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Isto É (08.07.20)

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A escAlAdA 
dA pobrezA
Desigualdade 
social se intensifica 
escandalosamente
no Brasil por 
conta da pandemia 
da Covid-19
reAção 
mundiAl
Brasil perde 
investimentos 
estrangeiros 
devido à 
destruição da 
Amazônia
A intervenção 
de ArAs
Procuradoria-Geral 
da República quer 
controlar as forças 
de combate à 
corrupção e irrita 
procuradores 
uma mobilização mundial tenta frear os arroubos do presidente. ele 
busca uma nova estratégia, mais apaziguadora, e passa a ser tutelado pelos 
militares para salvar um governo que faz água em meio às investigações, 
à queda de popularidade e aos erros primários de administração
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4 fotos: GABRIEL REIs; BRunA PRAdo/GEtty ImAGEs
O informativo de desigualdade social por cor e raça, do 
IBGE, indica que entre 2012 e 2017, houve 255 mil mortes 
de pessoas negras por assassinato no Brasil. Os negros 
têm 2,7 mais chances de morrer assassinados do que 
pessoas brancas. Como o senhor vê essa situação?
Na Faculdade Zumbi dos Palmares temos o Observatório da 
População Negra que abrange vários temas e um deles é a 
“Há uma verdadeira 
limpeza étnica 
contra os negros”
Por Fernando Lavieri
O professor e empresário José Vicente, 61 anos, 
reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, atua de ma-
neira destacada na valorização da educação inclusiva 
e equânime da população historicamente abandonada. 
Esse é o tema de sua vida: a condição dos negros bra-
sileiros e tudo que permeia essa questão. “Em todos 
os espaços de poder, as pessoas negras são minoria, 
seja dentro do ambiente empresarial, seja nos três 
Poderes da República, seja em qualquer instituição 
pública ou privada”, disse José Vicente, em entrevista 
à ISTOÉ. A estrutura de comando universitário segue 
essa regra. José Vicente está entre os poucos reitores 
negros do Brasil e o único de uma instituição privada. 
Ex-bóia-fria, ex-policial e educador por excelência, ele 
discorre linearmente sobre o Brasil e os EUA explican-
do quais são as razões que levaram a ações de barbárie, 
quase diárias, que o mundo inteiro viu pela imprensa. 
Para o professor, a selvageria que vitimou George Floyd, 
em Minneapolis, e a violência que atingiu o menino 
João Pedro, no Rio de Janeiro, pertencem à mesma 
matriz ideológica. Ao falar sobre políticas, especifica-
mente a respeito do governo Bolsonaro, ele é contun-
dente. “O governo já tornou público que não tem ne-
nhuma disposição para resolver a questão da 
discriminação e do racismo. Pelo contrário, tem reser-
vas”, afirma. “Com Bolsonaro não é permitido o livre 
pensamento. Esse é o governo da negação”.
PRECONCEITO Para José Vicente, o governo Bolsonaro 
não está pautado para construir um novo projeto 
educacional para o Brasil: “Ele preza pela destruição”
ISTOÉ 2634 8/7/2020
ENTREVISTA
José Vicente
Reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares
5
violência contra essa população. Nós 
acompanhamos, debatemos e faze-
mos as mais diversas ações para tentar 
mudar esse estado de coisas que se 
apresentam como genocídio pré-or-
denado à população negra. É uma 
verdadeira limpeza étnica, já que em 
nenhum local do mundo se matam 
tantos jovens negros dessa forma. 
Lembra um túnel do tempo. Isso 
sempre foi assim. Temos que ter um 
discurso que denuncie o racismo e a 
discriminação estrutural e institucio-
nal e motivar intervenções do Estado 
e da sociedade no sentido de terminar 
com essa matança. Ainda não conse-
guimos criar um caminho para produ-
zir soluções. 
No Brasil há letargia e falta mobili-
zação contra o racismo? Por quê?
Porque todos nós fomos vitimados 
pela perversidade do nosso sistema 
político, que nega a existência do 
racismo e também nega que os números que refletem a 
violência e a desigualdade, pontuadas pelos indicadores 
sociais, sejam fruto do racismo e da discriminação. Há 
uma negação permanente. 
Mas os números da discriminação saltam aos olhos.
Há cem anos que os indicadores são os mesmos e em ne-
nhum momento, nem à esquerda, nem à direita, na Dita-
dura Militar, no milagre brasileiro, nem quando nós éramos 
um País atrasado, nem quando éramos a quinta economia 
do mundo, nós conseguimos mexer uma vírgula desses 
indicadores. Seja por essa desqualificação do racismo como 
realidade, como algo que separa e distingue pessoas, seja 
porque não se trata de uma prioridade da agenda política, 
econômica e social. Nós estamos há anos-luz do Apartheid 
sul-africano e do americano, mas nem assim as parcelas da 
sociedade, que exercem o poder, têm interesse, disposição 
ou determinação para intervir. Preferem o silêncio, a indi-
ferença e a negação. Dizem, “o que acontece nos EUA é 
racismo, matar um negro com o joelho no pescoço, aqui 
no Brasil não é assim”. Atender essa demanda requer co-
locar a mão no bolso e tirar o dinheiro de alguém, e jamais 
a elite brasileira vai permitir que os recursos que atendem 
seus interesses, suas necessidades, saiam do seu bolso 
para resolver esse problema.
Então, o caminho é elegermos pessoas negras pa-
ra o Executivo e o Legislativo? 
Isso vai permitir minorar o im-
pacto do racismo?
Não resta dúvida. Veja qual foi à res-
posta da sociedade e como foi a res-
posta da elite dirigente para a não 
presença das mulheres no ambiente 
político. Eles criaram uma lei em que 
todo o partido político tivesse 30% de 
mulheres. Não houve questionamen-
tos ou resistência, todos compreende-
ram. Há uma distorção que deslegiti-
ma e desconfigura a presença e a 
perspectiva democrática e, por conta 
disso, vamos construir uma política 
pública, mas ninguém até hoje teve 
disposição e coragem para dizer que 
existe uma distorção maior, que não 
existem negros no sistema político. É 
um sistema perverso. Nós temos um 
senador negro, dez deputados federais 
negros, um vereador negro em São 
Paulo e duas deputadas estaduais 
negras, num País em que 54% da 
população é negra. Se fossemos uma República verdadeira-
mente democrática, seguramente isso não seria assim. 
Há outro caminho?
O Estado tem meios, mecanismos e obrigação de fazer, já 
que é para isso que ele existe: para diminuir as desigualda-
des e distorções. Por exemplo, as cotas raciais em universi-
dades públicas são uma ferramenta que têm capacidade de 
transformação. Agora falta termos a gestão universitária com 
negros na administração, mais professores negros, como 
pesquisadores na pós-graduação e no ambiente de produção 
de tecnologia. Precisamos de 50% de cotas em toda estru-
tura. Fora disso, temos desigualdade.
A violência contra a população negra está espalha-
da por todo Brasil?
A nossa gênese é a da violência. Nós somos um país cons-
truído sob a escravização, o extermínio e o vilipendio do 
índio, o estupro da mulher indígena, a destruição da famí-
lia indígena, depois toda a barbárie sobre o negro e a vio-
lência e a brutalidade que se estabeleceu a todos aqueles 
que não fizessem parte da elite no poder. E essa elite vem 
desde então construindo sua milícia oficial, que tem como 
metodologia o extermínio puro e simples. A violência é o 
recorte. É só ver Datena e Sikêra Júnior para se ter noção 
de como a violência está embrenhada na vida social. O 
Estado terceiriza a violência formal e informal. Veja os >>
“Não sei quem é mais destrutivo: 
Bolsonaro ou o coronavírus. 
Tinha que se fazer no Brasil algo 
parecido com o Plano Marshall 
para vencermos essa 
crise sanitária”
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casos das milícias e da polícia na periferia, daquele menino, 
por exemplo, que foi abordado numa escada na favela 
pela polícia aqui em São Paulo.
É como antigamente, quando o jovem negro não podia 
sair de casa sem os documentos? 
Ainda bem que alguém teve a coragem de filmar. Mas aqui-
lo é rotina, trivial, faz parte da rotina do jovem de periferia, 
principalmente negro, em qualquer lugar do País. No Judi-
ciário também há problemas. Nós temos 900 mil presos no 
Brasil,dos quais 50% não foram denunciados. Não tem 
Direitos Humanos, não tem Ministério Público, não tem 
política, não tem mídia, não tem padre, não tem um filho 
de Deus que consiga fazer a Justiça cumprir a lei. Porque 
uma pessoa só pode ser mantida presa por noventa dias, 
sem denúncia. E quem são esses presos? Se fosse o Sérgio 
(Machado) da Transpetro, ficaria com uma tornozeleira 
eletrônica em casa esperando a pena passar.
Gostaria que o senhor analisasse a situação nos EUA e 
o assassinato de George Floyd.
Havia um policial com o joelho em cima do pescoço do 
Floyd, com a mão no bolso, quase como quem vai pegar o 
celular para enviar uma mensagem. Mas havia mais três 
policiais que estavam ao lado dele, olhando aquela cena 
horripilante, acompanhando a morte que estava se materia-
lizando, e todos continuaram na mesma posição sem nenhum 
tipo de constrangimento, sem preo-
cupação que ali no chão havia um ser 
humano. Só ficaram dessa forma 
porque, em sua compreensão, a pes-
soa negra não é um ser humano, mas 
sim um ser inferior. É esse sentimen-
to de superioridade que embasa a 
polícia e grande parte dos americanos 
e suas instituições. Trata-se de uma 
justificativa para se agir dessa forma. 
Essa é a essência do racismo.
O racismo está acima dos ensina-
mentos na academia de polícia?
Sim. Está no chip do indivíduo. Des-
de que a pessoa vem ao mundo, que 
tem um passado e uma estrutura 
racista, é isso que ele aprende. 
Mas no caso dos EUA houve o for-
talecimento do movimento antir-
racista, o Black Lives Matter.
Essa é uma diferença significativa 
entre Brasil e EUA. O slogan Black 
Lives Matter é uma nova nomenclatura para algo que já 
existia com outros protagonistas como Martin Luther King, 
Rosa Parks, Angela Davis, Panteras Negras, Malcolm X, entre 
outros. A trajetória do negro americano foi de luta e embate 
nas ruas e em todos os espaços sociais, enfrentando Ku Klux 
Klan, com suas patrulhas incendiárias, que invadiam as casas 
das famílias negras e tocavam fogo. São movimentos que os 
participantes acreditam na justiça, com capacidade de reper-
cussão mundial. O dado novo foi que dessa vez vimos que a 
força letal do Estado, a polícia, se colocou de joelhos para se 
solidarizar com o movimento e no limite com o próprio Ge-
orge Floyd. Nunca imaginei essa cena, a polícia se desculpar 
por sua selvageria. E também foi resolutiva no sentido de 
fazer com que os municípios e estados mexessem no proto-
colo e no orçamento da polícia para que ações do tipo não 
aconteçam novamente. Sem contar uma meia dúzia de está-
tuas que foram para o rio. Quisera que isso acontecesse no 
Brasil. Aqui, 50 policiais entram na favela metralhando tudo, 
mesmo com gente dentro das casas, e não acontece nada. 
