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1 OS: 0008/4/18-Gil CONCURSO: CARREIRAS POLICIAIS – Polícia Civil ASSUNTO: 1 – Aplicação da Lei Processual Penal... 01 2 – Princípios Constitucionais... 02 3 – Sistemas Processuais... 05 4 – Inquérito Policial... 06 5 – Ação Penal... 13 6 – Competência... 18 7 – Medidas Cautelares... 22 8 – Teoria Geral da Prova no Processo Penal... 31 9 – Código de Processo Penal... 37 10 – Questões de Concursos... 67 Capítulo 1 Aplicação da Lei Processual Penal LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO O estudo da aplicabilidade da Lei Processual Penal está relacionado à sua aptidão para produzir efeitos. Essa aptidão para produzir efeitos está ligada a dois fatores: espacial e temporal. Assim, a norma processual penal (como qualquer outra) vigora em determinado lugar e em determinado momento. Nesse sentido, devemos analisar onde e quando a lei processual penal brasileira se aplica. O art. 1º do CPP diz o seguinte: Art. 1ºO processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,ressalvados: I- ostratados, as convenções e regras de direito internacional; II- asprerrogativas constitucionaisdo Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); III- os processos da competência daJustiça Militar; IV- os processos da competência dotribunal especial (Constituição, art. 122, no17); I V- os processos porcrimes de imprensa. Vide ADPF nº 130 Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. Assim, podemos perceber que o CPP adotou, como regra, o princípio da territorialidade. O que seria esse princípio? Esse princípio determina que a lei produzirá seus efeitos dentro do território nacional. Desta maneira, o CPP é a lei aplicável ao processo e julgamento das infrações penais no Brasil. As regras de aplicação da Lei Penal brasileira estão no Código Penal, mas isso não nos interessa aqui. O que nos interessa é o seguinte: Se for caso de aplicação da Lei Penal brasileira, as regras do processo serão aquelas previstas no CPP, em todo o território nacional. Portanto, não se admite a existência de Códigos Processuais estaduais, até porque compete privativamente à União legislar sobre direito processual, nos termos da Constituição Federal: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal,processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Como disse a vocês, esta é a regra! Mas toda regra possui exceções. São elas: A) Tratados, convenções e regras de Direito Internacional B) Jurisdição política- Prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100) C) Processos de competência da Justiça Eleitoral D) Processos de competência da Justiça Militar E) Legislação especial Assim, o CPP é aplicável aos processos de natureza criminal que tramitem no território nacional, com as ressalvas feitas anteriormente. Em relação aos tratados internacionais, ao julgamento dos crimes de responsabilidade, aos 2 OS: 0008/4/18-Gil procedimentos previstos na Legislação especial e aos processos criminais da Justiça Eleitoral, o CPP é aplicável de forma subsidiária. Em relação aos processos penais da Justiça Militar, há divergência doutrinária. Há quem sustente que, em relação aos processos da Justiça Militar o CPP não é aplicável nem mesmo de forma subsidiária, pois o CPPM é suficientemente abrangente. Prevalece, contudo, o entendimento de que o CPP é aplicável de forma subsidiária(há previsão nesse sentido, no próprio CPPM). Além disso, o CPP só é aplicável aos atos processuais praticados no território nacional.Se, por algum motivo, o ato processual tiver de ser praticado no exterior (oitiva de testemunha, etc.), por meio de carta rogatória (ou outro instrumento de cooperação jurídica internacional), serão aplicadas as regras processuais do país em que o ato for praticado. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO Nos termos do art. 2° do CPP: Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Por este artigo podemos extrair o princípio do tempus regit actum, também conhecido como princípio do efeito imediato ou aplicação imediata da lei processual.Este princípio significa que a lei processual Assim, vocês devem ter muito cuidado! Ainda que o processo tenha se iniciado sob a vigência de uma lei, sobrevindo outra norma, alterando o CPP (ainda que mais gravosa ao réu), esta será aplicada aos atos futuros. Ou seja, a lei nova não pode retroagir para alcançar atos processuais já praticados, mas se aplica aos atos futuros dos processos em curso. Esta possibilidade não ofende o art. 5°, XL da Constituição Federal, que diz: XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; _______________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Capítulo 2 Princípios Constitucionais PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (OU DA NÃO CULPABILIDADE) DUDH – Art. 11.1: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa”. É o direito de não ser declarado culpado senão mediante sentença transitada em julgado, ao término do processo legal, em que o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para sua defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório). Assim, enquanto não houver uma sentença criminal condenatória irrecorrível, o acusado não pode ser considerado culpado e, portanto, não pode sofrer as consequências da condenação. Desse princípio decorre que o ônus (obrigação) da prova cabe ao acusador (MP ou ofendido, conforme o caso). O réu é, desde o começo, inocente, até que o acusador prove sua culpa. Em razão dele existe, ainda, o princípio do in dubio pro reo ou favor rei, segundo o qual, durante o processo (inclusive na sentença), havendo dúvidas acerca da culpa ou não do acusado, deverá o Juiz decidir em favor deste, pois sua culpa não foi cabalmente comprovada. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL OU JUIZ LEGAL Deve ser compreendido como o direito que cada cidadão tem de saber, previamente, a autoridade que irá processá lo, bem como julgá-lo, caso venha a praticar uma conduta definida como infração penal pelo ordenamento jurídico. Juiz natural ou legal é aquele constituído antes do fato delituoso a ser julgado, mediante regras taxativas de competência estabelecidas em lei. Assegurar que as partes sejam julgadas por um juiz imparcial e independente. Para grande parte da doutrina, a primeira vez que o princípio do Juiz Natural surgiu com tal denominação foi mesmo na Carta Constitucional Francesa de 1814. Boa parte da Doutrina sustenta, ainda, a existência do princípio do Promotor Natural. Tal princípio estabelece que toda pessoa tem direito de ser acusada pela autoridade competente. Assim, é vedada a designação pelo Procurador Geral de Justiça de um Promotor paraatuar especificamente num determinado caso. Isso seria simplesmente um acusador de exceção, alguém que não estava previamente definido como o Promotor (ou um dos Promotores) que poderia receber o caso, mas alguém que foi definido como o 3 OS: 0008/4/18-Gil acusador de um réu após a prática do fato, cuja finalidade é fazer com que o acusado seja processado por alguém que possui determinada característica (Promotor mais brando ou mais severo, a depender do infrator). Entretanto, a definição de atribuições especializadas (Promotor para crimes ambientais, crimes contra a ordem financeira, etc.) não viola este princípio, pois não se está estabelecendo uma atribuição casuística, apenas para determinado caso, mas uma atribuição abstrata, que se aplicará a todo e qualquer caso semelhante. É exatamente o mesmo que ocorre em relação às Varas especializadas. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL Esse princípio é o que se pode chamar de base principal do Direito Processual brasileiro, pois todos os outros, de uma forma ou de outra, encontram nele seu fundamento. Este princípio está previsto no art. 5º, LIV da CRFB/88, nos seguintes termos: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; Assim, a Constituição estabelece que ninguém poderá sofrer privação de sua liberdade ou de seus bens sem que haja um processo prévio, em que lhe seja assegurada toda a sorte de instrumentos de defesa. Elementos essenciais dodevido processo legal: direito ao processo; direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação; direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas; direito ao contraditório e à plenitude de defesa (autodefesa e defesa técnica); direito de não ser processado e julgado com base em leis ex post facto; direito à igualdade entre as partes; direito de não ser processado com fundamento em provas revistas de ilicitude; direito ao benefício da gratuidade; direito à observância do princípio do juiz natural; direito ao silêncio (contra autoincriminação); direito à prova; direito de presença e participação ativa nos atos de interrogatório judicial dos demais litisconsortes penais passivos, quando existentes. PRINCÍPIO VEDAÇÃO PROVAS ILÍCITAS No nosso sistema processual penal vige o princípio do livre convencimento motivado do Juiz, ou seja, o Juiz não está obrigado a decidir conforme determinada prova (confissão, por exemplo), podendo decidir da forma que entender, desde que fundamente sua decisão em alguma das provas produzidas nos autos do processo. Em razão disso, às partes é conferido o direito de produzir as provas que entendam necessárias para convencer o Juiz a acatar sua tese. Entretanto, esse direito probatório não é ilimitado, encontrando limites nos direitos fundamentais previstos na Constituição. Essa limitação encontra-se no art. 5°, LVI da Constituição. Vejamos: LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; Vejam que a Constituição é clara ao dizer que não se admitem no processo as provas que tenham sido obtidas por meios ilícitos. Mas o que seriam meios ilícitos?Seriam todos aqueles meios em que para a obtenção da prova tenha que ser violado um direito fundamental de alguém. A Doutrina divide as provas ilegais em provas ilícitas (quando violam normas de direito material) e provas ilegítimas(quando violam normas de direito processual). Veremos mais sobre o tema na aula sobre provas ATENÇÃO!A Doutrina dominante admite a utilização de provas ilícitas quando esta for a única forma de se obter a absolvição do réu. PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Este princípio estabelece que as decisões judiciais devem estar sujeitas à revisão por outro órgão do Judiciário. Embora não esteja expresso na Constituição, grande parte dos doutrinadores o aceita como um princípio constitucional implícito10, fundamentando sua tese nas regras de competência dos Tribunais estabelecidas na Constituição, o que deixaria implícito que toda decisão judicial deva estar sujeita a recurso, via de regra. Entretanto, mesmo aqueles que consideram ser este um princípio de índole constitucional entendem que há exceções, que são os casos de competência originária do STF, ações nas quais não cabe recurso da decisão de mérito (óbvio, pois o STF é a Corte Suprema do Brasil). Assim, essa exceção não anularia o fato de que se trata de um princípio constitucional, apenas não lhe permite ser absoluto. PRINCÍPIO VEDAÇÃO A AUTO INCRIMINAÇÃO Tal princípio, também conhecido como nemo tenetur se detegere, tem por finalidade impedir que o Estado, de alguma forma, imponha ao réu alguma obrigação que possa colocar em risco o seu direito de não produzir provas prejudiciais a si próprio. O ônus da prova incumbe à acusação, não ao réu. Este princípio pode ser extraído da conjugação de três dispositivos constitucionais: Direito ao silêncio Direito à ampla defesa Presunção de inocência Assim, em razão deste princípio, o acusado não é obrigado a praticar qualquer ato que possa ser prejudicial à sua defesa, como realizar o teste do bafômetro (trata-se de uma fase pré-processual, mas o resultado seria utilizado 4 OS: 0008/4/18-Gil posteriormente no processo), fornecer padrões gráficos para realização de exame grafotécnico, etc. Mas como surge o Direito Processual Penal?Estudar a origem do Direito Processual Penal pressupõe a análise das FONTES do Direito Processual Penal. No que tange às FONTES do Direito Processual Penal, elas podem ser materiais ou formais. Estas últimas se dividem em imediatas e mediatas. Fonte formal (ou de cognição)– Meio pelo qual a norma é lançada no mundo jurídico. Podem ser imediatas (também chamadas de diretas ou primárias) mediatas (também chamadas de indiretas, secundárias ou supletivas). IMEDIATAS– São as fontes principais, aquelas que devem ser aplicadas primordialmente (Constituição, Leis, tratados e convenções internacionais). Basicamente, portanto, os diplomas normativos nacionais e internacionais MEDIATAS– São aplicáveis quando há lacuna, ausência de regulamentação pelas fontes formais imediatas (costumes, analogia e princípios gerais do Direito). Fonte material (ou de produção)– É o órgão, ente, entidade ou Instituição responsável pela produção da norma processual penal. No Brasil, em regra, é a União (por meio do processo legislativo federal), por força do art. 22, I da Constituição, podendo os Estados legislarem sobre questões específicas. Sobre Direito Penitenciário a competência é concorrente entre União, estados e DF. PRINCÍPIO DA INÉRCIA Alguns doutrinadores não consideram este um princípio do processo penal com base constitucional, embora seja unânime que é aplicável ao processo penal brasileiro. Este princípio diz que o Juiz não pode dar início ao processo penal, pois isto implicaria em violação da sua imparcialidade, já que, ao dar início ao processo, o Juiz já dá sinais de que irá condenar o réu. Um dos dispositivos constitucionais que dá base a esse entendimento é o art. 129, I da Constituição Federal: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Percebam que a Constituição estabelece como sendo privativa do MP a promoção da ação penal pública. Assim, diz-se que o MP é o “titular da ação penal pública”. Mas e a ação penal privada?Mais à frente vocês verão que a ação penal privada é de titularidade do ofendido. Assim, o Juiz já não poderia a ela dar início por sua própria natureza, já que a lei considera que, nesses casos, o interesse do ofendido em processar ou não o infrator se sobrepõe ao interesse do Estado na persecução penal. Este princípio é o alicerce máximo daquilo que se chama de sistema acusatório,que é o sistema adotado pelo nosso processo penal5. No sistema acusatório existe uma figura que acusa e outra figura que julga, diferentemente do sistema inquisitivo, no qual acusador e julgador se confundem na mesma pessoa, o que gera parcialidade do julgador,ofendendo inúmeros outros princípios. _______________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ OS: 0008/4/18-Gil Capítulo 3 Sistemas Processuais SISTEMA INQUISITORIAL Adotado pelo Direito canônico a partir do século XIII, posteriormente se propagou pela Europa, sendo empregado inclusive pelos tribunais civis até o século XVIII. Ademais, carrega características do regime político absolutista. É um sistema rigoroso, secreto e escrito (em regra – mas a forma não lhe era essencial), que adota ilimitadamente a tortura como meio de atingir o esclarecimento dos fatos e de concretizar a finalidade do processo penal – para se chegar à confissão, por exemplo, e à verdade material. Não há que se falar em contraditório, pois as funções de acusar, defender e julgar estão reunidas nas mãos do juiz inquisidor, sendo o acusado considerado mero objeto do processo, e não sujeito de direitos. O magistrado, chamado de inquisidor, era a figura do acusador e do juiz ao mesmo tempo, possuindo amplos poderes de investigação e de produção de provas, seja no curso da fase investigatória, seja durante a instrução processual (para se chegar à verdade absoluta) – o que comprometia a imparcialidade do juiz. E o acusado geralmente permanecia encarcerado previamente, sendo mantido incomunicável. SISTEMA ACUSATÓRIO Vigorou entre a Antiguidade grega e romana e na Idade Média, nos domínios do direito germânico. A partir do século XIII entra em declínio, passando a ter prevalência o sistema inquisitivo. Atualmente, o processo penal inglês é o que mais se aproxima de um sistema acusatório puro. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, e ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Há uma separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se como um legítimo actumtriumpersonarum. Foi o sistema acolhido pela CF/88, que tornou privativa do MP a propositura da ação penal pública; a relação processual somente tem início mediante a provocação da pessoa encarregada de deduzir a pretensão punitiva (ne procedatjudexofficio); impede que o magistrado promova atos de ofício na fase investigatória – atribuição do MP. CARACTERÍSTICAS: oralidade; publicidade; aplicação do princípio da presunção de inocência (o acusado permanece solto durante o processo); atividade probatória pertence às partes – o juiz não era dotado do poder de determinar, de ofício, a produção de provas (que devem ser fornecidas pelas partes – posição de passividade do juiz quanto às provas e reconstrução dos fatos), e seu poder instrutório era excepcional no decorrer do processo; separação rígida entre juiz e acusação; paridade entre acusação e defesa. OBS: O que diferencia o sistema inquisitorial do acusatório é a posição dos sujeitos processuais e a gestão da prova. SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO Não há separação das funções de acusar, defender e julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, que assume as vestes de um juiz inquisidor; Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por consequência, caracteriza-se pela presença das partes (actumtriumpersonarum), contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Como se admite o princípio daverdade real, o acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado como mero objeto do processo, daí por que se admite inclusive a tortura como meio de se obter a verdade absoluta; O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser produzida com fiel observância ao contraditório e à ampla defesa; Gestão da prova: o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa acusatória e probatória, tendo liberdade para determinar de ofício a colheita de elementos informativos e de provas, seja no curso das investigações, seja no curso da instrução processual. Gestão de prova: recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando provocado, e desde que haja necessidade de investigação judicial. Durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que o juiz tem certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício, desde que o faça de maneira subsidiária; A concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa acusatória dela decorrente são incompatíveis com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8o, §1o) e com o princípio do devido processo legal A separação das funções e a iniciativa probatória residual restrita à fase judicial preservam a equidistância que o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatíveis com a garantia da imparcialidade e com o princípio do devido processo 6 OS: 0008/4/18-Gil SISTEMA MISTO OU FRANCÊS É a fusão dos dois modelos anteriores – surge com o Code d’InstructionCriminelle francês, de 1808 (instituído por Napoleão). A primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e sem contraditório. O objetivo é apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade. OBS.: Quando o CPP entrou em vigor, havia o entendimento de que ele era misto, sendo o inquérito policial a primeira fase. Porém, com o advento da CF/88, que prevê de maneira expressa a separação das funções de acusar, defender e julgar, assegurado o contraditório e a ampla defesa; e o princípio da presunção de não culpabilidade, entendeu-se tratar de um sistema acusatório (apesar de não ser um sistema acusatório puro). _______________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Capítulo 4 Inquérito Policial “Inquérito policial é, pois, o conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para a apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo” CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL Inquisitivo Forma de gestão/administração do inquérito. Causa: concentração de poder em autoridade única. E a consequência? Inaplicabilidade do contraditório e da ampla defesa. Escrito Por mais rasteiro que possa parecer, prepondera a forma documental. Art 9º CPP: Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. Pode o delegado, havendo estrutura, utilizar as novas ferramentas tecnológicas para documentar o inquérito, como captação de som e imagem e até mesmo a estenotipia, que nada mais é do que uma técnica de redução de palavras por símbolos. (Lei 11.719/08). Discricionariedade Ela se caracteriza por uma margem de conveniência e oportunidade na condução da investigação, de forma que o delegado organiza o inquérito dentro da sua estratégia investigativa. Oficiosidade Em se tratando de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial deve instaurar o Inquérito Policial sempre que tiver notícia da prática de um delito desta natureza. Quando o crime for de ação penal pública incondicionada (regra), portanto, a instauração do IP poderá ser realizada pela autoridade policial independentemente de provocação de quem quer seja. É claro que, se o MP já dispuser dos elementos necessários ao ajuizamento da ação penal, o IP não precisa ser iniciado. O que o inciso I do art. 5º quer dizer é que a autoridade policial tem o poder-dever de instaurá-lo, de ofício, no caso de crimes desta natureza (O que determinará a instauração, ou não, será a existência de indícios mínimos da infração penal e a eventual utilidade do IP). 7 OS: 0008/4/18-Gil Sigiloso O inquérito não se submete à publicidade ordinária, cabendo ao delegado velar pelo sigilo da investigação, em prol da eficiência. Art. 20 CPP - A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Indisponível Em nenhuma circunstância o delegado poderá arquivar o inquérito, já que toda investigação iniciada deve ser concluída e encaminhada à autoridade competente (art. 17 do CPP). Ou seja, ainda que o fato não exista, for atípico, ou o crime estiver prescrito não há disponibilidade sobre o inquérito. Oficial Incumbe ao Delegado a presidência do inquérito. O procedimento fica a cargo de órgão oficial do Estado. Dispensável Para que o processo comece não é necessária a prévia elaboração de inquérito policial e o titular da ação poderá prospectar lastro indiciário de outras fontes autônomas. INÍCIO DO IP (INSTAURAÇÃO DO IP) As formas pelas quais o Inquérito Policial pode ser instaurado variam de acordo com a natureza da Ação Penal para a qual ele pretende angariar informações. A ação penal pode ser pública incondicionada, condicionada ou ação penal privada. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO IP NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA De ofício Tomando a autoridade policial conhecimento da prática de fato definido como crime cuja ação penal seja pública incondicionada, poderá proceder (sem que haja necessidade de requerimento de quem quer que seja) à instauração do IP, mediante Portaria. Quando a autoridade policial toma conhecimento de um fato criminoso, independentemente do meio (pela mídia, por boatos que correm na boca do povo, ou por qualquer outro meio), ocorre o que se chama de notitia criminis. Diante danotitia criminisrelativa a um crime cuja ação penal é pública incondicionada, a instauração do IP passa a ser admitida,ex officio, nos termos do já citado art. 5°, I do Quando esta notícia de crime surge através de uma delação, estaremos diante da delatio criminissimples. Nos termos do art. 5°, § 3° do CPP: § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba aç1 ão pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Mas, e no caso de se tratar de uma denúncia anônima. Como deve proceder o Delegado, já que a Requisição do Juiz ou do MP O IP poderá ser instaurado, ainda, mediante requisição do Juiz ou do MP. Nos termos do art. 5°, II do CPP: Art. 5oNos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: (...) II - medianterequisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Essa requisição deve ser obrigatoriamente cumprida pelo Delegado, não podendo ele se recusar a cumpri-la, pois requisitaré sinônimo de exigir com base na Lei. Contudo, o Delegado pode se recusar8 a instaurar o IP quando a requisição: Requerimento da vítima ou de seu representante legal Nos termos do art. 5°, II do CPP: Art. 5oNos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: (...) II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Vejam que aqui o CPP fala emrequerimento, não requisição. Por isso, a Doutrina entende que nessa hipótese o Delegado não está obrigado a instaurar o IP, podendo, de acordo com a análise dos fatos, entender que não existem indícios de que fora praticada uma infração penal e, portanto, deixar de instaurar o IP. O requerimento feito pela vítima ou por seu representante deve preencher alguns requisitos. Entretanto, caso não for possível, podem ser dispensados. Nos termos do art. 5°, § 1° do CPP: § 1o O requerimento a que se refere o no IIconterá sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; OS: 0008/4/18-Gil b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. Caso seja indeferido o requerimento, caberá recurso para o Chefe de Polícia.Vejamos: Art. 5º (...) (...) § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia. Auto de Prisão em Flagrante- APF Embora essa hipótese não conste no rol do art. 5° do CPP, trata-se de hipótese clássica de fato que enseja a instauração de IP. Parte da Doutrina, noentanto, a equipara ànotitia criminise, portanto, estaríamos diante de uma instauraçãoex officio, o que não deixa de ser verdade. Formas de instauração do IP nos crimes de Ação Penal Pública Condicionada à Representação A ação penal pública condicionada é aquela que, embora deva ser ajuizada pelo MP, depende da representação da vítima, ou seja, a vítima tem que querer que o autor do crime seja denunciado. Nestes crimes, o IP pode se iniciar: Representação do Ofendido ou de seu representante legal Trata-se da chamada delatio criminispostulatória, que é o ato mediante o qual o ofendido autoriza formalmente o Estado (através do MP) a prosseguir na persecução penal e a proceder à responsabilização do autor do fato, se for o caso. Trata-se de formalidade necessária nesse tipo de crime, nos termos do art. 5°, § 4° do CPP: Art. 5º (...) § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. Não se trata de ato que exija formalidade, podendo ser dirigido ao Juiz, ao Delegado e ao membro do MP. Caso não seja dirigida ao Delegado, será recebida pelo Juiz ou Promotor e àquele encaminhada. Nos termos do art. 39 do CPP: Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. Caso a vítima não exerça seu direito de representação no prazo de seis meses, estará extinta a punibilidade(decai do direito de representar), nos termos do art. 38 do CPP: Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. Caso se trate de vítima menor de 18 anos, quem deve representar é o seu representante legal. Caso não o faça, entretanto, o prazo decadencial só começa a correr quando a vítima completa 18 anos, para que esta não seja prejudicada por eventual inércia de seu representante. Inclusive, o verbete sumular n° 594 do STF se coaduna com este entendimento. E se o autor do fato for o próprio representante legal (como no caso de estupro e violência doméstica)?Nesse caso, aplica-se o art. 33 do CPP10, por analogia, nomeando- se curador especial para que exercite o direito de representação: Requisição de autoridade Judiciária ou do MP Como nos crimes de ação penal pública incondicionada, o IP pode ser instaurado mediante requisição do Juiz do membro do MP, entretanto, neste caso, dependerá da existência de representação da vítima. Auto de Prisão em Flagrante - APF Também é possível a instauração de IP com fundamento no auto de prisão em flagrante, dependendo, também, da existência de representação do ofendido. Caso o ofendido não exerça esse direito dentro do prazo de 24h contados do momento da prisão, é obrigatória a soltura do preso, mas permanece o direito de o ofendido representar depois, mas dentro do prazo de 06 meses. Requisição do Ministro da Justiça Esta hipótese só se aplica a alguns crimes, como nos crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7°, § 3°, bdo CP), crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República ou contra qualquer chefe de governo estrangeiro (art. 141, c,c/c art. 145, § único do 9 OS: 0008/4/18-Gil CP) e alguns outros. Formas de Instauração do IP nos crimes de Ação Penal Privada Requerimento da vítima ou de quem legalmente a represente Nos termos do art. 5°, § 5° do CPP: Art. 5º (...) § 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. Caso a vítima tenha falecido, algumas pessoas podem apresentar o requerimento para a instauração do IP, nos termos do art. 31 do CPP: Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Este requerimento também está sujeito ao prazo decadencial de seis meses, previsto no art. 38 do CPP, bem como deve atender aos requisitos previstos no art. 5°, § 1° do CPP, sempre que possível. Requisição do Juiz ou do MP Neste caso, segue a mesma regra dos crimes de ação penal pública condicionada: A requisição do MP ou do Juiz deve ir acompanhada do requerimento do ofendido autorizando a instauração do IP. Tramitação do IP Já vimos as formas pelas quais o IP pode ser instaurado. Vamos estudar agora como se desenvolve (ou deveria se desenvolver o IP). Diligências Investigatórias Após a instauração do IP algumas diligências devem ser adotadas pela autoridade policial. Estas diligências estão previstas no art. 6° do CPP: Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I- dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II- apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos III- colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV- ouvir o ofendido; V- ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI- proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII- determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII- ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX- averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. Alguns cuidados devem ser tomados quando da realização destas diligências, como a observância das regras processuais de apreensão de coisas, bem como às regras constitucionais sobre inviolabilidade do domicílio (art. 5°, XI da CF), direito ao silencio do investigado (art. 5°, LXIII da CF), aplicando-se no que tange ao interrogatório do investigado, as normas referentes ao interrogatório judicial (arts. 185 a 196 do CPP), no que for cabível. O art. 15 prevê a figura do curador para o menor de 21 anos quando de seu interrogatório: Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial. Entretanto, a Doutrina e a Jurisprudência são pacíficas no que tange à alteração desta idade para 18 anos, pois a maioridade civil foi alterada de 21 para 18 anos com o advento do Novo Código Civil em 2002. O ofendido ou seu representante legal podem requerer a realização de determinadas