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ciencia , tecnologia e sociedade

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Prévia do material em texto

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
SOCIEDADE
Caro(a) aluno(a),
A Universidade Candido Mendes (UCAM), tem o interesse contínuo em
proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que
conduzem ao conhecimento.
Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional
para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento
intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm
acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem
cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às
informações necessárias para o exercício de suas variadas funções.
Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo,
totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construto melhor para
os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso.
Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita
dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente
da Universidade Candido Mendes (UCAM).
Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de
suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese
dos saberes.
Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o
equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos!
Atenciosamente,
Setor Pedagógico
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 3 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................3 
 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................5 
 
1. HISTÓRICO DO MOVIMENTO CTS NO BRASIL ............................................................7 
 
2. MUDANÇAS SOCIAIS DECORRENTES DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA E AS 
IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO ............................................................................................21 
2.1 CIÊNCIA E TECNOLOGIA: TRANSFORMANDO A RELAÇÃO DO SER HUMANO 
COM O MUNDO .....................................................................................................................22 
2.2 TECNOLOGIA: SUA ORIGEM E DISSEMINAÇÃO .....................................................27 
2.2 CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: A RELEVÂNCIA DO ENFOQUE CTS 
PARA O CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO .........................................................................36 
 
3. TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) ....................................52 
3.1 TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ESCOLA: 
APRENDIZAGEM E PRODUÇÃO DA ESCRITA ................................................................53 
 
4. TECNOLOGIAS APROPRIADAS & TECNOLOGIAS SOCIAIS ...................................58 
 
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................66 
 
 
 
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APRESENTAÇÃO 
 
 
Caro cursista, 
 
Esse material didático será o alicerce com atividades essenciais para sua formação 
durante o Curso de Especialização. Busque conhecê-lo e explorá-lo de maneira profunda. 
Vale ressaltar que este é um material básico, especialmente preparado para lhe oferecer 
uma visão ampliada do conteúdo da disciplina “Ciência, Tecnologia e Sociedade”. Assim, outras 
fontes deverão ser consultadas a fim de um melhor suporte das ideias aqui contidas e 
aproveitamento do curso. Em hipótese alguma ele deve ser o seu único material de estudo. 
Durante o texto, são colocadas referências para leituras adicionais com as quais será possível o 
aprofundamento, a verticalização e a construção de um olhar diferenciado sobre a temática. 
A reflexão sobre Ciência e Tecnologia e seu contexto na sociedade exige bastante 
dedicação a fim de que conexões sejam estabelecidas entre as diversas áreas do conhecimento 
que estão envolvidas nessa temática tão instigante e atual. 
 
 
 
Boa trajetória de estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Ciência, Tecnologia e Sociedade 
 
A ciência e a tecnologia (C&T) há muito influenciam a sociedade seja no caráter 
político, econômico ou cultural, sobretudo nos últimos séculos. Atualmente, criou-se uma crença 
de que a ciência e a tecnologia direcionam os seres humanos apenas ao progresso e aos 
benefícios, delegando-lhes o poder de salvadoras da humanidade. 
Devemos atentar, no entanto, para o fato de que C&T são construções humanas, e 
consequentemente sociais, portanto não são independentes de interesses políticos, éticos, 
militares e econômicos. De modo que, a ideia de ciência pela ciência, que desconsidera seus 
efeitos e aplicações, já não tem mais espaço nos dias atuais (SANTOS; MORTIMER, 2002). 
Assim, há a necessidade de participação da sociedade na avaliação e tomada de decisões 
sobre as questões científico-tecnológicas, como comenta Pinheiro et al. (2007, p.72): 
Torna-se cada vez mais necessário que a população possa, além de ter acesso às 
informações sobre o desenvolvimento científico-tecnológico, ter também condições de 
avaliar e participar das decisões que venham a atingir o meio onde vive. É necessário 
que a sociedade, em geral, comece a questionar sobre os impactos “da evolução” (grifo 
nosso) e aplicação da ciência e tecnologia sobre seu entorno e consiga perceber que, 
muitas vezes, certas atitudes não atendem à maioria, mas, sim, aos interesses 
dominantes. [...] Precisamos constantemente considerar que somos atores sociais. [...] 
Em suma, podemos ser capazes de avaliar e tomar decisões. 
 
Dessa maneira, a sociedade poderá participar das decisões sobre C&T rompendo com o 
paradigma tecnocrático de que somente especialistas ou autoridades públicas podem opinar sobre 
o assunto. Portanto, “é preciso exigir transparência na transmissão da informação [...] e de meios 
para participar das discussões, bem como igualdade de tratamento de opiniões” (PINHEIRO et 
al., 2007, p.73). Como resultado desse contexto, surge o movimento CTS (Ciência, Tecnologia e 
Sociedade). 
Atentos a essas questões, os currículos de ciências nas últimas décadas começaram a 
incorporar as relações entre ciência, tecnologia e sociedade. Como apontam Santos e Mortimer 
(2002) apud López e Cerezo (1996) “A proposta curricular de CTS corresponderia, portanto, a 
uma integração entre educação científica, tecnológica e social, em que os conteúdos científicos e 
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 6 
tecnológicos são estudados juntamente com a discussão de seus aspectos históricos, éticos, 
políticos e sócio-econômicos”. 
No entanto, no Brasil, ainda há um descompasso entre ciência, tecnologia e sociedade 
que está relacionado em parte às relações políticas-sócioeconômicas que moldaram a história do 
país. Isso irá refletir na elaboração e implantação dos currículos, assim como na capacitação dos 
professores. 
Ao longo desse módulo, essas discussões serão aprofundadas com textos, adaptações de 
artigos e reportagens na seção “Mais um pouco!”, que abordam os assuntos expostos a fim de 
auxiliar na compreensão dos mesmos. Os assuntos estão organizados nas seções Histórico do 
movimento CTS no Brasil, Tecnociência, Mudanças sociais decorrentes da ciência e da 
tecnologia e as implicações na educação, Tecnologia da Informação e Comunicação(TIC) e 
Tecnologias Apropriadas & Tecnologias Sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. HISTÓRICO DO MOVIMENTO CTS NO BRASIL 
 
Motoyama (1985) aponta alguns marcos importantes na história do movimento CTS no 
Brasil, o primeiro marco é a transferência da família real. É a partir desse momento que a C&T 
começa a ganhar espaço no país, embora sob um conceito político-ideológico diferente dos 
países que passaram por um crescimento tecnológico e cientifico próprio. Para a política colonial 
do Brasil, não existia a necessidade de investimento em C&T devido ao caráter agroexportador 
da colônia baseado em um regime escravocrata. Após a chegada da família real, esses 
investimentos se iniciam, porém com um objetivo imediatista de suprir as necessidades primárias 
daquela corte. Assim, surgem algumas instituições como o Colégio de Medicina da Bahia, o 
Museu e a Biblioteca Nacional entre outros. 
Paralelo a isso, a Revolução Cientifica (séculos XVI e XVII) e a Revolução Industrial 
(XVIII) eram disseminadas no cenário internacional, resultando na profissionalização dos 
cientistas no século XIX (MOTOYAMA, 1985). Nesse período, “a monarquia brasileira estava 
satisfeita com a sua condição de país primário-exportador” (MOTOYAMA, 1985) e muitas 
instituições foram criadas para manter uma infraestrutura básica a fim de atender esse cenário 
econômico, não existindo espaço para a pesquisa experimental, fatores que associados ao 
positivismo de Comte ajudou a formar uma cultura retórico-literária (MOTOYAMA, 1985). 
A industrialização em substituição as importações no início do século XX, segundo 
Motoyama (1985) segue o pensamento imediatista, pois favoreceu a importação de técnicos e 
tecnologia estrangeira em detrimento da formação de recursos humanos e pesquisa no país. 
Porém, a efetiva industrialização do Brasil durante o século XX e o panorama político-cultural 
da época estimularam a criação de universidades (Universidade de São Paulo - USP e a 
Universidade de Brasília - UnB), órgãos de fomento (Conselho Nacional de Pesquisas - CNPq) e 
de capacitação profissional (Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - 
CAPES), que começaram a apontar para o desenvolvimento da pesquisa nacional e recursos 
humanos (Motoyama, 1985). 
Durante a década de 20, através dos membros da Academia Brasileira de Ciências 
(ABC) inicia-se uma articulação de uma entidade de fomento ao desenvolvimento científico no 
 