Qual é a sua analise a respeito do governo Bolsonaro, 
principalmente em relação ao Ministério da Educação?
Essa pasta foi cooptada pelo governo Bolsonaro para fazer um 
recorte ideológico. Fica o tempo todo criando factóides, que 
é uma das marcas da gestão. O primeiro a assumir o cargo, 
Ricardo Vélez, era um desconhecido que estava totalmente 
perdido. Weintraub, não tinha capacidade e envergadura 
técnica para gerir o Ministério. Trans-
formou-o num palanque, no qual fez 
a construção de um inimigo, o mar-
xismo cultural, algo imaginário. E 
agora, o presidente tirou da cartola 
um novo ministro que também não 
tem capacidade técnica. Aliás, nem 
assumiu, por ter um currículo ques-
tionável. Esse governo não está pau-
tado para construir um novo projeto 
educacional para o Brasil. Ele preza 
pela destruição.
Esse momento de pandemia acen-
tua esse projeto do governo?
Não sei quem é mais destrutivo: Bol-
sonaro ou o coronavírus. Tinha que 
se fazer algo parecido com o Plano 
Marshall para vencermos essa crise.
Mas o ministro da Economia, Pau-
lo Guedes, não aprova. Ele já dis-
se isso publicamente.
Sim, eu sei. Paulo Guedes é um repre-
fotos: GABRIEL Bouys/AfP; REPRodução
ENTREVISTA/José Vicente
“O dado novo foi que dessa vez 
a polícia se colocou de joelhos 
para se solidarizar com o 
movimento e com o próprio George 
Floyd. Nunca imaginei a polícia se 
desculpando por sua selvageria”
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para eliminação da discriminação 
racial contra os negros e todas demais 
pessoas no Brasil. 
 
Zumbi dos Palmares se tornou um 
dos personagens mais criticados 
no governo Bolsonaro. Como o 
senhor vê a atitude de Sérgio Ca-
margo, presidente da Fundação 
que leva o nome do líder negro?
O País transformou esse homem num 
herói nacional. Zumbi dos Palmares foi 
reconhecido e reverenciado pela socie-
dade brasileira, através dos seus repre-
sentantes no Congresso, como um 
herói nacional. E mais: duas mil cidades 
e alguns estados reconheceram o valor 
da luta de Zumbi dos Palmares e de-
clararam o dia de sua morte como fe-
riado, além de nomear ruas, praças, 
avenidas e escolas em sua homenagem. 
Como pode um desqualificado desse 
dizer essas coisas? O governo Bolsona-
ro já tornou público que não tem ne-
nhum tipo de disposição para resolver a questão da discrimi-
nação e do racismo. Pelo contrário, tem reservas. O presidente 
exige que todos que estão no governo operem na mesma 
sintonia. É um governo que não permite o pensamento. No 
caso da Fundação Palmares, quem conhece o pai do Sergio 
Camargo, o Oswaldo, um dos maiores escritores brasileiros, 
sempre defendendo a bandeira da negritude, isso não faz 
qualquer sentido. A Fundação Palmares foi criada para tratar 
do patrimônio cultural e artístico, além de fomentar políticas 
públicas para a inclusão dos negros brasileiros. A gestão atual 
revela um desvio de finalidade. Isso só poderia acontecer nes-
se governo da negação e do absurdo.
Qual foi o caso de racismo que mais lhe marcou?
A Faculdade Zumbi dos Palmares existe há quinze anos e 
todas as vezes que chego a bons hotéis para participar de 
seminários, debates, cerimônias, a pessoa fala: “Para aguardar 
a chefia você tem que estacionar o carro lá na frente”, mes-
mo o meu carro sendo novo e bonito. Aí tenho que dizer: 
“Eu não vim aguardar a chefia. Eu sou a chefia”. Aí o cara 
fica todo constrangido, todo sem graça. Pois bem, após par-
ticipar das atividades, ao voltar para pegar meu carro, en-
quanto estou na porta aguardando, todas as pessoas que 
chegam colocam as chaves na minha mão. “O senhor pode 
pegar meu carro, por favor”. Então, preciso falar todas as 
vezes que não sou o manobrista e que estou, como as outras 
pessoas, também esperando meu carro. 
sentante do capitalismo rentista dessa 
gestão. Até por isso que o governo 
propôs R$ 200 de auxílio emergencial 
e foi preciso muita articulação política 
para chegar aos R$ 600. 
Como a crise sanitária impactou o 
setor empresarial universitário? 
Como a Zumbi dos Palmares está 
lidando com esse momento?
A crise é forte. Estamos trabalhando 
remotamente, mas tivemos uma que-
da de 50% na demanda, deve demorar 
de dois a três anos para retomarmos 
o antigo patamar. Se tivéssemos uma 
gestão mais técnica no Ministério da 
Educação, conseguiríamos sair dessa 
crise melhor. Pois ninguém tem uma 
resposta pronta. A solução vai se dar 
ao longo do processo.
A educação é uma das formas de 
minorar o racismo. As empresas 
associadas à Faculdade Zumbi 
dos Palmares estão disponibilizando mais vagas de em-
prego aos candidatos negros oriundos da instituição?
O movimento cresceu e se fortaleceu. Atualmente são 60 
empresas que de uma forma mais transparente têm de-
monstrado interesse nesse processo de valorização do 
negro. Muitas delas construíram políticas importantes, mas 
ainda muito aquém do necessário. Essas ações podem 
encorajar outras empresas a participar do nosso esforço, 
num espaço curto de tempo.
Qual a empresa que mais emprega candidatos da 
Zumbi dos Palamares?
Só da Faculdade Zumbi dos Palmares o Bradesco tem 500 
trabalhadores negros efetivados. É a empresa mais avançada 
nesse tema, é a empresa que mais contratou negros na 
história. Mas eles têm 100 mil funcionários e os negros nãorepresentam nem 10% do total. O banco pode fazer mais.
No contexto das manifestações antirracistas, a Zumbi dos 
Palmares está lançando um manifesto. Do que se trata?
Trata-se do Movimento AR - Vidas negras Importam. É uma 
ação nacional de mobilização e colaboração gratuita e vo-
luntária, com o propósito de promover mudança e transfor-
mação social, através de ações práticas, efetivas e objetivas 
de combate ao racismo, ao preconceito e à discriminação 
racial contra negros. Nosso objetivo é promover mudança e 
transformação nas atitudes pessoais, comunitárias e sociais 
“Abraham Weintraub não tinha 
capacidade e envergadura para 
gerir a educação. E, agora, o 
presidente tirou da cartola um novo 
ministro sem condições técnicas 
e que nem assumiu”
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Cartas
FUNDADOR
DOMINGO ALZUGARAY (1932-2017)
EDITORA
Catia Alzugaray
PRESIDENTE EXECUTIVO
Caco Alzugaray
DIRETOR EDITORIAL
Carlos José Marques
DIRETORES 
DE REDAÇÃO: Germano Oliveira DE EDIÇÃO: Antonio Carlos Prado
EDITOR EXECUTIVO: Marcos Strecker
EDITORES: Felipe Machado e Vicente Vilardaga
REPORTAGEM: Anna França, Brian Alan, Eudes Lima, Fernando Lavieri, 
Jo Pasquatto e Mariana Ferrari
COLUNISTAS E COLABORADORES: Bolívar Lamounier, Cristiano Noronha, 
Elvira Cançada, José Manuel Diogo, Luiz Fernando Prudente do Amaral, 
Marco Antonio Villa, Mario Vitor Rodrigues, Mentor Neto e Ricardo Amorim
ARTE
DIRETOR DE ARTE: Camilla Frisoni Sola
EDITOR DE ARTE: Arthur Fajardo 
DESIGNERS: Cibele Camargo, Claudia Ranzini e Wagner Rodrigues
INFOGRAFISTA: Gerson Nascimento
PROJETO GRÁFICO: Marcos Marques
ISTOÉ ONLINE: Diretor: Hélio Gomes Editor executivo: Edson Franco 
Editor: André Cardozo 
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ISTOÉ (ISSN 0104 - 3943) é uma publicação semanal da Três Editorial Ltda. Redação 
e Administração: Rua William Speers, 1.088, São Paulo – SP, CEP: 05065-011. Tel.: (11) 
3618-4200 – Fax da Redação: (11) 3618-4324. São Paulo – SP. Istoé não se res pon -
sabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comerciali zação: Três Comércio 
de Publicações Ltda, Rua William Speers, 1212, São Paulo – SP. Impressão: OCEANO 
INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA. Rodovia Anhanguera, Km 33, Rua Osasco, nº 644 – Parque 
Empresarial – 07750-000 – Cajamar – SP
>> Capa
O laranjal da família Bolsonaro só tem fruta podre. 
O caso envolvendo o senador e � lho do presidente, 
Flávio Bolsonaro, demonstra isso. Imaginem 
quando o seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, agora 
atrás das grades, começar a delatar tudo e todos. 
“O laranjal de Flávio” (ISTOÉ 2633) 
José Jorge Silva 
São Paulo – SP 
Cartas para esta seção, com endereço, nú mero do RG e telefone, devem 
ser remetidas para: Diretor de Redação, ISTOÉ, Rua Wil liam Speers, 1.088, 
Lapa, São Paulo, CEP 05067 –900. FAX: (11) 3618–4324. As car tas poderão 
ser editadas em razão do seu tamanho ou para facilitar a compreensão. 
CORREIO ELETRÔNICO: cartas@istoe.com.br 
No Brasil, ser “laranjal” virou uma 
pro� ssão legalizada, caso não fosse 
todos eles estariam presos 
há muito tempo. 
Cae Pereira 
São Paulo — SP 
 
Precisamos de um Poder Judiciário 
� rme e forte para colocar os 
milicianos no seu devido lugar. 
Isabel Ferreira Zarzuela 
Pamplona — Espanha 
 
>> BRASIL 
 
Quanto menos esclarecido, 
estudado e graduado o cidadão, 
mais fácil de ser manipulado pelos 
políticos mal intencionados. 
“A balbúrdia na educação” 
(ISTOÉ 2633) 
Marco Adilson Galvani 
Bilac — SP 
 
A educação? Não tem mais como 
piorar, somos os últimos colocados 
do mundo há muito tempo. 
Marcelo da Mara 
Campo Grande — MS 
 
“O poder é mantido pela ignorância 
das massas”, Abraham Lincoln. 
Enquanto não houver mudanças, 
o Brasil continuará nas últimas 
colocações em matéria de ensino. 
Ubirajara Assis 
São Paulo — SP 
 
>> COMPORTAMENTO 
 
Para algumas pessoas, a quarentena 
foi férias. Mas há aqueles que 
cumpriram as regras e, agora, de 
fato, não suportam mais � car entre 
quatro paredes. “As pessoas vão ao 
campo e às praias” (ISTOÉ 2633) 
Maria Elizabete Santos 
Rio do Janeiro – RJ 
 
Aguentamos o quanto pudemos 
e, se for preciso, vamos nos manter 
no isolamento e distanciamento 
social. Mas é impossível não sair 
um pouco para respirar. 
