Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA ALBA VALÉRIA SALES FORTES ADMINISTRAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS: PROPOSTA DE PROTOCOLO DE ORIENTAÇÕES PARA EQUIPE DE ENFERMAGEM GOIÂNIA 2017 ALBA VALÉRIA SALES FORTES ADMINISTRAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS: PROPOSTA DE PROTOCOLO DE ORIENTAÇÕES PARA EQUIPE DE ENFERMAGEM Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de Concentração: Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde Linha de Pesquisa: Gestão de Sistemas e Processos Gerenciais nos Serviços de Saúde Orientadora: Profº. Drª Ana Luiza Neto Junqueira Goiânia 2017 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG. CDU 616-083 FORTES, ALBA VALERIA SALES ADMINISTRAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS: PROPOSTA DE PROTOCOLO DE ORIENTAÇÕES PARA EQUIPE DE ENFERMAGEM [manuscrito] / ALBA VALERIA SALES FORTES. - 2017. 73 f.: il. Orientador: Profa. Dra. ANA LUIZA NETO JUNQUEIRA. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás, Pró reitoria de Pós-graduação (PRPG), Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Profissional), Goiânia, 2017. Bibliografia. Inclui abreviaturas, lista de figuras, lista de tabelas. 1. Administração de medicamentos. 2. Intramuscular. 3. Protocolo. 4. Prática clínica baseada em evidências. I. JUNQUEIRA, ANA LUIZA NETO , orient. II. Título. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, Geraldo e Idelzuite, meus maiores mestres na vida, a quem devo tudo que sou. A minha muito amada irmã, Ana Kelly. Ao meu amigo, esposo e grande incentivador Michel Estevão e ao nosso pequeno Rafael, que, mesmo estando em meu ventre, tanto me estimula a seguir em frente. A vocês minha eterna gratidão e respeito por tamanha dedicação em tudo. AGRADECIMENTOS A Deus, minha eterna gratidão, por ser presença tão marcante em minha vida e me mostrar diariamente que com Ele, que me fortalece, tudo posso. À toda minha família, meu povo, minha essência, que nas lutas da vida é o meu pilar, nas derrotas meu ombro consolador e nas vitórias minha mais ardente torcedora. Aos meus pais, nordestinos batalhadores, que com integridade e honradez tão bem me educaram e me ensinaram a buscar ser uma pessoa cada dia melhor. A minha irmã, Ana Kelly, minha companheira desde que me entendo por gente, minha amiga, grande incentivadora e exemplo de perseverança. Ao meu tio-irmão, Vilemar, por todo carinho que dedica a mim desde minha infância e por me fazer ainda mais feliz. Ao meu amado marido sempre tão presente em minha vida, com seu olhar transmitindo paz e suas palavras de conforto e estímulo, convicto da vinda de dias ainda melhores. Ao meu pequeno Rafael, minha dádiva divina, por me proporcionar uma gestação tão tranquila, tornando meus dias mais agradáveis com sua presença em meu ventre e seus adoráveis “chutinhos”. A minha madrinha Ivanilde, que mesmo morando no interior do Ceará e, não compreendendo ao certo a diferença de mestrado e magistrado, sabe valorizar as conquistas da minha vida e ser uma das minhas maiores incentivadoras com sua persistência na luta diária da vida, alegremente invencível diante de todas as adversidades. Aos meus amigos, em especial Karla Prado, Larissa Pereira dos Santos e Suiany Dias, por tamanho incentivo e ajuda em todos os momentos. Aos integrantes da minha equipe de trabalho do Centro de Saúde da Família São Carlos, pela compreensão nos momentos de ausência e companheirismo de sempre. Aos amigos do mestrado, meu amado “Lado B”, por tornarem meus dias mais alegres e cultivarem em mim a certeza da vitória. A minha orientadora, Profª Drª Ana Luiza, com sua voz tão doce sempre me transmitindo tranquilidade e conhecimento necessários no percurso de elaboração deste trabalho. A Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Goiás pelo incentivo financeiro. Aos colaboradores do Programa de Mestrado Profissional em Saúde coletiva, pelo apoio e disposição. A todos que torcem e contribuem para o meu êxito nas empreitadas da vida, o meu muito obrigada! EPÍGRAFE “A essência de um homem de verdade, vem do pai pra formar um cidadão, vem da mãe pra lhe dar educação, e um menino vira homem com caráter. Macho véi, com muita sinceridade, Eu lhe digo que aqui no meu sertão, caráter e honestidade são coisas de criação, tem família que sofre com sede e fome, sem dinheiro, sem luxo e sem “sobrenome”, 12 filhos e nem um vira ladrão”. Bráulio Bessa “Que a simplicidade na vida continue sempre trazendo essa felicidade imensa de viver, sabendo que tudo é fase, mas ainda assim, aproveitar ainda mais, sabendo que tudo uma hora passa”. Luiz Gonzaga dos Santos Júnior http://pensador.uol.com.br/autor/braulio_bessa/ http://pensador.uol.com.br/autor/luiz_gonzaga_dos_santos_junior/ FORTES, A.V.S. Administração segura de medicamentos: Uma proposta de protocolo de orientações para equipe de enfermagem. [Dissertação] Goiânia-GO: Mestrado Profissional Convênio Universidade Federal de Goiás, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e Secretaria de Estado da Saúde (UFG/NESC/SES) Goiânia, 2016. RESUMO Este trabalho objetiva elaborar um protocolo sobre administração segura de medicamentos por via intramuscular a ser disponibilizado às equipes de enfermagem. Metodologia: Estudo descritivo voltado para a elaboração de protocolo para administração segura de medicamentos por via intramuscular os quais foram formulados com base nos padrões estabelecidos pela comunidade científica, seguindo orientações técnicas pré-existentes alicerçadas em evidências clínicas, as quais foram coletadas por meio de uma revisão integrativa da literatura que emergiu os seguintes tópicos: conceitos teóricos relacionados a questões anatômicas referentes a cada região de administração de medicamentos por via intramuscular, bem como suas representações gráficas; fatores que interferem direta e/ou indiretamente na tomada de decisão quanto a melhor região de escolha para administração de injetáveis; vantagens e desvantagens de cada região para administração medicamentosa e técnicas de aplicação de fármacos nas regiões intramusculares preconizadas, com ilustrações das mesmas. Resultados: Elaborado protocolo com orientações acerca de práticas seguras para administração de medicamentos por via intramuscular, o qual contempla a descrição minuciosa da técnica, imagens das regiões anatômicas, bem como recomendações essenciais a este procedimento, tais como escolha correta do local a ser acessado, seguindo ordem de segurança preconizada, faixa etária, tamanho da agulha, volume máximo a ser injetado. Conclusões: A atividade do cuidar, além de complexa, exige confiabilidade à assistência prestada por meio de procedimentos seguros e sob essa ótica, a construção do protocolo é notória para a execução das ações nas quais a enfermagem está envolvida, uma vez que se configura como um instrumento norteador da assistência prestada, favorecendo o processo de trabalho das equipes de enfermagem no tocante a administração segura de medicamentos. O uso deste instrumento pode ajudar o profissional a maximizar os efeitos terapêuticos da medicação administrada, minimizando ou eliminando lesões ao paciente e o desconforto associado com as injeções intramusculares. Palavras-chave: Administração de medicamentos; Intramuscular; Protocolo;Prática clínica baseada em evidências. FORTES, A.V.S. Safe medication administration: A proposal for guidelines protocol for nursing staff. [Dissertação] Goiânia-GO: Mestrado Profissional Convênio Universidade Federal de Goiás, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e Secretaria de Estado da Saúde (UFG/NESC/SES) Goiânia, 2016. ABSTRACT This paper aims to draw up a protocol on safe administration of medication intramuscularly to be made available to nursing staff. Methodology: descriptive study focused on the development of protocol for safe medication administration intramuscularly which were formulated based on the standards set by the scientific community, following pre-existing technical guidance grounded in clinical evidence, which were collected through a integrative literature review the following topics emerged: theoretical concepts related to anatomical issues for each drug administration region intramuscularly, as well as their graphic representations; factors that interfere directly and / or indirectly in making the decision as the best region of choice for the administration of injection; advantages and disadvantages of each region for drug administration and drug application techniques in the recommended intramuscular regions, with illustrations of them. Results: Prepared protocol with guidance on safe practices for administering medication intramuscularly, which includes the detailed description of the technique, images of anatomic regions, as well as key recommendations to this procedure, such as the correct choice of the site to be accessed, following recommended safety order, age, size of the needle, maximum volume to be injected. Conclusions: The activity of care, as well as complex, requires reliability to the assistance provided through insurance procedures and in this light, the construction of the protocol is notorious for carrying out the activities in which nursing is involved, since it is configured as a guiding instrument of care, promoting the work process of the nursing team regarding the safe administration of medications. The use of this instrument can help the practitioner to maximize therapeutic effects of administered medication, minimizing or eliminating injury to the patient and discomfort associated with intramuscular injections. Keywords: Medication administration; Intramuscular; Protocol; Evidence-based clinical practice. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Correlação entre perfil corpóreo/idade, local de aplicação do injetável e comprimento da agulha. Figura 2. Seleção do local de aplicação de injeção intramuscular e calibre da agulha, segundo características do paciente. Figura 3. Demonstração da Técnica em Z. Figura 4. Anatomia descritiva do músculo deltóide. Figura 5. Local seguro para aplicação de injeção no músculo deltóide. Figura 6. Local seguro para aplicação de injeção no músculo deltóide. Figura 7. Delimitação anatômica da região dorso glútea e indicação do local seguro para injeção intramuscular. Figura 8. Delimitação anatômica da região dorso glútea e indicação do local seguro para injeção intramuscular. Figura 9. Delimitação anatômica da região dorso glútea e indicação do local seguro para injeção intramuscular. Figura 10. Delimitação da área segura para aplicação de injetável na região dorso glútea. Figura 11. Delimitação do sítio de punção para injeção por via ventroglútea. Figura 12. Composição anatômica da região ventro glútea. Figura 13. Delimitação do sítio de punção para injeção por via ventro glútea. Figura 14. Anatomia da região da coxa. Figura 15. Sítio de aplicação de injeção intramuscular no vasto lateral da coxa. Figura 16. Componentes da revisão integrativa da literatura. LISTA DE TABELAS Tabela 1. Relação entre seleção do local de aplicação de injeções intramusculares e volume máximo a ser administrado, segundo faixa etária. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACIP Advisory Committee on Imunization Pratices CDC Centers for Disease Control and Prevention CIAMS Centro Integrado de Assistência Municipal a Saúde COFEN Conselho Federal de Enfermagem COREN Conselho Regional de Enfermagem OMS Organização Mundial de Saúde VLC Vasto Lateral da Coxa SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................16 OBJETIVO..................................................................................................................19 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................20 1. INJEÇÕES INTRAMUSCULARES..............................................................20 1.1. Características dos medicamentos...........................................................22 1.2. Características do paciente......................................................................22 1.3. Procedimentos para preparo da injeção...................................................23 1.4. Regiões para administração da injeção....................................................26 1.4.1. Região deltoidea.........................................................................27 1.4.2. Região dorso glútea....................................................................29 1.4.3. Região ventroglútea....................................................................32 1.4.4. Região vasto lateral da coxa.......................................................35 2. COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO.........................................................37 METODOLOGIA ........................................................................................................48 RESULTADO – PROTOCOLO DE ORIENTAÇÕES PARA EQUIPE DE ENFERMAGEM ACERCA DA ADMINISTRAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS POR VIA INTRAMUSCULAR ..................................................................................52 DISCUSSÃO .............................................................................................................64 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO...............................................................................65 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................66 REFERÊNCIAS .........................................................................................................68 APRESENTAÇÃO Sou egressa da Universidade Federal de Goiás, a qual em 2006 proporcionou tornar-me bacharel e licenciada em enfermagem. Desde então pude adentrar o mercado de trabalho nesta área, onde desempenho atualmente a função de enfermeira em um Centro de Saúde da Família do município de Goiânia. Anteriormente já trabalhei na assistência hospitalar direta, gerência de enfermagem, serviço de urgência e emergência, bem como ministrando aulas em curso técnico de enfermagem e atuando como docente universitária. Minha formação acadêmica sempre foi pautada na pesquisa, na busca constante pelo saber, por aprimorar o conhecimento já aprendido, sendo assim, senti-me motivada a pleitear uma vaga no Mestrado Profissional em Saúde Coletiva, tendo em vista a possibilidade gerada por este em responder a algumas demandas geradas em minha prática laboral. Percebi ao longo destes anos pós-formação acadêmica, que a prática assistencial é importante, porém a teoria, o embasamento teórico fundamentado é soberano, constituindo seu alicerce. O Mestrado Profissional em Saúde Coletiva objetiva estimular os profissionais que atuam na saúde pública a desenvolverem uma visão crítico-analítica acerca de questões inerentes a sua prática laboral, instigando-os a utilizarem a investigação científica como ferramenta para o aprimoramento do seu trabalho,utilizando-a como recurso para o desenvolvimento de habilidades e competências requeridas para o melhor desempenho de sua função. Nesse perspectiva, em que se almeja uma prática profissional transformadora por meio da produção e aplicação do conhecimento científico, visando a solução de problemas, ou mesmo, a proposição de inovações para a qualificação dos processos de atenção e gestão do sistema de saúde, este protocolo foi idealizado e elaborado, no intuito de instrumentalizar os profissionais de enfermagem quanto a questões inerentes à prática segura de administração de medicamentos por via intramuscular. Tal demanda foi evidenciada após discussões e análises realizadas pela orientadora em estudos previamente realizados, bem como pela percepção da discente pesquisadora, que se faz agente ativa neste processo de trabalho, quanto as evidentes fragilidades técnico-científicas de diversos membros da equipe de enfermagem quanto a temática desse estudo. A reflexão sobre tal realidade problematizada nos impulsionou a buscar novas possibilidades e estratégias que culminassem com o desenvolvimento de competências dos trabalhadores. Nessa vertente este trabalho foi proposto para que possa instrumentalizar os profissionais de enfermagem quanto a suas atividades laborais relacionadas a administração de medicamentos por via intramuscular, visando proporcionar uma assistência a saúde mais qualificada e segura a toda a população que dela precisar. Muito já se avançou quanto a melhoria na assistência à saúde prestada a toda a coletividade, porém sabemos o quanto ainda é preciso progredir, assim contamos com possíveis colaborações em prol da construção de uma saúde pública ainda mais qualificada e segura. INTRODUÇÃO A práxis da enfermagem permeia diversos campos de saberes e nesse contexto, grande relevância é dada a atividade terapêutica ligada aos medicamentos, uma vez que esta é uma atividade cotidiana da equipe de enfermagem em vários setores da saúde. Administrar medicamentos é uma atividade que exige grande responsabilidade por parte da equipe de enfermagem, visto que em sua execução são aplicados princípios científicos, legais e éticos, que fundamentam a ação do enfermeiro e visam promover a segurança necessária a esta prática (BRITO e VIEIRA, 2007). CASSIANI (2005) e LOPES et al (2006) afirmam que o processo de administração de medicamentos é complexo, desdobrado em várias atividades, como o preparo, armazenamento, aprazamento e administração das medicações, as quais envolvem sempre muitas pessoas e múltiplas transferências de informações e materiais, constituindo-se de uma prática que ocupa lugar de destaque na enfermagem, sendo considerado de suma importância para o reestabelecimento da saúde dos clientes e se constituindo como um importante marcador de uma assistência de enfermagem qualificada. Assim, compete ao enfermeiro conhecer todas as questões envolvidas neste processo, compreendendo desde os conhecimentos básicos, incluindo questões anatômicas e fisiológicas humanas, farmacológicas, técnicas atualizadas de administração das injeções, a orientação e supervisão do pessoal técnico, o preparo dos medicamentos, as condições do paciente, a observação dos efeitos e possíveis reações iatrogênicas das drogas. De acordo com Miasso, Silva et al (2006) é imprescindível que a enfermagem possua visão ampliada do sistema de medicação e de cada uma de suas etapas e, que assegure a qualidade do processo que está sob sua responsabilidade, buscando informações a respeito do fluxo de suas atividades, sobre os problemas existentes com o ambiente e com os recursos humanos, contribuindo para que a terapêutica medicamentosa seja cumprida de maneira eficiente, responsável e segura. Ainda que dada como prática assistencial rotineira, estudos têm demonstrado (CARVALHO, 2000; COIMBRA e CASSIANI, 2001; ROSA, 2003; BOHOMOL e 17 RAMOS, 2007) que erros nessa atividade vem ocorrendo e que estratégias precisam ser implementadas no intuito de prevení-los ou minimizá-los. Possuir uma visão sistêmica possibilita a identificação dos pontos frágeis dos processos e o desenvolvimento de medidas que garantam maior segurança para o paciente e para os profissionais no contexto de