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CONPEDI PESQUISA CIENTÍFICA - ALEXANDRE STURION

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PESQUISA CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO JURÍDICA: REFLEXÕES ACERCA 
DE SUA AUSÊNCIA E DE SUAS MÚLTIPLAS CONSEQÜÊNCIAS 
 
SCIENTIFIC RESEARCH IN THE LEGAL EDUCATION: REFLECTIONS 
CONCERNING ITS ABSENCE AND OF ITS MULTIPLE CONSEQUENCES 
 
Alexandre Sturion de Paula* 
 
RESUMO: Objetivamos com o presente estudo apontar para a realidade da educação 
jurídica brasileira, tendo em vista a superfície de um dos seus aspectos: a pesquisa 
científica. O ensino jurídico passa por uma crise de qualidade. Os Exames de Ordem e 
Concursos Públicos na área jurídica apresentam alarmantes índices de reprovação, 
emergindo indagações para identificação das raízes do problema. Neste contexto, os 
acadêmicos, as Faculdades, a OAB, o Ministério da Educação e Cultura e a própria 
sociedade são atores legitimados à discussão. É certo que o modelo educacional 
bancário já se faz ultrapassado. A indagação, contudo, é se seria apenas este ensino 
fossilizado o responsável pela má qualidade do ensino jurídico ou se os próprios 
acadêmicos estariam contribuindo para o cenário posto. Desde logo se observa que há 
inegável falta de investimento em pesquisa científica na educação jurídica, o que acaba 
refletindo na formação do profissional gerando múltiplas conseqüências a ele, à 
Instituição e à sociedade. Embora as considerações destacadas, concluímos que também 
é fundamental a presença de um processo mental e prático de autodidaxia em que o 
próprio acadêmico busca aperfeiçoar seu conhecimento, assim como é de todo salutar 
para a sua formação jurídica que também atue em sistema de cooperação, que promova 
uma melhor compreensão do estudo e da intensidade de suas pesquisas. 
 
PALAVRAS CHAVES: ENSINO JURÍDICO; PESQUISA CIENTÍFICA; 
GRADUAÇÃO; UNIVERSIDADE 
 
 
ABSTRACT: We objectify with the present study to point with respect to the reality of 
the brazilian legal education, in view of the surface of one of its aspects: the scientific 
research. Legal education passes for a quality crisis. The Public Examinations of Order 
and Competitions in the legal area present alarming indices to disapprove, emerging 
investigations for identification of the root of the problem. In this context, the 
academics, the Facultieses, the OAB, the Ministry of the Education and Culture and the 
proper society are legitimated actors to the quarrel. It is certain that the banking 
educational model already becomes exceeded. The investigation, however, is if the 
responsible one for the bad quality of legal education would be only this archaic 
education or if the proper academics would be contributing for the scene rank. Since 
soon he observes yourself that he has undeniable lack of investment in scientific 
research in the legal education, what it finishes reflecting in the formation professional 
it generating multiple consequences, to the Institution and the society. Although the 
detached consideration, we conclude that also the presence of a mental and practical 
process of auto-learning is basic where the proper academic searchs to perfect its 
 
* Mestre em Direito Negocial, com concentração em Direito Processual Civil, pela UEL. Especialista em 
Direito do Estado pela UEL. Professor da Graduação em Direito da UNINORTE. E-mail: 
alexandresturion@yahoo.com.br 
mailto:alexandresturion@yahoo.com.br
 2
knowledge, as well as he is of all salutar for its legal formation that also acts in 
cooperation system, that it promotes one better understanding of the study and the 
intensity of its research. 
 
KEYWORDS: LEGAL EDUCATION; SCIENTIFIC RESEARCH; GRADUATION; 
UNIVERSITY 
 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
A educação jurídica está em voga, mormente com os últimos 
resultados das provas dos Exames de Ordem. Exemplificando, o 126º Exame de Ordem 
da Seccional de São Paulo apresentou mais de 92% de reprovações, que somado às 
baixas aprovações em demais Seccionais, como a do Paraná (90% de reprovações no 1º 
Exame de 2005) trouxeram à tona, com maior vigor, a questão da qualidade do ensino 
jurídico prestado por mais de 750 Faculdades de Direito, públicas e privadas, existentes 
no país. 
Os altos índices de reprovação nos Exames de Ordem, assim como em 
demais concursos para ingresso em carreiras jurídicas como a do Ministério Público e 
Magistratura levantam diversas contendas acerca do ensino jurídico que, 
indiscutivelmente, prolifera-se de forma assombrosa. Todos são atores do debate sobre a 
educação jurídica: acadêmicos, Faculdades, OAB, MEC e a própria sociedade. Os 
acadêmicos possuem um dúplice interesse, eis que são algozes e vítimas dentro deste 
sistema de ensino jurídico hoje existente, pois, estão deixando de recorrer a outros 
Cursos e mesmo a outras Faculdades com a utopia do rápido sucesso com o menor 
esforço, momento em que agem como algozes do sistema, vez que fomentam a abertura 
de novos cursos que objetivam mais a arrecadação de mensalidades que a prestação de 
serviços de qualidade. De outro lado, são vítimas de um ensino bancário, há tempos 
anacrônico e descompassado da realidade jurídica e social presente. 
As Faculdades encontram-se em situação difícil, eis que a qualidade 
da prestação do serviço educacional que oferecem está sendo posta em dúvida, visto que 
os alunos, em gradiente eclosão, dependem da realização de cursos preparatórios para a 
aprovação no Exame de Ordem, assim como já se torna questionável a qualidade do 
proliferado número de Faculdades que sequer preenchem o número de vagas ofertadas, 
embora com um sistema vestibular pouco exigente. É de se ressaltar, inclusive, a 
constatação do então Secretário-Geral do Conselho Federal da OAB, Dr. Cezar Britto, 
ao enfatizar que “hoje em dia, o acesso às faculdades é universal, pois há mais vagas 
disponíveis do que alunos interessados. Isto gera instituições funcionando durante a 
madrugada, em cinemas e igrejas”.1 
A OAB e o MEC também se encontram em contenda, a primeira 
imputa ao Ministério a responsabilidade pelo caos do ensino jurídico com a autorização 
de abertura de centenas de cursos jurídicos, bem como a deficiência das Instituições 
privadas e de seus alunos. O então Presidente da OAB, Roberto Busato, após analisar o 
péssimo resultado dos candidatos ao 126º Exame de Ordem de São Paulo preconizou 
que “o Exame de Ordem é um teste de aproveitamento. Um resultado desse nível aponta 
que algo está realmente muito errado e, para nós, o que está errado é o ensino de Direito 
 
