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Estudo Histórico Literário

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Prévia do material em texto

[ENADE Letras 2005, questão 31, bacharelado]
Segundo Martín-Barbero,
[...] é preciso falar sobre o estudo dos gêneros, a história social e cultural dos gêneros. Os gêneros aparecem não como propriedades dos textos. O gênero não é algo que passa ao texto, mas algo que passa pelo texto. [...] o gênero é uma estratégia de comunicação ligada aos vários universos culturais
Leia os trechos abaixo adaptados de “Gêneros ficcionais: materialidade, cotidiano, imaginário”, de Silvia Helena S. Borelli:
I.              O gênero é considerado como um agrupamento ou filiação de obras literárias a uma classe ou espécie, subordinadas por sua vez a artifícios de normatização e classificação.
II.             O gênero é uma categoria abrangente, e serve como elo entre os diferentes momentos da cadeia que une espaço de produção, anseios dos produtores culturais e desejos do público receptor.
III.            O gênero é um modelo dinâmico, com repertório variado de estruturas resultantes de conexões entre um ou mais gêneros e da relação com novos recursos que, introduzidos, transformam ou recriam padrões mais ou menos abertos.
Identifica-se com a posição de Martín-Barbero SOMENTE o que se afirma em
Escolha uma:
a.
II.
b.
I e II.
c. I.
d.
I e III.
e.
II e III.
Muito bem...!!!
Texto para a questão
Canção
 
Nunca eu tivera querido
Dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra,
Deixou ficar o sentido.
O sentido está guardado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.
Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só se aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também.
Cecília Meireles. Poesias completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993, p. 118.
 
 
 [ENADE Letras 2008, questão 15]
De acordo com abordagens da análise do discurso, a significação não se restringe apenas ao código linguístico. Que versos evidenciam essa noção?
Escolha uma:
a.
“Só se aquele mesmo vento / fechou teus olhos, também” (v.17-18)
b. “Nunca eu tivera querido / Dizer palavra tão louca” (v.1-2)
c.
“bateu-me o vento na boca, / e depois no teu ouvido” (v.3-4)
d.
“Nunca ninguém viu ninguém / que o amor pusesse tão triste” (v.13-14)
e.
“Levou somente a palavra, deixou ficar o sentido” (v.5-6)
Muito bem...!!!
[ENADE Letras 2008, questão 29]
Autopsicografia
 
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa. Autopsicografia. In:
Obra completa. Porto: Lello & Irmãos, 1975, p. 255.
 
De acordo com o poema, é específico do processo de criação literária o fato de o poeta
I.              escrever não o que pensa, mas aquilo que deveras sente.
II.             ser capaz de captar e expressar os sentimentos dos leitores.
III.           transformar um elemento extraliterário, como a dor, em objeto estético.
Está certo o que se afirma apenas em
Escolha uma:
a.
I e II.
b. III.
Muito bem...!!!
c.
I.
d. II.
e.
I e III.
[ENADE Letras 2008, questão 17]
Ao lermos, se estamos descobrindo a expressão de outrem, estamos também nos revelando, seja para nós mesmos, seja abertamente. Daí por que a troca de ideias nos acrescenta, permite dimensionarmo-nos melhor, esclarecendo-nos para nós mesmos, lendo nossos interlocutores. Tanto sabia disso Sócrates como o sabe o artista de rua: “conversando também conheço o que é que eu digo”.
Recepção e interação na leitura. In: Pensar a leitura: complexidade. Eliana Yunes (Org). Rio de Janeiro: PUCRio; São Paulo: Loyola, 2002, p. 105 (com adaptações).
 