sua prática em saúde (SILVA et al, 2004). Sousa (2015) após análise das práticas e conhecimentos em administração de medicamentos por via intramuscular entre equipes de enfermagem em unidades pré- hospitalares fixas de urgência de Goiânia – Goiás verificou que a administração do medicamento por esta via não é executada de acordo com o preconizado na literatura, por grande parte destes profissionais, os quais alegaram que os conhecimentos adquiridos durante a formação profissional foram insuficientes para a atuação na prática cotidiana. Nesse contexto, a autora ratifica a necessidade de investimentos em educação permanente, que podem modificar as práticas tradicionais, somando a outros, que advogam a favor da maior segurança do paciente. Diante dessa evidência e de nossa prática profissional em que vivenciamos diversos aspectos envolvendo o preparo e administração de medicamentos que corroboram com a ocorrência de erros despertou o interesse pelo estudo, o qual se justifica no momento em que consideramos como uma importante função da equipe de enfermagem no cuidado aos pacientes, a administração de medicamentos, que exige dos profissionais: responsabilidade, conhecimentos e habilidades, para garantir a segurança do paciente. Nesse contexto, LOPES et al (2006), explicitam que é imprescindível uma reflexão mais atenta/focada acerca desse cuidado/ação que leve em consideração a responsabilidade ética imbuída na execução deste procedimento, é preciso repensar a formação profissional, os conhecimentos e habilidades dos profissionais de enfermagem, além das condições de trabalho oferecidas nas instituições. Nessa vertente, tendo como perspectiva ampliar a qualidade de assistência aos indivíduos e coletividade, e na melhoria do processo de trabalho dos profissionais de enfermagem, emerge a proposta de elaborar um protocolo contendo orientações, para a equipe de enfermagem, focadas na administração segura de medicamentos. 18 MIASSO e CASSIANI (2000) destacam que estratégias podem ser utilizadas e devem ser divulgadas para minimizar a ocorrência de erros na administração de medicamentos. Fica evidente que a educação continuada no serviço é uma realidade, entretanto, faz-se necessária uma melhor sistematização a fim de alcançar todos os profissionais de saúde e atingir melhor desempenho do serviço. O presente estudo almeja contribuir para o aprimoramento do conhecimento teórico e sua aplicação pelos enfermeiros nas unidades de saúde, por meio da construção de um protocolo que irá nortear a adoção de práticas seguras para administração de medicamentos por via intramuscular e espera-se que este produto possa ser divulgado nos serviços de saúde e que os profissionais que a ele tiverem acesso possam agir como agentes multiplicadores de tais informações em suas equipes de trabalho. 19 OBJETIVO Elaborar um protocolo sobre administração segura de medicamentos por via intramuscular para uso das equipes de enfermagem nas instituições de saúde. 20 REFERENCIAL TEÓRICO 1. INJEÇÕES INTRAMUSCULARES Historiadores médicos especulam que o primeiro uso de injeções intramusculares provavelmente ocorreu 500 dC (HANSON, 1966), entretanto, até a introdução de antibióticos no final de 1940, a administração de medicamentos por esta via era uma habilidade praticada exclusivamente por médicos (STOKES, BEERMAN e INGRAHAM, 1944), sendo aos poucos delineado o papel de enfermeiras neste campo de atuação (HARMER e HENDERSON, 1939). Em 1961, Zelman observou que as enfermeiras tinham essencialmente assumido o procedimentode aplicação de injeções intramusculares, entretanto, baseado nos resultados de uma pesquisa realizada com enfermeiros na sua instituição, ele relatou que os mesmos tinham recebido pouca ou nenhuma instrução formal pertencente as técnicas para administração intramuscular de medicamentos e relatou observar problemas na execução destas. No final dos anos 1960, as injeções intramusculares eram rotineiramente administradas por enfermeiros e a literatura de enfermagem refletiu essa mudança na prática (DISON, 1967; PITEL e WEMETT, 1964; WEMPE, 1961). Pesquisadores da enfermagem chamaram a atenção para injeções intramusculares, começando na década de 1970, com estudos relatando as complicações investigadas (BEECROFT e REDICK, 1989; CHEZEM, 1973; ROBERTS, 1975), os locais de seleção para aplicação de injetáveis (BEECROFT e REDICK, 1990; DALY, JOHNSTON e CHUNG, 1992), as técnicas de administração (KATSMA e SMITH, 1997; KATSMA e KATSMA, 2000; KEEN, 1986; LEE, LEE e ELDRIDGE, 1995; MACGABHANN, 1998; QUARTERMAINE e TAYLOR, 1995), e procedimentos para minimizar a dor (BARNHILL et al, 1996; ITTY, KURIAN e CHERIAN, 1977; KRUSZEWSKI, LANG e JOHNSON, 1979; LANG, ZAWACKI e JOHNSON, 1976), sendo ainda, atualmente grande o interesse por esta área de estudo. A terapia medicamentosa por via intramuscular é um procedimento muito utilizado na moderna prática de assistência à saúde, porém é importante ressaltar que tal ação vai além da introdução de fármacos dentro do ventre muscular. Trata-se de um 21 procedimento invasivo que requer a avaliação de alguns critérios antes da execução da técnica propriamente dita. NICOLL e HESBY (2002) afirmam que a administração de uma injeção intramuscular é uma complexa tarefa psicomotora que requer habilidade e conhecimento por parte do profissional que irá realizar o procedimento, o qual requer a destreza manual para manipular os materiais durante a preparação da medicação e a realização da injeção. Além de ser capaz de executar fisicamente a habilidade, as necessidades dos conhecimentos de farmacologia, anatomia, fisiologia, física e microbiologia, sendo que questões éticas e legais, nomeadamente em matéria de consentimento informado para o procedimento, devem também ser consideradas. Após revisão acurada do processo e em consonância com a recomendação da OMS (1998) que determina que “uma injeção só deve ser realizada se for necessária e cada injeção administrada deve ser segura", JUNQUEIRA (2009) descreve aspectos relevantes nessa tomada de decisão dos profissionais que pretendem administrar de maneira segura medicamentos por via intramuscular, sendo eles: desenvolvimento do músculo, acessibilidade do local da punção, distância em relação a vasos e nervos importantes, condições da musculatura para absorção do medicamento a ser injetado, espessura do tecido adiposo, idade do paciente, irritabilidade da droga, atividade exercida pelo paciente, tamanho adequado da agulha e volume do medicamento. A administração de medicamentos é uma das atividades mais sérias e de maior responsabilidade da enfermagem e, para sua execução, é necessária a aplicação de vários princípios científicos associados à existência de um sistema de medicação seguro, com processos desenvolvidos para dificultar as oportunidades de erros, auxiliando o profissional a não errar (MIASSO et al, 2006). Nesse contexto, torna-se imperativo que os profissionais que compõem a equipe de enfermagem, e, diretamente tornam-se responsáveis pela administração das injeções, tenham amplo conhecimento acerca das implicações pertinentes as suas ações, a fim de reduzir os vários riscos nelas envolvidos, evitando as iatrogenias. 22 1.1. CARACTERÍSTICAS DOS MEDICAMENTOS As propriedades físico-químicas e farmacocinéticas das medicações a serem administradas devem ser consideradas, pois, conforme relatado por Cassiani e Rangel (1999) o tipo de medicação introduzida pode ser irritante, estar diluída em solvente oleoso ou de absorção lenta e, ainda, estar em alta concentração, sendo relatadas como possíveis causas relacionadas ao surgimento das complicações locais quando se administra injeções por via intramuscular. 1.2. CARACTERISTICAS DO PACIENTE Aliadas aos efeitos da medicação, as características do paciente também devem ser consideradas quando se pretende aplicar uma injeção de maneira segura. A adesão do paciente é frequentemente dada como uma lógica, embora estudos preliminares sugerem que a conformidade é variável em paciente de diferentes grupos. Os pacientes que são pouco cooperantes ou relutantes também podem ser candidatos adequados para injeção intramuscular, embora o profissional deva equilibrar questões de direitos do paciente com as questões pertinentes a medicação (CASSIANI e RANGEL, 1999). KAYA et al (2015) afirmam que o sexo e o Índice de Massa Corpórea (IMC) dos indivíduos devem ser levados em consideração quando se pretende administrar injeções, em virtude da variação presente quanto a espessura do tecido subcutâneo que pode ocasionar uma injeção inapropriada, não atingindo a massa muscular alvo. Quando a medicação fica retida no tecido adiposo é muito lentamente absorvida e podem ocorrer nodulações e no paciente emagrecido, pode atingir inervações ou estruturas ósseas. Quanto a faixa etária, trata-se de um critério de suma importância no tocante a seleção do local de escolha para injeção (CDC, 1994; OMS, 1998). Dentre lactentes e crianças jovens (< 2 anos), o vasto lateral da coxa continua a ser o local preferido (BERGESON et al, 1982), enquanto que para crianças mais velhas, de acordo com 23 o ACIP, o deltóide pode ser usado se a massa muscular for adequada, bem como para vacinação de rotina em adultos. 