizinhança ”, ação governamental em prol da construção de uma identidade 67
66 Líder da Revolução de 1930, responsável pelo fim da chamada Primeira república. Presidente do 
Brasil e dois períodos, de 1930 a 1945, primeiramente com o chamado “Estado Provisório” e 
posteriormente no chamado “Estado Novo”, ou Ditadura Varguista. Voltando à presidência em 1951, 
ficando até 1954 quando cometeu suicídio com um tiro no coração. Conhecido como Pai do Povo, foi 
responsável pela primeira legislação trabalhista Brasileira. Seu governo é conhecido com Getulismo 
ou Varguismo. 
67 Política criada durante o governo Vargas para a criação de uma identidade nacional Brasileira. 
Trava -se de um acordo de interesse de ambas as partes, que visava o livre comércio entre Brasil e 
EUA, Além da ampla divulgação das beleza brasileira incentivando o turismo ao país. 
 
28 
 
 
nacional Brasileira , dentre elas a produção do personagem Zé Carioca pelo 68
estúdios Walt Disney. O alinhamento do Brasil com os Estados Unidos foi uma 
moeda de troca favorável para ambas as parte, para os Estados Unidos o país era 
um aliado durante a Segunda Guerra Mundial, para o Brasil os norte americanos 
tornaram-se financiadores da modernização nacional. 
O eugenismo caiu em desuso no Brasil em meio ao contexto do acordo comercial 
entre o Brasil e Estados Unidos, e a política da Boa Vizinhança. Nesse contexto a 
ideia eugênica ganhou status de intolerante e violenta, passando a ser considerado 
reacionários os adeptos a teorias, assim a legião de apoiadores da eugenia 
desaparecem da cena política ou mudam o discurso com a intenção de apagar 
qualquer ligação com o movimento eugênico. Hoje é difícil encontrar na biografia de 
qualquer um dos intelectuais e pensadores eugênicos algum ponto que os liguem 
com a eugenia, historicamente somente Renato Kehl carregou o estigma de ser 
eugenista. 
 
“Apesar de Renato Kehl não ser o único eugenista 
brasileiro, sem dúvida foi ele que melhor planificou e 
expressou os desejos e anseios de todos os 
eugenistas em nosso país” (DIWAN,2007. P. 123) 
 
“Os eugenistas brasileiros, fizeram dessas teorias uma 
arranjo único, sem , contudo, produzir consensos, 
singularizando a experiência brasileira na apropriação 
e desenvolvimento da ciência eugenica” (STEPAN, 
2005. apud, BONFIM, 2017. P.26) 
 
 
 
 
 
68 Personagemcriado para o filme “Alô amigos, Zé Carioca foi criado para expressar a imagem do 
brasileiro, pautada na narrativa do malandro e cordial. 
 
29 
 
 
Considerações Finais. 
 
No brasil, o sistema escravocrata transformou - se num modelo tão enraizado que 
acabou se convertendo numa linguagem, com graves consequências. Gravou -se 
por aqui, do século XVI ao XIX, uma escandalosa injustiça amparada pela artimanha 
da legalidade . A escravidão teve seu fim 1888, apresentando -se como uma 69
solução a questão dos cativos, representando uma reparação social por anos de 
liberdade perdida, inaugurando no Brasil um período de “pós emancipação” que 
teve data protocolada de início, mas sem previsão de término. Em meio a esse 
contexto as teorias pautadas no darwinismo social, ganharam força no continente 
europeu e chegando até o Brasil, rapidamente disseminadas por uma elite que se 
via ameaçada pelo passado escravista, e miscigenação decorrente dele. 
O período pós abolição não significou a chegada de uma sociedade igualitária, 
muito pelo contrário, em tese o ex cativo era livre, mas na prática a liberdade não 
significava direitos, uma vez que não havia respaldo governamental que facilita -se 
sua inserção no mercado de trabalho. Os avanços decorrentes das reformas 
urbanas, beneficiaram apenas a elite, que continuavam a dominar o meios de 
produção. Estigmatizados como ser inferiores, foi construído uma imagem 
estereotipada em relação a população ex cativa, reservando um espaço 
secundarista na história, que ainda reflete -se na atualidade. A ideia eugênica foi 
amparada pela ciência, ganhando um status de quase religião. Se via nela, a 
solução para todas as mazelas que miscigenação pode causar em uma sociedade. 
Legitimando a superioridade de uma raça sobre a outra, eugenizar seria o caminho 
ideal para uma sociedade desesperada por uma identidade nacional, porém 
pautada na construção de padrão incompatível com sua realidade. A solução seria 
“Limpar” todo e qualquer ser que fosse contra o pensamento progressista. 
É inegável que a eugenia foi um projeto sem êxito, uma vez que apesar do que 
acreditava -se, não houve embranquecimento, não nos tornamos uma sociedade 
pura, e muito menos europeia. A mentalidade eugenista prevaleceu na sociedade 
mesmo após o declínio da teoria, podendo ser vista quando se estuda mais a 
69 SCHWARCZ, Lilia Moritz. Escravidão e racismo. IN. Sobre o autoritarismo no brasil. P.27. 
 