diligências (inclusive o indiciado também pode), mas ficará a critério da Autoridade Policial deferi-las ou não. Vejamos a redação do art. 14 do CPP: Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer OS: 0008/4/18-Gil diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade. Com relação ao exame de corpo de delito, este é obrigatório quando estivermos diante de crimes que deixam vestígios (homicídio, estupro, etc.), não podendo o Delegado deixar de determinar esta diligência. Nos termos do art. 158 do CPP: Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.Com relação à identificação do investigado(colheita de impressões de digitais), esta identificação criminal só será necessária e permitida quando o investigado não for civilmente identificado, pois a Constituição proíbe a submissão daquele que é civilmente identificado ao procedimento constrangedor da coleta de digitais (identificação criminal), nos termos do seu art. 5°, LVIII: Art. 5º (...) VIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; Por fim, percebam que o art. 7° prevê a famosa “reconstituição”, tecnicamente chamada de reprodução simulada. ESTA REPRODUÇÃO É VEDADA QUANDO FOR CONTRÁRIA À MORALIDADE OU À ORDEM PÚBLICA(no caso de um estupro, por exemplo). O investigado não está obrigado a participar desta diligência, pois não é obrigado a produzir prova contra si. Forma de tramitação O sigilo no IP é o moderado, seguindo a regra do art. 20 do CPP: Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. A corrente doutrinária que prevalece é a de que o IP é sempre sigiloso em relação às pessoas do povo em geral, por se tratar de mero procedimento investigatório, não havendo nenhum interesse que justifique o acesso liberado a qualquer do povo. Entretanto, o IP não é, em regra, sigiloso em relação aos envolvidos (ofendido, indiciado e seus advogados), podendo, entretanto, ser decretado sigilo em relação a determinadas peças do Inquérito quando necessário para o sucesso da investigação (por exemplo: Pode ser vedado o acesso do advogado a partes do IP que tratam de requerimento do Delegado pedindo a prisão do indiciado, para evitar que este fuja). Com relação ao acesso por parte do advogado, há previsão no art. 7º, XIV do Estatuto da OAB. Vejamos o que diz esse dispositivo: Art. 7º São direitos do advogado: (...) XIV -examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016) Durante muito tempo houve uma divergência feroz na Doutrina e na Jurisprudência acerca do direito do advogado de acesso aos autos do IP, principalmente porque o acesso aos autos do IP, em muitos casos, acabaria por retirar completamente a eficácia de alguma medida preventiva a ser tomada pela autoridade. Visando a sanar essa controvérsia, o STF editou a súmula vinculante n° 14, que possui a seguinte redação: Súmula vinculante nº 14 “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Percebam, portanto, que o STF colocou uma “pá-de-cal” na discussão, consolidando o entendimento de que: Sim, o IP é sigiloso Não, o IP não é sigiloso em relação ao advogado do indiciado, que deve ter livre acesso aos autos do IP, no que se refere aos elementos que já tenham sido juntados a ele. É óbvio, portanto, que se há um pedido de prisão temporária, por exemplo, esse mandado de prisão, que será cumprido em breve, não deverá ser juntado aos autos, sob pena de o advogado ter acesso a ele antes de efetivada a medida, o que poderá levar à frustração da mesma. Outro tema que pode ser cobrado, se refere à necessidade (ou não) da presença do defensor (Advogado ou Defensor Público) no Interrogatório Policial. É pacífico que a presença do advogado no interrogatório JUDICIAL é INDISPENSÁVEL,até por força do que dispõe o art. 185, §1° do CPP. Entretanto, não há norma que disponha o mesmo no que se refere ao interrogatório em sede policial. Vejamos o que diz o art. 6° do CPP: OS: 0008/4/18-Gil Art. 6oLogo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: (...) V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; Vejam que o inciso que trata do interrogatório em sede policial determina a aplicação das regras do inquérito judicial, NO QUE FOR APLICÁVEL. A questão é: Exige-se, ou não, a presença do advogado? Vem prevalecendo o entendimento de que o indiciado deve ser alertado sobre seu direito à presença de advogado, mas, caso queira ser ouvido mesmo sem a presença do advogado, o interrogatório policial é válido. Assim, a regra é: deve ser possibilitado ao indiciado, ter seu advogado presente no ato de seu interrogatório policial. Caso isso não ocorra (a POSSIBILIDADEde ter o advogado presente), haverá nulidade neste interrogatório em sede policial. Contudo, mais uma polêmica surgiu. A Lei 13.245/16, que alterou alguns dispositivos do Estatuto da OAB, passou a prever, ainda, que é direito do defensor “assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente”. Art. 7º (...) XXI -assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimentoe, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) _______________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ OS: 0008/4/18-Gil CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL Esgotado o prazo previsto, ou antes disso, se concluídas as investigações, o IP será encerrado e encaminhado ao Juiz. Nos termos do art. 10 do CPP: Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta OS: 0008/4/18-Gil Capítulo 5 Ação Penal CONCEITO É que o direito público e subjetivo (majoritário) constitucionalmente assegurado (art. 5º, XXXV da CF - XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito) de exigir do Estado juiz a aplicação da lei ao caso concreto para solução da demanda. Não falou em lide. Por quê? O conceito de lide como conflito de interesses de pretensão resistida não é aplicável ao processo penal. Após o advento da CF/88, o MP passa a ter como objetivo a defesa da sociedade, da aplicação justa da lei, de forma a não haver divergência entre autor e réu. Condições da Ação - LIP São aquelas aplicáveis a toda e qualquer ação penal a) Legitimidade ad causam: pertinência subjetiva da ação, delineando o titular do direito do pólo ativo e no pólo passivo o imputável (autor ou partícipe do crime). Obs.: Teoria da dupla imputação: na imputação de crime ambiental à pessoa jurídica, deve o MP também denunciar a pessoa física responsável pela ordem criminosa, em verdadeira dupla imputação. Mais recentemente a 1ª Turma do STF, em acórdão da relatoria da Ministra Rosa Weber, quebrou a regra da dupla imputação, reconhecendo a condenação especificada PJ mesmo sem detectar a pessoa física responsável pela ordem. RE 628.582. - INF STJ 566: Responsabilidade penal da pessoa jurídica. É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação". b) Interesse de agir: necessidade de bater às portas do judiciário, utilizando um provimento adequado e almejando um resultando útil à situação do agente. c) Possibilidade jurídica do pedido: deveremos tratá-la na análise do fato trazido na inicial, pois sendo fato atípico a inicial será rejeitada por impossibilidade jurídica do pleito. Essa condição também se caracteriza quando o pedido estritamente considerado não encontra no ordenamento respaldo, como ocorre no pedido de prisão perpétua ou pena de morte, ressalvada a hipótese de guerra declarada (Renato diz que essa hipótese não é caso der rejeição a exordial. Seria mera irregularidade). Quando também há um fato impeditivo ou falta condição especial. Ex.: as condições de procedibilidade. ESPÉCIES AÇÃO PENAL PÚBLICA Conceito De acordo com o artigo 129, I da CF e com o art. 257, I CPP é aquela titularizada, caracterizando a estruturação do sistema acusatório. obs.: processo judicialiforme – antes de 88, juízes e delegados também podiam promover a ação penal pública, sem provocação do MP. Não exista a divisão de funções de maneira clara. Havia a aglutinação de funções. Sistema inquisitório. Com a CF/88 o MP passa a ser o titular privativo (art. 129, I), havendo uma revogação tácita do dispositivo (art. 26 CPP) que trata dessa hipótese, ou seja, não foi recepcionado. Obs.: inicial acusatória é chamada de denúncia e está prevista no art. 41 CPP. PRINCÍPIOS Princípio da obrigatoriedade ou compulsoriedade O exercício da ação pública é dever funcional inerente à atividade do MP. Será o satélite dos demais. Controle do princípio da obrigatoriedade: juiz quando aplica o art. 28 e ação penal subsidiária da pública. Obs.: princípio da obrigatoriedade mitigada ou princípio da discricionariedade regrada (nomenclaturas de Tourinho Filho): ele se apresenta por intermédio do instituto da: a) transação penal (art. 76 da Lei 9099/95 – pena máxima de dois anos) - inaugurando a Justiça Consensual no Brasil, ao invés da justiça comum como única via, tem-se a proposta de uma medida alternativa que, se for aceita, impede a deflagração regular do processo. Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. OS: 0008/4/18-Gil § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível. b) Colaboração premiada ou extorsão premiada (essa ultima nomenclatura criticando): lei 12.850/13. * A celebração do acordo de colaboração será homologada pelo juiz, sendo que se o colaborador não for o líder da facção criminosa, admite-se inclusive que a denúncia não seja oferecida, mitigando-se o princípio da obrigatoriedade. Some-se a isso, o fato do colaborador ser o primeiro a colaborar (artigo 4º,§4º da Lei 12.850/13). É um nome mais chique da delação premiada. No histórico da delação premiada, havia redução da pena. Com a nova lei de combate aos crimes organizados, o MP pode deixar de oferecer a denúncia. c) acordo de leniência. Conselho Administrativo de Defesa Econômica e alotes de infração contra a ordem econômica. Princípio da indivisibilidade: segundo a doutrina majoritária, a ação pública é indivisível, já que o MP deve demandar todos aqueles que contribuíram para o delito e contra os quais exista justa causa. Nada mais é que o aspecto subjetivo do princípio da obrigatoriedade. Obs.: STF/STJ. Para os Tribunais Superiores, a ação pública é divisível por admitir desmembramento e complementação incidental, por meio do aditamento. O processo começou contra dois indivíduos e no transcorrer do processo um terceiro indivíduo foi inserido. O acórdão disse pedagogicamente que a ação penal é divisível no sentido de que o promotor poderia deflagrar ação contra um numero de indivíduos e, após, acrescentar outro. A doutrina, no entanto, diz que quando o aditamento da denúncia é realizado, fortalece-se o entendimento de que todos devem ser processados, sendo mais adequado falar em indivisibilidade. É indivisível sim, pois a obrigação é de oferecer denúncia contra os quais haja justa causa. Se não há justa causa para uns, eles não integram ab initio o processo, mas quando a justa causa existir haverá essa obrigatoriedade. INF 540.STJ.JULHO/2014 AÇÃO PENAL PRIVADA Conceito: É aquela titularizadapela vítima ou por quem a represente, na condição de substituição processual.Atua em nome próprio pleiteando a punição que pertence ao Estado (jus puniendi). Obs.: Nomenclatura. A vítima é chamada de querelante e o réu de querelado. A inicial acusatória é a queixa crime. Não se presta queixa em delegacia, e sim noticia crimine. PRINCÍPIOS: Princípio da oportunidade ou conveniência: a ação privada só será exercida se a vítima entender estratégica. Também se aplica à representação e requisição. - Institutos correlatos (dão vida ao princípio): Decadência: é a perda da oportunidade de entrar com ação privada em razão do decurso do prazo, qual seja, seis meses, em regra, contados do conhecimento da autoria do crime (art. 38 CPP). O prazo decadencial nem suspende, nem interrompe. Consequência: extinção da punibilidade. Se o inquérito não for concluído, o prazo para a ação privada não se prorroga, suspende-se ou se interrompe e a vítima deverá exercê-la sem o inquérito, requerendo ao juiz que este seja acostado aos autos, assim que encerrado. Obs.: na ação pública condicionada, o prazo de seis meses é para, simplesmente, representar, independentemente do tempo que leve a investigação. Atenção– crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento – o prazo começa do trânsito em julgado da sentença que anulou o casamento. Morte- sucessores têm direito ao prazo restante, dentro dos seis meses. O prazo restante conta do conhecimento da autoria pelo sucessor, se ao for ao tempo em que a vítima morreu não sabia. Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a homologação do laudo. Parágrafo único. Será dada vista ao Ministério Público dos autos de busca e apreensão requeridas pelo ofendido, se o crime for de ação pública e não tiver sido oferecida queixa no prazo fixado neste artigo. Renúncia:tem relação de coerência. Ocorre com a declaração expressa da vítima de que não pretende entrar com a ação ou pela prática de um ato incompatível com essa vontade. Fala-se em renúncia até o oferecimento da ação. Art. 49 do CPP. Consequência: extinção da OS: 0008/4/18-Gil punibilidade, salvo no caso de subsidiária da pública (art. 107 CP). Obs.: o nosso código não disciplina o arquivamento do inquérito nos crimes de ação privada. Todavia, se o advogado da vítima requerer o arquivamento, haverá renúncia ao direito de ação e essa situação é irreversível, mesmo se surgirem novas provas, afinal a extinção da punibilidade. Obs.: as regras de cordialidade ou a aceitação de indenização nãocaracterizam renúncia ao direito de ação. Ressalta-se, contudo, quanto à indenização, a composição civil nos juizados especiais, que ocasiona a renúncia à ação privada ou à representação na ação pública condicionada. (art. 74 da Lei 9099/95). Obs.: Retratação. A renúncia é irretratável, pois ocasiona a extinção da punibilidade. Decadência e renúncia ocorrem na fase préprocessual. Não se pode falar em renúncia ao direito de representação. Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone. Sem ordem de preferência, nesse caso. Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Perdão: Lembra benevolência (seja por motivos religiosos, econômicos, espirituais). Parece muito com a renúncia, mas tem um divisor de águas, que é o momento. O perdão ocorre quando a vítima declara expressamente que não pretende continuar com a ação ou quando ela pratica ato incompatível com essa vontade, dessa forma pode ser expresso ou tácito (art. 51 e 51 CPP). Obs.: bilateralidade. Para que o perdão surta o efeito jurídico pretendido, qual seja a extinção da punibilidade, é necessário que o réu o aceite, o que pode ocorrer de forma expressa ou tácita. Se aceitar não quer dizer que assumiu a culpa para efeitos de responsabilidade civil. Se a vítima declara nos autos o perdão, o réu será notificado, disponde de três dias para dizer se aceita. A omissão faz presumir que ele aceitou. (tacitamente). Tanto a oferta como a aceitação pode ocorrer por meio de procurador, pressupondo poderes especiais. Obs.: perdão judicial – normalmente é aplicado na ação pública, quando o réu foi atingido de tal maneira por sua conduta, que a sanção não é necessária. Vale lembrar que este perdão é unilateral, ocasionando a extinção da punibilidade, ainda que o réu queira receber a punição. (art.107, CP). Obs.: pode haver o perdão parcial, que ocorre quando o querelante oferece perdão em uma das ações criminais em curso. Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar. Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito. Perempção Descaso, desídia. A vítima precisa de dedicar à ação. É a SANÇÃO judicialmente imposta pelo descaso da vítima na condução da ação privada. A negligência de um querelante não prejudica o outro. O art. 60 do CPP, de forma não exaustiva, apresenta cinco hipóteses de perempção e que ocasionam aextinção da punibilidade(art. 107, CP) Peças Iniciais ação pública – denúncia ação privada – queixa crime. Formalidade: Regra – escrita. Exceção – oral (juizados especiais). ADVERTÊNCIA: necessariamente apresentada em vernáculo. Requisitos: Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. a) Exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias. Conteúdo – O quê? Quando? Como? Quem? Contra quem? OS: 0008/4/18-Gil Por quê? Qual o objetivo? Onde? De que modo? A exposição tem que ser narrativa e demonstrativa. O elementos essenciais x elementos acidentais – essenciais são aqueles que vão influenciar na própria caracterização da tipicidade. Scarance – criptoimputação é quando a narrativa não contém os elementos mínimos caracterizadores do crime (HC 188023 STF. O próprio STF caracteriza o que é um elemento essencial). Havendo vício na narrativa de um elemento essencial, ocorrerá nulidade absoluta. Acidentais (ou circunstâncias individualizadoras) são aqueles vinculados ao tempo, ao lugar e ao modus operandi. O vício na sua narrativa é fato gerador de nulidade relativa. Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal Qualificação do acusado Conteúdo – é a colheita de informações que individualizam uma pessoa, diferenciando-a das demais, inclusive em aspectos sociais: nome, sobrenome, filiação, profissão, estado civil, RG, CPF, endereço e atualmente idade. Não havendo elementos para qualificação exauriente, o MP pode se valer de elementos acessórios, o que engloba apelido (epíteto), e até mesmo de indicações biológicas (ex. art. 41 c/c 259 CPP). O legislador deixou clara a tendência de rechaçar a instauração de processo criminal contra pessoa incerta, pelo que se devem aplicar, com cautela, os citados dispositivos. Art. 259.A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes. Classificação do crime Indicação do artigo de lei conjugado no CP ou na legislação penal especial. Obs.: equívoco de enquadramento. Em homenagem ao sistema acusatório, os vícios de enquadramento de artigo não são corrigidos no momento da admissibilidade da inicial, e sim na prolação da sentença, por meio do instituto da emendatio libelli. Rol de testemunhas Se as testemunhas não forem arroladas na inicial, haverá preclusão. No Direito Penal Militar, pode haver a inclusão de testemunhas mesmo após o oferecimento da denúncia. Não são computadas as testemunhas referidas, as que não prestarem compromisso e as que nada souberem que interesse à decisão da causa. Mesmo havendo preclusão, as testemunhas podem ser ouvidas como testemunhas do juízo, já que o magistrado tem iniciativa probatória, segundo art. 156 CPP. Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício. I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida. II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Para a acusação, o número de testemunhas é computado em razão da quantidade de crimes, independente de quantos sejam os réus. Para a defesa, serão levados em conta não só a quantidade de crimes, como também o número de réus. Subscrição pelo MP e pelo advogado do querelante Ausência de assinatura do promotor na denúncia é mera irregularidade, se for facilmente demonstrável que a inicial foi realmente ofertada pelo órgão acusatório, havendo mero esquecimento da assinatura. Quanto ao advogado do querelante, é necessário que ele possua poderes especiais. A firma tem que ser reconhecida – STJ. Art. 44 do CPP. Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. OS: 0008/4/18-Gil ESQUEMATIZAÇÃO CLASSIFICAÇÃO Pública Incondicionada – é aquela cujo exercício independe de representação da vítima ou de seu representante. Pública Condicionada – é a que, para promove-la, o Ministério Público depende necessariamente da representação da vítima ou de quem possa por ela fazê-la. ____________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________ 18 OS: 0008/4/18-Gil Capítulo 6 Competência Competência é a medida da jurisdição, espaço dentro do qual o poder jurisdicional pode ser exercido. Jurisdição todo juiz possui, mas competência, não. Assim, por exemplo, o STF tem competência sobre todo território nacional, enquanto um juiz de direito tem competência apenas na comarca em que exerce as suas funções. A COMPETÊNCIA ABSOLUTA É aquela que não permite prorrogação, por envolver interesse público, podendo ser arguida a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, inclusive de ofício, sob pena de nulidade absoluta de todos os atos praticados no feito (decisórios ou instrutórios), segundo posicionamento doutrinário mais abalizado. TRÊS HIPÓTESES DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA: Competência em razão da matéria (ratione materiae): é aquela que leva em conta a natureza da infração a ser julgada; Competência por prerrogativa de função (ratione personae): é aquela que leva em conta o cargo público ocupado por determinada pessoa que cometeu a infração penal, o que implica em um foro por prerrogativa de função; Competência por Lugar (ratione Loci) Como regra geral para definição da competência territorial, adota-se o local em que ocorreu a consumação do delito ou, no caso de tentativa, o local em que foi praticado o último ato de execução (art. 70, caput, do CPP). Essa regra consagra, no âmbito do processo penal, a teoria do resultado (local do resultado). Se, porém, for incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições ou, quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção, consoante o art. 70, § 3°, do CPP, o que significa a adoção excepcional da teoria da ubiquidade ou mista ou eclética (local da ação ou omissão ou local do resultado). A competência também será definida pela prevenção, no caso de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, nos termos do art. 71, do CPP, resultando, também, na aplicação excepcional da teoria da ubiquidade. Na hipótese de crime à distância - que é aquele em que a ação ou omissão ocorre em um país e o resultado em outro -, há de se aplicar também, por exceção, a teoria da ubiquidade, que encontra guarida no ordenamento jurídico brasileiro no art. 6°, do Código Penal, segundo o qual "Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado" (como se vê, para o Direito Penal, quanto ao lugar do crime, vale, como regra geral, a teoria da ubiquidade, ao passo que, como já visto, no Processo Penal, na definição do juízo territorialmente competente, a regra geral é a teoria do resultado). OS: 0008/4/18-Gil QUADRO ESQUEMATIZADO DE COMPETÊNCIA CONEXÃO E CONTINÊNCIA São institutos que vão permitir reunir, no mesmo processo, crimes ou criminosos que poderiam ser julgados separadamente. Com isso, tudo é reunido, vai haver economia de atos processuais, menor dispêndio de trabalho humano e, teoricamente, mais eficiência. Além disso, a probabilidade de decisões contraditórias é eliminada. Evita, politicamente, decisões contraditórias que fragilizariam a respeitabilidade do Judiciário e busca dar economicidade a administração da justiça. Finalidades: a) Economia de atos e consequente razoável duração do processo; b) Evitar decisões contraditórias Conexão (art. 76, CPP) Conexão nada mais é do que a interligação entre dois ou mais crimes e que, por esse fato, devem ser julgados no mesmo processo. É a interligação entre dois ou mais delitos e que por isso devem ser julgados. CLASSIFICAÇÃO: Conexão intersubjetiva: é aquela onde dois ou mais crimes são praticados por duas ou mais pessoas. Temos três tipos de conexão intersubjetiva: Conexão intersubjetiva por simultaneidade – os crimes ocorreram nas mesmas circunstâncias de tempo e espaço. O fator de interligação sãoas circunstâncias idênticas e não a combinação entre