Luiza Darelli 
São Paulo – SP 
 
Na minha opinião, se todos os 
cuidados e as recomendações da 
Organização Mundial da Saúde 
forem respeitados não há risco 
para aqueles que cumprem 
o distanciamento e não 
aguentam mais. 
Gilson Hermann Kroe� 
Porto Alegre — RS 
LIVE
Major Olímpio 
Gomes
SENADOR DA REPÚBLICA
7.julho • Terça ÀS 15HORAS
A ATUAÇÃO DO 
SENADO NO COMBATE 
AO CORONAVÍRUS.
Tema
Michel Temer
EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA
7.julho • Terça ÀS 17H
A POLÍTICA 
BRASILEIRA EM 
TEMPOS DE PANDEMIA.
Tema
Camilo 
Santana
GOVERNADOR DO CEARÁ
10.julho • Sexta ÀS 15HORAS
COMO OS GOVERNADORES 
ESTÃO ENFRENTANDO A COVID-19.Tema
João 
Amoêdo
FUNDADOR DO NOVO
10.julho • Sexta ÀS 17HORAS
COMO A COVID-19 AFETA 
A POLÍTICA BRASILEIRA.Tema
Assista em: Facebook: @revistaISTOE 
Instagram: revistaistoe
Transmissão ao vivo e simultânea nas redes sociais
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10 ISTOÉ 2634 8/7/2020
Editorial
A nova fábula inventada pelo governo é a de que ele agora roga pela pacificação. Quer a paz, o armistício, o entendimento. Com o Congresso, o Supremo, os 
indigenistas, médicos, professores, quem aparecer pela fren-
te. Deixou de lado o tom beligerante, a arrogância voluptu-
osa do “eu que mando”. A versão mal acochambrada do 
“Jairzinho paz e amor” — tal qual a embalagem marqueteira 
do demiurgo do agreste “lulinha...”, deixa prá lá, criminoso 
já encarcerado no passado — tem intento e razões de ser. O 
mandatário de quatro costados, seguro de si por se julgar 
sustentado pela caserna e pelas ruas, perdeu o chão. Não se 
vê mais como aquela cocada toda. Dos militares ouviuque 
seria bom (impositivo até) baixar o tom. Da plateia de eleito-
res soube, espantado, não existir qualquer apoio a aventuras 
ditatoriais nessas paragens. Em pesquisa que calou seus ar-
roubos, 75% dos entrevis-
tados disseram-se a favor 
da democracia, 52% não 
gostam nada da presença 
fardada no poder político 
e a maioria absoluta abo-
mina ímpetos golpistas. 
Acabou o assunto. E com 
ele os sonhos totalitários 
de um capitão reformado. 
Mas tem mais: Bolsonaro 
no Planalto, filhos, apani-
guados, militantes, aliados, 
paus mandados e opera-
dores estão, por várias frentes, acuados. O presidente em 
pessoa enfrenta ao menos duas investigações no Supremo. 
Os rebentos Flávio e Carlos, idem, na Justiça Federal do Rio. 
Amigos de longa data, presos ou sob suspeita. Financiadores 
de esquemas de fake news no “gabinete do ódio”, parlamen-
tares engalanados que participaram das “rachadinhas”, a 
tropa de ministros ideológicos que aprontam e atrapalham, 
gerando prejuízos sonoros, a cumbuca inteira dos seguidores, 
passaram da condição de pedra à vidraça. Bolsonaro virou 
bonzinho, baixou a bola, porque está amargando consecuti-
vas derrotas e, mais grave, sob sério risco de perder o cargo 
e a glória antes do tempo. Emite sinais de conciliação para 
remendar os estragos. E olha que não foram poucos. Na co-
munidade internacional, Bolsonaro encontra no momento o 
ambiente mais adverso possível. Com riscos de perder até o 
maior aliado. Donald Trump, o ídolo indomável, a referência 
para tantas diabruras, que pode em alguns meses não estar 
mais lá na cadeira de homem mais poderoso da Terra. Corre 
 O LOBO NA PELE DE “JAIRZINHO”
séria ameaça de fracassar nas eleições por falhas, digamos, 
decibéis abaixo das praticadas pelo líder bananeiro da parte 
de cá das Américas. O mundo, no último final de semana, 
recebeu manifestações em dezenas de países e continentes 
com os dizeres “Stop Bolsonaro”. Há uma revolta generaliza-
da em especial com o seu descaso pelas queimadas e desma-
tamentos, que sangram a Amazônia. Ninguém deseja ou 
aguenta mais tamanha destruição e vai punir o Brasil, talvez 
como cúmplice, pelo disparate do seu chefe de Estado.Um 
grupo de 29 instituições financeiras, entre as maiores do 
planeta, responsáveis por nada menos que US$ 3,7 trilhões 
em recursos (ou o dobro do PIB nacional) emitiram uma 
carta ameaçando claramente retirar seus investimentos daqui 
caso o País siga subindo seus índices de afrontas ambientais. 
Já se sabe, o tema caiu para o último lugar na hierarquia de 
atenções do “mito”. Mas 
ele quer se redimir, tomar 
prumo. É o que alega. Na 
verdade, Bolsonaro está 
por alguns dias comporta-
do, mas não se emenda. 
Nem acalente esperanças! 
Não é da natureza dele. 
Quem age, coloca panos 
quentes e se mexe no 
meio de campo é a entou-
rage dos ministros e asses-
sores conscientes. Bolso-
naro fez o que era possível 
e estava ao alcance do seu limite: saiu de campo. Algumas 
semanas sem Jair e com o “Jairzinho Paz e Amor” atuando 
foram, no mínimo, pedagógicas. Uma ausência que preen-
cheu uma lacuna. Sem o tom histriônico e desagregador do 
capitão, o País pôde finalmente cuidar do que interessa. O 
lobo ficou na toca e movimentações producentes, como a da 
negociação do czar Paulo Guedes com deputados para evoluir 
na pauta econômica, conseguiram ganhar prioridade. Sem o 
presidente irascível o País evoluiu melhor. Quem diria! A 
ausência bem vinda. No coração do poder reina, momenta-
neamente, um comandante manietado, tutelado pelas forças 
militares, tolhido pelo descrédito junto aos demais poderes, 
ignorado por tantos disparates e imprudência. Não o imagine 
como vítima. Jamais! Está sim na posição de réu por malfei-
tos em série. Alguém em quem não se pode confiar. Não 
apenas pelas mentiras que professa, mas pelos atos indomá-
veis e inconsequentes que executa. O lobo ainda está ali, mas 
vestiu, por conveniência, a pele de Jairzinho. 
Carlos José Marques, diretor editorial
Foto: reprodução
11
Entrevista 4
Cartas 8
Brasil Confidencial 18
Semana 20
Brasil 28
Comportamento 36
Economia 52
Em Cartaz 64
Última Palavra 66
30
62
Nº 2634 – 8 de julho 2020
ISTOE.COM.BR
BRASIL Ascensão e queda de Carlos Alberto Decotelli, 
o homem que tentou ser ministro com currículo fake 
COMPORTAMENTO 
O Brasil sempre 
foi pioneiro 
na produção de 
diversas vacinas e 
essa tradição pode 
se repetir em relação 
ao coronavírus 
CULTURA
 Devido à 
Covid-19, o 
Mahler Festival, 
na Holanda, 
comemorando os 
160 anos de 
nascimento do 
compositor 
erudito Gustav 
Mahler, terá de 
ser online
CAPA Os militares tutelam o presidente Jair 
Bolsonaro na tentativa de salvar o governo
22
36
Você também pode 
ler ISTOÉ baixando 
a edição em seu 
Smartphone e tablet
CAPA: Foto: AdrIANo MACHAdo/reuterS
FotoS edItorIAIS: ANderSoN prAdo; WALLACe MArtINS/FuturA preSS/FoLHApreSS; 
dIVuLGAção/FIo CruZ; AFp
Sumário
12
Artigos
ISTOÉ 2634 8/7/2020
por Felipe Machado
amoso por suas garras, patas, 
carapaça, carne saborosa, sabe-se, 
agora, que o caranguejo inspira um plano 
de governo. Uma de suas características 
mais intrigantes está na troca da 
carapaça, quando já gasta, que o protege 
contra dos predadores, tal quando 
chafurda na lama dos manguezais ou se 
hospeda em conchas vazias. Anda para 
frente, para trás e velozmente para 
ambos os lados, com suas dez patas (duas 
da frente com garras defensivas), um 
crustáceo com duas hastes e seus olhos 
atentos e desconfiados. O governante 
nele se inspirando, em campanha, vem 
com a primeira carapaça e se exibe, com 
promessas e planos, quando eleito os 
coloca em prática. Monta um qualificado 
ministério e de bandeja, aprova uma 
esperada legislação aos inativos. Dá um 
enorme passo à frente!
De repente, por ciumeira desmedida, 
imaginando que alguns de seus 
auxiliares estão invadindo seu objetivo 
(que em campanha não era), ao invés de 
exaltar suas escolhas, despe a primeira 
carapaça. Com a segunda, demite os 
bons, um dos grandes avalistas de seu 
governo e outro com competência para 
u sinceramente gostaria de saber 
detalhes sobre o Departamento 
de Recursos Humanos do Palácio do 
Planalto. Quem são? Como vivem? Do 
que se alimentam? E, principalmente, 
como é o processo de seleção para 
trabalhar no governo federal? Não, 
não estou pensando em enviar meu 
currículo. Quero mesmo é descobrir 
como, entre tantos brasileiros 
capacitados, essa turma consegue 
contratar tanta gente ruim.
Parece piada, mas não é. Acredito 
sinceramente que eles fazem uma lista 
dos melhores candidatos, os mais 
preparados, os mais inteligentes. E 
depois viram a lista de cabeça para 
baixo, para então começar as 
sondagens. Prometeram ao País um 
ministério técnico; em vez disso, 
recebemos um ministério tétrico.
O caso do último ministro da 
Educação — que foi sem ter sido — 
é a mais nova prova do inegável talento 
que o RH do governo tem para contratar 
pessoas erradas. Um funcionário bem 
educado poderia ter avisado 
delicadamente o senhor Decotelli que 
mentir no currículo é falta de educação. 
O presidente Bolsonaro já se gabou que 
tem um sistema de informação 
particular que funciona muito bem. Não 
tenho certeza, mas talvez a checagem 
de um currículo seja uma tarefa muito 
complexa para eles. É sempre bom 
lembrar que o RH do governo já havia 
dado a sua contribuição para o 
empobrecimento intelectual do País 
com a escolha dos dois ministros 
E
F
anteriores, Ricardo Vélez Rodríguez 
e Abraham Weintraub. Sabemos que 
serão apenas rodapés esquecidos nos 
livros de história, se muito, mas o 
estrago que fizeram dentro e fora das 
salas de aula afetará o País por muito 
tempo. Decotelli é, no máximo, apenas 
mais um personagem a esquecer.
Esse talento (ao contrário) para 
contratações não acontece apenas na 
Educação. Nunca na história desse País 
foi tão essencial ter um ministro da 
Saúde competente. O atual parece 
conhecer tanto a sua pasta quanto eu 
entendo de física astroquântica (não 
entendonada). Entre os nomes dos quais 
já nos livramos, meu favorito foi o 
secretário da Cultura que achava que era 
o nazista Joseph Goebbels. Inesquecível. 
