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FERTILIDADE DO SOLO 1 CAPÍTULO 1 NUTRIÇÃO DA PLANTA 1.1. FERTILIDADE E PRODUTIVIDADE DO SOLO O termo fertilidade do solo refere a capacidade do solo de fornecer nutrientes às plantas em quantidades adequadas e em proporções apropriadas ou necessárias e em concentrações não tóxicas. Sendo que as plantas retiram a maior parte dos nutrientes que necessitam da camada superficial do solo, até uma profundidade de 20 cm pode-se ter uma ideia da tamanha importância do estudo da fertilidade do solo e da necessidade de mantê-la no grau mais elevado possível (de Mello et al, 1989). A produtividade do solo refere-se a todas as propriedades do solo que influenciam a quantidade e a qualidade da produção duma certa cultura. A produtividade inclui outros factores de crescimento, e, especialmente a influência do homem: o maneio do solo e da cultura, sistema agrícola, aplicação da rega e drenagem. Geralmente um solo de grande produtividade tem uma boa fertilidade também (para uma certa cultura), mas um solo de boa fertilidade nem sempre é produtivo! Por exemplo: Solos ricos em regiões secas (semi-áridas) têm uma baixa produtividade sem irrigação. E a presença duma camada impermeável no perfil dum solo pode impedir o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Normalmente existe uma relação positiva entre a produtividade dum solo e as suas propriedades físico-químicas. Tabela 1. Relação entre as propriedades químicas e físicas do solo Propriedades químicas SOLO Rico Pobre Boas +/+ (1) +/- (2) Propriedades físicas Más -/+ (3) -/- (4) (1) Solos com (+/+) só precisam do maneio ou uso da terra apropriado para obter uma elevada produtividade. (2) Solos com (+/-) precisam principalmente de fertilizantes e correctivos para melhorar o seu estado nutricional. Esta categoria representa um grande grupo de solos das regiões tropicais, p.e. ferralsolos, acrissolos. Podem-se incluir solos salinos que , de APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 FERTILIDADE DO SOLO 2 facto, contêm um excesso de elementos que no geral não são essenciais para as plantas (Na!), ou que ocorrem em quantidades improporcionalmente elevadas (Ca, Mg). Neste caso, o melhoramento do solo pela dessalinização é necessária para tornar o solo produtivo. (3) Solos com (-/+) precisam de medidas específicas dirigidas ao melhoramento de propriedades físicas, p.e. destruir camadas impermeáveis, adicionar matéria orgânica para melhorar a estrutura e aumentar a capacidade de retenção de água no solo, melhoramento de solos sódicos por medidas químicas. (4) Solos com (-/-) são solos sem potencial para agricultura intensiva. Os custos para transformar estes solos em solos produtivos são elevados de mais. Estes solos podem ser usados para o uso de terra extensivo ou florestas. Só no caso de grande pressão de população, na falta doutras terras, pode-se usar um solo deste tipo; a produção será baixa se não houver investimentos (solos de Benfica). Para os solos dos tipos 2 (+/-) e 3 (-/+) são necessários custos elevados para aumentar a produção ao nível ideal: fertilizantes, correctivos e infra-estruturas por exemplo, para a rega e drenagem. 