1 BRITTO, Cezar. OAB: cursos de Direito de má qualidade podem ser fechados. Brasília: OAB. 
Disponível em <www.oab.org.br/noticia.asp?id=4331> Acesso em 02 jun. 2005. 
http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=4331
 3
de péssima qualidade”.2 O MEC, por sua vez, transferindo a responsabilidade às 
próprias Faculdades e aos acadêmicos, despreocupa-se com a qualidade e a escassez de 
demanda para criação de novos cursos. 
Por fim, a sociedade, que é a destinatária dos futuros profissionais que 
as Faculdades lançam ao mercado, sendo ainda habilitados pela OAB ao exercício 
profissional, estando todos reféns da eventual má qualidade que fora repassada aos 
bacharéis e que, doravante, tomarão as medidas necessárias para as soluções dos mais 
diversos problemas pessoais e coletivos no âmbito jurídico da sociedade. 
Este panorama vem se solidificando já há longa data, não é algo 
recente. O modelo de ensino jurídico ainda existente está em crise com o arcabouço 
sedimentado na educação bancária há décadas alicerçada, e ainda intocável em diversos 
cursos de envergadura nacional, em que pese o mestre Paulo Freire desde a década de 
60, através de sua obra ‘Pedagogia do Oprimido’ já tivesse realizado alertas e 
apresentado soluções à hodierna crise. Este painel induz a algumas reflexões que 
buscam encontrar a razão de a educação jurídica ancorar-se neste sensível colapso. 
Assim é que se pode questionar: a causa da deficiência do ensino 
jurídico consiste apenas no fato de ser, em sua grandemaioria, um ensino 
pedagogicamente anacrônico que ainda prioriza a mera dogmática sobre a zetética ou a 
razão deste declínio educacional estaria intrinsecamente relacionada tão-somente ao 
excesso de oferta de vagas em centenas de Faculdades de Direito? Enfim, seria o motivo 
basilar do quadro acima apontado uma omissão dos graduandos em Direito que de fato 
estariam buscando apenas um diploma através do menor esforço, o que representaria a 
baixa qualidade do ensino e das aprovações nos Exames de Ordem e concursos públicos 
assim como de deficiências na prestação dos serviços aos clientes? 
Adiantamos que todas as circunstâncias acima decidem 
conclusivamente pelo cenário conflituoso e até decadente que se presencia na atual 
formação jurídica, com Faculdades de questionável capacidade pedagógica e 
operacional para ofertar o curso de Direito, acadêmicos com significativas deficiências 
de compreensão e mesmo de escrita, e com a guerra de braço entre MEC e OAB, em 
que a sociedade mais uma vez é quem padece. Em síntese, a pedagogia, a estrutura dos 
cursos jurídicos e os próprios acadêmicos contribuem em somatório para que o ensino 
jurídico alcance a maculada voga na sociedade. 
Das referidas considerações iniciais uma questão, que a nosso ver 
aglutina todas as pontuações destacadas, consiste em conceber pela efetiva presença ou 
não da pesquisa científica no ensino jurídico. A pesquisa científica representa um dos 
fundamentos da tríade da educação jurídica, qual seja: ensino, pesquisa e extensão. E 
por entendermos, de forma singela, que a razão fundamental das deficiências da 
instrução jurídica alicerça-se no contexto da pesquisa científica é que nos deteremos 
sobre este aspecto com o intuito de entrelaçar esta causa com as suas múltiplas 
conseqüências. 
 
2. MODELO EDUCACIONAL ATUAL E OS DEVERES INSTITUCIONAIS 
O vigente ensino jurídico, como já salientado, representa a perenidade 
do que se observa há décadas de instrução jurídica nacional, daí o motivo de 
concebermos que a educação jurídica está em crise. E estar em crise representa muito 
mais que a mera falácia, pois importa em concretas conseqüências aos atores envolvidos 
 
2 BUSATO, Roberto. OAB credita reprovação recorde em exame a falência do ensino. Fonte OAB. 
Disponível em <http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=4510>. Acesso em 23 jun. 2005. 
http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=4510
 4
na discussão que ora se encerra. San Tiago Dantas nos ensina que “só se consideraria, 
pois, em crise, uma Faculdade em que o saber houvesse assumido a forma de um 
precipitado insolúvel, resistente a todas as reações. Seria ela um museu de princípios e 
praxes, mas não seria um centro de estudos”.3 E apresenta-se como fato indiscutível que 
alguns dos atuais cursos jurídicos tratam o conhecimento como um produto estanque a 
ser apenas introduzido em um recipiente e lacrado, pondo o recipiente à disposição da 
sociedade. 
 Por certo não olvidamos em apontar que vários cursos jurídicos, 
públicos e privados, têm buscado diferenciar o ensino ministrado, apresentando grades e 
ementas antes inimagináveis, exemplifique-se a inclusão de disciplinas de metodologia 
científica, argumentação, prática jurídica, hermenêutica, filosofia e sociologia jurídica. 
Todavia, a graduação jurídica, em especial em Instituições que não contam com cursos 
de pós-graduação, ainda reluta ao mero repasse do ensino bancário, expositivo, 
estreitado em disciplinas dogmáticas, divididas entre o antigo ramo direito público e 
privado. E esta constatação é vislumbrada pelos próprios educadores. O professor e ex-
Ministro do Superior Tribunal de Justiça-STJ, Sálvio de Figueiredo Teixeira, leciona 
que: 
Nós, os educadores, em regra, somos formados e continuamos 
fiéis aos esquemas do racionalismo. Precisamos descobrir, 
agora, a ‘epistemologia da existência’, o existir como condição 
para ver o mundo, que inclui, em primeiro lugar, a emoção, a 
cultura do coração. Porque se a razão reduz a força de descobrir, 
é a emoção que nos leva a ser originais.4 
 