1.3. PROCEDIMENTOS PARA PREPARO DE INJETÁVEIS POR VIA INTRAMUSCULAR Historicamente, o volume de fluido a ser injetado em cada músculo tem variado, existindo controvérsia na literatura quanto ao volume máximo estabelecido para cada administração de medicamento por via intramuscular. O volume injetado incompatível com a estrutura do músculo pode aumentar a tensão local, compressão vascular, o edema local e, juntamente com o efeito tóxico, pode causar infarto muscular, fibrose e necrose (BALBHULKAR, 1985). Malkin (2008) sugere que o volume máximo a ser injetado aparentemente tem sido baseado no tamanho do músculo, no entanto, afirma que é de extrema importância ressaltar a tolerância do paciente ao volume injetado, e não somente a massa muscular presente, sendo esta afetada por fatores associados ao medicamento, tais como a composição, oleosidade e pH da substância. Existem evidências que demonstram melhor absorção do fármaco e menor ocorrência de reações adversas quando se administra um volume menor no tecido muscular. Segundo Malkin (2008), podem ser utilizadas as recomendações expressas na tabela abaixo (tabela 1), para a escolha do local e o volume da injeção, segundo a idade do paciente. Tabela 1. Relação entre seleção do local de aplicação de injeções intramusculares e volume máximo a ser administrado, segundo faixa etária. Fonte: Malkin, B. Are techniques used for intramuscular injection based on research evidence? Nursing times, 2008. 24 NICOLL e HESBY (2002) ponderam que o tamanho da seringa deve ser determinado pelo volume da medicação e devendo corresponder, tanto quanto possível, a quantidade a ser administrada. Medicamentos injetáveis por via intramuscular devem ser administrados na camada de tecido a qual foi designada, pois são formulados para serem ativados dentro do músculo, nesse contexto, é imprescindível avaliar cada paciente a fim de selecionar o comprimento da agulha correto que garanta a transposição do tecido subcutâneo para que o medicamento possa ser depositado no tecido muscular. Figura 1. Correlação entre perfil corpóreo/idade,local de aplicação do injetável e comprimento da agulha. Fonte: Disponível em http://www.plenamedicamentos.com.br/, acessado em 20 de Novembro de 2015. O comprimento da agulha deve ser determinado com base no local de injeção e idade do paciente. O calibre da agulha varia muito conforme o comprimento da mesma. Em geral, vacinas e medicamentos em soluções aquosas podem ser dados com agulhas de 22 a 27g; medicamentos que estão mais viscosos ou numa solução à base de óleo exigem uma agulha de 18 a 25 g. Os volumes menores de 0,5 ml devem ser administrados com uma seringa de pequena graduação para assegurar a precisão da dose (ZENK, 1982, 1993). http://www.plenamedicamentos.com.br/ 25 Figura 2. Seleção do local de aplicação de injeção intramuscular e calibre da agulha, segundo características do paciente. Fonte: Bork, A.M.T.Enfermagem baseada em evidências, Guanabara Koogan, 2005. Alguns medicamentos são embalados em ampolas de vidro e frascos com tampa de borracha, com doses únicas ou múltiplas. Ao aspirar um medicamento a partir de uma dessas embalagens deve-se sempre realizar o procedimento com a agulha conectada na seringa para evitar aspiração de fragmentos de vidros das ampolas ou borracha do frasco, e após a aspiração deve-se trocar a agulha antes da administração da injeção, pois esta pode ter sido danificada no ato da aspiração do medicamento (HAHN, 1990; MCCONNELL, 1982). Essa técnica evita muitas complicações reais e potenciais, uma vez que impede que partículas, tais como pedaços de vidro ou de borracha, sejam arrastadas para dentro da seringa. Além do mais, uma agulha pode ser amassada ou danificada no ato da introdução contra a rolha de borracha. Com o objetivo de eliminar erros de medicação e complicações em pacientes a utilização de uma agulha extra representa a melhor prática segura na preparação dos medicamentos, assim, o profissional deve estar alerta para quaisquer problemas com a agulha (isto é, ponta romba ou entortada, danificada de alguma forma) e mudá-la, se necessário (NICOLL e HESBY, 2002). Ainda, Beyea e Nicoll (1995), recomendam a utilização de uma bolha de ar na seringa, sendo este um tema que gera intenso debate entre os profissionais, especialmente enfermeiros. Apesar da sua conclusão que "a elaboração de uma bolha de ar é uma recomendação desatualizada e deve ser eliminada do procedimento de injeção intramuscular", ainda parece ser uma prática prevalente (Engstrom et al, 2000). No entanto, a base científica para esta técnica é fraca e praticamente inexistente. 26 Dois pontos de vista entre os profissionais que discorrem sobre a necessidade de uma bolha de ar na seringa são predominantes. Uma sugere que uma bolha de ar é necessária para garantir que uma dose correta do medicamento esteja na seringa; a outra sugere que a bolha de ar sele o medicamento no músculo após a injeção. Embora um ponto de vista tenha se baseado num fato histórico, nenhuma visão é apoiada cientificamente ou apropriada para o procedimento na prática atual. Para evitar o refluxo do medicamento que pode irritar o tecido adiposo ou mesmo perda de quantidade do medicamento imediatamente após introdução dos medicamentos irritantes, ou que pigmentam o tecido subcutâneo, a técnica em Z tem sido evidenciada como a melhor prevenção para este tipo dano (Keen, 1981, 1986, 1990; Stokes et al, 1944). Para este procedimento, a pele é retraída para baixo e lateralmente antes da introdução da agulha no tecido, deslocando assim a pele e tecido subcutâneo, o que irá resultar em um tamponamento, utilizando a ação da válvula e da face superficial da pele, evitando o refluxo do medicamento e promovendo uma diminuição da incidência de lesões no local da injeção (Beyea e Nicoll, de 1995; Stokes et al, 1944). Quando a injeção está terminada, o tecido deslocado retorna à sua posição normal e se sobrepõe a posição da introdução da agulha. A utilização deste procedimento é interessante por resultar em menor desconforto para o paciente. Figura 3. Demonstração da Técnica em Z Fonte: SCHULL, P.D. et al. Enfermagem Básica: Teoria e Prática. 2ª ed. Editora Rideel, São Paulo, 2001. 1.4. REGIÕES PARA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS POR VIA INTRAMUSCULAR A escolha do local de aplicação da injeção intramuscular requer correta identificação dos grupos musculares por parte dos profissionais, os quais devem estar atentos 27 quanto a presença de sinais de inflamação, edema, processos infecciosos ou mesmo lesões de pele que contra-indicam tais vias (HUNTER, 2008). Injeções consecutivas em uma única musculatura podem resultar em eventos adversos indesejáveis como hematomas, depressões, fibroses e outras complicações devido a concentração, pH, natureza química da droga e cinética de absorção (COCKSHOTT et al, 1982). Assim, é imprescindível ter conhecimento suficiente para garantir a melhor escolha quanto ao local em que será administrada a injeção, sendo que a absorção adequada do medicamento administrado tem correlação direta com o local escolhido para este procedimento (NICOLL e HESBY, 2002). Atualmente, a literatura descreve quatro locais como sendo mais indicados na aplicação de injetáveis por via intramuscular, o deltóide, o vasto lateral da coxa, dorso glúteo e ventro glúteo, os quais apresentam vantagens e desvantagens que deverão ser incorporadas nos critérios de decisão adotados pelos profissionais ao acessarem tais vias, priorizando aquela onde há menor risco de eventuais complicações. 1.4.1. REGIÃO DELTÓIDEA Os anatomistas MOORE e DALLEY (2014) descrevem o terço lateral da clavícula, acrômio e espinha da escápula como sendo o ponto de inserção proximal do músculo deltóide que se estende até a tuberosidade do úmero, possuindo ampla inervação, pelo plexo cervical e braquial, com a presença do nervo axilar (C5 e C6) e tendo como ações fletir e girar medial e lateralmente o braço, abduzí-lo e estendê-lo. Trata-se de um músculo pequeno, de textura grosseira, recobrindo o ombro e formando contorno arredondado (Figura 4). 28 Figura 4. Anatomia descritiva do músculo deltóide. Fonte: Moore e Dalley, 2014. O músculo deltóide é um local comumente descrito para injeção intramuscular de medicamentos, apresentando como vantagens absorção mais rápida quando comparada a região glútea; fácil acesso, com retirada mínima de roupas, fator este que interfere sobre a preferência dos clientes; no entanto, possui massa muscular pequena que limita o volume a ser infundido em 1 ml e o tipo de medicamento a ser injetado, o qual deve ter consistência aquosa, apresentando pequena margem de segurança dos nervos radial e axilar. O local da injeção no deltoide é identificado traçando-se uma linha imaginária na axila e outra ao nível da borda inferior do acrômio, entre 3 e 7 cm do acrômio. As bordas laterais do retângulo são linhas verticais paralelas localizadas entre o terço anterior e o médio e entre o terço posterior e o médio da face lateral do braço (Figura 5). Uma vez determinado o local da injeção, a agulha deve ser introduzida em ângulo reto (90º) com um único movimento firme e suave, após certificar que não houve refluxo sanguíneo, administrar a medicação de forma lenta, minimizando o desconforto durante a aplicação (COREN-SP, 2010) (Figura 6). O cliente deve ser orientado a manter o braço relaxado ao longo do corpo ou dobrado na altura da cintura, visando promover relaxamento das fibras musculares, a área delimitada deve ser inspecionada quanto a sinais de endurecimento, marcas de outras aplicações, presença de nódulos, hematomas ou inflamações. Tais cuidados devem ser tomados em qualquer aplicação de injeções intramusculares. 