1.2. ELEMENTOS NUTRICIONAIS ESSENCIAIS; COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS PLANTAS No mundo há mais de 100 elementos que ocorrem na atmosfera, hidrosfera, litosfera e na biosfera. Os animais, as plantas e os microorganismos não podem viver e completar os seus ciclos de vida sem quantidades adequadas de certos elementos. Estes elementos são chamados elementos essenciais. (Malavolta, 1979). A Tabela 2 mostra as concentrações de elementos essenciais (macro e micronutrientes) em material vegetal (valores médios para todas as plantas). APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 FERTILIDADE DO SOLO 3 Tabela 2. Concentrações de nutrientes na matéria seca consideradas adequadas Conc.na matéria seca Elemento Peso atómico μmol/g ppm*ou % Nºrelativo ao Mo Molibdénio(Mo) Cobre (Cu) Zinco (Zn) Manganês (Mn) Ferro (Fe) Boro (B) Cloro (Cl) Enxofre (S) Fósforo (P) Magnésio (Mg) Cálcio (Ca) Potássio (K) Nitrogénio(N) Oxigénio (O) Carbono (C) Hidrogénio(H) 95.5 63.5 65.4 54.9 55.8 10.8 35.5 32.1 30.9 24.3 40.0 39.1 14.0 16.0 12.0 1.0 0.001 0.10 0.30 1.0 2.0 2.0 3.0 30 60 80 125 250 1000 30000 40000 60000 0.1ppm 6 20 50 100 20 100 0.1% 0.2 0.2 0.5 1.0 1.5 45 45 6 1 100 300 1000 2000 2000 3000 30000 60000 80000 125000 250000 1000000 30000000 40000000 60000000 *ppm = partes por milhão = mg/kg;% percentagem = g/100g Macronutrientes principais – Os elementos nitrogénio, fósforo e potássio, expressos na forma de nitrogénio (N), pentóxido de fósforo (P 2 O 5 ) e óxido de potássio (K 2 O); Macronutrientes secundários – Os elementos cálcio, magnésio e enxofre, expressos na forma de cálcio (Ca), de magnésio (Mg) e enxofre (S) respectivamente. Água: 80-90% Composição química da planta C, H, O: 95-96% Matéria seca: 20-10% Outros elementos 5-4% Os elementos C, H e O constituem os elementos mais importantes nas plantas e encontram-se em maior percentagem na matéria seca; eles ocorrem nos hidratos de carbono, proteínas, gorduras e óleos. O carbono é absorvido da atmosfera em forma de gás carbónico (CO 2 ); a atmosfera contém 0.03% de CO 2 . O hidrogénio é retirado da água do solo, o oxigénio é obtido da atmosfera e da água do solo. Para os outros elementos distingue-se macro e micronutrientes ou macro e microelementos. Macronutrientes: N, P, K, Ca, Mg, S Micronutrientes: B, Fe, Mn, Zn, Cu e Mo; (F, I, Cl, Se, Co). Os macro e micronutrientes são retirados do solo, mais precisamente, da solução do solo. Os macroelementos N, P e S são parte importante das proteínas, ácidos nucléicos, APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 FERTILIDADE DO SOLO APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 4 aminoácidos, polifosfatos (P) etc.; K, Ca e Mg ocorrem nas paredes, nos vacúolos de células, corpos celulares e nas enzimas (veja Tabela 2 para os nutrientes N, P e K). Carências de macro e microelementos na planta podem causar um fraco crescimento da planta e, consequentemente, uma baixa produção. As carências são muitas vezes visíveis em forma de sintomas de deficiência (veja as figuras na página 9); o fraco crescimento ou baixa produção; o mudanças de cor das folhas ou partes da folha; por exemplo: folhas amarelas (N ou S), folhas com margens morenas ou dessecadas (K), com cores escura ou roxas (P), folhas com manchas verdes/amarelas (Mg, Mn); o maior susceptibilidade às doenças; o má qualidade dos produtos. Um excesso de nutrientes pode causar a redução da produção ou afectar a qualidade dos produtos. Os macroelementos, excepto o fósforo tem efeitos comparáveis com efeitos de salinidade. Um excesso de micronutrientes causa toxicidade, o Boro é o exemplo típico deste processo. Entre diferentes culturas e, entre diferentes partes ou órgãos da planta há grandes diferenças em conteúdo de elementos essenciais (veja a Tabela 4), os quais dependem também do tempo, isto é, do estado de crescimento. Estas diferenças em composição química encontradas dependem da: (1) função do elemento (2) função do órgão ou da parte da planta (3) mobilidade do elemento na planta (4) fase na vida da planta FERTILIDADE DO SOLO APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 5 Tabela 3. Ocorrência, absorção,distribuição, incorporação