O RH do governo criou um critério de 
contratação bastante original: quanto 
mais o candidato entende do assunto, 
maior será a chance de ser descartado; 
quanto menor for sua noção sobre o 
tema, mais alto será o seu cargo. Vejam o 
presidente da Embratur, por exemplo. 
Sua fluência em inglês deixaria Joel 
Santana envergonhado. Seu currículo, 
no entanto, tinha um elemento essencial 
para o cargo: ele sabe tocar sanfona.
Alguém sabe me dizer se existe 
impeachment para diretor de RH?
o belo Departamento 
De rH Do planalto 
o plano 
CaranGUeJo 
De GoVerno
Monta um qualificado 
ministério e, de 
bandeja, aprova uma 
esperada legislação aos 
inativos. Dá um enorme 
passo à frente!
Prometeram ao País um 
ministério técnico. Em vez 
disso, recebemos um 
ministério tétrico
por Dilermando Cigagna Júnior
A seguir: Germano Oliveira, Antonio Carlos Prado, 
Vicente Vilardaga, Marcos Strecker
13
A seguir: Marco Antonio Villa
por Cristiano Noronha
As opiniões dos colunistas não necessariamente refletem a posição da revista
esde março, o Brasil parou por conta 
da pandemia do novo coronavírus. 
Chegamos ao mês de julho. Estamos 
entrando no quarto mês da batalha contra 
a Covid-19 e uma série de questões 
continuam sem resposta. A mais importante 
de todas é sobre quando teremos uma 
vacina. Há informações de que em a fase 
de ensaios clínicos já está iniciando. Quanto 
tempo esse processo poderá levar? Não se 
sabe. A imprevisibilidade trazida pela 
pandemia também ronda nossa economia 
e as contas públicas dos governos federal, 
estaduais e municipais. O presidente do 
Banco Central, Roberto Campos Neto, 
estima que o PIB do Brasil este ano sofra 
uma queda de 6,4. Mas, 
considerando alguns 
indicadores econômicos, ele 
enxerga um possível “viés de 
melhora”. O mercado tem uma 
expectativa semelhante. De 
acordo com a última pesquisa 
Focus (feita pelo Banco Central 
com o mercado financeiro), as projeções 
indicam uma retração de 6,54%. Bem mais 
pessimistas são as previsões do Banco 
Mundial (-8%) e do Fundo Monetário 
Internacional (-9,1%).
Sabe-se que o déficit na Previdência deve 
se agravar, embora seja difícil precisar seu 
tamanho. Em março, o governo fazia um 
cálculo de R$ 241 bilhões. Em maio, 
reavaliou para cima: R$ 276,5 bilhões. Já a 
Instituição Fiscal Independente (IFI) do 
Senado Federal projeta R$ 306,2 bilhões. O 
secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, 
alerta que o déficit primário do setor público 
pode chegar a R$ 850 bilhões, ou 11,5% do 
PIB. O Brasil sairá da pandemia com dívida 
bruta acima de 95% do PIB, o que é elevado 
para países emergentes. Não sabemos 
quantas empresas conseguirão 
sobreviver à crise. Os pedidos de 
recuperação judicial e de falência estão 
crescendo e atingem principalmente as 
pequenas e as microempresas. Vale 
ressaltar que elas são responsáveis por 
mais de 72% dos empregos no país. A 
Associação Brasileira de Bares e 
Restaurantes acredita que o número de 
falências no setor será alto mesmo após 
o fim da quarentena, já que milhares 
de trabalhadores perderão o emprego 
e continuarão cautelosos.
Outra dimensão preocupante 
é o desemprego. De acordo com o IFI, 
podemos chegar ao fim do ano com 
14,2% de desempregados, em um cenário 
otimista. Mas o índice pode atingir 15,3%. 
De acordo com o IBGE, fechamos 2019 
em 11,9%. A boa notícia é que para 2021 
as previsões apontam para um 
crescimento do PIB de 3,5%. Havendo 
crescimento, poderemos recuperar parte 
dos empregos perdidos. Para tanto, o 
Congresso Nacional precisa continuar 
empenhado na agenda de reformas 
estruturais com o objetivo de reduzir o 
déficit das contas públicas e melhorar o 
ambiente de negócios. Sem essa agenda, 
a recuperação será ainda mais lenta e 
sacrificante para a população. E nosso 
futuro ficará ainda mais incerto.
enfrentar momento grave, a favor do 
povo; os substitui por quem o obedeça 
cegamente, onipotência afastada pelos 
demitidos. Deu dois péssimos passos 
para trás. Seguindo o plano do 
caranguejo, se despe da segunda 
carapaça, com a terceira, anda 
velozmente de um lado para outro, 
trazendo mais companheiros de 
outrora, para qualquer cargo. Outros 
novos amigos, dentre eles dois irmãos, 
um seu vizinho e o outro um ministro, 
sem educação, que tombou tarde e 
zarpou para a América. Deu, então, 
incontáveis passos para os lados!
Confia cegamente em três conchas 
protetoras e numeradas de um a três, 
em clara troca de proteções, já que 
também as protege. Confia em uma 
concha maior, só vista nos Estados 
Unidos, peça que não compartilha com 
nada à sua esquerda! Põe ministro, tira 
ministro a pedido, sem pedido, decreta, 
revoga o decreto, demite, altera a data 
da demissão, se irrita só de ver um 
jornal, mas adora mandar mensagens, 
lança um audacioso plano, que não saiu 
do papel, põe máscara, tira máscara, fica 
calmo e logo esbraveja, briga com 
poderosos de outros poderes, faz as 
pazes e briga novamente, a conhecida 
“dança do caranguejo”.
Quarta carapaça: vendo as três 
conchas trincar, chama a seu lado seus 
inimigos (que dizia também o serem do 
povo) caminha trôpego, se enterra cada 
vez mais! O que o plano do caranguejo 
não previa, é que com estas idas e vindas, 
desnorteado, despreparado, inseguro, 
frágil, pode cair, entrar em fervura ou na 
panela de pressão, até perder seu poder. 
Pior, depois disso, suas patas (apreciadas 
pelos glutões), podem ser quebradas a 
martelo, sem precisar de foice.
D
nUVem De inCertezas
Podemos chegar ao fim do ano 
com 14,2% de desempregados, 
em um cenário otimista, mas 
o índice pode atingir 15,3%. 
Em 2019, fechamos em 11,9%
por Dilermando Cigagna Júnior
A seguir: José Manuel Diogo, 
Ricardo Amorim, Bolívar Lamounier, 
Luiz Fernando Amaral, José Vicente
“Eduardo quEr dErrubar 
sEu pai, Jair bolsonaro, para 
concorrEr às ElEiçõEs 
prEsidEnciais dE 2022” 
Janaína Paschoal, 
deputada estadual em São Paulo 
“o Brasil 
vive hoJe 
um colaPso. 
voltamos 
à idade média. 
a tragédia 
só aumenta, 
o aBandono 
é geral e o 
Panorama 
é de terror” 
milton nascimento, 
cantor e compositor 
“Há uma rElação 
disfuncional EntrE 
Estados unidos, cHina 
E rússia quE impEdE 
uma rEsposta 
comum à pandEmia” 
antonio guterres, 
secretário-geral da ONU 
“a américa 
latina lEvará 
três ou quatro 
anos para 
rEcupErar o 
pib antErior 
à pandEmia” 
eric Parrado, 
economista-chefe 
do Banco 
interamericano de 
desenvolvimento 
“O que eu mais querO é 
me sentir cOnfOrtável. 
sintO falta de sair 
livre e em segurança 
pelas ruas” 
Paola oliveira, atriz 
Frases
fotos: image press agency/afp; michael tewelde/afp; reprodução instagram
“infelizmente os 
estados unidos 
não seguem regras 
que eles mesmos 
criaram” hossein ghariBi, 
embaixador da república islâmica 
do irã no Brasil, sobre a violação 
americana da resolução do 
conselho de segurança da onu
“As vozes 
estão surgindo 
agora. Vejo 
isso com 
a esperança 
de que 
conseguiremos 
uma grande 
conquista” 
naomi camPBell, modelo, ao falar 
das novas oportunidades de empregos 
para pessoas negras em todos os 
setores da sociedade 
14
por Mariana Ferrari
istoé 2634 8/7/2020
LIVE
Fernando 
Cirne
CEO DA LOCAWEB
6.julho • Segunda
ÀS 17HORAS
A TRANSFORMAÇÃO 
DIGITAL DAS PEQUENAS 
E MÉDIAS EMPRESAS.Tema
Juliano 
Ohta
CEO DA TELHANORTE
9.julho • Quinta
ÀS 16HORAS
O AQUECIMENTO 
DO SETOR DE MATERIAIS 
DE CONSTRUÇÃO. Tema
Transmissão ao vivo e simultânea nas redes sociais
Assista em:
Facebook: @istoedinheiro 
Instagram: revistaistoedinheiro
Twitter: @RevistaDinheiro
YouTube: Istoé Dinheiro
anuncio_LIVE_dinh_Fernando Cirne_Juliano Ohta.indd 1 6/29/20 6:21 PM
Frases
“Se a Terra adoecer nós 
adoecemos juntos. Não seremos 
saudáveis com o planeta 
todo quebrado” 
ailton KrenaK, liderança indígena e escritor 
“a imagEm do 
paísEstá muito 
Exposta no ExtErior, 
porquE os próprios 
brasilEiros falam 
mal da nação” 
Paulo guedes, ministro da Economia 
“Uma coisa é certa: a gestão de Carlos Alberto Decotelli no Ministério 
da Educação de Bolsonaro foi muito melhor que a Abraham Weintraub”
fáBio lePique, secretário executivo da Prefeitura de São Paulo. Decotelli ficou cinco dias como ministro, 
mas sequer entrou em seu gabinete porque não lhe foi dada a posse
“O bOicOte 
aO FacebOOk 
cOntamina 
a discussãO 
dO prOjetO 
de lei sObre 
Fake news” 
orlando silva, 
deputado federal, 
sobre a saída de 
empresas que 
patrocinavam essa 
rede social, após 
publicações falsas 
não serem 
bloqueadas 
“vou falar soBre 
a minha traJetória 
e, PrinciPalmente, 
a minha relação 
com o sistema 
Policial no País”
érico Brás, ator, que lança um 
novo livro no qual conta histórias 
pessoais de racismo e opressão 
“NuNca 
tivemos um 
lugar de 
respeito” 
valentina samPaio, modelo, sobre a 
situação da mulher trans no Brasil 
nãO deveria 
ser um debate 
O usO de 
máscaras”
Jennifer aniston, 
atriz, ao pedir conscientização 
nos cuidados contra o coronavírus 
“é Preciso distinguir manifestações PróPrias da 
liBerdade de exPressão com crimes de calúnia, inJúria, 
difamação, ameaça, organização criminoso e delitos” 
augusto aras , procurador-geral da República, sobre os ataques ao STF
fotos: xavier collin/image press agency/nurphoto/afp; reprodução instagram; divulgação16
por Mariana Ferrari
istoé 2634 8/7/2020
A Agência Nacional do Petróleo 
(ANP) determinou novos padrões 
de qualidade para o combustível, a 
partir de agosto. Com isso, passa a 
ser obrigatória a comercialização de 
uma nova gasolina brasileira com mais 
energia e menos consumo.