Além desta pedagogia fossilizada, deitada na dogmática do “Ter”, 
vários cursos não contam com a infra-estrutura adequada, muito embora, diga-se, o 
curso de Direito pouco exija das Faculdades e Universidades, eis que ainda basta um 
giz, um professor, um sebo jurídico e uma sala de aula para que, minimamente, o curso 
se dê prolongamento. Inevitável que tais cursos e seus alunos, não alcancem e nem 
ofereçam os resultados que a sociedade espera. E é justamente a tais cursos que a OAB 
vem negando a aprovação, requerendo do MEC que os mesmos não sejam reconhecidos 
pelas insuficiências gritantes existentes. 
É ausentar-se da realidade não considerar que em todos os Estados da 
Federação existam tais cursos em andamento, aguardando a conclusão de sua primeira 
turma para obterem os devidos reconhecimentos, ou pior, já terem sido aprovados 
apesar das falhas existentes. 
O atual modelo de credenciamento dos cursos de Direito possibilita a 
infindável criação de Faculdades de Direito em todas as regiões do território nacional. A 
Portaria n.º 1264, de 13 de maio de 2004, tem como diretrizes para autorizar a abertura 
de um Curso de Direito “as necessidades sociais e desigualdades regionais”. Todavia, é 
vasto, amplo, e quase irrecusável os requerimentos realizados perante o MEC, vez que 
por ‘necessidades sociais’ são considerados os “índices de pobreza, juventude, 
alfabetização, escolaridade, emprego formal, violência e exclusão social da população 
 
3 Cf. FACHIN, Luiz Edson. Limites e possibilidades do ensino jurídico e da pesquisa jurídica: repensando 
paradigmas. Revista do Direito, Santa Cruz do Sul, n.º 13, p. 8, jan./jun. 2000. 
4 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A Universidade: compromisso com a excelência e instrumento de 
transformação. Lex, São Paulo, ano 23, n.º 270, p. 9, jun. 2001. 
 5
do município onde a instituição deseja criar uma faculdade de direito”.5 E no tocante ao 
quesito desigualdade regional, o MEC verifica “itens como a vocação econômica, a 
demanda de advogados, número de cursos, vagas oferecidas e cruza com o número de 
habitantes”.6 Observa-se que se ao menos o último quesito fosse efetivamente avaliado, 
a realidade dos cursos jurídicos seria diversa. E é justamente aí que se encontra uma das 
merecidas queixas da OAB. 
Há vários cursos de Direito em regiões metropolitanas, principalmente 
nas regiões Sul e Sudeste. Todavia, a demanda existente não comporta sequer a 
manutenção dos cursos atuais (reconhecidos ou não), quanto mais a abertura de novas 
Faculdades. Enquanto as mencionadas regiões há excesso de oferta, nas regiões Norte e 
Nordeste, por exemplo, há Estados que possuem excesso de demanda ante a ausência de 
vagas suficientes ao pleito existente. 
Estes fatores não podem continuar sendo observados como meras 
alegações protetivas da OAB, ou seja, simples reserva de mercado. Há um real risco 
para a sociedade a continuar com o modelo atual. É certo que o MEC, através do 
Ministro Tarso Genro, vem buscando alternativas para atenuar o caos que já se passa a 
instaurar, como se observa com a recente Portaria n.º 1874 de 2 de junho de 2005, que 
permite o Conselho Federal da OAB “apresentar ao MEC contestação, denúncia ou 
indício de irregularidade em curso de direito e permite que um representante da entidade 
acompanhe o trabalho das comissões do Ministério”.7 
Contudo, a única alternativa acertada que se pode vislumbrar no 
presente estado é a atribuição de poderes de decisão à OAB na implantação e 
reconhecimento de novos cursos e na própria manutenção dos cursos já reconhecidos. 
As Faculdade que não estão cumprindo com seus deveres institucionais com o ensino, a 
pesquisa e a extensão não podem continuar ofertando vagas à sociedade. Há que se 
observar que a quantidade não é sinônimo de qualidade, e o modelo atual está 
devassando com a qualidade, eis que as Faculdadesestão se multiplicando e migrando 
do escasso ensino bancário para verdadeiros “cursinhos” para passar no Exame de 
Ordem. Neste diapasão o Professor Paulo Bassani alerta que: 
Os métodos de ensino são muito mais para preparar os 
profissionais para o mercado [...] e não mais para um novo 
mercado mais solidário, mais humanizante, voltado aos 
problemas locais e regionais, resgatando as experiências 
culturais brasileiras e latino-americanas.8 
Neste desiderato, a questão que nos aponta é: poderemos confiar uma 
causa jurídica a profissionais formados por este modelo jurídico-educacional? 
As soluções ainda se encontram submersas às questões de natureza 
política, e como já salientado pelo Presidente da Seccional da OAB do Paraná, Manoel 
Antônio de Oliveira Franco: 
Pelo que se constata não existe a menor vontade política do 
Governo Federal de exercer uma fiscalização com zelo e 
responsabilidade, afastando do sistema os empresários do 
 
5 Fonte: Assessoria de Comunicação do MEC. Disponível em <http://www.universiabrasil.net/materia/ 
materia.jsp?materia=7314>. Acesso em: 7 jun. 2005. 
6 Id Ibid. 
7 Fonte: Assessoria de Comunicação do MEC, loc. cit. 
8 Cf. AMARO, Chico. O Neoliberalismo só quer o conhecimento rentável. Terra Vermelha, Londrina, n.º 
48, p. 7, abr. 2003. 
http://www.universiabrasil.net/materia/
 6
ensino, os mercantilistas, que priorizam o lucro em detrimento 
da qualidade.9 
Destarte, resta aos métodos pedagógicos a imediata alteração do caos 
ora constatado até que se promovam arraigadas modificações políticas na formação 
jurídica nacional. E como se pôde observar é cadente que o modelo de educação 
jurídica, ancorado no ensino bancário, representa “o primeiro e mais importante ponto 
crítico da crise existente”.10 Nesta senda, imperiosa uma alteração no processo 
pedagógico da educação jurídica brasileira. Porém, conquanto solidário à necessidade 
de reformulações em grades curriculares, estrutura pedagógica e operacional de vários 
cursos, além da necessária fiscalização, entendemos que a principal melhoria à 
formação jurídica pátria já se encontra sedimentada há décadas, isto é, consiste na 
tríplice sustentação: ensino, pesquisa e extensão. 
As Faculdades, salvo raras exceções, apresentam e oferecem aos 
acadêmicos tão-somente o ensino jurídico, não raras vezes nos moldes anacrônicos 
acima apontado. De outro lado há um razoável avanço na implementação de cursos de 
extensão universitária e de pós-graduação “lato sensu”; porém, é praticamente 
inexistente a efetiva condução da pesquisa científica no seio da educação jurídica em 
sede de graduação. E é esta omissão que está representando o diferencial na aprovação 
em concursos, Exames de Ordem e mesmo de atuação de acadêmicos na prática forense, 
eis que compromete na base a qualidade da instrução jurídica ministrada. Arquitetamos, 
pois, que o atual modelo de educação jurídica apresenta significativa omissão dos 
deveres institucionais das Faculdades de Direito no tocante à pesquisa científica 
jurídica, contribuindo de forma sensível para o pandemônio ora relatado. 
 
