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Magnitude do Aborto no Brasil: uma análise dos resultados de pesquisa I. Panorama Geral do Aborto no Brasil ! O aborto representa um grave problema de saúde pública e de justiça social no Brasil. A prática do aborto é crime, sendo permitido pela lei penal somente em duas circunstâncias: no caso de violência sexual (estupro) ou riscos à vida da mulher. (Artigo 128, I e II do Código Penal). ! No entanto, o aborto é amplamente praticado, através de meios inadequados que podem causar danos e provocar a morte da mulher. Estimativas para 2005 apontam um total de 1.054.243 de abortos realizados. ! As mulheres em situação de aborto incompleto ou com complicações, geralmente, sentem constrangimento e/ou medo em declarar seus abortamentos nos serviços de saúde, resultando em grande sub- notificação do fenômeno. II. Principais Objetivos da Pesquisa ! Dimensionar o fenômeno do aborto no Brasil e Grandes Regiões, identificando as áreas de maior incidência e os grupos populacionais mais expostos aos riscos de seqüelas e de mortalidade em conseqüência do aborto clandestino. ! Disseminar os dados encontrados para gestores e profissionais de saúde para estimular uma atenção de qualidade às mulheres em situação de abortamento. ! Contribuir para o desenho e a implementação de políticas públicas eficazes e adequadas para reduzir a incidência do aborto inseguro e o impacto para as mulheres, jovens, adolescentes e a sociedade em geral. III. Resultados Principais do Estudo ! Diminuição da incidência do aborto induzido no período pesquisado A incidência do aborto vem diminuindo no período estudado de 1992 a 2005, mas ainda pode ser considerada alta para os padrões de saúde pública, demonstrando que para 3 nascidos vivos existe um aborto induzido. Estimativas da razão de abortos induzidos por 100 nascimentos vivos - Brasil - 1992 a 2005 0% 10% 20% 30% 40% 50% % d e a b o rt o s in d u z id o s p o r n a s c im e n to s v iv o s Brasil 43% 38% 39% 34% 31% 30% 28% 29% 29% 29% 29% 28% 29% 29% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fontes dos dados primários: o número de abortos induzidos foi estimado a partir das internações por aborto registradas pelo Ministério da Saúde Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) e o número de nascimentos estimado pela Taxa Bruta de Natalidade divulgada pelo IBGE. Estimativas do número de abortos induzidos Brasil - 2005 Limite infe rior; 843.394 Ponto médio; 1.054.243 Limite superior; 1.265.091 0 500.000 1.000.000 1.500.000 Brasil Fontes dos dados primários: (SIH/SUS) ! Disparidade regional na incidência do abortamento induzido A distribuição dos riscos de abortamento induzido por Unidades da Federação mostra uma desigualdade marcante, com uma linha de clivagem quase perfeita, onde os Estados das Regiões Sudeste (menos Rio de Janeiro), Sul e Centro-Oeste (menos o Distrito Federal) apresentado taxas inferiores a 20,4 abortamentos/1000 mulheres de 10 a 49 anos. Nos Estados do Norte (menos Rondônia) e Nordeste (menos Rio Grande do Norte e Paraíba) estas taxas são maiores que 21,1/1000 (Estado do Rio de Janeiro) e chegam a mais de 40 abortamentos/1000 mulheres de 10 a 49 anos nos Estados do Acre e Amapá (ver tabela 2 a seguir). Fonte: Ministério da Saúde Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) ! Incidência do aborto induzido em adolescentes no Brasil Também entre as adolescentes de 15 a 19 anos a distribuição geográfica aponta para as Regiões Norte e Nordeste como as que apresentam maiores riscos de aborto induzido, junto com o Distrito Federal e os Estados do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. Apoio:Realização: Saúde Ministério da Saúde ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE DA MULHER Protegendo a saúde das mulheres Promovendo os direitos reprodutivos das mulheres INSTITUTO DE MEDICINA SOCIAL 2007 Participação proporcional das causas de mortalidade materna Brasil Triênio 2002 a 2004 2002 a 2004 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% Branca 20,3% 24,9% 14,2% 19,2% 7,4% 3,8% Preta 29,0% 20,7% 14,4% 12,5% 10,7% 2,7% Parda 25,2% 22,4% 14,3% 16,5% 9,8% 2,0% Edema proteinúr transt hiperts grav part puerp Outras afecções obstétricas NCOP Complicações relac predominant com puerpério Complicações do trabalho de parto e do parto Gravidez que termina em aborto Doença pelo vírus da imunodefic humana [HIV] Riscos relativos de mortalidade materna comparando Preta/branca 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Causas R is c o R e la ti v o Preta/branca 3,0 2,9 2,1 2,1 2,0 1,9 1,7 1,4 1,3 Gravidez que termina em aborto Edema proteinúr