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Artigo - A constitucionalidade do Novo Código Florestal - Parâmetros definidos pelo Supremo Tribunal Federal

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FACULDADE ÚNICA – GRUPO PROMINAS 
EDUARDO HENRIQUE FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTITUCIONALIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL: PARÂMETROS 
DEFINIDOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DA ADC 
Nº 42 E DAS ADI’S Nº 4901, 4902, 4903 E 4937 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UBERABA - MG 
2020 
FACULDADE ÚNICA – GRUPO PROMINAS 
EDUARDO HENRIQUE FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTITUCIONALIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL: PARÂMETROS 
DEFINIDOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DA ADC 
Nº 42 E DAS ADI’S Nº 4901, 4902, 4903 E 4937 
 
 
 
 
Monografia apresentada à Faculdade Única, 
do Grupo Prominas, como requisito para a 
obtenção do título de Especialista em Direito 
Ambiental. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UBERABA - MG 
2020
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A CONSTITUCIONALIDADE DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL: PARÂMETROS 
DEFINIDOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DA ADC 
Nº 42 E DAS ADI’S Nº 4901, 4902, 4903 E 4937 
 
 
Eduardo Henrique Ferreira1 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem por objeto analisar a decisão prolatada pelo Supremo Tribunal Federal na 
Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 42 e nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 
(ADI’s) nº 4901, 4902, 4903 e 4937, no âmbito das quais foi examinada a constitucionalidade de 
diversos dispositivos da Lei nº 12.651/2012. Busca-se, outrossim, investigar a definição do princípio da 
vedação ao retrocesso ambiental e a interpretação conferida pelo Pretório Excelso à luz da inegável 
diminuição protetiva operada pelo legislador. 
 
 
Palavras-chave: Novo Código Florestal. Controle de constitucionalidade. ADC nº 42 
e ADI’s nº 4901, 4902, 4903 e 4937. Princípio da proibição do retrocesso ambiental. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O vertente estudo trata da constitucionalidade da Lei nº 12.651/2012, 
conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento conjunto da Ação 
Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 42 e nas Ações Diretas de 
Inconstitucionalidade (ADI’s) nº 4901, 4902, 4903 e 4937, bem como da contraposição 
entre a inovação legislativa e o princípio da proibição do retrocesso ambiental. 
A aludida problemática ganha relevo em razão da existência de inúmeras 
controvérsias e intensos debates no tocante à (in)constitucionalidade das inovações 
legislativas operadas pelo Novo Código Florestal, de um lado pela corrente 
ambientalista e, de outro, pela corrente desenvolvimentista, o que demonstra a sua 
considerável importância no atual contexto social. 
Registra-se que o método de abordagem utilizado na pesquisa é o indutivo, 
uma vez que, partindo-se do acórdão proferido pelo Pretório Excelso, pretende-se 
 
1 Advogado da União, Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Especialista em Direito Constitucional 
Aplicado com capacitação para o Ensino no Magistério Superior pela Faculdade Damásio de Jesus, Especialista em Direito 
Administrativo e Contratos e Direito Processual Civil pela Universidade Cândido Mendes – UCAM, Especialista em Direito 
Imobiliário e em Direito Empresarial pela Faculdade Única. 
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descrever a atual interpretação da Constituição Federal e do diploma legislativo em 
comento sob a ótica da Corte. 
De outro lado, o referencial teórico utilizado é a jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal definida no julgamento da ADC nº 42 e das ADI’s nº 4901, 4902, 4903 
e 4937. 
Dispõe o art. 225 da Constituição Federal de 1988 que o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado é direito de todos, bem de uso comum do povo e essencial 
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade os deveres 
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
Em concretização ao dispositivo constitucional, que institui o direito 
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o legislador ordinário 
editou a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, denominada Código Florestal, que 
dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. 
Após a sua vigência por mais de quarenta e cinco anos e diversos embates 
sobre a proteção ambiental, notadamente a sua desatualização, criticada tanto por 
ambientalistas quanto por desenvolvimentistas, houve o advento da Lei nº 12.651, de 
25 de maio de 2012, que revogou expressamente a Lei nº 4.771/1965 e ficou 
conhecida como Novo Código Ambiental. 
Sobre o novel diploma legal, Romeu Faria Thomé da Silva leciona que: 
 