A partir das reflexões do texto apresentado, assinale a opção correta a respeito da interação texto-leitor.
Escolha uma:
a.
Para a leitura como descobrimento ser efetiva, é necessária a troca de ideias sobre a leitura; ler com o outro para nos conhecermos.
Muito bem...!!!
b.
A leitura como descobrimento pressupõe uma postura pedagógica que reforça a tradição de leitura como confirmação da fala de uma autoridade.
c.
A perspectiva apontada no texto favorece a vivência da leitura como autoconhecimento, em detrimento da leitura como identificação da expressão do outro.
d.
A aproximação, no texto, entre o que sabia Sócrates e o que sabe o artista de rua, é incoerente porque os respectivos horizontes de expectativa são diferentes.
e.
A interação texto-leitor deve ser evitada, por fugir ao controle do autor e favorecer uma espécie de “vale-tudo interpretativo”.
[Provão Letras 2001, questão 34]
Referindo-se a Memórias de um sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, o historiador e crítico literário José Veríssimo afirmou que "este romance poderia bem ser tomado como inconsciente precursor do naturalismo". Nessa afirmação, há o pressuposto de que os chamados "estilos de época"
Escolha uma:
a.
devem ser definidos numa sistematização fechada de valores, antes de serem aplicados às diferentes obras literárias.
b.
são paradigmas que de fato não caracterizam época alguma, pois as soluções estéticas processam-se no plano do inconsciente do artista.
c.
constituem um equívoco crítico, pois o fato de haver "precursores" implica a impossibilidade de se definirem tendências estilísticas.
d.
descrevem com exatidão as qualidades estéticas que se prendem às específicas condições históricas em que os escritores produzem suas obras.
e.
têm abrangência temporal menos definida e menos estanque do que aquela considerada pela periodização mais mecânica.
Muito bem...!!!
[Provão Letras 2001, questão 40]
Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
 
A estrofe acima, em que o "eu" manifesta confiança na ideia como força transfiguradora da realidade vivida, exemplifica o seguinte ponto fundamental da poética camoniana:
Escolha uma:
a.
a impossibilidade de se atingir a essência do ser, pois a experiência impede ao sujeito o acesso à verdade absoluta.
b.
a impossibilidade de o homem conhecer o amor, pois a razão interfere na vivência plena do sentimento.
c.
a experiência amorosa como algo impróprio aos homens, pois o amor é o sentimento que mais os afasta do plano da verdade absoluta.
d.
o amor como meio de superar a barreira entre o real e o ideal, pois tem o poder de impulsionar a imaginação poética em direção à essência do ser.
Muito bem...!!!
e.
o amor como manifestação da fragilidade humana, pois o sentimento se confronta com o racional, que é a essência do ser.
Texto I
Ave Maria
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
(Cesário Verde/"Sentimento dum ocidental" (1880))
 
Texto II
Ah o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas
grandes cidades,
E a mão de mistério que abafa o bulício,
E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe
Para uma sensação exata e precisa e ativa da Vida!
Cada rua é um canal de uma Veneza de tédios
E que misterioso o fundo unânime das ruas,
Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde, ó Mestre,
Ó do "Sentimento de um ocidental"!
(Álvaro de Campos. "Dois excertos de odes (Fins de duas odes naturalmente)" (1914))
 
[Provão Letras 2001, questão 38]
Considerando-se as estrofes acima, fragmentos dos poemas citados, é correto afirmar:
Escolha uma:
a.
em I e II, o tratamento dispensado à cidade revela a tematização do desejo de fugir do espaço urbano.
b.
tanto em I quanto em II, o eu lírico revela-se refratário aos apelos das ruas agitadas e febris por onde circula.
c.
os fragmentos se contrapõem, pois em II o tédio impede o eu líricode "sentir" a cidade, o que não ocorre em I.
d.
em ambos os poemas, os elementos da realidade urbana moderna se convertem em estímulos poéticos.
Muito bem...!!!
e.
em I, mais do que em II, o eu lírico busca retratar objetivamente a paisagem urbana percorrida por ele.
[Provão Letras 2002, questão 34]
Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Dessa vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Co'uma aura popular que honra se chama!
 
Os versos acima, de Os Lusíadas, introduzem a fala do "velho do Restelo" quando a esquadra de Vasco da Gama partia para as Índias. Essa fala, no conjunto da obra, revela que a epopeia camoniana
Escolha uma:
a.
apresenta aquele típico narrador da epopeia clássica, cuja voz confirma o consenso coletivo acerca da grandiosidade da pátria.
b.
censura a ideologia medieval, por representar empecilho à vontade popular de ver a pátria firmar-se como império ultramarinho.
c.
narra ações de um herói que, por sua visão crítica, antecipa as questões filosóficas debatidas no século XVII.
d.
constitui o protagonista como modelo de comportamento, estruturando-se, assim, de maneira idêntica à epopeia greco-latina.
e.
representa um momento histórico em que o caráter glorioso da ação épica é problematizado em decorrência do utilitarismo mercantilista.
Muito bem...!!!
[ENADE Letras 2005, questão 22]
É célebre a escultura de Laocoonte, em que estão representados pai e filhos envolvidos por serpentes. Nela está tematizada a dor de um pai que vê os filhos serem devorados. O crítico alemão Lessing sentiu-se intrigado pela seguinte questão: como entender que a personagem principal do grupo representado mal abra a boca, apesar de sofrer de modo tão intenso? Para explicar a composição moderada da dor, assinala:
É que as leis da escultura impõem a figuração da dor de modo totalmente diverso do da poesia. A escultura e a pintura não podem representar senão um único momento de uma ação; é preciso então escolher o momento mais fecundo; ora, só é fecundo aquilo que deixa campo livre à imaginação; não é preciso, pois, escolher o momento do paroxismo [o momento mais intenso], mas o que o precede ou segue.
 
