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AP1 TCC II ROZANA MAIARA PEREIRA- correções

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20
INSTITUTO SUPERIOR DE TEOLOGIA APLICADA INTA-UNINTA 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL- EAD
ROZANA MAIARA PEREIRA SILVA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER E A AÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA. 
	
SOBRAL
2019
ROZANA MAIARA PEREIRA SILVA
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHER E A AÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA.
.
Monografia apresentada ao Instituto Superior de Teologia Aplicada INTA-UNINTA, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.
Orientador(a): Dra. Maria Isabele Duarte de Souza 
 
SOBRAL
2019
De todos os atos de covardia a violência contra a mulher reduz o indivíduo ao mais baixo dos seres!
(Rangel C. Rodrigues)
AGRADECIMENTOS
	
	
	Agradeço primeiramente à Deus, que em sua infinita sabedoria colocou força em meu coração para vencer essa etapa de minha vida. A fé no Senhor, sem dúvidas, me ajudou a lutar até o fim.
	Aos meus pais: Antonia Zilene da Silva Pereira e José Roberto Pereira da Silva por nunca terem medido esforços para buscarem o melhor para nossa família e por sempre terem me apoiado nas decisões, muitas vezes difíceis que tive que enfrentar até aqui. A vocês expresso o meu maior agradecimento. Ao meu irmão José Roberto Pereira Silva Filho pelo apoio sempre que precisei. E aos outros familiares que de alguma forma também contribuíram para que o sonho da faculdade se tornasse realidade.
	Ao meu namorado Adriano Nicaeliton Marquês Rocha, que sempre esteve do meu lado dando o incentivo necessário para que eu nunca desistisse. 
	 Agradeço a todos os professores, especialmente a psicóloga e professora Magna Eugênia Fernandes do Rêgo, que me deu todo o suporte com suas correções e conselhos no decorrer do curso. 
	Ao Instituto Superior de Teologia Aplicada- INTA/UNINTA que sempre proporcionaram o suporte necessário.
	Aos meus amigos e colegas de faculdade pelo o apoio e momentos compartilhados juntos. 
	Por fim, à todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho, muito obrigado.
	
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	05
2. PATRIARCADO E RELAÇÕES DE GÊNERO	09
2.1. Breve Discussão sobre o Termo Gênero	09
2.2. Aspectos Históricos do Papel da Mulher na Sociedade Brasileira 	14
3. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.............................................................20
3.1. Tipos de Violência Contra a Mulher	23
3.2. Consequências Físicas e Psicológicas da Violência Doméstica contra Mulher ..............................................................................................................27
4. POLÍTICAS E A LEI MARIA DA PENHA NO COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .....................................................................................30
4.1. Origem e dominação da Lei nº 11.340/06.................................................32
4.2. Avanços e Desafios da Lei Maria da Penha	37
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS	40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	42
1. INTRODUÇÃO 
A violência afeta mulheres de todas as classes sociais, etnias e regiões brasileiras. Atualmente este problema é entendido não como um problema de ordem privada ou individual, mas como um fenômeno estrutural, de responsabilidade da sociedade como um todo. Diante disso, o trabalho tem como título: Violência Doméstica Contra Mulher: Revisão Bibliográfica dos Aspectos Históricos e suas Consequências na Sociedade Brasileira. Onde, justifica-se pela importância de pesquisar mais sobre a temática tendo em vista que esse tipo de violência atinge todas as classes sociais sem nenhuma distinção, embora seja algo que aconteça com frequência no país, a sua solução ainda é algo distante nas prioridades do poder público.
Atualmente, a violência pode ser considerada um dos maiores problemas da sociedade brasileira. Dentre as mais variadas formas de violência, para este trabalho, focalizaremos o estudo nos casos de violência contra a mulher, perpetradas por parceiros íntimos. Destacando que entende-se violência contra a mulher como qualquer ato de violência que tenha por base as relações de gênero e que resulte, ou possa resultar, em danos ou sofrimento de natureza física, sexual ou psicológica, que se expresse por coerção ou privação arbitrária da liberdade ou de outras formas, atos que se apresentem na vida pública ou privada.
 Segundo pesquisas feitas pelo Data Folha Senado no ano de 2018, mostra que em cada cinco mulheres brasileiras, pelo menos uma sofre ou já sofreu agressões e todas elas sendo feitas por seus maridos, companheiros, namorados ou algum homem com que já tiveram relacionamentos. 
Esse tipo de violência atinge todas as classes sociais sem nenhuma distinção, embora seja algo que aconteça com frequência no país, a sua solução ainda é algo distante nas prioridades do poder público. A problematização analisada nesse tema é o que pode ser feito para tentar combater a violência doméstica e evitar suas consequências? 
A dinâmica da violência contra a mulher dentro de um relacionamento seja através do casamento ou união estável configura-se com o muro do silêncio e o ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, logo, até que ocorra uma denúncia ou a mulher tome uma atitude, prevalece o silêncio velado que possibilita a continuidade das agressões. 
A violência atinge a mulher de forma biopsicossocial. No que concerne às consequências físicas e psicológicas são inúmeras, variando de lesões leves, moderadas e graves, podendo inclusive, ocasionar o óbito, no caso de agressões físicas, as agressões psicológicas podem desencadear transtornos de ansiedade e/ou de humor e ainda pode ocorrer consequências sociais como isolamento, entre outros. Como a lei ainda é recente, não produziu grandes impactos porque há toda uma conjuntura que impede sua atuação e dispositivos que precisam ser criados para torna-la mais efetiva, entretanto, já produz alguns resultados, a começar pelo debate em torno do tema.
O trabalho tem como objetivo geral, pesquisar nas literaturas já existentes as diferentes formas de violência contra a mulher dentro do casamento ou união estável e as consequências trazidas para as mesmas, desmembrados em três objetivos específicos que consiste em verificar as consequências da violência doméstica para a vida das mulheres; Investigar as contribuições da Lei Maria da Penha para o combate da violência doméstica. 
A metodologia usada na pesquisa permite classifica-la como pesquisa bibliográfica de cunho quali-quantitativo, exploratório. A pesquisa bibliográfica partiu de material já elaborado, constituído de livros, monografias, teses e artigos científicos. De acordo com Gil (2008), a pesquisa bibliográfica busca explicar um problema a partir de referências teóricas já publicadas, constituída principalmente de livros, monografias, teses e publicações periódicas, como jornais e revistas. Tem por intuito possibilitar o conhecimento e a análise das contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado assunto. 
Por ser exploratória, a presente pesquisa estabelece critérios, métodos e técnicas para a elaboração de uma pesquisa e visa oferecer informações sobre o objeto. Segundo Gil (2008) as pesquisas exploratórias tem por finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. As pesquisas exploratórias visam proporcionar uma visão geral de um determinado fato. 
A pesquisa qualitativa tem como principal objetivo auxiliar na realização de uma leitura crítica da realidade estudada, reduzindo a distância entre o pesquisador e seu objeto de estudo. É através da pesquisa qualitativa que o pesquisador faz a junção entre o real, o sujeito e a coletividade compreendendo profundamente o estudo do fenômeno estudado.
Ela tenta compreender a totalidade do fenômeno mais do que focalizar conceitos específicos, possuindo poucas ideias preconcebidas, não lança mãode controlar o contexto da pesquisa, enfatizando o subjetivo como meio de compreender e interpretar as experiências, cuja análise se dá de forma mais intuitiva (SAKAMOTO; SILVEIRA, 2014).
Por último, para a construção do tema e o desenvolvimento do trabalho foi feito uma pesquisa sobre a questão de gênero, conceitos sobre violência, violência doméstica e familiar contra a mulher e a Lei 11.340/06, Lei Maria da Penha com objetivo de observar como se dá a violência contra a mulher no âmbito doméstico e familiar e a aplicabilidade da citada Lei neste contexto. Para tal, foi utilizada pesquisa bibliográfica através de artigos científicos, revistas, livros, cartilhas sobre a Lei Maria da Penha, dicionários e sites na internet sobre o tema violência doméstica e familiar contra a mulher e a Lei Maria da Penha.
Vive-se em uma época em que as mulheres já tiveram bastantes conquistas, entre elas seus direitos, tendo por fim ganhado proteções em garantia do seu gênero, proteções essas oriundas de grandes batalhas para o combate e erradicação da violência contra a mulher. Portanto o trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro é patriarcado e relações de gênero, onde está dividido em dois sub tópicos, o primeiro irá trazer discursões acerca de gênero e o segundo apresenta os aspectos históricos do papel da Mulher na sociedade brasileira. 
O segundo capítulo é voltado especificamente para a violência contra mulher e está dividido em três sub tópicos o primeiro traz a discursão da Violência Contra a Mulher no Brasil, trazendo os vários conceitos de violência, como também o histórico da violência contra mulher no Brasil no decorrer do tempo. O segundo vai tratar dos diversos tipos de violência sofridas pelas mulheres e por último traz as Consequências Físicas e Psicológicas da que esses tipos de violência vão causar na vida das mulheres. O último capítulo trata sobre as políticas e leis no combate à violência contra a mulher. Onde irá tratar da origem e dominação da Lei Maria da Penha nº 11.340/06, como também dos avanços e desafios da respectiva lei. 
