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Caderno de Questões Português Questão 400: CESPE Escr (PC BA)/PC BA/2013 Assunto: Linguagem Texto para o item O respeito às diferentes manifestações culturais é fundamental, ainda mais em um país como o Brasil, que apresenta tradições e costumes muito variados em todo o seu território. Essa diversidade é valorizada e preservada por ações da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID), criada em 2003 e ligada ao Ministério da Cultura. Cidadãos de áreas rurais que estejam ligados a atividades culturais e estudantes universitários de todas as regiões do Brasil, por exemplo, são beneficiados por um dos projetos da SID: as Redes Culturais. Essas redes abrangem associações e grupos culturais para divulgar e preservar suas manifestações de cunho artístico. O projeto é guiado por parcerias entre órgãos representativos do Estado brasileiro e as entidades culturais. A Rede Cultural da Terra realiza oficinas de capacitação, cultura digital e atividades ligadas às artes plásticas, cênicas e visuais, à literatura, à música e ao artesanato. Além disso, mapeia a memória cultural dos trabalhadores do campo. A Rede Cultural dos Estudantes promove eventos e mostras culturais e artísticas e apoia a criação de Centros Universitários de Cultura e Arte. Culturas populares e indígenas são outro foco de atenção das políticas de diversidade, havendo editais públicos de premiação de atividades realizadas ou em andamento, o que democratiza o acesso a recursos públicos. O papel da cultura na humanização do tratamento psiquiátrico no Brasil é discutido em seminários da SID. Além disso, iniciativas artísticas inovadoras nesse segmento são premiadas com recursos do Edital Loucos pela Diversidade. Tais ações contribuem para a inclusão e socializam o direito à criação e à produção cultural. A participação de toda a sociedade civil na discussão de qualquer política cultural se dá em reuniões da SID com grupos de trabalho e em seminários, oficinas e fóruns, nos quais são apresentadas as demandas da população. Com base nesses encontros é que podem ser planejadas e desenvolvidas ações que permitam o acesso dos cidadãos à cultura e a promoção de suas manifestações, independentemente de cor, sexo, idade, etnia e orientação sexual. Identidade e diversidade. Internet: <www.brasil.gov.br/sobre/cultura/> (com adaptações). Considerando as ideias e aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir. A retirada da expressão de realce “é que” e a colocação de vírgula após o segmento “Com base nesses encontros” não acarretariam prejuízo gramatical ao período. Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 401: IBFC Papis (PC RJ)/PC RJ/2014 Assunto: Linguagem Texto I Notícia de Jornal (Fernando Sabino) Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome. Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome. O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão. Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome. E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louvese a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome. E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome. (Disponível em http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847/: Acesso em 10/09/14) Texto II O Bicho (Manuel Bandeira) Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. (Disponível em: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/bicho.htm, acesso em 10/09/2014) Tanto na crônica (Texto I) quanto no poema (Texto II) os enunciadores não se limitam a apresentar o fato; eles também buscam causar comoção em seus leitores. A função de linguagem que melhor retrata esse objetivo e os trechos que podem representar esse aspecto são, respectivamente: a) Função metalinguística; “Morreu de Fome” (texto I) e “ Meu Deus” (texto II). b) Função fática; “Leio no jornal” (texto I ) e “Vi ontem um bicho” (texto II). c) Função poética; “Leio no jornal” (texto I ) e “Vi ontem um bicho” (texto II). d) Função conativa, “Morreu de Fome” (texto I) e “ Meu Deus” (texto II). e) Função referencial; “Um homem de cor branca” (texto I); Na imundície do pátio”” (texto II) Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 402: IBFC Papis (PC RJ)/PC RJ/2014 Assunto: Linguagem Texto III Corrida contra o ebola Já faz seis meses que o atual surto de ebola na África Ocidental despertou a atenção da comunidade internacional, mas nada sugere que as medidas até agora adotadas para refrear o avanço da doença tenham sido eficazes. Ao contrário, quase metade das cerca de 4.000 contaminações registradas neste ano ocorreram nas últimas três semanas, e as mais de 2.000 mortes atestam a força da enfermidade. A escalada levou o diretor do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, Tom Frieden, a afirmar que a epidemia está fora de controle. O vírus encontrou ambiente propício para se propagar. De um lado, as condições sanitárias e econômicas dos países afetados são as piores possíveis. De outro, a Organização Mundial da Saúde foi incapaz de mobilizar com celeridade um contingente expressivo de profissionais para atuar nessas localidades afetadas. Verdade que uma parcela das debilidades da OMS se explica por problemas financeiros. Só 20% dos recursos da entidade vêm de contribuições compulsórias dos países membros – o restante é formado por doações voluntárias. A crise econômica mundial se fez sentir também nessa área, e a organização perdeu quase US$ 1 bilhão de seu orçamento bianual, hoje de quase US$ 4 bilhões. Para comparação, o CDC dos EUA contou, somente no ano de 2013, com cerca de US$ 6 bilhões. Os cortes obrigaram a OMS a fazer escolhas difíceis. A agência passou a dar mais ênfase à luta contra enfermidades globais crônicas, como doenças coronárias e diabetes. O departamento de respostas a epidemias e pandemias foi dissolvido e integrado a outros. Muitos profissionais experimentados deixaram seus cargos. Pesacontra o órgão da ONU, de todo modo, a demora para reconhecer a gravidade da situação. Seus esforços iniciais foram limitados e mal liderados. O surto agora atingiu proporções tais que já não é mais possível enfrentálo de Genebra, cidade suíça sede da OMS. Tornouse crucial estabelecer um comando central na África Ocidental, com representantes dos países afetados. Esperase também maior comprometimento das potências mundiais, sobretudo Estados Unidos, Inglaterra e França, que possuem antigos laços com Libéria, Serra Leoa e Guiné, respectivamente. A comunidade internacional tem diante de si um desafio enorme, mas é ainda maior a necessidade de agir com rapidez. Nessa batalha global contra o ebola, todo tempo perdido conta a favor da doença. (Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/09/1512104 editorialcorridacontraoebola.shtml: Acesso em: 08/09/2014) A função da linguagem predominante no texto “Corrida contra o ebola” é a: a) metalinguística b) emotiva c) fática d) referencial e) apelativa Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 403: IBFC Ag PJ (PC SE)/PC SE/2014 Assunto: Linguagem Ética e moral: que significam? (Leonardo Boff) Face à crise generalizada de ética e de moral, importa resgatar o sentido originário das palavras. Ética e moral é a mesma coisa? É e não é. 1. O significado de ética Ética é um conjunto de valores e princípios, de inspirações e indicações que valem para todos, pois estão ancorados na nossa própria humanidade. Que significa agir humanamente? O primeiro princípio do agir humano, chamado por isso de regra de ouro, é esse: “não faças ao outro o que não queres que te façam a ti". Ou positivamente: “faça ao outro o que queres que te façam a ti". Esse princípio áureo pode ser traduzido também pela expressão de Jesus, testemunhada em todas as religiões: “ama o próximo como a ti mesmo". É o princípio do amor universal e incondicional. Quem não quer ser amado? Quem não quer amar? Alguém quer ser odiado ou ser tratado com fria indiferença? Ninguém. Outro princípio da humanidade essencial, é o cuidado. Toda vida precisa de cuidado. Um recémnascido deixado à sua própria sorte morre poucas horas após. O cuidado é tão essencial que, se bem observarmos, tudo o que fazemos vem acompanhado de cuidado ou falta de cuidado. Se