29 Esta região é contra indicada para menores de 10 anos, idosos e adultos com pequeno desenvolvimento muscular,pessoas com complicações vasculares dos membros superiores ou acometidos por acidente vascular cerebral com parestesia ou paralisia dos braços e pessoas que sofreram mastectomia e/ou esvaziamento cervical (NETTINA, 2003). Figura 5 e 6. Local seguro para aplicação de injeção no músculo deltóide. Fonte: Disponível em http://pt.slideshare.net/AlineNeves7/administrao-de-medicamentos-por-via- parenteral, acessado em 20 de Novembro de 2015. 1.4.2. REGIÃO DORSO GLÚTEA A região glútea situa-se atrás da pelve, entre o nível das cristas ilíacas e as margens inferiores dos músculos glúteos máximos, sendo composta por três grandes músculos glúteos (máximo, médio e mínimo) e um grupo de músculos menores (piriforme, obturador interno, gêmeos e o quadrado femoral) (Figura 7). Esta região se destaca como local favorável a aplicação de injeções uma vez que os músculos são espessos e grandes; consequentemente, fornecem uma grande área de superfície para absorção de medicamentos. O local de aplicação de injeções nesta região deve ser acima da linha que se estende da espinha ilíaca póstero-superior até a margem superior do trocanter maior (MOORE e DALLEY, 2014) (Figura 8). http://pt.slideshare.net/AlineNeves7/administrao-de-medicamentos-por-via-parenteral http://pt.slideshare.net/AlineNeves7/administrao-de-medicamentos-por-via-parenteral 30 Figura 7 e 8. Delimitação anatômica dos músculos da região glútea. Fonte: Moore e Dalley, 2014. A administração de medicamentos injetáveis na região dorso glútea ocorre no músculo glúteo máximo (Figura 9), o qual possui rico plexo vásculo-nervoso, apresentando como ação principal a extensão da coxa, auxiliando em sua rotação e mantendo-a fixa. Figura 9. Delimitação anatômica da região dorso glútea e indicação do local seguro para injeção intramuscular. Fonte: Moore e Dalley, 2014. Estudos comprovam uma preferência continuada por este músculo no tocante a administração de injetáveis, sendo tal fato justificado pelo mais fácil acesso ao local da punção, extensa massa muscular, redução da dor, solicitação do cliente ou mesmo maior domínio da técnica pelos profissionais que administram injeções 31 (ARTIOLI et al, 2002; WALSH e BROPHY, 2011; ENGSTROM et al, 2000; GREENWAY et al, 2006). Apesar de ser uma região recoberta por uma espessa camada muscular, é imprescindível que o profissional possua conhecimento sobre o local exato para realizar a aplicação, pois esta região é altamente vascularizada (artéria glútea superior) e o nervo isquiático está presente podendo causar danos graves caso sejam atingidos, além disso, alguns clientes apresentam extensa camada de tecido adiposo nesta região, cabendo ao profissional optar por uma agulha de tamanho adequado para que a medicação não seja aplicada no tecido subcutâneo (DALY et al, 1992; ENGSTRON et al, 2000; GREENWAY, 2004; SMALL, 2004; BURBRIDGE, 2007; MALKIN, 2008). WONG (1999); POTTER e PERRY (2005) afirmam que esta região é contra indicada em crianças menores de dois anos, principalmente aquelas que ainda não deambulam, bem como em pessoas com atrofia de musculatura glútea (p.e. idosos), com parestesia ou paralisia de membros inferiores ou com lesões vasculares. A delimitação do local para aplicação de injetáveis nesta região consiste em dividir o glúteo com uma linha imaginária em quatro quadrantes, utilizando a crista ilíaca e a prega glútea como limites na linha vertical, e prega média glútea como linha horizontal, introduzindo a agulha no centro do quadrante superior externo (Figura 10). Figura 10. Delimitação da área segura para aplicação de injetável na região dorso glútea Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/vacinas/imagens/vacina-68.jpg http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/vacinas/imagens/vacina-68.jpg 32 1.4.3. REGIÃO VENTROGLÚTEA Em 1954, o anatomista Von Hochstetter descreveu esta região, composta pelos músculos glúteos médios e mínimos, como sendo adequada e segura para aplicação de injeções (HOCHSTETTER, 1954). A delimitação do local correto de aplicação se dá pela espinha ilíaca ântero-superior, grande trocanter e crista ilíaca superior, conforme detalhado na figura 11 (MENESES e MARQUES, 2007). Figura 11. Delimitação do sítio de punção para injeção por via ventroglútea. Fonte: Meneses e Marques, 2007. Considerando-se o conceito de planos anatômicos, descritos na literatura anatômica (GODOY, 2002; MOORE E DALLEY, 2014), a região ventro glútea é composta pelos músculos glúteos médio e mínimo, localizados lateralmente, em relação ao plano sagital mediano e, o sítio de punção avança no sentido do eixo transversal ou látero- lateral. O glúteo médio é parcialmente recoberto pelo glúteo máximo, é espesso e radiado, com origem na face glútea do ílio, entre a linha glútea anterior e posterior e, com inserção na face lateral do trocânter maior do fêmur. O glúteo mínimo tem forma triangular, é profundo e totalmente recoberto pelo médio, origina-se na face glútea do ílio, entre a linha glútea anterior e inferior, e se estende até a margem anterossuperior do trocânter maior do fêmur (HORTA, 1973; PUTZ e PABST, 2000). Estes dois músculos estabilizam o quadril na deambulação: quando um dos membros se eleva o peso é suportado pelo membro ao solo. A contração desses músculos impede a queda da pelve para o lado do membro elevado. A região é suprida pelo feixe vásculo-nervoso que penetra na área glútea acima do músculo 33 piriforme, tendo como principal nervo, o glúteo superior (L4, L5 e S1), que se bifurca em ramo superior e inferior (MOORE e DALLEY, 2014; LIMA et al, 1994) (Figura 12). Figura 12. Composição anatômica da região ventro glútea. Fonte: Moore e Dalley, 2014. Alguns autores discorrem sobre características que comprovam a maior segurança oferecida por esta via na aplicação de injetáveis. Dentre estes, podemos citar: POTTER E PERRY (2009) descrevem que o glúteo médio apresenta espessura muscular bem desenvolvida independente da variação de idade do paciente, estando indicado tanto para adultos como crianças; COCOMAN e MURRAY (2010); KAYA et al (2012) inferem que o tecido subcutâneo é menos espesso nessa região e mais facilmente palpável, tanto em pessoas emagrecidas como edemaciadas, facilitando a delimitação correta do local a ser puncionado, inclusive devido a precisão da localização embasada em limites anatômicos; GREENWAY (2004) afirma que esta região possui inervação e vasos sanguíneos pouco significativos quanto a possibilidade de evoluírem com lesões graves caso acessados; MURTAGH (2006) ressalta que esta região tem sido associada a menor dor durante as injeções; BEECROFT; REDICK, 1990; explicitam o menor risco de infecção associada a injeção nesta via, uma vez que a epiderme é mais pobre em germes patogênicos anaeróbios e, por fim, CASTELLANOS, 1977) sugere que a direção das fibras musculares é tal que previne o “deslizamento” do material injetado para a região do nervo isquiático livrando-o de irritação e que a injeção pode ser aplicada em qualquer decúbito, sem necessidade de movimentar o cliente. Como desvantagem da utilização da região ventro glútea como via para aplicação de injetáveis, Wempe (1961) descreveu o fato de o cliente observar a aplicação neste 34 local, entretanto esse fato foi contestado por Baraldi et al (1994) tendo em vista que a região deltoidea também possibilita esta visualização. Ao longo dos anos, diversas formas de descrever a técnica de aplicação de injetáveis na região ventro glútea foram apresentadas (CASTELLANOS, 1977; ATKINSON E MURRAY, 1989; BEYEA e NICOLL, 1995; POTTER e PERRY, 1999; SWEARINGEN e HOWARD, 2001), explicitando como deveria se dar o posicionamento do cliente, a delimitação específica da região e a aplicação do fármaco. JUNQUEIRA (2009) descreve a técnica preconizadapor Castellanos (1977) como sendo a mais utilizada no Brasil, a qual consiste em colocar a mão esquerda no quadril direito do cliente, localizando na falange distal do dedo indicador a espinha ilíaca ântero-superior direita, estendendo o dedo médio ao longo da crista ilíaca, espalmando a mão sobre a base do grande trocanter do fêmur e formando com o indicador um triângulo; devendo a punção ser realizada no centro deste triângulo com a agulha ligeiramente voltada para a crista ilíaca (Figura 13). Nas aplicações em crianças, colocar o espaço interdigital dos dedos médio e indicador na saliência do trocânter maior do fêmur. Figura 13. Delimitação do sítio de punção para injeção por via ventro glútea. Fonte: Moore e Dalley, 2014. 