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Brasil. Em 1931 a ABC, entregou formalmente ao presidente, um documento oficial pedindo a 
criação de um Conselho de Pesquisas e em 1936, o então presidente Getulio Vargas enviou uma 
proposta ao Congresso Nacional sobre a criação de um Conselho de Pesquisas Experimentais 
cujo objetivo era incentivar pesquisas para a modernização e o aumento da produção agrícola no 
país. No entanto, a proposta não foi bem recebida pelos parlamentares (CNPq, 2012). 
Em 1946, o Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, representante do Brasil na 
Comissão de Energia Atômica do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas 
(ONU), propôs ao governo, por intermédio da ABC, a criação de um Conselho Nacional de 
Pesquisa. Em maio de 1948, um grupo de cientistas e de amigos da ciência decidiu fundar, no 
Brasil, uma sociedade para o progresso da ciência sem fins lucrativos, voltada para a defesa do 
avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do país. Surge então 
a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) reforçando a necessidade de um 
suporte institucional para desenvolvimento científico nacional. 
Ainda em 1948, um novo projeto de criação do Conselho foi apresentado na Câmara 
dos Deputados, mas só em 1949, foi nomeada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra a comissão 
de avaliação do anteprojeto de lei sobre a criação deste. Em abril do mesmo ano, a Comissão 
elaborou o projeto que resultaria na criação do ansiado Conselho e após inúmeros debates, em 15 
de janeiro de 1951 foi sancionada a Lei nº 1.310 – “Lei Áurea da Pesquisa no Brasil”, criando o 
Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). 
Em meio ao ambiente do pós-guerra, o CNPq surge com objetivo de atender aos anseios 
políticos de participação brasileira nas questões energéticas nucleares junto a ONU 
(MOTOYAMA, 1985). No entanto, o impasse entre os objetivos políticos e da comunidade 
cientifica associada a estrutura econômica do país ocasionaram o insucesso desse projeto. 
Após esse fracasso inicial, o CNPq assumiu a finalidade de promover e estimular o 
desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, mediante a concessão de recursos para 
pesquisas, formação de pesquisadores e técnicos, cooperação com as universidades brasileiras e 
intercâmbio com instituições estrangeiras. Desta forma, centralizava a coordenação da política 
nacional de ciência e tecnologia até a criação do respectivo ministério em 1985. Atualmente, o 
CNPq corresponde ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico cuja 
sigla se manteve. 
 
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Um maior reconhecimento da necessidade de incentivo à Ciência e Tecnologia no 
Brasil, iniciou-se em 1988 com a Constituição da República Federativa do Brasil. Em seu Art. 
218, esta já instituía o Estado como provedor e incentivador do Desenvolvimento Cientifico, da 
Pesquisa e da Capacitação tecnológica. No entanto, só em 1996 com a lei 9.257, foi criado o 
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), órgão de assessoramento do Presidente da 
República para formulação e implementação da política nacional de desenvolvimento científico e 
tecnológico, cujas principais competências eram propor a política de ciência e tecnologia do 
país; planos, metas e prioridades e efetuar avaliações relativas à execução destas. 
Apesar da criação de um Conselho Nacional, pouco se investiu em Ciência e 
Tecnologia no Brasil, até que em 2004 foi criada a lei 10.973, que estabeleceu medidas de 
incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à 
capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do país. 
Essas medidas seguem o que foi postulado por Motoyama (1985), na qual são baseadas no 
paradigma imediatista vigente em alguns países subdesenvolvidos. 
Atualmente, o CNPq, agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), 
tem como principais atribuições fomentar a pesquisa científica e tecnológica e incentivar a 
formação de pesquisadores brasileiros, desempenhando assim um papel primordial na 
formulação e condução das políticas de ciência, tecnologia e inovação no Brasil e no mundo. Sua 
atuação contribui para o desenvolvimento nacional e o reconhecimento das instituições de 
pesquisa e pesquisadores brasileiros pela comunidade científica internacional. 
Com o auxilio do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, vem 
possibilitando a mobilização e articulação dos melhores grupos de pesquisas em áreas 
estratégicas para o desenvolvimento sustentável no país. Tal articulação envolve desde a 
pesquisa científica básica até o desenvolvimento de pesquisas de tecnologias de ponta com 
aplicações para promoção à inovação e ao empreendedorismo articulado com empresas 
inovadoras. 
Dessa forma, tais institutos promovem a competência nacional nas diversas áreas de 
C&T, criando inclusive um ambiente atrativo e estimulante para pesquisadores de diversos 
níveis, contribuindoainda para a melhoria do ensino e difusão da ciência para a comunidade em 
geral. 
 
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Desde o período colonial até o presente, a sociedade atravessou inúmeras 
transformações, desde as sócio-políticas até os mais complexos anseios tecnológicos oriundos da 
expansão industrial e necessidade da mecanização do trabalho. Desde então muitas instituições 
de fomento à pesquisa foram criadas, entretanto o incentivo à pesquisa básica para promoção de 
uma tecnologia e ciência genuinamente nacional ainda deixar a desejar. Assim, incompreensões 
sobre o processo de desenvolvimento cientifico e tecnológico dos representantes legais e, de 
certo modo, da sociedade emperram as engrenagens para a formação e divulgação de 
conhecimento (pesquisa e educação) no país. 
Alguns autores apontam a ausência de um projeto nacional de pesquisa e 
desenvolvimento como o principal fator de desarticulação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade 
ao longo da história do país, como sumarizam claramente Auler e Bazzo (2001, p.12): 
Temos aspectos peculiares ao contexto brasileiro, decorrentes, em grande parte, do 
nosso passado colonial e da nossa posição nas relações econômicas internacionais. A 
longa vigência do modelo agrário-exportador contribuiu para a configuração de um 
pragmatismo/imediatismo, bem como para uma cultura retórico-literária. Além disso, 
no contexto da industrialização, a importação/transferência de tecnologia, sem a 
respectiva transferência de conhecimentos, inviabilizou o desenvolvimento científico-
tecnológico nacional. Tanto no modelo agro-exportador quanto no da industrialização, a 
análise realizada remete à ausência de um projeto de nação. Como conseqüência, não há 
uma articulação dinâmica entre ciência, tecnologia e sociedade. Também, em nossa 
história, convivemos com um Estado predominantemente autoritário, no qual, 
geralmente, o povo brasileiro está alijado de qualquer participação. 
 
 
 MAIS UM POUCO! 
 
O cenário da ciência no Brasil 
Entre dificuldades e avanços, pesquisadores brasileiros têm olhar otimista 
Thais Schneider 
 
Trezentas mil pessoas. Era esse, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia 
(MCT) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o 
número aproximado de pesquisadores no Brasil em 2004. Não existem informações precisas 
sobre qual é essa quantidade hoje, em 2008, mas, entre os acadêmicos, há o consenso de que a 
pesquisa científica brasileira cresceu muito nos últimos anos – e continua crescendo. 
 
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De acordo com Ney Mattoso, pesquisador da UFPR na área de Física, o Brasil 
representa, atualmente, 2% da produção científica mundial – o que é um grande avanço frente 
aos 0,5% da década de 80. Tal crescimento é atribuído, principalmente, à criação de instituições 
de fomento, como o CNPq, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível 
Superior), a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e o Ministério da Ciência e Tecnologia. 
Os recursos provenientes desses e de outros órgãos – como a Fundação Araucária, no caso do 
Paraná – são responsáveis pelo financiamento de boa parte dos projetos desenvolvidos no país. 
 
Cada área uma sentença 
“Mas o estágio de desenvolvimento nas diferentes áreas do conhecimento é muito 
heterogêneo”, aponta Mattoso. 
Enquanto as Ciências Biológicas e Exatas já desenvolvem pesquisas de ponta, as 
Ciências Humanas, por sua vez, recebem recursos relativamente menores e têm menos 
reconhecimento se comparadas aos demais campos. É o que afirma Geraldo Pieroni, 
coordenador de Pesquisa na área de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do 
Paraná. 
“As pesquisas de Biológicas e Exatas têm um retorno mais visível, mais palpável para a 
sociedade, e são, portanto, mais incentivadas”, diz Pieroni. Segundo ele, mesmo que as Ciências 
Humanas tenham se desenvolvido muito nos últimos 20 anos, não possuem a mesma projeção 
social dos outros campos. “Apesar de serem, em geral, pesquisas menos dispendiosas, há menor 
interesse em investir na área, que ainda é vista como muito teórica”, explica. Para Maria Luiza 
Petzl-Erler, coordenadora do curso de Pós-Graduação em Genética da UFPR e pesquisadora pelo 
CNPq, a questão também se refere a uma tradição acadêmica. “As áreas de Biológicas e Exatas 
já têm uma cultura de pesquisa bem estabelecida; a de Humanas vem crescendo nesse aspecto”, 
diz. 
 