Conclui-se então que estudar essa temática se torna de grande relevância tanto para a vida acadêmica como para a profissional pois, O serviço social surgiu junto as lutas feministas, efetivando os direitos e priorizando o valor da mulher na sociedade. Até hoje os assistentes sociais trilham sua atuação frente as transformações da sociedade. E a violência doméstica por sua vez é um grande problema que á anos vem sendo discutido no Brasil e no mundo e o profissional dessa área entra como peça fundamental para o enfrentamento deste problema.
Neste sentido a violência doméstica contra a mulher tornou-se objeto de atuação profissional do assistente social, enquanto desafio posto no cotidiano, o qual formula um conjunto de reflexão e intervenção desse profissional. Além disso, o profissional vem buscando fazer trabalhos onde beneficiem essas mulheres, sempre validando seus direitos e orientando a agir da melhor maneira para conseguir seus objetivos.
2. PATRIARCADO E RELAÇÕES DE GÊNERO 
Após a compreensão sobre as diferenças corporais e sexuais, culturalmente se cria na sociedade, ideias e valores sobre o que é ser homem ou mulher. Esta diferenciação se denomina representações de gênero. Desse modo, Conforme Scott (1995), as questões de gênero encontram-se diretamente relacionada à forma como as pessoas concebem os diferentes papéis sociais e comportamentais relacionados aos homens e às mulheres, estabelecendo padrões fixos daquilo que é “próprio” para o feminino bem como para o masculino, de forma a reproduzir regras como se fosse um comportamento natural do ser humano, originando condutas e modos únicos de se viver sua natureza sexual. Isso significa que as questões de gênero têm ligação direta com a disposição social de valores, desejos e comportamentos no que tange à sexualidade.
A mulher sempre foi vista na sociedade como a parcela frágil, a que se submetia a qualquer tipo de violência pois a cultura fazia com que a mesma acreditasse que era submissa ao homem e este primeiro capitulo vai tratar exatamente isso, trará o conceito de Gênero e como essa questão se deu na sociedade e também o papel da mulher ao longo dos anos, como suas lutas e conquistas. 
2.1. Breve discursão sobre o termo Gênero. 
O termo Gênero pode ser definido como aquilo que identifica e diferencia os homens e as mulheres, ou seja, o gênero masculino e o gênero feminino. De acordo com a definição “tradicional” de gênero, este pode ser usado como sinônimo de “sexo”, referindo-se ao que é próprio do sexo masculino, assim como do sexo feminino.
No entanto, a partir do ponto de vista das ciências sociais e da psicologia, principalmente, o gênero é entendido como aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões histórico-culturais atribuídos para os homens e mulheres.
Conforme Anjos (2000), A noção de gênero é entendida então como relações estabelecidas a partir da percepção social das diferenças biológicas entre os sexos. Essa percepção, por sua vez, está fundada em esquemas classificatórios que opõem masculino e feminino, sendo esta oposição homóloga e relacionada a outras: forte e fraco; grande e pequeno; acima e abaixo; dominante e dominado (Bourdieu, 1999). Essas oposições são hierarquizadas, cabendo ao polo masculino e seus homólogos a primazia do que é valorizado como positivo, superior. Essas oposições são arbitrárias e historicamente construídas.
A divisão entre os sexos parece estar na ordem das coisas(...) ela está presente, ao mesmo tempo, em estado objetivado (...) em todo o mundo social, e em estado incorporado, nos corpos e nos hábitos dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de ação (BOURDIEU, 1999, p. 17)
Os primeiros conhecimentos sobre gênero tiveram início na década de 1960 com o surgimento dos movimentos feministas e homossexuais na Europa e nos Estados Unidos. Numa perspectiva que as diferenças sociais entre homens e mulheres se devem a uma construção histórica e cultural, não estando relacionadas ao sexo biológico do indivíduo, mais sim, aos papéis sociais que são construídos na sociedade. Concebe-se que na espécie humana existe o macho e a fêmea, porém, o que faz alguém ser homem ou mulher é determinado pela cultura, ou seja, o gênero se faz com as características psicológicas e culturais em uma dada sociedade, o que ela traz como noção do que é ser masculino e feminino (CARVALHO; FERREIRA; SANTOS, 2010).
Segundo Faria e Nobre (1997, p.9), as meninas e os meninos desde crianças aprendem a ser mulher e homem. Através da educação recebida em casa no seio da família, percebe-se que há uma educação diferenciada para as duas categorias do sexo. O enxoval das crianças geralmente, já vem determinando a cor segundo o sexo dela; se for menino a cor é preferencialmente azul, e se for menina a cor é rosa. Os brinquedos que recebem também são caracterizados segundo o sexo. Os carrinhos, a bola, as bolinhas de gude são brinquedos para meninos, enquanto que, as bonecas, o fogãozinho, e a casinha são brinquedos de meninas.
Conforme Cacique e Furegato (2006), o termo gênero pode ser compreendido de duas formas. A primeira o gênero é visto como algo que se dá nas relações sociais baseadas nas diferenças entre o sexo masculino e feminino, e a outra forma o gênero é visto como base das relações de poder presentes na sociedade sendo naturalizado a dominação do homem sobre a mulher. 
Nota-se que as relações sociais entre as pessoas passaram a ser apresentar entre dominantes e dominados, onde as identidades que foram colocadas para cada sexo resultaram na desigualdade de gênero, que se deve pelas relações de poder presentes nos papéis sociais dado a cada um, onde a mulher é atribuído o papel de submissa, de frágil, a coadjuvante da história já ao homem é dado o papel de forte e poderoso, o protagonista da história, o qual exerce o domínio sobre a mulher, sendo reproduzidos socialmenteestes papéis, sem nos darmos conta (CARVALHO; FERREIRA; SANTOS, 2010).
Rubim (2016), afirma em seu livro que no mundo patriarcal, os homens em regra, desfrutam de ilimitadas regalias e direitos. Exemplo disso é a possibilidade que os mesmos tinham de uma dupla moral vigente, onde lhes era permitido ter qualquer tipo de aventura fora das suas relações.
Na sociedade atual, presenciam-se ainda os resquícios de uma sociedade patriarcal, principalmente, na esfera privada, onde se observam situações de profundo desequilíbrio de poder dentro dessas instâncias. Como por exemplo, a violência doméstica, a qual demostra que a separação do público e do privado se deu de forma rigorosa, as instituições públicas ignoravam até pouco tempo qualquer interferência na vida privada, na vida familiar, mesmo diante de salutares evidencias que comprova, dependências no interior dos núcleos familiares principalmente das mulheres em relação aos homens. (pág. 88).	Comment by Isabele Duarte: CITAÇÕES Ñ TEM PARÁGRAFOS!
	
Carvalho; Ferreira e Santos (2010), mostra que é devido a essas relações de poder dão origem a violência de gênero, que passou a ser utilizada nos anos 90, significando uma relação de poder, onde ao homem cabe dominar a mulher, e a ela cabe ser submissa ao mesmo, demonstrando que estes papéis sociais impostos tanto ao homem quanto a mulher foram fincados em nossa sociedade ao longo da história, sendo em muito reforçado pelo patriarcalismo, acabando por influenciar a violência entre os sexos através dos processos de socialização.
Hartman, citado por Camacho (1997), corrobora que há diferenças entre os homens e uma divisão hierárquica entre eles, porém para reprimir as mulheres, colocando-as submissas, há uma cumplicidade entre eles, sem diferenciação.
Portanto, a violência de gênero é aquela exercida pelos homens contra as mulheres, em que o gênero do agressor e o da vítima estão intimamente unidos à explicação desta violência. Dessa forma, afeta as mulheres pelo simples fato de serem deste sexo, ou seja, é a violência perpetrada pelos homens mantendo o controle e o domínio sobre as mulheres.
Antigamente as mulheres eram consideradas inferiores aos homens submetendo-se as ordens e humilhação que a cultura lhe continha, vistas apenas como mulheres do lar, a qual servia apenas para a manutenção da prole e do lar, a partir do século XIX através do sistema capitalista, houve o acarretamento de muitas mudanças na sociedade, com a revolução industrial as mulheres saíram de seus lares e passaram a ir trabalhar em fabricas, momento esse inovador para as mulheres, estas que detinham apenas o poder de ser subordinada a seu marido, apenas trabalhando em casa, cuidando dos filhos e dos serviços de casa. Saindo do “locus” que até então era permitido e reservado (espaço privado) e migrando para o espaço público, mostrando aos homens que não são inferiores, que podem fazer as mesmas coisas que eles, iniciando assim a trajetória do movimento feminista. (CAVALCANTE, 2019).