Porém, como uma refinaria à frente 
do tempo, temos orgulho de já estar 
produzindo e abastecendo, hoje, 
todos os nossos clientes com esta 
nova gasolina. E, ao contrário do que 
planeja o concorrente, não cobramos 
e nem cobraremos nada a mais ou a 
menos por isso.
Porque, para a gente, oferecer mais 
qualidade com preço justo não é 
novidade. É só mais uma prova de que 
a nossa fórmula sempre funcionou 
muito bem.
Na Refit ela já chegou.
E, ao contrário 
do concorrente, 
não cobramos 
nada a mais por isso.
• • refit.com.brrefit.refinaria RefitRefinaria
ISTOÉ SIMPLES 20,2x26,6.indd 1ISTOÉ SIMPLES 20,2x26,6.indd 1 01/07/20 14:2401/07/20 14:24
por Germano Oliveira
Colaborou: Marcos Strecker
ISTOÉ 2634 8/7/202018
Brasil Confidencial
ligações perigosas
Um desembargador muito suspeito 
A Operação Favorito, que prendeu vários 
empresários ligados à área da Saúde do Rio 
de Janeiro, jogou luz sobre um empresário 
que ainda vai dar dor de cabeça ao governador 
Wilson Witzel, ao prefeito Marcelo Crivella 
e ao desembargador Paulo Rangel, do TJ-RJ. 
Trata-se de Leandro Braga Sousa. Ele é dono 
da LP Farma Comércio de Produtos Hospitalares 
e vendeu equipamentos superfaturados para 
as UPAs do Rio, comandando um esquema 
criminoso para desviar dinheiro público do 
governo fluminense. É também proprietário 
da LPS Corretora de Seguros, empresa envolvida 
num escândalo de desvios no Instituto Estadual 
do Ambiente (Inea) e que chegou a ter o 
desembargador Rangel como sócio. Leandro 
é o elo entre as três autoridades que podem 
ficar em maus lençóis por causa dele.
O desembargador Paulo rangel deve ser investigado pelo Conselho 
Nacional de Justiça por ter beneficiado o senador Flávio no caso das 
rachadinhas. Contrariando decisões do sTF, favoreceu o filho do presidente, 
tirando-lhe das mãos do juiz Flávio itabaiana. rangel é investigado pelo CNJ 
por outra irregularidade: associação com o empresário leandro Braga sousa 
na lPs, a empresa suspeita de desvios no rio.
Triângulo 
Leandro tornou-se 
amigo de Witzel por 
ser motorista do 
TJ-RJ. Quando Witzel 
assumiu o governo, 
Leandro indicou 
Claudio Dutra para 
a presidência do 
Instituto Estadual do 
Ambiente (Inea). Com 
a influência, Leandro 
resolvia problemas 
das empresas que 
tinham negócios com 
o Inea e depois sua 
corretora de seguros, 
a LPS, fechava 
contratos com elas.
Novelo 
O MP está agora 
seguindo o fio da 
meada. Vai identificar 
quais são as empresas 
com quem a LPS de 
Leandro fazia negócios, 
cruzando com os 
contratos que elas 
mantinham com o 
Inea. Outra ligação 
investigada é uma 
sociedade de Leandro 
de Sousa com Maressa 
Crivella, nora do 
prefeito Marcelo 
Crivella. Queriam 
montar um banco 
digital para evangélicos.
* O Hospital Albert Eins-
tein desaconselha seus 
médicos a prescreve-
rem a cloroquina. Diz 
que ela pode até matar 
o paciente. Mas Bolso-
naro acha que o remé-
dio é milagroso. Será 
por isso que 54% das 
pessoas ouvidas pelo 
Datafolha o consideram 
pouco inteligente?
* Pior é o mico do Exér-
cito. Seguindo as or-
dens de Bolsonaro, o 
laboratório do Exército 
produziu 1,8 milhão de 
comprimidos de cloro-
quina, o que represen-
ta 18 vezes sua produ-
ção anual. O que fazer 
com o estoque?
* O aplicativo da Caixa 
para pagamento do be-
nefício emergencial de 
R$ 600 é tão frágil que 
os falsários invadiram as 
contas de 100 mil pesso-
as e sacaram os créditos, 
com um prejuízo de R$ 
60 milhões. Nada funcio-
na com Bolsonaro.
* O novo ministro das 
Comunicações, Fábio 
Faria, quer sanear a Em-
presa Brasil de Comu-
nicação (EBC) antes de 
privatizá-la: vai contra-
tar uma empresa de 
consultoria para redu-
ção de custos. O déficit 
é de R$ 87 milhões.
Rápidas
fotos: Dikran Junior/futura Press; 
reProDução
pResos As relações de Leandro de Sousa (no destaque) com Witzel e Crivella podem ser explosivas
ReTRaTo FaLado ToMa Lá dá Cá
Um novo sTF 
FALTANDO DOIS MESES PARA ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DO STF, O 
MINISTRO LUIZ FUX ESTÁ MOSTRANDO QUE SUA GESTÃO À FRENTE DA 
CORTE SERÁ MARCADA PELO DIÁLOGO. ELE JÁ ESTÁ CONVERSANDO COM 
MILITARES E MINISTROS DO GOVERNO BOLSONARO PARA ACABAR COM A 
TENSÃO ENTRE OS PODERES. FUX ASSUMIRÁ NO DIA 10 DE SETEMBRO.
Batendo um bolão 
O ministro Gilmar Mendes, do STF, surpreendeu 
um grupo de juristas alemães que participavam 
de uma live com ele ao dizer que havia sido 
colega do rei do futebol Edson Arantes do 
Nascimento, o Pelé. Os juristas quiseram saber 
se Mendes jogou futebol com ele, mas o juiz do 
Supremo foi logo avisando: “Fomos colegas de 
ministério no governo de FHC”.
Direitos já 
Inspirado no movimento das 
Diretas Já, de 1984, o sociólogo 
Fernando Guimarães criou o 
“Direitos Já”, que realizou na 
sexta-feira, 26, um ato virtual em 
defesa da democracia, com a 
participação, em uma live, dos 
políticos mais infl uentes do País: 
Fernando Henrique Cardoso, 
Ciro Gomes, Fernando Haddad, 
Marina Silva e Luciano Huck, 
Faltou consenso 
Algumas outras personalidades importantes 
foram convidadas a participar, chegaram 
a concordar em apoiar o ato, mas desistiram 
às vésperas do evento. Foi o caso dos 
ex-presidentes Michel Temer e José Sarney, 
assim como do ministro Dias Toff oli, presidente 
do Supremo Tribunal Federal (STF).
JOICE HASSELMANN, DEPUTADA 
a senhora já foi amiga íntima do presidente 
Bolsonaro. por que rompeu com ele?
Bolsonaro é um estelionato eleitoral. Ele é uma 
farsa. Prometeu acabar com a corrupção e provocou 
a demissão do Moro, que combatia o crime 
organizado.
por que a senhora diz isso?
O presidente é um burrão e grosso. Ele traiu o povo 
brasileiro. Sempre se cercou dos 
piores, desde a campanha. Basta 
ver que o Queiroz é seu amigo há 
40 anos. Foi ele quem o indicou 
para o filho Flávio contratá-lo no 
gabinete de deputado.
a senhora acha que ele 
deseja um retrocesso 
institucional?
O sonho do Bolsonaro é 
dar o golpe. Ele tem um ato 
institucional pronto na gaveta. 
Todos os ministros sabem 
disso. Ele fala para todo mundo 
no governo.
A ex-diretora de Privatizações do 
Banco Nacional de Desenvolvimento 
Econômico e Social (BNDES) no 
governo de Fernando Henrique 
Cardoso, Elena Landau, disseem live 
na ISTOÉ na sexta-feira, 26, que “o 
governo Bolsonaro é uma 
calamidade, o pior do mundo” e que 
o ministro Paulo Guedes “não tem 
um programa econômico para sair 
da crise”. Ela acha que “o presidente 
não tem equilíbrio emocional para 
sentar na cadeira presidencial”. Para 
ela, o governo Bolsonaro acabou.
“Paulo Guedes 
é um folclore, 
ninguém mais 
acredita nele”
entre outros. Todos eles fazem 
oposição a Bolsonaro e estão 
apreensivos com as ameaças do 
presidente da República ao 
regime democrático, sobretudo 
por ele participar 
ostensivamente de protestos de 
seus aliados pedindo o 
fechamento do Congresso e do 
Supremo Tribunal Federal (STF), 
além de intervenção militar e a 
criação de um novo AI-5.
apita o árbitro 
Essa não é a única história envolvendo Gilmar 
Mendes e o futebol. Santista roxo, marcou 
com Pelé de assistir à fi nal pela Libertadores 
entre o Santos e o Peñarol no Pacaembu, 
dia 22 de junho de 2011. Como era relator 
de matéria em discussão no STF, e a hora 
de pegar o voo para São Paulo se aproximava, 
suspendeu a sessão e foi para o aeroporto.
fotos: kariMe XaVier/foLHaPress; CÂMara Dos DePutaDos; 
DiVuLGação/sCo/stf
brasileiro. Sempre se cercou dos 
piores, desde a campanha. Basta 
ver que o Queiroz é seu amigo há 
40 anos. Foi ele quem o indicou 
para o filho Flávio contratá-lo no 
institucional pronto na gaveta. 
disso. Ele fala para todo mundo 
19
20
Semana
ISTOÉ 2634 8/7/2020
por Antonio Carlos Prado e Mariana Ferrari
Mortes e destruição na região do sul do País
Um ciclone com rajadas de vento que oscilaram entre cento e trinta e cento e quarenta quilômetros por hora 
causaram pelo menos quinze mortes e deixaram pessoas de-
saparecidas na região sul do País. Os dados foram divulgados 
na quinta-feira 2 pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul, San-
ta Catarina e Paraná, os três estados mais atingidos. O fenôme-
no climático provou também a queda de árvores, de fios de 
alta tensão e de casas, e deixou cerca de vinte e três cidades 
CLIMA
PESQUISA
CresCe o Medo. 
MAs As PessoAs sAeM de CAsA 
Aumentou no Brasil o medo da contaminação 
pelo coronavírus. Agora, o paradoxo: encolheu 
a parcela das pessoas que declaram cumprir à 
risca a quarentena. Dados de pesquisa Datafolha: 
fotos: divulgação/secom/prefeitura de chapecó; alice vergueiro/folhapress; divulgação
sem energia elétrica. Aproximadamente mil e trezentas pes-
soas estão desabrigadas. Em Santa Catarina, mais de mil 
bombeiros atenderam mil e seiscentas ocorrências causadas 
pelo “ciclone bomba”, como vem sendo chamado, e na quata-
feira 1 não se descartava o alerta de que ele chegaria à região 
sul — embora com ventos em menor velocidade. Frequentes 
nessa época do ano, ciclones desse tipo ocorrem quando uma 
frente fria se associa a um núcleo de baixa pressão — tanto que 
desde o domingo 28 avisos de ventanias e temporais vinham 
sendo enviados pela Marinha, destacando o risco de ondas 
marítimas ultrapassarem onze metros de altura. “Ciclone 
bomba”, cientificamente classificado pelos meteorologistas 
como “ciclone extratropical”, é aquele em que acontece uma 
acentuada queda de pressão atmosférica em um curto espaço 
de tempo — geralmente vinte e quatro horas. Essa brusca al-
teração o torna extremamente destrutivo e perigoso. 