fazemos com cuidado, tudo pode dar certo e dura mais. Tudo o que amamos também cuidamos. A ética do cuidado hoje é fundamental: se não cuidarmos do planeta Terra, ele poderá sofrer um colapso e destruir as condições que permitem o projeto planetário humano. A própria política é o cuidado para com o bem do povo. Outro princípio reside da solidariedade universal. Se nossos pais não fossem solidários conosco quando nascemos e nos tivessem rejeitado, não estaríamos aqui para falar de tudo isso. Se na sociedade não respeitamos as normas coletivas em solidariedade para com todos, a vida seria impossível. A solidariedade para existir de fato precisa sempre ser solidariedade a partir de baixo, dos últimos e dos que mais sofrem. A solidariedade se manifesta então como compaixão. Compaixão quer dizer ter a mesma paixão que o outro, alegrar se com o outro, sofrer com o outro para que nunca se sinta só em seu sofrimento, construir junto algo bom para todos. Pertence também à humanidade essencial a capacidade e a vontade de perdoar. Todos somos falíveis, podemos errar involuntariamente e prejudicar o outro conscientemente. Como gostaríamos de ser perdoados, devemos também nós perdoar. Perdoar significa não deixar que o erro e o ódio tenham a última palavra. Perdoar é conceder uma chance ao outro para que possa refazer as relações boas. Tais princípios e inspirações formam a ética. Sempre que surge o outro diante de mim, ai surge o imperativo ético de tratálo humanamente. Sem tais valores a vida se torna impossível. Por isso, ethos, donde vem ética, significava para os gregos, a casa. Na casa cada coisa tem seu lugar e os que nela habitam devem ordenar seus comportamentos para que todos possam se sentir bem. Hoje a casa não é apenas a casa individual de cada pessoa, é também a cidade, o estado e o planeta Terra como casa comum. Eis, pois, o que é a ética. Vejamos agora o que é moral. 2. O significado de moral A forma concreta como a ética é vivida, depende de cada cultura que é sempre diferente da outra. Um indígena, um chinês, um africano vivem do seu jeito o amor, o cuidado, a solidariedade e o perdão. Esse jeito diferente chamamos de moral. Ética existe uma só para todos. Moral existem muitas, consoante as maneiras diferentes como os seres humanos organizam a vida. Vamos dar um exemplo. Importante é ter uma casa(ética). O estilo e a maneira de construíla pode variar (moral). Pode ser simples, rústica, moderna, colonial, gótica, contanto que seja casa habitável. Assim é com a ética e a moral. Hoje devemos construir juntos a Casa Comum para que nela todos possam caber inclusive a natureza. Fazse mister uma ética comum, um consenso mínimo no qual todos se possam encontrar. E ao mesmo tempo, respeitar as maneiras diferentes como os povos organizam a ética, dando origem às várias morais, vale dizer, os vários modos de organizar a família, de cuidar das pessoas e da natureza, de estabelecer os laços de solidariedade entre todos, os estilos de manifestar o perdão. A ética e as morais devem servir à vida, à convivência humana e à preservação da Casa Comum, a única que temos que é o Planeta Terra. (Disponível em: http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/etic...Acesso em:07/10/2014) Nota: Para resolver a questão, considere o primeiro parágrafo do texto como o trecho “Ética é um conjunto...”. Para validar seu argumento no segundo parágrafo do texto, o autor faz uso de todos os mecanismos listados abaixo, EXCETO: a) Reescritura de um enunciado. b) Referência a um discurso já consagrado. c) O emprego de um experiência pessoal. d) Perguntas retóricas, voltadas para a reflexão do leitor. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 404: FUNCAB GPTI (SINESP)/SINESP/2015 Assunto: Linguagem Texto para responder à questão. Chove chuva Água, água e mais água. É tudo o que eu tenho a oferecer. Escrever o maior número de vezes a palavra mágica, na certeza de que águas passadas não movem moinhos, mas podem, de tanto serem sugeridas, sensibilizar os céus e fazer com que elas desabem sobre nós. E que depois se faça o arcoíris. Que depois apareça, toda de branco, toda molhada e despenteada, que maravilha!, a coisa linda que é o meu amor. Eu gostaria de repetir a dança da chuva, a coreografia provocativa dos cheyennes, tantas vezes vista nos filmes. Faltame o requebro. Temo também que o ridículo da cena faça feitiço ir água abaixo. Eu gostaria de subir aos ares, como Santos Dumont tardio, bombardear as nuvens com cloreto de sódio. Se não desse certo, pelo menos chegaria perto do ouvido de São Pedro e, com piadas do tipo "afogar o ganso" e "molhar o biscoito", faria com que o santo relaxasse e abrisse as torneiras. De nada disso, no entanto, sou capaz. Fico aqui, no limite do meu oceano, jacaré no seco anda, escrevendo e evocando as águas que passaram pela ponte da memória. Lembro, vizinha à minha casa, na Vila da Penha dos rios transbordantes, a compositora Zilda do Zé, de " As águas vão rolar". A sua força ancestral, grande sambista, eu evoco agora, mesmo sabendo que a letra da música se refere à água que passarinho não bebe. Todas as águas devem ser provocadas nesta imensa onda de pensamento positivo, e eu agora molho reverente os pés do balcão com o primeiro gole para o santo. Finjo se pau d' água e sigo em frente. Nem aí para os incréus, nem aí para os que zombam da fé, esses insensatos. A todos peço que leiam na minha camisa e não desistam: " Água mole em pedra dura tanto bate até que fura". [...] O sonho acabouhá tempo, e lá se foi John Lennon morto. Agora chegou a nostalgia da água, de torcer pelo volume morto e sentir saudade de ver um arcoíris emoldurado o Pão de Açúcar de pois da pancada de verão. Como explicar a uma explicar a uma criança que sol e chuva é casamento de viúva? Como explicar a deliciosa aflição de dormir se perguntando "será que vai dar praia?", se agora todo dia é dia de sol? A propósito, eu li o grande poeta sentado no banco da praia e sei que a sede é infinita, que na nossa secura de amar é preciso buscar a água implícita, o beijo tácito mas acho que é poesia demais para uma hora dessas. Urge, como queria Benjor, que chova chuva. Canivetes. Gatos e cachorros. Se Joseph Conrad traduziu a guerra com " o horror, o horror, o horror", chegou a vez de resumir o nosso tempo com " a seca, a seca, a seca" e bater os tambores na direção contrária. Saúdo para que se faça nuvem, e a todos cubra com seu divino manto líquido, a saudosa Maria, a santa carioca que a incomparável Marlene viu subindo o morro com a lata d´ água na cabeça. 2015 promete ser terrível, mas há quem ache bom negócio refletir sobre os valores básicos da sobrevivência, que o homem está fazendo com o meio ambiente. Vai ser o ano de valorizar como bem de consumo insuperável não o chanel nº 5, mas o cheiro da terra molhada depois do toró de fim de tarde. Que assim seja. Que se cumpra a felicidade de ouvir Tom Jobim ao piano, tecla, gota a gota, celebrando a cena real de, lá fora, estar chovendo na roseira. Ah, quem me dera ligar o rádio e escutar o formidável português ruim da edição extraordinária. Aumentar o som para deixar o locutor gritar os clichês boiando molhadinhos pelo tesão da notícia que chove a cântaros em todos os quadrantes da Cidade Maravilhosa. (SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Chove chuva. In: O Globo, 26/01/2015.) No trecho "Todas as águas devem ser provocadas nesta imensa onda de pensamento positivo...", verificase: a) linguajar muito informal, o que motiva a ambiguidade presente, em desacordo com o que se deve praticar em um texto opinativo como esse. b) ambiguidade, em desacordo com o que deve ocorrer em um artigo de opinião, comprometendo, assim, a clareza do trecho. c) um desvio muito grande no curso argumentativo e semântico do texto, comprometendo a sequência dissertativoargumentativa. d) linguagem muito formal e coerente ao gênero textual em questão, a dissertação argumentativa. e) uso intencionalmente ambíguo da linguagem, coerentemente ao campo semântico central do texto e às possibilidades do gênero textual crônica. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 405: FGV AP (SEJAP MA)/SEJAP/2013 Assunto: Figuras de Linguagem Leia o texto a seguir: Tendências para as cadeias no futuro? Na Malásia, uma equipe de designers e arquitetos elaborou um conceito de centro de detenção bastante diferente. O projeto consiste em um complexo prisional suspenso no ar, o que em teoria dificultaria as tentativas de fuga, devido à altura potencialmente fatal de uma queda e à visibilidade que o fugitivo teria aos olhos dos pedestres na parte de baixo. A cadeia ainda teria espaços para manter um campo de agricultura, onde os detentos poderiam trabalhar para se autossustentar e até distribuir o excesso de alimento produzido para a sociedade. Fábricas e centros de reciclagem também serviriam a esse propósito. Visando reduzir os custos necessários para manter dezenas de agentes carcerários, o teórico social Jeremy Betham projetou uma instituição que manteria todas as celas em um local circular, de forma que fiquem expostas simultaneamente. Dessa forma, apenas alguns poucos guardas posicionados na torre no centro do prédio já conseguiriam manter a vigilância sobre todos os detentos. Embora um presídio nesse estilo tenha sido construído em Cuba, ele nunca chegou a entrar em funcionamento. Outra solução criativa foi pensada e realizada na Austrália, onde um centro de detenção foi elaborado a partir de containers de transporte de mercadorias em navios modificados para servir como celas temporárias. Outra prisão na Nova Zelândia também passou a usar a mesma solução para resolver problemas de superlotação. Entretanto, o conceito tem causado muita polêmica, pois as condições das celas em containers seriam desumanas — o que temos que levar em consideração em se tratando de um país tão quente. “Morar” em uma caixa de metal sob um sol de escaldar não deve ser nada agradável. (Fernando Daquino, 04/11/2012 – Arquitetura) “‘Morar’ em uma caixa de metal sob um sol de escaldar não deve ser nada agradável”. Nesse último período do texto, o vocábulo ‘morar’ aparece entre aspas porque a) recebe um sentido especial, de valor positivo. b) indica uma expressão de autoria alheia. c) mostra um termo empregado em sentido afetivo. d) destaca um termo importante para o sentido do texto. e) apresenta um significado irônico. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 406: VUNESP Med Leg (PC SP)/PC SP/2014 Assunto: Figuras de Linguagem Leia o poema de Cecília Meireles para responder à questão. “Encosteime a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e deime ao teu destino frágil, Fiquei sem poder chorar, quando caí.” Nesse poema, a fim de caracterizar a transitoriedade dos sentimentos, dos afetos, o eu lírico se vale de a) hipérbole, intensificando, por meio de expressões exageradas, o relacionamento amoroso. b) eufemismo, empregando termos como encosteime e depus para amenizar a desilusão amorosa. c) antítese, apresentando expressões de sentido oposto, como Sabendo bem e sem poder chorar, a fim de realçar os sentimentos do eu lírico. d) metáfora, empregando palavras com sentido que não lhes é comum, para mostrar a fragilidade dos sentimentos da pessoa amada. e) pleonasmo, intensificando o sentimento amoroso do ser amado por meio da redundância. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 407: IBFC Per Crim (PC RJ)/PC RJ/Biologia/2013 Assunto: Figuras de Linguagem Texto I Lágrimas e testosterona Ele vivia furioso com a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava demais. Cada vez, porém, que queria repreendêla por uma dessas coisas, ela começava a chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento. Consideravase um cara durão, detestava gente chorona. Por que o pranto da mulher o comovia tanto? E comoviao à distância, inclusive. Muitas vezes ela se trancava no quarto para chorar sozinha, longe dele. E mesmo assim ele se comovia de uma maneira absurda. Foi então que leu sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio masculino. Foi uma verdadeira revelação. Finalmente tinha uma explicação lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíam a testosterona em seu organismo, privandoo da natural agressividade do sexo masculino, transformandoo num cordeirinho, Uma ideia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? Era que o seu irmão mais velho fazia, mas por carência do hormônio. Com ele conseguiu duas ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então chamar a esposa à razão. Decido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele, de repente, caiu no choro, um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava acontecendo? É que eu tenho medo de injeção,ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente. Estava voltando para casa. Para a esposa e sua lágrimas. (Moacyr Scliar) Texto II Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar é golpe baixo. As lágrimas femininas liberam substâncias, descobriram os cientistas, que abaixam na hora do nível de testosterona do homem que estiver por perto deixando o sujeito menos agressivo. Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina, com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões. Por isso, evitaram que os homens pudessem ver as mulheres chorando. Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens. O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido, deixandoos menos machões. (Publicado no caderno Ciência, da Folha de São Paulo, em 7 de janeiro de 2011) Textos disponíveis em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2802201105.htm,;acesso dia 16/07/2013) Ao utilizar a palavra "cordeirinho" em "As lágrimas diminuíam a testosterona em seu organismo, privandoo da natural agressividade do sexo masculino, transformandoo num cordeirinho" (3º parágrafo), o narrador utiliza a linguagem conotativa, por meio de uma: a) metáfora b) metanímia c) antonomásia d) apóstrofe e) ironia Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 408: IBFC Per Crim (PC RJ)/PC RJ/Biologia/2013 Assunto: Figuras de Linguagem Texto I Lágrimas e testosterona Ele vivia furioso com a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava demais. Cada vez, porém, que queria repreendêla por uma dessas coisas, ela começava a chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento. Consideravase um cara durão, detestava gente chorona. Por que o pranto da mulher o comovia tanto? E comoviao à distância, inclusive. Muitas vezes ela se trancava no quarto para chorar sozinha, longe dele. E mesmo assim ele se comovia de uma maneira absurda. Foi então que leu sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio masculino. Foi uma verdadeira revelação. Finalmente tinha uma explicação lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíam a testosterona em seu organismo, privandoo da natural agressividade do sexo masculino, transformandoo num cordeirinho, Uma ideia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? Era que o seu irmão mais velho fazia, mas por carência do hormônio. Com ele conseguiu duas ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então chamar a esposa à razão. Decido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele, de repente, caiu no choro, um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava acontecendo? É que eu tenho medo de injeção, ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente. Estava voltando para casa. Para a esposa e sua lágrimas. (Moacyr Scliar) Texto II Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar é golpe baixo. As lágrimas femininas liberam substâncias, descobriram os cientistas, que abaixam na hora do nível de testosterona do homem que estiver por perto deixando o sujeito menos agressivo. Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina, com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões. Por isso, evitaram que os homens pudessem ver as mulheres chorando. Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens. O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido, deixandoos menos machões. (Publicado no caderno Ciência, da Folha de São Paulo, em 7 de janeiro de 2011) Textos disponíveis em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2802201105.htm,;acesso dia 16/07/2013) O texto II é um fragmento de uma notícia, publicada pela Folha de São Paulo, cujo objetivo é divulgar para a população uma descoberta científica. Sendo assim, de acordo com a pretensa ideia da imparcialidade jornalística, o repórter que a redigiu deveria mantêla isenta de comentários pessoais. Assinale a alternativa que representa uma utilização referencial da linguagem, própria do discurso jornalístico. a) "Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar é golpe baixo" (1º parágrafo) b) "Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina (...)" (2º parágrafo) c) "Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens" (2º parágrafo) d) "O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido, deixandoos menos machões" (2º parágrafo) e) "(...) com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões" (2º parágrafo) Esta questão não possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 409: IBFC Per Crim (PC RJ)/PC RJ/Biologia/2013 Assunto: Figuras de Linguagem Texto O silêncio é um grande tagarela Acredite se quiser. O silêncio tem voz. O silêncio fala. O que é perfeitamente normal no universo humano. Ou você pensa que só ou nosso falar, comunica? O silêncio também comunica. E muito. O silêncio pode dizer muita coisa sobre um líder, uma organização, uma crise, uma relação. Mesmo que a nudez seja uma ação estratégica, não adianta. Logo mais, alguém vai criar uma versão sobre aquele silêncio. Interpretálo e formar uma opinião. As percepções serão múltiplas. As interpretações vão correr soltas. As opiniões formarão novas opiniões e multiplicarão comentários. O silêncio, coitado, que só queria se preservar acabou alimentando uma rede de conversas a seu respeito. Porque não adianta fingir que ninguém viu, que passou despercebido. Não passou. Nada passa despercebido nem o silêncio. A rádio corredor então, é imediata. Na roda do café, no almoço, no happyhour. Todos os empregados vão comentar o que perceberam com aquele silêncio oficial, com o que ficou sem uma resposta. Com o que ficou no ar. Com a falta da comunicação interna. E as redes sociais, com suas vastidões de blogs, chats, comunidades e demais canais vão falar, vão comentar e construir uma imagem a respeito do silêncio. Porque o silêncio, que não se defende porque não emite sua versão oficial perde uma grande oportunidade de esclarecer, de dar volta por cima e mudar percepções, influenciar. Porque se a palavra liberta, conecta, use; o silêncio perde, esconde, confunde, sonega. Afinal, não existem relações humanas sem comunicação. Sem conversa. São as pessoas que dão vida e voz às empresas, aos governos e às organizações. Mesmo dois mudos se comunicam por sinais e gestos. Portanto, o silêncio também fala. Mesmo que não queira dizer nada. Por isso, é preciso conversar. Sabe o quê, quando, como falar. Sabe ouvir. Saber responder. Interagir. Este é um mundo que clama por diálogo. Que demanda transparência. Assim como os mercados, os clientes e os consumidores. Assim como os cidadãos e os eleitores, mais do que nunca! E o silêncio é uma voz ruidosa. nunca foi bom conselheiro. Desde a briga de namorados. Até as suspeitas de escândalos financeiros, fraudes, desastres ambientais, acidentesde trabalho. O silêncio é um canto de sereia. Só parece uma boa solução, por que a voz do silêncio é um grito com enorme poder de eco. E se você não gosta do que está ouvindo, preste atenção no que está emitindo. Pois de qualquer maneira, sempre vai comunicar alguma coisa. Quer queira, quer não. De maneira planejada, sendo previdente. Ou apagando incêndios, com enormes custos para a organização, o valor da marca, a motivação dos empregados e o próprio futuro do negócio. Enfim, o silêncio nem parece, mas é um grande tagarela. (Luiz Antônio Gaulia) Disponível em http://www.aberje.com.br/acervo_colunas_veasp?ID_COLUNA=96&ID_COLUNISTA=27 Acesso em 19/07/2013 Ao fazer referência ao silêncio no texto, o autor confere ao tema um sentindo expressivo em virtude, especialmente, do uso recorrente de uma figura de linguagem conhecida como: a) metonímia b) personificação c) hipérbole d) eufemismo e) gradação Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 410: IBFC Papis (PC RJ)/PC RJ/2014 Assunto: Figuras de Linguagem Texto I Notícia de Jornal (Fernando Sabino) Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome. Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome. O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão. Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome. E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louvese a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome. E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome. (Disponível em http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847/: Acesso em 10/09/14) Em “Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens.” (7º§), podese reconhecer a seguinte figura de linguagem: a) Metonímia b) Paradoxo c) Antítese d) Ironia e) Eufemismo Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 411: IBFC Esc (PC SE)/PC SE/2014 Assunto: Figuras de Linguagem Eficiência militar (Historieta Chinesa) LIHU ANGPÔ, vicerei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial, nem tampouco, nas últimas manobras, tinha demonstrado grandes aptidões guerreiras. Como toda a gente sabe, o vicerei da província de Cantão, na China, tem atribuições quase soberanas. Ele governa a província como reino seu que houvesse herdado de seus pais, tendo unicamente por lei a sua vontade. Convém não esquecer que isto se passou, durante o antigo regime chinês, na vigência do qual, esse vicerei tinha todos os poderes de monarca absoluto, obrigandose unicamente a contribuir com um avultado tributo anual, para o Erário do Filho do Céu, que vivia refestelado em Pequim, na misteriosa cidade imperial, invisível para o grosso do seu povo e cercado por dezenas de mulheres e centenas de concubinas. Bem. Verificado esse estado miserável do seu exército, o vice rei LiHuangPô começou a meditar nos remédios que devia aplicar para levantarlhe o moral e tirar de sua força armada maior rendimento militar. Mandou dobrar a ração de arroz e carne de cachorro, que os soldados venciam. Isto, entretanto, aumentou em muito a despesa feita com a força militar do vicereinado; e, no intuito de fazer face a esse aumento, ele se lembrou, ou alguém lhe lembrou, o simples alvitre de duplicar os impostos que pagavam os pescadores, os fabricantes de porcelana e os carregadores de adubo humano tipo dos mais característicos daquela babilônica cidade de Cantão. Ao fim de alguns meses, ele tratou de verificar os resultados do remédio que havia aplicado nos seus fiéis soldados, a fim de darlhes garbo, entusiasmo e vigor marcial. Determinou que se realizassem manobras gerais, na próxima primavera, por ocasião de florirem as cerejeiras, e elas tivessem lugar na planície de ChuWeiHu o que quer dizer na nossa língua: “planície dos dias felizes”. As suas ordens foram obedecidas e cerca de cinqüenta mil chineses, soldados das três armas, acamparam em Chu WeiHu, debaixo de barracas de seda. Na China, seda é como metim aqui. Comandava em chefe esse portentoso exército, o general FuShiTô que tinha começado a sua carreira militar como puxador de tílburi* em HongKong. Fizerase tão destro nesse mister que o governador inglês o tomara para o seu serviço exclusivo. Este fato deulhe um excepcional prestígio entre os seus patrícios, porque, embora os chineses detestem os estrangeiros, em geral, sobretudo os ingleses, não deixam, entretanto, de ter um respeito temeroso por eles, de sentir o prestígio sobre humano dos “diabos vermelhos”, como os chinas chamam os europeus e os de raça europeia. Deixando a famulagem do governador britânico de Hong Kong,FuShiTô não podia ter outro cargo, na sua própria pátria, senão o de general no exército do vicerei de Cantão. E assim foi ele feito, mostrandose desde logo um inovador, introduzindo melhoramentos na tropa e no material bélico, merecendo por isso ser condecorado, com o dragão imperial de ouro maciço. Foi ele quem substituiu, na força armada cantonesa, os canhões de papelão, pelos do Krupp; e, com isto, ganhou de comissão alguns bilhões de taels* que repartiu com o vicerei. Os franceses do Canet queriam lhe dar um pouco menos, por isso ele julgou mais perfeitos os canhões do Krupp, em comparação com os do Canet. Entendia, a fundo, de