3. A PESQUISA CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO JURÍDICA 
As Universidades possuem várias outras funções além de oferecer o 
ensino superior. E desde a criação da UnB, na década de 60, que o Brasil adotou o 
modelo norte-americano “ensino, pesquisa e extensão”. Já discorremos que o ensino 
vem sendo o carro forte das Instituições públicas e privadas. É com o ensino 
(graduação) que as Instituições Superiores tem reservada detida preocupação. 
A extensão universitária vem se apresentando como um novo viés das 
Universidades e Faculdades, dentre as quais a de Direito. A extensão universitária, além 
de propiciar aos graduandos e pós-graduandos efetivo conhecimento teórico e prático, 
ofertam diversos serviços à sociedade, em especial às comunidades localizadas nas 
regiões e/ou Municípios próximos das Instituições. Serviços fisioterápicos, nutricionais, 
odontológicos, médicos, lúdicos, jurídicos e outros são ofertados, em regra, 
gratuitamente à sociedade. 
Observe-se neste sentido os serviços de atendimento jurídico 
itinerante, que de forma louvável são prestados por poucos cursos jurídicos. Cursos de 
curta duração destinados ao aperfeiçoamento teórico e prático também são alvo de 
algumas extensões universitárias ofertadas por várias Instituições. 
Contudo, os cursos jurídicos, em sua grande maioria, ainda ofertam 
um número ínfimo de extensões universitárias voltados à área do Direito, muito embora 
 
9 FRANCO, Manoel Antônio de O. Exame de Ordem: o ensino jurídico em discussão. Curitiba: O Estado 
do Paraná. 22 mai. 2005. 
10 MARTINEZ, Sérgio Rodrigo. Práxis Dialógica e Cooperação: proposições de um novo paradigma para 
o ensino jurídico. JUSsapiens – Juristas e Educadores Associados. Disponível em <http:// 
www.ensinojuridico.pro.br>. Acesso em 17 mar. 2005. 
http://
http://www.ensinojuridico.pro.br
 7
sejam cursos que facilmente poderiam ser incentivados pelas Pró-reitorias de pesquisa e 
extensão a partir do quadro docente presente nas Instituições. Ressalte-se que os cursos 
de extensão possibilitam a multidisciplinariedade, algo ainda raro na graduação jurídica, 
embora cotidianamente necessário. 
E por qual(is) fator(es) há esta cafanga prestação do conhecimento? A 
resposta, que uma vez mais nos torna presente, remonta à pesquisa científica. E as 
razões para tal fato são óbvias. Sem pesquisa científica não há como possibilitar um 
ensino de qualidade. Sem ensino e pesquisa de qualidade não há como proporcionar 
extensões universitárias. A tríade ensino-pesquisa-extensão não representa uma virtude 
à Instituição que a conduz com comprometimento e seriedade, mas sim uma 
necessidade a toda Instituição que prime pela qualidade e eficiência de seus cursos. 
O professor Leonardo Greco salienta com sabedoria que o ensino 
jurídico “deve também, através das atividades de pesquisa e extensão da produção 
científica dos professores e alunos, contribuir para o aprimoramento das instituições 
jurídico-políticas e promover o progresso científico e dogmático do Direito”.11 O ensino 
superior tem sua função social perante a sociedade, importa dizer que a elite (como 
ainda pode ser considerada), que chega aos bancos universitários deve ofertar sua 
contribuição para com os demais membros da pirâmide social. E esta contribuição 
principia com a absorção, dedicação e transmissão do conhecimento. Neste diapasão já 
enfatizava o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira ao destacar: “e o que se espera do 
universitário? ‘Consciência universitária’, uma vez que a parcela dos privilegiados que 
alcança os bancos da Universidade tem um compromisso com aqueles que ficaram à 
beira do caminho".12 
A pesquisa científica que se tem presenciado nas Instituições, 
mormente nas públicas, restringe-se às pesquisas realizadas em sede de pós-graduação. 
Em algumas Universidades há, ainda que de forma bastante tímida, o incentivo à 
iniciação científica. Todavia, as Instituições privadas, e em especial a graduação 
jurídica, encontra-se demasiadamente atrasada no que se refere à inserção de 
acadêmicos em atividades de pesquisa e na própria produção científica dos professores. 
Atualmente constata-se que a atividade de pesquisa para os 
bacharelandos em Direito não ultrapassa a obrigatoriedade das monografias de 
conclusão de curso. Este fato é deveras agravante, posto que em um sistema que reluta 
na pedagogia do ensino bancário e dogmático, a ausência da pesquisa científica desde os 
primórdios da formação jurídica do graduando representa, em ultima instância, o 
desastre que se constata a cada Exame de Ordem realizado em todas as Seccionais da 
OAB, cujas aprovações raramente alcançam a marca dos 30% dos candidatos inscritos. 
Alguns dos fatores responsáveis por este panorama já foram 
implicitamente demonstrados. A corrida por aberturas de cursos jurídicostem 
promovido o decréscimo da qualidade do ensino prestado, visto que muitos dos 
docentes contratados fazem do magistério um “bico” a mais, não importando em uma 
dedicação mais específica para a instrução pedagógica e didática, além do 
aperfeiçoamento teórico para ministrar aulas. Não é raro constatar docentes apenas com 
o diploma do bacharelado em Direito, sem que tenham realizado uma Especialização ou 
que estejam realizando o curso de mestrado ou doutorado. Alguns, sequer principiaram 
um artigo científico em todo o decorrer de vida acadêmica. 
 