 Em junho chegou a 47% o índice de brasileiros que afirmam 
 ter muito medo do vírus 
 O medo é maior entre as mulheres (53%) que entre os homens (41%)
 Ainda assim, caiu de 21% para 12% a porção de pessoas que diz sair 
 de casa somente para o essencialmente necessário
o que é “Ciclone bomba” 
Cientificamente classificado pelos meteorologistas 
como ciclone extratropical, o “ciclone bomba”é 
aquele em que ocorreu uma acentuada queda de 
pressão atmosférica em um curto espaço de tempo — 
geralmente vinte e quatro horas
devAstAção Telhados e 
postes foram arrastados pelo 
vento: estado de emergência 
em Santa Catarina
21
nEgócIoS
reinvenção 
de sucesso 
Quando a mudança na 
rotina é brusca demais há 
duas possibilidades: estagnar 
ou reinventar. Se grande 
parte dos empresários se 
fixasse na primeira opção, 
novos produtos ficariam 
para depois. Esse não foi o 
caso da arquiteta Claudia 
Taitelbaum, CEO da Exhimia, 
empresa especializada na 
estruturação de eventos. 
Na pandemia, ela tornou-se 
uma das mais atuantes no 
combate ao coronavírus. “Eu 
precisava me movimentar, 
senão ficaríamos para 
trás”, diz Claudia. Assim, a 
Exhimia deixou os eventos 
e passou a trilhar os 
negócios na produção de 
máscaras com protetores 
faciais — essenciais para 
a prevenção da Covid-19 
— e transformou-se em 
referência no mercado. O 
site, reformulado em poucos 
dias, chamou a atenção 
do público e as vendas 
dispararam. “Na contramão 
de outras empresas, eu 
não demiti ninguém. Pelo 
contrário, contratamos 
novos funcionários”, diz 
a arquiteta. Em um mês 
de vendas as máscaras 
passaram a representar 
72% do rendimento total 
da Exhimia, e o papel social 
não foi deixado de lado. Em 
três meses, mais de 30 mil 
máscaras foram doadas. 
Lema de Claudia: olhar o 
próximo com criatividade, 
carinho e atenção.
BRASIL
dezessete mil mortos 
receberam auxílio emergencial 
Inacreditável: em meio à pandemia e com milhões de desempregados no 
País, os R$ 600 de auxílio emergencial do governo federal foram parar nas 
mãos de 17 mil mortos — ou seja, 17 mil pessoas vivas e muito desonestas, 
receberam o recurso. A conclusão é da primeira auditoria do Tribunal de 
Contas da União, divulgada na quarta-feira 1. O que se deu aos mortos gira 
em torno de R$ 11 milhões. O montante envolvendo os pagamentos com 
cambalachos é de R$ 427,3 milhões (até abril). O auxílio emergencial foi 
prorrogado por mais dois meses (o governo não divulgou calendário).
Durante a pandemia 
eles ascenderam. 
Tornaram-se parte dos 
serviços essenciais. Os 
entregadores não só 
pipocaram, como mais do 
que triplicaram em todo o 
País: peças fundamentais 
para o funcionamento 
da engrenagem dos 
aplicativos de entrega 
(Rappi, iFood e Uber 
Eats). Na quarta-feira 
1 eles tomaram ruas e 
avenidas brasileiras na 
primeira paralisação da 
categoria. Pediam que 
seus direitos fossem 
respeitados (sejam eles 
físicos ou trabalhistas) 
e recursos para higiene 
pessoal. Afinal, eles 
comem em cima das 
motos, são obrigados 
a trabalhar aos fins de 
semana — caso contrário 
o acesso ao aplicativo 
é cancelado — e não 
recebem kits de limpeza. 
Em contrapartida, 
as empresas dizem 
que asseguram esses 
direitos. Os motoboys 
pararam uma vez, 
mas, agora, se não 
respeitados, eles falam 
que as ruas serão 
tomadas, novamente, 
pelo comboio de motos.
Para traduzir o seu apoio a luta contra o racismo, 
a Mercedes correrá a temporada de Fórmula 1 
desse ano com seus carros pintados de preto. 
Em nota, a equipe informou na semana passada: 
“vamos competir de preto, expressando o nosso 
compromisso público de incentivo à diversidade 
e de contrariedade à discriminação
velocidade contra o preconceito 
DIREIToS cIVIS
Greve em 
duas rodas
620 
mil
Benefícios, 
ao todo, 
foram pagos 
indevidamente, 
muitos deles 
a militares. 
O rombo soma 
R$ 427,3 milhões
são PAuLo Paralisação 
dos entregadores de 
aplicativos: trabalhadores 
essenciais na pandemia
22 ISTOÉ 2634 8/7/2020
DERROTADO 
Bolsonaro muda a rota 
do governo diante das 
investigações do STF 
e das crises graves na 
saúde e na economia. 
Prisão de Queiroz foi 
a gota d’água
23
Capa/Governo
ricórdia para mudar o humor presidencial, no entanto, foi a 
prisão de Fabrício Queiroz, amigo de décadas de Bolsonaro 
e ex-assessor de seu filho Flávio. Ele é acusado pelo Minis-
tério Público do Rio de ser o operador de um esquema de 
rachadinhas liderado pelo filho na Assembleia fluminense. 
O escândalo, que inclui o envolvimento com milícias, levou 
a crise para dentro do Palácio do Planalto. Isso abateu Bolso-
naro mais que qualquer adversidade enfrentada desde o 
início do governo.
Para proteger oclã e preservar seu mandato, o presidente 
mudou sua estragégia. Acabaram suas aparições diárias no 
“cercadinho” do Palácio do Alvorada, que geravam crises diá-
rias. Foi uma recomendação dos militares palacianos. A ala 
fardada passou a mandar mais, e o núcleo ideológico, próximo 
dos filhos, perdeu protagonismo. Um exemplo desse movi-
os últimos dias, o Brasil está conhecen-
do um novo presidente. Confrontado 
com as ameaças crescentes ao seu go-
verno, Jair Bolsonaro não ataca mais a 
imprensa, não participa de atos golpis-
tas, prega a harmonia com o Supremo 
Tribunal Federal (STF) e o Congresso e 
demonstrou até compaixão com as 
vítimas da Covid-19 em uma live bizarra que incluiu o presi-
dente da Embratur como sanfoneiro. O cerco se fecha a 
partir dos vários inquéritos que assolam o presidente, sua 
família e colaboradores no STF: Fake News, atos antidemo-
cráticos e interferência na Polícia Federal (PF). Os extremistas 
que rondavam a praça dos Três Poderes pregando o fecha-
mento do Congresso e do STF foram presos. O tiro de mise-
foto: Mateus bonoMi/agif/afp
N
Para salvar seu governo, Jair Bolsonaro conteve a ala ideológica, passou 
a ser tutelado pelos militares e tenta se conciliar com o STF e o Congres-
so. A nova estratégia inclui uma agenda de inaugurações e a transfor-
mação do Bolsa Família em uma marca própria. A mudança vem após 
vários reveses: a prisão de Queiroz, os inquéritos no STF que ameaçam 
sua família, a pandemia e a recessão. Eles fortalecem movimentos pró-
democracia, como o Stop Bolsonaro, que aconteceu no dia 28 em 
cerca de 60 cidade e 26 países e mobilizou as redes sociais.
Bolsonaro
AcuADO
Marcos Strecker
24 ISTOÉ 2634 8/7/2020
mento é a escolha do novo ministro da Educação, que passou 
por critérios mais técnicos e menos doutrinários, apesar da 
desastrada indicação avalizada pelos militares de um ex-ofi cial 
da Marinha que nem esse título tinha. Outro exemplo é a 
pressão pela demissão dos dois ministros ideológicos que têm 
causado os maiores estragos na relação com investidores e 
parceiros comerciais: Ernesto Araújo (Itamaraty) e Ricardo 
Salles (Meio Ambiente). O plano é minimizar as acusações 
criminais e criar uma agenda positiva, imprimindo uma marca 
realizadora. Bolsonaro planeja recuperar a popularidade com 
inaugurações, que estão sendo discutidas com aliados políticos 
e deputados do Centrão. Uma lista com 30 rodovias, viadutos, 
estradas pavimentadas e pontes restauradas está sendo pre-
parada pelo ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura). A inau-
guração de um trecho da transposição do rio São Francisco no 
Ceará, no dia 26, já fez parte desse roteiro. 
Ao criar essa agenda positiva, Bolsonaro lembrou o mo-
mento mais delicado do governo Lula, em meio ao escânda-
lo do Mensalão. Nas cordas e com a popularidade em queda, 
o ex-presidente tentou desviar a atenção do primeiro mega-
escândalo de corrupção da era petista. Apostou suas fi chas 
no Bolsa Família e criou o Programa de Aceleração do Cres-
cimento (PAC), que tentou embrulhar várias obras de infra-
estrutura com um discurso triunfal e uma roupagem desen-
volvimentista. O resultado foram centenas de obras paradas, 
dívidas acumuladas e mais corrupção, como se sabe. Mas 
Lula conseguiu recuperar a popularidade e usou o PAC para 
eleger a sucessora, Dilma Rousseff . Outro pilar de sustentação 
também segue a cartilha petista. Será o Renda Brasil, progra-
ma que deve incorporar o Bolsa Família e benefícios como o 
nOvA AGEnDA Inauguração no Ceará de trecho da transposição 
do rio São Francisco, no dia 26, repetiu a estratégia de Lula 
e mirou regiões em que Bolsonaro é fraco: o Norte e o Nordeste
fotos: alan santos/pr; pedro ladeira/folHapress
infogrÁfiCo: gerson nasCiMento
OS PESADELOS DE BOLSONARO
As várias frentes que tiram o sono do presidente
inQuÉRiTO 
DAs fAKE nEWs
No inquérito das Fake News, 
relatado no STF pelo ministro 
Alexandre de Moraes, a PF 
identificou Carlos Bolsonaro 
como um dos articuladores 
de um esquema criminoso 
de notícias falsas. É apontado 
como o mentor do chamado 
“gabinete do ódio”, instalado no 
Planalto. A PF também apura 
a participação do deputado 
federal Eduardo Bolsonaro
lARAnJAl 
DE flÁviO
A prisão de Fabrício Queiroz 
levou para o Planalto o 
escândalo das rachadinhas 
de Flávio Bolsonaro e a 
suspeita de ligação com 
milicianos. Uma filha de 
Queiroz é suspeita de ser 
ex-funcionária fantasma de 
Bolsonaro em seu gabinete 
na Câmara. Investigado 
por ligação com milicianos, 
Queiroz é amigo de 30 anos 
do presidente
ATOs 
AnTiDEmOcRÁTicOs
Após manifestações que 
pediam o fechamento do 
Congresso e a intervenção 
militar, o ministro Alexandre 
de Moraes do STF mandou 
instaurar investigação. 