artilharia, o exfâmulo do governador de HongKong. O exército de LiHuangPô estava acampado havia um mês, nas “planícies dos dias felizes”, quando ele se resolveu a ir assistirlhe as manobras, antes de passarlhe a revista final. O vicerei, acompanhado do seu séquito, do qual fazia parte o seu exímio cabeleireiro PiNu, lá foi para a linda planície, esperando assistir a manobras de um verdadeiro exército germânico. Antegozava isso como uma vítima sua e, também, como constituindo o penhor de sua eternidade no lugar rendoso de quase rei da rica província de Cantão. Com um forte exército à mão, ninguém se atreveria a demitilo dele. Foi. Assistiu às evoluções com curiosidade e atenção. A seu lado, FuShiPô explicava os temas e os detalhes do respectivo desenvolvimento,com a abundância e o saber de quem havia estudado Arte da Guerra entre os varais de um cabriolet*. O vicerei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirálo do cômodo e rendoso lugar de vicerei de Cantão. Comunicou isto ao general, que lhe respondeu: É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar. Como? perguntou o vicerei. É simples. O uniforme atual muito se parece com o alemão: mudemolo para uma imitação do francês e tudo estará sanado. LiHuangPô pôsse a pensar, recordando a sua estadia em Berlim, as festas que os grandes dignatários da corte de Potsdam lhe fizeram, o acolhimento do Kaiser e, sobretudo, os taels que recebeu de sociedade com o seu general FuShiPô... Seria uma ingratidão; mas... Pensou ainda um pouco; e, por fim, num repente, disse peremptoriamente: Mudemos o uniforme; e já! (Lima Barreto) *tael:unidade monetária e de peso da China; *cabriolet:tipo de carruagem; *tílburi: carro de duas rodas e dois assentos comandados por um animal. *famulagem:grupo de criados Entender um texto não significa apenas saber ler o que está escrito; é preciso perceber as sutilezas daquilo que pode estar apenas sugerido. Sendo assim, evidenciase, por parte do narrador, ao longo do texto, e em especial no trecho abaixo, uma postura: “O vicerei, acompanhado do seu séquito, do qual fazia parte o seu exímio cabeleireiro PiNu, lá foi para a linda planície, esperando assistir a manobras de um verdadeiro exército germânico. ” (11°§) a) irônica b) desleixada c) elogiosa d) pessimista Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 412: IBFC Ag Seg Soc (SEDS MG)/SEDS MG/2014 Assunto: Figuras de Linguagem Texto Cidadão (Zé Ramalho) Compositor: Lúcio Barbosa Tá vendo aquele edifício moço Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição, era quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado "Tu tá aí admirado? Ou tá querendo roubar?" Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer Tá vendo aquele colégio moço? Eu também trabalhei lá Lá eu quase me arrebento Fiz a massa, pus cimento Ajudei a rebocar Minha filha inocente Vem pra mim toda contente "Pai vou me matricular" Mas me diz um cidadão: "Criança de pé no chão Aqui não pode estudar" Essa dor doeu mais forte Porque que é que eu deixei o norte? Eu me pus a me dizer Lá a seca castigava Mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer Tá vendo aquela igreja moço? Onde o padre diz amém Pus o sino e o badalo Enchi minha mão de calo Lá eu trabalhei também Lá foi que valeu a pena Tem quermesse, tem novena E o padre me deixa entrar Foi lá que Cristo me disse "Rapaz deixe de tolice Não se deixe amedrontar Fui eu quem criou a terra Enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu também não posso entrar Fui eu quem criou a terra Enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu também não posso entrar" No verso “Essa dor doeu mais forte”, podese perceber a presença de uma figura de linguagem denominada: a) ironia b) pleonasmo c) comparação d) metonímia Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 413: IBFC Ag Seg Pen (SEDS MG)/SEDS MG/2014 Assunto: Variações linguísticas (forma e informal) Emoções mapeadas Estudo mostra quais regiões do corpo são ‘ativadas’ por sentimentos como raiva e felicidade e conclui que sensações têm caráter universal (Monique Oliveira) Aperto no peito, frio na barriga, cabeça quente. Quem nunca usou essas expressões para traduzir uma emoção? A sabedoria popular já sabe que emoções causam alterações físicas. Os cientistas também: a rigor, emoção é o estímulo que afeta o sistema límbico [região do cérebro que a processa] e é capaz de mudar o sistema periférico. Faltava saber exatamente onde essas mudanças físicas ocorrem, o que pode ajudar a melhor definir as emoções e entender os transtornos afetados por elas. No intuito de responder a essa questão, cientistas da Universidade de Aalto em parceria com a Universidade de Turku, ambas na Finlândia, pediram a 700 voluntários que indicassem quais áreas do corpo sofriam alterações quando sentiam uma determinada emoção. Para incitar cada estado emocional, foram usadas palavras, músicas e filmes. As alterações sentidas podiam ser de qualquer ordem dor e calor, por exemplo. Com os dados, um software montou um único circuito para cada emoção raiva, medo, desgosto, felicidade, tristeza e surpresa (chamadas de básicas) e ansiedade, amor, depressão, desprezo e orgulho (tidas como correlatas). “Tanto o computador como outras pessoas reconheceram as emoções descritas, o que denota o seu aspecto universal”, disse à Folha Riitta Hari, professora da Universidade Aalto e uma das autoras do estudo, publicado na revista da Academia de Ciências dos EUA, “PNAS”. Assim, emoções ligadas à excitação, como raiva e felicidade, foram associadas com ativações e calor dos membros superiores. Já as emoções que indicam estado depressivo ou de tristeza foram relacionadas a menor atividade nos membros inferiores, como adormecimento das pernas e pés. Sensações no sistema digestório e ao redor da garganta foram relacionadas a desgosto. Felicidade foi a única emoção associada com calor e ativações no corpo inteiro. O estudo pode ajudar a identificar emoções nem sempre distinguíveis, como tristeza e desgosto. [...] (Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/151651emocoesmapeadas.shtml. Acesso em: 11/02/2014) Em relação ao predomínio da modalidade de uso da Língua empregada no texto, é correto afirmar que: a) se trata de um registro informal voltado para um público leitor bem amplo. b) corresponde a um registro formal com a presença, inclusive de termos técnicos. c) corresponde a um registro coloquial com o uso de termos técnicos que dificultam a compreensão. d) se trata de um registro informal marcado por inúmeros marcadores de oralidade. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 414: IBFC Ag Seg Soc (SEDS MG)/SEDS MG/2014 Assunto: Variações linguísticas (forma e informal) Texto Cidadão (Zé Ramalho) Compositor: Lúcio Barbosa Tá vendo aquele edifício moço Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição, era quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado "Tu tá aí admirado? Ou tá querendo roubar?" Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer Tá vendo aquele colégio moço? Eu também trabalhei lá Lá eu quase me arrebento Fiz a massa, pus cimento Ajudei a rebocar Minha filha inocente Vem pra mim toda contente "Pai vou me matricular" Mas me diz um cidadão: "Criança de pé no chão Aqui não pode estudar" Essa dor doeu mais forte Porque que é que eu deixei o norte? Eu me pus a me dizer Lá a seca castigava Mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer Tá vendo aquela igreja moço? Onde o padre diz amém Pus o sino e o badalo Enchi minha mão de calo Lá eu trabalhei também Lá foi que valeu a pena Tem quermesse, tem novena E o padre me deixa entrar Foi lá que Cristo me disse "Rapaz deixe de tolice Não se deixe amedrontar Fui eu quem criou a terra Enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu tambémnão posso entrar Fui eu quem criou a terra Enchi o rio, fiz a serra Não deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu também não posso entrar" O desvio de concordância, presente na primeira estrofe do texto, revela: a) o descuido do autor no trato da Língua. b) a representação do discurso do possível leitor. c) um exemplo de formalidade. d) uma variante social do uso da Língua. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 415: FUNCAB GPTI (SINESP)/SINESP/2015 Assunto: Variações linguísticas (forma e informal) Texto para responder à questão. Chove chuva Água, água e mais água. É tudo o que eu tenho a oferecer. Escrever o maior número de vezes a palavra mágica, na certeza de que águas passadas não movem moinhos, mas podem, de tanto serem sugeridas, sensibilizar os céus e fazer com que elas desabem sobre nós. E que depois se faça o arcoíris. Que depois apareça, toda de branco, toda molhada e despenteada, que maravilha!, a coisa linda que é o meu amor. Eu gostaria de repetir a dança da chuva, a coreografia provocativa dos cheyennes, tantas vezes vista nos filmes. Faltame o requebro. Temo também que o ridículo da cena faça feitiço ir água abaixo. Eu gostaria de subir aos ares, como Santos Dumont tardio, bombardear as nuvens com cloreto de sódio. Se não desse certo, pelo menos chegaria perto do ouvido de São Pedro e, com piadas do tipo "afogar o ganso" e "molhar o biscoito", faria com que o santo relaxasse e abrisse as torneiras. De nada disso, no entanto, sou capaz. Fico aqui, no limite do meu oceano, jacaré no seco anda, escrevendo e evocando as águas que passaram pela ponte da memória. Lembro, vizinha à minha casa, na Vila da Penha dos rios transbordantes, a compositora Zilda do Zé, de " As águas vão rolar". A sua força ancestral, grande sambista, eu evoco agora, mesmo sabendo que a letra da música se refere à água que passarinho não bebe. Todas as águas devem ser provocadas nesta imensa onda de pensamento positivo, e eu agora molho reverente os pés do balcão com o primeiro gole para o santo. Finjo se pau d' água e sigo em frente. Nem aí para os incréus, nem aí para os que zombam da fé, esses insensatos. A todos peço que leiam na minha camisa e não desistam: " Água mole em pedra dura tanto bate até que fura". [...] O sonho acabou há tempo, e lá se foi John Lennon morto. Agora chegou a nostalgia da água, de torcer pelo volume morto e sentir saudade de ver um arcoíris emoldurado o Pão de Açúcar de pois da pancada de verão. Como explicar a uma explicar a uma criança que sol e chuva é casamento de viúva? Como explicar a deliciosa aflição de dormir se perguntando "será que vai dar praia?", se agora todo dia é dia de sol? A propósito, eu li o grande poeta sentado no banco da praia e sei que a sede é infinita, que na nossa secura de amar é preciso buscar a água implícita, o beijo tácito mas acho que é poesia demais para uma hora dessas. Urge, como queria Benjor, que chova chuva. Canivetes. Gatos e cachorros. Se Joseph Conrad traduziu a guerra com " o horror, o horror, o horror", chegou a vez de resumir o nosso tempo com " a seca, a seca, a seca" e bater os tambores na direção contrária. Saúdo para que se faça nuvem, e a todos cubra com seu divino manto líquido, a saudosa Maria, a santa carioca que a incomparável Marlene viu subindo o morro com a lata d´ água na cabeça. 2015 promete ser terrível, mas há quem ache bom negócio refletir sobre os valores básicos da sobrevivência, que o homem está fazendo com o meio ambiente. Vai ser o ano de valorizar como bem de consumo insuperável não o chanel nº 5, mas o cheiro da terra molhada depois do toró de fim de tarde. Que assim seja. Que se cumpra a felicidade de ouvir Tom Jobim ao piano, tecla, gota a gota, celebrando a cena real de, lá fora, estar chovendo na roseira. Ah, quem me dera ligar o rádio e escutar o formidável português ruim da edição extraordinária. Aumentar o som para deixar o locutor gritar os clichês boiando molhadinhos pelo tesão da notícia que chove a cântaros em todos os quadrantes da Cidade Maravilhosa. (SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Chove chuva. In: O Globo, 26/01/2015.) Apresentase como construção com evidentes marcas de oralidade, fugindo, portanto, a uma escrita formal: a) " Eu gostaria de subir aos ares, como um Santos Dumont tardio..." b) " A propósito, eu li o grande poeta sentado no banco da praia..." c) " Nem aí para os incréus, nem aí para os que zombam da fé..." d) " A sua força ancestral, grande sambista, eu evoco agora..." e) ".... chove a cântaros em todos os quadrantes da Cidade Maravilhosa." Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 416: CESPE APF/PF/2012 Assunto: Vícios de Linguagem (pleonasmo, ambiguidade, cacofonia etc) Romance LXXXI ou Dos Ilustres Assassinos Ó grandes oportunistas, sobre o papel debruçados, que calculais mundo e vida em contos, doblas, cruzados, que traçais vastas rubricas e sinais entrelaçados, com altas penas esguias embebidas em pecados! Ó personagens solenes que arrastais os apelidos como pavões auriverdes seus rutilantes vestidos, − todo esse poder que tendes confunde os vossos sentidos: a glória, que amais, é desses que por vós são perseguidos. Levantaivos dessas mesas, saí de vossas molduras, vede que masmorras negras, que fortalezas seguras, que duro peso de algemas, que profundas sepulturas nascidas de vossas penas, de vossas assinaturas! Considerai no mistério dos humanos desatinos, e no polo sempre incerto dos homens e dos destinos! Por sentenças, por decretos, pareceríeis divinos: e hoje sois, no tempo eterno, como ilustres assassinos. Ó soberbos titulares, tão desdenhosos e altivos! Por fictícia autoridade, vãs razões, falsos motivos, inutilmente matastes: − vossos mortos são mais vivos; e, sobre vós, de longe, abrem grandes olhos pensativos. Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 2678. Com base no poema acima, julgue o item subsequente. Considerandose as relações entre os termos da oração, verificase ambiguidade no emprego do adjetivo "pensativos" (v. 40), visto que ele pode referirse tanto ao termo "vossos mortos" (v.38) quanto ao núcleo nominal "olhos" (v.40). Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 417: FUNIVERSA Aux Aut (SPTC GO)/SPTC GO/2015 Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre) Assinale a alternativa que apresenta trecho grafado no discurso indireto livre. a) ― Redijamos o ofício! Ordenou o diretor. b) Minha amiga perguntou a quem devia entregar o livro. c) “D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos.” (Graciliano Ramos). d) Ao ver Maria, disselhe que precisava falar urgentemente. A menina respondeulhe que estava trabalhando e, por isso, ligaria mais tarde. e) “Elisiário confessou que estava com sono.” (Machado de Assis). Esta questão não possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 418: IBFC Per Crim (PC RJ)/PC RJ/Biologia/2013 Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre) Texto I Lágrimas e testosterona Ele vivia furioso com a mulher. Por, achava ele, boas razões. Ela era relaxada com a casa, deixava faltar comida na geladeira, não cuidava bem das crianças, gastava demais. Cada vez, porém, que queria repreendêla por uma dessas coisas, ela começava a chorar. E aí, pronto: ele simplesmente perdia o ânimo, derretia. Acabava desistindo da briga, o que o deixava furioso: afinal, se ele não chamasse a mulher à razão, quem o faria? Mais que isso, não entendia o seu próprio comportamento. Consideravase um cara durão, detestava gente chorona. Por que o pranto da mulher o comovia tanto? E comoviao à distância, inclusive. Muitas vezes ela se trancava no quarto para chorarsozinha, longe dele. E mesmo assim ele se comovia de uma maneira absurda. Foi então que leu sobre a relação entre lágrimas de mulher e a testosterona, o hormônio masculino. Foi uma verdadeira revelação. Finalmente tinha uma explicação lógica, científica, sobre o que estava acontecendo. As lágrimas diminuíam a testosterona em seu organismo, privandoo da natural agressividade do sexo masculino, transformandoo num cordeirinho, Uma ideia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? Era que o seu irmão mais velho fazia, mas por carência do hormônio. Com ele conseguiu duas ampolas do hormônio. Seu plano era muito simples: fazer a injeção, esperar alguns dias para que o nível da substância aumentasse em seu organismo e então chamar a esposa à razão. Decido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. Enquanto isso era feito, ele, de repente, caiu no choro, um choro tão convulso que o homem se assustou: alguma coisa estava acontecendo? É que eu tenho medo de injeção, ele disse, entre soluços. Pediu desculpas e