11 GRECO, Leonardo. O ensino Jurídico no Brasil. MundoJurídico. Disponível em 
<http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em 31 mai. 2005. 
12 TEIXEIRA, S. F. op. cit., p. 11. 
http://www.mundojuridico.adv.br
 8
Acresce em gravidade aos fatores acima, a questão da baixa exigência 
no processo seletivo para ingresso no curso jurídico. Já tivemos a oportunidade, 
inclusive, de constatar alunos com grande deficiência de raciocínio e com dificuldade de 
escrita, chegando a alguns ápices como escrever “omissídio”, “prezenssa” e outros 
pitorescos que identificam que o processo de seleção restou completamente ineficiente, 
prejudicando a transmissão do conhecimento, eis que o ensino jurídico exige uma 
capacidade intelectual mínima para que a relação de aprendizagem se dê de forma 
satisfatória. Não podemos, ainda, olvidar a constatação de que um dos pontos fulcrais 
das imediatas mazelas jurídicas reside na adequação estrutural e pedagógica das 
Instituições para dar suporte à realização de pesquisas científicas. Em muitos cursos, 
segundo Joaquim Falcão: 
Além de inexistir uma mentalidade de pesquisa ou quando existe 
é uma mentalidade individualista que dispensa a moderna 
metodologia científica, inexistem, na maioria das faculdades, 
bibliotecas atualizadas, salas apropriadas ou recursos 
específicos, sobretudo, para a pesquisa empiricamente 
fundamentada. De tudo resulta que o conhecimento jurídico 
transmitido pelas faculdades é produzido fora delas. Resta saber 
onde.13 
Todos este fatores culminam em conjunto para as deficiências 
gritantes que se vêm observando na educação jurídica pátria. Mais uma vez salientamos 
que a omissão no maciço incentivo e dispêndio em atividades de iniciação científica na 
graduação jurídica importam nos tétricos resultados até então obtidos. A pesquisa 
científica, por certo, exige um galgar mais avançado do acadêmico e do docente-
orientador em razão de envolver metodologias próprias e com maior facilidade imiscuir-
se em áreas multidisciplinares. Apenas estes aspectos já informam a necessidade de 
haver um preparo maior tanto dos acadêmicos envolvidos quanto dos docentes 
orientadores, e por conseguinte, de maior atenção pedagógica, financeira e estrutural por 
parte das Instituições de Ensino Superior. 
O MEC, através da Portaria 1886, expedida em 1994, passou a exigir 
a monografia de conclusão de curso. Indiscutivelmente trata-se de uma atividade de 
pesquisa científica, aliás, a mais relevante da graduação jurídica. Contudo, é de fácil 
constatação que a maioria absoluta dos quintanistas deparam-se com uma atividade de 
pesquisa científica tão-somente quando da realização da referida monografia. E como 
não poderia deixar de ser, as dificuldades com a elaboração desta monografia 
apresentam-se como uma tarefa hercúlea, vez que o acadêmico pouco ou nada sabe das 
metodologias e técnicas de pesquisa científica, momento em que a ansiedade pela 
conclusão do curso e as incertezas da futura profissão, a deficiência nas disciplinas 
finais, a realização de estágios, a alegada falta de tempo e, em alguns casos, o 
despreparo do orientador apresentam o requisito da monografia como um obstáculo 
quase instransponível e extremamente sacrificante para a conclusão do curso. 
Estes mesmos alunos encontrariam outra sorte acaso seus cursos 
jurídicos apoiassem de forma maciça a introdução do maior número possível de 
graduandos em projetos de pesquisa científica. Alguns cursos jurídicos de Instituições 
públicas já vem realizando esta missão universitária, unindo assim o ensino e a 
pesquisa. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq 
 
13 FALCÃO, Joaquim. Os Advogados: ensino jurídico e mercado de trabalho. Recife: Fundação Joaquim 
Nabuco/Editora Massananga, 1984, p. 119. 
 9
têm, inclusive, distribuído bolsas de iniciação científica para fomentar a pesquisa nas 
graduações, além de diversos outros prêmios. Algumas Instituições, de forma 
independente, também tem realizado concursos para seleção de alunos para receberem 
bolsas de pesquisa, incentivando assim a produção científica dos acadêmicos. 
Concebemos que há uma grande distinção entre os graduandos que 
participam e os que não participam de grupos de iniciação científica. Em sala de aula os 
acadêmicos que atuam em projetos de pesquisa científica apresentam maior dinamismo 
e desenvoltura para os debates suscitados pelos professores; contam com uma 
capacidade de dissertação com argumentos mais sólidos; passam a apresentar um 
direcionamento mais claro quanto aos objetivos após o término do curso; desenvolvem 
técnicas de estudo que lhe rendem mais êxitos em provas, seminários e trabalhos 
acadêmicos; passam a contar com maior segurança e desenvoltura em seminários e 
apresentações orais em encontros científicos; já começam a preocupar-se com o 
currículo acadêmico, etc. 
As conseqüências positivas não se restringem tão-somente às 
muralhas da Academia. Muitos dos bacharéis em Direito que participaram com 
dedicação em projetos de iniciação científica alcançam a imediata aprovação no Exame 
de Ordem, sem contar com a necessidade de estudos prévios e de realização de 
cursinhos preparatórios para as provas objetiva e prática da Ordem. Outros tantos, além 
da tranqüila e imediata habilitação aos quadros da Ordem, ainda passam a contar com 
convites para ingressarem em escritórios de advocacia de docentes ou por 
recomendação destes, dado o destacado desempenho obtido na graduação. 
Uma outra seleta gama de bacharéis ingressam com facilidade nos 
cursos de pós-graduação “lato sensu”, visto que os referidos cursos primam pelos 
melhores currículos acadêmicos quando do processo seletivo. Ademais, na prática 
forense, os bacharéis que participaram de projetos de pesquisa encontram com maior 
rapidez as soluções viáveis aos casos que lhe são postos para apreciação e solução. 
Em síntese, quanto antes o graduando ingressar em grupos de 
iniciação científica, ainda que conte com sensíveis deficiências na absorção das 
disciplinas, maiores serão as probabilidades de obter melhores êxitos no correr do curso 
jurídico, visto que a pesquisa científica conduz a leituras, desperta para a reflexão e 
visão crítica, facilita a capacidade de organização e seleção de materiais e de tempo de 
estudo, dentre inúmeras outras vantagens. Todavia, ainda assim será a persistência que 
fará o diferencial para que o acadêmico atinja os êxitos esperados. 
Outrossim, é relevante destacar que ocorre o inverso com os 
acadêmicos que preterem as possibilidades de dedicação aos estudos e à pesquisa 
científica. Segundo Marcelo Di Rezende Bernardes: 
[...] uma vistosa parcela dos jovens estudantes de ensino 
superior como um todo, em especial os que cursam Direito, 
encontram-se por demais alienados, totalmente 
descompromissados com o curso que escolheram, nem mesmo 
sabendo com certeza que profissão irão seguir.14 
De fato, percebe-se do contato com os graduandos, que muitos 
entende por desnecessária a participação em pesquisas científicas, eis que a regular ou 
mesmo excelente obtenção de notas nas disciplinas da grade curricular já se fazem 
 