e função dos macronutrientes N, K e P na planta. Elemento Formas no solo Formas aproveitáveis Absorção como Formas na planta Funções na planta Lugares de Acumulação Redistribuição interna Nitrogénio Orgânica (húmus) 0,03-0,30% caso de N Fornecidos por mineralização microbiana, NH4+ adsorvido a argila e húmus NO3- em solução 25-200 ppm NH4+ , NO3- (predominante) Minerais (NH4+ NO3-) no vacúolo, pequena proporção; compostos orgânicos: proteínas Ácidos nucleicos livres, produtos secundários Componente do citoplasma, enzimas, coenzimas Brotos, folhas novas, gemas, sementes, órgãos de armazenamento Alta, principalmente como compostos orgânicos Fósforo Orgânica, fosfatos de Fe, Al e Ca 0,004-22% com P Adsorvido; parte fornecida por mineralização do humus; solução do solo 0,03 – 0,15 ppm H2PO4- Minerais (orto, piro e polifosfatos), esters de carbohidratos; nucleiotídeos, fosfatídeos, fitina, etc Armazenamento e fornecimento de energia Maior em órgãos reprodutivos que vegetativos Alta, principalmente em formas orgânicas Potássio Rede cristalina (feldspatos, micas) “trocável” nas argilas, humus (pouco) – 0,03 – 2,19% como K Trocável, fixado (parte); solução do solo 10-200 ppm K+ Iônica (suco cellular) principalmente; adsorvido a proteínas Efeito colloidal (promove hidratação); armazenamento de energia (fosforilação); fotossíntese e respiração; síntese de amido e proteínas; abertura de estômatos; translocação de carbohidratos Zonas de divisão cellular, tecido novo, parênquima de casca, sítios de muito metabolismo Alta FERTILIDADE DO SOLO 6 Tabela 4. Extracção e exportação de macro e micronutrientes pelas principais culturas. Kg/ha g/ha cultura Parte t/ha N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Mo Zn Alface total 14 24 5 51 14 4 3 - 14 80 107 - 86 Sementes 1.3 29 4 24 11 5 10 43 13 316 19 0,2 16 Algodoeiro Raízes+topo -- 55 4 42 50 8 23 122 46 1375 111 1,2 44 Amendoim Vagens 3 201 16 140 113 21 16 - 50 - 25 - - Grãos 3,2 45 8 12 2 3 5 13 17 123 57 0,4 146 Arroz Palha 5,2 36 6 80 16 4 6 64 19 1009 372 0,7 169 Pseudo caule 7 53 7 274 75 28 2 124 29 1311 2263 0,6 146 Folhas 4 60 5 138 62 13 5 72 21 1012 3715 0,3 66 Bananeira (mat, seca) Cacho 15 148 20 633 21 22 5 165 69 707 813 0,3 139 Tubérculos 40 80 5 100 3 3 3 - 15 210 21 - - Batatinha Ramas -- 120 3 120 49 14 8 - 13 - - - - Frutos (Côco) 2 33 3 52 7 3 3 50 30 160 40 0.5 80 Coqueiro Tronco, ramos,folhas -- 220 16 180 136 30 24 - - - - - - Cacaueiro Frutos 1 20 6 30 3 4 - - - - - - - Cana-de-acúcar Colmos 100 132 8 110 13 19 12 4 5 3132 1556 2 486 Vagens 1 37 4 22 4 4 10 - - - - - - Feijoeiro Ramos 2 65 5 71 50 14 15 - - - - - - Frutos - 91 9 72 25 6 7,2 105 58 317 134 0,4 43 Laranjeira Parte aérea - 300 10 100 660 30 - 380 430 1400 700 - 322 Raízes 42 153 17 185 25 6 - - - - - - - Mandioca Ramos - 100 11 65 17 23 - - - - - - - Grãos 6.4 129 26 42 1,1 11 10 20 34 210 78 2,5 205 Milho Restos - 176 30 215 35 37 34 60 147 1664 686 15 339 Vagens 3 200 26 57 10 10 6 - - - - - - Soja (*) Ramas 6 100 14 58 60 25 17 100 100 1700 600 10 200 Frutos 30 93 11 108 6 6 21 210 105 - 200 - 240 Tomateiro Parte aérea 4 68 12 138 130 17 - - - - - - - Grãos 3 75 15 12 3 9 5 100 17 190 140 - 120 Trigo Palha 5 50 7 80 13 5 9 200 14 500 320 - 80 *micronutrientes totais da planta (1) O N e P são encontrados em concentrações elevadas nas sementes em forma de proteínas, ácidos nucléicos, fitinas, o K é encontrado principalmente nos caules (função de transporte), o Fe nas raízes, o Mg nas folhas (clorofila). (2) As sementes tem um elevado conteúdo de P para compensar a fraca capacidade de absorção do fósforo pela nova planta durante o tempo em que ela tem um sistema radicular pouco desenvolvido. (3) Os