A violência de gênero é um fenômeno universal, que se materializa de múltiplas formas, na macro e na micropolítica, em decorrência da inserção de sujeitos em relações desiguais de gênero. Estas relações são construídas nas diferentes culturas, que estruturam representações sociais e o imaginário coletivo e condicionam a inserção diferencial dos sujeitos nas distintas esferas da vida: na divisão sócio técnica do trabalho, na cultura e na educação, no acesso a bens e serviços, às fontes de poder material e simbólico (SCOTT, 1995).
As identidades de gênero, que são as formas pelas quais as pessoas se reconhecem como de determinado gênero, sem que obrigatoriamente estejam seguindo o sexo biológico com os quais nasceram. Tal termo, surge a partir de uma quebra de paradigma proporcionado pelos estudos feministas e de gênero, o que possibilitou dar visibilidade há grupos até então esquecidos pela sociedade heteronormativa e machista, como os grupos de gays, lésbicas, travestis, dentre outros, que sempre sofreram preconceitos, homofobia, e tantas outras violências (GOMES FILHO; SANTOS; SILVA, 2017).
Ao tratar da violência contra a mulher são descritas diversas causas entre as variáveis está o jogo de poder que de acordo com Fonseca; Ribeiro e leal (2012), refere-se a ideia que o homem tem mais direitos do que à mulher. Porém é um problema muito complexos advindo de uma construção social do gênero, dos papeis esperados ao homem e a mulher, que culminaram em uma desigualdade social, que estaria entre as causas mais comuns da violência contra mulher.
Quando se utiliza o termo gênero fica mais fácil compreender as desigualdades e discriminações decorrentes ao gênero, anteriormente vistos como normais pela a maioria das pessoas. Era a sociedade determinavam qual o comportamento adequado a mulher, sendo responsável pelo lar e pela procriação enquanto o homem tinha a responsabilidade de sustentar a família, não expor seus sentimentos e nem mostrar fraqueza (PEDRO; GUEDES,2010).
Devido a essa subordinação imposta pela cultura faz com que em muitos casos as classificações de violência existentes não sejam reconhecidas por muitas mulheres. Pois, conforme Fonseca; Ribeiro e leal (2012) a mulher muitas vezes não sabem identificar o que é uma agressão e acha que devem se submeter a viver com os seus cônjuges mesmo passando por alguns problemas. É visível que a violência contra a mulher persiste depois da consolidação do termo gênero, mesmo sendo posto que é uma construção social e que independe de sexo do indivíduo. 
Alvarez, citado por Camacho (1997), defende que o conceito de gênero possibilitou a teoria feminista avançar no Brasil:
Gênero tem sido o conceito mais utilizado para analisar as relações entre a subordinação das mulheres e as transformações sociais e políticas. Gênero denota o significado político, social, e histórico referido a um determinado sexo. Alguém nasce macho ou fêmea; alguém é “feito” homem ou mulher. E o processo de “fazer” homem ou mulher é histórica e culturalmente variável, podendo, portanto, ser potencialmente alterado através da luta política e das políticas públicas. Entretanto, a maneira como os interesses de gênero é definida e articulados no interior das instituições políticas dá pistas para o entendimento das relações entre “mulher” e “política” (p.30).
	As lutas feministas fizeram com que as mulheres conquistassem um espaço na sociedade embora ainda em pequenas proporções, pois ainda persiste a ideia de que o gênero feminino é inferior ao masculino.
Bicudo (1994), informa que os estudos realizados visando conhecer o acesso das mulheres a direitos e sua plena igualdade em relação ao homem, indicam que é um desafio a ser alcançado nos países em desenvolvimento, e nas nações mais desenvolvidas, onde também há diferenças no acesso a direitos e deveres entre homens e mulheres, deixando estas em situação inferiorizada.
É de grande importância discutir a questão de gênero em todos os âmbitos e principalmente nas escolas afinal, o papel da escola não é somente preparar os alunos para provas, vestibulares e para o mercado de trabalho, mas também propagar a cidadania e a responsabilidade social para professores, coordenadores, funcionários, alunos e suas famílias.
Em uma perspectiva inclusiva, políticas educacionais que correlacionem gênero, orientação sexual e sexualidade não devem se restringir a dimensão, de todo modo importante, dos direitos a saúde sexual e reprodutiva. É preciso ir além, muitas vezes, partindo de diferentes pressupostos. Dessa forma, ao falar em diversidade sexual é necessário situar questões relativas a gênero, orientação sexual e sexualidade no terreno da ética e dos direitos humanos, vistos a partir de um ângulo emancipador. Assim fazendo, impede discursos que relacionam tais questões a doenças ou a ameaças a uma suposta normalidade. Igualmente afasta tanto posturas naturalizantes como atitudes em que o cultural passa a ser abrigado ou rejeitado de forma simplista (RODRIGUES E ARAÚJO, p.10, 2016) 
Assim, a igualdade de gênerodeve ser discutida no âmbito dos direitos humanos, abordando o respeito entre as pessoas e garantindo o direito a sua identidade de gênero, racial e pertencimento religioso. Portanto, discutir gênero na escola é um excelente instrumento para promover a equidade e combater os altíssimos números de feminicidios, violência doméstica, estupros, assédios, bem como desestimular a desigualdade salarial e outros males que se amparam na cultura machista.
2.2. Aspectos Históricos do Papel da Mulher na Sociedade Brasileira
Em sua grande maioria a figura feminina é vista na sociedade como frágil, aquela responsável pelas tarefas domésticas e pelos filhos. Devido a isso os papéis foram sendo culturalmente construídos, delegando ao homem a força, o poder e a dominação, à mulher restou a subjugação, a obediência, a opressão e o confinamento, palavras estas que traduzem formas de violência sofridas pelas mulheres. 
Durante o desenvolvimento das sociedades, a história registra a discriminação homem-mulher, principalmente em relação à educação. Ao atribuir aos homens a condição de donos do saber e às mulheres o papel feminino, subordinado ideologicamente ao poder masculino, a história vem salientar as desigualdades. 
Perrot (op. cit.) em sua análise sobre a história das mulheres ressalta que a representação do sexo feminino produzida pela ciência é marcada pela falta. À mulher, passiva e vazia, inclusive anatomicamente, não era permitida a manifestação de seu interesse por um homem, lhe restando esperar pelo despertar da vontade deste. Caso isso se concretizasse, precisava ainda se submeter à vontade de outro homem: seu pai, que decidia - e muitas vezes negociava – sua vida através do casamento. (ARAÚJO, 2012).
Este fato cultural percorre muito anos, quando o Brasil foi descoberto, o açúcar teve uma grande valorização na Europa e os portugueses viram no Brasil a necessidade da criação de lavouras de grande porte e consequentemente a criação de latifúndios, foi daí que surgiram os primeiros engenhos dando início à sociedade patriarcal no Brasil. 
 	As mulheres vindas de Portugal acompanhadas de seus maridos, trouxeram consigo toda tradição e cultura europeia, promovendo a fixação dessa cultura no Brasil. Era uma cultura de hierarquização que impunha papeis rigidamente estabelecidos e regras explícitas para cada membro desse grupo social, o poder patriarcal estabeleceu como característica básica a restrição ao espaço da mulher e o poder exercido sobre ela pelo marido, chefe da casa e do engenho. A mulher estava delimitada ao poder masculino na família e deveria reconhecer seu próprio lugar e função social. 
No Brasil colonial, a Igreja, enquanto instituição balizadora da vida em comunidade, fomentava intensamente os ideais de controle da sexualidade feminina. Um exemplo claro, apontado pelo historiador, é a exortação aos fiéis quanto ao perigo da liberdade feminina, representado na narrativa do mito do Éden. A vinculação da mulher à sedução de Eva, que ao induzir Adão a desobedecer às ordens divinas excluiu a humanidade do paraíso, era o principal argumento para se combater a expressão dos desejos femininos. A mulher trazia a marca do pecado original em sua natureza. Desta forma, para que se evitasse a ameaça do mal “o sexo das mulheres devia ser protegido, fechado e possuído” (PERROT,2008, p.64)
Essa cultura se perpetuo por muito tempo no país e dificilmente encontram-se registros referentes à vida, lutas, histórias das mulheres. Assim, mesmo a mulher sendo protagonista de lutas para a conquista de direitos, seu nome não aparece, ou muito pouco, desde a época da colonização. Este cenário somente é alterado quando a própria mulher se desafia a escrever em revistas e periódicos o que, conforme Teles (2003), inicia no período de 1850 até 1934, quando se dá a conquista do voto feminino.
Conforme destaca Teles apud Muller (2003), após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, surgiu no Rio de Janeiro o Comitê de Mulheres pela Democracia com o objetivo de as mulheres participarem da consolidação da democracia e conquista da igualdade de direitos culturais, profissionais, políticos e administrativos. Já em 1947, também no Rio de Janeiro, é criado a Federação das Mulheres do Brasil – FMB que pretendia impulsionar a ação das mulheres e debater questões de seu interesse como a proteção à infância, a paz mundial e os direitos das mulheres. Estas organizaram seu primeiro Congresso em 1951, com a participação de 231 delegadas de todos os Estados, entre elas, donas de casa, funcionárias públicas, operárias, profissionais liberais, professoras, estudantes, camponesas.