14 BERNARDES, Marcelo Di R. O ensino jurídico sob uma nova ótica. Porto Alegre: Paginas de Direito. 
Disponível em <http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2005/o_ensino_juridico_marcelo_di_rezende.htm>.Acesso em 27 mai. 2005. 
http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2005/o_ensino_juridico_marcelo_di_rezende.htm
 10
suficientes para o enfrentamento do mercado de trabalho. E somado a tais alegações 
outras tantas passam a ser apontadas como as ilações de que a pesquisa científica toma 
muito do tempo disponível dos graduandos; que não há imediata importância em 
participar de grupos de iniciação científica se já se debruçam sobre os clássicos cursos e 
manuais didáticos apresentados pelos docentes; que a participação em projetos de 
pesquisa exige um esforço “extra” pelo que somente com a contrapartida de uma bolsa 
de iniciação científica seria vantajoso um estudo além dos indispensáveis na graduação; 
que o mercado não observa o currículo do bacharel mas sim, e apenas, a sua capacidade 
prática momentânea; etc. 
No entanto, é um ledo engano sustentar quaisquer das hipóteses 
levantas para a “fuga” da prática de pesquisa científica. Primeiro que as notas não 
representam a real capacidade e a efetiva absorção da matéria e do conhecimento em 
questão, pois além de ser passível de mecanismos de burla (como as famigeradas 
“colas”), ainda podem representar apenas uma momentânea capacidade mnemônica do 
graduando, e não necessariamente a sua compreensão e reflexão acerca do 
conhecimento sobre o qual obteve a radiante nota. Segundo que não há perda de tempo 
na realização de pesquisas, mas sempre um ganho de conhecimento o que representa 
redução gradativa de tempo em futuras atividades, uma vez que através de dedicada 
pesquisa científica o acadêmico alcança uma gama de técnicas e metodologias que lhe 
proporcionarão uma agilidade e, especialmente, uma capacidade reflexiva mais 
aguçada, possibilitando resultados com melhor qualidade em menor tempo, como por 
exemplo, os trabalhos e seminários em sala de aula. 
É salutar enfatizar ainda, que as clássicas obras recomendadas pelos 
docentes em sala de aula representam tão-somente um sumário de estudo, muitas vezes 
superficial. Estudos mais aprofundados só são obtidos através de constantes leituras de 
obras periféricas aos manuais e cursos comumente apresentados. Exemplificando: ao se 
estudar a disciplina de Direito Constitucional as obras referenciais sintetizam-se nos 
cursos dos Professores Paulo Bonavides, José Afonso da Silva, Manoel Gonçalves 
Ferreira Filho, Celso Bastos, dentre outros, que apesar de excelentes obras, salvo 
exceções, não se detêm sobre questões de maiores reflexões. Assim, é imprescindível a 
análise do direito constitucional sem, por exemplo, ater-se às leituras das obras de 
Konrad Hesse e Ferdinand Lassalle, obras que invariavelmente só são analisadas em 
estudos suplementares ou em grupos de iniciação científica. 
A pesquisa científica também não pode ser vislumbrada como uma 
troca de recompensas, ou seja, o graduando não pode pretender participar de projetos de 
pesquisa tão-somente porque há a possibilidade de obtenção de uma ínfima bolsa de 
iniciação científica, ou que obterá alguma vantagem com o orientador que é seu 
professor em alguma disciplina do curso. A participação deve dar-se, em primeiro lugar, 
pela realização e crescimento pessoal e pelas inúmeras vantagens que a simples 
dedicação à iniciação científica oportuniza às capacidades intelectuais do acadêmico. 
É de se notar que o mercado de trabalho para o profissional da área 
jurídica está a cada dia mais enxuto face a proliferação dos cursos jurídicos diante da 
incompatível demanda. Significa que a todo ano centenas, milhares de novos bacharéis 
em Direito colam grau, todos em aparente igualdade de condições. Neste escólio, é mais 
uma vez a participação em pesquisas científicas que possibilitará a imediata 
diferenciação entre um e outro bacharel, seja pelo seu currículo, com a apresentação de 
artigos doutrinários publicados em anais, jornais, revistas... seja pela demonstração da 
capacidade intelectual que o bacharel adquiriu com o correr do tempo, através das 
 11
atividades de pesquisa, e que ora podem representar estar ele no grupo dos bacharéis 
aprovados no Exame de Ordem e já empregado, ou no grupo do ‘mais um bacharel 
fazendo cursinho preparatório para a Ordem’. 
Destarte, pode-se concluir que não há erros, perda de tempo ou 
desvantagens em ingressar com dedicação em projetos de iniciação científica, sendo que 
se trata de um dever institucional dos cursos jurídicos ofertarem projetos de pesquisa em 
diversas área de estudo da seara jurídica, inclusive com a concessão de algumas bolsas 
como incentivo aos graduandos. Representa, pois, um estudo de risco passar por um 
curso de Direito sem realizar atividades de pesquisa científica, vez que as desvantagens 
tendem a progredir. 
 