Apoiadores de Bolsonaro, 
incluindo deputados e 
empresários, foram alvos 
de busca e apreensão, e 
integrantes de grupo que
 fez protestos foram presos
inTERfERÊnciA 
nA Pf
Aberto a pedido da PGR, um 
inquérito da PF investiga a 
tentativa de interferência de 
Bolsonaro na corporação. 
O presidente tentou nomear 
para a direção-geral Alexandre 
Ramagem, próximo da 
sua família, mas o ministro 
Alexandre de Moraes 
suspendeu a indicação. A 
suspeita de interferência na PF 
foi levantada por Sergio Moro
Capa/Governo
25
abono salarial e o seguro-defeso. O caminho foi apontado 
pelo auxílio emergencial preparado às pressas na pandemia, 
de R$ 600 mensais. Ele acaba de ser estendido porque o 
presidente percebeu o seu potencial político. Agora, Bolso-
naro quer criar o seu próprio Bolsa Família. Além de dar uma 
face social ao governo, o programa pode dar frutos eleitorais 
exatamente na região em que o bolsonarismo é mais fraco e 
o petismo ainda impera — no Nordeste e no Norte.
Os miliTAREs E O cEnTRÃO
O terceiro suporte do novo governo é o Centrão. A corrida 
pelo apoio desses partidos fi siológicos e sedentos de cargos 
tem se acelerado sob a coordenação do general Luiz Eduardo 
Ramos (Secretaria de Governo). Também sinalizando com 
uma distensão, Ramos, que era o único militar da ativa entre 
os ministros palacianos, anunciou que passará à reserva. Com 
isso, diminui o fantasma da interferência do Exército, sem 
contar a ameaça de um golpe, feita várias vezes pelo presi-
dente, de forma não muito velada. “Os militares já devem 
estar refl etindo sobre a vantagem de continuar ou não no 
governo. Demoraram muito para limpar seu nome, saíram 
de forma desgastada da ditadura. Se as evidências compro-
varem o conhecimento do presidente sobre as falcatruas do 
fi lho, a probabilidade maior é Bolsonaro ser abandonado por 
eles”, afi rma o cientista político Carlos Pereira, da FGV. 
Essa mudança de rota era previsível, segundo Pereira. Ele 
acha que a estratégia do confronto com o Congresso e as 
instituições, inclusive com a imprensa, só poderia gerar 
benefícios no curto prazo. Há uma extensa literatura políti-
ca sobre o assunto nos EUA. No decorrer do tempo, esse 
BAnDEiRA BRAncA Bolsonaro anuncia a prorrogação do auxílio 
emergencial, que vai se incorporar ao Bolsa Família, e faz um 
gesto de conciliação a Rodrigo Maia (esq.) e Davi Alcolumbre
PAnDEmiA
Com cerca de 1,5 milhão de 
contaminados e mais de 60 mil 
óbitos, o Brasil virou um dos 
principais focos da Covid-19 
no mundo. Bolsonaro atacou 
o isolamento social, criticou 
os governadores e prefeitos, 
mandou o Exército distribuir 
cloroquina, uma droga já 
descartada em vários países, e 
forçou a saída de dois ministros 
da Saúde. O Ministério está sem 
titular desde 15 de maio
cRisE 
EcOnÔmicA
O Brasil entrou em recessão no 
primeiro trimestre deste ano, 
segundo a FGV. O Ministério 
da Economia acha que o PIB 
em 2020 vai cair 4,7%. O FMI 
acha que o tombo será de 
9,1%. A pandemia aniquilou 7,8 
milhões de postos de trabalho 
e, pela primeira vez, menos da 
metade das pessoas em idade 
para trabalhar está empregada. 
O governo vai ter dificuldades 
para tirar o País da crise
QuEimADAs 
nA AmAZÔniA
O Ministério do Meio 
Ambiente relaxou a 
fiscalização e a escalada dasqueimadas em 2019 virou 
notícia no mundo. Este ano, 
a Amazônia já tem as três 
primeiras semanas de junho 
com maior números de focos 
de incêndio desde 2007. A 
crise afugenta os investidores 
e ameaça o acordo Mercosul-
União Europeia
imAGEm 
inTERnAciOnAl
A pandemia, a questão 
ambiental e a ameaça 
à democracia levaram 
Bolsonaro para os jornais 
internacionais, como o “New 
York Times”. O “Washington 
Post” elegeu Bolsonaro 
como o pior líder a tratar 
com a pandemia. Artigo do 
“Financial Times” diz que “
o populismo está levando 
o Brasil ao desastre”
26 ISTOÉ 2634 8/7/2020
Capa/Governo
método de ação só poderia gerar passivos, animosidades e 
ressentimentos. “Bolsonaro viu o tamanho da conta, que 
ameaça sua própria sobrevivência. De uma forma tardia, 
buscou apoio junto ao Centrão. Mas fez isso de uma forma 
frágil, para se salvar do impeachment. Queiroz sinaliza mui-
ta vulnerabilidade. O presidente está fraco e precisa do su-
porte do Congresso”, diz. O presidente reuniu uma base de 
apoio de cerca de 30% da população por meio de um dis-
curso radical, polarizado. Só que ao fazer isso se desgastou 
com as instituições. Para diminuir a tensão, buscou uma 
coalizão. Mas, com as investigações avançando, esse roteiro 
pode ser acidentado. Vai ser difícil manter o apoio da socie-
dade e do Congresso, e o Centrão vai aumentar a fatura pelo 
apoio. Há uma tempestade perfeita se formando. Além da 
crise de saúde com a pandemia, que já provocou mais de 60 
mil óbitos e 1,5 milhão de infectados, a crise econômica vai 
cobrar um preço enorme para a sociedade. 
“Bolsonaro tenta sobreviver em uma situa-
ção gravíssima”, afirma Pereira.
A nova fase do governo pode ainda deri-
var para o populismo econômico e compro-
meter o ajuste fiscal. O teto de gastos, aprovado no governo 
Michel Temer, que tem garantido os juros baixos e discipli-
nado a inflação, está na mira daqueles que tentam reviver a 
expansão via gastos públicos — como a ala militar do gover-
no, que já tentou emplacar o Pró-Brasil, uma nova versão do 
PAC. O País entrou em recessão no primeiro trimestre deste 
ano, segundo a FGV, e ela pode ser a maior da história. O 
Ministério da Economia acha que o PIB vai cair 4,7% em 2020. 
O FMI estima que o tombo será de 9,1%. A pandemia aniqui-
lou 7,8 milhões de postos de trabalho e, pela primeira vez, 
menos da metade das pessoas em idade para trabalhar está 
empregada, diz o IBGE. Com a dívida pública se aproximan-
do de 100% do PIB, o governo vai ter dificuldades cada vez 
maiores para reativar a economia.
Ao buscar a harmonia com os outros Poderes, o presiden-
te tem se esforçado de uma forma inédita. A renovação do 
O ato Stop Bolsonaro ocorreu em 
26 países. Na Esplanada dos Ministérios, 
mil cruzes homenagearam as vítimas
da pandemia no domingo, 28
27
auxílio emergencial foi 
simbólica. Ocorreu em 
uma cerimônia organi-
zada no Palácio do Pla-
nalto na terça-feira, 30, marcada pelo aceno de paz aos pre-
sidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alco-
lumbre. “É uma satisfação tê-los aqui. É um sinal que juntos 
nós podemos fazer muito pela nossa pátria”, declarou. Apro-
veitou para convidá-los a integrar sua nova agenda. “Tive o 
prazer de estar em Araguari e, ao retornar, pousamos em um 
pequeno vilarejo de forma inopinada. Tinha umas 30 casinhas 
lá e vimos muita gente humilde”, acrescentou. Vai precisar 
fazer muito mais para desanuviar o ambiente carregado por 
um ano e meio de ataques às instituições. Para criar pontes 
com o STF, André Mendonça (Justiça e Segurança), Jorge 
Oliveira (Secretaria-Geral) e José Levi (Advocacia-Geral) já 
tinham sido despachados a São Paulo a fim de dialogar com 
o ministro Alexandre de Moraes, que é o relator dos inqué-
ritos das Fake News e dos atos antidemocráticos. A visita foi 
mal recebida por outros ministros, que interpretaram o ges-
to como uma má sinalização institucional — a interlocução 
entre o Executivo e o Judiciário deveria ter acontecido com 
o presidente do STF, Dias Toffoli.
Os limiTEs DA nOvA fAsE 
Bolsonaro está sendo obrigado a se reinventar. Já perdeu a 
imagem anticorrupção desde que descartou Sergio Moro e, ao 
que tudo indica, tentou interferir na PF para usá-la em defesa 
de seus filhos e amigos e como instrumento de perseguição 
de adversários. Agora avança para desmanchar a estrutura da 
Lava Jato, por meio das ações do PGR que procuram controlar 
as grandes investigações anticorrupção. As investidas serviram 
para mobilizar sua base radical, mas também tiveram um 
efeito bumerangue. Fizeram avançar os inquéritos que o fus-
tigam. As apurações do inquérito das Fake News agora serão 
compartilhadas com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que 
pode usá-las nos pedidos de impugnação da chapa Bolsonaro-
Mourão, pelo suposto uso massivo de propaganda ilegal em 
redes sociais em 2018. É uma ame-
aça que não existia. O presidente 
finalmente percebeu o risco de sua 
trajetória de confronto.
A escalada da crise levou o man-
datário a procurar um caminho de 
harmonia contra a sua própria na-
tureza. Toda a sua carreira foi fun-
dada nos ataques e na polarização. 
Ele nunca cogitou ter um papel 
conciliador, nem procurou governar 
para todos os brasileiros, indepen-
dentemente das opções políticas. 
“Tudo era um blefe”, aposta Pereira. 
“As instituições são fortes e não 
correm riscos. Isso não quer dizer 
que ele não tente um golpe. Mas 
querer não é poder. Se insistir, 
quem vai perder é ele. O retrato 
atual não é positivo para o governo, 
e pode ficar muito pior.”
fotos: sergio liMa/afp; divulgação; reprodução
PluRiPARTiDÁRiO Live do movimento Direitos Já! reuniu mais de 100 personalidades de 
diversas tendências e partidos, no dia 26: em defesa da democracia
“Se as evidências comprovarem o conhecimento 
do presidente sobre as falcatruas do filho, 
a probabilidade maior é Jair Bolsonaro ser 
abandonado pelos militares. Ele tenta sobreviver 
em uma situação gravíssima” 
Carlos Pereira, cientista político da FGV
28 ISTOÉ 2634 8/7/2020 fotos: pedro ladeira/folhapress; divulgação cnj; evaristo sá/afp; reprodução
Brasil/Ministério Público
A Procuradoria-Geral da República quer interferir no trabalho 
da força-tarefa da Lava Jato e os procuradores suspeitam 
que a gestão de Augusto Aras deseje ter o controle absoluto 
sobre as investigações com o objetivo de esvaziá-las: 
quatro procuradores já pediram demissão em protesto
Rebelião 
na PGR
Germano Oliveira
Lava Jato 
A ação de Aras e 
Lindora foi entendida 
pelos procuradores 
como uma tentativa 
de quebra de sigilo 
de processos
29
nunciaram a emissária de Aras à Corregedoria Nacional do 
Ministério Público Federal. Para eles, Lindora não foi ao Para-
ná em busca de compartilhamento de dados, mas para obter 
informações globais sobre o estágio das investigações e acessar 
o acervo da força-tarefa no Estado, que foi palco do início do 
combate à corrupção na Petrobras, levando vários políticos à 
prisão, entre eles Lula. Entenderam que os dados que ela 
queria representaria uma quebra no sigilo de processos.