35 1.4.4. REGIÃO VASTO LATERAL DA COXA Em breve revisão anatômica pode-se inferir que o músculo vasto lateral é o maior músculo que compõe o quadríceps femoral, recobrindo quase que toda a face ântero-lateral da coxa, sendo sua inserção proximal no trocanter maior e lábio lateral da linha áspera do fêmur e inserção distal na base da patela e tuberosidade da tíbia. (FERREIRA, 2005; MOORE e DALLEY, 2014; BEGERSON et al, 1982) (Figura 14). Tais anatomistas descrevem ainda a flexão do quadril e extensão do joelho como funções deste músculo. Figura 14. Anatomia da região da coxa. Fonte: Moore e Dalley, 2014. Dentre as vantagens descritas para esta via de administração de fármacos, encontram-se a inexistência de vasos e nervos significativos no tocante a possíveis lesões decorrentes de injeções; região pode ser utilizada em adultos e crianças; apresenta grande massa muscular, sendo extensa a área disponível para injeção; é uma região de fácil acesso, permitindo auto-aplicações e facilitando o controle/ contensão de pessoas agitadas/crianças chorosas (BEECROFT; REDICK, 1990; BEGERSON et al, 1982; BEYEA; NICOLL, 1995; CASTELLANOS, 1977; COCOMAN; MURRAY, 2008; MOORE; DALLEY, 2004; NICOOL; HESBY, 2002). https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsculo https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsculo_quadr%C3%ADceps_femoral 36 Como desvantagens encontradas na literatura, a região vasto lateral da coxa está associada a lesões (HABER et al, 2000; OZEL et al, 1995; TALBERT et al, 1967), seja por dano ao nervo femoral ou a artéria femoral e para minimizá-los cabe ao profissional responsável identificar o local da injeção e utilizar o tamanho adequado da agulha. O risco de lesão nesta musculatura é proporcional a frequência de injeções, volume e tipo de medicamento injetado, sendo que o volume máximo recomendado varia conforme o tamanho do músculo, não podendo exceder 3 ml em adulto e, para crianças menores de 2 anos que não ultrapassar 1 ml e, em recém nascidos, no máximo 0,5 ml, devendo o medicamento ser aquoso, não irritante, oleoso ou viscoso (CASTELLANOS, 1977; LOSEK; GYURO, 1992). O Advisory Comittee on Imunization Pratices (ACIP) do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomenda que para a aplicação de injeção na região VLC, estabilize a musculatura, com o dedo indicador e polegar da mão não dominante no músculo vasto lateral da coxa COMO uma pinça, na porção do terço médio da coxa e, com a mão dominante, insira a agulha com angulação de 90º, conforme o tamanho da musculatura presente (Figura 15). Quanto a esta técnica, são descritas duas variações relacionadas à agulha e ao ângulo, sendo que uma recomenda o uso de agulha de 25 mm e ângulo de 45º a 60º (COOK; MURTAGH, 2005; COOK; MURTAGH, 2006); e a outra, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), utilizando agulhas de 16mm para recém-nascidos, e 22 mm ou 25 mm para crianças de 1 a 12 meses de idade, dependendo do tamanho da musculatura e ângulo reto, esta última adotada pelo Ministério da Saúde no Brasil (CDC, 2009; OMS, 2001). Figura 15. Sítio de aplicação de injeção intramuscular no vasto lateral da coxa. Fonte: Imagem cedida pela Profª Drª Ana Luiza Neto Junqueira. 37 2. COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS POR VIA INTRAMUSCULAR Administrar injeção intramuscular não é um procedimento simples, há inúmeros relatos na literatura de complicações relacionadas com a administração medicamentosa de forma inadequada no músculo do paciente (BEECROFT e REDICK, 1989; GREENBLATT E ALLEN, 1978; HANSON, 1963). As complicações mais comuns incluem a contratura e fibrose do músculo esquelético (DREHOBL, 1980; HABER, KOVAN, ANDARY e HONET, 2000; TALBERT, HASLAM e HALLER, 1967), abscessos no local da injeção (COCKSHOTT, THOMPSON, HOWLETT e SEELEY, 1982; HANSON, 1966; MICHAELS e POOLE, 1970), gangrena (OZEL, YAVUZ e ERKUL, 1995; TALBERT, HASLAM e HALLER, 1967; WEIR, 1988) e lesão do nervo (TONG e HAIG, 2000). Internacionalmente, práticas inseguras de injeções resultam em milhões de infecções que levam a sérios problemas de morbidade e mortalidade, particularmente na transmissão de hepatite B e C e do vírus da imunodeficiência humana. No cenário mundial, acredita-se que mais de 50% das injeções aplicadas em instituições de saúde não são seguras. Estima-se que a prática de injeção insegura ocasione mais de 1,3 milhões de mortes e onere anualmente mais de $ 535 milhões em custos médicos diretos (MILLER e PISANI, 1999). As ocorrências adversas advindas da prática dos profissionais de saúde continuam presentes no cotidiano laboral apesar dos grandes avanços tecnológicos em todas as áreas da saúde. Atualmente, esta temática vem sendo discutida em diversas publicações nacionais e internacionais, dada a grande importância que este conteúdo representa para o sistema de saúde, pacientes, familiares, profissionais e sociedade como um todo (TEIXEIRA et al, 2010). SANTANA et al (2012) afirmam que os erros no processo medicamentoso são multifatoriais, envolvendo ambiente, profissionais de saúde, comunicação, dentre outros e que, para tanto, fazem-se necessárias medidas preventivas para minimizar estes riscos, otimizando uma assistência de qualidade e segura, livre de danos decorrentes de imperícia, imprudência e negligência, tanto para o paciente, a família e os profissionais de saúde. 38 O Código de Ética do Profissional de Enfermagem destaca no artigo 12 que é um dever do enfermeiro “Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência” e no artigo 18 evidencia que o profissional deve “Responsabilizar‐se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe” (COFEN, 2007). Coimbra e Cassiani (2001) afirmam que “O ato de delegar não faz refutar a responsabilidade que o enfermeiro tem no atendimento das necessidades assistenciais e de cuidados à saúde do paciente como indivíduo, da família e de outros entes significativos, mesmo sendo realizados por sua equipe”. No tocante à administração de medicamentos, o enfermeiro, responsável por sua equipe, deve estar atento aos fatores individuais e/ou sistêmicos que podem levar a ocorrência de falhas na prática profissional e, consequentemente, causar eventos adversos evitáveis durante a assistência. Tais fatores podem estar associados às lacunas no conhecimento dos profissionais, decorrentes de deficiências na formação acadêmica, inexperiência, desatualização quanto aos avanços tecnológicos e científicos, falta ou falha no treinamento institucional, dentre outros. A equipe de enfermagem deve, portanto, preocupar-se com a segurança dos pacientes que estão sob sua responsabilidade, buscando, cada vez mais, atualização dos conhecimentos sobre os medicamentos que manuseia, promovendo um tratamento adequado e seguro ao paciente. Diante do exposto, fica clara a elevada responsabilidade que tem a equipede enfermagem durante a administração de medicamentos (PADILHA; SECOLI, 2002). Diversas condutas têm sido propostas ao longo do tempo visando a prevenção de erros de medicação, dentre elas a instituição da regra dos cinco certos (paciente certo, medicamento certo, hora certa, dose certa e via certa) como orientação para a enfermagem durante a administração de medicamentos, embora nem sempre seja suficiente (SANTANA, 2006). Nessa mesma linha de raciocínio, Malcolm e Yisi (2010) alertam para a importância de que o profissional de enfermagem siga os nove certos em busca de uma administração de medicamentos mais segura, quais sejam: paciente certo, horário certo, dose certa, via de administração certa, medicamento certo, documentação (checagem) correta, ação certa, forma certa, resposta certa. 39 A Organização Mundial da Saúde tem estimulado que os profissionais de saúde do mundo estejam atentos aos eventos adversos e à segurança do paciente e tem proposto aos seus países membros a adoção de nove soluções para a prevenção desses eventos na assistência à saúde e para a segurança do paciente, perfeitamente adotáveis para prevenção de eventos adversos na medicação (OMS, 2007). Tais soluções estão relacionadas ao cuidado com medicamentos com nome e som semelhantes; Identificação do paciente; Comunicação durante a passagem de plantão e a transferência do paciente; Realização de procedimentos corretos nos locais corretos; Segurança na medicação nas transições de cuidado; Controle de soluções concentradas de eletrólitos; Soluções corretas entre cateteres e sondas; Uso único de dispositivos injetáveis; Higiene das mãos para prevenir infecção associada ao cuidado a saúde. No contexto nacional evidencia-se a Portaria GM/MS nº 529/2013, a qual institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) com o objetivo de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional. Uma vez que a segurança do paciente é um componente essencial da qualidade do cuidado, e tem adquirido, em todo o mundo, importância cada vez maior para os pacientes e suas famílias, para os gestores e profissionais de saúde no sentido de oferecer uma assistência segura. A RDC/ANVISA nº 36 de 2013 institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde, regulamentando e colocando pontos básicos para a segurança do paciente como Núcleos de Segurança do Paciente, a obrigatoriedade da Notificação dos eventos adversos e a elaboração do Plano de Segurança do Paciente. A Portaria GM/MS nº 1.377, de 9 de julho de 2013 e a Portaria nº 2.095, de 24 de setembro de 2013 aprovam os protocolos básicos de segurança do paciente, incluso nestes a segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos. Silva e Cassiani (2004) evidenciam que permanece a necessidade de olhar para o problema com uma visão sistêmica, identificando os pontos frágeis dos processos e buscando alternativas para o desenvolvimento de medidas que promovam maior segurança ao paciente e aos profissionais. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0529_01_04_2013.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0036_25_07_2013.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1377_09_07_2013.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2095_24_09_2013.