Neste contexto de luta pelos seus direitos surge o movimento feminista. Que conforme explica Teles apud Muller (2003), o Feminismo é um movimento político que questiona as relações de poder, a opressão e violência de grupos de pessoas sobre outras. Portanto, contrapõe-se totalmente ao poder patriarcal ao propor uma transformação social, política, ideológica e econômica da sociedade. Assim, apresenta-se o feminismo como uma filosofia universal que considera a existência de opressão no nível das estruturas e superestruturas a todas as mulheres. Ele tem um caráter humanista, pois busca a libertação das mulheres e dos homens. 
O movimento feminista organizado teve origem nos Estados Unidos na década de 60 (sessenta), e logo depois, alastrou-se pelos países do Ocidente. E buscou, ao longo dos anos, criar alternativas para que as mulheres sejam as protagonistas de sua vida e história. Assim, através de ações, mulheres procuram combater a discriminação e subalternidade a que eram submetidas. 
Em concordância com Giulani (2006), as vozes femininas destacam-se desde a época da Colonização, preconizando a abolição dos escravos, a introdução do sufrágio universal e a instauração da República. Foi conquistado o direito à cidadania política, no entanto, a cidadania no mundo do trabalho, com oportunidades iguais para ambos os sexos, foi um processo demorado. A partir de 1960, as mulheres estão à frente de práticas reivindicativas, participando do Movimento Nacional Contra a Carestia em 1968; do Movimento de Luta por Creches em 1970; do Movimento Brasileiro pela Anistia em 1974 e em 1975 criam os Centros de Mulheres e Grupos Feministas. 
Nestes grupos, tanto as mulheres rurais quanto as urbanas refletem temas importantes relacionados sobre o cotidiano doméstico, bem como sobre o mundo do trabalho, discutindo os papéis sociais das mulheres. No Brasil, a ação das mulheres ganhou maior repercussão a partir da Proclamação do Ano Internacional da Mulher em 1975 pelas Nações Unidas. 
O Feminismo, caracteriza-se através de um processo constante de ações coletivas que se referem à emancipação política e conquista de direitos que refletem no empoderamento das mulheres. Além de elaborar continuamente uma crítica e denúncia das injustiças da sociedade patriarcal, é um movimento plural que confronta o sistema de dominação, propondo a transformação social (SILVA e CAMURÇA, 2010) e por tanto, podendo ser mencionado como feminismos, justamente por esse caráter múltiplo que incorpora diferentes vertentes.
Diversos estudos sobre a história do movimento feminista nomeiam como “onda” alguns momentos históricos em que houve uma sequência de movimentos e organizações feministas com a mesma pauta de reivindicações. No Brasil, assim como no mundo ocidental, a “primeira onda” se refere ao Movimento Sufragista; a “segunda onda”, que começa na década de 1970 entre nós e na década de 1960 nos Estados Unidos, se caracteriza pela crítica radical, teórica e prática, ao modelo de mulher e de família vigente. A “terceira onda”, identificada nos anos 1990, evidencia “novas” mulheres: as negras, as lésbicas, as mulheres do terceiro mundo, as transgêneros, entre outras (RABAY e CARVALHO, 2011, p. 86).
Em meados da década de 70, o movimento feminino defendeu a Redemocratização do país. Nas camadas mais populares, com o apoio da Igreja Católica, surgiram clubes de mães e associações de donas de casa. E pelopaís afora, sem vínculo com a religião, também surgiram movimentos como a Rede de Mulher, em defesa dos critérios da mulher e da cidadania feminina. Aos poucos, elas foram se organizando em movimentos como: negras, prostitutas, lésbicas, trabalhadoras rurais e urbanas, empresárias etc.
Conforme Rodrigues (2016), A partir de 1977, o movimento feminista passou a seguir outras tendências, algumas voltadas para a discriminação do aborto ou a equiparação profissional com os homens, por exemplo. Muitas mulheres conseguiram conquistar postos de trabalho, antes só ocupados por homens, como cargos políticos, por exemplo. Com a crise familiar da sociedade, muitas passaram a exercer o cargo de chefes de família também.
A mulher sempre foi considerada como o outro pelo homem e não como o semelhante. E somente quando homens e mulheres vejam-se como seres incompletos, que necessitam de apoio mútuo para desenvolver sua condição humana é que teremos uma sociedade melhor. Que a perspectiva de se pensar em um novo paradigma para a compreensão do mundo onde as reivindicações de igualdade na diferença tão difundida pelo movimento feminista, passe a constituir-se como algo realmente importante, onde homens e mulheres consigam superar as situações comuns de opressão e se identifiquem cada vez mais como seres humanos. 
Foi logo depois da proclamação as mulheres feministas integraram os movimentos democráticos e lutaram pela anistia, por uma constituinte livre e soberana e por liberdades políticas. As mulheres passaram então a ser protagonistas de suas próprias histórias, mesmo que inicialmente foram poucas e tímidas.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988:
[...] as mulheres brasileiras deixaram de constar como cidadãs de segunda categoria [...] tornando-se agora legalmente reconhecidas como seres responsáveis e socialmente produtivos, tendo por respaldo uma legislação mais progressista, menos discriminatória, que leva em consideração a especificidade da condição feminina. [...] Só um movimento de mulheres conscientes de seus direitos e devidamente mobilizadas para exigir o cumprimento da lei e a punição para aqueles que porventura a transgredirem, é que garantirá a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. (SARDENBERG E COSTA, 1994, p. 109).
Cunhã (2001), afirma que no final da década de 80 e durante a década de 90, o movimento feminista brasileiro adota uma ação mais propositiva, de intervenção nas políticas públicas, saindo de um lugar de clandestinidade, buscando a representatividade e a legitimidade”, fato esse que não implica afirmar que o movimento feminista não fosse legítimo sem a institucionalização, mas naquele momento, o ato de legalizar e se inserir no Estado, era interpretado pelo movimento como algo fundamental do processo. 
A década de 1990, ainda estava marcado pelo caráter dominante e conservador, o movimento passa por uma desarticulação de suas práticas autônomas. Dava-se início a prática de institucionalizar, que começa nessa década devido, principalmente, à necessidade imposta naquele momento de conquistar recursos financeiros. Como a partir dessa época agentes internacionais começavam a financiar os movimentos, há a criação de organizações não governamentais (ONGs) e muitos grupos acabam optando por se institucionalizar.
Percebe-se que a principal luta do movimento feminista é combater a opressão a que estão sujeitas as mulheres, as quais almejam alcançar autonomia e protagonismo na sociedade, defendendo a igualdade de direitos entre homens e mulheres. É importante que as ideias e causas deste movimento sejam conhecidas por todos os cidadãos e sejam levadas à frente nas lutas sociais, a fim de que haja alguma mudança sobre o conceito de mulher na sociedade e sobre o seu papel dentro desta.
Os movimentos feministas conquistaram muitos avanços, principalmente no que se refere à entrada da mulher no mercado de trabalho e o acesso à cultura de um modo geral. Porém, as transformações sociais englobam várias dimensões da vida social, o que faz com que as mudanças tão almejadas ocorram de forma gradativa. Trata-se de uma luta pela liberdade, para além da equiparação de direitos, e pelo respeito à alteridade.
No entanto, cotidianamente são travadas lutas no intuito de efetivar os preceitos definidos na Constituição Brasileira, que afirma a igualdade de todos perante a lei. É um processo lento e que exige mudanças na estrutura da sociedade, como expressa Graça Belov (2007) ao retomar a afirmação de Bobbio, “Não há possibilidade de igualdade na estrutura capitalista, porque o fundamento do capitalismo é a desigualdade”.
Diante do exposto percebe-se que a muito tempo se trava uma luta por direitos que por diversas vezes são esquecidos, e está submissão acaba gerando um grande problema que é a violência doméstica contra mulher e infelizmente está se agravando no decorrer dos anos. 
3. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A definição de violência em seu sentido mais usual significa empregar a força física, intimidar, subjugar, constranger, obrigar alguém a fazer algo que não está com vontade, impedir alguém de manifestar seu desejo e vontade, cercear a liberdade, coagir, violar os direitos das pessoas, ofender a integridade física, sexual e psicológica.
O conceito de violência é tão antigo quanto todas as sociedades. Para Bicudo (1994), por sua vez relata em seus estudos que a violência é originária de um sistema econômico onde gerou diversas desigualdades sociais no decorrer dos anos. Nas décadas de 1960 a 1980 ocorreram inúmeras mudanças no cenário brasileiro nos domínios econômicos, culturais sociais e políticos. Este período foi marcado pelo grande poder que o Estado detinha sobre a sociedade no qual usavam da extrema força como tortura e homicídios para mostrarem o seu autoritarismo. 
Na década de 1970 especificamente houve um grande crescimento população nas áreas urbanas, pois as pessoas foram para as cidades em busca de melhores condições de trabalho. Neste contexto, a violência aparece com variáveis assustadoras, desde assaltos, estupros, roubos e homicídios (BICUDO, 1994).