As dificuldades nossas de cada dia 
A produção científica no Brasil como um todo ainda é permeada de obstáculos. Apesar 
do estabelecimento dos citados órgãos de financiamento, a verba disponível é insuficiente. 
“Muitos projetos bons são apresentados e têm seu crédito reconhecido, mas não podem ser 
 
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contemplados por falta de recursos”, conta Maria Luiza. Para Mattoso, o problema não é só com 
a liberação do dinheiro, mas também com a sua descontinuidade. Pieroni aponta que, no caso das 
universidades privadas, o financiamento fica muito dependente do orçamento disponibilizado 
pela própria instituição, que também é, muitas vezes, escasso. “É mais difícil conseguir apoio 
externo para pesquisar nas instituições privadas”, complementa. 
Berenice Jordão, diretora científica da Fundação Araucária, acrescenta a dificuldade de 
estabelecimento do profissional pesquisador como um entrave no cenário da pesquisa nacional. 
“Não há um crescimento no mercado de trabalho para pesquisadores”, diz. Ela lembra que o 
cientista brasileiro não se dedica somente à pesquisa, pois frequentemente acumula outras 
funções, como a de professor, e é responsável pela parte burocrática dos projetos. “Chegamos a 
despender 80% do nosso tempo com atividades que não são pesquisa propriamente dita”, estima 
Maria Luiza. A falta de estrutura humana, como secretários e técnicos administrativos, é outra 
entre as dificuldades. “Creio que se tivéssemos equipes completas trabalhando nos projetos, 
poderíamos ser muito mais eficientes”, opina. 
 
Visibilidade 
Mesmo com esses obstáculos, o crescimento da pesquisa no país é visível, e o Paraná 
também reflete isso. Só na UFPR – e considerando apenas a produção internacional –, o aumento 
foi 293% em 10 anos, entre 1996 e 2006. Cabe aqui uma ressalva: os indicadores usados para 
qualificar a produção científica têm base, principalmente, no número de publicações e no alcance 
dos veículos onde elas são feitas. Os próprios pesquisadores, porém, não consideram esses 
índices suficientes para retratar a realidade. 
Para Berenice Jordão, falta interação da grande população, que e é quem sustenta a 
pesquisa através de impostos, com o meio científico. Mas, em geral, é unanimidade que, para 
maior reconhecimento da produção científica nacional, o país precisa se desenvolver também. 
Dessa maneira, será possível aumentar os recursos à disposição, facilitar o acesso de mais 
pessoas à linguagem científica, ter maior número de pesquisadores e fazer com que o brasileiro – 
e não só a comunidade acadêmica internacional – tenha condições de reconhecer a produção do 
país. 
Ciência & Tecnologia, publicado em: 01/04/08. 
 
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Tecnociência 
Roger Andrade Dutra 
 
Tecnociência é um termo recente na história humana e comumente é empregado para 
designar a visão interdisciplinar aos estudos de Ciência e Tecnologia, atribuindo a estes um 
carátersocial (LELOUP, 2007). A literatura menciona o surgimento do tema a partir de 1970 
quando Gilbert Hottois o empregou pela primeira vez. No entanto, após mais de 40 anos do 
surgimento do assunto, ainda não se tem um conceito universal sobre o mesmo. 
A falta de um limite conceitual entre o que é ciência e o que é tecnologia vem causando 
divergências na comunidade cientifica sobre o tema e assim muitas opiniões e projeções vêm 
sendo formuladas e difundidas ao longo dos anos. Vejamos algumas dessas perspectivas nos 
artigos abaixo: 
 
Tecnociências e o conceito de sistema institucionalizado de produção de conhecimento (SIPC) 
 
As estreitas relações entre ciências, técnicas e tecnologias sempre foram objeto de 
debates epistemológicos, frequentemente centrados em estabelecer distinções adequadas que 
apontassem quais eram os sólidos limites que as separavam. Essa dificuldade para definir 
claramente o que são as ciências, as técnicas e as tecnologias sempre pôde ser percebida também 
na terminologia empregada pelos vários autores. Por isso, logo surgiram os compostos científico-
técnico e técnico-científico. Estes, desde o fim da década de 1970, ganharam a companhia da 
forma fundida tecnociência – termo provavelmente cunhado por Gilbert Hottois (Leloup, 2007) e 
cujo emprego generalizou-se muito rapidamente. 
Aqui, apontamos alguns temas que, a serem considerados em profundidade, podem 
contribuir precisar melhor o sentido de tecnociência, conferindo a ele um significado 
historicamente contextualizado ao momento no qual o seu emprego torna-se 
indiscriminadamente disseminado. 
Mais de uma vez na história do conhecimento, a distinção entre ciências (ou raciocínio 
teorético equivalente) e técnicas esteve em questão. Desde que foi enunciado pela primeira vez, 
tecnociência encontrou muita receptividade, rapidamente adotado na crítica social das ciências. 
 
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Era como um novo e poderoso conceito, que parecia ser capaz de exprimir precisa e 
sinteticamente a situação do desenvolvimento associado das ciências e tecnologias. 
No entanto, essa precisão não parece ser tão inquestionável, e o emprego de 
tecnociência passa a ser referido de tantas formas para inúmeras situações nas quais o estudo das 
ciências e das técnicas está em questão, que seu rigor semântico, se é que houve mesmo algum, 
perdeu-se quase completamente. 
 De fato, se com o uso de tecnociência queremos exprimir toda a produção científica e 
tecnológica, somos outra vez remetidos a todo o pregresso conjunto de debates a respeito do 
caráter epistêmico das ciências e das técnicas. Se relegarmos ao segundo plano as mudanças nos 
processos de produção de conhecimento que provocaram seu surgimento, corremos o risco de 
perder sua especificidade contextual 
Essa constatação não parece ser totalmente arbitrária se atentarmos para o fato de que as 
duas formas compostas iniciais – científico-técnico e técnico-científico – não deram origem a 
dois vocábulos fundidos diferenciados, mas potencialmente equivalentes: por isso, em lugar 
algum, se fala de cientotécnica. Relacionada à prevalência esperada das ciências sobre as 
técnicas, tecnociência parece carregar um conteúdo denuncista, que expõe como impostura 
qualquer forma de preeminência das tecnologias sobre as ciências. 
Por outro lado, a afirmação de uma suposta superioridade do raciocínio e, mais tarde, do 
raciocínio científico, sobre a ação técnica, irá também contribuir para uma espécie de 
hierarquização da ação humana, conferindo primazia ao intelecto e remetendo o objeto técnico à 
condição inferior de instrumento ou ferramenta (GALIMBERTI, 2006). 
Poucas coisas são tão distantes da realidade como a figura estereotipada do cientista em 
relação à sua inserção em sistemas institucionalizados de produção de conhecimento. Assim 
também ocorre com a imagem da ciência sendo construída inteiramente pela dedicação pessoal 
do cientista e seu sucesso sendo o resultado exclusivo do gênio individual. O estereótipo, que 
representa o cientista em trabalho isolado, em busca da prova de uma tese ou de uma 
“descoberta” não irá encontrar correspondência, e na verdade é inconciliável, com a organização 
institucional das ciências. Seja o cientista apenas um “resolvedor de puzzles”, no âmbito 
limitador de um paradigma, ou um trabalhador incansável que manipula o campo aberto de 
 
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possibilidades próprio das pesquisas (Martins, 1996), o fato é que, para isso, o moderno modelo 
de produção de conhecimento exige a presença de condições institucionais apropriadas. 
Estas refletem a necessidade de constituição de uma infraestrutura para a atividade 
científica, de modo algum dadas ou preexistentes. É a esse processo – e ao seu resultado – que 
chamamos de construção do Sistema Institucionalizado de Produção de Conhecimento (SIPC). 
O reconhecimento dessa história é importante na medida em que permite entender duas 
coisas. Uma, a necessidade de uma ação voltada à perpetuação da disponibilização de recursos 
para as atividades de pesquisa e desenvolvimento. A dinâmica dessa ação é ditada pelas 
necessidades de responder, em tempo hábil, às mudanças que ocorrem simultaneamente nos 
campos de pesquisas e nas demais esferas das sociedades com as quais os cientistas se 
relacionam. 
A outra, que esta organização não entende recursos exclusivamente como 
disponibilidade de ativos financeiros. Em jogo sempre estarão outros bens sociais, simbólicos e 
materiais, como os educacionais ou os estruturais e administrativos. A natureza política da ação 
sociotécnica complica-se ainda mais quando as grandes corporações começaram a integrar a 
pesquisa e a inovação às suas estruturas produtivas. Dada a dificuldade em descasar, 
adequadamente, objetivos estritamente rentistas do que podem ser interesses sociais e 
comunitários, sem que para isso se questione a própria realização das pesquisas, é necessário 
manter sempre exposta essa relação indissociada (HOLLAND, 2006). 
O conceito tecnociência está em aberto, objeto de diversas abordagens. Em uma das 
mais referidas (LATOUR, 2000), seu autor propõe algumas características definidoras das 
tecnociências: a) teriam caráter majoritariamente militar, porque são eles os administradores da 
maior parcela dos recursos destinados à pesquisa; b) ainda sob o critério do volume de recursos, 
seriam tecnocientíficas também as pesquisas da área da saúde; e, finalmente, c) reconhece-se 
nelas uma fortíssima estratificação geopolítica. 
Por empreendimento majoritariamente militar, será designada toda a pesquisa 
financiada com verba daquela origem, o que cobre de armamento a alimentação, de logística e 
treinamento a desenvolvimento de novos materiais etc. 
Na área da saúde, trata-se das pesquisas empreendidas em torno dos problemas de saúde 
e doença, dos novos fármacos e de protocolos de tratamento etc. Não seria demais lembrar as 
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 16 
afinidades e as confluências realmente existentes entre os interesses militares e as pesquisas da 
área da saúde (Davidson, 2007). 
Por estratificação ele designa tanto a assimetria no financiamento, causada pela 
existência de pesquisas tidas como “mais interessantes” – que provocam mais ou menos 
controvérsia entre os pares –, como aquela verificada entre os países e a quantidade de recursos 
que cada um deles destina à pesquisa. Por exclusão, seus critérios geopolíticos encontrarão as 
tecnociências nos países ricos e desenvolvidos e, dentro destes, em áreasdiferencialmente 
privilegiadas – ou por serem pesquisas na área da saúde ou por serem potencialmente associáveis 
a interesses militares. 
Mas essa noção não permite compreender totalmente como emergem as relações sociais 
que dão sustentação à produção do conhecimento tecnocientífico, e às quais se ligam, embora de 
maneira quase marginal, áreas de conhecimento não-tecnológicas ou de baixíssima lucratividade. 
Também dificulta entender como e porque existem SIPCs, mesmo incipientes, em países em 
desenvolvimento, como é o caso do Brasil. 
Nesse sentido, o conceito de Sistema Institucionalizado de Produção de Conhecimento, 
e a pesquisa histórica sobre as estratégias para sua constituição, auxiliam a melhor entender – e 
realizar o trabalho da crítica – se e como é possível produzir tecnociência mesmo estando fora 
dos circuitos de financiamento mais abastados. 
 