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2095_24_09_2013.html 40 Para assegurar a qualidade da assistência, é fundamental uma formação adequada da equipe de enfermagem, adequação dos recursos físicos e materiais e estratégias voltadas para a organização do serviço e sistematização da assistência de enfermagem. Para tanto, cabe ao enfermeiro o planejamento das ações de enfermagem, seja disponibilizando recursos materiais adequados e seguros, seja capacitando a equipe de enfermagem ou promovendo condições tanto ambientais como de trabalho adequadas para o desempenho das atividades, garantindo segurança para o paciente (BOHOMOL E RAMOS, 2003 Coimbra (2004) e Santana (2012)). Telles Filho e Cassiani (2004) reforçam tal afirmação lembrando que esse conhecimento diferencia o enfermeiro dos outros membros da equipe da enfermagem, promovendo uma administração de medicamentos livre de imperícias. Entretanto, a prática no cotidiano e as pesquisas realizadas têm evidenciado outra realidade, na qual os profissionais de enfermagem envolvidos na administração de medicamentos, não têm demonstrado, muitas vezes, conhecimento suficiente para assumir tal responsabilidade, resultando em complicações e erros no processo de administração. Tal ocorrência é relatada em uma investigação realizada pelos autores acima citados, com o objetivo de analisar as necessidades educacionais dos profissionais de enfermagem sobre a administração de injetáveis, a qual revelou que esses profissionais tinham pouco conhecimento a respeito dos seguintes assuntos: interação medicamentosa, mecanismos de ação, estabilidade e efeitos colaterais de medicamentos, preparo das injeções, bem como outros aspectos referentes à administração medicamentosa. Esses autores revelaram ainda que os profissionais de enfermagem podem estar com déficit de conhecimento para realizar tais funções. Essa realidade torna-se mais complexa quando se trata de profissionais que atuam na administração de injetáveis em salas de vacinas, pois necessitam de conhecimentos técnicos científicos especializados nessa área, os quais vão abranger as especificidades de cada imunobiológico, seguindo todos os padrões corretos de conservação, armazenagem e indicações clínicas. Nesse mesma linha de raciocínio, Godoy et al (2004) desenvolveram um estudo entre profissionais de enfermagem de um hospital escola do interior paulista com a 41 equipe responsável pela administração de medicamentos e constataram que dentre eles havia dificuldade em descrever o método usado para delimitar as regiões para aplicação de medicamentos intramuscular (a região ventroglútea foi delimitada incorretamente por 22 profissionais (68,75%), a face ântero-lateral da coxa foi delimitada incorretamente por 25 profissionais (78,12%), a região dorsoglútea recebeu delimitação incorreta por 27 profissionais (84,37%) e a região deltóidea foi incorretamente delimitada por 25 profissionais (78,12%)) e pouco conhecimento na identificação de complicações e contra-indicações, assim, validando a necessidade de atualização desses profissionais, especialmente no que se refere à anatomia, e terminologia adequada utilizada para designar as regiões e os conhecimentos dos eventos adversos pós injeções. Nesse contexto, é imprescindível ressaltar a importância da atuação do enfermeiro no tocante a sua responsabilidade na promoção da segurança e manutenção da qualidade da assistência, participando de forma efetiva na educação em serviço da sua equipe e nos cuidados ao paciente. A competência do enfermeiro em uma área especifica do conhecimento ocorre quando esse profissional demonstra e aplica seu conhecimento, suas habilidades e atitudes adequadas durante o cuidado prestado (PEARCE e TRENERRY, 2000). Paranaguá (2015) evidencia a importância do desenvolvimento de competências pelo enfermeiro voltadas para a assistência ao paciente, onde o profissional deve compreender a necessidade de se instituir em sua práxis laboral uma cultura de segurança, abrangendo um conjunto de valores, atitudes e comportamentos que irão evidenciar seu comprometimento com a gestão da saúde e da segurança. Frente a essa realidade, é possível desenvolver ações de melhoria e qualificação para os profissionais de saúde, seja durante sua formação acadêmica, seja durante o processo de educação continuada que deve ocorrer de forma sistemática nas instituições. Com melhor formação e capacitação do capital humano ampliam-se as condições para a prestação deuma assistência segura e de qualidade aos pacientes. Walters e Furyk (2010) demonstraram em seu estudo que através da implantação de um pacote de ensino contendo orientações sobre boas práticas para administração de medicamentos por via intramuscular é possível desencadear mudanças no 42 exercício laboral dos profissionais, contribuindo para uma assistência mais segura e minimizando as complicações associadas a injeções intramusculares. Visando prestar uma assistência de enfermagem segura e eficaz, no tocante a administração de medicamentos, faz-se necessária uma intervenção junto aos profissionais que executam tal atividade, a qual pode se dar por meio da efetivação de um programa sistematizado de educação continuada direcionada para fornecer conhecimentos por meio de cursos de atualização e treinamentos sistemáticos. Para desenvolver competências nos profissionais diversas ferramentas podem ser utilizadas, tais como a simulação realística, que possibilita a vivência de situações clínicas em cenários virtuais que auxiliam na aprendizagem para alcance da segurança no processo de assistência ao paciente; ou mesmo a criação de protocolos, que irão embasar as tomadas de decisões dos profissionais. O estudo realizado por Godoy (2002) descreve o uso da tecnologia de videoconferência como ferramenta para o ensino, onde profissionais de enfermagem tiveram acesso a educação em serviço acerca da aplicação de injetáveis por via intramuscular na região ventro-glútea e consideraram a metodologia utilizada adequada ao objetivo proposto visto que puderam aliar teoria a prática e, assim, desenvolver habilidade intelectual e motora necessárias a seu exercício profissional. Costa (2012) evidencia nesse contexto a relevância da construção de protocolos e a disponibilização de fontes de consulta a informações, que sejam de fácil acesso aos profissionais, para que haja oportunidade de esclarecimento de dúvidas, sobre as ações a serem tomadas, em cada etapa, durante o processo de administração. Administrar medicamentos depende de ações humanas e os erros fazem parte dessa natureza, exigindo que os processos de medicação sejam planejados e bem estruturados com a finalidade de torná-los mais seguros de modo a auxiliar os profissionais a não errarem. Tornar os processos mais seguros depende da adoção de muitas estratégias. A transmissão do conhecimento e a garantia da execução de ações corretas é algo imprescindível para a prevenção de erros na medicação, especialmente as injetáveis (COSTA, 2012). A administração segura de injetáveis por via intramuscular depende da escolha adequada do local onde será realizada, devendo-se levar em consideração os seguintes aspectos: desenvolvimento do músculo, acessibilidade do local da 43 punção, distância em relação a vasos e nervos importantes, condições da musculatura para absorção do medicamento a ser injetado, espessura do tecido adiposo, idade do indivíduo, irritabilidade da droga e atividade exercida pelo paciente (RODGER; KING, 2000; SMALL, 2004). Outro aspecto importante a ser observado é a condição da musculatura, que deve ser livre de fibrose, edemas, hiperemia ou calor (CASTELLANOS, 1977) e tamanho adequado da agulha (COOK, 2009; GROSWASSER et al, 1997; LIPPERT; WALL. 2008; PETOUSIS-HARRIS, 2008). A literatura identifica quatro locais apropriados para a aplicação de injeções por via intramuscular: dorsoglúteo, ventroglúteo, vasto lateral da coxa e deltoide (COCOMAN e MURRAY, 2008; GILSENAN, 2000; RODGER e KING, 2000), sendo que cada um deles apresenta vantagens e desvantagens que devem ser avaliadas individualmente quando se pretende administrar uma medicação a fim de garantir a execução segura do procedimento. Wynaden et al (2014) afirmam em seu estudo que tradicionalmente, a técnica e o local de escolha para administração de medicação por via intramuscular são baseados nas preferências pessoais do enfermeiro (ZIMMERMANN, 2010), em sua formação profissional e no conhecimento empírico adquirido na prática clínica (GERRISH e CLAYTON, 2004). Entretanto, atualmente, diversos estudiosos sugerem que a prática de enfermagem deve ser baseada em evidências, obtidas a partir de pesquisas aplicadas a luz do rigor metodológico e padrões éticos (COCOMAN e MURRAY, 2010; FARCHAUS STEIN, 2013; HUNTER, 2008). Cada vez mais, espera-se que os profissionais enfermeiros fundamentem sua prática clínica em conhecimentos evidenciados ao longo de estudos que comprovem como deve se dar uma assistência à saúde qualificada e de excelência pautada em princípios científicos. Segundo Kaya et al (2015), nas últimas décadas vários avanços ocorreram na área da saúde e, portanto, na implementação de cuidados de saúde e, para se adaptar a essas mudanças, é imperativo que os profissionais de saúde façam uso de tais progressos científicos como base para a construção de protocolos e implementação de práticas clínicas baseadas em evidências. Small (2004) sugere que tanto enfermeiros como instituições de saúde devem garantir que os pacientes recebam um atendimento seguro e competente, sendo 44 que, isso só será alcançado se ambos os atores se responsabilizarem pela manutenção da prática assistencial apoiada pelo “bom julgamento clínico utilizando a melhor evidência disponível”. Neste cenário é importante desenvolver programas educacionais que elucidem os erros de medicação, discutindo estratégias para entender as causas dos problemas e propostas de melhorias, além de reduzir ou eliminar as barreiras para a notificação dos erros de medicação, focando a segurança do paciente, equipe e familiares com um padrão de alta qualidade da assistência à saúde (BOHOMOL e RAMOS, 2007). As atividades de educação em serviço de saúde constituem-se em uma estratégia capaz de assegurar a manutenção da competência da equipe