	Devido ao grande crescimento populacional nesta época havia necessidade de criar políticas públicas de habitação, saúde, educação, segurança, e estas não puderam ser atendidas prontamente pelo Estado, mediante a justificativa de não possuir recursos para o investimento nessas ações (CERQUEIRA, 2007). Fazendo com que a população desprovida de recursos econômicos passassem a viver de forma precária. 
Conforme os pensamentos de Velho (2000), o poder público com sua insuficiência de conferir os direitos fundamentais da população mais vulnerável economicamente, indiretamente contribui para que haja acentuado crescimento da criminalidade, pois a maioria entra em desespero sem nenhum recurso e começam a roubar para se manter ou até mesmo a usarem droga isso tudo para tentar amenizar o sofrimento. 
Em concordância Azevedo e Guerra (2000), afirma que a violência é a imposição da força e a considera sob dois ângulos: a violência com a finalidade de dominação/exploração, superior/inferior, ou seja, como resultado de uma assimetria na relação hierárquica e o tratamento do ser humano não como sujeito, mas como coisa, caracterizado pela resistência, pela passividade e pelo silêncio, quando a fala e a atividade do outro são anulados. “Assim, tanto num caso quanto no outro, estamos diante de uma relação de poder caracterizada num polo pela dominação e no outro pela coisificação.” (AZEVEDO, GUERRA,2000, p.46).
Corroborando com os autores acima Barnett (2000) em seus estudos aponta que a violência é uma questão de poder que está legitimada pela cultura em que o mais forte se sente no direito de subjugar o mais fraco, como se fosse uma justiça natural. Pode-se dizer então que a violência é um fenômeno constante no universo das relações e entre as diversas formas de violência encontra-se a violência doméstica contra mulher algo que vem assustando o Brasil ao longo dos anos. 
Segundo Saffioti (1987, p.47),“calcula-se que o homem haja estabelecido seu domínio sobre a mulher há cerca de seis milênios”. Com base nisso, a violência contra a mulher não é um problema atual, as mulheres convivem com isso desde os primórdios. Essa valorização do masculino a que somos submetidas é algo que ultrapassa décadas e, hoje, mesmo com tantas políticas voltadas para a igualdade e coibição, prevenção e punição do ato da violência, vivenciamos, ainda diariamente, várias denúncias, conforme demonstraremos mais adiante nesse trabalho. 
Segundo Madeira; Costa (2012): 
A violência contra mulher é determinada por aspectos sociais e culturais que definem e legitimam lugares, direitos, deveres e papéis diferenciados para mulheres e homens, embasando a desigualdade de gênero presente historicamente na sociedade contemporânea. (p.87)
	
A violência mais comum contra mulher é a doméstica ou intrafamiliar que é aquela que ocorre dentro do ambiente familiar geralmente é praticada por um membro da família que viva com a vítima. As agressões domésticas incluem: abuso físico, sexual e psicológico, a negligência e o abandono.
Lima (2009) em sua obra, “violência contra a mulher”, ressalta que a violência é um acontecimento complexo, visto que a ciência não consegue defini-la com exatidão. É um fenômeno influenciado por fatores como a cultura e as mudanças constantes de valores e padrões que regem a sociedade, em constante movimento, devido a isso, está sempre sendo submetida às revisões continuas. Leonel (2012) concorda com o autor citado e confirma que “violência é um fenômeno difuso e complexo cuja definição não encontra consenso cientifico
Lima (2009) traz que a violência contra mulher é a expressão da dominação do homem sobre a mulher, que o exerce por meio de coação, de submetê-la a seu controle, reprimindo e ofendendo: física e moralmente a mulher. Infringindo assim os direitos essenciais da pessoa humana.
Piovesan e Pimentel (2002), conceitua a violência contra mulher como aquela violência com qualquer conduta ação ou omissão de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher, e que cause danos, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Essa violência pode acontecer tanto em espaços públicos como privados. 
Campos e Correa (2009) defendem que este tipo de violência está ligado ao patriarcado, onde coloca-se o homem em primeiro lugar, como foi explanado no tópico anterior.
Como um sistema cultural em que o homem adulto é o chefe da casa e de todos: mulher, filhos e agregados devem estar sob suas ordens. Considera-se, também, que o masculino é o sujeito da sexualidade e o feminino, seu objeto. Na visão arraigada no patriarcado, o masculino é ritualizado como o lugar da ação, da decisão, da chefia da rede de relações familiares e da paternidade como sinônimo de provimento material. (p.277).
Conforme estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2015, mostrou que a cada sete minutos uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil, e mais de 70% da população feminina brasileira vai sofrer algum tipo de violência ao longo de sua vida. 1 em cada 4 mulheres relata ter sido vítima de algum tipo de violência. O País neste mesmo ano ocupou o quinto lugar no ranking com maior índice de homicídios de mulheres.
Tabela 1: Ranking de Homicídios.
	
	#
	País
	Homicídios de Mulheres
/100 mil habitantes
	1
	El Salvador
	8,9
	2
	Colômbia
	6,3
	3
	Guatemala
	6,2
	4
	Rússia
	5,3
	5
	Brasil
	4,8
	6
	México
	4,4
	7
	Moldávia
	3,3
	8
	Suriname
	3,2
	9
	Letônia
	3,1
	10
	Porto Rico
	2,9
Fonte: IPEA- Atlas de Violência 2015.
	
O quadro não mudou muito nos últimos anos a cada dia mais mulheres morrem vítimas de agressão. Entre janeiro e novembro de 2018, a imprensa brasileira veiculou 68.811 casos de violência contra a mulher, conforme a base de dados da Linear Clipping, utilizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, da Câmara dos Deputados, e que deu origem ao Mapa da Violência Contra a Mulher 2018. Os casos foram divididos em três categorias: estupro, feminicídio e violência doméstica. 
Tabela 2: Mapa da Violência Contra a Mulher em 2018.
	Casos
	---
	Estupro
	32.916
	Violência Doméstica
	14.796
Fonte: Mapa da violência contra mulher, 2019.
	
Dos 32.916 casos de estupro 49,8% foram cometidos por companheiros e parentes, 58% dos casos de violência doméstica foram cometidas por namorados, maridos e ex maridos, e 95 % dos casos de feminicídio também foram cometidos por pessoas que tinham algum grau de relacionamento com a vítima. 
Muito ainda deve-se discutir sobre a violência contra mulher, pois com a revisão bibliográfica pode-se perceber que essa problema vem de muitos anos e que ao longo da vida uma mulher sofre algum tipo de violência.
3.1. Tipos de Violência contra a mulher 
Existe inúmeras formas de violência contra mulher. A violência doméstica contra mulher é aquela que ocorre dentro do ambiente doméstico e cometido por parentes, agregados ou pessoas de convívio próximo, normalmente esse tipo de violência ocorre com o agressor sendo um membro da família. 
Silva (2005) defina violência doméstica como: 
Aquela violência que ocorre no âmbito familiar entre pessoas com vínculo consanguíneo ou não, como no caso de pais e filhos, entre irmãos, primos, padrastos e enteados (as). E se fora dele, por pessoas que possuam ou já possuíram relações afetivas sexuais entre si, como no caso dos namorados, amantes, amásios, maridos, companheiros ou ex (...) (p. 96).
Conforme a Lei Maria da Penha - n° 11.340/06 são formas de violência contra mulher à violência física, psicológica, sexual, a patrimonial e a moral. A Lei nº 11.340/06 define cada uma como: 
 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; 
 II– a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; 
 III-– a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação;ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
 IV- a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
 V- a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (p.14)
	Os tipos de violência doméstica que acontecem com mais frequência na sociedade brasileira é a física, psicológica e sexual. 
A violência física por sua vez acontece quando o agressor usa de força física para machucar a vítima de várias maneiras, deixando ou não marcas evidentes. Araújo e Mattioli (2004, 26) a define a violência física como agressões do tipo: tapas, ponta pés, empurrões e ataques com armas de instrumentos variados. Elas lembram que essas agressões podem resultar em lesões corporais graves e também fraturas de membros.
De acordo com o manual pluridisciplinar (2016), traz em alguns de seus textos que a Violência física consiste: 
 [...] no uso daforça física com o objetivo de ferir/causar dano físico ou orgânico, deixando ou não marcas evidentes - engloba atos como empurrar, puxar o cabelo, dar estaladas, murros, pontapés, apertar os braços com força, apertar o pescoço, bater com a cabeça da vítima na parede, armários ou outras superfícies, dar-lhe cabeçadas, dar murros ou pontapés na barriga, nas zonas genitais, empurrar pelas escadas abaixo, queimar, atropelar ou tentar atropelar, entre outros comportamentos que podem ir desde formas menos severas de violência física até formas extremamente severas, das quais resultam lesões graves, incapacidade permanente ou mesmo a morte da vítima(p.32).
A Violência psicológica é um tipo de agressão que, em vez de machucar o corpo da vítima, traz danos a seu psíquico e emocional, fere o equilíbrio afetivo, a capacidade de tomar decisões e o estado de bem-estar necessário que para que o indivíduo possa viver com dignidade. 