Artigo adaptado do II Simpósio Nacional Tecnologia e Sociedade, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A tecnociência e o processo de empresarialização da atividade científica: uma revisão teórica 
Leonardo de Lucas da Silva Domingues 
 
Vive-se, na atualidade, não só uma época de mudanças, mas uma mudança de época, 
tendo em vista a profundidade e a velocidade com que as alterações acontecem. As mutações do 
sistema capitalista – na produção material, na expansão do sistema e na organização da 
acumulação – estão cada vez mais associadas ao desenvolvimento científico-tecnológico de uma 
determinada sociedade. 
Nos últimos decênios do século XX, o processo de vinculação estreita entre ciência e 
tecnologia adquire a forma de tecnociência, como modificação da estrutura da atividade 
científica, centralizando-a na produção de inovação tecnológica (competição pela supremacia 
econômica). Nesse processo, as finalidades da tecnociência estão intimamente ligadas ao 
mercado. 
As mudanças que deram origem a esse movimento representam alterações não só nas 
relações entre a produção científica e a sociedade, mas, também, na organização e na interação 
da prática científica (ECHEVERRÍA, 2003a, 2003b). Esse é o traço distintivo e que representa a 
expansão da tecnociência nos meios acadêmicos e científicos atuais. Trata-se, em outras 
palavras, da empresarialização da atividade científica. Os pesquisadores, de acordo com esse 
ponto de vista, incorporam à sua prática os valores e a cultura que caracterizam o mundo 
empresarial. 
O termo tecnociência ganhou espaço significativo no meio acadêmico, incorporando-se, 
principalmente, ao linguajar dos pesquisadores de ciência e tecnologia das áreas das ciências 
humanas. Geralmente, credita-se a autoria do termo a Bruno Latour, numa tentativa inicial de 
evitar a “repetição interminável de ‘ciência e tecnologia’” (LATOUR, 2000). Mas há também 
quem diga que sua origem está ligada a Gilbert Hottois (CASTELFRANCHI, 2008; LELOUP, 
2007). Além dessa imprecisão, a ideia sobre o que a expressão representa é passível de muitas 
interpretações. 
De modo geral, um aspecto é compartilhado: há um estreitamento, ainda que não seja a 
principal característica desse processo, nas relações entre ciência e tecnologia. A divisão tão 
precisa estabelecida outrora entre até que ponto vai uma e onde começa a outra parece hoje cada 
 
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vez mais desnecessária e difusa. Além disso, esse movimento de entrelaçamento entre os campos 
acontece a uma velocidade vertiginosa, sem limites e sem rumo fixo. Tal fato acarreta, segundo 
alguns autores, rompimento de barreiras éticas e morais que até então orientavam a vida social 
(CARVALHO, 2000; SANTOS, 2003; SOUZA, 2004). 
Ao mesmo tempo, há uma vinculação entre a ideia de tecnociência e o atual estágio de 
desenvolvimento técnico-científico, especificamente no que diz respeito a algumas práticas e 
áreas do conhecimento como informática e biotecnologia, e que envolvem temas como 
clonagem, transgênicos, inteligência artificial, entre outros. 
Essas práticas e áreas seriam a ilustração concreta das mudanças operadas na produção 
científica e em sua relação com a sociedade (SANTOS, 2003). 
A tecnociência também está em estreita relação com o militarismo da sociedade, 
observado principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e em regiões 
da Europa. Boa parte dos investimentos nas áreas consideradas de ponta e em setores 
estratégicos para o desenvolvimento de um país, atualmente, possui fins bélicos. 
Na tecnociência, a utilização da informática em sua prática é fundamental. Tal uso 
permite simular e representar diversos tipos de ações (os efeitos de uma bomba, o movimento de 
aviões ou mísseis no espaço aéreo, por exemplo) e também possibilita prever comportamentos de 
máquinas, seres biológicos ou sistemas físicos, entre outros (ECHEVERRÍA, 2003B; SANTOS, 
2003). 
Seguindo na mesma linha, à tecnociência é destinado peso significativo em assuntos que 
envolvem as consequências e os riscos dessa prática: o aquecimento global, a degradação 
ambiental (esgotamento dos recursos naturais), a propagação de doenças contagiosas pelo 
planeta, o aumento da violência, a intensificação das desigualdades sociais, entre outros 
problemas (DUPAS, 2001; GARCIA, MARTINS, 2009). 
Apesar de algumas visões, como as destacadas anteriormente, demonstrarem um olhar 
mais negativo acerca desse processo, muitos autores destacam outros fatores que podem ser 
melhor explorados para direcionarem a tecnociência numa perspectiva de desenvolvimento 
social mais adequado aos problemas atuais: a pluralidade de valores que envolvem a sua prática 
(ECHEVERRÍA, 2003b) e o envolvimento (participação) de outros atores para além dos meios 
científicos e Tecnológicos (OLIVEIRA, 2006; YANARICO, 2005). 
 
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A tecnociência, portanto, tem sido objeto de teorizações e de análises segundo várias 
ópticas. No entanto, a tendência, destacada por Latour (2000), de anular todo tipo de ciência e 
todo tipo de tecnologia e de, por conseguinte, dizer que tudo se tornou tecnociência mostra-se 
equivocada. 
Aqui cabe ressaltar a crítica de Echeverría a Latour, que explicita que essas reflexões 
conduzem a imprecisões entre as áreas e entre as relações históricas que as acompanham. Além 
disso, é preciso, segundo o autor, ir além da constatação de que as questões sociais influenciam a 
prática nos laboratórios. 
Echeverría (2003b) ainda complementa que a vinculação crescente entre atividades 
científicas e tecnológicas é uma realidade. Todavia, não se pode esquecer que, mesmo assim, 
ainda continua havendo âmbitos científicos e tecnológicos em que esse processo não se 
engendra. O autor faz duas ressalvas sobre a avaliação desse fenômeno: a) não se trata de 
estabelecer uma noção de tecnociência (nem de investigar sua essência), senão de assinalar 
traços distintivos e características desse processo; e b) tratar de tecnociência não implica deixar 
de falar de ciência, tecnologia ou outras áreas. 
A tecnociência, para Echeverría (2003b), ganha corpo, principalmente, por meio de uma 
mudança na estrutura da atividade científica e não se manifesta como uma revolução 
metodológica ou epistemológica, senão como modificação da maneira como se pratica a 
investigação e se gerencia o conhecimento. Para o autor, a tecnociência é: 
[...] um sistema de ações eficientes baseadas em conhecimento científico que 
transformam o mundo, se encontram desenvolvidas tecnológica e industrialmente, e já 
não incidem sobre a natureza, mas que também se orientampara a sociedade e para os 
seres humanos, sem se limitarem a descrever, explicar, predizer ou compreender o 
mundo, mas tendendo a transformá-lo baseando-se numa série de valores satisfeitos, em 
maior ou menor grau, pela atividade tecnocientífica e pelos seus resultados; entre tais 
valores, a verdade e a verossimilhança não ocupam o lugar central, embora continuem a 
ter um peso específico considerável. [...] Sendo a tecnociência um fator relevante de 
inovação e de desenvolvimento econômico, passa a ser um dos poderes dominantes nas 
sociedades mais avançadas [...] o conhecimento e a prática tecnocientífica tendem a 
privatizar-se, e até mesmo tornar-se secretos (Echeverría 2003b,p.21). 
 
A tecnociência é um instrumento de domínio [...] das sociedades, revelando-se muito 
útil para determinados grupos sociais transnacionais, em princípio não estatais, que obtêm 
através dela ganhos (Echeverría, 2003a). 
 