os criminosos. Nela, a conexão se estabelece porque os crimes ocorreram nas mesmas circunstâncias de tempo e espaço, sendo que os infratores não estavam previamente acordados. OS: 0008/4/18-Gil Conexão intersubjetiva concursal: neste caso, o vínculo se estabelece porque os infratores estavam previamente acordados. Conexão intersubjetiva por reciprocidade: os crimes se conectam pelo fato dos infratores agirem uns contra os outros. Exemplo: lesões corporais recíprocas. ATENÇÃO: o crime de rixa NÃO é um bom exemplo, pois ele caracteriza crime único (plurisubjetivo/de concurso necessário) e na conexão precisamos de ao menos dois delitos. Conexão teleológica (lógica ou finalista): é a conexão do lucro, do aproveitamento. Nela, um crime é praticado para levar vantagem, para criar impunidade para ocultar outro delito Exemplo: homicídio e ocultação de cadáver. Conexão instrumental ou probatória: nela, a prova da existência de um crime é fundamental para demonstrar que outro delito ocorreu. Na conexão probatória há um vínculo. Exemplo: conexão entre o crime de receptação e o delito antecedente, como o roubo ou contrabando do objeto (é necessário provar a origem ilícita do bem). Se o crime do art. 241-A do ECA for praticado por meio do computador da residência do agente localizada em São Paulo (SP), mesmo assim ele poderá ser julgado pelo juízo de Curitiba (PR) se ficar demonstrado que a conduta do agente ocorreu com investigações que tiveram início em Curitiba, onde um grupo de pedófilos ligados ao agente foi preso e, a partir daí, foram obtidas todas as provas. Neste caso, a competência do juízo de Curitiba ocorrerá por conexão, não havendo ofensa ao princípio do juiz natural. STF. 1ª Turma. HC 135883/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2017 (Info 868). CONTINÊNCIA É o instituto que nos permite, em um processo único, reunir dois ou mais criminosos que praticaram um só delito ou dois ou mais delitos que se originam de uma só conduta. CLASSIFICAÇÃO: Continência por cumulação subjetiva: nela, teremos um só crime praticado por duas ou mais pessoas (art. 77, I, CPP). Continência por cumulação objetiva: nela, teremos uma só conduta que deságua na prática de duas ou mais infrações. Percebe-se que em havendo concurso formal de crimes (art. 70, 73 e 74, CP), todos os resultados lesivos são reunidos em um só processo por força da continência (art. 77, II, CPP). FORO PREVALENTE É o juiz ou tribunal que chama para si a responsabilidade de julgar todos os crimes e/ou infratores nas hipóteses de conexão ou continência. REGRAS DEFINIDORAS: a) Justiça Especial > Justiça Comum: Percebe-se que a justiça especial prevalece sobre a justiça comum, de forma que se um delito da justiça especializada é conexo com outro da justiça comum, reuniremos tudo na justiça especial. Observação: essa regra NÃO se aplica a justiça militar, pois ela não se mistura (art. 79, I, CPP). Segundo o STJ, na Súmula 122, a justiça federal em que pese ser comum prevalece sobre a estadual. b) Júri > Órgãos da jurisdição comum: Percebe-se que o Júri é o órgão prevalente, julgando os crimes dolosos contra a vida e todas as infrações comuns eventualmente conexas. Nesta regra, podem ser atraídas ao Júri até mesmo as infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitando-se, contudo, os institutos benéficos dos Juizados Especiais Criminais (art. 60, parágrafo único, Lei nº 9.099/95). Se um crime doloso contra a vida é conexo com um crime federal, as infrações serão reunidas perante o Júri Federal. O Júri não se mistura com a justiça especial, exigindo-se a separação de processos. OS: 0008/4/18-Gil c) Jurisdição de maior hierarquia > Jurisdição de menor hierarquia: Por esta regra, percebe-se que, se o cidadão comum pratica crime juntamente com uma autoridade, ambos serão julgados em processo único no tribunal competente para julgar a autoridade. Segundo o STF, na súmula 704, não há ofensa a garantias constitucionais quando o cidadão comum é julgado no tribunal por praticar crime com autoridade que usufrui do foro por prerrogativa de função. QUADROS ESQUEMATIZADOS HIPÓTESES DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA CONEXÃO CONTINÊNCIA INTERSUBJETIVAOBJETIVA INSTRUMENTAL OU PROBATÓRIA SUBJETIVA EM RAZÃO DE CONCURSO FORMAL DE CRIMES OCASIONAL TELEOLÓGICA CONCURSO CONSEQUENCIAL RECIPROCIDADE OS: 0008/4/18-Gil Capítulo 7 Medidas Cautelares As medidas cautelares que serão adotadas na esfera penal almejam a preservação e a eficiência de um procedimento principal, seja ele a investigação preliminar, seja ele o processo principal. ESPÉCIES DE CAUTELARES Medidas cautelares de natureza pessoal São aquelas que vão imprimir uma restrição ou até mesmo a total privação na nossa liberdade de locomoção. Importa aqui fazermos uma análise sistêmica dessas medidas cautelares de natureza pessoal. Antes da Lei 12.403/11 tínhamos o sistema da bipolaridade das cautelares pessoais, afinal ou o agente estaria preso cautelarmente ou usufruiria de liberdade provisória. Depois da Lei 12.403/2011, isto é, atualmente, o sistema da bipolaridade caiu. Afinal, se o agente é libertado, o magistrado pode impor as chamadas medidas cautelares não prisionais, que acabam onerando a liberdade do agente, mas são mais brandas que o cárcere (arts. 319 e 320 do CPP). Medidas cautelares de natureza patrimonial ou civil São aquelas que almejam a constrição patrimonial para viabilizar a futura indenização dos danos causados pelo delito, além de evitar o enriquecimento lícito e de materializar a perda de bens como efeito da condenação (art. 91 do CP). Exemplos (que serão estudados no intensivo II): hipoteca legal, arresto e sequestro. Art. 91 CP. Medidas cautelares de natureza probatória É aquela que almeja preservar as fontes de prova, imprimindo a colheria de elementos para futura demonstração da verdade. Ex. captação telefônica e produção antecipada de prova. PRISÕES Conceito: Prisão é a restrição da liberdade de locomoção, fruto de uma autuação em flagrante, por ordem judicial motivada ou ainda em razão de transgressão militar ou crime propriamente militar, comprometendo o nosso direito de ir, vir ou ficar. Espécies: a) Prisão civil: o art. 5, LXIII, autoriza a prisão civil do devedor de alimentos e do depositário infiel, sendo que esta norma não é autoaplicável. Regras interpretativas:. A Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 7º Dec. 678/92) autorizou tão somente a prisão do devedor de alimentos. CONCLUSÃO: O STF, no RE 466.343 reconheceu que a convenção americana tem status de norma supralegal, de forma que a prisão do depositário infiel foi sepultada e todos os dispositivos que regem o tema foram invalidados. Súmula vinculante nº 25 do STF e súmula 419 do STJ. b) Prisão do falido: a antiga lei de falências (Decreto-lei 7661/45) autorizava no art. 35, parágrafo único, o cárcere do falido que descumprisse os seus deveres normativos, sendo a prisão nitidamente obrigacional. O STJ, editando a súmula 280 sepultou o art. 35 da antiga Lei falimentar, por incompatibilidade com o texto constitucional. A nova lei de falências também trata da prisão do falido, mas como uma espécie de prisão preventiva. Art. 99, VII. Para Paulo Rangel, essa nova disciplina se compatibiliza com a CF se a prisão for decretada no curso da investigação ou do processo, e, desde que, estejam presentes, os requisitos da prisão preventiva. (art. 312 e 313 CPP). c) Prisão administrativa: era aquela decretada por autoridade administrativa, no intuito de compelir o agente a cumprir um dever regido pelo Direito Público. Diante da leitura constitucional da matéria, destacam-se duas posições: 1. Tourinho Filho – o instituto não mais existe por sua incompatibilidade com o texto constitucional, o que
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