Osterne (2011) define este tipo de violência como: 
A violência psicológica, também conhecida como violência emocional, é aquela capaz de provocar efeitos torturantes ou causar desequilíbrios/sofrimentos mentais. A violência psicológica poderá vir pela via das insinuações, ofensas, julgamentos depreciativos, humilhações, hostilidades, acusações infundadas, e palavrões. (p.135).
Viana et al (2011), afirmam que a violência sexual contra a mulher é uma expressão de violência baseada no gênero. Eles destacam que a violência sexual tem origem no desequilíbrio do poder existente entre homens e mulheres. “A violência sexual feminina não se origina do desejo sexual ou amoroso, ao contrário, ela se impõe como uma demonstração extrema de poder do homem sobre as mulheres, na subjugação do seu corpo e da sua autonomia”, escreve Oliveira (apud Viana e outros, 2011, p. 68).
Em complemento o manual pluridisciplinar (2016) mostra que a violência sexual consiste em: 
[...] toda a forma de imposição de práticas de cariz sexual contra a vontade da vítima (e.g., violação, exposição a práticas sexuais com terceiros, forçar a vítima a manter contactos sexuais com terceiros, exposição forçada a pornografia), recorrendo a ameaças e coação ou, muitas vezes, à força física para a obrigar. Outros comportamentos, como amordaçar, atar contra a vontade, queimar os órgãos sexuais da vítima são também formas de violência sexual. A violação e a coação sexual são alguns dos crimes sexuais mais frequentemente praticados no âmbito da VD mas que muitas das vítimas, por força de crenças erróneas, valores e mitos interiorizados, acabam por não reconhecer como tal, achando, incorretamente, que “dentro do casal não existe violação”, que são “deveres conjugais” ou “exigências naturais” do homem. A violência sexual engloba também a prostituição forçada pelo companheiro(p.33).
Além dos tipos de violência já citados a cima de alguns que são menos encontrados na sociedade, porém são tão graves quanto, que são elas: a moral, simbólica, financeira, institucional. A violência moral é qualquer tipo de ação que denigre a imagem da mulher Osterne (2011) afirma que: 
A violência moral é tida como aquele tipo que atinge, direta ou indiretamente, a dignidade, a honra e a moral da vítima. Da mesma forma que a violência psicológica, poderá manifestar-se por ofensas, e acusações infundadas, humilhações, tratamento discriminatório, julgamentos levianos, trapaça e restrição à liberdade. (p.135).
	Conforme Osterne (2011) A violência simbólica é pouco conhecida porém, está presente na ordem dos sistemas sociais vigentes. Manifesta-se também através de meios de comunicações como cenas de preconceitos, de violência, estupros, induzindo assim o indivíduo a reproduzir o ato violento. Já a financeira diz respeito ao roubo, ou ao domínio de bens financeiros da vítima. A institucional por sua vez consiste nas ofensas em atendimento por órgãos públicos ou privados, constrangimentos e discriminação racial, financeira ou de gênero. 
E por fim, a violência patrimonial, que se configura através de atitudes que venham danificar, perder e destruir bens pessoais e objetos de valores. Conforme Lima (2014), esse tipo de violência resulta em danos, perdas, subtração ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores da mulher. Esta forma de violência pode ser visualizada através de situações como quebrar móveis ou eletrodomésticos, rasgar roupas e documentos, ferir ou matar animais de estimação, tomar imóveis e dinheiro, ou, até, não pagar pensão alimentícia. 
 Todos esses tipos de violências acontecendo com frequência ou não traz difíceis consequências na vida da mulher vítima de tal situação, a violência doméstica acaba afetando pessoas na sociedade em geral, que por ser doméstica englobam a família, sendo essas também vítimas ou testemunha de uma violência que ocorre com a mãe ou irmãos dentro de casa, afetando também as pessoas que compõe essa família, tornando-as frustradas em suas perspectivas de vida.
Para Casique e Furegato (2006), a violência contra a mulher, especialmente por parte de seu parceiro, é uma carga que se apresenta para os serviços de saúde em função dos custos que gera. Esta violência não só causa danos físicos e psicológicos às mulheres, mas também, implica riscos para seus filhos. Presenciando a violência dentro da família, incrementa-se nas crianças as probabilidades de sofrer depressão, ansiedade, transtornos de conduta e atrasos no seu desenvolvimento cognitivo. Além do mais, aumenta o risco de se converterem, por sua vez, em vítimas de maltrato ou futuros agressores.
3.2. Consequências Físicas e Psicológicas da Violência Doméstica contra Mulher
Mesmo que a violência doméstica contra a mulher tenha sido tratada em lei para proteger suas vítimas, elas trazem graves consequências, até porque as agressões são cometidas pelas pessoas que ela mais confiam e entregam sua vida e ocorrem geralmente dentro do lar onde era para elas se sentirem protegida. Neste tópico será explanado duas consequências mais comuns e não menos importante que é a física e a psicológica.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a violência doméstica contra a mulher como uma questão de saúde pública, que afeta negativamente a integridade física e emocional da vítima, seu senso de segurança, configurada por círculo vicioso de “idas e vindas” (AUTOR, p. ano). 
Cada tipo de violência gera, segundo Kashani e Allan (1998), prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. As manifestações físicas da violência podem ser agudas, como as inflamações, contusões, hematomas, ou crônicas, deixando sequelas para toda a vida, como as limitações no movimento motor, traumatismos, a instalação de deficiências físicas, entre outras. Os instrumentos mais utilizados para causar danos físicos na vítimas são os contundentes. A lesão corporal pode ser de natureza leve, grave ou gravíssima conforme prevê o art. 129 do Código Penal.
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano. 
Lesão corporal de natureza grave
§ 1o Se resulta:
I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II – perigo de vida;
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV – aceleração de parto:
Pena – reclusão, de um a cinco anos.
§ 2o Se resulta:
I – incapacidade permanente para o trabalho;
II – enfermidade incurável;
III – perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV – deformidade permanente;
V – aborto:
Pena – reclusão, de dois a oito anos. (p. 51).
As agressões físicas deixam marcas visíveis no corpo, porém não menos importante a violência psicológica traz grandes danos significativos à estrutura emocional da mulher, gerando prejuízos nas esferas do desenvolvimento físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo. As manifestações físicas da violência podem ser agudas, e eternas.
Segundo os estudos de FONSECA; LUCAS (2006):
Um percentual de 96% das entrevistadas relataram sofrer algum tipo de consequência decorrente da situação de violência.Dentre estas, o aumento da pressão arterial, dores no 12 corpo, principalmente de cabeça, e dificuldades para dormir, foram os sintomas físicos mais relatados, correspondendo a um total de 66,6%. Em alguns casos, a presença de algum, ou até mais de um, desses sintomas contribuiu para a procura de acompanhamento médico.
Além das consequências físicas que esse tipo de violência pode causar também tem as consequências psicológicas que segundo Amicucci (2017), dentre os sintomas psicológicos encontrados nas vítimas de violência doméstica que se pode mencionar são: insônia, agitações, desatenção, irritabilidade, falta de apetite, e até o aparecimento de sérios problemas mentais como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além de comportamentos autodestrutivos como tentativas de suicídio. 
A mulher desenvolve sentimento de insegurança a sua vida ocorrendo alterações psíquicas que surgem em função do trauma, juntamente ao estado de choque que é imediato após a agressão, sobre tudo a sua autoestima dela. E as causas da não denunciação e a permanência da mulher junto ao agressor dentre eles estão: situação financeira, vergonha dos familiares e pessoas do convívio social, e o medo de reviver o trauma, e o constrangimento.
No mesmo sentido, Alice Bianchini (2012) afirma que um sentimento frequente na vida de muitas vítimas de violência íntimo-afetiva é que elas creem que há algo de errado consigo mesmas e alimentam um sentimento de culpa pela violência que sofrem, acreditam que devem cuidar dos outros em detrimento de si próprias, possuem baixa autoestima, desconhecimento de seus recursos pessoais e de seus direitos; enfim, sentem-se inferiores e destituídas de poder sobre suas próprias vidas (Autor, p.Ano).
Importante ressaltar que a depressão sentida pelas mulheres como sequela da violência vem ocupando uma posição de destaque, sendo considerada como uma questão de Saúde Pública. Ela é avaliada como a quarta de todas as doenças mais onerosas em todo o mundo (CAPITÃO; MESQUITA, 2005).
Já de acordo com Roth e Colés os sintomas psicológicos (apud GOMES, 2012, p.674):
[...] são aqueles característicos de vivências traumáticas. Sintomas de choque, negação, recolhimento, confusão, entorpecimento e medo são frequentemente relatados na literatura. Os sintomas mais importantes, no entanto, parecem ser depressão, desesperança, baixa autoestima e negação. Tais sintomas contribuem para manter a mulher na relação abusiva. Também podem se apresentar sentimentos de incapacidade, ansiedade, irritabilidade, perda de memória, abuso de álcool e drogas. 