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Para Echeverría (2003b), esse processo empreendido nas últimas décadas também 
implicou mudança no núcleo da organização do que se concebeu teoricamente como comunidade 
científica. A noção de comunidades científicas e seu terreno explicativo não apreendem as 
mudanças recentes da prática científica. De acordo com essa indicação, o autor conceitua as 
entidades que participam da produção da tecnociência como sendo empresas tecnocientíficas. 
Dentro do conceito de empresas tecnocientíficas, os membros que delas participam 
partilham menos do que os membros pertencentes às visões das comunidades científicas: não 
partilham as mesmas linguagens, os mesmos valores e nem os mesmos objetivos 
(ECHEVERRÍA, 2003b). 
O conflito de valores é visto como inerente à atividade tecnocientífica, não se manifesta 
somente em momentos de crise e de revolução. Também podem existir paradigmas opostos, 
desde que tal fato tenha o objetivo de acrescentar algo ao fim almejado: a inovação vinculada ao 
mercado, por exemplo. 
O conhecimento científico e as inovações tecnológicas geradas nesses ambientes 
tornam-se confidenciais e secretos, o que acaba rompendo com um dos preceitos básicos da 
ciência moderna: a publicidade do conhecimento. A população sabe muito pouco do que 
acontece na vanguarda da tecnociência, apesar de sentir seus efeitos no cotidiano de suas 
relações. Isso provoca uma relação de conflito entre os dois âmbitos. 
Portanto, a tecnociência envolve, principalmente, um processo de transformação das 
noções clássicas que são normalmente associadas, em diversos planos e não só no senso comum, 
aos cientistas e pesquisadores. 
Verifica-se, atualmente, no centro e na periferia do sistema, uma demanda crescente por 
um pesquisador que esteja intimamente relacionado com tudo que envolva o mercado. Nesse 
sentido, o cientista precisa desenvolver habilidades e competências próprias do universo dos 
negócios. O empreendedorismo torna-se, em conjunto com uma série de outras ações, a forma de 
conhecimento e de desenvolvimento dessas capacidades empresariais, encontrando nos meios 
acadêmicos um terreno fértil para a expansão de sua visão de mundo. Busca-se a figura do 
empreendedor de sucesso, aquele que é arrojado e criativo, que assume riscos e toma iniciativas, 
que tem qualidades de liderança. 
Artigo adaptado da Revista Espaço Acadêmico, 2012. 
 
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2. MUDANÇAS SOCIAIS DECORRENTES DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA E AS 
IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao longo da história, observamos que os interesses políticos e econômicos 
controlam/direcionam a ciência e a tecnologia resultando em mudanças benéficas ou não para a 
sociedade. Assim, a ciência e a tecnologia não podem ser entendidas fora do contexto político e 
econômico ao qual estão inseridas. 
A sociedade contemporânea está sob a égide do capitalismo, nesse contexto a ciência e 
a tecnologia são tidas como instrumentos de dominação e controle que ajudam a “perpetuar as 
vinculações sociais no campo das forças produtivas” (Silveira & Bazzo apud Bastos 1998). A 
fim de reverter esse quadro de exclusão e promover mudanças em benefício de toda a sociedade, 
faz-se necessário a promoção de uma educação científica e tecnológica para a população, criando 
condições para que as pessoas possam avaliar e participar das decisões que venham a atingir o 
meio onde vivem (Pinheiro et al. 2007), como veremos nos artigos abaixo. 
 
 
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Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 22 
2.1 CIÊNCIA E TECNOLOGIA: TRANSFORMANDO A RELAÇÃO DO SER HUMANO 
COM O MUNDO 
 
Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira & Walter Antonio Bazzo 
 
Após a Segunda Guerra Mundial a imagem da ciência e da tecnologia passou a sofrer 
modificações. Inicialmente o desenvolvimento tecnológico foi valorizado positivamente por ser 
considerado a alavanca do progresso e bem-estar social. As políticas públicas eram basicamente 
políticas de promoção, de maneira que no modelo linear de desenvolvimento tecnológico que se 
estabelecia, não havia lugar para as consequências negativas da mudança tecnológica. 
A ciência ao longo dos anos vem ganhando importância. Embora ela exista desde os 
primórdios da civilização, a ciência não era essencial para qualquer finalidade técnica até o 
século XVI, quando se tornou indispensável à navegação. Entretanto, continuou não tendo 
muitas aplicações até o século XIX, quando então se tornou necessária, à química e à engenharia. 
O avanço científico e tecnológico possibilitou a Revolução Industrial. Porém, Bernal 
(1969) afirma que, a maquinaria da Revolução Industrial não foi um simples presente dos 
inventores, ela ocorreu porque havia disponibilidade de capital e de mão-de-obra. As 
oportunidades que o mercado oferecia para a obtenção dos lucros fizeram com que o 
desenvolvimento científico-tecnológico ocorresse em grande velocidade. A criação de novo 
processo, nova máquina, ou novo princípio científico proporcionou uma modificação nas 
condições de produção e novas oportunidades de transformação econômica. 
Carvalho (1997) comenta que, a partir da Revolução Industrial os conhecimentos 
tecnológicos e a estrutura social foram modificados de forma acelerada. Porém, foi a partir da 
segunda metade do século XX que a humanidade mais acumulou conhecimentos e mais acelerou 
o processo de transformações sociais. Com isso, surgiram novos problemas inexistentes 
anteriormente como as transformações na forma de propriedade da terra. Muitos camponeses 
destituídos dos meios de produção foram expulsos do meio rural e migraram para a cidade em 
busca de trabalho na indústria. Isso fez com que as cidades crescessem desordenadamente 
gerando problemas cruciais como: habitação, saúde, educação, saneamento, entre outros. 
Também, o aumento do número de trabalhadores desempregados fez baixar o valor da força de 
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 23 
trabalho e pressionou os trabalhadores empregados a manter, sob relativo controle, suas 
reivindicações por melhores salários e melhores condições de trabalho. 
Diante disso, Carvalho (1997) utilizando as palavras de Marx (1975) afirma: “uma 
característica que marca o capitalismo desde o início é a oposição entre pobreza de um lado e 
riqueza de outro, isto é, à medida que a acumulação de capital se realiza cada vez mais 
plenamente, cresce também a populaçãoque não tem acesso a esta riqueza”. 
Isso fez com que a sociedade se visse diante das incertezas com relação a valores, 
padrões e modelos de comportamento que hoje são considerados superados, e Geertz apud 
Carvalho (1997) argumenta que, a cultura (regras, padrões, planos, receitas, modelos, etc.) que 
regula e orienta os comportamentos dos seres humanos em sociedade, não acompanha a 
aceleração das mudanças tecnológicas atuais que cada vez mais cria novas necessidades aos 
seres humanos, tornando-se um processo irreversível, já que, apesar de grande parte da 
população não ter acesso aos benefícios de seu desenvolvimento, não se pode deixar de 
considerar que o progresso tecnológico possibilita uma vida mais fácil e confortável. 
Carvalho (1997) ainda acrescenta: “Esta é uma das razões do ‘sucesso’ do capitalismo 
que vem transformando definitivamente a vida humana sobre a face da Terra, criando novas 
relações sociais e culturais e associados a elas, novos atores sociais que passarão a viver 
contradições específicas de uma sociedade de classes”. Entretanto, a autora lembra que não foi 
toda a humanidade que se incorporou ao sistema capitalista. Existem povos de diferentes partes 
do planeta que seguiram outro caminho histórico, de forma que a sociedade mercantil capitalista, 
com base no desenvolvimento tecnológico, não é a única possibilidade de organização social 
criada pela superação, como já aconteceu no passado com outras formações sociais. Entretanto, 
não se pode negar que o desenvolvimento tecnológico é um processo irreversível para as pessoas 
que o vivenciam. 
 