[ENADE Letras 2005, questão 22]
O que se pode deduzir corretamente do texto acerca da representação artística?
Escolha uma:
a.
Em algumas formas de expressão artística, a representação corresponde necessariamente à diminuição da intensidade das emoções experimentadas.
b.
Em qualquer expressão artística, é mais importante a capacidade que o artista tem de apontar, no ser humano representado, a grandeza e a serenidade da alma, do que retratar o vigor de um sofrimento.
c.
Na composição artística, a escolha de traços de um objeto que podem ser mais produtivos para a criação depende mais da perícia do artista em lidar com eles do que da linguagem da arte em que ele se expressa.
d.
Numa obra de arte, a expressão não é determinada pela natureza do objeto representado, mas está relacionada aos princípios que regem a modalidade artística adotada.
Muito bem...!!!
e.
Na arte, o modo como se retratam certas emoções depende do conhecimento da sua natureza pelo artista, pois o seu ideal é reproduzir o mundo natural.
[Provão Letras 2002, questão 22]
No texto abaixo, Antonio Candido analisa um trecho narrativo de Carlos Drummond de Andrade.
[...] Seja um trecho no começo do conto "Beira-rio" [de Carlos Drummond de Andrade]:
Sete da manhã e o trabalho principiando no campo. O apontador chegava ainda com escuro, porque não conseguia dormir na casinha de pau a pique onde ele, mulher e filhos viviam como que em depósito, à espera de vaga na vila proletária. Os mosquitos resistiam a tudo, e o fio de som que emitiam no voo lento, indo e vindo, tecia sobre a cama uma espécie de cortinado. A mão, levantando-se, dilacerava a trama, que contudo logo se recompunha, e tão constante no seu dom de irritar que, se por acaso cessasse um momento, o silêncio feria por sua vez, de inesperado. Então, o apontador ia acordar o balseiro, e os dois, cortando o rio, presenciavam calados o nascimento do sol, que do campo em ruínas, na outra margem, ia tirando pouco a pouco uma usina em construção.
O que logo sobressai é a poderosa metáfora da teia, baseada num "equívoco", como diziam os antigos: o fio de som gera a ideia de tecido formado por ele, como se um sentido próprio se materializasse a partir do sentido figurado. Em torno da metáfora gira o trecho e ela lhe confere um toque de linguagem poética, situando-o para o lado da poesia. No entanto, é igualmente forte o elemento de referência ao real, que funciona como nível informativo ao modo de uma notícia: o empregado, que vive miseravelmente numa casa de pau a pique, atravessa o rio de balsa e vai para a construção da usina, onde é apontador – e aqui estamos perto dessas crônicas que fixam o quotidiano. Mas o trecho não é poema nem crônica, embora possa ser visto como oscilando entre ambos: é ficção, que talvez seja tão boa devido à presença de elementos ricos em poesia e singela realidade.
Antonio Candido
 
Segundo se depreende das palavras do crítico, a "singela realidade" se mostra ao leitor mediante
Escolha uma:
a.
a presença do cotidiano, manifesto nos traços de crônica reconhecíveis no conto.
Muito bem...!!!
b. o retrato do cotidiano, na linguagem despretensiosa do homem do campo.
c.
o poder que tem a ficção de retratar a vida no seu aspecto mais superficial.
d.
a poesia e suas imagens, que transpõem com mais fidelidade aspectos do real.
e.
a dissolução da cena cotidiana por uma sequência de metáforas.
[Provão Letras 2002, questão 26]
I.        
Flor é a palavra
flor, verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
João Cabral de Melo Neto
 
II.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu.
Carlos Drummond de Andrade
 