4. A AUTODIDAXIA E A CODIDAXIA NA PESQUISA CIENTÍFICA 
JURÍDICA 
Da exposição supra constata-se que os cursos jurídicos têm obrigação, 
até mesmo em decorrência da exegese da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 
jungir ensino, pesquisa e extensão em um só momento na formação jurídica, 
possibilitando aos acadêmicos uma educação jurídica completa e de qualidade. 
Todavia, a realidade das instituições demonstram que o modelo 
educacional adotado não ultrapassa o mero sistema bancário, ensejando a ausência de 
atividades de pesquisa científica em centenas de Faculdades de Direito. O professor e 
jusfilósofo Tércio Sampaio Ferraz Júnior, no sentido acima já lecionou que: 
É preciso reconhecer que, nos dias atuais, quando se fala em 
Ciência do Direito, no sentido do estudo que se processa nas 
Faculdades de Direito, há uma tendência em identificá-la com 
um tipo de produção técnica, destinada apenas a atender às 
necessidades profissionais (o juiz, o advogado, o promotor) no 
desempenho imediato de suas funções. Na verdade, nos últimos 
cem anos, o jurista teórico, pela sua formação universitária, foi 
sendo conduzido a esse tipo de especialização fechada e 
formalista.15 
Este modelo, de fato, representa a má qualidade apregoada pela OAB 
Nacional e suas Seccionais. Destaque-se, entretanto, que algumas Instituições 
apresentam atividades de pesquisa jurídica, porém, em quantitativo aquém da demanda 
e até do interesse de seus alunos. Este cenário reforça a idéia de que somente com 
perseverança é que cada graduando poderá atingir as metas almejadas quando do 
ingresso no curso jurídico. Desta forma, a ausência de processos pedagógicos, de 
condições estruturais e de incentivos de modo geral não podem aprisionar o acadêmico 
à apatia na persecução de atividades de pesquisa. 
Neste sentido, a objetividade de seus sonhos e o companheirismo 
acadêmico tornam-se alicerces primordiais para a supressão das deficiências da 
Instituição motivando o acadêmico a uma busca pessoal de auto-aprendizagem. 
A pesquisa científica, mesmo quando incentivada pelas 
Universidades, exige de cada acadêmico um autodidatismo nato. É, pois, fundamental a 
presença de um processo mental e prático de autodidaxia em que o acadêmico, mais do 
que precisa, deseja realizar uma auto-aprendizagem, isto é, não espera receber tudo 
pronto e acabado, mas vai a busca de respostas às suas indagações, de questões que lhe 
 
15 FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. 2. ed., 
São Paulo: Atlas, 1994, p. 49. 
 12
parecem passíveis de solução, de problemas cotidianos de seu ambiente acadêmico e 
profissional. 
A limitação de quem recorre sem orientação, sem incentivo, sem um 
norte delineado e sem a bagagem mínima de técnicas de pesquisa representará razoável 
barreira, mas todas transponíveis àqueles perseverantes em seus objetivos. Um pouco 
diverso ocorre de quem está incluso em grupos de iniciação científica, onde contam com 
um orientador capacitado a colocar os alunos nos trilhos corretos da pesquisa, posto que 
o autodidatismo representa nesta esfera uma exigência e um sinal de aproveitamento e 
enriquecimento do graduando. A autodidaxia, portanto, persegue a todos os acadêmicosque não se contentarão em representar apenas mais um número dentre os milhares de 
bacharéis “despejados” no mercado. 
E em que consiste o autodidatismo? Este processo de auto-
aprendizagem traduz-se na inquietação pessoal do acadêmico em, diante de 
problematizações teóricas e práticas postas diante de si, diligenciar pesquisas no sentido 
de alcançar as hipóteses e concretas soluções às contendas antes abstratas e insolúveis. 
E em um curso jurídico as indagações é (ou deve ser) uma constante que suscita 
inúmeras reflexões, sendo que algumas destas encontram respostas imediatas de um 
professor, outras através dos próprios manuais e cursos clássicos. No entanto, um 
grande número de questionamentos, ou de aprofundamento das hipóteses já delineadas 
pelos livros clássicos e pelos docentes, exigem do acadêmico mais aguçado a 
perscrutação bibliográfica específica sob a temática reflexiva, não se limitando à 
superficialidade, mas verticalizando na busca do conhecimento. Este é um procedimento 
que deve perseguir o graduando em Direito se deseja, antes de obter um diploma, 
sagrar-se um profissional de qualidade. 
A autodidaxia tem sua relevância em razão de, não raras vezes, um 
professor ministrar aulas para turmas com mais de 60 alunos, o que impossibilita o 
debate, a escuta e reflexão do aluno, assim como a própria transmissão do saber de 
forma minimamente condizente por parte do docente. Significa dizer que os acadêmicos 
não contam com algo além da aula expositiva e dos manuais de sala de aula. Impõe-se, 
assim, a busca incessante de um aprofundamento mais substancial por parte do 
graduando na busca do seu próprio saber. 
Em muitos casos, a busca individual, autodidata deste conhecimento, 
apresenta-se inatingível em razão das deficiências pessoais de cada aluno, assim como 
da ausência de outros posicionamentos acerca de uma mesma reflexão, sem mencionar 
no desconhecimento de metodologias de pesquisa. Neste diapasão, e em especial aos 
graduandos, é de todo salutar para a sua formação jurídica que atue em sistema de 
cooperação, que promova uma codidaxia para melhor compreensão do estudo e da 
intensidade de suas pesquisas. A codidaxia que destacamos consiste num “processo de 
enseñanza mutua entre los colegas; generalmente, se se suscita a partir de la discusión 
de temas comunes,16 neste sistema de mútua cooperação há um significativo resultado 
positivo para a solidificação da construção do saber jurídico. 
É sabido que, em determinados casos, um aluno que tenha a efetiva 
compreensão de específico assunto pode transmitir com maior êxito o que absorveu da 
aula ou leitura de um texto, ainda que ambos alunos tenha o melhor professor do curso 
 