A Visão Tradicional da Ciência 
A ciência tem recebido várias definições, mas uma das mais aceitas pela comunidade 
científica é a proposta pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a 
Ciência e a Cultura) que declara: “a ciência é o conjunto de conhecimentos organizado sobre os 
 
Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 24 
mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos através do estudo objetivo dos 
fenômenos empíricos” 
Tradicionalmente, a ciência é vista como um empreendimento autônomo, objetivo e 
neutro baseado na aplicação de um código de racionalidade alheio a qualquer tipo de 
interferência externa. Segundo Bazzo et al. (2003), nessa concepção o que garante a 
cientificidade é o “método científico”, ou seja, é o procedimento regulamentado para avaliar a 
aceitabilidade de enunciados gerais baseados no seu apoio empírico e, adicionalmente, na sua 
consistência com a teoria da qual devem formar parte. Uma qualificação particular da equação 
“lógica + experiência” deveria proporcionar a estrutura final do “método científico”. 
O desenvolvimento científico é concebido como um processo regulado por um rígido 
código de racionalidade autônomo em relação a condicionantes externos, tais como: sociais, 
políticos, psicológicos, entre outros, em que, nas situações de incertezas, apela-se para algum 
critério metafísico objetivo, valorizando a simplicidade, o poder preditivo, da fertilidade teórica e 
do poder explicativo sendo o desenvolvimento temporal do conhecimento científico visto como 
avanço linear e cumulativo, como paradigma de progresso humano. 
Enfim, podemos dizer que a concepção positivista da ciência, defendida por Popper, 
trata a ciência como se ela fosse neutra, totalmente destituída de qualquer ação humana, de 
maneira que o observável independe das impressões sensíveis, das expectativas, dos preconceitos 
e do estado interno geral do observador. Entretanto, Japiassu (1981) questiona a neutralidade 
científica levantando a seguinte questão: qual ciência, em suas pesquisas, deixa de fazer apelo a 
certos valores e a certas normas éticas? O autor acrescenta, “ela faz apelo, pelo menos, à norma 
ética segundo a qual todo conhecimento deve ser objetivo”. (grifo do autor). 
Contrário a essa linha de pensamento, a partir de Kuhn a filosofia toma consciência da 
importância da dimensão social e do enraizamento histórico da ciência, ao mesmo tempo em que 
inaugura um estilo interdisciplinar que tende a dissolver as fronteiras clássicas entre as 
especialidades acadêmicas. 
Para Bazzo et al. (2003), a superação do positivismo lógico teve influência marcante de 
Thomas S. Kuhn. Segundo Kuhn (1989) para se saber o que é ciência seria necessário ajustar a 
caracterização dos seus aspectos dinâmicos, de um estudo disciplinar da história da ciência real, 
o que se constituiu uma autêntica revolução na forma de abordar o problema. O autor ainda 
 
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considerou que o progresso científico ocorre mediante saltos e não numa linha contínua, uma vez 
que a ciência tem períodos estáveis ao qual denominou de ciência normal
 
e períodos de 
revoluções científicas
 
com aparecimento de paradigmas alternativos. 
Portanto, a partir de Kuhn, é a comunidade científica que marca os critérios para julgar 
e decidir sobre a aceitabilidade das teorias e não a realidade empírica. Conceitos como ‘busca da 
verdade’ e ‘método científico’ passaram então a ser substituídos por conceitos como 
‘comunidade’ e ‘tradição’. Bazzo et al. (2003, p.22) complementam que uma das principais 
abordagens de Kuhn foi: 
de que a análise racionalista da ciência proposta pelo positivismo lógico é insuficiente, e 
que é necessário apelar para a dimensão social da ciência para explicar a produção, 
manutenção e mudança das teorias científicas. Portanto, a partir de Kuhn impõe-se a 
necessidade de um marco conceitual enriquecido e interdisciplinar para responder às 
questões traçadas tradicionalmente de um modo independente pela filosofia, pela 
história e pela sociologia da ciência. A obra de Kuhn dá lugar a uma tomada de 
consciência sobre a dimensão social e o enraizamento histórico da ciência, ao mesmo 
tempo em que inaugura o estilo interdisciplinar que tende a dissipar as fronteiras 
clássicas entre as especialidades acadêmicas, preparando o terreno para os estudos 
sociais da ciência. 
Nesse contexto, Japiassu (1981) contribui dizendo que a fim de estabelecer um novo 
fundamento epistemológico para a ciência, vem sendo realizado tentativas de reconhecer a 
dimensão social da prática científica e da necessidade dos cientistas tomarem consciência dessa 
dimensão, de forma que se desenvolva uma “epistemologia crítica”, cujo objetivo fundamental 
seria “uma atitude reflexiva sobre os projetos de pesquisas científicas, tendo em vista a 
descoberta, a análise e a crítica das diferentes consequências funestas ao homem e a natureza 
gerada pela tecnologia em curso”. 
No âmbito dos estudos sociais da ciência, Bazzo et al. (2003) colocam que autores 
como B. Barnes, H. Collins e Bruno Latour passaram a usar a sociologia do conhecimento para 
apresentar uma visão geral da atividade científica como mais um processo social, regulado 
basicamente por fatores de natureza não epistêmica, os quais teriam relação com pressões 
econômicas, expectativas profissionais ou interesses sociais específicos. 
A própria filosofia tem manifestado um crescente interesse pelo contexto. Produz-se 
assim uma mudança de ênfase nos detalhes das práticas científicas particulares, ressaltando a 
heterogeneidade das culturas científicas em contraposição ao tradicional projeto reducionista do 
Positivismo Lógico. 
 
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Ravetz (1971) apud Menéndez (2004) contribui 
ao afirmar que a ciência tradicional, a ciência acadêmica, 
preocupava-se basicamente em conceber teorias 
verdadeiras seguindo as diretrizes marcadas, porexemplo, pelo método científico. Mas isso começou a se 
modificar depois da Segunda Guerra Mundial, devido ao 
processo de industrialização da ciência e a criação de 
projetos de investigação e desenvolvimento em grande 
escala, como por exemplo, o Projeto Manhattan para 
construir a bomba atômica, os programas espaciais, a engenharia genética, a realidade virtual, 
etc. Construía-se uma nova ciência que, segundo Echeverria (2001), era frequentemente 
denominada tecnociência ou Big Science, a qual requeria grandes equipamentos e vultuosos 
recursos econômicos para ser desenvolvida. 
Sobre a big science, Morin (1996) fala que ela desenvolveu influentes poderes, contudo, 
os cientistas perderam sua autoridade, que ficaram concentrados nas mãos dos dirigentes de 
empresas e das autoridades do estado que financia a pesquisa científica, havendo uma 
extraordinária relação entre pesquisa e poder. O autor ainda acrescenta que é preciso pensar que 
“a big science leva a um saber anônimo que não é mais feito para obedecer à função que foi a do 
saber durante toda história da humanidade, a de ser incorporado nas consciências, nas mentes e 
nas vidas humanas”. 
O novo saber científico é feito para ser depositado nos bancos de dados e para ser usado 
com os meios e segundo as decisões das potências, ou seja, os cientistas não podem mais 
controlar e verificar todo saber produzido atualmente. Além disso, as pesquisas estão nas 
instituições tecnoburocráticas da sociedade. Por isso, a administração tecnoburocrática junto com 
a hiperespecialização do trabalho produz a irresponsabilidade generalizada. Dessa forma, 
podemos dizer que estamos vivendo num período em que a separação dos problemas éticos e 
científicos pode comprometer a vida se perdermos de vista o caráter humano do 
desenvolvimento científico-tecnológico. 
Fazendo analogia a Kuhn, o qual afirma que no período de ciência normal o que 
predomina é um “paradigma científico”, Dosi apud Reis (2004, p.70,71), propôs o conceito de 
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Este módulo deverá ser utilizado apenas como base para estudos. Os créditos da autoria dos conteúdos aqui apresentados são dados aos seus respectivos autores. 27 
“paradigma tecnológico” como, “um padrão de solução de problemas tecno-econômicos 
selecionado, baseado em princípios altamente selecionados derivados das ciências naturais, 
orientados para a aquisição de conhecimentos específicos de maneira a resguardá-los de uma 
rápida difusão aos competidores”. Para o Dosi, essa analogia se faz por que “como um 
paradigma científico determina o campo de questionamentos, os problemas, os procedimentos e 
as tarefas, também o paradigma tecnológico o determina”. Esse autor ainda coloca que talvez 
fosse melhor falar em ‘grupos de tecnologia’, por exemplo, grupo de tecnologias nucleares. 
Referindo-se à direção das mudanças tecnológicas (“technological change”), Dosi 
considera que os processos de inovação são condicionados por paradigmas cujo rumo é 
determinado pelo conjunto de problemas e soluções consideradas previamente relevantes e que 
delimitam os esforços tecnológicos. Assim, Dosi apud Reis (2004, p.71) diz que: “Um 
paradigma tecnológico define contextualmente as necessidades a serem atendidas, os princípios 
científicos a serem usados para as tarefas e a tecnologia de materiais a ser empregada”. Também 
Campos (1996) contribui argumentando que os sinais de mercado podem induzir e influenciar o 
desenvolvimento do paradigma das estruturas competitivas nos limites tecnológicos definidos 
pelo paradigma corrente. Dosi apud Reis (2004) corrobora “cada paradigma tecnológico envolve 
uma tecnologia da mudança técnica”. 
 