transt hiperts grav part Relacionados com a gravidez Relac predominant com puerpério Todas as causas Assist mãe ligados feto cav amniót probl Outras afecções obstétricas NCOP Doença pelo vírus da imunodefic Complicações do trabalho de parto e do parto Riscos relativos de mortalidade materna comparando Preta/branca ! O impacto do aborto na mortalidade materna no período de 2000 a 2004 De 2000 a 2004 ocorreram 697 óbitos em em conseqüência de gravidez que termina em aborto, principalmente em mulheres jovens, de 20 a 29 anos, com 323 óbitos. Este grupo mais jovem perdeu 17.184 anos de vida em conseqüência de óbitos por aborto. ! Desigualdades do impacto do aborto na mortalidade materna em função da raça-etnia Entre as causas de mortalidade materna, as mulheres pretas e pardas estão expostas a uma proporção maior de óbitos por dois grupos que deveriam ser mais facilmente preveníveis, com destaque para: edema, proteinúria e transtornos hipertensivos na gravidez, no parto e no puerpério, e na gravidez que termina em aborto. As estimativas de riscos relativos para estas causas específicas, comparando mulheres pretas com mulheres brancas mostra bem o risco adicional a que estão submetidas as mulheres pretas em todas as causas específicas de mortalidade materna, com aproximadamente o triplo de risco relativo. 10 a 19 anos 119 323 219 36 697 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos Total (10 a 49 anos) grupos de idade óbitos por aborto (2000 a 2004) ! A prática do aborto inseguro, especialmente, evidencia as diferenças sócio-econômicas, culturais, étnico-raciais e regionais diante da mesma ilegalidade do aborto. O aborto é uma das principais causas da mortalidade materna. Nas regiões mais carentes, como o Norte e o Nordeste do Brasil, é grande o índice de mortes decorrentes do aborto inseguro. Segundo Ministério da Saúde (2004), desde o início da década de 90, Salvador tem registrado como causa primeira da mortalidade materna, o aborto inseguro. Comentários finais e recomendações: 1. Após apresentação destes resultados em Congressos, Seminários e reuniões de Ipas, pesquisadores sugeriram que, pode ter havido um aumento na utilização de misoprostol na indução do aborto, reduzindo a freqüência de complicações e conseqüentemente necessitando um número menor de internações, o que poderia explicar esta redução entre 1992 e 2005. Por este motivo, seria recomendável aprofundar em estudos posteriores o impacto do uso do misoprostol na indução e na incidência do aborto no Brasil. 2. O tema do aborto inseguro e o seu impacto na saúde e na vida das mulheres brasileiras vem sendo objeto de análise pelos órgãos do sistema internacional de proteção dos direitos humanos, conforme destacado abaixo: O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em suas Observações Conclusivas sobre o primeiro relatório do Estado brasileiro, analisado no seu 30º período de sessões, entre 05 e 23 de maio de 2003, expressou “preocupação com as altas taxas de mortalidade materna devido a abortos ilegais, particularmente nas regiões ao Norte do país, onde as mulheres têm acesso insuficiente aos equipamentos de saúde pública” (parágrafo 27). E, ainda, recomendouao Estado “que empreenda medidas legislativas e outras, incluindo a revisão de sua legislação atual, a fim de proteger as mulheres dos efeitos de abortos clandestinos e inseguros e assegure que as mulheres não recorram a tais procedimentos prejudiciais”. Solicitou, também que o Estado, em seu próximo relatório periódico, forneça “informações detalhadas, baseadas em dados comparativos, sobre a mortalidade materna e o aborto no Brasil” (parágrafo 51). 3. A criminalização do aborto não reduziu a sua incidência, mas sim tem contribuído para aumentar a sua prática em condição de risco com impactos graves para a saúde e a vida das mulheres. Para retirar o tema da esfera penal, é recomendável o debate sobre a necessária mudança da lei sobre o aborto, entre pesquisadores, defensores dos direitos humanos, sexuais e reprodutivos das mulheres, membros do Executivo, Legislativo e Judiciário. Recomenda-se a busca de soluções eficazes no âmbito da saúde pública, sem interferência de dogmas religiosos, como atribuição do Estado laico e democrático. 4. É necessário também aprofundar, em estudos posteriores, o conhecimento sobre a incidência do aborto por região do país, etnia-raça, e status sócio-econômico para um melhor dimensionamento do fenômeno no Brasil, além do uso dos anticoncepcionais, além de conhecer as causas pelas quais as mulheres recorrem ao aborto em situação de clandestinidade. Page 1 Page 2
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