16 Cf. HUERTA, Antonio Alanís. Lineamentos básicos para el diseño y desarrollo de programas de 
formación permanente de professionales. Revista Digital de Educación Y Novas Tecnologias. Ano IV, n.º 
24. Disponível em <http://www.contesto-educativo.com.ar/2002/4/nota-08.htm>. Acesso em 20 jun. 
2005. 
http://www.contesto-educativo.com.ar/2002/4/nota-08.htm
 13
sobre aquele assunto. Trata-se de uma didática da simplicidade, onde se rompe a esfera 
do polimento existente entre docente-aluno. Quando dois colegas sentam para estudar 
determinado assunto, onde um destes ‘domina’ o assunto e o outro conta com 
deficiências, há uma interação subjetiva muito maior que a relação entre o professor e 
este aluno com potencial deficiência de aprendizagem. Rompem-se a timidez, a 
vergonha de errar, o medo de expor seus pensamentos, etc. 
A educação jurídica imprescinde deste processo de codidaxia, em 
especial quando nos reportamos às atividades de pesquisa científica, eis que neste 
momento o autodidatismo de um possibilita atenuar as deficiências do outro. Em grupos 
de iniciação científica, por exemplo, é natural a liderança de um dos alunos da equipe, 
justamente em razão de possuir maiores virtudes autodidatas e manejo com 
metodologias científicas. Este líder pode representar uma extensão das atividades do 
orientador se bem aproveitado e instruído, eis que conta com a mesma linguagem e 
“status” acadêmico de seus colegas, o que favorece o enriquecimento do estudo, da 
qualidade das pesquisas desenvolvidas, do entrosamento da equipe e do futuro sucesso 
destes acadêmicos quando da conclusão do curso jurídico. 
As Instituições jurídicas, portanto, devem primar pela oferta de 
projetos de pesquisa, incentivando os docentes a apresentarem projetos segundo as 
linhas de pesquisa de interesse, fomentando que o estudo extra-sala possibilite a 
introdução de novas reflexões no curso das disciplinas, favorecendo, assim, não apenas 
aos autodidatas, mas também aos demais colegas de sala que ainda não souberam ou se 
interessaram em avançar além do sumário de estudos que representam as aulas 
expositivas. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Objetivamos com as singelas reflexões apontar para a realidade da 
educação jurídica brasileira, tendo em vista a superfície de um dos seus aspectos: a 
pesquisa científica. Sob o prisma dos deveres institucionais podemos constatar que 
muito há de ser realizado para mudar o cenário nacional hodierno. A proliferação de 
cursos jurídicos tem demonstrado que a quantidade, além de estar em muito distanciada 
apresenta-se com fator de esmagamento da qualidade do próprio ensino jurídico. Os 
péssimos desempenhos dos bacharéis nos Exames de Ordem bem demonstram esta 
constatação. 
As deficiências das Instituições são inúmeras, permeiam do processo 
pedagógico e deficiência inata dos graduandos à ausência de recursos físicos, como 
bibliotecas atualizadas e à omissão na iniciação científica. Uma das soluções está 
contida na condução maciça de atividades de pesquisa científica na educação jurídica. 
Conquanto tal solução represente um dever institucional em razão da necessidade de 
ofertar aos acadêmicos o ensino somando com a pesquisa e a extensão, objetiva-se que a 
pesquisa científica jurídica ainda se faz majoritariamente ausente nos cursos jurídicos. 
Neste escólio, arquitetamos que a pesquisa científica pode representar 
um dos fundamentos de essencial diferenciação entre Instituições de melhor prestígio e 
de outras inexpressivas, vez que o investimento em pesquisa científica na graduação 
produz resultados práticos dentro e fora do gradeado da Academia. Uma experiência 
prática que qualquer Instituição poderiam ensaiar seria a inclusão de alguns alunos 
desde o seu primeiro ano de faculdade, em atividades de pesquisa, até a conclusão do 
curso, e verificar os índices de aprovações no Exame de Ordem dos alunos que 
participaram e os resultados dos alunos que não participaram em atividades de iniciação 
 14
científica. A diferença de aprovados entre os que participaram, adianta-se, será 
sobejamente maior que a daqueles que não participaram. 
Os custos para a implantação de projetos de pesquisa no seio da 
graduação são irrisórios, dado que as atividades dependem quase que exclusivamente do 
intelecto dos acadêmicos e de seus orientadores, não ensejando em construção e 
manutenção de laboratórios. Bastando uma biblioteca atualizada para a viabilização das 
pesquisas. Incentivo maior seria a oferta de algumas bolsas de iniciação científica e a 
imprescindível edição de uma Revista Jurídica semestral, onde os alunos além de 
competirem entre si para melhores resultados e assim alcançarem uma bolsa, ainda 
contariam com a disponibilidade de local para divulgação das pesquisas desenvolvidas. 
Também a presença de Encontros Científicos promovidos pelas Instituições 
apresentam-se como medidas de incentivo à pesquisa e produção científica. 
As Instituições, com a concorrência que se afigura ultimamente diante 
do excesso de vagas para a demanda de clientela, não conseguirá a captação de novos 
consumidores acaso não ofereçam algo além de um prédio limpo, iluminado e luxuoso. 
As Instituições passarão, a continuar com o atual modelo de oferta educacional, a contar 
coma perda de clientela para os cursos que apresentem maiores aprovações no Exame 
de Ordem e demais concursos, e estes resultados só serão alcançados se observado o 
indispensável investimento na pesquisa científica na graduação jurídica, motivando 
professores e alunos em projetos de iniciação científica. 
Conclui-se, portanto, que as Instituições, assim como também os 
alunos e os professores, precisam compreender que sem a presença da pesquisa 
científica na graduação a educação jurídica estará fadada ao declínio que ora 
constatamos, com a propagação desenfreada de cursos jurídicos que pouco exigem de 
seus alunos, num ciclo vicioso onde estes fingem aprender e a Instituição finge ensinar, 
cujo resultado geral é a real e sacrificante inclusão no bolo do “mais um”, pois sem 
pesquisa não há ensino de qualidade, e sem ambos não há educação jurídica que sirva às 
necessidades da sociedade, razão do gradiente contingente de bacharéis que não 
alcançam a aprovação nos Exames de Ordem e pouco conseguem fazer, após cinco anos 
de estudo (ou fingimento deste), com um já reles diploma de bacharelado em Direito. 
Destarte, a pesquisa científica representa para a educação jurídica uma questão de 
racionalidade aos que almejam sucesso profissional ou Institucional. 
 
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Londrina, n.º 48, p. 3-7, abr. 2003. 
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2000. 
http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2005/
http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=4331
http://www.oab.org.br/noticia.asp?id=4510
 15
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