A Lei 12.651, de 25 de maio de 2012 (Código Florestal) é norma geral, editada 
pela União, voltada à proteção e uso sustentável das florestas e das demais 
formas de vegetação nativa e, como tal, padroniza conceitos, princípios e 
procedimentos que devem ser observados e especificados pelos demais 
entes federativos no exercício de suas competências ambientais. 
(...) 
De introito, ressalte-se que o Código Florestal não se restringe à proteção 
das florestas. A Lei 12.651/2012 tem por objetivo a proteção das florestas e 
demais formas de vegetação, nos termos do seu art. 2º, caput. 
(...) 
A Lei 12.651/2012, por sua vez, inova em relação à legislação anterior ao 
elencar uma série de princípios a serem observados na implementação do 
desenvolvimento sustentável tendo em vista a proteção e o uso das florestas 
e demais formas de vegetação. A norma afirma o compromisso do País com 
a preservação da flora, da biodiversidade, do solo e dos recursos hídricos e 
com a integridade do sistema climático, visando ao bem-estar das presentes 
e futuras gerações. Reconhece, ainda, a função estratégica da produção rural 
na manutenção e recuperação das florestas e o compromisso do País com 
um modelo ecologicamente viável de desenvolvimento. O Código Florestal, 
seguindo a tendência das normas nacionais e internacionais de proteção 
ambiental, prevê a criação e utilização de incentivos econômicos para a 
preservação e recuperação da vegetação nativa, como a servidão ambiental 
(SILVA, 2015, p. 309-310). 
 
3 
 
Não obstante a sistematização e modernização da legislação atinente à 
proteção da vegetação nativa, o Novo Código Florestal foi marcado por intensos 
debates no tocante à redução da proteção ambiental, considerando a existência de 
disposições bastante polêmicas, o que deu ensejo ao ajuizamento da ADC nº 42 e 
ADI’s nº 4901, 4902, 4903 e 4937, com vistas a conferir maior segurança jurídica ao 
diploma legal. 
Entre os temas mais controversos, sobreleva-se a definição de área rural 
consolidada prevista no art. 3º, IV, da Lei nº 12.651/2012, conceituada como a “área 
de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com 
edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, 
a adoção de regime de pousio”, sobretudo em razão do marco temporal traçado, 
acarretando a anistia das multas aplicadas pelo desmatamento e o reconhecimento 
de uma espécie de direito adquirido à utilização de área ocupada em desconformidade 
com a legislação vigente à época da degradação ambiental. 
É importante destacar, por fim, que o Superior Tribunal de Justiça possui 
jurisprudência uníssona no sentido de que, em regra, a aplicação da Lei nº 
12.651/2012 deve observar o princípio do tempus regit actum, isto é, alcança somente 
os fatos ocorridos após a sua vigência, permanecendo as situações anteriores 
reguladas pela Lei nº 4.771/1965. 
Confira-se, a propósito, o seguinte precedente: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. VIOLAÇÃO 
AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. NOVO CÓDIGO FLORESTAL. 
TEMPUS REGIT ACTUM. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA 
DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 
1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. 
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 
09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do 
provimento jurisdicionalimpugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo 
Civil de 2015. 
II - Esta Corte Superior encampa orientação segundo a qual prequestionados 
implicitamente os dispositivos tidos por violados, afasta-se a alegada ofensa 
ao art. 535, II, do Código de Processo Civil. Precedentes. 
III - As disposições do Novo Código Florestal, em regra, obedecem ao 
princípio do tempus regit actum. Precedentes. 
IV - A 1ª Turma desta Corte, à luz do decidido pelo Supremo Tribunal 
Federal no julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade ns. 
4.901, 4.902, 4.903 e 4.937, e da Ação Declaratória de 
Constitucionalidade n. 42, e considerando, ainda, a natureza propter rem 
da obrigação ambiental, consoante o enunciado da Súmula n. 623 desta 
Corte, reafirmou tal orientação (REsp n. 1.646.193/SP, 1ª Turma, Rel. p/ 
acórdão Min. Gurgel de Faria, julgado em 12.05.2020). 
4 
 
V - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão 
recorrida. 
VI - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do 
Código de Processo Civil de 2015, em razão do mero improvimento do 
Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária a configuração da 
manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua 
aplicação, o que não ocorreu no caso. 
VII - Agravo Interno improvido. 
(AgInt no REsp 1708969/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, 
PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/06/2020, DJe 12/06/2020) 
 
Feito este breve escorço teórico, passamos a analisar a decisão proferida pela 
Suprema Corte no julgamento conjunto da ADC nº 42 e ADI’s nº 4901, 4902, 4903 e 
4937. 
 
DESENVOLVIMENTO 
 
O Supremo Tribunal Federal, ao examinar conjuntamente a ADC nº 42 e ADI’s 
nº 4901, 4902, 4903 e 4937, declarou a inconstitucionalidade de determinadas 
expressões e dispositivos do Novo Código Florestal, conferiu interpretação conforme 
a Constituição a outros e assentou a constitucionalidade dos demais. 
Nesse contexto, concluído o julgamento, o acórdão foi publicado em 12 de 
agosto de 2019, por meio do qual a ADC e as ADI’s foram julgadas parcialmente 
procedentes, cujo teor relacionado aos dispositivos da Lei nº 12.651/2012 pode ser 
sintetizado da seguinte forma (TRENNEPOHL, 2020, p. 444-447): 
I) conferiu-se interpretação conforme a Constituição ao art. 3º, VIII e IX, a fim 
de condicionar a intervenção excepcional em área de preservação permanente (APP), 
por interesse social ou utilidade pública, à ausência de alternativa técnica e/ou 
locacional à atividade proposta, bem como declarada a inconstitucionalidade das 
expressões “gestão de resíduos” e “instalações necessárias à realização de 
competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais”; 
II) conferiu-se interpretação conforme a Constituição ao art. 4º, IV, visando ao 
reconhecimento de que os entornos das nascentes e dos olhos d’água intermitentes 
configuram APP; 
III) declarou-se a constitucionalidade do art. 3º, XIX; 
IV) declarou-se a inconstitucionalidade das expressões “demarcadas” e 
“tituladas” constantes do parágrafo único do art. 3º, que estendeu o tratamento 
dispensado à pequena propriedade ou posse rural familiar aos imóveis de até 4 
módulos fiscais; 
5 
 
V) declarou-se a constitucionalidade do art. 4º, III, e §§ 1º e 4º, que dispõem 
sobre as áreas de preservação permanente no entorno de reservatórios artificiais que 
não decorram de barramento de cursos d’água naturais e de reservatórios naturais ou 
artificiais com superfície de até um hectare; 
VI) declarou-se a constitucionalidade do art. 4º, § 5º, que trata do uso agrícola 
de várzeas em pequenas propriedades ou posses rurais familiares; 
VII) declarou-se a constitucionalidade do art. 4º, § 6º, atinente à permissão do 
uso de APP’s à margem de rios e no entorno de lagos e lagoas naturais para implantar 
atividades de aquicultura; 
VIII) declarou-se a constitucionalidade dos arts. 5º, caput, e §§ 1º e 2º, e 62, 
relacionados à redução da largura mínima da APP no entorno de reservatórios d’água 
artificiais implantados para abastecimento público e geração de energia; 
IX) declarou-se a constitucionalidade dos arts. 7º, § 3º, e 17, caput e § 3º, 
quanto à desnecessidade de reparação de danos ambientais anteriores a 22 de 
agosto de 2008 para a obtenção de novas autorizações para suprimir vegetação em 
APP’s e para a continuidade de atividades econômicas em reservas legais; 
X) declarou-se a constitucionalidade do art. 8º, § 2º, com vistas a assentar a 
possibilidade de intervenção em restingas e manguezais para a execução de obras 
habitacionais e de urbanização em áreas urbanas consolidadas ocupadas por 
população de baixa renda; 
XI) declarou-se a constitucionalidade do art. 11, no tocante à possibilidade de 
manejo florestal sustentável para o exercício de atividades agrossilvipastoris em áreas 
de inclinação entre 25 e 45 graus; 
XII) declarou-se a constitucionalidade do art. 12, §§ 4º e 5º, reconhecendo-se 
a possibilidade de redução da reserva legal para até 50% da área total do imóvel em 
face da existência, superior a determinada extensão do Município ou Estado, de 
unidades de conservação da natureza de domínio público e de terras indígenas 
homologadas; 
XIII) declarou-se a constitucionalidade do art. 12, §§ 6º, 7º e 8º, que prevêm a 
dispensa de reserva legal para exploração de potencial de energia hidráulica e 
construção ou ampliação de rodovias e ferrovias; 
XIV) declarou-se a constitucionalidade do art. 13, § 1º, confirmando a 
possibilidade de reserva legal para até 50% da área total do imóvel rural; 
6 
 