A rotina da mulher que sofre abuso psicológico é de constante medo, onde ela nunca sabe qual será o próximo passo do companheiro, se ele ao chegar à casa trará flores ou se irá, mais uma vez, afirmar sua condição de subordinada e “estúpida” – ainda que satisfaça todos os seus desejos, ele nunca estará satisfeito e sempre encontrará uma maneira de atacá-la quando chegar do trabalho. (MILLER, 1999, p. 53).
Uma mulher vítima de qualquer tipo de violência acaba se tornando vulnerável e esse tipo de violência já acontecem a muito tempo e as mulheres tinham medo de denunciar pois não existia nenhuma lei que as aparavam. A mulher acabava se submetendo a agressões por medo da morte ou até mesmo por variáveis já citadas a cima. Porém, com a promulgação da Lei nº 11.340/06 o quadro veio a mudar. As mulheres começaram a ter mais coragem para denunciar seus agressores pois sabiam que apesar de existir falhas estavam aparadas por lei. 
De acordo com a professora de estudos de gênero da Universidade de Brasília (UnB) Valeska Zanello, a sociedade em que se vive é machista e cria homens que não sabem lidar com as próprias emoções e frustrações, só aprenderam a reagir usando a violência. “Assim se constrói a masculinidade, no negativo e no imperativo. Nos relacionamentos abusivos, quando não são capazes de “controlar” as parceiras, eles recorrem à violência para se reafirmarem como homens, como senhores dessas relações.
Por fim, o feminismo brasileiro vem rompendo com a cultura do machismo, da qual muitas mulheres são vítimas há anos, por meios de conscientização da mulher sobre seus direitos e com construção de políticas públicas de enfrentamento a qualquer ato de violência ou discriminação. Política de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher que se caracteriza como uma das grandes vitórias na luta pela emancipação feminina.
4. POLÍTICAS E A LEI MARIA DA PENHA NO COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 
De acordo com Lima (2014), a violência contra a mulher deixou de ser um problema de cunho privado e passou a ser uma questão pública com medidas estatais voltadas para a prevenção e assistência das vítimas. 
Osterne (2011) afirma que:
 Observa-se, não obstante, os significativos avanços legislativos, a criação de mecanismos institucionais e a implantação de políticas públicas destinadas a promoção da igualdade de gênero, que, no Brasil, se convive com graves problemas de discriminação contra as mulheres [...] (p.133)
Conforme está descrito na cartilha da Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres (2011). Desde a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 2003, as políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres foram fortalecidas por meio da elaboração de conceitos, diretrizes, normas; e da definição de ações e estratégias de gestão e monitoramento relativas à temática. 
Até então, as iniciativas de enfrentamento à violência contra as mulheres constituíam, em geral, ações isoladas e referiam-se basicamente a duas estratégias: a capacitação de profissionais da rede de atendimento às mulheres em situação de violência e a criação de serviços especializados, mais especificamente Casas-Abrigo e Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher.
Desta forma, a Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher (2011) tem por finalidade: 
[...] estabelecer conceitos, princípios, diretrizes e ações de prevenção e combate à violência contra as mulheres, assim como de assistência e garantia de direitos às mulheres em situação de violência, conforme normas e instrumentos internacionais de direitos humanos e legislação nacional. (p.9)
A Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher (2011), mostra que a partir de 2003, as políticas são ampliadas e passam a incluir ações integradas, como: criação de normas e padrões de atendimento, aperfeiçoamento da legislação, incentivo à constituição de redes de serviços, o apoio a projetos educativos e culturais de prevenção à violência e ampliação do acesso das mulheres à justiça e aos serviços de segurança pública. 
Esta ampliação é retratada em diferentes documentos e leis publicados neste período, a exemplo dos Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres, a Lei Maria da Penha, a Política e o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, as Diretrizes de Abrigamento das Mulheres em situação de Violência, as Diretrizes Nacionais de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do Campo e da Floresta, Norma Técnica do Centro de Atendimento à Mulher em situação de Violência, Norma Técnica das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, entre outros, formando, assim, os quatro eixos norteadores. Conforme representado no diagrama a seguir:
Figura 1: Quatros Eixos que norteiam a Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher
Fonte: Política Nacional de Enfrentamento a Violência Contra a Mulher(2011) apud Lima (2014). 
Na prevenção, a Política Nacional (2011) vem no intuito de:
 [...] prevê o desenvolvimento de ações que desconstruam os mitos e estereótipos de gênero e que modifiquem os padrões sexistas, perpetuadores das desigualdades de poder entre homens e mulheres e da violência contra as mulheres. A prevenção inclui não somente ações educativas, mas também culturais que disseminem atitudes igualitárias e valores éticos de irrestrito respeito às diversidades de gênero, raça/etnia, geracionais e de valorizaçãoda paz. As ações preventivas incluirão campanhas que visibilizem as diferentes expressões de violência de gênero sofridas pelas mulheres e que rompam com a tolerância da sociedade frente ao fenômeno (p.26).
Já na garantia e acesso aos direitos, a Política Nacional vem conscientizar e informar as mulheres sobre os mesmos. Segundo a Política Nacional (2011):
 No que diz respeito à garantia dos direitos humanos das mulheres, a Política deverá cumprir as recomendações previstas nos tratados internacionais na área de violência contra as mulheres (em especial aquelas contidas na Convenção de Belém do Pará e na CEDAW). No eixo da garantia de direitos, devem ser implementadas iniciativas que promovam o empoderamento das mulheres, o acesso à justiça e a o resgate das mulheres como sujeito de direitos. (p.27) 
No que diz respeito à assistência, a Política Nacional (2011) vem garantir: 
[...] o atendimento humanizado e qualificado àquelas em situação1 de violência por meio da formação continuada de agentes públicos e comunitários; da criação de serviços especializados (Casas-Abrigo, Centros de Referência, Serviços de Responsabilização e Educação do Agressor, Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Defensorias da Mulher); e da constituição/fortalecimento da Rede de Atendimento (articulação dos governos Federal, Estadual/Distrital, Municipal e da sociedade civil para o estabelecimento de uma rede de parcerias para o enfrentamento da violência contra as mulheres, no sentido de garantir a integralidade do atendimento).(p.27)
Além da Política Nacional também existe a lei 11.340/06 que mesmo não sendo perfeita, apresenta-se como um marco na história do combate a violência doméstica no Brasil. Traz em seu bojo uma estrutura adequada e específica para bem atender a complexidade do fenômeno violência doméstica, trazendo mecanismos de prevenção, assistência às vítimas, políticas públicas e punição mais rigorosa para os agressores. (CAMPOS, 2008.p.35).
É uma lei que tem mais o cunho educacional e de promoção de políticas públicas e assistenciais, tanto para vítima quanto para o agressor. Sua intenção não é unicamente punitiva, mas de proporcionar meios de proteção e promoção de assistência mais eficiente a salvaguardar os direitos humanos das mulheres.
4.1. Origem e dominação da Lei nº 11.340/06
Conforme o tempo foi passando e a mulher começou a lutar pelos seus direitos por meio de movimentos sociais e foi então que ocorreu um grande número de mulheres agredidas, pois os homens não concordavam com o fato que a mulher não queria mais viver subordinada, porém não era tão fácil assim, porque as mesmas ainda tinham medo de denunciar, pois muitas eram ameaçadas e mesmo querendo sair daquela vida não podiam pois não existia lei nenhuma que pudesse garantir seus direitos e as aparar.
E muito tempo foi dessa forma, somente no ano de 2006 que entrou em vigor uma lei, a 11.340, tem por nome: Lei Maria da Penha, em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes que por 20 anos lutou pela prisão do seu agressor.
Segundo Borelli (2013): 
A biofarmacêutica iniciou uma luta de mais de 20 anos para que Marco Antonio fosse punido por seu crime. Em 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência em relação à violência doméstica. Em 2003, o ex-marido de Maria da Penha finalmente foi preso. (p.235)
Tudo teve início no ano de 198, onde a mesma sofreu a primeira tentativa de assassinato, quando o seu marido atirou nela, enquanto dormia e acabou por deixa-la paraplégica, a segunda tentativa ele tentou eletrocutar Maria da Penha com o chuveiro, porém não obteve êxito em nenhuma tentativa. 
Mesmo sendo difícil, ela teve coragem e denunciou ele no mesmo ano, mas somente no ano seguinte que a denúncia foi informada ao Ministério Público Estadual. Contudo, somente 8 anos depois que ocorreu o primeiro julgamento, onde os advogados do seu esposo conseguiram anular e a justiça brasileira acabou por esquecer esse fato.
Maria da Penha nunca desistiu de fazer justiça lutou 15 para conseguir punir o seu agressor e com a ajuda de ONGs, ela enviou o caso para a Comissão interamericana de Direitos Humanos (OEA), que acabou acatando a denúncia e condenando o seu marido a dois anos de prisão.