2.2 TECNOLOGIA: SUA ORIGEM E DISSEMINAÇÃO 
 
Análoga à história da ciência na modernidade, a tecnologia sofre e causa transformações 
profundas de caráter político, econômico, social e filosófico, na história do séc. XVII em diante. 
Por isso, Miranda (2002) afirma que a tecnologia moderna não pode ser considerada um mero 
estudo da técnica. Ela representa mais que isso, pois nasceu quando a ciência, a partir do 
renascimento, aliou-se à técnica, com o fim de promover a junção entre o saber e o fazer (teoria e 
prática). Segundo a autora: 
A tecnologia é fruto da aliança entre ciência e técnica, a qual produziu a razão 
instrumental, como no dizer da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Esta aliança 
proporcionou o agir-racional-com-respeito-a-fins, conforme assinala Habermas, a 
serviço do poder político e econômico da sociedade baseada no modo de produção 
capitalista (séc. XVIII) que tem como mola propulsora o lucro, advindo da produção e 
da expropriação da natureza. Então se antes a razão tinha caráter contemplativo, com o 
advento da modernidade, ela passou a ser instrumental. É nesse contexto que deve ser 
pensada a tecnologia moderna; ela não pode ser analisada fora do modo de produção, 
conforme observou Marx. (MIRANDA 2002, p.51) 
 
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Nesse sentido, Bastos (1998) corrobora ao afirmar que a tecnologia é um modo de 
produção, o qual utiliza todos os instrumentos, invenções e artifícios e que, por isso, é também 
uma maneira de organizar e perpetuar as vinculações sociais no campo das forças produtivas. 
Dessa forma, a tecnologia é tempo, é espaço, custo e venda, pois não é apenas fabricada no 
recinto dos laboratórios e usinas, mas recriada pela maneira como for aplicada e 
metodologicamente organizada. 
Isso evidencia que se considerarmos que a tecnologia moderna está inserida e se 
produziu num contexto social, político e econômico determinado, originando uma sociedade 
capitalista, então a nossa visão sobre a tecnologia e o seu papel na sociedade deverá ser diferente 
daquela que prega que a tecnologia é um “mal necessário”, pois se compreendemos que ela 
surgiu em certo período histórico ela não é inerente à condição humana, ou seja, não é tão antiga 
quanto a técnica. 
Por isso, é necessário fazermos uma avaliação crítica sobre a tecnologia, sua 
constituição histórica e sua função social, no sentido de não só compreender o sentido da 
tecnologia, mas também de repensar e redimensionar o papel da tecnologia na sociedade. 
Segundo Miranda (2002), é necessário dirigir a razão (o pensar) para a emancipação do homem e 
não para sua escravidão, como ocorre na razão instrumental, conforme a avaliação dos 
frankfurtianos e também conduzir a razão para emancipação, com uma maior autonomia da 
ciência, que nos tempos modernos tornou-se escrava da tecnologia, para redefinir qual a função 
social da ciência, da técnica e da tecnologia. 
Passados mais de três séculos, a história do desenvolvimento tecnológico nos dá 
condições suficientes para avaliar as significações da tecnologia moderna que modelou a 
sociedade como industrial, pós-industrial e por último, da sociedade informática. Miranda (2002, 
p.56) cita que segundo alguns pensadores da atualidade como: “Robert Kurz, Arrighi, Ramonet, 
Boaventura Santos, vivemos hoje o ‘colapso da modernização’. A começar pela própria 
confiança absoluta na ciência que emanciparia o homem de toda escravidão, obscurantismos e 
medo. De fato, isso não ocorreu, o que constatamos hoje é a escravidão do próprio homem pelas 
suas invenções e descobertas tecnológicas, só possíveis graças à aliança entre ciência e técnica”. 
Miranda ainda acrescenta “Nunca na história da humanidade tantas pessoas morreram de fome, 
na miséria ou pela violência, cujos dados são apontados por Boaventura (2000)”. Miranda (2002) 
 
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também expõe a opinião de Hobsbawn
 
sobre a históriado século XX, o qual considera que 
vivemos a era dos extremos, devido aos paradoxos que se nos apresentam. A começar pelo 
próprio avanço tecnológico de um lado e o extermínio de culturas e povos (seja pela miséria, seja 
pela guerra) de outro. 
Arocena (2004) complementa que a tecnologia tem multiplicado e transformado 
qualitativamente o poder de produzir e destruir, de curar e depredar, de ampliar a cultura dos 
seres humanos e de gerar riscos para a vida, sendo que esse poder associado aos perigos está 
distribuído social e regionalmente, de maneira muito desigual. Dessa maneira, a ciência e a 
tecnologia têm feito que o poder se fixe nas mãos de alguns seres humanos. 
Vivemos num mundo em que a tecnologia representa o modo de vida da sociedade 
atual, na qual a cibernética, a automação, a engenharia genética, a computação eletrônica são 
alguns dos ícones da sociedade tecnológica que nos envolve diariamente. Por isso, a necessidade 
de refletir sobre a natureza da tecnologia, sua necessidade e função social. 
Para Bazzo et al. (2003) a imagem convencional da tecnologia é que ela sempre teria 
como resultado produtos industriais de natureza material, manifestada nos artefatos tecnológicos 
(máquinas), cuja elaboração tenha seguido regras fixas ligadas às leis das ciências físico-
químicas, ou seja, a tecnologia numa visão convencional seria a ciência aplicada. Isso implica 
dizer que a tecnologia é redutível à ciência e que é respaldada pela postura filosófica do 
positivismo lógico de importante tradição acadêmica, para o qual as teorias científicas são 
valorativamente neutras, em que, os cientistas não são responsáveis pela aplicação da ciência 
(tecnologia), mas sim a responsabilidade deveria recair sobre aqueles que fazem uso da 
tecnologia (ciência aplicada). Essa imagem contribuiu para sustentar a ideia de que se a ciência é 
neutra, os produtos de sua aplicação também são. 
Dizer que a tecnologia é uma ciência aplicada para Luján e Cerezo (2004), sugere que a 
aplicação é posterior a aquisição de um conhecimento confiável sobre seus possíveis efeitos, ou 
seja, a aplicação tecnológica se produz debaixo do amparo do conhecimento teórico. Assim, há 
poucas possibilidades de se produzirem surpresas desagradáveis, já que o conhecimento 
científico prévio é a melhor ferramenta para controlar as consequências de uma aplicação 
tecnológica, pois não se trata de um processo cego de ensaio e erro e sim de uma intervenção no 
mundo, baseado no conhecimento teórico e do método experimental próprio da ciência moderna. 
 
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A tecnologia, por muito tempo, foi considerada, ingenuamente, neutra. Todavia, a partir 
do movimento ludita
 
em relação à tecnologia, a maneira ingênua como ela era tratada começa a 
ser questionada começando-se a perceber que a ciência não é neutra, que apesar de algumas 
serem utilizadas para o benefício dos seres humanos, também existem outras que são 
prejudiciais. 
Nessa perspectiva, Laranja et al. (1997) contribuem “Ciência e tecnologia não são 
neutras, pois refletem as contradições das sociedades que as engendram, tanto em suas 
organizações quanto em suas aplicações. Na realidade, são formas de poder e de dominação 
entre grupos humanos e de controle da natureza”. 
Sale apud Bazzo et al. (2003) também argumenta que a partir do movimento ludita o 
custo/benefício do industrialismo começa a ser questionado, pois esse está relacionado 
fundamentalmente nas bases econômicas de sua utilização não se preocupando com as questões 
culturais, sociais ou ambientais, ou seja, ocorre uma divisão de custo/benefício injusta e que trata 
de impor princípios principalmente econômicos destruindo os costumes tradicionais adquiridos 
até então. 
Miranda (2002, p.11) colabora ao afirmar: 
Na modernidade (a partir do séc. XVI), devido a fatores históricos, sociais, culturais, 
econômicos, políticos, a tecnologia sofre e propicia transformações profundas. E muito 
além de alterar padrões de comportamento, a tecnologia, a partir da modernidade, 
contribui para alterar a relação do ser humano com o mundo que o cerca, implicando no 
estabelecimento de uma outra cosmovisão, diferentemente daquela dos gregos ou dos 
medievais. 
 
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Por isso mesmo, a tecnologia moderna não pode ser considerada um mero estudo da 
técnica, pois quando a ciência, a partir do renascimento, aliou-se à técnica, com o fim de 
promover a junção entre o saber e o fazer (teoria e prática), nascia aí a tecnologia moderna. 
Diante desse panorama, pode-se dizer que a tecnologia é um fenômeno social, complexo, que 
nos conduz a um posicionamento valorativo frente a ela. 
Segundo Miranda (2002) muitos são os autores que apresentam suas avaliações e 
posições sobre a valoração social da tecnologia. Em sua dissertação de mestrado (2002) no 
tópico que faz uma análise sobre a dimensão ontológica da tecnologia moderna, essa 
pesquisadora apresenta alguns posicionamentos existentes atualmente na doutrina a respeito da 
função social da tecnologia, destacando três diferentes posicionamentos, os quais podem ser 
classificados como visão otimista, visão pessimista e visão moderada da tecnologia. 
Entre os que possuem uma visão mais otimista sobre a tecnologia ela cita Schaff (1993), 
o qual faz sua reflexão sobre a sociedade informática. A visão otimista é própria daqueles que 
defendem incondicionalmente a tecnologia e que usam como argumentos que a tecnologia é 
garantia de bem-estar para os seres humanos, desobrigando-os do trabalho pesado, e é 
considerada como necessidade fundamental para o progresso e o desenvolvimento, e como curso 
natural do desenvolvimento e do progresso científico. 
A visão oposta é a dos pessimistas, que consideram que na origem da tecnologia está a 
destruição da vida e do planeta e que, se o quadro de desenvolvimento tecnológico permanecer 
como está hoje, não há sequer possibilidade de reversão do quadro de destruição. Dentre os 
autores com esse tipo de visão, destaca-se Enguita (1991), o qual critica que além da eliminação 
do trabalho humano, que para os marxistas é inerente ao processo de hominização do homem, a 
tecnologia é orientada pelo lucro existindo em função da maior produção; por isso, a necessidade 
de robotização, o que levará a destruição dos homens. 
Em relação às duas posições anteriores, Arocena (2004) considera a ciência e a 
tecnologia como uma panaceia, univocamente benfeitora, cujo fomento seria fundamental na 
superação do atraso tecnológico dos países subdesenvolvidos, consistiria seguir os mesmos 
caminhos dos países ricos, o que é inviável. Da mesma maneira, considerar a tecnologia 
avançada somente como prejudicial, é uma generalização que também pode ser perigosa 
 