Paralelamente aos protestos dos colegas do Paraná, os quatro 
procuradores da Lava Jato do DF pediram desligamento das 
funções. A primeira a pedir para sair foi a procuradora Maria 
Clara Noleto, que deixou a PGR no começo do mês. Na semana 
passada, após a incursão fracassada de Lindora a Curitiba, outros 
três procuradores pediram demissão coletiva: Hebert Reis Mes-
quita, Luana Vargas Macedo e Victor Riccely Lins Santos. Como 
a operação tem sete integrantes, apenas três procuradores liga-
dos a Lindora e Aras permanecem na ativa, enfraquecendo os 
trabalhos. No Paraná, segundo Deltan Dallagnol, o trabalho 
continua normal. “Só queremos que nos deixem trabalhar sem 
interferências externas”, disse o coordenador da força-tarefa à 
ISTOÉ. Outro que não se conteve em criticar a ação de Aras foi 
o ex-ministro Moro: “Aparentemente, pretende-se investigar a 
Operação Lava Jato em Curitiba. Não há nada para esconder, 
emboraessa intenção cause estranheza. Registro minha solida-
riedade aos procuradores competentes que preferiram deixar 
seus postos em Brasília”, comentou Moro. A verdade é que 
desde que Aras assumiu a PGR ele transformou-se em um de-
fensor ferrenho dos interesses de Bolsonaro e desestruturar a 
Lava Jato parece ser um dos objetivos do governo.
m tempos de gestão polêmica de Augusto Aras, a Procu-
radoria-Geral da República (PGR) vive momentos de 
tensão. O PGR e os subprocuradores que o apoiam ten-
tam, a todo custo, interferir nas operações que investigam os 
principais crimes de corrupção no País, como a Lava Jato no Pa-
raná, Rio de Janeiro e São Paulo, além da Green� eld, que apura 
desvios em fundos de pensão, em Brasília. Para os demais procu-
radores, por trás da iniciativa há um claro interesse de enfraque-
cer o combate ao crime organizado, fazer uma devassa sobre as 
apurações já realizadas e ter o controle total sobre futuras inves-
tigações. A administração controlada por Aras deseja, assim, criar 
a Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organi-
zado (Unac) para centralizar as forças-tarefas e, com isso, poder 
decidir o que deve e não deve ser priorizado nas operações. Pro-
curadores do Paraná, por exemplo, acreditam que um dos obje-
tivos do projeto é levantar processos em que o ex-juiz Sergio Moro 
atuou, como forma de vasculhar se ele cometeu algum deslize. 
Já outros quatro, dos sete procuradores da Lava Jato em Brasília, 
simplesmente rebelaram-se e pediram demissão de seus cargos, 
desestruturando a força-tarefa no Distrito Federal. 
QUEBRa Do SIGILo Na Lava Jato
A proposta da criação da Unac não é de hoje, mas o que 
detonou a crise na PGR foi a visita, na quinta-feira, 25, da 
subprocuradora Lindora Araújo à procuradoria regional do 
Paraná. Ela quis ter acesso a processos movidos pela Lava Jato 
de Curitiba, muitos deles com sentenças do ex-juiz Sergio 
Moro, e pediu até mesmo gravações de ligações telefônicas de 
procuradores feitas durante as investigações. Os procuradores 
da Lava Jato, coordenados por Deltan Dallagnol, que tem um 
bom relacionamento com Moro, consideraram ilegal a ação de 
Lindora, que é ligada a Aras. Como se sabe, Aras é próximo de 
Bolsonaro e mandou investigar se Moro cometeu supostos 
crimes de denunciação caluniosa quando revelou que o pre-
sidente desejava interferir na Polícia Federal. Percebendo que 
a atuação da subprocuradora poderia ser uma manobra de 
intervenção na Lava Jato, os procuradores paranaenses de-
E
DELtaN 
”Queremos
trabalhar sem 
interferências 
externas”
vICtoR RICCELY 
Integrante da força-tarefa 
da Lava Jato, foi nomeado 
Procurador Regional Eleitoral
LUaNa vaRGaS MaCEDo
Mestre em Direito pela 
Universidade Harvard, 
é procuradora desde 2012
HEBERt REIS MESQUIta
O procurador da Lava Jato 
no Distrito Federal toca 119 
processos junto ao TRF-1
MaRIa CLaRa NoLEto
Ela deixou a força-tarefa 
da Lava Jato de Brasília no 
começo do mês de junho
OS PROCURADORES REBELDES
30 ISTOÉ 2633 1/7/2020
Brasil/Educação
Mentiras, mentiras, 
mentiras. Elas resumem 
a ascensão e queda 
de Carlos Alberto 
Decotelli no Ministério 
da Educação 
e comprovam a 
incompetência de 
Jair Bolsonaro para 
preencher cargos 
de vital importância 
para o País 
O HOMEM QUE QUIS SER
MINISTRO
Mariana Ferrari
ILUSTRAÇÃO: GERSON NASCIMENTO; FOTO: ANDERSON PRADO
MINISTRO
FAROLEIRO Decotelli 
foi vítima de sua 
própria mitomania: 
lorota tem limite
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professor catedrático da USP. As mentiras 
compulsivas de Decotelli são assombro-
sas. Ele se disse oficial da Marinha: a 
Marinha negou. Ele se disse mestre pela 
FGV: não o é porque copiou trechos de 
outras dissertações. Ele se disse professor 
da mesma FGV. Corte: a faculdade des-
mentiu, só que dessa vez foi ela que faltou 
com a verdade. Decotelli exibiu seis prê-
mios entregues a ele pela FGV como 
professor. A versão de Decotelli recebeu 
o abalizado endosso até de Elizabeth 
Guedes, irmã do ministro da Economia, 
Paulo Guedes. Ou seja: nisso ele foi sin-
cero. O rosário do ex-ministro, porém, 
continuou. Ele se disse doutor pela Uni-
versidade Nacional de Rosario, na Argen-
tina: sequer chegou a fazer a defesa oral. 
Ele se disse pós-doutor pela Bergische 
Universität Wuppertal, na Alemanha: 
não o é porque foi desmentido pela 
própria instituição. “É algo da cultura 
brasileira querer obter ganhos e vanta-
gens sem fazer o menor esforço, apode-
rar-se de algo que não se criou ou iludir 
o próximo”, diz o neuropsicólogo pela 
USP, Mauricio Daher Filho. 
SAÍDA RELÂMPAGO
Diversos movimentos negros estão 
considerando que o presidente só deixou 
de nomear Donatelli porque ele é, justa-
mente, negro. Ou seja: Bolsonaro, segun-
do eles, comete um ato racista porque 
não exonerou, por exemplo, Ricardo 
Salles, branco e ministro do Meio Am-
biente, nem Damares Alves, branca e 
ministra dos Direitos Humanos, da Mu-
lher e da Família. Salles se declarou 
mestre em Direito Público pelos EUA. É 
pura inverdade. Quanto a Damares, ela 
foi motivo até de críticas por religiosos: 
ão é comum, mas acontece 
de o autor de uma tese de 
mestrado ou doutorado es-
quecer de colocar entre aspas 
uma citação ou se confundir em referên-
cias – teses geralmente são calhamaços e 
a bibliogra� a é in� ndável. Isso é uma 
coisa. Outra coisa, e bem diferente, é o 
que vem ocorrendo no País com políticos 
e ministros copiando descaradamente 
obras intelectuais sem mencionar a auto-
ria. Mais descaradamente, ainda, mentem 
sobre títulos acadêmicos que teriam 
conquistados nas mais prestigiadas uni-
versidades do mundo sem sequer terem 
passado pela porta. Todos recorrem à 
igual desculpa: não � z por interesse. Há 
um histórico ensinamento: “o desinteres-
se encobre diversos falsos personagens, 
inclusive o do interesse”. A frase que se 
acaba de citar, aspeada, é do duque fran-
cês La Rochefoucauld. Se tivesse sido 
utilizada por Carlos Alberto Decotelli viria 
sem aspas e sem o nome do verdadeiro 
autor. “Existem diversos códigos de con-
duta, ética e boas práticas cientí� cas que 
pesquisadores têm de seguir”, diz o reitor 
da Unicamp, Marcelo Knobel. 
Foi assim que, mentindo, Decotelli 
deixou o Ministério da Educação na terça-
feira 30 sem sequer acomodar-se em seu 
gabinte — virou ex antes da posse (o nome 
mais cotado agora é o do reitor do ITA, 
Anderson Correia). Decotelli saiu, mas a 
nós � ca a perplexidade: como alguém 
pode assumir uma pasta mentindo na 
própria área de sua atuação? Para quem 
seria ministro da Educação, mentir no 
campo educacional é doido e doído de-
mais. E vale lembrar que dois ex-minis-
tros, Ricardo Vélez Rodrigues e Abraham 
Weintraub, também tinham currículos 
pouco ortodoxos no quesito veracidade. 
“A escolha das mentiras no currículo 
mostra uma falta de percepção do mun-
do. É muito fácil descobrir enganações 
acadêmicas”, diz Mozart Neves Ramos, 
N
“Está na cultura brasileira querer obter ganhos sem 
fazer esforço e apoderar-se de algo que não criou”
Mauricio Daher Filho, neuropsicólogo e especialista em terapia cognitiva pela USP
“Existem diversos códigos de conduta, ética e boas 
práticas científicas que pesquisadores têm de seguir”
Marcelo Knobel, reitor da Unicamp 
disse ser mestre em direito constitucio-
nal, direito da família e em educação. 
Quando apanhada na mentira, declarou 
que “quem lê a bíblia é sempre mestre”. 
Na mesma linha, pode-se indagar por que 
Dima Rousse� não perdeu a diplomação 
de presidente da República ao falsear que 
era doutora pela Unicamp? Por que o 
governador do Rio de Janeiro, Wilson 
Witzel, segue no cargo, mesmo tendo 
mentido que cursou parte dos créditos 
de seu doutorado em Harvard sem o 
menor escrúpulo? Na verdade, o fato de 
esses personagens não terem sido puni-
dos não signi� ca que a impunidade deva 
seguir. O que os movimentos antirracistas 
pleiteiam é equidade de tratamento. 
Antes que se diga que Bolsonaro foi 
iludido por Decotelli, é preciso lembrar 
de outra atitude desabonadora do ago-
ra

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