saiu precipitadamente. Estava voltando para casa. Para a esposa e sua lágrimas. (Moacyr Scliar) Texto II Atenção, mulheres, está demonstrado pela ciência: chorar é golpe baixo. As lágrimas femininas liberam substâncias, descobriram os cientistas, que abaixam na hora do nível de testosterona do homem que estiver por perto deixando o sujeito menos agressivo. Os cientistas queriam ter certeza de que isso acontece em função de alguma molécula liberada e não, digamos, pela cara de sofrimento feminina, com sua reputação de derrubar até o mais insensível dos durões. Por isso, evitaram que os homens pudessem ver as mulheres chorando. Os cientistas molharam pequenos pedaços de papel em lágrimas de mulher e deixaram que fossem cheirados pelos homens. O contato com as lágrimas fez a concentração da testosterona deles cair quase 15%, em certo sentido, deixandoos menos machões. (Publicado no caderno Ciência, da Folha de São Paulo, em 7 de janeiro de 2011) Textos disponíveis em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2802201105.htm,;acesso dia 16/07/2013) Leia os excertos a seguir, retirados do texto I, e as observações sobre cada um deles. Em seguida, assinale a alternativa procedente. I. As lágrimas diminuíam a testosterona em seu organismo, privandoo da natural agressividade do sexo masculino, transformandoo num cordeirinho. (3º parágrafo Discurso direto, pois o narrador apresenta de forma clara e objetiva o que se passava com o personagem) II. Uma ideia lhe ocorreu: e se tomasse injeções de testosterona? (4º parágrafo Discurso indireto livre, na segunda oração, pois há elementos linguísticos que podem representar tanto a fala do narrador quanto a fala do personagem) III. Decidido, foi à farmácia e pediu ao encarregado que lhe aplicasse a testosterona, mentindo que depois traria a receita. (5º parágrafo Discurso indireto, marcado, linguisticamente, pela presença de verbos dicendi e de conjunções integrantes) IV. É que eu tenho medo de injeção, ele disse, entre soluços. (5º parágrafo Discurso direto e indireto, pois o narrador conta a história em conjunto com o personagem) a) Todas as alternativas estão corretas. b) Apenas I e II estão corretas. c) Apenas a IV está correta. d) Apenas II e III estão corretas. e) Apenas I, II e III estão corretas. Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 419: IBFC Papis (PC RJ)/PC RJ/2014 Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre) Texto I Notícia de Jornal (Fernando Sabino) Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome. Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome. O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão. Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome. E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louvese a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome. E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome. (Disponível em http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847/: Acesso em 10/09/14) Em um texto narrativo, as falas dos personagens podem figurar em destaque, marcadas por uma pontuação adequada, ou ser parafraseadas pelo narrador. Há também casos nos quais não é possível delimitar as falas de narrador e personagem. Com base nessas informações, assinale a alternativa que apresenta a correta classificação do tipo de discurso utilizado no trecho a seguir: “Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa não é um homem.” (5º§) a) Discurso direto livre b) Discurso direto c) Discurso indireto livre d) Discurso indireto e) Discurso direto e indireto Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 420: CESPE APF/PF/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da descoberta da maisvalia − ou do inconsciente, como queiram. A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção "inconsciente" da maisvalia. O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatóriodas mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade em que vivemos se diz "de mercado", é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social. Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações). Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos gramaticais, julgue o item subsequente. Com correção gramatical, o período "A rigor (...) histórico" poderia, sem se contrariar a ideia original do texto, ser assim reescrito: Caso se proceda com rigor, a análise desses conceitos, verificase que não existe diferenças entre eles. Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 421: CESPE APF/PF/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da descoberta da maisvalia − ou do inconsciente, como queiram. A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção "inconsciente" da maisvalia. O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade em que vivemos se diz "de mercado", é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social. Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações). Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos gramaticais, julgue o item subsequente. A informação que inicia o texto é suficiente para se inferir que Freud conheceu a obra de Marx, mas o contrário não é verdadeiro, visto que esses pensadores não foram contemporâneos. Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 422: CESPE APF/PF/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata, não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em O Capital, no capítulo sobre o fetiche da mercadoria, estabelece dois parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a transformação que o capitalismo produziu na subjetividade. São eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos tributários da descoberta da maisvalia − ou do inconsciente, como queiram. A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já a alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja, da existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria, fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel decisivo na produção "inconsciente" da maisvalia. O sujeito das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que o poder encantatório das mercadorias é condição não de sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a sociedade em que vivemos se diz "de mercado", é porque a mercadoria é o grande organizador do laço social. Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações). Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus aspectos gramaticais, julgue o item subsequente. Depreendese da argumentação apresentada que a autora do texto, ao aproximar conceitos presentes nos estudos de Marx e de Freud, busca demonstrar que, nas sociedades "de mercado", a "divisão do sujeito" se processa de forma análoga na subjetividade dos indivíduos e na relação de trabalho. Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 423: CESPE APF/PF/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja o soberano que se encarregou da justiça − que alívio! A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos comuns (como você e eu) são a fonte de toda autoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é, em última instância, o dos cidadãos − o nosso. Mesmo que o condenado seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato, um corolário da incerteza ética de nossa cultura. Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical, pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça. Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse para exorcizar nossas piores fantasias − isso, sobretudo, porque o exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos. Contardo Calligaris. Terra de ninguém − 101 crônicas. São Paulo: Publifolha, 2004, p. 946 (com adaptações). Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto acima, julgue o item. De acordo com o texto, nas sociedades tradicionais, os cidadãos sentemse aliviados sempre que um soberano decide infligir a pena de morte a um infrator porque se livram das ameaças de quem desrespeita a moral que rege o convívio social, como evidencia o emprego da interjeição "que alívio!". Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 424: CESPE APF/PF/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado declarem que quem roubar ou assaltar será enforcado (ou terá a mão cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade moral do veredicto não estaria conosco. Nas sociedades tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade superior a todos, as execuções podem ser públicas: a coletividade festeja o soberano que se encarregou da justiça − que alívio! A coisa é mais complicada na modernidade, em que os cidadãos comuns (como você e eu) são a fonte de todaautoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo ocidental, se alguém é executado, o braço que mata é, em última instância, o dos cidadãos − o nosso. Mesmo que o condenado seja indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um condenado à morte não é mais uma festa, pois é difícil celebrar o triunfo de uma moral tecida de perplexidade. As execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é apresentada como um progresso: os povos civilizados não executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso é, de fato, um corolário da incerteza ética de nossa cultura. Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem ameaçar o convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela prisão daqueles que não se impõem as mesmas renúncias. Mas a coisa muda quando a pena é radical, pois há o risco de que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de liquidar, com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução do condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral, a justiça sumária é isto: uma pressa em suprimir desejos inconfessáveis de quem faz justiça. Como psicanalista, apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse para exorcizar nossas piores fantasias − isso, sobretudo, porque o exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos desejos reprimidos. Contardo Calligaris. Terra de ninguém − 101 crônicas. São Paulo: Publifolha, 2004, p. 946 (com adaptações). Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto acima, julgue o item. Na condição de psicanalista, o autor do texto adverte que a punição de infratores das leis é uma forma de os indivíduos expurgarem seus desejos inconfessáveis, ressalvando, no entanto, que, quando se trata de crime hediondo, tal não se aplica. Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 425: CESPE Insp PC CE/PC CE/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Texto para o item Muitos acreditam que chegamos à velhice do Estado nacional. Desde 1945, dizem, sua soberania foi ultrapassada pelas redes transnacionais de poder, especialmente as do capitalismo global e da cultura pósmoderna. Alguns pósmodernistas levam mais longe a argumentação, afirmando que isso põe em risco a certeza e a racionalidade da civilização moderna, entre cujos esteios principais se insere a noção segura e unidimensional de soberania política absoluta, inserida no conceito de Estado nacional. No coração histórico da sociedade moderna, a Comunidade Europeia (CE) supranacional parece dar especial crédito à tese de que a soberania políticonacional vem fragmentandose. Ali, temse às vezes anunciado a morte efetiva do Estado nacional, embora, para essa visão, uma aposentadoria oportuna talvez fosse a metáfora mais adequada. O cientista político Phillippe Schmitter argumentou que, embora a situação europeia seja singular, seu progresso para além do Estado nacional tem uma pertinência mais genérica, pois "o contexto contemporâneo favorece sistematicamente a transformação dos Estados em confederatii, condominii ou federatii, numa variedade de contextos". É verdade que a CE vem desenvolvendo novas formas políticas, que trazem à memória algumas formas mais antigas, como lembra o latim usado por Schmitter. Estas nos obrigam a rever nossas ideias do que devem ser os Estados contemporâneos e suas inter relações. De fato, nos últimos 25 anos, assistimos a reversões neoliberais e transnacionais de alguns poderes de Estados nacionais. No entanto, alguns de seus poderes continuam a crescer. Ao longo desse mesmo período recente, os Estados regularam cada vez mais as esferas privadas íntimas do ciclo de vida e da família. A regulamentação estatal das relações entre homens e mulheres, da violência familiar, do cuidado com os filhos, do aborto e de hábitos pessoais que costumavam ser considerados particulares, como o fumo, continua a crescer. A política estatal de proteção ao consumidor e ao meio ambiente continua a proliferar. Tudo indica que o enfraquecimento do Estado nacional da Europa Ocidental é ligeiro, desigual e singular. Em partes do mundo menos desenvolvido, alguns aspirantes a Estados nacionais também estão fraquejando, mas por razões diferentes, essencialmente "prémodernas". Na maior parte do mundo, os Estados nacionais continuam a amadurecer ou, pelo menos, estão tentando fazêlo. A Europa não é o futuro do mundo. Os Estados do mundo são numerosos e continuam variados, tanto em suas estruturas atuais quanto em suas trajetórias. Michael Mann. Estados nacionais na Europa e noutros continentes: diversificar, desenvolver, não morrer. In: Gopal Balakrishnan. Um mapa da questão nacional. Vera Ribeiro (Trad.). Rio de Janeiro: Contraponto, 2000, p. 3114 (com adaptações). Com relação às ideias do texto, julgue o item. Verificase, desde o início do primeiro parágrafo, a estratégia retórica de defender o argumento de que o Estado nacional está obsoleto, de modo que o argumento contrário, exposto no segundo parágrafo, pareça mais consistente. Certo Errado Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br Questão 426: CESPE Insp PC CE/PC CE/2012 Assunto: Interpretação de Textos (compreensão) Texto para o item Muitos acreditam que chegamos à velhice do Estado nacional. Desde 1945, dizem, sua soberania foi ultrapassada pelas redes transnacionais de poder, especialmente as do capitalismo global e da cultura pósmoderna. Alguns pósmodernistas levam mais longe a argumentação, afirmando que isso põe em risco a certeza e a racionalidade da civilização moderna, entre cujos esteios principais se insere a noção segura e unidimensional de soberania política absoluta, inserida no conceito de Estado nacional. No coração histórico da sociedade moderna, a Comunidade Europeia (CE) supranacional parece dar especial crédito à tese de que a soberania políticonacional vem fragmentandose. Ali, temse às vezes anunciado a morte efetiva do Estado nacional, embora, para essa visão, uma aposentadoria oportuna talvez fosse a metáfora mais adequada. O cientista político Phillippe Schmitter argumentou que, embora a situação europeia seja singular, seu progresso para além do Estado nacional tem uma pertinência mais genérica, pois "o contexto contemporâneo favorece sistematicamente a transformação dos Estados em confederatii, condominii ou federatii, numa variedade de contextos". É verdade que a CE vem desenvolvendo novas formas políticas, que trazem à memória algumas formas mais antigas, como lembra o latim usado por Schmitter. Estas nos obrigam a rever nossas ideias do que devem ser os Estados contemporâneos e suas inter relações. De fato, nos últimos 25 anos, assistimos a reversões neoliberais e transnacionais de alguns poderes de Estados nacionais. No entanto, alguns de seus poderes continuam a crescer. Ao longo desse mesmo período recente, os Estados regularam cada vez mais as esferas privadas íntimas do ciclo de vida e da família. A regulamentação estatal das relações entre homens e mulheres, da violência familiar, do cuidado com os filhos, do aborto e de hábitos pessoais que costumavam ser considerados particulares, como o fumo, continua a crescer. A política estatal de proteção ao consumidor e ao meio ambiente continua a proliferar. Tudo indica que o enfraquecimento do Estado nacional da Europa Ocidental é ligeiro, desigual e singular. Em partes do mundo menos desenvolvido, alguns aspirantes a Estados nacionais também estão fraquejando, mas por razões diferentes, essencialmente "prémodernas". Na maior parte do mundo, os Estados nacionais continuam a amadurecer ou, pelo menos, estão tentando fazêlo. A Europa não é o futuro do mundo. Os Estados do mundo são numerosos e continuam variados, tanto em suas estruturas atuais quanto em suas trajetórias. Michael Mann. Estados nacionais
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