30 
 
 
fundo as questões das políticas sociais e inserção da população pobre e negra em 
universidades, no mercado de trabalho e assim como sua representatividade nos 
meios de comunicação (Tv, Cinema e teatro). Estigmatizado como o historicamente 
excluído, pouco se vê negros em cargos de poder, ou profissões elitistas (Medicina, 
direito, engenharia). Sua imagem na tv é sempre limitada a pequenos papéis, quase 
sempre reduzidos ao elenco secundário como empregadas domésticas, motoristas 
e porteiros, ou caindo em personagens caricatos quando o assunto são programas 
de humor, já que para programas do estilo o negro é sempre visto como alguém 
com de má índole ou facilmente enganado. 
Segundo Joan ferres, os estereótipos são representações sociais, 
institucionalizadas, reiteradas e reducionistas, são representações sociais porque se 
pressupõe uma visão compartilhada que um coletivo social possui sobre outro 
coletivo social (FERRES, 1998 ), este estereótipo ajuda a legitimar a imagem do 70
negro e pobre perante a sociedade, pautada na herança histórica deixada pela 
segregação racial, que nada mais é do que a retirada de direitos de grupo social, 
para super valorizar outro grupo social. 
Em contraponto, no Brasil nasceu a negação ao seu tom de pele. Do mesmo modo 
que os eugenista no meados da primeira década do século XX, usavam as teorias 
eugênicas para legitimar o ideal de uma raça pura, construi -se a longo dos anos a 
mentalidade embranquecimento social, causado por uma espécie de ascensão do 
negro na sociedade, ou seja, a medida que o negro conquista um novo status, ele 
deixa gradualmente de ser visto como negro. Estamos falando de um certo “Uso 
social” da cor, que não só leva a terminologia a se mostrar subjetiva com torna seu 
uso, um objeto de disputa. (SCHWARCZ, 2012 ). 71
A história social é composta de uma organização e sucessão de processos, ou seja, 
transformações sociais, étnicas e políticas que ajudam o entender o contexto do fato 
histórico estudado. Dentro desse âmbito, do historiador dedica um estudo específico 
para compreender determinado grupo ou época , traçar um panorama crítico sobre 
a questão (Barros, 2009 ). 72
70 FERRÉS, Joan. Os estereótipos como inversão da sedução. IN. Televisão Subliminar: Socializando 
através da comunicação despercebida. P. 135) 
71 SCHWARCZ,LILIA Moritz. Nem Preto, Nem Branco, muito pelo contrário. P104 
72 Barros, José D’assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. P.112 
 
31 
 
 
A visão do historiador é analisar o passado de forma documental, onde todos os 
fatores envolvem o que se deve estudar, quando se trata de tema voltado às 
classes sociais, partimos do pressuposto que as diferenças são apenas físicas, 
porém ao ver em suma verdade, a mentalidade da elite reduz, e esse grupo social, 
um estereótipo que o coloca em uma “visão mesquinha”, mas mesmo tem uma a 
capacidade muito além das teorias. Ao estudar a construção da sociedade, e as 
influências que a segregação sócio - racial pode causar sobre determinado grupo, 
nos ajuda a compreender o quadro social de nosso tempo, objetivando uma 
discussão sobre as linearidades, continuidades e rupturas da história. 
É inegável que a abolição não representou de fato uma libertação ao negro, é como 
se vivêssemos um eterno 14 de maio, onde processo de inserção na sociedade é 
contínuo, onde a luta por “um lugar ao sol”, está inserida no dia a dia do negro 
estigmatizado, assim como seus ancestrais, a sempre estar como antagonista da 
história.(SCHWARCZ, 2019 ) Vivemos uma em sociedade que diz plural, mas que 73
reprime as pessoas de acordo com tom de sua pele ou de suas posses, a mesma 
sociedade que em época de carnaval coloca como “identidade nacional”, uma 
cultura apropriada de um grupo que é “diminuído” durante todo o resto do ano. 
Podemos dizer que vivemos uma espécie de “neo - eugenia”, não tão radical quanto 
o movimento eugênico do início do século XX, mas que em termos de segregação, 
exclusão e intolerância está equiparado. Legitimado por ideias conservadoras, 
figuras políticas populistas e uma mentalidade pautada em discurso social em prol 
da família e dos bons costumes, onde todos que fogem desse do “Modelo” são 
automaticamente visto como ameaça para avanço da nação. 
 
 
 
 
 
 
73 SCHWARCZ, Lilia Mortiz. História não é bula de remédio. IN. Sobre o autoritarismo brasileiro. São 
Paulo: Cia das Letras, 2019. 
 
32 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
Livros: 
 
BARROS, José D’ assunção. O campo da História: especialidade e abordagens. ed. 
6. Rio de Janeiro: Vozes, 2009 
BERTIN,

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