Nesses dois fragmentos, as duas representações de flor indicam
Escolha uma:
a.
a convergência entre duas atitudes poéticas cujo centro de inspiração está nas circunstâncias do cotidiano.
b.
a convergência entre duas atitudes poéticas empenhadas na expressão da intimidade lírica.
c.
a convergência entre duas atitudes poéticas modernas que exploram o mesmo símbolo, do mesmo modo.
d. a distinção entre uma reação sentimental e uma reação política, diante do mesmo fato.
e.
a distinção entre a exploração metalinguística da palavra e sua utilização como símbolo.
Muito bem...!!!
[ENADE Letras 2008, questão 18]
Em casa, os amigos do jantar não se metiam a dissuadi-lo. Também não confirmavam nada, por vergonha uns dos outros; sorriam e desconversavam. [...] Rubião via-os fardados; ordenava um reconhecimento, um ataque, e não era necessário que eles saíssem a obedecer; o cérebro do anfitrião cumpria tudo. Quando Rubião deixava o campo de batalha para tornar à mesa, esta era outra. Já sem prataria, quase sem porcelanas nem cristais, ainda assim aparecia aos olhos de Rubião regiamente esplêndida. Pobres galinhas magras eram graduadas em faisões, assados de má morte traziam o sabor das mais finas iguarias da Terra. [...] Toda a mais casa, gasta, pelo tempo e pela incúria, tapetes desbotados, mobílias truncadas e descompostas, cortinas enxovalhadas, nada tinha o seu atual aspecto, mas outro, lustroso e magnífico.
Machado de Assis. Quincas Borba. São Paulo: W. M. Jackson Editores, 1955, p. 317-319 (fragmento).
 
A uns, a ironia no tratamento da cor local e de tudo que seja imediato pareceu uma desconsideração. Faltaria a Machado o amor de nossas coisas. Outros saudaram nele o nosso primeiro escritor com preocupações universais. Uma contra, outra a favor, as duas convicções registram a posição diminuída que acompanha a notação local no romance de Machado, e concluem daí para a pouca importância dela. Uma terceira corrente vê Machado sob o signo da dialética do local e do universal. Em Quincas Borba, o leitor a todo o momento encontra, lado a lado e bem distintos, o local eo universal. A Machado não interessava a sua síntese, mas a sua disparidade, a qual lhe parecia característica.
Roberto Schwarz. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 167-170.(com adaptações).
 
De acordo com o texto de Roberto Schwarz, acerca da recepção crítica da obra de Machado de Assis, assinale a opção que interpreta corretamente o trecho de Quincas Borba, referente ao delírio do protagonista Rubião.
Escolha uma:
a.
A identificação de Rubião com o imperador francês corresponde à da obra de Machado de Assis com os modelos literários universais, o que reafirma a recepção crítica que saudava a universalidade da obra do escritor.
b.
O aspecto “lustroso e magnífico” que Rubião dava às “cortinas enxovalhadas” acentua a disparidade crítica da obra machadiana, que, pela tensão entre local e universal, descortina a vida nacional.
Muito bem...!!!
c.
A divisão da crítica quanto à recepção da obra de Machado de Assis é um falso problema, pois, como se vê em Quincas Borba, o pitoresco e o exotismo românticos continuam presentes no texto machadiano.
d.
A ironia machadiana presente na obra Quincas Borba, evidenciada na imagem de as “galinhas magras” se transformarem em “faisões”, confirma as opiniões críticas que concebem a obra de Machado como negação do aspecto nacional e valorização do universal.
e. Rubião, incapaz de enxergar a realidade como ela de fato era, confirma, com seu delírio, a tendência crítica que vê, na obra de Machado de Assis, uma atitude de desconsideração para com a realidade nacional.
[Provão Letras 2001, questão 25]
Ivo viu a uva; eu vi a viúva. Ia passando, na praia, vi a viúva; a viúva na praia me fascina. Deitei-me na areia, fiquei a contemplar a viúva.
O fragmento acima é o início de uma crônica de Rubem Braga, do livro Ai de ti, Copacabana! intitulada "Viúva na praia". A frase "Ivo viu a uva" pertence originalmente a uma lição de antiga cartilha, pela qual muitos brasileiros se alfabetizaram. Nesse fragmento, o cronista
I.     vale-se ao mesmo tempo de uma paródia e de um jogo de palavras, provocando com isso um efeito de humor já no início de seu relato.
II.   retoma em "eu vi a viúva" a estrutura sintática e os aspectos fônicos da frase da cartilha de modo a associar "uva" a "viúva", numa relação discretamente maliciosa.
III.   deixa-se atrair pela graça própria dos trocadilhos, o que constitui uma característica de suas crônicas, nas quais é essencial esse tipo de jogo com as palavras.
Está correto apenas o que se afirma em
Escolha uma:
a. I e II
Muito bem...!!!
b.
I
c. I e III
d.
II
e.
II e III
[Provão Letras 2001, questão 31]
Quem abre Menino de engenho nota desde logo uma linguagem tacteante, que procura localizar e cercar as imagens imprecisas da infância. Nota que, à maneira do que sucede nas primeiras etapas da vida, não há separação nítida entre sujeito e objeto, e que a realidade literária não é o menino nem o engenho, mas menino e engenho, unidos, indiscerníveis. [...]
Por isso, a expansão do menino no engenho sugere uma expansão táctil do Eu sobre o mundo; uma personalidade que se constrói na medida em que, encontrando a resistência das coisas, apreende-as, engloba-as e ao mesmo tempo nelas se engasta. Este movimento de preensão explica o tacteio do estilo, que também procede por toques, registros curtos, dando ao romance um caráter envolvente, primitivo e saboroso, na sua seiva irregular.
(Antonio Candido, Brigada ligeira e outros escritos.)
 