Em concordância Dias, em seu livro a Lei Maria da Penha na justiça (2007, p.13) narra a condenação sofrida pelo acusado: 
Em 1991, o réu foi condenado pelo tribunal do júri a oito anos de prisão. Além de ter recorrido em liberdade ele, um ano depois, teve seu julgamento anulado. Levado a novo julgamento em 1996, foi-lhe imposta a pena de dez anos e seis meses. Mais uma vez recorreu em liberdade e somente 19 anos e 6 meses após os fatos, em 2002, é que M. A. H. V. foi preso. Cumpriu apenas dois anos de prisão. 
A comissão também condenou o Brasil, pois entendeu que o país foi negligente ao caso de alta complexidade e dentre as diversas punições estava a de criar uma legislação adequada a esse tipo de violência, depois disso as comissões se reuniram para atender as sugestões e elaborar a lei. Foi então que em Setembro de 2006 a lei entrou em vigor no Brasil, fazendo com que as mulheres garantissem seus direitos e proteção.
Nas palavras de Piovesan e Pimentel (2007) a Lei Maria da Penha funciona como instrumento de igualdade, que confere efetividade aos preceitos constitucionais. 
A "Lei Maria da Penha”, ao enfrentar a violência que de forma desproporcional, acomete tantas mulheres, é instrumento de concretização da igualdade material entre homens e mulheres, conferindo efetividade à vontade constitucional, inspirada em princípios éticos compensatórios (p.01).
Segundo Ávila (2007) esta lei, deu aplicabilidade ao princípio da dignidade humana e a igualdade de gênero que, apesar de previstos na Constituição, precisavam ser transportados para um diploma legal específico e detalhado, comunicando à sociedade o novo paradigma de não aceitação da violência doméstica. 
Antes da promulgação da Lei nº 11.340/06, o órgão responsável por amparar a mulher em situações de violência era o Juizados Especiais Criminais- JECRIN, que nem sempre garantia a punição do agressor. Segue abaixo um quadro comparativo estabelecendo uma relação entre o antes e depois da Lei n°11.340/06 entrar em vigor. 
Quadro 1: Antes e Depois da Lei Maria da Penha 
	ANTES
	DEPOIS
	Não existia lei específica sobre a violência doméstica
	Tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher e estabelece as suas formas: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.
	Não tratava das relações entre pessoas do mesmo sexo.
	Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de orientação sexual.
	Nos casos de violência, aplica-se a lei 9.099/95, que criou os Juizados Especiais Criminais, onde só se julgam crimes de "menor potencial ofensivo" (pena máxima de 2 anos).
	Retira desses Juizados a competência para julgar os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher.
	Esses juizados só tratavam do crime. Para a mulher resolver o resto do caso, as questões cíveis (separação, pensão, guarda de filhos), ela tinha que abrir outro processo na vara de família
	Serão criados Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, com competência cível e criminal, abrangendo todas as questões
	Permite a aplicação de penas pecuniárias, como cestas básicas e multas.
	Proíbe a aplicação dessas penas.
	A autoridade policial fazia um resumo dos fatos e registrava num termo padrão (igual para todos os casos de atendidos).
	Tem um capítulo específico prevendo procedimentos da autoridade policial, no que se refere às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar
	A mulher podia desistir da denúncia na delegacia.
	A mulher só pode renunciar perante o Juiz.
	Era a mulher quem, muitas vezes, entregava a intimação para o agressor comparecer às audiências.
	Proíbe que a mulher entregue a intimação ao agressor.
	Não era prevista decretação, pelo Juiz, de prisão preventiva, nem flagrante, do agressor (LegislaçãoPenal).
	Possibilita a prisão em flagrante e a prisão preventiva do agressor, a depender dos riscos que a mulher corra.
	A mulher vítima de violência doméstica e familiar nem sempre era informada quanto ao andamento do seu processo e, muitas vezes, ia às audiências sem advogado ou defensor público
	A mulher será notificada dos atos processuais, especialmente quanto ao ingresso e saída da prisão do agressor, e terá que ser acompanhada por advogado, ou defensor, em todos os atos processuais.
	A violência doméstica e familiar contra a mulher não era considerada agravante de pena. (art. 61 do Código Penal).
	Esse tipo de violência passa a ser prevista, no Código Penal, como agravante de pena.
	A pena para esse tipo de violência doméstica e familiar era de 6 meses a 1 ano.
	A pena mínima é reduzida para 3 meses e a máxima aumentada para 3 anos, acrescentando-se mais 1/3 no caso de portadoras de deficiência. 
	Não era previsto o comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação (Lei de Execuções Penais)
	Permite ao Juiz determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.
	O agressor podia continuar frequentando os mesmos lugares que a vítima frequentava. Assim como não era proibido de manter qualquer forma de contato com a agredida
	O Juiz pode fixar o limite mínimo de distância entre o agressor e a vítima, seus familiares e testemunhas. Pode também proibir qualquer tipo de contato com a agredida, seus familiares e testemunhas.
Fonte: Lima, 2014. 
	
Depois de inúmeras lutas e algumas conquistas a Lei n°11.340/06 entrar em vigor no país e como percebe-se no quadro acima está lei de foi de grande importância pois a violência contra mulher passa a ser tratada com mais rigor e o agressor recebe a punição que lhe compete gerando assim maior confiança para a vítima na hora da denúncia. 
Conforme dados do IPEA (2015): 
A Lei 11.340/06 conta com 46 artigos, e representa um avanço significativo dentro da realidade brasileira. Entretanto, apesar dos avanços ainda pode se constatar um número elevado de casos de violência dom éstica, porém, sem saber se houve um aumento dos homicídios de mulheres, pois antes da Lei não eram coletados dados. Segundo o Mapa da Violência, em 2015, a cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil, e a cada duas horas, uma é assassinada. Ainda segundo o Mapa, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. A Lei Maria da Penha trouxe visibilidade para esse tipo de comportamento inserido dentro da sociedade brasileira (p.6).
	
De acordo com a Secretária Nacional de Mulheres Cristiane Britto, em uma entrevista para a agência Brasil (2019), demostra que a cada dia mais mulheres são agredidas e os dados são alarmantes pois, demonstram a realidade, na prática, o absurdo é bem maior, mas ainda existe medo e vergonha por parte das mulheres, que por não querer que ninguém saiba o que elas veem passando, acabam por se silenciar, sendo registrado uma média de apenas 10% das agressões sofridas pelas mulheres brasileiras.
Apesar disso, o tema já vem sendo bastante discutido e mostrado na mídia, através do cinema, teatros e teledramaturgias, que retratam essa realidade, dando muita ênfase aos maus tratos sofridos pelas mulheres. Isso é feito, como forma de incentivar as mulheres a delatarem tais violências, mostrando que esse quadro pode ser modificado, se elas não se calarem e baterem de frente, pedindo proteção e amparo da justiça.
Por fim, nota-se que a lei a todo tempo visa dar amparo as mulheres brasileiras, sendo contra as relações de desigualdade, buscando de todas as formas garantir a efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana. Deve-se lembrar que o Brasil é um país democrático de direito que preconiza o respeito aos princípios elencados na Constituição Federal, indistintamente a homens e mulheres. E a Lei Maria da Penha apesar de ainda apresentar alguns desafios que serão elencados mais à frente, trouxe inúmeros avanços para ajudar a mulher passar por esse momento tão delicado de forma segura.
4.2. Avanços e Desafios da Lei Maria da Penha 
A Lei Maria da Penha é uma lei federal brasileira, cujo objetivo principal é estipular punição adequada e coibir atos de violência doméstica contra a mulher. Decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006, a lei entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006. 
 	Desde a sua publicação, a lei é considerada pela Organização das Nações Unidas como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres. Além disso, segundo dados de 2015 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a lei Maria da Penha contribuiu para uma diminuição de cerca de 10% na taxa de homicídios contra mulheres praticados dentro das residências das vítimas.
A criação da lei considera os aspectos culturais que permeiam o cotidiano da maior parte do país, pois, a situação social da mulher vem sendo moldada há tempos perante a sociedade no qual ainda que evolua a mulher sempre será vista como submissa ao homem reforçado pela ideologia patriarcal que influência a uma relação de hierarquia de poder.
Em seu Título I, denominado Disposições Preliminares, a Lei Maria da Penha estabelece suas fundamentações; os direitos fundamentais da mulher, anuncia as condições para o exercício desses direitos; o comprometimento do Poder para desenvolver políticas garantidoras do referido direito, as condições para tanto e reconhece, de plano, a hipossuficiência da mulher.
No Art. 1º da Lei 11.340/06 deixa claro para que veio:
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição federal, da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e erradicar a Violência contra a mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. (p.5)
Conforme Crivetello (2016), a Lei tem apresenta inúmeros avanços e entre eles pode-se destacar o encerramento da possibilidade da penalização por meio de cestas básicas e torna-se obrigatório à instauração de Inquéritos Policiais para a investigação dos delitos cometidos com base em violência doméstica. 
A Lei também estabelece ações de assistência ás vítimas e adota pesadas medidas aos agressores, tornando-se então uma lei inovadora em muitos dos seus dispositivos. A Lei 11.340/06, prevê: em seus artigos 22, 23 e 24, chamadas de medidas protetivas de urgência: 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; 
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; 
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; 
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

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