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servindo para promover o subdesenvolvimento. Por isso, a necessidade de se buscar uma atitude 
mais prudente na sua geração e sua utilização. 
A terceira visão citada por Miranda (2002) é a moderada, a qual prega a necessidade de 
repensar a direção dada à tecnologia hoje, advertindo da necessidade de minimizar os riscos sem, 
contudo, abdicar dos benefícios que a tecnologia propicia a humanidade. Com essa visão, 
Miranda (2002, p.25) cita Kneller, que assim se expressou: 
O caminho mais sensato é almejar um progresso limitado e manter seus inevitáveis 
custos em nível mínimo. Alguma inovação tecnológica é essencial e desejável. Ela tem 
sidonecessária à modernização de todas as sociedades, e habilitará a nossa a sobreviver 
e melhorar. O desenvolvimento de novas tecnologias deve ser encorajado e o 
treinamento de tecnólogos imaginativos promovido. [...] A tecnologia pode criar ou 
destruir, tornar o homem mais humano ou menos. Mas as civilizações, como os 
indivíduos, devem correr riscos se quiserem progredir. Se exercermos prudência para 
minimizar os danos da tecnologia e incentivar o máximo seus benefícios, certamente 
valerá a pena aceitar o risco. 
 
Os pensadores que se encontram nesse tipo de visão enfatizam um sistema tecnológico 
capaz de se adequar a uma sociedade democrática mais humana. Porém, o que temos 
presenciado é que, com a modernidade, a ciência não tem se constituído num saber livre e 
desinteressado, teórico e especulativo. Com a modernidade, a ciência e a tecnologia passaram a 
ter outro significado. Com o advento da sociedade mercantilista, a ciência moderna não surgiu 
como uma ciência pura e desinteressada, como uma aventura espiritual ou intelectual. Japiassu 
(1991, p.157) afirma que ela nasceu: 
[...] dentro de um contexto histórico, separável de um movimento visando a 
racionalização da existência. E é todo desenvolvimento da sociedade comercial 
“industrial” técnica e científica que se inscreve no programa prático da racionalidade 
burguesa: não se faz comércio empiricamente, pois ele é um negócio de cálculo, deve 
ser feito racionalmente. Assim a burguesia nascente, que logo se instala no poder, tem 
necessidade de um sistema de produção permitindo-lhe uma exploração sempre maior e 
mais eficaz da Natureza. E tal sistema não tarda a fazer apelo a um novo tipo de 
trabalhador: o cientista. Doravante cabe-lhe a responsabilidade de detectar as leis gerais 
da Natureza. Quanto ao trabalho propriamente produtivo [...], é da alçada de 
engenheiros, que utilizam as descobertas dos cientistas em termos de aplicações 
particulares. 
 
 O progresso técnico não é uma invenção dos tempos modernos, pois já existia o 
moinho d’água que foi bastante utilizado no século XIII, mas podemos dizer que a ciência 
moderna tem papel preponderante para o desenvolvimento tecnológico, especialmente nos países 
denominados “desenvolvidos”. Segundo Habermas (1994), ocorreu uma “cientifização da 
técnica” uma vez que no capitalismo sempre existiu a pressão institucional para aumentar a 
 
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produtividade do trabalho através da introdução de novas técnicas. Entretanto, as inovações 
dependiam de invenções esporádicas, que podiam ser introduzidas economicamente ainda com 
uma característica de crescimento natural. 
A partir do séc. XIX isso mudou, na proporção em que o progresso técnico entrou em 
circuito retroativo com o progresso da ciência moderna. Com a pesquisa industrial em grande 
escala, ciência, técnica e valorização foram inseridas no mesmo sistema. Nesse mesmo tempo, a 
industrialização estava vinculada a pesquisas encomendadas pelo estado favorecendo 
primeiramente, o progresso científico e técnico do setor militar. De onde partem as informações 
para os setores de bens civis. Dessa forma, a ciência e a técnica passam a ser a principal força 
produtiva. 
A tecnologia concede à ciência precisão e controle nos resultados de suas descobertas, 
facilitando não só a relação do homem com o mundo como possibilitando dominar, controlar e 
transformar esse mundo. Segundo Miranda (2002), a teoria crítica dos frankfurtianos considera 
“que a ciência moderna instrumentalizou a razão e escravizou o homem através do controle 
lógico-tecnológico criando a tecnocracia, onde toda a vida humana é conduzida e determinada 
pelos padrões técnicos impostos pela ciência. Tudo se submete às regras da produção 
tecnológica”. Miranda (2002, p.48) continua: 
Hoje quem dirige e controla a pesquisa científica é o poder tecnológico, situado fora, 
inclusive, dos grandes centros de pesquisa, como as universidades. Estas perderam, em 
grande parte, o senso de ciência como pesquisa livre e com autonomia e se tornaram 
referência de pesquisas encomendadas por centros de tecnologia, feitas, inclusive, sem 
que os cientistas jamais saibam de sua finalidade. 
 
Contrariando essa postura, entendemos que defensores e questionadores do 
desenvolvimento tecnológico devem atender, sobretudo, o “poder coletivo” que geram, 
incluindo-se aí o potencial para a destruição, para realizar as atividades perigosas e para depredar 
a natureza e, também os benefícios para a saúde humana, inclusive a preservação ou construção 
de relações que não degradem o meio ambiente. Entretanto, o balanço entre um ou outro tipo de 
atividade, depende fundamentalmente de como é distribuído o “poder” gerado pela ciência e pela 
tecnologia, ou seja, de quem ou de como são manipuladas. 
Apesar de todos os benefícios que a ciência moderna e a tecnologia tem proporcionado 
aos seres humanos, vem crescendo o discurso crítico sobre o risco que elas podem causar no 
 
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cenário da sociedade moderna, embora seja um assunto controvertido já que trata do risco e não 
do progresso. 
Numa sociedade em que o desenvolvimento científico-tecnológico tornou-se 
hegemônico é fundamental refletir sobre a tecnologia numa outra perspectiva. O que temos visto 
é que o progresso tecnológico não tem atendido às necessidades básicas da população e sim tem 
servido para a promoção de interesses de poucos, como estratégia do sistema capitalista. 
Entendemos que as prioridades que os governantes têm dado à tecnologia tem que ser revista na 
busca da promoção humana, visando melhorar a qualidade de vida da população, fato que não 
ocorre efetivamente. 
Poderíamos dizer então que o crescimento da importância do conhecimento e a 
aceleração na produção de inovações faz com que as assimetrias e desigualdades sociais estejam 
propensas a agravar-se na mesma velocidade, ficando mais difícil superá-las e exigindo cada vez 
mais esforços na tentativa de revertê-las. 
Nos últimos anos, a pesquisa básica tem concentrado seus esforços em campos muito 
distantes das necessidades cotidianas da sociedade. A ciência e a tecnologia visam atender às 
necessidades das classes dominantes e dos governos que representam empresas poderosas, de 
modo que somente uma pequena parcela da população pode usufruir de seus serviços e 
inovações, acentuando a desigualdade social, ao mesmo tempo em que garante o lucro de um 
seleto grupo de empresas. 
Se visarmos ao bem-estar geral e não ao lucro máximo, devemos mudar o critério para o 
desenvolvimento científico-tecnológico e, consequentemente, o econômico. É necessário haver 
uma modificação radical do lugar da ciência na sociedade, de forma a abrir as portas do mundo 
científico e tecnológico a toda a população e não somente a uma “elite”, vinda das classes 
dirigentes ou por eles selecionada, que tem tido o monopólio da ciência desde o início da 
civilização. 
O desenvolvimento cientifico - tecnológico deve ser encorajado a florescer e a progredir 
levando em consideração o bem-estar do povo e não somente o econômico como acontece nos 
dias de hoje. Um desenvolvimento científico-tecnológico com responsabilidade social deve se 
voltar para as tarefas práticas, não pode ser dirigido de acordo com os velhos sistemas 
econômicos, políticos e moral. Implica ter um nível de responsabilidade individual e coletiva 
 
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muito mais acentuado que o dos tempos anteriores. Por isso, a necessidade de se proporcionar

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