Essas observações críticas expressam a convicção de que, nesse romance de José Lins do Rego, são indissociáveis
Escolha uma:
a.
a dispersão da memória autobiográfica e o artifício de resgatá-la na coesão do discurso dissertativo.
b.
o primitivismo dos primeiros modernistas e o experimentalismo radical na forma do romance.
c. a tese social visada pelo autor e o tipo de discurso em que se engaja o narrador.
d.
as hesitações da idade infantil e as inseguranças que geram na vida adulta do protagonista.
Pense mais um pouco...
e.
um certo modo de percepção do mundo e um estilo que corresponde a esse modo de percepção.
[ENADE Letras 2008, questão 34]
Olhou as cédulas arrumadas na palma, os níqueis e as pratas, suspirou, mordeu os beiços. Nem lhe restava o direito de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, desocuparia a terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos pequenos e os cacarecos. Para onde? Hem? Tinha para onde levar a mulher e os meninos? Tinha nada!
[...] Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportasse tanta coisa.
Graciliano Ramos. Vidas secas. 106. ed. São Paulo: Record, 1985, p.96-97.
 
A leitura do trecho acima do capítulo “Contas”, do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, indica que, nessa obra, a relação entre o texto e o contexto de sua produção está concentrada
Escolha uma:
a.
no caráter ufanista da obra, que exalta a força da cultura popular nordestina.
b. na abordagem regionalista e pitoresca do fenômeno ambiental da seca no Nordeste.
c. no realismo descritivo, que apresenta pormenores da beleza da paisagem nordestina.
d.
na representação da riqueza interior de vidas econômica e culturalmente pobres.
Muito bem...!!!
e.
na atitude engajada do protagonista Fabiano, que se recusa a ser explorado pelo patrão.
[ENADE Letras 2005, questão 19]
"Pobre Alencar! O naturalismo; (...) essas rudes análises, apoderando-se da Igreja, da Realeza, da Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas, dissecando-as brutalmente e mostrando-lhes a lesão, (...) apanhando em flagrante (...) a palpitação mesma da vida; tudo isso (...), caindo assim de chofre e escangalhando a catedral romântica, sob a qual tantos anos ele tivera altar e celebrara missa, tinha desnorteado o pobre Alencar (...). O naturalismo, com as suas aluviões de obscenidade, ameaçava corromper o pudor social? Pois bem. Ele, Alencar, seria o paladino da Moral (...); então o romancista de Elvira que, em novela e drama, fizera a propaganda do amor ilegítimo, representando os deveres conjugais como montanhas de tédio, dando a todos os maridos formas gordurosas e bestiais, e a todos os amantes a beleza, o esplendor e o gênio dos antigos Apolos; então Tomás Alencar, que (...) passava ele próprio uma existência medonha de adultérios, lubricidade, orgias (...) – de ora em diante austero, incorruptível, (...) passou a vigiar atentamente o jornal, o livro, o teatro."
No trecho acima, quem relata é o narrador em terceira pessoa que se aproveita, dentre outros recursos, do discurso indireto livre. Considerado o contexto cultural em que a obra foi produzida, é correto afirmar que, nesse relato, o uso da ironia
Escolha uma:
a.
permitiu que o narrador, aderindo aos sentimentos de Tomás Alencar, criticasse a estética realista/naturalista, traduzindo a visão de Eça de Queirós.
Pense mais um pouco...
b.
criou referências (tédio no casamento, maridos como figuras bestiais, amantes apolíneos) que aproximam Tomás Alencar do autor de Madame Bovary, o que justifica sua aversão ao Realismo/Naturalismo.
c.