XV) declarou-se a constitucionalidade do art. 15, admitindo a possibilidade de 
se incluir as APP’s no cômputo do percentual da reserva legal, em hipóteses legais 
específicas; 
XVI) declarou-se a constitucionalidade do art. 28, que proíbe a conversão de 
vegetação nativa para uso alternativo do solo no imóvel rural que possuir área 
abandonada; 
XVII) declarou-se a constitucionalidade dos arts. 44 e 66, §§ 5º e 6º, e 
conferiu-se interpretação conforme a Constituição ao art. 48, § 2º, com vistas a permitir 
a compensação de Cota de Reserva Ambiental – CRA somente entre áreas com 
identidade ideológica; 
XVIII) conferiu-se interpretação conforme a Constituição ao art. 59, §§ 4º e 5º, 
afastando-se, no decurso da atuação de compromissos subscritos nos Programas de 
Regularização Ambiental, a ocorrência de decadência ou prescrição dos ilícitos 
ambientais perpetrados antes de 22 de julho de 2008 e das sanções deles recorrentes, 
e declarou-se a constitucionalidade do art. 60; 
XIV) declarou-se a constitucionalidade do art. 66, § 3º, possibilitando o plantio 
intercalado de espécies nativas e exóticas para recomposição de área de reserva 
legal; 
XV) declarou-se a constitucionalidade dos arts. 61-A, 61-B, 61-C, 63 e 67, que 
tratam do regime das áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008; e 
XVI) declarou-se a constitucionalidade do art. 78-A, quanto ao 
condicionamento legal da inscrição no Cadastro Ambiental Rural – CAR para a 
concessão de crédito agrícola. 
Delimitados os parâmetros fixados pelo Supremo Tribunal Federal no tocante 
à constitucionalidade do Novo Código Florestal, conferindo maior segurança jurídica 
às controvérsias judiciais, cumpre averiguar em que medida a inovação legislativa se 
relaciona com o princípio da vedação ao retrocesso ambiental. 
Ao traçar os contornos do princípio da vedação ao retrocesso ecológico, 
Romeu Thomé leciona: 
 
Esse princípio tem por escopo obstar medidas legislativas e executivas que 
implementem um efeito cliquet (termo francês, com acepção de ‘não 
retrocesso’), ou um efeito catraca, em relação ao direito ambiental. Não se 
pode, por exemplo, revogar uma lei que proteja o meio ambiente sem, no 
mínimo, substituí-la por outra que ofereça garantias com eficácia similar. Os 
poderes públicos devem atuar sempre no sentido de avançar 
7 
 