elementos de elevada mobilidade na planta são N, P e K, que podem ser transportados para todas as partes da planta. Há também elementos de baixa mobilidade que, geralmente, ficam nas partes onde estes elementos foram transportados (colocados) inicialmente. APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 FERTILIDADE DO SOLO 7 (4) Durante o crescimento da planta as concentrações de certos elementos nas diferentes partes ou órgãos da planta, não são constantes. Isto está relacionado também com a mobilidade destes elementos. As figuras 1a e 1b mostram a relação da produção relativa e a absorção de Nitrogénio no arroz com o número de dias depois da sementeira (adaptado dos apontamentos de fertilidade do solo, de 1986-1988, capítulo 1 p.8, segundo Mikkelsen & Patrick, 1968, p.417). A absorção dos macronutrientes ocorre mais ou menos paralelamente com a produção da matéria seca e que as curvas de absorção têm uma forma “S” sigmoidal. Depois de um certo tempo, mais concretamente, desde a fase da floração, as concentrações dos elementos diminuem, especialmente nas folhas. As concentrações de P e K diminuem primeiro, mais tarde dá-se a diminuição do N. O Nitrogénio e o fósforo são armazenados nas sementes (grãos): redistribuição interna dos nutrientes na planta. APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 FERTILIDADE DO SOLO 8 1.3. RELAÇÃO ENTRE CONTEÚDO DE NUTRIENTES NA PLANTA COM DEFICIÊNCIAS OU EXCESSOS DE NUTRIENTES Figura 2. Relação entre o conteúdo dum nutriente na planta e a produção relativa. Conteúdos superiores a B não dão sintomas de deficiências. Entre os conteúdos A e B há uma redução da produção relativa quando há uma diminuição do conteúdo de nutrientes. O conteúdo do nutriente = A designa-se conteúdo crítico do nutriente. Este conteúdo coincide com um decrescimento da produção em 10%, isto é, coincide com 90% da produção relativa. Nos conteúdos menores que A, ocorre uma abrupta redução da produção e a planta mostra sintomas de deficiência. De um modo geral a deficiência de nutrientes na planta pode ser definida como a falta de quantidades adequadas e equilibradas desse elemento na planta, fazendo com que elas não completem o seu estado de crescimento normal, desenvolvimento e reprodução. Sintoma é qualquer sinal anormal visível que, surge como consequência da ausência ou deficiência de um determinado elemento nutritivo no organismo vegetal (Malavolta, 1989). É possível detectar a deficiência de elementos nutritivos com base no aparecimento de cloroses, que é o amarelicimento das folhas e consequente diferença de coloração entre as nervuras, necroses que é a morte de tecidos “aparecimento de porções acastanhada nas folhas”, deformação de folhas, inibição do crescimento, deformação dos frutos e outros órgãos (Malavolta, 1989). O conhecimento dos sintomas de deficiência numa cultura é importante para prever os níveis de produção a serem esperados nos anos subsequentes. O conhecimento dos sintomas de deficiência é também importante para saber quais os elementos que estão em falta no solo e portanto se saber com exactidão o tipo de elemento nutritivo que é necessário fornecer ao solo durante a adubação (Foth & Ellis ,1988). APONTAMENTOS – AULAS TEÓRICAS 2001 CAPÍTULO 1 NUTRIÇÃO DA PLANTA 1.1. FERTILIDADE E PRODUTIVIDADE DO SOLO 1.2. ELEMENTOS NUTRICIONAIS ESSENCIAIS; COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS PLANTAS Tabela 2. Concentrações de nutrientes na Água: 80-90% Composição química da planta C, H, O: 95-96% Matéria seca: 20-10% Outros elementos 5-4% 1.3. RELAÇÃO ENTRE CONTEÚDO DE NUTRIENTES NA PLANTA COMDEFICIÊNCIAS OU EXCESSOS DE NUTRIENTES
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