produziu uma inversão: o narrador, caracterizando o Realismo/Naturalismo sob a perspectiva de Tomás Alencar, deixa transparecer as convicções do realista Eça de Queirós sobre o Romantismo.
d.
propiciou que fossem citadas, pela voz da personagem, as razões do juízo desfavorável de Eça de Queirós acerca das propostas da geração das Conferências do Cassino Lisbonense.
e.
criou um discurso de natureza metalinguística: o tema é a arte de Tomás Alencar, que, embora romântico, procura compor segundo o estilo das obras de Zola.
[Provão Letras 2001, questão 27]
"Nos romances todas as crises se explicam, menos a crise da falta de dinheiro. Entendem os novelistas que a matéria é baixa e plebeia. [...].
Balzac fala muito em dinheiro, mas dinheiroa milhões. Não conheço, nos cinquenta livros que tenho dele, um galã no entreato da sua tragédia a cismar no modo de arranjar uma quantia com que pague ao alfaiate, ou se desembarace das redes que um usurário lhe lança [...]. Disto é que os mestres em romance se escapam sempre. Bem sabem eles que o interesse do leitor se gela a passo igual que o herói se encolhe nas proporções destes heroizinhos de botequim, de quem o leitor dinheiroso foge por instinto, e o outro foge também, porque não tem que fazer com ele. [...]. Não é bonito deixar a gente vulgarizar-se o seu herói a ponto de pensar na falta de dinheiro [...]."
A fala do narrador de Amor de perdição, acima transcrita,
Escolha uma:
a.
sublinha que a verossimilhança da obra literária resulta da reprodução fiel da realidade do mundo.
b.
constitui reflexão acerca do processo de construção do tipo de narrativa em que a recepção do público é determinante na seleção da matéria narrada.
Muito bem...!!!
c.
confirma a ideia de que grandes romancistas concebem seus heróis como seres incapazes de analisar questões econômicas.
d.
corresponde a considerações acerca da composição de romances que pretendem denunciar mazelas sociais, como o poder do dinheiro.
e.
assinala que a coerência da obra literária depende do conhecimento que o escritor tem da produção de autores de várias nacionalidades.
Para responder à questão, considere a seguinte citação, retirada do livro Baú de ossos, do escritor memorialista Pedro Nava:
Todos aplaudiam chorando e levantava-se na casa festiva um tal clamor de entusiasmo que acordava o Andaraí e despertava dentro do tílburi o Conselheiro Aires voltando da casa da Mana Rita.
 
Na passagem transcrita acima, foram empregados os seguintes recursos estilísticos: inserção do ficcional na sequência de fatos reais, hipérbole e ausência de pontuação. Indique a alternativa que apresenta o efeito gerado pela combinação desses procedimentos narrativos e poéticos.
Escolha uma:
a. Atribuição de cunho mágico à realidade.
b. Validade documental do registro.
c.
Eliminação da fantasia em favor da objetividade analítica.
d. Oclusão do sujeito na contemplação narcísica.
Pense mais um pouco...
e.
Revitalização do lugar-comum.
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Sua resposta está incorreta.
Tomando como abordagem teórica a noção de sistema literário, assinale a alternativa correta.
Escolha uma:
a.
A atividade do artista desfaz a divisão dos grupos de receptores da obra, tornando o público homogêneo.
b.
Autor, obra e público são fatores correlacionados, que agem uns sobre os outros em função de condições socioculturais e materiais.
Muito bem...!!!
c.
Toda leitura é individual, pois não depende das expectativas do grupo social a que o leitor pertence.
d. A sociedade não atribui função ao artista, relegando-o à marginalidade. 
e.
A atuação do artista revela independência absoluta em relação às expectativas sociais.

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