progressivamente na proteção dosrecursos naturais. Segundo o Superior 
Tribunal de Justiça, “essa argumentação busca estabelecer um piso mínimo 
de proteção ambiental, para além do qual devem rumar as futuras medidas 
normativas de tutela, impondo limites a impulsos revisionistas da legislação. 
A proibição do retrocesso diz respeito mais especificamente a uma garantia 
de proteção dos direitos fundamentais contra a atuação do legislador, tanto 
no âmbito constitucional quanto infraconstitucional, e também proteção em 
face da atuação da administração pública. Segundo Sarlet e Fensterseifer, “a 
proibição do retrocesso, de acordo com o entendimento consolidado na 
doutrina, consiste em um princípio constitucional implícito, tendo como 
fundamento constitucional, entre outros, o princípio do Estado (democrático 
e Social) de Direito, o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio 
da máxima eficácia e efetividade das normas definidoras de direitos 
fundamentais, o princípio da segurança jurídica e seus desdobramentos (...)”. 
Em sentido amplo pode-se afirmar que a garantia da proibição de retrocesso 
tem por objetivo preservar o bloco normativo – constitucional e 
infraconstitucional – já consolidado no ordenamento jurídico, sobretudo 
naquilo em que pretende assegurar à fruição dos direitos fundamentais, 
impedindo ou assegurando o controle de atos que venham a provocar a sua 
supressão ou restrição dos níveis de efetividade vigentes dos direitos 
fundamentais (THOMÉ, 2015, P. 89-90). 
 
Frederico Amado, por sua vez, explicita que: 
 
De acordo com este princípio, especialmente voltado ao Poder Legislativo, é 
defeso o recuo dos patamares legais de proteção ambiental, salvo 
temporariamente em situações calamitosas, pois a proteção ambiental deve 
ser crescente, não podendo retroagir, máxime quando os índices de poluição 
no Planeta Terra crescem a cada ano. 
Decorre da natureza fundamental do direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, vez que uma de suas características é a 
proibição do retrocesso. 
Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o recurso especial 
302.906, de 26.08.2010, reconheceu a existência do Princípio da Proibição 
do Retrocesso Ecológico (AMADO, 2015, p. 104). 
 
Da contraposição entre a inovação legislativa introduzida pela Lei 
12.651/2012 e o princípio da vedação ao retrocesso ambiental, o Pretório Excelso 
ressaltou que este último deve ser concebido à luz do princípio democrático, não 
podendo transferir ao poder Judiciário funções imanentes ao Poder Legislativo, ao 
qual incumbe o aprimoramento legislativo para o desenvolvimento sustentável do país 
como um todo. 
Assim, não seria adequado afastar determinada regra legal por contrária ao 
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tampouco sob o 
manto da proibição de retrocesso ambiental, quando adotada a solução legislativa no 
âmbito dos limites do processo decisório do legislador, democraticamente investido 
na função de conciliar interesses conflitantes mediante a edição de regras gerais e 
objetivas. 
8 
 
Verifica-se, portanto, que o Novo Código Florestal foi, em sua maior parte, 
declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, conferindo-se segurança 
jurídica à sua aplicação e à proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
bem como traçando importantes contornos para a aplicação do princípio da proibição 
de retrocesso ambiental. 
 
CONCLUSÃO 
 
A Lei nº 12.651/2012, conhecida como Novo Código Florestal, após fortes 
debates, foi, enfim, analisada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADC 
nº 42 e ADI’s nº 4901, 4902, 4903 e 4937, conferindo segurança jurídica na sua 
aplicação, por meio da declaração de inconstitucionalidade de alguns dispositivos 
impugnados e de constitucionalidade dos demais, inclusive mediante a utilização da 
técnica da interpretação conforme a Constituição. 
Ressaltou-se, ainda, que o princípio da vedação ao retrocesso ambiental não 
inviabiliza a evolução legislativa, não se sobrepondo ao princípio democrático, o qual 
confere ao Poder Legislativo a função de editar regras gerais e abstratas que melhor 
se adequem à realidade social e apaziguem os interesses conflitantes, com vistas à 
ponderação de interesses entre o direito fundamental ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado e ao desenvolvimento sustentável. 
 
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