de enfermagem em relação ao cuidado oferecido aos usuários (KRISTJANSON e SCANEAN, 2002). Além de fornecer equipamento, treinamento e educação continuada para garantir um atendimento de qualidade e maior segurança na administração de medicamentos, faz-se necessária a adoção de outras medidas de segurança, sendo, uma delas, a elaboração de protocolos institucionais padronizando as ações a serem seguidas nesse processo de trabalho. A adoção de protocolos, segundo Honorio e Caetano (2009), permite o direcionamento do trabalho, o registro oficial dos cuidados executados na resolução ou prevenção de um problema. E a inexistência destes, conforme explicita Silva (2008), faz com que os profissionais de enfermagem, muitas vezes, ajam pautados na experiência do colega, em aquilo que aprendeu em seu dia-a-dia, sem utilização do raciocínio clínico e do embasamento científico. Walsh e Brophy (2011), através do seu estudo, concluíram que os profissionais de enfermagem não estão usando as diretrizes atuais para a administração de injeções por via intramuscular de acordo com a orientação da literatura. Os autores sugerem que os programas de educação permanente devem se concentrar em mapear adequadamente as técnicas de administração de injetáveis, levando em consideração todos os fatores que irão influenciar a escolha profissional. Sousa (2015) após análise das práticas e conhecimentos em administração de medicamentos por via intramuscular entre equipes de enfermagem em unidades pré- hospitalares fixas de urgência de Goiânia – Goiás verificou que a administração do medicamento por esta via não é executada de acordo com o preconizado na literatura, por grande parte destes profissionais, os quais alegaram que os 45 conhecimentos adquiridos durante a formação profissional foram insuficientes para a atuação na prática cotidiana. Nesse contexto, a autora ratifica a necessidade de investimentos em educação permanente, que podem modificar as práticas tradicionais, somando a outros, que advogama favor da maior segurança do paciente. A educação continuada deve sempre fazer parte do cotidiano dos profissionais de forma institucionalizada. Segundo Ricaldoni e Sena (2006), o grande desafio da educação é o processo contínuo de capacitação, estimulando o desenvolvimento da consciência e responsabilidade nos profissionais sobre seu contexto de trabalho. Silva et al (2008), evidenciam em seu artigo a educação continuada como uma ferramenta que permite o desenvolvimento dos profissionais de saúde e assegura a qualidade do atendimento aos clientes; e explicitam que, para que seja garantida a eficácia da educação continuada no serviço, o gestor deve considerar a realidade institucional e atuar diretamente sobre as necessidades do profissional, instigando o real interesse da equipe diante das situações cotidianas. A atualização é um alicerce importante durante o exercício da profissão, e a educação continuada um processo prolongado que vai além dos sistemas educacionais e estratégias que favorecem o desempenho e a qualificação profissional. Estudo feito em São Paulo avaliou as atividades de educação continuada mostrando que a capacitação oferecida ao profissional possibilita uma maior segurança durante a realização de suas atividades. Acrescenta-se ainda, a importância de considerar o cotidiano do trabalho e as necessidades do setor, como variáveis para o desenvolvimento da educação continuada (RODRIGUEZ et al, 2011) É imprescindível considerar que é através do conhecimento que se alcança as competências para uma atuação profissional qualificada, segura e livre de riscos, e, seguindo essa linha de raciocínio, após tomar conhecimento prévio sobre as necessidades expressas pelos profissionais de enfermagem lotados nas unidades municipais de urgência e emergência no tocante a administração de medicamentos, faz-se necessário o planejamento de estratégias educativas que contribuam para o desenvolvimento dos profissionais de enfermagem e melhoria do desempenho dos serviços de saúde. 46 Machado et al (2014) explicitam que cabe aos enfermeiros, reconhecer a importância de procurar formas de articulação entre diferentes áreas do conhecimento, do diálogo com os envolvidos e com os que decidem para reorientar a prática das ações educativas da equipe de enfermagem nas instituições de saúde. Dessa forma, torna-se imprescindível que o enfermeiro assuma a responsabilidade pela educação permanente de sua equipe, potencializando o padrão de assistência prestada em todos os níveis de atenção, promovendo a valorização dos recursos humanos em saúde (KRISTJANSON e SCANEAN, 2002). O Ministério da Saúde considera que no processo de Educação Continuada em Saúde o aprender e ensinar devem se incorporar ao cotidiano das organizações e ao trabalho, tendo como objetivos a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, sendo estruturados a partir da problematização do processo de trabalho, onde a atualização técnico- científica é um dos aspectos da transformação das práticas, porém, não é seu foco central (BRASIL, 2005). A educação continuada, segundo Oguisso (2000) é um processo dinâmico de ensino-aprendizagem, ativa e permanente, destinada a atualizar e melhorar a capacitação de pessoas, ou grupos, face à evolução científico-tecnológica, às necessidades sociais e aos objetivos e metas institucionais. Assim, a educação continuada precisa ser considerada como parte de uma política global de educação para garantir a qualificação dos trabalhadores de saúde, centrada nas necessidades de transformação da prática. Segundo Telles e Cassiani (2004), administrar medicamentos é um processo multi e interdisciplinar, que exige do indivíduo, responsável pela administração, conhecimento variado, consistente e profundo. Reconhecendo a importância de tal prática nas atividades cotidianas da equipe de enfermagem, na repercussão das mesmas na assistência aos usuários, e, na necessidade de realizar tais atividades laborais de forma segura, fica evidente a necessidade de se instituir um processo de educação permanente em serviço aos profissionais de enfermagem, como subsídio para a prática profissional destes. Nessa vertente o presente trabalho vem contribuir neste processo, por meio da elaboração de um protocolo contendo as orientações necessárias à equipe de 47 enfermagem para que a mesma possa prestar uma assistência segura, eficaz e qualificada no tocante a administração de medicamentos por via intramuscular. 48 METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo com propostas para intervenção, mediado para a elaboração de protocolo sobre administração segura de medicamentos por via intramuscular a ser disponibilizado aos profissionais de enfermagem para que façam uso em sua rotina de trabalho conforme seja necessário. A configuração desse estudo se dá pelo fato de que estudo de intervenção ou estudo aplicado objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo demandas e interesses locais (GERHARDT e SILVEIRA, 2009). CORDONI (2013) afirma que estes estudos são aqueles que irão orientar uma mudança ou transformação em uma dada realidade, sendo que essa transformação pode se dar na estrutura e/ou no processo de determinada situação. A literatura recente mostra número mais alto de estudos sobre os protocolos de atenção à saúde, em relação aos de organização de serviços, os quais têm como foco a padronização de condutas clínicas e cirúrgicas em ambientes ambulatoriais e hospitalares. Em sua maioria, protocolos clínicos estão baseados em evidências científicas, envolvem a incorporação de novas tecnologias e dão ênfase às ações técnicas e ao emprego de medicamentos (WERNECK, 2009). Tal como proposto, este estudo foi pensado em virtude da demanda expressa em um trabalho anteriormente realizado por SOUSA (2015) com os profissionais de enfermagem lotados nas unidades de urgência do município de Goiânia, onde foi avaliado o conhecimento acerca de diversas questões relacionadas à prática laboral associada a administração de medicamentos e, embasado neste contexto previamente descrito, emergiu sob a ótica das autoras a necessidade de formular estratégias que fundamentem e resguardem a atuação dos profissionais de enfermagem no processo de administração de medicamentos, para que possam exercer uma assistência segura e qualificada. Nesse contexto, a construção de um protocolo que embase essa prática profissional surge como importante instrumento para o enfrentamento de diversos problemas vivenciados na assistência e mesmo na gestão do serviço de enfermagem. 49 Nesta perspectiva, optou-se por realizar uma revisão integrativa da literatura, visando embasar o conteúdo necessário a elaboração do protocolo, em virtude da possibilidade gerada por este método com potencial de construir conhecimento, produzindo um saber fundamentado e uniforme para os enfermeiros realizarem uma prática clínica de qualidade. Roman e Friedlander (1998) expõem que esse método tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. O principal objetivo da revisão integrativa, segundo Mendes (2008), é a conexão entre a pesquisa científica e a prática profissional no âmbito da atuação profissional, uma vez que ela inclui a análise de pesquisas relevantes que dão suporte para a tomada de decisão e a melhoria da prática clínica, proporcionando aos profissionais de saúde dados relevantes de um determinado assunto, em diferentes lugares e momentos, mantendo-os atualizados e facilitando as mudanças na prática clínica como consequência da pesquisa. De maneira resumida, Mendes et al (2008) sugerem que para a
Compartilhar